You are on page 1of 13
Operantes verbais Oe CSL} CTR Ieg Clas RS TCE} RCA eae ASSUNTOS DO CAPITULO Audiéncia. Falante e ouvinte, Episédio verbal > > > > > Significado “de palavras” > Comportamento verbal como comportamento operante especial Os operantes verbais: ecoico, textual, transcrigao, intraverbal, tato, mando, extensio metaférica do tato, extenséo metonimica, autoclitico, tato distorcido, mando disfargado. Podemos dividir os Aimportincia do comportamento verbal para a pratica do psicdlogo ¢ indis- cutive, visto que é uum comportamento tipicamente humano, fruto de contin- éncias sociais e sobre o qual as in tervengdes clinicas frequéncia comportamentos do tipo operante em dois grandes grupos: no verbais ¢ verba O presente capitulo pretende apresentar a definigio ¢ classifica- 40 propostas por Skinner em 1957 so- bre © comportamen- to verbal. A impor- tancia desse comportamento para a pritica do psicdlogo ¢ indiscutivel, visto que € um comportamento tipicamente humano, fruto de contingéncias sociais ¢ sobre o qual as in- tervengées clinicas ocorrem com maior fre~ quéncia. O comportamento verbal é um compor- tamento operante, ou scja, ¢ emitido em um determinado contexto ¢ modelado e mantido por consequéncias (Skinner, 1957/1978; 1974/2002), Com essa afirmasio, a Anélise do Comportamento rompe com concepgées cs- truturaliscas sobre a linguagem e inaugura toda uma linha de pesquisas na psicologia que bus ca, sob uma perspec- tiva fancionalista pragmatica, compre- ender a aquisigio do comportamento ver- bal e analisar as con- digdes nas quais ocor- re a emissio da fala O comportamento verbal 6 um compor: tamento operante, ou seja, 6 emitido rum determinado contexto @ mode- Jado e mantido por consequéncias. Todavia, nessa Felagao 0 meio fisico (ou dos operantes alterado através da verbais). mediagao do meio © comporta- Stal, conhecido como ouvinte. E essa mediago que torna comportamento verbal especial mento verbal deve receber atengio espe- cial, entre os com- portamentos operantes, por nio alterar o meio através de ages mecinicas diretas (0 que € caracteristico do comportamento néo verbal). Diferentemente, 0 comportamento verbal é mantido por consequéncias que de- pendem da ago mediada por outra pessoa, 0 ouvinte. O ouvinte é um membro da comu- nidade verbal que foi especialmente treinado por essa comunidade para responder de manciras especificas diante das verbaliza- gées do falante. E ‘A comunidade verbal ensina sous mem> bros a serem falantes ouvintes. Todavia, esse treino nos torna EEE importante ressdtar denés mesmos. que o falante pode ser ouvinte de si mes- mo, a partir de treino recebido 20 longo da vida pela comunidade verbal. Considera-se entio o ouvinte como um estimulo discrimi- nativo especial (chamado audiéncia) na pre- senga do qual o comportamento verbal serd emitido. ‘Mesmo apresentando essa caracteristica especial, o comportamento verbal esté sujeito as mesmas leis que qualquer outro comporta- mento operante: é mantido por consequén- cias reforgadoras, € mais provavel de ser emi- tido diante de estimulos que sinalizam 0 re- forgo, pode ter sua frequéncia reduzida mediante a retirada da consequéncia reforga- dora, ete Perspectivas tradicionais acerca da lin- guagem recorrem a explicagées inatistas, in- ternalistas ¢ estruturalistas para compreender o significado das palavras ¢ a formasio sinté- tica das verbalizagées (dizem, por exemplo, que somos dotados de um dispositive mental que nos habilita a formar palavras de acordo com regras semanticas especificas e frases de acordo com certas regras gramaticais). Abor- dando a questio do significado e da estrutura das palavras sob 0 ponto de vista da analise do comportamento, pode-se dizer que uma resposta verbal significa algo no sentido de que o falante esté sob controle de circunstin- tal 65 Clinica analitico-comportame! cias particulares; por- tanto, para analisar 0 comportamento ver bal eemos que recor Mavaansn an ret A descrigao das as contingéncias contingéncias que 0 —_(antecedentes e modem co man, cansequentes) que {controlam. Come © auvinte 6 parte das contingéncias&im- portant consieré- -lona busca por Signicados, O significado nao std nas palavras, cle sé éidentificado nna relagdo entre a tém. Ou seja: nao é possivel atribuir sig- nificado a uma ver- balizagéo sem identi- ficar 0 contexto (an- tecedente ¢ consequente) sob 0 qual cla foi cemitida, daf a importancia de levarmos em conta 0 comportamento do ouvinte, e nao sé 0 do falante. Para analisar 0 comportamento verbal, Skinner nomeia as contingéncias entrelagadas do ouvinte ¢ do fa ante como um ¢pisé dio verbal, no qual 0 ouvinte atua como um estimulo discri- minativo (SP) na presenga do qual ver- balizagées (Ry) ocor- rem, O ouvinte, além de estimulo discrimi- A anilise do com- portamento verbal requer que abserve- ‘mos ndo sé as res- postas emitidas pelo falante, mas também seu entrelagamento ‘com as respostas do ouvinte, pois 0 segundo exerceré ‘fungao de estimulo iscriminativo, bem ‘como sori omodia~ dor do reforgador para a resposta do primeiro, A esta in- ‘teragio verbal entre ‘ouvinte e falante, dé-se onome de iio verbal, nativo, também atua como aqucle que li- bera _consequéncias apés a emissio da resposta verbal pelo falante. Nesse senti- do, no caso do com- portamento verbal, a descrigéo de uma con- tingéncia de trés termos envolve: aquela que descreve © comportamento do falante e, ne- cessariamente, envolve outra contingéncia, que se refere & que descreve o comportamen- to do ouvinte. Esquematicamente, um episé- dio verbal seria apresentado conforme apre- sentado na Figura 6.1 Ao fazer a anilise do comportamento verbal em termos de continggncias, Skinnes, 66 Borges, Cassas & Cols S° (audiéncia/ouvinte): Ry (falante) S? verbal “Passe 0 sal, por favor.” “Passe o sal por favor.” — i Proximidade do sal. yy (ouvinte) Entrega do sal ao felante. FIGURA 6.1 Fsquema-modelo com contingéncias a serem analisadas om um episédio verbal no livro Comportamento Verbal (1957), pro- poe uma classificagio na qual descreve algu- mas das contingéncias mais comumente en- volvidas na emissio do comportamento ver- bal, ¢ cada uma delas foi chamada de um operante verbal, resultando cm scis tipos: mando, tato,? ecoico, textual, transcrigao ¢ in- traverbal. Eles so Um sistema de clas- sificagao funcional foi desenvolvid para tentarfacilitar ‘a anélise do com- portamento verbal, eu resultado foi o ‘estabelecimenta dos operantes verbais, classificados de acor- do com as condigées de estimulos antece- dentes ¢ consequen- tes que controlam cada resposta, Os es- timulos antecedentes podem ser verbais ou no verbais, enquanto os estimulos conse- quentes podem ser especificos ou generaliza- dos. Além desses, hé 0 autoclitico como um operante verbal secundétio. Os operantes verbais mando ¢ tato podem softer algumas alteragies especificas, de acordo com as con- sequéncias que produzem; serio abordados neste capitulo 0 mando disfarcado ¢ 0 tato distorcido Hé operantes verbais que sio controla- dos discriminativamente por estimulos an- tecedentes verbais. Dentre esses operantes verbais esto: o ecoico, 0 textual, a transcri- a0 co intraverbal. Dentre esses, os trés pri- meiros (ccoico, textual ¢ transcriga0) apre- sentam correspondéncia ponto a ponto en- tre o estimulo verbal antecedente ¢ a resposta verbal. Skinner chamou de corres- pondéncia ponto a ponto o fato de que par tes especificas (¢ delimitéveis) do estimulo verbal controlavam a forma — a topografia — de partes especificas (¢ identificdveis) da res- posta verbal. Um exemplo dessa relagio se dé na emissio do operante ecoico, quando a crianga diz mamde (resposta verbal vocal) se- guindo o estimulo antecedente verbal ma- mae (estimulo discriminativo verbal vocal) dito pelo adulto. Vejamos as particularida- des de cada um desses operantes verbais na Figura 6.2 a seguir. > EcoIco ‘Neste operante verbal, observa-se que o esti= mulo antecedente é um estimulo verbal vocal (Conoro) e a resposta verbal € sempre vocal, reproduzindo o estimulo sonoro. Nesse caso, a consequéncia é um reforgo generalizado, O repertério ecoico é estabelecido através do re- forgo que Skinner denomina como “edu- cacional”, por ser titi principalmente aos pais ¢€ professores que operam instalando novas respostas de forma mais répida. O ope- rante ecoico é impor- tante quando a crian- ga esti iniciando a emissio de certas pa- lavras e também no aprendizado de um novo idioma; nessa ocasiio, hd a modelagio O operante ecoico & importante quando a crianga esta iniciando a emissao de cortas palavras © também no apren- dizado de um novo idioma, tal 67 Clinica analitico-comportame! Operante Tipo de S TipodeR —_Correspondéncia Similaridade verbal —antecedente vi pontoaponto formal Eeoico —-Sonoro Vocal sim sim Textual Escrito Vocal sim Nao Transcrigéo Sonoro ouescrito Eserita sim Nao necessariamente Intraverbal_Sonoro ou escrito Vocal ou escrita. Nao Nao necessariamente FIGURA 62 Operant de respostas verbais a partir do estimulo ante- cedente verbal-vocal apresentado. Nesse operante, hé correspondéncia ponto a ponto e similaridade formal, Sendo assim, diante de um estimulo discriminativo verbal-vocal (ex. ouvir “cachorro”) a resposta é vocal (por exemplo, falar “cachorro”). > TEXTUAL Neste operante, tem-se a resposta verbal do leitor (0 falante) controlada pelo texto, um estimulo verbal. Assim, tem-se como estimu- lo antecedente um estimulo verbal escrito ou impresso, ¢ a resposta é verbal-vocal (Falada). Hé ento uma correspondéncia formal que foi _arbitrariamente estabelecida ¢ a con- sequéncia 6 um re- forgo generalizado. © operante textual, O comportamento ‘textual pode ser vantajoso por cola: borarna emissao de outros operantes, como encontrar 0 caminho da festa a partir de uma orien- tagao por escrito. Esse, possivelmente, 6 otipo de compor- ‘tamento que voce assim como 0 ecoico, é inicialmente refor- sado por motives educacionais, mas hé também reforcos nao esté emitindo neste educacionais, como momento, quando alguém pago para ler em pui- blico, por exemplo. O comportamento tex- tual pode ser vantajoso por colaborar na emis- 3s verbais controlados por estimulos antecedentes verbais. so de outros operantes, como encontrar 0 caminho da festa a partir de uma orientagio por escrito, > TRANSCRIGAO Na transcrigdo, tem-se um estimulo verbal que pode ser sonoro ou escrito € uma respos- ta verbal, que é sempre escrita. Diante de um estimulo antecedente verbal sonoro ou escri- to 0 falante emite uma resposta verbal escrita. O operante verbal transcrigio é subdividido em c6pia e ditado. Na eépia, tem-se um est mulo verbal escrito ¢ uma resposta verbal ctita (ler “flores” ¢ escrever “flores”). Nesse caso, ha similaridade formal entre estimulo ¢ resposta, Jé no ditado, tem-se um estimulo. verbal sonoro © uma resposta verbal escrita (ouvir “mesa” ¢ escrever “mesa’). No ditado, nao ha similaridade formal, A transcrisio pode ser identificada nas cépias ¢ ditados realizados na escola, principalmente nas séries primarias. Nesse caso, a consequéncia também é um reforgador generalizado, deno- minado também como reforgo educacional. © outro operante verbal emitido sob controle de estimulo antecedente verbal € 0 intraverbal, mas, nesse aso, no hi cortes- Atranscrigéo pode ser identificada nas pias e ditados realizados na escola, principalmente nas séries primérias. 68 Borges, Cassas & Cols pondéncia ponto a ponto entre a resposta verbal ¢ 0 estimulo verbal. Justamente por esse aspecto é que o intraverbal se diferencia dos operantes ecoico, transcrigao e textual. > INTRAVERBAL © operante verbal intraverbal € controlado por estimulo discriminativo verbal, que pode ser tanto vocal quanto escrito, Nessa relagio, © estimulo verbal é a ocasio para que deter- minada resposta verbal particular seja emitida ondéncia ponto a ponto com o estimulo verbal que a evocou ~, ¢ essa respos- ta é mantida por um estimulo reforgador ge- neralizado, como no caso de todos os outros operantes verbais sob controle de estimulos antecedentes verbais descritos até aqui: Os operantes intraverbais sio frequen- tes e podem ser comumente observados quan- do a plateia continua a miisica iniciada pelo cantor, quando a crianga responde “quatro” diante da questio “dois mais dois é igual a...” ¢ em interagées sociais simples, tais como, por exemplo, quando Joio pergunta: “Como vai vocé?”, e obtém a resposta verbal de Anté- nio: “Bem, obrigado”. Se, em tal interagio, a resposta de Anténio for controlada pela esti- mulagio verbal (per- gunta) disposta por Joao ¢ no por qual- quer outro estado ou estimulagio presen- te, como, por exem- plo, o estado corpo- ral de Anténio, entao a resposta seré parte de um intraverbal Isso nos leva a — sem corre: Isso nos leva a pensar que, no ‘contexte clinica, ‘nem sempre quando ‘o cliente respond: uma pergunta ele ‘std respondendo de acordo com ‘com ele, mas pode ‘star omitindo um intraverbal. pensar que, no con- texto dlinico, nem sempre quando o cliente responde a uma pergunta ele esté responden- do de acordo com o que realmente esté acon- ecendo com ele, mas pode estar emitindo uum intraverbal. Por exemplo, quando 0 elini- co pergunta como o cliente estd se sentindo e este diz. que esté tudo bem, mas apresenta in- dicios puiblicos de que nao esté realmente bem. Ao dizer que esta tudo bem, o cliente parece estar emitindo um intraverbal sob controle de um estimulo verbal antecedente (a pergunta do clinico). Se, ao contrério, 0 cliente dissesse que se sente mal (sob controle de eventos ou sensagées), classficarfamos sua resposta verbal como um rato, operante ver bal que serd abordado adiante. © comportamento intraverbal desem- penha papel importante em muitas das inte- rages sociais (conversas, cangbes, descriga0 de uma histéria) e na aquisigao de varias ha- bilidades académicas (recitar 0 alfabeto, con- tar, responder a questées, etc.) E relevante apontar que hé operantes que sao controlados por estimulos an- tecedentes nao verbais ¢ que nao apresentam similaridade formal nem correspondéncia ponto a ponto entre o estimulo antecedente ¢ a resposta, Sao eles os operantes mando e tato, confome mostra a Figura 6.3. verbai > MANDO ‘No operante verbal mando, a resposta verbal ocorre sob controle de condiges especificas de privacio ou da presenga de estimulagio aversiva, Sendo assim, nao é a estimulagio antecedente (verbal ou nao verbal) o determi- nante principal do mando, mas sim uma con- sequéncia especifica, que tem relagao com a operagio motiva- dora que vigora. O repertério de_man- dos, em geral, bene- ficia o falante, na me- dida em que a conse- quéncia mediada é exatamente a retira- ‘Mando é quando uma resposta verbal é amitida sob controle de uma ‘operagao motivado- ra especifica, tendo coma determinante principal a consi quéncia especitica relacionada a opera- 40 motivadora. tal 69 Clinica analitico-comportame! Varidvel Operante controladora verbal antecedente Resposta Consequéncia Mando Operacao motivadora__—Verbal que especifica__Especifica (relacionada & (privagao ou estimulagao 0 reforgo. operacao motivadora em aversiva), vigor) Tato Estimulo nao verbal Verbal correspondente Inespecifica — reforgo (objeto ou evento), a0 estimulo nao generalizado. verbal antecedente, FIGURA 6.3 Operantes verbais controlados por estimulos antecedentes nao verbais, da da condigao aversiva 4 qual o falante esta exposto ou a disponibilizagao de reforcadores que tém alto valor reforgador para o falante no momento. No mando, hé a especificacio do reforso (por exemplo, “Quero flores ver- melhas’) ou do comportamento do ouvinte (por exemplo, “Ajude-me a cartegar a mala’). Vejamos dois exemplos comuns de mando na prética clinica: uma cliente, duran- te uma sessio, solicita ditetamente ao clinico que troque 0 seu hordrio de sesso: “Quero alterar 0 meu hordrio de atendimento”. Nesse exemplo, a consequéncia reforgadora € espe- cffica ¢ envolve a mudanga do horério. Outro exemplo ocorre quando um cliente, diante de uma dificuldade, solicita uma resposta do cli- nico: “Preciso saber como lidar com isso, 0 que fago?”. A consequéncia reforsadora espe- cifica seria a resposta do clinico & pergunta do cliente. Pedidos, orientagées, instrugées ¢ or- dens so exemplos de mando, variando entre sino que diz respeito as consequéncias para 0 ouvinte, No caso da ordem, 0 falante emite uma resposta verbal que especifica o reforso que 0 ouvinte devera produzir. Caso o refor- 50 nio seja produzido, o falante (aquele que ordenou) pode liberar consequéncias aversi- vvas em relagio ao ouvinte. Esse tipo de man- do ocorre quando aquele que manda tem 0 poder de punir, caso a ordem nao seja cum- prida, O chefe que ordena aos funcionérios que passem a trabalhar aos sdbados (mando do tipo ordem) pode punir aqueles que nao cumprirem a ordem dada. J4 quando 0 man- do é classificado como um pedido, néo ha- verd consequéncias punitivas fornecidas por aquele que pediu alguma coisa.> ‘Na clinica, é importante estar atento a0 repertério de mandos do cliente, pois, a par- tir da emissio do mando, ele pode ter acesso a consequéncias reforcadoras especificas que Ihe sao importantes. Um cliente que apresen- ta déficits no reper ae tétio de mandos, ais | gueremtedane apresenta deficits no repertéria de ‘mandos, tals como pedir oriontar © cordenar, poderd ficar carente de ccertas consequén- cias reforgadoras necessérias.” como pedif, orientar ¢ ordenar, poderd fi- car carente de certas consequéncias refor- sadoras necessérias Isso pode ocorrer em um reclacionamento conjugal ou na relasio de trabalho, por exem- plo. © operante verbal mando pode ser emitido de forma direra e clara ou de forma distorcida, 0 que é denominado mando dis- fargado. Essa distorgio do mando ocorre de acordo com as contingéncias punitivas que vigoram sobre 0 comportamento verbal ¢ seré explicada mais & frente, neste mesmo capitulo. 70 Borges, Cassas & Cols > TATO No operante verbal tato, a resposta emitida é controlada por um estimulo antecedente ¢ pecifico nao verbal (um objeto ou even- to) © produz como consequéncia um reforso condiciona- do generalizado ou estimulos reforcado- res néo especificos. Reforgadores gene- ralizados muito co- muns nas interagées sociais sio o balancar a cabega afirmativamente, verbalizagSes como “hum, hum’; “isso”, “entendo”; “muito bom"; etc, No ato, hd um controle incompardvel exercido pelo estimulo que 0 antecede e a re- lacdo com qualquer operagdo motivadora estd enfraquecida, 0 que marca fortemente a con- sequéncia como sendo um reforcador gener: lizado. Tato 6 uma resposta verbal que ocarre sob infludncia de estimulos diserimi nativos especificos {objeto ou evento}, ssendo que o refor- {gador, geralmente, é social endo ‘especifico. std dizen- Ao emitir um tato, o falante do a respeito de algo, descrevendo 0 que é sentido ou um evento ocorrido; em todos os casos, a resposta verbal esté sob controle do estimulo antecedente e do reforso generaliza- do disposto pelo ouvinte. O rato opera em fangio do ouvinte, pois permite 0 acesso aos acontecimentos (no vivenciados pelo ouvin- te, mas pelo falante), ampliando o consato do ouvinte com © mundo, seja ele ptiblico ou privado, Esse é um operante verbal importan- te de ser modelado na clinica, pois envolve respostas de autodescrigao e de descrigo de contingéncias, que sio necessdrias para a rea- lizagao da avaliagéo funcional. Alguns exem- plos de tato: + °O quadro é branco” (resposta verbal sob controle da propriedade cor do estimulo antecedente puiblico quadro). + ‘Nao tive uma boa semana, algumas coi- sas aconteceram Id em casa” (resposta ver- bal sob controle de eventos antecedentes passados piblicos e privados).. + “Tenho me sentido muito bem desde que comecei a dizer para 0 meu marido 0 quanto preciso que ele me ajude na edu- casio dos nossos filhos” (resposta verbal sob controle de eventos antecedentes pri- vados). + “Meu grupo de trabalho € composto de cinco pessoas; no entanto, a Luana nio participa de nenhum trabalho ¢ leva a nota boa que tiramos. Teno ficado mui- to incomodada com isso!” (resposta verbal sob controle de eventos antecedentes pti- blicos que se refere ao mimero dos com- ponentes do grupo ¢ de eventos antece- dentes privados dizendo respeito aos sen- timentos em relagio ao grupo). tato, assim como 0 mando, pode so- fier certas alteragbes/distorgées. No final do capitulo, sera discutido o tato distorcido, no qual a resposta verbal se parece com um tato, mas no estd sob controle especifico do esti- mulo antecedente nao verbal e sim das opera Oes motivadoras vigentes. tato é marcado, como ja afirmado, pelo controle exercido pelo estimulo antece- dente nio verbal. Assim como o comporta~ mento no verbal pode ser emitido sob con- trole discriminativo de propriedades ou par tes de um estimulo complexo, também o tato pode ser emitido sob controle de proprieda- des de estimulos antecedentes nao verbais. As alteragées na preciso ou na extenséo do con- trole pelo estimulo antecedente serio retrata- das aqui na extensio metaférica e na metoni- mia. Extensao metaférica do tato (linguagem metaforica) A metifora, figura de linguagem bastante uti- lizada na literatura ¢ também no nosso coti- diano, refere-se ao que € chamado, na andlise do comportamento, de um tipo de tato am- pliado, qual seja, a extensao metaférica do tato. Estimulos discriminativos compostos podem controlar diferentes respostas verbais de tato. Na linguagem metaférica, o falante fica sob controle de alguma propriedade deste est(- mulo ¢ utiliza este como forma de falar sobre algum aspecto da sua vida, aspecto que tem alguma rclagio (geralmente funcional) com a propriedade do estimulo em questao. A. linguagem metaférica_possibilita compreender de maneira mais répida 0 con- trole que um dado evento pode exercer sobre © comportamento de uma pessoa. Na clinica, observa-se que, caso a metéfora nao fosse usa- da pelo cliente, este teria que fazer uso de vi- rias frases para que o clinico compreendesse aquilo que, na linguagem metaforica, & ex- presso com poucas palavras. Tomemos como exemplo um cliente com grande dificul- dade de se relacionar socialmente em di- ‘Alinguagem metaférica possibi- lta compreender de maneira mais répida ‘controle que um dado evento pode exercer sobre o ‘comportamento de uma pessoa, versos contextos, que se comporta inade- quadamente (no sen- tido de nao ficar sob controle da demanda das outras pessoas, priorizando apenas 0 que ¢ importante para si) c, como conscquéncia, afasca as pessoas de seu convivio. Isto ocorreu em sua vida passada e ainda ocorre com fre- quéncia com seus contatos atuais. Para descre- ver tais situagées, o cliente diz: “Eu me sinto como uma dgua suja que sai contaminando to- das as coisas por onde ela passa”. Com esta me- téfora, o cliente sinaliza sua dificuldade de se relacionar, comparando-a a uma espécie de “contaminagio”, ¢ se refere & dimensio am- pliada de sua dificuldade (esta ocorre em vitios contextos) quando diz que a égua contamina “codas as coisas por onde ela passa”. dlinico também pode empregar me- téforas com seu cliente, Isso mais comum Clinica analitico-comportamental = 71. principalmente quando o tépico que esté sen- do discutido traz com ele alguma fonte de aversividade para o cliente. Utilizando-se de linguagem metaférica, 0 clinico tem melho- res chances de conseguir discutir tal e6pico com 0 cliente (bloqueando sua esquiva), di- minuindo a sua aversividade, além de preser- var a relagio terapéutica. Utilizando ainda o exemplo mencionado no pardgrafo anterior, © clinico poderia dar prosseguimento & meté- fora utilizada pelo préprio cliente e dizer: “O que vocé acha que posstvel fazer para que esta 4gua suja comece, aos poucos, a ficar mais limpida ¢ contaminar cada vez menos coisas?”. Ao utilizar 0 termo “Agua suja" no lugar de “voce”, o cli- nico fala do cliente sem colocé-lo direta- mente como o sujei- to da ago, 0 que pode contribuir para que o cliente sinta-se mais acolhido pelo clinico (pelo fato deste no té-lo exposto tao diretamente) ¢ consiga continuar a discussio sobre esta sua dificulda- de de forma produtiva (uso de metéfora permite ao clinica, por vezes, discutir assuntos que, se fossem abordados diretamente, po siam gerar esquiva ‘ou pelo menas maior aversividade. Extensao metonimica (metonimia) Sendo o tato um operante verbal emitido sob controle de estimulacéo nao verbal, é bem possivel que, diante de estimulos complexos (bastante frequentes em nosso ambiente), os individuos apresentem um tipo de extensio do tato chamada metontmia (ou extensio meton{mica). Assim como a metéfora, a me- tonimia também ¢ uma figura de linguagem utilizada na literatura ¢ na vida cotidiana, ¢ que sob a perspectiva da andlise do comport mento compreendida como um tato emiti- do sob controle de parte ou partes da estimu- lagio complexa nao verbal. A metonimia & tum tipo de tato que ocorre sob controle de 72 Borges, Cassas & Cols um cstimulo antecedente que geralmente acompanha ou compée o estimulo discrimi nativo principal ao qual o reforco é contin- gente, Assim, em ver de se referir a0 estimulo principal diretamente (como no tato sim- ples), 0 individuo se refere ou a uma parte do estimulo ou a um estimulo que o acompanha frequentemente. Por exemplo, um fazendeiro quando relata ter comprado 50 cabesas de gado, certamente nao esté relatando que com- prou apenas a cabeca dos animais (parte do estimulo), mas sim os animais inteitos (esti- mulo discriminative principal). Da mesma maneira, um aluno pode dizer a0 seu colega que “a faculdade decidiu interromper as aulas no horério dos jogos do Brasil”, quando quem realmente decidiu foi o diretor da culdade. Na clinica, uma cliente pode relatar suas dificuldades cm estabelecer novas rela ‘bes afetivas dizendo “meu coragio ainda per- tence ao meu ex-namorado”. > AuTOcLitico No operante verbal secundério autoclitico, 0 falante deliberadamente organiza 0 seu dis- curso, a sua fala, inserindo expressbes a0 tato ou ao mando no sentido de aumentar a preci- sio da influéncia de seu comportamento ver- bal sobre o ouvinte (ou seja, controlar mais o comportamento do ouvinte). Como explicita Matos (1991), a palavra autoclitico refere-se & caracteristica do falante de editar a prépria verbalizagao: rearticular, seccionar, articular, organizar sua propria fala enquanto esta f2- lando. Neste sentido, o falante, em uma es- fera privada, deve ser ouvinte de si mesmo, ou seja, precisa ouvir suas préprias verbali- zagoes, avaliar as pos- siveis consequéncias Ofalante delibera- damente organiza sau discurso, a sua fala, inserindo expresses a0 tato cia de seu comporta- ‘mento verbal sobre o ‘owvinte. de cada uma sobre 0 comportamento do ou- vinte, reorganizar sua verbalizagio © entio emitir aquela verbalizagdo que produzira as consequéncias mais reforsadoras ou mais efe- tivas. Serio apresentados aqui quatro tipos de autodliticos, quais sejam, descritivos, qualifi- cadores, quantificadores ¢ com fungio de mando. a) Autocliticos descritivos: por meio dos au- tocliticos descritivos, 0 falante consegue explicitar as fon- tes de controle do seu compor- tamento (de fa lante). Sua prin- cipal fungao € clarificar para 0 ouvinte as condigées sob as quais um comportamen- to esta sendo emitido, De acordo com Meyer, Oshiro, Donadone, Mayer ¢ Star- ling (2008), cles podem informar: O falanto consegue explictar as fontes de controle do seu ‘comportamento (de falante). a) 0 que determinou a resposta (“Disse- ram-me que cla é bem agressiva”; “Vejo que cla é bem agressiva’); b) um estado interno (“Estow muito an- sioso”) ¢ ¢) as fontes de um dado comportamento (“Escurei no jornal que prenderam 0 sequestrador”) b) Autocliticos qualificadores: estes auto- eliticos qualificam os tatos, alterando 0 seu valor, Assim, 0 comportamento do ouvinte pode ser afetado de acordo com 0 autoelitico qualificador que o falante uti- lizar. Por exemplo, dizer “Acho que cu vou” é diferente de dizer “Certa- mente, cu vou” ou simplesmente “Bu vou", O ou- vinte pode se po- sicionar de maneiras diferentes na presen- ade cada uma das afirmagées, em fungio do autoclitico utilizado pelo falante. Ou- O comportamento ‘do ouvinte pode afetado de acordo como autoclitica qualificador que 0 falante utilize. r ros exemplos poderiam ser “Acredito que ele esteja correto”; “Certamente, ele std correto”; “Penso que ele esté correto”; “E posstvel que ele esteja correto”; “E dbvio que ele estd correto”, ©) Autocliticos quantificadores: incluem-se aqui os artigos de mimero e género (0, a, 6s, 25, um, uns, uma, umas, por exemplo) 08 adjetivos ¢ advérbios de quantidade ou tempo (poucos, muitos, todos, alguns, sempre, talvez). Dizer que “Todos 0s alunos so interessados na matéria” produz um efeito no ouvinte diferente de dizer “Alguns alunos so interessados na matéria”. d) Autocliticos que funcionam como man- dos: mais usados quando se pretende “chamar a atengio” do ouvinte para algo, como, por exemplo, quando se diz “Fi- quem atenos ao que vou explicar agora” ou “A partir deste momento, siléncio!” E relevante destacar ainda que a fungio autoclitica pode aparecer também a partir de comportamentos como um sorriso sedutor, uma risada nervosa Afungéo autocltica ou mesmo um tom pods aparecer tam- Je vor especifico (cf bém a partir de com- 4 pectfico (cf Meyer et al., 2008).4 Durante a inte- ragio terapéutica, 0 uso de autocliticos, tanto por parte do cliente quanto por parte do clinico, também deve ser analisado. Por parte do cliente, observa-se que este faz uso de autocliticos ge- ralmente quando esté relatando ou prestes a relatar um assunto dificil para si mesmo, que traz. algum desconforto, ou entio um t6pico passivel de punigéo por parte do clinico. Des- sa forma, tenta suavizar o préprio desconfor- to ou a punigo por parte do clinico usando autocliticos. Por exemplo: “Enedo, fulano (nome do clinico), hum, (ciléncio). guint... (iléncio). E que te falar isso € meio complicado para mim, sabe? Mas acabou que portamentos como lum sortiso sedutor, uma risada nervosa, ‘ou mesmo um tom de ‘vor especifico, E08 Clinica analitico-comportamental = 73, eu eo Vinicius resolvemos, sei ld, tentar ficar juntos de novo”. Por outro lado, pode-se observar o cl nico utilizando-se de autocliticos como for- ma de colocar o cliente mais sob controle do que seri dito logo em seguida, ou mesmo | 0 elnieo pode ut zar de autocliticos como forma dec locar o cliente mais sob controle do que seré dito logo om sequida, ou mesmo como uma forma de amenizar uma fala mais confrontadore porparte docinico, ‘entando manter a amenidade eo conforto da relagao entre os dis. como uma forma de uma fala confrontadora por parte do clinico, tentando. manter a amenidade © 0 con- forto da relagio entre os dois. Por exemplo: “Veja bem, falano (nome do cliente), vamos analisar juntos © que vocé acabou de me contar. A principio, me parece um pouco precipitado vocé relacionar 0 que fez com a maneira como os seus pais te tratam, Eu fico pensando wm pouco assim: seré que isto, no _fundo, nao é uma maneira de voc’ nao se pre- ‘ocupar santo com as pessoas na hora de inte- ragir com clas, e meio que poder colocar a cul- pa nos seus pais por esse seu comportamen- to?”, Apés a apresentagio ¢ definisio dos operantes verbais, sero abordadas a seguir as distorgées que os operantes verbais tato ¢ mando podem softer, denominados, respecti- vamente, de tato distorcido ¢ mando disfar- sado. > TATO DISTORCIDO Conforme dito anteriormente, os tatos sio operantes verbais bdsicos, emitidos sob con- role de estimulagio nao verbal antecedente e mantidos por reforgadores sociais generaliza~ dos. Diz-se que 0 individuo esté tateando quando descreve situagdes, objetos ou relata acontecimentos. Nao hé um reforgador esp\ 74 Borges, Cassas & Cols, Operante verbal © sua distorgio Variavel controlador: antecedente Resposta Consequéncia Tato Estimulo nao verbal (objeto ou evento}. Verbal correspondente a0 estimulo nao verbal antecedente. Inespecifica ~ reforgador generalizado. Tato distorcido _Estimulo nao verbal {objeto ou evento). Verbal parcialmente correspondente ou nao correspondente ao estimulo antecedente. Produgéo de reforgador generalizado ou retirada ou evitagao de estimulagao aversive. estimulagao aversiva). Mando Operagao motivadora Verbal que especifica _Especifica, relacionada & (privacao ou © reforgo, ‘operagdo motivadora estimulagao aversiva}. om vigor. Mando Operacao motivadora Verbal que nao Especifica, relacionada & disfargado (privacao ou especifica claramente _operacao motivadora em © reforgo, com topografia de tato. vigor. FIGURA 6.4Distories dos operantes vebalstato# mando ffico para as respostas de tato. Muitas vezes, bastam o olhar do ouvinte, a atengio prest: da, respostas sob controle do contetido da fala do falante ou mesmo verbalizages simples como “hum’, Tatos distorcidos io relatos do que o ‘owvinte gostaria de simplescomo It ‘ouvir, e ndo do que ‘sei”, “td”, “aha”, ete. ‘ocorrou na realida~ de, Ofalante relata ‘eventos de maneira ‘a produzirreforga- dores positvas ou se ‘esquivar de puni- ‘goes. , portant, um ‘pico comportamen- tode contracontrol. Ja os tatos di torcidos ou impuros sao respostas verbais com topografia de tato, mas funcional- mente diferentes. Os tatos distorcidos sio emitidos mais sob controle dos reforcadores sociais generaliza- dos do que dos estimulos no verbais antece- dentes. Dito em outras palavras, 0s tatos torcidos sio relatos do que o ouvinte gostaria de ouvir, e no do que ocorreu na realidade. falante relata eventos de maneira a produ- zit reforcadores positives ou se esquivar de punigées. E, portanto, um upico comporta- mento de contracontrole. No nosso dia a dia, tatos distorcidos sio emitidos com muita frequéncia ~ produto das contingéncias aversivas as quais estamos expostos O funciondrio pode dizer ao chefe que o relatério solicitado std quase pronto — quando esté apenas no co- constantemente, mego; a garota pode dizer as amigas que ficou com um garoto na festa ~ quando na verdade apenas conversou um pouco com cle; 0 clien- te pode dizer a0 clinico que fez.a tarefa tera- péutica, mas esqueceu 0 registro em casa. ‘To- das essas respostas tém como fungio evitar ou adiar a apresentagio do estimulo aversivo: a bronca do chefe, a critica das amigas, 0 con- fronto do clinico.5 Esses tatos distorcidos sio mantidos por reforcamento negativo. Tatos distorcidos podem ser mantidos também por reforcadores positivos. Conside- re uma crianga que tem seu bom desempe- nho académico bastante reforgado por seus pais, em detrimento da baixa densidade de reforgos pata outras respostas (como brincas, divertir-se, fazer novos amigos, etc.). Ao che- gar em casa, apés um dia em que, em vez de participar da olimpfada de conhecimento da escola, ficou brincando com novos colegas, esta crianga pode “relatar” aos pais quantas respostas corretas apresentou na provinha de matemitica, ou quantos pontos fez.no ditado de portugués. Tas relatos — tatos distorcidos podem produzir reforcadores sociais im- portantes para a crianga (“Que étimo!”, “Fico orgulhoso de vocé, filho!”) em maior densi- dade do que seriam produzidos contingentes as respostas de tatear corretamente os eventos ocorridos. Dizer a verdade poderia produzir uma consequéncia como “Bacana fazer novas amizades, mas a olimpfada do conhecimento &mais importante”. O tato distorcido pode tanto ser o rela- to de um evento que no ocorreu quanto também a descrigio exagerada, minimizada, parcial, enfim, distorcida, de propriedades do evento relatado. Fofocas, justificadas pelo ar- gumento “eu aumento, mas nio invento”, ¢ mesmo lendas populares (“Quem conta um conto aumenta um ponto”) sio outros exem- plos de tatos distorcidos bastante emitidos ¢ reforgados socialmente > MANDO DISFARGADO © mando disfarcado guarda semelhanga to- pogrifica com o tato, mas o efeito que tem sobre o ouvinte pode ser de um mando. Mui- tas veres, a comunidade verbal considera mandos disfargados como maneiras mais educadas, polidas ou delicadas de fazer pedi- dos, ¢ acaba reforgando-os. No entanto, por io especificar claramente o reforso, 0 man- do disfargado nem sempre € efetivo na pro- dugio de reforgadores, ¢ no médio ¢ longo prazos a alta emissio de mandos disfargados Clinica analitico-comportamental = 75 pode resultar em punigdes ou escasser de re- forcadores. ‘Tomemos como exemplo de mando dis- farcado a seguinte situagio: 0 professor marca uma prova em uma quinta-feira ¢ comu- nica aos alunos. Estes Muitas vezes a ‘comunidade verbal ‘considera mandos disfargados como educadas, polidas ou jd teriam uma prova de outra disciplina no mesmo dia, para a qual teriam que estu- dar bastante, ¢ dese- jam que 0 professor rroque a data da prova. No entanto, no lugar de emitirem um mando direto como “Profes- sor, troque © dia da prova, por favor!”, eles cemitem um mando disfarsado, tal como “Nos- sa, professor! Temos uma prova superdificil no mesmo dial”. O professor pode alterar a data de sua prova como consequéncia & verbaliza- 640 (reforgando o mando disfarcado), ou pode responder sob controle da topografia de tato € dizer “Puxa, sinto muito!” (0 que nfo funciona como reforgo para a verbalizacio dos alunos) Na pritica clinica, 0 mando disfargado pode evidenciar dificuldade por pare do cliente de se comportar assertivamente com 0 reforgando. clinico (dificuldade esta que geralmente | Omandodstargado raiment pode evidencit comum em sua vida fodeendenl nas relagGes estabele- cidas com as outras pessoas) ou entio evidenciar uma ma- neira de se esquivar de punigio advinda do clinico, Por exemplo, 20 ouvir do clinico 0 valor da sua sesso, o cliente, que a conside- rou cara, ¢ gostaria de um desconto, apenas comenta, “Estou achando o valor da sua ses- so acima do valor de mercado!”. Outta situ- aco ilustrativa se refere a uma cliente que se queixa de bastante dificuldade financeira, mas que atende todas as vontades do filho (tal do falante de se comportar asserti- vamente ou entao evidenciar uma ma- neira de se esquivar de punigao. 76 Borges, Cassas & Cols como pagar sua academia, safdas com os ami- gos todo final de semana, etc.). O clinico, a0 fazer perguntas no sentido de colocé-la mais sob controle da atual situagio financeira e de seu comportamento-queixa, ouve da clien “E muito dificil para uma mie falar ndo para um filho, ¢ nio adianta ninguém vir pedir para eu falar nao, pois nao farei isso” O presente capitulo abordou a defini 30 do comportamento verbal na anilise do comportamento apresentando a classificagio skinneriana dos operantes verbais. Conhecer a concepgio de Skinner sobre © comportamento verbal & imprescindivel para o desenvolvimento de intervengies eli- nicas e educacionais, pois permite a andlise 6 planejamento de intervengées, inclusive de contingéncias, para a instalagio de comporta- mentos verbais especificos. > NOTAS 1. A ordem dos aurores ¢ meramentealfabética, 2. O termo "ato" éutlizado por diversos autores para omeat 0 operance veal. inoeeasante noes no encanto, que Skinner adotso remo “acto” em sas bras, prncipalmente para evtar que o leitorcon- fanda 0 operance verbal com o sentido tato, embora a fungio dos comportamentos descritos por ambos, ‘ostermos se assemelhe em parte: “Esse trmo [tacto} raz consigo cerca sugestio mneménica do compor- tamento que estabelece ‘contacto’ com o mundo fi net, 1957/1978, p. 108) 3. Skinner (1974/2002) apresenta esses © outros mandos ¢ as consequéncias de seu seguimento para o ouvinte no contexto do controle do com- portamento por regras (capfoulo “Causas e ra es") 4, Meyer ¢ colaboradores (2008) apontam a identifi- cagio de autocliticos na situagio clinica como ma neira importante de ter aceso a contingéncias que controlam 0 comportamento do cliente 5. Para uma discussio sobre © manejo na clinica dos tatos distorcidos do cliente, ver Capitulo 14 > REFERENCIAS Matos, M.A. (1991). As categoria formais de comports- mento verbal em Skinner. Anate de Rewnio Ansel de Pico logia de Ribeirdo Pret, 21, 333-341 Meyer, S. B., Oshiro, C., Donadone, J.C, Mayes, R.C.F, & Starling, R. (2008). Subsidios da obra “Comportamento Verbal” de B. E Skinner para a terapiaanaltico -comportamental. Revita Brasileina de Terapia Comporta- ‘mentale Cognitiva, 102), 105-18. Skinner, B. E (1978). O comportamento verbal. Sto Paulo Calesix. (Trabalho original publicado em 1957) Skinner, BF. (2002). Sobre o behaviovsmo, Séo Paulo: Cul- trix, (Irabalho original publicado em 1974

You might also like