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ORIENTADOR EDUCACIONAL.

ATÜAÇÕES NA MODERNIDADE

Por

Luiz Carlos Ferreira

Monografia Apresentada á Faculdade Cândido Mendes

"Projeto a vez do mestre"

Como Requisito Parcial à Obtenção do

Certificado de Conclusão do

Curso de Especialização em Supervisão Escolar

Orientadora: Fabiane Muniz

Março de

2003

1
Dedico este trabalho a todos os Educadores

que ainda acreditam na Educação

e que sabem que é através deste processo que devemos

iniciar um caminho de transformação social

tão necessário a este povo brasileiro.

Às crianças, que são tão felizes

apesar de todas as situações adversas

que fazem parte de um país subdesenvolvido.

2
AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos e familiares, que ouviram tantas vezes as minhas angústias,

solicitações e alegrias por estar apreendendo novos saberes.

A minha orientadora, Fabiane Muniz que incentivou-me nos momentos mais

difíceis e mostrou-me o prazer de realizar produções com a sua palavra de incentivo

tão necessária.

A Deus, que estava sempre ao meu lado através dos "espíritos amigos" que

forneceram uma iluminação sensacional ao percurso deste trabalho, que foi tão

prazeroso de fazer.

3
RESUMO

Este trabalho propõe-se a estudar as "Tendências Educacionais", no

contexto atual, para a análise mais ampla do processo educacional, privilegiando a

dimensão histórica até os dias atuais, procurando o significado dos seus objetivos

e contradições.

Nesta análise procurou-se identificar as funções do Orientador

Educacional, que faz parte desse contexto Acreditamos que este profissional tenha

grandes contribuições a dar neste processo, através da contextualização da sua

prática e redimensão das suas funções.

4
SUMARIO

Capítulo

página

I. INTRODUÇÃO
...............................................................................................................................6
2

1.1. Justificativa
1.2. Problema
1.3. Objetivos
1.4. Metodologia

II. TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS ................... ................................... .12


2. l. Conceito de Educação
2.2. Tendências em Educação
2.2,2. Correntes Pedagógicas
2.3. Política na Educação

III MODERNISTA, MODERNOSO OU MODERNIDADE?


............................................................................................................................31
3.1. Contexto Atual
3.2. E a Educação?

IV A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: ACERTOS, ERROS E


POSSIBILIDADES ...........................................................................................40
4. l. Trajetória do Orientador Educacional
4.2. Perspectiva Atual
4.3. Novas Competências?!

V. CONCLUSÕES
.........................................................................................53

REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICA.............................................................................................. 56

5
CAPITULO I

INTRODUÇÃO

“... os educadores são como as velhas arvores .Possuem

uma face, um nome, uma ‘estoria‘ a ser contada. Habitam um mundo em que

o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma ‘entidade

‘ sui generis ‘, portador de um nome, também de uma ‘estoria ‘, sofrendo tristezas e

alimentando esperanças. E a educação é algo pra acontecer neste espaço invisível e

denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal. “

(Alves, 1982, p. 17)

1.1. Justificativa

Dentro deste amplo contexto educacional, temos observado durante nossas

praticas como educadores que existem muitos pontos que proporcionam

questionamentos e reflexões.

Detivemo-nos na questão da complexa realidade social, que se reflete dentro

da escola, gerando críticas e discussões dos educadores. Acreditamos que este

processo de questionamento deva passar por análises sérias dos docentes, pois

necessitamos ter claro qual o destino que ambicionamos, acreditando que seja o de

viver em uma sociedade mais justa e democrática.

A importância desta discussão vem para contextualizar a sociedade atual,

definindo novas competências e, com isso, novos caminhos. E de suma

importância para o sistema educacional, pois esses indivíduos serão pessoas que

em um futuro próximo pertencendo a uma engrenagem económica, política e

6
social, que se estrutura na sociedade. Como será essa participação sem uma

reflexão e direção consciente desse processo?

O Orientador Educacional, como um educador a contribuir dentro da

instituição, necessita realizar esses questionamentos juntamente com os

educadores, sobre esses novos caminhos que visam a melhor qualificação do

processo educacional do indivíduo dentro desse novo contexto social.

Além de inserção de educação no contexto social, outro dado nos parece

relevante ao trabalho do Orientador Educacional, que é a questão do saber, do

conhecimento.

O processo educativo realiza-se visando a construção desse saber, porém ao

detoná-lo existem algumas formas diferenciadas de fazê-lo que,

conseqüentemente, levam a diferentes objetivos.

Estamos atentos quanto à manipulação desses caminhos. Embasamento

filosófico estruturam o processo educativo. Correntes ideológicas dominantes

camuflam a realidade do contexto social. Caberá ao corpo docente da escola

analisar e optar pela sua filosofia educacional, privilegiando a construção de uma

sociedade mais democrática.

A escola precisa refletir sobre sua realidade com parâmetros filosóficos

claros, visando estabelecer metas de trabalho coerentes com uma participação e

contribuição do indivíduo dentro de um processo realmente democrático.

No decorrer deste trabalho tentaremos analisar e indicar alguns aspectos que

acreditamos serem fundamentais nessa prática pedagógica.

1.2. Problema

7
A análise do contexto social é uma discussão ampla e complexa, pois

necessita que sejam observados todos os aspectos (culturais, políticos,

económicos, etc.).

Diante dessa amplitude, estamos aqui tentando situalizar e delimitar que

caminhos percorreremos para que.esta análise possa contribuir na reflexão deste

processo.

As diversidades de valores sociais existentes hoje em nossa sociedade está

completamente desequilibrada, pois não temos mais parâmetros, como em

décadas passadas. Diante disso, temos um contexto sem referências e, ao mesmo

tempo, recheado de novos conceitos, informações, técnicas. Tudo isso visando um

maior conforto para o indivíduo.

Dentro deste quadro existe a instituição à qual os seres humanos intitularam

Escola, como sendo o lugar que irradiará informações armazenadas do processo

histórico, dando a perspectiva de construção do conhecimento, logo, produzindo

novos saberes.

Apesar desse objetivo, hoje, por estarmos vivendo em uma sociedade tão

comprometida com as diversas informações, percebemos que o indivíduo torna-se

objeto, e não sujeito, do processo que descrevemos, o qual a escola procura

desenvolver.

Com a análise dessa situação, registra-se então um grande “nó”, pois o

processo educacional necessita realmente da utilização do potencial que o educando

possui, e não da sub-utilização, que é a cópia e a reprodução de informações.

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Diante deste fato, acreditamos ser um ponto de grande dificuldade a

articulação de um processo educativo visando à construção do saber, dentro de um

contexto tão adverso.

Este trabalho pretende analisar este “nó”, fornecendo algumas reflexões e

possíveis saídas desse grande labirinto que é a Escola.

1.3. Objetivos

Analisar a sociedade dentro de um conceito de contexto atual.

Refletir sobre a Educação em suas diversas dimensões: social, política e

pedagógica.

Contextualizar o Orientador Educacional dentro dos contextos escola e

sociedade.

Discutir e delimitar novas estratégias para que o Orientador Educacional

possa participar mais criticamente no processo pedagógico.

1.4. Metodologia

Este trabalho está estruturado dentro dos princípios de uma pesquisa

descritiva. Tem como eixo norteador à busca de subsídios em diferentes teóricos

para fundamentar suas hipóteses. Estas são baseadas em um contexto social

especifico que o pesquisador está analisando.

Depois dessa “busca”, o pesquisador desenvolve suas ideias, ratificando-as

baseadas nas teorias que foram estudadas.

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O autor Pedro Demo (1994) tem um amplo trabalho no estudo de linhas de

pesquisa. Com isto, decidimos, de forma sintética, contextualizar os princípios que

norteiam a linha deste trabalho.

São estes os princípios:

- Semear o “aprender a aprender”;

- Buscar as qualidades: formal e política;

- Objetivar a competência.

O conceito de qualidade, hoje em dia, é amplamente utilizado, por isso

queremos discuti-lo e até defini-lo com base em Pedro Demo

A qualidade é necessária dentro dos diversos setores do país. Está calcada na

construção e na participação de indivíduos na sociedade.

O conceito de qualidade fornece-nos dois aspectos: o formal e o político.

A qualidade formal significa a habilidade do indivíduo utilizar as técnicas e

os instrumentos correios na busca da produção do conhecimento. Esse indivíduo irá

se utilizar desse saber na sua formação e na participação critica e criativa da

estrutura social. Com isso, temos a dimensão política da qualidade.

A educação também se estrutura no mesmo sentido, tornando-se redundante o

termo Educação de Qualidade, pois ambos os conceitos estão estruturados nas

mesmas bases.

O fundamental do processo é a estrutura na qualidade formal e política.

Partindo destes conceitos, precisamos saber como o indivíduo terá acesso a esses

conhecimentos.

10
Os meios são diversos, porém o “aprender a aprender” é a forma pela qual o

professor poderá levar seus alunos a adquirirem conhecimentos que forneçam

ligações para outros saberes

A propedêutica moderna, assim, dedica-se cada vez mais às estratégias

construtivas, privilegiando o “aprender a aprender” e o saber pensar, tendo em vista

melhor intervir. (Demo, 1994, p. 29).

Fornecendo agora um certo fechamento nestes princípios, temos a competência

como grande norteadora desse processo. Para que a intervenção do indivíduo na

sociedade seja qualitativa, temos que ter a competência construtiva e participativa

desse indivìduo.

O suporte essencial para uma sociedade que pretende ser democrática é uma

educação que instrumente o homem com a habilidade de manejar o conhecimento, e

tendo a cidadania na linha política.

Sociedade educada é aquela composta de cidadãos críticos e criativos. capazes

de indicar o rumo histórico, coletivamente pretendido, sobretudo desenvolver

maximamente a oportunidade histórica disponível. (Demo, 1994, p.47).

Com esta citação acreditamos que concluímos a reflexão sobre os eixos

estruturais da pesquisa qualitativa descritiva.

11
CAPITULO II

TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS

“O indivíduo é considerado como sujeito histórico quando capaz de

modificar a realidade. Essa capacidade de agir sobre o curso dos processos

sociais só é possível se o indivíduo for consciente , livre e responsável... Dai que

a tarefa central seja libertar o homem de si mesmo, torná-lo livre, tarefa

eminentemente pedagógica...

(Arroyo. 1995, p.48).

2.1. Conceito de Educação

“... a educação como uma instância dialética, serve a um projeto, a um

modelo, a um ideal de sociedade. Ela medeia esse projeto, ou seja, trabalha para

realizar esse projeto na prática...

(Luckesi, 1992, p.49).

Existe uma pluralidade de conceitos sobre educação, atendendo a

variados e

diferentes posicionamentos teóricos, destacamos alguns pontos.

O conhecimento que foi construído ao longo da história do homem é

um instrumento que hoje podemos utilizar para solucionar nossos problemas.

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Através do processo educativo podemos utilizar estes conhecimentos

tendo uma reconstrução dos mesmos, que entendemos que pode interferir nesta

estrutura social tão caótica.

A participação desses indivíduos, de forma construtiva e questionadora, é

outro eixo fundamental que norteia o processo educacional, pois sem esta não

acontecerá transformação social, pois faltarão os atores principais: os cidadãos

deste país.

Este processo acontece de forma “sistemática em uma instituição chamada

Escola”.

Ela representa um ponto fundamental, que precisa ser discutido e

redimensionado. Este processo acreditamos, vem acontecendo de forma

deficiente, pois são inúmeras as variáveis que nele interferem. Por isto, ainda há

educadores que discutem e lutam por melhoria na qualidade do projeto político

pedagógico a ser desenvolvido na Escola, visando a melhor formação do

indivíduo.

Concluiremos com um eixo que, a nosso ver, é de suma importância

dentro deste contexto, que é o Educador. O educador é quem poderá

proporcionar uma discussão tão ampla e profunda de toda esta temática, pois ele

se constitui no estimulador e no mediador deste processo.

A história da educação mostra-nos Paulo Freire como um destes grandes

“Estimuladores”. Escolhemos este pensamento para ilustrar no que acreditamos,

na Educação.

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... do ponto de vista dos interesses das classes dominantes, quanto menos os

dominados sonharem o sonho de que falo e da forma confiante como falo, quanto

menos exercitarem a aprendizagem política de comprometer-se com uma utopia,

quanto mais se tornarem abertos ao discurso “pragmático”, tanto melhor dormirão

as classes dominantes. (Freire, 1992, p. 92).

2.2. Tendências em Educação

Em sua trajetória histórica, a educação sofreu diferentes enfoques, de

acordo com os diversos períodos históricos que a sociedade brasileira percorreu.

A organização desses enfoques está baseada em estruturas filosóficas.

Estas constróem linhas de pensamentos, que fundamentam as práticas educacionais

são realizadas no cotidiano escolar.

Utilizaremos a divisão de Cipriano Luckesi para nos auxiliar nesta reflexão:

Alguns responderão que a educação é responsável peia direção da

sociedade...

Outros entendem que a educação reproduz a sociedade como ela está, e há

também os que compreendem a educação como instância mediadora de uma forma

de entender e viver a sociedade... (Luckesi, 1992, p.37).

Estes três enfoques, Luckesi denominaram respectivamente de: Educação

como Redenção, Educação como Reprodução e Educação como Transformação.

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Estas tendências filosóficas são formas de entender, de modo geral, a

estrutura social.

Baseadas nelas, diferentes autores organizaram as linhas pedagógicas

que são utilizadas nas instituições educacionais com diferentes nomenclaturas,

porém com os mesmos conteúdos.

Tendência Redentora

Esta tendência entende a sociedade como um todo harmonioso, onde

há indivíduos que ficam a margem, dessa organização por demonstrarem desvios

sociais, ou seja, não estarem cumprindo padrões pré-estabelecidos.

O objetivo para se garantir essa harmonia na estrutura social é manter

todos dentro dos procedimentos aceitos socialmente.

Nesse contexto, a educação está fora da sociedade, é um instrumento

utilizado para o ordenamento e o aparente equilíbrio dos diferentes grupos sociais,

adaptando-os ao amplo contexto social.

existe a crença em uma relação social ingénua, pois não há contextualização

dos fatos histórico-sociais (relações de poder) e, consequentemente, a interligação

entre estes e a escola.

Há também uma implícita concepção de que todos os indivíduos

são iguais, tanto no aspecto de formação de personalidade, como no

contexto.social

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Esta concepção está sendo utilizada até hoje, pois há escolas que desejam

adaptar seus alunos a esta sociedade tão contraditória, sem reflexões nem análises

sobre o contexto social.

Devemos relembrar que a nossa sociedade está dividida em classes sociais

desde a sua formação, pois sempre existiram ricos e pobres. Como podemos

adaptar os diferentes indivíduos a um mesmo contexto? Será que temos um

contexto social único?

Tendência Reprodutora

A abordagem educacional que é realizada nesta tendência entende a

educação como uni processo integrante da sociedade, sendo utilizado

exclusivamente para analisar pressupostos sociais e reproduzi-los para as classes

sociais.

A educação está a serviço da sociedade, sendo, um instrumento que pode ser

manipulado ao sabor dos interesses.

Baseado em seu ‘conteúdo, não há possibilidade de criação de correntes

pedagógicas, pois sua estrutura está comprometida com a própria reprodução

social.

A escola é o veículo utilizado para o repasse da realidade social, tal qual

ela é.

Com esta ação, a escola divulga a ideologia da classe que domina a

situação dentro da sociedade.

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Esta tendência vem contextualizar os indivíduos dentro de uma sociedade

de classes, onde há dominantes e dominados.

A dominação se estabelece através da detenção dos meios de produção

por parte dos dominantes. Para que estes meios de produção funcionem precisa

haver a utilização da força de trabalho de indivíduos, que a “vendem” para manter

sua sobrevivência e, conseqüentemente, o poder dos dominantes.

O processo cíclico que é desencadeado por essas ações estrutura a

estratificação social, ou seja, a divisão das classes sociais.

Esta concepção e pessimista no sentido de transformação social. Ela não

observa formas de sairmos deste ciclo. Com isso, ficaremos subjugados a essa

situação

A análise critica dessa tendência será de grande auxílio para a escola,

fornecendo

subsídios para a construção de uma prática educacional que vise a

transformação desta sociedade.

Tendência Transformação

Durante longo tempo, a sociedade brasileira viveu em regime de repressão,

com os militares no Governo. Sendo assim, havia grande censura às ideias e

comportamento” que fossem contrários à ideologia que dominava. Apesar desta

característica, havia grupos que se organizaram e lutaram para que todos tivessem

a possibilidade de se expressar.

17
Percebe-se, então, que até mesmo durante a Ditadura Militar havia

pessoas que tentavam sair daquela situação, com base na Filosofia de

Transformação.

Mas o que seria este conceito, afinal?

Esta tendência visa a transformação da sociedade, com a conscientização

de indivíduos sobre a estrutura social. Esta análise os levará a procurar soluções

que tentarão resgatar a melhoria da qualidade de vida para todos,

A educação entra nesta tendência como mediadora de um projeto social,

promovendo uma visão crítica da estrutura social. Daí, então, virão

questionamentos e, cons, diferentes soluções para os diversos problemas. A

educação terá a grande função de conscientizar as pessoas dentro de uma

organização, para que estas possam lutar por uma sociedade menos injusta, mais

igualitária.

Os condicionantes histórico-sociais são as “molas mestras” dentro do

processo educacional. A prática educacional realizará uma organização, dentro de

um planejamento conjunto.

O objetivo é realizar reflexões críticas e estabelecer ações que visem a

participação do indivíduo na construção da realidade histórica.

Este processo se iniciará com o trabalho contextualizado, ou seja, o

educador deverá ter clareza para partir da realidade do seu grupo, e daí então

ampliar para o contexto social mais amplo, Paulo Freire (1992) diz que:

É preciso que o educador(a) saiba que o seu “aqui” e o seu “agora” são

quase sempre o “lá” do educando... No mínimo, tem de levar em consideração a

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existência do aqui do educando e respeitá-lo. No fundo, ninguém chega lá,

partindo de lá, mas de um certo aqui. (p. 5 9)

O trabalho em grupo, tendo o educador como orientador, será a estratégia

básica para desencadear esse processo. O dialogo construtivo desse grupo será um

instrumento que desencadeará as reflexões e críticas, procurando ações para

contribuir na prática social.

A concepção pedagógica que atenderá esta tendência acredita na

participação real do indivíduo na sociedade. Este contribuirá na transformação

social, visando a democratização da sociedade.

É necessário para o indivíduo estar entrosado com o seu contexto social,

porém devemos frisar que inteirar-se sobre a situação real não garante uma

mudança do contexto. Faz-se pertinente uma ação efetiva das organizações sociais

(sindicatos, igrejas, ONGs, etc.), e a escola é uma instituição integrante desse

processo, para delimitar estratégias que possam contribuir nessa transformação.

O professor deve participar desse contexto, de forma a garantir a mudança

pretendida, em termos dos objetivos que queremos alcançar.

A grande meta esta na melhoria da qualidade de vida da população. Esta

será alcançada com a participação da educação, formando indivíduos que possam

realmente contribuir nesta sociedade tão conturbada.

2.2.2. Correntes Pedagógicas?

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Embasados nas Tendências Educacionais, teóricos construíram ações

pedagógicas que são utilizadas no cotidiano escolar. As clarificações dessas

tendências são apresentadas por diferentes autores. Utilizaremos a divisão de

Libâneo (s.d.) para contextualizar pedagogicamente a prática escolar.

Não podemos deixar de explicitar que essas ações educativas estão de

acordo com o contexto histórico-social dos momentos vivenciados pêlos seus

construtores, justificando o porquê de, às vezes, não atenderem ao interesse da

maioria da população.

Pedagogia Libera!

O entendimento desta corrente requer a prévia apresentação de um breve

histórico sobre o caminho percorrido pela educação.

No inicio da vida em sociedade, a educação era oferecida

individualmente àqueles que tinham posses para remunerar preceptores, que

presta este serviço.

Estes apreenderam as informações com variadas leituras e nimbem

através da transmissão de outros “professores”.

Percebemos então que a educação era adquirida por quem detinha o

poder. Com isto, continuava a se manter o privilégio de educar-se para satisfazer

ao perfíl de um nobre, pertencente à realeza e tendo uma grande riqueza para

saciar suas vontades.

E os que não tinham posses, o que aprendiam?

20
Sabemos que estes não tinham acesso ao saber elaborado socialmente,

eram totalmente privados deste direito. Ficavam restritos ao contexto em que

viviam.

Com a ascensão da Burguesia ao poder, no advento da queda do

Feudalismo, vê-se então a necessidade de divulgação da cultura acumulada, pois

cai por terra a ascensão ao poder através da hereditariedade. Com isso, todos têm

direitos naturais de assumir o poder, exclusivamente das suas aptidões.

Surge então a Escola Tradicional Local, onde serão transmitidos os

conhecimentos adquiridos pela sociedade ao longo do tempo. Esta escola tem a

função de contribuir para o processo de emancipação dos indivíduos.

Porém, quando a Burguesia percebe não precisa sustentar as camadas

populares, pois estas estão subjugadas à dominação por não possuírem os meios

de produção, somente sua força de trabalho, acontece então a seleção na entrada

da escola.

A justificativa baseia-se na filosofia das diferenças individuais,

privilegiando os interesses de cada ser humano. Tudo isto deve ser visto dentro

das exigências sociais, para que tudo possa desenvolver-se de acordo com a nova

ordem de relação (dominantes x dominados).

A nova escola não precisa mais ser igual para iodos, pois os indivíduos

são diferentes. Há o privilégio da metodologia. Dentro disso, a marginalização das

crianças carentes acontece, pois estas não dispunham mais das situações escolares

que proporcionam a apreensão do conhecimento.

21
Este sintético relato situaliza o sistema capitalista em seu início,

estruturando as relações entre os detentores dos meios de produção e os

“vendedores” da força de trabalho.

A Pedagogia Liberal está contextualizada nesta realidade. E baseada no

desenvolvimento individual das aptidões, visando a ocupação do indivíduo em

uma função determinada na organização social. Não há ligação entre a natureza

do homem e a estrutura social em que ele vive, ambas são independentes.

A educação promove, então, a entrada e permanência do indivíduo na

sociedade, a partir do seu próprio esforço pessoal.

Não há contextualização da situação sócia! no processo educativo. Esta

prática escamoteia a estratificação de classes tão desigual que vigora até hoje em

nossa sociedade.

Esta corrente está estruturada na tendência da Educação Redentora, onde a

ênfase é dada ao setor cultural individual, difundindo a ideia de diferentes

oportunidades.

Existem argumentos consistentes para demonstrar a quem atende esta

prática pedagógica. Precisamos estar atentos para que filosofias segregadoras,

como esta, não tenham entrada em nossa prática escolar. ‘

Pedagogia Progressista

A Pedagogia Progressista também precisa de um breve histórico social

para ser contextualizada. Realizaremos essa reflexão no contexto social

brasileiro.

22
A utilização da Pedagogia Liberal nas décadas de 30, 40 e 50 fez com que,

na década de 60, professores que não estavam de acordo com esta postura

começassem a buscar novas formas de atender a uma demanda social.

Acontece então o Movimento Militar de tomada do poder, em 1964. O

Brasil vive um período de grande repressão, onde a censura é utilizada pêlos

militares para impor suas ideias e reprimir qualquer pensamento contrário ao

seu.

Esta corrente organiza uma nova postura dentro da educação, tendo como

eixo às mudanças sociais, que eram bastante emergenciais.

O pensamento progressista estrutura-se no contexto social, fonte de

inesgotáveis conhecimentos que devem ser analisados e questionados pêlos

indivíduos em seu processo educativo.

Com este princípio, vê-se que o conceito de educação, para esta linha,

baseia-se nas metas socio-políticas. O ato de aprender está ligado à participação

social e, conseqüentemente, a uma intervenção nesta sociedade, que tem a luta

de classes (dominantes x dominados) como eixo central de sua engrenagem.

Esta prática pedagógica é um instrumento que pode ser utilizado para

contribuir na luta de classes. A articulação dessa prática pedagógica, junto com

o pai:

sociedade (através de sua organização), são formas que a população dispõe

para expor a sua insatisfação e lutar pela melhoria da qualidade de vida.

O professor, dentro desta prática, será o elemento que sistematizará o

conhecimento, sendo o diálogo mediador do processo.

23
Educador e educando são sujeitos no ato de aprender os diferentes saberes

À discussão do grupo, com a sistematização e possíveis intervenções, dão o tom

democrático desse processo. Percebemos então que o autoritarismo está fora

destecontexto, sendo entendido até como obstáculo para o processo de

conscientização do grupo.

Estamos buscando, com este ato, o acesso aos diferentes conhecimentos

para os alunos. Os defensores desta corrente entendem que todos devem ter

acesso aos diferentes saberes acumulados, e não somente quem está no poder. A

democratização do ensino esta na abertura de escola para todos, como determina

a Lei 5692, de 1971; Art. 41 - A educação constitui dever da União, dos Estados,

do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, das empresas, da família c

da comunidade em geral, que entrosarão recursos e esforços para promovê-la e

incentivá-la.

Mas, a organização de todas estas partes não deve ficar só no papel. É

necessário que todos os pontos fundamentais, para que o ato de aprender

aconteça realmente, estejam sendo utilizados no processo educativo,

privilegiando a construção de conhecimento.

A finalidade mais ampla do processo educativo passa pela

conscientização dos indivíduos e a sua participação na construção de uma

sociedade mais justa e democrática.

Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos:

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Esta pedagogia esta inserida dentro de uma corrente pedagógica

progressista. Realizaremos um destaque para ela, pois nos oferece um dado

novo: o trabalho fundamentado na reelaboração do conhecimento.

Destacamos este ponto por entendermos que os conteúdos não devem

estar esquecidos dentro desta linha de trabalho. Acreditamos que através desses

conhecimentos o ato de aprender com uma postura crítica e criativa terá todas as

suas argumentações.

Paulo Freire tem a sua Pedagogia Libertadora, que enfatiza a todo

momento a questão do diálogo, da nova postura do professor frente ao processo.

Mas, e o conteúdo?

O conhecimento é a base fundamental deste processo. Através dele, o

processo educativo terá seus caminhos delineados para o entendimento da

organização social e, conseqüentemente, a participação de indivíduos

conscientes e críticos neste contexto social tão contraditório.

Deixamos claro, então, que são indissociáveis conteúdos e realidades

sociais. Até porque a natureza é anterior ao ato de sistematizá-la em

conhecimentos apalpáveis pelo indivíduo.

A integração do processo educativo e da sociedade requer que aconteça a

continuidade de uma linha estratégica. O processo de aquisição de conteúdos tem

um eixo fundamental, que deve estar explícito dentro da organização escolar. Este

processo tem um mecanismo básico.

Os participantes do processo (educador/educando) estão juntos analisando a

prática sócia! (conhecimentos da realidade do grupo), daí a ruptura quando o

25
professor traz o saber elaborado que ampara e amplia aqueles conhecimentos.

Volta-se então para a prática social, conscientizando da necessidade de intervir no

cotidiano social.

Análise da prática social —— Teoria que ampara e amplia os


conhecimento do grupo _____ Pratica social com participaçao.

2.2. Política na Educação

O conceito da palavra política em nosso país está bastante desgastado,

em função de uma prática partidária, que os indivíduos desempenham, nos seus

mandatos.

Citaremos um dos diversos conceitos de política que temos: “E o espaço do

poder, onde se administram as discriminações sociais...” (Demo, 1994, p. 12).

O autor foi altamente preciso quando afirmou que os indivíduos,

independentemente de tempo e espaço, estarão realizando ações políticas.

Dentro de nossa sociedade há um grande interesse, por parte de quem

está no poder, em que o povo não tenha esta visão real do contexto social.

A manipulação partidária torna-se mais fácil quando todos estão alheios

ao contexto. Os “políticos” que privilegiam seus próprios interesses, e não os

sociais, têm a grande chance de direcionar as ações de acordo com suas

conveniências. Esta é uma situação de dominação, onde quem está no poder

gerência este sistema.

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Acreditamos que esta situação de dominação, que os ditos

“representantes do povo” realizam nos espaços sociais, possa ser “desmascarada”

com a atuação dos professores dentro da comunidade escolar.

A reflexão e a crítica sobre a realidade daquela comunidade fazem com

que a comunidade escolar perceba as perspectivas futuras, os diversos caminhos,

com isso, abre um leque de opções onde todos possam estabelecer seus objetivos,

questões que realmente irão atender aos seus interesses, e não ao interesse de

“alguém”. Infelizmente, em nosso país, existem formas de se “fazer” política que

nem sempre correspondem aos princípios desta prática. O usufruto de urna

política em beneficio próprio, ou corporativista, descaracteriza o papel político do

cidadão na representatividade que lhe foi atribuída.

Existem diferentes correntes que trabalham politicamente o contexto que

temos; no momento atual, sobressai uma dessas formas, que é o Neoliberalismo,

Já analisamos o Liberalismo, caminho que acredita nas iniciativas dos

indivíduos, de acordo com as suas aptidões.Neste final de milénio, volta-se com

este interesse, tudo para a manutenção do poder.

Houve este retorno, pois não cabe mais, em um mundo onde a tecnologia

impera, que alguns fiquem aliados desse sistema. É necessário mão-de-obra

qualificada para manusear uma tecnologia cada vez mais especializada, isto não

quer dizer que farão parte do sistema. Somente serão utilizados, para continuar

mantendo o poder no controle dos dominadores.

O governo atua! está tentando implantar a filosofia de que o cidadão

conseguirá sucesso através do seu próprio empenho; sendo assim, ganhará

27
promoções e recompensas salariais. Prega a grande necessidade de reduzir os níveis

quantitativos da pobreza, mas continua manipulando o indivíduo com a política de

interesses politico-partidarios. A cultura brasileira tem essa característica do

apadrinhamento, do paternalismo ou do senhor de engenho.

No Neoliberalismo existe também a privatização como ponto importante,

independente do lucro. O Governo ficará somente com a saúde e a educação, os

outros setores serão privatizados. Quem lucrará com isto? E a educação? Este

setor está tendo retrocessos, quando percebemos as iniciativas do Governo. Existe a

intenção do Ministério da Educação em fornecer um currículo único para o pais e

uma avaliação ampla nos diferentes Estados. O que será que pretende’ Cremos que

existe por trás a intenção de se delimitar o que os indivíduos devem aprender, até

porque, depois, todos irão passar peia avaliação do Governo.

Quem elabora esse currículo? Quem formula essas avaliações? Como

serão essas avaliações. Estas questões são dúvidas que temos sobre uma política

que tenta colocar pontos estanques nos diversos setores, porém, quando juntamos

as peças, percebemos uma mesma intenção: a manutenção do poder.

Quando damos uma única forma de avaliação para um país como o nosso,

queremos que todos estejam sob controle. Dentro de parâmetros que o Governo

estabelecerá como fundamentais.

A educação tem grande chance de tentar impedir que esse processo avance. É

preciso que as escolas, com seus corpos docentes discutam estas questões e

planejem estratégias para que os educandos percebam essas ações e tentem não cair

nessa armadilha, pois, em princípio, há “boas” intenções nisto, na busca da

28
“Qualidade” na Educação. E necessário que o processo educativo vise à formação

do homem político, indivíduo que tem as possibilidades de organizar sua trajetória

histórica, mudança na natureza das relações. Esta formação também adquire papel

importante na função social da educação.

O educador tem um papei fundamental nesse processo, e precisa tomar o

leme deste barco, que está à deriva em várias instituições públicas.

Estamos buscando que o espaço escolar promova um processo

democrático, onde os indivíduos tenham realmente a oportunidade de construir a

sua cidadania. Onde possam ser políticos, tendo a consciência histórico-social

como contexto a ser analisado, e estabeleçam estratégias criativas para mudar a

situação atual de opressão que estamos vivendo.

Talvez possa parecer audacioso, mas lembremo-nos que alguém terá que

começar a plantar as sementes para que haja colheita no outono.

CAPITULO III

MODERNISTA, MODERNOSO OU MODERNIDADE?

Eduardo e Mônica

“Eduardo e Mônica eram nada parecidos

Ela era de Leão e ele tinha dezesseis

Ela fazia Medicina e falava alemão

E ele ainda nas aulinhas de inglês.

29
Ela gostava de Bandeira e do Bauhaus,

De Van Gogh e d ios Mutantes

De Caetano e de Rimbaud

E o Eduardo gostava de novela

E jogava futebol-de-botão com seu avô.

(Renato russo)

3.1 Contexto atual

“Na imagem que faz de si mesmo, o Ocidente e um mundo livre,

democrático e racional, ou seja, o melhor dos mundos possíveis... Os representantes

desse mundo se dizem realistas. Afirmam que suas instituições, seu pensamento e

sua ação encontram-se em harmonia com as ‘leis naturais ‘ da sociedade, com a

‘realidade ‘atual...” (Kurz, 1995).

Dentro deste pensamento, queremos iniciar reflexão sobre esta realidade

tão conturbada. Este pensamento altamente individualizado, onde a lei maior é “Eu

quero ser feliz”, é um dos pontos fundamentais deste contexto.

No conteúdo da!ei, percebemos que existe um forte sentimento

individualizado. As grandes questões de solidariedade, justiça social, ficam

reduzidas a saciar os desejos individuais.

30
Com a queda do Socialismo, ficou um grande vácuo de filosofia na

humanidade em relação à questão dos “fracos e oprimidos”. A juventude intelectual

não busca mais a ideologia social de luta pelos oprimidos, mas sim ganhar dinheiro

para consumir as imagens que o mercado econômico detona o tempo todo nos meios

de comunicação de massa.

Percebe-se a falta de um projeto individual de sociedade entre a juventude.

Conseqüentemente, os relacionamentos entre as pessoas tornaram-se superficiais.

privilegiando a utilidade das técnicas, em detrimento dos sentimentos.

Sabemos que as relações humanas estão ligadas a permanentes desejos,

consciência. Estes conceitos são contraditórios a uma formação tecnológica, onde a

lógica de causa e efeito são previstas e, conseqüentemente, pré-estabelecidas.

A tecnologia, hoje, invade a sociedade de forma avassaladora. Existe uma

grande preocupação com a produção tecnológica, porém é necessário algo que a

controle. A educação tem estrutura para realizar esta ação E necessário educar a

tecnologia, diz Demo (1993). Os educadores precisam ter consciência de suas

funções, para que a educação ocupe o seu lugar nas ciências sociais.

Tempo e espaço, com a tecnologia, são conceitos altamente discutíveis. O

planeta está “menor”, pois a informação chega rapidamente a qualquer lugar, em

poucos minutos.

Diante disso, ampliam-se também os limites territoriais. Percebemos que as

empresas saíram dos domínios do estado de origem e constróem filiais em diferentes

países.

31
Tudo isso faz com que tenhamos uma grande força emergente da empresa

(capital) em detrimento do Estado. Este permanece restrito às fronteiras territoriais

Há a diminuição da competência do Estado, com a venda de empresas estatais,

geralmente empresas globalizadas.

O capital das empresas não visa mais o desenvolvimento de seu próprio

país, mas a ampliação económica da própria empresa. Isto ocorre em decorrência do

aumento do consumo no mercado.

Analisando tudo isso, observamos que existe um processo de globalização a

todo vapor. Há interesse em que todos tenham uma cultura universal, perdendo a sua

individualidade cultural. A. saída das empresas de seus países de origem proporciona

uma enxurrada de pessoas imigrando para todos os cantos do planeta. Com o poder

do capital nas mãos, “poderosos” utilizam a mídia, invadem todos os espaços sociais,

fazendo com que grande parte da população perca sua identidade cultural.

Para que este poder continue, há a exploração de varias pessoas. Esta situação

nos leva ao que chamaremos de “Miséria Planetária”, ou seja, pobres e famintos que

residem em todos os cantos do planeta, sem que aconteça uma política eficaz que

realmente esteja preocupada em exterminar esta realidade.

Esta situação económica, que a principio parece beneficiar a todos, no fundo

continua privilegiando alguns em detrimento de outros. Em suma, o

“capitalismo”.

selvagem”. Este ganha nova “roupagem”, quando se introduz a produção e o

uso tecnológico.

32
Pedro Demo (l 993) tem uma definição para esta “nova forma de

apresentação:

... capitalista moderno, sobretudo aquele do Weijgre Staie buscaria enriquecer-

se através do domínio científico e tecnológico, passando com isto a depender mais

fortemente da qualidade educativa do trabalhador ‘ em termos de produtividade

(mais-valia relativa). (p. 87)

Continua-se com a exploração, porém de forma mais aprimorada. Temos

instrumentos tecnológicos mais sutis para que os dominadores continuem realizando

suas manobras políticas para se manterem no poder.

Diante deste fato, temos as pessoas que participam de toda esta estrutura, e

em sua maioria não percebem p que acontece ao seu redor.

A mídia “vende” um indivíduo padrão, que Jurandir Freire Costa (1994)

define assim:

... o modelo ideal de indivíduo dominante, o tipo “gomalina com celular”, é

indissociável do consumo urbano de cocaína, do desdém pelos mais pobres e

discriminados, da corrida pelo sexo, do aumento de vendas de tranqüilizantes, anti-

depressivos e hipnóticos, e por fim, do espaço, cada vez maior, feito por todos nós,

para viver sem raiva, intolerância e sentimento de solidão.

Diante destes fatos, não podemos mais dizer que as situações permanecem

as mesmas. A sociedade está se transformando. A questão é: Como iremos participar

desta transformação?

Existem vários caminhos a serem escolhidos. Acredito que a grande

mudança está na busca de uma sociedade em que todos tenham oportunidade para

33
participar realmente da construção de um processo histórico. Este deve ter como eixo

centrai a vida digna de todos os seres humanos.

Esta mudança não poderá ficar somente em discurso. Temos que pensar em

ações que sejam eficazes para esta transformação, A educação tem papel

fundamental neste processo.

Mas, afinal, o que seria moderno hoje em Educação? Pedro Demo

(1993) tem algumas definições que proporcionarão uma discussão interessante:

Modernista é a postura de submissão a tudo que se diz moderno, de caráter

acrílico e apressado.

... “Modernoso” o comportamento que aparente Modernidade, mas no

máximo a imita, e nisto a banaliza. Modernista é fanático modernoso é farsante.

... Modernidade significa o desafio que o futuro acena para as novas

gerações, em particular seus traços científicos e tecnológicos. (p. 19-20)

Precisamos ter claro que não estamos analisamos se queremos ou não a

modernidade. Ela está acontecendo. Com isto, precisamos saber como participar

dela.

A educação não deve temer a modernidade, ao contrário, precisa comandar

o processo científico e tecnológico, com a compreensão real do que ocorre neste

processo. Sua contribuição no processo de desenvolvimento é fundamental, sendo

um instrumento eficaz na construção da cidadania.

O indivíduo hoje precisa ser capaz de se relacionar com a realidade através

de um diálogo crítico e criativo. Construir uma sociedade onde a produção de

34
conhecimento tenha uma divulgação na classe popular, propiciando a todos

oportunidades visando o desenvolvimento do Estado.

Acredito que desta forma poderemos iniciar nossa participação efetiva nas

mudanças sociais. Sabemos que a escola não iniciará este processo

isoladamente, contudo não poderá ficar omissa desta participação,

3.2. E a Educação?

A estrutura social está formada por uma diversidade de questões que são

complexas e contraditórias.

No tópico anterior, analisamos sinteticamente esta questão, tentando enfocar os

variados aspectos.

Percebemos então que precisávamos destacar a temática educacional dentro

deste Contexto Atual. Em que mares estamos navegando? No alicerce desta

sociedade temos a política Neoliberal a todo vapor. A queda do Socialismo provocou

um desânimo nas pessoas. Pois a filosofia de oposição ao Capitalismo acabou, em

uma nação como a URSS. Em consequência disto, temos a volta do Liberalismo, que

continua a realizar a exploração do trabalhador com a máscara de “busca do

desenvolvimento social”.

Dentro desta rede de questões, temos a Educação, que também tem suas

questões que necessitam de uma análise crítica e questionadora.

Faz-se necessário o resgate da Ciência da Educação. Campo em que Filósofos

e Educadores competentes têm estudos e podem realmente contribuir para a melhoria

35
da qualidade da escola hoje. Precisamos ocupar e utilizar este espaço com

Educadores competentes, que possam realmente contribuir para um conhecimento

real do aprender do indivíduo.

Existe na Educação uma grande resistência para os novos conhecimentos. Os

educadores precisam analisar realmente e conscientemente suas práticas ao longo

do tempo, para que possam detectar o que será necessário aprender para dar

continuidade à construção do seu conhecimento.

O fracasso escolar é a tónica das discussões nas escolas. Em geral, este

fracasso tem seu fundamento na falta de uma estrutura educacional, que chamamos

de projeto pedagógico. A escola não se preocupa mais com os objetivos gerais da

instituição, ficando subjugada a manipulações políticas, que não têm a continuidade

educacional como meta.

Com isto, o fracasso dos alunos acontece de forma avassaladora, e o

professor, por não possuir diretrizes, não controla as saídas para os problemas.

Temos uma prática em Educação de ignorarmos as práticas anteriores,

derrubarmos tudo com o novo conhecimento que adquirimos. Sendo assim não

construímos nada, parece que estamos sempre iniciando. Às vezes também ocorre o

contrário: ficamos apegados a práticas falidas, que não atendem mais a nova

clientela, e com esta postura também não crescemos. Existe a necessidade de

observarmos os números de nossa escola, o quanto estamos fazendo com vistas á

melhoria, e como esta estratégia realmente influencia na avaliação finai dos

educandos.

36
Que conhecimentos queremos construir com os alunos, se nós mesmos não

realizamos nossa aprendizagem desta forma?

A organização do processo de aprendizagem do próprio educador faz-se

necessária, para que ele possa ter consciência de si próprio e dai conseguir

estimular o processo de aprendizagem de seus educandos. Faz-se necessário que

repensemos também a avaliação que a escola vem realizando, não se tendo a devida

análise para o processo educativo que está sendo realizado. A Formação dos

Educadores é um ponto fundamental para auxiliar nesta mudança. Que formação

está sendo promovida pelos Cursos de Formação de Professores?

Existe a necessidade de que esta formação tenha a linha de construção do

conhecimento, visando a participação na sociedade de forma consciente e crítica.

Que teóricos embasam esta formação. Que profissionais trabalham nesse

curso?

Estas e várias outras questões que poderíamos provocar nos dão a

possibilidade de realizarmos um outro trabalho, o que não é o nosso caso. Somente

queremos provocar reflexões no leitor, de forma que este possa buscar seus

próprios pensamentos e, conseqüentemente, seus novos caminhos, contribuindo

para disseminar essas ideias nos diversos campos educacionais.

Conforme esta análise, percebemos que os pontos estão interligados. O

professor tem uma função fundamental dentro do processo educacional, sua

formação é uma vertente que tem que ser revista. Sabemos também que este

Educador faz parte de uma instituição que precisa parar, discutir e avaliar as suas

estratégias de trabalho. Onde queremos chegar?

37
A fundamentação teórica é um eixo que deve estar estruturando todo o seu

trabalho. As teorias são leituras que proporcionam ao educador possibilidades

dentro do seu trabalho. Percebemos que há um grande abismo entre o discurso e a

prática em educação, que no cotidiano não se realizam de maneira integrada.

O trabalho com a realidade do educando é um ponto fundamental, se

queremos reverter este quadro. A partir disto, poderemos sistematizar todos os

pontos que integram este contexto e partir para a construção de um projeto

pedagógico que deverá ter o compromisso do educador, privilegiando a formação

do indivíduo para uma participação de cidadão nesta sociedade.

CAPITULO IV

A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: ACERTOS, ERROS E

POSSIBILIDADES

Novo Tempo

“... No novo tempo

Apesar dos castigos

De toda a fadiga

38
De toda injustiça

Estamos na briga

Pra nos socorrer

No novo tempo

Apesar dos perigos

De todos pecados

De todos enganos

Estamos marcados

Pra sobreviver...”

(Ivan Lins / Vitor Martins)

4.1 Trajetória do Orientador Educacional

O Orientador Educacional surgiu no contexto brasileiro através do Decreto-

lei 4073/42, que apontava a necessidade de um trabalho com a finalidade de

selecionar e orientar profissionalmente, adequando os indivíduos às suas vocações.

39
Esta atuação justificava o contexto que queria adequar os homens às

“ocupações” que interessavam aos detentores do poder. Havia o veredicto de um

especialista: o Orientador Educacional.

Quando aconteceu este surgimento, não havia mão-de-obra qualificada para

realizar essa tarefa, ficando então a cargo de qualquer pessoa da escola a realização

desse trabalho. Contradições de um país “importador de técnicas”.

Um outro aspecto bastante interessante desse contexto é que esse profissional

seria o “Deus Supremo” que daria a palavra final na vida das pessoas, constatando

suas aptidões.

Essa prática ó altamente política, pois há interesses dos dominantes para que

alguém, que não eles, diga à maioria que não pertence à cúpula que e!es têm suas

vocações asseguradas com o desempenho de profissões que pertencem ao trabalho

puramente manual.

Com a influência americana em nosso país, surgem (por volta da década de 40

até meados da década de. 60) estudos que revelam a necessidade de se trabalhar os

alunos individualmente. Surge, então, o Enfoque Clinico O estudo de caso é a tónica

fundamental. Iria se tratar o indivíduo através de técnicas e métodos, para interferir

no processo de aprendizagem daquele aluno. O fracasso do aluno estava estruturado

em suas próprias defasagens e, conseqüentemente, no contexto familiar.

Esse trabalho deixou várias falhas em seu percurso. Citaremos algumas:

• A importação de um modelo americano, para uma realidade

diferente;

• A falta de verbas para se ter recursos materiais necessários;

40
• A falta de estrutura material e de pessoal para esse trabalho;

• A falta de contextualização do trabalho escolar;

• O trabalho com o individual,

• A formação necessária do Orientador para a realidade brasileira.

Todos esses aspectos nos fazem refletir pobre um ponto fundamental: a falta de

um trabalho escolar estruturado e integrado. O que existe é um trabalho de um

profissional, individual, focalizando aspectos isolados do processo educativo.

Na década de 70, houve a reflexão a partir desse trabalho, pois ele não estava

atendendo as necessidades do cotidiano escolar. Como um todo, havia-se perdido a

visão geral do desenvolvimento do indivíduo. Dai então, surge o trabalho do

Orientador Educacional numa perspectiva do coletivo, o trabalho com as dinâmicas

de grupo, em uma linha mais preventiva Inicia-se então o Enfoque Preventivo da

Orientação Educacional.

Nesse período, o Serviço de Orientação Educacional sai do seu território e vai

atuar na sala de aula, visando a prevenção do fracasso escolar. Utilizando as

dinâmicas de grupo como instrumentos que podem solucionar as questões afetivas da

turma.

Porém, os problemas ainda eram de ordem emocional, ainda estavam centrados

nos alunos e em suas famílias. Não havia a visão do trabalho escolar.

Há uma corrida às livrarias e bibliotecas, na busca de encontrar técnicas que

pudessem ser utilizadas nos mais diversos problemas. Com isto, começa-se a utilizar

instrumentos sem uma reflexão. E necessário esclarecer que esse trabalho tem a sua

importância, porém os profissionais sub-utilizaram um material que poderia abrir

41
grandes discussões na escola se utilizado dentro de um contexto em que o objetivo

principal fosse o processo educativo dos indivíduos, e não a solução de problemas

emocionais de cada educando.

A educação também participa desse movimento com os questionamentos às

práticas autoritárias e limitadas. Era necessário focalizar a instituição escolar com os

seus acertos e erros. A Orientação Educacional participa dessa discussão,

questionando sua prática. Surge então o Enfoque Critico.

Acontece a revisão dos objetivos do trabalho da Orientação Educacional,

questionando-se, por exemplo, aos interesses de quem esse profissional privilegia.

Faz-se necessário contextualizar os indivíduos, fornecendo uma visão do

processo histórico-social, de forma encadeada, critica e questionadora. Que isso

possa auxiliar no processo de participação que estes vão realizar no contexto social.

O Orientador Educacional percebe que deve existir um trabalho de equipe

dentro da instituição escolar, e todos devem ter objetivos traçados em conjunto,

atingi-los com os alunos.

Esses três enfoques coexistem até hoje, pois os educadores brasileiros, de um

modo geral, ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre os objetivos gerais

educacionais do pais, com base no contexto social paradoxal que vivemos,

Os políticos detêm esse poder, porém ainda estamos iniciando um processo de

participação político-social. Por isso, ficamos à mercê de pessoas que, muitas vezes,

não têm os mesmos objetivos dos educadores.

42
A visão contextualizada do processo educativo é muito nova, em termos

cronológicos (por volta de 15 anos). Ela está centrada no cotidiano escolar e nas

relações que ele mantém com a sociedade.

A estrutura social deste país nunca privilegiou todos os indivíduos, apenas

atendeu aqueles que detêm capita! e podem “comprar” sua educação. De uns tempos

para cá, a classe popular entrou para a escola pública. Daí, então, iniciamos um

movimento de tentar entender toda esta classe, que tem características próprias e que

deixa os educadores perplexos, pois não entendem o desenvolvimento hstórico-social

que ela sofreu.

Acreditamos que esse trabalho requer dos educadores um compromisso com a

instituição escolar. E o Orientador Educacional tem um papel que, a nosso ver, ó

fundamental: mediar esse contexto tão conturbado, percebendo os “nós” e tentando

apontar as discussões necessárias para um trabalho encadeado e contextualizado.

Precisamos frisar a necessidade de um olhar mais atento para a realidade do

educando, pois é para ele que a instituição existe. Deve-se reforçar a sua função de

formação de um indivíduo crítico e criativo, que participe do processo social aluando

como cidadão construtivo e questionador.

4.2. Perspectiva Atual

A existência de uma complexa realidade faz com que tenhamos discussões que

visam a necessidade de buscar alternativas variadas para o fracasso educacional que

está instalado nas escolas atualmente.

43
O Orientador Educacional é um elemento que faz parte desse amplo contexto

educacional, tendo muito a contribuir na melhoria da qualidade na formação do

indivíduo.

Dentro da caminhada do Orientador Educacional, percebemos mudanças na

estrutura do seu trabalho, fato que ocorreu conjuntamente com as modificações em

todo o campo da Educação.

Em termos legais, temos em vigor a Lei 5692/71, que, de um modo geral, no

nosso entender, não mais atende às necessidades da realidade educacional que temos

hoje em todo país. Esta tramitando no Congresso Nacional uma nova Lei de

Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, que ainda não foi sancionada

Observamos que não há mais destaque para o Orientador Educacional, como

no passado, embora nos projetos de lei esteja implícita a necessidade do especialista.

Acreditamos que precisamos ocupar o espaço do nosso trabalho no interior da escola.

contribuindo no processo educativo, que está repleto de necessidades educativas que

precisam ser realizadas.

Contextualizando essas perspectivas, temos a escola como loca! Onde deve

ocorrer um processo educativo baseado em vários princípios que ao longo deste

trabalho viemos destacando.

Percebemos que os dirigentes políticos do sistema educacional não

percebem que há esta necessidade. Acreditamos, então, que devemos iniciar

essas perspectivas mostrando o trabalho do Orientador Educacional.

A entrada da classe popular na Escola Pública mostra que há um trabalho

que temos que realizar. Por isto, devemos realizar o nosso trabalho com quem

44
realmente precisa de um atendimento de qualidade. Essa clientela já está na

Escola há algum tempo. As perspectivas para essa ciasse, com a “diminuição”

do planeta, ou seja, os avanços tecnológicos que nos colocam perto de nações

tão distantes, fornecem um novo pensamento. Observamos uma modificação de

filosofia no que diz respeito à formação desse indivíduo.

Com o fenômeno da globalização tem-se uma expectativa social diferente

para a classe popular. Existe atualmente a necessidade de uma formação

qualificada para esses educandos, pois a demanda do mundo atual prevê a

necessidade de ter-se um indivíduo com iniciativa, crítico e criativo, capaz de

atuar de forma integral nesta sociedade tão complexa. Não podemos ser

ingénuos em acreditar que não lia manipulação dentro desta expectativa, pois;

sabemos que essa “melhoria na qualidade” almeja uma melhor qualificação dos

indivíduos para que o desenvolvimento da sociedade continue ocorrendo da

mesma forma: dominantes x dominados.

Percebendo tudo isso, acreditamos que ternos alguns caminhos para

percorrer, ações que devem ser desenvolvidas visando a melhoria na formação

do indivíduo.

O educador é um eixo fundamental dessa “engrenagem”, a qual chamamos

processo educativo. O corpo docente da escola tem um código, que percebemos

nas ações mais sutis. O Orientador Educacional poderá atuar junto ao corpo

docente da escola, sensibilizando-o; destacando a importância da análise dos

estudos, questionando-os e reconstruindo concomitantemente com os educandos

o que ele, educador, está estudando.

45
A construção do conhecimento é “um aspecto importante para uma

continuidade no trabalho pedagógico nas escolas. As teorias educacionais atuais

trouxeram grandes contribuições quanto ao aspecto da aprendizagem dos

educandos.

Os estudos que serão realizados sobre essas teorias contribuirão para a

melhoria da qualidade do ensino de educando que têm a escola como única fonte

de saber.

O estímulo do Orientador Educacional será, nesse momento, de grande

importância, provocando questionamentos e análises sobre a experiência do

cotidiano escolar e as teorias dos académicos.

A produção tecnológica é um ponto que deve ser discutido. A rapidez e a

produção em alta escala de aparelhos eletrônicos com diversas funções acontece

a todo momento. A globalização que estamos vivendo faz com que esses

conhecimentos cheguem rapidamente nos diversos espaços sociais, por isso

acreditamos, que os educadores devem gerenciar esse processo, humanizando-o.

Para isso, o educador precisa ocupar o seu espaço de trabalho, mostrando

coerência e a estrutura científica que estrutura sua prática.

A ocupação desse “território” far-se-á com a produção científica dos

educadores e a utilização de conhecimento pêlos mesmos Existe a necessidade

de uma produção qualitativa neste setor. O conhecimento científico se faz

necessário no cotidiano educacional, pois será através dele que a prática

educacional será estruturada.

46
A necessidade da produção de conhecimento leva a dois pontos

valorizados dentro do contexto social. Um seria a questão política: a formação

consciente e participativa do indivíduo na sociedade proporcionará o resgate da

cidadania. Outro ocorrerá no setor econômico, que busca a produtividade: com a

melhoria da formação, aumentaremos a produção da sociedade .Como estamos

nos referindo o tempo todo ao conhecimento, precisamos destacar a necessidade

do trabalho interdisciplinar. Ou seja: as diferentes áreas do conhecimento estão

dispostas separadamente no 2° segmento do 1º grau e no 2 grau, para efeitos

didáticos. Porém, sabemos que o conhecimento é um só. Haverá sempre a

integração dos diversos campos do conhecimento diante de um determinado

tema. Por isso, a necessidade da organização do planejamento em consonância

com os demais, pois assim possibilitaremos que o educando perceba a integração

com as respectivas especificidades de cada área do conhecimento.

Existe a necessidade do Orientador Educacional trazer as diversas

estratégias para a análise do corpo docente, definindo-se então o que será

utilizado. Habilitar-se metodologicamente deve acontecer com o Orientador

Educacional e com o professor em seu cotidiano escolar. Juntos, poderão

discutir, analisar e avaliar o que é melhor para o conjunto da instituição.

A questão do conhecimento esta estruturada dentro do âmbito cultural,

pois através deste conseguiremos inspiração, criatividade, e buscaremos novas

perspectivas para o futuro de nossa sociedade.

47
Não há sobrevivência de uma cultura se esta isolar-se. Há de acontecer

uma integração para que ocorra uma retroalimentação destas, e dai possamos

caminhar com o desenvolvimento social.

O contexto atual tem uma problematização de varias ordens, como:

Drogas, Violência, Sexualidade, etc. Tudo isto requer dos educadores discussão,

para possuírem um posicionamento sobre que educação pretende-se fornecer aos

educandos. Cabe à O gerenciamento desse processo deve ocorrer através de uma

Equipe Técnico-Pedagógica. escola este questionamento e, conseqüentemente,

esta prática, que é altamente educativa.

Todos estes aspectos são tentativas que a escola poderá buscar, visando à

melhoria do processo educativo que acontece em seu interior, que está

desajustado.

Acreditamos que podemos transformar esta realidade, mas para isto

precisamos crer que o corpo docente tem potencial e quer realizar um trabalho de

qualidade, visando a melhoria da formação do indivíduo.

4.3. Novas Competências?!

O contexto atual do cotidiano escolar mostra a grande necessidade de um

trabalho da Equipe Técnico-Pedagógica. Afirmamos este princípio por motivos

diversos, que foram expostos ao longo deste trabalho.

A realidade da escola, hoje, tem uma diversidade de ações que precisam ser

realizadas junto a professores, alunos, funcionários e comunidade.

48
A proposta deste trabalho está centrada em um Educador que tem como

especialidade a Orientação Educacional. Já discutimos anteriormente sobre a

caminhada deste profissional. Agora iremos expor e discutir mais profundamente

sobre as ações que este Educador desempenha, ou poderá vir a realizar, baseadas

em toda a filosofia educacional que foi sistematizada até então.

O esquema estrutural apresentado a seguir sistematiza o nosso pensamento

sobre as ações do Orientador Educacional baseado no projeto pedagógico da

escola.

Trabalho do Orientador Educacional

centrado no Projeto Pedagógico

Compromisso político-social

Compromisso político-social Fundamentação teórico-metodológica

Relações sócio-afetivas

Sincronicidade

Estrutura do Projeto Pedagógico

Atuação do Orientador Educacional

Dimensões Simultâneas

Estimular Mediar Educar

Projeto Pedagógico

Esta estrutura sintetiza um caminho de atuação para o Orientador

Educacional, que poderá desencadear várias outras trilhas, quando este Educador

contextualizar esta estrutura no cotidiano da instituição na qual atua. O trabalho

49
do Orientador Educacional está centrado no projeto pedagógico da escola. A

compartimentalização do trabalho do Orientador Educacional visando

simplesmente as “aptidões naturais” do indivíduo não mais se encaixa no mundo

atual, onde há uma relação de informações que ocorrem a todo momento dentro

dos diversos setores da sociedade. Baseado neste princípio, o trabalho com o

coletivo em que o grupo constrói objetivos que serão perseguidos para a formação

de indivíduos, é uma meta a ser alcançada. Temos um Educador que faz parte da

instituição e também está perseguindo os mesmos objetivos. Sendo assim,

iniciamos nossa estrutura com o Projeto Pedagógico da Escola. Partindo desse

projeto, temos três eixos fundamentais, que embasam o projeto e que muitas vezes

não são sistematizados dentro da escola. São estes:

Compromisso político-social:

Existe a necessidade de um trabalho que esteja pautado na ação política do

educador. A sociedade requer postura e participação de todos. Ações que estão

integradas no projeto pedagógico. Este eixo é fundamental, por delimitar no projeto

a necessidade de formar cidadãos com posições e pensamentos perante os diversos

assuntos sociais. Somente assim conseguiremos a participação e a construção da

sociedade.

Fundamentação Teórico-Metodológica:

50
O educador deve basear o seu trabalho em uma estrutura do conhecimento,

tendo a metodologia para auxiliá-lo no encaminhamento. Existe a necessidade de

buscarmos as fontes do nosso trabalho, onde realmente podemos estruturar o

conhecimento que o educador precisa.

Relações Sócio-Afetivas:

Eixo que, às vezes, passa desapercebido no projeto de fornia

sistematizada, mas que acontece o tempo todo no cotidiano escolar. Precisa-se

organizá-lo para sabermos com que valores estamos trabalhando e quais os que

queremos realmente presentes na formação dos educandos.

A grande contribuição da autora Vera Placco (1994) em nosso trabalho faz-se

com a visão de Sincronicidade, que organiza e estrutura seu pensamento. No

cotidiano escolar, esses eixos não são sistematizados didaticamente. Estamos o

tempo todo utilizando-os juntos, ou às vezes solitários. As situações escolares são

diversificadas, exigindo dos educadores ações variadas.

A atuação do Orientador Educacional é de fundamental importância dentro do

processo de mudanças que a Educação vem sofrendo ao longo do tempo. Suas

funções devem também ser refletidas e modificadas de acordo com o contexto Com

isto, as variáveis tempo e espaço são essenciais para o entendimento do processo.

Por isso, estamos, mais uma vez, nos adaptando às necessidades atuais do contexto

educacional.

Acreditamos que existam três dimensões que ocorrem simultaneamente e que

embasam as competências do Orientador Educacional.

51
Estimular:

Dentro deste contexto diversificado, a estimulação para as reflexões e

discussões são pertinentes e necessárias. Professores, alunos, funcionários e

diretores precisam estar sendo sempre “catucados”. Estaremos, então,

possibilitando questionamentos e, conseqüentemente, avanços no processo

educativo. Às vezes ocorrem retrocessos, porém sabemos que isso faz parte do

processo de construção do saber.

Mediar:

Esta ação é realizada o tempo todo no processo educativo. Ha dois aspectos

que podem ser observados. A nível das relações, deve haver uma mediação sobre os

diversos discursos dos diferentes personagens do contexto escolar. Estes discursos

estão repletos de informações de várias fontes, com diversos enfoques. Deve haver

um mediador neste momento, para discutir com as pessoas sobre os assuntos e os

encaminhamentos que ocorrerão

Educar:

Tarefa complexa e ampla. Somos educadores o tempo todo.

No compromisso com a formação do indivíduo, temos que nos preocupar

com nossos discursos e ações, para que estas estejam de acordo com os objetivos

traçados no projeto pedagógico.

52
A construção da cidadania acontece quando a escola fornece a oportunidade

de seus educandos estarem participando concretamente do próprio processo

educativo da instituição Vivenciando esta prática, a participação do indivíduo na

sociedade será plena, uma postura realmente democrática.

A construção da escola democrática, a que viemos durante todo o trabalho

nos referindo, precisa ter ações estruturadas e que estejam baseadas na realidade

educacional Não queremos aqui uma idealização de alunos e do contexto

educacional. O educando da classe popular existe, e faz-se pertinente e urgente um

trabalho com estes indivíduos, que no futuro participarão da nossa sociedade. Cabe

a nós. educadores, atuarmos na formação destas pessoas, para que exista

planejamento nesta participação.

A busca por novos caminhos tenta passar questões que ainda não foram

realizadas na escola. Queremos uma formação do indivíduo com bases em

construção e participação no contexto social. Isto levará a um futuro mais

consciente nesta sociedade.

O Orientador Educacional tem grande campo para trabalho. Todas estas

questões dentro do cotidiano escolar, detectando as contradições, promovendo

reflexões e buscando junto ao grupo possíveis soluções.

O trabalho do Orientador Educacional partira do projeto pedagógico da

escola, que é contextualizado de acordo com a comunidade em que a instituição

está inserida

53
Precisamos ter clareza de que não há culpados ou inocentes dentro desse

processo educativo Há uma realidade complexa que necessita ter um trabalho, que

por sua vez é difícil, porem necessário.

O caminho é longo e árduo, porém alguém deverá iniciar este processo.

Como diria um velho educador anónimo;

“Alguém deve limpar os gravetos e as folhas secas do terreno.

CAPITULO V

Conclusões

Sol de Primavera
“Quando entrar setembro

E a boa nova andar nos campos

Quero ver brotar o perdão.

Onde a gente plantou

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(Juntos outra vez)

Já sonhamos juntos

Semeando as canções no vento

Quero ver crescer nossa voz

No que falta sonhar

Já choramos muito
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Muitos se perderam no caminho
(Que venha trazer)
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender.
(Beto Guedes - Ronaldo Bastos)

Ao chegarmos neste ponto, percebemos questionamentos que foram

realizados em variados momentos de reflexões. A caminhada de um Educador é

angustiante, porém como ser diferente tratando com seres humanos repletos de

diferenças?

A trajetória percorrida pela Educação de acordo com o tempo histórico nos

proporciona um entendimento de fatos que ocorrem hoje, em nosssos dias.

Constatamos que existe uma origem para estarmos ainda discutindo questões como

compromisso e competência do Educador. Não há uma preocupação com a

cientificidade do trabalho educacional ao longo do tempo. A Educação esteve a

serviço de governantes que a direcionavam de acordo com seus interesses. A classe

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popular nunca teve oportunidades reais de estar na escola, como atualmente. Esta

barreira foi rompida, porém, em contrapartida, há um sucateamento da Escola

Pública, faltando materiais básicos.

Não é por acaso que estes fatos acontecem. A clientela que a frequenta não

pertence à classe dominante. Contrapondo-se a este ponto, há a demanda do

fenómeno da globalização. Atualmente, necessita-se de um indivíduo ágil, criativo,

que atenda a uma demanda rápida e diversificada da sociedade moderna. A escola

deve repensar sua prática, redefinindo objetivos.

Todas estas questões são consequências de fatos histórico-sociais que vêm

ocorrendo.

O contexto atual não oferece padrões referências (ou melhor, oferece vários,

dependendo dos fins que se quer atingir). A escola faz parte desse contexto e parece

estar sem direcionamento, sem diretrizes. Reforça-se, mais uma vez, que não há

mais espaço para repressões e doutrinas, ações que a escola realiza até hoje com

seus alunos

O Orientador Educacional tem um papel fundamental na busca da melhoria

na qualidade da formação do indivíduo. As ações que este Educador irá utilizar

para transformar são fundamentais no cotidiano escolar.

E necessário que a escola reavalie sua prática, percebendo que há uma

ampliação dos estudos na área educacional. Atualmente temos novos conhecimentos

em relação ao processo educativo que necessitam realmente ser discutidos para que

se possa concretamente detectar os pontos de conflito no processo de aprendizagem e

buscar-se alternativas.

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Todas essas alternativas têm a formação do indivíduo, a sua participação e a

construção na sociedade como pontos fundamentais. Para isto ó que estamos

buscando os estudos e, consequentemente, a melhoria. Acreditamos que o Orientador

Educacional tem um papel fundamental neste contexto, sendo altamente pertinente e

necessária a sua presença na escola.

REFERENCIAS BÍBLÏOGRAFICAS

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professor como pesquisador. São Paulo: EPU, 1990.

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