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Aula 1- Nosso lugar no Universo

Área 1, Aula 1.

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho.

Ilustração da Via Láctea e seus quatro braços maiores - Perseu, Norma, Crux-
Scutum e Carina-Sagitário - e os braços menores de Órion e Cignus.
Fonte: http://www.apolo11.com/imagens/etc/via_lactea_bracos_small.jpg.

Introdução
Prezado aluno em nossa primeira aula, da primeira
área, vamos estudar o nosso lugar no Universo.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula vamos estudar a nossa localização no
Universo, ao final esperamos que você esteja apto a:
• identificar endereço da Terra no Universo;
• diferenciar um planeta de uma estrela;
• definir galáxia;
• identificar quantos sóis têm em nossa galáxia;
• estruturar o Universo em larga escala;
• localizar a nossa galáxia no Universo;
• conhecer a composição do Universo, partindo
do nosso planeta, chegando ao Sistema Solar, a
composição da Via Láctea, do Grupo Local, do
Superaglomerado Local e, finalmente o Universo
conhecido.

Estamos no centro do Universo?


Nosso lugar no Universo

A Terra é um planeta, o que significa que ela é um


corpo relativamente grande que orbita uma estrela - o nosso
Sol.
O sistema solar consiste do Sol e de todos os corpos que
o orbitam: os oito planetas (incluindo a Terra), com seus
satélites e anéis, os asteroides, os cometas e as incontáveis
pequenas partículas que compõem o pó interplanetário.
Nosso Sol é uma estrela, como outras estrelas que
vemos no céu noturno. O Sol e todas as estrelas que podemos
ver a olho nu fazem parte de um enorme conjunto de estrelas
de forma discoidal chamado Via Láctea, a nossa galáxia. Uma
galáxia é um enorme conjunto de estrelas no espaço,
contendo de centenas de milhares a um trilhão ou mais
estrelas. A Via Láctea é uma galáxia relativamente grande,
com mais de 100 bilhões de estrelas.

Figura 01.01.01: Representação artística da Via Láctea mostrando a


localização do Sol. O sistema solar é localizado a aproximadamente 2/3 da
distância entre o centro e a borda do disco galáctico.

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Muitas galáxias se encontram agrupadas, formando
Müller, Saraiva & Kepler aglomerados de galáxias. A Via Láctea pertence a um grupo
de aproximadamente 50 galáxias, chamado Grupo Local.
Em grande escala, o Universo tem a aparência de uma
esponja na qual galáxias e aglomerados de galáxias são
distribuídos esparsamente formando as "paredes" da esponja.
Em alguns lugares as galáxias e aglomerados de galáxias
estão mais condensados, formando estruturas gigantescas
chamadas superaglomerados, eriam as partes ocas da
esponja. O Grupo Local de galáxias pertence a um
superaglomerado chamado Superaglomerado Local. Entre
essas vastas superestruturas existem enormes vazios contendo
poucas ou nenhuma galáxia, que na nossa analogia seriam as
partes ocas da esponja.
Finalmente, o Universo é a soma de toda matéria e
energia, isto é, ele compreende os superaglomerados de
galáxias e vazios, e tudo o que há dentro deles.

Tradução livre de excertos do livro "The cosmic Perspective", de J.


Bennet, M. Donahue, N. Schneider e M. Voit, 2002.

Para finalizar essa introdução, acesse o vídeo


O Universo Conhecido.

Resumo
O planeta Terra está localizado no Sistema Solar que,
juntamente com mais de 100 bilhões de estrelas, formam a
nossa galáxia, a Via Láctea. A nossa galáxia faz parte de um
pequeno aglomerado de galáxias chamado Grupo Local,
que por sua vez faz parte de uma região gigantesca em que
há maior condensação de galáxias e de aglomerados de
galáxias, chamado de Superaglomerado Local. Esse, por sua
vez, juntamente com os demais superaglomerados de
galáxias e de vazios, formam o Universo.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Qual o endereço da Terra no Universo?


2. Como um planeta se distingue de uma estrela? Qual
o papel da massa nessa distinção?
3. O que é uma galáxia? Como é o nome da galáxia a
que pertence o sistema solar?
4. Quantos "sóis" têm, aproximadamente, a nossa
galáxia? Qual o lugar do nosso Sol nela?
5. Em larga escala, como o Universo está estruturado?
6. A nossa galáxia ocupa um lugar especial no
Universo?

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Müller, Saraiva & Kepler
A seguir, no ambiente virtual de aprendizagem, veja se
há alguma atividade prevista para a conclusão dessa aula.
Obrigado pela sua presença, em caso de dúvidas
contate o tutor.
Até a próxima aula!

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Müller, Saraiva & Kepler
Aula 2 - Estrelas Binárias Área 2, Aula 2

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Ilustração do exoplaneta
Kepler-16 com seus dois
sóis. O planeta foi
descoberto pela missão
Kepler da NASA. Crédito:
NASA/JPL- Caltech.

Introdução
Prezado aluno, em nossa segunda aula, da segunda
área, vamos tratar das estrelas binárias. Primeiro devemos
ter o cuidado para saber diferenciar estrelas binárias reais
(duas estrelas próximas no céu que se encontram à mesma
distância da Terra, formando um sistema físico) e binárias
aparentes – ou estrelas duplas aparentes (duas estrelas
próximas no céu, porém, que se encontram a distâncias
diferentes da Terra, mas por projeção parecem duplas).
Mais de 50% das estrelas do céu compõem sistemas
com dois ou mais membros.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos de estrelas binárias e
esperamos que ao final você esteja apto a:
• definir o que é uma estrela binária;
• diferenciar os tipos de sistemas binários;
• calcular a massa das estrelas em sistemas
binários;
• entender a importância dos sistemas
binários para conhecer as massas das
estrelas.

Por que estudar estrelas


binárias?
Estrelas binárias
São duas ou mais estrelas próximas que estão
praticamente a mesma distância da Terra, formam um
sistema físico, orbitando mutuamente.
Mais de 50% das estrelas do céu compõem
sistemas com dois ou mais membros. Desde 1783 se tem
registro de evidências de estrelas binárias.

Estrelas binárias

São duas estrelas próximas Figura 02.02.01: Sistema binário eclipsante Algol.
que estão praticamente à
mesma distância da Terra Um breve histórico das estrelas binárias
e formam um sistema
físico, orbitando Em 1783, John Goodricke viu a estrela Algol (β
mutuamente. Persei) diminuir seu brilho em mais de uma magnitude por
Estrelas binárias aparentes
algumas horas,e calculou seu período em 2d 20 h 49min.
Em 1804, William Herschel descobriu uma companheira
São duas estrelas que fraca da estrela Castor (a Geminorum) e, usando uma
parecem estar próximas medida que James Bradley havia feito em 1759, mediu o
no céu, mas estão a
distâncias diferentes da
período como sendo de 342 anos. Herschel foi o primeiro a
Terra e só parecem duplas estabelecer que se tratavam de corpos interagindo
pelo efeito da projeção. gravitacionalmente, isto é, de binárias físicas. Em 1827, Felix
Savary determinou, pela primeira vez, a órbita de uma
estrela binária, ao mostrar que ξ Ursae Majoris tinha uma
órbita elíptica, com um período de 60 anos. Em 1889,
Edward Charles Pickering e Antonia Caetana de Paiva
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Pereira Maury descobriram as binárias espectroscópicas,
Müller, Saraiva & Kepler
ao perceberem que a estrela Mizar A (ζ Ursae) apresentava
linhas duplas que variavam com um período de 104 dias.
Em 1908 Mizar B foi também detectada como uma binária
espectroscópica por Edwin Brant Frost 1866 – 1935) e
Friedrich Wilhelm Hans Ludendorff (1873 - 1941), com um
período de 175,6 dias.

Figura 02.02.02: O sistema binário Castor, a estrela mais brilhante da


constelação de Gemeos (1,6 mag), que está a 45 anos-luz da Terra e é
composto de duas estrelas separadas de 6 segundos de arco e com um
período de 350 anos.

Figura 02.02.03: Imagem atual obtida com o interferômetro ótico Navy


Prototype Optical Interferometer no Arizona, com seis telescópios,
compreendendo 15 minutos de arco, de Mizar A (2,27 mag), uma binária
espectroscópica descoberta em 1889, Mizar B (3,95 mag), a 15 segundos
de arco de distância, e a estrela variável Alcor (4,04 a 4,07 mag).

Figura 02.02.04: Posição de Mizar na constelação de Ursa Major, também


conhecida como Big Dipper, do hemisfério norte.
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Müller, Saraiva & Kepler
Tipos de Sistemas Binários
Existem quatro tipos de sistemas binários e eles são
classificados conforme as suas descobertas (histórico).
- Binárias visuais
São classificados como binárias visuais os pares de
estrelas que estão associadas gravitacionalmente que se
separam por dezenas e até centenas de unidades
astronômicas. Ao serem observadas por telescópio são vistas
como duas estrelas. (Exemplos nas figuras 02.02,05 e 02.02.06).

Figura 02.02.05: Binárias visuais Mizar e Alcor.

Figura 02.02.06: Sistema binário visual Sírius A e Sírius B.

- Binárias astrométricas
São assim classificadas quando um de seus
componentes é muito tênue para ser observado ao telescópio,
mas a sua detecção é obtida pelas ondulações no movimento
da companheira mais brilhante. (Exemplo na figura 02.02.07).

Figura 02.02.07: Movimento do sistema Sírius A e Sírius B medido entre 1980 e


1920. A linha pontilhada marca o movimento do centro de massa. Antes da
descoberta de Sírius B, em 1862, apenas o movimento de Sírius A era detectado,
e a estrela era classificada como binária astrométrica.

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Müller, Saraiva & Kepler
- Binárias espectroscópicas
Nesse sistema a separação média entre as estrelas é
na ordem de uma unidade astronômica (1 UA). Por
apresentarem um período curto, a velocidade orbital é
grande. Para determinar a natureza desse sistema de estrelas
binárias faz-se a observação da variação da sua velocidade
radial, estabelecida através da análise das linhas espectrais
da estrela que variam de comprimento de onda com o passar
do tempo. (Exemplos nas figuras 02.02.08 e 02.02.09).

Tipos de Sistemas
Binários

-Visuais
-Astrométricos
-Espectroscópicos
- Eclipsantes

Três posições
características de um
sistema binário e o efeito
produzido no espectro
observado quando
como de uma linha de
visada paralela à
página, de baixo para Figura 02.02.08: Dois espectros de Mizar obtidos por Pickering em 27 de março
cima. e 5 de abril de 1887. Notar como a segunda linha (uma linha do cálcio)
aparece dupla no primeiro espectro e simples no segundo. Não se nota a
duplicidade da primeira linha (que é uma linha do hidrogênio) no primeiro
espectro porque a linha é muito forte.

Figura 02.02.09: Três posições características de um sistema binário e o efeito


produzido no espectro observado quando como de uma linha de visada
paralela à página(isto é vista de cima), de baixo para cima.
. Na figura da esquerda, a estrela azul está se aproximando do observador,
então as linhas espectrais características dela aparecem deslocadas para o
azul; a estrela vermelha está se afastando, então as suas linhas espectrais
aparecem deslocadas para o vermelho. Na figura do centro os movimentos
das estrelas não têm componentes na direção de visada, então as linhas
ficam superpostas. Na figura da direita a estrela azul está se afastando e a
estrela vermelha está se aproximando, então as linhas da estrela azul ficam
deslocadas para o vermelho e as linhas da estrela vermelha ficam deslocadas
para o azul.

- Binárias eclipsantes
São classificadas assim os sistemas em que uma estrela
eclipsa a outra, quando a órbita do sistema observado está
de perfil para o observador.
Confira uma bonita animação de eclipsantes,
disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela_bin%C3%A1ria#Bin.
C3.A1rias_astrom.C3.A9tricas

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Müller, Saraiva & Kepler
Determinação da Massa de um Sistema Binário Visual

O movimento de cada estrela constituinte de um


sistema binário ocorre em torno do centro de massa do
mesmo. É mais simples observar o movimento de apenas uma
das estrelas, geralmente a mais fraca em torno da mais
brilhante. Tal observação indica a órbita relativa aparente.
Essa órbita tem a mesma forma das órbitas de cada
uma das estrelas, sendo que a de maior massa fica no foco da
órbita relativa. Só se pode determinar com precisão as órbitas
relativas dos sistemas de período pequeno (poucas centenas
de anos). Os dois parâmetros observados são o período (P) e o
ângulo de separação aparente ( α ).
Sendo r a distância do sistema ao Sol e, o semieixo
maior da órbita relativa, a, será dado por:
a = r senα ,

onde a terá a mesma unidade de r.


Também é possível calcular o valor da separação
angular diretamente em UA. Como senα = α (rad) , para
ângulos pequenos, 1 rad = 206.265” e 1 pc = 206.265 UA, pode-
se afirmar que:
α (")
a(pc)= r (pc) x , ou
206.265

a ( UA) = α ( " ) x r ( pc ) .

A soma das massas das duas estrelas é obtida pela 3ª


Lei de Kepler:
4π 2 (r x α )3
(M1 + M2 )= x ,
G P2
sendo as massas (M1 e M2 ) expressas em massas solares e
período (P) em anos,

(r x α )3
(M 1 + M2 )=2 .
P
Para descobrir a massa de cada estrela é necessário
saber a distância r de cada estrela ao centro de massa do
sistema. Dessa forma teremos:
M1 r2
= .
M2 r1

Figura 02.02.10: Esquema de um sistema binário visual, CM representa o centro


de massa do sistema.

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Müller, Saraiva & Kepler
Exemplo 1
Dado o sitema binário visual da figura 02.02.11,
vamos determinar a massa de cada uma das estrelas, Sírius
A e Sírius B, que tem órbita relativa com semieixo maior de
7,50". A distância do Sol a Sírius é de 2,67 pc (1 pc = 206.265
UA). O período orbital do sistema é de 50 anos.

3ª Lei de Kepler

O quadrado
Figura 02.02.11: Esquema do sistema binário visual de Sirius A e Sirius B.
do período
orbital (P)dos
planetas é a) Qual é a massa desse sistema?
diretamente
proporcional
( MA + MB ) 502 =
(7,50 " x 2,67 pc)
3
ao cubo de ,
sua distância
média (r)ao
8 030,03
Sol. (M A +M
=B ) = 3,21 M .
2 500
P2 = K.r 3

Gravitação Universal b) Se a distância de Sírius B ao centro de massa é o


dobro da distância de Sírius A ao centro de massa, qual é a
G.M.m massa e cada estrela?
F= ,
r2
onde: MA rB
F = força = = 2,
gravitacional, MB rA
G = constante
universal. (M A )
+ MB = 2 MB + MB= 3,21M .
M= massa de um dos M
=B 1,07 M → M=
A 2,14 M .
corpos,
m = massa do outro
corpo. Determinação de Massas de Binárias
Espectroscópicas de Linhas Duplas

Para a determinação de massas de binárias


espectroscópicas faz-se uso do Efeito Doppler (figura
02.02.12). O comprimento de onda de uma fonte que está
se movendo com velocidade v, com a necessidade de
correção relativística, é dado por:
1/2
 
∆λ v  1 
= cos θ   ,
λ c  v
2

 1− 2 
 c 
sendo θ é o ângulo entre o vetor velocidade e a linha
visada.

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Müller, Saraiva & Kepler
Efeito Doppler Figura 02.02.12: Esquema ilustrativo do Efeito Doppler indicando que
quando diminui o comprimento de onda da luz a cor assume tom azul e,
Devido ao movimento da quando o comprimento de onda da luz aumenta e a cor assume tom
fonte geradora da onda, vermelho.
que se aproxima ou se
Se a velocidade for muito menor que a velocidade
afasta de quem observa,
ocorre uma alteração no da luz (c) e considerando-se v como a componente de
comprimento de onda (ou velocidade na direção do observador teremos:
na frequência detectada).
Ao se aproximar a ∆λ vr
frequência aparente = .
aumenta (o comprimento
λ c
de onda diminui), ao se
afastar a frequência
aparente diminui (o
comprimento de onda
aumenta).

Efeito Doppler com fontes


luminosas

Um aumento na frequência
é chamado de
deslocamento para o azul;
Uma redução na
frequência é chamado de
deslocamento para o
vermelho.

Figura 02.02.13: Gráfico v x t de duas estrelas, formando um sistema de


estrelas binárias espectroscópicas de linhas duplas.

Figura 02.02.15: Estrelas binárias separadas por distâncias d1 e d2 do centro


de massa.

Vamos determinar as massas de binárias


espectroscópicas:
Seja a1 a separação da componente 1 ao centro de
massa e seja v1 a sua velocidade orbital.

Logo
2. π . a1 = v1 . P e 2. π . a2 = v2 . P e,
Área 2, Aula 2, p.8
Müller, Saraiva & Kepler
por definição de centro de massa:
M1 . a1 = M 2 . a2 .

Dessa forma temos:

a1 M2 v1
= = ,
a2 M 1 v2

sendo M a massa do Sol. Usando a 3ª lei de Kepler:

M1 + M 2 (a / UA)3
= .
M (P / ano)2

Figura 02.02.16: Esquema explicativo para estrelas binárias: i é o ângulo


entre o observador e a normal ao sistema binário, v é a velocidade radial.

Exemplo 2
Seja um sistema binário de período 17,5 dias (0,048
anos), e com velocidades v1 = 75 km/s, e v2 = 25 km/s. Qual é
a massa de cada estrela?

M 2 v1 75
= = =3 ⇒ M2 =3 M1 ,
M 1 v2 25
v1 + v2 = 75 + 25 = 100 km / h ⇒( a1 +a2 )=

100km / s x17,5dias
= 24.000.000 =km 0,16 UA.

a3 0,163
(M 1 + M 2)= = = 1,78 M ,
P2 0,0482
mas como:
M 2 = 3 M1 → 4 M 1= (M 1+ M 2),
M 1= 0,44 M ,
M 2 = 1,33 M .

Na realidade, a medida é o limite inferior das massas,


pois
v1med = v1 . seni,
v2 med = v2 . seni,
a1med = a1 . seni,
a2 med = a2 . seni .

Área 2, Aula 2, p.9


Müller , Saraiva & Kepler
E, portanto temos:

(M 1+ M 2)real (a1 + a2 )3 1
= = .
(M 1+ M 2)med (a1 + a2 )med sen3 i
3

Sabemos que o módulo do seno de qualquer ângulo


é sempre menor ou igual a 1, logo a massa real será maior
ou igual à massa medida.
Existem ainda as chamadas binárias interagentes; as
variáveis cataclísmicas, binárias próximas compostas de
uma estrela vermelha e uma anã branca; as variáveis
simbiônticas, também compostas de uma estrela vermelha
e uma anã branca, mas mais distantes; há as binárias de
raio-X, em que a companheira vermelha orbita uma estrela
de nêutrons ou um buraco negro.
Para saber mais sobre estrelas binárias você pode
acessar o link:
Estrelas Binárias, ou vá para a página:
http://astro.if.ufrgs.br/bin/binarias.htm .

Resumo
O estudo do movimento orbital mútuo das estrelas
em sistemas binários permite determinar as massas das
estrelas.
- Estrelas binárias reais são duas estrelas próximas no
céu que se encontram à mesma distância da Terra,
formando um sistema físico.
- Tipos de sistemas binários:
Binárias Visuais;
Binárias Astrométricas;
Binárias Espectroscópicas;
Binárias Eclipsantes.
- Efeito Doppler:
Devido ao movimento da fonte geradora da onda,
que se aproxima ou se afasta de quem observa, ocorre
uma alteração no comprimento de onda (ou na frequência
detectada).
Ao se aproximar a frequência aparente aumenta (o
comprimento de onda diminui), ao se afastar a frequência
aparente diminui (o comprimento de onda aumenta).
- Efeito Doppler com fontes luminosas:
Um aumento na frequência é chamado de
deslocamento para o azul;
Uma redução na frequência é chamado de
deslocamento para o vermelho.
Graças ao Efeito Doppler sabemos que as estrelas
que constituem um sistema binário têm velocidades distintas
que pelo efeito podem ser determinadas. Fazendo uso da
3ª Lei de Kepler podemos calcular as massas das estrelas
constituintes do sistema binário.
Área 2, Aula 2, p.10
Müller , Saraiva & Kepler
Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!
1. Quais seriam os períodos de revolução de
sistemas binários nos quais cada estrela tem a massa do Sol
e os semieixos maiores de suas órbitas relativas têm os
valores:
a) 1 UA?
b) 2 UA?
c) 20 UA?
d) 60 UA?
e) 100 UA?
2. Para cada item do problema anterior, a que
distância as duas estrelas pareceriam ter uma separação
angular de 1”?
a) 1 UA.
b) 2 UA.
c) 20 UA.
d) 60 UA.
e) 100 UA.
3. ξ Ursa Maior é um sistema binário cuja órbita tem
um semi-eixo maior de 2,5”. A paralaxe do sistema é 0,127”,
e o período é de 60 anos. Qual é a massa do sistema, em
massas solares?
Até a próxima aula!

Área 2, Aula 2, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 3 - Movimento anual do Sol: estações do ano.
Área 1, Aula 3

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Ilustração dos movimentos


diurnos do Sol, visto da Terra,
com suas diferentes trajetórias
indicadas nos respectivos
períodos.

Introdução
Prezado aluno, em nossa terceira aula, da
primeira área, vamos estudar o movimento anual do
Sol e as estações do ano.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos do movimento anual do Sol
e das estações do ano, e esperamos que ao final você
esteja apto a:
• explicar como a inclinação do eixo de
rotação da Terra em relação ao seu plano
orbital causa as estações do ano;
• definir eclíptica e descrever como
encontrar sua posição aproximada na
esfera celeste;
• definir equinócios e solstícios em termos do
movimento anual do sol na esfera celeste.
• descrever o movimento diurno do Sol nas
diferentes estações do ano em diferentes
latitudes;
• descrever a variação das posições de
nascimento e ocaso do Sol ao longo do
ano;
• definir insolação e comparar o seu valor em
diferentes lugares da Terra em diferentes
épocas do ano.

O que é o Sol da meia noite


e em que lugares da Terra
ele pode ser visto?

Movimento Anual do Sol

Como vimos no final da aula anterior, o Sol, visto da


Eclíptica Terra, como todos os astros, tem um movimento diurno de
leste para oeste. No entanto, a sua posição entre as
Caminho aparente do Sol estrelas varia lentamente ao longo do ano, deslocando-se
durante o ano.
um pouquinho mais para leste a cada dia. Esse é o
Obliquidade da Eclíptica movimento anual do Sol, que se dá de oeste para leste,
como resultado do movimento de translação da Terra em
Inclinação do eixo de torno do Sol.
rotação da Terra em
relação ao eixo A trajetória aparente descrita pelo Sol – a eclíptica
perpendicular ao plano
orbital da Terra que é de
- tem uma inclinação de 23°27′ em relação ao equador
23o27’. celeste.
A eclíptica nada mais é do que a projeção, na
esfera celeste, do plano orbital da Terra, que tem uma
inclinação de 23°27′ em relação ao plano do equador da
Terra. Essa inclinação é chamada obliquidade da
eclíptica. Também podemos definir a obliquidade como a
inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao
eixo perpendicular ao plano orbital da Terra.

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Müller, Saraiva & Kepler
Questão
Figura 01.03.01: À medida que a Terra (representada pelos círculos azuis)
Qual a inclinação do eixo orbita em torno do Sol, com o equador inclinado de 23º27´em relação ao
de rotação da Terra em plano orbital, muda o ponto da Terra em que se dá a incidência direta do
relação ao plano orbital? Sol, causando as estações do ano.

Posições características do Sol

Equinócio Figura 01.03.02: O Sol em suas posições relativas à Terra ao longo do ano.
Em 21 de março e em 23 de setembro temos os equinócios e em 22 de
(latim) equi = igual junho e 22 de dezembro os solstícios.
+ nox = noite.
• Equinócio de Março (cerca de 21 março): Sol cruza
Solstício
o equador, indo do hemisfério sul celeste para o
(latim)Sol = Sol hemisfério norte celeste.
+ sticium = parado. o o dia claro e a noite duram 12 h em toda a
Terra ( nos polos o Sol fica no horizonte);
o no hemisfério sul (HS) é o equinócio de
outono; no hemisfério norte (HN) é o equinócio
de primavera.

• Solstício de Junho (cerca de 22 junho): Sol está na


máxima declinação* norte (+23º27´), incidindo
diretamente na região do Trópico de Câncer na
Terra.

*Declinação

Coordenada celeste análoga à definição de latitude terrestre. A


declinação dos astros é contada a partir do equador (declinação
0º) no sentido positivo para astros do hemisfério norte (declinação
entre 0º e +90º) e no sentido negativo para astros do hemisfério sul
(declinação entre 0º e -90º). A declinação do Sol ao longo do ano
varia entre -23º27´e +23º27´.

Área 1, Aula 3, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
o o dia claro é o mais curto do ano em todo o
hemisfério sul da Terra, e o dia mais longo do ano
em todo o hemisfério norte da Terra. Em Porto
Alegre, o dia dura aproximadamente 10h 10min;
o no polo sul da Terra o Sol fica abaixo do horizonte
24h; no polo norte o Sol fica acima do horizonte
24h;
o é solstício de verão no hemisfério norte, solstício
de inverno no hemisfério sul.

• Equinócio de Setembro(cerca de 22 de setembro): Sol


cruza o equador, indo do hemisfério norte celeste para
o hemisfério sul celeste.
o o dia e a noite duram 12 h em toda a Terra;
o nos polos, 24 h de crepúsculo;
o é equinócio de primavera no hemisfério sul,
equinócio de outono no hemisfério norte.

• Solstício de Dezembro (cerca de 22 dezembro): Sol


está na máxima declinação sul (-23º27´) incidindo
diretamente na região do Trópico de Capricórnio na
Terra:
o o dia mais longo do ano no hemisfério sul, dia
mais curto do ano no hemisfério norte;
o no polo sul, Sol sempre acima do horizonte;
o no polo norte, Sol sempre abaixo do horizonte;
o é solstício de verão no hemisfério sul e de
inverno no hemisfério norte.

Movimento anual do Sol: a altura máxima do Sol varia


ao longo do ano
Uma observação simples que permite "ver" o
movimento do Sol, durante o ano, é através do gnômon
(figura 01.03.03).
Gnômon

Haste vertical fincada


que ao ser exposta ao
Sol forma uma sombra
de tamanho variável
com a passagem das
horas e dos dias do ano.

Figura 01.03.03: Fotografia de um gnômon. Ele nada mais é do que uma


haste vertical fincada ao solo. Durante o dia, a haste, ao ser iluminada pelo
Sol, forma uma sombra cujo tamanho depende da hora do dia e da época
do ano.

A direção da sombra ao meio-dia real local (isto é, o


meio-dia em tempo solar verdadeiro) nos dá a direção Norte-
Sul. Ao longo de um dia, a sombra é máxima no nascer e no
ocaso do Sol, e é mínima ao meio-dia. Ao longo de um ano (à
mesma hora do dia), a sombra é máxima no solstício de
inverno, e mínima no solstício de verão. A bissetriz entre as
direções dos raios solares nos dois solstícios define o tamanho
da sombra correspondente aos equinócios, quando o Sol está
sobre o equador.

Área 1, Aula 3, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Foi observando a variação do tamanho da sombra do
gnômon ao longo do ano que os antigos determinaram a
duração do ano das estações, ou ano tropical.

Questão

Como você faria o


desenho da figura ao
lado para uma latitude
de 10ºS, por exemplo?
Figura 01.03.04: Esquema indicando as diferentes posições da sombra de um
gnômon no solstício de inverno (S.I.), equinócios (Eq.) e solstício de verão
(S.V.), como aparecem em lugares de latitudes fora da região entre os dois
trópicos.

Você pode ver como varia a sombra de um gnômon


ao longo do ano em diferentes lugares da Terra com o applet
em:
http://www.math.nus.edu.sg/aslaksen/applets/sundial/sundial
.html
Movimento anual do Sol: os pontos do horizonte em que
o Sol nasce e se põe variam ao longo do ano

Nascente e Poente do
Sol

Pontos do horizonte em
que o Sol nasce e se
põe. Somente nos
equinócios coincidem
com os pontos
cardeais leste e oeste.

Pontos Cardeais Leste e


Oeste

São pontos de
intersecção do
horizonte com o Figura 01.03.05: Movimento diurno do Sol com as trajetórias indicadas em
equador celeste. períodos de equinócio (21 Mar, 23 Set) e de solstício (21 Jun e 21 Dez).

As variações da máxima altura do Sol durante o dia (o


meio-dia verdadeiro) estão relacionadas às variações cíclicas
nos pontos do horizonte em que o Sol nasce e se põe.
Nos equinócios, quando o Sol está no equador, seu
círculo diurno coincide com o equador celeste, logo ele
nasce no ponto leste e se põe no ponto oeste. Entre o
equinócio de março e o equinócio de setembro o Sol está no
hemisfério norte celeste, então ele nasce ao norte do ponto
cardeal leste, e se põe ao norte do ponto cardeal oeste.
Entre os equinócios de setembro e de março o Sol está no
hemisfério sul celeste, então ele nasce ao sul do ponto
cardeal leste, e se põe ao sul do ponto cardeal oeste.
O quanto ao norte ou ao sul dos pontos leste e oeste o
Sol nasce e se põe depende da data e da latitude do lugar.
Olhando o por do Sol dia a dia, o Sol parece se
deslocar para o norte durante metade do ano e para o sul
na outra metade. Nas proximidades dos solstícios, quando o
Sol está próximo a mudar o sentido do movimento, seu
movimento fica muito lento, daí o nome “Sol parado”.
Área 1, Aula 3, p.5
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.03.06: Sequência de fotos tiradas em Porto Alegre,entre 21 jun 2003 e
21 mar 2004, mostrando que o Sol se põe em pontos diferentes do horizonte no
decorrer do ano, como pode ser observado pelos referenciais 1 e 2 indicados.

Nesse link você pode fazer uso do Simulador de Movimento


do Sol.
Estações em Diferentes Latitudes

À medida que a Terra orbita em torno do Sol, os raios


solares incidem mais diretamente em um hemisfério ou outro,
proporcionando mais horas com luz durante o dia a um
hemisfério ou outro e, portanto, aquecendo mais um
Estações do Ano hemisfério ou outro.
São estabelecidas No Equador todas as estações são muito parecidas:
devido à incidência todos os dias do ano o Sol fica 12 horas acima do horizonte e
dos raios solares que
variam nos hemisférios
12 horas abaixo do horizonte; a única diferença é a máxima
com o passar do ano. altura que ele atinge. Nos equinócios o Sol faz a passagem
meridiana pelo zênite, atingindo a altura de 90° no meio-dia
verdadeiro. Nas outras datas do ano o Sol passa o meridiano
ao norte do zênite, entre os equinócios de março e de
setembro, ou ao sul do zênite, entre os equinócios de
setembro e de março. As menores alturas do Sol na passagem
meridiana são de 66,5° e acontecem nas datas dos solstícios.
Portanto a altura do Sol ao meio-dia no Equador não muda
muito ao longo do ano e, consequentemente, nessa região
não existe muita diferença entre inverno, verão, primavera e
outono.
À medida que nos afastamos do Equador, as estações
Área 1, Aula 3, p.6 ficam mais acentuadas. A diferenciação entre elas torna-se
Müller, Saraiva & Kepler
máxima nos polos.
Na Terra, a região entre latitudes -23,5° (trópico de
Capricórnio) e +23,5° (trópico de Câncer) é chamada de
região tropical. Nessa região, o Sol passa pelo zênite duas
vezes por ano, com exceção dos dois trópicos, onde passa
uma única vez. Fora dessa região o Sol nunca passa pelo
zênite. As linhas de latitudes +66,5° e -66,5° são chamadas
Círculos Polares, norte ou sul. Para latitudes mais ao norte do
Círculo Polar Norte, ou mais ao sul do Círculo Polar Sul, o Sol
permanece 24 horas acima do horizonte no verão e 24 horas
abaixo do horizonte no inverno.

Figura 01.03.07: Esquema mostrando a incidência dos raios solares na Terra


nos solstícios de verão no hemifério sul (à esquerda) e no hemisfério norte (à
direita). No solstício de verão no hemisfério sul o Sol incide diretamente no
Trópico de Capricórnio (latitude de 23º27´S), a região do Círculo Polar Ártico
tem noite durante 24h e a região do Círiculo Polar Antártico tem dia claro
durante 24h. No solstício de verão no hemisfério norte o Sol incide
diretamente no Trópico de Câncer (latitude de 23º27´N), a região do Círculo
Polar Ártico tem dia claro durante 24h e a região do Círiculo Polar Antártico
tem noite durante 24h.

Insolação Solar

A quantidade de energia solar que chega, por


unidade de tempo e por unidade de área, a uma superfície
Insolação Solar perpendicular aos raios solares, à distância média Terra-Sol,
se chama constante solar, e vale 1.367 W / m2 . Esse valor da
Quantidade de energia
por unidade de área e de constante solar é medido por satélites logo acima da
tempo que atinge a atmosfera terrestre.
superfície da Terra em um
determinado local. Devido à rotação da Terra, a energia média
incidente no topo da atmosfera, por unidade de área e por
Constante Solar
unidade de tempo, é aproximadamente 1/4 da constante
1.367 W / m2 . solar. Além disso, a atmosfera reflete 39% da radiação, de
forma que apenas 61% é usada no aquecimento da Terra.
Chamando EZ a energia média que chega
perpendiculamente à superfície da Terra, por unidade de
tempo e por unidade de área, temos que da Terra.
1
=EZ 0,61. .1 367
= W / m2 208W / m2 ≅ 750 kWh / m2 .
4

Figura 01.03.08: À esquerda esquema da insolação com o Sol mais próximo


ao meio dia e, à direita insolação quando o Sol está numa posição mais
próxima ao final da tarde ou ao início da manhã.

Área 1, Aula 3, p.7 Em geral estamos interessados em conhecer a


Müller, Saraiva & Kepler quantidade de energia por unidade de área e por unidade
de tempo que chega em um determinado lugar da superfície
da Terra, que chamamos insolação do lugar. A insolação
varia de acordo com o lugar, com a hora do dia e com a
época do ano (figura 01.03.08).
Se definirmos insolação solar como a quantidade de
energia solar que atinge uma unidade de área da Terra na
unidade de tempo,
Ez
I= ,
A
e, considerando que quando o Sol está a uma altura θ em
relação ao horizonte, a mesma energia é espalhada por uma
área
A
A' = .
senθ

Figura 01.03.09: Vemos que devido á variação da altura máxima do Sol para
um lugar (causada pela inclinação da órbita) acontece uma variação da
área iluminada na superfície da Terra e, portanto, uma variação na
insolação.

Para Porto Alegre, cuja latitude é 30°, a altura máxima


do Sol no Solstício de Verão ( ≈ 21 Dez) é θ v = 83,5o , já que o
Sol está a (30° lat - 23,5° decl.) 6,5° do zênite ao meio-dia
local.
Ao meio-dia, no Solstício de Inverno ( ≈ 21 Jun), a altura
máxima do Sol é θ I = 36,5o , já que o Sol está a (30°lat + 23,5°
decl.) 53,5° do zênite.
Insolação em Porto
Alegre Desconsiderando, por enquanto, a variação da
insolação solar devido à variação da distância da Terra ao
A insolação é 66% maior Sol, isto é, considerando a energia do Sol no Zênite ( EZ )
no verão do que no
inverno. constante, temos:
EZ
Iv AV senθV 0,99
= = = ,
II EZ senθ I 0,59
AI

ou seja, a insolação em Porto Alegre é 66% maior no verão do


que no inverno.
Em comparação, o efeito da variação da distância
entre a Terra e o Sol pode ser calculado levando em conta
que a energia do Sol por unidade de área que alcança a
Terra é dada por:
E
EZ = ,
4π D⊗2 

onde D⊗ é a distância da Terra do Sol no momento.

Área 1, Aula 3, p.8


Müller, Saraiva & Kepler
Lembre que a insolação Figura 01.03.10: Esquema mostrando a variação da insolação com o inverso
varia com o inverso do do quadrado da distância R da Terra ao Sol.
quadrado da distância
da superfície da Terra ao A variação da insolação solar devido à variação de
Sol. 3% da distância Terra-Sol entre o afélio e o periélio é,
portanto:
Iafélio 2
= 0,97 = 0,94,
Iperiélio

isto é, em janeiro (periélio), a insolação solar é 6% maior do


Afélio
que em junho (afélio). Este pequeno efeito é
Ponto da órbita da Terra contrabalançado pela maior concentração de terra no
em que ela se encontra hemisfério norte.
mais afastada do Sol;
≈ dia 04 /07; Além da insolação, a duração do dia, que é de 14h
distância Terra-Sol de 10m no Solstício de Verão e 10h 10m no Solstício de Inverno,
≈ 152,1x106 km. em Porto Alegre, contribui nas estações do ano.
Periélio Embora a órbita da Terra em torno do Sol seja uma
Ponto da órbita da Terra
elipse, e não um círculo, a distância da Terra ao Sol varia
em que ela se encontra somente 3%, sendo que a Terra está mais próxima do Sol em
mais próxima do Sol; janeiro. Mas é fácil lembrar que o hemisfério norte da Terra
≈ dia 04/01; também está mais próximo do Sol em janeiro e é inverno lá,
distância Terra- Sol
enquanto é verão aqui no hemisfério sul.

Ano e Calendário

Tomando como ponto de referência as estrelas


distantes, temos o ano sideral; tomando como referência o
ponto o Sol se encontra no equinócio de março
Ano Sideral (chamado ponto Áries), temos o ano tropical. O ano que
usamos em nosso calendário é o ano tropical, ou ano das
Toma como referência as
estrelas distantes.
estações.
Ano sideral: tempo necessário para a Terra dar uma
Ano Tropical
volta em torno do Sol em relação a uma estrela fixa. Dura
Toma como referência o 365,2563 dias solares.
ponto em que o Sol se
encontra no equinócio de Ano tropical: tempo necessário para a Terra dar uma
março. volta em torno do Sol com relação ao equinócio Vernal, ou
seja, é o tempo decorrido entre dois equinócios vernais
consecutivos. É o ano usado no calendário, de 365,2422 dias
solares.
Ano Bissexto 1 1 1 1
365,2422 = 365 + − + − .
Instituído em 46 a.C. para 4 100 400 3 300
corrigir o tempo gasto para
a Terra dar uma volta
completa ao redor do Sol. 1 ano tropical = 365 dias + 1 dia a cada 4 anos (bissexto) - 1 dia a cada 100
anos + 1 dia a cada 400 anos - 1 dia a cada 3.300 anos.

O ano bissexto foi instituído em 46 a.C. por Júlio Cesar,


orientado pelo astrônomo Sosígenes, que estabeleceu
Área 1, Aula 3, p.9
Müller, Saraiva & Kepler o Calendário Juliano. Esse calendário adotava um ano de
365,25 dias, e foi usado durante 1 600 anos.
O calendário que utilizamos atualmente é
o Calendário Gregoriano, que foi estabelecido em 1578,
pelo papa Gregório XIII, sob orientação do astrônomo
Clavius. Usa um ano de 365,2425 dias, diferindo do ano
tropical em 16 segundos, o que totaliza 1 dia em 3 300 anos.
A seguir algumas sugestões de vídeos para ilustração
de alguns assuntos trabalhados nessa aula:
Calendário Gregoriano • movivento de rotação e de translação da Terra, para
quem é bom em inglês;
Estabelecido em 1578, usa • movimento de rotação e de translação da Terra,para
um ano de 365,2425 dias.
quem não é bom em inglês;
• Sol da meia noite ;
• Sol da meia noite na Antártida .

Resumo
Eclíptica: Movimento aparente do Sol.
Obliquidade da eclíptica: inclinação do eixo de
rotação da Terra em relação ao eixo perpendicular ao
plano orbital da Terra, 23o27’.
Movimento anual do Sol: movimento de translação
da Terra em torno do Sol.
Equinócio de Março ( ≈ 21/03), quando o Sol cruza o
equador, indo do HS para o HN, no HS é equinócio de
outono; no HN é equinócio de primavera.
Solstício de Junho ( ≈ 22/06), quando o Sol está na sua
declinação máxima para o norte, incide diretamente no
Trópico de Câncer, no HN é solstício de verão; no HS é
solstício de inverno.
Equinócio de Setembro ( ≈ 22/09), quando o Sol cruza
o equador indo do HN para o HS. No HS é equinócio de
primavera e no HN é equinócio de outono.
Solstício de Dezembro ( ≈ 22/12), quando o Sol está na
sua declinação máxima para o sul, incide diretamente no
Trópico de Capricórnio, no HS é solstício de verão e no HN é
solstício de inverno.
A altura máxima do Sol varia ao longo do ano.
Gnômon: haste vertical fincada no solo que ao ser
exposta ao Sol forma uma sombra de tamanho variável com
o passar das horas e dos dias do ano. Através das variações
dos tamanhos das sombras que nossos antepassados
determinaram as durações das estações (ano tropical).
O nascente e o poente do Sol variam ao longo do
ano.
Estações do ano: São causadas pela variação do
ângulo de incidência dos raios solares nas diferentes latitudes
da Terra com o passar do ano.
Círculos polares: linhas de latitudes +66,5o (norte) e
-66,5o (sul).
Em seus respectivos verões o Sol fica 24h acima do
horizonte nas latitudes mais ao norte do círculo Polar Norte e
mais ao sul do Círculo Polar Sul. Fica 24h abaixo do horizonte,
em seus respectivos invernos.
Área 1, Aula 3, p.10
Müller, Saraiva & Kepler
Insolação solar: Quantidade de energia por unidade
de área e de tempo que atinge a superfície da Terra num
determinado local.
Ez
I= .
A
A insolação é 66 % maior no verão do que no inverno
aqui em Porto Alegre.
Ano sideral: toma como referência as estrelas
distantes.
Ano tropical: toma como referência o ponto Áries
(equinócio de Março).
Ano bissexto: Instituído em 46 a.C. para corrigir o
tempo gasto para a Terra dar uma volta completa ao redor
do Sol, que era considerado 365,25 dias. A cada ano 0,25 dia,
a cada 4 anos um dia a mais no calendário.
Calendário Gregoriano: Utilizado por nós desde 1578.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!
1. Observando o Sol se pôr no horizonte, ao longo do
ano, o que se nota a respeito do ponto onde ele se põe? Em
que ponto ele se põe nos equinócios?
2. Por que nós não vemos as mesmas estrelas no verão
e no inverno?
3. Qual a declinação do Sol nas seguintes datas:
a)equinócio de primavera e equinócio de outono no HS;
b)solstício de verão e solstício de inverno no HN;
4. Qual o dia mais longo do ano no HS e no HN?
5. Em que datas do ano o dia e a noite têm a mesma
duração em toda a Terra?
6. Que estação é, no HN, quando o Sol está
aumentando sua declinação (se afastando do equador)
para norte?
7. Nessa época no HS, os dias estão ficando mais
longos ou mais curtos?
8. Se num determinado lugar do hemisfério sul, ao
meio dia do solstício de verão, a direção do Sol forma um
ângulo de 10° com a direção do zênite, qual o ângulo entre
o equador e o zênite nesse lugar?
9. Em que lugares da Terra (em que latitude) o Sol
incide perpendicularmente ao meio-dia no solstício de verão
do HN? E no Solstício do HS?
10. Quantas vezes por ano o Sol passa no zênite, ao
meio dia, em lugares com latitude:
a) 0°;

Área 1, Aula 3, p.11 b)15°;


Müller, Saraiva & Kepler
c) 30°;
11. Se você observar o instante em que a sombra de
uma estaca atinge o menor tamanho a cada dia, durante
todos os dias do ano, a sombra será mínima sempre à mesma
hora do dia? Explique.
12. Chamando "meio-dia" o instante em que o Sol
atinge a máxima altura durante o dia, calcule a razão entre a
insolação ao meio-dia no solstício de verão e a insolação ao
meio-dia no solstício de inverno, para:
a) o equador;
b) para as latitudes limites dos círculos polares.
Até a próxima aula!

Área 1, Aula 3, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 4 - Fases da Lua e Eclipses
Área 1, Aula 4

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Foto da Lua.

Introdução
Prezado aluno, em nossa quarta aula, da
primeira área, vamos estudar a Lua, suas fases e os
eclipses lunares e solares.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos de fases da Lua e eclipses, e,
esperamos que ao final você esteja apto a:
• explicar por que a Lua passa por um ciclo de
fases;
• descrever as fases da Lua em termos de
posições relativas Sol-Terra na esfera celeste;
• relacionar as fases da Lua com a orientação
de sua porção iluminada em relação ao
horizonte e com a hora e posição no céu
em que é visível;
• diferenciar mês sinódico de mês sideral;
• descrever as condições necessárias para a
ocorrência de um eclipse solar e de um
eclipse lunar.

Quantas fases tem a Lua?


Lua

A Lua é o corpo celeste mais próximo da Terra. O


valor atual de sua distância foi medida por radar e por
laser, utilizando espelhos colocados na Lua pelos
astronautas das missões Apolo 11, 14 e 15. Seu valor médio
é de 384.000 km e varia de 356.800 km (no perigeu) a
406.400 km (no apogeu). A excentricidade da órbita da
Lua é de 0,0549.
Como é feita essa mensuração?
Um laser é disparado até um dos espelhos (prismas
retro-refletores, colocados pelos astronautas na Lua, que
refletem a luz na mesma direção da luz incidente) e o
tempo de ida e vinda do laser é medido. Cada prisma tem
3,8 cm, e os espelhos deixados pela Apolo 11 e 14 têm 10
prismas cada, enquanto o deixado pela Apolo 15 tem
300. Outro refletor francês também foi instalado pela
missão russa não tripulada Lunakhod 2. Ao chegar na
superfície da Lua, o feixe tem aproximadamente 6,5 km de
diâmetro. O sinal de retorno é muito fraco para ser visto a
olho nu, mas em boas condições chega a 1 fóton por
Principais Movimentos segundo.
da Lua
O diâmetro aparente médio da Lua é de 31' 5"
Rotação, em torno de (0,518°), de onde se deduz que o diâmetro da Lua é de
seu próprio eixo; 3. 476 km (D = 384.000 km × sen 0,518º).
revolução, em torno da
Terra, e A Lua tem três movimentos principais: rotação em
translação em torno do
torno de seu próprio eixo, revolução em torno da Terra e
Sol.
O 4º movimento é o de translação em torno do Sol junto com a Terra, mas existe
libração, movimentos também um pequeno movimento de libração.
laterais que mostram
pequenas partes da O movimento de rotação da Lua é sincronizado
face mais distante da com a revolução em torno da Terra, de maneira que
Lua. vemos sempre a mesma face da Lua (a figura 01.04.01
explica porque isso acontece), a menos de pequenas
variações devidas à libração. A face da Lua que não
Área 1, Aula 4, p.2 podemos ver chama-se face oculta, que só pode ser
Müller, Saraiva & Kepler fotografada pelos astronautas ou naves em órbita da Lua.
Figura 01.04.01: Representação esquemática do movimento da
Lua (círculos rosados) em torno da Terra (círculos azuis). Se a Lua não
tivesse rotação, ficaria sempre com a mesma face voltada para um certo
ponto do espaço, mudando a face voltada para a Terra (figura da
esquerda). A única maneira de ela manter a mesma face sempre voltada
para a Terra é girando em torno de seu próprio eixo no mesmo período
em que gira em torno da Terra(figura da direita).

O movimento de revolução da Lua em torno da


Terra se dá em um plano orbital que tem uma inclinação
de 5°9' (figura 01.04.02) em relação à eclíptica. Esse ângulo
tem um papel importante na periodicidade dos eclipses,
como vamos ver adiante.

Figura 01.04.02: Inclinação do movimento de translação da lua em


relação ao plano da eclíptica.

Em relação ao equador da Lua, o seu plano orbital


Lembre que a Lua não
tem luz própria, ela tem uma inclinação de menos do que 1°.
apenas reflete a luz que o
À medida que a Lua viaja ao redor da Terra ao
Sol emite sobre a sua
superfície. longo do mês, ela passa por um ciclo de fases, durante o
qual sua forma parece variar gradualmente. O ciclo
completo dura aproximadamente 29,5 dias. Esse fenômeno
é bem compreendido desde a antiguidade. Acredita-se
que o grego Anaxágoras (± 430 a.C.), já conhecia sua
causa, e Aristóteles (384 - 322 a.C.) registrou a explicação
correta do fenômeno: as fases da Lua resultam do fato de
que ela não é um corpo luminoso, e sim um
corpo iluminado pela luz do Sol.

Área 1, Aula 4, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.04.03: Terra e Lua iluminadas pelo Sol. Para um observador na Terra,
a Lua está em fase Nova; para um observador na Lua, a Terra está em fase
Fase da Lua Cheia.

É a porção que vemos


iluminada da Lua. A fase da Lua representa o quanto dessa face,
Pode ser definida em termos iluminada pelo Sol, está voltada também para a Terra.
de números de dias e em Durante metade do ciclo essa porção está aumentando (lua
termos de fração iluminada
da face visível.
crescente) e durante a outra metade ela está diminuindo (lua
minguante). Tradicionalmente apenas as quatro fases mais
características do ciclo - Lua Nova, Quarto-Crescente, Lua
Cheia e Quarto-Minguante - recebem nomes, mas a porção
que vemos iluminada da Lua, que é a sua fase, varia de dia
para dia. Por essa razão os astrônomos definem a fase da Lua
em termos de número de dias decorridos desde a Lua Nova
(de 0 a 29,5) e em termos de fração iluminada da face visível
(0% a 100%).

Figura 01.04.04: Esquema do sistema Sol-Terra-Lua como seria visto por um


observador externo olhando diretamente para o polo sul da Terra. O círculo
externo mostra a Lua em diferentes posições relativas em relação à linha Sol-
Terra, assumidas à medida que ela orbita a Terra de oeste para leste (sentido
horário para um observador olhando para o polo sul). O círculo interno mostra
as formas aparentes da Lua, em cada situação, para um observador no
hemisfério sul da Terra.
Área 1, Aula 4, p.4
Müller, Saraiva & Kepler
As quatro fases principais do ciclo são:
Lua Nova (0% da face visível está iluminada).

• Lua e Sol, vistos da Terra, estão na mesma direção;


• a Lua nasce aproximadamente às 6h e se
põe aproximadamente às18h;
• a face da Lua voltada para a Terra não está
iluminada e a Lua não é visível.
Fases Principais da Lua

Nova, Quarto Crescente,


Cheia e Quarto
Minguante.

Figura 01.04.05: Fotografia da Lua um dia após a Lua Nova.


(Fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/aulas/aulalua.htm).

A Lua Nova acontece quando a face visível da Lua


não recebe luz do Sol, pois os dois astros estão na mesma
direção. Nessa fase, a Lua está no céu durante o dia,
nascendo e se pondo aproximadamente junto com o Sol.
Durante os dias subsequentes, a Lua vai ficando cada vez
mais a leste do Sol e, portanto, a face visível vai ficando
crescentemente mais iluminada a partir da borda que
aponta para o oeste, até que aproximadamente 1 semana
depois temos o Quarto-Crescente, com 50% da face
iluminada.
Lua Quarto-Crescente (50% da face visível está
iluminada).

• Lua e Sol, vistos da Terra, estão separados de


90°;
• a Lua está a leste do Sol e, portanto, sua parte
iluminada tem a convexidade para o oeste;
• a Lua nasce aproximadamente ao meio-dia e
se põe aproximadamente à meia-noite.

Figura 01.04.06: Fotografia da lua nas proximidades da fase


quarto crescente tirada durante o dia.
(Fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/aulas/aulalua.htm).

A Lua tem a forma de um semicírculo com a parte


convexa voltada para o oeste. Lua e Sol, vistos da Terra,
estão separados de aproximadamente 90°. A Lua nasce
aproximadamente ao meio-dia e se põe aproximadamente
à meia-noite. Após esse dia, a fração iluminada da face
visível continua a crescer pelo lado voltado para o oeste, até
que atinge a fase Cheia.

Área 1, Aula 4, p.5


Müller, Saraiva & Kepler
Lua Cheia (100% da face está iluminada).

• Lua e Sol, vistos da Terra, estão em direções


opostas, separados de 180°, ou 12 h;
• a Lua nasce aproximadamente às 18 h e se
põe aproximadamente às 6 h do dia seguinte.

Figura 01.04.07: Foto da Lua Cheia.


(Fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/aulas/aulalua.htm).

Na fase cheia 100 % da face visível está iluminada. A


Lua está no céu durante toda a noite, nasce quando o Sol
se põe e se põe ao nascer do Sol. Lua e Sol, vistos da Terra,
estão em direções opostas, separados de
aproximadamente 180°, ou 12 h. Nos dias subsequentes a
porção da face iluminada passa a ficar cada vez menor à
medida que a Lua fica cada vez mais a oeste do Sol; o disco
lunar vai dia a dia perdendo um pedaço maior da sua
borda voltada para o oeste. Aproximadamente 7 dias
depois, a fração iluminada já se reduziu a 50%, e temos o
Quarto-Minguante.

Lua Quarto-Minguante (50% da face visível está


iluminada).

• A Lua está a oeste do Sol, que ilumina seu


lado voltado para o leste;
• a Lua nasce aproximadamente à meia-noite
e se põe aproximadamente ao meio-dia.

Figura 01.04.08: Fotografia da Lua nas proximidades da fase quarto-


minguante. (Fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/aulas/aulalua.htm).

A Lua está aproximadamente 90° a oeste do Sol, e


tem a forma de um semicírculo com a convexidade
apontando para o leste. A Lua nasce aproximadamente à
meia-noite e se põe aproximadamente ao meio-dia. Nos
dias subsequentes a Lua continua a minguar, até atingir o
dia 0 do novo ciclo.
O intervalo de tempo médio entre duas fases iguais
consecutivas é de 29d 12h 44m 2.9s (aproximadamente 29,5
dias). Esse período é chamado mês sinódico, ou lunação,
Área 1, Aula 4, p.6 ou período sinódico da Lua.
Müller, Saraiva & Kepler
O período sideral da Lua, ou mês sideral, é o tempo
necessário para a Lua completar uma volta em torno da
Terra, em relação a uma estrela. Sua duração média é
de 27d 7h 43m 11s , sendo portanto aproximadamente 2,25
dias mais curto do que o mês sinódico.

Mês Sideral

Tem duração de
aproximadamente 27,25
dias. Intervalo de tempo
que a Lua leva para
completar uma volta ao
redor da Terra em
relação a uma estrela. Figura 01.04.09: Esquema que ilustra o ângulo descrito pela Terra em um dia
solar, 0.986o.
Mês Sinódico
O período sinódico da Lua, com duração de
Tem duração aproximadamente 29,5 dias (variando entre 29,26 e 29,80
aproximada de 29,5 dias, dias), é, em média, 2,25 dias maior do que o período sideral
intervalo de tempo entre
da Lua porque nos 27,32 dias em que a Lua faz uma volta
duas fases iguais
consecutivas. completa em relação às estrelas (o período sideral da Lua), o
Sol de desloca [360°/(365,25 dias)] aproximadamente 27° (27
dias × 1°/dia) para leste e, portanto, é necessário mais 2 dias
[27°/(360°/27,32 dias)] para a Lua se deslocar estes 27° e estar
na mesma posição em relação ao Sol, que define a fase.

Figura 01.04.10: Ilustração da Lua em seu período sideral da Lua comparado


com o movimento do Sol.

Dia lunar: Tendo em vista que o período sideral da Lua


é de 27,32166 dias, isto é, que ela se move 360° em relação
Dia Lunar às estrelas para leste a cada 27,32 dias, deduz-se que ela se
desloca para leste 13° por dia (360°/27,32), em relação às
Tem duração de
24 h 48 min. Tempo estrelas. Levando-se em conta que a Terra gira 360° em 24
necessário para a Lua horas, e que o Sol se desloca 1° para leste por dia, deduzimos
passar duas vezes que a Lua se atrasa 48 minutos por dia em relação ao Sol,
consecutivas pelo [(12°/360°)×(24h×60m)], isto é, a Lua nasce cerca de 48
meridiano do local
em que está minutos mais tarde a cada dia.
observada.
Recapitulando, a Lua se move cerca de 13° para
leste, por dia, em relação às estrelas. Esse movimento é um
reflexo da translação da Lua em torno da Terra, completada
em 27,32 dias (mês sideral). O Sol também se move cerca de
1° por dia para leste, refletindo a translação da Terra em
torno do Sol, completada em 365,2564 dias (ano sideral).
Portanto, a Lua se move cerca de 12° por dia em relação ao
Sol, e a cada dia a Lua cruza o meridiano local
aproximadamente 48 min mais tarde do que no dia
Área 1, Aula 4, p.7
Müller, Saraiva & Kepler
anterior. O dia lunar, portanto, tem 24 h 48 min.
Eclipses
Um eclipse acontece sempre que um corpo entra na
sombra de outro. Quando a Lua entra na sombra da Terra,
acontece um eclipse lunar. Quando a Terra é atingida pela
sombra da Lua, acontece um eclipse solar.
Sombra de um corpo extenso
Quando um corpo opaco é iluminado por uma fonte
de luz extensa (não pontual), a sombra produzida é
composta de duas partes: a umbra – região do espaço que
Eclipse
não recebe luz de nenhum ponto da fonte-, e a penumbra –
Ocorre quando um corpo região da sombra que recebe luz de alguns pontos da
entra na sombra do outro. fonte.

Sombra

Umbra + penumbra.

Figura 01.04.11: Um corpo extenso produz uma sombra composta de uma


parte mais densa, a umbra, circundada por uma parte menos densa, a
penumbra.

A composição da umbra e da penumbra é


indicada pelos raios provindos de dois pontos da fonte (raios
azuis e vermelhos). Note que, estando a fonte extensa no
infinito (como é o caso do Sol), os raios provindos do mesmo
ponto da fonte chegam paralelos em todos os pontos do
objeto opaco, mas raios provindos de pontos diferentes da
fonte chegam ao mesmo ponto do objeto opaco vindos de
direções diferentes. A parte de baixo da figura 01.04.11
mostra um corte transversal da sombra, entre o objeto
opaco e o vértice da umbra.

Eclipses do Sol

O eclipse solar acontece quando o Sol fica oculto


pela Lua, portanto a Lua tem que estar entre a Terra e o Sol,
Eclipse Solar
ou seja, na fase Nova.
Quando o Sol fica
oculto pela Lua. A Lua
está entre o Sol e a
Terra.

Figura 01.04.12: Esquema do eclipse solar. A parte mais escura da sombra


da Lua é a umbra, a parte mais clara é a penumbra.
Área 1, Aula 4, p.8
Müller, Saraiva & Kepler
Tipos de eclipses do Sol

• eclipse solar total: acontece nas regiões da


Terra atingida pela umbra da Lua. O disco
inteiro do Sol fica atrás da Lua;
• eclipse solar parcial: acontece nas regiões da
Terra atingidas pela penumbra da Lua. Parte
do disco solar fica atrás da Lua;
• eclipse solar anular: acontece quando a
distância Terra – Lua é maior do que o
Eclipses do Sol comprimento da umbra, de forma que a parte
central da sombra que atinge a Terra é
Total, o disco inteiro do Sol constituída pelo prolongamento da umbra. O
fica atrás da Lua.
disco da Lua fica menor do que o disco do Sol
Parcial, parte do disco solar e não cobre completamente, deixando um
fica atrás da Lua. aro luminoso em torno do disco escuro da Lua.
Anular, o disco da Lua fica
menor do que o disco do
Sol, não o cobrindo
completamente.

Figura 01.04.13: No canto superior da figura, vemos a aparência da fonte


para os pontos A e D na sombra. Um observador em A veria toda a fonte
eclipsada (eclipse total), em B e C veria partes da fonte eclipsada (eclipse
parcial) e em D veria a parte central da fonte eclipsada, mas a parte externa
não (eclipse anular). Na parte inferior da figura acima, vemos a região da
umbra e da penumbra da sombra. Na parte superior, vemos a aparência da
fonte para os pontos A e D na sombra.

Durante um eclipse solar, a umbra da Lua na Terra tem


sempre menos que 270 km de diâmetro. Como a sombra se
move a pelo menos 34 km/min para Leste, devido à órbita da
Lua em torno da Terra, a totalidade de um eclipse dura no
máximo 7 1/2 minutos. Portanto um eclipse solar total só é
visível, se o clima permitir, em uma estreita faixa sobre a Terra,
chamada de caminho do eclipse. Em uma região de
aproximadamente 3.000 km de cada lado do caminho do
eclipse, ocorre um eclipse parcial.

Figura 01.04.14: Animações de eclipses


(http://astro.if.ufrgs.br/eclipses/animacoes.htm)
Área 1, Aula 4, p.9
Müller, Saraiva & Kepler
Atenção

É extremamente
perigoso olhar o Sol
diretamente, após 15
segundos de exposição,
os olhos são
permanentemente
danificados sem
qualquer tipo de dor.
Figura 01.04.15: Registro de onde podem ser observados eclipses solares entre
1996 e 2020. As faixas azuis indicam as datas e os locais com latitude e
longitude em que os eclipses serão perceptíveis.

Um eclipse solar total começa quando a Lua alcança


a direção do disco do Sol, e aproximadamente uma hora
depois o Sol fica completamente atrás da Lua. Nos últimos
instantes antes da totalidade, as únicas partes visíveis do Sol
são aquelas que brilham através de pequenos vales na borda
irregular da Lua, um fenômeno conhecido como "anel de
diamante", já descrito por Edmund Halley no eclipse de 3 de
maio de 1715. Durante a totalidade, o céu se torna escuro o
suficiente para se observar os planetas e as estrelas mais
brilhantes. Após a fase de "anel de diamante", o disco do Sol
fica completamente coberto pela Lua, e a coroa solar, a
atmosfera externa do Sol, composta de gases rarefeitos que se
estendem por milhões de km, aparece.

Eclipses da Lua

No eclipse lunar a Lua fica na sombra da Terra, o que


só pode ocorrer se a Terra está entre o Sol e a Lua, ou seja, a
Lua na fase Cheia.
Tipos de eclipses lunares:
Eclipse Lunar
Eclipse lunar total: a Lua fica totalmente imersa na
A Lua fica na sombra da umbra.
Terra. A Terra está entre o
Sol e a Lua. Eclipse lunar parcial: apenas parte da Lua entra na
umbra.
Eclipse penumbral: a Lua cruza a borda da sombra,
Eclipses da Lua sem passar pela umbra. Esse eclipse em geral não dá para ser
percebido.
Total, a Lua fica coberta
pela umbra da Terra;
Parcial, parte da Lua fica
coberta pela umbra da
Terra, e
Penumbral, a Lua cruza
borda da sombra sem
passar pela sombra da
Terra, por isso geralmente
não é perceptível.

Área 1, Aula 4, p.10 Figura 01.04.16: Diagrama do eclipse lunar, a umbra da Terra, à distância em
Müller, Saraiva & Kepler que é cruzada pela Lua, tem um diâmetro de aproximadamente 2,5 vezes o
diâmetro da Lua.
Figura 01.04.17: As figuras representam a seção transversal da sombra na
Terra à distância da Lua. A região mais densa é a umbra, a região menos
densa a penumbra. (a) Quando a Lua cruza a sombra passando pela umbra,
o eclipse é total. (b) Quando a Lua cruza a sombra de maneira a que só
parte dela entre na umbra, o eclipse é parcial.

A 384.000 km de distância da Lua, a sombra da Terra,


que se estende por 1,4 x106 km, cobre aproximadamente 3
luas cheias. Em contraste com um eclipse do Sol, que só é
visível em uma pequena região da Terra, um eclipse da Lua é
visível por todos que possam ver a Lua. Como um eclipse da
Lua pode ser visto, se o clima permitir, de todo a parte
noturna da Terra, eclipses da Lua são muito mais frequentes
que eclipses do Sol, para um dado local na Terra. A duração
máxima de um eclipse lunar é 3,8 h, e a duração da fase
total é sempre menor que 1,7 h.
Por que não ocorrem eclipses todos os meses?
Como vimos no início da aula, o plano da órbita da
Lua está inclinado 5,2° em relação ao plano da órbita da
Terra. Portanto só ocorrem eclipses quando a Lua está na fase
de Lua Cheia ou Nova, e simultaneamente a Lua está sobre
a linha dos nodos, que é a linha de intersecção do plano da
Lembre que eclipses só
ocorrem quando a Lua está
órbita da Terra em torno do Sol com o plano da órbita da Lua
em fase Cheia ou Nova, e a em torno da Terra.
Lua está sobre a linha de
intersecção do plano da
sua órbita em torno da Terra
com o plano da órbita da
Terra em torno do Sol.

Figura 01.04.18: Fotografia do eclipse da Lua em 20 de fevereiro de 2008.


(Fonte: http://astro.if.ufrgs.br/eclipses/eclipse.htm).

Figura 01.04.19: A figura representa a Lua em fases Nova e Cheia e em


quatro meses diferentes. Apenas quando essas fases acontecem com a Lua
está na posição dos nodos da órbita (cruzando a eclíptica) é que ocorre o
alinhamento dos astros.

Área 1, Aula 4, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
Temporada dos eclipses
Se o plano orbital da Lua coincidisse com o plano da
eclíptica, um eclipse solar ocorreria a toda Lua nova e um
eclipse lunar a toda Lua Cheia. Entretanto, o plano está
inclinado 5,2 ° e, portanto, a Lua precisa estar próxima da
linha de nodos (cruzando o plano da eclíptica) para que um
eclipse ocorra. Como o sistema Terra-Lua orbita o Sol,
aproximadamente duas vezes por ano a linha dos nodos está
alinhada com o Sol e a Terra. Estas são as temporadas dos
eclipses, quando os eclipses podem ocorrer. Quando a Lua
passar pelo nodo durante a temporada de eclipses, ocorre
um eclipse.
Como a órbita da Lua gradualmente gira sobre seu
eixo (com um período de 18,6 anos de regressão dos nodos),
as temporadas ocorrem a cada 173 dias [(1 ano - 20 dias)/2],
e não exatamente a cada meio ano. A distância angular da
Lua do nodo precisa ser menor que 4,6° para um eclipse
lunar, e menor que 10,3 ° para um eclipse solar, o que
estende a temporada de eclipses para 31 a 38 dias,
dependendo dos tamanhos aparentes e velocidades
aparentes do Sol e da Lua, que variam porque as órbitas da
Terra e da Lua são elípticas, de modo que pelo menos um
eclipse ocorre a cada 173 dias.
Entre dois e sete eclipses ocorrem anualmente. Em
cada temporada usualmente acontece um eclipse solar e
um anular, mas podem acontecer três eclipses por
temporada, numa sucessão de eclipse solar, lunar e solar
novamente, ou lunar, solar e lunar novamente. Quando
acontecem dois eclipses lunares na mesma temporada os
dois são penumbrais.

Simulador de eclipses.

Resumo
Principais movimentos da Lua: rotação, em torno de
seu próprio eixo; revolução, em torno da Terra, translação em
torno do Sol e libração, movimentos laterais que expõem
pequenas frações da face mais distante da Lua.
Fase da Lua: É a porção que vemos iluminada da Lua.
Pode ser definida em termos de números de dias e em
termos de fração iluminada da face visível.
Fases principais da Lua: Nova, Quarto Crescente,
Cheia e Quarto Minguante.
Mês sinódico: Duração aproximada de 29,5 dias,
intervalo de tempo entre duas fases iguais consecutivas.
Mês sideral: Duração de aproximadamente 27,25
dias. Intervalo de tempo que a Lua leva para completar uma
volta ao redor da Terra em relação a uma estrela.
Dia lunar: Duração de 24 h e 48 min.
Eclipse: Ocorre quando um corpo entra na sombra
do outro.

Área 1, Aula 4, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Eclipses do Sol:
• total, o disco inteiro do Sol fica atrás da Lua;
• parcial, parte do disco solar fica atrás da Lua;
• anular, o disco da Lua fica menor do que o
disco do Sol, não cobrindo-o completamente.
Eclipse Lunar:
• a lua fica na sombra da Terra. A Terra está entre
o Sol e a Lua.
Eclipses da Lua:
• total, a Lua fica coberta pela umbra da Terra;
• parcial, parte da Lua fica coberta pela umbra
da Terra;
• penumbral, a Lua cruza borda da sombra sem
passar pela umbra, geralmente não é
perceptível.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas
com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Explique por que a Lua passa por um ciclo de fases.


2. Qual é a fase da Lua quando ela é vista:
a) como um arco fino com a parte convexa voltada
para o oeste?
b) como um arco fino com a parte convexa voltada
para o leste?
c) como um disco faltando um pedaço no lado
voltado para o oeste?
d) como um disco faltando um pedaço no lado
voltado para leste?
3. Qual é a fase da Lua se:
a) ela nasce ao por do Sol?
b) ela cruza o meridiano superior ao meio-dia?
c) ela se põe à meia-noite?
d) ela nasce com o Sol?
4. Explique a diferença entre mês sinódico e mês
sideral. De quanto é a diferença de duração entre os dois?
5. A Lua, vista da Terra, se movimenta em relação ao
fundo das estrelas a uma taxa de 13o 10’ 35” para leste por
dia. Qual a duração do “dia lunar”, isto é, o intervalo de dia.
Qual a duração do “dia lunar”, isto é, o intervalo de tempo
decorrido entre duas culminações sucessivas da Lua?

Área 1, Aula 4, p.13


Müller, Saraiva & Kepler
6. Explique quais condições serão mais favoráveis para
acontecer um eclipse anular do Sol:
a) Terra no afélio ou no periélio?
b) Lua no apogeu ou no perigeu?
7. Por que continuamos a ver a Lua, embora bem
menos brilhante, no eclipse lunar total?
8. Que tipo de fenômeno um observador na Lua veria
quando, na Terra, estiver acontecendo um eclipse solar total?
9. Os eclipses só podem ocorrer durante a Lua Nova
ou durante a Lua Cheia.
a) Por que não ocorrem eclipses nas outras fases da
Lua?
b) Que tipo de eclipse (solar ou lunar) ocorre na Lua
Nova? E na Lua Cheia?
c) Por que não ocorrem eclipses todos os meses?
d) Por que os eclipses lunares são mais comuns do que
os solares?
10. O diâmetro angular da Lua é em torno de 0,5ο.
Qual o seu diâmetro linear, em km, sabendo que sua
distância à Terra é 384.000 km?
Até a próxima aula!

Área 1, Aula 4, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 5 - Movimento dos planetas: o modelo heliocêntrico de Copérnico.
Área 1, Aula 5

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Simulação do movimento
aparente dos planetas
produzido em um planetário.
Os “laços” formados indicam o
movimento retrógado dos
referidos planetas.

Introdução
Prezado aluno, em nossa quinta aula, da
primeira área, vamos estudar o movimento anual do Sol
e as estações do ano.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos do movimento dos planetas
e do modelo heliocêntrico de Copérnico, e esperamos que
ao final você esteja apto a:
• explicar como a observação do movimento
dos planetas levou à ideia do sistema
heliocêntrico;
• explicar as diferenças e similaridades entre
os modelos ptolomaico e copernicano;
• entender o que é elongação de um planeta
e definir as configurações planetárias em
termos de elongação;
• aplicar o método de Copérnico para
calcular as distâncias dos planetas.

Por que Copérnico “propôs”


o sistema heliocêntrico?
Movimento dos Planetas

Os planetas estão muito mais próximos de nós do


que as estrelas, de forma que eles parecem se mover, ao
longo do ano, entre as estrelas de fundo. Esse movimento
se faz, geralmente, de oeste para leste (não confundir com
o movimento diurno, que é sempre de leste para oeste!),
Movimento Anual dos
Planetas mas em certas épocas o movimento muda, passando a ser
de leste para oeste. Esse movimento retrógrado pode durar
Normalmente do oeste vários meses (dependendo do planeta), até que fica mais
para leste. lento e o planeta reverte novamente o sentido do seu
O movimento Retrógrado
ocorre quando o movimento, retomando o movimento normal. O
movimento inverte o movimento observado de cada planeta é uma
sentido (passa a ser do combinação do movimento do planeta em torno do Sol
leste para oeste). com o movimento da Terra em torno do Sol, e é simples de
explicar quando sabemos que a Terra está em movimento,
mas fica muito difícil de descrever num sistema em que a
Terra esteja parada (figura 01.05.01).

Figura 01.05.01: Movimento aparente dos planetas simulado em um


planetário. Os “laços” formados se devem ao movimento retrógrado.

Área 1, Aula 5, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
O modelo geocêntrico

Figura 01.05.02: À esquerda modelo geocêntrico proposto por Cláudio


Ptolomeu (à direita).

Apesar da dificuldade de compreender e explicar o


movimento observado dos planetas do ponto de vista
geocêntrico (a Terra no centro do Universo), o
geocentrismo foi uma ideia dominante na Astronomia
Sistema Ptolomaico durante toda a antiguidade e a Idade Média. O sistema
geocêntrico também é conhecido como sistema
Modelo cosmológico
geocêntrico ptolomaico, pois foi Cláudio Ptolomeu (figura 01.05.02), o
aperfeiçoado por último dos grandes astrônomos gregos (150 d.C.), quem
Ptolomeu. construiu o modelo geocêntrico mais completo e eficiente.
Tinha como objetivo
Ptolomeu explicou o movimento dos planetas através de
prever a posição dos
planetas. uma combinação de círculos (figura 01.05.03): o planeta se
move ao longo de um pequeno círculo chamado epiciclo,
cujo centro se move em um círculo maior chamado
deferente. A Terra fica numa posição um pouco afastada
do centro do deferente (portanto o deferente é um círculo
excêntrico em relação à Terra). Para dar conta do
movimento não uniforme dos planetas, Ptolomeu introduziu
ainda o equante, que é um ponto ao lado do centro do
deferente oposto à posição da Terra, em relação ao qual o
centro do epiciclo se move a uma taxa uniforme.

Figura 01.05.03: Esquema explicativo do sistema ptolomaico, em que o


planeta se move ao longo de um pequeno círculo chamado epiciclo,
cujo centro se move em um círculo maior chamado deferente. Equante é
um ponto ao lado do centro do deferente oposto à posição da Terra, em
relação ao qual o centro do epiciclo se move a uma taxa uniforme.

O objetivo de Ptolomeu era produzir um modelo


que permitisse prever a posição dos planetas de forma
correta, e nesse ponto ele foi razoavelmente bem
sucedido. Por essa razão esse modelo continuou sendo
usado sem mudança substancial por 1.300 anos.
Uma simulação do movimento retrógrado é referida
na figura 01.05.04.

Área 1, Aula 5, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.05.04: Simulação do movimento retrógrado no sistema geocêntrico.
http://csep10.phys.utk.edu/astr161/lect/retrograde/aristotle.html.

O Modelo heliocêntrico

Sistema Copernicano

Sistema heliocêntrico
proposto por Copérnico:
os planetas orbitam o Sol
em órbitas circulares.
A velocidade orbital
decresce com o aumento
do raio da órbita.
Figura 01.05.05: Nicolau Copérnico (1473-1543) foi um astrônomo polonês com
grande inclinação para a matemática. Estudando na Itália, ele leu sobre a
hipótese heliocêntrica proposta (e não aceita) por Aristarco
(aproximadamente 300 a.C.), e achou que o Sol no centro do Universo era
muito mais razoável do que a Terra. Copérnico registrou suas ideias num livro -
De Revolutionibus - publicado no ano de sua morte.

Os conceitos mais importantes colocados por Copérnico


foram:

• introduziu o conceito de que a Terra é apenas um dos


seis planetas (então conhecidos) girando em torno do
Sol;
• colocou os planetas em ordem de distância ao Sol:
Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno (Urano,
Netuno e o planeta anão Plutão);
• determinou as distâncias dos planetas ao Sol, em
termos da distância Terra-Sol;
• deduziu que quanto mais perto do Sol está o planeta,
maior é sua velocidade orbital. Dessa forma, o
movimento retrógrado dos planetas foi facilmente
explicado sem necessidade de epiciclos.

Figura 01.05.06: Simulação do movimento retrógrado no sistema heliocêntrico.


http://csep10.phys.utk.edu/astr161/lect/retrograde/aristotle.html

Área 1, Aula 5, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.05.07: Movimento retrógrado de um planeta com órbita externa à
da Terra. À esquerda: posições reais do planeta e da Terra nas respectivas
órbitas; à direita: posições aparentes do planeta externo como visto da Terra.

Figura 01.05.08: Movimento aparente de um planeta com órbita interna à da


Terra. Embaixo: posições reais do planeta interior (órbita azul) e da Terra
Modelo de Copérnico (órbita lilás); em cima, em vermelho: posições aparentes do planeta interior
como visto da Terra.
O modelo de Copérnico
mantinha as órbitas Copérnico manteve a ideia de que as órbitas dos
circulares, e por isso não planetas eram circulares, e embora o movimento dos
conseguiu melhorar em planetas ficasse simples de entender no seu sistema, as
nada as posições previstas
dos planetas em relação ao
posições previstas para os planetas não eram em nada
sistema ptolomaico. melhores do que as posições previstas no sistema de
Ptolomeu.
Classificação dos Planetas em Ordem de Distância ao
Sol

Planetas inferiores:

Planetas inferiores,
também chamados Figura 01.05.09: Fotografia de Vênus e Mercúrio, planetas interiores.
interiores: (Fonte: http://luminescencias.blogspot.com/2004/05/trnsito-de-vnus.html).

- apresentam órbitas Mercúrio e Vênus (figura 01.05.09) têm órbitas menores


menores que a da do que a órbita da Terra. Os dois planetas estão sempre
Terra: muito próximos do Sol, alcançando o máximo afastamento
Mercúrio e Vênus.
angular em relação ao Sol de 28o, no caso de Mercúrio, e
Área 1, Aula 5, p.5
48o, no caso de Vênus. Por essa razão eles só são visíveis ao
Müller, Saraiva & Kepler
anoitecer, logo após o pôr do Sol (astro vespertino), ou ao
amanhecer, logo antes do nascer do Sol (astro matutino).

Planetas superiores:
São os planetas que têm órbitas maiores do que a da
Terra (figura 01.05.10). Podem estar a qualquer distância
angular do Sol, podendo ser observados no meio da noite.

Planetas superiores,
também chamados
exteriores:

-apresentam órbitas
maiores que a da Terra:
Marte, Júpiter, Saturno,
Urano, Netuno e Plutão
(o planeta anão). Figura 01.05.10: Planetas exteriores, na ordem da esquerda para a direita:
Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e o planeta anão Plutão.
(Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_k8uhybS0880/SxV-
vVkO7QI/AAAAAAAAAD0/zPrRtj66PE4/s1600/noix.jpg).

Configurações Planetárias

Para definir as configurações dos planetas, que são as


posições características dos planetas em suas órbitas, vistas da
Terra, vamos antes definir elongação:
elongação (e): distância angular do planeta ao Sol,
vista da Terra.

Elongação

Distância angular entre


o planeta e o Sol como
vista da Terra.

Figura 01.05.11: Representação artística de Mercúrio e Vênus como vistos ao


pôr do Sol quando em máxima elongação.
(Fonte: http://astro.if.ufrgs.br/p1/node4.htm).

Configurações de um planeta inferior

A figura 01.05.12 ilustra as principais configurações de


um planeta inferior.

Área 1, Aula 5, p.6 Figura 01.05.12: Posições relativas Sol-Terra-planeta nas quatro configurações
Müller, Saraiva & Kepler principais de um planeta inferior.
• conjunção inferior: o planeta está na mesma direção
do Sol (e = 0), e mais próximo da Terra do que o Sol.
• conjunção superior: o planeta está na mesma direção
do Sol (e = 0), e mais longe da Terra do que o Sol.
• máxima elongação ocidental: o planeta está a oeste
do Sol (nasce e se põe antes do Sol). É visível ao
amanhecer, no lado leste.

o
em (Mercúrio) 28
= = ; e m (Vênus) 48o ,(onde em é elongação máxima);

• máxima elongação oriental: planeta está a leste do


Sol (nasce e se põe depois do Sol). É visível ao
anoitecer, no lado oeste.

o
em (Mercúrio) 28
= = ; em (Vênus) 48o ;

Configurações de um planeta superior


A figura 01.05.13 ilustra as principais configurações de
um planeta superior.

Figura 01.05.13: Posições relativas Sol-Terra-planeta nas quatro configurações


principais de um planeta superior.

• conjunção: o planeta está na mesma direção do Sol


(e = 0), e mais longe da Terra do que o Sol.
• oposição: o planeta está na direção oposta ao Sol
(e = 1800). O planeta está no céu durante toda a noite.
• quadratura ocidental: (e = 90o). O planeta está 6 h a
oeste do Sol.
• quadratura oriental: (e = 900). O planeta está 6 h a
leste do Sol.

Período Sinódico e Sideral dos Planetas


Período Sinódico
Período sinódico (S)
Período de revolução
aparente do planeta em É o intervalo de tempo decorrido entre duas
relação à Terra. configurações iguais consecutivas. É o período de revolução
Período Sideral
aparente do planeta, em relação à Terra.

Período de translação do
planeta em torno do Sol Período sideral (P)
em relação a uma estrela
fixa.
É o período real de translação do planeta em torno
do Sol, em relação a uma estrela fixa.
Uma simulação de movimento orbital de dois planetas
é referida na figura 01.05.14.

Área 1, Aula 5, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.05.14: Representação artística das órbitas da Terra e de Marte, fora
de escala. Veja aqui uma simulação do movimento orbital dos dois planetas.

Relação entre os dois períodos

Figura 01.05.15: Considere dois planetas, A e B, com A movendo-se mais


rápido por estar numa órbita menor. Na posição (1), o planeta A passa entre
o planeta B e o Sol. O planeta B está em oposição visto do planeta A, e o
planeta A está em conjunção inferior se visto do planeta B. Quando A
completou uma revolução em torno do Sol e retornou à posição (1), B se
moveu para a posição (2). De fato, A não alcança B até que os dois planetas
alcancem a posição (3). Agora o planeta A ganhou uma volta completa
(360 graus) a mais que o planeta B.

Para achar a relação entre o período sinódico e o


período sideral de dois planetas, vamos chamar de Pi o
período sideral do planeta com órbita interna, e de Pe o
período sideral do planeta com órbita externa. S é o período
sinódico, que é o mesmo para os dois.
360o
O planeta interno, movendo-se por dia, viaja
Pi
mais rápido do que o planeta externo, que se move a
360o
por dia.
Pe

Após um dia, o planeta interior terá ganho um ângulo


360o 360o
de − em relação ao planeta exterior. Por definição
Pi Pe
360o
de período sinódico, esse ganho é igual a , já que em
S
S dias esse ganho será igual a 360o .
Área 1, Aula 5, p.8
Müller, Saraiva & Kepler
Ou seja:

360o  360o 360o 


=  − ,
S  Pi Pe 

cujo valor é igual a:

1 1 1
=  − .
S  Pi Pe 

Exemplos:
1. Marte leva 780 dias para ficar em oposição duas
vezes consecutivas (período sinódico S = 780 dias ), qual é o
período sideral orbital ( Pe ) de Marte?

Usamos a relação :
1 1 1
= − ,
S Pi Pe

identificando que, neste caso, a Terra é o planeta interno,


Marte é o planeta externo, temos:
Pi =1ano ;

=S 780
= dias / 365,25 ( dias / ano ) 2,14 anos,

substituindo esses valores na relação:


1 1 1
= − ,
Pe Pi S

obtém-se, Pe =1,87 anos = 687 dias.


2. Sabendo-se que Vênus leva 583,93 dias para
aparecer duas vezes seguidas em máxima elongação leste
(quando se põe 3 h depois do Sol), qual seu período sideral
orbital?
Lembre que o período
sinódico S é o tempo Usamos a relação:
entre as duas
elongações máximas
1 1 1
= − ,
consecutivas; o período S Pi Pe
sideral P é o tempo que
o planeta leva para
completar uma órbita,
tomando como identificando que, neste caso, a Terra é o planeta externo, e
referência uma estrela Vênus o planeta interno, e que o tempo entre duas
fixa.
elongações máximas a leste é o período sinódico de Vênus,
temos:
Pe = 365,25 dias e S = 583,93 dias,

o período sideral de Vênus é calculado substituindo esses


valores na relação:
1 1 1
= + ,
Pi Pe S

obtendo-se Pi = 224,7 dias.

Distâncias Dentro do Sistema Solar


Copérnico determinou as distâncias dentro do sistema
solar em termos da distância Terra-Sol, ou seja, em unidades
Área 1, Aula 5, p.9 astronômicas (UA).
Müller, Saraiva & Kepler
Distâncias dos planetas inferiores

Figura 01.05.16:Quando o planeta inferior está em máxima elongação ( em ),


o ângulo entre Terra e Sol, na posição do planeta, será 90o. Então nessa
situação Sol, Terra e planeta formam um triângulo retângulo.

A distância (d) do planeta ao Sol será:


d(Planeta− Sol)
sen em = .
d(Terra− Sol)

Portanto:
d( Planeta − Sol ) = sen em x1UA.
1 UA (unidade
astronômica) No caso de Mercúrio,

1 UA = Distância média
d(Sol-Mercúrio) = sen 28° × 1 UA = 0,46 UA.
Terra-Sol
Devido à alta excentricidade da órbita de Mercúrio
≈150 000 000 km .
(0,206), a elongação máxima varia de 23° a 28°, e a distância
de 0,39 UA a 0,46 UA.
Distâncias dos planetas superiores

Observando Marte, Copérnico viu que o intervalo de


tempo decorrido entre uma oposição e uma quadratura
(figura 01.05.17) é de 106 dias. Nesse período de 106 dias, a
Terra percorre uma distância angular de ESE'=104° (pois em
365 dias ela percorre 360°, em 106 dias ela percorre 106/365 x
360°).

Figura 01.05.17: Ilustração da medida da distância dos planetas superiores.

Como o período sideral de Marte é de 687 dias, então


a distância angular percorrida por Marte nesse mesmo
período de 106 dias será: PSP'=55° (pois em 687 dias ele
percorre 106/687 x 360°).
Agora, considerando o triângulo formado pelo Sol (S),
Terra (E') e Marte (P') na quadratura (SE'P' na figura 01.05.17), o
ângulo entre o Sol e o planeta, visto da Terra, é 90o, e o
ângulo entre Terra e Marte, visto do Sol, é
ESE'-PSP' = 104° - 55 °= 49°.
Então a distância (d) entre Marte e Sol é:
Área 1, Aula 5, p.10
Müller, Saraiva & Kepler 1UA
d(Sol=
− Marte) = 1,52 UA.
cos 49o
Tabela 01.05.01: Comparação entre os valores das distâncias dos planetas
ao Sol, em unidades astronômicas, determinadas por Copérnico e os valores
atuais.

Planeta Copérnico Moderno

Mercúrio 0,38 0,387

Vênus 0,72 0,723

Terra 1,0 1,0

Marte 1,52 1,52

Júpiter 5,22 5,2

Saturno 9,17 9,54

Uma relação empírica para a distância média dos


planetas em torno do Sol foi proposta em 1770 por Johann
Elert Bode (1747-1826) e Johann Daniel Titius (1729-1796).
n+ 4
=a = , com n 0;3 ;6; 12; 24; 48; 96;192 e 384.
10

Chamando de a a distância média do planeta ao Sol em UA


obtemos os dados indicados na tabela 01.05.02.

Tabela 01.05.02.: Comparação entre as distâncias dos planetas ao Sol, em


unidades astronômicas, como previstos pela Relação de Titus-Bode e os
valores atuais.

Planeta n Lei de Titius- Semi-eixo Maior


Bode(a)

Mercúrio 0 0,40 0,39

Vênus 3 0,70 0,72

Terra 6 1,00 1,00

Marte 12 1,60 1,52

Cinturão 24 2,80 2,8


De Asteroides

Júpiter 48 5,20 5,20

Saturno 96 10,0 9,54

Urano 192 19,6 19,2

Netuno - - 30,1

Plutão 384 38,8 39,4

Figura 01.05.18: Video em (smi) (RealPlayer) mostrando os Movimentos


Área 1, Aula 5, p.11
Planetários e os Modelos de Eudoxus até Copérnico, desenvolvido por Mogi
Müller, Saraiva & Kepler
Massimo Vicentini do Civico Planetario Di Milano.
Resumo
Movimento dos planetas:
normalmente do oeste para o leste. O movimento
retrógrado ocorre quando o movimento inverte o sentido
(passa a ser do leste para oeste).

Modelo geocêntrico:
o movimento retrógrado era explicado pela inversão
do sentido do movimento do planeta ao percorrer a parte do
epiciclo interior ao deferente.

Modelo heliocêntrico:
explicava o movimento retrógrado pela aparente
mudança de sentido do movimento do planeta ao ser
“ultrapassado” pela Terra.

Conceitos mais importantes introduzidos por Copérnico:

- concluiu que a Terra é apenas um dos planetas que


está girando ao redor do Sol;
- colocou os planetas em ordem crescente de
distância ao Sol;
- determinou as distâncias dos planetas ao Sol
comparadas com a distância da Terra ao Sol (unidade
astronômica);
- deduziu que quanto mais próximo o planeta está do
Sol, maior é a sua velocidade orbital, explicando assim o
movimento retrógrado sem necessidade de epiciclos.
Período sinódico:
período de revolução aparente do planeta em
relação à Terra. É o tempo decorrido entre duas
configurações iguais consecutivas.

Período sideral:
período de translação do planeta em torno do Sol em
relação a uma estrela fixa.

Planetas inferiores:
estão mais próximos do Sol do que a Terra: Mercúrio e
Vênus.
Planetas superiores:
estão mais distantes do Sol do que a Terra: Marte,
Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão (planeta anão).

Relação entre os dois períodos:

1 1 1
=  −  , onde : Sé operíodo sinódico.
S  Pi Pe 

Área 1, Aula 5, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!
1.
a) O que é o movimento retrógrado dos planetas?
b) Como Ptolomeu o explicava?
c) Como Copérnico o explicou?
2. Quais os principais pontos da teoria heliocêntrica
de Copérnico?
3. O que é elongação e quanto vale.
a) na oposição?

b) na conjunção inferior?

c) na conjunção superior?

d) na quadratura?

4. Quantas horas fica visível, quando está na máxima


elongação:
a) Vênus?

b) Mercúrio?

c) Marte?

d) Júpiter?

5. Por que os planetas interiores só são visíveis ao


anoitecer ou ao amanhecer?
6. Qual a diferença entre período sinódico e sideral
dos planetas?
7. Sobre a determinação das distâncias dos planetas:
a) que unidades Copérnico usava para medir as
distâncias dos planetas?
b) como Copérnico determinou as distâncias de
Mercúrio e de Vênus?
c) as distâncias dos planetas medidas por Copérnico
foram próximas ou muito diferentes dos valores atuais?
d) você esperaria isso sabendo que ele tratava as
órbitas dos planetas como circulares? Comente.
8. O intervalo entre duas oposições de um planeta foi
398,9 dias. Encontre o período sideral do planeta.

Área 1, Aula 5, p.13


Müller, Saraiva & Kepler
9. No dia 30 de março de 2006 Vênus esteve em
máxima elongação a oeste do Sol, com elongação de 46,5°.
a) Nas condições desse dia, Vênus foi visível como
astro matutino ou vespertino?
b) Sabendo que essa condição se repete a cada 584
dias, qual o período orbital do planeta?
c) Qual a distância de Vênus ao Sol (em UA), quando
tem essa elongação?
10. Um astrônomo determinou que o intervalo de
tempo decorrido entre uma oposição e a próxima quadratura
de um asteroide hipotético, em órbita circular em torno do Sol
com período sideral de duração de 1.000 dias, são 94 dias.
Qual é a distância ao Sol desse asteroide, determinado pelo
método de Copérnico?
Até a próxima aula!

Área 1, Aula 5, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 6 - Movimento dos planetas: o modelo de Kepler.
Área 1, Aula 6

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Johannes Kepler (1571-1630).

Introdução
Prezado aluno, em nossa sexta aula, da primeira
área, vamos estudar o movimento dos planetas e o
modelo de Kepler.

Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos do movimento dos planetas
e do modelo de Kepler e, ao final, esperamos que você
esteja apto a:
• listar as principais contribuições de Tycho
Brahe, Kepler e Galileu à fundamentação
da teoria heliocêntrica;
• descrever as Leis de Kepler do movimento
planetário e aplicá-las na resolução de
problemas;
• listar as principais propriedades das elipses e
aplicá-las na resolução de problemas.

Quais as colaborações de
Tycho Brahe, de Kepler e de
Galileo para as explicações
dos movimentos dos
planetas ?
Movimento dos Planetas

Tycho, Kepler e Galileo

A Teoria Heliocêntrica conseguiu dar explicações


mais simples e naturais para os fenômenos observados
(por exemplo, o movimento retrógrado dos planetas),
porém Copérnico não conseguiu prever as posições dos
planetas de forma precisa, nem conseguiu provar que a
Terra estava em movimento.

Figura 01.06.01: Tycho Brae à direita, à esquerda um quadrante utilizado


por ele.

Três anos após a morte de Copérnico, nasceu o


dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), o último grande
astrônomo observacional antes da invenção do
telescópio. Usando instrumentos fabricados por ele
mesmo, Tycho fez extensivas observações das posições de
planetas e estrelas, com uma precisão em muitos casos
melhor do que 1 minuto de arco (1/30 do diâmetro
Área 1, Aula 6, p.2
Müller, Saraiva & Kepler
aparente do Sol).
O excelente trabalho de Tycho como observador
lhe propiciou o patrocínio do rei da Dinamarca, Frederic II
(1534-1588), e assim Tycho pode construiu seu próprio
observatório, na pequena ilha báltica de Hven (entre
Dinamarca e Suécia).

Figura 01.06.02: Uraniborg – o castelo-observatório de Tycho Brahe.

Após a morte do rei, entretanto, seu sucessor se


desentendeu com Tycho e retirou seus privilégios. Assim, em
1597 Tycho foi forçado a deixar a Dinamarca, e foi
trabalhar como astrônomo da corte para o imperador da
Bohemia, em Praga. Tycho Brahe não acreditava na
hipótese heliocêntrica de Copérnico, mas foram suas
observações dos planetas que levaram às leis de Kepler do
movimento planetário.
Em 1600 (um ano antes de sua morte), Tycho
contratou para ajudá-lo na análise dos dados sobre os
planetas, colhidos durante 20 anos, um jovem e hábil
matemático alemão chamado Johannes Kepler (1571-
1630).

Figura 01.06.03: Johannes Kepler (1571-1630) estudou inicialmente para


seguir carreira teológica. Na Universidade ele leu sobre os princípios de
Copérnico e logo se tornou um entusiástico defensor do heliocentrismo.

Em 1594 conseguiu um posto de professor de


Matemática e Astronomia em uma escola secundária em
Graz, na Áustria, mas poucos anos depois, por pressões da
Igreja Católica (Kepler era protestante), foi exilado, e foi
Área 1, Aula 6, p.3 então para Praga trabalhar com Tycho Brahe.
Müller, Saraiva & Kepler
Quando Tycho morreu, Kepler "herdou" seu posto e
seus dados, a cujo estudo se dedicou pelos 20 anos seguintes.
O planeta para o qual havia o maior número de dados
era Marte. Kepler conseguiu determinar as diferentes posições
da Terra após cada período sideral de Marte, e assim
conseguiu traçar a órbita da Terra. Encontrou que essa órbita
era muito bem ajustada por um círculo excêntrico, isto é, com
o Sol um pouco afastado do centro.

Após a morte de Tycho


Brae, Kepler “herdou”
seu posto e seus dados.
Marte era o planeta
com maior número de
informações coletadas
por Tycho.

Figura 01.06.04: Embora as órbitas dos planetas sejam elipses, as elipticidades


são tão pequenas que elas se parecem com círculos. Nesta figura mostramos
a elipse que descreve a órbita da Terra em torno do Sol, na forma correta. A
posição do Sol, no foco, está marcada por um pequeno círculo.

Kepler conseguiu também determinar a órbita de


Marte, mas ao tentar ajustá-la com um círculo não teve
sucesso. Ele continuou insistindo nessa tentativa por vários
anos, e em certo ponto encontrou uma órbita circular que
concordava com as observações com um erro de 8 minutos
de arco. Mas sabendo que as observações de Tycho não
poderiam ter um erro desse tamanho (apesar disso significar
um erro de apenas 1/4 do tamanho do Sol), Kepler descartou
essa possibilidade.
Finalmente, passou à tentativa de representar a órbita
de Marte com uma oval, e rapidamente descobriu que uma
elipse ajustava muito bem os dados.
A posição do Sol coincidia com um dos focos da
elipse. Ficou assim explicada também a trajetória quase
circular da Terra, com o Sol afastado do centro.

Órbitas elípticas

Os planetas
descrevem órbitas
elípticas de baixa
excentricidade ao
redor do Sol. Figura 01.06.05:
O Sol ocupa um dos Embora as órbitas dos planetas sejam elipses, as elipticidades são tão
focos dessa elipse. pequenas que elas se parecem com círculos. Nestas figuras mostramos as
elipses que descrevem as órbitas de Marte (esquerda) e Plutão (direita) em
torno do Sol, na forma correta. A órbita de Plutão tem grande excentricidade,
comum entre os asteróides do sistema solar.

A órbita de Marte está entre as mais excêntricas dos


planetas, só perdendo para Mercúrio.

Área 1, Aula 6, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Propriedades das Elipses

Excentricidade

É um parâmetro
relacionado ao grau de
alongamento da elipse.
É definido como a
distância entre os dois
focos dividido pelo eixo Figura 01.06.06: Elementos de uma elipse: a é o semieixo maior, b é o
maior da elipse, semieixo menor, F e F´são os focos, c é a distância de cada foco ao centro
2c da elipse. P é um ponto qualquer da elipse.
e= .
2a (fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/aulas/aula_tykega.htm).

1. Em qualquer ponto da elipse, a soma das distâncias


desse ponto aos dois focos é constante. Sendo F e F'
os focos, P um ponto sobre a elipse, e a o seu semieixo
maior, então:

F P + F' P = constante = 2a

2. Quanto maior a distância entre os dois focos, maior é


a excentricidade (e) da elipse. Sendo c a distância do
centro a cada foco, a o semieixo maior, e b o
semieixo menor, a excentricidade é definida por;

c a2 − b 2
e= = .
a a2

3. Se imaginarmos que um dos focos da órbita do


planeta é ocupado pelo Sol, o ponto da órbita mais
próximo do Sol é chamado periélio, e o ponto mais
distante é chamado afélio. A distância do periélio ao
foco (Rp) é:
Afélio

Ponto de órbita mais


afastado do Sol.

Periélio

Ponto de órbita mais


próxima do Sol.

Figura 01.06.07: Elipse representando a órbita de um planeta, tendo o Sol em


um dos focos. O ponto P indica o periélio e o A, o afélio.
Área 1, Aula 6, p.5
Müller, Saraiva & Kepler
A mínima distância do planeta ao Sol é representada
por Rp (distância no periélio) e a máxima distância do planeta
ao Sol é representada por Ra (distância no afélio).

RP = a − c = a − a.e = a(1− e)

e a distância do afélio ao foco (Ra) é:


Ra = a + c = a + a.e = a(1+ e).

As Leis de Kepler

Figura 01.06.08: Reprodução da capa do livro “Astronomia Nova”, no qual


Kepler publicou suas duas primeiras leis do movimento planetário, em 1609.

1ª Lei: Lei das órbitas elípticas (Astronomia Nova, 1609):


A órbita de cada planeta é uma elipse, com o Sol em um dos
focos. Como consequência da órbita ser elíptica, a distância
do Sol ao planeta varia ao longo de sua órbita.
2ª Lei: Lei da áreas (1609): A reta unindo o planeta ao
Sol varre áreas iguais em tempos iguais. O significado físico
desta lei é que a velocidade orbital não é uniforme, mas varia
Leis de Kepler de forma regular: quanto mais distante o planeta está do Sol,
mais devagar ele se move. Dizendo de outra maneira, esta lei
1ª Lei: Todo planeta
descreve uma órbita estabelece que a velocidade areal é constante.
elíptica ao redor do Sol, o
Sol ocupa um dos focos
3ª Lei: Lei harmônica (Harmonices Mundi, 1618): O
dessa elipse. quadrado do período orbital dos planetas é diretamente
proporcional ao cubo de sua distância média ao Sol. Esta lei
2ª Lei: A reta que une o estabelece que planetas com órbitas maiores se movem mais
planeta ao Sol varre áreas
iguais em tempos iguais. lentamente em torno do Sol e, portanto, isso implica que a
Logo a velocidade orbital força entre o Sol e o planeta decresce com a distância ao Sol.
do planeta não é
constante em módulo ao Sendo P o período sideral do planeta, a o semi-eixo
redor do Sol. maior da órbita, que é igual à distância média do planeta ao
Vafélio < vperiélio. Sol, e K uma constante, podemos expressar a 3ª Lei como:
3ª Lei:
P2 α a3 P 2 = K a3 .
Os planetas com órbitas
menores se movem mais Se medimos P em anos (o período sideral da Terra), e a
rapidamente ao redor do
em unidades astronômicas (a distância média da Terra ao
Sol.
Sol), então K = 1ano2/UA3, e podemos escrever a 3ª Lei como:

P 2 = a3 .

Área 1, Aula 6, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Tabela 01.06.01: A tabela abaixo mostra como fica a 3ª Lei de Kepler para os
planetas visíveis a olho nu.

Figura 01.06.09: Uma grande contribuição ao Modelo Heliocêntrico foi dada


pelo italiano Galileo Galilei (1564 - 1642). Galileo foi o pai da moderna física
experimental e da astronomia telescópica. Seus experimentos em mecânica
estabeleceram parte dos conceitos de inércia, e de que a aceleração de
corpos em queda livre não depende de seu peso, que foram mais tarde
incorporados às leis do movimento de Newton.

Galileo Galilei (1564 – 1642) começou suas


Galileo observações telescópicas em 1609, usando um telescópio
construído por ele mesmo. Não cabe a Galileo o crédito da
Pai da astronomia invenção do telescópio, no entanto. Lentes e óculos já eram
telescópica.
conhecidos desde cerca de 1350, e Galileo tinha ouvido falar
Descobriu:
- que a Via Láctea é do telescópio construído pelo holandês Hans Lippershey (1570-
formada por uma 1619) em 1608. Galileo soube desse instrumento em 1609, e,
infinidade de estrelas; sem ter visto o telescópio de Lippershey, construiu o seu
- quatro satélites em
próprio, com aumento de 3 vezes, ainda em 1609. Em seguida
Júpiter;
- que Vênus passa por ele construiu outros instrumentos, e o melhor tinha aumento de
um ciclo de fases; 30 vezes.
- superfície em relevo
da Lua;
- manchas na superfície
do Sol.

Figura 01.06.10: Telescópios de Galileo no Istituto e Museo di Storia della


Scienza, em Florença.

Galileo usou o telescópio para observar


sistematicamente o céu, fazendo várias descobertas
importantes, como:
1. descobriu que a Via Láctea era constituída por uma
infinidade de estrelas;
2. descobriu que Júpiter tinha quatro satélites, ou luas,
orbitando em torno dele, com períodos entre 2 e 17 dias. Esses
satélites são chamados "galileanos", e são: Io, Europa,
Ganimedes e Calisto. Desde então, mais 57 satélites foram
Área 1, Aula 6, p.7 descobertos em Júpiter. Essa descoberta de Galileo foi
Müller, Saraiva & Kepler particularmente importante porque mostrou que podia haver
centros de movimento que por sua vez também estavam em
movimento; portanto o fato da Lua girar em torno da Terra
não implicava que a Terra estivesse parada;
3. descobriu que Vênus passa por um ciclo de fases,
assim como a Lua.

Figura 01.06.11: Representação da órbita de Vênus no sistem geocêntrico (à


esquerda) e helicêntrico (à direita). Se Vênus ficasse sempre entre a Terra e o
Sol, como propunha o modelo ptolomaico, sua face iluminada estaria
sempre voltada na direção oposta à da Terra, e da Terra seria vista sempre
em fases próximas da fase nova. No sistema heliocêntrico, Vênus fica, em
diferentes posições relativas entre a Terra e o Sol, e podemos apreciar seu
ciclo completo de fases.

Figura 01.06.12: Sidereus Nuncius (1610). Primeiro estudo de observações


astronômicas feitas com utilização de um telescópio. Trata de observações
da Lua, de estrelas e das Luas de Júpiter. Tal publicação é considerada a
origem da Astronomia moderna que abalou a teoria geocêntrica.

Essa descoberta também foi fundamental porque, no


sistema ptolomaico, Vênus está sempre mais próximo da Terra
do que o Sol, e como Vênus está sempre próximo do Sol, ele
nunca poderia ter toda sua face iluminada voltada para nós
(fase cheia) e, portanto, deveria sempre aparecer como
nova ou na forma de arco crescente ou minguante. Ao ver
que Vênus muitas vezes aparece em fase quase totalmente
cheia, Galileo concluiu que ele viaja ao redor do Sol,
passando às vezes pela frente dele e outras vezes por trás
dele, e não revolve em torno da Terra;
4. descobriu a superfície em relevo da Lua, e as
manchas do Sol. Ao ver que a Lua tem cavidades e
elevações assim como a Terra, e que o Sol também não tem
a superfície lisa, mas apresenta marcas, provou que os corpos
celestes não são esferas perfeitas, mas sim têm
irregularidades, assim como a Terra. Portanto a Terra não é
diferente dos outros corpos, e pode ser também um corpo
celeste.

Área 1, Aula 6, p.8


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.06.13: Reprodução de um desenho de Galileu mostrando as manchas
solares, em 23 de junho de 1612.

As descobertas de Galileo proporcionaram grande


quantidade de evidências em suporte ao sistema
heliocêntrico. Por causa disso, ele foi chamado a depor ante a
Inquisição Romana, sob acusação de heresia, e obrigado a se
retratar. Apenas em 1980, o Papa João Paulo II [Karol Joseph
Wojtyla (1920-2005)] ordenou um re-exame do processo contra
Galileo, o que acabou por eliminar os últimos vestígios de
resistência, por parte da igreja Católica, à revolução
Copernicana. Galileo foi perdoado em 31 de outubro de 1992.

Figura 01.06.14: Cópia da pintura de Cristiano Banti que apresenta Galileo


sendo julgado pelo tribunal de inquisição romano.

Resumo
Tycho Brahe
Grande astrônomo observacional, fez observações
sobre o movimento dos planetas e coletou dados,
principalmente de Marte. A precisão de suas medidas era
extremamente elevada para a época. Seus dados foram
usados por Kepler.

Johannes Kepler
Auxiliou Tycho Brahe na análise dos dados dos
movimentos de planetas, com a morte deste “herdou” seus
dados e continuou os estudos concluindo o que hoje
chamamos de Leis de Kepler:

Área 1, Aula 6, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
1ª Lei:
Todo planeta descreve uma órbita elíptica ao redor do
Sol, que ocupa um dos focos dessa elipse.

2ª Lei:
A reta que une o planeta ao Sol varre áreas iguais em
tempos iguais.
Logo a velocidade orbital do planeta não é constante
em módulo ao redor do Sol.
Vafélio < vperiélio.

3ª Lei:

P2 α a3 ,
onde P = período orbital do planeta
=e a distância média planeta − Sol.

Os planetas com órbitas menores se movem mais


rapidamente ao redor do Sol do que os de órbitas maiores.
Galileo Galilei
Pai da astronomia telescópica.
Descobriu:
- que a Via Láctea é formada por uma infinidade de
estrelas;
- os quatro maiores satélites de Júpiter;
- Vênus passa por um ciclo de fases;
- a superfície em relevo da Lua;
- manchas na superfície do Sol.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas
com os demais colegas.
Bom trabalho!
1. Qual a maior importância de Tycho Brahe na
Astronomia?
2. Suponha que você tem um barbante de 1m de
comprimento, cujas extremidades estão presas a duas
tachinhas. Fixando as tachinhas em uma superfície e puxando
o fio com um lápis você pode desenhar uma elipse.
a) Qual será o semieixo maior dessa elipse?
b) Qual a separação entre as tachinhas para desenhar
uma elipse com excentricidade 0,1?
c) Nesse caso, qual será o tamanho do semi-eixo menor
da elipse?
d) Qual será a menor distância de um ponto da elipse
a um dos focos?
e) Qual será a maior distância de um ponto da elipse a
um dos focos?
Área 1, Aula 6, p.10
Müller, Saraiva & Kepler
3. Descreva as três Leis de Kepler do movimento
planetário. Garanta que entende bem o significado de cada
termo da 3ª Lei.
4. Em que sistema de unidades a constante "K" da 3ª
Lei de Kepler vale 1?
5. Como Galileu contribuiu para consolidar o modelo
copernicano?
6. Por que o fato de Vênus passar por um ciclo de fases
é uma prova de que Vênus orbita o Sol, e não a Terra?
7. O asteróide Ícaro tem uma órbita elíptica cujo afélio
está a 1,969 UA do Sol, e o periélio a 0,187 UA. Encontre o
semieixo maior e a excentricidade da órbita de Ícaro e o seu
período sideral.
8. O período de Phobos, satélite de Marte, é 0,3189
dias, e o semieixo maior de sua órbita é 9.370 km. Compare
esses valores com os parâmetros da órbita da Lua em torno
da Terra para determinar a massa de Marte, em massas
terrestres.
9. Ganimede, o maior satélite de Júpiter, tem uma
distância média ao planeta de 1.070.000 km, e um período
orbital de 7,15 dias. Calisto, outro satélite, tem uma distância
média ao planeta de 1.883.000 km, e um período orbital de
16,69 dias.
a) Europa é outro satélite de Júpiter, e se encontra a
670.900 km do planeta. Qual o seu período?
b) Quanto vale a constante da terceira lei de Kepler
para o sistema de Júpiter e seus satélites?
c) Compare o valor dessa constante com o valor da
constante para o sistema de Sol e seus planetas. Qual a
massa de Júpiter em massas solares?
17. Miranda, uma lua de Urano, orbita o planeta em
1,4 dias a uma distância média de 128.000 km. Determine a
massa de Urano de três maneiras:
a) em massas terrestres, comparando o movimento de
Miranda em torno de Urano com o movimento da Lua em
torno da Terra (P(Lua) = 27,32 dias; a(Lua) = 384.000 km).
b) em massas solares, comparando o movimento de
Miranda em torno de Urano com o movimento da Terra em
torno do Sol (P(Terra) = 1 ano = 365,25 dias; a(Terra)= 1 UA =
150 x 106 km ).
c) em kg, usando todas as grandezas no SI
(G=6,673×10 −11 m3 kg−1 s-2).
11. Um planeta hipotético tem três luas, A, B e C. As
massas das luas são desprezáveis frente à massa do planeta.
A tabela abaixo apresenta, na segunda coluna, as distâncias
médias das luas ao planeta, em km, e na terceira coluna, os e
seus períodos orbitais, em dias.

Área 1, Aula 6, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
Luas km dias

A 1 x 105 1

B 4 x 105 8

C 9 x 105 27

Mostre que esse sistema obedece à 3ª Lei de


Kepler.
Até a próxima aula!

Área 1, Aula 6, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 7 - Newton e as generalizações das Leis de Kepler: gravitação.
Área 1, Aula 7

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Isaac Newton (1643-1727).

Introdução
Prezado aluno, em nossa sétima aula, da
primeira área, vamos tratar da gravitação,
relacionando as Leis de Newton com as generalizações
das Leis de Kepler.

Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos de gravitação relacionada
com as Leis de Kepler, e esperamos que ao final você esteja
aptos a:
• descrever a Lei da Gravitação Universal de
Newton e explicar como ela fundamenta as
Leis de Kepler;
• explicar como a 3ª Lei de Kepler na
formulação de Newton permite determinar as
massas de corpos astronômicos;
• verificar que a energia do sistema determina
o tipo de órbita que ele segue e permite
calcular a velocidade em qualquer ponto da
órbita;
• aplicar esses conceitos na resolução de
problemas.

Como é possível “pesar” os


astros?
Isaac Newton

Figura 01.07.01: Isaac Newton (1643-1727).

As Leis de Kepler, na forma como ele as escreveu,


eram leis empíricas, sem respaldo teórico. Kepler explicava
como os planetas se moviam, mas não explicava porque se
moviam assim. Embora reconhecesse que algum tipo de
força devia manter os planetas em suas órbitas, ele não
logrou encontrar uma explicação satisfatória para que tipo
de força seria. Coube a Newton explicar as propriedades da
força fundamental dominando os movimentos dos corpos
astronômicos – a gravidade.
Newton pôde explicar o movimento dos planetas em
torno do Sol, assumindo a hipótese de uma força dirigida ao
Sol, que produz uma aceleração que força a velocidade do
planeta a mudar de direção continuamente.
Considerando o movimento da Lua em torno da Terra e as
leis de Kepler, Newton descobriu a lei da Gravitação
Universal.
Área 1, Aula 7, p.2
Müller, Saraiva & Kepler
Gravitação Universal
Obviamente a Terra exerce uma atração sobre os
objetos que estão sobre sua superfície. Newton se deu
conta de que esta força se estendia até a Lua e produzia a
aceleração centrípeta necessária para manter a Lua em
órbita. O mesmo acontece com o Sol e os planetas. Então
Newton formulou a hipótese da existência de uma força de
atração universal entre os corpos em qualquer parte do
Universo.
A força centrípeta que o Sol exerce sobre um
planeta de massa m, que se move com velocidade de
Segundo Newton módulo v a uma distância r do Sol, é dada por:
A mesma força que v2
provoca a queda dos F = m. ,
corpos na Terra faz com r
que a Lua gire em torno
Assumindo neste instante uma órbita circular, que
da Terra e os planetas
em torno do Sol; mais tarde será generalizada para qualquer tipo de órbita,
as mesmas leis que o período P do planeta é dado por:
determinam os
movimentos dos corpos
na Terra também 2π r 2π r
governam os P
= v
→= .
movimentos dos corpos v P
celestes.
Pela 3a Lei de Kepler,

P2 = K r 3 ,

onde a constante K depende das unidades de P e r.


Temos então que:
4π 2 r 2 4π 2 1
v2
= = ⇒ v2α .
Kr 3
Kr r

Seja m a massa do planeta e M a massa do Sol.


Substituindo-se esta velocidade na expressão da força
centrípeta exercida pelo Sol (F) no planeta, a força pode
então ser escrita como:
m
Fα ,
r2
E, de acordo com a 3ª Lei de Newton, o planeta
exerce uma força de mesma intensidade e de sentido
oposto sobre o Sol, de massa M, de modo que também
podemos dizer que:
M
Fα .
r2
Newton deduziu então que:
A força de atração
gravitacional GMm
F= .
r2
- É atrativa;
- é diretamente onde G é uma constante de proporcionalidade que
proporcional ao depende do sistema de unidades adotado. Tanto o Sol
produto das massas dos
corpos e inversamente
quanto o planeta que se move em torno dele
proporcional ao experimentam a mesma força, mas o Sol permanece
quadrado da distância aproximadamente no centro do Sistema Solar porque a
entre eles. massa do Sol é aproximadamente mil vezes o valor da
massa de todos os planetas somados.
Newton então concluiu que para que a atração
universal seja correta, deve existir uma força atrativa entre
pares de objetos em qualquer região do universo, e esta
força deve ser proporcional a suas massas e inversamente
Área 1, Aula 7, p.3
proporcional ao quadrado de suas distâncias.
Müller, Saraiva & Kepler
Leis de Kepler Generalizadas

Newton combinou suas leis do movimento e da


gravitação universal para deduzir as três leis de Kepler.
1ª Lei de Kepler:
A dedução da primeira lei exige cálculo vetorial, então
não vamos deduzi-la aqui. Vamos aceitar que Newton provou
que a lei das órbitas elípticas dos planetas é
( )
uma consequência do tipo de força Fα 1 r 2 que atua entre

os planetas e o Sol. Essa força gera uma aceleração que faz


os planetas se moverem em órbitas elípticas.
No caso mais geral:

As únicas órbitas possíveis para um corpo interagindo


gravitacionalmente com outro são as secções cônicas: círculo,
elipse, parábola ou hipérbole (figura 01.07.02).
Se o corpo tiver movimento periódico, como os
planetas, sua trajetória será circular ou elíptica; se o
movimento for não periódico, como é o caso de alguns
cometas e asteroides, a trajetória será parabólica ou
hiperbólica.

O fator decisivo que define o tipo de órbita é a energia


total do sistema (o zero da energia potencial gravitacional é
tomado no infinito).
• energia < 0 → órbita elíptica ou circular
• energia = 0 → órbita parabólica
• energia > 0 → órbita hiperbólica

A força gravitacional
faz com que os
planetas se movam em
órbitas elípticas.

Sob atração
gravitacional, corpos
que não têm órbitas
fechadas terão órbitas
parabólicas ou Figura 01.07.02: Seções cônicas e equação da elipse.
hiperbólicas.
Todas as seções cônicas podem ser descritas pela
equação da elipse, dependendo dos valores que seus
elementos podem assumir:

• Um círculo pode ser pensado como uma elipse com


excentricidade nula e semieixo maior igual ao semieixo
menor: e = 0 e a = b;
• Uma parábola pode ser pensada como uma elipse
com excentricidade igual a 1 e semieixo maior
infinitamente grande: e = 1 e a = ∞;
• Uma hipérbole pode ser pensada como uma elipse
com excentricidade maior do que 1 e semieixo maior
negativo: e > 1 e a < 0.

Área 1, Aula 7, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
2a Lei de Kepler:
A dedução da segunda lei parte da definição de
momentum angular:

(1)Definição de momentum angular:

L= rxp
onde as grandezas vetoriais estão representadas em negrito e
o produto vetorial (×) é tal que o vetor resultante é
perpendicular ao plano definido pelos dois vetores envolvidos
Lembre que para fins de na operação, e tem módulo igual ao produto dos módulos
apresentação neste
dos dois vetores pelo seno do ângulo entre eles.
texto, as grandezas
vetoriais estão
representadas em Ou seja, se o ângulo entre r e v é α, então:
negrito.

L = r m v sen α.

Se r e v são paralelos, r xv = 0.

2ª Lei de Kepler (2) Prova de que o momentum angular de um planeta


em relação ao Sol é constante:
No movimento orbital o
momentum angular dL/dt = d(r×p)/dt = (dr/dt×p + r×(dp/dt) = v×p + r×(dp/dt)
permanece constante, = r×F.
sendo em cada ponto igual
à área varrida pelo raio que Se F tem a mesma direção de r, como é o caso da
une o planeta ao Sol numa força gravitacional, então r×F = 0 ⇒ dL/dt = 0 e L =
unidade de tempo.
constante.
(3) Prova de que o módulo do momentum angular do
planeta é igual à área varrida pela linha reta que o liga ao
Sol
Considerando a figura 01.07.03:

Figura 01.07.03: A área descrita pela linha reta (r) unindo o ponto P a F,
quando ele se desloca até Q, é aproximadamente (para um intervalo de
tempo pequeno) igual à área de um triângulo de base rΔθ e altura r.

= 1 2 r ∆θ .
∆A

Em um tempo Δt:

ΔA/Δt = 1/2 r²Δθ/Δt.

O momentum angular (L) é definido como:

L = r×mv → L = r mvt.

onde chamamos vt à componente de v na direção


perpendicular a r. Para um intervalo de tempo Δt pequeno, vt
pode ser aproximado pelo pedaço da órbita percorrido
durante esse tempo, que é igual ao arco subtendido pelo
Área 1, Aula 7, p.5
Müller, Saraiva & Kepler
ângulo Δθ, ou seja:
L = m r² Δθ/Δt.

Comparando a expressão de ΔA/Δt com a expressão


de L, vemos que:
ΔA/Δt = 1/2 L/m,

em que ΔA/Δt é constante porque o momentum angular e a


massa são constantes.
ΔA/Δt é chamada velocidade "areal" (ou “areolar”) do
planeta, que é igual à área varrida pelo raio vetor que une o
planeta ao Sol por intervalo de tempo.
Vemos que a lei das áreas de Kepler é uma
consequência direta da lei de conservação do momentum
angular: o momentum angular dos planetas em relação ao Sol
é constante, portanto sua velocidade areal é constante.
Considerando um intervalo de tempo infinitesimal, e
adotando:
h = L/m
(momentum angular por unidade de massa), temos:
dA/dt = h/2
Integrando essa equação em um período orbital
completo temos:
∫dA = h/2∫dt,
ou
A = h/2 P.

Como a área da elipse é

A = πab,
o momentum angular por unidade de massa é:

h= 2πab/P.

3ª Lei de Kepler na forma de Newton:

Figura 01.07.04: Dois corpos com massas m1 e m2 , afastados de uma distância r1


e r2, respectivamente, do centro de massa (c.m.) do sistema.

Suponha dois corpos de massas m1 e m2, afastados do


centro de massa por uma distância r1 e r2. A atração
gravitacional entre eles depende da distância total entre eles
e é dada por:
Gm1m2
FG = .
( r1 + r2 )
2

Se eles estiverem em órbitas circulares com velocidades


de módulo v1 e v2, a aceleração centrípeta, dirigida ao centro
de massa, é dada por:

m1v12
F1 = ,
r1
Área 1, Aula 7, p.6 e
Müller, Saraiva & Kepler
m2 v22
F2 = .
r2

Como estamos assumindo órbitas circulares e, por


definição de centro de massa, os períodos têm que ser os
mesmos, ou o centro de massa se moveria, temos:

2π r1 4π 2 r12
v=1 ⇒ v12= ,
P P2

e, similarmente para m2. Para que os corpos permaneçam em


órbitas, as forças precisam ter módulos idênticos:

Gm1 m2 m1 v12 4 π 2 m1 r1
F=1 F2= FG= = = ,
( r1 + r2 ) r1
2
P2
3ª Lei de Kepler

Modificada por e
Newton:
M.P2/a3 = constante. Gm1 m2 m2 v22 4π 2 m2 r2
= = .
( r1 + r2 ) r2
2
P2

Eliminando-se m1 na primeira e m2 na segunda e


somando-se, obtemos:

G(m1 + m2 ) 4π 2 (r1 + r2 )
= ,
(r1 + r2 )2 P2

ou:
4π 2
( r1 + r2 ) .
3
=P2
G ( m1 + m2 )

Identificando-se a=(r1+r2 ) como a separação entre os


corpos, e comparando com a 3ª Lei de Kepler, obtemos:
4π 2
K= .
G(m1 + m2 )

Isso nos diz que a "constante" K, definida como a razão


P2 , só é constante realmente se (m1 + m2 ) permanece
a3
constante. Isso é o que acontece no caso dos planetas do
sistema solar; como todos os planetas têm massa muito menor
do que a massa do Sol, já que o maior planeta, Júpiter, tem
quase um milésimo da massa do Sol, a soma da massa do Sol
com a massa do planeta é sempre aproximadamente a
mesma, independente do planeta. Por essa razão Kepler, ao
formular sua 3a lei, não percebeu a dependência com a
massa.

Área 1, Aula 7, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Mas, se considerarmos sistemas onde os corpos
2
principais são diferentes, então as razões P 3 serão
a
diferentes. Por exemplo, todos os satélites de Júpiter têm
2
praticamente a mesma razão P 3 = KJ , que, portanto
a
podemos considerar constante entre eles, mas essa constante
2
é diferente da razão P 3 = K comum aos planetas do
a
Lembre que a sistema solar.
3ª Lei de Kepler na
forma de Newton Para qualquer conjunto de sistemas interagindo
permite determinar gravitacionalmente, podemos escrever:
massas de corpos
2
astronômicos. MK
1 = = Mn Kn= 4π
1 M2 K2= ... ,
G
2
onde M= massa do sistema e K = P .
a3
Determinação de Massas
A terceira lei de Kepler na forma derivada por Newton,
permite determinar massas de corpos astronômicos, desde
que esse corpo tenha outro orbitando-o, de maneira que se
possa medir o período do sistema e a separação entre os dois
corpos.
4π 2 a3
M+ m = . 2 .
G P
A massa medida será sempre a massa do sistema
(soma da massa dos dois corpos), mas se um deles for muito
mais massivo do que o outro, pode-se considerar que a massa
medida é a massa do corpo de maior massa
(quando M+m ∼ M).
No sistema internacional de unidades,
G = (6,67428 ± 0,00067) × 10-11 N m2/kg2.
Mas, em Astronomia, muitas vezes é mais conveniente
adotar outras unidades que não as do sistema internacional.
Por exemplo, em se tratando de sistemas nos quais o corpo
maior é uma estrela, costuma-se determinar sua massa em
unidades de massa do Sol, ou massas solares (massa do Sol =
M ), seus períodos em anos e as distâncias entre si em
unidades astronômicas. Em sistemas em que o corpo maior é
um planeta, é conveniente expressar sua massa em unidades
de massas da Terra (massa da Terra = M⊕ ), seu período em
meses siderais e suas distâncias relativas em termos da
distância entre Terra e Lua. Nesses sistemas particulares, a
terceira lei de Kepler pode ser escrita como
a3
M + m =2 ,
P
a qual é especialmente útil para a determinação de massas
de corpos astronômicos. Note que esta fórmula só pode ser
aplicada assim nestas unidades:
1. massas em massas solares, período em anos e a em
Unidades Astronômicas,
2. massas em massas terrestres, período em meses
siderais (27,33 dias) e a em distância Terra-Lua.
Por exemplo, caso se observe o período orbital e a
distância de um satélite a seu planeta, pode-se calcular a
massa combinada do planeta e do satélite, em massas solares
Área 1, Aula 7, p.8
ou massas terrestres. Como a massa do satélite é muito
Müller, Saraiva & Kepler pequena comparada com a massa do planeta, a massa
calculada ( m + M) é essencialmente a massa do planeta (M) .

Da mesma forma, observando-se o tamanho da órbita


de uma estrela dupla, e o seu período orbital, pode-se deduzir
as massas das estrelas no sistema binário. De fato, pode-se usar
a terceira lei de Kepler na forma revisada por Newton para
estimar a massa de nossa Galáxia e de outras galáxias.
Exemplos de uso da 3a Lei de Kepler
Exemplo 1
Qual é a massa do Sol? Sabemos que a Terra orbita o
Sol em 1 ano. Podemos usar a relação
4π 2
=P2 .(r + r )3 ,
G(m1 + m2 ) 1 2

e lembrar que a = r1 + r2 = 1 UA = 1,5 ×1011 m. Reescrevendo:


4π 2 a3
(m1 + m2 )= 2 .
GP

Como G = 6,67×10-11 m3 kg-1 s-2 e P= 1 ano =


3,16×107 s, obtemos

( )
3
4 ( 3,14 ) x 1,5 x1011 m
2

=mSol + mTerra = 2 x1030 kg.


6,67 x10 −11 m3 kg−1s−2 x(3,16 x107 s)2

Exemplo 2:
Deimos, o menor dos dois satélites de Marte, tem
período sideral de 1,262 dias e uma distância média ao centro
de Marte de 23.500 km. Qual a massa de Marte?
Podemos resolver este problema de diversas maneiras.
Aqui vamos mostrar algumas delas.
a) Calculando a massa de Marte diretamente em
massas terrestres. (Vamos usar a notação: Marte = Ma; Deimos
= D; Terra = ⊕ e Lua = L).
I - Uma maneira de resolver o problema é comparando
os parâmetros da órbita de Deimos em torno de Marte com os
parâmetros da órbita da Lua em torno da Terra, sem introduzir
o valor da constante.
Desprezando a massa de Deimos e da Lua frente às
massas de seus respectivos planetas, podemos escrever:
MMaKMa = M⊕ K⊕ , sendo KMa = (PD)2/(aD)3

e K⊕ = (PL)2/(aL)3

Então:

MMa ( PL ) / (aL )  PL 
23 2 3
 aD 
= =     ,
M⊕ (PD )2 / (aD )3  PD   aL 

sabendo que:
PL = 27, 32 dias,
PD = 1, 262 dias,
aL = 384.000 km e
aD = 23.500 km.

Área 1, Aula 7, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Temos:
2 3
MMa  27,32 dias   23 500 km 
= =    0,1,
M⊕  1,262 dias   384 000 km 
.
MMa = 0,1M⊕ .

II. Podemos chegar ao mesmo resultado usando a


expressão formal da 3ª Lei de Kepler (equação 1.3),
escrevendo as distâncias em termos da distância Terra-Lua, as
massas em massas terrestres, e os períodos em termos do
período da Lua, ou seja, usando o sistema de unidades
[distância T-L (dTL), massa terrestre ( M⊕ ), mês sideral ( mês)]:

Fazendo as transformações de unidades:


PD = (1, 262/27, 32) meses = 4, 62×10-2 meses,
aD = (23 500/384 000) dTL = 6, 1×10-2 dTL,
=G 4 π 2 (dTL )3 / (M⊕ meses2 )→
4π 2
=1(M⊕ meses2 )/ (dTL )3 .
G
Temos:
(6,1x10 −2 )3
=MMa M⊕ → MMa 0,1M⊕ .
=
(4,62 x10 −2 )2

2. Calculando diretamente a massa de Marte em


massas solares( M )

a. Comparando o movimento de Deimos em torno de


Marte com o movimento da Terra em torno do Sol:
MMa .KMa = M .K

onde K =(P )2 / ( a ) , e KMa =(PD )2 / (aD )3 .


3

Então:
2 3
MMa (P⊕ )2 / (a⊕ )3  P⊕   aD 
= =     .
M (PD )2 / (aD )3  PD   a⊕ 

Sabendo que:
P⊕ = 365, 25 dias,

PD = 1, 262 dias,
a⊕ = 1, 5×108 km = 1 UA e

aD = 2, 35×104 km.
Temos:
2 3
MMa  365,25 dias   2,35 x104 km  −7
= =    3,2 x10 .
M  1,262 dias   1,5 x108 km 

MMa = 3,2 x10 −7 M .

Área 1, Aula 7, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
II - Usando a equação 1.3 e adotando o sistema de
unidades [UA, M , ano].

4π 2 a 3
Mma + mD ≅ MMa = D2 .
G PD

Fazendo a transformação de unidades:


PD = (1, 262/365, 25) anos = 3, 46×10-3 anos;
aD = (2, 35×104/1, 5×108) UA = 1, 57×10-4 UA;
G =4π2 UA3 / M ano2 ⇒ 4π2 / G =1(M ano2 )/ UA3 .

Temos:

(1,57x10 )
3
−4

=MMa M
= ⇒ MMa 3,2 x10 −7 M .
(3,46 x10 −3 )2

III - Calculando diretamente a massa de Marte em


quilogramas, ou seja, usando o Sistema Internacional [m, kg, s]
3
4π 2 (a )
MMa + mD ≅ MMa = d 2 .
G (PD )

Escrevendo todos os dados em unidades do Sistema


Internacional:
PD = 1,262 dias = 1,09×105 s,
aD = 23.500 km = 2,35×105 m,
G = 6,67×10-11 m3/(kg s2).
Temos:

4π 2 kg s2 (2,35 x105 m)3


=MMa = ⇒ MMa 6,4 x1023 kg.
6,67 x10 −11 m3 (1,09x105 s)2
Exemplo 3:
Duas estrelas idênticas ao Sol giram uma em torno da
outra a uma distância de 0,1 UA. Qual o período de revolução
das estrelas?

(0,1UA)3 0,001
2=
M ⇒P
= = 0,22 anos.
P2 2

Equação da Energia
Vamos considerar um sistema de dois corpos
interagindo gravitacionalmente, onde

m1 e m2 = massas dos corpos;


v1 e v2 = módulos de suas velocidades;
r = distância entre os corpos.

Conservação da energia no movimento orbital

Chamando W o trabalho realizado pela força


gravitacional sobre um corpo que se move entre dois pontos A
e B:

Área 1, Aula 7, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
B
WAB = ∫A
F .d x ,

onde dx é um elemento infinitesimal da trajetória.

Sendo:

F.dx= m . dv/dt . vdt = m(v.dv) = d(mv2/2),


a equação do trabalho fica:
B B
WAB = ∫A
F . d x = ∫ d (mv2/2) = (mv2/2)B - (mv2/2)A =
A

ECB - ECA
onde EC = energia cinética.
Por outro lado, como a força que está atuando é a
força gravitacional entre dois corpos m1 e m2, temos que:

F.dx= - G m1 m2/r2 dr = d(G m1 m2/r)


e a equação do trabalho fica:

W = (G m1 m2/r)B - (G m1 m2/r)A = EPA - EPB,


onde

EP = energia potencial = Gm1 m2/r.


Combinando as duas equações do trabalho
encontradas:

ECB - ECA = EPA - EPB


ou

ECB+ EPB = ECA + EPA


e chamando E = EC + EP = Energia total do sistema

EA =EB = constante.
Sabendo que a energia total se conserva nesse
sistema,
Energia total=1/2(m1v12)+1/2(m2v22)-Gm1m2/r =
constante.
Da conservação do momentum linear total:
m1v1= m2v2 (onde consideramos momentum linear total
= 0).
Então:

v1 = m2v2/m1 e v2 = m1v1/m2 (1)

Definindo uma velocidade relativa v como:


v = v1-v2.
Como v1 e v2 têm mesma direção e sentidos contrários,
o módulo de v é dado por v = v1 + v2:
v1 = v – v2 e v2 = v – v1 (2)

Área 1, Aula 7, p.12 Substituindo (2) em (1) podemos escrever:


Müller, Saraiva & Kepler
v1 = [m2/(m1+m2)]v e v2 = [m1/(m1+m2)]v.
Substituindo na equação da energia total:

Energia total = m1m2/(m1+m2)[v²/2 - G(m1+m2)/r]

Calculando o valor da energia total no periélio, onde

Energia total r = a(1-e) e v2 = 4π2a2/P2[(1+e)/(1-e)]

A energia total no e, lembrando que


movimento orbital é
constante. P2 = [4π2/G(m1+m2)]a3,
encontramos que a energia total vale:
E = − Gm1m2 / 2a.

E a equação da energia, ou equação da velocidade,


fica:

v2 =
G(m1 + m2 ) (2 / r ) − (1/ a) .

Velocidade circular
Na órbita circular a ≡ r , e substituindo na equação da
velocidade temos:
v²circ = G (m1+m2)[2/r - 1/r] = G (m1+m2)/r ⇒

vcirc
= G(m1 + m2 )/ r.

Para uma órbita circular, vemos que a energia total é


Velocidade na órbita negativa, já que:
circular
E = -Gm1m2/2r < 0.
é dada por:

vcirc = (GM/r)1/2.
Velocidade de Escape
Da equação de velocidade se pode deduzir
facilmente a velocidade de escape do sistema, que
representa a velocidade mínima para que o corpo escape da
atração gravitacional do sistema.

Figura 01.07.05: ilustração das trajetórias descritas por um projétil lançado


paralelamente à superfície da Terra. Aumentando gradativamente a
velocidade de lançamento termos órbitas elipticas com pericentro no interior
da Terra (trajetórias A e B), órbita circular (C), órbitas elípticas com pericentro
no ponto de lançamento (trajetória D) e as órbitas abertas (E), cujo limite é a
órbita parabólica, correspondente ao lançamento com velocidade igual à
velocidade de escape. Fonte da figura:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Velocidade_de_escape.

Área 1, Aula 7, p.13


Müller, Saraiva & Kepler
Esta velocidade é por definição aquela com a qual o
corpo chega com velocidade zero no infinito (v = 0 em r = ∞ ),
o que representa um órbita parabólica, já que a energia total
é nula (E= 0).
Assim, uma órbita parabólica pode ser considerada
uma órbita elíptica com e = 1 e a = ∞.
Substituindo na equação da velocidade temos:
v²esc = G (m1+m2)[2/r - 1/∞] = 2G(m1+m2)/r ⇒

vesc
= 2G(m1 + m2 )/ r

Para uma órbita parabólica, a energia total é nula, pois:


E = − Gm1m2 / ∞ = 0.
Velocidade de escape
(órbita parabólica) Para uma órbita hiperbólica, a energia total é positiva;
a energia cinética é tão grande que a partícula pode escapar
Vesc = (2GM/r)1/2 . do sistema e se afastar dele. A parábola é o caso limite entre a
órbita fechada (elipse) e a hipérbole. Halley, usando o método
de Newton, encontrou que vários cometas têm órbitas
parabólicas.

Problema de muitos Corpos


Assumimos até aqui que a órbita é um problema de
dois corpos. Na realidade, os planetas interferem entre si,
perturbando a órbita dos outros. Ainda assim suas órbitas não
se desviam muito das cônicas, só que os elementos da órbita
variam com o tempo e precisam ser calculados por
aproximações sucessivas, pois a órbita não pode ser definida
analiticamente. Para a órbita da Terra em torno do Sol, como a
massa do Sol é 1.047 vezes maior que a massa de Júpiter e
Júpiter está 5,2 vezes mais distante do que o Sol, a força
gravitacional de Júpiter sobre a Terra é 28 mil vezes menor que
a do Sol e, portanto, seu efeito pode ser calculado pelo
método das pertubações.
Além disto, mesmo para apenas dois corpos
macroscópicos, como a Terra e a Lua, a solução de dois
corpos não é exata, pois nem a Terra nem a Lua são esferas
perfeitas e, portanto, não se comportam como massas
pontuais. Mais ainda, devido às marés, a Terra e a Lua não são
sequer rígidas. O momento de quadrupolo da Terra e da Lua
causam perturbações tanto perpendiculares ao plano da
órbita quanto radiais.

Figura 01.07.06: Variação da excentricidade da órbita da Terra em torno do Sol


devido aos efeitos de muitos corpos.

Área 1, Aula 7, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
Exemplos

1. O semieixo do planetóide 1.982 RA é de 1,568 UA e


sua distância ao Sol em 8 de outubro de 1982 era de 1,17 UA.
Qual era sua velocidade?

Como

v2 =
G(m1 + m2 ) (2 / r ) − (1/ a) ,

G = 6, 67×10-11 m3 kg -1, mSol >> mplanetoide, mSol = 1,9891x1030 kg,


a= 1,568 UA, r = 1,17 UA e 1 UA = 150 x109 m,

temos:

v = 31.000 m/s = 31 km/s.


2) Qual é a altura de um satélite geoestacionário?
Se o satélite é geoestacionário, isto é, permanece
posicionado sobre um mesmo local da Terra, então seu
período orbital tem que ser igual a um dia sideral (23 h 56min)
= 86 160 segundos. Usando a 3a lei de Kepler,
4π 2
P2 = ,
G(MT + ms )

com MT = 5, 98 x 1024 kg, ms <<MT e G = 6, 67 x 10-11 N . m2/kg2,


temos:

1/3
 P2 GMT 
=a = 2  42.172 km.
 4π 
Como o raio da Terra é RT = 6.370 km, então a altura
será (a - RT)= 42.172 km – 6.370 km = 35.800 km.

3) Se quisermos enviar um satélite até a Lua ou


qualquer outro planeta, precisamos primeiro vencer o
campo gravitacional da Terra. Qual é a velocidade
necessária para um satélite artificial escapar do campo
gravitacional da Terra?
Como a massa do satélite pode ser desprezada em
relação à massa da Terra:

2 GM⊗ 2 x 6,67 x10 −11 N m2 / kg2 x 5,95 x1024 kg


=vesc

= = 11,2 km / s.
R⊗ 6 370.000 m

4) A órbita de menor energia para lançamento de


uma nave a Marte, conhecida como transferência de
Hohmann, é aquela que tem uma distância no periélio de
1UA (semieixo maior da órbita da Terra) e uma distância de
afélio de 1,52 UA (semieixo maior da órbita de Marte). Qual
é o tempo de viagem para uma nave interplanetária
seguindo essa órbita?

Área 1, Aula 7, p.15


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.07.07: A órbita de menor energia para transferência de órbita entre
a Terra e um planeta externo é uma órbita elíptica com foco no Sol, periélio
na órbita da Terra (ponto 2) e afélio na órbita do outro planeta (ponto 3).
Fonte da figura:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/61/Hohmann_transfer_orb
it.jpg

O a da órbita da nave é
rp + rA
=a = 1,26 UA,
2
e, portanto seu período é:
4π 2
=P2 = .a3 → P 1,41anos.
G(M + mn )

O tempo de viagem será metade do período orbital,


portanto de 8,5 meses. Qual a velocidade de lançamento?
Chamando µ = G(M+m), a equação da velocidade pode
ser escrita como:

2 1
=v µ − ,
 r a

e r = 1 UA. Logo v = 33 km/s. Considerando-se que a Terra


orbita o Sol com velocidade de:
 2π .1UA 
=v =  30 km / s.
 1ano 

Só precisamos lançar a nave com 30 km/s, na mesma


direção e sentido da órbita da Terra. Note que o lançamento
da nave tem que ser bem programado para que Marte esteja
na posição da órbita que a nave chegará.
5) Raio de horizonte de um buraco negro. Karl
Schwarzschild (1873-1916), em 1916 resolveu as equações da
Relatividade Geral de Albert Einstein (1879-1955) e derivou
corretamente o raio do horizonte de eventos de um buraco
negro, isto é, o tamanho da região, em volta da
singularidade, da qual nada escapa.
Um buraco negro tem velocidade de escape igual à
c, a velocidade da luz, já que nem a luz escapa dele, e nada
pode ter velocidade maior do que a velocidade da luz.
Área 1, Aula 7, p.16 Então,
Müller, Saraiva & Kepler
2 G M
=vesc = c,
R

e o raio é chamado de Raio de Schwarszchild, ou raio do


horizonte de eventos:
2GM
RSchw = ,
c2
2GM
RSchw  = .
c2
Através dessa equação encontramos que um buraco
negro de massa igual à massa do Sol tem um raio de
horizonte de aproximadamente 3 km.

Resumo
Newton mostrou que a mesma força que provoca a
queda dos corpos na Terra faz com que a Lua gire em torno
da Terra e os planetas em torno do Sol; as mesmas leis que
determinam os movimentos dos corpos na Terra também
governam os movimentos dos corpos celestes.
A Lei da Gravitação Universal afirma que dois corpos
quaisquer se atraem com uma força diretamente
proporcional ao produto de suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância entre eles.

GMm
F= .
r2

A força gravitacional causa o movimento elipsoidal


dos planetas (1ª Lei de Kepler); corpos que não têm órbitas
fechadas terão órbitas parabólicas ou hiperbólicas.
O fator que determina o tipo de órbita é a energia do
sistema. Se a energia total é negativa a órbita é fechada
(elíptica ou circular); se a energia total é positiva a órbita é
aberta (parabólica); se a energia total é nula o corpo tem
velocidade de escape e a órbita é parabólica.
No movimento orbital o momentum angular
permanece constante, sendo em cada ponto igual à área
varrida pelo raio que une o planeta ao sol numa unidade de
tempo. Portanto, a 2ª Lei de Kepler decorre naturalmente da
conservação do momentum angular.
Newton mostrou que a 3.a Lei de Kepler não é válida
universalmente na forma original, mas se torna universal se for
incluída a massa do sistema. Ou seja

P³/a³ = constante se M= constante

M.P²/a³ = constante (sempre).

A constante é 4 π 2 /G, e seu valor depende das


unidades de G.

Área 1, Aula 7, p.17


Müller, Saraiva & Kepler
A 3ª Lei de Kepler na forma de Newton nos permite
determinar massas de corpos astronômicos.

A energia total no movimento orbital é constante:

1/2(m1v12)+1/2(m2v22)-Gm1m2/r = -Gm1m2/2a.

De onde se deduz que, em qualquer ponto da órbita,


a velocidade vale:

v2 =
G(m1 + m2 ) 2 / r − 1/ a .

Na órbita circular a = r e temos v = (GM/r)¹/²


Na órbita parabólica a =∞ e, temos a velocidade de
escape v=(2GM/r)¹/².

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!
1. Escreva, em suas próprias palavras, as três leis de
Kepler na forma generalizada.
2. Que tipo de curva corresponde a uma seção
cônica com:
a) 0 < e < 1?
b) e = 1?
c) e= 0?
d) a =∞?
e)1 < a < ∞?
3. Que princípio físico está por trás da segunda lei de
Kepler? Prove que dA/dt = constante no movimento orbital de
um planeta em torno do Sol.
4. Qual a diferença principal entre a 3ª Lei de Kepler
na forma original e na forma derivada por Newton? Qual a
principal aplicação da 1ª Lei de Kepler na forma derivada por
Newton?
5. Podemos escrever a terceira lei de Kepler na forma:
(M+m).K = constante, onde K= P²/a³. Quanto vale essa
constante? Em que sistemas de unidade ela se reduz a 1?
6. Mostre como a 3ª Lei de Kepler pode ser deduzida a
partir da lei da Gravitação Universal e do conceito de
aceleração centrípeta. Suponha órbita circular. Em que
sistemas de unidades essa constante se reduz a 1?
7. Sendo K(Sol) a razão entre P² e a³ para o movimento
de qualquer planeta em torno do Sol, quanto vale K(Sol), em
dias²/km³? e em anos²/UA³? (Use os valores de "P" e "a" da
Área 1, Aula 7, p.18
Terra, que deves saber de cor).
Müller, Saraiva & Kepler
8. Mostre que a energia total no movimento orbital vale
-G(M+m)/2a, e que se a energia total no movimento orbital for
negativa, nula e positiva, teremos, respectivamente, elipse,
parábola e hipérbole.
9. A partir da equação da velocidade, deduza a
equação da velocidade circular e da velocidade de escape.
10. Um satélite é lançado a 300 km de altura da
superfície da Terra, com velocidade paralela à superfície.
a) Qual o valor de sua velocidade para descrever uma
órbita circular?
b) E para descrever uma órbita parabólica?
c) E para descrever uma órbita elíptica com
excentricidade 0,05 e perigeu no ponto de lançamento?
11. Considere um cometa com uma distância no afélio
de 5 x 104 UA e uma excentricidade orbital de 0,995.
a) Qual é a distância do cometa ao sol no periélio?
b) Qual o seu período orbital?
c) Quais suas velocidades no periélio e no afélio?
d) Quanto vale o momentum angular orbital do
cometa?
12. A partir da 2a Lei de Kepler, prove que o momentum
angular de um planeta vale:
2π ab
h= .
P

Então, use o conceito de momentum angular


h = r v sen θ = constante, onde θé o ângulo entre o vetor
→ →
posição r e o vetor velocidade v , para mostrar que as
velocidades no afélio e no periélio valem, respectivamente;

2π a (1− e)
1/2

vaf = ,
P(1+ e)1/2

2π a(1+ e)1/2
vper = .
P(1− e)1/2

Qual a razão vap/vper para a Terra?


13. A trajetória elíptica de menor energia para uma
espaçonave ir de um planeta a outro não é uma linha reta,
mas sim uma órbita elíptica em torno do Sol, cujo periélio toca
a órbita do planeta mais interno e cujo afélio toca a órbita do
planeta mais externo. Para uma trajetória assim entre a Terra e
Saturno, sabendo que o raio médio da órbita da Terra é 1 UA e
o raio médio da órbita de Saturno é 9,5 UA, calcule:
a) o semieixo maior da órbita;
b) o tempo de viagem (ida e volta);
c) a velocidade no lançamento (periélio);
d) a velocidade no afélio.

A seguir, no ambiente virtual de aprendizagem, veja se


há alguma atividade prevista para a conclusão dessa aula.
Obrigado pela sua presença, em caso de dúvidas
contate o tutor.
Área 1, Aula 7, p.19 Até a próxima aula!
Müller, Saraiva & Kepler
Aula 8 - Forças gravitacionais diferenciais: marés e precessão.
Área 1, Aula 8

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

A Lua e o mar.

Introdução
Prezado aluno, em nossa oitava aula, da
primeira área, vamos estudar as forças gravitacionais
diferenciais, marés e precessão.

Bom estudo!
Objetivos da aula
Nesta aula trataremos de forças gravitacionais
diferenciais, marés e precessão, e esperamos que ao final
você esteja apto a:
• entender o que são forças gravitacionais
diferenciais, os fatores determinantes para
seu aparecimento e qual o seu efeito nos
corpos que as sofrem;
• explicar os fenômenos das marés e da
precessão do eixo da Terra em termos de
forças gravitacionais diferenciais;
• explicar a relação entre as fases da Lua e as
variações das marés na Terra.

Se a Lua não existisse,


teríamos marés na Terra?
Forças Gravitacionais Diferenciais

Corpos com simetria esférica agem,


gravitacionalmente, como massas pontuais, para as quais
as influências gravitacionais são facilmente calculadas. Na
natureza, no entanto, os corpos na maioria das vezes não
são perfeitamente esféricos. A principal contribuição à
não esfericidade em planetas é a sua rotação. Outra
contribuição é proporcionada pelas forças gravitacionais
diferenciais que corpos vizinhos exercem uns nos outros.
Essas forças diferenciais resultam em fenômenos como
marés e precessão.
As forças gravitacionais diferenciais são forças que
surgem dentro de um corpo extenso imerso no campo
gravitacional de outro, mais distante.
Visto como um corpo pontual, a força
gravitacional que atua no corpo é inversamente
proporcional ao quadrado da distância centro a centro
Forças gravitacionais
dos dois corpos.
em diferentes pontos Como os corpos não são pontuais, e sim extensos,
do corpo são
diferentes. diferentes pontos do corpo extenso estão a diferentes
Essas diferenças entre distâncias do outro corpo. Consequentemente, as forças
elas originam as forças gravitacionais em diferentes pontos do corpo são
gravitacionais diferentes, e as diferenças entre elas originam as forças
diferencias.
gravitacionais diferenciais. Em cada ponto, a força
gravitacional diferencial é igual à diferença entre a força
gravitacional no centro de massa e a força gravitacional
no ponto.
A figura 01.08.01 ilustra as forças gravitacionais em
três pontos de um corpo extenso cujo centro de massa
está a uma distância r de outro, com massa M. No ponto
1, a força diferencial tem valor ΔF1 = F1 - FCM , e é dirigida
para o corpo M, no ponto 2 a força diferencial tem valor
ΔF2 = F2 - FCM e aponta em sentido contrário. Logo essas
forças tendem a alongar o corpo que as sofre, ou mesmo
rompê-lo.
Área 1, Aula 8, p.2
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.08.01: Forças gravitacionais em três pontos de um corpo extenso
cujo centro de massa está a uma distância r de outro, com massa M.

A força gravitacional no centro de massa é


proporcional a 1/r2, a força gravitacional no ponto 1 (F1) é
proporcional a 1/(r- Δr) 2, e a força gravitacional no ponto
Força diferencial
2 (F2) é proporcional 1/(r + Δr) 2. A força gravitacional
É a diferença entre a
diferencial em cada um desses pontos é a diferença entre
força gravitacional no
ponto e a força a força gravitacional no ponto e a força gravitacional no
gravitacional no centro centro de massa.
de massa.

Dedução da força diferencial

Figura 01.08.02: Esquema para ilustrar a dedução da força diferencial.

Considere as duas partículas da figura 01.08.02. Chamemos


de R a distância entre as duas partículas, e de r a distância
de M à partícula m2. O valor de ∆F será:

∆F = F2 − F1 ,

sendo:

GMm1
F1 = ,
(r − R)2
e

GMm2
F2 = .
r2

Então:

 m1 m 
F1 − F2 GM 
= 2
− 22  .
(r − R) r 

Fazendo m1 = m2 = m, podemos escrever:

Área 1, Aula 8, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
 r 2 − (r − R)2 
F1 − F2 =
GMm  2 2 
 r (r − R) 
 2rR − R2 
= GMm  4 3 2 2 
 r − 2Rr + r R 
 
 
2r − R
= GMmR  ,
  2R R2  
 r 4 1− + 2 
  r r  

 2R R2 
para r >> R, 2r − R ≅ 2r , e 1 − +  ≅ 1.
 r r 

Portanto, a expressão da força diferencial fica:

2GMm
∆F= R.
r3

Força diferencial
Podemos chegar a esse mesmo resultado tomando a
derivada da Lei de Gravitação Universal:
2GMm
∆F= R.
r3
GMm
F= − ,
r2

então:

dF 2GMm
= ,
dr r3

2GMm
dF = dr.
r3

Esta é a expressão da força diferencial dF na direção


de dr. É basicamente a mesma expressão derivada
anteriormente, com a diferença de que aqui temos dr onde lá
tínhamos R. Isso nos diz, portanto, que dr é a separação entre
os pontos para os quais estamos calculando a força
diferencial.
Marés
As marés na Terra constituem um fenômeno resultante
da atração gravitacional exercida pela Lua sobre a Terra e,
em menor escala, da atração gravitacional exercida pelo Sol
sobre a Terra.
A ideia básica da maré provocada pela Lua, por
exemplo, é que a atração gravitacional sentida por cada
ponto da Terra devido à Lua depende da distância do ponto
à Lua. Portanto a atração gravitacional sentida no lado da
Terra que está mais próximo da Lua é maior do que a sentida
no centro da Terra, e a atração gravitacional sentida no lado
da Terra que está mais distante da Lua é menor do que a
sentida no centro da Terra.
Área 1, Aula 8, p.4
Müller, Saraiva & Kepler
Maré provocada pela Lua
Figura 01.08.03: Forças de maré na Terra devido ao campo gravitacional da
A atração gravitacional
Lua. As setas pretas indicam o “puxão gravitacional”, em diferentes pontos
percebida pelo lado da
da Terra, proporcionado pela interação com a Lua. As setas vermelhas
Terra mais próximo da Lua
indicam as forças diferenciais que aparecem em cada ponto. O detalhe
é maior do que a
mostra como a força diferencial em um certo ponto é calculada pela
percebida no centro da
diferença (vetorial) entre a força gravitacional no ponto (Fp) e a força
Terra.
gravitacional no centro de massa do corpo (F).

Em relação ao centro da Terra, um lado está sendo


puxado para a Lua e o outro lado está sendo puxado no
sentido contrário. As partes sólidas da Terra resistem mais à
deformação, que se manifesta mais claramente nas grandes
porções líquidas. Como a água flui muito facilmente, ela se
“aglomera” em dois lados opostos da Terra, que fica com um
bojo de água no lado mais próximo da Lua e outro no lado
mais distante.

Em relação ao centro da
Terra, um lado está
sendo puxado no sentido
da Lua e o outro lado
está sendo puxado no
sentido contrário.
A água se a acumula
nesses dois lados opostos
da Terra.

Figura 01.08.04: Simulação das marés devido à Lua. Figura da Terra e da Lua
fora de escala.
As marés
Enquanto a Terra gira no seu movimento diário, o bojo
Seguem o dia lunar,
que tem duração
de água continua sempre apontando aproximadamente na
de 24 h 48 min. Em direção da Lua. Em um certo momento, um certo ponto da
um dia lunar Terra estará com a Lua aproximadamente no zênite, e terá
acontecem duas maré alta. Aproximadamente seis horas mais tarde
marés altas
(separadas de
(6 h 12 min), a rotação da Terra terá levado esse ponto a 90°
aproximadamente da Lua, e ele terá maré baixa. Dali a mais seis horas e doze
12 h 24 min), no minutos, o mesmo ponto estará a 180° da Lua, e terá maré
mesmo ponto da alta novamente. Portanto, as marés altas acontecem duas
Terra.
vezes a cada 24 h 48 min (que é a duração do dia lunar),
separadas de aproximadamente 12 h 24 min, no mesmo
ponto da Terra.

Área 1, Aula 8, p.5


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.08.05 : Simulação do movimento da Lua em torno da Terra e as
alterações da Maré. Figura fora de escala.

Se a Terra fosse totalmente coberta de água, a


máxima altura da maré seria 1 m. Como a Terra não é
completamente coberta de água, vários aspectos resultantes
da distribuição das massas continentais contribuem para que
a altura e a hora da maré variem de lugar a outro. Em
algumas baías e estuários as marés chegam a atingir 10 m de
altura.

Expressão da Força de Maré


Considere a atração gravitacional FP, sentida por uma
partícula em um ponto P na superfície da Terra, situado a uma
distância r da Lua. Seja d a distância centro a centro entre
Terra e Lua, e R o raio da Terra.

Figura 01.08.06: Forças gravitacionais em dois pontos da Terra (círculo da


esquerda) devidas à Lua (círculo da direita). No centro da Terra (C), que está
uma distância d do centro da Lua, a força é Fc; no ponto P, que está a uma
distância r da Lua, a força é Fp. A seta em vermelho indica a força
gravitacional diferencial no ponto P, calculada como a diferença entre Fp e
Fc. As setas azuis indicam as componentes da força gravitacional diferencial
na direção d e perpendicular a ela.

A força diferencial ΔF no ponto P em relação ao


centro da Terra, FC, é:
∆ F = Fp − FC .

Como a distância da Lua ao ponto, r, é muito maior do


que o raio da Terra, R, o ângulo θ é muito pequeno e a
direção da força Fp é quase paralela à direção da força FC e,
portanto, se pode dizer sem muita perda de precisão que
∆ F = Fp − FC .
Área 1, Aula 8, p.6
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.08.07: Como a distância (r) de um ponto qualquer da superfície da
Terra ao centro da Lua é muito maior do que o raio da Terra (R), podemos
considerar que, para qualquer ponto da Terra, a direção de r se mantém a
mesma, de forma que, em qualquer ponto, a diferença entre r e d é
Δr = Rcos ( φ ), onde φ é o ângulo, no centro da Terra, entre a direção do
ponto e a direção da Lua.

O valor de ΔF já foi obtido na seção anterior, e vale

2GMm
∆F= R.
r3

Nesta expressão, M é a massa do corpo que provoca


a maré (a Lua no nosso exemplo), m é a massa da partícula
teste, r é a distância do ponto onde se está medindo a maré
ao corpo provocador da maré, isto é, entre M e m, (em
média, a distância Terra-Lua, representada por d na figura
01.08.07), e Δr é a variação na distância r para diferentes
pontos do corpo ( R cos φ na figura 01.08.07).

Considerando que a força gravitacional média da Lua


sobre a Terra está aplicada no centro da Terra, a variação
máxima nessa força acontece para os pontos que estão
sobre a superfície da Terra, na direção da linha que une os
centros da Terra e da Lua, φ = 0 . A diferença de distância
entre esses pontos e o centro da Terra é o próprio raio da
Força de maré Terra, R, e, consequentemente, a máxima aceleração de
maré na Terra, devida à Lua, é
∆F M
= 2G 3 R. ∆F M
m d = 2G 3 R.
m d

A força ΔF pode ser decomposta em uma


componente vertical à superfície da Terra, e uma
componente horizontal. A componente vertical provoca
apenas uma leve variação do peso das massas localizadas no
ponto onde estamos calculando a força de maré; é a
componente horizontal que provoca a maré propriamente
dita.

Comparação das Marés Produzidas na Terra pela Lua e


pelo Sol

Como vimos na equação das forças diferencias, a


força de maré é diretamente proporcional à massa do corpo
que provoca a maré e inversamente proporcional ao cubo
da distância entre o corpo que provoca a maré e o que sofre
a maré.

Área 1, Aula 8, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Vamos comparar as marés produzidas pelo Sol e pela
Lua em uma partícula de massa m na superfície da Terra.

3
dF M  dL  2 x1030 kg  384 x103 km 
= =    =  0,46.
dFL ML  d  7,35 x1022 kg  1496 x105 

Maré
Portanto, embora a massa do Sol seja muito maior do
A maré provocada pelo que a da Lua, por ele estar também muito mais distante, a
Sol tem um efeito inferior a maré provocada pelo Sol tem menos da metade do efeito da
menos da metade do
provocada pela Lua.
efeito provocado pela
Lua.

Figura 01.08.08: Ilustração da Terra ao centro com a água em azul a lua em


duas posições opostas e o Sol.

Mas os efeitos das duas marés se combinam


Na Lua Nova e Lua Cheia,
vetorialmente, de forma que a intensidade da maré resultante
as duas forças se somam e depende da elongação da Lua.
produzem as marés cheias
mais altas e marés baixas Na Lua Nova e na Lua Cheia, as duas forças se somam
mais baixas. e produzem as marés cheias mais altas e marés baixas mais
baixas (são chamadas marés de sizígia, ou marés “vivas”). Na
Lua Quarto Crescente ou Quarto Minguante os efeitos da
maré são atenuados (marés de quadratura ou marés
“mortas”).

Veja uma simulação das marés em:


http://astro.unl.edu/classaction/animations/lunarcycles
/tidesim.html

Altura do Bojo de Maré

Seja aL a aceleração gravitacional de uma partícula


de massa m na superfície da Terra, causada pela Lua,
elevando-a uma altura hL.
Se considerarmos que a Energia potencial= m g hL
causada pelo deslocamento hL devido à maré da Lua
sobre uma massa m tem que ser equilibrado pelo
trabalho realizado pela força de maré devido à Lua = m daL RT
temos, então:
m g hL = m daL RT,

e
hL = (daL ⁄ g)RT ,

Área 1, Aula 8, p.8


Müller, Saraiva & Kepler
sendo g a aceleração gravitacional na superfície da Terra:

MT
g
= = 9,81N / kg,
RT

e daL a aceleração de maré devido à Lua na Terra:

daL = 2 G ML RT ⁄ dT3− L .

Obtemos:

hL = 0,72 m

e, similarmente para a maré do Sol:

Altura do bojo de maré


hS=0,32 m.

Devido à Lua: As Marés, a Rotação Sincronizada da Lua e a Evolução


hL = 0,72 m.
do Sistema Terra-Lua
Devido ao Sol:
hS=0,32 m.
A força de maré causada em uma partícula na Lua,
pela Terra, é dada por:

2GMTerra mpartícula
dF(T → L) = RLua ,
dL3− T

e a força de maré causada em uma partícula na Terra, pela


Lua, é dada por:

2GMLua mpartícula
dF(L → T ) = RTerra ,
dL3− T

MTera RLua
dF(T → L) = dF(L → T )  20 dF(L → T ) .
MLua RTerra

Lembre que a força de Ou seja, a força de maré na Lua provocada pela Terra
maré na Lua é aproximadamente 20 vezes a força de maré na Terra
provocada pela Terra provocada pela Lua.
é aproximadamente
20 vezes a força de Acredita-se que, no passado, o período de rotação da
maré na Terra Lua era menor do que o seu período de translação em torno
provocada pela Lua.
da Terra. Ao girar, ela tentava arrastar consigo os bojos de
maré, que sempre ficavam alinhados na direção da Terra.
Assim, havia um movimento relativo entre as diferentes
partes da Lua, o qual gerava atrito, que por sua vez tendia a
freiar a rotação. Devido a esse atrito a Lua foi perdendo
energia de rotação até ficar com a rotação sincronizada,
estado em que o período sideral é exatamente igual ao
período de revolução.

Área 1, Aula 8, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Não é só a Lua que tem rotação sincronizada; os dois
satélites de Marte, Phobos e Deimos, cinco luas de Júpiter
(incluindo os quatro satélites galileanos), 9 luas de Urano, a lua
Tritão de Netuno, Plutão e Caronte, todos têm rotação
sincronizada. A maré de Júpiter sobre Io, que está
aproximadamente à mesma distância de Júpiter que a Lua
está da Terra, causa vulcanismo acentuado em Io, já que
Júpiter tem massa 318 maior que a da Terra. A dissipação das
forças de maré em Io causam o vulcanismo, e a órbita é
mantida excêntrica por ressonância com Europa e
Ganímedes, causando deslocamentos verticais de até 100
metros.
Na órbita circular e sincronizada não existe movimento
relativo. A distorção ainda ocorre, mas há equilíbrio que não
envolve qualquer movimento relativo por qualquer parte da
matéria.
No estado atual de evolução do sistema Terra-Lua, a
Terra ainda tem que girar sob os bojos de maré, que ficam
sempre apontados para a Lua. O atrito gerado faz com que a
rotação da Terra diminua, aumentando o dia em 0,002
segundos por século.
Se o momentum angular de rotação da Terra diminui
por fricção, então a Lua tem que aumentar seu momentum

O giro da Terra sob os
bojos de maré geram um
angular orbital ( L ), movendo-se para mais longe da Terra.
atrito no movimento da Vamos ver porque isso acontece.
Terra que aumenta a
duração do dia em 0,002 s → → rotação → rotação → translação
por século. L total = L Terra + L Lua + L Terra− Lua

O momentum angular de translação da Lua é dado


por:
→ → →
L = m. r x v ,

onde r é o raio da órbita e v a velocidade orbital. Como:


v = 2 π r/ P,
e o período P
P2 = Kr3 ,
então:
2π r 2π −1/ 2
=v =
1/ 2 3/ 2
r ,
A força que K r K1/ 2
"empurra" a Lua para
fora é a gravidade 2π 2π
exercida pelo bojo de =L m
= 1/ 2
r .r −1/ 2 m 1/ 2 r1/ 2 ,
maré mais próximo da K K
Lua, que fica sempre um
pouco "adiantado" em
ou seja, aumentando o raio da órbita r, aumenta o momentum
relação à Lua porque é angular orbital, compensando a redução do momentum
arrastado junto com a angular de rotação (spin).
Terra no movimento de
rotação. A massa de A força que "empurra" a Lua para fora é a gravidade
água do bojo acelera a exercida pelo bojo de maré mais próximo da Lua, que fica
Lua, que ganha
sempre um pouco "adiantado" em relação à Lua porque é
velocidade tangencial,
se afastando da Terra. arrastado junto com a Terra no movimento de rotação. A
massa de água do bojo acelera a Lua, que ganha
velocidade tangencial, se afastando da Terra.

Área 1, Aula 8, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
figura 01.08.09: O bojo de maré mais próximo da Lua não aponta
exatamente para ela, mas sim para um ponto um pouco mais adiante dela,
pois é arrastado pela Terra no seu movimento de rotação (indicado pelas
setas pespontadas). A força gravitacional entre o bojo e a Lua (setas entre
bojo e Lua), tende a alinhar o bojo com a Lua, ao mesmo tempo em que
acelera a Lua. O resultado é que a Terra freia sua rotação e a Lua ganha
velocidade tangencial, aumentando o raio de sua órbita (setas em negrito).

Veja no simulador
http://astro.unl.edu/classaction/animations/lunarcycle
s/tidesim.html, o efeito de incluir ou não a rotação da Terra
na direção dos bojos de maré.

No futuro distante, daqui a cerca de 15 bilhões de


anos, a sincronização da órbita da Terra com a Lua implicará
em que o dia e o mês terão a mesma duração, que será
igual a aproximadamente 35 dias atuais! No passado, a Terra
devia girar mais rapidamente, e, portanto, o dia devia ser
mais curto. De fato, estudos palentológicos indicam que 100
milhões de anos atrás o ano tinha 400 dias, o dia 21 horas, e
as marés eram muito mais intensas, pois a Lua estava mais
próxima. Atualmente a Lua está se afastando
aproximadamente 3 cm por ano, que pode ser medido com
a reflexão de feixes de laser no espelho deixado pelos
astronautas na Lua. A evidência vem de certas criaturas
marinhas cujas conchas têm bandas de crescimento diários
e mensais, permitindo que os cientistas contem os números
de bandas em um ciclo mensal em fósseis de idades
diferentes. No artigo de Charles P. Sonett, Erik P. Kvale,
Aramais Zakharian, Marjorie A. Chan, Timothy M. Demko,
"Late Proterozoic and Paleozoic Tides, Retreat of the Moon,
and Rotation of the Earth" na Science vol 273, no. 5271, p. 100
de 05 de julho de 1996, eles apresentam indicações que o
dia tinha somente 18 horas cerca de 900 milhões de anos
atrás e a taxa de variação tem permanecido constante
desde então.
Limite de Roche
Uma consequência das forças de maré é que um
satélite em geral não pode chegar muito perto de seu
Limite de Roche planeta sem se romper. O limite de Roche é a distância
mínima do centro do planeta que um satélite fluido pode
É a menor distância
do centro do planeta
chegar sem se tornar instável frente a rompimento por maré.
que um satélite fluido
pode chegar sem
ficar instável frente a
rompimento por maré.

Figura 01.08.10: animação para um satélite fluido


Área 1, Aula 8, p.11 http://astro.if.ufrgs.br/fordif/node7.htm.
Müller, Saraiva & Kepler
Em 1850, o astrônomo francês Edouard Roche (1820-
1883) demonstrou que, para um satélite fluido, mantido apenas
por sua auto-gravidade, de densidade média ρm, orbitando
em torno de um planeta de densidade média ρm e raio R, a
distância mínima do planeta em que o satélite pode orbitar
estavelmente é

1/ 3
ρ 
d = 2, 44  M  R.
 ρm 
Se o planeta e o satélite têm densidades iguais, o limite
de Roche é 2,44 vezes o raio do planeta.
Uma derivação simples do limite se obtém
considerando duas partículas de massas m iguais, e se
tocando, isto é, separadas somente por uma distância dr. A
força gravitacional entre as partículas é dada por:

Gmm
FG = ,
( dr )
2

e a força de maré de um corpo de massa M, e a uma distância


d, sobre elas será:
2G Mmdr
FM = .
d3
Para as duas partículas permanecerem juntas, a força
gravitacional entre elas tem que balançar a força de maré,
logo

Gmm 2G Mmdr
= ,
( dr )
2
d3

d = ( 2 M / m)
1/ 3
dr .

Seja

M
ρM = ,
4 / 3 π R3

2m
ρm = ,
8 / 3π ( dr / 2)
3

então,

1/ 3
1/ 3  ρ  ρ 
=d (16
= )  ρ M  e R 2, 51 ρ M  .
 m  m
O valor da constante numérica, 2,51 ao invés de 2,44, é
porque não levamos em conta que as partículas formam um
fluido (têm força de van der Waals atuando entre as partículas,
além da força gravitacional).
Área 1, Aula 8, p.12
Müller, Saraiva & Kepler
Em 1974, Hans R. Aggarwald e Vern R. Oberbeck
estudaram o caso de ruptura por maré de corpos esferoidais
sólidos, rochosos ou gelados, mantidos coesos por forças de
tensão intrínsecas de seu material. Encontraram que, para
diâmetros maiores do que 40 km, a distância mínima que eles
podem chegar de seu planeta sem quebrar é:
1/ 3
ρ 
d =1, 38  M  R.
 ρm 

Para corpos externos que se aproximam do planeta a


distância que eles podem chegar é ainda um pouquinho
menor.
Questão: Qual a menor distância que a Lua pode
chegar da Terra sem se romper?
Usando
1/ 3
ρ 
d =1, 38  M  R.
 ρm 
e, considerando que:
MTerra = 5,97 x 1024 kg;
RTerra = 6.370 km;
MLua = 7,35 x 1022 kg, e
RLua = 1.738 km,
obtemos:
MTerra
=ρ Terra = 3
5 514kg / m3 ,
4 / 3π RTerra
MLua
=ρ Lua = 3
3 342kg / m3 .
4 / 3π RLua

Portanto,
1/ 3
 5 514kg / m3 
=d 1,=
38  3 
6370 7527km.
 3342kg / m 
Naturalmente, os satélites ou corpos impactantes
podem ser quebrados por outras causas, como por tensões
aerodinâmicas, dependendo da densidade da atmosfera do
planeta.
Enfim, os limites reais de aproximação mínima para os
corpos serem estáveis frente a forças de maré dependem do
tamanho e tensão interna dos corpos. Satélites sólidos podem
chegar mais perto do planeta do que satélites fluidos porque
as forças de tensão interna das rochas que o constituem o
mantêm estável. Corpos menores do que 40 km podem
chegar ainda mais perto do planeta sem quebrar por forças
de maré desde que eles sejam pequenos e duros o suficiente.
Por exemplo, os anéis de Saturno estão dentro do limite
de Roche de Saturno, o que significa que as pequenas
partículas que formam o anel têm forças coesivas maiores do
que as forças de maré. Entretanto, à medida que aumenta o
tamanho da partícula, suas forças coesivas ficam menos
importantes comparadas com as forças de maré, e essa é
uma provável explicação para o fato dessas partículas nunca
terem se juntado para formar um satélite. É possível que os
anéis de Saturno sejam resultado de um satélite ou cometa
que se aproximou demais do planeta e se quebrou devido às
Área 1, Aula 8, p.13
Müller, Saraiva & Kepler
forças de maré.
Figura 01.08.11: Simulação da disrupção da estrela RX J1242-11, observada
pelos satélites Chandra (NASA), XMM-Newton (ESA), e ROSAT (Alemanda).

Várias galáxias que observamos em colisões com outras


galáxias mostram o efeito da força de maré causando o
desmembramento das galáxias.
Precessão do Eixo da Terra
Outro efeito das forças diferenciais do Sol e da Lua na
Terra, além das marés, é o movimento de precessão da Terra.

Precessão do eixo da
Terra

Decorrente das forças


diferenciais do Sol e de
Lua.
As forças gravitacionais
diferenciais da Lua e do
Sol produzem um torque
que tende a alinhar o
eixo de rotação da
Terra com o eixo da Figura 01.08.12 : Ilustração para introduzir pecessão.
eclíptica, mas como
esse torque é
perpendicular ao O que causa a precessão?
momentum angular de
rotação da Terra, seu A Terra não é perfeitamente esférica, mas sim
efeito é mudar a achatada nos polos e bojuda no equador. Seu diâmetro
direção do eixo de equatorial é cerca de 40 km maior do que o diâmetro polar.
rotação, sem alterar sua Além disso, o plano do equador terrestre e, portanto, o plano
inclinação.
do bojo equatorial, está inclinado 23° 26' 21,418" em relação ao
plano da eclíptica, que por sua vez está inclinado 5° 8' em
relação ao plano da órbita da Lua.

Área 1, Aula 8, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.08.13: Movimento de um peão acima comparado ao movimento
da Terra, para explicar a precessão.

Por causa disso, as forças diferenciais (que ficam


mais importantes nos dois bojos da Terra) tendem não
apenas a achatá-la ainda mais, mas também tendem a
"endireitar" o seu eixo, alinhando-o com o eixo da eclíptica
(veja a figura 01.08.14).

Área 1, Aula 8, p.15


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.08.14: Forças gravitacionais atuando no centro e nos dois bojos
equatoriais da Terra (aqui extremamente exagerados). Devido à inclinação do
eixo de rotação da Terra, as forças de maré (representadas pelas setas
pequeninas nos bojos) formam um par conjugado que tende a alinhar o eixo
de rotação (eixo N-S, na figura) com o eixo da eclípltica (eixo vertical da
figura).

Figura 01.08.15: Ilustração de como a Terra está girando, o eixo da Terra não se
alinha com o eixo da eclíptica, mas precessiona em torno dele, da mesma
forma que um pião posto a girar precessiona em torno do eixo vertical ao solo.

No caso do pião (figura.01.08.16), o seu peso gera um



torque N :
→ → →
N = r x m. g ,

onde é o vetor posição do centro de massa do pião em



relação ao ponto de contato com o solo, e mg é a força

peso. Portanto o torque N é paralelo ao solo, perpendicular à
força peso, e perpendicular ao momemtum angular de
rotação do pião. Em módulo, seu valor é N = mgr sen (θ), sendo
θ o ângulo de inclinação do eixo do pião em relação à vertical
ao solo.
O efeito desse torque é variar o momentum angular

L do pião. Essa variação é expressa por
→ →
d L = Ndt,


ou seja, tem a mesma direção de N .
→ →
Como L e N são perpendiculares, o torque não altera o

módulo de L , mas apenas sua direção, fazendo-o precessionar
Área 1, Aula 8, p.16 em torno do eixo perpendicular ao solo.
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.08.16: Um pião de peso mg e momentum angular de rotação L; o
peso provoca um torque N, perpendicular a L, que causa uma variação dL
Em virtude do direcionada perpendiculamente a L, mudando a direção de L sem alterar
movimento de seu módulo.
precessão do eixo de
rotação da Terra os No caso da Terra, as forças gravitacionais diferenciais
pólos celestes não da Lua e do Sol produzem um torque que tende a alinhar o
ocupam uma posição
eixo de rotação da Terra com o eixo da eclíptica, mas como
fixa no céu.
esse torque é perpendicular ao momentum angular de
rotação da Terra, seu efeito é mudar a direção do eixo de
rotação, sem alterar sua inclinação.
Portanto, os polos celestes não ocupam uma posição
fixa no céu: cada polo celeste se move lentamente em torno
do respectivo polo da eclíptica, descrevendo uma
circunferência em torno dele com raio de 23,5o. O tempo
necessário para descrever uma volta completa é 25 770 anos.
Atualmente o Polo Celeste Norte está nas proximidades da
estrela Polar, na constelação da Ursa Menor, mas isso não
será sempre assim. Daqui a cerca de 13 000 anos ele estará
nas proximidades da estrela Vega, na constelação de Lira.

Caminho Aparente do Polo Norte Celeste no Céu

Figura 01.08. 17: Caminho do polo norte celeste (círculo) em torno do polo da
eclíptica (x no centro do círculo), devido ao movimento de precessão do eixo
Área 1, Aula 8, p.17 da Terra. O raio angular desse círculo é igual à obliquidade da eclíptica –
Müller, Saraiva & Kepler 23º27’. Atualmente o polo norte celeste está em Polaris (estrela Polar), daqui a
13.000 anos estará perto da estrela Vega. (A abrevidatura AD ao lado do ano
é usada em inglês para indicar os anos da era cristã).
Apesar de o movimento de precessão ser tão lento
(apenas 50,290966'' por ano), ele foi percebido já pelo
astrônomo grego Hiparco, no ano 129 a.C., ao comparar suas
observações da posição da estrela Spica (α Virginis) com
observações feitas por Timocharis de Alexandria (320 a.C. - 260
a.C.) em 273 a.C. Timocharis tinha medido que Spica estava a
172° do ponto vernal, mas Hiparco media somente 174°. Ele
concluiu que o ponto vernal havia se movido 2 graus em 144
anos.

Figura 01.08.18: Círculo e eixo vermelho: a eclíptica e seu eixo. Círculo e eixo
rosa: equador e eixo de rotação em uma época 1. Círculo e eixo preto:
equador e eixo de rotação numa época 2. Nota-se o deslocamento do ponto
Áries (representado pela letra grega gama ( γ ) ao longo da eclíptica entre as
duas épocas.

Caminho Aparente do Polo Sul Celeste no Céu

Área 1, Aula 8, p.18


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.08.19 Caminho do polo sul celeste (círculo) entre as estrelas, devido
ao movimento de precessão da Terra.
O Sol leva 20 min para se mover 50” na eclíptica (na
verdade a Terra leva 20 min para se mover 50” na sua órbita).
Por causa disso, o ano tropical, que é medido em relação aos
equinócios, é 20 min mais curto do que o ano sideral, medido
em relação às estrelas.

A precessão não tem nenhum efeito importante sobre


as estações, uma vez que o eixo da Terra mantém sua
inclinação de 23,5o em relação ao eixo da eclíptica enquanto
precessiona em torno dele. Como o ano do nosso calendário é
baseado nos equinócios, a primavera continua iniciando em
setembro no hemisfério sul, e em março no hemisfério norte. A
única coisa que muda são as estrelas visíveis no céu durante a
A precessão não tem
nenhum efeito noite em diferentes épocas do ano. Por exemplo, atualmente
importante sobre as Órion é uma constelação característica de dezembro, e o
estações, uma vez Escorpião é uma constelação característica de junho. Daqui a
que o eixo da Terra
mantém sua
13 000 anos será o oposto.
inclinação de 23,5o em As forças diferenciais do Sol e da Lua sobre a Terra
relação ao eixo da
eclíptica enquanto geram outros efeitos causados pela não esfericidade dos
precessiona em torno corpos e pela contribuição dos planetas. Você pode saber um
dele. pouco sobre esses outros efeitos ao final desta página:
astro.if.ufrgs.br/fordif/node8.htm#SECTION0013000000000000000
0

Resumo
Forças gravitacionais diferenciais
Forças gravitacionais em diferentes pontos de um corpo
extenso são diferentes. Essas diferenças entre elas originam as
forças gravitacionais diferencias.
A força gravitacional diferencial tem a expressão geral:

2GMm
∆F= R.
r3
Onde:
ΔF = força gravitacional entre duas partículas de um corpo extenso;
m = massa de cada partícula;
M = massa do corpo que causa a força gravitacional diferencial;
R = distância das duas partículas ao corpo extenso;
R = distância do corpo extenso ao corpo de massa M.

Marés

São originadas pelas forças gravitacionais diferenciais


da Lua e do Sol, sendo que a do Sol tem maior intensidade.
Maré provocada pela Lua
A atração gravitacional percebida pelo lado da Terra
mais próximo da Lua é maior do que a percebida no centro da
Terra. Em relação ao centro da Terra, um lado está sendo
puxado no sentido da Lua e o outro lado está sendo puxado
no sentido contrário. A água se a acumula nesses dois lados
opostos da Terra.
As marés acontecem a cada 24 h e 48 min, ou seja, a
cada dia lunar, que tem exatamente essa duração.
Na Lua Nova e Lua Cheia, as duas forças se somam e
produzem as marés cheias mais altas e marés baixas mais
baixas.
Área 1, Aula 8, p.19
Müller, Saraiva & Kepler
Maré provocada pelo Sol
A maré provocada pelo Sol tem um efeito inferior a
menos da metade do efeito provocado pela Lua.
A força de maré na Lua provocada pela Terra é
aproximadamente 20 vezes a força de maré na Terra
provocada pela Lua.
A força que "empurra" a Lua para fora é a gravidade
exercida pelo bojo de maré mais próximo da Lua, que fica
sempre um pouco "adiantado" em relação à Lua porque é
arrastado junto com a Terra no movimento de rotação. A
massa de água do bojo acelera a Lua, que ganha
velocidade tangencial, se afastando da Terra.
Limite de Roche
É a menor distância do centro do planeta que um
satélite fluido pode chegar sem ficar instável frente a
rompimento por maré.
Precessão do Eixo da Terra
Decorrente das forças diferenciais do Sol e de Lua. As
forças gravitacionais diferenciais da Lua e do Sol produzem
um torque que tende a alinhar o eixo de rotação da Terra
com o eixo da eclíptica, mas como esse torque é
perpendicular ao momentum angular de rotação da Terra,
seu efeito é mudar a direção do eixo de rotação, sem alterar
sua inclinação.
Em virtude do movimento de precessão do eixo de
rotação da Terra os polos celestes não ocupam uma posição
fixa no céu.
A precessão não tem nenhum efeito importante sobre
as estações, uma vez que o eixo da Terra mantém sua
inclinação de 23,5o em relação ao eixo da eclíptica enquanto
precessiona em torno dele.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. O que são forças gravitacionais diferenciais? O que


origina o “diferencial” na força gravitacional diferencial?
2. Certifique-se que você entende o significado de
cada termo do lado direito da expressão da força de maré
ΔF α MR/d3.
3. Sobre as marés oceânicas na Terra:
a) qual a causa das marés na Terra?
b) por que existem duas marés altas por dia, e não
apenas uma?
c) qual o intervalo de tempo entre duas mares altas?
d) as fases da Lua influenciam as marés? Como?
Área 1, Aula 8, p.20
Müller, Saraiva & Kepler
4. Como seriam as marés na Terra, comparadas com as
reais, se:
a) a Lua estivesse mais perto?
b) a Terra fosse maior?
c) a Lua fosse menos massiva?
d) a Lua fosse maior, mas de mesma massa?
5. Qual a relação entre a rotação sincronizada da Lua e
as marés?
6. Calcule a razão entre a força de maré na Lua,
causada pela Terra, e compare com a força de maré na Terra,
causada pela Lua. Qual é a maior? Quantas vezes é maior?
7. O que é limite de Roche?
8. Considere um planeta e seu satélite, com massas M e
m respectivamente. Mantidas constantes as massas dos dois,
como varia o limite de Roche desse planeta em relação a esse
satélite se:
a) dobrar o raio do planeta?
b) dobrar o raio do satélite?
9. Qual a relação entre as forças diferenciais
gravitacionais e o movimento de precessão da Terra? Como é
esse movimento de precessão? Qual o seu período? A
precessão muda as estações do ano? Explique.
10. Qual o efeito da precessão na posição das estrelas?
Por que o ponto Áries tem esse nome se ele se localiza na
constelação de peixes?
Até a próxima aula!

Área 1, Aula 8, p.21


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 9 - Sistema solar: planetas.
Área 1, Aula 9

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

O sistema solar.

Introdução
Prezado aluno, em nossa nona aula, da primeira
área, vamos estudar o sistema solar e os planetas.

Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos do sistema solar e dos seus
planetas constituintes, e esperamos que ao final você
esteja apto a:
• descrever em linhas gerais a escala do
sistema solar;
• estabelecer as propriedades básicas que
diferenciam planetas terrestres e jovianos;
• resumir a teoria atualmente aceita para a
formação do sistema solar, salientando
como essa teoria justifica a teoria de
planetas terrestres e jovianos;
• entender como as propriedades físicas dos
planetas são determinadas e aplicar esse
conhecimento em casos reais.

Como se formou o sistema


solar?
O Sistema Solar

Sistema solar
Sol Mercúrio Vênus Terra Marte
Constituído pelo Sol, pelos
planetas (Mercúrio, Vênus,
Terra Marte, Júpiter, Saturno,
Urano, Netuno), planetas
anões, asteroides, cometas,
meteoroides e meteoritos.

Júpiter Saturno Urano Netuno Plutão

Asteroides Cometas Meteoroides e Meteoritos

Figura 01.09.01: O Sol, os planetas e demais constituintes do sistema solar


com links.

Figura 01.09.02: O "novo" sistema solar, após a implementação da classe


dos "planetas anões" pela União Astronômica Internacional, em 2006.
Área 1, Aula 9, p.2 Figura: Wikipedia.
Müller, Saraiva & Kepler
Nosso sistema solar está composto pela nossa
estrela, o Sol, pelos oito planetas com suas luas e anéis,
além dos planetas anões, asteroides e cometas. Os cinco
planetas mais brilhantes, que são visíveis a olho nu, já eram
conhecidos desde a antiguidade. A palavra planeta em
grego quer dizer astro errante. Depois da invenção do
telescópio, outros 2 planetas do sistema solar foram
descobertos: Urano em 1781 por William Herschel (1738-
1822), Netuno em 1846 por previsão de Urbain Jean Joseph
Le Verrier (1811-1877) e John Couch Adams (1819-1892).
Plutão foi descoberto em 1930 por Clyde William
Tombaugh (1906-1997), e classificado até agosto de 2006
como o nono planeta do sistema solar. Desde então a
União Astronômica Internacional reclassificou Plutão como
planeta anão, constituindo uma nova categoria de corpos
do sistema solar, na qual também foram encaixados Ceres,
o maior objeto do cinturão de asteroides entre as órbitas de
Marte e Júpiter, e Éris (2003UB313) o maior asteroide do
cinturão de Kuiper. Mais informações sobre asteroides serão
dadas na aula sobre corpos menores do sistema solar.
Os nomes dos planetas são associados a deuses
romanos: Júpiter, deus dos deuses; Marte, deus da guerra;
Mercúrio, mensageiro dos deuses; Vênus, deusa do amor e
da beleza; Saturno, pai de Júpiter, deus da agricultura;
Urano, deus do céu e das estrelas, Netuno, deus do mar e
Plutão, deus do inferno.
Uma frase mnemônica para lembrar a ordem é:

Meu Velho Tio Me Jurou Ser Um Netuniano


E Ê E A U A R E
R N R R P T A T
C U R T I U N U
Ú S A E T R O N
R E N O
I R O
O

Ou:

Minha Vó Tem Muitas Joias Sem Usar Nenhuma.

O corpo dominante é o Sol, que tem 99,85% da


massa do sistema. Em comparação com a Terra, o Sol é
34.000 vezes mais massivo e 1 milhão de vezes maior em
volume.

Tabela 01.09.01: Animação dos tamanhos relativos dos planetas e do Sol


(coluna da esquerda) e as massas relativas dos diversos componentes do
sistema solar.

Área 1, Aula 9, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Todos os planetas giram em torno do Sol
aproximadamente no mesmo plano e no mesmo sentido, e
quase todos os planetas giram em torno de seu próprio eixo
no mesmo sentido da translação em torno do Sol.

Figura 01.09.03: Nesta figura os tamanhos relativos das órbitas dos planetas
estão em escala entre si; mas não na mesma escala dos tamanhos dos
planetas. A única órbita acentuadamente não coplanar com as demais é a
de Plutão. Todos os planetas orbitam o Sol no mesmo sentido.

Figura 01.09.04: Inclinação do eixo de rotação dos planetas em relação ao


eixo das respectivas órbitas. A maioria dos planetas giram no sentido anti-
horário na perspectiva de quem olha para seus polos norte.

Figura 01.09.05: Órbitas dos planetas externos em torno do Sol e do cometa


Halley (elipse bastante excêntrica). A órbita de Plutão é inclinada 17° em
relação ao plano médio dos outros planetas.

Origem do Sistema Solar

Figura 01.09.06: Concepção artística sobre as etapas de formação do sistema


solar, a partir do colapso de uma nebulosa. Fonte: Centro Ciência Viva do
Área 1, Aula 9, p.4 Algarve.
Müller, Saraiva & Kepler
A hipótese moderna para a origem do sistema solar é
baseada na hipótese nebular, sugerida em 1755 pelo filósofo
alemão Immanuel Kant (1724-1804), e desenvolvida em 1796
pelo matemático francês Pierre-Simon de Laplace (1749-1827),
em seu livro Exposition du Systéme du Monde. Laplace, que
desenvolveu a teoria das probabilidades, calculou que como
todos os planetas estão no mesmo plano, giram em torno do
Sol no mesmo sentido, e também giram em torno de si mesmo
Principal hipótese para a
formação do sistema solar no mesmo sentido (com exceção de Vênus e de Urano), só
poderiam ter se formado de uma mesma grande nuvem
A hipótese mais discoidal de partículas em rotação, a nebulosa solar. A versão
provável para a origem moderna da teoria nebular propõe que uma grande nuvem
do sistema solar a partir de rotante de gás interestelar colapsou para dar origem ao Sol e
uma nuvem de gás aos planetas. Uma vez que a contração iniciou, a força
interestelar que colapsou,
gravitacional da nuvem atuando em si mesma acelerou o
a nebulosa solar.
colapso. À medida que a nuvem colapsava, a rotação da
nuvem aumentava por conservação do momentum angular
e, com o passar do tempo, a massa de gás rotante assumiria
uma forma discoidal, com uma concentração central que
deu origem ao Sol. Os planetas teriam se formado a partir do
material no disco.
As observações modernas indicam que muitas nuvens
de gás interestelar estão no processo de colapsar em estrelas,
e os argumentos físicos que predizem o achatamento e o
aumento da taxa de spin estão corretos.

Figura 01.09.07: A contribuição moderna à hipótese nebular diz respeito


principalmente a como os planetas se formaram a partir do gás no disco, e foi
desenvolvida nos anos 1940 pelo físico alemão Carl Friedrich Freiherr von
Weizäcker (1912-2007).

Após o colapso da nuvem, ela começou a esfriar;


apenas o protossol, no centro, manteve sua temperatura. O
resfriamento acarretou a condensação rápida do material, o
que deu origem aos planetesimais, agregados de material
com tamanhos da ordem de quilômetros de diâmetro, cuja
composição dependia da distância ao Sol: regiões mais
externas tinham temperaturas mais baixas, e mesmo os
materiais voláteis tinham condições de se condensar, ao
passo que nas regiões mais internas e quentes, as substâncias
voláteis foram perdidas. Os planetesimais a seguir cresceram
por acreção de material para dar origem a objetos maiores,
os núcleos planetários. Na parte externa do sistema solar,
onde o material condensado da nebulosa continha silicatos e
gelos, esses núcleos cresceram até atingirem massas da
ordem de 10 vezes a massa da Terra, ficando tão grandes a
ponto de poderem atrair o gás a seu redor, e então
cresceram mais ainda por acreção de grande quantidade de
hidrogênio e hélio da nebulosa solar. Deram origem assim aos
planetas jovianos. Na parte interna, onde apenas os silicatos
estavam presentes, os núcleos planetários não puderam
crescer muito, dando origem aos planetas terrestres.
A melhor determinação da idade do sistema solar vem
da determinação das abundâncias isotópicas dos elementos
que têm isótopos radiativos e estáveis: (4,57 ± 0,02) bilhões de
anos.
Área 1, Aula 9, p.5
Müller, Saraiva & Kepler
Características Gerais dos Planetas

Tabela 01.09.02: Características gerais dos planetas.

Composição Química Interna

Tabela 01.09.03: indicação dos principais componentes dos planetas jovianos e


dos planetas terrestres.

Planetologia Comparada
Características gerais dos planetas
Existem dois tipos básicos de planetas, os terrestres, que
são do tipo da Terra, e os jovianos, que são do tipo de Júpiter.
Os planetas terrestres compreendem os quatro planetas mais
próximos do Sol: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Os jovianos
compreendem os quatro planetas mais distantes, Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno. As características fundamentais de
cada tipo estão resumidas na tabela 01.09.06.

Tabela 01.09.04: Propriedades fundamentais dos Planetas

Área 1, Aula 3, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Determinação das características:
Massa: determinada a partir da terceira lei de Kepler,
se o planeta tem satélites. Se não tem, é determinada a
partir de perturbações causadas nas órbitas de outros
planetas ou de satélites artificiais que são enviados até esses
planetas.

a3
M + m =2 ,
P

Raio: medido diretamente do tamanho angular,


desde que se conheça a distância do planeta.
Distância ao Sol: Determinada por triangulação; no
caso dos planetas mais próximos da Terra, atualmente,
pode-se fazer por medidas de radar.
Composição química: pode ser estimada a partir da
densidade média do planeta, e por espectroscopia, que
vamos ver mais adiante nesta disciplina.

Figura 01.09.08: Gráfico que relaciona a densidade média (kg/m3) dos


planetas do Sistema Solar com suas distâncias médias ao Sol

Outras propriedades importantes dos planetas são:


Rotação: detectada a partir da observação de
aspectos de sua superfície, por medidas de efeito Doppler
(quando o planeta gira, as duas bordas apresentam
velocidades em relação à Terra com sentidos opostos, de
maneira que a radiação que vem de uma borda apresenta
desvio para comprimentos de onda menores enquanto a
radiação que vem da outra borda apresenta desvios para
comprimentos de onda maiores), ou por medidas da taxa
de rotação do campo magnético.
Temperatura: como os planetas obtém a maior parte
de sua energia da luz solar, suas temperaturas dependem
basicamente de sua distância ao Sol. Existe uma relação
simples entre a temperatura característica, ou temperatura
efetiva (Tef) de um planeta e sua distância ao Sol (a):

1
Tef α .
a

Área 1, Aula 9, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Assim, sabendo a temperatura efetiva da Terra (260 K,
na ausência de atmosfera), podemos estimar a temperatura
efetiva dos outros planetas simplesmente dividindo 260 pela
raiz quadrada de sua distância ao Sol em unidades
astronômicas.
Reflectividade: parte da energia solar incidente sobre o
planeta é refletida, e parte é absorvida. A fração da energia
solar total incidente que é refletida chama-se albedo (A).
energia espalhada em todas as direções
A= .
energia solar incidente

O resto da energia (1-A),é absorvida e re-emitida em


forma da radiação infravermelha.
Estrutura Interna
Para conhecer a estrutura interna dos planetas é
necessário saber de que forma certos parâmetros físicos, como
pressão, temperatura e densidade, variam com o raio. Como
um exemplo, a densidade média (massa/volume) da Terra é
5,5 g/cm3 e a densidade das rochas (silicatos) na superfície é
de 2,6 g/cm3. Logo a Terra deve ter uma estrutura interna
diferenciada.

Tabela 01.09.05: Indicação da estrutura interna do planeta Terra.

A distribuição de massa (ρ) pode ser obtida através do


momento de inércia I em torno do eixo de rotação
(L= I w):

I = K MR2 .

O fator K caracteriza a distribuição interna de matéria.


Se a densidade for homogênea, K = 0,4; se a densidade for
maior nas partes centrais K < 0,4, e vice-versa. Os planetas
jovianos também se distinguem dos planetas terrestres por
possuírem valores menores de K. A partir de estudos do
momento de inércia sabe-se que os núcleos dos planetas
jovianos é mais denso e, portanto, menor, e também que
Júpiter e Saturno não podem ter superfície sólida de tamanho
significativo, isto é, só pode ter um núcleo sólido pequeno.
A estrutura interna de um planeta pode ser bem
conhecida se for possível medir a transmissão de ondas
sísmicas nele. Essas ondas podem ser produzidas por
terremotos naturais ou por impactos artificiais, e se propagam
em materiais sólidos, como rochas, portanto é uma técnica
que se aplica a planetas terrestres. Até o momento, somente a
estrutura da Terra e da Lua foram investigadas usando esta
técnica, o que mostrou claramente a existência de um núcleo
metálico na Terra e a ausência de núcleo metálico na Lua.
Área 1, Aula 9, p.8
Müller, Saraiva & Kepler
No caso de planetas jovianos, a estrutura interna
pode ser conhecida por mapeamento do campo
gravitacional estudando a órbita de uma sonda espacial
quando passa pelo planeta, ou aplicando o formalismo
hidrostático, que parte do princípio que, se o planeta não
está nem se expandindo nem se contraindo, ele tem que
obedecer à equação de equilíbrio hidrostático, isto é, em
cada ponto, o peso das camadas superiores é balanceado
pela força de pressão das camadas inferiores
dP  G Mρ 
= − 2 ,
dr  r 
onde ρ é a densidade, r é a distância ao centro e M é a
massa interna a um raio r. O sinal (-) indica que a pressão
aumenta à medida que o raio diminui.
Considerando que a pressão na superfície é muito
menor que a pressão no centro, podemos integrar a
equação de equilíbrio hidrostático do centro (r = 0, P = Pc)
até a superfície (r = R, P = Ps << Pc) a pressão central é dada
por:


Pc  GR2 ρ 2 .
3
A pressão a uma distância r Pr do centro do planeta
fica:

=Pr
3
(
G ρ 2 R2 − r 2 , )
que, em unidades do sistema internacional é:

= ( )
Pr 1,4 x10 −10 ρ 2 R2 − r 2 N m2 kg−2 .

O formalismo hidrostático é mais aplicável aos


planetas jovianos, que são gasosos. No caso dos planetas
terrestres, que têm crosta sólida, ele só se aplica às camadas
mais profundas.
De um modo geral, os planetas terrestres têm uma
atmosfera gasosa, uma superfície sólida bem definida e um
interior na maior parte sólido (embora a Terra tenha um
núcleo externo líquido). Os planetas jovianos têm uma
atmosfera gasosa, nenhuma superfície sólida, e um interior
líquido na maior parte. As estruturas internas dos planetas
jovianos (também chamados gigantes) e terrestres estão ser
esquematizadas na figura. 01.09.09.

Área 1, Aula 9, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Planetas terrestres

Planetas pequenos e
rochosos que orbitam nas
proximidades do Sol.

Planetas jovianos

Planetas grandes e Figura 01.09.09: Esquematização das estruturas dos planetas jovianos (à
gasosos que orbitam mais esquerda) e dos planetas terrestres (à direita).
distantes do Sol.
Superfícies
As superfícies planetárias podem ser conhecidas de
forma preliminar a partir do albedo, se o planeta não tem
atmosfera espessa. Em planetas com atmosfera espessa,
como os planetas jovianos e Vênus, o albedo não se refere à
superfície. Júpiter, Saturno e Netuno emitem quantidade
significativa de energia própria, às custas de seus calores
residuais de contração. A convecção necessária para o
transporte desta energia é que causa as grandes manchas
(tornados) nestes planetas.

Figura 01.09.10: As superfícies da Lua e de Mercúrio são parecidas, com


grande número de crateras e grandes regiões baixas e planas.

Figura 01.09.11: Marte apresenta uma superfície com montanhas, vales e


canais.

Área 1, Aula 9, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.09.12: A superfície de Vênus não é visível devido às densas nuvens de
ácido sulfúrico que cobrem o planeta (à esquerda), mas estudos em rádio
(radar) revelam que essa superfície é composta principalmente de terrenos
baixos e relativamente planos, mas também apresenta planaltos e
montanhas(à direita).

Os principais processos que determinam alterações na


crosta posteriormente à sua formação e, portanto,
determinam o rejuvenescimento da crosta, são: atividade
geológica, erosão e cratereamento.

Atividade geológica
A atividade geológica, compreendendo vulcanismo e
atividade tectônica, depende da quantidade de energia
interna do planeta. A atividade geológica é decrescente para
Terra, Vênus e Marte.
A Terra, com cerca de 4,5 bilhões de anos, é um pouco
mais jovem do que o Sol, com cerca de 5 bilhões de anos. Na
Terra, tanto a presença de vulcões ativos quanto o movimento
das placas tectônicas contribuem para o renovamento da
crosta. Em Marte existem grandes vulcões, e alguns deles
podem ser ativos, mas não há evidência de tectonismo de
placas.
Na Lua atualmente acontecem poucos sismos por anos
(milhares, comparados com milhões na Terra), mas na época
em que a Lua era jovem, há cerca de 4 ou 3 bilhões de anos,
houve um grande vazamento de lava à superfície, que
posteriormente se solidificou formando os mares (marias)
lunares (regiões escuras, aparentemente baixa e planas, e que
contêm muitas crateras). A Lua tem crosta assimétrica, sendo
mais delgada (60 km) no lado voltado para a Terra, e mais
espessa (150 km) no lado oposto. O número de mares é maior
no lado em que a crosta é delgada.
Vênus aparentemente é menos ativo do que a Terra,
mas parece ter mais atividade geológica persistente do que
Marte. Isso indica que Vênus teria retido mais energia interna
residual do que Marte, o que está de acordo com o fato de
Vênus ser maior do que Marte. Também acontece atividade
geológica em Io, o satélite de Júpiter mais próximo do
planeta. Io apresenta um alto nível de atividade vulcânica.

Área 1, Aula 9, p.11


Müller, Saraiva & Kepler Figura 01.09.13: Foto de Ariel, que assim como Titânia, satélites de Urano,
também apresentam sinais de atividade catastrófica recente.
Erosão
A erosão pode ser resultado da ação da atmosfera ou
da hidrosfera. Não existe erosão nem em Mercúrio e nem na
Lua. Na Terra existe erosão, como é evidenciado pela
existência de rochas sedimentares. Mas o planeta em que a
erosão é mais importante é Marte, devido às frequentes
tempestades de poeira que assolam sua superfície.

Figura 01.09.14: Foto de cratera de origem vulcânica, na Terra.

Crateramento
As crateras aparecem em todos os planetas terrestres
e em quase todos os satélites do Sistema Solar. Elas podem ter
origem vulcânica ou de impacto. As crateras vulcânicas são
em geral menores e mais fundas do que as de impacto. Na
Terra, a maioria das crateras existentes são de origem
vulcânica, uma vez que a atividade interna da Terra, assim
como a erosão, apagaram grande parte dos efeitos de
impactos ocorridos na época em que muitos corpos residuais
do processo de formação povoavam o Sistema Solar. Mas na
Lua, Mercúrio e Marte, as crateras de impacto são
dominantes. As recentes observações com radar da
superfície de Vênus mostraram que esse planeta também tem
crateras, mas ainda não se sabe ao certo sua principal
origem.
O número de crateras de impacto numa superfície nos
permite estimar a sua idade, pois o número de crateras é
proporcional ao tempo decorrido desde que a superfície foi
exposta. Portanto, em um dado planeta, o terreno mais
cratereado será sempre o mais antigo.

Cálculo da Energia de um Impacto

No impacto, a energia cinética


1
Ecinética = mv2 ,
2
é parcialmente transformada em uma onda de choque que
se propaga pelo corpo impactado, e parte é dissipada na
forma de calor. A velocidade de colisão é, no mínimo, igual à
velocidade de escape do corpo que está colidindo

2GM
vescape = ,
R

Área 1, Aula 9, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
(11 km/s para a Terra, e 2,4 km/s para a Lua). Assim, para um
asteroide típico, com raio = 2,1 km e densidade = 1 g/cm3, sua
energia cinética ao colidir com a Terra será (no mínimo)
Ec = 2,4 × 1028 ergs = 5,7 × 108 kton TNT. A energia associada ao
TNT (Tri-Nitro-Tolueno = nitroglicerina) é 4,2 × 1010 ergs/g.
Para ter uma ideia do que isso representa, a energia
associada a uma bomba atômica é de 20 kton TNT, logo no
impacto mencionado acima a energia liberada seria
equivalente à de 30 milhões de bombas atômicas!
O tamanho da cratera gerada é proporcional à
potência 1/3 da energia do impacto. Assim, sabendo que um
impacto com energia de 1 Mton TNT abre uma cratera de
1 km de diâmetro, num impacto como o acima descrito a
cratera aberta teria um diâmetro de 80 km.

Figura 01.09.15: A cratera de Chicxulub, no México, supostamente gerada no


impacto que causou a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos, tem
diâmetro de 200 km, e acredita-se que o asteróide que a provocou tinha um
diâmetro de no mínimo 10 km.

A energia liberada na explosão citada na Figura.


01.09.15, foi equivalente a 5 bilhões de bombas nucleares do
tamanho da bomba de Hiroshima. Cálculos atuais mostram
que impactos grandes como esse, na Terra, ocorrem numa
taxa de 1 a cada 30 milhões de anos. Possivelmente o
continente primordial, Pangea, foi rompido a 225 milhões de
anos pela colisão de um grande asteroide.
Atmosferas
A composição da atmosfera dos planetas pode ser
conhecida pela análise espectral da luz solar que eles
refletem. Como essa luz solar refletida atravessou parte da
atmosfera do planeta, e as moléculas do gás na atmosfera
absorvem certos comprimentos de onda, o espectro
apresenta certas linhas escuras que não aparecem no
espectro solar. A identificação dessas linhas escuras permite
identificar os gases que as produziram, assim como a pressão e
temperatura da atmosfera.
Os gases presentes na atmosfera de um planeta
depende dos constituintes químicos de que o planeta se
formou, e da massa do planeta. Os planetas terrestres se
formaram sem atmosferas extensas, e sua atmosfera atual não
é primitiva, mas sim foi formada ao longo do tempo geológico
a partir de gases escapados de seu interior. O impacto com
Área 1, Aula 9, p.13 cometas também contribui com alguns componentes dessa
Müller, Saraiva & Kepler atmosfera secundária.
Já os planetas massivos têm um tipo de atmosfera
totalmente diferente, dominada pelos gases mais leves e
mais comuns, especialmente hidrogênio e hélio.
Evidentemente esses planetas foram capazes de reter o gás
presente no sistema solar na época de sua formação.
Retenção de atmosferas
A retenção de atmosferas é um compromisso entre a
energia cinética (ou temperatura) das moléculas do gás e a
velocidade de escape do planeta (ou de sua massa).
Sabe-se que para um gás ideal, a energia cinética
média de suas moléculas é
1 3
mv 2 = k T ,
2 2
onde k é a constante de Boltzmann, T é a temperatura
absoluta do gás, m é a massa das moléculas do gás e v sua
velocidade média.
A constante de Boltzmann: k = 1,381 × 10-23J/K.
Portanto, a velocidade média é

3kT
v= .
m
A velocidade das moléculas, portanto, depende da
temperatura do gás e da massa molecular do gás. A uma
mesma temperatura, quanto mais pesado o gás, menor a
velocidade média de suas moléculas.
Como as moléculas do gás têm uma distribuição
Maxwelliana de velocidades, a probabilidade P(v) de que
uma partícula tenha velocidade (v) é dada por:
mv2
1 − 2kT
P ( v) = e .

Algumas moléculas têm velocidade maior que a velocidade


média.

Figura 01.09.16: Gráfico que relaciona o número de partículas de gás que


escapam em função de suas velocidades. Em destaque a velocidade
média.

Área 1, Aula 9, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
Para calcular quantas partículas escapam, integramos
a distribuição de velocidades de Maxwell desde a velocidade
de escape até velocidade infinita.


Pmax = ∫ P ( v ) dv.
vesc

Estes cálculos mostram que, para um planeta reter um


certo gás por bilhões de anos, a velocidade média de suas
moléculas deve ser menor do que 1/6 da velocidade de
escape do planeta, já que:


∫ P ( v ) dv =10
−9
.
6

ou seja, somente 1 em cada um bilhão de partículas escapa.

1 1
v ≤ vescape = 2GM/ r.
6 6
k = 1,38 x 10-16 ergs/K,
mp = 1,66 x 10-24 g,
mO = 16 mp,
G = 6,67 x 10-8g-1 cm3 s-1,
MTerra = 5,98 x 1027 g,
RTerra = 6,37 x 108 cm.
Por exemplo, a velocidade média das moléculas do
oxigênio, a uma temperatura de 293 K (temperatura típica na
superfície da Terra), é de 1 km/s, e a velocidade média das
moléculas do hidrogênio, na mesma temperatura é de 2 km/s.
Como a velocidade de escape da Terra é 11 km/s, que é mais
do que o sêxtuplo da velocidade média das moléculas de
oxigênio, mas é menos do que 6 vezes maior do que a
velocidade média das moléculas do hidrogênio, a atmosfera
da Terra retém o oxigênio, mas não o hidrogênio.

Tabela 01.09.06: Velocidade de escape dos planetas.

Área 1, Aula 9, p.15


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.09.17: O diagrama mostra a velocidade de escape em função da
temperatura superficial dos planetas e de alguns satélites (círculos pretos),
juntamente com a variação da velocidade dos gases H (linha vermelha), hélio
(linha verde), vapor d´água (linha rosa), dióxido de oxigênio e de nitrogênio
(linha azul) e gás carbônico (linha preta) em função da temperatura.

A maioria dos planetas que têm atmosferas


experimenta alguma elevação da temperatura de sua
superfície devido ao efeito de acobertamento pela atmosfera,
o chamado efeito estufa. O efeito estufa é maior para Vênus,
que na realidade, tem uma temperatura superficial mais alta
do que a de Mercúrio, embora esteja muito mais distante do
Sol do que este.
Isso acontece por causa da grande quantidade de
CO2 na atmosfera de Vênus. Como este gás é opaco à
radiação infravermelha, quando a superfície do planeta
absorve a luz solar e re-irradia parte dele como calor
(radiação infravermelha), o dióxido de carbono na atmosfera
impede que essa radiação escape para fora. Em
consequência, a superfície aquece.
Na Terra, a quantidade de dióxido de carbono foi
reduzida como consequência da existência de vida. Na
ausência de vida provavelmente teríamos uma atmosfera
mais massiva e dominada por CO2.
Os organismos vivos contribuem para a diminuição
desse gás na atmosfera de duas maneiras: uma é que as
criaturas marinhas usam os carbonatos como principal
constituinte de suas conchas e carapaças protetoras. Quando
elas morrem, essas cascas afundam e se petrificam, até que
eventualmente são ejetadas para a superfície nas explosões
vulcânicas.
Mas os organismos vivos rapidamente os reciclam
novamente. A outra maneira como a vida remove o CO2 é
pela produção de depósitos de combustíveis fósseis,
predominantemente o carvão. O petróleo não é mais
necessariamente considerado um combustível fóssil
(biogênico), pois pode ser um hidrocarboneto primordial
abiogênico), ao qual produtos biológicos foram adicionados.
Apesar de existir em pequena quantidade, o CO2
presente na atmosfera da Terra ainda é o principal fator da
produção do efeito estufa na Terra, embora o vapor d'água e
os CFCs também contribuam.
Área 1, Aula 9, p.16
Müller, Saraiva & Kepler
Estima-se que a temperatura média da Terra está
atualmente 1oC mais alta do que estava há um século. O
nível do mar aumentou cerca de 15 a 20 cm neste século.

Figura 01.09.18: Acima: medidas da variação da temperatura global em


relação à temperatura de 1950, mostrando um aumento de 0,8 K até o ano
2.000. Abaixo: um modelo de variação da temperatura no topo da
troposfera até o ano 2.100, baseado na tendência atual. É previsto um
aumento de 0,6 K em 100 anos. É importante notar que na última era glacial
a variação de temperatura no topo da troposfera foi de apenas 0,2 K.

Área 1, Aula 9, p.17


Müller, Saraiva & Kepler
A Terra como um Grão de Pimenta

Tabela 01.09.07: Comparações dos tamanhos dos constituintes do sistema solar


com a Terra tendo um tamanho equivalente a um grão de pimenta.

escala km m mm representação
1 mm = 6.000 km

diâmetro do Sol 1,4 x 106 230 bola

distância do Sol 5,8 x 107 10


a Mercúrio

diâmetro de Mercúrio 5,0 x 103 0.8 cabeça de


alfinete

distância da órbita 5,0 x 107 8


de Mercúrio a Vênus

diâmetro de Vênus 1,2 x 104 2 grão de


coentro

distância da órbita 4,1 x 107 7


de Vênus à Terra

diâmetro da Terra 1,3 x 104 2 grão de


coentro

distância da órbita 7,8 x 107 13


da Terra a Marte

diâmetro de Marte 7,0 x 103 1 grão de


gergelim

distância da órbita 5,5 x 108 92


de Marte a Júpiter

diâmetro de Júpiter 1,43 x 105 24 noz

distância da órbita 6,49 x 108 108


e Júpiter a Saturno

diâmetro de Saturno 1,20 x 105 20 avelã

distância da órbita 1,443 x 109 240


de Saturno a Urano

diâmetro de Urano 5,1 x 104 9 amendoim

distância da órbita 1,627 x 109 271


de Urano a Netuno

diâmetro de Netuno 4,9 x 104 8 amendoim

distância da órbita 1,404 x 109 234


de Netuno a Plutão

diâmetro de Plutão 2,3 x 103 0,4 semente de


papoula

total das distâncias 5,9 x 109 983


do sistema planetário

distância da Terra à Lua 3,84 x 104 64

diâmetro da Lua 3,5 x 103 0,6 semente de


papoula

limite do sistema solar 7,5 x 1012 1,25x106


Nuvem de Oort

Área 1, Aula 9, p.18 distância da estrela 4,0 x 1013 6,7 x 106 distância
Müller, Saraiva & Kepler mais próxima até nós POA- Miami
Figura 01.09.19: Exercício baseado no "The Thousand-Yard Model or, The Earth
as a Peppercorn", © Guy Ottewell.

Resumo
O sistema solar é constituído pelo Sol, os oito planetas
(Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e
Netuno) juntamente com seus satélites e anéis, os planetas
anões, asteroides, meteoroides e meio interplanetário. O corpo
dominante é o Sol, que tem 99,8 % da massa do sistema. Todos
os planetas giram em torno do Sol aproximadamente no
mesmo plano e no mesmo sentido, e quase todos os planetas
(as exceções são Vênus e Urano), assim como o próprio Sol,
giram em torno de seu eixo no mesmo sentido da translação
dos planetas em torno do Sol.
Embora o raio do sistema planetário seja de apenas 40
unidades astronômicas (raio da órbita de Plutão), O sistema
solar se estende a distâncias de aproximadamente 50 mil
unidades astronômicas do Sol, região onde hipoteticamente se
encontram os núcleos cometários que povoam a nuvem de
Oort. A hipótese mais provável para a origem do sistema solar
a partir de uma nuvem de gás interestelar que colapsou, a
nebulosa solar.
Os planetas do sistema solar se classificam em duas
categorias principais: os planetas terrestres, que são pequenos,
rochosos e orbitam bem perto do Sol, e os planetas jovianos,
que são grandes, gasosos, e têm órbitas muito distantes do Sol.
Todos os planetas jovianos têm anéis e muitos satélites.
O espaçamento entre os planetas é muito grande
comparado com seus tamanhos; se o Sol tivesse o tamanho de
uma bola de futebol a Terra teria o tamanho de um grão de
pimenta, e estaria a uma distância de 25 metros dele; Plutão
teria o tamanho de uma ponta de alfinete, e estaria a 1 km de
distância.
A estrutura interna dos planetas jovianos (gasosos) é
estudada presumindo que a pressão interna varia com o raio
de acordo com a equação de equilíbrio hidrostático. No caso
de planetas terrestres esse formalismo só se aplica às camadas
mais profundas. As estruturas internas da Terra e da Lua foram
estudadas através de sismos (naturais ou provocados), que
revelaram que a Terra tem um núcleo interno de ferro que é
ausente na Lua.
Área 1, Aula 9, p.19
Müller, Saraiva & Kepler
Os gases que compõem as atmosferas dos planetas
tendem a escapar lentamente para o espaço, o que
acontece tão rapidamente quanto maior a temperatura do
planeta e quanto menor a velocidade do planeta. A
condição para um gás não escapar é que a velocidade
média de suas moléculas seja menor do que 1/6 da
velocidade de escape do planeta.
As idades das superfícies dos planetas podem ser
estimadas pelo número de crateras de impacto que
apresentam: quanto maior o número de crateras, mais velha é
a superfície. O diâmetro da cratera é proporcional à raiz
cúbica da energia do impacto. A energia do impacto é a
energia cinética do corpo impactante, que terá uma
velocidade de, no mínimo, a velocidade de escape do
planeta.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas
com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Compare o Sol com os demais corpos do sistema


solar em termos da massa e tamanho.
2. Qual o tamanho do sistema planetário? O Sistema
Solar termina no último planeta ou continua além?
3. Escreva os nomes dos planetas em ordem crescente
de distância ao Sol, classificando-os em terrestres ou jovianos.
4. Descreva em poucas palavras qual a teoria mais
aceita sobre a origem do sistema solar.
5. Como essa teoria justifica a diferença entre planetas
terrestres e jovianos?
6. Como se pode estudar a estrutura interna de um
planeta terrestre? E de um planeta Joviano?
7. Qual a relação entre a densidade de um planeta e a
sua composição química?
8. Que fenômenos alteram a superfície de um planeta?
9. Qual a origem das atmosferas dos planetas
terrestres? E dos jovianos? O que faz com que um planeta
retenha a sua atmosfera primordial ou não?
10. Suponha um átomo de massa m na atmosfera de
um planeta de massa M, raio R e temperatura atmosférica T.
Sabendo que a energia cinética média das partículas de um
gás é dada pela expressão

1 2 3
Ecin= mv = kT,
2 2
onde v é a velocidade média das partículas, e k =1,38 x10-23
J/K, deduza uma expressão para a temperatura mínima da
atmosfera do planeta para que os átomos de massa m
escapem de seu campo gravitacional. Expresse essa
temperatura em termos de m, k e ve, a velocidade de escape
do planeta.
Área 1, Aula 9, p.20
Müller, Saraiva & Kepler
11. Calcule:
a) a temperatura máxima que a Terra poderia ter para
manter hidrogênio atômico (mH = 1,6 x10-27 kg) em sua
atmosfera;
b) a temperatura mínima para que o oxigênio (mO = 16
mH) escapasse de sua atmosfera.
12. Cientistas calculam que o impacto ocorrido em
1908, em Tungunska, liberou uma energia de 15 Mton (1ton =
4,2 x 1016 ergs). Qual o tamanho provável do asteroide
impactante? Suponha que a densidade do asteroide é
3 g/cm3, e que a velocidade do asteroide no impacto era
igual a velocidade de escape da Terra.
Até a próxima aula!

Área 1, Aula 9, p.21


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 10 - Sistema solar: corpos menores.
Área 1, Aula 10

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Cometa West. Fonte:


http://astro.if.ufrgs.br/comast/
wests.gif

Introdução
Prezado aluno, em nossa décima aula, da primeira
área, vamos estudar o sistema solar dando ênfase aos
corpos menores.
Bom estudo!
Objetivos da aula
Nesta aula, a última dos conteúdos da primeira
área, vamos tratar dos corpos menores do sistema solar, e
esperamos que ao final você esteja habilitado a:
• descrever e comparar as características
gerais de planetas anões, cometas,
asteroides do cinturão principal e asteroides
do cinturão de Kuiper;
• descrever a composição e estrutura de um
cometa, explicando como se forma e para
onde aponta a sua cauda;
• estabelecer a diferença entre meteoroide,
meteoro e meteorito;
• perceber de forma realista a possibilidade
de ocorrerem impactos desses objetos na
Terra, e os riscos que tais impactos podem
oferecer.

Quais são os demais corpos


que constituem o sistema
solar, além dos planetas e
do Sol?
Corpos Menores do Sistema Solar

Figura 01.10.01: A maioria dos asteroides conhecidos estão no Cinturão


de Asteroides Principal, localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter.
Área 1, Aula 10, p.2
Müller, Saraiva & Kepler
O sistema solar contém, além dos planetas e dos
planetas anões, um grande número de corpos menores,
entre os quais estão incluidos os satélites e anéis dos
planetas, os asteroides, os meteoroides e os cometas.
Com exceção dos satélites e dos anéis, que orbitam
os planetas, todos os demais corpos orbitam o Sol.
Asteroides
Sistema solar Asteroides são um grupo numeroso de pequenos
Contém além dos planetas e
corpos (planetas menores) com órbitas situadas na grande
dos planetas anões, um maioria no Cinturão Principal de Asteroides, entre as órbitas
grande número de corpos de Marte e Júpiter, a uma distância média da ordem de
menores,entre os quais os 2,8 unidades astronômicas do Sol. Mais de 12.000 asteroides
satélites e os anéis de
planetas, os asteroides, os
têm órbitas bem determinadas. Eles orbitam o Sol
meteoroides e os cometas. aproximadamente no mesmo sentido dos planetas (de
oeste para leste) e a maioria no mesmo plano. A partir de
1992 foram descobertos vários asteroides além da órbita de
Netuno, chamados objetos transnetunianos. A maioria
desses objetos têm órbitas alinhadas com a eclíptica,
formando um anel em torno do Sol, a uma distância média
de 40 UA, chamado "Cinturão de Kuiper". Todos os
asteroides são menores do que a Lua.
Asteroides do Cinturão Principal
O Cinturão de Asteroides principal contém
asteroides com semieixo maior de 2,2 a 3,3 UA,
correspondendo a períodos orbitais de 3,3 a 6 anos.
Provavelmente mais de 90% de todos os asteroides estão
neste Cinturão. Os asteroides deste cinturão são rochosos,
com densidade da ordem de 2,5 g/cm3.

Asteroides

São corpos pequenos,


rochosos ou metálicos,
com órbitas quase
circulares e coplanares
com a eclíptica,
encontrados
principalmente no
Cinturão Principal, entre
as órbitas de Marte e
Júpiter.

Figura 01.10.02: Diagrama mostrando a localização do Cinturão de


Asteroides Principal, entre as órbitas de Marte e de Júpiter (pontinhos
amarelos).

O maior asteroide do Cinturão principal, e o primeiro


asteroide conhecido, é Ceres, descoberto em 1801 pelo
italiano Giuseppe Piazzi (1746-1826), com massa de um
Área 1, Aula 10, p.3 centésimo da massa da Lua, e diâmetro de 1.000 km. Nessa
Müller, Saraiva & Kepler
época os astrónomos estavam procurando insistentemente
um planeta que, de acordo com a lei de Titius-Bode, deveria
existir entre as órbitas de Marte e Júpiter. Piazzi achou que
tinha encontrado tal planeta, mas em seguida as descobertas
de novos "pequenos planetas" nessa região se multiplicaram,
e todos foram agrupados sob o nome de "asteroides”. Pallas
foi descoberto em 1802, por Heinrich Wilhelm Mattäus Olbers
(1758 -1840) e Juno em 1804 por Karl Ludwig Harding (1765 -
1834).
O asteroide Ida, com 50 km de diâmetro, foi
fotografado em 1993 pela sonda Galileo e foi então
descoberto que ele possui um satélite, Dactyl, de 1,5 km de
diâmetro, a 100 km de distância. Aproximadamente 10% dos
Lembre que exceção
feita aos anéis e aos asteroides têm satélites.
satélites, todos os
demais corpos orbitam
o Sol.

.
Figura 01.10.03: Imagem colorida de Ceres.Fonte: HST.

Veja aqui uma comparação do tamanho de Ceres


com o da Lua.

Figura 01.10.04: O asteroide Ida (à esquerda) e sua lua Dactyl (ponto branco
à direita).

Asteroides do Cinturão de Kuiper

Asteroides
transnetunianos
Figura 01.10.05: Gerrit Pieter Kuiper (1905-1973), astrônomo holandês.
São também conhecidos Descobriu duas luas de planetas de nosso sistema solar (Miranda, em Urano;
como objetos do Nereida, em Netuno).
Cinturão de Kuiper.
São corpos de
composição mista entre
O cinturão de Kuiper é uma região em forma de rosca,
rocha e gelo que centrada no Sol e alinhada com plano do sistema solar, com
habitam uma região em bordas entre 30 e 55 UA do Sol, portanto logo após a órbita de
forma de rosquinha Netuno. Os asteroides que povoam essa região são
centrada no Sol, com
bordas entre 30 e 55 UA.
compostos de uma mistura de gelo e rocha, e são mais
conhecidos como objetos do cinturão de Kuiper, ou objetos
transnetunianos.

Área 1, Aula 10, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.10.06: Diagrama mostrando a localização do Cinturão de Kuiper,
logo além da órbita de Netuno (pontinhos amarelos).

O cinturão de Kuiper foi predito pelos cálculos do


astrônomo irlandês Kenneth Essex Edgeworth (1880-1972) em
1949 e do holandês Gerard Peter Kuiper, figura 01.10.05, (1905-
1973) em 1951. Desde a primeira descoberta de um asteroide
transnetuniano por David C. Jewitt (1958-) & Jane X. Luu (1963
- ) em 1992, foram descobertos mais de 1.000 asteroides do
Cinturão de Kuiper, a maioria com cerca de 100 km de
diâmetro. Acredita-se que existam mais de 70.000 asteroides
com mais de 100 km de diâmetro no cinturão de Kuiper.

Figura 01.10.07: Concepção artística mostrando os tamanhos de alguns


objetos do cinturão de Kuiper em comparação com Plutão e a Terra. Xena
foi rebatizado como Éris, 2003 EL61 foi batizado como Haumea e 2005 FY9
como Makemake. Assim como Plutão, são classificados atualmente como
planetas anões. Fonte da figura:
http://solarsystem.nasa.gov/multimedia/display.cfm?IM_ID=10783.
Área 1, Aula 10, p.5
Müller, Saraiva & Kepler
Planetas Anões
Desde agosto de 2006 o sistema solar tem uma nova
categoria de objetos, que são os planetas anões. Enquadram-
se nessa categoria objetos que:

1. estão em órbita em torno do Sol (como os planetas);


2. têm forma determinada pela auto-gravidade, ou seja,
são esféricos (como os planetas);
Planetas anões
3. não tem tamanho significativamente maior do que os
outros objetos em sua vizinhança (ao contrário dos
São objetos que têm planetas).
massa suficiente para ter
formato esférico, mas
não são grandes o Até o momento, os planetas anões do sistema solar são
suficiente para ”limpar” Éris, Plutão, Ceres, Haumea e Makemake.
as vizinhanças de suas
órbitas, ou seja, não são Éris (a deusa da discórdia na mitologia grega) tem um
significativamente satélite, que recebeu o nome Dysnomia, que na mitologia é o
maiores e mais massivos espírito demoníaco da falta de lei. Pela órbita de Dysnomia se
do que os demais corpos
que orbitam o Sol à mede que Éris é 27 % mais massivo que Plutão.
mesma distância que se
encontram.

Figura 01.10.08: Éris e seu satélite (Dyssnomia), fotografado pela primeira vez
por Michael E. Brown com telescópio de 10m do W.M. Keck Observatory.

Plutão tem três satélites, como pode ser visto na figura


01.10.09:

Figura 01.10.09: Imagens de maio de 2005 obtidas pelo Telescópio Espacial


Hubble mostraram Plutão, além do satélite Caronte descoberto em 1978, dois
outros objetos menores orbitando Plutão. Em fevereiro de 2006 novas
observações confirmaram estes dois novos satélites, chamados de Hydra
(monstro com corpo de serpente e nove cabeças) e Nix (deusa da
escuridão).

Haumea tem dois satélites e Makemake não tem


nenhum conhecido até o momento.

Área 1, Aula 10, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Cometas

Cometas

São objetos compostos


de materiais voláteis
congelados, têm órbitas
altamente elípticas e Figura 01.10.10: Duas fotos de cometas.
não confinadas ao
plano da eclíptica.
Os cometas constituem outro conjunto de pequenos
Apresentam poeira corpos orbitando o sistema solar. Suas órbitas são elipses muito
(silicatos) em sua alongadas. Eles são muito pequenos e fracos para serem vistos
composição,(daí serem mesmo com um telescópio, a não ser quando se aproximam
considerados “bolas de
gelo sujo”.
do Sol. Nessas ocasiões eles desenvolvem caudas brilhantes
Ao se aproximarem do que algumas vezes podem ser vistas mesmo a olho nu.
Sol, parte do gelo
derrete, formando uma
grande nuvem de gás e
poeira ao redor do
cometa, chamada
coma.

Figura 01.10.11: Imagens do cometa periódico Borrelly (19P) obtidas pela


sonda Deep Space 1. A foto do núcleo foi obtida quando a nave passou a
3 417 km dele. O cometa tem um período de 6,8 anos e um núcleo com 8 km.
Lançada em outubro de 1998, a Deep Space 1 completou seu projeto
principal de estudar a propulsão iônica antes de fotografar o cometa.

Os cometas são feitos de uma mistura de gelo e poeira,


como uma bola de gelo sujo, segundo o modelo proposto por
Fred Lawrence Whipple (1906-2004) em 1950. À medida que
eles se aproximam do Sol, parte do gelo derrete, formando
uma grande nuvem de gás e poeira ao redor do cometa,
chamada coma, com diâmetro da ordem de 100 mil km. A
parte sólida e gelada no interior é o núcleo e normalmente
tem 1 a 10 km de diâmetro. O calor e o vento solar
proveniente do Sol sopram o gás e a poeira da coma
formando a cauda. Essa cauda sempre aponta na direção
oposta à do Sol e pode estender-se até 1 UA de comprimento.

Área 1, Aula 10, p.7 Figura 01.10.12: Componentes de um cometa, núcleo, coma, cauda ionizada,
Müller, Saraiva & Kepler cauda de poeira, cauda de hidrogênio.
Normalmente podem ser observadas duas caudas,
uma cauda de gás e uma cauda de poeira. A cauda de
poeira é mais larga, curva e amarela porque brilha devido à
reflexão da luz solar na poeira. A poeira segue a órbita
kepleriana, isto é, quanto mais distante do Sol mais devagar
movem-se as partículas. A cauda de gás é reta e azul, pois
brilha devido à emissão do monóxido de carbono ionizado
(plasma), que fica em λ = 4.200 Å. O gás expelido do cometa é
ionizado pela radiação solar e segue as partículas ionizadas
expelidas pelo Sol, chamadas de vento solar. A cauda de
hidrogênio, somente visível em ondas de rádio, é a mais
extensa; por ser composta das partículas mais leves, é a mais
afetada pela pressão de radiação.
Algumas vezes é observada também uma anti-cauda,
isto é, uma cauda na direção do Sol. Essa cauda é um efeito
de perspectiva, causado por partículas grandes (0,1 a 1 mm
de diâmetro), ejetadas do núcleo, que não são arrastadas
pela pressão de radiação do Sol, permanecendo na órbita.

Figura 01.10.13: Sequência de posições de um cometa Halley orbitando a Terra


com as caudas ionizadas e de poeira.

Figura 01.10.14: Foto do núcleo irregular do Cometa Halley (à direita) obtida


pela nave européia Giotto (à esquerda) a 1.000 km do núcleo do cometa, que
tem 13 km por 8 km, densidade próxima a 1,0 g/cm3 e massa de 6 × 1014 kg.

Figura 01.10.15: Edmund Halley (1656-1742), astrônomo britânico amigo de


Isaac Newton, foi o primeiro a mostrar que os cometas vistos em 1531, 1607 e
1682 eram na verdade o mesmo cometa e, portanto, periódico, que é desde
então chamado de Cometa Halley.

Área 1, Aula 10, p.8


Müller, Saraiva & Kepler
Figura01.10.16: Cometa McNaugth, em janeiro 2007, a foto foi tirada ao
anoitecer, em Porto Alegre. Fonte:
http://astro.if.ufrgs.br/comast/comast.htm.

Figura 01.10.17: Cometa Hale-Bopp, janeiro 1997, foto foi tirada ao anoitecer,
em Porto Alegre. Fonte: http://astro.if.ufrgs.br/comast/comast.htm.

Acredita-se que os cometas são corpos primitivos,


presumivelmente sobras da formação do sistema solar.
Esses corpos formariam uma vasta nuvem
circundando o sistema solar, em órbitas com afélios a uma
distância de ≈ 50.000 UA do Sol: a "Nuvem de Oort", figura
01.10.19. Haveria ≈ 100 bilhões de núcleos cometários nessa
nuvem. Eventualmente, a interação gravitacional com uma
estrela próxima perturbaria a órbita de algum cometa,
fazendo com que ele fosse lançado para as partes mais
internas do sistema solar. Uma vez que o cometa é desviado
para o interior do sistema solar, ele não sobrevive mais do que
1.000 passagens periélicas antes de perder todos os seus
elementos voláteis.

Área 1, Aula 10, p.9 Figura 01.10.18: Jan Hendrik Oort (1900-1989). Astrofísico e astrônomo
Müller, Saraiva & Kepler holandês.
Figura 01.10.19: Nuvem de Oort.

Figura 01.10.20: Tamanhos relativos entre o Cinturão de Asteroides Principal


(quadro superior esquerdo), o cinturão de Kuiper (quadro superior direito), a
órbita do objeto transnetuniano Sedna (quadro inferior direito) e a nuvem
de Oort (quadro inferior esquerdo).

Meteoros
Meteoros são pequenos asteroides (meteoroides) que
se chocam com a Terra. Ao penetrar na atmosfera da Terra
geram calor por atrito com a atmosfera, deixando um rastro
brilhante facilmente visível a olho nu, chamados de estrelas
Meteoros
cadentes. O termo vem do grego meteoron, que significa
Pequenos asteroides que fenômeno no céu. Existem aproximadamente 2.000
se chocam com a Terra. asteroides com diâmetro maior de 1 km, que se aproximam
da Terra, colidindo com uma taxa de aproximadamente 1 a
cada 1 milhão de anos. Dois a três novos são descobertos
por ano e suas órbitas são muitas vezes instáveis, devido a
interações gravitacionais com os vários corpos (planetas e
asteroides).

Figura:01.10.21: Fotografia de meteoros.

Área 1, Aula 10, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Chuvas de Meteoros
Quando a Terra cruza a órbita de um cometa,
encontra poeira ejetada deste e uma chuva de meteoros
ocorre.

Figura 01.10.22: Fotografia de uma chuva de meteoros.

Meteoritos

Figura 01.10.23: Fotos de meteoritos tirada na Antártica. Na Antártica


encontra-se a maioria dos meteoritos estudados, pois lá estão melhor
preservados.

Meteoritos são meteoroides que atravessam a


atmosfera da Terra sem serem completamente vaporizados,
caindo ao solo. Do estudo dos meteoritos se pode aprender
muito sobre o tipo de material a partir do qual se formaram os
planetas interiores, uma vez que são fragmentos primitivos do
Sistema Solar.
Meteoritos Existem três tipos de meteoritos: os metálicos, os
São meteoroides que
rochosos, e os metálico-rochosos. Os rochosos são os mais
atravessam a atmosfera abundantes, compreendendo 90% de todos meteoritos
da Terra sem serem conhecidos. Um tipo de meteoritos rochosos são os condritos
completamente carbonáceos, que representam o tipo mais antigo de
vaporizados, caindo ao
solo.
meteoritos, com aproximadamente 4,5 bilhões de anos e
parecem não ter sofrido qualquer alteração desde a época
de sua formação. Os metálicos são compostos
principalmente de ferro e níquel. Na Terra caem
aproximadamente 25 milhões por dia, a grande maioria com
alguns microgramas.

Área 1, Aula 10, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
O meteorito ALH84001 (figura 01.10.24), de 1,9
quilogramas, é um dos 30 meteoritos já coletados na Terra
que acredita-se foram arrancados de Marte por colisões de
asteroides. ALH84001 cristalizou-se no magma de Marte há 4,5
bilhões de anos, foi arrancado de Marte há 16 milhões de
anos e caiu na Antártica há 13 mil anos. Ele mostra traços de
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e depósitos minerais
parecidos com os causados por nanobactérias na Terra e,
portanto, indicando que poderia ter havido vida em Marte
no passado remoto. Esta é a primeira evidência da possível
existência de vida fora da Terra e levanta a questão de se a
vida começou em outros pontos do Universo além da Terra,
espontaneamente. Em outubro de 1996, cientistas ingleses
descobriram traços de carbono orgânico em outro meteorito
marciano, ETA79001, novamente uma evidência
circunstancial para a qual vida é somente uma das possíveis
interpretações. Entretanto muitos cientistas argumentam que
os resíduos são na realidade partes de superfícies de cristais
de piroxeno e carbonatos e não nanofósseis. A sonda
Sojourner, da missão Mars Pathfinder de julho a setembro de
1997, comprovou que a composição química das rochas
marcianas é de fato muito similar à composição dos
meteoritos como o ALH84001.

Figura 01.10.24: Em agosto de 1996 cientistas da NASA revelaram


evidências indiretas de possíveis fósseis microscópicos que poderiam ter se
desenvolvido em Marte 3,6 bilhões de anos atrás, no meteorito marciano
ALH84001. Sua denominação vem do fato de ter sido o meteorito número
001, colectado em 1984, na região chamada Allan Hills, na Antártica.

Impactos na Terra

Figura 01.10.25: A foto acima é da Meteor Crater, ou Cratera Barringer


[Daniel Moreau Barringer (1860-1929), que demonstrou que a cratera era
devido ao impacto de um meteorito], no Arizona, tem 1,2 km de diâmetro e
50 mil anos.

Área 1, Aula 10, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Duas vezes no século XX grandes objetos colidiram
com a Terra. Em 30 de junho de 1908, um asteroide ou cometa
de aproximadamente 100 mil toneladas explodiu na
atmosfera perto do Rio Tunguska, na Sibéria, derrubando
milhares de km2 de árvores e matando muitos animais.

Figura 01.10.26: Foto a 20 km do centro da explosão na região do Rio


Tunguska, no centro-norte da Sibéria, tirada em 1927 (20 anos depois da
explosão).

O asteroide, rochoso, explodiu no ar e somente


pequenos pedaços, encrustados nas árvores, foram
encontrados. Simulações indicam que o asteroide deveria ter
30 a 60 metros de diâmetro e energia equivalente de 5 a 15
Mton TNT, uma bomba de hidrogênio. (A primeira bomba de
hidrogênio, chamada Bravo, foi testada em 1 de março de
1954, pelos americanos, no Atol de Bikini, e tinha 15 Mton TNT.
A bomba de hidrogênio mais poderosa foi testada pelos russos
e atingiu 50 Mton TNT). Várias testemunhas viram quando o
meteorito/meteoro explodiu no ar.
O segundo impacto ocorreu em 12 de fevereiro de
1947, na cadeia de montanhas Sikhote-Alin, perto de
Vladivostok, também na Sibéria. O impacto, causado por um
asteroide de ferro-níquel de aproximadamente 100 ton que se
rompeu no ar, foi visto por centenas de pessoas e deixou mais
de 106 crateras, com tamanhos de até 28 m de diâmetro e 6
m de profundidade. Foram recuperados 9.000 meteoritos
metálicos perfazendo um total de 28 ton de massa.

Área 1, Aula 10, p.13 Figura 01.10.27: Foto mostra a recuperação do maior pedaço do meteorito de
Müller, Saraiva & Kepler Sikhote-Alin, de 1.745 kg, sendo tirado de sua cratera por um caminhão. Mais
de 9.000 pedaços, compondo 28 toneladas foram recuperados.
Em 18 de janeiro de 2000, um meteoro explodiu sobre o
território de Yukon, no Canadá, gerando uma bola de fogo
brilhante detectada por satélites de defesa e também por
sismógrafos. A energia liberada foi da ordem de 2 a 3 kton TNT.
Denominado Tagish Lake, em referência ao local da queda,
foram recuperados alguns pedaços, 850 g, do meteoro que
deve ter tido 200 ton e 5 m de diâmetro.

Figura 01.10.28: Gráfico mostrando a relação entre o intervalo de tempo


decorrido entre impactos e o diâmetro do objeto impactante. Os eixos estão
em escala logaritmica. Objetos de 100 m, como o que caiu em Tunguska em
1908, caem a cada 1.000 anos; objetos de 10 km, como o que caiu em
Chicxulub, caem a cada 50 milhões de anos. No eixo vertical superior é
mostrada a energia do impacto de acordo com o diâmetro do objeto.

Figura 01.10. 29: Concepção artística dos impactos que teriam ocorrido à
época extinção dos dinossauros.

A extinção dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás, é


consistente com um impacto de um asteroide ou cometa de
mais de 10 km de diâmetro, que abriu uma cratera de 200 km
de diâmetro perto de Chicxulub, na península de Yucatan, no
México.
O impacto liberou uma energia equivalente a 5 bilhões
de bombas atômicas como a usada sobre Hiroshima em 1945.
A imagem da figura 01.10.28 mostra as variações gravimétricas
do local. Outras crateras com a mesma idade têm sido
descobertas, como a cratera Boltysh, de 24 km de largura na
Área 1, Aula 10, p.14 Ucrânia e a cratera Silverpit, no fundo do Mar do Norte na
Müller, Saraiva & Kepler costa da Inglaterra, com 19 km de largura.
A proposta de que a grande extinção de organismos
terrestres e marinhos, vertebrados e invertebrados que ocorreu
há 65 milhões de anos (transição do período Cretáceo para o
Terciário) tem origem num grande impacto é do físico
americano Luis Walter Alvarez (1911-1988), ganhador do
prêmio Nobel em 1968 por seus estudos de partículas sub-
atômicas, e seu filho Walter L. Alvarez (1940 -), geólogo
americano, que notaram que a extinção se deu por
alterações climáticas que atingiram toda a Terra, com um
esfriamento na superfície e pela existência de uma fina
camada de argila com uma alta taxa de irídio (um metal raro,
similar à platina), com uma concentração 30 vezes maior do
que a média de 0,3 partes por bilhão, em mais de cem partes
do globo nesta época, consistente com uma grande nuvem
de pó que se espalhou por todo o planeta, cobrindo a luz do
Sol. Com a queda da fotossíntese, as plantas morreriam e os
dinossauros morreriam por falta de alimentos.
Um evento similar poderia ser uma grande explosão
vulcânica, mas isto não explicaria a deposição de irídio, nem a
existência da cratera de Chicxulub. Irídio é encontrado no
interior da Terra, mas os asteroides são mais ricos em irídio do
que a crosta da Terra.
Outros grandes impactos sobre a Terra podem ter
causado o rompimento do grande supercontinente, Pangea,
250 milhões de anos atrás, e outro há 13 mil anos, cerca de 10
mil a.C., no fim do último período glacial, quando os mamutes
desapareceram.
Satélites
Em geral, o número de satélites de um planeta está
associado à sua massa. O maior satélite do sistema solar é
Ganimedes, (figura 01.10.30) um dos quatro satélites galileanos
de Júpiter, com raio de 2.631 km. O segundo é Titan, de
Saturno, com 2.575 km de raio (5.150 km de diâmetro). Ambos
são maiores do que o planeta Mercúrio, que tem 2.439 km de
raio (4.878 km de diâmetro). Note que a Lua, com 3.475 km de
diâmetro, é maior do que Plutão, que tem 2.350 km de
diâmetro.

Satélites

Orbitam os planetas e o
número de satélites de um
planeta está relacionado
à massa de cada planeta.

Figura 01.10.30: Ganimedes, um dos 4 satélites galileanos de Júpiter.

Área 1, Aula 10, p.15


Müller, Saraiva & Kepler
Tabela 01.10.01: Satélites com suas características: diâmetro, massa e
densidade.

Os três maiores satélites têm a mesma densidade e


aproximadamente o mesmo tamanho e, portanto, devem ter
a mesma composição química; provavelmente têm um
interior estratificado, com um núcleo rochoso do tamanho da
Lua cercado por uma camada espessa de gelo ou
possivelmente água. Titan apresenta a notável característica
de possuir uma atmosfera densa, rica em compostos de
carbono e metano. Titan, como Vênus, é cercado por uma
camada opaca de nuvens.

Figura 01.10.31: A maioria dos satélites revolve em torno do respectivo


planeta no sentido de oeste para leste e a maioria tem órbita
aproximadamente no plano equatorial de seu planeta.

Figura 01.10.32: Satélites pastoreiros do anél F de Saturno, Prometeu (o


interno, 145×85×62 km) e Pandora (114×84×62 km), descobertos em 1980 pela
sonda Voyager.

O mecanismo de "pastoreamento", em linhas gerais,


funciona assim: a lua pastoreira mais interna tem velocidade
orbital maior do que a das partículas do anel, e a lua
pastoreira mais externa tem velocidade orbital menor
(movimento kepleriano).

Área 1, Aula 10, p.16


Müller, Saraiva & Kepler
Quando a lua mais interna ultrapassa as partículas em
um determinado ponto do anel, lhes transfere momentum
angular, fazendo com que elas espiralem para uma órbita
mais externa. Por outro lado, as partículas do anel externo, ao
ultrapassarem a lua pastoreira externa, transferem para ela
parte de seu momentum angular, indo para uma órbita mais
interna. Dessa maneira as partículas ficam confinadas em um
anel estreito e bem definido.

Anéis

Figura 01.10.33: Anéis de Saturno.


Anéis Os quatro planetas jovianos apresentam um sistema
Os quarto planetas
de anéis, constituídos por bilhões de pequenas partículas
jovianos apresentam um orbitando muito próximo de seu planeta. Nos quatro planetas,
sistema de anéis, os anéis estão dentro do limite de Roche e devem ter se
constituído por bilhões de formado pela quebra de um satélite ou a partir de material
pequenas partículas
orbitando muito próximo o
que nunca se aglomerou para formar um satélite. Saturno é,
seu planeta. de longe, o que possui anéis mais espetaculares. Eles são
constituídos principalmente por pequenas partículas de gelo,
que refletem muito bem a luz. Já os anéis de Urano, Netuno e
Júpiter (nesta ordem de massa constituinte), são feitos de
partículas escuras, sendo invisíveis da Terra. A massa total dos
anéis de Saturno é menor do que 3 milionésimos da massa de
Saturno. Já em 1857, James Clerk Maxwell (1831-1879)
demonstrou que os anéis só poderiam permanecer em órbitas
estáveis se fossem constituídos de pequenas partículas.

Figura 01.10.34: Anéis de Saturno. As divisões dos anéis de Saturno são


causadas por ressonâncias com os satélites. Por exemplo, a maior divisão é
causada por uma ressonância 2:1 com Mimes.

Área 1, Aula 10, p.17


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 01.10.35: Anéis de poeira em torno de Júpiter e Urano.

Asteroides Próximos à Terra


Os asteroides próximos à Terra (Near Earth Asteroides)
são aqueles que têm órbitas que os aproximam da Terra e
portanto têm maior chance de colidir com a Terra. A maioria
tem uma probabilidade de 0,5% de colidir com a Terra no
próximo um milhão de anos. O número total de asteroides
maiores que 1 km é da ordem de 1.000 a 2.000, que
corresponde a uma probabilidade de 1% de colisão no
próximo milênio.

Figura 01.10.36: Figura ilustrando um asteroide em rota de colisão com a


Terra.

A atmosfera da Terra não oferece proteção para


objetos maiores que 100 m de diâmetro. Corpos maiores que
1 km causam efeitos globais na Terra. Mesmo que caiam nos
oceanos, as ondas gigantescas que causariam destruiriam as
cidades costeiras.

Figura 01.10.37: Número de asteroides que passam próximos à Terra em


relação a seu diâmetro, conforme cálculos de David Rabinowitz et al. (2000),
Área 1, Aula 10, p.18 Nature, 403, 165. Os círculos abertos mostram as observações. Os quadrados
Müller, Saraiva & Kepler e triângulos mostram a amostra corrigida pela dificuldade de observar os
mais fracos.
Simulador de Impactos sobre a Terra

Resumo
O sistema solar contém, além dos planetas e dos
planetas anões, um grande número de corpos menores,
entre os quais estão incluídos os satélites e anéis dos planetas,
os asteroides, os meteoroides e os cometas.
Como exceção dos satélites e dos anéis, que orbitam
os planetas, todos os demais corpos orbitam o Sol.
Os planetas anões são objetos que têm massa
suficiente para terem adquirido forma esférica, mas não
grande o suficiente para "limpar" as vizinhanças de sua órbita,
ou seja, não são significativamente maiores e mais massivos
do que os demais corpos que orbitam o Sol à mesma
distância em que se encontram. Até o momento, os planetas
anões do sistema solar são Éris, Plutão, Ceres, Haumea e
Makemake. Ceres é o maior objeto do cinturão de asteroides
principal; os outros quatro são objetos transnetunianos.
Os asteroides do cinturão principal são corpos
pequenos, rochosos ou metálicos, com órbitas quase
circulares e coplanares com a eclíptica, encontrados
principalmente no cinturão principal, entre as órbitas de
Marte e Júpiter.
Os asteroides transnetunianos, são corpos de
composição mista entre rocha e gelo, que habitam uma
região em forma de rosquinha centrada no Sol, com bordas
entre 30 e 55 UA, chamado cinturão de Kuiper. Os asteroides
transnetunianos são também conhecidos como objetos do
cinturão de Kuiper.
Os cometas são objetos compostos de materiais
voláteis congelados, que, ao contrário da maioria dos demais
corpos do sistema solar, têm órbitas altamente elípticas e não
confinadas ao plano da ecliptica. Eles também apresentam
poeira (silicatos) em sua composição, por isso são
considerados "bolas de gelo sujo". À medida que eles se
aproximam do Sol, parte do gelo derrete, formando uma
grande nuvem de gás e poeira ao redor do cometa,
chamada coma, com diâmetro da ordem de 100 mil km. A
parte sólida e gelada no interior é o núcleo e normalmente
tem 1 a 10 km de diâmetro. O calor e o vento solar
proveniente do Sol sopram o gás e a poeira da coma
formando a cauda. Essa cauda sempre aponta na direção
oposta à do Sol e pode estender-se até 1 UA de
comprimento. Acredita-se que os cometas são corpos
primitivos, presumivelmente sobras da formação do sistema
solar, que residem na "Nuvem e Oort", uma vasta nuvem
esférica circundando o sistema solar, com borda a
aproximadamente 50.000 UA do Sol.
Meteoroides são pequenos asteroides, em geral com
menos de 100 m de diâmetro. Meteoros são meteoroides
(mas podem ser também pedaços de cometa) que são
atraídos pela Terra e se incendeiam ao entrarem na
atmosfera, devido ao atrito com o ar - o rastro brilhante
popularmente conhecido como "estrela cadente". Se o
objeto não é completamente vaporizado na atmosfera, o
pedaço sobrevivente que atinge o solo é chamado
Área 1, Aula 10, p.19 meteorito.
Müller, Saraiva & Kepler
Existem três tipos de meteoritos: os rochosos (os mais
abundantes), os metálicos e os metálico-rochosos. Um tipo de
meteorito rochoso é o condrito carbonáceo, que representa o
tipo mais antigo de meteorito, com aproximadamente 4,5
bilhões de anos e parecem não ter sofrido qualquer alteração
desde a época de sua formação.
A cada dia a Terra é atingida por corpos
interplanetários, a maioria deles microscópicos, sem qualquer
risco para a Terra. No entanto, a cada 100 milhões de anos, em
média, acontece um impacto devastador, como o que atingiu
a Terra há 65 milhões de anos e que está associado à extinção
dos dinossauros.
Os satélites orbitam os planetas e o número de satélites
está relacionado à massa de cada planeta.
Os quatro planetas jovianos apresentam um sistema de
anéis, constituídos por bilhões de pequenas partículas
orbitando muito próximo de seu planeta. Nos quatro planetas,
os anéis estão dentro do limite de Roche e , devem ter se
formado pela quebra de um satélite ou a partir de material que
nunca se aglomerou para formar um satélite.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas
com os demais colegas.
Bom trabalho!
1. Que objetos se englobam como “corpos menores” do
sistema solar?
2. Onde se localizam e o que são:
a) o Cinturão de Kuiper?
b) o Cinturão de asteróides?
c) a Nuvem de Oort?
3. Por que os cometas são considerados ”bolas de gelo
sujo”?
4. De que é feita e para onde aponta a cauda de um
cometa?
5. Quais são as diferenças entre meteoroide, meteoro e
meteorito?
6. Segundo a definição de planeta anão, qual é o
critério que diferencia esses objetos de planetas? Qual o critério
que diferencia os planetas anões de asteroides?
Aqui se encerra a 1ª área. Lembre-se que em breve
ocorrerá a avaliação presencial. Boa prova!

Área 1, Aula 10, p.20


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 1- Distâncias Astronômicas Área 2, Aula 1

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Ilustração de uma
medição de distância da
Terra (à direita) à Lua (à
esquerda), fora de
escala, a partir de uma
triangulação.

Introdução
Prezado aluno, em nossa primeira aula, da segunda
área, vamos tratar da determinação de distâncias
estelares (astronômicas). No dia a dia, quando precisamos
medir distâncias usamos réguas, trenas, ou eventualmente
instrumentos mais sofisticados, como a trena eletrônica.
Quando as distâncias são grandes podemos usar relações
matemáticas: semelhança de triângulos (Teorema de
Tales) e razões trigonométricas.
Este método é chamado triangulação e é usado,
em Astronomia para medir distâncias de planetas e das
estrelas próximas. Para medir distâncias de estrelas
Unidades de medidas distantes na nossa galáxia, ou de outras galáxias, temos
astronômicas
que recorrer a métodos indiretos, alguns dos quais veremos
Unidade astronômica: UA
ano-luz: al ao longo desta disciplina.
parsec: pc
Lembre que
Outro problema que se apresenta é a unidade de
medida a ser utilizada. Enquanto o Sistema Internacional
1 kpc = 1.000 pc de Unidades indica o metro como unidade padrão de
1 Mpc = 1.000.000 pc comprimento, com seus múltiplos e submúltiplos, na
Astronomia temos que recorrer a unidades próprias, pois a
ordem de grandeza das medidas de distância vai muito
além do usual.
A Astronomia adota como unidades de medida de
distância a unidade astronômica (UA), o ano-luz (al) e o
parsec (pc), este com seus múltiplos quiloparsec (kpc) e
megaparsec (Mpc).
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos de determinação de
distâncias astronômicas e paralaxe, e esperamos que ao
final você esteja apto a:
• definir as unidades de medida de distância
da Astronomia: unidade astronômica, ano-
luz e parsec;
• definir paralaxe;
• descrever a relação entre paralaxe e
distância;
• estabelecer a relação entre o tamanho
angular (aparente), o tamanho linear (real)
e a distância dos objetos astronômicos;
• explicar como as distâncias estelares são
determinadas;
• diferenciar entre paralaxe geocêntrica e
paralaxe heliocêntrica.

Qual a necessidade de
determinarmos a distância
entre as estrelas?

Medidas Astronômicas
Para medir distâncias a pontos inacessíveis
podemos usar a triangulação. Na figura 02.01.01,
esquematizamos como é possível medir a distância que se
encontra uma árvore do outro lado do rio, sem ter que
atravessá-lo.

Figura 02.01.01: Ilustração do método de triangulação para a medida da


distância d entre A e B.

Olhando a árvore de dois pontos distintos, o ponto B


e o ponto C, podemos construir o triângulo ABC, em que a
base é formada pela reta unindo B e C, e os lados BA e CA
são as direções em que a árvore é vista, em relação a um
objeto existente no fundo (uma montanha distante, por
exemplo), a partir dos pontos B e C.
Traçando uma reta DE paralela à direção BA temos
outro triângulo menor, DEC, semelhante ao ABC. Os lados
do triângulo pequeno e a distância entre os dois pontos B e
C podem ser medidos com uma trena, por exemplo, de
forma que DE, EC, DC e BC são conhecidos. Daí aplicamos
a semelhança de triângulos para conhecer os outros lados
do triângulo maior.

Área 2, Aula 1, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
Aplicando o teorema de Tales, temos:
AB BC BC . DE
= = então AB ,
DE EC EC

e, dessa forma, determinamos a distância (d) AB.


A triangulação só é possível se existe um objeto
distante que possa ser tomado como referência para medir
a variação na direção do objeto próximo quando o
Teorema de Tales observador muda de posição. Essa mudança na direção do
objeto devido à mudança de posição do observador é
Os lados homólogos de
triângulos semelhantes chamada paralaxe.
são proporcionais.

Paralaxe

Mudança na direção
de um objeto devido à
mudança de posição
do observador.

Figura 02.01.02: Uma esfera O e dois objetos A e B são fotografadas de duas


posições diferentes. Observe a paralaxe que ocorre pela mudança de
posição da máquina fotográfica nas duas fotografias mostradas. Na foto
da esquerda o objeto O aparece mais perto do objeto B; na da direita, o
mesmo objeto parece estar mais próximo do objeto A.
(Autor: Prof. Luiz Carlos Goulart)

Em Astronomia, a paralaxe é definida


costumeiramente como a metade do deslocamento
angular total medido, como se observa na figura 02.01.03.

Figura 02.01.03: Ilustração da definição de paralaxe. As duas retas


perpendiculares à linha de base 2D, na figura da esquerda, apontam na
direção do objeto distante tomado como referência. O é o objeto cuja
distância queremos medir.

O corresponde ao objeto cuja distância queremos


medir, 2 D é o deslocamento do observador; A1 e A2 são
ângulos entre a direção desse objeto observado de cada
extremidade do deslocamento do observador e a direção
do objeto distante tomado com referência. Utilizando as
razões trigonométricas teremos:

D
tanp= .
d

Área 2, Aula 1, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
DA1 + A2
Como tanp= , p= e A1, A2 e D são
d 2
conhecidos, podemos isolar d e obter a distância até o objeto.
Agora, para ângulos muito pequenos ( ≤ 4o), a tangente do
ângulo tem valor muito próximo do valor do próprio ângulo em
radianos. Nas medidas astronômicas, os ângulos paraláticos
são sempre muito pequenos, de forma que sempre podemos
considerar tan p = p (rad).
Então, teremos:
Importante D
d= .
Observe que a p(rad)
paralaxe é tanto menor
quanto maior for a
distância entre o
observador e o objeto. Paralaxe Geocêntrica e Heliocêntrica
A triangulação é utilizada para medir distâncias entre
Simulador de Paralaxe
Estelar estrelas. Porém como elas estão muito distantes a linha de base
(que corresponde ao deslocamento do observador em nosso
exemplo anterior) deve ser muito grande para que o ângulo
paralático (p) seja perceptível. Para fazer a medida de
distância entre a Terra e planetas do sistema solar, ou até a
Lua, o diâmetro da Terra pode ser usado como linha de base.
Lembre que Já para medir a distância da Terra às estrelas próximas, é
utilizado o diâmetro da órbita da Terra como a linha de base.
360o = 2π rad.
Se p ≤ 4o, tan p= sen p =
Paralaxe Geocêntrica (paralaxe diurna)
p (rad).
A distância da Terra à Lua e aos planetas mais próximos,
hoje, é feita com a utilização de radares, mas, antes de sua
invenção, os astrônomos mediam a distância desses objetos à
Terra usando a paralaxe resultante da observação em pontos
extremos da Terra.
A posição da Lua, por exemplo, em relação às estrelas,
é medida duas vezes, em lados opostos da Terra. A paralaxe
geocêntrica é definida como a metade da variação na
direção observada nos dois lados da Terra, como mostrado na
figura 02.01.04.

Figura 02.01.04: Esquema definindo paralaxe geocêntrica, que é o ângulo p


entre a direção do objeto visto do centro da Terra e a direção do objeto visto
da superfície da Terra.

Essa será a paralaxe geocêntrica (p) e será calculada


por:

RTerra RTerra
p(rad) = ⇒ d= .
d p(rad)

Paralaxe Heliocêntrica (paralaxe anual)


Para medir distância até estrelas mais próximas é
utilizada a paralaxe heliocêntrica. Essa medida é realizada da
seguinte forma: é feita a medição da direção de uma estrela
em relação às estrelas de fundo quando a Terra está de um
lado do Sol e seis meses depois, quando a Terra estiver do outro
Área 2, Aula 1, p.4
lado do Sol, a medida é refeita.
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.01.05: A paralaxe heliocêntrica é o ângulo p entre a direção da
estrela vista da posição do Sol e a direção da estrela vista da Terra. É medida
como a metade do deslocamento total da direção da estrela em 6 meses.

Unidade astronômica A metade do desvio total na posição da referida estrela


corresponde à paralaxe heliocêntrica (p) e nos possibilita
Distância média entre a
calcular a distância (d), usando a relação:
Terra e o Sol.
Ano-luz R RoT
p(rad=) oT ⇒ d= ,
d p(rad)
Distância que a luz,
propagando-se no sendo RoT : raio de órbita da Terra, definido como 1UA.
vácuo, percorre em um
ano.
Parsec
Logo:
1UA
Distância de um objeto d= .
que apresenta uma p(rad)
paralaxe heliocêntrica
de 1”. Unidades Astronômicas de Distância
Unidade Astronômica (UA)
Para medidas dentro do sistema solar a unidade mais
adequada é a unidade astronômica, que é a distância média
entre a Terra e o Sol.

1 UA =1,496 x108 km .

Para medir a distância de qualquer objeto, calculada


em unidades astronômicas, usamos:
1
d(UA)= .
p(rad)
Para saber como se mede a unidade astronômica
acesse o link:
http://astro.if.ufrgs.br/dist/dist.htm#cayennemarte.gif

Ano-luz (al)

Distância que a luz, propagando-se no vácuo, percorre


em um ano. Essa distância é dada por:
1al= c(km/s) x 1 (ano) =2,9979 x 105 km/s x 3,1557 x 107s,
Logo:
1al = 9,46 x 1012 km.
Para saber como é determinada a velocidade da luz
no vácuo acesse o link:
http://astro.if.ufrgs.br/dist/dist.htm#luz

Parsec (pc):
Um parsec corresponde à distância de um objeto até a
Terra tal que, determinado observador localizado nesse objeto,
veria o raio da órbita da Terra, como se observa na figura
Área 2, Aula 1, p.5 02.01.05, com um tamanho angular de 1”, ou seja, 1 pc
Müller, Saraiva & Kepler corresponde à distância de um objeto que apresenta uma
paralaxe heliocêntrica de 1”.

Figura 02.01.06: Um objeto cuja paralaxe heliocêntrica é de 1” está a uma


distância da Terra de 1parsec.

Logo, se a distância for 1 pc, a paralaxe será de 1”, que


em radianos será:
Lembre que a distância 1 2π rad
de 1 pc corresponde à =1" = x 4,848 x10 −6 rad.
paralaxe de 1”. 3.600 " 360

Portanto:
1UA
1 pc = = 206.265 UA = 3,26 al.
4,848 x10 −6

A distância a que se encontra um objeto em relação


ao observador, medida diretamente em parsec, é dada por:
1
d(pc)= .
p(" )
A estrela mais próxima da Terra, Próxima Centauri, está
a uma distância de 4,3 al, que é maior do que 1 pc (1,32 pc).
Logo mesmo para a estrela mais próxima a paralaxe é
menor do que 1”(na verdade é 0,76”).
A primeira medida exitosa de uma paralaxe estelar foi
feita por Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846) em 1838, para a
estrela 61 Cygni (p~0,3").
Exemplo: Qual é a distância, em parsecs, da estrela 61
Cygni, cuja paralaxe heliocêntrica é 0,3”?
Como:
1
d(pc)= ,
p(" )

então,
1
d(=
pc) = 3,33 pc.
0,3 "

Resumo
O principal método de determinação das distâncias
astronômicas se baseia no fenômeno da paralaxe, que é o
deslocamento aparente que um objeto sofre quando visto de
posições diferentes:
• Paralaxe geocêntrica é um método que pode ser
utilizado para medir distâncias até os planetas mais
próximos, sendo definido como o deslocamento
aparente sofrido pelo objeto quando observado de
dois pontos por uma distância igual ao raio da Terra.

Área 2, Aula 1, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
• Paralaxe heliocêntrica (paralaxe anual) é o único
método direto para medir distâncias estelares (no
alcance de estrelas da vizinhança solar), e é
definida com o deslocamento aparente sofrido
pelo objeto quando observado de dois pontos
separados por uma distância igual ao raio da Terra
(1 UA).
• Ano- luz (al) é a distância que a luz, propagando-se
no vácuo, percorre em um ano.
• Parsec (pc) corresponde à distância de um objeto
que apresenta uma paralaxe heliocêntrica de 1”. A
distância de um objeto medida em parsec é igual
ao inverso de sua paralaxe heliocêntrica medida em
segundos de arco:
1
d(pc)= .
p(" )

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!
1) Sabendo que a visão humana apresenta
paralaxe, desde que a pessoa tenha os dois olhos em
condições normais de funcionamento, considerando que a
distância típica entre os dois olhos é de 7 cm, determine
qual é a paralaxe da visão humana para um objeto que se
encontra a:
a) 1 m de distância do observador?
b) 10 m de distância do observador?
c) 100 m de distância do observador?
d) 1 km de distância do observador?
e) de acordo com seus resultados, qual é a relação
entre paralaxe da visão humana e a distância ao objeto
observado?
2) Sabendo-se que saturno está a 10 UA do Sol,
responda: (quando necessário use o raio da Terra = 6.400
km).
a) Qual é a paralaxe geocêntrica de Saturno?
b) Supondo que os telescópios atuais têm uma
precisão de 0,001”, é possível medir a distância de Saturno
por paralaxe geocêntrica?
3) Sabendo-se que a paralaxe heliocêntrica de
Spica é 0,013”, responda:
a) Qual é a distância de Spica? (Dê a sua resposta
Atenção!
em parsec, em unidades astronômica, em anos-luz e em
Para determinar a quilômetros).
distância de Marte nas
atividades de fixação b) Qual seria a paralaxe heliocêntrica de Spica se
acesse: ela fosse medida de Marte?
Paralaxe e distância de
Marte. c) Qual seria a paralaxe de Spica se fosse medida
por um observador na Lua, usando como linha de base o
raio da órbita lunar?(Use raio da Lua = 1.738 km).
Área 2, Aula 1, p.7 Até a próxima aula!
Müller, Saraiva & Kepler
Aula 2 - Estrelas Binárias Área 2, Aula 2

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Ilustração do exoplaneta
Kepler-16 com seus dois
sóis. O planeta foi
descoberto pela missão
Kepler da NASA. Crédito:
NASA/JPL- Caltech.

Introdução
Prezado aluno, em nossa segunda aula, da segunda
área, vamos tratar das estrelas binárias. Primeiro devemos
ter o cuidado para saber diferenciar estrelas binárias reais
(duas estrelas próximas no céu que se encontram à mesma
distância da Terra, formando um sistema físico) e binárias
aparentes – ou estrelas duplas aparentes (duas estrelas
próximas no céu, porém, que se encontram a distâncias
diferentes da Terra, mas por projeção parecem duplas).
Mais de 50% das estrelas do céu compõem sistemas
com dois ou mais membros.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos de estrelas binárias e
esperamos que ao final você esteja apto a:
• definir o que é uma estrela binária;
• diferenciar os tipos de sistemas binários;
• calcular a massa das estrelas em sistemas
binários;
• entender a importância dos sistemas
binários para conhecer as massas das
estrelas.

Por que estudar estrelas


binárias?
Estrelas binárias
São duas ou mais estrelas próximas que estão
praticamente a mesma distância da Terra, formam um
sistema físico, orbitando mutuamente.
Mais de 50% das estrelas do céu compõem
sistemas com dois ou mais membros. Desde 1783 se tem
registro de evidências de estrelas binárias.

Estrelas binárias

São duas estrelas próximas Figura 02.02.01: Sistema binário eclipsante Algol.
que estão praticamente à
mesma distância da Terra Um breve histórico das estrelas binárias
e formam um sistema
físico, orbitando Em 1783, John Goodricke viu a estrela Algol (β
mutuamente. Persei) diminuir seu brilho em mais de uma magnitude por
Estrelas binárias aparentes
algumas horas,e calculou seu período em 2d 20 h 49min.
Em 1804, William Herschel descobriu uma companheira
São duas estrelas que fraca da estrela Castor (a Geminorum) e, usando uma
parecem estar próximas medida que James Bradley havia feito em 1759, mediu o
no céu, mas estão a
distâncias diferentes da
período como sendo de 342 anos. Herschel foi o primeiro a
Terra e só parecem duplas estabelecer que se tratavam de corpos interagindo
pelo efeito da projeção. gravitacionalmente, isto é, de binárias físicas. Em 1827, Felix
Savary determinou, pela primeira vez, a órbita de uma
estrela binária, ao mostrar que ξ Ursae Majoris tinha uma
órbita elíptica, com um período de 60 anos. Em 1889,
Edward Charles Pickering e Antonia Caetana de Paiva
Área 2, Aula 2, p.2
Pereira Maury descobriram as binárias espectroscópicas,
Müller, Saraiva & Kepler
ao perceberem que a estrela Mizar A (ζ Ursae) apresentava
linhas duplas que variavam com um período de 104 dias.
Em 1908 Mizar B foi também detectada como uma binária
espectroscópica por Edwin Brant Frost 1866 – 1935) e
Friedrich Wilhelm Hans Ludendorff (1873 - 1941), com um
período de 175,6 dias.

Figura 02.02.02: O sistema binário Castor, a estrela mais brilhante da


constelação de Gemeos (1,6 mag), que está a 45 anos-luz da Terra e é
composto de duas estrelas separadas de 6 segundos de arco e com um
período de 350 anos.

Figura 02.02.03: Imagem atual obtida com o interferômetro ótico Navy


Prototype Optical Interferometer no Arizona, com seis telescópios,
compreendendo 15 minutos de arco, de Mizar A (2,27 mag), uma binária
espectroscópica descoberta em 1889, Mizar B (3,95 mag), a 15 segundos
de arco de distância, e a estrela variável Alcor (4,04 a 4,07 mag).

Figura 02.02.04: Posição de Mizar na constelação de Ursa Major, também


conhecida como Big Dipper, do hemisfério norte.
Área 2, Aula 2, p.3
Müller, Saraiva & Kepler
Tipos de Sistemas Binários
Existem quatro tipos de sistemas binários e eles são
classificados conforme as suas descobertas (histórico).
- Binárias visuais
São classificados como binárias visuais os pares de
estrelas que estão associadas gravitacionalmente que se
separam por dezenas e até centenas de unidades
astronômicas. Ao serem observadas por telescópio são vistas
como duas estrelas. (Exemplos nas figuras 02.02,05 e 02.02.06).

Figura 02.02.05: Binárias visuais Mizar e Alcor.

Figura 02.02.06: Sistema binário visual Sírius A e Sírius B.

- Binárias astrométricas
São assim classificadas quando um de seus
componentes é muito tênue para ser observado ao telescópio,
mas a sua detecção é obtida pelas ondulações no movimento
da companheira mais brilhante. (Exemplo na figura 02.02.07).

Figura 02.02.07: Movimento do sistema Sírius A e Sírius B medido entre 1980 e


1920. A linha pontilhada marca o movimento do centro de massa. Antes da
descoberta de Sírius B, em 1862, apenas o movimento de Sírius A era detectado,
e a estrela era classificada como binária astrométrica.

Área 2, Aula 2, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
- Binárias espectroscópicas
Nesse sistema a separação média entre as estrelas é
na ordem de uma unidade astronômica (1 UA). Por
apresentarem um período curto, a velocidade orbital é
grande. Para determinar a natureza desse sistema de estrelas
binárias faz-se a observação da variação da sua velocidade
radial, estabelecida através da análise das linhas espectrais
da estrela que variam de comprimento de onda com o passar
do tempo. (Exemplos nas figuras 02.02.08 e 02.02.09).

Tipos de Sistemas
Binários

-Visuais
-Astrométricos
-Espectroscópicos
- Eclipsantes

Três posições
características de um
sistema binário e o efeito
produzido no espectro
observado quando
como de uma linha de
visada paralela à
página, de baixo para Figura 02.02.08: Dois espectros de Mizar obtidos por Pickering em 27 de março
cima. e 5 de abril de 1887. Notar como a segunda linha (uma linha do cálcio)
aparece dupla no primeiro espectro e simples no segundo. Não se nota a
duplicidade da primeira linha (que é uma linha do hidrogênio) no primeiro
espectro porque a linha é muito forte.

Figura 02.02.09: Três posições características de um sistema binário e o efeito


produzido no espectro observado quando como de uma linha de visada
paralela à página(isto é vista de cima), de baixo para cima.
. Na figura da esquerda, a estrela azul está se aproximando do observador,
então as linhas espectrais características dela aparecem deslocadas para o
azul; a estrela vermelha está se afastando, então as suas linhas espectrais
aparecem deslocadas para o vermelho. Na figura do centro os movimentos
das estrelas não têm componentes na direção de visada, então as linhas
ficam superpostas. Na figura da direita a estrela azul está se afastando e a
estrela vermelha está se aproximando, então as linhas da estrela azul ficam
deslocadas para o vermelho e as linhas da estrela vermelha ficam deslocadas
para o azul.

- Binárias eclipsantes
São classificadas assim os sistemas em que uma estrela
eclipsa a outra, quando a órbita do sistema observado está
de perfil para o observador.
Confira uma bonita animação de eclipsantes,
disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrela_bin%C3%A1ria#Bin.
C3.A1rias_astrom.C3.A9tricas

Área 2, Aula 2, p.5


Müller, Saraiva & Kepler
Determinação da Massa de um Sistema Binário Visual

O movimento de cada estrela constituinte de um


sistema binário ocorre em torno do centro de massa do
mesmo. É mais simples observar o movimento de apenas uma
das estrelas, geralmente a mais fraca em torno da mais
brilhante. Tal observação indica a órbita relativa aparente.
Essa órbita tem a mesma forma das órbitas de cada
uma das estrelas, sendo que a de maior massa fica no foco da
órbita relativa. Só se pode determinar com precisão as órbitas
relativas dos sistemas de período pequeno (poucas centenas
de anos). Os dois parâmetros observados são o período (P) e o
ângulo de separação aparente ( α ).
Sendo r a distância do sistema ao Sol e, o semieixo
maior da órbita relativa, a, será dado por:
a = r senα ,

onde a terá a mesma unidade de r.


Também é possível calcular o valor da separação
angular diretamente em UA. Como senα = α (rad) , para
ângulos pequenos, 1 rad = 206.265” e 1 pc = 206.265 UA, pode-
se afirmar que:
α (")
a(pc)= r (pc) x , ou
206.265

a ( UA) = α ( " ) x r ( pc ) .

A soma das massas das duas estrelas é obtida pela 3ª


Lei de Kepler:
4π 2 (r x α )3
(M1 + M2 )= x ,
G P2
sendo as massas (M1 e M2 ) expressas em massas solares e
período (P) em anos,

(r x α )3
(M 1 + M2 )=2 .
P
Para descobrir a massa de cada estrela é necessário
saber a distância r de cada estrela ao centro de massa do
sistema. Dessa forma teremos:
M1 r2
= .
M2 r1

Figura 02.02.10: Esquema de um sistema binário visual, CM representa o centro


de massa do sistema.

Área 2, Aula 2, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Exemplo 1
Dado o sitema binário visual da figura 02.02.11,
vamos determinar a massa de cada uma das estrelas, Sírius
A e Sírius B, que tem órbita relativa com semieixo maior de
7,50". A distância do Sol a Sírius é de 2,67 pc (1 pc = 206.265
UA). O período orbital do sistema é de 50 anos.

3ª Lei de Kepler

O quadrado
Figura 02.02.11: Esquema do sistema binário visual de Sirius A e Sirius B.
do período
orbital (P)dos
planetas é a) Qual é a massa desse sistema?
diretamente
proporcional
( MA + MB ) 502 =
(7,50 " x 2,67 pc)
3
ao cubo de ,
sua distância
média (r)ao
8 030,03
Sol. (M A +M
=B ) = 3,21 M .
2 500
P2 = K.r 3

Gravitação Universal b) Se a distância de Sírius B ao centro de massa é o


dobro da distância de Sírius A ao centro de massa, qual é a
G.M.m massa e cada estrela?
F= ,
r2
onde: MA rB
F = força = = 2,
gravitacional, MB rA
G = constante
universal. (M A )
+ MB = 2 MB + MB= 3,21M .
M= massa de um dos M
=B 1,07 M → M=
A 2,14 M .
corpos,
m = massa do outro
corpo. Determinação de Massas de Binárias
Espectroscópicas de Linhas Duplas

Para a determinação de massas de binárias


espectroscópicas faz-se uso do Efeito Doppler (figura
02.02.12). O comprimento de onda de uma fonte que está
se movendo com velocidade v, com a necessidade de
correção relativística, é dado por:
1/2
 
∆λ v  1 
= cos θ   ,
λ c  v
2

 1− 2 
 c 
sendo θ é o ângulo entre o vetor velocidade e a linha
visada.

Área 2, Aula 2, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Efeito Doppler Figura 02.02.12: Esquema ilustrativo do Efeito Doppler indicando que
quando diminui o comprimento de onda da luz a cor assume tom azul e,
Devido ao movimento da quando o comprimento de onda da luz aumenta e a cor assume tom
fonte geradora da onda, vermelho.
que se aproxima ou se
Se a velocidade for muito menor que a velocidade
afasta de quem observa,
ocorre uma alteração no da luz (c) e considerando-se v como a componente de
comprimento de onda (ou velocidade na direção do observador teremos:
na frequência detectada).
Ao se aproximar a ∆λ vr
frequência aparente = .
aumenta (o comprimento
λ c
de onda diminui), ao se
afastar a frequência
aparente diminui (o
comprimento de onda
aumenta).

Efeito Doppler com fontes


luminosas

Um aumento na frequência
é chamado de
deslocamento para o azul;
Uma redução na
frequência é chamado de
deslocamento para o
vermelho.

Figura 02.02.13: Gráfico v x t de duas estrelas, formando um sistema de


estrelas binárias espectroscópicas de linhas duplas.

Figura 02.02.15: Estrelas binárias separadas por distâncias d1 e d2 do centro


de massa.

Vamos determinar as massas de binárias


espectroscópicas:
Seja a1 a separação da componente 1 ao centro de
massa e seja v1 a sua velocidade orbital.

Logo
2. π . a1 = v1 . P e 2. π . a2 = v2 . P e,
Área 2, Aula 2, p.8
Müller, Saraiva & Kepler
por definição de centro de massa:
M1 . a1 = M 2 . a2 .

Dessa forma temos:

a1 M2 v1
= = ,
a2 M 1 v2

sendo M a massa do Sol. Usando a 3ª lei de Kepler:

M1 + M 2 (a / UA)3
= .
M (P / ano)2

Figura 02.02.16: Esquema explicativo para estrelas binárias: i é o ângulo


entre o observador e a normal ao sistema binário, v é a velocidade radial.

Exemplo 2
Seja um sistema binário de período 17,5 dias (0,048
anos), e com velocidades v1 = 75 km/s, e v2 = 25 km/s. Qual é
a massa de cada estrela?

M 2 v1 75
= = =3 ⇒ M2 =3 M1 ,
M 1 v2 25
v1 + v2 = 75 + 25 = 100 km / h ⇒( a1 +a2 )=

100km / s x17,5dias
= 24.000.000 =km 0,16 UA.

a3 0,163
(M 1 + M 2)= = = 1,78 M ,
P2 0,0482
mas como:
M 2 = 3 M1 → 4 M 1= (M 1+ M 2),
M 1= 0,44 M ,
M 2 = 1,33 M .

Na realidade, a medida é o limite inferior das massas,


pois
v1med = v1 . seni,
v2 med = v2 . seni,
a1med = a1 . seni,
a2 med = a2 . seni .

Área 2, Aula 2, p.9


Müller , Saraiva & Kepler
E, portanto temos:

(M 1+ M 2)real (a1 + a2 )3 1
= = .
(M 1+ M 2)med (a1 + a2 )med sen3 i
3

Sabemos que o módulo do seno de qualquer ângulo


é sempre menor ou igual a 1, logo a massa real será maior
ou igual à massa medida.
Existem ainda as chamadas binárias interagentes; as
variáveis cataclísmicas, binárias próximas compostas de
uma estrela vermelha e uma anã branca; as variáveis
simbiônticas, também compostas de uma estrela vermelha
e uma anã branca, mas mais distantes; há as binárias de
raio-X, em que a companheira vermelha orbita uma estrela
de nêutrons ou um buraco negro.
Para saber mais sobre estrelas binárias você pode
acessar o link:
Estrelas Binárias, ou vá para a página:
http://astro.if.ufrgs.br/bin/binarias.htm .

Resumo
O estudo do movimento orbital mútuo das estrelas
em sistemas binários permite determinar as massas das
estrelas.
- Estrelas binárias reais são duas estrelas próximas no
céu que se encontram à mesma distância da Terra,
formando um sistema físico.
- Tipos de sistemas binários:
Binárias Visuais;
Binárias Astrométricas;
Binárias Espectroscópicas;
Binárias Eclipsantes.
- Efeito Doppler:
Devido ao movimento da fonte geradora da onda,
que se aproxima ou se afasta de quem observa, ocorre
uma alteração no comprimento de onda (ou na frequência
detectada).
Ao se aproximar a frequência aparente aumenta (o
comprimento de onda diminui), ao se afastar a frequência
aparente diminui (o comprimento de onda aumenta).
- Efeito Doppler com fontes luminosas:
Um aumento na frequência é chamado de
deslocamento para o azul;
Uma redução na frequência é chamado de
deslocamento para o vermelho.
Graças ao Efeito Doppler sabemos que as estrelas
que constituem um sistema binário têm velocidades distintas
que pelo efeito podem ser determinadas. Fazendo uso da
3ª Lei de Kepler podemos calcular as massas das estrelas
constituintes do sistema binário.
Área 2, Aula 2, p.10
Müller , Saraiva & Kepler
Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!
1. Quais seriam os períodos de revolução de
sistemas binários nos quais cada estrela tem a massa do Sol
e os semieixos maiores de suas órbitas relativas têm os
valores:
a) 1 UA?
b) 2 UA?
c) 20 UA?
d) 60 UA?
e) 100 UA?
2. Para cada item do problema anterior, a que
distância as duas estrelas pareceriam ter uma separação
angular de 1”?
a) 1 UA.
b) 2 UA.
c) 20 UA.
d) 60 UA.
e) 100 UA.
3. ξ Ursa Maior é um sistema binário cuja órbita tem
um semi-eixo maior de 2,5”. A paralaxe do sistema é 0,127”,
e o período é de 60 anos. Qual é a massa do sistema, em
massas solares?
Até a próxima aula!

Área 2, Aula 2, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 3 – O Sol: a nossa estrela. Área 2, Aula 3.

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Foto do Sol obtida pela estação


espacial Skylab da Nasa em 19
de dezembro de 1973,
mostrando uma das mais
espetaculares proeminências
solares já filmadas, atingindo
mais de 588.000 km.

Introdução
Prezado aluno, em nossa terceira aula, da segunda
área, vamos tratar do Sol, a nossa estrela. O Sol, nossa
fonte de luz e de vida, é a estrela mais próxima de nós e a
que melhor conhecemos. Basicamente, é uma enorme
esfera de gás incandescente, em cujo núcleo acontece a
geração de energia através de reações termo-nucleares.
O estudo do Sol serve de base para o conhecimento das
outras estrelas, que de tão distantes aparecem para nós
como meros pontos de luz.
Apesar de parecer tão grande e brilhante (seu
brilho aparente é 200 bilhões de vezes o brilho de Sírius, a
estrela mais brilhante do céu noturno), na verdade o Sol é
uma estrela bastante comum.

Figura 02.03.01: Pôr do Sol em Porto Alegre.

Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos do Sol e de suas características.
Esperamos que ao final você esteja apto a:
• identificar e caracterizar as manchas solares e
granulações e em que zona do Sol elas se
localizam;
• reconhecer e explicar a estrutura interna do Sol;
• identificar e caracterizar os flares e o vento
solar;
• explicar a formação das auroras;
• definir a constante solar, aplicando-a na
determinação da luminosidade do Sol;
• identificar e explicar a fonte de energia do Sol.

Sol, que maravilha é essa que


possibilita energia e luz
necessárias para manutenção
da vida?
O Sol é o objeto mais proeminente em nosso sistema
solar. É o maior objeto e contendo aproximadamente 99,8%
da massa total do sistema. Seu diâmetro é 109 vezes o
diâmetro da Terra, de forma que em seu interior caberiam 1,3
milhões de Terras. A camada externa visível do Sol é chamada
fotosfera, está a uma temperatura de aproximadamente
6.000 °C. Esta camada tem uma aparência turbulenta devida
às erupções energéticas que lá ocorrem.
A energia solar é gerada no núcleo do Sol. Lá, a
temperatura (15.000.000 °C) e a pressão (340 bilhões de vezes
a pressão atmosférica da Terra ao nível do mar) são tão
intensas que ocorrem reações nucleares. Estas reações
transformam quatro prótons, que são núcleos de átomos de
hidrogênio, em uma partícula alfa, que é o núcleo de um
átomo de hélio. A partícula alfa é aproximadamente 0,7%
menos massiva do que quatro prótons. A diferença em massa
é expelida como energia e carregada até a superfície do Sol,
sendo liberada em forma de luz e calor. A energia gerada no
interior do Sol leva um milhão de anos para chegar à
superfície. A cada segundo 600 milhões de toneladas de
hidrogênio são convertidos em hélio e 5 milhões de toneladas
de energia pura são liberadas; portanto, com o passar do
tempo, o Sol está se tornando mais leve.

Área 2, Aula 3, p.2.


Müller, Saraiva & Kepler
Características do Sol

Tabela 02.03.01: Características do Sol.

Massa M = 1,989 x 1030 kg

Raio R = 695.500 km = 109x RTerra

Densidade média ρ = 1.409 kg/m3

Densidade central ρc = 160. 000 kg/m3

Distância 1 UA = 149.600.000 km

Dados Gerais do Sol Luminosidade L=3,9×1026 W=3,9×1033 ergs/s

- Maior objeto do sistema Temperatura efetiva Tef = 5.785 K


solar.
Temperatura central Tc = 15.000.000 K
- Diâmetro:
Magnitude absoluta bolométrica Mbol = 4,72
1.391. 980 km.
Magnitude absoluta visual MV = 4,79
-Temperatura da superfície
visível: Tipo espectral e classe de luminosidade G2 V
aproximadamente
6.000 oC. Índices de cor B-V=0,62

- Distância média à Terra: U-B=0,10


≅ 1,5x108 km. Composição química principal (No de
Hidrogênio = 91,2%
partículas)
-Composição:
Gás (H e He) Hélio = 8,7%
incandescente.
Oxigênio = 0,07%
- Geração de energia:
Carbono = 0,03%
Reações termonucleares.
Período rotacional no equador 25,67 d

Período rotacional na latitude 75° 33,40 d

Algumas das características listadas na tabela 1 são


obtidas mais ou menos diretamente. Por exemplo, a distância
do Sol, chamada Unidade Astronômica, é medida por ondas
de radar direcionadas a um planeta em uma posição
favorável de sua órbita (por exemplo, Vênus, quando Terra e
Vênus estão do mesmo lado do Sol e alinhados com ele). O
tamanho do Sol é obtido a partir de seu tamanho angular e
da sua distância. A massa do Sol pode ser medida a partir do
movimento orbital da Terra (ou de qualquer outro planeta)
usando a Terceira Lei de Kepler. Sabendo então sua massa e
seu raio temos a densidade média do Sol.
Outras características são determinadas a partir de
modelos. Por exemplo, a equação de equilíbrio hidrostático,
permite determinar a pressão e a temperatura no centro do
Sol, supondo que elas têm que ser extremamente altas para
suportar o peso das camadas mais externas.

Área 2, Aula 1, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Estrutura do Sol
A figura 02.03.02 ilustra um modelo que representa as
principais regiões do Sol.

Figura 02.03.02: Estrutura do Sol.

Estrutura do Sol
A fotosfera é a superfície visível do Sol. As camadas
Núcleo, externas à fotosfera constituem a atmosfera do Sol, composta
zona radiativa, pela estreita cromosfera, e pela extensa e rarefeita coroa. As
zona conectiva, camadas internas à fotosfera constituem o interior do Sol,
fotosfera,
composto pelo núcleo, pela camada convectiva e pela
cromosfera e
coroa. camada radiativa.

Interior do Sol

O núcleo é a região mais central, onde a energia é


produzida, tendo temperatura na ordem de 15 milhões de
kelvins. Em torno do núcleo está a zona radiativa, onde a
energia se propaga por radiação, isto é, não há movimento
das moléculas de gás; são os fótons que transportam a
energia gerada no núcleo. Envolvendo a camada radiativa
existe zona convectiva, com aproximadamente 15% do raio
solar; nessa região a energia se propaga por convecção,ou
seja, pelo movimento de moléculas do gás .(Na convecção
há transporte mecânico que ocorre pela diferença de
temperatura. O gás mais quente, sendo menos denso, se
afasta do centro gravitacional).
Fotosfera

A fotosfera solar
- Espessura: 500 km.
- Camada visível do
Sol, coberta por É a região que emite a luz solar que se propaga no
granulações espaço, ou seja, é a superfície visível do sol. A luz que vemos
fotosféricas. quando olhamos para o Sol se origina na fotosfera. Com
Região em que se
localizam as aparência de um líquido em ebulição, apresenta-se coberta
manchas solares. de bolhas ou grânulos. Este fenômeno é denominado
granulação fotosférica.

Área 2, Aula 1, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Granulações
Figura 02.03.03: As células de convecção aparecem em detalhe na foto C
Bolhas de gás que desta sequência, que é uma ampliação da região quadrada marcada na
assomam à superfície do foto do centro, que por sua vez é uma ampliação da região marcada na
Sol no topo da camada foto A.
convectiva: gás quente.
sobe, gás frio desce. A duração dos grânulos é de aproximadamente
Diâmetro das bolhas 10 min e o diâmetro chega a 5.000 km. Eles indicam os topos
≅ 5.000 km.
Duração ≅ 15 min.
das colunas convectivas do gás que se originam na zona
convectiva, logo abaixo da fotosfera. Entre os grânulos há
regiões escuras onde o gás mais frio, e por isso, mais denso,
escorre para baixo. É na fotosfera que se percebe um
fenômeno notável: as manchas solares.

Figura 02.03.04: Foto do Sol em luz branca, mostrando algumas manchas


solares.

Manchas solares são regiões irregulares que


Cuidado aparecem mais escuras que a fotosfera circundante e que
muitas vezes podem ser observadas a olho nu. Elas são
Olhar o Sol de forma direta
é extremamente perigoso, constituídas de duas partes; a umbra, parte central mais
a não ser que ele esteja escura com temperatura de 3.800 K, e a penumbra,
na linha do horizonte. formando uma estrutura radial ao redor da umbra, um pouco
mais clara que a mesma. As manchas solares estão
associadas a intensos campos magnéticos existentes no Sol,
e tendem a se formar em grupos, tendo uma duração
aproximada de uma semana.
O número de manchas solares varia entre máximos e
mínimos em um ciclo de 11 anos (ciclo de atividade solar),
ciclo esse que foi descoberto apenas em 1843, pelo
astrônomo alemão Samuel Heinrich Schwabe, e é ilustrado
na figura 02.03.05.

Área 2, Aula 1, p.5


Müller, Saraiva& Kepler
Manchas Solares

Regiões mais escuras


da fotosfera, com
temperaturas de
aproximadamente
4.000 K.
Duram em torno de
uma semana.
Tendem a se formar
em grupos.
Associadas a intensos
campos magnéticos.
Têm um ciclo de 11
anos.

Vídeo de Manchas
Solares. Figura 02.03.05: Variação do número médio mensal de manchas solares
entre os anos 1700 e 2000.

A cromosfera
É uma camada rarefeita e estreita, de cor
avermelhada, que envolve a fotosfera. Por ter uma radiação
bem mais fraca do que a fotosfera, normalmente a
cromosfera não é visível, a não ser em eclipses, quando a
Cromosfera Lua encobre o disco da fotosfera, veja a figura 02.02.06. A
cromosfera tem uma espessura de 10.000 km e sua
É uma camada temperatura que varia de 4.300 K na base até mais de
estreita e rarefeita
que envolve a
40.000 K no topo a 2.500 km de altura. O aquecimento da
fotosfera. cromosfera possivelmente não é originado por fótons
Espessura: 10.000 km. provenientes do interior do Sol, pois se a energia fosse
Temperatura: de gerada por fótons a cromosfera deveria ser mais fria do que
4.300 K até 40.000 K.
a fotosfera, e não mais quente como realmente é. Na
atualidade se pressupõe que a fonte de energia são
campos magnéticos variáveis formados na fotosfera e
conduzidos para a coroa por correntes elétricas, dissipando
parte de sua energia na cromosfera.
Imagens com filtro na linha alfa do hidrogênio (H-alfa)
mostram jatos de gás se elevando da cromosfera para a
coroa. Essas estruturas são chamadas espículas. Alcançam
alturas de 10.000 km e duram entre 5 e 10 minutos.

Figura 02.03.06: Foto do Sol, tirada por Kepler Oliveira, durante o eclipse total
de 4 de novembro de 1994, em Santa Catarina. A foto mostra a cromosfera
e, principalmente, a coroa solar.

Área 2, Aula 1, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
A coroa
Gradualmente a cromosfera se funde na coroa, que é
a camada mais externa e mais rarefeita da atmosfera do Sol.
Embora tenha um brilho similar ao da Lua Cheia, ela fica
completamente obscurecida enquanto a fotosfera é visível,
por isso só é observada em luz visível em eclipses totais, ou
com instrumentos especiais. O espectro da coroa mostra
linhas muito brilhantes que são produzidas por átomos de
Coroa
ferro, níquel, neônio e cálcio altamente ionizados; esses
Camada mais externa processos de ionização demandam muita energia, o que
da atmosfera solar. indica que a temperatura da coroa deve ser muito alta, em
Extensão: de 2 a 10 raios
torno de 1 milhão de kelvins.
solares.
Temperatura: até 106 K. A elevação da temperatura da coroa deve ter a
Perda de massa ocorre mesma origem do processo físico responsável pelo
pelos ventos solares e aquecimento da cromosfera, ou seja, o transporte de energia
pelos flares.
originado por correntes elétricas induzidas nos campos
magnéticos variáveis.
É da coroa que emana o vento solar, um contínuo
fluxo de partículas, principalmente prótons e elétrons, que é
emitido da coroa, provocando uma perda de massa do Sol
de cerca de 10 −13 M ao ano. O vento solar tem densidade
média de 7 prótons por centímetros cúbicos e velocidade de
aproximadamente 400 km/s.
Vento Solar Ao entrar na magnetosfera da Terra ele é capturado,
formando o chamado Cinturão de Van Allen. Tal cinturão foi
Partículas emanadas descoberto pelo físico americano James Alfred Van Allen
das regiões ativas do
(1914 - 2006) em 1958. O cinturão de partículas só entra em
Sol.
Velocidade de 300 a contato com atmosfera da Terra nos polos onde causa os
800 km/s. fenômenos conhecidos como auroras. Veja a figura 02.03.07.
Causa perda de massa
Auroras são fenômenos luminosos provocados pela
do Sol em torno de
10-13 massas solares por
excitação e desexcitação dos átomos de oxigênio ao
ano. colidirem com as partículas carregadas do vento solar. As
Causa as auroras na auroras acontecem tanto nas altas latitudes do hemisfério
Terra. norte - as auroras boreais -, quanto nas altas latitudes do
hemisfério sul- as auroras austrais.
Auroras

Fenômeno luminoso
provocado pela
interação do vento solar
com a atmosfera
superior da Terra.
Ocorrem em grandes
variedades de cores, as
mais comuns são
verdes. Isso ocorre
devido a que gases
emitem luz em
diferentes cores. O
oxigênio emite luzes no
vermelho e no verde, o
Figura 02.03.07: Esquema mostrando as partículas carregadas desviadas pelo
nitrogênio emite luz
campo magnético da Terra para o Cinturão de Van Hallen, (à esquerda) e o
vermelha.
cinturão de Van Allen (à direita), formado pelas partículas do vento solar
capturadas pelo campo magnético da Terra.
Proeminências
Em períodos em que o Sol está mais ativo, podem ser
Grandes jatos de gás
que se elevam acima
vistas no limbo solar grandes arcos brilhantes, constituídos de
da fotosfera. plasmas mais frios suspensos na coroa pelo campo
magnético. Esses arcos são chamados proeminências.
Quando vistos contra o disco brilhante (em vez de na borda)
aparecem como filamentos escuros, e são chamados
filamentos. Mas filamentos e proeminências são estruturas
idênticas. Essas estruturas podem durar horas ou até meses.
As figura 02.03.08 e 02.03.09 mostram proeminências.
Área 2, Aula 3, p.7
Müller, Saraiva & Kepler
Grandes explosões na superfície do Sol são chamadas
de flares ou fulgurações. São ocasionadas pelo
armazenamento de energia em campos magnéticos do Sol,
que é liberada quando o campo fica muito intenso. Grandes
flares podem gerar grandes proeminências que vencem o
campo magnético e se desprendem da coroa, liberando gás
ionizado junto com energia. Esses fenômenos são chamados
de ejeção de massa coronal, e um exemplo pode ser visto na
figura 02.03.09. A energia liberada pode atingir o valor
Flares equivalente à 100 milhões de bombas nucleares.

Grandes explosões na
superfície do Sol.
Gerado pelo
armazenamento de
energia em campos
magnéticos; é liberada
quando o campo fica
muito denso.
Energia liberada
≅ 100 milhões de bombas
nucleares. Figura 02.03.08: Foto do Sol obtida pela estação espacial Skylab da Nasa em
19 de dezembro de 1973, mostrando uma das mais espetaculares
proeminências solares já filmadas, atingindo mais de 588.000 km.

Figura 02.03.09: Fotos Ejeção Coronal de Massa em 14 de setembro de 1999,


fotografada pelo SOHO em 3.040 Å.
As grandes ejeções de massa coronal associadas às
proeminências viajam a aproximadamente 1milhão km/h e
levam de um a quatro dias para alcançar a Terra. Quando
atingem a Terra, têm milhões de quilômetros de extensão e
podem causar:
• danos a satélites, também causados pelo
aumento da fricção provocada pela expansão
da atmosfera;
• erro no posicionamento de navios e aviões de
vários quilômetros, tanto pelo sistema GPS
(Global Positioning System- GPS) quanto pelos
sistemas Loran e Omega (8 transmissores
distribuídos pela Terra), pelas instabilidades no
plasma da ionosfera terrestre geradas pelas
ejeções de massa coronal, causando cintilação
na amplitude e fase do sinal e reduzindo o
número de satélites disponíveis de 8 a 10 para
até 4. Em geral essas instabilidades duram menos
de 10 minutos, mas já ocorreram casos em que o
sistema ficou fora do ar por até 13 horas;
• danos às redes de energia elétrica, induzindo
voltagens de milhares de volts e queimando
transformadores;
• danos nas tubulações metálicas de gaseodutos,
já que as correntes induzidas aumentam
drasticamente a corrosão;
• aumenta também a incidência de radiação
ionizante nas pessoas, principalmente em vôos
Área 2, Aula 3, p.8 de alta altitude, como vôos supersônicos e
Müller, Saraiva & Kepler
astronáuticos.
O penúltimo máximo do ciclo de 11 anos ocorreu em
1989 e logo após uma grande proeminência solar, a rede
elétrica na província de Quebec, no Canadá, sofreu uma
grande sobrecarga elétrica que causou vários danos aos
equipamentos. Algumas regiões da província ficaram até
duas semanas sem luz elétrica. Em 1994, o satélite de
comunicações E2 teve alguns circuitos queimados por uma
sobrecarga estática, também associada com a ejeção de
uma nuvem de plasma solar. O máximo do último ciclo solar
ocorreu em 15 de fevereiro de 2001, quando o campo
magnético solar reverteu de polaridade.
O pico de máxima atividade do atual ciclo solar deve
ocorrer em 2012.

Constante Solar
A Energia do Sol
Quantidade de energia
solar que chega, por
unidade de tempo e por Logo após ser determinada a distância do Sol, em
unidade de área, a uma 1673, foi possível determinar a sua luminosidade, que é a
superfície perpendicular
aos raios solares, á potência por ele produzida.
distância média Terra- Sol. Constante Solar (Irradiação Solar)
Valor: 1.367 W/m2.
Corresponde a energia solar que atinge a Terra, por
Seu valor varia
dependendo do ciclo de unidade de área normal aos raios solares (utilizando a
11 anos. distância média Terra – Sol) e por unidade de tempo. Seu valor
é 1.367 W/m2, mensurado por satélites logo acima da
superfície da Terra. Porém, seu valor varia, dependendo da
época no ciclo de 11 anos, de 1.364,55 W/m2 a 1.667,86 W/m2.
As medidas feitas por satélites logo acima da Terra
indicam que cada metro quadrado da Terra recebe do Sol
cerca de 1.400 joules de energia por segundo (1.400 watts), o
que equivale à potência de 14 lâmpadas de 100 W. O valor
mais preciso da constante solar é de 1.367,5 W/m2, e tem uma
variação de 0,3% durante o ciclo solar de 11 anos.

Luminosidade do Sol

É a quantidade de
energia que um corpo Figura 02.03.10: Irradiação solar x ano. As diferentes cores indicam medidas
irradia por unidade de feitas por diferentes satélites, O gráfico mostra que a constante solar varia
área. periodicamente entre 1.364,55 W/m2 a 1.667,86 W/m2.
Obtida pelo produto da
constante solar pela área Luminosidade do Sol
da esfera compreendida
pela órbita da Terra ao
A luminosidade do Sol é obtida pelo produto da
redor do Sol. constante solar pela área da esfera compreendida pela
Valor: 3,9x1026 W. órbita da Terra em torno do Sol, seu valor é de:
3,9 x 1026 W = 3,9 x 1033 ergs/s,
Área 2, Aula 3, p.9
Müller, Saraiva & Kepler
Para se ter uma ideia comparativa, tal quantidade de
energia é equivalente à queima de aproximadamente
7,5 x 1020 litros de gasolina por minuto, ou aproximadamente
10 milhões de vezes a produção de petróleo anual do nosso
planeta.

Fonte de energia do Sol


No século XIX os astrônomos já sabiam que a energia
produzida pelo Sol não poderia ser gerada por combustão,
pois dessa forma o Sol só brilharia por 10 mil anos.
Em 1854 o físico alemão Hermann Ludwig Ferdinand
Von Helmholtz (1821 - 1894) propôs que a energia do Sol fosse
devida ao colapso gravitacional, mas também não foi
adequado, pois dessa forma a energia só poderia manter a
luminosidade do Sol por cerca de 20 milhões de anos,
enquanto evidências geológicas indicam que o Sol tem uma
idade de 4,5 bilhões de anos.
Em 1937, Hans Albrecht Bethe (1906 - 2005) propôs que
a energia seria gerada pelas reações termonucleares,
proposta essa aceita até os dias atuais.
Fonte de Energia do Sol Nessas reações quatro prótons são fundidos em um
núcleo de hélio, com liberação de energia. O Sol tem
Reações termonucleares,
obtidas pela fusão de 4
hidrogênio, fonte primária desse processo, suficiente para
núcleos de hidrogênio manter essas reações por bilhões de anos. À medida que
(4 prótons) em 1 núcleo de diminui, gradualmente, a quantidade de hidrogênio,
hélio ( α ). aumenta a quantidade de hélio no núcleo.

Figura 02.03.11: Processo de fusão do hidrogênio,


4H → He4 + 2 e+ + 2υe + δ .

Segundo os modelos de evolução estelar, daqui a


cerca de 1,1 bilhões de anos, o brilho do Sol será 10% maior, o
que ocasionará a elevação da temperatura da Terra,
aumentando o vapor de água na atmosfera, vapor esse que
é uma causa do efeito estufa. Daqui a cerca de 3,5 bilhões
de anos, o Sol terá seu volume acrescida de
aproximadamente 40% do volume atual, o calor será tão
forte que os oceanos secarão completamente, ampliando
ainda mais o efeito estufa.
Daqui a uns 6 bilhões de anos o Sol terá consumido o
hidrogênio do núcleo e vai se transformar em uma gigante
vermelha, com um volume preenchendo aproximadamente
até a órbita da Terra. Durante cerca de 1 bilhão de anos ele
viverá às custas da queima do hélio no núcleo, até esse hélio
também se esgotar. Sem novas fontes de energia nuclear o
Sol começará a morrer.

Área 2, Aula 3, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Resumo
Sol é o maior objeto do sistema solar, com distância
média à Terra de 149.597.892 km (1 UA). Em sua estrutura
apresenta o núcleo, a zona radiativa, a zona conectiva, a
fotosfera, a cromosfera e a coroa.
O Sol é composto de hidrogênio e hélio
incandescente. No núcleo a energia é produzida por
reações de fusões termonucleares de 4 núcleos de
hidrogênio em um núcleo de hélio, partícula α .
Na fotosfera estão as manchas solares, regiões mais
escuras que duram cerca de uma semana. As manchas
solares aumentam e diminuem de número num ciclo de 11
anos (ciclo de atividade solar) e estão associadas a intensos
campos magnéticos. Também na fotosfera estão as
granulações, pequenas regiões brilhantes circundadas por
regiões escuras que são bolhas de gás que assomam à
superfície no topo da camada convectiva, com duração
de aproximadamente 15 minutos.
A cromosfera é uma camada estreita e rarefeita que
só é perceptível quando a fotosfera é coberta, como em
eclipses. Lá estão as espículas, colunas de gás frio. As
proeminências são grandes jatos de gás que se elevam
acima da fotosfera.
Na coroa ocorrem os ventos solares e os flares. Os
ventos solares são partículas emanadas das regiões ativas
do Sol, provocam, na Terra, as auroras. Já os flares são
grandes explosões na superfície do Sol, gerados pelo
armazenamento de energia em campos magnéticos que é
liberada quando o campo se torna muito denso.
As auroras são fenômenos luminosos provocados
pela interação do vento solar com a atmosfera.
A constante solar é a quantidade de energia solar
que chega, por unidade de tempo e por unidade de área,
a uma superfície perpendicular aos raios solares, à distância
média Terra-Sol, com valor 1.367 W/m2. A luminosidade é
obtida multiplicando-se a constante solar pela área da
esfera compreendida pela órbita da Terra em torno do Sol,
com valor de 3,9 x 1026 W.

Questões de Fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Comparado com a Terra, quantas vezes o Sol é


maior em:
a) raio?
b)área?
c) volume?

Área 2, Aula 3, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
2.
a) Quais são os principais elementos que compõem o
Sol?
b) Qual a abundância desses elementos em massa?
c) Qual a abundância desses elementos em números
de partículas?
3. Como se chama a superfície visível do Sol e qual é a
sua temperatura?
4.
a) O que são manchas solares?
b) Qual é o seu ciclo?
5. Que outros fenômenos se observam no Sol,
associados a sua atividade?
6. Como varia a temperatura e a pressão do Sol desde
o centro até a coroa?
7. Como ocorre o transporte de energia do Sol desde o
centro até a superfície?
8. O que é vento solar?
9. Qual é a relação entre o vento solar e as auroras na
Terra?
10. Calcule a massa do Sol, em quilogramas, através do
movimento da Terra em torno dele.
11. Calcule o raio do Sol, em quilômetros, a partir de
seu raio angular de 0,25o, e de sua distância à Terra de 150
milhões de quilômetros.
12. Calcule a densidade média do Sol em kg/m3.
13.
a) O que é constante solar?
b) Quanto vale a constante solar?
14. A partir do valor da constante solar, calcule a
luminosidade do Sol. Dado a distância média Terra-Sol de
150 milhões de quilômetros (1 UA).
15. Se fossemos medir a constante solar em Saturno,
que está 10 vezes mais distante do Sol que a Terra, que valor
seria obtido?
Até a próxima aula!

Área 2, Aula 3, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 4 - Vida Fora da Terra Área 2, Aula 4

Alexei Machado Müller , Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho

Concepção artística de um hipotético


alienígena. Fonte: Astrobiology Magazine
(http://www.astrobio.net/debate/236/complex-
life-elsewhere-in-the-universe).

Introdução
Prezado aluno, em nossa quarta aula, da segunda
área, vamos estudar a procura de vida fora da Terra bem
como as condições necessárias para a existência de vida
em um planeta. Para isso temos que discutir também:
qual é a origem da vida e o que diferencia seres vivos de
simples matéria orgânica. A existência de vida resulta de
uma sequência natural de evolução química e biológica
de matéria pré-existente, regidas pelas leis físicas O
fundamental é que seres vivos são organismos que se
reproduzem, sofrem mutações e reproduzem essas
mutações, passando por uma seleção cumulativa. Para a
vida inteligente se faz necessária mais de centena de
bilhões de células, diferenciadas em um organismo
extremamente complexo e, por isso, necessita de um
longo tempo de processo de seleção natural cumulativa.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos da possibilidade de existência de
vida fora da Terra e esperamos que ao final você esteja apto
a:
• identificar as características biológicas dos seres
vivos e os elementos químicos essenciais para a
vida como a conhecemos;
• definir e caracterizar extremófilos;
• listar as condições necessárias para que um
planeta seja habitável;
• identificar os tipos de estrelas adequadas para
terem planetas habitáveis;
• identificar possíveis locais que poderiam abrigar
(ou ter abrigado) vida, dentro e fora do sistema
solar;
• usar a equação de Drake para estimar o número
de civilizações existentes na Via Láctea com
quem se poderia estabelecer contato;
• reconhecer a dificuldade de realizar viagens a
outras estrelas e seus possíveis planetas.

Estaremos sós no Universo?


Temos aí uma questão muito instigante. A origem da
vida e a existência de vida extraterrestre vêm sendo
focalizadas nos noticiários com grande intensidade desde os
anos 1950, mas de forma crescente nos últimos anos, com a
possível detecção de vida microscópica em Marte, e da
existência de água em forma de oceanos, sob uma manta
congelada, na lua Europa de Júpiter e em Marte. Entre a
existência de vida, simplesmente, e a existência de vida
inteligente, tem uma enorme diferença: a vida na Terra existe
há 3,5 bilhões de anos, mas apenas nos últimos 120.000 anos
temos vida inteligente. Mas, como disse Carl Sagan, em seu
livro Contato, “O universo é um lugar imenso. Se estamos sós,
parece um grande desperdício de espaço”.

O que diferencia seres vivos de


simples matéria orgânica?
No contexto de evolução cósmica, a vida resulta de
uma sequência natural de evolução química e biológica da
matéria pré-existente, regida pelas leis físicas. A regra
fundamental é que os seres vivos são organismos (conjuntos de
células), que têm metabolismo (realizam processos de
transformações químicas à custa de energia), se reproduzem
(fazem cópias do organismo mediante transferência genética),
sofrem mutações (mudam suas características individuais), e
evoluem (reproduzem a mutação, passando por seleção
natural).
A vida na Terra tem uma enorme variedade de formas,
mas todos os tipos de organismos vivos usam os mesmos tipos
de átomos em sua estrutura: carbono, hidrogênio, oxigênio e
nitrogênio. Esses elementos são os componentes básicos dos
Área 2, Aula 4, p.2
aminoácidos – moléculas orgânicas que formam longas
Müller, Saraiva & Kepler
cadeias – constituindo moléculas maiores e mais complexas
chamadas proteínas, responsáveis por determinar as
características dos organismos vivos e realizar todas as suas
funções.
Essas moléculas complexas se formam graças ao
carbono, que tem a capacidade elétrica de se combinar em
longas cadeias. Toda a vida na Terra é baseada no carbono.

A vida na Terra
Vida na Terra

Possivelmente originou-se de A vida na Terra possivelmente se originou a partir de


reações químicas entre
moléculas orgânicas reações químicas entre moléculas orgânicas complexas
complexas presentes na presentes na jovem Terra. Essa hipótese foi testada pela
Terra. primeira vez em um experimento famoso realizado na
Universidade de Chicago por Stanley Miller e Harold Urey. No
experimento eles mostraram que, em uma atmosfera sem
oxigênio livre como seria a atmosfera primordial, a ação de
descargas elétricas – como as proporcionadas por raios – é
possível transformar 2% de carbono em aminoácidos, os
ingredientes básicos da vida.

Figura 02.04.01:O experimentode Miller (na foto) e Urey: o frasco de


baixo contém o "oceano" de água, que ao ser aquecido força vapor
de água a circular pelo aparato. O frasco de cima contém a
"atmosfera", com metano (CH4), amônia (NH3), hidrogênio (H2) e o
vapor de água. Quando uma descarga elétrica (raio) passa pelos
gases, eles interagem, gerando amino ácidos (glicina, alanina,
ácidos aspático e glutâmico, entre outros). 15% do carbono do
metano original combinaram-se em compostos orgânicos.

A atmosfera Primordial
A Terra não se formou com a mesma composição do
Sol, pois nela faltam os elementos primários leves e voláteis,
incapazes de se condensar na região demasiadamente
quente da nebulosa solar onde a Terra se formou. Depois, os
elementos leves secundários foram perdidos pelo proto-
planeta porque sua massa pequena e temperatura elevada
não permitiram a retenção da atmosfera. A atmosfera
primitiva resultou do degasamento do interior quente e era
alimentada através da intensa atividade vulcânica que
perdurou por cerca de 100 milhões de anos após sua
formação. Apesar da ejeção de H2O, CO2, HS2, CH4 e NH3 na
atmosfera, esta não possuía oxigênio livre como hoje, que
poderia destruir moléculas orgânicas. A formação de
moléculas complexas requeria energia de radiação com
comprimentos de onda menores que 2.200Å, providos por
relâmpagos e pelo próprio Sol, já que não havia ainda na
Terra a camada de ozônio que bloqueia a radiação
ultravioleta.

A busca de Vida Fora da Terra

Vários meteoritos encontrados na Terra apresentam


Área 2, Aula 4, p.3 aminoácidos de origem extraterrestre, indicando que os
Müller, Saraiva & Kepler compostos orgânicos existem no espaço.
Embora nenhuma evidência concreta de vida tenha
até agora sido encontrada fora da Terra, os elementos
básicos para sua existência parecem existir em outros lugares.
No meio interestelar, mais de 140 moléculas orgânicas já
foram identificadas; compostos orgânicos também foram
encontrados na atmosfera de Titan, satélite de Saturno.
A lua Europa, de Júpiter, reúne os elementos
fundamentais para a vida: calor, água e material orgânico
Astrobiologia
procedente de cometas e meteoritos.
Ciência que estuda a Outros indicadores de vida são a detecção de
vida no Universo, também oxigênio e de dióxido de carbono. Oxigênio é um elemento
chamada exobiologia.
que rapidamente se combina com outros elementos, de
modo que é difícil acumular oxigênio na atmosfera de um
planeta, sem um mecanismo de constante geração. Um
mecanismo de geração de oxigênio é através de plantas,
que consomem água, nitrogênio e dióxido de carbono como
nutrientes, e eliminam oxigênio. O dióxido de carbono (CO2) é
um produto da vida animal na Terra.
Extremófilos
Um grande impulso à astrobiologia foi proporcionado
Formas de vida primitiva pela descoberta, em 1965, de formas de vida primitiva que
que sobrevive em sobrevivem em ambientes extremos, os chamados
ambientes extremos. extremófilos.

Figura 02.04.02: Bactéria extremófila Polaromonas vacuolata.

Esses seres, em geral, são unicelulares, mas alguns são


pluricelulares. Existem diferentes tipos de extremófilos,
dependendo do tipo de condição extrema que suportam:
temperatura, pressão, acidez, salinidade, gravidade,
radiação, etc.
Por exemplo, aqui na Terra, já foram encontrados
diferentes micro-organismos, que vivem em condições
extremas. Por exemplo:
- a bactéria Polaromonas vacuolata, que vive
quilômetros abaixo da superfície, nos polos, sob temperaturas
dezenas de graus Celsius abaixo de zero; bactérias em uma
mina de ouro da África do Sul a 3,5 km de profundidade;
microorganismos que vivem dentro de rochas, de granito, que
se acreditava completamente estéreis pela completa falta de
nutrientes; micróbios super-resistentes, como o Methanopyrus
kandleri, que vivem no interior de vulcões submarinos, em
temperaturas de até 113 oC.
Essas bactérias se alimentam de gases, como o
metano, e outros elementos químicos, como ferro, enxofre e
manganês. O micróbio Pyrolobus fumarii era a forma de vida
mais resistente às altas temperaturas até 2003. Os cientistas
haviam registrado exemplares desses organismos vivendo a
113oC. Derek Lovley e Kazem Kashefi, ambos da Universidade
de Massachusetts, Estados Unidos, identificaram uma
arqueobactéria (a forma mais primitiva de vida que se
conhece) que se reproduziu em um forno a até 121 oC. Ele foi
encontrado em um vulcão submarino no Havaí. Segundo
Área 2, Aula 4, p.4
Müller, Saraiva & Kepler Lovley, esses microorganismos usam ferro para produzir
energia. Note que os fornos esterilizadores em geral
trabalham a (no máximo) 121 oC. E, outras como as Sulfolobus
acidocaldarius, acidófilos, que vivem em fontes de ácido
sulfúrico. Deinococcus radiodurans é um extremófilo
radiorresistente, que consegue sobriver a doses de radiação
de 5 000 grays. Uma dose de 1 gray equivale à absorção de
1 joule por quiilograma. 10 grays são suficientes para matar
Gray um ser humano.
Em 2010, Felisa Wolfe-Simon e colaboradores do NASA
(Gy) unidade no Sistema
Internacional . Indica a Exobiology and Evolutionary Biology (Exo/Evo) Program e do
quantidade de energia de NASA Astrobiology Institute divulgaram que a bactéria
radiação ionizante Gammaproteobacteria GFAJ-1, encontrada em um lago na
absorvida (ou dose) por Califórnia, é uma extremófila halofílica capaz de substituir o
unidade de massa, onde:
fósforo (P) por arsênico (As) no seu DNA.
-1
1 Gy = 1 J kg
Habitabilidade
a unidade é em
homenagem à Louis Harold
Gray (1905–1965), A busca de vida fora da Terra está vinculada ao
radiologista britânico. conceito de habitabilidade, que define as condições
mínimas que um planeta deve ter para poder desenvolver
vida como a conhecemos.
Essas condições são:
Zona de habitabilidade • que tenha temperatura entre 0 oC e 100 oC, de
forma a possibilitar a existência de água líquida. A
Região que apresenta as
condições mínimas para água líquida é necessária para permitir o
desenvolver vida assim movimento das partículas e a eventual formação
como a conhecemos: de moléculas orgânicas complexas;
- temperatura adequada • que tenha fontes de energia (luz estelar, calor
para existência de água
líquida; interno ou energia química ) para manter o
- fontes de energia para metabolismo;
manutenção do • que seja estável e tenha durabilidade de bilhões
metabolismo;
- zona estável com de anos, para dar tempo de a vida se
durabilidade para desenvolver.
desenvolvimento da vida.
Os planetas que têm essas condições, em geral, são
planetas telúricos que estejam na zona de habitabilidade de
sua estrela, ou seja, a uma distância tal da estrela que a
temperatura seja adequada para a existência da água
líquida. No sistema solar, apenas a Terra está na zona de
habitabilidade do Sol. Vênus já fica muito quente, e Marte já
fica muito frio.

Figura 02.04.03: Na Faixa em azul temos a zona de habitabilidade do sistema


solar.

Vida no Sistema Solar

Apesar de Marte atualmente ser muito frio, é possível


que tenha tido água líquida no passado. Essa ideia é
sustentada pela observação do relevo marciano, mostrando
estruturas que parecem leitos secos de rios, e pela
observação recente de água congelada na sua superfície.
Atualmente não se descarta a possibilidade de que Marte
ainda tenha água líquida abaixo de sua superfície e mesmo
Área 2, Aula 4, p.5 que tenha vida microscópica. O meteorio ALH84001,
Müller, Saraiva & Kepler
proveniente de Marte, mostra depósitos minerais que ainda
estão sob disputa científica se são restos de nanobactérias,
compostos orgânicos simples, ou contaminação ocorrida na
própria Terra.
Os outros possíveis nichos de vida microscópica no
sistema solar são Europa e Titã, satélites de Júpiter e de Saturno,
respectivamente.
Europa
Europa tem a superfície coberta de gelo (60 km de
espessura) com profundas fendas, possivelmente formadas por
Uma das quatro luas de água líquida abaixo de sua superfície. Embora esteja em uma
Júpiter. Luas que têm região muito fria do sistema solar, as forças de maré produzidas
tamanho de planeta.
por Júpiter geram o calor necessário para possibilitar a
existência de organismos do tipo extremófilos vivendo nas
profundidades do planeta, a exemplo dos hipertermófilos que
vivem nos abismos oceânicos da Terra.

Figura 02.04.04: A superfície congelada e trincada de Europa (à esquerda) e a


representação de um possível oceano líquido abaixo da superfície (à direita).

Titã não tem água congelada, mas a sonda Cassini, em


2008, confirmou a existência de um grande lago de etano, que
poderia servir como elemento líquido para desenvolvimento de
vida.

Busca de vida fora do sistema solar: que estrelas podem


ter planetas habitáveis?

Desde 1992 até setembro de 2011 683 planetas


extrassolares já foram descobertos, em várias estrelas na nossa
Galáxia, sendo a grande maioria planetas gigantes gasosos. O
grande interesse dos cientistas é encontrar um planeta que seja
do tipo da Terra.
Ao procurar outros planetas parecidos com a Terra
orbitando outras estrelas os cientistas selecionam as estrelas
que sejam parecidas com o Sol em aspectos que passamos a
discutir.
A estrela não pode ser nem muito jovem nem muito
velha.
As estrelas têm que ser velhas o suficiente para terem
tido tempo de desenvolver uma zona de habitabilidade
estável, mas têm que ser jovens o suficiente para ainda terem
um tempo de vida estável pela frente.
A estrela não pode ser nem muito massiva nem pouco
massiva (0,3 MSol ≤ M ≤ 1,5 MSol).
Estrelas muito massivas desempenham papel crucial no
desenvolvimento da vida, pois geram os elementos necessários
para isso, mas duram muito pouco e emitem muita radiação
ultravioleta. Estrelas muito pouco massivas duram muito tempo,
mas têm suas zonas de habitabilidade muito estreitas, e muito
perto da estrela.
A proximidade da estrela levaria a forças de maré muito
intensas, que levariam o planeta a sincronizar seu período de
rotação com o de translação, deixando sempre o mesmo lado
Área 2, Aula 4, p.6 do planeta voltado para estrela, de forma que um hemisfério
Müller, Saraiva & Kepler
ficaria muito quente, o outro muito frio.
Além disso, as estrelas pouco massivas têm intensa
atividade cromosférica com grandes elevações de
temperatura e emissão de partículas energéticas nocivas à
vida.
A estrela deve permitir que seus planetas tenham
órbitas estáveis.
A estabilidade das órbitas é mais provável de ocorrer
em estrelas solitárias, como o Sol. Estrelas duplas podem ter
Condições para estrelas órbitas estáveis apenas caso estejam muito próximas uma da
terem planetas habitáveis:
outra, de forma a ter uma zona de habitablidade comum, ou
- a estrela não
muito distante uma da outra, de forma que cada uma tenha
pode ser nem muito jovem sua própria zona de habitabilidade não afetada pela outra.
nem muito velha; Sistemas com mais de uma companheira são improváveis.
- a estrela não A estrela deve ter metalicidade alta.
pode ser nem muito
massiva nem muito pouco A estrela deve ter uma quantidade suficiente de metais
massiva; para permitir a formação de planetas rochosos.
- a estrela deve As restrições a respeito dos tipos de estrelas que são
permitir que seus planetas
tenham órbitas estáveis; adequadas a terem planetas habitáveis acabam por limitar a
- a estrela deve
própria região da Galáxia onde essas estrelas podem ser
ter metalicidade alta. encontradas, definindo uma zona de habitabilidade na
Galáxia: um anel circular em torno do centro da Galáxia, com
espessura de 2 kpc e com raio médio igual à distância do Sol
ao centro da Galáxia, ou seja, 8 kpc.
Nessa região as órbitas das estrelas são quase
circulares, e estão separadas por alguns anos-luz, de maneira
que encontros entre elas são eventos extremamente raros. Nas
regiões mais internas a distância entre as estrelas é menor. Nas
regiões mais distantes do centro, os encontros entre as estrelas
são ainda mais raros, mas a metalicidade já é muito baixa
para permitir a formação de planetas rochosos.

Vida Inteligente na Galáxia

Segundo a paleontologia, fósseis microscópicos de bactéria e


algas datando de 3,8 bilhões de anos são as evidências de
vida mais remotas na Terra. Portanto cerca de 1 bilhão de
anos após a formação da Terra, a evolução molecular já
havido dado origem à vida. Desde então as formas de vida
sofreram muitas mutações e a evolução darwiniana
selecionou as formas de vida mais adaptadas às condições
climáticas da Terra, que mudaram com o tempo. A evolução
do Homo Sapiens, entretanto, por sua alta complexidade,
levou 3,8 bilhões de anos, pois sua existência data de 300.000
anos atrás. O Homo Sapiens só tem 125.000 anos, e a
civilização somente 10.000 anos, com o fim da última idade do
gelo. Portanto, na Terra foram necessários somente 1 bilhão de
anos para a vida microscópica iniciar, mas 4,5 bilhões de anos
para a vida inteligente evoluir.
A possibilidade de vida inteligente em outros planetas
do sistema solar está descartada atualmente, mas existem 100
bilhões de estrelas na Via Láctea e parece altamente
improvável que sejamos a única civilização da Galáxia. Sem
falar do universo todo. Como procurar essas civilizações?
A inteligência, interesse sobre o que está acontecendo
no Universo, é um desdobramento da vida na Terra, resultado
da evolução e seleção natural. A possibilidade de vida
inteligente em outros planetas do sistema solar está
descartada atualmente, mas como existem 100 bilhões de
estrelas na Via Láctea e 100 bilhões de galáxias no Universo,
parece altamente improvável que sejamos a única civilização
Área 2, Aula 4, p.12 existente.
Müller, Saraiva &Kepler
Figura 02.04.05: Os seres inteligentes produzem manifestações artificiais, como
as ondas eletromagnéticas moduladas em amplitude (AM) ou frequência (FM)
produzidas pelos terráqueos para transmitir informação (sinais com estrutura
lógica). Acreditando que possíveis seres extra-terrestres inteligentes se
manifestam de maneira similar, desde 1960 se usam radiotelescópios para
tentar captar sinais deles.

Vida Inteligente

1 bilhão de anos foi o tempo


para ter origem a forma de Figura 02.04.06: Radiotelescópio para tentar captar sinais de extraterrestres.
vida mais elementar.
Para a evolução até o
Homo Sapiens, devido à Esta busca leva a sigla SETI, do inglês Search for Extra-
complexidade foi necessário Terrestrial Intelligence, ou Busca de Inteligência Extraterrestre.
3,8 bilhões de anos.
SETI utiliza ondas de rádio para procurar sinais extraterrestres
porque as ondas de rádio viajam à velocidade da luz mas não
são absorvidas pelas nuvens de poeira e gás do meio
interestelar. Dentro de um raio de 80 anos-luz da Terra existem
Desativação do projeto cerca de 800 estrelas similares ao Sol. Podemos ver algumas
SETI
destas estrelas a olho nu: α Centauri, τ Ceti, ε Eridani, 61 Cygni
Por motivo de falta de e ε Indi.
investimentos o projeto SETI O projeto Phoenix procurou por sinais em cerca de
está temporariamente
1.000 estrelas parecidas com o Sol e a no máximo 200 anos-luz
desativado desde o final
do mês de abril de 2011. de distância, usando os maiores rádio telescópios do mundo
durante os últimos 10 anos (1994 a 2004), mas chegou ao fim
sem encontrar qualquer emissão equivalente aos transmissores
de nossos radares militares. Isso parece desencorajador, mas,
como disse o astrônomo britânico Martin Rees, “a ausência de
evidência não é evidência de ausência”.

Área 2, Aula 4, p.8


Müller, Saraiva & kepler
A Equação de Drake

Figura 02.04.07: Frank Donald Drake e sua equação.

A estimativa do número N de civilizações capazes


de se comunicar existentes em nossa Galáxia pode ser
discutida com o auxílio da equação de Drake, proposta em
1961 pelo astrônomo Frank Donald Drake (1930 - ), diretor do
projeto SETI. A ideia básica da equação é que o número de
civilizações existentes na nossa Galáxia (N) que são capazes
Equação de Drake de se comunicar é igual ao número de civilizações que
podem ter surgido no tempo de vida da Galáxia (o que
Indica o que o depende de vários fatores) × fração desse tempo que dura
que precisamos saber uma civilização (t).
para descobrir vida
inteligente no espaço. A Equação de Drake

N =( R∗ )( fp )( nT )( fv )( fi )( fc )( t ),
onde:
N = número de civilizações em nossa Galáxia capazes de
se comunicar,
R* = taxa de formação de estrelas na Galáxia (entre 2 e 20),
fp = fração provável de estrelas que têm planetas (menor
que 0,4),
nT = número de planetas ou luas com condições parecidas
com as da Terra por estrela que tem planetas (0 -100?),
fv = fração provável de planetas que abrigam vida (0 – 1),
fi = fração provável de planetas que desenvolveram vida
inteligente ( 0 – 1),
fc = fração de espécies inteligentes que podem e querem se
comunicar ( 0 – 1),
t = tempo de vida de tal civilização (10 – 109).
A única variável razoavelmente bem conhecida é
R*. Podemos fazer um cálculo otimista, supondo que a vida
como a nossa pulula na Galáxia, assumindo
N = R∗ fp t,

isto é, que todas as demais frações são de 100%, ou 1.


Usando:
R∗ = 3/ano, fp = 0,4, e t de um século, chega-se a N =120.
Um cálculo ainda mais otimista utilizaria um tempo
de vida das civilizações tecnológicas muito maiores do que
um século e pode levar a N = 109, ou seja, 1 bilhão de
civilizações na nossa Galáxia podendo e querendo se
comunicar.
Uma hipótese muito pessimista, por outro lado, pode
levar a: N = 10-12, o que significa que existe apenas uma
civilização em 1 trilhão de galáxias, e que portanto estamos
Área 2, Aula 4, p.9 sozinhos.
Müller, Saraiva & Kepler
Tabela 02.04.01: Conclusões a partir dos resultados da Equação de Draque.

R* fp fv nT fi fc t N
hipótese
muito 20 0,6 1 1 1 1 109 ~109
otimista
hipótese
2 0,1 0,1 10-3 10-6 10-3 102 ~10-12
pessimista
valores de
10 0,5 1 1 0,01 0,01 10000 100
Drake

Hipóteses de Drake
Podemos estimar a distância média entre estas
-Hipótese otimista:
"civilizações", assumindo que estão distribuídas uniformemente
Há possibilidade pela nossa Galáxia. Como nossa galáxia tem
de 1 bilhão de civilizações
em nossa Galáxia e aproximadamente 100.000 anos-luz de diâmetro por 1. 000
querem se comunicar. anos-luz de espessura, o volume total da galáxia é da ordem
-Hipótese de
pessimista:
VG = π . r 2 . h,
Criaturas como
terráqueos são muito raras, onde:
apenas 1 caso em 100
bilhões de Galáxias, nosso r = raio da galáxia,
universo observável tem
h= espessura da galáxia.
1011 galáxias, logo,
estariamos sozinhos. Logo,
= . (50 000 al)2 .1000 al 2,5. π .1012 al 3
VG π=

e, a distância média entre estas "civilizações" ( dC ):


1
 V 3
dC =  C  ,
 4π 
onde:
VG
VC =
N
Se N =120, obtemos dC = 1.700 anos-luz, e o tempo
para fazer contato é de 3.400 anos.
No cálculo mais otimista, o tempo para fazer contato
seria de 5 anos.
Não há no momento nenhum critério seguro que
permita decidir por uma posição otimista ou pessimista.
Conclui-se que, para se estabelecer uma comunicação por
rádio de ida e volta, mesmo na hipótese otimista, a duração
da civilização tecnológica não poderá ser menor que 12.000
anos. Caso contrário, a civilização interlocutora terá
desaparecido antes de receber a resposta. Naturalmente
existem mais de 100 bilhões de outras galáxias além da nossa,
mas para estas o problema de distância é muito maior.
OVNIs

Devido às grandes distâncias interestelares, e à


limitação da velocidade, que deve ser menor do que a
velocidade da luz pela relatividade de Einstein, não é possível
viajar até outras estrelas e seus possíveis planetas. O ônibus
espacial da NASA viaja a aproximadamente 28.000 km/h e,
portanto, levaria 168.000 anos para chegar à estrela mais
próxima, que está a 4,4 anos-luz da Terra. A espaçonave mais
veloz que a espécie humana já construiu até agora (Voyager
da NASA) levaria 80.000 anos para chegar à estrela mais
Área 2, Aula 4, p.10 próxima.
Müller, Saraiva & Kepler
O Dr. Bernard M. Oliver, codiretor do projeto de
procura de vida extraterrestre Cyclops da NASA, calculou que
para uma espaçonave viajar até esta estrela mais próxima a
70% da velocidade da luz, mesmo com um motor perfeito,
que converta 100% do combustível em energia (nenhuma
tecnologia futura pode ser melhor que isto), seriam
necessários 2,6 × 1016 joules, equivalente a toda a energia
elétrica produzida em todo o mundo, a partir de todas as
fontes, inclusive nuclear, durante 100 mil anos, e ainda assim,
levaria 6 anos só para chegar lá. O importante sobre este
cálculo é que ele não depende da tecnologia atual
(eficiência de conversão de energia entre 10 e 40%), pois
assume um motor perfeito, nem de quem está fazendo a
viagem, mas somente das leis de conservação de energia.
Esta é a principal razão que os astrônomos são tão céticos
sobre as notícias que os OVNIs (Objetos Voadores Não
Identificados), ou UFOs (Unidentified Flying Objects) são
espaçonaves de civilizações extraterrestres. Devido às
distâncias enormes e gastos energéticos envolvidos, é muito
improvável que as dezenas de OVNIs noticiados a cada ano
pudessem ser visitantes de outras estrelas tão fascinados com
a Terra que estão dispostos a gastar quantidades fantásticas
de tempo e energia para chegar aqui. A maioria dos OVNIs,
quando estudados, resultam ser fenômenos naturais, como
balões, meteoros, planetas brilhantes, ou aviões militares. De
fato, nenhum OVNI jamais deixou evidência física que
pudesse ser estudada em laboratórios para demonstrar sua
origem.

Resumo
Zona habitável: temperatura adequada para ter água
em forma líquida e fontes de energia para manter o
metabolismo dos seres vivos. Deve durar milhões de anos,
para a vida se desenvolver, e deve ser estável.
Planetas habitáveis: planetas telúricos na zona
habitável de uma estrela: nem muito frio nem muito quente,
permitindo água em estado líquido.
Luas habitáveis: satélites de planetas gigantes
localizado na zona de habitabilidade de sua estrela.
Satélites de planetas gigantes fora da zona de
habitabilidade de sua estrela, mas que tenham uma outra
fonte de calor. Luas aquecidas, por exemplo por forças de
maré.
Condições para uma estrelas planetas habitáveis:
• a estrela não pode ser muito jovem;
• a estrela não pode ser muito massiva nem
pouco massiva;
• a estrela deve ter metalicidade alta;
• a estyrela deve, preferencialmente,ser solitária.

Zona de habitabilidade na Galáxia: disco, entre 7 kpc


e 9 kpc do centro da Galáxia. Procura de vida inteligente fora
da Terra. A vida na Terra tem 3,8 bilhões de anos. O Homo
Sapiens tem apenas 125.000 anos, a civilização tem 10.000
anos. A tecnologia para telecomunicação tem menos de 100
anos.
Área 2, Aula 4, p.11 Equação de Drake: Busca informar o que precisamos
Müller, Saraiva & Kepler saber para descobrir vida inteligente no espaço.
Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. O que caracteriza um ser vivo?


2. Atualmente os cientistas acreditam que a vida pode
existir em condições muito mais adversas do que se pensava
há algumas décadas. Que descobertas ocasionaram essa
mudança de pensamento?
3.
a) O que é a zona de habitabilidade de uma estrela?
b) Que critérios ela deve obedecer?

4. Existe vida inteligente em outro planeta do sistema


solar, além da Terra? Justifique a sua resposta.
5.
a) O que é a equação de Drake?
b) Qual é a sua importância?
6. Por que a maioria dos cientistas não acredita em
viajantes de outros planetas?
7. É possível viajar até outras estrelas? Justifique a sua
resposta.
Até a próxima aula!

Área 2, Aula 4, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 5 - Fotometria Área 2, Aula 5

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho

Ilustração do espectro eletromagnético,


o comprimento de onda decresce da
esquerda para a direita. Fonte:
http://www.if.ufrgs.br/oei/stars/espectro.
htm

Introdução
Prezado aluno, em nossa quinta aula, da segunda
área, vamos tratar da medida da luz proveniente de um
objeto celeste e as conclusões que se obtém a partir das
análises fotométricas.
Bom estudo!
Objetivos da aula
Nessa aula trataremos da fotometria. Ao final
esperamos que você esteja apto a:
• definir luminosidade e fluxo, e estabelecer a
relação entre luminosidade, fluxo e
distância;
• entender a relação de magnitude e fluxo;
• distinguir entre magnitude aparente e
magnitude absoluta, usando suas definições
para deduzir o módulo da distância;
• relacionar os sistemas de magnitudes e o
Índice de Cor;
• entender como a atmosfera da Terra afeta
a luz das estrelas.

O que a luz nos informa sobre


as propriedades das estrelas?
Coletando e analisando a luz das estrelas,
podemos conhecer não apenas suas propriedades mais
básicas, como brilho e cor, mas também sua composição
química, sua temperatura, sua densidade, sua estrutura
interna e muitas coisas mais. A luz traz a história de objetos
distantes até nós; é a verdadeira mensageira cósmica.

Figura 02.05.01: O espectro eletromagnético com seus comprimentos de


onda ( λ ) em metros.

Fotometria

Fotometria é a medida da luz proveniente de um


objeto. Até o fim da Idade Média, o meio mais importante
de observação astronômica era o olho humano, ajudado
por vários aparatos mecânicos para medir a posição dos
corpos celestes. Depois veio a invenção do telescópio, no
começo do século XVII, e as observações astronômicas de
Galileo. A fotografia astronômica iniciou no fim do século
XIX e durante as últimas décadas muitos tipos de
detectores eletrônicos são usados para estudar a radiação
eletromagnética do espaço. Todo o espectro
eletromagnético, desde a radiação gama até as ondas
de rádio são atualmente usadas para observações
astronômicas.

Área 2, Aula 5, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
Apesar de que observações com satélites, balões e
espaçonaves podem ser feitas fora da atmosfera, a grande
maioria das observações é obtida da superfície da Terra.
Como a maioria das observações utiliza radiação
eletromagnética, e podemos obter informações sobre a
natureza física da fonte estudando a distribuição de
energia desta radiação, introduziremos algumas grandezas
para a caracterização desta radiação.

c c
=λ =; ν = ; c λν ,
ν λ
.
onde,
λ = comprimento de onda,
ν = frequência,
c ≅ 300 000 km/s = velocidade da luz no vácuo.

Localização no Espectro
O comprimento de onda da radiação visível vai
aproximadamente de 3.900 Å (violeta) até cerca 7.800 Å
Radiação visível (luz) (vermelho).

Comprimento de onda de
aproximadamente Tabela 02.05.01: Características das radiações componentes do espectro
3.900 Å até 7.800 Å. visível. Como as cores são subjetivas, pois dependem da sensibilidade de
cada olho humano, a definição é um pouco arbitrária.
Relação Å x m

1 Å =10-10m.

Grandezas Típicas do Campo de Radiação

A grandeza mais característica de um campo de


radiação é uma constante chamada intensidade
específica monocromática I v . Para melhor entender esse
conceito, vamos antes revisar o conceito de ângulo sólido.

Ângulo Sólido (ω)

Assim como podemos entender um ângulo plano


como um setor de um círculo, definido como a razão entre
o arco e o raio do círculo (o ângulo α da figura 02.05.02),
podemos entender um ângulo sólido como um "setor" de
uma esfera, definido pela razão entre o elemento de área
na superfície da esfera e o seu raio ao quadrado (o ângulo
ω na figura 02.05.03).
Área 2, Aula 5, p.3
Müller, Saraiva & Kepler
a
Figura 02.05.02: O ângulo plano α é definido como α= .
r

Ângulo plano

É a razão entre o arco


e o raio do círculo.

Ângulo sólido

É a razão entre o
elemento de área na
superfície da esfera e o
A
Figura 02.05.03: O ângulo sólido ω é definido como ω= .
quadrado de seu raio. r2
Maior ângulo sólido
O maior ângulo plano é aquele que subentende toda
Toda área superficial
da esfera: 4π sr. a circunferência do círculo, e vale 2 π radianos; o maior
ângulo sólido subtende toda a área superficial da esfera, e
vale 4 π esferorradianos (sr).

Intensidade específica
A intensidade específica monocromática IV é a
quantidade de energia dE que emitida pela fonte, por
unidade de área dA, por unidade de tempo dt, por
unidade de ângulo sólido dω , em um intervalo de
frequências dν , ao longo de uma certa direção θ .

dE cos θ
Iυ = .
dt dAdω dυ

A intensidade específica
monocromática
É a quantidade
de energia dE emitida
pela fonte, por unidade
de área dA, por unidade
de tempo dt, por
unidade de ângulo sólido
d ω , em um intervalo de
frequências dv , ao
longo de uma certa
direção θ . Figura 02.05.04: A intensidade específica depende da direção: a intensidade
emitida através da superfície dA na direção normal a ela (S) é diferente da
intensidade emitida na direção do ângulo sólido dω..

A intensidade específica, por sua definição, não


depende da distância da fonte emissora, se não houver
fontes ou absorsores de radiação ao longo da linha de
visada.
Área 2, Aula 5, p.4
Müller, Saraiva & Kepler
Fluxo

Quando observamos uma fonte de radiação, o que


medimos não é a intensidade específica, e sim o fluxo de
radiação que chega ao detector. O fluxo monocromático Fv
é a energia por unidade de tempo, por unidade de intervalo
de frequência e por unidade de área que chega ao
detector.

Fv = dE / ( dt dv dA) .

Comparando a definição de fluxo monocromático


com a de intensidade específica monocromática I dada
acima, vemos que os dois se relacionam pela expressão

Fv = ∫ Iv cos θ dω.

O fluxo integrado no espectro de frequências (ou de


comprimentos de onda) será:

Fluxo ∞ ∞

É o que medimos
=F ∫=
Fν dν ∫
0 0
Fλ dλ.
quando a radiação
chega ao detector. Ao contrário da luminosidade e da intensidade
específica, que não variam com a distância, o fluxo de
radiação cai com o quadrado da distância (r) de forma que
o fluxo que chega ao detector é muito menor do que o fluxo
1
na superfície do astro, estando diluído por um fator de 2 .
r
Para uma estrela esférica de raio R, o fluxo na sua
superfície será:
O Fluxo diminui com o
quadrado da distância
L
F(R)= ,

1
.
4π R2
distância2
onde:

L é a luminosidade intrínseca, que é a energia total emitida


por unidade de tempo (s) em todas as direções. Portanto:

L = 4 R2 ∫ F ( v ) dv.

O fluxo a uma distância r da estrela será:

L
F(r )= .
4π r 2
Luminosidade Assim, a luminosidade L da estrela que está a uma
distância r pode ser obtida diretamente multiplicando o fluxo
É a potência luminosa de
uma estreladeterminada a dela proveniente (medido por nós), pela área esférica sobre
partir do fluxo medido, a qual o fluxo se distribui:
quando se conhece a
distância. L = 4π r 2 F(r ).
A luminosidade é a potência luminosa da estrela, e é
expressa em watts. O fluxo é potência luminosa que
atravessa uma superfície, e tem unidades de W/m² no
Área 2, Aula 5, p.5 Sistema Internacional(SI).
Müller, Saraiva & Kepler
Magnitudes
O brilho aparente de um astro é o fluxo medido na
Terra e, normalmente, é expresso em termos da magnitude
aparente m, que por definição é dada por:
m=
− 2,5 log F + cons t.

Por que o brilho de um astro é medido em magnitudes?


Há 2 000 anos, o grego Hiparco (160-125 a.C.) dividiu as
estrelas visíveis a olho nu de acordo com seu brilho aparente,
atribuindo magnitude 1 às mais brilhante e 6 às mais fracas.
Na definição de Hiparco, as de magnitude = 1 são as vinte
primeiras estrelas que aparecem após o Sol se pôr. A olho nu,
com boa acuidade e num local escuro, podemos observar
até a galáxia Andrômeda (se pudermos observar declinação
+ 41°), que está a dois milhões de anos-luz de distância.
Em 1856, Norman Robert Pogson (1829-1891), do
Observatório Radcliffe, em Oxford, propôs que o sistema de
magnitudes, baseado na percepção de brilho do olho
humano, é logarítmico, ou seja, a diferença entre as
magnitudes de duas estrelas é proporcional ao logaritmo da
razão entre seus fluxos (m1-m2 = K log F1/F2, sendo K uma
Magnitude aparente (m) constante de proporcionalidade); além disso, Pogson tinha
notado que o fluxo correspondente a uma estrela de primeira
É o brilho aparente de um
astro é o fluxo medido na
magnitude (m=1) era 100 vezes mais brilhante que uma estrela
Terra. de magnitude 6, de modo que:

F1 F
m1=
− m2 K log ⇒
= 1− 6 K log  1  ,
F2  F2 

m=− 2,5log(100) → K =− 2,5,

logo:

F2
m2 − m1 =
− 2,5log .
F1

Invertendo essa equação temos a razão de fluxos em


função da diferença de magnitudes:

F2/F1 = 10 -1/2,5(m2-m1) = 10 -0,4 (m2-m1) = 2,512 (m1-m2).


Essa equação nos mostra que, para uma diferença de
magnitudes igual a 1, a razão de fluxos correspondente será
de 2,5121 = 2,512; para uma diferença de magnitudes igual a
2, a razão de fluxos será de 2,512 2 = 6,310; para uma
diferença magnitudes igual a 5, a razão de fluxos será de
2,5125 = 100, tal como definido por Pogson.
A constante (const.) na primeira definição de
magnitude define o ponto zero da escala. Normalmente
utiliza-se a magnitude aparente da estrela Vega como m=
0. Vega é uma estrela B 9.5IV-V, com Tef = 10 105 ±230 K e R =
2,69 ± 0,25 RSol, a 7,76 pc.
Para comparação:
m (Sírius)=-1,46, m(Lua cheia)= -12,8, m (Sol) = -26,74.

Área 2, Aula 5, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
A pupila do olho humano, quando adaptada ao
escuro, tem aproximadamente 8 mm. Um telescópio com 8
cm de diâmetro, tem uma área (80 mm/8 mm)2 =100 vezes
maior e, portanto, capta 100 vezes mais fótons. Desta
maneira este telescópio de 8 cm de abertura permite
observar 5 magnitudes mais fracas do que o olho humano,
ou seja, até magnitude 6+5 = 11, no tempo de integração
do olho humano, de 0,015 (cones) a 0,1 segundos (bastões).
Normalmente leva 25 minutos para o olho humano tornar-se
completamente adaptado ao escuro, isto é, com a pupila
completamente dilatada. Para um campo de vista restrito,
experimentos conduzidos por Heber Curtis e Henry Norris
Russel no início dos anos 1900, mostraram que um olho
completamente adaptado ao escuro olhando uma
pequena área do céu, de 5 minutos de arco de extensão,
conseguia detectar estrelas até magnitudes +8,5,
correspondendo a aproximadamente 200 fótons por
segundo.
Como um telescópio tem uma área coletora maior
do que um olho, pode coletar mais energia de um objeto
com um determinado fluxo, de modo que o objeto parece
mais brilhante quando visto pelo telescópio. Se uma estrela
tem um fluxo Fo vista a olho nu, então se vista por um
telescópio aparecerá com um fluxo Ft dado por:

Ft Dt2
= ,
Fo Do2
onde,
Dt = diâmetro do telescópio,
Do = diâmetro da pupila do olho,
já que toda a energia captada pelo telescópio está sendo
transmitida ao olho.
Se mt e mo são as magnitudes correspondentes,
então:
mt -mo = -2,5 log10 (Ft/Fo) = 5 log10 (Dt/Do).
Portanto definindo a magnitude limite do olho
humano como +6, correspondente a um diâmetro da
pupila de 8 mm, a magnitude limite de um telescópio de
diâmetro Dt seria mlimite=16,5 + 5 log Dt, para D em metros.
Devido às perdas de luz nos telescópios, a magnitude limite
é cerca de meia magnitude menor,
mlimite = 16 + 5 log Dt.

Mas um telescópio com um detector fotográfico ou


eletrônico pode integrar por um tempo maior do que o olho
humano. Como o fluxo integrado é proporcional ao tempo,
Flimite(t) = D2 t.
Na prática o brilho do céu é que restringe o limite de
detecção.

Área 2, Aula 5, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Sistemas de Magnitude

Quando medimos uma estrela, o fluxo obtido


depende da sensibilidade espectral do equipamento, ou
seja, do conjunto (telescópio + filtro + detector). Se
chamamos de φ ( λ ) a eficiência espectral do
equipamento, temos:
∞ ∞
∫ Φ(λ )F(λ )dλ ≅ F(λ0 )∫ Φ (λ )dλ ,
Fobs =
0 0

onde:
F ( λ ) = fluxo no comprimento de onda efetivo do
filtro.

Sistema de magnitudes

O fluxo medido de uma


estrela depende da
sensibilidade espectral do
conjunto telescópio+ filtro
+ detector.

Figura 02.05.05: À esquerda, imagem de Sírius A e B obtida com o


telescópio de raio-X do satélite Chandra. Enquanto no visível (direita)
Sírius A é 10 000 (10 magnitudes) mais brilhante do que Sírius B, no raio-X
Sírius B é a mais brilhante. Nas imagens, as raias são reflexos na estrutura
de sustentação do equipamento.

Sistema UBV
Um sistema de magnitudes é definido pela sua
U: magnitude aparente na
camada ultravioleta, eficiência φ ( λ ) e por sua constante (const.). Um sistema
B: magnitude aparente na
muito usado é o sistema UBV, desenvolvido por Harold
banda azul,
V: magnitude aparente na Lester Johnson (1921-1980) e William Wilson Morgan (1906-
banda amarela (visual). 1994) em 1951. U, B e V indicam as magnitudes aparentes
nas bandas espectrais ultravioleta, azul e amarelo,
respectivamente, e têm seus comprimentos de onda
efetivos em 3.600 Å, 4.200 Å e 5.500 Å.

Figura 02.05.06: Curvas de transmissão dos filtros UBV.


Área 2, Aula 5, p.8
Müller, Saraiva & Kepler
Para determinar a constante (const.) do sistema,
usamos estrelas padrões, ou seja, estrelas que têm
magnitudes bem determinadas. No caso das magnitudes U,
B e V, as respectivas constantes foram escolhidas de tal
modo que U=B=V=0 para a estrela Vega. Vega é a estrela
Alfa Lyrae, a uma distância de d = 25 anos-luz, a 5a estrela
mais brilhante no céu e tem fluxo medido aqui na Terra:
Fλ (V=0) = 3,44 ×10-8 W m-2 s-1 μm-1,
que corresponde a cerca de 1.000 fótons cm-2 s-1 Å-1.

Figura 02.05.07: Imagem de um mesmo campo no céu no vermelho e no


azul., mostrando como o brilho das estrelas fica mais fraco ou mais brilhante
dependendo da banda espectral em que é medido.

Tabela 02.05.02: Magnitude do fundo do céu, à noite, por segundo de arco


ao quadrado.

Cor Comprimento de onda Do espaço Lua Nova Lua Cheia

U 3 700 Å 23,2 22,0 17,0

B 4 400 Å 23,4 22,7 19,5

V 5 500 Å 22,7 21,8 20,0

R 6 400 Å 22,2 20,9 19,9

I 8 000 Å 22,2 19,9 19,2

J 1,2μm 20,7 15,0 15,0

H 1,6μm 20,9 13,7 13,7

K 2,2 µ m 21,3 12,5 12,5

De dia, o limite de visibilidade do olho humano é da


ordem de magnitude -3,4 e à noite aproximadamente
magnitude +6.

Índice de Cor

Em qualquer sistema de magnitudes multicor


Índice de cor
definem-se os índices de cor como a razão entre os fluxos
Diferença entre as em duas bandas (filtros) diferentes, ou equivalentemente,
magnitudes de uma como a diferença entre duas magnitudes do sistema. Por
estrelaem duas bandas exemplo,
diferentes. Permite
conhecer a temperatura
da estrela. • subtraindo a magnitude V da magnitude B temos o
índice de cor B-V,
• subtraindo a magnitude B da magnitude U temos o
índice de cor U-B.

Área 2, Aula 5, p.9


Müller , Saraiva & Kepler
Como veremos adiante, os índices de cor U-B são
importantes para determinar a temperatura das estrelas.
Vega, uma estrela branca (Tef = 10.105 ± 230 K), tem
(U-B) = (B-V) = 0. O Sol, uma estrela amarela (Tef = 5.778
±1K), tem (U-B) = 0,17 e (B-V) = + 0,68.

Magnitude Absoluta

A magnitude aparente de uma estrela é uma


medida de brilho aparente, que depende de sua
distância ao observador. Por exemplo, qual estrela é
intrinsecamente mais brilhante, Sírius, com m = -1,42 ou
Vega, com m = 0? Claro que visto aqui da Terra, Sírius é
mais brilhante. Para podermos comparar os brilhos
intrínsecos de duas estrelas, precisamos usar uma medida
de brilho que independa da distância.
Para isso, definimos como magnitude absoluta (M)
a magnitude teórica que a estrela teria se estivesse a 10
parsecs de nós.
1
Fα . M=
− 2,5log  F(10 pc) + cons t.
distância2
Magnitude Absoluta A diferença entre a magnitude aparente (m) e a
absoluta (M) é dada por:
A magnitude teórica que a
estrela teria se estivesse à F(r )
distância de 10 pc do m − M=
− 2,5log  F(r ) +2,5log  F(10 pc) =
− 2,5log .
F(10 pc)
observador.
Está relacionada à
luminosidade.
Como:
F(R)4π R2
F(r ) 4=π r2 (10 pc)2 100 pc2
= = ,
F(10 pc) F(R)4π R2 r2 r2
4π (10 pc)2

onde R é o raio da estrela, ou seja,


100 pc2
m − M=
− 2 , 5 log ,
r2
ou
m− =
M 5 log r − 5 ,

o chamado módulo de distância.


Nesta fórmula, a distância da estrela, r, tem que ser
medida em parsecs.
Logo,
m− M+ 5
r(pc) =10 5
.

Exemplo 1
Spica tem magnitude visual aparente mv= 0,98 , e
está a uma distância de 800 pc da Terra. Quanto medem
o módulo de distância e a magnitude visual absoluta de
Spica?
Solução:
O módulo de distância é a diferença entre a
magnitude aparente e a absoluta, e é definido como:

Área 2, Aula 5, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
mv –Mv = -5 + 5 log r
= -5 + 5 log 800
= 9,52.
A magnitude absoluta é dada por:
Mv = mv – 9,52 = 0,98 – 9,52 = - 8,54.

Exemplo 2
Qual é o módulo da distância da estrela Canopus?
Qual é a sua distância em parsecs até a Terra?
Solução:
Pela tabela 02.05.03, vemos que Canopus tem:
mv =- 0,72 e Mv = - 2,5,
como o módulo da distância é dado por:
mv – Mv = - 0,72 - (- 2,5) = 1,78.
E a sua distância é dada por;
mv – Mv = - 5 – 5 log r
1,78 = - 5 – 5 log r
5 log r = 6,78
log r = 1,356
r  22,7 pc

Tabela 02.05.03: Estrelas Brilhantes com suas magnitudes absoluta e


aparente. A medida da distância à Terra, seus tipos espectrais e B-V.

Área 2, Aula 5, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
Magnitude Bolométrica

Se tivéssemos equipamentos que fossem 100%


sensíveis em todos os comprimentos de onda, teoricamente
poderíamos medir o fluxo em todo o intervalo espectral. A
magnitude correspondente à energia em todas as
frequências (desde os raios γ até as ondas de rádio) é
chamada de magnitude bolométrica (mbol e Mbol).

= π R2 ∫ Fv dv 4 π R2 Fbol .
L 4=
0

Magnitude Bolométrica Na prática, a atmosfera da Terra impede a passagem


É a magnitude
de certos intervalos espectrais, de forma que determinamos
correspondente à energia a magnitude bolométrica através da magnitude visual,
medida em todas as subtraindo dela uma correção bolométrica C.B.
frequências do intervalo
espectral.

mbol
= mv − C.B.

Por definição, C.B. tem valores próximos de zero para


estrelas parecidas com o Sol, e valores maiores para estrelas
mais quentes ou mais frias do que o Sol).

Como a magnitude absoluta bolométrica do Sol é


Mbol

= 4,72 a magnitude absoluta bolométrica de uma
,
estrela qualquer é dada por

 L 
M
=bol 4,72 − 2,5log   ,
 L 
mas precisamos levar em conta o efeito da atmosfera da
Terra e do material interestelar.

Resumo
Radiação visível (luz):
Tem comprimento de onda de aproximadamente
3.900 Å até 7.800 Å.
Ângulo plano: razão entre o arco e o raio do círculo.
Ângulo sólido: razão entre o elemento de área na
superfície da esfera e o quadrado de seu raio.
Maior ângulo sólido: toda área superficial da esfera:
4π sr.
A intensidade específica monocromática: é a
quantidade de energia dE emitida pela fonte, por unidade
de área dA, por unidade de tempo dt, por unidade de
ângulo sólido d ω , em um intervalo de frequências dν , ao
longo de uma certa direção θ . É uma propriedade
intrínseca do campo de radiação.
Fluxo: é o que medimos quando o fluxo de radiação
chega ao detector.
Área 2, Aula 5, p.12
Müller, Saraiva & Kepler
O Fluxo diminui com o quadrado da distância:
1
Fα .
distância2

Luminosidade: é a energia emitida por unidade de


tempo pela estrela (potência luminosa). Não decai com a
distância. Está relacionada ao fluxo pela equação:
L
F= .
4π (distância)2

Magnitude Aparente (m): é um número associado ao


astro que é o seu fluxo medido na Terra. A diferença de
magnitude entre dois astros é inversamente proporcional ao
logaritmo da razão entre os seus fluxos.
F2
m2 − m1 =
− 2,5log .
F1

Índice da cor: é a diferença entre as magnitudes


medidas em duas regiões espectrais diferentes. Ele não
depende da distância do observador até a estrela, portanto é
muito importante para a determinação da temperatura da
estrela.
Magnitude Absoluta (M): é a magnitude teórica que a
estrela teria se estivesse a 10 pc do observador.
M=
− 2,5log  F(10 pc) + cons t.

Módulo de distância: diferença entre a magnitude


aparente e a magnitude absoluta
m− M
= 5log r − 5,

com a distância r medida em parsecs.


Magnitude bolométrica: é a magnitude
correspondente à energia em todas as frequências do
intervalo espectral.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Uma estrela tem magnitude aparente m = 1. Se


triplicasse a sua distância em relação ao observador:
a) quantas vezes mais fraca ela ficaria?
b) quantas magnitudes mais fraca ela ficaria?
2. A magnitude aparente total de uma estrela tripla é
m = 0,0. Uma de suas componentes tem magnitude 1,0 e outra
tem magnitude 2,0. Qual é a magnitude da terceira estrela?
Dica: lembre que a magnitude aparente total da estrela é a
magnitude correspondente à soma dos fluxos de cada uma
das três componentes!
Área 2, Aula 5, p.13
Müller, Saraiva & Kepler
3. A magnitude absoluta (M) é definida como a
magnitude correspondente a uma distância de 10 pc do
observador.
a) Deduza a expressão do módulo da distância,
definido como a diferença entre a magnitude aparente e a
magnitude absoluta.
b) Qual seria a expressão do módulo de distância se a
magnitude absoluta fosse definida como a distância
correspondente a 100 pc do observador?
c) Qual seria a magnitude absoluta MV de uma estrela
que tivesse magnitude aparente no visual V = 1,28 e se tivesse
a uma distância de 150 pc do observador?
d) Qual é o módulo de distância dessa estrela?
4. Sobre o Sol:
a) qual é a sua distância até a Terra em parsecs?
b) qual é o seu módulo de distância?
c) se sua magnitude aparente é de -26, qual é a sua
magnitude absoluta?
d) qual é a magnitude aparente do Sol visto de
Saturno, que está a 10 UA de distância do Sol?
5. Para uma certa estrela é medida a magnitude visual
aparente V = 12,5 e a magnitude azul aparente B = 13,3.
a) Qual é a razão entre os fluxos B e V dessa estrela?
b) Quanto vale o índice de cor (B-V) dessa estrela?

Até a próxima aula!

Área 2, Aula 5, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 6 - Teoria da Radiação Área 2, Aula 6

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Saraiva

Ilustração de uma onda eletromagnética com os


→ →
campos elétrico E e magnético B perpendiculares
entre si e com a direção de propagação da onda.
Autor:
Professor Luiz Carlos Goulart.

Introdução
Prezado aluno, em nossa sexta aula, da segunda
área, vamos tratar do conhecimento obtido a partir das
descobertas da teoria das radiações e como, pela
emissão de luz desses corpos, é possível obter muitas
informações dos mesmos.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos fotometria e teoria da
radiação. Ao final esperamos que você esteja apto a:
• aplicar as propriedades do corpo negro para
deduzir temperaturas, raios e luminosidades
das estrelas;
• relacionar o fluxo na superfície de um corpo
negro com a temperatura do corpo, pela Lei
de Stefan-Boltzmann;
• relacionar o comprimento de onda em que o
corpo negro tem o pico da radiação com a
sua temperatura, segundo a Lei de Wien.

De que forma o estudo do


corpo negro nos ajuda a
.
entender as estrelas?
Teoria da Radiação

Em 1859-60, os físicos encontraram um problema:


como descrever matematicamente como um corpo
aquecido irradia energia, isto é, quanto ele emite em cada
comprimento de onda. Para abordar o problema,
começaram por examinar um caso teórico simplificado, o
corpo negro, definido por Gustav Robert Kirchhoff (1824 -
1887), como um objeto que absorve toda a luz que incide
sobre ele, sem refletir nada da radiação. Um corpo com
essa propriedade, em princípio, não pode ser visto e,
portanto, é negro. Para tal corpo estar em equilíbrio
termodinâmico, ele deve irradiar energia na mesma taxa
em que a absorve, do contrário ele esquentaria ou esfriaria,
e sua temperatura variaria. Portanto, um corpo negro, além
de ser um absorsor perfeito, é também um emissor perfeito.
Desde então muitos experimentos tentaram medir seu
espectro, isto é, como sua intensidade varia com a
frequência.

Figura 02.06.01: Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947).

Em 1900, o físico alemão Max Planck postulou que a


energia eletromagnética só pode se propagar em quanta
discretos, ou fótons, cada um com energia (E)
dada por:
E = hυ ,

onde h é a constante de Planck


=h 6,626
= x10 −27 ergs. s 6,626 x10 −34 J. s ;

e ν é a frequência.
Com esta quantização da energia, ele pode
deduzir teoricamente a intensidade de um campo de
radiação, como a seguir.
A intensidade específica monocromática (energia
.
por unidade de comprimento de onda, por segundo, por
unidade de área, e por unidade de ângulo sólido) de um
corpo que tem uma temperatura uniforme T e está em
equilíbrio termodinâmico com seu próprio campo de
radiação (o que significa que é opaco), é dada pela Lei
de Planck:
2 hc2 1
B λ (T ) = ,
λ5 ehc/ λ k T −1

onde:
Bλ (T) é a intensidade específica monocromática do corpo
negro de temperatura T,
c é a velocidade da luz,
h é a constante de Planck,

k =1,38 x10 −16 ergs / K é a constante de Boltzmann, [em


honra ao austríaco Ludwig Boltzmann (1844-1906)].
Para escrever a lei de Planck em termos de
frequência, precisamos utilizar

dv c
=− 2
dλ λ

obtendo
λ2
Bν = Bλ ,
c

ou
Radiação de corpo negro
2 hυ 3 1
Radiação que depende B υ (T ) = ,
unicamente da temperatura c2 ehυ / k T −1
do corpo, sendo descrita
pela lei de Planck. É
também chamada
que é chamada Lei de Planck.
radiação térmica.
Qualquer corpo em equilíbrio termodinâmico
emitirá fótons com uma distribuição de comprimentos de
onda dada pela Lei de Planck acima. Esta radiação é
chamada de radiação de corpo negro, ou radiação
térmica, pois depende unicamente da temperatura do
corpo como o gráfico da figura 02.06.02.

Área 2, Aula 6, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.06.02: Curvas da Lei de Planck (radiação de corpo negro) para
corpos com diferentes temperaturas: a intensidade em todos os comprimentos
de onda aumenta fortemente com o aumento da temperatura, e o pico de
intensidade máxima se desloca para comprimentos de onda menores com o
aumento da temperatura.

Lei de Wien

Como podemos ver na figura 02.06.02, o comprimento


de onda em que um corpo negro emite com intensidade
máxima - λmax - varia com a temperatura absoluta, ou seja

1
λmax α .
T

Figura 02.06.03: Comparação da forma da curva de Planck na região entre


1.000 angstrons e 10.000 angstrons para corpos negros com temperaturas de
10.000 K e 5.000 K. A escala vertical em cada gráfico é a intensidade dividida
pela intensidade máxima.

A constante de proporcionalidade pode ser


encontrada derivando a Lei de Planck Bλ (T ) e igualando a
derivada a zero.

Área 2, Aula 6, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Fazendo essa dedução (que pode ser vista em
http://astro.if.ufrgs.br/rad/rad/rad.htm#wien) encontra-se
que:
λmaxT = 0,00289 m K ( λ em metros, T em kelvin)
ou
o
Lei de Wien
λmaxT = 2,89 x107 A K (λ em angstroms, T em kelvin)

O comprimento
de onda( λ ) em que um e o máximo de Bυ ( T ) ocorre em
corpo negro tem o pico
da radiação é hν max = 2,821kT
inversamente proporcional
à sua temperatura
absoluta (T).
Esta relação, encontrada empiricamente por Wilhelm
Carl Werner Otto Fritz Franz Wien (1864-1928) em 1893, mostra
1
λmax α . que, à medida que T aumenta, υmax aumenta, e λmax diminui.
T
Desta maneira se explica porque, quando se aquece uma
barra de ferro, ela torna-se primeiro vermelha, depois
esbranquiçada e finalmente azulada.

Lei de Stefan-Boltzmann

O fluxo (energia por unidade de área, por segundo) de um


corpo negro de temperatura T é dado por:

∞ 2π π /2 ∞
=F F (υ ) dυ ∫
∫= dϕ ∫ cos θ senθ d θ ∫ Bυ ( T ) dυ
0 0 0 0

Lei de Stefan-Boltzmann = π ∫ Bυ ( T ) dυ .
0

Pode-se demonstra que a intensidade específica


O fluxo na monocromárica integrada em todo o espectro de
superfície de um corpo
negro (F) é proporcional à
frequências é:
quarta potência da
temperatura absoluta do
corpo: ∞ σ T4
=B(T ) Bυ ( T ) dυ
∫= .
0 π
F α T4.

Logo,
Logo:
F =σ T 4 ,
F =σ T 4

onde

=σ 5,67
= x10 −5 ergscm2 K −4 s−1 5,67 x10 −8 W m−2 K −4

é a constante de Stefan-Boltzmann.
Portanto, o fluxo emitido por um corpo negro é
proporcional à quarta potência da temperatura. Essa
relação é conhecida como Lei de Stefan-Boltzman.

Temperatura efetiva ( Tef) Como uma estrela não é um corpo negro, isto é, suas
camadas externas de onde provém a radiação não estão
É a temperatura de um exatamente em equilíbrio térmico, e, portanto a temperatura
corpo negro que emite a
mesma quantidade de
não é a mesma para toda a estrela, definimos um parâmetro
energia por unidade de chamado temperatura efetiva Tef, que é a temperatura de
área e por unidade de um corpo negro que emite a mesma quantidade de energia
tempo que uma estrela. por unidade de área e por unidade de tempo que a estrela.
F ≡ σ Tef4
F ≡ σ Tef4

Área 2, Aula 6, p.5


Müller, Saraiva & Kepler
Portanto, para uma estrela esférica de raio R, a
luminosidade (energia total por segundo) é obtida
multiplicando-se o fluxo pela área 4π R2 :

L = 4 π R2 σ Tef4 .

Luminosidade da Estrela (L) A luminosidade do Sol, isto é, a energia total emitida


pelo Sol em um segundo, é
- A luminosidade da estrela é
proporcional à sua superfície L Sol = 3,9 x 1026 J/s.
total:
L α 4π R2 . Como o raio do Sol é de RSol = 700.000 km, combinando
- A luminosidade da estrela é as duas últimas equações resulta que a temperatura efetiva do
proporcional à quarta Sol é Tef = 5.800K .
potência de sua
temperatura efetiva: A definição de temperatura de um objeto astronômico
L α Tef4 . não é única, pois depende do método que estamos usando
para medi-la. Assim, a temperatura de uma estrela medida
L = 4 π R2 σ Tef4 . pela Lei de Wien (a partir da intensidade em um comprimento
de onda), é ligeiramente diferente da sua temperatura medida
pela Lei de Stefan-Boltzmann (a partir da luminosidade e do
raio). Esta última é chamada temperatura efetiva, enquanto a
primeira é chamada temperatura de brilho. Pode-se ainda
definir a temperatura de cor, determinada a partir da razão de
fluxos em dois comprimentos de onda diferentes. Essas
temperaturas não são iguais porque os corpos astronômicos
não são corpos negros perfeitos.

Energia do Sol na Terra

A energia que atinge a Terra por unidade de área e de


tempo, por definição de fluxo, é de:
L
F⊕ = ,
4π r 2
onde:
r é a distância do Sol à Terra, de 1 unidade astronômica
(UA) = 150 milhões de km, e
L Sol = 3,9 x 1026 J/s.
Portanto, a potência luminosa interceptada pela Terra, que
tem uma secção reta π R⊕2 , onde o raio da Terra é
R⊕ = 6.400 km, é dada por:

L
= R⊕2 F⊕ π R⊕2
P π= .
4π r2

Devido à rotação da Terra, o fluxo médio incidente é


obtido dividindo a potência interceptada na Terra pela área
total da Terra 4 π R⊕2 .
_
P L
F⊕
= = 2
= 2
3,5 x10 −5 ergs s−1 cm−2 .
4 π R⊕ 16 π r

A Terra absorve 61% da luz incidente, refletindo os outros


39%. A energia absorvida aquece a Terra, que irradia como um
corpo negro a uma taxa σ T 4 por unidade de área.

Área 2, Aula 6, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Logo,
_
σ T⊕4 = 0,61F⊕ ,

o que resulta em uma temperatura para a Terra de


T⊕ = 249 K .

De fato, devido ao efeito estufa do gás carbônico


(CO2) e da água, a temperatura da Terra é de 290 K.
Portanto o efeito estufa mantém a água na superfície da
Terra acima do ponto de congelamento, de 273 K.

Resumo

Leis da radiação de corpo negro


• Estrelas emitem radiação de forma parecida
a corpos negros
Efeito estufa • Corpo negro: corpo que absorve toda a
radiação que incide sobre ele, sem refletir
Devido ao efeito estufa
do gás carbônico e da nada.
água, a Terra consegue
ter a sua temperatura
• Toda a radiação emitida pelo corpo negro é
acima do ponto de devida à sua temperatura.
congelamento.
• Radiação de corpo negro negro = radiação
térmica : depende apenas da temperatura
do corpo, seguindo as leis de Stefan-
Boltzmann, de Wien e de Planck.
Lei de Planck
• Radiação eletromagnética se propaga de
forma quantizada, em "pacotes" ou "quanta"
de energia E =hν .
• h = constante de Planck = 6,625 x 10-34 J.s.
• A intensidade da radiação emitida por
unidade de área, por unidade de tempo e e
por unidade de ângulo sólido (intensidade
específica monocromática) de um corpo
negro é descrita por:
2 hν 3 1
Bν (T )= 2 hν / kT
,
c e −1

2hc2 1
Bλ (T )= 5 hc/ λ kT
.
λ e −1
Nas equações acima, Bν ≡ Iν, Bλ ≡ Iλ.

Lei de Wien

• O comprimento de onda em que um corpo


negro tem o pico da radiação é
inversamente proporcional à sua
temperatura.
λmax ∝ 1/T.

Área 2, Aula 6, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Lei Stefan-Boltzmann
• O Fluxo na superfície de um corpo negro é
proporcional à quarta potência da
temperatura do corpo.

F = σ T4 ,

onde
σ = constante de Stefan-Boltzmann = 5,67 x 10-5ergs/(cm2K4s).
Luminosidade da Estrela (L)

• A luminosidade da estrela é proporcional a


sua superfície total:

L α 4π R2 .

• A luminosidade da estrela é proporcional a


quarta potência de sua temperatura efetiva:

L α Tef4 .

Logo:

L = 4 π R2 σ Tef4 .

Energia do Sol na Terra


• O fluxo de radiação solar na Terra é:
L
F⊕ = .
4π r 2
A Terra absorve 61% da luz incidente, refletindo os
outros 39%. A energia absorvida aquece a Terra, que irradia
como um corpo negro a uma taxa σ T 4 por unidade de
área.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Duas estrelas de tamanhos iguais estão à mesma


distância da Terra. Uma tem temperatura de 5.800 K e a
outra tem temperatura de 2.900 K.
a) Qual é a mais avermelhada?
b) Qual é a mais azulada?
c) Qual é a mais brilhante?
d) Qual a razão entre o brilho da mais brilhante e o
brilho da menos brilhante?
2. A constante solar, isto é, o fluxo de radiação solar
Área 2, Aula 6, p.8 que chega à Terra, é 1.390 W/m2.
Müller, Saraiva & Kepler
a) Encontre o fluxo de radiação na superfície do Sol.
(Dado: raio do Sol = 700.000 km, distância Terra-Sol = 150
milhões de km).
b) Quantos metros quadrados da superfície do Sol
são necessários para produzir 1.000 MW (megawatts)?
c) Calcule a luminosidade do Sol.
d) Algumas teorias assumem que a temperatura
efetiva do Sol há 4,5 bilhões de anos era 5.000 K
(atualmente é 5.800 K), e seu raio era 1,02 vezes o valor do
raio atual. Qual era a constante solar então? (Assuma que a
distância Terra-Sol não mudou).
3. Canopus, a segunda estrela mais brilhante do
céu, é uma estrela branca com magnitude visual aparente
m=-0,72, e magnitude visual absoluta M = - 3,1. Sua
temperatura efetiva é de 7.800 K.
a) Compare o brilho de Canopus com o de uma
estrela com magnitude visual m= 0,7. Qual das duas é a
mais brilhante e qual é a razão entre o brilho de Canopus e
da outra?
b) Qual a distância de Canopus até a Terra em
parsecs?
c) Qual é o comprimento de onda em que aparece
o pico de sua radiação?
d) Quanto mais de energia por segundo Canopus
emite, comparada com uma estrela de mesma
temperatura, mas cujo raio é a metade do raio de
Canopus?
Até a próxima aula!

Área 2, Aula 6, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 7 - Espectroscopia Área 2, Aula 7

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho.

Decomposição da luz branca nas suas cores


componentes, em ordem crescente de
frequência de cima para baixo. A cor de menor
frequência sofre a menor refração tanto ao entrar
no prisma quanto ao sair dele. Autor: Prof. Luiz
Carlos Goulart.

Introdução
Prezado aluno, em nossa sétima aula, da segunda
área, vamos tratar da espectroscopia, fazendo distinção
entre os diferentes tipos de espectros. Veremos como as
transições eletrônicas dentro de um átomo produzem suas
linhas de emissão e de absorção, como são classificadas
de acordo com as suas linhas espectrais, e como essas
linhas dependem das temperaturas das estrelas.
Bom estudo!
Objetivos da aula
Nesta aula trataremos de espectroscopia. Esperamos
que no final você esteja apto a:
• distinguir entre os diferentes tipos de espectros -
o contínuo, o de emissão e o de absorção -, e
explicar como cada um se forma;
• descrever, em linhas gerais, a estrutura do
átomo de hidrogênio, no modelo clássico;
• explicar como as transições eletrônicas dentro
de um átomo produzem as linhas de emissão e
de absorção nos espectros desses átomos;
• explicar por que as estrelas apresentam
espectros de absorção;
• explicar como é feita a classificação espectral
das estrelas e listar as classes básicas
associando-as com as linhas espectrais
dominantes;
• associar o tipo espectral de uma estrela com a
sua temperatura.

Por que os espectros são


considerados “assinaturas” das
estrelas?
Devido à impossibilidade de termos um contato direto
com as estrelas, quase todas as informações relativas às
mesmas são obtidas pela análise espectral da luz que delas
emana.
Espectro

Figura 02.07.01: Espectro da radiação visível.

À intensidade da luz em diferentes comprimentos de


onda, chamamos de espectro. Um espectro pode ser obtido
quando a luz se difrata ao atravessar um prisma ou rede de
difração, ou mesmo gotas de chuva, como no caso do arco-
íris.
Quase toda informação sobre as propriedades físicas
das estrelas são obtidas direta ou indiretamente de seus
espectros, principalmente suas temperaturas, densidades e
composições.

Área 2, Aula7, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
Histórico
Isaac Newton(1643 - 1727) demonstrou, em 1665 - 66,
que a luz branca, como a luz do Sol, ao passar por um prisma,
se decompõe em luz de diferentes cores, formando um
espectro como o arco-íris.

Figura 02.07.02: Formação do espectro da luz, a partir da decomposição da


luz branca, pela dupla refração que ela sofre ao entrar no prisma e ao sair do
mesmo. Autor: Luiz Carlos Goulart.

No início do século 19, o alemão Joseph Von Fraunhofer


(1787 – 1826), que fabricava instrumentos de vidro (lentes,
prismas, microscópios e telescópios), observou que o espectro
do Sol apresentava um grande número de linhas escuras sobre
ele. (Mais tarde essas linhas passaram a ser chamadas de
linhas de Fraunhofer). Fraunhofer classificou 324 dessas linhas,
identificando as linhas mais fortes com letras maiúsculas de A a
K (na ordem de maior para menor comprimento de onda), e
as mais fracas com letras minúsculas. Algumas foram
identificadas como combinações de letras e números.

Figura 02.07.03: Espectro solar com linhas escuras. Fraunhofer também


observou linhas nos espectros das estrelas Sírius, Castor, Pollux, Capella,
Betelgeuse e Procyon. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Fraunhofer_lines.

.
Curiosidade

Fraunhofer utilizava as linhas do espectro solar para calibrar seus


instrumentos (vidros e prismas), que eram os de melhor qualidade fabricados
naquela época. Como pequenas variações na quantidade e mistura de
quartzo (SiO2), cal (CaO) e soda (carbonato de sódio, Na2CO3) que compõem
o vidro (basicamente SiO4) fazem que os prismas fabricados desloquem o
comprimento de onda em diferentes ângulos, Fraunhofer usava as linhas do
espectro solar para determinar as propriedades dos vidros. Apresentando seus
resultados na Academia de Ciências da Bavária, foi eleito membro e ministrou
aulas na Universidade da Bavária por muitos anos, apesar de não possuir
educação formal.

Área 2, Aula 7, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Em 1856, o químico alemão Robert Wilhelm Bunsen (1811 -
1899) inventou o bico de gás (bico de Bunsen), que tinha chama
incolor, de maneira que, quando um elemento químico era
colocado sobre a chama, as cores emitidas eram as da
substância, e não da chama. Bunsen e seu colaborador, o físico
Gustav Robert Kirchhoff (1824 – 1887), observaram os espectros de
diversos elementos colocados na chama e observaram que o
espectro formado, não era contínuo, e sim constituído de séries
de linhas brilhantes que variavam de elemento para elemento.
Por exemplo, o neônio tinha linhas no vermelho, o sódio tinha
linhas no amarelo e o mercúrio tinha linhas no amarelo e no
verde.
Kirchhoff observou ainda que, passando a luz do Sol
através de uma chama de sódio, as linhas D do Sol ficavam ainda
mais fortes e escuras. Ele então substituiu o Sol por um sólido
quente. A luz do sólido que passava pela chama apresentava as
mesmas linhas escuras do Sol, na posição das linhas do sódio. Ele
então concluiu que o Sol era um gás ou sólido quente, envolto
por um gás mais frio. Estas camadas mais frias é que produziam as
linhas escuras do Sol. Comparando o espectro, ele descobriu
linhas de Mg, Ca, Cr, Co, Zi, Ba e Ni no Sol.

Tabela 02.07.01: Linhas espectrais identificadas por Gustav Robert Kirchhoff

Linha (Å) Elemento Cor

A 7594 oxigênio Vermelho

B 6867 oxigênio

Leis de Kirchoff C 6563 hidrogênio, H α


Um corpo opaco D1 5896 sódio Amarelo
aquecido produz um
espectro contínuo. D2 5890 sódio
Um gás rarefeito e
aquecido produz linhas D3 5876 hélio
escuras ou brilhantes,
sempre nas mesmas E 5270 ferro e cálcio
posições, dependendo
se o gás é observado b1 5184 magnésio
contra uma fonte de
espectro contínuo, ou se F 4861 hidrogênio, H β Verde
é observado contra um
fundo escuro. G 4308 ferro (e cálcio) Azul

H 3968 cálcio

K 3934 cálcio Violeta

De suas experiências, Kirchhoff formulou as três leis


empíricas da espectroscopia, que definem os tipos básicos de
espectros.
Leis de Kirchhoff
1) Um corpo opaco quente, sólido, líquido ou gasoso,
emite um espectro contínuo.
2) Um gás transparente produz um espectro de linhas
brilhantes (de emissão). O número e a posição dessas linhas
depende dos elementos químicos presentes no gás.
3) Se um espectro contínuo passar por um gás à
temperatura mais baixa, o gás frio causa a presença de linhas
escuras (absorção). O número e a posição dessas linhas depende
Área 2, Aula 7, p.4
Müller, Saraiva & Kepler
dos elementos químicos presentes no gás.
Tipos de espectros

1º Espectro contínuo:
característico de um corpo
opaco (sólido, líquido ou
gasoso) aquecido;
2º Espectro de emissão:
característico de um gás Figura 02.07.04: Os três tipos de espectros na classificação de Kirchhoff: o contínuo,
transparente aquecido. o de emissão e o de absorção.
3º Espectro de absorção:
formado pela
superposição de um gás
mais frio à fonte do
espectro contínuo.
O espectro contínuo é
também chamado de
espectro de corpo negro,
ou espectro térmico.
Depende apenas da
temperatura da fonte

Figura 02.07.05: Simulação das Linhas.

É importante notar que as linhas escuras não significam


ausência de luz, somente o contraste de menos luz. O gás mais
frio absorve mais radiação do que emite e, portanto, gera linhas
escuras. Se estiver em equilíbrio, isto é, nem aquecendo nem
esfriando, um gás absorve a radiação vinda em sua direção e a
re-emite em todas as direções, causando um decréscimo de fluxo
na direção da fonte. Se não estiver em equilíbrio, o gás aquece.

Curiosidades:
Em 1862, o astrônomo sueco Anders Jonas Ångström (1814-1874),
aumentando a precisão de medida do comprimento de onda, identificou as
linhas de hidrogênio no Sol. A identificação do elemento hidrogênio já havia sido
feita em 1766 pelo físico e químico inglês Henry Cavendish (1731-1810).
Em 1868, o astrônomo inglês Sir Joseph Norman Lockyer (1836-1920)
descobriu uma linha inexplicada no espectro do Sol, que ele identificou com um
novo elemento químico, hélio, do grego helios, Sol. Lockyer mais tarde fundou a
revista Nature, e foi seu editor por 50 anos. Independentemente, o astrônomo
francês Pierre-Jules-César Jansse (1824-1907) também identificou esta linha, no
mesmo ano. Somente 27 anos mais tarde o elemento hélio foi descoberto na Terra,
pelo químico inglês Sir William Ramsay (1852-1916) quando o espectro de um
minério de urânio contendo hélio produziu uma linha na posição exata daquela
encontrada por Lockyer no espectro do Sol. Hoje em dia sabemos que o hélio é o
segundo elemento mais abundante no Universo. O primeiro é o hidrogênio.

A origem das linhas espectrais: átomos e luz.


No início do século XX, os cientistas começaram a
estabelecer as bases para a compreensão da formação dos
espectros à medida que eles começaram a aprender mais sobre
a estrutura dos átomos e a natureza da luz.

Área 2, Aula 7, p.5


Figura 02.07.06: Experimentos de Ernest Rutherford: bombardeamento de folhas de
Müller, Saraiva & Kepler
ouro por partículas alfa.
Em 1909, Rutherford, Geiger e Marsden, bombardeando
folhas de ouro com partículas alfa (íons de hélio), verificaram que
apenas 1 em cada 20.000 partículas incidentes eram refletidas na
mesma direção de incidência, algumas poucas eram desviadas e
a maioria passava a folha como se nada houvesse em seu
caminho. Concluíram que os átomos são compostos de um
pequeno núcleo, com carga elétrica positiva, rodeado por uma
nuvem de elétrons, com carga elétrica negativa. Como esses
elétrons não poderiam estar parados, pois eles cairiam em
direção ao núcleo devido à atração coulombiana, Rutherford
propôs que eles estariam girando em torno do núcleo em órbitas
Partículas Alfa circulares.
São núcleos de hélio, No entanto, isso não resolvia o problema da estabilidade
possuem2 prótons e 2 do núcleo, pois cargas elétricas aceleradas emitem energia, e a
nêutrons. perda de energia faria os elétrons espiralarem rapidamente em
direção ao núcleo, emitindo radiação em todos os comprimentos
de onda e tornando os átomos totalmente instáveis. Além da
evidente contradição com o fato de que os átomos não são
instáveis, também já era conhecido que, quando os átomos
emitem radiação, eles o fazem somente em certos comprimentos
de onda, e não em todos os comprimentos de onda. Isso gerou a
suspeita de que as leis da mecânica clássica não se aplicavam
totalmente a corpos microscópicos como os átomos e propiciou
o surgimento da mecânica quântica.
Quantização
Em 1900, o cientista alemão Max Planck (1858-1947)
desenvolveu o modelo da quantização da luz, segundo o qual a
matéria emite luz em pacotes de energia, que ele denominou
quanta.

Figura 02.07.07:Representação de um átomo constituído de um núcleo e um


elétron (bolinha azul) em meio a várias partículas (bolinhas amarelas). Uma
partícula colide com o átomo (1) que se excita, fazendo com que seu elétron pule
para um nível de maior energia (2). Em seguida o elétron volta para seu nível de
energia original, liberando a energia extra na forma de um fóton de luz (3).

Área 2, Aula 7, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Albert Einstein (1879 – 1955), em 1905, estudando o efeito
fotoelétrico, usou a ideia da quantização e propôs que cada
quantum de luz, ou fóton, tem uma energia E dada por:
(1)
h.c
= .ν
E h= ,
λ
onde h é a constante de Planck, h= 6,63 x 10-34J.s,
ν é a frequência da luz,
λ é o comprimento de onda da luz e
c é a velocidade da luz c = 3 x108m/s.

Figura 02.07.08: Louis de Broglie, Niels Bohr, Albert Eisntein, Max Karl Ernst Ludwig
Planck & Erwin Schrödinger.

Louis Victor, Príncipe de Broglie (1892-1987), em sua tese


de doutorado em 1924, mostrou que o momentum (p) de cada
fóton, ou qualquer partícula, é dado por:
(2)

h E
p= = .
λ c
De Broglie também propôs que os elétrons de um átomo
só podem ocupar níveis quantizados, o que mais tarde foi melhor
entendido com a formulação da mecânica quântica por Erwin
Schrödinger (1887-1961).
Níveis de Energia do Hidrogênio
De Broglie fez a suposição, seguindo Niels Henrik David
Bohr (1855-1962), que as órbitas são quantizadas, isto é, que a
órbita do elétron deveria conter um número inteiro de
comprimentos de onda:
(3)

No Sistema Internacional, 2.π .r = n.λe ,


S.I.
A constante
onde n=1, 2, 3,... só assume valores inteiros. Estando nessas
órbitas, os elétrons não emitem radiação.
K = 9 x 109 N.m2/C2
e a carga do elétron é

e = 1,6 x 10-19C.

Figura 02.07.09: Ilustração da quantização de energia no átomo de hidrogênio,


de acordo com o modelo de De Broglie.

Pela lei de Coulomb [Charles Coulomb (1736-1806)], o


módulo da força elétrica entre o próton nuclear e o elétron é
dado por:
Área 2, Aula 7, p.7
Müller, Saraiva & Kepler
K.e2
FC = .
r2
Por outro lado, a força centrípeta sobre o elétron tem
intensidade:

me .v2
Fc =
,
r
e é gerada pela força de Coulomb. Portanto:
2 1/2
K.e2 m .v  K.e2 
Fc = FC ⇒ 2 = e ⇒v=   ,
r r  me .r 
ou seja, o momentum linear do elétron é dado por:
(4)
1/2
 me . K. e 2

pe m
= =e .v 
  .
 r 
Pela equação (2), o momentum de cada elétron está
relacionado com o seu comprimento de onda ( λ ):
(5)
h h
pe = ⇒ λe = ,
Um elétron-volt (eV)
λe pe

Mas como a órbita só pode conter um número inteiro de


É a energia adquirida por um
elétron ao ser acelerado comprimentos de onda, substituindo (4) na (5) e na (3), temos:
1/2
através de uma diferença de  
n.h r
potencial de 1 volt. 2. π=
.r n.=
λe = n.h.   .
1 eV =1,602×10-19 J
pe  me .K.e
2

1 eV =1,602×10-12ergs.
Logo o raio da órbita é dado por:
1/2
 h   r 
r = n.   .   .
 2.π   me .K.e
2

Elevando-se ao quadrado,
n2 .  2 . r
r2 = ,
me . K . e2
,
onde:
h
= ,
2. π
.
dividindo por r , chegamos ao raio de Bohr:
n2 .  2
r= .
me . K . e2
.
Como a energia total é dada por:
1 K . e2 K. e2 K . e2 . me . K . e2
E= . me . v2 − =
− =
− ,
2 r 2. r 2. n2 .  2
(6)

m . K 2 . e4 2,18 x10 −11 ergs 13,6 eV


E=
− e 2 =
− 2
=
− .
2. n .  n n2

Dessa maneira, deduz-se que os níveis de energia do


hidrogênio são quantizados, já que n=1,2,3,... só assume valores
inteiros, isso é, assumindo-se que as órbitas só podem conter um
número inteiro de comprimentos de onda, obtém-se que os níveis
de energia são quantizados.

Área 2, Aula 7, p.8


Müller, Saraiva & Kepler
Note que esse modelo simplista só dá resultados corretos
para o hidrogênio. Para outros átomos, é preciso usar a versão
moderna da Mecânica Quântica completa.
Por conservação de energia, quando um átomo passa de
um nível de energia maior, n1 para outro de energia menor, n2, há
emissão de um fóton com energia:

Efóton
= E( n ) − E ( n ).
1 2

Mecânica Quântica

Na visão atual, os elétrons


atômicos não são mais e,
vistos como partículas Efóton = h.ν ,
que se movem em
trajetórias bem definidas
(órbitas) em torno do
núcleo. Os chamados
orbitais atômicos, que de modo que para satisfazer a quantização dos estados, um
descrevem o átomo de hidrogênio só pode emitir fótons com energia:
comportamento
ondulatório dos elétrons,
estão associados a
distribuições de  1 1
probabilidade de h.ν =E( n ) − E ( n ) =13,6 eV.  2 − 2  ,
 n1 n2 
1 2
encontrar um elétron em
determinada região e,
por isso os elétrons são
vistos como “nuvens” em
torno do núcleo. ou, em termos de comprimento de onda:

1 13,6 eV  1 1 1  1 1
= .  2 −= 
2   2 − 2  .
 
λ h.c  n1 n2  n n2 
912 A  1

Esta equação já tinha sido derivada experimentalmente


para n1 = 2 por Johann Jakob Balmer (1825-1898) em 1885 e, por
isso, as linhas En → E2 , que estão na parte visível do espectro, são
chamadas de linhas de Balmer. A série En → E1 é chamada de série
de Lyman [Theodore Lyman (1874-1954)], e está no ultravioleta.
Portanto um átomo de hidrogênio, como se pode ver na
figura 02.07.10, só pode absorver fótons com certas energias para
que seus elétrons passem de um nível de menor energia para um
nível de maior energia, assim como só podem emitir fótons com
essas energias para o processo inverso. Desta maneira, a detecção
de uma linha espectral com este comprimento de onda, em
emissão ou absorção, constitui evidência da presença do
hidrogênio.

Área 2, Aula 7, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.07.10: Níveis energéticos para o átomo de hidrogênio. No referencial
adotado, o elétron tem energia zero no estado fundamental e só absorverá fótons
com energia adequada para levá-lo a algum dos níveis de energia indicados. Por
outro lado, estando em um estado excitado, o átomo só poderá emitir fótons com
energia adequada para que o elétron decaia para algum dos níveis de energia
permitidos, conforme indicam as setas da figura. Se o elétron no estado
fundamental absorver energia igual ou superior a 13,6 eV atingirá a chamada
região do contínuo, ou seja, ele é liberado do átomo e sua energia pode assumir
qualquer valor, deixando, pois, de ser quantizada.

Para átomos com mais de um elétron, é preciso ainda levar


em conta o princípio da exclusão de Pauli [Wolfgang Pauli (1900-
1958)], pois os elétrons são férmions e não podem ocupar o mesmo
estado quântico, com o mesmo spin.

Tabela 02.07.02: Principais linhas do hidrogênio.

Se os átomos emitem em
linhas espectrais, de onde
vem o espectro contínuo?

Quando átomos
interagem com outros, as
linhas espectrais são
alargadas, já que os
átomos têm velocidades
diferentes e os Existem regras de seleção que prevêem as transições mais
comprimentos de onda se esperadas entre dois níveis de energia, levando em conta a
deslocam pelo efeito existência, ou não, de superposição espacial das funções de onda
Doppler. Quando um
agregado de átomos dos níveis envolvidos nas transições. As transições permitidas
interage fortemente, como representam as transições que conservam o momentum angular
em um sólido, líquido, ou total do sistema.
gás opaco, todas as linhas
são tão alargadas, que Outras transições são matematicamente possíveis, mas são
produzem um contínuo consideradas proibidas porque, nas condições terrestres, antes que
térmico.
um átomo possa irradiar por uma transição proibida, uma colisão
com outro átomo ou molécula irá ocorrer e desexcitar o átomo
colisionalmente. Como no meio interestelar os átomos estão muito
mais distantes entre si do que na Terra, as colisões são muito raras e,
portanto, as transições proibidas são importantes em nuvens de gás
e no meio interestelar.

Área 2, Aula 7, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Velocidade Radial e Efeito Doppler

Outro uso da espectroscopia é a derivação da velocidade


radial, isto é, a velocidade do objeto na linha de visada, utilizando
o efeito Doppler.
Em 1842 Christian Doppler (1803-1853) deduziu que, para
Velocidade radial um corpo luminoso se aproximando (ou se afastando) do
observador, o comprimento de onda da luz diminui (aumenta), em
Componente da
velocidade do objeto ao
relação àquele observado em laboratório. O comprimento de
longo da linha visada. onda de uma fonte que está se movimentando com velocidade v
em relação ao observador é deslocado por:

 
∆λv  1 
= cos θ  ,
λ c  v2 
 1− 2 
 c 

onde é o ângulo entre o vetor velocidade e a linha de visada, já


com a correção devido à Relatividade Especial, proposta por
Einstein em 1905. Se a velocidade for muito menor que a
velocidade da luz, e considerando vr como a componente de
velocidade na direção do observador:
∆λ vr
= .
λ c
Em 1868 Sir William Huggins (1824 – 1910) deduziu a
velocidade radial de Sírius observando a pequena diferença no
comprimento de onda da linha F ( Hβ ) do hidrogênio. Mais tarde
foram observadas variações nesta velocidade.

Perfil de Linha

Figura 02.07.17: Perfil da linha: intensidade versus comprimento de onda

Perfil de linha
A composição química da atmosfera de uma estrela pode
A composição química ser determinada pela razão das profundidades das linhas
da atmosfera de uma
estrela pode ser espectrais, que depende da temperatura e pressão.
determinada pela razão
O perfil de uma linha representa a variação da densidade
das profundidades das
linhas espectrais, que de fluxo (intensidade) com o comprimento de onda. A forma de
depende da uma linha espectral é chamada de perfil da linha. A forma
temperatura e da verdadeira da linha reflete as propriedades da atmosfera da
pressão.
estrela: temperatura T, pressão P, gravidade superficial g,
densidade ρ e velocidade das partículas v, mas o perfil observado
também é alargado pelo instrumento de observação (incluindo a
largura da fenda). A composição química da atmosfera de uma
Área 2, Aula 7, p.11
estrela pode ser determinada pela razão das profundidades das
Müller, Saraiva & Kepler
linhas espectrais, que depende da temperatura e pressão.
O Efeito Doppler não apenas desloca a linha como um
todo, mas também o alarga. Devido ao movimento térmico dos
átomos na atmosfera da estrela, muitos átomos emitem e
absorvem fótons em comprimento de onda ligeiramente maiores
ou menores do que emitiriam e absorveriam se estivessem
parados. Quanto mais quente o gás, maior o alargamento da
Além de deslocar a linha, o linha.
efeito Doppler também a
alarga.

Classificação Espectral

Embora Fraunhofer, em 1823, tivesse observado que as


estrelas tinham espectros de linhas escuras como o Sol,
investigações mais completas dos espectros das estrelas
mostraram que os espectros estelares não eram todos iguais; só
alguns se pareciam com o do Sol. Em 1863, o astrônomo jesuíta
Angelo Secchi fez a primeira classificação dos espectros das
estrelas, de acordo com as linhas escuras.
Note-se que até esta época a fotografia ainda não era
possível, por isso os espectros eram obtidos visualmente. O
espectro do Sol foi fotografado pela primeira vez por Henri
Becquerel, em1842. Somente em 1872 Henry Draper obteve a
primeira foto de um espectro estelar, da estrela Vega.
A classificação espectral usada atualmente foi
desenvolvida no observatório de Harvard, nos Estados Unidos, no
início do século XX.

Figura 02.07.11: Espectro de estrelas de diferentes temperaturas, na região entre


7.000 angstrons e 4.000 angstrons. São marcadas as posições das linhas de
diferentes elementos.

A classificação dos espectros foi feita por Annie Jump


Cannon (1863-1941), para 225.000 estrelas até magnitude 9 entre
1918 e 1924, publicadas no Henry Draper Catalogue. Cannon
classificou seus espectros de acordo com as linhas de hidrogênio,
sendo A a mais forte, B a seguinte, e assim por diante.

Área 2, Aula 7, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.07.12: Estrelas

Atualmente as estrelas são classificadas em função


decrescente da temperatura, como O B A F G K M.

Tabela 02.07.03: Classificação das estrelas.

Área 2, Aula 7, p.13 Figura 02.07.13: Espectro das estrelas com os comprimentos de ondas de cada cor,
Müller, Saraiva & Kepler com suas respectivas temperaturas.
Uma frase para lembrar a
ordem de temperaturas
é:

Oh! Be A Fine Girl, Kiss


Me!
ou:
Only Boring Astronomers
Find Gratification
Knowing Mnemonics,
ou OBA, Frango Grelhado
"Kom" Molho.

Figura 02.07.14: Fluxo relativo x comprimento de onda.


Linhas escuras
Cada linha escura no espectro de uma estrela está
Cada linha escura no associada à presença de um elemento químico na atmosfera da
espectro de uma estrela
estrela. Isso pode nos levar a pensar que as estrelas, com linhas
está associada à
presença de um espectrais diferentes, têm composição química diferente. No
elemento químico na entanto, atualmente, sabe-se que a composição química das
atmosfera da estrela. estrelas em geral é praticamente a mesma: aproximadamente
90% hidrogênio e aproximadamente 9% hélio (por número); outros
Espectro das estrelas elementos juntos contribuem entre 1% e 2% da composição e são
É determinada pela
chamados de metais. Portanto, o hidrogênio é de longe o
temperatura das estrelas. elemento químico mais abundante nas estrelas e, ainda assim, as
linhas do hidrogênio, embora fortes em algumas estrelas, são
fracas em outras.
Linhas de Balmer
Como se explica isso?
Características de
estrelas com temperatura Na verdade, mais do que a composição química, é a
superficiais de temperatura que determina o espectro das estrelas. Consideremos
aproximadamente de uma linha de Balmer do hidrogênio. Essas linhas se originam em
10.000 K.
transições entre o segundo nível de energia do hidrogênio e
qualquer outro nível acima dele: transições de nível para cima
(n2 > 2) resultam em absorção, transições de nível para baixo
(n2 = 2) resultam em emissão. Então, para uma estrela ter linhas de
Balmer intensas, ela precisa ter muitos átomos de hidrogênio
excitados ao nível n = 2. Isso acontece em estrelas com
Área 2, Aula 7, p.15 temperatura em torno de 10.000 K (kT = 0,86 eV); para
Müller, Saraiva & Kepler
temperaturas muito mais baixas, como a do Sol por exemplo, o
hidrogênio está no estado fundamental e poucas colisões
podem acontecer que sejam energéticas o suficiente para
excitar o hidrogênio. Já em estrelas com temperaturas muito mais
altas, o hidrogênio está quase todo ionizado, devido às frequentes
colisões e, novamente, existem muito poucos átomos excitados.
As linhas de Balmer ficam Assim, as linhas de Balmer ficam fracas em estrelas muito quentes
fracas em estrelas muito ou muito frias, apesar de o hidrogênio existir abundantemente em
quentes ou muito frias, todas.
mesmo que todas
tenham hidrogênio em
abundância.

Resumo
Espectro
É a decomposição que a luz branca sofre ao passar por
um prisma. A luz branca se dispersa em seus comprimentos de
onda componentes.
Tipos de espectros (Leis de Kirchhoff):
- um corpo opaco quente (sólido ou fluido muito denso)
produz um espectro contínuo, isto é, tem todos os comprimentos
de onda;
- um gás quente transparente (de baixa densidade) produz
um espectro de linhas brilhantes (linhas de emissão). Nesse
espectro apenas alguns comprimentos de onda estão presentes;
- um gás transparente em frente ao corpo opaco mais
quente produz um espectro de linhas escuras (linhas de
absorção), por remover alguns comprimentos de onda do
contínuo.
O espectro contínuo é também chamado de espectro de
corpo negro, ou espectro térmico. Depende apenas da
temperatura da fonte. Quando átomos interagem com outros, as
linhas espectrais são alargadas, já que os átomos têm
velocidades diferentes e os comprimentos de onda se deslocam
pelo Efeito Doppler. Quando um agregado de átomos interage
fortemente, como em um sólido, líquido, ou gás opaco, todas as
linhas são tão alargadas, que produzem um contínuo térmico.
As linhas de emissão ou absorção produzidas por cada
elemento são únicas, e sua formação se dá dentro dos átomos,
como é explicado pelo modelo de Bohr para o átomo de
hidrogênio; o elétron só pode orbitar o núcleo em determinadas
órbitas (aquelas cujo perímetro contenha um número inteiro de
comprimentos de onda do elétron), o que significa que os níveis
de energia do hidrogênio são quantizados. Estando nesses níveis
de energia o átomo não emite radiação, mas quando o átomo
passa de um nível de energia para outro, a diferença de energia
entre os dois níveis é emitida ou absorvida na forma de fótons,
formando uma linha de emissão ou de absorção no espectro.
Na visão atual, os elétrons atômicos não são mais vistos
como partículas que se movem em órbitas bem definidas em
torno do núcleo. Os chamados orbitais atômicos, que descrevem
o comportamento ondulatório dos elétrons, estão associados a
distribuições de probabilidade de encontrar um elétron em
determinada região e, por isso os elétrons são vistos como
“nuvens” em torno do núcleo, mas ainda com energia bem
definida.

Área 2, Aula 7, p.15


Müller, Saraiva & Kepler
Espectros estelares

As estrelas emitem um espectro contínuo com linhas de


absorção. O contínuo é gerado na sua superfície visível
(fotosfera), e tem forma similar à de um corpo negro com a
temperatura da fotosfera.

As linhas de absorção são geradas nas atmosfera fina logo


acima da fotosfera. Sua localização depende dos elementos ali
presentes e, principalmente da temperatura da estrela.

A classificação espectral das estrela baseia-se nas


intensidades relativas das linhas de absorção presentes; como
essa intensidade está associada à temperatura da estrela, a
classificação espectral é uma classificação de temperatura.

Em ordem decrescente de temperatura, as classes


espectrais são: O, B, A, F, G, K, M.

Cada classe se subdivide em 10, de 0 a 9 (...,


A0,A1,A2,...,A9,F0,F1,..) sendo 0 a mais quente dentro da classe e 9
a mais fria. Uma frase para lembrar a ordem de temperaturas é:

Oh! Be A Fine Girl, Kiss Me!


Cada linha escura no espectro de uma estrela está
associada à presença de um elemento químico na atmosfera da
estrela, mas o aparecimento ou não dessas linhas vai depender
da temperatura da estrela. Assim, o fato de uma estrela ter linhas
de um certo elemento em seu espectro indica que esse elemento
está presente na atmosfera da estrela, mas o fato da estrela não
ter as linhas de um elemento não indica que o elemento não
exista. Por exemplo, o elemento mais abundante em todas as
estrelas é o hidrogênio, mas só estrelas com temperaturas entre
7.000 e 10.000 K apresentam linhas fortes do hidrogênio no
espectro.
As linhas de Balmer ficam fracas em estrelas muito quentes
ou muito frias, mesmo que todas tenham hidrogênio em
abundância.
As linhas espectrais em geral não são perfeitamente
estreitas, mas sim são alargadas pelo Efeito Doppler causado pelo
movimento do gás na atmosfera da estrela. O movimento da
estrela como um todo também desloca as linhas espectrais (Efeito
Doppler) em um determinado sentido (deslocamento para o azul
ou para o vermelho) dependendo se a estrela está se
aproximando ou se afastando da Terra. Assim, a espectroscopia
nos permite determinar a velocidade radial (a velocidade do
objeto na linha de visada), utilizando o Efeito Doppler.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas com
os demais colegas.
Bom trabalho!

Área 2, Aula 7, p.16


Müller, Saraiva & Kepler
1. Radiação:
a) Calcule os comprimentos de onda da radiação
eletromagnética, nas frequências de 100 MHz e 10 GHz.
b) Em que região do espectro eletromagnético caem
essas frequências?
c) Calcule a energia do fóton com cada uma dessas
frequências.
2. Assuma que uma lâmpada de 100 W converte toda a
sua energia elétrica em luz em λ = 5.500 Å. Sabendo que
1W = 1J/s, quantos fótons a lâmpada libera por segundo?
3. Calcule o comprimento de onda da radiação
correspondente a uma transição eletrônica do segundo para o
terceiro nível de energia do átomo de hidrogênio. Essa linha será
em emissão ou absorção? Como é o nome dessa linha? Em que
parte do espectro eletromagnético ela cai?
4. Se, em uma certa estrela, a linha correspondente à
transição eletrônica da questão acima for observada em 7.500 Å,
qual a velocidade radial da estrela? Ela estará se afastando ou se
aproximando de nós?
5. Com relação aos espectros estelares e sua classificação
responda:
a) O Que tipo de espectro (contínuo, de emissão ou de
absorção) têm as estrelas?

b) De que propriedade da estrela depende a intensidade


do contínuo em cada ponto do espectro de uma estrela?

c) Qual a maior diferença entre o espectro do Sol e o de


um corpo negro com a mesma temperatura do Sol?

d) Que parâmetro físico está fortemente correlacionado à


classificação espectral das estrelas? (O, B, A, F, G, K, M)?
6. Considere três estrelas com os seguintes tipos espectrais:
M1, G3, B0, e B9.
a) Qual a mais quente?
b) Qual é a mais fria?
c) Qual tem a temperatura mais parecida com a do Sol?

Até a próxima aula!

Área 2, Aula 7, p.17


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 8 - Classes de Luminosidade e Diagrama HR.
Área 2, Aula 8

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Oliveira Filho

Diagrama HR comparando a luminosidade das


estrelas com as suas temperaturas absolutas. A partir
da localização da estrela no diagrama as estrelas
podem ser classificadas. Fonte:
(http://astro.if.ufrgs.br/estrelas/node2.htm ).

Introdução
Prezado aluno, em nossa oitava aula, da segunda
área, vamos tratar da classificação espectral fazendo
distinção entre os diferentes tipos de espectros. Baseados
na última aula, onde vimos que as transições dentro de
um átomo produzem as linhas de emissão e de absorção,
veremos que as estrelas podem ser classificadas de
acordo com as suas linhas espectrais. E, a partir dessas
linhas, como é possível estabelecer as suas temperaturas,
suas luminosidades e a suas composições químicas.
Também nessa aula conheceremos o diagrama HR, que
é uma ferramenta extremamente útil para estudar as
estrelas. Analisando um diagrama HR vemos como as
estrelas podem ser classificadas em diferentes grupos. O
diagrama HR também nos proporciona um método para
determinar distâncias estelares.
Bom estudo!
Objetivos da aula
Nesta aula trataremos da classificação espectral das
estrelas e do Diagrama HR. Esperamos que no final você
esteja apto a:

• inferir temperaturas, tamanhos e luminosidades


relativas de estrelas a partir de suas
classificações por tipo espectral e classe de
luminosidade;
• esquematizar um diagrama HR para estrelas,
indicando as posições das estrelas da
sequência principal, das gigantes, das
supergigantes e das anãs brancas;
• associar as diferentes regiões do diagrama HR
com as classes de luminosidade
correspondentes;
• entender como o diagrama HR pode ser usado
para determinar distâncias estelares.

Comparado com outras


estrelas, o Sol é quente ou frio?
É grande ou pequeno?É
luminoso ou fraco?
As estrelas têm temperaturas entre 0,5 e 10 vezes a
temperatura do Sol, tamanhos que variam entre 10-2 a 103 o
raio do Sol; e luminosidades entre 10-4 a 106 a luminosidade do
Sol. O Sol é uma estrela mediana.

Classificação de Luminosidade

Figura 02.08.01: Morgan & Keenan.

Na aula anterior vimos como as estrelas são


classificadas, de acordo com sua temperatura, nos tipos O, B,
A, F, G, K, M e suas subdivisões. Essa classificação, conhecida
como classificação de Harvard, leva em conta apenas as
posições das linhas espectrais presentes no espectro, que
indicam a temperatura da estrela.
Em 1943, William Wilson Morgan (1906-1994), Philip
Childs Keenan (1908-2000) e Edith M. Kellman (1911-2007), do
observatório de Yerkes, completaram a classificação
introduzindo seis diferentes classes de luminosidade, baseados
nas larguras das linhas espectrais.

Área 2, Aula8, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
Ia - Supergigantes superluminosas.
Ib - Supergigantes.
II - Gigantes luminosas.
III – Gigantes
IV - Subgigantes.
V - Anãs (sequência principal).
A classe de luminosidade completa a classificação
espectral, aparecendo ao lado do tipo espectral de estrela,
como nos exemplos da tabela 02.08.01.

Tabela 02.08.01: Seis classes de luminosidade, criadas com base nas larguras das
linhas espectrais por W. W. Morgan e por P.C. Keenan.
Luminosidade

Dada por:
L = 4. π .R2 . σ . Tef4
.
A luminosidade (L) da
estrela é proporcional ao
quadrado de seu raio.
L α R2 .

A classe de luminosidade é determinada pela largura


das linhas espectrais, que dependem fortemente da gravidade
superficial, diretamente relacionada à luminosidade pelo raio.
As massas das gigantes e anãs são similares, mas os raios das
gigantes são muito maiores. Como a aceleração gravitacional
é dada por g (g = GM/R2), ela é muito maior para uma anã do
que para uma gigante. Quanto maior a gravidade superficial,
maior a pressão e, portanto, maior o número de colisões entre
Classe de luminosidade as partículas na atmosfera da estrela. As colisões perturbam os
das estrelas níveis de energia dos átomos, fazendo com que eles fiquem
mais próximos ou mais afastados entre si do que o normal. Em
É determinada pela
largura das linhas
consequência, os átomos perturbados podem absorver fótons
espectrais, que dependem de energia e comprimento de onda levemente maior ou menor
da gravidade superficial. do que os que os fótons absorvidos nas transições entre níveis
As anãs têm uma não perturbados. O efeito disso é que a linha de absorção fica
gravidade superficial muito
maior que as gigantes.
alargada. Portanto, para uma mesma temperatura, quanto
menor a estrela, mais alargada será a linha, pois a pressão será
maior.
O tamanho da estrela, por sua vez, está relacionado à
luminosidade, pois a luminosidade é diretamente proporcional
ao quadrado de seu raio e à quarta potência de sua
temperatura superficial ( L = 4. π .R2 . σ . Tef4 ). Portanto, para estrelas
de mesma temperatura, quanto maior ela for mais luminosa
será.

Área 2, Aula 8, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.08.02: Duas estrelas de mesma temperatura (classe espectral B8), mas
de tamanhos diferentes (a de cima é uma supergigante de classe de
luminosidade Ia e a de baixo uma anã, com classe de luminosidade V). As massas
da supergigante e da anã são similares, mas a supergigantes tem raio muito
maior, logo suas linhas são mais estreitas.

Diagrama HR

Em 1911 o astrônomo dinamarquês Ejnar Hertzsprung (1873


– 1967), verificou que um gráfico da luminosidade das estrelas em
função de sua temperatura superficial mostra importantes
relações entre essas características. Dois anos mais tarde, o
astrônomo norte-americano Henry Norris Russell descobriu,
independentemente, as mesmas relações entre a luminosidade e
a temperatura das estrelas. Em homenagem a eles, os gráficos
da luminosidade em função da temperatura são chamados de
diagramas de Hertzsprung-Russell, ou diagrama HR.

Os diagramas HR costumam ser apresentados como na


Fig. 02.08.03.

Diagrama HR

Gráfico que relaciona a


luminosidade das estrelas
em função de sua
temperatura superficial,
indica importantes
relações entre essas
características.

Figura 02.08.03: Diagrama HR: A luminosidade é plotada no eixo das ordenada,


com valores crescentes de baixo para cima, e a temperatura no eixo das
abscissas, com valores crescentes da direita para a esquerda. Alternativamente,
no eixo das ordenadas pode ser plotada a magnitude absoluta, que é uma
grandeza associada à luminosidade, e, no eixo das abscissas pode ser plotado o
tipo espectral ou o índice de cor, que são características associadas à
temperatura da estrela.

Área 2, Aula 8, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.08.04: Representação do Diagrama HR, luminosidade versus temperatura.
As estrelas quentes ocupam o lado esquerdo do diagrama, enquanto as frias estão
no lado direito. As estrelas mais luminosas estão na parte superior do diagrama,
enauanto as menos luminosas estão na parte inferior. A posição do Sol está
marcada pela bolinha amarela.

Ao fazer um diagrama HR para um número grande de


objetos, fica evidente que as estrelas não se distribuem
homogeneamente nele, mas se concentram em algumas regiões.
A maior parte das estrelas está alinhada ao longo de uma estreita
faixa na diagonal que vai do extremo superior esquerdo (estrelas
quentes e muito luminosas), até o extremo inferior direito (estrelas
frias e pouco luminosas). Essa faixa é chamada sequência
Principal.
Num diagrama HR para
um grande número de
objetos as estrelas não se
distribuem
homogeneamente nele,
ficando concentradas
em algumas regiões. A
maior parte delas se
alinha ao longo da
Sequência Principal.

Figura 02.08.05: Diagrama HR para as estrelas do aglomerado das Plêiades. A


grande maioria das estrelas se encontra ao longo de uma faixa que vai do extremo
superior esquerdo, até o extremo inferior direito, chamada sequência Principal.
Fonte da Figura: The Astrophysics Spectator
(http://www.astrophysicsspectator.com/topics/stars/HertzsprungRussellClusters.html)

O fator que determina onde uma estrela se localiza na


sequência principal é a sua massa: estrelas mais massivas são
mais quentes e mais luminosas. As estrelas da sequência principal
têm, por definição, classe de luminosidade V, e são chamadas de
anãs. Um número substancial de estrelas também se concentra
acima da sequência principal, na região superior direita (estrelas
frias e luminosas). Essas estrelas são chamadas gigantes, e
pertencem à classe de luminosidade II ou III. Bem no topo do
diagrama existem algumas estrelas ainda mais luminosas: são
chamadas supergigantes, com classe de luminosidade I.
Finalmente, algumas estrelas se concentram no canto inferior
esquerdo (estrelas quentes e pouco luminosas): são
chamadas anãs brancas. Apesar do nome, as anãs brancas na
Área 2, Aula 8, p.5 verdade cobrem um intervalo de temperatura e cores que
Müller, Saraiva & Kepler abrange desde as mais quentes, que são azuis ou brancas, têm
temperatura superficiais de até 200.000 K, até as mais frias, que
são vermelhas, e têm temperaturas superficiais de apenas
3.500 K.

Sequência Principal

Faixa estreita no
diagrama HR, indo do
extremo superior
esquerdo até o extremo
inferior.
Figura 02.08.06: Diagrama HR para um conjunto grande de estrelas torna visível as
quatro regiões em que há mais concentração de estrelas. Fonte:
(http://www.if.ufrgs.br/oei/stars/hr/diag_hr.htm).

Estrelas de mesma temperatura podem ter raios


diferentes.
Podemos usar a Lei de Stefan-Boltzmann, já vista
anteriormente, para entender como o tamanho das estrelas varia
no diagrama HR. Esta lei estabelece que

L = 4π R2σ Tef4 .

Logo, se a luminosidade L aumenta a uma temperatura T


fixa (linha vertical no diagrama HR), o raio R das estrelas
aumenta. E se T aumenta a L fixo (linha horizontal), R diminui. Por
Gigantes Vermelhas exemplo, seja uma estrela cuja luminosidade L aumenta por um
As estrelas que se
fator 4 e cuja temperatura se mantém constante. Por quanto
concentram na região aumentará seu raio R?
superior direita do
diagrama HR são as Em um gráfico de log L x log T, o termo em R quadrático
gigantes vermelhas, na equação acima representa uma linha reta no diagrama HR.
estrelas frias e luminosas. Isso implica que o tamanho de uma estrela pode ser facilmente
lido do diagrama, uma vez conhecida sua posição.
Supergigantes
O diagrama HR é um instrumento essencial para o estudo
No topo do diagrama
estão estrelas mais
da evolução estelar. Estrelas iniciam sua evolução na sequência
luminosas que são as principal, tornam-se gigantes ou supergigantes e se extinguem
supergigantes. como anãs brancas, ou, em casos mais raros, como estrela de
nêutrons e buracos negros, que não podem ser incluídos no
Anãs Brancas
diagrama HR.
No canto inferior
esquerdo encontram-se
estrelas quentes e pouco
luminosas que são as
anãs brancas.

Área 2, Aula8, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Diagrama HR e
Evolução Estelar

Estrelas iniciam a sua


evolução na sequência
principal, tornam-se
gigantes ou
supergigantes e (na
grande maioria) se
extinguem como anãs Figura 02.06.07: Diagrama HR mostrando como o raio das estrelas se relaciona com
brancas. a sua luminosidade e com a sua temperatura. As linhas oblíquas indicam estrelas
com raios aproximadamente iguais. Fonte:
(http://www.if.ufrgs.br/oei/stars/hr/diag_hr.htm).

Tabela 02.08.02: Propriedades principais das estrelas em cada região do diagrama


HR.

A sequência principal é uma sequência de massas.

As estrelas da sequência principal (SP) mantêm uma


relação unívoca entre a luminosidade e a temperatura. Essa
relação é determinada pela sua massa: as estrelas mais massivas
são mais quentes e luminosas, portanto ficam na extremidade
superior esquerda do diagrama HR; as menos massivas são mais
frias e menos luminosas, ficando na extremidade inferior direita.
Essa constatação foi feita a partir de estrelas binárias, cujas
massas podem ser determinadas aplicando-se a Terceira Lei de
Kepler.
Pode-se, portanto, estabelecer uma relação massa-luminosidade que, por
sua vez, permite estimar as massas das estrelas baseadas em seu tipo espectral.
Para estrelas com massas (M) grandes, maiores do que 3 massas solares, a
luminosidade é proporcional ao cubo da massa; já para massas pequenas,
menores do que 0,5 massa solar, a luminosidade é proporcional à potência 2,5 da
massa, ou seja:

Área 2, Aula 8, p. 7
Müller, Saraiva & Kepler
M ≥ 3M → Lα M 3 ,
3M ≥ M ≥ 0 ,5M → Lα M 4 ,
M ≤ 0 ,5M → Lα M 2 ,5 .
Atenção: nas equações acima M significa massa e não
magnitude!
.

Estrelas mais massivas

São mais quentes e


luminosas, e ficam na
extremidade superior
esquerda do diagrama
HR,

Estrelas menos massivas

São mais frias e menos


luminosas, ficam na Figura 02.08.08: A relação entre luminosidade da estrela/luminosidade do Sol e a
extremidade inferior massa da estrela/massa do Sol para estrelas da Sequência Principal. O Sol é
direita do diagrama HR. representado pelo círculo vermelho.

É importante notar que o fato de uma estrela estar ”na” ou


“fora da” Sequência Principal não se refere à sua posição no
espaço, mas apenas à posição do ponto no Diagrama HR que
representa sua luminosidade e temperatura. Estima-se que em
torno de 80% das estrelas nas vizinhanças do Sol são estrelas da
Sequência Principal. Aproximadamente 20% são anãs brancas e
Anãs Marrons menos do que 1% são gigantes ou anãs marrons.
São objetos intermediários
entre planetas e estrelas,
apresentando massas
entre 13 e 70 vezes a
massa de Júpiter.Têm
baixas luminosidades e
temperaturas na faixa de
1.000 K a 3.400 K, emitindo
na faixa do infravermelho.

Figura 02.08.09: Tamanhos relativos de quatro estrelas que estão na sequência


principal. O tipo espectral, a massa e o tempo de vida da estrela são indicados.

Área 2, Aula 8, p.8


Müller, Saraiva & Kepler
As estrelas mais luminosas: gigantes e supergigantes.
As estrelas mais massivas que existem atualmente na nossa
Galáxia são estrelas azuis com massas de até 140 massas solares.
Suas magnitudes absolutas são em torno de MV =- 6 a - 8, podendo
em alguns casos raros chegar a MV = -10, (luminosidade L = 106 LSol).
Essas estrelas estão em geral no canto superior esquerdo do
diagrama HR, e têm tipo espectral O ou B. São as estrelas mais
luminosas da Sequência Principal.
A estrela Rigel tem 62.000 vezes a luminosidade do Sol. É
chamada supergigante azul.
Outra categoria de estrelas muito luminosas são as gigantes
e supergigantes vermelhas que estão no canto superior direito do
diagrama HR; Betelgeuse e Antares são supergigantes, e
Aldebaran e Capela são gigantes. Essas estrelas chegam a ser
milhares de vezes mais luminosas do que o Sol (no caso das
supergigantes), e seus tamanhos são muito maiores do que o do
Sol. Por exemplo, uma supergigante vermelha típica, com
temperatura de 3.000 K, e luminosidade de104 LSol, tem um raio de
400 vezes o raio do Sol. Se o Sol fosse colocado no centro de tal
estrela, o raio da estrela alcançaria além da órbita de Marte.
As supergigantes vermelhas, além de luminosidades e
tamanhos extremamente grandes, têm densidades extremamente
pequenas. Por exemplo, uma estrela supergigante como a
descrita acima tem um volume que é 64 milhões de vezes o
volume do Sol. Se sua massa é 10 vezes a massa do Sol,
encontramos que sua densidade média é 10-7 vezes a densidade
média do Sol, ou 1,4 ×10-7 a densidade da água.

Supergigantes azuis

São as estrelas mais


massivas e mais
luminosas da sequência Figura 02.08.10: Betelgeuse, a segunda estrela mais brilhante da constelação do
principal. Órion éuma supergigante vermelha localizada a uma distância de cerca de 600
anos-luz. Sua luminosidade é 14.000 vezes a do Sol, embora tenha somente 20 vezes
sua massa. Seu raio é de cerca de 1.000 vezes o raio do Sol (maior do que a órbita
de Marte).
Gigantes e supergigantes As estrelas mais numerosas: anãs vermelhas
vermelhas
As estrelas localizadas na parte inferior da sequência
São estrelas frias que
principal são chamadas anãs vermelhas. São estrelas de baixa
ficam no canto superior
direito do diagrama HR. massa, muito menores, mais frias e mais compactas do que o Sol.
Têm densidades Sua massa é tipicamente 1/10 MSol e seu raio 1/10 RSol . Isso faz com
extremamente baixas. que sua densidade seja alta, tipicamente 100 ρSol.

Área 2, Aula 8, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Anãs Vermelhas

Localizadas na parte
inferior da sequência
principal. São as estrelas
mais numerosas. Têm
massas baixas e
densidades altas.

Figura 02.08.11: Histograma do número relativo de estrelas nas proximidades do


Sol. As mais numerosas são as estrela da sequência principal inferior, as anãs
vermelhas. Fonte: (http://astro.if.ufrgs.br/estrelas/node2.htm)

Estrelas quentes e densas: Anãs Brancas.


Apesar do nome, as anãs brancas na verdade cobrem
um intervalo de temperatura e cores que abrange desde as mais
quentes, que são azuis ou brancas, e têm temperatura
superficiais de até 200.000 K, até as mais frias, que são vermelhas,
e têm temperaturas superficiais de apenas 3.500 K.
A primeira anã branca conhecida é a companheira de
Sírius, α do Cão Maior, a estrela mais brilhante do céu. Sírius B foi
detectada visualmente 1862.

Anãs Brancas

Cobrem um intervalo de
temperatura desde as
Figura 02.0812: Na foto vemos Sírius A e, na ponta da flecha, Sírius B, com
mais quentes até as
Tef=25 000K, R=5 600 km, Período orbita l= 50,1 anos, 9 magnitudes mais fraca que
mais frias.
Sírius A e sempre mais próxima que 11,5 segundos de arco.
Apresentam densidades
extremamente altas. Sírius B tem uma massa solar, raio de 5.800 km e
densidade média de 2 milhões de vezes a densidade da água.
Algumas anãs brancas têm densidades centrais maiores do que
10 milhões de vezes a densidade da água. Uma colher de chá
do material que as constitui teria massa de 50 toneladas!
Podemos comparar com a densidade dos elementos mais
densos na Terra, como o irídio, que tem densidade de
22,6 g/cm3.
Área 2, Aula 8, p.10
Müller, Saraiva & Kepler
O diagrama HR como Indicador de Distâncias
Uma das aplicações mais importantes do diagrama HR é a
determinação de distâncias estelares. Suponha, por exemplo, que
uma determinada estrela tem um espectro que indique que ela
está na sequência principal e tem tipo espectral G2. Sua
luminosidade então pode ser encontrada a partir do diagrama HR,
e será em torno de 1 L (M = +5). Conhecendo-se sua magnitude
aparente, sua distância pode ser conhecida a partir do seu
módulo de distância

− 5 + 5 log d ⇒ d10 ( m − M+ 5)/ 5 .


( m − M)=

onde
(m-M) = o módulo de distância,
m = magnitude aparente,
M = magnitude absoluta e
d = distância em parsecs.
Em geral, a classe espectral sozinha não é suficiente para
se conhecer a luminosidade da estrela de forma única. É
necessário conhecer também sua classe de luminosidade. Por
exemplo, uma estrela de tipo espectral G2 pode ter uma
luminosidade de 1L se for da sequência principal, ou de 10 L
(M = 0), se for uma gigante, ou ainda de 100 L (M = -5), se for uma
supergigante.
Paralaxes Esta maneira de se obter as distâncias das estrelas, a partir
Espectroscópicas do seu tipo espectral e da sua classe de luminosidade, é chamada
Forma de se obter as
método das paralaxes espectroscópicas.
distâncias das estrelas a

Resumo
partir do seu tipo
espectral e de sua classe
de luminosidade.
Luminosidade dada por:

L = 4. π .R2 . σ . Tef4 .

A luminosidade (L) da estrela é proporcional ao quadrado


de seu raio e a quarta potência da temperatura efetiva.
Classe de luminosidade das estrelas: é determinada pela
largura das linhas espectrais, que dependem da gravidade
superficial das mesmas.
As anãs têm uma gravidade superficial muito maior que as
gigantes.

Diagrama HR: são gráficos da luminosidade (L) das estrelas


em função de suas temperaturas (T) que mostra importantes
relações entre essas características. Gráficos de magnitude
absoluta versus índice de cor (por exemplo, Mv vs B-V) também são
diagramas HR, pois a magnitude absoluta está associada à
luminosidade, e o índice de cor está associado à temperatura.
Num diagrama HR para um grande número de objetos as
estrelas não se distribuem igualmente nele, ficam concentradas
em algumas regiões.
Principais regiões do diagrama HR:

Área 2, Aula 8, p. 11
Müller, Saraiva & Kepler
• sequência principal: estreita faixa que vai do
extremo superior esquerdo até o extremo inferior.
Corresponde à classe de luminosidade V (anãs). A
maioria das estrelas (85%), incluindo o Sol, encontra-
se nessa faixa. As estrelas mais massivas são mais
quentes e luminosas e ficam na extremidade
superior esquerda do diagrama HR. São as estrelas
azuis, sendo também as estrelas mais luminosas da
sequência principal. As estrelas menos massivas são
mais frias e menos luminosas, ficam na extremidade
inferior do diagrama HR;
• gigantes: estrelas que se concentram na região
superior direita do diagrama HR são as gigantes
vermelhas, estrelas frias e luminosas, de baixa
densidade. Estrelas de classe de luminosidade III e II;
• supergigantes: estrelas que se concentram no topo
do diagrama são as estrelas mais luminosas. Estrelas
de classes de luminosidades I;
• anãs brancas: estrelas que se concentram no canto
inferior esquerdo do diagrama HR. São estrelas
quentes e pouco luminosas que estão no estágio
final da evolução. Cobrem um intervalo de
temperatura desde as mais quentes até as mais
frias. Apresentam densidades extremamente altas.
Paralaxe espectroscópica: método de medir a distância
pela localização da estrela no diagrama HR. É uma forma de se
obter as distâncias das estrelas a partir do seu tipo espectral e de
sua classe de luminosidade.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas com
os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Com relação aos espectros estelares e suas


classificações responda: que parâmetro físico está correlacionado
com a classe de luminosidade (I, II, III, IV, V)?
2. Considere estrelas com os seguintes tipos espectrais: MI,
BI, e AV.
a) Qual é a maior?
b) Qual é a mais quente?
c) Qual está na sequência principal?
3. Esboce um diagrama Hertzprung - Russel (HR) indicando
as grandezas representadas nos eixos das ordenadas e das
abscissas e o sentido em que crescem. Indique a posição da
sequência principal (SP), dos ramos das estrelas gigantes,
supergigantes e das anãs brancas. Indique ou descreva em
palavras onde se situam estrelas com superfícies frias e quentes,
estrelas de raio pequeno ou grande. Para a sequência principal,
indique o sentido da massa estelar crescente.

Área 2, Aula 8, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
4. Com base na tabela das estrelas mais brilhantes do céu, a
seguir,responda as questões:

Fonte: http://www.if.ufrgs.br/fis02001/exercicios/ls_espec.html.
a) Esboce ou represente num diagrama HR as 10 estrelas
mais brilhantes (em magnitude aparente) do céu, escrevendo o
nome referente a cada uma.
b) Qual a luminosidade de cada uma das estrelas, em
luminosidade solar?
c) Que linhas espectrais mais você espera encontrar nos
espectros de cada uma dessas estrelas?
d) Entre todas as estrelas da tabela:
I. qual a mais fria?
II. qual a mais quente?
III. qual a mais luminosa?
IV. qual a menos luminosa?
V. qual a maior?
VI. qual a menor?
VII. quais são supergigantes, e quais suas cores (vermelha,
azul, branca, amarela?
VIII. entre as que estão na SP, qual a mais massiva?
IX. entre as que estão na SP, qual a menos massiva?
X. qual é a mais parecida com o Sol?
Até a próxima aula!

Área 2, Aula 8, p.13


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 9 - Fonte de Energia e Tempo de Vida das Estrelas
Área 2, Aula 9

Alexei Machado Müller , Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho.

Nebulosa de Águia, uma região


de formação estelar. Fonte:
http://apod.nasa.gov/apod/ap04
1024.html.

Introdução
Prezado aluno, em nossa nona aula, da segunda
área, vamos estudar a fonte de energia das estrelas e o
tempo de vida das mesmas. A luminosidade das estrelas -
a energia que jorra no espaço a cada segundo - é
alimentada pelas reações de fusão nuclear acontecendo
em seu centro. O tempo que uma estrela pode manter
essa luminosidade, que é fundamental para a existência
de vida, depende de quanto “combustível” ela tem para
gastar e de quão rápido o gasta transformando em
energia térmica, em luz e outras formas de energia.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos da fonte de energia e do
tempo de vida das estrelas. Esperamos que ao final você
esteja apto a:
• definir quais as fontes de energia das estrelas;
• explicar o processo de fusão nuclear e como
ele gera energia;
• estabelecer a relação entre a massa da
estrela, sua luminosidade e o seu tempo de
vida.

Por que as estrelas brilham e


por quanto tempo elas
podem brilhar?
A Fonte de Energia das Estrelas

A questão de porquê as estrelas brilham só foi


levantada no século XIX quando a termodinâmica estava
se desenvolvendo e os cientistas perceberam que o calor
e a luz emitidos pelo Sol, 400 trilhões de trilhões de watts,
precisava ter uma fonte.
A Primeira Lei da Termodinâmica declara que a
energia, incluindo o calor, nunca é criada ou destruída,
simplesmente é transformada de uma forma em outra. Que
forma de energia estaria sendo transformada na luz e calor
que o Sol irradia?
Nessa época já se sabia, pelo estudo de fósseis, que
a vida existia na Terra havia mais de um bilhão de anos, e
que, portanto, o Sol estava brilhando de forma estável
desde muito antes do surgimento da humanidade. Qual
seria essa fonte aparentemente inesgotável de energia
solar? Poderia o Sol produzir energia pela queima de
algum combustível tradicional? Os cálculos indicam que a
energia química gerada pela combustão de carvão,
petróleo, ou mesmo hidrogênio puro, não duraria mais do
que 10.000 anos. Um Sol movido a combustível normal não
poderia durar mais do que a história humana escrita.

Figura 02.09.01: Lord Kelvin (1824 – 1907). Criador da escala termométrica


absoluta.

Área 2, Aula 8, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
A proposição da primeira lei da termodinâmica
A primeira invocação desta lei veio do alemão Robert Julius
Von Mayer (1814-1878), que em 1840 completou seu curso de
medicina e embarcou como cirurgião em uma viagem para as
Índias Orientais holandesas. Como o tratamento médico naquela
época envolvia sangramentos, Mayer observou que o sangue dos
marinheiros recém chegados da Europa era mais vermelho do que o
daqueles que estavam há longo tempo nos trópicos, indicando que
havia mais oxigênio no sangue dos que chegavam. Ele concluiu que
menos oxigênio era necessário para manter a temperatura do corpo
em clima mais quente, argumentou que a energia química da
comida estava se transformando em calor e generalizou para a
noção de que todas as formas de energia eram mutáveis entre si.
Em 1843 o físico inglês James Prescott Joule (1818-1889) aprofundou
as medidas do americano Benjamin Thompson (1753-1814), Conde
de Rumford, sobre a conversão de energia mecânica e elétrica em
Primeira Lei da calor. Em 1847 o físico alemão Hermann Ludwig Ferdinand Von
Termodinâmica Helmholtz (1821-1894) deduziu a equação da energia potencial
gravitacional, e demonstrou que, na ausência de fricção, a soma
A energia nunca é da energia cinética com a energia gravitacional potencial não
criada ou destruída, muda com o tempo. Deste modo, no fim da década de 1840, a
apenas pode ser conservação de energia tinha sido enunciada claramente por
transformada de uma Mayer, Helmholtz e Joule. Ainda hoje os cientistas usam essa lei para
forma em outra. entender o Universo.

Por um tempo, a hipótese mais aceita para a fonte


de energia no Sol foi a lenta contração gravitacional do Sol,
que liberaria energia gravitacional. Foram os cálculos desta
teoria que permitiram ao grande físico teórico inglês Lord
William Thomson, Barão Kelvin (1824 – 1907), fazer a primeira
estimativa da idade do Sol. Quando Kelvin calculou o tempo
que o Sol poderia brilhar às custas da contração
gravitacional chegou a valor entre 20 e 100 milhões de
anos, ainda muito pequeno para acomodar os dados que
geólogos e evolucionistas tinham, que exigiam que o Sol
estivesse brilhando estavelmente por bilhões de anos.

Figura 02.09.02: Arthur Eddington (1882 – 1944).

Por volta de 1920, o astrônomo inglês Sir Arthur


Stanley Eddington (1882 – 1944), estudou teoricamente a
hipótese da contração em estrelas variáveis Cefeidas, e
comprovou que a contração gravitacional não produz
energia durável por bilhões de anos, portanto não pode ser
a principal fonte de energia do Sol e das outras estrelas.
Descartando a hipótese da gravidade, Eddington tinha que
propor uma nova teoria. Em 1920 a equação de Einstein
E = m. c2 , que implica que a massa pode ser convertida em
energia, já era conhecida. Um grama de matéria
totalmente convertida em energia produz 90 trilhões de
joules (1 watt = 1 joule/s e 1 caloria = 4,18 joules). Eddington
propôs a existência de uma “energia subatômica”, mas
nessa época as únicas partículas subatômicas conhecidas
eram o próton e o elétron (nêutron só seria descoberto em
1932), de forma que essa proposta envolvia muita
especulação.
Eddington já era famoso por ter organizado as
Área 2, Aula 9, p.3 expedições de 1919 para confirmar a Teoria da Relatividade
Müller, Saraiva & Kepler
Geral de Albert Einstein (1879-1955), confirmando que a luz se
desvia perto da borda do Sol, através da observação do desvio
durante um eclipse, e teve um papel fundamental no estudo
das estrelas. Ele propôs que a astrofísica permitia explorar o
interior das estrelas, já que as propriedades da superfície eram
consequências da estrutura interna. Foi ele quem explicou
como as estrelas se mantém estáveis: uma intensa fonte de
energia no núcleo da estrela gera a pressão que
contrabalança a força para dentro da estrela, a gravidade,
estabilizando a estrela por muitos bilhões de anos. Mas ele não
conseguiu mostrar qual é essa fonte de energia.
Equação de
equivalência massa Fusão Termonuclear
energia

E = m.c2
Durante os anos 1920 e 1930, os astrônomos estavam
colectando dados sobre todos os tipos de estrelas, e os físicos
nucleares estavam, então, trabalhando na teoria do núcleo
Equivalências
atômico.

1 W = 1 J/s.
1 cal = 4,18 J.

Estabilidade das Estrelas

Ocorre porque uma


intensa fonte de
energia no núcleo da Figura 02.09.03: Hans Bethe (1906 – 2005).
estrela cria a pressão
que se opõe à força
gravitacional da
estrela. Bethe e a fusão termonuclear
Em março de 1938, uma conferência foi organizada pela
Carnegie Institution, de Washington, para unir astrônomos e físicos. Um
dos participantes foi o imigrante alemão Hans Albrecht Bethe. Logo após
a conferência, Bethe desenvolveu a teoria de como a fusão nuclear
podia produzir a energia que faz as estrelas brilharem. Esta teoria foi
publicada em seu artigo A Produção de Energia nas Estrelas, de 1939, e
que lhe valeu o prêmio Nobel em 1967.

Hans Bethe (1906 – 2005) mostrou, em detalhe, como


quatro prótons poderiam ser unidos e transformados em um
núcleo de hélio, liberando a energia que Eddington havia
sugerido.
4H → He4 + 2e+ + 2ν e + γ .

Figura 02.09.04: Fusão termonuclear: Quatro núcleos de hidrogênio (prótons),


em pares de dois, colidem ( bolas amarelas raiadas), de cada colisão
resultando um núcleo de hidrogênio pesado (deutério), um pósitron (elétron de
antimatéria) e um neutrino. Os pósitrons se aniquilam ao colidirem com elétrons,
emitindo fótons de alta energia (raios γ ), enquanto os deutérios colidem, cada
um com um próton, gerando um núcleo de hélio leve (Helio-3, ou trítio, que
tem apenas um nêutron no núcleo ao invés de dois) e mais radiação de alta
energia, raio γ . No último estágio do ciclo, os dois núcleos de Helio-3
interagem, formando um núcleo de Hélio- 4, que é o isótopo mais estável deste
Área 2, Aula 8, p.4 elemento, além de dois prótons. Estes últimos estarão livres para iniciar o ciclo
Müller, Saraiva & Kepler novamente.
O processo de fusão nuclear descrito é chamado ciclo
próton-próton, e é o processo principal de geração de energia
em estrelas como o Sol, que tem temperatura nuclear de 15
milhões de kelvins.
Para estrelas com temperatura nucleares acima de 20
milhões de kelvins, a energia nuclear também é produzida
pela fusão de 4 prótons para formar um núcleo de hélio, mas o
processo pelo qual isso ocorre é diferente, envolvendo o
carbono, por isso é chamado de ciclo do carbono.

C12 + 4H → C12 + He + 2e+ + 2ν e + γ .


O Sol produz energia
transformando hidrogênio Esse ciclo envolve uma cadeia complexa de seis
em hélio no seu núcleo, reações nucleares em que átomos de carbono e nitrogênio
através de uma reação agem como catalisadores para a fusão nuclear.
cujo resultado líquido é a
fusão de 4 prótons em um
núcleo de hélio. Atualmente sabe-se que o ciclo do carbono contribui
pouco para a geração de energia para estrelas de baixa
4H → He4 + 2e+ + 2ν e + γ . massa como o Sol, porque suas temperaturas centrais são
baixas, mas domina para estrelas mais massivas. Rigel, por
exemplo, tem temperatura central da ordem de 400 milhões
de kelvins. Quanto maior for a temperatura central, mais veloz
será o próton, e maior sua energia cinética, suficiente para
penetrar a repulsão coulombiana de núcleos com maior
número de prótons.
A astrofísica demonstrou que as leis físicas que
conhecemos em nossa limitada experiência na Terra são
suficientes para estudar completamente o interior das estrelas.
Desde as descobertas de Bethe, o cálculo de evolução estelar
através da união da estrutura estelar com as taxas de reações
nucleares tornou-se um campo bem desenvolvido, e
astrônomos calculam com confiança o fim de uma estrela
como nosso Sol daqui a 6,5 bilhões de anos como uma anã
branca.

Tabela 02.09.01: Reações que liberam energia.

Tempo de Vida das Estrelas

O tempo de vida de uma estrela é a razão entre a


energia que ela tem disponível e a taxa com que ela gasta
essa energia, ou seja, sua luminosidade. Como a energia que
ela tem disponível é proporcional à massa na primeira
potência (E α M) e a sua luminosidade é proporcional à massa
na terceira potência ( L α M 3 ), resulta que o tempo de vida é
controlado pela massa da estrela: quanto mais massiva a
estrela, mais rapidamente ela gasta sua energia, e menos
Área 2, Aula 9, p.5 tempo ela dura.
Müller, Saraiva & Kepler
A parte mais longa da vida da estrela é quando ela
está na sequência principal, gerando energia através de
fusões termonucleares. Em estrelas como o Sol, as reações
mais importantes são as que resultam, na transformação de
quatro núcleos de hidrogênio (quatro prótons) em um núcleo
de hélio (partícula α ). Nessa transformação, existe uma
diferença de massa entre a massa que entrou na reação
(maior) e a massa que saiu (menor). Essa diferença de massa
é transformada em energia e calculada pela equação de
Einstein:

E = m. c2 ,

4. mp ( 4,0324 u ) →1. mα ( 4,0039 u ) ,


Lembre que a massa
“perdida” pela fusão
termonuclear ao longo da onde
Sequência Principal é
menos de um milésimo da
u = 1,66 x 10-27 kg.
massa total da estrela.
A diferença de massa é:
∆m
= ( 4,0324 − 4,0039
= )u 0,0285 u,

dividindo-se pela massa inicial temos:


 0,0285 u 
 =  0,007
= 0,7 %.
 4,0384 u 
Portanto 0,7% (7 milésimos) da massa que entra na
reação é transformada em energia. A massa que entra nessa
reação é apenas a que se encontra no núcleo da estrela,
pois apenas nessa região a estrela atinge temperaturas
suficientemente altas (8 milhões K) para permitir as reações
termonucleares. A massa da estrela contida em seu núcleo é
10 % da massa total da estrela. Isso significa que, de toda a
massa da estrela, apenas 10% contribui para a geração de
energia durante a maior parte de sua vida, a parte em que
ela está na sequência principal.
Portanto, a energia disponível nessa etapa é:

ESP = 0,007 x 0,1x M x c2 ,

onde ESP = Energia da sequência principal.

ESP

= 0,007 x 0,1x M x c2

( s)
2
= 0,007 x 0,1x1,99 x1030 kg x 3 x108 m

=1,26 x1044 J.

O tempo de vida do Sol na sequência principal é


igual à energia nuclear disponível dividida pela luminosidade
do Sol na sequência principal, já que a luminosidade é a
quantidade de energia perdida por unidade de tempo:
1,26 x1044 J
=tSP

= 3,29 x1017 s 1010 anos.
=
26 J
3,9 x10
s
Para uma estrela qualquer, o tempo de vida na
sequência principal pode ser calculado em termos do tempo
de vida do Sol na mesma fase:

Área 2, Aula 9, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
ESP
ESP

tSP = x1010 anos
L
L
1
τ SP = 2
x1010 anos.
M 
 M 
  

Resumo
Fonte de energia das estrelas

A principal fonte de energia das estrelas é a fusão


termonuclear: 4 núcleos de hidrogênio (4 prótons) se
fundem para formar 1 núcleo de hélio (partícula α ).
Em estrelas como o Sol com temperatura de fusão
nuclear aproximada de 15 milhões de kelvins, essa fusão
ocorre pelo ciclo próton- próton:

4H → He4 + 2e+ + 2ν e + γ .

Nesse processo 0,7% da massa se transforma em


energia.

Energia produzida por fusão termonuclear

A energia produzida é calculada pela relação


EN α M. c2 , onde M é massa.

Como apenas o núcleo da estrela (10% da massa


da estrela) tem temperatura alta o suficiente para fazer a
reação, e dessa massa apenas 0,7% se transforma em
energia, a energia produzida é:

EN = 0,7% x 10% x Mest x (3 x 108 m/s)2

Para o Sol: E = 0,7% x 10% x 1030 kg x (3 x 108 m/s)2


= 1,26 x 1044 J.

Quanto tempo uma estrela pode brilhar?

O tempo de vida é a quantidade total de energia


dividida pela taxa na qual ela gasta essa energia (sua
luminosidade):
Tempo de vida = Energia / Luminosidade.

Para o Sol:
(1,26 x 1044 J )/ (3,91x 1026 J/s) = 1010 anos

Área 2, Aula 9, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Para as outras estrelas

É calculado em relação ao tempo de vida do Sol:

test/tSol =(Eest/ESol) x (LSol/Lest)

Como Eα M e L α M3 (ver relação Massa -


Luminosidade).
tempo de vida ∝ M-2. , ou seja;
test/tSol = (Mest/Msol)-2 .
test = (Mest/Msol)-2 x 10 bilhões de anos.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas
com os demais colegas.
Bom trabalho!

1. Como se sabe que a fonte de energia do Sol é a


fusão termonuclear?(Por que não pode ser energia química,
ou energia térmica?)
2. Que tipo de fusão termonuclear acontece no interior
do Sol? (É a fusão do quê em quê?)
3. Por que a fusão termonuclear gera energia? Quanta
energia ela gera por massa envolvida?
4. Quais as estrelas que duram mais, as bem massivas
ou as de baixa massa? Por que isso acontece?
5. Qual o tempo de vida, comparado com o tempo de
vida do Sol, de uma estrela de 10 massas solares?
6. Sobre a fonte de energia das estrelas:
a) Qual a fonte de energia das estrelas?
b) Mostre que na fusão nuclear do H em He existe
liberação de energia. Que porcentagem da massa envolvida
na reação é transformada em energia?
7. Sobre o Sol:
a) Supondo que o Sol permanece na SP até consumir
10% de sua massa, calcule a energia total que o Sol tem para
liberar enquanto estiver na SP. (MSol = 2 ×1030 kg.)
b) Calcule o tempo de vida que o Sol permanece na
SP, supondo que sua luminosidade durante essa etapa
permanece constante, igual a 3,9 ×1026 J/s.
c) Assuma que o Sol já converteu 5% de sua massa de
H em He. Qual a idade do Sol, assumindo que sua
luminosidade permaneceu constante em 3,9×1026 J/s.
8. Assuma que uma estrela permanece 1010 anos na
sequência principal, e queima nessa etapa 10% de seu
hidrogênio. Então a estrela se expande em uma gigante
vermelha, aumentando sua luminosidade por um fator de 100.
Quanto tempo dura o estágio de gigante vermelha,
Área 2, Aula 9, p.8 assumindo que a energia é produzida apenas pela queima do
Müller, Saraiva & Kepler.
hidrogênio restante?
9. Usando a relação entre massa e luminosidade
L ~ M3 :
a)Qual o tempo de vida na sequência principal para
uma estrela de 10 massas solares?
b)Qual a massa (em massas solares) da estrela que
está, agora, deixando a sequência principal, em um
aglomerado que se formou há 400 milhões de anos?
10. Use a tabela com as 16 estrelas mais brilhantes
http://www.if.ufrgs.br/fis02001/exercicios/tabela_estrelas_brilha
ntes.htm para responder às questões abaixo:
a) cite as estrelas que estão na Sequência Principal e
escreva suas magnitudes absolutas. (Lembre que a classe de
luminosidade é dada pelo número romano ao lado do tipo).
b) para as estrelas da Sequência Principal, determine
as luminosidades das estrelas em luminosidades solares;
c) use a relação massa-luminosidade para estimar as
massas dessas estrelas em massas solares;
d) determine o tempo na sequência principal para
cada uma dessas estrelas.
Até a próxima aula!

Área 2, Aula 9, p.9


Müller, Saraiva & Kepler.
Aula 10 - Formação e Evolução Estelar
Área 2, Aula 10

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho

A nebulosa planetária “Olho


de Gato” é um exemplo típico
do belo final de vida de
estrelas como o Sol, antes de
se tornarem anãs brancas.
Fonte: wikipedia.

Introdução
Prezado aluno, em nossa décima aula, da
segunda área, vamos estudar a formação e evolução
estelar. Desde o nascimento da estrela, passando pela
vida da mesma até a sua morte. Estudaremos as
características de cada estágio evolutivo das estrelas,
bem como os processos físicos envolvidos nessa
evolução.
Bom estudo!
Objetivos da aula
Nesta aula trataremos da formação e da evolução
estelar. Esperamos que ao final você esteja apto a:
• descrever os processos físicos envolvidos na
formação estelar;
• esquematizar os principais estágios da vida
das estrelas, desde a formação até a sua
“morte”;
• descrever os tipos de reações nucleares que
acontecem em cada fase das vidas das
estrelas;
• descrever o que são nebulosas planetárias,
supernovas, anãs brancas, estrelas de
negros, buracos negros e anãs brancas.

Como se dá a evolução das


estrelas, desde sua formação
até a sua morte?

Figura 02.10.01: Fases da evolução do Sol, desde quando se contraiu a


partir do gás difuso de uma região de formação estelar até a fase de
gigante vermelha, que ocorrerá quando o hidrogênio no centro do Sol
tiver todo sido convertido em hélio. Atualmente o Sol é uma estrela
amarela, com temperatura superficial próxima de
6 000K. Assim esteve nos últimos 4,5 bilhões de anos e assim
Local onde se formam será por período semelhante no futuro.
as estrelas (Fonte: http://www.if.ufrgs.br/oei/hipexpo/estrelas.pdf.)
Nuvens moleculares
imersas em nebulosas
gasosas existentes nas
galáxias. Como nascem as estrelas?
As nuvens moleculares
são compostas por H e As estrelas se formam em imensas nuvens
He. moleculares imersas em nebulosas gasosas existentes nas
galáxias. Assim como as galáxias em geral, as nuvens
Um glóbulo de gás frio
origina uma estrela. moleculares são feitas quase que inteiramente de
hidrogênio e hélio. Turbulências, como as causadas por
uma explosão de supernova nas proximidades, provocam
crescentes adensamentos em algumas regiões da
nebulosa, formando glóbulos de gás frio, que acabam
colapsando sob seu próprio peso. Cada glóbulo dará
Área 2, Aula 10, p.2
Müller, Saraiva & Kepler origem a uma estrela. O processo todo acontece em uma
escala de tempo de centenas de milhares de anos.
À medida que o glóbulo colapsa, forma-se um
disco em rotação com a protoestrela no centro; jatos
bipolares de gás e poeira são gerados pelo disco rotante
e pelo vento estelar da protoestrela. A pressão no centro
da estrela aumenta até o ponto em que ela balança a
força gravitacional, alcançando o equilíbrio hidrostático
que faz parar o colapso. O material remanescente do
disco circunstelar pode formar um disco protoplanetário,
que possivelmente dará origem a planetas.
No interior da protoestrela, o núcleo continua a
acrescer matéria das camadas externas a ela, ficando
mais denso e mais quente. Quando a temperatura do
núcleo fica suficientemente alta (8 milhões de kelvins)
para iniciar as reações termonucleares, a protoestrela
passa a ser chamada de estrela, iniciando a fase de sua
vida chamada "Sequência Principal".

Figura 02.10.02: Formação de uma proto-estrela.


(Fonte: http://www.if.ufrgs.br/oei/stars/formation/form_st.htm.)
Legenda da figura 02.10.03

(1) 10 000 anos,


colapso de nuvens.
(2) 100 000 anos, disco
proto-estelar.
(3) 10 milhões de anos,
condensação dos
planetas.
(4) 1 bilhão de anos,
sistema planetário
(VIDA?).

Área 2, Aula 10, p.3


Figura 02.10.03: Etapas da formação estelar: no diagrama HR vê-se
Müller, Saraiva & Kepler.
desde o início do colapso da nuvem até se tornar uma estrela da sequência
principal; nas imagens astronômicas: (1) detalhe de uma nebulosa gasosa
onde foram observados diversos glóbulos de formação estelar, (2)
protoestrela muito jovem, ainda envolta na nuvem de gás e poeira da qual
ela se originou, (3) disco protoplanetário na nebulosa de Órion e (4) uma
representação artística de um planeta jovem.

A massa mínima que a protoestrela precisa ter para


seu núcleo atingir a temperatura de 8 milhões de kelvins é de
aproximadamente 10% da massa do Sol (o valor teórico é 0,08
massas solares), correspondendo a aproximadamente 70
vezes a massa de Júpiter. Se a massa for menor do que isso
ela será uma anã marrom.

Temperatura mínima
para ocorrerem as
reações nucleares para
a formação de uma
estrela
8 x106 K.

Massa mínima de uma


protoestrela para formar
uma estrela

Aproximadamente 10 %
da massa do Sol. Figura 02.10.04: Imagens da parte central da Nebulosa de Órion, onde o
Telescópio Espacial Hubble descobriu, em 2000, 50 anãs-marrons. As jovens
Anã marrom anãs-marrons são muito fracas e enevoadas para serem vistas no visível
(imagem da esquerda), mas tornam-se nítidas na imagem em infravermelho
Se forma quando a (esquerda). As quatro estrelas centrais, visíveis nas duas imagens, são estrelas
massa da protoestrela é jovens e muito luminosas.
inferior a 10 % da massa
do Sol.
Se a massa da estrela for maior do que 0,08 massas
solares, quando a temperatura no núcleo da estrela fica
suficientemente alta para iniciar reações nucleares estáveis, a
protoestrela torna-se uma estrela da sequência principal,
transformando hidrogênio em hélio no núcleo. A posição da
estrela na sequência principal vai depender de sua massa,
pois tanto a temperatura quanto a luminosidade da estrela
são ditados pela sua massa.

Figura 02.10.05: Esquema dos estágios evolutivos até a sequência principal.


Uma nuvem em contração dá origem a uma protoestrela que se transforma
em uma estrela da Sequência Principal, estágio de vida em que a estrela
está transformando hidrogênio em hélio (H->He) no núcleo. As estrelas menos
massivas (entre 0,08 e 0,45 massas solares) serão anãs vermelhas na
sequência principal (pouco luminosas, baixas temperaturas superficial e cor
avermelhada). No outro extremo de massa teremos as supergigantes azuis
Área 2, Aula 10, p.4
da sequência principal (alta luminosidade, alta temperatura e cor azulada).
Müller, Saraiva & Kepler
As estrelas pouco massivas são muito mais numerosas
do que as de alta massa: nascem 300 estrelas de 1MSol para
cada uma estrela de 10 MSol e, 300 estrelas de 10 MSol para
cada uma estrela de 100 MSol.

Vida das estrelas na Sequência Principal

As estrelas permanecem na sequência principal


enquanto estiverem transformando hidrogênio em hélio no
Para cada 300 estrelas núcleo.
com massas iguais a do
Sol, nasce uma com Durante essa fase da evolução, que dura 90% do
massa 10 vezes a do Sol.
tempo total de vida das estrelas, elas se mantêm em
equilíbrio hidrostático (balanço entre gravidade e forças de
pressão interna) e têm a luminosidade e a temperatura
determinada por sua massa. As estrelas na sequência
Estrelas na sequência principal obedecem à relação massa – luminosidade.
principal
Encontram-se A estrutura interna das estrelas apresenta três regiões
transformando, no seu
principais: o núcleo, uma zona convectiva e uma zona
núcleo, H em He.
radiativa. O núcleo é a região onde a estrela está gerando
energia pela fusão do hidrogênio em hélio. Essa energia se
transporta para fora por processos radioativos ou
convectivos, dependendo das condições do gás
(temperatura, densidade e opacidade).
As estrelas mais massivas do que 1,75 MSol têm uma
camada de convecção interna, entre o núcleo e a camada
radiativa; as estrelas com massa entre 0,45 massas solares e
1,75 massas solares têm uma camada de convecção
externa, por fora da camada radioativa que envolve o
núcleo. As estrelas menos massivas que 0,45 massas solares
não têm a camada radioativa, o transporte de energia se dá
por convecção desde o núcleo até a superfície.

Regiões principais da
estrutura interna de
uma estrela

Núcleo,
zona convectiva e
zona radiativa. Figura 02.10.06: Estrutura interna das estrelas: nas estrelas O a zona
convectiva fica entre o núcleo e a zona radiativa; nas estrelas G (como o
Sol) a zona radiativa fica entre o núcleo e a zona convectiva; nas estrelas M
não existe zona radiativa, toda a energia gerada pelo núcleo é transportada
até a superfície por convecção.

Como vimos na aula anterior, o tempo de vida na


sequência principal depende da massa da estrela. A vida do
Sol na sequência principal está estimada em 10 bilhões de
anos (dos quais 4,5 bilhões já se passaram). Uma estrela de
0,1 massas solares levará 3 trilhões de anos para sair da
sequência principal. Uma estrela de 10 massas solares ficará
na sequência principal “apenas” 100 milhões de anos.
1
τ SP = .1010 anos.
Área 2, Aula 10, p.5 (M / M )2
Müller, Saraiva & Kepler
Quando as estrelas consomem o hidrogênio no núcleo,
que corresponde a aproximadamente 10% da sua massa total
(no caso do Sol essa massa está concentrada em uma região
com diâmetro de 50.000 km), elas saem da sequência
principal.

A Vida pós-Sequência Principal

O destino das estrelas depois de consumir todo o seu


combustível nuclear, depende de se a estrela é sozinha ou se
tem uma ou mais companheiras. No caso de estrelas sozinhas,
a massa com que ela se forma determina toda a sua
evolução. Para estrelas que fazem parte de sistemas binários
ou múltiplos, a evolução depende tanto da massa inicial
quanto da separação entre as estrelas, que determinará
quando as estrelas interagirão durante a evolução.
Estrelas fora da sequência
principal Neste capítulo consideramos apenas evolução de
Após terem consumido o H
estrelas sozinhas, que só depende da massa com que ela é
do núcleo, resta massa formada.
equivalente a 10 % de sua
massa total. As estrelas com massa entre 0,08 e 0,45 massas solares
(as anãs vermelhas), transformam a maior parte de suas
massas em hélio, mas nunca atinge temperatura alta o
suficiente no núcleo para fundir o hélio. Elas vão se tornar anãs
brancas com núcleo de hélio.
Para estrelas com mais de 0,45 massas solares, quando
se esgota o hidrogênio no núcleo, a geração de energia
Anãs vermelhas passa a se dar em uma camada estreita envolvendo o
núcleo, onde a temperatura e a densidade são suficientes
Estrelas com massa para manter as reações nucleares. Como nenhuma energia
entre 0,08 e 0,45
massas solares. nuclear é gerada nesta fase, o balanço entre gravidade e
Nunca atingem pressão deixa de existir; o núcleo colapsa aumentando:
temperatura
suficiente para fundir - a temperatura da estrela;
o hélio.
- a camada que queima H;
- a luminosidade da estrela.
As camadas externas se reajustam ao aumento de
luminosidade expandindo-se, e como a área superficial
aumenta, sua temperatura diminui. Desta forma, a
luminosidade aumenta e a estrela torna-se uma gigante
vermelha.
Gigante vermelha

Se forma quando o núcleo


da estrela colapsa,
aumentando a
luminosidade da estrela, ela
se expande e fica mais fria.

Figura 02.10.07: Quando acaba o estoque de hidrogênio no núcleo ele


colapsa. A região em torno do núcleo fica quente o suficiente para fundir o
hidrogênio e começa aí a produção de energia, aumentando a luminosidade
da estrela, que se expande e fica mais fria.

Área 2, Aula 10, p.6


Müller & Saraiva
Quando o Sol atingir essa fase, daqui a 5 bilhões de
anos, será 2 mil vezes mais luminoso do que é hoje, e será
tão grande que engolirá Mercúrio, Vênus e a Terra,
chegando próximo à órbita de Marte. A radiação solar
atingindo a Terra será tão intensa que a temperatura na
superfície da Terra atingirá 700 oC os oceanos ferverão,
deixando a Terra seca. Mesmo a atmosfera se esvairá, pois
os átomos e moléculas estarão se movendo a velocidades
tão altas que escaparão da Terra.
Quando a temperatura central da gigante atinge a
temperatura de 100 milhões de kelvins, iniciará a fusão do
Supergigantes hélio no núcleo, pela reação triplo-alfa, em que três núcleos
Se formam quando o de hélio (três partículas alfa) se combinam em um núcleo
hélio nuclear for de carbono.
transformado em
carbono. Para estrelas com massas entre 0,45 e 2 massas
solares essa reação começa de forma drástica, num
processo chamado” flash do hélio”; para estrelas de massas
maiores o início da fusão do hélio começa de forma mais
suave.
Enquanto as estrelas estão transformando o hélio
nuclear em carbono, elas saem do ramo das gigantes e
passam para o ramo horizontal se movendo
horizontalmente pelo Diagrama HR para a região de
temperaturas mais altas. Nessa etapa da evolução as
estrelas passam por um período de instabilidade em que
apresentam variações no brilho, sendo chamadas variáveis.
Dois tipos de estrelas variáveis são as RR Lyrae e as Cefeidas.
Ambos os tipos se localizam numa região chamada “faixa
de instabilidade”, ilustrada na figura 02.10.08.

Figura 02.10.08: Faixa de instabilidade do diagrama HR. Estrelas de alta


massa, durante a fase de queima de hélio no núcleo passam pela faixa de
instabilidade como variáveis Cefeidas. Estrelas de baixa massa na faixa de
instabilidade são variáveis RR Lyrae.

Quando o hélio nuclear foi todo transformado em


carbono, e parte em oxigênio, as estrelas entram no ramo
das supergigantes, chamado também de Ramo Assintótico
das Gigantes (AGB).

Área 2, Aula 10, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.09.09: Evolução pós-sequência principal, mostrando as regiões do
diagrama HR ocupadas pelas estrelas em cada etapa.

Figura 02.10.10: Região em que se produz a energia das estrelas em cada


etapa evolutiva: na sequência principal, a estrela transforma hidrogênio
em hélio no núcleo; na fase de gigante vermelha, a estrela transforma
hidrogênio em hélio em uma camada envolvendo o núcleo, que contém
hélio inerte; na fase de gigante do ramo horizontal, a estrela continua
Explosão de queimando hidrogênio na camada envolvendo o núcleo, mas agora
supernova também faz a fusão do hélio no núcleo; quando atinge o ramo assintótico
de gigantes (ou ramo das supergigantes), a estrela já tem o núcleo todo
Ocorre quando após a transformado em carbono e oxigênio, faz a fusão do hélio em carbono na
fase de supergigante, camada envolvendo o núcleo e a fusão do hidrogênio em hélio numa
a estrela não tem mais segunda camada.
combustível para (Fonte: http://www.if.ufrgs.br/oei/index.html.)
gerar, as camadas
superiores colapsam
sobre o núcleo e, Quando o hélio também se esgota no núcleo, as
após, são empurradas estrelas de massa até dez massas solares não têm mais
para fora com como retirar energia pela fusão nuclear, pois a temperatura
velocidades de do seu núcleo nunca ficará alta o suficiente (1 bilhão
milhares de
quilômetros por de kelvins) para fundir o carbono, portanto terminará sua
segundo. vida com um núcleo de carbono. Já as estrelas com massas
É tanta energia acima de 10 massas solares fundirão o carbono e
liberada que a sucessivamente neônio, magnésio, silício, até ter o núcleo
supernova brilha tanto
quanto todas as de ferro. O ferro é o elemento químico com maior energia
estrelas da galáxia de ligação, de maneira que a fusão do ferro consome
juntas. energia ao invés de liberá-la. Isso tem uma consequência
catastrófica para a estrela, como veremos na seção
seguinte.

Área 2, Aula 10, p.8


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.10.11: Estrutura interna de uma estrela com massa maior do que
10 massas solares ao atingir o estágio de supergigante (AGB).

Você pode ver uma animação da evolução


detalhada de uma estrela de uma massa solar em
Evolução de uma estrela de 1 massa solar (em inglês); ou
uma simulação da evolução de estrelas de diferentes
massas em Simulação de evolução estelar.

Evolução final: a morte das estrelas.

O destino final de uma estrela depende de sua


massa. Se a massa da estrela for entre 0,08 MSol e 0,45 MSol,
depois de transformar H em He na sequência principal, ela
se tornará uma anã branca, com núcleo de hélio.

Figura 02.10.12: Etapas evolutivas de estrelas de diferentes massas.


Dentro dos círculos representando as estrelas está indicado o que tem no
núcleo da estrela.

Estrelas com massa entre 0,45 e 10 massas solares

Se a estrela iniciar com massa entre 0,45 e 10 MSol,


após consumir o hidrogênio no centro, passará pela fase
de gigante e depois de supergigante, ejetará uma
nebulosa planetária e terminará sua vida como uma anã
branca com massa da ordem de 0,6 MSol, raio de cerca
de 10 000 km e densidade de ρ=106 g/cm3. A separação
entre as partículas é muito menor que 10-8 cm, que é o
Área 2, Aula 10, p.9
Müller, Saraiva & Kepler tamanho de um átomo de H.
Figura 02.10.13: Trajetória evolutiva no diagrama HR de uma estrela como
o Sol, desde a formação até chegar à sequência principal (linha inferior
da direita), sua evolução para gigantes e supergigantes (linha
ascendente à direita) e finalmente a evolução final para anã branca
(linha descente do canto superior direito ao canto inferior esquerdo).
(Fonte da figura:
http://www.prof2000.pt/users/angelof/af16/ts_sol/bigsol114.htm.)

O Sol, quando chegar nessa fase, em que terá


massa de 340 mil vezes a massa da Terra concentrada em
um volume aproximadamente igual ao da Terra, terá uma
densidade dez mil vezes maior do que a densidade dos
elementos mais densos que existem na Terra, como a
plantina (21 g/cm3), e o irídio (22,6 g/cm3).
Férmions Em uma anã branca, os elétrons não se encontram
São partículas que mais presos aos núcleos, mas estão distribuídos entre eles, e
apresentam spin semi- amontoados tão próximos entre si que efeitos quânticos
inteiro e têm esse nome passam a atuar: o princípio da exclusão de Pauli, pelo qual
em homenagem ao físico dois férmions não podem ter o mesmo estado quântico,
Enrico Fermi.
Exemplos: prótons, força os elétrons a vibrarem tão rapidamente que geram
elétrons, quarks, neutrinos uma pressão, chamada pressão de degenerescência,
entre outras partículas que contrabalança a atração gravitacional. É essa
elementares. pressão que sustenta a anã branca, e a matéria nesse
As partículas elementares
ou são férmions ou são estado é chamada matéria degenerada.
bósons.
A anã branca solitária terminará aqui sua evolução.
Sem mais produzir energia nuclear, só lhe resta agora a
energia térmica, e ela continuará brilhando cada vez mais
fracamente à medida em que for esfriando, e
hipoteticamente um dia num futuro distante se tornará um
objeto frio, denso e escuro chamado anã negra.

Figura 02.10.14: Nebulosa Planetária NGC3132, fotografada pelo


Telescópio Espacial Hubble. Existem aproximadamente 10.000 nebulosas
planetárias em nossa galáxia. A nebulosidade permanece visível por
aproximadamente 10.000 anos após sua ejeção pela estrela, no ramo
gigante assintótico. O termo nebulosa planetária foi dado porque
algumas se parecem com o planeta Urano, quando olhadas através de
Área 2, Aula 10, p.10 um telescópio pequeno.
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.10.15: Clique aqui e veja uma simulação da evolução de uma
estrela como o Sol, que passa para a fase de gigante, supergigante, ejeta
uma nebulosa planetária e transforma-se em uma anã branca.
http://astro.if.ufrgs.br/estrelas/node14.htm#a#a

Estrelas entre 10 e 25 MSol


Se a estrela iniciar sua vida com massa entre 10 e 25
MSol , ela terá uma morte catastrófica. Após a fase de
supergigante e a formação do núcleo de ferro, a estrela
não tem mais combustível para gerar energia, pois sendo o
ferro o elemento com maior energia de ligação ele é
resistente à fusão. Desprovida da pressão para balançar a
gravidade, o núcleo colapsa violentamente sob seu próprio
peso em alguns segundos. As camadas superiores, contendo
aproximadamente 90% da massa da estrela colapsam
então sobre este núcleo, e após o comprimirem até o limite
das leis físicas, são empurradas para fora com velocidades
de milhares de quilômetros por segundo, um fenômeno
chamado explosão de supernova. Tanta energia é liberada
na explosão que a estrela brilha tanto quanto todas as
estrelas da galáxia juntas.

Figura 02.10.16: Clique aqui e veja uma simulação da explosão de uma


estrela massiva ao atingir o estágio de supernova. Animação de
NASA/CXC/D.Berry & A.Hobart. A segunda imagem mostra as imagens em
raio-X obtidas pelo satélite Chandra da Nebulosa do Caranguejo (M1).
Detectada em 1054 pelos chineses, está a uma distância de 6500 anos-luz
de nós.
Estrela de Nêutrons
Todos os elementos mais pesados do que o ferro são
É o que resta da estrela
após o esmaecer da gerados por acréscimo de nêutrons nas explosões de
supernova: supernovas. Essas explosões espalham esses elementos
um núcleo extremamente pesados no espaço, os quais se misturam ao gás e poeira
compacto, com existentes nas galáxias para serem incorporados na geração
temperatura acima de 106
K, e com massa de cerca
de novos sistemas estelares, planetas e possivelmente seres
de 1,46 MSol , raio vivos.
aproximado de 20 km e
Depois deste espetáculo, a supernova começa a
densidade 1014 g/cm3.
esmaecer, deixando como resíduo, se não houver disrupção
total, um núcleo extremamente compacto, uma estrela de
nêutrons, com uma temperatura superficial acima de 1
milhão de kelvins, massa de cerca de 1,46 MSol, raio de
Área 2, Aula 10, p.11 cerca de 20 km e densidade de ρ=1014g/cm3. A separação
Müller, Saraiva & Kepler entre os nêutrons é da ordem do tamanho do nêutron, um
um fentômetro (10-15m). O elemento químico estável de
maior massa conhecido na Terra é o bismuto 209Bi83 mas uma
estrela de nêutrons tem A=1057!
Os nêutrons, tendo o mesmo spin dos elétrons,
obedecem também ao princípio da exclusão de Pauli, mas
tendo massa de 2.000 vezes o valor da massa dos elétrons,
podem ser comprimidos a distâncias 2.000 vezes menores do
que os elétrons em uma anã branca. As estrelas de nêutrons
formam então um gás de nêutrons degenerados, e a
pressão de degenerescência dos nêutrons impede que a
estrela continue colapsando desde que sua massa final seja
menor do que três massas solares.

Pulsar
Se esta estrela possuir campo magnético forte, ela
emitirá luz direcionada em um cone em volta dos polos
Estrela de nêutrons de com magnéticos, como um farol, e será um pulsar.
campo magnético forte.

Figura 02.10.17: Sequência de fotos do pulsar da Nebulosa do Caranguejo


(M1), com período de 33 ms, na constelação do Touro. A nebulosa foi
catalogada em 1731. O pulsar foi descoberto com o rádio telescópio do
Arecibo em 1968 e confimado no ótico em 1969.

Figura 02.10.18: Em fevereiro de 1987, vários detectores aqui na Terra


registraram os neutrinos associados à explosão da supernova SN1987A, que
está a 168 mil anos-luz de distância.

Área 2, Aula 10, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 02.10.19: Diagrama de funcionamento de um pulsar. O eixo
magnético, não estando alinhado com o eixo de rotação, precessiona
Buraco negro enquanto a estrela gira, fazendo com que a radiação emitida na direção
do eixo magnético seja enviada para diferentes direções. Se a Terra
É um estágio final mais estiver em uma dessas direções, detectará o feixe como pulsos
provável de estrelas com periódicos.
massa maior do que 25
massas solares.
Estrelas com massas maiores que 25 MSol

Para as estrelas muito massivas, a fase de gigante e


supergigante são contíguas, sem nenhum evento que
marque o início da queima de hélio, do carbono, do
oxigênio, do neônio, do magnésio, do silício, e assim
sucessivamente, até transformar o núcleo em ferro.
Durante esse estágio as estrelas passam pela fase de Wolf-
Rayet em que são de brilho variável e têm um envoltório
de poeira ejetado pela estrela devido à forte pressão de
radiações. Quando o núcleo chega a ferro e a estrela
colapsa, ejetando a maior parte de sua massa como
supernova, restará um buraco negro, com massa da
ordem de 6 MSol, e raio do horizonte de 18 km.

Lembre que
O raio do horizonte é o raio de uma região esférica,
em torno da singularidade central onde o campo
N.m2 gravitacional é tão intenso que nem a luz escapa. É
G = 6,67.10 −11 .
kg2 também chamado de Raio de Schwarzschild, em
homenagem a Karl Schwarzschild (1873 -1916), que
derivou o seu valor como:
2. G. M
RSchw = ,
c2
onde:
G é a constante da Gravitacional Universal,
M é a massa do buraco negro e
c é a velocidade da luz no vácuo.
Essa expressão nos mostra que o raio do horizonte
de eventos depende apenas da massa do buraco negro,
e é diretamente proporcional a ela.

Área 2, Aula 10, p.13 Figura 02.10.20: Nebulosa envolvendo a estrela Wolf-Rayet WR 124, na
Müller, Saraiva & Kepler constelação Sagitário. (Imagem produzida com o Telescópio Espacial
Hubble.)
Um candidato a buraco negro estelar é Cygnus X-
1, uma das fontes de raio-X mais intensas do céu,
localizada na constelação do Cisne. Os dados indicam
que nessa fonte tem um objeto compacto com massa de
aproximadamente 10 massas solares. Cygnus X-1 forma
um sistema binário com a estrela supergigante azul
HD226868, que tem cerca de 40 massas solares.

Figura 02,10. 21: Esquerda: O sistema binário Cygnus X-1 (não visível) e a
estrela supergigante azul HD 226868. Direita: representação artística da
interação do sistema.

Tabela 02.10.01: Tipos de objetos que resultam da evolução final de uma


estrela, e a massa máxima que cada um pode ter.

Massa Inicial Objeto Compacto Massa Final


até 10 MSol Anã Branca Menor que 1,4 MSol
10 a 25 MSol Estrela de Nêutrons 1,4 MSol
acima de 25 MSol Buraco Negro 5 a 13 MSol

Tabela 02.10.02: Processos nucleares no interior das estrelas durante a


evolução, e o destino final, de acordo com a massa inicial.

Massa
Evolução Final
(MSol)
não queima (reação termo-
até 0,08 anã marrom
nuclear) H
0,08 a 0,5 só queima H anã branca de He
0,5 a 10 queima H e He anã branca de C/O
deflagração do C ou colapso por disrupção total ou
10 a 11
captura de elétrons estrela de nêutrons
estrela de nêutrons ou
11 a 100 queima H,He,C,Ne,O,Si
buraco negro
acima de disrupção total ou
criação de pares, SN
100 buraco negro

Tabela 02.10.03: Duração e propriedades das estrelas em diferentes


estágios da vida.

Estágio Duração Temperatura Temperatura Raio


Central
1 MSol (anos) Efetiva (K) (700.000km)
(106K)
sequência 10
15 5.400 1
principal bilhões
100
subgigante 50 4.000 3
milhões
flash de hélio 100 mil 100 4.000 100
50
ramo horizontal 200 5.000 10
milhões
supergigante 10 mil 250 4.000 500
nebulosa 100.000(3.000 0,01(1000
10 mil 300
planetária nebula) nebula)
11
Área 2, Aula 10, p.14 anã branca 100 100.000 a 3.000 0,01
bilhões
Müller, Saraiva & Kepler
1015 a
anã negra 5 5 0,01
1037
Resumo
As estrelas se formam em imensas nuvens
moleculares imersas em nebulosas gasosas existentes nas
galáxias.
Formação da protoestrela: a parte mais densa da
nuvem molecular colapsa gravitacionalmente, a região
central fica mais densa e quente, surge a protoestrela.
Posteriormente forma-se um sistema planetário. A
protoestrela aumenta enormemente o seu tamanho.
Iniciam-se as reações de fusão nuclear no centro da
protoestrela o que produz um forte vento de radiação e
partículas a partir da mesma.
A temperatura mínima para ocorrer as reações
nucleares para formar estrelas é de 8 milhões de kelvins. A
massa mínima de uma protoestrela pode se transformar
numa estrela é de aproximadamente 10% da massa do Sol.
Sendo a massa inferior a esse valor, forma-se uma anã
marrom.
As estrelas situam-se na sequência principal
enquanto estiverem transformando em seu núcleo
hidrogênio em hélio. Quando as estrelas tiverem todo
hidrogênio convertido em hélio, elas saem da sequência
principal.
Estrelas com massa entre 0,08 a 0,45 MSol nunca vão
chegar a fundir o hélio, vão se transformar em anãs brancas
com núcleo de hélio.
Estrelas com mais de 0,45 MSol se transformam em
gigantes vermelhas, queimando hidrogênio em uma casca
em torno do núcleo; quando iniciam a queima do hélio no
núcleo passam para o ramo horizontal. Quando o hélio
nuclear se esgota passam ao ramo das supergigantes,
ejetarão uma nebulosa planetária e terminarão a vida
como anãs brancas com núcleo de carbono.
Estrelas com massa entre 10 e 25 MSol têm uma morte
catastrófica após a fase de supergigante a formação do
núcleo de ferro acaba-se o combustível para gerar a
energia por fusão o final é uma explosão chamada de
explosão de supernova. Após a explosão a supernova
começa a esmorecer deixando resíduos formando uma
estrela de nêutrons.
Nas estrelas com massas maiores que 25 MSol as fases
gigante e supergigante são contíguas. Quando o núcleo
chega a ferro a estrela colapsa ejetando a maior parte de
sua massa como supernova, restando daí um buraco negro.
Anã branca: etapa em que os elétrons não se
encontram mais presos aos núcleos, estão distribuídos entre
eles e amontoados ficando tão próximos que os efeitos
quânticos passam a atuar. As vibrações dos elétrons criam
uma pressão de degenerecência que contrabalança a
atração gravitacional, sustentando a anã branca. Quando
não produzir mais energia nuclear a estrela vai esfriar até
hipoteticamente virar uma anã negra.

Área 2, Aula 10, p.15


Müller, Saraiva & Kepler
Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de
hoje resolva as questões de fixação e compreensão do
conteúdo a seguir, utilizando o fórum, comente e compare
suas respostas com os demais colegas.
Bom trabalho!
1.
a) Qual a massa mínima de uma estrela?
b) Por que corpos com massas menores que isso não
podem ser estrelas?
2.
a) Qual a massa máxima de uma estrela?
b) Por que não existem estrelas com massas maiores?
3. Descreva a evolução de uma estrela:
a) de uma massa solar;
b) de 10 massas solares;
c) de 30 massas solares.
4. Calcule a densidade, a gravidade superficial e a
velocidade de escape para:
a) o Sol (massa = 2×1030 kg e raio = 7×108 m);
b) uma anã branca com massa de uma massa solar e
raio de 10×103 km;
c) uma estrela de nêutrons com massa de duas
massas solares e raio de 30 km;
d) compare a densidade da estrela de nêutrons com
a densidade de um nêutron com massa de 1,7×10−27 kg e raio
de 10−15 m.
5. Calcule o Raio de Schwarzchild para:
a)um aglomerado de estrelas com 106 estrelas
(assuma que todas as estrelas têm a massa do Sol);
b)uma estrela com massa de 3 massas solares;
c)um planeta com a massa da Terra;
d)um asteroide de massa igual a 2×1015 kg.
6. Qual o tempo de vida na sequência principal e
qual o destino final mais provável de estrelas com:
a) 0,1 massa solar?
b) 1 massa solar?
c)5 massas solares?
d) 10 massas solares?
e) 30 massas solares?
7. Qual seria a massa de uma estrela em um sistema
binário, sabendo que a sua companheira, separada dela por
0,175 UA, tem uma massa de 20 massas solares, e tem um
período orbital de 5 dias?
Aqui se encerra a 2ª área. Lembre-se que em breve
ocorrerá a avaliação presencial.
Área 2, Aula 10, p.16
Müller, Saraiva & Kepler Boa prova!
Aula 1- Via Láctea Área 3, Aula 1

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Concepção artística de como seria a


Galáxia se vista de cima, mostrando uma
barra, como indicada pelas observações
no infravermelho pelo satélite Spitzer
[NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (SSC)]. Fonte:
http://astro.if.ufrgs.br/vialac/vialac08.jpg.

Introdução
Prezado aluno, em nossa primeira aula, da terceira
área, vamos estudar a Via Láctea. Trataremos da sua
estrutura, das diferentes populações estelares dentro
dela, entre outros assuntos pertinentes ao estudo da
Galáxia.
Bom estudo!
Galáxia e galáxia

Quando nos referimos à Via


Láctea podemos escrever
simplesmente Galáxia.
Quando nos referimos a
qualquer outra galáxia
escrevemos galáxia.
Objetivos
Nesta aula estudaremos a Via Láctea. Esperamos que
no final você esteja apto a:
• descrever, em linhas gerais, a estrutura da Via
Láctea e a posição do Sol dentro dela;
• explicar, em termos da geometria da Via
Láctea, por que, vista da Terra, ela aparece
como uma faixa no céu;
• explicar a importância das estrelas variáveis na
determinação das distâncias dentro da
Galáxia;
• explicar as diferentes populações estelares
presentes na Via Láctea e a sua distribuição
dentro da Galáxia;
• estimar a massa da Galáxia contida dentro da
órbita solar a partir do movimento do Sol;
• discutir as evidências para a existência de
braços espirais na Galáxia e em outras galáxias;
• explicar o que é e como é a curva de rotação
da Galáxia e por que ela indica a existência de
matéria escura na Galáxia;
• explicar por que os astrônomos acreditam que
tem um buraco negro supermassivo no centro
da Galáxia.

Qual é a forma da Via Láctea


e qual a nossa posição nela?
Em noites límpidas e sem lua, longe das luzes artificiais
das áreas urbanas, pode-se ver claramente no céu uma faixa
nebulosa atravessando o hemisfério celeste de um horizonte a
outro, como visto na figura 03.01.01. Chamamos a essa faixa
Via Láctea, devido à sua aparência, que lembrava aos povos
antigos um caminho esbranquiçado como leite. Sua parte
mais brilhante fica na direção da constelação de Sagitário,
sendo melhor observável no Hemisfério Sul durante as noites
de inverno.

Figura 03.01.01: Vista panorâmica da Via Láctea como vista pelo Two Micron
Área 3, Aula 1, p.2
All-Sky Survey (2MASS). Outras imagens da vista lateral da Via Láctea: Mapas
Müller, Saraiva & Kepler
da Via Láctea em diferentes bandas espectrais.
Figura 03.01.02: Concepção artística (NASA/JPL-Caltech/R.Hurt(SSC), (Spitzer
Space Telescope) de nossa galáxia como apareceria vista de cima. A figura da
esquerda ilustra a estrutura de quatro braços de mesma intensidade; a figura da
direita ilustra a estrutura espiral mais consistente com as novas observações do
Spitzer (2008), que sugerem que a Via Láctea tem apenas dois braços principais;
os outros dois seriam mais finos.

Figura 03.01.03: Imagem obtida por ©Roger Smith, do Cerro Tololo Interamerican
Observatory, mostrando a cúpula do telescópio Blanco, a Via Láctea, à direita,
com o Cruzeiro do Sul, e à esquerda, a Pequena (em cima) e a Grande Nuvem
de Magalhães, galáxias satélites da nossa Galáxia.
Via Láctea

Faixa nebulosa que


atravessa o hemisfério
celeste de um horizonte a
outro.
O nome é devido à sua
aparência que lembrava
aos antepassados um
caminho esbranquiçado
como o leite.

Figura 03.01.04: Via Láctea fotografada nos dois hemisférios celestes: o Norte (à
esquerda) e o Sul (à direita).

Em 1609, Galileo Galilei (1564-1642), ao apontar seu


telescópio para a Via Láctea, descobriu que ela consistia de
uma multitude de estrelas. No final do século XVIII, o astrônomo
alemão William Herschel (1738-1822), que já era famoso por ter
Área 3, Aula 1, p.3 descoberto o planeta Urano, mapeou a Via Láctea, usando seu
Müller, Saraiva & Kepler telescópio de 1,2 m de diâmetro.
Assumindo que todas as estrelas tinham a mesma
luminosidade, de forma que as suas diferenças de brilho refletiam
suas diferentes distâncias, Herschel contou o número de estrelas
que conseguia observar em diferentes direções e concluiu que a
Galáxia era um sistema achatado, sendo aproximadamente 5
vezes maior na direção do plano galáctico do que na direção
perpendicular a ele. Como ele aparentemente enxergava o
mesmo número de estrelas em qualquer linha de visada ao longo
do plano, concluiu que o Sol deveria estar aproximadamente no
centro da Galáxia. Hoje sabemos que essa conclusão estava
errada.
Heschel não tinha como saber as distâncias das estrelas e,
assim, determinar o tamanho da Via Láctea, pois a primeira
medida da paralaxe de uma estrela foi feita só no século seguinte
(1838). A primeira estimativa do tamanho da Via Láctea foi feita
no início do século XX, pelo astrônomo holandês Jacobus Kapteyn
(1851-1922). Kapteyn fez contagem das estrelas registradas em
placas fotográficas e determinou as distâncias das estrelas
próximas medindo suas paralaxes e movimentos próprios. Concluiu
que a Via Láctea tinha a forma de um disco com 20.000 parsecs
de diâmetro com o Sol no centro. Logo após a publicação do
modelo de Kapteyn, Harlow Shapley (1885-1972) publicou um
modelo diferente, baseado na distribuição de sistemas esféricos
de estrelas chamados aglomerados globulares. Shapley descobriu
que os aglomerados (150 deles), mostravam uma concentração
maior em uma direção do céu e supôs que o centro dessa
concentração devia coincidir com o centro de nossa Galáxia.
Deduziu assim que estamos a 30 mil anos-luz do centro da Galáxia.
Shapley não levou em conta a extinção interestelar, o que
o fez encontrar um valor exagerado para o tamanho da Galáxia.
Hoje sabemos que o disco da nossa galáxia tem uma extensão de
aproximadamente 25 kpc, e o Sol se encontra a
aproximadamente 8,3 kpc do centro, como está representado na
figura 03.01.05.

Extensão da Galáxia

Aproximadamente 25 kpc.

Posição do Sol

No disco a 8,3 kpc do


centro da Galáxia.

Figura 03.01.05: Representação esquemática da Via Láctea, vista de perfil, com a


posição do Sol dentro dela.

Área 3, Aula 1, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Distâncias Dentro da Galáxia
Nas aulas anteriores vimos como as distâncias das estrelas
podem ser determinadas por paralaxe heliocêntrica, que utiliza o
método de triangulação, ou por paralaxe espectroscópica, que
utiliza as propriedades espectrais das estrelas para determinar sua
magnitude absoluta pela sua posição no diagrama HR. Através
da paralaxe espectroscópica, podemos medir distâncias de
estrelas até aproximadamente 10.000 pc, alcance maior do que o
obtido através da paralaxe heliocêntrica (1.000 pc), mas ainda
insuficiente para cobrir o tamanho de nossa Galáxia, que tem
25.000 pc de diâmetro. É necessário, portanto, incluir um novo
método de determinação de distâncias, que tenha um alcance
maior. As estrelas variáveis importantes - estrelas cujas
luminosidades variam com o tempo - cumprem o papel de
Estrelas variáveis pulsantes indicadores de distância nesta escala.
Estrelas cuja luminosidade A relação período-luminosidade de estrelas variáveis
varia com o tempo devido a pulsantes
variações de seu tamanho.
Apresentam uma relação As estrelas variáveis pulsantes são estrelas cuja
entre suas luminosidades e
seus respectivos períodos de
luminosidade varia com o tempo devido a variações no seu
pulsação que permite que tamanho. Elas podem ser reconhecidas facilmente, observando a
sejam utilizadas como sua variação em luminosidade, que se dá de maneira muito
indicadores de distâncias. regular.
Dois tipos de variáveis pulsantes são importantes como
indicadores de distância na Galáxia: as variáveis Cefeidas e as
variáveis RRLyrae. Esses dois tipos de estrelas ocupam uma região
do diagrama HR chamada faixa de instabilidade, onde as estrelas
estão começando a queimar He no núcleo.
A pulsação acontece devido ao desequilíbrio da estrela:
sem equilíbrio, a temperatura do interior aumenta rapidamente,
ionizando o hidrogênio, aumentando o número de partículas e,
portanto, aumentando a pressão e forçando as camadas
externas para fora; o aumento do raio diminui a temperatura,
recombinando o hidrogênio e reduzindo o número de partículas;
com isso a pressão diminui e a estrela se contrai, aumentando a
temperatura e recomeçando o ciclo.

Área 3, Aula 1, p.5 Figura 03.01.06: Diagrama HR mostrando a região chamada “faixa de
Müller, Saraiva & Kepler instabilidade”, onde se localizam as variáveis Cefeidas e RRLyrae.
RRLyrae: são estrelas evoluídas com massas entre 0,5 e 0,7
MSol muito comuns em aglomerados globulares. Têm tipo espectral
entre B8 e F2 e magnitude absoluta em torno de MV = 0, 6 ± 0, 3.
Seus períodos de pulsação são pequenos, entre 0,5 e 1 dia, com
variações em magnitude menores do que uma magnitude. O fato
de terem luminosidade conhecida permite que sejam usadas
como indicadores de distância para aglomerados globulares,
usando-se o módulo de distância.
Cefeidas: são supergigantes com massas entre 3 e 18 MSol e
tipo espectral entre F e K. Também pulsam de forma regular, mas
podem apresentar períodos de pulsação entre 1 e 100 dias, com
amplitudes de pulsação entre 0,3 e 3,5 magnitudes.
RRLyrae

Têm pequenos períodos de


pulsação.
São utilizadas como
indicadores de distâncias
para aglomerados
globulares, da Galáxia, por
serem comuns nesses
aglomerados.

Cefeidas

São supergigantes com


períodos de pulsação de 1
até 100 dias.
As mais brilhantes têm
maiores períodos de
pulsação, pois têm raios
maiores. Figura 03.01.07: Série de imagens de uma estrela Cefeida na galáxia M100, a 56
São utilizadas para milhões de anos-luz, tomadas entre abril e maio de 1994 pelo Telescópio Espacial
determinar a distância de Hubble. A estrela variável dobra de brilho, passando de magnitude 24,5 para 25,3
estrelas longínquas da em 51,3 dias.
Galáxia, e de galáxias
próximas.
As Cefeidas diferem mais em luminosidade do que as RR
Lyrae, podendo ter magnitudes absolutas entre -2 e -6, mas
apresentam uma relação muito estreita entre o período de
pulsação e a luminosidade, o que permite conhecer sua
luminosidade, uma vez conhecido seu período de pulsação. As
Cefeidas mais brilhantes têm períodos maiores, por terem raios
maiores.

Figura 03.01.08: Gráfico da variação de brilho (magnitude) com o tempo da estrela


Delta Cephei, o protótipo da classe das Cefeidas. O período é de 5,366 dias.

Área 3, Aula 1, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.01.09: John Goodricke, que descobriu a variabilidade de Delta Cephei em
1784, e Henrietta Swan Leavitt, que determinou a relação período-luminosidade das
Cefeidas em 1912.

As observações indicam que a relação entre a magnitude


bolométrica absoluta Mbol e o período P, em dias, é:

M Cefeidas
bol − 3,125 log P −1, 525.
=

As variáveis Cefeidas são usadas para determinar


distâncias de estrelas longínquas da nossa galáxia, e distâncias de
outras galáxias.

Tabela 03.01.01: Métodos para estimar distâncias astronômicas:

Distância Método
de alcance

1 UA radar

1.000 pc paralaxe
heliocêntrica

10.000 pc paralaxe
espectroscópica

4 Mpc estrelas variáveis

Morfologia

Figura 03.01.10: Imagem da Via Láctea como vista da Terra (ESO). As manchas
brilhantes são constituídas de estrelas e gás. As manchas escuras são nuvens de
poeira que impedem de ver as estrelas atrás delas.

Área 3, Aula 1, p. 7
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.01.11: Concepção artística (NASA/JPL-Caltech/R.Hurt(SSC),Spitzer Space
Telescope) de nossa galáxia como apareceria vista de cima, de acordo com as
observações do Spitzer (2008), que sugerem que a Via Láctea tem barra de estrelas
velhas no centro e uma estrutura espiral com dois braços principais e vários braços
menores. O braço em que está o Sol – braço de Órion – é um desses braços
pequenos.

A forma da Via Láctea foi determinada através de


observações em comprimentos de onda longos, como rádio e
infravermelho, que podem penetrar a poeira presente no plano da
galáxia. Com base nessas observações, os astrônomos chegaram à
conclusão de que nossa Galáxia tem a forma de um disco circular,
com diâmetro de cerca de 25.000 pc (100.000 anos-luz) e espessura
de 300 pc aproximadamente.

Forma da Galáxia

Forma de um disco circular


com diâmetro de
aproximadamente 25 kpc
e espessura ao redor de
300 pc.
Sua forma foi determinada
através de observações
dos comprimentos de
ondas longas como
infravermelho e rádio que
atravessam a poeira
presente no plano da
Galáxia.
Figura 03.01.12: Representação esquemática da Via Láctea vista de perfil.

O disco está imerso em um halo esférico formado pelos


Área 3, Aula 1, p.8 aglomerados globulares e, provavelmente, grande quantidade de
Müller, Saraiva & Kepler
matéria não luminosa. Observações desses aglomerados indicam
que o halo está centrado no núcleo da Galáxia e, se estende por
no mínimo 100.000 pc, bem além dos limites do disco galáctico. O
bojo que contém o núcleo, é uma região esférica de 2.000 pc de
raio, envolvendo o núcleo.
Da posição do Sol, onde estamos, a Galáxia é vista de
perfil, daí a forma de faixa. A observação de estrelas nas
proximidades do Sol mostra que elas se movem em relação ao Sol,
pois apresentam deslocamento Doppler nos seus espectros. Isso
evidencia que o disco da Galáxia não gira como um corpo rígido,
mas sim tem uma rotação diferencial que lembra a dos planetas:
estrelas mais próximas do centro galáctico se movem mais
Composição da Galáxia rapidamente do que as mais distantes.
Além de estrelas, há material O disco da galáxia contém, além das estrelas, a matéria
interestelar composto por interestelar, formada por gás e poeira, que constitui o material do
gás e poeira.
O gás interestelar é
qual as estrelas se formam. O gás interestelar é constituído na maior
constituído, em sua maior parte por hidrogênio neutro, que não é luminoso. Mas perto de
parte, por hidrogênio neutro. estrelas muito quentes e massivas, o hidrogênio é ionizado pela
radiação ultravioleta provinda das estrelas, e brilha por
fluorescência. Se existe suficiente hidrogênio ao redor destas
estrelas, ele será visível como uma nebulosa gasosa de emissão,
Rotação diferencial da brilhante, chamada Região HII. Um exemplo desse tipo de
Galáxia nebulosa é M42, que se localiza na constelação de Órion.
A Galáxia tem uma rotação O hidrogênio neutro (HI) emite uma linha espectral de
diferencial que lembra a dos comprimento de onda λ = 21,049 cm (equivante à frequência de
planetas.
As estrelas mais próximas do 1.420,4 MHz), correspondente à radiação emitida pelo átomo de
centro se movem com maior hidrogênio quando ele realiza uma transição entre dois nveis
velocidade do que as mais hiperfinos do estado fundamental. Ela é usada para mapear a
afastadas. distribuição do hidrogênio e teve um papel chave na
determinação da estrutura espiral da Galáxia.
Nomenclatura
Estrutura espiral
- HI: nebulosas com
hidrogênio neutro. Quando observamos outras galáxias que têm meio
- HII: nebulosas com interestelar abundante como a nossa, verificamos que, nessas
hidrogênio ionizado.
outras galáxias, as nebulosas gasosas geralmente se encontram
distribuídas em uma estrutura espiral, como pode ser visto na figura
03.01.13. Parece então razoável supor que nossa Galáxia também
tem uma estrutura espiral, mas fica muito difícil, para nós, visualizá-
la, pois estamos dentro do próprio disco galáctico, e cercados de
poeira interestelar, que bloqueia a luz.

Figura 03.01.13: Imagem da galáxia M51 (crédito: NASA/HST). As manchas rosadas


ao longo dos braços espirais são regiões HII, as manchas azuladas são aglomerados
Área 3, Aula 1, p.9 de estrelas jovens azuis.
Müller, Saraiva & Kepler
Podemos estimar a localização dos braços espirais
observando objetos que sejam mapeadores da estrutura espiral.
Os principais mapeadores ópticos são objetos brilhantes como
estrelas OB, regiões HII e estrelas cefeidas variáveis. O principal
traçador em rádio é a linha de 21cm do hidrogênio neutro. Como
o hidrogênio neutro existe em grande abundância na Galáxia,
essa linha é observada em todas as direções.

Localizadores dos braços


espirais

- No óptico: estrelas do tipo


O e B, regiões HII e
variáveis cefeidas.
- Em rádio: a linha
21 cm do hidrogênio
neutro.

Figura 03.01.14: Mapa da distribuição de hidrogênio na Galáxia. O centro da


Galáxia está indicado por um pequeno círculo azul.

Até 2005 pensava-se, com base nas observações no óptico


e no rádio, que a Galáxia teria quatro braços espirais principais,
mas observações mais recentes no infravermelho, sugerem que a
Via Láctea tem dois braços principais – o braço de Scutum-
Com base em
observações mais Centaurus e o braço de Perseus – e vários braços menores (ver a
recentes supõe-se que a figura 03.01.13). O Sol está na borda interna de um braço
Via Láctea tem dois pequeno chamado "braço de Órion" (Orion Spur) que contém,
braços principais: entre outros aspectos marcantes, a Nebulosa de Órion.
Perseus e Scutum-
Centaurus.

Movimento das Estrelas

Em 1718, Sir Edmund Halley (1656-1742) observou que a


posição da estrela Arcturus no céu havia mudado um grau em
relação à posição medida por Ptolomeu. Sírius também havia
Movimento próprio mudado, de meio grau. Desde então os astrônomos têm medido o
É o movimento (angular) movimento transverso, isto é, o movimento aparente das estrelas
da estrela no plano do no céu, perpendicular à linha de visada. Este movimento é
céu, medido em segundos chamado de movimento próprio e usualmente é medido em
de arco por ano. (Não segundos de arco por ano.
confundir com paralaxe!)
A estrela conhecida com maior movimento próprio é a
estrela de Barnard, descoberta em 1916 por Edward Emerson
Barnard (1857-1923), localizada a 1,8 pc de distância de nós. É
uma estrela pouco luminosa (tem um centésimo da luminosidade
do Sol), e movimento próprio de 10 segundos de arco por ano.

Área 3, Aula 1, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.01.15: A estrela de Barnard (indicada pelas setas), fotografada em 1950
(foto da esquerda) e em 1997 (foto da direita). Note como a posição da estrela
muda em relação às demais. Clique aqui para ver uma imagem em movimento.
Movimento das estrelas

Não se deve confundir o movimento próprio com a


As estrelas se movem umas paralaxe, pois a paralaxe se deve ao movimento da Terra em torno
em relação às outras dentro
da Galáxia.
do Sol, e é cíclica em um ano, ao passo que o movimento próprio
A velocidade de uma se deve aos movimentos relativos entre a estrela e o Sol, e é
estrela em relação ao Sol cumulativo ao longo de anos. Ao se calcular o movimento próprio,
pode ser medida deve-se fazer a correção pela paralaxe.
combinando seus
movimentos na linha de Em 1842 Christian Doppler (1803-1853) demonstrou que uma
visada (radial) e na fonte que se distancia do observador tem todos os comprimentos
perpendicular a ela
(transversal). de onda de seu espectro deslocados para o vermelho, isto é, o
efeito Doppler desloca os comprimentos de onda para valores
maiores quando a fonte se distancia e menores quando ela se
aproxima, como se observa na figura 03.01.16. Com estas medidas
do efeito Doppler, foi possível também medir a velocidade radial
das estrelas, isto é, a velocidade na linha de visada.

Figura 03.01.16: O efeito Doppler desloca os comprimentos de onda para valores


maiores quando a fonte se distancia com a cor tendendo para o vermelho e
menores quando ela se aproxima com a cor tendendo para o vermelho.

Combinando os movimentos radial e transversal da estrela,


podemos medir a verdadeira velocidade da estrela em relação ao
Sol.

Figura 03.01.17: Jan Heindrik Oort (1900 -1992).

Jan Heindrik Oort (1900–1992) demonstrou que os


movimentos podem ser interpretados em termos do movimento
Área 3, Aula 1, p. 11 geral das estrelas em torno da galáxia, de acordo com as leis de
Müller, Saraiva & Kepler movimento de Kepler.
As estrelas mais próximas do centro da galáxia se movem
mais rapidamente do que o Sol. Oort deduziu que o Sol revolve em
torno do centro da nossa galáxia com uma velocidade de 220 km/s,
completando uma volta a cada 233 milhões de anos.
Esse tempo que o Sol leva para dar uma volta completa em
torno do centro galático, com duração de 233 milhões de anos é
chamado de ano galáctico.
2π r 2π 7, 2kpc
P
= = = 233milhõesdeanos.
v 220 km / s

Ano galáctico
A Massa da Galáxia
Tempo que o Sol leva
para dar uma volta em
O Sol, as outras estrelas, as nebulosas gasosas, e tudo o que
torno do centro da faz parte da galáxia, gira em torno do centro galáctico movido
Galáxia. pela atração gravitacional da grande quantidade de estrelas ali
Tem duração de 233 concentradas, da mesma forma que os planetas giram em torno do
milhões de anos.
Sol.
Observando o movimento orbital de uma estrela na periferia
da galáxia, podemos determinar aproximadamente a massa da
Galáxia, MG, desde que saibamos a distância dessa estrela ao
centro galáctico. Tomemos como exemplo o próprio Sol, e vamos
assumir que ele está em uma órbita circular em torno do centro
galático com velocidade v .
A força centrípeta do Sol é
M v2
FC =   ,
R
que é produzida pela atração gravitacional entre o Sol e a massa
da Galáxia interna ao Sol, dada por

G M MG
FG = .
R2
Uma vez que a força gravitacional atua como força
centrípeta, ou seja:
FG = Fc ,

temos:
G MG m mv 2 R v2
= → MG = .
R2 R G
Massa da Galáxia
Os estudos da rotação galáctica mostram que nas
Seu valor aproximado pode
ser obtido a partir do proximidades do Sol a velocidade orbital é de v = 220 km / s .
movimento das estrelas de Sabemos que a distância do Sol ao centro galáctico é de 8.300 pc
seu interior.
A massa interna à órbita do
= 2,5 × 1020 m. A massa da galáxia MG pode então ser calculada:
Sol é aproximadamente
1011 massas solares.
v2 R ( 2, 20 x10 5 m / s)2 (2, 5 x10 20 m)
MG
= = ,
G 6, 7 x10−11 m3 / (kg. s2 )
MG =1, 8 x10 41 kg  1011 M .

Portanto, considerando o Sol como uma estrela de massa


típica, a Via Láctea teria aproximadamente 100 bilhões de estrelas.
Este é um limite inferior, pois estamos considerando apenas a massa
interna à orbita do Sol.
A curva de rotação da Galáxia

A massa da Galáxia, calculada da maneira acima, é


apenas a massa contida dentro da órbita do Sol em torno do centro
galáctico. Para conhecer a massa existente além da órbita do Sol, é
necessário medir o movimento de estrelas e do gás localizados a
Área 3, Aula 1, p.12
Müller, Saraiva & Kepler
distâncias maiores do centro Galáctico do que o Sol.
Através de observações em rádio, os astrônomos mediram o
movimento do gás no disco, até distâncias além do limite visível da
Galáxia, e determinaram, assim, a curva de rotação da Galáxia,
que é um gráfico da velocidade orbital em função da distância ao
centro (figura 03.01.18).

Figura 03.01.18: Duas curvas de rotação para a Galáxia: a curva de cima é a curva
observada, a partir do movimento do gás no disco; a curva de baixo é a curva
esperada a partir da matéria visível.

A curva de rotação da Galáxia mostra que a massa contida


dentro do raio de 15 kpc - duas vezes a distância do Sol ao centro
galáctico - é de 2 ×1011 MSol, ou seja, o dobro da massa contida
dentro da órbita do Sol. A distância de 15 kpc corresponde ao limite
da estrutura espiral visível da Galáxia (onde visível, aqui, significa o
que pode ser detectado em qualquer comprimento de onda).
Portanto, era de se esperar que, a partir desse ponto, a curva de
rotação passasse a decrescer, pois se a maior parte da massa da
Galáxia estivesse contida até esse raio, o movimento das estrelas e
do gás situados mais distantes deveria ser cada vez mais lento, da
mesma forma que a velocidade dos planetas diminui à medida
que aumenta sua distância ao Sol.

A curva de rotação da Supreendentemente, não é isso o que se observa. Pelo


Galáxia contrário, a curva de rotação aumenta ligeiramente para distâncias
maiores, o que implica que a quantidade de massa continua a
Mostra como varia a
velocidade orbital das
crescer. A velocidade de rotação, à distância de 40 kpc,
estrelas em função das corresponde a uma massa de 6 ×1011 MSol, o que só pode ser
suas distâncias ao explicado considerando que nossa Galáxia contém matéria não-
centro da Galáxia. visível que se estende muito além da matéria visível, e que constitui,
A curva de rotação da
Galáxia aumenta
no mínimo, dois terços da massa total da Galáxia. Esta é uma
ligeiramente para indicação de um problema muito maior, chamado de matéria
distâncias maiores. Isso faltante (missing mass), ou matéria escura (invisível, que não emite
significa que a massa luz), externa à órbita do Sol. Essa massa, que só interage pela
continua a crescer, o
que é explicado pela
gravidade, ainda não foi detectada em laboratório e constitui um
existência da matéria dos pontos mais perplexantes da astronomia moderna. Está
escura. distribuída em um halo extenso em torno da Galáxia. Conclusão: a
curva de rotação observada prova que existe matéria escura em
nossa Galáxia e que ela é dominante.

Área 3, Aula 1, p.13


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.01.19: Representação artística do halo de matéria escura envolvendo a
parte luminosa da Via Láctea.

Populações Estelares

Figura03.01.20: Wilhelm Heinrich Baade (1893-1960).

Walter Baade [Wilhelm Heinrich Baade (1893-1960)],


contemporâneo de Edwin Hubble no observatório de Mount Wilson,
estudando a galáxia Andrômeda, notou que podia distinguir
claramente as estrelas azuis nos braços espirais da galáxia, e propôs
o termo População I para estas estrelas dos braços, e População II
para as estrelas vermelhas visíveis no núcleo da galáxia.
Atualmente, utilizamos essa nomenclatura mesmo para estrelas da
nossa Galáxia e sabemos que as estrelas de População I são
estrelas jovens, como o Sol, com menos de 7 bilhões de anos, ricas
em metais, isto é, com conteúdo metálico (qualquer elemento
acima do He) de cerca de 2%, enquanto que a População II
corresponde a estrelas velhas, com cerca de 10 bilhões de anos, e
pobres em metais, isto é, com menos de 1% em metais.

Área 3, Aula 1, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
Tabela 03.01.02: Sumário das propriedades das populações estelares

Propriedade População I População II


Localização disco e braços espirais bojo e halo
Movimento confinado ao plano se afastando do plano
órbitas quase
órbitas excêntricas
circulares
Idade < 7 ×109 anos > 7 ×109 anos
Abundância de elementos
1-2% 0,1 - 0,01%
pesados
População I Cor azul vermelha
São Estrelas jovens como o Exemplos estrelas O,B estrelas RR Lyrae
Sol. aglomerados
aglomerados abertos
globulares
População II
regiões HII nebulosas planetárias
São estrelas velhas.

O centro da Galáxia
O centro da Galáxia fica na direção da constelação de
Sagitário, numa região com alta concentração de material
interestelar que impede sua visualização a olho nu ou usando
detectores ópticos.

Centro da Galáxia

Fica na direção da
constelação de
Sagitário.
O movimento das
estrelas e do gás no
núcleo indica a
existência de um buraco
negro no núcleo.

Figura 03.01.21: Imagens do centro da Via Láctea no visível, esquerda, e no


infravermelho (falsa cor), direita. A imagem no infravermelho, obtido pelo projeto
2Mass (2 Micron All Sky Survey e MSX (Midcourse Space Experiment) , mostra a
poeira em vermelho.

A melhor maneira de estudar o bojo central é usando


comprimentos de onda mais longos, como infravermelho e rádio,
que atravessam mais livremente a poeira e o gás do disco.
Observações em rádio indicam que no centro da Galáxia
existe um um anel molecular de 3 kpc de diâmetro, envolvendo
uma fonte brilhante de rádio, Sagitário A, que marca o centro.
O movimento do gás e das estrelas no núcleo indica que ali
existe um objeto compacto, provavelmente um buraco negro com
massa de 4,3 milhões de massas solares.

Área 3, Aula 1, p.15


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.01.22: À esquerda, imagem do centro da Galáxia obtida no infravermelho
com um telescópio de 8,2 m do European Southern Observatory por Rainer Schödel
et al. (2002, Nature, 419, 694). As setas indicam o centro da Via Láctea, onde uma
estrela, chamada S0-2, com 17 vezes a massa do Sol e período orbital de 15,2 anos,
passou a 17 horas-luz (3 vezes o raio da órbita de Plutão) do buraco negro central,
que tem cerca de 2 milhões de massas solares. A velocidade da estrela era cerca de
5 000 km/s. À direita, simulação da série de observações de estrelas dentro de 1
parsec do centro galático, da página do Max-Planck-Institut für extraterrestrische
Physik, combinando as medidas de Reinhard Genzel e Andreas Eckart, do Max
Planck, com dados do 3.6m NTT e 8.2m do VLT no ESO, e Andrea Ghez da UCLA, com
dados do 10m Keck. A órbita fechada na figura é da estrela SO-2, orbitando
Sagittarius A*.

Observações desde 2001 em raio-X confirmam que o núcleo


da Galáxia é um lugar violento, com flares diários, onde além do
buraco negro central supermassivo, existe grande quantidade de
gás ionizado, e centenas de anãs brancas, estrelas de nêutrons e
buracos negros, como visto na figura 03.01.23.

Figura 03.01.23: Ilustração do centro da Galáxia com seus flares , em


branco, gases ionizados, suas anãs brancas e seus demais constituintes.

Resumo
Via Láctea: faixa nebulosa que atravessa o hemisfério
celeste de um horizonte a outro. Chamamos a essa faixa Via
Láctea, devido à sua aparência, que lembrava aos povos antigos
um caminho esbranquiçado como leite. Sua parte mais brilhante
fica na direção da constelação de Sagitário.
• Extensão da Galáxia: aproximadamente 25 kpc.
• Posição do Sol: no disco galáctico a 8,3 kpc do
centro da Galáxia.
As distâncias do centro da Galáxia são determinadas
usando estrelas variáveis, como as Cefeidas e RRLyrae. Essas estrelas
apresentam variações periódicas no brilho, sendo que o período da
variação é correlacionado com a luminosidade. Isso permite que
Área 3, Aula 1, p.16 sejam indicadores de distância.
Müller, Saraiva & Kepler
A forma da Via Láctea foi determinada por observações
em comprimentos de ondas longas, rádio e infravermelho, pois
essas podem penetrar a poeira existente no plano da Galáxia.
De onde estamos a Galáxia tem a forma de faixa. O disco
da Galáxia não gira como um corpo rígido, mas tem uma rotação
diferencial que se assemelha a dos planetas. As estrelas mais
próximas do centro galáctico se movem mais rapidamente que as
mais afastadas.
O disco galáctico é composto por estrelas e matéria
interestelar. Essa é composta por gás e poeira. O gás interestelar é
constituído em sua maior parte por hidrogênio neutro.
Forma espiral da Galáxia: A distribuição do hidrogênio
neutro em nossa Galáxia, detectada pela emissão na linha de
21 cm (em rádio), indica que a nossa Galáxia é espiral; a existência
da estrutura espiral também é indicada pela presença de estrelas
jovens e meio interestelar abundante no plano da Galáxia. Devido
a observações mais recentes a Via Láctea teria dois braços
principais: o braço de Scutum-Centaurus e o braço de Perseus,
além de vários braços menores.
Movimento das estrelas
Movimento transverso: movimento aparente das estrelas no
céu. É perpendicular à linha de visada e chamado de movimento
próprio. Combinando os movimentos radial e transversal da estrela
podemos medir a verdadeira velocidade da mesma em relação
ao Sol.
Ano galáctico: tempo que o Sol leva para dar uma volta
completa em torno do centro galáctico tem duração de 233
milhões de anos.
Curva de rotação da galáxia
É um gráfico da velocidade orbital das estrelas em função
de suas distâncias ao centro galáctico. Essa curva mostra que a
massa é o dobro da massa contida dentro da órbita do Sol. Se
esperava que a partir desse ponto, 15 kpc de distância ao centro
galáctico, a curva de rotação diminuísse, mas observa-se que a
curva de rotação aumenta ligeiramente para distâncias maiores,
de onde conclui-se que a quantidade de massa da galáxia
continua a crescer. Tal constatação indica que há matéria escura
em nossa galáxia. Essa matéria escura é dominante. Equivale a
aproximadamente dois terços da massa total da Galáxia.
Populações estelares
• População I: estrelas jovens.
• População II: estrelas velhas.
O centro da galáxia fica na direção da constelação de
Sagitário.

Questões de fixação
Agora que vimos o assunto previsto para a aula de hoje
resolva as questões de fixação e compreensão do conteúdo a
seguir, utilizando o fórum, comente e compare suas respostas com
os demais colegas.
Bom trabalho!

1. O que é a Via Láctea, e por que tem esse nome?

Área 3, Aula 1, p.17


Müller, Saraiva & Kepler
2. Faça uma representação esquemática da nossa galáxia,
de frente e de perfil, colocando as dimensões e a localização do
Sol, halo, disco, bojo nuclear, e braços espirais.
3. Qual região da Galáxia é definida pelos aglomerados
globulares? Qual a forma e tamanho dessa região? Em que ponto
da Galáxia ela está centrada?
4. Que evidências existem para a existência de uma
estrutura espiral em nossa galáxia? Por que os astrônomos
acreditam que nos braços espirais esteja ocorrendo formação de
novas estrelas?
5. Que tipo de objetos são chamados mapeadores ópticos
da estrutura espiral? Como se mapeia a estrutura espiral em rádio?
6. Como as estrelas variáveis pulsantes são usadas para
medir as distâncias de estrelas? Uma estrela variável com período
não uniforme pode ser usada para esse fim? Explique.
7. Como as observações do hidrogênio neutro (HI) são
usadas para estudar a rotação da Galáxia e a distribuição do gás
dentro dela?
8. O que é a curva de rotação da Galáxia? (é uma curva
do que em função do quê?)
9. Que evidência observacional existe de que uma grande
fração da massa da Galáxia está em órbitas externas à órbita do
Sol?
10. Qual é a diferença de população I e população II em
termos de idade, composição química, localização na Galáxia, e
características orbitais?

11. Por que é difícil estudar o centro da Galáxia? Que


região do espectro é mais indicada para ser utilizada na realização
desse estudo? Para ajudar a responder esta questão, observe estes
mapas da Via Láctea em diferentes comprimentos de onda . Em
qual dos mapas o centro da nossa Galáxia aparece mais
brilhante?
12. Em um certo aglomerado de estrelas observa-se uma
Cefeida cujo período de variação é de 20 dias, e cuja magnitude
aparente média é m = 20. Usando a relação período-luminosidade
das cefeidas (M = −3,125 log P − 1,525, P em dias), encontre a
distância desse aglomerado. (Assuma que a distância do
aglomerado é a distância encontrada para a Cefeida.)
13. Usando a distância do Sol ao centro galáctico (8,5 kpc),
e a velocidade com que ele se move (220 km/s),
a)Qual é a duração do”ano galáctico''?
b)Qual a massa da Galáxia interna à órbita do Sol?
c)Supondo que o Galáxia tenha uma idade de 12 bilhões
de anos, quantas voltas o Sol já deu em torno do centro galáctico?
14. Um aglomerado globular está em órbita elíptica (e = 0,9)
em torno do centro galáctico, tal que a distância apogaláctica
(maior afastamento do centro) é 40 kpc.
a)Qual é a distância perigaláctica (mínimo afastamento do
centro)?
b)Quanto tempo este aglomerado vai levar para completar
sua órbita? (Considere que a massa da Galáxia interna à órbita do
aglomerado é 1011 MSol.)

Até a próxima aula!


Área 3, Aula 1, p.18
Müller, Saraiva & Kepler
Aula 2 - Meio Interestelar
Área 3, Aula 2.

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho.

Nebulosa de Órion fotografada


pelo Hubble. Crédito:
NASA, ESA, STScI.

Introdução
Prezado aluno, em nossa segunda aula da terceira
área, vamos estudar o meio interestelar.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula vamos estudar a formação e a evolução
estelar. Esperamos que ao final você esteja apto a:
• descrever resumidamente a composição do
meio interestelar e como ele se encontra
distribuído;

• descrever o que são regiões HII e o mecanismo


pelo qual elas brilham;

• discutir o efeito da poeira na luz das estrelas;

• descrever o que é a radiação de 21cm do


hidrogênio neutro e qual a sua importância no
estudo do meio interestelar.

O que existe no espaço entre


as estrelas?
O Meio Interestelar

Embora a maior parte da massa da Galáxia esteja


concentrada em estrelas, o meio interestelar não é
completamente vazio. Ele contém gás e poeira, na forma de
nuvens individuais, e também em um meio difuso. O meio
interestelar contém tipicamente um átomo de hidrogênio por
centímetro cúbico (para comparação, o ar que respiramos
tem 1019 átomos de gás por cm3) e, aproximadamente, 100
grãos de poeira por quilômetro cúbico. Embora exista apenas
1/1012 partículas de poeira para cada partícula de gás, a
poeira contribui com 1% da massa do meio interestelar.

Composição do meio
interestelar

É composto por gás e poeira


em baixíssimas densidades.

Figura 03.02.01: Imagem composta da Nebulosa da Roseta obtida por


©Ignacio de la Cueva Torregrosa. Os glóbulos de gás e poeira estão sendo
erodidos pela luz e vento de estrelas massivas próximas. O filtro vermelho está
centrado na linha do enxofre, o verde no hidrogênio e o azul no oxigênio. A
nebulosa tem cerca de 50 anos-luz de extensão e está a aproximadamente
4.500 anos-luz de distância.

O meio interestelar compreende todo o material entre


as estrelas. Aproximadamente 10% da massa da Galáxia está
na forma de gás interestelar, sendo que a poeira agrupa
menos de 1% da massa em gás. Raios cósmicos, que são
partículas altamente energéticas, estão misturados com o gás
Área 3, Aula 2, p.2 e a poeira.
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.02.02: No centro da foto de cima vemos a nebulosa escura da
Cabeça de Cavalo, e a nebulosa da Chama, perto da estrela Alnitaka, uma
das Três Marias, na constelação de Órion; a foto de baixo mostra uma parte
maior da nebulosidade existente na constelação de Órion, tendo a mesma
nebulosa escura Cabeça de Cavalo um pouco abaixo e à esquerda do
centro, e na extemidade direita uma das nebulosas de emissão que fazem
parte do complexo da grande Nebulosa de Órion, na espada da constelação
do Órion. Trata-se de uma região de formação estelar, onde as estrelas mais
massivas formam o Trapézio. A nebulosa de Órion está a 1.500 anos-luz de nós,
tem 25 anos-luz de diâmetro, uma densidade de 600 átomos/cm3 e
temperatura de 70K. A foto colorida é do ©Star Shadows Remote Observatory.

O meio interestelar está sendo continuamente


reciclado. Nuvens interestelares de hidrogênio atômico
colidem e crescem; algumas colapsam dando origem a
estrelas. Quando as estrelas morrem, devolvem ao meio, parte
do gás; este material pode então formar novas nuvens e
começar novamente o ciclo. Mas a quantidade de gás do
meio interestelar diminui continuamente com o tempo, pois
como estrelas de baixa massa se formam em número muito
maior do que as de alta massa (para cada estrela de massa
de 10 massas solares, centenas de estrelas de massas entre 0,5
e 1 massa solar são formadas), e as estrelas de baixa massa
perdem um pouco de sua massa em sua evolução, cada nova
geração de estrelas aprisiona o gás no meio interestelar.
Gás interestelar

É constituído Gás Interestelar


principalmente por
hidrogênio atômico,
molecular e ionizado. O gás interestelar é composto principalmente de
Sua densidade é hidrogênio, que pode ser encontrado na forma de hidrogênio
1 átomo /cm3.
atômico (HI), espalhado em toda a Galáxia; na forma ionizada
(HII), em nebulosas brilhantes chamadas nebulosas de emissão
(ou regiões HII), ou na forma molecular (H2), formando nuvens
moleculares de diferentes tamanhos.
Área 3, Aula 2, p.3
Müller, Saraiva & Kepler
Hidrogênio atômico: HI

O hidrogênio atômico (HI) emite uma linha espectral


no comprimento de onda de 21 cm, que é usada para
mapear a distribuição desse gás e que teve um papel chave
na determinação da estrutura espiral da Galáxia.

Figura 03.02.03: Mapa da distribuição de hidrogênio na nossa Galáxia. O


centro da Galáxia está indicado por um pequeno círculo azul.

A radiação de 21 cm do hidrogênio atômico(ou


neutro) foi predita teoricamente pelo dinamarquês H. C. van
de Hulst, quando propôs, em 1944, que o átomo de
hidrogênio emitiria uma radiação nesse comprimento de
onda como resultado da variação do spin do elétron.
Hidrogênio atômico
Como o elétron e o próton são cargas elétricas
É também chamado de girando, eles criam campos magnéticos locais que interagem,
hidrogênio neutro,
de forma que o estado de menor energia é com spins
representado pela sigla HI.
Emite uma linha espectral antiparalelos, e o de maior energia com spin paralelos. A
de 21 cm de comprimento diferença de energia destes dois níveis é de hν = 6 x 10-6 eV,
de onda, que é usada correspondendo a uma frequência de 1.420,4 MHz. Portanto,
para mapear a sua
a transição entre esses dois níveis de estrutura hiperfina dá
distribuição, e teve uma
função fundamental para origem a uma linha de comprimento de onda de λ = c/ν =
determinar a forma 21,049 cm, na faixa de rádio.
espectral da Galáxia.
De vez em quando (uma vez a cada 500 anos) um
átomo colide com outro, ganhando energia e ficando num
estado excitado de spins paralelos. Quando volta ao estado
fundamental (o que pode levar milhões de anos) emite a
radiação de 21 cm. Essa linha indica que a temperatura do
gás é de 10 a 20 K.
A linha foi detectada pela primeira vez por astrônomos
americanos, em 1951.

Figura 03.02.04: Diagrama de um átomo de hidrogênio no estado


fundamental mudando de um estado de maior energia (elétron e próton com
spin paralelos) para um estado de menor energia (elétron e próton com spin
antiparalelos). O fóton emitido tem energia igual à diferença de energia entre
Área 3, Aula 2, p.4 os dois níveis, correspondendo a um comprimento de onda de 21 cm.
Müller, Saraiva & Kepler
Apesar do tempo médio necessário para o
decaimento espontâneo do nível ao estado de mais baixa
energia ser da ordem de 107 anos, a alta abundância de
hidrogênio e o comprimento de onda longo da radiação que
permite que ela atravesse distâncias muito maiores no meio
interestelar do que a luz visível possibilitam que essa linha seja
observada em todas as direções na Galáxia.

Nebulosas de emissão: Regiões HII

As nebulosas de emissão são nuvens brilhantes de gás


hidrogênio ionizado, por isso são também chamadas de
Regiões HII. São nebulosas onde está acontecendo formação
Regiões HII estelar e que contém estrelas jovens massivas, do tipo O e B.
Essas estrelas, por serem muito quentes, emitem fótons
São nebulosas de emissão ultravioletas com energias acima de 13,6 eV, tão energética
compostas por gás que, quando os átomos de hidrogênio a absorvem, os elétrons
hidrogênio ionizado.
São associadas a zonas ganham energia suficiente para se libertarem do núcleo, e o
de formação estelar. gás fica ionizado e brilhante.
Essas regiões têm muitos íons de hidrogênio (prótons) e
elétrons livres. Quando um próton captura um elétron livre, há
emissão de radiação. As linhas do hidrogênio são emitidas
quando o elétron passa, subsequentemente, pelos vários
níveis de energia. Desta maneira, os fótons ultravioleta da
estrela são degradados em fótons no visível pela região HII,
um processo chamado fluorescência A radiação emitida
quando o elétron passa do nível n = 3 para o n = 2, em
6.563 Å, é dominante e causa a cor vermelha da região.

Nebulosa de Órion

Região HII visível a olho nu,


na constelação de Órion.
Está a uma distância de
1. 500 al.

Figura 03.02.05: Nebulosa de Órion fotografada pelo Hubble. A região


esbranquiçada que aparece no centro da imagem contém o aglomerado
do Trapézio, contendo estrelas quentes que ionizam o gás da
nebulosa.Crédito: NASA, ESA, STScI.

Moléculas interestelares

O hidrogênio molecular (H2) foi descoberto no início


Nuvens moleculares dos anos 1970, junto com monóxido de carbono CO. Como o
H2 não emite ondas de rádio, o CO (que emite em rádio) é
Contém moléculas de H2, CH, usado para mapeá-lo. Muitos outros tipos de moléculas têm
CO, e outras. Dão origem a
sido encontradas desde então, desde amônia NH3, até as
novas estrelas.
Geralmente encontram-se mais complexas como benzeno C6H6 e acetona (CH3)2CO.
imersas em regiões HII. Baseado principalmente nas observações das emissões
de ondas de rádio do CO, nota-se que as moléculas estão
concentradas em nuvens moleculares, com massas de
poucas vezes até um milhão de massas solares, e se estendem
de alguns até cerca de 600 anos-luz. As estrelas se formam nas
partes mais densas destas nuvens moleculares, que aparecem
Área 3, Aula 2, p.5
como regiões escuras no céu.
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.02.06: Foto da nuvem molecular Barnard 68 que está a 500 anos-luz
da Terra, na direção da constelação de Ofiúco, com cerca de meio ano-luz
de diâmetro e com uma temperatura de -263 oC e está colapsando. A foto da
esquerda foi obtida com o telescópio de 8,2 do European Southern
Observatory, no ótico. À direita está a foto em cor falsa obtida no telescópio
de 3,5m do European Southern Observatory, composta de três exposições no
infravermelho, em 1,25 μm, 1,65 μm e 2,16 μm.

Poeira Interestelar

Poeira interestelar A poeira é composta principalmente de grafite, silicatos


e gelo de água, são grãos sólidos com tamanhos de no
Formada por grãos
máximo um micrômetro (figura 03.02.07), muito menores do
constituídos de grafite,
silicatos e gelo de água. que a poeira aqui na Terra. Tanto podem formar nebulosas
Sua densidade é de escuras - quando escondem a luz das estrelas por detrás -
100 grãos/km3. quanto nebulosas brilhantes, quando refletem a luz de estrelas
A densidade da poeira é
das proximidades.
1 trilhão de vezes menor
do que a do gás.

Figura 03.02.07: Estrutura de um grão de poeira interestelar; partículas


alongadas com tamanho médio de 0,1 micrômetro (100 nanômetros).

As partículas de poeira, ao interceptarem a luz das


estrelas, absorvem parte dela, e espalham (desviam sem
absorver) o resto. Devido ao pequeno tamanho dos grãos, a
absorção e o espalhamento são mais eficientes para a luz de
menor comprimento de onda (luz azul) do que para a de
maior comprimento de onda (luz vermelha), conforme
representação na figura 03.02.08.

Figura 03.02.08: A luz que vem das estrelas encontra as partículas de poeira do
meio interestelar e parte da luz é absorvida pela poeira. A faixa de
comprimento de onda mais espalhada e mais absorvida é a azul.
Área 3, Aula 2, p.6
Müller, Saraiva & Kepler
De fato, os fótons azuis são desviados cerca de 10 vezes
mais eficientemente do que os fótons vermelhos. Quando um
fóton é desviado, sua direção muda aleatoriamente. Desta
maneira, o espalhamento reduz o número de fótons azuis em
relação ao número de fótons vermelhos do feixe de luz que
vem em nossa direção. O resultado disso é que a luz das
estrelas, além de ficar mais fraca, fica mais avermelhada.

Figura 03.02.09: Representação do efeito da poeira sobre a luz das estrelas.


Ondas luminosas de maior e menor comprimento de onda incidem sobre os
grãos de poeira. A luz de cor vermelha, de maior comprimento de onda,
atravessa a poeira; a luz azul, de menor comprimento de onda, é espalhada
pela poeira.

Este efeito é similar ao que ocorre na atmosfera da


Terra, onde as moléculas de oxigênio, de poluição e a poeira
desviam a luz azul do Sol, tornando-o mais vermelho ao pôr-do-
sol, conforme visto na figura 03.02.10.

Nebulosas escuras

Regiões densas de gás frio


misturado com poeira, têm Figura 03.02.10: Fotografia do pôr-do-sol com a coloração avermelhada
aparência de regiões com ocasionada pelo desvio da luz azul pelas moléculas de oxigênio, poeira e
deficiência de estrelas. poluição. Crédito: Kepler Oliveira.

Regiões densas e frias do meio interestelar bloqueiam


totalmente a luz das estrelas por detrás delas, tornando-se
visíveis pelo contraste do escuro com o claro, formando
nebulosas escuras. Muitas dessas nuvens estão próximas a
estrelas luminosas, e espalham tanto a luz dessas estrelas que se
tornam visíveis, sendo chamadas nebulosas de reflexão. As
Nebulosas de reflexão nebulosas de reflexão normalmente aparecem azuis, pois
espalham mais eficientemente a luz azul das estrelas que as
Nuvens densas de gás e iluminam do que a luz vermelha.
poeira que refletem a luz de
estrelas quentes das
proximidades.

Figura 03.02.11: NGC 1999, uma nebulosa de reflexão na constelação de Órion.


A nebulosa é iluminada pela estrela que aparece à esquerda do centro; a
Área 3, Aula 2, p.7 nebulosa escura é uma nuvem de gás frio misturado com poeira onde
Müller, Saraiva & Kepler provavelmente estão se formando novas estrelas. Crédito: Nasa/Hubble.
Raios Cósmicos

O físico austríaco Victor Franz Hess (1883-1964)


descobriu em 1911-1912 que partículas carregadas altamente
energéticas, principalmente prótons, chamadas de raios
cósmicos, atingiam a Terra vindas do espaço.
Os raios cósmicos são produzidos de alguma forma
pelos processos mais energéticos no Universo, com energias
trilhões de vezes maiores do que se pode obter em nossos
laboratórios, e mesmo muito maiores do que as estrelas
Raios cósmicos
podem gerar.
São partículas energéticas As partículas que constituem os ventos estelares, que
(maioria partículas alfa e
dão origem às auroras na Terra, têm energia muito menor do
prótons), provindas de
todas as direções do que os raios cósmicos. A origem dos raios cósmicos mais
espaço. energéticos ainda não é conhecida, mas explosões de
Grande parte tem origem supernovas e núcleos ativos de galáxias, com buracos negros
desconhecida, de fora do
centrais, são os mais prováveis. Hess, que fez medidas em
sistema solar. Muitos se
originam de explosões balões que alcançaram 5.000 metros de altura, recebeu o
solares. Ionizam a atmosfera prêmio Nobel de 1936 por sua descoberta. Ao atingirem a
da Terra, onde se atmosfera da Terra, estas partículas muitas vezes se
subdividem formando
desintegram em dezenas de outras partículas, causando os
chuveiros de partículas.
chuveiros de partículas conforme mostra a figura 03.02.12.

Figura 03.02.12: Diagrama mostrando como um raio cósmico gera um


chuveiro de partículas ao se chocar com a alta atmosfera da Terra.

Área 3, Aula 2, p.8


Müller , Saraiva & Kepler
Resumo
O meio entre as estrelas não é completamente vazio,
mas sim é preenchido por gás e poeira. O gás é constituído
principalmente de hidrogênio (atômico, molecular ou
ionizado) e sua densidade é, tipicamente, um átomo de
hidrogênio por centímetro cúbico.
A poeira vem na forma de grãos sólidos constituídos de
grafite, silicatos e gelo de água. Sua densidade é 100 grãos
por quilômetro cúbico. (1 trilhão de vezes menos densa do que
o gás).
O hidrogênio atômico (HI) existe espalhado na Galáxia,
na forma difusa ou concentrado em nuvens. Ele é melhor
estudado no comprimento de onda de rádio, pela linha de
21cm, emitida em uma transição hiperfina do átomo de
hidrogênio.
O hidrogênio ionizado (HII) é encontrado em nebulosas
brilhantes chamadas regiões HII, que existem junto a estrelas O
e B, as quais emitem fótons suficientemente energéticos (luz
ultravioleta) para ionizar o hidrogênio; quando um elétron é
capturado por um íon ele cascateia para os níveis de mais
baixa energia, transformando a luz ultravioleta em luz visível (o
processo da fluorescência). As regiões HII são “berçários
estelares”, por estarem associadas a regiões de formação
estelar.
O hidrogênio molecular (H2) encontra-se concentrado
em nuvens frias, chamadas nuvens moleculares, misturado
com moléculas (em muito menor quantidade) de CO e CH. O
CO emite em rádio, o que permite a detecção. A formação
estelar acontece no interior dessas nuvens moleculares, que
normalmente são encontradas imersas em regiões HII.
A poeira interestelar é encontrada concentrada em
grandes nuvens que aparecem como regiões com
deficiências de estrelas, chamadas nebulosas escuras.
Quando próximas a estrelas luminosas, podem refletir a luz
dessas estrelas, ficando azuladas; são então chamadas
nebulosas de reflexão.
A poeira é responsável pela extinção e
avermelhamento interestelar, pois absorve e espalha a luz das
estrelas, tornando-a mais fraca e avermelhada.
Nebulosas são concentrações de gás e poeira que
aparecem como regiões brilhantes ou escuras no céu;
nebulosas brilhantes que emitem luz são chamadas nebulosas
de emissão, e são compostas de gás ionizado que brilha por
fluorescência (são as regiões HII); nebulosas brilhantes que
refletem a luz são chamadas nebulosas de reflexão, e são
compostas por nuvens de poeira nas proximidades de estrelas
quentes e luminosas, cuja luz é refletida na poeira.
Raios cósmicos são partículas energéticas (a maioria
prótons e partículas alfa), provindas de todas as direções do
espaço, que viajam a velocidades próximas à da luz. Muitos se
originam em explosões solares, mas grande parte tem origem
desconhecida, de fora do sistema solar (chamadas raios
cósmicos galácticos). Ionizam a atmosfera da Terra, onde se
subdividem formando chuveiros de partículas.

Área 3, Aula 2, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Questões de fixação
Após a leitura e compreensão dos assuntos tratados
nessa aula responda as questões de fixação a seguir, discuta
suas respostas com seus colegas no fórum de discussões.
Qualquer dúvida contate o tutor.
Bom estudo!

1. O que constitui o meio interestelar?


2. Qual a origem da radiação de 21 cm do meio
interestelar? Qual a maior importância dessa radiação?
3. Qual o efeito da poeira interestelar sobre a luz das
estrelas? Por que acontece esse efeito?
4. O que são regiões HII?
5. As regiões HII também são chamadas de nebulosas
de emissão. Qual o mecanismo pelo qual elas brilham? Por
que elas são avermelhadas?
Até a próxima aula!

Área 3, Aula 2, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 3 - Galáxias Área 3, Aula 3

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho

Foto da galáxia de Andrômeda, M31.

Introdução
Prezado aluno, em nossa terceira aula, da terceira
área, vamos estudar as galáxias.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos da formação e da evolução
estelar. Esperamos que ao final você esteja apto a:
• discutir a descoberta da existência de
outras galáxias;
• identificar os três tipos básicos de galáxias,
de acordo com sua morfologia,
descrevendo resumidamente as
propriedades de cada um;
• relacionar estrutura espiral com ondas de
densidade;
• explicar como se calcula a massa de
galáxias, e por que os astrônomos pensam
que as galáxias têm matéria escura.

O que são galáxias?


A Descoberta das Galáxias
Por volta do século XVIII vários astrônomos já
haviam observado, entre as estrelas, a presença de corpos
extensos e difusos, aos quais denominaram "nebulosas".
Hoje sabemos que diferentes tipos de objetos estavam
agrupados sob esse termo, a maioria pertencendo à nossa
própria Galáxia: nuvens de gás iluminadas por estrelas
dentro delas, cascas de gás ejectadas por estrelas em
estágio final de evolução estelar, aglomerados de estrelas.
Mas algumas nebulosas - as nebulosas espirais - eram
galáxias individuais, como a nossa Via Láctea.

Figura 03.03.01: Foto de galáxias.

O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804),


influenciado pelo astrônomo Thomas Wright (1711-1786), foi
o primeiro a propor, por volta de 1755, que algumas
nebulosas poderiam ser sistemas estelares totalmente
comparáveis à nossa Galáxia. Até 1908, cerca de 15.000
nebulosas haviam sido catalogadas e descritas. Algumas
haviam sido corretamente identificadas como
aglomerados estelares, e outras como nebulosas gasosas.
A maioria, porém, permanecia com natureza inexplicada.
O problema maior era que a distância a elas não era
conhecida, portanto não era possível saber se elas
pertenciam à nossa Galáxia ou não.
Somente em 1923 Edwin Powell Hubble
proporcionou a evidência definitiva para considerar as
"nebulosas espirais" como galáxias independentes, ao
identificar uma variável Cefeida na "nebulosa" de
Área 3, Aula 3, p.2 Andrômeda (M31).
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.03.02: Edwin Powell Hubble (1889-1953).

Descoberta das
galáxias

Em 1923, Hubble
encontra cefeidas em
Andrômeda,
determina as suas
distâncias através da
relação período-
luminosidade e
comprova que
Andrômeda está fora
dos limites da Via
Láctea.
Figura 03.03.03: Andrômeda, M31.

A partir da relação conhecida entre período e


luminosidade das Cefeidas da nossa Galáxia, e do brilho
aparente das Cefeidas de Andrômeda, Hubble pode
calcular a distância entre esta e a Via Láctea, obtendo um
valor de 2,2 milhões de anos-luz. Isso situava Andrômeda
bem além dos limites da nossa Galáxia, que tem 100 mil
anos-luz de diâmetro. Ficou assim provado que Andrômeda
era um sistema estelar independente.

Classificação Morfológica de Galáxias

As galáxias diferem bastante entre si, mas a grande


maioria têm formas mais ou menos regulares quando
observadas em projeção contra o céu, e se enquadram em
duas classes gerais: espirais e elípticas. Algumas galáxias
não têm forma definida, e são chamadas irregulares.
Atualmente se sabe que as galáxias nascem nas regiões de
maior condensação da matéria escura. A distribuição
dessas condensações é aleatória. Se há assimetria na
distribuição das condensações em uma região do espaço,
a força de maré produzida pela assimetria gera momentum
angular na nuvem, e uma galáxia espiral se forma. Se a
distribuição local é simétrica, não haverá momentum
angular líquido, e uma galáxia elíptica se forma.
Um dos primeiros e mais simples esquemas de
classificação de galáxias, que é usado até hoje, aparece
no livro de 1936 de Edwin Hubble. O esquema de Hubble
consiste de três sequências principais de classificação:
elípticas, espirais e espirais barradas. Nesse esquema, as
galáxias irregulares formam uma quarta classe de objetos.
Área 3, Aula 3, p.3
Müller, Saraiva & Kepler
Classificação
morfológica

Elípticas, espirais e
irregulares. Figura 03.03.04: Esquema de Hubble para a classificação de galáxias. Elípticas
E, espirais S e espirais barradas SB.

Espirais (S)
As galáxias espirais, quando vistas de frente,
apresentam uma clara estrutura espiral. Andrômeda (M31) e a
nossa própria Galáxia são espirais típicas. Elas possuem um
núcleo, um disco, um halo, e braços espirais. As galáxias
espirais apresentam diferenças entre si principalmente quanto
ao tamanho do núcleo e ao grau de desenvolvimento dos
braços espirais. Assim, elas são subdivididas nas categorias Sa,
Sb e Sc, de acordo com o grau de desenvolvimento e
enrolamento dos braços espirais e com o tamanho do núcleo
comparado com o do disco.
Tabela 03.03.01: Classificação das estrelas espirais e suas características.

Sa núcleo maior, braços pequenos e bem enrolados

Sb núcleo e braços intermediários

Sc núcleo menor, braços grandes e mais abertos


Espirais

Todas as espirais têm


duas componentes
morfológicas: Por exemplo, uma galáxia Sa é uma espiral com núcleo
- disco composto de grande e braços espirais pequenos, bem enrolados, de difícil
estrelas, gás e poeira, resolução.
em que se encontra a
estrutura espiral;
- esferoide de estrelas,
com pouco gás e pouca
poeira: núcleo, bojo e
halo.
As espirais são
classificadas de acordo
com o tamanho do bojo
e com o grau de
enrolamento dos braços.

Figura 03.03.05: Fotos de galáxias obtidas por Jim Wray, no McDonald


Observatory.

Existem algumas galáxias que têm núcleo, disco e halo,


mas não têm traços de estrutura espiral. Hubble classificou
essas galáxias como S0, e elas são às vezes chamadas
lenticulares. As galáxias espirais e lenticulares juntas formam o
conjunto das galáxias discoidais, como se pode ver na figura
Área 3, Aula 3, p.4 03.03.06.
Müller, Saraiva & Kepler
São classes de espirais

Sa: núcleo maior, braços


pequenos e bem
enrolados.
Sb: núcleo e braços
intermediários. Figura 03.03.06: Fotografias de galáxias à esquerda SO e à direita SBO.
Sc: núcleo menor, braços
grandes e mais abertos. Aproximadamente metade de todas as galáxias
discoidais apresentam uma estrutura em forma de barra
atravessando o núcleo. Elas são chamadas barradas e, na
classificação de Hubble elas são identificadas pelas iniciais SB.
As galáxias barradas também se subdividem nas categoria
Espirais Barradas (SB) SB0, SBa, SBb, e SBc. Nas espirais barradas, os braços
normalmente partem das extremidades da barra.
Os braços espirais partem
de uma barra formada de
estrelas.

Figura 03.03.07: Fotografias de galáxias barradas. A primeira, à esquerda, Sba,


a segunda SBb e, a terceira, SBc.

Normalmente se observa, nos braços das galáxias


espirais, o material interestelar. Ali também estão presentes as
nebulosas gasosas, poeira, e estrelas jovens, incluindo as
super-gigantes luminosas. Os aglomerados estelares abertos
podem ser vistos nos braços das espirais mais próximas e os
aglomerados globulares no halo. A população estelar típica
das galáxias espirais está formada por estrelas jovens e velhas.
As galáxias espirais têm diâmetros que variam de 20 mil
anos-luz até mais de 100 mil anos-luz. Estima-se que suas
massas variam de 10 bilhões a 10 trilhões de vezes a massa do
Sol. Nossa Galáxia e M31 são ambas espirais grandes e
massivas.
Elípticas Elípticas (E)
Apresentam apenas As galáxias elípticas apresentam forma esférica ou
componentes esferoidais.
Forma elíptica, não tem
elipsoidal, e não têm estrutura espiral. Têm pouco gás, pouca
disco, braços espirais, nem poeira e poucas estrelas jovens. Elas se parecem ao núcleo e
gás nem poeira. halo das galáxias espirais.
Classificação de acordo com
o achatamento aparente (n): Hubble subdividiu as elípticas em classes de E0 a E7, de
E0 é circular, acordo com o seu grau de achatamento (n), sendo n = 10 (a-
E7 é a mais achatada.
b)/a; a é o eixo maior da elipse e b é o eixo menor da elipse.
Imagine-se olhando um prato circular de frente: essa é
a aparência de uma galáxia E0. Agora vá inclinando o prato
de forma que ele pareça cada vez mais elíptico e menos
circular: esse achatamento gradativo representa a sequência
de E0 a E7. Note que Hubble baseou sua classificação na
aparência da galáxia, não na sua verdadeira forma. Por
Área 3, Aula 3, p.5
Müller, Saraiva & Kepler exemplo, uma galáxia E0 tanto pode ser uma elíptica
realmente esférica quanto pode ser uma elíptica mais
achatada vista de frente, já uma E7 tem que ser uma elíptica
achatada vista de perfil. Porém nenhuma elíptica jamais vai
aparecer tão achatada quanto uma espiral vista de perfil.
As galáxias elípticas variam muito de tamanho, desde
supergigantes até anãs. As maiores elípticas têm diâmetros
de milhões de anos-luz, ao passo que as menores têm
somente poucos milhares de anos-luz em diâmetro. As
elípticas gigantes, que têm massas de até 10 trilhões de
massas solares, são raras, mas as elípticas anãs são o tipo
mais comum de galáxias.

Figura 03.03.08: As galáxias elípticas são classificadas pela letra E seguida de


um número n entre 0 e 7, de acordo com o grau de achatamento En. Da
esquerda para a direita temos E0,E3 e E6.

Figura 03.03.09: A galáxia elíptica gigante M87.

Irregulares (I)
Hubble classificou como galáxias irregulares aquelas
que eram privadas de qualquer simetria circular ou
rotacional, apresentando uma estrutura caótica ou irregular.
Muitas irregulares parecem estar sofrendo atividade de
formação estelar relativamente intensa, sua aparência sendo
dominada por estrelas jovens brilhantes e nuvens de gás
Irregulares (I)
ionizado distribuídas irregularmente. Em contraste,
Apresentam estrutura observações na linha de 21 cm, que revela a distribuição do
irregular, caótica. gás hidrogênio, mostra a existência de um disco de gás
similar ao das galáxias espirais. As galáxias irregulares também
lembram as espirais no seu conteúdo estelar, que inclui
estrelas de população I e II (jovens e velhas).
Os dois exemplos mais conhecidos de galáxias
irregulares são a Grande e a Pequena Nuvens de Magalhães,
duas galáxias consideradas satélites da Via Láctea, visíveis a
olho nu no Hemisfério Sul. Na Grande Nuvem está presente o
complexo 30 Doradus, um dos maiores e mais luminosos
agrupamentos de gás e estrelas supergigantes conhecido em
qualquer galáxia. A Pequena Nuvem é bastante alongada e
menos massiva do que a Grande Nuvem. Aparentemente é o
resultado de uma colisão com a Grande Nuvem acontecida
há uns 200 milhões de anos.

Área 3, Aula 3, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.03.10: Foto das galáxias irregulares. Grande Nuvem de
Magalhães (a esquerda) e Pequena Nuvem de Magalhães (à direita). A
Grande Nuvem está a a 176 mil anos-luz de distância da Terra e Pequena
Nuvem a 210 mil anos-luz. São consideradasgaláxias satélites da Via
Láctea. Crédito da foto: Wei-Hao Wang.

Tabela 03.03.02: Principais características dos diferentes tipos de galáxias.

Propriedade Espirais Elípticas Irregulares

Massa ( M ) 109 a 1012 105 a 1013 108 a 1011

Diâmetro (103 pc) 5 - 30 1 - 1000 1 - 10

Luminosidade ( L ) 108 a 1011 106 a 1012 107 a 2 ×109

População estelar Velha e jovem Velha Velha e jovem

Tipo espectral AaK GaK AaF

Gás Bastante Muito pouco Bastante

Poeira Bastante Muito pouca Varia

Cor Azulada no disco Amarelada Azulada

Amarelada no
bojo

Estrelas mais velhas 1010 anos 1010 anos 1010 anos

Estrelas mais jovens Recentes 1010 anos Recentes

As galáxias elípticas foram formadas de nuvens com


baixo momentum angular, enquanto as espirais de nuvens
com alto momentum angular. Como a rotação inibe a
formação estelar pois dificulta a condensação da nuvem,
as estrelas se formam mais lentamente nas galáxias espirais,
permitindo que o gás perdure e a formação estelar se
estenda até o presente.
Você também pode participar da classificação de
galáxias no Zoológico de Galáxias.

Estrutura Espiral

A causa da estrutura espiral das galáxias ainda não


está bem definida. A ideia inicial a respeito disso era de
que os braços espirais seriam braços materiais, (isto é,
constituído sempre das mesmas estrelas e do mesmo
material interestelar), formados pela rotação diferencial.
Como o material mais distante do centro tem menor
velocidade de rotação do que o mais próximo do centro
(movimento kepleriano), uma pequena perturbação no
disco naturalmente se espalharia em forma espiral.
Área 3, Aula 3, p.7
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.03.11: Um braço material (que em um tempo inicial fosse reto,
em um tempo t1 teria assumido uma forma curva devido à rotação
diferencial do disco, e em um tempo t2 estaria mais enrolado.

Atualmente se sabe que esse modelo não pode


explicar a estrutura espiral de galáxias que têm os braços
bem marcados, que parecem persistir inalterados por
bilhões de anos, pois após algumas rotações galácticas os
braços deveriam estar tão enrolados que seriam destruídos.
Na Via Láctea, por exemplo, observações de estrelas
velhas indicam que nossa Galáxia deve ter no mínimo 12
bilhões de anos. Nesse tempo o material nas vizinhanças do
Sol já deve ter executado cerca de 20 rotações em torno
do centro galáctico, e após 20 rotações esperar-se-ia que
os braços espirais estivessem muito mais enrolados do que
as observações indicam.

Figura 03.03.12: Frank Shu (1943-).

Um passo importante no estudo da estrutura espiral


foi a teoria de ondas de densidade, desenvolvida por Chia
Chiao Lin (1916-) e Frank Hsia-San Shu (1943-) nos anos 1960
(1964, Astrophysical Journal, 140, 646).

Figura 03.03.13: Diagramas representando a estrutura espiral e suas


variações da densidade.
Estrutura espiral

É explicada pela teoria De acordo com essa teoria, a estrutura espiral se


de ondas de densidade
como uma variação de
deve a uma variação da densidade que se propaga no
densidade do disco, em disco, formando um padrão espiral. O padrão espiral gira
forma de onda espiral. como um corpo sólido, com uma velocidade angular
aproximadamente igual à velocidade angular das estrelas
no meio caminho entre o centro e a borda do disco. Dessa
forma, as estrelas e o gás com órbitas próximas ao centro
têm velocidade maior do que a do padrão espiral, e
passam pela onda; já o material das bordas do disco têm
velocidade menor do que a da onda, e é ultrapassado
por ela. O início da onda pode ser causado pela presença
de uma perturbação gravitacional externa, como a
Área 3, Aula 3, p.8 interação com outra galáxia, ou interna, como a presença
Müller, Saraiva & Kepler
de uma barra.
Essa teoria explica de maneira natural porque
estrelas jovens, nuvens moleculares e regiões HII são
encontradas nos braços espirais. Quando o gás passa pela
onda, ele é comprimido fortemente até que a gravitação
interna cause o colapso e a formação de estrelas. Durante
os 107 anos que leva para o material passar pelo braço
espiral, as estrelas mais quentes e massivas (O e B) já
terminaram sua evolução, e as regiões HII já
desapareceram.

Massas de Galáxias

Assim como a massa de uma estrela é a sua


característica física mais importante, também nas galáxias a
massa tem um papel crucial, não apenas em sua evolução
como sistemas individuais, mas na evolução do próprio
Universo. Por exemplo, da quantidade de massa das
galáxias depende a densidade de matéria visível do
Universo.
A melhor maneira de medir a massa é a partir das
velocidades das estrelas devido à atração gravitacional
entre elas. Em galáxias elípticas, as velocidades medidas
são velocidades médias, pois os movimentos das estrelas
nesses sistemas têm componentes de mesma magnitude
nas três direções, e todas seguem órbitas bastante elípticas.
Massas de galáxias elípticas

Figura 03.03.14: Diagrama representando estrelas num sistema estacionário.

As massas das galáxias elípticas podem ser


determinadas a partir do Teorema do Virial, segundo o qual
num sistema estacionário (cujas propriedades não variam
no tempo), a soma da energia potencial gravitacional das
partículas adicionada ao dobro de sua energia cinética é
nula, ou seja:
EG + 2 EC =
0
onde EG é a energia potencial gravitacional e EC é a energia
cinética.
Podemos considerar uma galáxia como um sistema
estacionário, cujas partículas são as estrelas (pois ela não
está nem se contraindo nem se expandindo).
Área 3, Aula 3, p.9
Müller, Saraiva & Kepler
A energia cinética das estrelas na galáxia pode ser
escrita como:

Mv 2
EC = ,
2
onde M é a massa total da galáxia e v é a velocidade
média das estrelas, medida pelo alargamento das linhas
espectrais 1.
A energia potencial gravitacional é
−GM2
EG = ,
2R
onde R é um raio médio da galáxia que pode ser estimado
Massa de galáxias a partir da distribuição de luz. Combinando as três
elípticas
equações acima, temos:
2v 2 R 2v 2 R
Melípticas = . Melípticas = .
G G
Esse mesmo método pode ser usado também para
calcular as massas de aglomerados de galáxias, assumindo
que eles são estacionários. Nesse caso, consideramos cada
galáxia como uma partícula do sistema. A energia cinética
pode ser calculada pelos deslocamentos das linhas
espectrais, e a energia potencial gravitacional pela
separação média das galáxias do aglomerado.

Massas de galáxias espirais

As galáxias espirais têm grande parte das estrelas


confinadas ao plano do disco, com órbitas quase
circulares, e velocidades que dependem da distância ao
centro (figura 03.03.15).

Figura 03.03.15: Diagrama representando o plano do disco onde estão


confinadas as galáxias espirais.

Figura 03.03.16: Curva de rotação para a galáxia espiral NGC3198.

Área 3, Aula 3, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Em galáxias espirais, nas quais o movimento circular
das estrelas no disco é dominante sobre o movimento
desordenado das estrelas do bojo, a massa pode ser
determinada através da curva de rotação, v(R), que é um
gráfico da velocidade de rotação em função da distância
galactocêntrica. As velocidades de rotação em cada
ponto são obtidas medindo o deslocamento Doppler das
linhas espectrais.
Assumindo que a maior parte da massa da galáxia
está no bojo interno, e que, portanto, o movimento
rotacional das estrelas no disco é determinado pela massa
do bojo, podemos determinar essa massa através da
igualdade da força gravitacional com a força centrípeta,
da mesma maneira como determinamos a massa da
nossa Galáxia.
G MG m mv 2 R v2
FG =F c → = → MG = .
R2 R G
Chamando M(R) a massa interna ao raio R, temos
que:
2
Massa das galáxias R  v(R)
espirais M(R)espirais =  .
G

2
Nas partes externas de muitas espirais, a
espirais
R  v(R) velocidade v(R) não depende mais de R, ou seja,
M(R) =
G permanece constante, de forma que quanto maior o raio
R, maior a massa M(R) interna a ele. Como as partes
externas das galáxias são muito fracas, a partir de um
certo valor de R a luminosidade não aumenta mais, mas
de acordo com a curva de rotação a massa continua
crescendo. Isso significa que uma grande parte da massa
das galáxias deve ser não luminosa. Isso é conhecido
como o problema da massa escura.

A Formação e a Evolução das Galáxias

Qual a causa de existirem diferentes tipos de


galáxia? Quando os primeiros estudos sobre galáxias
iniciaram, o fato de as galáxias elípticas terem estrelas em
geral mais velhas do que as galáxias espirais levou os
astrônomos a pensarem que as diferenças se deviam à
evolução, ou seja, as galáxias quando jovens seriam
espirais e mais tarde evoluiriam a elípticas.
Entretanto, se determinarmos as idades das estrelas
mais velhas em sistemas espirais e em sistemas elípticos,
encontramos que em todos os tipos, essas estrelas são
igualmente velhas, em torno de 10 bilhões de anos.
Portanto, todas as galáxias que vemos começaram a se
formar mais ou menos na mesma época na história do
universo, e, consequentemente, têm mais ou menos a
mesma idade. A diferença é que nas espirais e nas
irregulares sobrou gás suficiente para continuar o processo
de formação estelar até a época presente.

Área 3, Aula 3, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
Todas as galáxias
começaram a se formar mais
ou menos na mesma época Figura 03.03.17: Imagem de longa exposição do telescópio Espacial
do Universo. Hubble, mostrando que todos os tipos de galáxias já eram encontradas
no passado remoto, mas havia uma abundância maior de galáxias
pequenas e azuis do que se tem hoje.

Na segunda metade do século passado surgiram


as duas teorias principais sobre formação e evolução de
galáxias: o modelo monolítico propõe que as galáxias se
formaram e evoluíram isoladamente pelo colapso de
grandes nuvens de gás; o modelo hierárquico propõe que
as galáxias se formaram e evoluíram através de encontros
sucessivos de nuvens menores. Ambas as teorias assumem
que as nuvens de gás que deram origem às galáxias se
formaram pela condensação de matéria em certas
regiões do espaço devido às flutuações de densidade
existentes no Universo primordial.
No modelo monolítico, a forma das galáxias seria
determinada pela rapidez com que aconteceu a
formação estelar (taxa de formação estelar) na nuvem
em contração, e pela quantidade de rotação
(momentum angular) da nuvem. Em nuvens de baixa
rotação, a taxa de formação estelar era alta,
praticamente todo o gás foi consumido rapidamente e a
galáxia resultante é uma elíptica, de forma ovalada e
com pouco gás para dar origem a novas estrelas. Em
nuvens com alta rotação, a taxa de formação estelar é
baixa, parte do gás se deposita em um disco, como
Modelo monolítico consequência da rotação da nuvem. A galáxia resultante
então é uma espiral, com gás suficiente para manter
As galáxias se formaram e
formação estelar até a época atual.
evoluíram isoladamente
No modelo hierárquico, as pequenas nuvens de
pelo colapso de grandes
nuvens de gás. A forma da gás em contração dariam origem preferencialmente a
galáxia é determinada sistemas puramente discoidais, que evoluiriam a galáxias
principalmente pela taxa espirais, se sofressem poucas interações entre si, ou a
de formação estelar.
elípticas, no caso de os encontros e fusões serem muito
frequentes. Neste modelo, o fator determinante para a
evolução da galáxia é o meio em que ela se encontra.
Nos últimos 20 anos, o uso de telescópios
modernos, que permitem estudar galáxias a grandes
distâncias, têm fornecido vários vínculos observacionais
para o estudo da evolução das galáxias. Observando
galáxias remotas, os astrônomos constataram que no
passado havia um grande número de galáxias pequenas,
irregulares e com uma taxa muito alta de formação
estelar, que não existem no universo atual, sugerindo que
elas se fundiram posteriormente dando origem a galáxias
maiores.

Área 3, Aula 3, p.12


Müller, Saraiva & Kepler
Outra observação importante é a de que galáxias
espirais são raras em aglomerados densos de galáxias,
onde as galáxias elípticas predominam. Essas observações
em geral favorecem o modelo hierárquico, pois
evidenciam que as estruturas menores se formaram antes
das maiores, e que o meio tem influência sobre a evolução
das galáxias, pois interações e colisões podem alterar suas
morfologias. No entanto, existem contradições, como as
Modelo hierárquico
indicações de que todas as estrelas de elípticas em uma
dada distância (redshift) têm idades similares, o que seria
As galáxias se formaram e melhor explicado pelo colapso monolítico, e não
evoluíram através de por fusões sucessivos(as).
encontros sucessivos de
nuvens menores. Portanto, no momento não existe uma teoria que
As suas formas são definidas
dê conta de todos os aspectos observacionais para
pelo número de interações.
explicar como as galáxias se formaram e evoluíram até o
presente, muito menos uma teoria que possa prever sua
evolução futura. Provavelmente acontece tanto a
formação monolítica, em galáxias isoladas, quanto a
hierárquica, em aglomerados de galáxias.

Resumo
A existência de outras galáxias ficou desconhecida
até 1923, quando Hubble, usando o telescópio de 2,5 m
de Mt Wilson, mediu a distância de estrelas cefeidas na
nebulosa de Andrômeda comprovando que Andrômeda
está fora dos limites da Via Láctea.
Classificação morfológica de galáxias:
As espirais são todas as galáxias que têm duas
componentes morfológicas:
• disco composto de estrelas, gás e poeira,
onde encontra-se a estrutura espiral;
• esferoide de estrelas, com pouco gás e
pouca poeira: núcleo, bojo e halo.
As espirais são classificadas de acordo com o
tamanho do bojo e do grau de enrolamento dos braços
espirais.
Nas espirais ordinárias(S) os braços espirais partem
do núcleo e são classificadas em:
Sa, Sb e Sc.
Nas espirais barradas (SB) os braços espirais partem
de uma barra formada de estrelas e são classificadas em:
SBa, SBb e SBc.
As elípticas (E) só tem a componente esferoidal,
mostrando pouca estrutura interna. Apresentam forma
elíptica, não apresentam disco, braços espirais, nem gás
nem poeira. Classificam-se de acordo com o
achatamento aparente da elipse n (n = 10x(1-b/a)).
• E0 é circular: b/a=1;
• E7 é a mais achatada. (b/a=0,3).
As irregulares (I) possuem uma estrutura irregular,
caótica.

Área 3, Aula 3, p. 13
Müller, Saraiva & Kepler
As massas de galáxias espirais, M(R), são calculadas
observando o movimento orbital das estrelas e do gás no
disco.
As massas das galáxias elípticas são calculadas
observando-se as velocidades médias das estrelas no interior
das galáxias.
Formação de galáxias: as estrelas mais velhas das
galáxias espirais são tão velhas quanto as estrelas mais velhas
das galáxias elípticas, por isso conclui-se que todas as galáxias
começaram a se formar mais ou menos na mesma época que
o Universo, e se formaram a partir de grandes nuvens de gás
primordial, quando o Universo tinha cerca de um bilhão de
anos.
Há duas principais teorias sobre a formação e
evolução de galáxias:
- o modelo monolítico que propõe que as galáxias se
formaram e evoluíram isoladamente pelo colapso de grandes
nuvens de gás; galáxias elípticas se formaram a partir de
nuvens densas, com pouca rotação, e alta taxa de formação
estelar; galáxias espirais se formaram a partir de nuvens menos
densas, com maior rotação, e menor taxa de formação
estelar;
- o modelo hierárquico que propõe que as galáxias se
formaram e evoluíram através de encontros sucessivos de
nuvens menores. Seriam assim formados sistemas puramente
discoidais, que evoluiriam a galáxias espirais, se sofressem
poucas interações entre si, ou a elípticas, no caso de os
encontros e fusões serem muito frequentes. Neste modelo, o
fator determinante para a evolução da galáxia é o meio em
que ela se encontra.
Mesmo não havendo uma teoria satisfatória até o
momento, a maioria das observações favorece o cenário
hierárquico; porém, algumas favorecem o cenário monolítico.

Questões de fixação
Após a leitura e compreensão dos assuntos tratados
nessa aula responda as questões de fixação a seguir, discuta
suas respostas com seus colegas no fórum de discussões.
Qualquer dúvida contate o tutor.
Bom trabalho!

1. Qual a importância da descoberta de Cefeidas em


Andrômeda, por Edwin Hubble, na década de 1920, no
estabelecimento da natureza extragalática das "nebulosas
espirais"?
2. Quais os três principais tipos de galáxias que existem,
de acordo com sua morfologia?
3. Qual a diferença entre galáxias elípticas e espirais
quanto a:
a) forma?
b) quantidade de gás e poeira?
c) população estelar?

Área 3, Aula 3, p.14


Müller, Saraiva & Kepler
4. Estabeleça a diferença entre a componente
discoidal e a componente esferoidal em uma galáxia
espiral. Qual componente contém os braços espirais? Qual
componente contém o bojo? E o halo?
5. Quais são as principais diferenças entre uma
galáxia Sa e uma Sc? E entre uma Sa e uma SBa? E entre
uma E1 e uma E7?
6. Classifique as seguintes galáxias segundo o tipo de
Hubble:
a) uma galáxia que tem aparência caótica e
assimétrica.
b) uma galáxia com forma elíptica cujo eixo maior é
o dobro do eixo menor.
c) uma galáxia com braços espirais muito enrolados
e um bojo grande.
7. Qual é a evidência que indica a presença de
matéria não luminosa em galáxias e aglomerados de
galáxias?
8. Examine as imagens de galáxias em: amostra de
galáxias de Zsolt Frei e escolha entre elas:
a) duas elípticas entre E0 e E3.
b) duas elípticas entre E4 e E7.
c) duas espirais ordinárias vistas frontalmente.
d) duas espirais barradas vistas frontalmente.
e) duas espirais vistas com inclinação moderada.
f) duas espirais vistas de perfil.
g) duas discoidais, sem braços, vistas de perfil.
9. A Grande Nuvem de Magalhães tem um diâmetro
angular de 60º e está a uma distância de 54 mil parsecs;
Andrômeda tem um diâmetro angular de 3º e está a uma
distância de 700 mil parsecs. Qual delas é maior, realmente,
e quantas vezes?
10. A galáxia NGC772 é uma espiral Sb, parecida
com M31 (Andrômeda). Seu diâmetro angular é 7′, e o de
M31 é 3°.
a) Quantas vezes NGC772 está mais distante do que
M31, supondo que as duas têm o mesmo tamanho?
b) As magnitudes aparentes de M31 e NGC772 são
respectivamente 5 e 12, assumindo que ambas tenham a
mesma luminosidade quantas vezes NGC772 está mais
distante do que M31?
11. Suponha que a curva de rotação de uma
galáxia é achatada a partir de uma certa distância
galactocêntrica R, e suponha que a galáxia tem simetria
esférica perfeita. Devido à simetria esférica, resulta que
somente a parte da galáxia interior a r contribui para a
aceleração gravitacional de uma estrela ou nuvem de gás
a uma distância r do centro.
a) Se a massa da galáxia, expressa em massas
solares, interior a r, é M, e se a distância é expressa em
unidades astronômicas, e o tempo em anos, qual é o
período da estrela ou nuvem de gás em órbita circular a
uma distância r do centro?
Área 3, Aula 3, p.15
Müller, Saraiva & Kepler
b) Qual é a velocidade da estrela, ou nuvem de
gás, em UA/ano?
c) Para r > R, qual a dependência de M com r?
Até a próxima aula!

Área 3, Aula 3, p.16


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 4 - Aglomerados de Galáxias e Lei de Hubble Área 3, Aula 4.

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Saraiva

Distribuição espacial de 100 mil galáxias


próximas determidas pelo survey de galáxias
6DFGS, na Austrália. Cada galáxia é
representada por um ponto. Nossa Galáxia está
no centro da distribuição e a faixa onde não
foram observadas galáxias indica o disco de
nossa Galáxia. Crédito: Dr Chris Fluke, Centre for
Astrophysics and Supercomputing, Swinburne
University of Technology.

Introdução
Prezado aluno, em nossa quarta aula, da terceira
área vamos estudar os aglomerados de galáxias e a Lei de
Hubble.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula vamos estudar aglomerados de galáxias e
a ver o que estabelece a Lei de Hubble. Ao final esperamos
que você esteja apto a:
• saber que as galáxias se distribuem em aglomerados
e os aglomerados em superaglomerados;
• localizar a Via Láctea na estrutura em grande escala
do Universo;
• discutir o efeito de interações na evolução das
galáxias;
• escrever a Lei de Hubble e explicar como ela pode ser
usada para determinar distâncias a objetos remotos.

Como podemos saber a


distância das coisas mais
distantes do Universo?
Aglomerados de Galáxias

As galáxias não estão distribuídas uniformemente no


espaço, mas tendem a se concentrar em aglomerados, nos
quais todas encontram-se ligadas gravitacionalmente.
Existem aglomerados pobres, com poucas dezenas de
membros, e aglomerados ricos, que chegam a ter milhões de
Aglomerados membros. A nossa própria galáxia, a Via Láctea, faz parte
de um aglomerado pequeno chamado Grupo Local, que
Galáxias tendem a se
agrupar em aglomerados.
contém cerca de 50 galáxias. Já o aglomerado de Virgem é
Aglomerados tendem a se muito mais rico, contendo 2.500 galáxias.
juntar formando .
superaglomerados.

Figura 03.04.01: Fotografia de parte do aglomerado de Virgem, obtida por


David Malin com o UK Schmidt Telescope do ©Anglo-Australian Telescope. O
aglomerado contém mais de 2.500 galáxias e cobre mais de 5° no céu. As
duas grandes galáxias elípticas que aparecem na imagem são M84 (logo
acima do centro) e M86 (à direita do centro).

Área 3, Aula 4, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
Os aglomerados mais ricos tendem a apresentar forma
mais esférica e compacta, ao passo que os aglomerados
pobres são irregulares e esparsos. Em geral os aglomerados
contêm mais galáxias anãs de baixa luminosidade do que
galáxias massivas, mas aglomerados ricos podem ter até mais
de 300 galáxias luminosas e massas que ultrapassam 1015 Msol.

O Grupo Local

O aglomerado de galáxias ao qual a Via Láctea


pertence chama-se Grupo Local. É um aglomerado pequeno,
com cerca de 50 membros, que ocupa um volume de 3
milhões de anos-luz na sua dimensão maior. A Via Láctea e
Grupo Local
Andrômeda (M31) são de longe os dois membros mais
Constituído por cerca de 50 massivos, estando um em cada borda do aglomerado. A
galáxias, das quais temos a terceira galáxia mais luminosa do grupo é outra espiral, M33,
Via Láctea e Andrômeda,
que tem 20% da luminosidade da Via Láctea e 13% da
que são as duas maiores.
luminosidade de Andrômeda. Entre os demais membros
existem duas elípticas, M32, satélite de M31, e M110, e várias
irregulares e galáxias anãs.

Figura 04.04.02: Diagrama mostrando as galáxias que fazem parte do Grupo


Local. A Via Láctea e Andrômeda são os dois maiores membros. A escala da
imagem está indicada à esquerda (1 Mano-luz = 1 mega-ano-luz = 1 milhão de
O diâmetro maior do Grupo anos luz).
Local é de 3x106 al.

As Nuvens de Magalhães (Grande Nuvem de


Magalhães e Pequena Nuvem de Magalhães), galáxias
irregulares satélites da nossa Galáxia, também fazem parte
desse grupo. A Grande Nuvem de Magalhães, localizada a 150
mil anos-luz (46 kpc) da Via Láctea, era até 1994 considerada a
galáxia mais próxima2. Desde 2003 foram descobertas várias
galáxias anãs na região do Grupo Local, entre as quais uma
anã localizada a apenas 25 mil anos-luz de distância, na
direção do centro galáctico. Essa é atualmente a galáxia mais
próxima, e só não foi detectada antes devido a estar numa
região de grande extinção e ter brilho superficial muito baixo.
Área 3, Aula 4, p.3
Müller, Saraiva & Kepler
No total, o grupo local contém pelo menos 3 galáxias
espirais, 2 elípticas, 15 galáxias irregulares de diferentes
tamanhos, e 17 anãs elípticas. A maioria das galáxias se
encontra orbitando a Via Láctea ou Andrômeda, dando uma
aparência binária ao Grupo Local.

Outros aglomerados de galáxias

Outros aglomerados de galáxias variam de grupos


pequenos a aglomerados ricos. O aglomerado de Fornax,
relativamente próximo, apresenta um conjunto variado de
tipos de galáxias, embora tenha poucos membros.

Figura 03.04.03: Imagem do centro do aglomerado de galáxias do Fornax, a


15 Mpc de distância. No centro está a galáxia elíptica tipo E1 NGC 1399 .
Abaixo desta está a NGC 1404, também classificada como E1, e à esquerda
desta a irregular NGC 1427.

O aglomerado de Virgem, a uma distância de cerca


de 50 milhões de anos-luz de nós, cobre 20 milhões de anos-luz
no espaço e é um dos mais espetaculares do céu. Suas quatro
galáxias mais brilhantes são galáxias elípticas gigantes,
Aglomerado de Virgem embora a maior parte das galáxias membros visíveis sejam
espirais. O aglomerado de Virgem é tão massivo e tão
É o aglomerado rico mais próximo que influencia gravitacionalmente o Grupo Local,
próximo do Grupo Local,
fazendo com que nos movamos na sua direção. A galáxia
formado por mais de
2.000 membros e interage elíptica gigante M87, a maior do aglomerado, contém um
gravitacionalmente com buraco-negro massivo em seu centro, com massa de 1,3 x 109
as galáxias do Grupo massas solares.
Local.
O grande aglomerado de Coma cobre 20 milhões de
anos-luz no espaço (2 graus de diâmetro) e contém milhares
de membros.

Área 3, Aula 4, p.4


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.04.04: Foto de parte do aglomerado de Virgem, tendo a galáxia
elíptica M87, no centro da imagem. A galáxias está localizada a 50 milhões de
anos-luz da Terra. Crédito: APOD/NASA.

Figura 03.04.05: Parte central da galáxia elíptica gigante M87, fotografada


pelo Hubble Space Telescope. A galáxia está muito distante mesmo para o
telescópio espacial detectar estrelas individuais. As formas pontuais são
aglomerados estelares. O jato de elétrons relativísticos é acelerado pelo
buraco negro massivo central.

Figura 03.04.06: Aglomerado de Coma, quase todo objeto visto nesta foto é
uma galáxia do aglomerado.

Matéria escura em aglomerados

As massas dos aglomerados podem ser calculadas de


maneira análoga a como se calcula as massas de galáxias
elípticas, ou seja, medindo a velocidade média das galáxias
do aglomerado. Essas velocidades levam a valores de massa
que são de 10 a 100 vezes maiores do que os valores
esperados considerando apenas a luz total emitida pelas
galáxias individuais do aglomerado, ou seja, a matéria escura
deve ser dominante nos aglomerados.
Área 3, Aula 4, p.5
Müller, Saraiva & Kepler
A detecção pela emissão de raio-X dos gás quente
no meio entre as galáxias dos aglomerados de Coma e de
Virgem indica que parte da matéria originalmente chamada
de escura pode ser gás intragaláctico quente.

Uma maneira de mapear a matéria escura em


aglomerados de galáxias é através de seu efeito de lente
gravitacional. A massa do aglomerado deforma o espaço,
concentrando a luz de galáxias mais distantes, que
aparecem como imagens múltiplas e distorcidas sobre a
imagem do aglomerado.
Meio Intergaláctico

Contém gás quente que


emite raios-X.
Mesmo contando com as
massas do gás aglomerados
ainda são insuficientes para
manter as altas velocidades
das galáxias que os
constituem, indicando a
existência de matéria escura
também no meio
intergaláctico.

Figura 03.04.07: FiImagem de lentes gravitacionais no cúmulo Abell 2218,


fotografado pelo Telescópio Espacial Hubble.

Superaglomerados
Superaglomerado Local

Formado pelo Grupo Depois de descobrir que as galáxias faziam partes de


Local, pelo aglomerado
de Virgem e outros aglomerados de galáxias, os astrônomos se perguntaram se
aglomerados próximos. existiam estruturas ainda maiores no Universo. Em 1953, o
astrônomo francês Gérard de Vaucouleurs (1918-1995)
demonstrou que os aglomerados de galáxias também
formam superaglomerados.
O superaglomerado mais bem estudado é o
Superaglomerado Local, porque fazemos parte dele. Ele tem
um diâmetro de aproximadamente 100 milhões de anos-luz e
uma massa de aproximadamente 1015 massas solares,
contendo o Grupo Local de galáxias, e o aglomerado de
Virgem.

Estrutura em grande escala

Entre estes superaglomerados observam-se grandes


regiões sem galáxias, mas onde foram detectadas nuvens de
hidrogênio neutro. Os superaglomerados se distribuem em
enormes cadeias como se fossem filamentos de uma grande
estrutura. Um exemplo destes filamentos é a Grande Parede
(Great Wall), um concentração de galáxias que se estende
por cerca de 500 milhões de anos-luz de comprimento,
200 milhões de anos-luz de altura, mas somente 15 milhões de
anos-luz de espessura. Esta estrutura está a uma distância
média de 250 milhões de anos-luz da nossa Galáxia, e tem
uma massa da ordem de 2 x106 M . Entre estes filamentos
estão regiões, de diâmetros de 150 milhões de anos-luz, sem
galáxias. A estrutura lembra uma esponja.

Área 3, Aula 4, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.04.08: Distribuição de galáxias no espaço, conforme observações de
Margaret Geller e John Huchra. Cada ponto nesta figura representa uma das
9325 galáxias, na direção do polos sul e norte da Galáxia. Nossa galáxia está
no centro da figura, onde as duas partes se unem; as regiões não mapeadas
são obscurecidas pelo disco da Galáxia. A Grande Parede é a banda de
galáxias que se estende de lado a lado quase no meio da parte superior da
figura.

Figura 03.04.09: Distribuição espacial de 100 mil galáxias próximas determidado


pelo survey de galáxias 6DFGS, na Austrália. Cada galáxia é representada por
um ponto. Nossa Galáxia está no centro da distribuição e a faixa onde não
foram observadas galáxias indica o disco de nossa Galáxia. Crédito: Dr Chris
Fluke, Centre for Astrophysics and Supercomputing, Swinburne University of
Technology.

Colisões entre galáxias

Galáxias em aglomerados estão relativamente


próximas umas das outras, isto é, as separações entre elas não
são grandes comparadas com seus tamanhos (o
espaçamento entre as galáxias é da ordem de apenas cem
vezes o seu tamanho, enquanto a distância média entre as
estrelas é da ordem de 1 parsec = 22 milhões de diâmetros
solares). Isso significa que provavelmente essas galáxias estão
em frequentes interações umas com as outras.
Área 3, Aula 4, p.7
Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.04.10: Imagem do Telescópio Espacial Hubble da galáxia do girino
(tadpole).

Nos catálogos existentes de galáxias peculiares há


muitos exemplos de pares de galáxias com aparências
estranhas que parecem estar interagindo uma com a outra.
Podemos entender muitos desses casos em termos de efeitos
de maré gravitacional.
É de se esperar que uma interação de maré entre
duas galáxias puxe matéria de uma em direção à outra. Essas
"pontes" de matéria realmente se formam entre as galáxias
interagentes, mas também se formam caudas de matéria
que saem de cada galáxia na direção oposta à outra.
Colisões entre galáxias Devido à rotação das galáxias, as caudas e pontes podem
assumir formas esquisitas, especialmente se levarmos em
Uma vez que a separação
conta o fato de que os movimentos orbitais das galáxias
entre as galáxias não é
muito grande os encontros estarão em um plano que forma um ângulo qualquer com a
entre galáxias são comuns. nossa linha de visada.
As interações deformam as
galáxias, gerando
peculiaridades como
caudas de maré e anéis.

Figura 03.04.11: NGC 4038/9: um exemplo clássico de galáxias em colisão.


À direita um simulador de colisão.

Fusão de galáxias e canibalismo galáctico

Se as galáxias colidem com velocidade relativamente


baixa, elas podem evitar a disrupção por maré. Os cálculos
mostram que algumas partes das galáxias que colidem
podem ser ejectadas, enquanto as massas principais se
convertem em sistemas binários (ou múltiplos) com pequenas
órbitas ao redor uma da outra. O sistema binário
recentemente formado, encontra-se envolto em um
envelope de estrelas e possivelmente matéria interestelar, e
eventualmente pode se fundir formando uma única galáxia.
Esse processo é especialmente provável nas colisões entre os
membros mais massivos de um aglomerado de galáxias, que
tendem a apresentar velocidades relativamente mais baixas.
A fusão pode converter galáxias espirais em elípticas.
Área 3, Aula 4, p.8
Müller, Saraiva & Kepler
O termo fusão de galáxias é usado em referência à
interação entre galáxias de tamanhos semelhantes. Quando
uma galáxia muito grande interage com outra muito menor,
as forças de maré da galáxia maior podem ser tão fortes a
ponto de destruir a estrutura da galáxia menor cujos pedaços
serão então incorporados pela maior. Astrônomos chamam
este processo de canibalismo galáctico.
Observações recentes mostram que galáxias elípticas
gigantes, conhecidas como galáxias cD, têm propriedades
peculiares, tais como: halos muito extensos (até 3 milhões de
anos luz em diâmetro), núcleos múltiplos, e localização em
centros de aglomerados. Essas propriedades sugerem que
essas galáxias se formaram por canibalismo galáctico.
Fusões:
Muitas vezes, o encontro entre as galáxias não é forte o
São interações entre duas suficiente para resultar em fusão. Numa interacção mais fraca,
galáxias de mesmo porte. ambas as galáxias sobrevivem, mas o efeito de maré pode
Canibalismo fazer surgirem caudas de matéria, em um ou em ambos os
lados das duas galáxias. Muitas galáxias com aparências
Interações entre galáxias estranhas, que não se enquadram em nenhuma das
de portes muito distintos, categorias de Hubble, mostram evidências de interações
uma vez que a maior
acaba “engolindo” a recentes. Simulações por computador mostram que sua forma
menor. pode ser reproduzida por interação de maré, em colisões. Um
A fusão de duas espirais resultado recente de simulações em computador é a
pode gerar uma galáxia possibilidade de que colisões possam transformar galáxias
elíptica.
Galáxias elípticas gigantes, espirais em elípticas: a interação pode retirar gás, estrelas e
com núcleos duplos ou poeira das duas galáxias, transformando-as em uma elíptica.
múltiplos, são comumente
encontradas em centros
galácticos ricos. Distâncias de galáxias e de aglomerados de galáxias : a
Possivelmente elas
cresceram “engolindo”
Lei de Hubble.
outras galáxias menores, a
esse fenômeno chamamos
de canibalismo galáctico.

Superaglomerados

Aglomerados de
galáxias tendem a se
aglomerar em
superaglomerados, que
são as maiores estruturas
do Universo.
Em grande escala, o Figura 03.04.12: Vesto Melvin Slipher (1875-1969).
Universo tem a estrutura
de uma esponja feita de
filamentos, constituída Em 1912 Vesto Melvin Slipher (1875-1969) estudou 41
por grandes cadeias de
superaglomerados e galáxias e descobriu que a grande maioria apresentava
imensos vazios, com deslocamento espectral para o vermelho (redshift) como se
muito poucas galáxias. todas estivessem se afastando de nós. Slipher descobriu
que quanto mais fraca a luminosidade da galáxia e, portanto,
mais distante, maior era o deslocamento para o vermelho de
seu espectro.
Em 1923, Edwin Powell Hubble (1889-1953), usando o
então recém instalado telescópio de 2,5 m de diâmetro do
Monte Wilson, na Califórnia, conseguiu identificar as estrelas
individuais na galáxia de Andrômeda e, medindo sua
distância (mais de 2 milhões de anos-luz), demonstrou
conclusivamente que nossa galáxia, com 100 mil anos-luz de
extensão, não é a única no Universo.

Área 3, Aula 4, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.04.13: Diagrama representando espectros de quatro objetos a
diferentes distâncias, que aumentam de baixo para cima. As linhas espectrais
Desvios para vermelho são as mesmas em todos os espectros, mas aparecem tão mais deslocadas
para o vermelho quanto maior a distância.
A maioria das galáxias
apresentam desvios para
vermelho em seu espectro,
isso indica que elas estão se Durante vários anos, Hubble e seu colaborador, Milton
afastando de nós. Humason, mediram o espectro de várias galáxias e mediram
As velocidades de suas distâncias, confirmando que praticamente todas as
afastamento são galáxias apresentam um desvio espectral para o vermelho
diretamente proporcionais
às distâncias que as galáxias tanto maior quanto maior sua distância. Dando a
se encontram de nós. interpretação usual para o desvio espectral, ou seja,
admitindo que se deve a efeito Doppler, isso significa que as
galáxias estão se afastando de nós com velocidades tanto
maiores quanto maiores suas distâncias. Hubble e Humason
mostraram seus resultados em 1929, por um gráfico da
velocidade de recessão em função da distância, que é
conhecido como Lei de Hubble, e é descrito pela expressão
Lei de Hubble

É a relação linear entre as v = H0d,


velocidades de recessão e as
distâncias das galáxias até
nós:
v = Hod. onde v é a velocidade de recessão da galáxia (v = z . c; onde
A Lei de Hubble permite
determinar distâncias z = Δλ/λ é o redshift e c é a velocidade da luz) d é a distância
remotas. da galáxia até a Terra.

Figura 03.04.14: Velocidade de recessão das galáxias em função de sua


distância à Terra. A linha reta mostra que as velocidades são proporcionais à
distância. A declividade da reta dá o valor da constante de
proporcionalidade, chamada constante de Hubble (Ho).

O valor de Ho é representando em unidades de


velocidade (km/s) dividido pela unidade de distância (milhões
de anos-luz ou milhões de parsecs). Do gráfico (figura
03.04.10), obtemos um valor de Ho de (104 km/s)/(600 Mal)
= 16 km/s/Mal = 54 km/s/Mpc (54 quilômetros por segundo por
Área 3, Aula 4, p.10
Müller, Saraiva & Kepler
megaparsec).
Os astrônomos estão continuamente medindo o valor
de Ho de diferentes maneiras, e seu valor ainda é motivo de
discussão, mas atualmente o valor está convergindo para
Ho = 71 km/s/Mpc. Esse valor significa que a velocidade de
recessão das galáxias aumenta 71 km/s a cada megaparsec
de distância até a Terra.

Uma aplicação muito importante da Lei de Hubble é na


determinação de distâncias. Uma vez conhecida a constante
Ho, podemos usar a Lei de Hubble para estimar a distância de
um objeto remoto, a partir de seu redshift.
O procedimento é medir o redshift z = Δλ/λ, usar o
efeito Doppler para calcular a velocidade de recessão
(v = z.c), e daí dividir pelo valor de Ho para calcular a
distância.

Exemplo:
O espectro de uma galáxia mostra a linha K do cálcio,
 
cujo comprimento de onda de repouso é 3 934 A , em 3 990 A.
Calcular a distância da galáxia usando Ho = 71 km/s/Mpc.

Solução:
Z = (3990 – 3934)/ 3034 = 0,014
V= 0,014 x 3x 105 km/s = 4200 km/s
D = (4200 km/s)/ (71 km/s/Mpc )= 59 Mpc

A relação entre distância e velocidade constituiu


a primeira evidência para a expansão do Universo, que
estudaremos mais adiante.

Resumo
Galáxias tendem a se agrupar em aglomerados e estes,
por sua vez, tendem a se juntar formando superaglomerados.
A Via Láctea faz parte de um aglomerado pequeno
chamado Grupo Local, com cerca de 50 galáxias, entre as
quais Antrômeda e a própria Via Láctea são as duas maiores.
O diâmetro maior do Grupo Local é 3 milhões de anos-luz,
pouco mais do que a distância entre a Via Láctea e
Andrômeda.
O aglomerado rico mais próximo do Grupo Local é o
aglomerado de Virgem, que tem mais de 2.000 membros e
atrai gravitacionamente as galáxias do Grupo Local. O Grupo
Local, o aglomerado de Virgem e outros aglomerados
próximos constituem o Superaglomerado Local.
Meio intergaláctico contém grandes quantidades de
gás quente que emite raios-X. Mas mesmo contando a massa
desse gás, as massas observadas (pela radiação que emitem)
dos aglomerados ainda são insuficientes para manter as altas
velocidades das galáxias que deles fazem parte, indicando
que existe matéria escura também no meio entre as galáxias.
Encontros entre galáxias são comuns em aglomerados,
pois as separações entre as galáxias não são muito grandes
comparadas com seu tamanho (ao contrário das estrelas!). As
interações deformam as galáxias, gerando peculiaridades
como caudas de maré e anéis. Interações entre duas galáxias
Área 3, Aula 4, p.11 de mesmo porte são chamadas de fusões. Interações entre
Müller, Saraiva & Kepler galáxias de tamanhos muito diferentes são chamadas de
canibalismo, pois a maior acaba “engolindo” a menor.
Simulações mostram que a fusão de duas espirais
pode gerar uma galáxia elíptica.
Galáxias elípticas gigantes, muitas com núcleos duplos
ou mútiplos, são comumente encontradas em centros de
aglomerados ricos. É provável que elas tenham crescido
“engolindo” outras menores, um fenômeno chamado por
canibalismo galáctico.
Aglomerados de galáxias tendem a se aglomerar em
superaglomerados, que constituem as maiores estruturas do
universo. Em grande escala, o universo tem a estrutura de
uma esponja, feita de filamentos – formados por grandes
cadeias de superaglomerados -, e imensos vazios, com muito
poucas galáxias.
A maioria das galáxias apresenta um desvio para o
vermelho em seu espectro, que indica que elas estão se
afastando de nós. As velocidades de afastamento são
diretamente proporcionais às distâncias que as galáxias estão
de nós. Essa relação linear entre as velocidades de recessão e
as distâncias das galáxias é chamada Lei de Hubble, e é
expressa pela relação v = H0 d, onde H0 é a constante de
Hubble, v é a velocidade de recessão da galáxia e d, a sua
distância.
A Lei de Hubble permite determinar distâncias de
galáxias remotas.

Questões de fixação
Após a leitura e compreensão dos assuntos tratados
nessa aula responda as questões de fixação a seguir, discuta
suas respostas com seus colegas no fórum de discussões.
Qualquer dúvida contate o tutor.
Bom trabalho!

1.
a) O que é o grupo local?
b) Quantos membros há, aproximadamente?
c) Quais são os seus dois membros mais importantes?
2. O que é o Superaglomerado Local?
3. Como é a estrutura em grande escala do universo?
Pensando no Universo como um todo, como é a distribuição
de galáxias nele?
4. Por que encontros entre estrelas são raros e entre
galáxias não?
5. Como as interações influenciam a evolução das
galáxias?
6. O que é a “Lei de Hubble'' e como ela é usada para
determinar a distância de galáxias?
7. Um aglomerado de galáxias tem velocidade radial
de 60.000 km/s. A velocidade média das galáxias no
aglomerado (medida pela dispersão de velocidades) é
300 km/s, e o raio do aglomerado é 1 Mpc. Assumindo que
H = 100 km/s/Mpc, encontre:
a) a distância do aglomerado;
b) a massa do aglomerado.

Área 3, Aula 4, p.12 Até a próxima aula!


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 5 - Quasares e Galáxias Ativas Área 3, Aula 5.

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Imagem obtida pelo Telescópio Espacial Hubble (HST) do gás e do


disco de poeira no núcleo galáctico ativo de NGC 4261. Crédito:
HST/NASA/ESA.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Ngc4261.jpg

Introdução
Prezado aluno, em nossa quinta aula, da terceira
área, vamos tratar dos quasares e das galáxias ativas.
Bom estudo!
Objetivos
Nesta aula trataremos dos quasares e das galáxias
ativas. Esperamos que ao final você esteja apto a:
• estabelecer a diferença entre galáxias ativas e
não ativas;
• definir quasar, dizendo quais são as suas
propriedades básicas;
• explicar o mecanismo atualmente aceito como
responsável pela fonte de energia dos quasares
e outras galáxias ativas.

O que são galáxias ativas?


Todas as galáxias tendem a apresentar uma grande
concentração de estrelas em sua região central , que fica
bem mais brilhante do que o restante da galáxia. A maioria
dessa radiação é emitida nas proximidades da região visível
do espectro, pois é nessa região que as estrelas emitem mais.
Algumas galáxias, no entanto, apresentam o núcleo
muito mais brilhante do que o usual, e não apenas nas
Galáxias ativas proximidades do óptico, como no caso das galáxias normais,
mas também em outras regiões do espectro, como raios-x,
São galáxias cujos núcleos
emitem quantidades de ultravioleta e radio. Além da radiação emitida pelos núcleos
energia muito maiores do dessas galáxias ser anormalmente intensa, ela apresenta
que as galáxias normais. flutuações rápidas em intensidade. Essa radiação não pode
Apresentam espectro não ser explicada como sendo originada por uma grande
térmico e variações muito
rápidas em seu brilho, o que concentração de estrelas, ou seja, a fonte dessa radiação é
indica que a fonte de não estelar, ou não térmica. (Lembre que as estrelas emitem
energia está concentrada radiação térmica, na qual a distribuição de intensidade em
numa região muito função do comprimento de onda depende apenas da
pequena.
temperatura, ou seja, segue a Lei de Planck.)
Essas galáxias, cujos centros emitem quantidades
excepcionais de energia, com espectro não térmico, são
chamadas “ativas”, para diferenciá-las das “normais”, e os
seus centros anormalmente brilhantes são chamados “núcleos
ativos de galáxias” (AGN, na sigla em inglês).
Cerca de 10% das galáxias conhecidas são ativas, e
elas são classificadas em galáxias Seyfert, radiogaláxias,
objetos BL Lac e quasares.

Galáxias Seyfert

Figura 03.05.01: Foto da galáxia Seyfert Circinus, com dois anéis, um de


diâmetro de 1300 anos-luz e outro de 260 anos-luz, obtida com o Telescópio
Espacial Hubble.
Área 3, Aula 5, p.2
Müller, Saraiva & Kepler
As galáxias Seyfert, descobertas por Carl Keenan
Seyfert, em 1943, são galáxias espirais com núcleos pontuais
muito luminosos, em torno de 1036 a 1038 watts, contribuindo
com aproximadamente metade da luminosidade total da
galáxia no óptico. O espectro nuclear apresenta linhas de
emissão alargadas, indicando movimentos muito rápidos dos
gases internos, e um contínuo não-térmico muito intenso no
ultravioleta. Geralmente, a emissão dessas galáxias sofre
variabilidade em períodos relativamente curtos, o que leva a
concluir que a fonte emissora deve ser compacta. Estima-se
que aproximadamente 1% de todas as galáxias espirais são
Galáxias Seyfert Seyfert.
Galáxias espirais com
núcleo ativo e muito Radiogaláxias
brilhante.
A energia emitida pelo
núcleo é muitas vezes maior
que a energia da galáxia
hospedeira. Apresentam
espectro não térmico e
com linhas de emissão
alargadas.

Figura 03.05.02: Superposição da imagem ótica (em azul) com a imagem em


rádio (em vermelho) da radiogaláxia 3C219, que está a 500 Mpc. Enquanto a
galáxia tem 100 mil anos-luz de diâmetro, os jatos cobrem 1 milhão de anos-
luz. À direita, o jato em rádio em torno da galáxia espiral 0313-192
(NASA/NRAO).
Radiogaláxias são galáxias que têm uma emissão em
rádio muito intensa, em torno de 1033 a 1038 watts, lembrando
Radiogaláxias que a luminosidade do Sol é de 3,83 × 1026 watts. Observadas
no óptico, geralmente têm a aparência de uma galáxia
A maior parte da energia elíptica grande, mas, observadas em rádio, apresentam uma
que elas emitem é na
estrutura dupla, com dois lóbulos emissores em rádio,
região do rádio,
geralmente concentrada localizados um em cada lado da galáxia elíptica, e a
na forma de jatos e distâncias que chegam a 6 Mpc de seu centro. Outra
lóbulos. No óptico característica das radiogaláxias é a presença de um jato de
geralmente apresentam
matéria saindo da fonte central, localizada no núcleo da
aparência de galáxias
elípticas. galáxia. Uma das radiogaláxias mais brilhantes é Centauro A,
localizada na constelação do Centauro, no Hemisfério Sul
celeste.

Figura 03.05.03: Imagem da galáxia peculiar Centauro A, obtida no Cerro


Tololo Interamerican Observatory, mostrando um grande anel de massa em
Área 3, Aula 5, p.3 torno da galáxia.
Müller, Saraiva & Kepler
Objetos BL Lacertae (BL Lac)

Os objetos BL Lacertae, também chamados blazares,


constituem uma outra classe de objetos exóticos, que
apresentam um núcleo muito brilhante e compacto. Têm
como principais características a extraordinária variabilidade
em curtos períodos de tempo, luz polarizada, e um espectro
não térmico sem linhas de emissão ou absorção. O primeiro
objeto desse tipo, e que deu nome à classe, foi BL Lacertae,
observado em 1929, na constelação do Lagarto. No princípio,
foi confundido com uma estrela, pois sua variabilidade muito
Objetos BL Lac
rápida indicava que tinha que ser um objeto muito compacto.
Apresentam núcleo muito Muitos desses objetos são também fontes de rádio, e
brilhante e compacto. atualmente acredita-se que eles sejam radiogaláxias distantes
Têm extraordinária orientadas de maneira tal que o jato fica apontado na
variabilidade em pequenos
períodos de tempo.
direção da Terra.
Emitem luz polarizada e
espectro não térmico, sem
linhas de emissão ou de
Quasares
absorção.
Acredita-se que sejam
radiogaláxias distantes Os quasares, cujo nome vem de "Quasi Stellar Radio
cuja orientação é tal que o Sources", foram descobertos em 1961, como fortes fontes de
jato fica apontado para a rádio, com aparência ótica aproximadamente estelar,
Terra.
Muitos são fontes de rádio.
azuladas. São objetos extremamente compactos e luminosos,
emitindo mais do que centenas de galáxias juntas, isto é, até
um trilhão de vezes mais do que o Sol. São fortes fontes de
rádio, variáveis, e seus espectros apresentam linhas largas com
enormes redshifts, correspondendo a velocidades de recessão
muito altas, de até alguns décimos da velocidade da luz, o
que indica que são muito distantes.
O primeiro quasar a ter seu espectro identificado foi
3C 273, pelo astrônomo holandês Maarten Schmidt em
Quasares 1963. 3C 273 tem z ≈ 0,16, ou v ≈ 0,16c ≈ 48 000 km/s, o que
indica que sua distância (de acordo com a lei de Hubble,
São os objetos mais para H0 = 71 km/s/Mpc) é aproximadamente 680 Mpc, ou 2,2
luminosos do Universo.
Com aparência estelar,
bilhões de anos-luz.
emitem forte em rádio e
apresentam espectro
com grandes redshift,
indicando que são muito
distantes.

Figura 03.05.04: Imagem no ótico do quasar 3C 279, obtida com o Canada-


France-Hawaii Telescope de 3,6 m de diâmetro. O quasar tem magnitude
aparente V=17,75 e magnitude absoluta estimada de MV=-24,6 (uma estrela
O5V tem MV=-5). O nome vem do fato de ser o objeto número 279 do terceiro
catálogo de rádio fontes de Cambridge. Esse módulo de distância indica que
ele está a 2,951 Gpc da Terra (aproximadamente 3 bilhões de parsecs).

Figura 03.05.05: Modelo de um quasar, com um buraco negro no centro, um


Área 3, Aula 5, p.4
disco de acreção em volta deste, e jatos polares.
Müller & Saraiva& Kepler
Figura 03.05.06: O espectro do quasar 3C 273 no óptico e infravermelho
próximo é dominado pelas linhas do hidrogênio em emissão e deslocadas para
o vermelho (redshifted) por efeito Doppler. Por exemplo, a linha Hβ está
 
deslocada de 4.861 A para 5.630 A .

3C 273 é o quasar mais próximo da Terra. Os quasares


mais distantes já descobertos (até 2011) têm deslocamentos
para o vermelho (redshifts) da ordem de z = 7. Lembrar que
∆λ
z≡ ,
λ ,
onde:
∆λ λ observado − λ emitido
= .
λ λ emitido
Para valores de z maiores do que 0,2, precisamos utilizar a fórmula do
deslocamente Doppler relativístico para calcular sua velocidade. Por exemplo,
∆λ
um quasar que tem deslocamento Doppler =5 indicaria uma velocidade
λ
de 5 vezes a velocidade da luz, se utilizarmos a fórmula do deslocamento
v ∆λ
Doppler não relativístico, = . Mas o deslocamento Doppler relativístico é
c λ
dado por:

∆λ (1+ v / c)
z=
≡ −1,
λ (1− v / c)

de modo que a velocidade é dada por:

v (1 + z)2 − 1
= .
c (1+ z)2 +1

Tabela 03.05.01: Comparação entre diferentes tipos de galáxias ativas.

Área 3, Aula 5, p.5


Müller, Saraiva & Kepler
Fonte de Energia das Galáxias Ativas

Atualmente a maioria dos astrônomos aceita que as


diversas formas de galáxias com núcleo ativo, como galáxias
Seyfert, quasares e blazares, tenham sua fonte de energia
originada no mesmo processo básico, proposto em 1964 por
Edwin Ernest Salpeter e Yakov Borisovich Zel'dovich: gás sendo
acelerado por um buraco negro supermassivo (milhões de
massas solares) central.
Fonte de energia O gás caindo no buraco negro forma um disco de
acreção em rotação, com raio de alguns dias-luz a algumas
Acredita-se que seja gás semanas-luz. À medida que o gás espirala para o centro, ele
sendo acelerado por um
buraco negro
transforma energia gravitacional em energia cinética,
supermassivo central. acelerando, aquecendo e liberando enormes quantidades de
Ao cair no buraco negro o energia. Ao mesmo tempo, parte do gás pode ser ejetada a
gás forma um disco de alta velocidade em direção perpendicular ao disco de
acreção em rotação.
Ao espiralar para o centro
acreção, formando os jatos e lóbulos observados em muitas
ele transforma energia galáxias ativas. A colimação dos jatos pode ser devida a
gravitacional em cinética, campos magnéticos originados no disco.
acelerando, aquecendo e
liberando muita energia. É importante notar que toda a energia é irradiada antes
Parte do gás também da matéria cair no horizonte de eventos do buraco negro, pois
pode ser ejetada a alta além desse limite, nada escapa.
velocidade, formando
lóbulos e jatos. A acreção é um processo extremamente eficiente em
Toda energia é irradiada converter matéria em energia: os cálculos mostram que na
antes da matéria cair no acreção da matéria, a energia liberada é da ordem de
horizonte de eventos do 0,1mc2, comparada com 0,007 mc2 na reação nuclear mais
buraco negro.
energética conhecida, a transformação de quatro núcleos de
hidrogênio em um núcleo de hélio.
Acreção
Quando o buraco negro consumir toda matéria
Processo muito eficiente circundante, a galáxia deixará de ser ativa permanecendo
em converter matéria em com um buraco negro quiescente em seu centro.
energia.
Converte 10% da matéria
em energia.
Ao consumir toda matéria
Resumo
circundante ao buraco
negro a galáxia deixará
de ser ativa, Galáxias ativas são galáxias cujos núcleos emitem
permanecendo com um quantidades de energia muito maiores do que galáxias
buraco negro quiescente normais, com espectro não térmico, indicando que a radiação
em seu centro.
é de origem não estelar. As galáxias ativas apresentarem
variações rápidas em seu brilho indicando que a fonte de
energia está concentrada em uma região muito pequena. As
galáxias ativas compreendem 10% de todas as galáxias, e
incluem as galáxias Seyfert, as radiogaláxias, os objetos BL Lac
e os quasares.
Galáxias Seyfert: São galáxias espirais que apresentam
um núcleo ativo muito brilhante. A energia emitida pelo núcleo
é várias vezes maior que energia da galáxia hospedeira. O
espectro é não térmico e com linhas de emissão alargadas.
Radiogaláxias: São galáxias que emitem a maior parte
de sua energia na região do rádio geralmente concentrada na
forma de jatos e lóbulos. No óptico normalmente têm a
aparência de galáxias elípticas.
Objetos BL Lac: São outra classe de objetos exóticos.
Muitos desses objetos são fontes de rádio, acredita-se que eles
sejam radiogaláxias muito afastadas cujas orientações são tais
que o jato fica apontado para a Terra.
Quasares: são os objetos mais luminosos do Universo.
Têm aparência estelar, emissão forte em rádio e espectro com
grandes redshifts, indicando que são muito distantes.
Área 3, Aula 5, p.6
Müller, Saraiva & Kepler
A fonte de energia das galáxias ativas é gás sendo
acelerado por um buraco negro supermassivo central. Ao cair
no buraco negro, o gás, forma um disco de acreção em
rotação. Ao espiralar para o centro, ele transforma energia
potencial gravitacional em energia cinética, acelerando,
aquecendo e liberando imensas quantidades de energia.
Concomitantemente parte do gás pode ser ejetada a alta
velocidade, formando os jatos e os lóbulos. Toda energia é
irradiada antes da matéria cair no horizonte de eventos do
buraco negro.
A acreção converte matéria em energia, dez vezes
mais eficiente que as reações nucleares mais eficientes
conhecidas.
Quando o buraco negro consumir toda matéria
circundante, a galáxia deixará de ser ativa permanecendo
com um buraco negro quiescente no seu centro.

Questões de fixação
Após a leitura e compreensão dos assuntos tratados
nessa aula responda as questões de fixação a seguir, discuta
suas respostas com seus colegas no fórum de discussões.
Qualquer dúvida contate o tutor.
Bom trabalho!

1. O que são galáxias ativas, e que tipos de galáxias


ativas existem?
2. O que são quasares? Como foram descobertos?
3. O que é o "redshift" de uma galáxia?
4. Como os astrônomos sabem que os quasares são
objetos muito distantes?
5. Que mecanismo é considerado o mais provável
como fonte da energia em galáxias ativas?
6. Por que se pensa que as galáxias ativas devem ter a
maior parte da energia saindo de uma região muito
pequena?
7. É possível medir a distância de um quasar usando
qualquer um dos métodos que estudamos até agora?
Explique.
8. Como um buraco negro, do qual nem a luz cosegue
escapar, pode ser responsável pela extraordinária
quantidade de energia emitida por um quasar?
9. Há quanto tempo a luz que vemos hoje de um
quasar que está a 13 bilhões de anos-luz de distância saiu
dele?
10. A magnitude aparente do quasar 3C 272 é V
=12,85 e está a uma distância de 700 Mpc. Qual a magnitude
absoluta desse quasar? Quantas estrelas como o Sol (MV = 5)
seriam necessárias para proporcionar essa luminosidade?
Compare com as 1010 estrelas dentro da órbita do Sol, na Via
Láctea.
11. A figura abaixo é o espectro de um quasar.
Calcule o redshift desse quasar, lembrando que o

comprimento de onda de repouso da linha Lyα é 1.216 A .

Área 3, Aula 5, p.7


Müller, Saraiva & Kepler.
Até a próxima aula!

Área 3, Aula 5, p.8


Müller, Saraiva & Kepler.
Aula 6 - Expansão do Universo Área 3, Aula 6

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Ilustração de como seria o Universo logo após o Big


Bang, depois que as primeiras estrelas começaram a
se formar. Crédito: NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (SSC).
Fonte: http://news.discovery.com/space/big-bang-
probe.html.

Introdução
Prezado aluno, em nossa sexta aula, da terceira
área, vamos tratar da expansão do Universo.
Bom estudo!

.
Objetivos da aula
Nesta aula trataremos da expansão do Universo.
Esperamos que ao final você esteja apto a:
• descrever como a Lei de Hubble leva à
conclusão de que o Universo está em
expansão;
• estabelecer a relação entre a constante de
Hubble e a idade do Universo;
• definir universo observável;
• explicar o que é o paradoxo de Olbers e qual a
sua implicação cosmológica.

Por que o céu é escuro à


noite?
Lei de Hubble

Há duas aulas aprendemos como Hubble e Humason


perceberam que, com exceção de algumas poucas galáxias
próximas, todas as galáxias têm espectros que estão
deslocados para maiores comprimentos de onda, ou seja,
apresentam redshifts (z); além disso, viram que esses redshifts
são diretamente proporcionais às distâncias (d) das galáxias
até nós (z ∝ d).
Lei de Hubble
Interpretando os redshifts como devido ao efeito
v = H0d. Doppler gerado por um movimento de afastamento das
galáxias, Hubble calculou as velocidades de afastamento
(v = c.z) e estabeleceu a famosa Lei de Hubble:
v = H0d,
onde H0 é a constante de proporcionalidade entre a
velocidade de recessão da galáxia e a sua distância até nós.

Figura 03.06.01: Gráfico da Lei de Hubble, mostrando a relação entre


distância (eixo x) e velocidade (eixo y) para diversos aglomerados de
galáxias. O quadrado no canto inferior esquerdo representa a região em que
Área 3, Aula 6, p.2 se encontravam as galáxias observadas por Hubble na década de 20. Fonte:
Müller, Saraiva & Kepler http://www.das.inpe.br/cosmo/intro-cosmo/node4.html.
Universo em Expansão

A Lei de Hubble proporciona uma evidência de que o


universo está em expansão. Por quê?
Para entender melhor, vamos usar uma analogia com
um bolo de passas que vai ao forno.

O modelo do bolo de passas

Imaginemos um bolo recheado de passas. Antes de ir


ao fogo o bolo tem um tamanho menor e as distâncias entre
as passas são menores. Após ir ao forno o bolo dobra de
tamanho e as distâncias entre as passas também dobram.

Figura 03.06.02: Ilustração para o modelo do bolo de passas.

Vamos analisar como variam as distâncias das passas


em relação a uma passa de referência durante o aumento do
bolo. Consideremos uma passa qualquer como sendo a passa
de referência, e outras três passas, que vamos chamar de A,
B, e C. Vamos ainda supor que, no instante inicial (ti =0) essas
passas estejam às seguintes distâncias da passa de referência:

Modelo do bolo de • passa A: di = 1 cm


passas • passa B: di = 3 cm
Em um bolo de passas
• passa C: di = 4 cm
em crescimento, cada
passa “vê” as outras se Após 1 hora (tf = 1h), o bolo dobra de tamanho, e as
afastarem com
velocidades
distâncias entre as passas serão:
proporcionais às suas
distâncias. • passa A: df = 2 cm
O aumento da
• passa B: df = 6 cm
velocidade
proporcionalmente à • passa C: df = 8 cm
distância é uma
característica do Portanto, do “ponto de vista” da passa de referência,
fenômeno de
expansão. as passas A, B e C, se afastaram com velocidades
v = (df – di) /( tf – ti), que resultam em:

• passa A: v(tf) = 1 cm/h


• passa B: v(tf) = 3 cm/h
• passa C: v(tf) = 4 cm/h

Área 3, Aula 6, p.3


Müller, Saraiva & Kepler
Se nesse momento fizermos um gráfico da velocidade
de afastamento das outras passas em função de suas
distâncias, veremos que as velocidades são diretamente
proporcionais à distância acharemos uma reta com equação
v = constante.d, onde a constante é a declividade da reta,
que vale:
declividade = (1cm/h)/2cm = (3cm/h)/6cm =
(4cm/h)/8cm = 0,5(cm/h)/cm = 0,5/h, que é a "constante de
afastamento" das passas.
Ou seja, o modelo nos mostra, numa expansão, que a
variação da velocidade de afastamento é proporcional à
distância. Logo, se vemos as galáxias se afastando de nós com
velocidades proporcionais à sua distância, a explicação mais
simples para isso é que o Universo está em expansão.
É importante notar que, no nosso modelo, a passa de
referência pode ser qualquer uma; todas as passas “vêm” as
outras se afastando com velocidades proporcionais às suas
distâncias.
Da mesma forma, o afastamento das galáxias que
observamos é percebido da mesma maneira de quaisquer
outras galáxias. Nós não estamos em uma posição
privilegiada. O Universo não tem uma posição privilegiada,
não tem um centro, e não tem bordas. Qualquer observador
Universo em expansão em qualquer posição no Universo observa o mesmo efeito da
Observações telescópicas
expansão.
das galáxias distantes Outra coisa que podemos notar no bolo de passas, é
indicam a expansão do que, durante seu crescimento, as passas não se movem dentro
Universo. As distâncias entre
as galáxias estão
do bolo, o meio entre elas que aumenta de tamanho. Da
aumentando com o passar mesma maneira, o afastamento das galáxias não se deve ao
do tempo. um movimento delas próprias, mas sim se deve à expansão do
espaço entre elas. A expansão do Universo é uma expansão
do próprio espaço, que carrega junto às galáxias (veja aqui
Velocidade de recessão x
distância uma animação sobre a expansão).
O redshift das galáxias é causado pela expansão.
As galáxias têm
velocidades de recessão A expansão do espaço não afeta o tamanho dos
proporcionais às suas objetos que estão nele: galáxias, estrelas, planetas, etc,
distâncias. mantêm o seu tamanho inalterado, porque a gravidade que
A expansão é do próprio
espaço e não tem nenhum
os mantém é muito mais forte do que a expansão. No entanto,
centro. a expansão afeta a luz que viaja imensas distâncias através do
Uma vez que o Universo espaço. Quando uma onda de luz viaja no espaço, a
está se expandindo, ele era expansão estica a onda, aumentando seu comprimento de
menor no passado e deve
ter tido uma origem a partir
onda e causando, assim, o redshift observado. Esse redshift
de um estado infinitamente não é, realmente, causado por Efeito Doppler, pois o efeito
quente e denso. Doppler, por definição, aparece quando existe movimento
Tal evento é chamado relativo entre fonte e observador, e as galáxias não estão, na
Big Bang.
realidade, se movendo umas em relação às outras. O redshift
causado pela expansão do universo é mais propriamente
Redshift cosmológico chamado de redshift cosmológico. Mas a equação do Efeito
Doppler se aplica mesmo assim, de forma que, na prática,
O redshift das galáxias é tratamos o redshift cosmológico como Efeito Doppler.
causado pelo aumento do
espaço entre as galáxias e
não pela velocidade das
galáxias no espaço.

Figura 03.06.03: A expansão do espaço aumenta o comprimento de onda da


luz que se propaga nele. Fonte:
http://www.astro.iag.usp.br/~ronaldo/intrcosm/Glossario/Redshift.html.
Área 3, Aula 6, p.4
Müller & Saraiva& Kepler
A idade do Universo

Se o Universo está expandindo, então ele era menor no


passado. Se pudéssemos voltar atrás no tempo, veríamos as
galáxias cada vez mais próximas umas das outras à medida
que fossemos retrocedendo no tempo, e podemos imaginar
que chegaríamos a um instante em que tudo o que compõe
nosso Universo hoje estaria reunido em um ponto infinitamente
denso e infinitamente quente, que começou a expandir.
Nós chamamos de Big Bang ao evento inicial que deu
origem ao Universo, iniciando sua expansão. Esse nome foi
proposto em 1950 por Fred Hoyle, que era adepto do modelo
estacionário para o universo, e pretendia com esse nome
desmoralizar o modelo evolucionário. No entanto, o nome
pegou, e atualmente é o nome usado tanto popular quanto
tecnicamente para designar as teorias que tratam da origem
e evolução do Universo.
Se o Universo teve um início, podemos calcular sua
idade. Supondo que a velocidade da expansão foi constante
desde o Big Bang até hoje, podemos estimar a idade do
Universo, calculando o tempo que as galáxias distantes,
movendo-se à mesma velocidade de hoje, levaram para
chegar aonde estão. Vamos chamar esse tempo de t0.
Para uma galáxia cuja velocidade é v, e cuja distância
é d, pela definição de velocidade, o tempo t0 será

t0 = d/v.

Por outro lado, a lei de Hubble relaciona a distância


com a velocidade pela equação:

v = H 0 d.

Logo, podemos escrever:

t0 = d/(H0 d),

ou

t0 = 1/H0.
Tempo de Hubble
Vemos assim que a constante H0 é igual ao inverso da
É a idade do Universo idade do Universo para velocidade de expansão constante.
correspondente a uma
expansão com O tempo t0 é também chamado de tempo de Hubble.
velocidade constante,
sendo igual ao inverso da Para uma constante de Hubble com valor H0 = 71
constante de Hubble. km/s/Mpc, a idade correspondente para o Universo é:
t0 = 1/H0.
t0 =1/(71km/s.Mpc).
Para H0 = 71 km/s/Mpc, a
idade do Universo é 13,7 Como 1Mpc = 3,09.1019 km e 1 ano = 3,15. 107 s,
bilhões de anos.
logo t0 = 1/H = 1/(71 km/s.Mpc) = 1/( 71 km/s.3,09.1019.
3,15.107s)
Temos, portanto t0= 1/H0= 13,7 bilhões de anos.

Área 3, Aula 6, p.5


Müller, Saraiva & Kepler
Levando-se em conta uma possível desaceleração
causada pela atração gravitacional, a idade seria um pouco
menor do que esse valor, pois se a expansão foi mais rápida
no início, o Universo teria chegado ao estado atual em menos
tempo. Se, pelo contrário, o Universo estiver acelerando, ele
estava se expandindo mais lentamente no passado e,
portanto, levou mais tempo para chegar ao estado atual.
Nesse caso sua idade é maior do que H0-1.

O Universo Observável

A idade do Universo limita a distância que podemos


ver. Como a luz tem uma velocidade finita, o que significa
que ela leva um tempo para ir de um lugar a outro, vemos
tudo no passado, e quanto maior a distância a que olhamos,
Universo observável
mais remoto o passado que vemos. Se olharmos uma galáxia
que está a 10 milhões de anos-luz de distância, nós a vemos
A idade do Universo, aliada como era há 10 milhões de anos. Se observamos um
à velocidade da luz, limitam aglomerado de galáxias distante 1 bilhão de anos-luz, nós o
a porção do Universo que
podemos ver.
vemos como era 1 bilhão de anos atrás.
O raio do Universo A velocidade da luz, aliada à idade finita do Universo,
observável é igual à limita a porção do Universo que podemos ver, pois nós não
distância que a luz percorre podemos ver mais longe do que a distância que a luz pode
em um intervalo de tempo
idêntico à idade do
percorrer no tempo igual à idade do universo. Se o Universo
Universo. tem 13,7 bilhões de anos de idade, então a luz de galáxias
mais distantes do que 13,7 bilhões de anos-luz não teve
tempo de nos alcançar. Nós podemos dizer que o Universo
observável se estende por um raio de 13,7 bilhões de anos-luz
da Terra.

O enigma da Escuridão da Noite como Evidência do Big


Bang

O Big Bang terá realmente acontecido? O universo


não poderia ser estático, imutável e infinito?
Johannes Kepler (1571-1630) foi, talvez, a primeira
pessoa a perceber que um universo assim não poderia ser
escuro à noite, mas o problema ficou conhecido como
Paradoxo de Olbers, por ter sido mais divulgado pelo médico
e astrônomo Heinrich Olbers, em 1826.

Figura 03.06.04: Imagem obtida pelo Telescópio Espacial Hubble mantendo a


câmara aberta por 10 dias em uma região aparentemente sem estrelas do
céu.

Área 3, Aula 6, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
O paradoxo é o seguinte: suponha que as estrelas
estejam distribuídas de maneira uniforme em um espaço
infinito, como visto na figura 03.06.05. Para um observador em
qualquer lugar, o volume de uma esfera com centro nele
aumentará com o quadrado do raio dessa esfera, e como as
estrela estão distribuídas uniformemente no espaço, o número
de estrelas que ele vê cresce com o quadrado da distância.
Como resultado, sua linha de visada sempre interceptará uma
estrela seja lá qual for a direção que ele olhe.

Figura 03.06.05: Ilustração da visão das estrelas por um observador na Terra.

Uma analogia simples de fazer é com uma floresta de


árvores. Se um observador, que está no meio da floresta, vê,
ao seu redor, árvores bem espaçadas entre si, mas quanto
mais longe ele olha, mais diminui o espaçamento entre as
árvores de forma que no limite de sua linha de visada as
árvores estão todas juntas e o mesmo não consegue ver nada
além delas, como pode ser visto na figura 06.03.06.

Figura 03.06.06: Visão de um observador, ao seu redor as


árvores estão bem espaçadas, mas ao longe as árvores estão
próximas umas das outras.

Área 3, Aula 6, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
Como o brilho das estrelas cai com o quadrado da
distância enquanto o número de estrelas aumenta com o
quadrado da distância, o céu em média deveria ser tão
brilhante quanto a superfície de uma estrela média, pois
estaria completamente coberto delas. Mas obviamente não é
isso que vemos. Portanto, o raciocínio está errado. Por quê?
Algumas propostas de solução:
1. A poeira interestelar absorve a luz das estrelas.
Foi a solução proposta por Olbers, mas tem um
problema. Com o passar do tempo, à medida que fosse
absorvendo radiação, a poeira entraria em equilíbrio térmico
Escuridão do céu noturno com as estrelas, e passaria a brilhar tanto quanto elas. Não
A questão de por que o ajuda na solução.
céu é escuro à noite é 2. A expansão do Universo degrada a energia, de
conhecida como o
forma que a luz de objetos muito distantes chega muito
paradoxo de Olbers,
e se refere ao fato de que desviada para o vermelho e, portanto muito fraca.
em um Universo estático, O desvio para o vermelho ajuda na solução, mas os
infinito no espaço e no
cálculos mostram que a degradação da energia pela
tempo, veríamos o céu
tão brilhante quanto à expansão do universo não é suficiente para resolver o
superfície de uma estrela. paradoxo.
A escuridão do céu é uma
prova de que o Universo
3. O Universo não existiu por todo o sempre.
teve uma origem. Essa é a solução atualmente aceita para o paradoxo.
Como o Universo tem uma idade finita e a luz tem uma
velocidade finita, a luz das estrelas mais distantes ainda não
teve tempo de chegar até nós. Portanto, o universo que
enxergamos é limitado no espaço, por ser finito no tempo. A
escuridão da noite é uma prova de que o Universo teve um
início.

Resumo
Observações telescópicas das galáxias distantes
indicam que o Universo está em expansão, isto é, as distâncias
entre as galáxias estão aumentando com o passar do tempo.

A observação de que as galáxias têm velocidades de


recessão proporcionais à sua distância - Lei de Hubble - é uma
evidência de que o Universo está em expansão. Essa expansão
é do próprio espaço, e não tem nenhum centro.
Se o Universo está se expandindo ele era menor no
passado e deve ter tido uma origem a partir de um estado
infinitamente quente e denso. O evento que deu origem ao
Universo é chamado Big Bang.
Extrapolando o movimento de recessão
retroativamente no tempo, pode-se estimar a idade do
Universo. Para uma velocidade de expansão constante, a
idade do Universo é chamada tempo de Hubble, e definida
como t0 = 1/H0, H0 a constante de Hubble, que mede a taxa
atual de expansão do Universo. Para Ho = 71 km/s/Mpc a
idade do Universo é de 13,7 bilhões de anos.
A idade do Universo, aliada à velocidade da luz,
limitam a porção do Universo que podemos ver. O raio do
Universo observável é igual à distância que a luz percorre em
um tempo igual à idade do Universo.
A questão de porque o céu é escuro à noite é
conhecida como paradoxo de Olbers, e se refere ao fato de
que em um Universo estático, infinito no espaço e no tempo,
veríamos o céu tão brilhante quanto à superfície de uma
Área 3, Aula 6, p.8 estrela. A escuridão do céu noturno é uma prova de que o
Müller, Saraiva & Kepler Universo teve uma origem.
Questões de fixação
Após a leitura e compreensão dos assuntos tratados
nessa aula responda as questões de fixação a seguir, discuta
suas respostas com seus colegas no fórum de discussões.
Qualquer dúvida contate o tutor.
Bom trabalho!

1. Como se sabe que o Universo está expandindo?


2. Se todas as galáxias estão se afastando de nós,
significa que estamos no centro do Universo?
3. Se o Universo está em expansão, isso significa que o
tamanho da Via Láctea está aumentando?
4. O que é o Big Bang?
5. Qual a relação entre a constante de Hubble e a
idade do Universo?
6. O que é o Universo observável e qual o seu
tamanho?
7. O que é o paradoxo de Olbers?
8. Os astrônomos não conseguem medir com precisão
o valor da constante de Hubble. Suponha que novas
medidas indiquem que o valor de Ho seja 80 km/s/Mpc em
vez de 71 km/s/Mpc.
a) Esse valor maior para H0 implica um valor maior ou
menor para a idade do Universo?
b) Calcule a idade do Universo correspondente, em
anos.
c) Qual seria, então, o tamanho do Universo
observável, em anos-luz?

Até a próxima aula!

Área 3, Aula 6, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 7 – Cosmologia: origem do Universo.
Área 3, Aula7.

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva & Kepler de Souza Oliveira Filho

Ilustração de épocas cósmicas do Universo, desde o Big Bang até os dias


atuais. Em destaque a galáxia A 1689-zD1 tem a sua posição indicada para
servir de exemplo de uma galáxia formada antes e distante. Créditos Nasa,
ESA,A. Feild (STScl.). Fonte:
http://theastronomist.fieldofscience.com/2009/08/hubble-ultra-deep-field-
part-2.html.

Introdução
Prezado aluno, em nossa sétima aula, da terceira
área vamos estudar a origem do Universo.

Bom estudo!
Objetivos da aula
Nesta aula estudaremos da origem do Universo.
Esperamos que ao final você esteja apto a:
• explicar o que é o princípio cosmológico e
discutir a sua validade no Universo observado;
• descrever, em linhas gerais, o modelo do Big
Bang para a origem do Universo, incluindo os
elementos formados;
• descrever as propriedades observadas da
radiação cósmica de fundo e explicar porque
é uma evidência do Big Bang.

Como foi o início de tudo?


O Principio Cosmológico

Cosmologia é o estudo do Universo como um todo –


seu tamanho, sua geometria, sua idade, sua origem e sua
evolução. Quase todas as teorias cosmológicas partem de
uma hipótese simplificadora chamada Princípio Cosmológico:
o Universo é homogêneo e isotrópico. A homogeneidade
Princípio Cosmológico implica que, em larga escala, a densidade média do Universo
O Universo é homogênio
é igual em todo o Universo. A isotropia implica que a
e isotrópico. aparência do Universo é a mesma em qualquer direção. Os
Em escalas de 1 bilhão dois princípios juntos implicam que o Universo é uniforme, e,
de anos-luz o Universo é portanto, não há direção especial no Universo nem lugar
uniforme.
O princípio cosmológico
especial no Universo. O princípio cosmológico claramente não
é válido para escalas é válido em escalas pequenas: se analisamos uma região do
de um bilhão de anos- espaço contendo apenas a Terra e a Lua, por exemplo,
luz. teremos dois pontos muito densos nas extremidades de um
enorme espaço que, em comparação, é totalmente vazio; da
mesma forma, a densidade dos planetas é muito maior do
que a densidade média do sistema solar; a densidade de
cada estrela é muito maior do que a densidade média de
uma galáxia. Em escalas de milhões de anos-luz, encontramos
os superaglomerados de galáxias e os enormes vazios entre
eles, mas se vamos para escalas ainda maiores, de bilhões de
anos-luz, daí vemos que a distribuição fica uniforme. Ou seja,
em escalas muito grandes, o Universo parece realmente
uniforme, e o princípio cosmológico é válido.

Relatividade Geral e a Cosmologia Moderna

Figura 03.07.01: Albert Einstein (1879-1955).

Área 3, Aula 7, p.2


Müller, Saraiva & Kepler
Para estudar a evolução do Universo os cosmólogos
usam a teoria da relatividade geral de Albert Einstein.
Proposta em 1916, a teoria da relatividade geral
descreve a gravitação como a ação das massas nas
propriedades do espaço e do tempo, que afetam o
movimento dos corpos e outras propriedades físicas. Enquanto
na teoria de Newton o espaço é rígido, descrito pela
geometria Euclidiana, na relatividade geral o espaço-tempo é
distorcido pela presença da matéria que ele contém. Um ano
depois de propor a relatividade geral, Einstein publicou seu
artigo histórico sobre cosmologia, Considerações
Cosmológicas sobre a Teoria da Relatividade, construindo um
modelo esférico do Universo.
Einstein acreditava que o Universo deveria ser estático,
mas sabia que a gravidade faria o Universo se contrair. Para
compensar a gravidade, Einstein introduziu em suas equações
a famosa constante cosmológica, que age como uma força
repulsiva que previne o colapso do Universo pela atração
gravitacional.

Considerações
Cosmológicas sobre a
Teoria da Relatividade

Einstein acreditava que o


Universo era estático e
esférico. Para compensar a
gravidade, que faria o
Universo se contrair, ele
introduziu a constante
cosmológica, que age
como uma força repulsiva Figura 03.07.02: À esquerda Georges Lemaître(1894-1966), à direita Alexander
que evita o colapso do Friedmann (1888-1925).
Universo.
Durante os anos 1920, O padre e cosmólogo belga
Georges Lemaître (1894-1966) e, independentemente, o
matemático e meteorologista russo Alexander Friedmann
(1894-1966), resolveram as equações da teoria da relatividade
geral incluindo as possibilidades de expansão e recolapso, e
Após as descobertas de
Hubble, em 1929, Einstein
encontraram uma família de soluções que dispensa a
aceita a ideia da necessidade de constante cosmológica. Em 1927 Lemaître foi
expansão do Universo e o primeiro a propor que o Universo estaria em expansão, mas
retirou a constante Einstein só aceitou a ideia da expansão após a publicação do
cosmológica de suas
equações.
trabalho de Hubble, em 1929. Admitiu então que a constante
cosmológica não tinha necessidade de existir, e a retirou das
suas equações.
Em 1931, Lemaître propôs seu modelo para a origem
do Universo. Ele imaginou que toda a matéria estivesse
Princípio Cosmológico concentrada no que ele chamou de átomo primordial e que
Perfeito este átomo teria se partido em incontáveis pedaços, cada um
se fragmentando cada vez mais, até formar os átomos
Universo homogênio, presentes no Universo, numa enorme fissão nuclear. Embora
isotrópico e imutável,
com produção contínua de seu modelo tenha se mostrado incorreto, ele inspirou os
matéria, para modelos modernos.
contrabalançar a
Mesmo depois da descoberta da expansão do
expansão do Universo
observada. Universo, muitos pesquisadores continuaram a acreditar na
A descoberta da RFC fez Teoria do Estado Estacionário, que se baseava no chamado
com que a teoria do "Princípio Cosmológico Perfeito", segundo o qual o Universo é
estado estacionário
homogêneo, isotrópico e imutável. Essa hipótese não negava
perdesse quase todos os
seus adeptos. a expansão do Universo, mas sim propunha uma produção
contínua de matéria para contrabalançar a expansão
observada, mantendo a densidade média constante. Esta
teoria foi proposta por Herman Bondi, Thomas Gold e Fred
Hoyle, em 1948. A teoria do estado estacionário perdeu quase
todos seus adeptos quando foi descoberta da radiação
cósmica de fundo (RCF), que ela não sabia explicar. Veremos
Área 3, Aula 7, p.3
Müller, Saraiva & Kepler
o que é a RCF mais adiante, nesta mesma aula.
A Evolução do Universo no Modelo do Big Bang

A teoria do Big Bang - que descreve os primeiros


momentos do Universo -, presume que o Universo iniciou a
partir de um estado extremamente quente e extremamente
denso, em que toda a matéria e toda a radiação estavam
contidas num espaço inifinitamente pequeno. A rápida
expansão que então iniciou lembra muito uma explosão, mas
Big Bang na verdade não é uma explosão que ocorre em um ponto do
Teoria propõe que o
espaço, e sim a geração de espaço em todos os pontos, que
Universo iniciou a partir de se expandem com o tempo. Em 1973 E. Tyron propôs que o
um estado extremamente início da expansão ocorreu a partir de uma flutuação
quente e denso. quântica do vácuo .
Toda a matéria e radiação
estavam contidas num A história do Universo começa aos 10-43 segundos após
espaço infinitamente o Big Bang, o instante chamado tempo de Planck. Os
pequeno. instantes anteriores ao tempo de Planck são chamados era
de Planck. De acordo com as leis da mecânica quântica, na
era de Planck deveria haver uma grande flutuação de
energia de ponto a ponto no Universo, por ele ser tão
pequeno; de acordo com a relatividade geral, devido à
equivalência entre matéria e energia, grandes flutuações de
energia devem ter gerado campos gravitacionais
rapidamente variáveis, gerando bolhas no espaço-tempo.
Ainda não existe uma teoria física capaz de descrever o que
estava acontecendo nesses instantes, mas acredita-se que as
quatro forças da natureza estavam unificadas em uma só.

Era de Planck

Instantes anteriores ao tempo


de Planck.
Deveria haver uma grande
flutuação de energia de
ponto a ponto do Universo.
As quatro forças da natureza
estavam unificadas.

Figura 03.07.03: Comparativo da idade do Universo, com sua respectiva


temperatura absoluta e o desacoplamento das quatro forças da natureza.

No tempo de Planck, a temperatura do Universo era


T ≈ 1032 K; e a gravidade se separou das outras forças, que
continuaram unificadas sob o nome comum de força GUT
(GUT significa Teorias da Grande Unificação, na sigla em
inglês), englobando a força eletromagnética e as forças
nucleares fraca e forte. Essa é a era das GUTs, quando
existiam duas forças no Universo: a gravidade e a força GUT.
Essa era durou um nanosegundo. Quando o Universo tinha
10-35 segundos, a temperatura era 1028 K. As teorias da grande
unificação predizem que a força nuclear forte se separou da
força eletrofraca (eletromagnética unificada com a força
nuclear fraca) neste instante, e o Universo ficou dominado por
Área 3, Aula 7, p.4
Müller, Saraiva & Kepler
três forças: gravidade, força nuclear forte e força eletro-fraca.
A teoria da inflação, que veremos depois, propõe que a
separação da força nuclear forte liberou uma grande
quantidade de energia que fez o Universo sofrer uma
expansão dramática (a inflação): em meros 10-36 segundos, o
Universo teria aumentado do tamanho de um núcleo atômico
para o tamanho do sistema solar.
O Universo continuou a se expandir e a esfriar (de uma
forma mais comedida do que durante a inflação) e aos
Tempo de Planck
10-10 segundos a temperatura tinha baixado para 1015K, baixa
Universo tinha uma idade o suficiente para a força fraca se separar da força
de 10-43 s. eletromagnética. A partir desse instante, o Universo ficou
A gravidade se separou das
governado pelas quatro forças que conhecemos.
demais forças. Durou um
nanosegundo. Nessa época, o Universo era cheio de intensa
Após a força nuclear forte radiação, como tinha sido desde a era de Planck. A colisão
se separou da eletro-fraca.
Nesse momento houve uma
de fótons produzia espontaneamente pares de partículas e
liberação de grande antipartículas que imediatamente se aniquilavam se
quantidade de energia que convertendo em energia novamente, como está
fez o Universo sofrer uma representado na figura 03.07.04.
expansão dramática.
Do tamanho de um núcleo
atômico atingiu o tamanho
do sistema solar.

Separação da força fraca


Figura 03.07.04: À esquerda dois fótons se aniquilam produzindo partículas e
antipartículas, logo a seguir, à direita, as partículas e ant-partículas se
Após a força fraca se
aniquilam e se convertem em fótons novamente. Fonte: Portal São Francisco:
separou da
http://francisco-scientiaestpotentia.blogspot.com/2011/09/acendam-se-
eletromagnética, sendo
futuras-lanternas-ii.html.
assim, o Universo ficou
governado pelas quatro As partículas produzidas eram elétrons, pósitrons,
forças que conhecemos.
Universo era cheio de
neutrinos, e quarks - as partículas que formam prótons,
intensa radiação. nêutrons e suas antipartículas. (Os quarks são em número total
Fótons se aniquilavam de seis: up, down, charm, strange, top e bottom. O próton é
formando matéria e formado por dois quarks up e um quark down, enquanto o
antimatéria e se aniquilavam
se convertendo em energia.
nêutron é formado por dois quarks down e um quark up.)
Quando a temperatura atingiu cerca de 1014K, ao
tempo de vida do Universo de 10-7 segundos, os quarks
Partículas produzidas deixaram de existir como partículas isoladas e se combinaram
Elétrons, pósitrons, neutrinos
em dois (e três) para formar os prótons e nêutrons (e suas
e quarks. antipartículas). A colisão de fótons então produzia prótons e
nêutrons, que em seguida se aniquilavam com suas
antipartículas. Essa época é chamada era hadrônica, ou era
das partículas pesadas (hádrons: prótons e nêutrons).
Era Hadrônica Se houvesse uma perfeita simetria entre matéria e
antimatéria todos os pares seriam aniquilados e não sobraria
Era das partículas
pesadas. matéria no Universo. Mas, a simetria não era perfeita, houve
Após os quarks deixaram um pequeno excesso de uma parte em um bilhão de matéria
de existir isoladamente sobre antimatéria. Devemos nossa existência a essa assimetria.
formando prótons e
nêutrons e suas Aos 10-4 segundos, a temperatura já não era suficiente
antipartículas. para a colisão de fótons produzirem prótons e nêutrons,
apenas pares de elétron-pósitron eram produzidos, enquanto
prótons e nêutrons continuavam a serem aniquilados com
suas antipartículas. Essa é a era das partículas leves, ou era
leptônica.
Um pouco depois, quando o Universo já tinha 1
segundo de idade, a temperatura caiu abaixo de 1010 K, e até
os elétrons e pósitrons deixaram de ser produzidos. Colisões
entre partículas e antipartículas continuaram a adicionar
fótons ao Universo, mas a colisão de fótons não mais
Área 3, Aula 7, p.5 adicionou partículas a ele. A taxa de aniquilação de matéria
Müller, Saraiva& Kepler
superior à taxa de sua produção diminuiu o conteúdo de
matéria do Universo e aumentou o seu conteúdo de
radiação. Por milhares de anos, o Universo ficou dominado
pela radiação.
Aos 3 minutos, a temperatura já tinha baixado a um
bilhão de kelvins, permitindo a formação de núcleos leves
pela colisão e fusão de prótons e nêutrons. Essa
nucleossíntese primordial formou hidrogênio, deutério, hélio, e
uma pequena quantidade de lítio. Todos os demais
elementos seriam formados mais tarde, no interior das
estrelas.
Nucleossíntese Durante centenas de anos, o Universo consistiu de um
plasma com núcleos de hidrogênio, núcleos de hélio e
Ocorreu aos 3 min e formou o elétrons livres. O grande número de elétrons livres mantinha os
hidrogênio, o deutério, o
hélio e pequena quantidade
fótons colidindo continuamente com eles, deixando o
de lítio. Universo opaco.
Durante séculos o Universo foi Depois de 380.000 anos, a temperatura já se reduzira a
constituído de hidrogênio,
núcleos de hélio e elétrons meros 3.000 K, a metade da temperatura da superfície do Sol.
livres. Os núcleos de hidrogênio e de hélio capturaram os elétrons,
Devido às colisões dos formando átomos neutros estáveis. Essa é a era da
elétrons livres com os fótons o recombinação. http://astro.if.ufrgs.br/univ/univ.htm.
Universo se mantinha opaco.

Figura 03.07.05: Formação de um átomo neutro pela captura de elétrons por


um núcleo.

Com os elétrons agora presos aos átomos, os fótons


deixaram se sofrer os sucessivos espalhamentos e o Universo
se tornou transparente, os fótons podendo viajar livremente
Recombinação
no espaço. Essa radiação de 3.000 K, expandindo-se com o
Aos 380.000 anos, a Universo, é o que detectamos como radiação de fundo do
temperatura baixou aos Universo (RCF).
3.000 K, os elétrons se
combinaram aos núcleos À medida que o Universo continuou a expandir e a
formando átomos estáveis, aí esfriar, a matéria lentamente se condensou formando nuvens
o Universo ficou transparente. protogalácticas onde começaram a se formar estrelas. As
primeiras galáxias se formaram quando o Universo tinha em
torno de 1 bilhão de anos. Gerações consecutivas de
formação estelar nas galáxias formaram os elementos mais
pesados do que o hélio e os incorporaram nas novas estrelas
formadas, algumas das quais com sistemas planetários. Em
pelo menos uma dessas estrelas - O Sol - a vida se
desenvolveu.

Área 3, Aula 7, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Tabela 03.07.01: Resumo dos principais eventos na evolução do Universo.

Formação das galáxias

Quando o Universo tinha 1


bilhão de anos.

Evidências Observacionais do Big Bang

Para ser uma teoria científica, a teoria do Big Bang


deve fazer predições que possam ser verificadas através de
observações ou experimentos. Na aula anterior já tínhamos
visto duas evidências a favor de que o Big Bang realmente
aconteceu: A expansão do Universo e a escuridão da noite .
Uma outra evidência é a abundância observada de hélio no
Universo: na seção anterior vimos que a teoria do Big Bang
prediz que a nucleossíntese primordial formou hidrogênio,
deutério hélio e um pouco de lítio. A abundância de hélio
que se observa no Universo (que atualmente tem
basicamente 25% de hélio e 75% de hidrogênio) condiz com
o que a teoria prediz, pois ultrapassa em 90% a quantidade
de hélio formado no interior das estrelas. Isso indica que
grande parte do hélio deve ter se formado no início, antes da
formação de galáxias e estrelas.
Mas a principal descoberta que deu aceitação
definitiva à teoria do Big Bang foi a descoberta, em 1965, da
radiação cósmica de fundo.

Área 3, Aula 7, p.7


Müller, Saraiva & Kepler
A radiação Cósmica de Fundo

Os rádio-astrônomos Arno Allan Penzias (1933-) e Robert


Woodrow Wilson (1936-), dos Bell Laboratories, nos Estados
Unidos, estavam trabalhando na calibração de uma antena
de micro-ondas que seria usada para comunicação por
satélites, e perceberam que todas as medidas apresentavam
um ruído cuja fonte eles não conseguiam descobrir qual era;
Radiação Cósmica de Fundo
por mais que tentassem corrigir o ruído, ele permanecia,
independentemente da direção para onde apontassem a
antena, como se fosse uma emissão que viesse de todos os
São fótons, emitidos quando pontos do Universo.
o Universo ficou transparente,
que passaram a viajar Ao mesmo tempo, na Universidade de Princeton, um
livremente no espaço que grupo de físicos - Robert Henry Dicke (1916-1997), Philip James
hoje são detectados como Edward Peebles (1935-), Peter G. Roll, e David T. Wilkinson (1935-
RCF, permeia todo o Universo
e chega até nós por todas as 2002), estavam construíndo uma antena para procurar pela
direções, na faixa de micro- radiação que deveria permear o Universo como relíquia do Big
ondas. Bang - a radiação que teria sido emitida quando o Universo se
Corresponde a radiação de tornou transparente. Eles calculavam que, pela expansão do
um corpo negro com
temperatura de 2,7 K. Universo, essa radiação, que tinha 3.000 K quando foi emitida
A RCF apresenta pequenas deveria ter atualmente uma temperatura de poucos kelvins, e
flutuações, essas flutuações deveria ser detectável em micro-ondas.
que causaram
aglomerações de matéria no A existência dessa radiação com a temperatura atual
Universo jovem e por fim de 5 K, já havia sido predita em 1948 por Ralph Asher Alpher e
deram origem às estrelas e às Robert Herman, associados de George Gamow.
galáxias.
Penzias e Wilson souberam do trabalho do grupo de
Dicke e acabaram por perceber que o que eles supunham
que fosse um ruído era na verdade a radiação remanescente
do estado quente em que o Universo se encontrava em seu
início. Em 1978 eles receberam o Prêmio Nobel pela
descoberta da radiação cósmica de fundo.

Mapeamento da radiação cósmica: satélite COBE.

Figura 03.07.06: Satélite COBE.

Em 18 de novembro de 1989, a NASA lançou um satélite


chamado Cosmic Background Explorer (COBE), operando na
faixa de microondas, para analisar detalhadamente a
radiação do fundo do Universo. Como planetas, estrelas,
galáxias e nuvens de gás emitem muito pouco micro-ondas, o
satélite podia enxergar diretamente a luz que o Universo emitiu
quando passou de opaco para transparente, na chamada
época da recombinação, cerca de 380 mil anos depois do Big
Bang.
Os dados obtidos pelo COBE, mostrados na figura
03.07.07, ajustam perfeitamente aos resultados de um corpo
Área 3, Aula 7, p.8 negro com temperatura de 2,74 K.
Müller, Saraiva & Kepler
Esse valor fecha com o esperado para a radiação de
3.000 K emitida na era da recombinação, devido ao redshift
com valor de z = 1.000 correspondente à expansão do
Universo desde aquela época até hoje; a expansão do
Universo estica o comprimento de onda pelo mesmo fator que
o Universo se expande entre a emissão e a observação.

Figura 03.07.07: Resultados do satélite COBE, mostrando que a radiação do


fundo do Universo segue mesmo a lei da radiação de Planck.

A radiação de fundo do Universo mostra suas


condições 380 mil anos após o Big Bang, quando o Universo
era dominado por radiação. Nesta época a temperatura do
Universo caiu para cerca de 3.000 K, suficiente para que os
prótons e as partículas alfa (He), formadas nos três a quatro
primeiros minutos do Universo, começassem a capturar
elétrons e formar átomos de hidrogênio e hélio neutros. Os
cosmólogos chamam esta fase de recombinação, ou fase de
desacoplamento, passando de um Universo dominado por
radiação, onde a temperatura da matéria era a mesma
temperatura da radiação, para um dominado por matéria.
Outro experimento do satélite COBE, divulgado em
abril de 1992, mostrou que a RCF não é perfeitamente
isotrópica, mas sim apresenta pequeníssimas variações da
temperatura (seis partes por milhão). A resolução angular do
COBE era de 7°.

Figura 03.07.08: Mapa da anisotropia da radiação cósmica de fundo,


detectada pelo satélite COBE.

Nos modelos de formação de galáxias, essas flutuações


são necessárias para permitir que a matéria formada
posteriormente se aglomerasse gravitacionalmente para
Área 3, Aula 7, p.9 formar estrelas e galáxias, distribuídas em grupos, bolhas,
Müller, Saraiva & Kepler paredes e vazios, como observamos.
Resumo
As teorias cosmológicas partem de um pressuposto
básico, o Princípio Cosmológico, segundo o qual o Universo é
homogêneo (mesma densidade em todo lugar) e isotrópico
(mesma aparência em qualquer direção). Portanto, não há
direção especial no Universo nem lugar especial no Universo.
As observações mostram que, em escalas de 1 bilhão de
anos-luz, o Universo é realmente uniforme.
No século XX havia dois principais tipos de teorias
cosmológicas, as teorias evolutivas, que propõem que o
Universo é homogêneo e isotrópico, mas não teve sempre a
mesma aparência (entre as quais está a teoria do Big Bang)
e as teorias estacionárias, que pressupõem o princípio
cosmológico perfeito: o Universo é homogêneo, isotrópico e
imutável no tempo.
A teoria do Big Bang, teoria mais aceita atualmente,
propõe que o Universo iniciou a partir de um estado
extremamente quente e extremamente denso, em que toda
a matéria e toda a radiação estavam contidas num espaço
inifinitamente pequeno. Nos primeiros momentos do Universo
ele era tão quente que a colisão de fótons produzia
espontaneamente pares de partículas e antipartículas que
imediatamente se aniquilavam se convertendo em energia
novamente. O Universo foi esfriando à medida que expandia,
e quanto menor a temperatura, menor a energia de
radiação, e menor a massa das partículas que podem ser
produzidas nas colisões de fótons.
A nucleossíntese primordial aconteceu aos 3 minutos,
e formou hidrogênio, deutério, hélio, e uma pequena
quantidade de lítio. Todos os demais elementos seriam
formados mais tarde, no interior das estrelas.
Até os 380 mil anos o Universo era um plasma opaco e
brilhante, em que matéria e radiação estavam misturadas.
Aos 380 mil anos, quando a temperatura tinha baixado a
3 000 K, os elétrons se combinaram aos núcleos para formar
átomos estáveis, e o universo se tornou transparente.
As galáxias foram formadas quando o Universo tinha 1
bilhão de anos.
A radiação emitida na época da recombinação
(quando o Universo se tornou transparente), permeia todo o
Universo, chegando a nós de qualquer direção. É chamada
radiação cósmica de fundo (RCF) e foi detectada pela
primeira vez em 1965, na faixa de micro-ondas, constituindo
desde então a principal evidência para a teoria do Big Bang.
A RCF corresponde à radiação de um corpo negro
com temperatura de 2,7 K. Essa radiação não é
perfeitamente uniforme, mas sim apresenta pequenas
flutuações em sua temperatura, detectadas em 1992 pelo
satélite. Essas flutuações causaram as aglomerações de
matéria no Universo jovem, que acabaram por dar origem às
estrelas e galáxias.

Área 3, Aula 7, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Questões de fixação
Após a leitura e compreensão dos assuntos tratados
nessa aula responda as questões de fixação a seguir, discuta
suas respostas com seus colegas no fórum de discussões.
Qualquer dúvida contate o tutor.
Bom trabalho!

1.
a) O que é o princípio cosmológico?
b) De acordo com ele, qual a temperatura da
radiação cósmica de fundo para um hipotético observador
em uma galáxias a 10 bilhões de anos-luz de nós?
2.
a) O que é o Big Bang?
b) Que evidências observacionais suportam essa
teoria?
3.
a) Que elementos químicos foram formados no início
do universo?
b) De acordo com a cronologia dos primeiros minutos
do universo, o que foi formado primeiro, o núcleo do
hidrogênio ou o núcleo do hélio?
c) Por que a abundância de hélio observada é uma
evidência de que a teoria do Big Bang está certa?
4.
a) O que é a radiação cósmica de fundo?
b) Qual a temperatura a que ela corresponde?
c) Em que região do espectro ela é detectada?
d) De onde ela provém?
e) Em que época do Universo ela foi gerada?
f) Por que ela é uma evidência a favor da teoria do
Big Bang?

Até a próxima aula!

Área 3, Aula 7, p.11


Müller, Saraiva & Kepler
Aula 8 – Cosmologia: evolução e futuro do Universo. Área 3, Aula 8

Alexei Machado Müller, Maria de Fátima Oliveira Saraiva e Kepler de Souza Oliveira Filho

Representação da evolução do Universo do período de “inflação”


(à esquerda) até 13,7 bilhões de anos após com a recepção dos sinais da
radiação cósmica de fundo (à direita) pelo satélite WMAP, enviado em
2001. Crédito: NASA / WMAP Science Team.

Introdução
Prezado aluno, em nossa oitava e última aula, da
terceira área, vamos continuar o estudo de Cosmologia,
mas com ênfase na evolução e futuro do Universo.
Bom estudo!
Objetivos da aula
Nesta aula trataremos da evolução e do futuro do
Universo e, ao final, esperamos que você esteja apto a:
• entender como a densidade do Universo
determina se ele vai se expandir para
sempre ou não;
• descrever os possíveis destinos do Universo,
de acordo com a teoria do Big Bang,
relacionando cada destino com a
geometria do Universo e com a sua
densidade;
• definir densidade crítica do Universo e
demonstrar sua relação com o valor da
constante de Hubble;
• relacionar conceitos como inflação e
energia escura com os problemas que os
originaram;
• resumir as características do Universo de
acordo com o conhecimento atual em
termos de idade, conteúdo geometria e
futuro possível.

Como será o futuro do


Universo?
O Destino do Universo
O Universo está atualmente se expandindo, mas
essa expansão durará para sempre? Ou parará algum dia
e o Universo começará a colapsar? E se vivemos em um
universo oscilante, repetidamente se expandindo e
colapsando?
Na aula passada vimos que Friedmann e Lemaître
calcularam as possíveis soluções para as equações da
relatividade geral, e viram que não havia necessidade de
incluir constante cosmológica se não fosse feita a
exigência de um universo estático. Eles encontraram três
tipos de soluções, dependendo da densidade do Universo:
Densidade crítica para uma densidade abaixo de um certo valor, o Universo
expandiria para sempre, pois a gravidade nunca seria
Mínima densidade que o
Universo deve ter para, um forte o suficiente para parar a expansão; para uma
dia, parar de se expandir. densidade acima desse valor, o Universo um dia pararia de
Se a densidade do se expandir e passaria a se contrair; a terceira solução é o
Universo fosse menor que a caso limite entre expansão eterna e expansão seguida de
crítica, o Universo nunca
pararia de expandir. contração e corresponde ao valor de densidade exato e
Se a densidade fosse suficiente para parar a expansão, chamada densidade
maior que a crítica o crítica.
Universo se contrairia.
Densidade crítica
Para entender melhor o conceito de densidade
crítica, vamos fazer uma analogia com um sistema de dois
corpos interagindo gravitacionalmente.
Um universo que se expande para sempre
corresponde ao sistema com energia total positiva, no
qual a velocidade relativa entre os dois é grande demais
para que se mantenham orbitando mutuamente, de tal
Área 3, Aula 8, p.2
Müller, Saraiva & Kepler
forma que um passa pelo outro e se afastam para sempre
- o sistema é não ligado, ou aberto;
Um universo que para de se expandir e passa a se
contrair corresponde ao sistema com energia total negativa,
em que os dois corpos ficam orbitando em torno de um
centro de massa comum – o sistema é ligado, ou fechado;
O caso limite entre expansão eterna e recolapso
corresponde ao sistema que tem a velocidade relativa
necessária e suficiente para o sistema deixar de ser fechado
e ficar aberto, ou seja, corresponde à velocidade de
escape.
Assim, vamos definir a densidade crítica a partir da
. definição de velocidade de escape:

2G M
v esc = .
r
Considerando que a velocidade, aqui, é a
velocidade de afastamento entre as galáxias, pela Lei de
Hubble temos que:
v = Ho r.

A massa total do Universo com densidade igual à


densidade crítica é:
4
M = π r 3 ρcrítica .
3
Substituindo as expressões de v e de M na primeira
equação, temos:
4
2G π r 3 ρcrítica
Densidade crítica 2 2
Ho r = 3 ,
r
3 HO2
ρc =
8π G
. ou
3Ho2
ρcrítica = .
8π G

Vemos assim que a densidade crítica (ρc) depende apenas


do valor de H0, pois G é uma constante (a constante
gravitacional). Para H0 = 71 km/s/Mpc,
Valor da densidade crítica
para H0 = 71 km/s/Mpc
ρc = 0,94 x 10 −26 kg / m3 .
−26 3
ρc = 0, 94 x 10 kg / m .

Esta densidade crítica corresponde a cinco átomos


de hidrogênio por metro cúbico, dez milhões de vezes
menor do que o melhor vácuo que pode ser obtido em um
laboratório na Terra. Note que a densidade do Universo
diminui com a expansão, mas a densidade crítica também
diminui, pois H0 diminui. Em um universo plano ρ/ρ crítica
permanece constante e igual a 1.
Mas, qual é a densidade do Universo?
Densidade de Matéria no Universo
A densidade de matéria no Universo não é bem
conhecida. Pela contagem de galáxias, os astrônomos
acham uma densidade média de matéria luminosa de
cerca de 2 x10-29 kg/m3. Se o Universo fosse constituído
apenas de matéria luminosa (matéria que emite radiação
eletromagnética), viveríamos em um universo aberto.
Mas, como já sabemos, a maior parte da massa das
galáxias e de aglomerados de galáxias é matéria escura,
Área 3, Aula 8, p.3 isto é, matéria que não emite radiação eletromagnética, e
Müller , Saraiva & Kepler que só é detectada pela força gravitacional que exerce na
matéria luminosa. Não se sabe o que é essa matéria escura.
Ela poderia se constituir de partículas normais (bárions),
prótons e nêutrons, compondo buracos negros, anãs marrons
e planetas, mas os estudos feitos procurando esses objetos
demonstram que menos de 2% da matéria de nossa Galáxia
está em objetos compactos, isto é, a matéria escura também
não está na forma de buracos negros ou estrelas compactas.
Mais provavelmente ela está na forma de partículas exóticas
ainda não detectadas na Terra.
Matéria escura
Levando em conta a matéria escura, a densidade
Matéria que não emite total de matéria no Universo (ρm), é no mínimo 100 vezes maior
radiação eletromagnética,
só é perceptível pela ação
do que a densidade de matéria luminosa, ou seja,
gravitacional que exerce ρm ≈ 2 x 10-27 kg/m3. Ainda assim, a densidade de matéria é
sobre matéria luminosa. menor do que a densidade crítica, indicando uma expansão
eterna.

Densidade do Universo Atualmente sabemos que, além de matéria escura, o


Universo contém uma componente chamada “energia
Sem a matéria escura seria escura”, que contribui para a densidade total do Universo.
2,0 x 10-29 kg/m3. Falaremos mais sobre isso no final dessa aula.
Com a matéria escura Os Três Tipos de Universo
poderia chegar a
2,0 x 10-27 kg/m3. As equações da relatividade geral, sem constante
cosmológica, permitem três tipos de universos classificados de
Universo plano
acordo com a sua densidade relativa à densidade crítica.
Curvatura do espaço é Definindo um parâmetro de densidade Ω0 como a
nula.
razão entre a densidade de matéria no Universo (ρm) e a
Corresponde ao Universo densidade crítica (ρc), temos:
com densidade igual à
densidade crítica.
Ω0 =ρm/ρc.
O seu futuro é parar a
expansão num tempo Sendo:
infinito (limite entre
expansão eterna e 0 < Ω0 < 1 corresponde a um universo aberto.
recolapso), sua forma é
representada por uma Ω0 >1 corresponde a um universo fechado.
superfície plana.
Ω0 = 1 corresponde a um universo plano
Universo fechado (marginalmente fechado).

Curvatura do espaço
Nesses três tipos de universo a expansão desacelera
positiva, com formato com o tempo, devido à gravidade, mas apenas no segundo
esférico. caso (fechado) a expansão vai parar num tempo finito.
Corresponde ao Universo
com densidade maior do Cada tipo de universo obedece a uma geometria,
que a densidade crítica. determinada pela curvatura do espaço. O espaço é
O seu futuro é o recolapso.
tridimensional, e para nós é muito difícil (ou impossível)
imaginar um espaço tridimensional curvo. Mas podemos
Universo aberto perfeitamente imaginar uma superfície curva, pois usamos a 3ª
dimensão para curvar as outras duas. Então vamos usar uma
Curvatura do espaço
analogia em duas dimensões para representar a forma de
negativa.
Corresponde ao Universo cada tipo de universo.
com densidade menor do
que a densidade crítica.
Um universo plano tem curvatura do espaço nula,
O seu futuro é a expansão sendo representado por uma superfície plana na analogia
eterna, e sua forma é bidimensional. Ele obedece à geometria euclidiana, segundo
representada pela a qual, duas retas paralelas nunca se encontram, e os ângulos
superfície de uma sela.
internos dos triângulos somam 180º. É o espaço com que
Lembre que somente no estamos acostumados.
fechado a expansão
pararia num tempo finito. Um universo fechado tem curvatura do espaço
positiva; na analogia bidimensional, o espaço tem a forma de
uma superfície esférica. Na geometria esférica, duas retas
paralelas convergem, e os ângulos internos de um triângulo
medem mais de 180º.
Em um universo aberto, a curvatura do espaço é
Área 3, Aula 8, p.4
negativa; na analogia bidimensional, o espaço tem a forma
Müller, Saraiva & Kepler de uma superfície em forma de sela. A geometria é
hiperbólica, o que significa que duas retas paralelas divergem,
e os ângulos internos de um triângulo medem menos de 180º.

Figura 03.08.01: As três possíveis geometrias do Universo com as superfícies que


apresentariam.

Qual destes modelos representa o Universo real?


Bem, essa pergunta continua sendo um dos cernes da
Cosmologia moderna. Mas, a tendência atual é pensar que
há indicações de que vivemos em um Universo plano.
Analisando as flutuações existentes no mapa da radiação
Universo plano cósmica de fundo, comparando os tamanhos das flutuações
observadas com tamanhos esperados de acordo com
Há grandes indícios de que diferentes geometrias do Universo, (ver as figuras 03.08.02 e
o Universo é plano.
03.08.03), resulta que o Universo é plano.

Figura 03.08.02: Mapa do céu obtido pelo satélite Wilkinson Microwave

Anisotropy Probe (WMAP) da NASA, lançado em 2001, com resolução angular


de 0,21° em 93 GHz, As regiões vermelhas são mais quentes, (com
temperaturas de 2,9 K), do que a média que é 2,7 K. As azuis são mais frias
(com temperaturas de 2,5 K).

Figura 03.08.03: Num universo aberto, devido à curvatura negativa, os raios de


luz chegam a nós de direções que parecem mais próximas do que são, e as
flutuações ficam com tamanho menor. Num Universo fechado, os raios de luz
chegam de direções que parecem mais afastadas do que são, e as
Área 3, Aula 8, p.5 flutuações ficam com tamanho maior. No Universo plano, os raios de luz
Müller, Saraiva & Kepler chegam das direções reais, e os tamanhos ficam reais.
Inflação

Na aula passada vimos que no início o Universo passou


por uma fase de expansão extremamente rápida, tal fase é
chamada inflação. Essa fase não fazia parte do modelo
padrão do Big Bang, mas foi sugerida nos anos 1980 para
tentar explicar duas questões importantes que não tinham
resposta no modelo então vigente. Essas questões ficaram
conhecidas como o Problema da Planicidade e Problema do
Horizonte.
Problema da Planicidade
Inflação

Fase que o Universo passou


por uma expansão mais Por que a densidade do Universo é tão próxima da densidade
rápida que a velocidade da crítica?
luz.
Segundo a teoria da A densidade de matéria no Universo é de 20 a 100%
inflação, o Universo iniciou da densidade crítica. Por que não é 1.000% ou 0,001%? O fato
muito menor do que na
de a densidade do Universo ser hoje tão próxima da crítica,
teoria original, e a inflação o
teria deixado enorme muito significa que no início essa densidade era diferente da
rapidamente, densidade crítica por menos de uma parte em 1015, pois
desconectando regiões qualquer diferença maior do que isso no início implicaria numa
distintas muito rapidamente e
diferença muito gritante hoje. Em termos de curvatura do
achatando a sua curvatura.
espaço, isso significa que se o Universo não fosse exatamente
plano no início, ele não poderia ser quase plano como é hoje.
Problema do Horizonte

Por que o Universo em larga escala é tão homogêneo e


isotrópico?

A radiação cósmica de fundo apresenta uma grande


isotropia; duas regiões opostas no céu têm a mesma
aparência. Isso leva a crer que duas regiões opostas uma vez
estiveram conectadas, de forma a transmitir energia uma para
a outra. Mas, pelo modelo do Big Bang, quando essas regiões
emitiram a radiação que agora está chegando a nós
provinda delas, elas já se encontravam separadas por uma
distância maior do que a luz poderia percorrer no tempo de
existência que o Universo tinha então. Ou seja, essas regiões
estavam fora do "horizonte" uma da outra. Então, a menos
que o Universo tivesse iniciado perfeitamente homogêneo
(mas nesse caso as galáxias nunca teria se formado), não
existe explicação para que ele seja tão homogêneo hoje.
Por volta de 1980, o físico Alan Guth propôs a teoria da
Inflação, que poderia responder essas perguntas.
Basicamente, essa teoria diz que, no início do Universo,
quando a força forte se separou da força eletro-fraca, houve
uma transição de fase que liberou enorme quantidade de
energia latente (energia do vácuo) que fez o Universo se
expandir por um fator de 1050 em menos de 10-36 s. Essa
superexpansão é chamada Inflação. A inflação teria tornado
"desconectadas" duas regiões que eram anteriormente
conectadas, respondendo assim ao "problema do horizonte",
e resolvendo também o problema da planicidade, pois
qualquer curvatura que o Universo tivesse tido anteriormente
ao período da inflação, essa curvatura teria "desaparecido"
com a expansão hiper rápida.

Área 3, Aula 8, p.6


Müller, Saraiva & Kepler
Figura 03.08.04: Tamanho do Universo em função do tempo. A linha
pontilhada representa a enorme e rápida expansão sofrida pelo Universo
aos 10-35 segundos de vida, quando passou do tamanho de 10-60 para 10-10
cm, segundo o modelo inflacionário. São indicadas também as épocas
em que foram formados o hidrogênio e hélio, e a época em que ficou
transparente.

Para saber mais sobre Inflação acesse o link:


http://www.if.ufrgs.br/~thaisa/cosmologia/inflacao.htm.
Vamos apresentar um exemplo para esclarecer o
conceito de inflação:
Considere que no instante t = 10-37 s, o raio do
Universo fosse 0,01 m, e que no instante t = 10-35 s fosse 0,1m.
Qualquer um desses raios é maior do que a
distância que a luz poderia ter percorrido no tempo de vida
do Universo correspondente, pois essa distância é:
c.t = (3 x 108 m/s).(10-37 s) = 3 x10-29 m (comparado com
0,01 m) , ou:
c.t = (3 x 108 m/s).(10-35 s) = 3 x 10-27 m ( comparado com 0,1
m).
Portanto, dois pontos nas extremidades do Universo
já estariam desconectados desde t = 10-37 s, e não
poderiam estar em equilíbrio térmico. Mas, se
considerarmos que o raio do Universo em t = 10-37 s fosse de
10-5, então ele seria suficientemente pequeno para que a
informação fosse transmitida de um ponto a outro, e ele
poderia então estar em equilíbrio. Se o Universo tivesse
então, subitamente, inflado por um fator de 1050 em t = 10-37
s, o novo raio, seria 10-51 m x 1050 = 0,1 m, compatível com o
Big Bang padrão.
O fator pelo qual o Universo inflou depende do
modelo inflacionário, o que importa é que ele faz o
Universo crescer enormemente. O fato da velocidade da
expansão durante a inflação ser maior do que a
velocidade da luz não fere as leis da Física, pois o que é
proibido é a propagação da informação no espaço
ultrapasse a velocidade da luz, mas aqui é o próprio
espaço-tempo que está se expandindo, e a Física não
estabelece limites para a velocidade com que isso pode
acontecer.
Energia Escura
Até o final do século passado os astrônomos
pensavam que a expansão do Universo devia estar
ocorrendo de forma desacelerada, devido à força
gravitacional da matéria que o constitui.
Área 3, Aula 8, p.7
Müller, Saraiva & Kepler
Em 1998, dois times de astrônomos estudando
supernovas em galáxias distantes, observaram que essas
galáxias estão se movendo mais lentamente do que seria
esperado para uma expansão constante, o que indica que
a taxa de expansão está se acelerando! Quanto mais o
tempo passa, mais rápido as galáxias se afastam umas da
outras!

Energia escura Figura 03.08.05: Velocidade de recessão em função da distância mostra


que galáxias muito distantes têm velocidades de recessão menores do
Nome genérico dado para a que a correspondente à expansão em taxa constante (linha reta) quando
componente do Universo se esperava que tivessem maiores velocidades no passado do que no
que causa a expansão presente.
acelerada. Ela provoca a
repulsão sobre a matéria.
Isso levou os cientistas a pensarem que o Universo
pode estar dominado por uma componente com efeito de
repulsão que atua no sentido contrário ao da gravidade,
uma espécie de antigravidade que causa a aceleração da
expansão.
Assim, 70 anos depois de Einstein ter retirado a
constante cosmológica de suas equações, ela voltou a ser
pensada como uma possível explicação para a expansão
acelerada observada.
A constante cosmológica é também chamada
energia do vácuo, por ser supostamente gerada por
flutuações quânticas no vácuo - pares virtuais de matéria e
antimatéria virtuais, constantemente sendo criadas e
destruídas em um tempo muito pequeno de forma a não
ferir a lei macroscópica de conservação da matéria.
O nome genérico dado para a componente do
Universo que causa a expansão acelerada, incluindo
constante cosmológica, é "energia escura". [A energia
escura não deve ser confundida com matéria escura. A
matéria escura, da mesma forma que a matéria normal
(formada de prótons, nêutrons e elétrons), possui gravidade,
exercendo força de atração sobre a matéria. Ela é
chamada escura porque não emite radiação
eletromagnética e, portanto, não pode ser detectada em
nenhuma faixa do espectro eletromagnético. Já a energia
escura provoca repulsão sobre a matéria.]
Existem diferentes modelos de energia escura, sendo
a constante cosmológica um deles. Outro modelo é o da
quintessência. Esse nome (quinta essência) faz alusão a
Aristóteles, que considerava que o Universo era composto
de quatro elementos principais - terra, água, ar e fogo-,
mais um quinto elemento, uma substância etérea que
permeava tudo e impedia os corpos celestes de caírem
sobre a Terra. No contexto da energia escura, ele é usado
para designar um campo dinâmico quântico que é
Área 3, Aula 8, p.8 gravitacionalmente repulsivo.
Müller, Saraiva & Kepler
A dinamicidade é a propriedade mais atraente da
quintessência. O maior desafio de qualquer teoria de
energia escura é explicar o fato de ela existir na medida
exata: numa quantidade não tão grande para impedir a
formação das galáxias no Universo primordial, e nem tão
pequena que não pudesse ser detectada agora. A energia
do vácuo (a constante cosmológica de Einstein) é
totalmente inerte, mantém a mesma densidade o tempo
Densidade do Universo todo.
associado à energia escura
Portanto, para explicar a quantidade de energia
Seria de 70 % da densidade escura hoje, os valores da constante cosmológica deveriam
crítica. ter sido muito bem sintonizados na criação do Universo para
ter o valor adequado com as observações de hoje. Em
contraste, a quintessência interage com a matéria e evolui
com o tempo, de forma que se ajusta naturalmente aos
valores observados na época atual.

Se a força repulsiva da Não se sabe a natureza da energia escura que


energia escura continuar preenche o Universo, mas os astrônomos que a estudam
dominando sobre a calculam que tem um parâmetro de densidade de 0,7, ou
gravitacional o Universo
se expandirá
seja, a densidade do Universo associada à energia escura é
cada vez mais 70% da densidade crítica.
rapidamente, acabando
num final catastrófico, Se a força repulsiva da energia escura continuar
chamado grande dominando sobre a força atrativa da gravidade, então o
estilhaçamento. Universo se expandirá cada vez mais rapidamente, fazendo
com que galáxias e tudo que tem nelas, incluindo estrelas,
planetas e os próprios átomos acabem destroçados num
final catastrófico, batizado de grande estilhaçamento.

Figura 03.08.06: Possíveis cenários para a expansão (e possivelmente


contração do Universo.). A curva vermelha representa o Universo sem
energia escura e com densidade de matéria maior do que a densidade
crítica, que termina em uma grande implosão (Universo fechado,
recolapsante); a verde, o Universo sem energia e com densidade igual à
densidade crítica, que se expande para sempre com taxa de expansão
tendendo a zero (Universo plano, ou crítico); a azul o Universo sem energia
escura e com densidade de matéria menor do que a densidade crítica, que
se expande para sempre embora cada vez mais devagar (Universo aberto,
com taxa de expansão constante) e a laranja, o Universo dominado pela
energia escura, o qual se expande aceleradamente tendendo ao grande
estilhaçamento.

Resultados recentes de observação da radiação


cósmica de fundo com o satélite Wilkinson Microwave
Anisotropy Probe (WMAP), lançado em 2001, indicam que:

Área 3, Aula 8, p.9


Müller, Saraiva & Kepler
• a matéria normal constitui apenas 4% do
Universo, 23% do Universo é constituído de
matéria escura e 73% é constituído de
energia escura. Como só conhecemos a
matéria normal, 96% do Universo é
desconhecido para nós.

• considerando a densidade de matéria do


Resultados de observação Universo e da energia escura, a densidade
da radiação de fundo do Universo é praticamente igual à
- Constituição do Universo;
densidade crítica, indicando que o Universo
4% matéria normal; é plano.
23% matéria escura e
73% de energia escura. • a idade do Universo é de 13,7 bilhões de
Como só conhecemos a anos.
matéria normal,
conhecemos apenas 4% Tabela 03.08.01: Percentual da composição do Universo.
do Universo.
- A densidade do Universo
é praticamente igual a Porcentagem do
Tipo
crítica, indicando que o Universo
Universo é plano.
- Idade do Universo13,7 Energia escura 73%
bilhões de anos.
Matéria escura 23%
Matéria normal 4%
Radiação 0,005%

Resumo
O destino do Universo é determinado pela sua
densidade. Se a densidade for baixa, a expansão vai
continuar para sempre; se a densidade for alta, a expansão
vai parar um dia e o Universo começará a contrair. O valor
da densidade que estabelece o limite entre expansão
eterna e recolapso é chamado de densidade crítica.
A densidade crítica está relacionada ao valor da
taxa de expansão do Universo pela expressão:

3HO2
ρc = .
8π G

Dependendo da razão entre a densidade de


matéria e a densidade crítica há três tipos de universo:
- o plano, em que a curvatura do espaço é nula.
Corresponde ao Universo com densidade igual à
densidade crítica. O seu futuro é parar a expansão num
tempo infinito (limite entre expansão eterna e recolapso)
sua forma é representada por uma superfície plana;
- o fechado, com formato esférico, apresenta
curvatura positiva, seu futuro é o recolapso. Corresponde
ao Universo com densidade maior do que a densidade
crítica;
- o aberto, com formato hiperbólico, apresenta
curvatura negativa. Seu futuro é a expansão eterna, e sua
geometria é representada pela superfície de uma sela.
Corresponde ao Universo com densidade menor do que a
densidade crítica.
Dos modelos, somente no fechado a expansão
pararia num tempo finito.

Área 3, Aula 8, p.10


Müller, Saraiva & Kepler
Para HO = 71 km/s/Mpc, a densidade crítica vale:

ρc = 0, 94 x 10−26 kg / m3 ,
sendo a densidade do Universo menor que a densidade
crítica o mesmo nunca pararia de se expandir. Se ela
fosse maior que a crítica o Universo se contrairia.
Segundo a teoria de Taylor, o Universo passou por
um período muito curto de sua formação em que se
expandiu com uma velocidade muito maior do que a da
luz. Essa teoria foi desenvolvida para resolver algumas
questões para as quais a teoria original do Big Bang não
tinha resposta, tais como sua extraordinária uniformidade
(problema do horizonte) e a proximidade de sua
densidade com um valor da densidade crítica (problema
da planicidade).
Segundo a teoria da inflação, o Universo iniciou
muito menor do que na teoria original, e a inflação o teria
deixado enorme muito rapidamente, desconectando
regiões distintas e achatando a sua curvatura.
Além da matéria normal e da escura o Universo
ainda tem terceira componente chamada energia
escura.
Energia escura é o nome genérico que é dado à
componente do Universo que causa a expansão
acelerada. Ela provoca a repulsão sobre a matéria. Se a
força repulsiva da energia escura continuar dominando
sobre a gravitacional o Universo se expandirá cada vez
mais rapidamente, acabando num final catastrófico,
chamado grande estilhaçamento.
Os resultados atuais das observações da radiação
de fundo do Universo indicam que o Universo é constituído
apenas de 4% de matéria normal, a que é conhecida;
23% de sua constituição é de matéria escura, que não
conhecemos e 73% de energia escura. Logo conhecemos
apenas 4% do Universo. A densidade do Universo é quase
a mesma da crítica, indicando que o Universo é plano. A
idade do Universo é de 13,7 bilhões de anos.

Questões de Fixação
Após a leitura e compreensão dos assuntos
tratados nessa aula responda as questões de fixação a
seguir, discuta suas respostas com seus colegas no fórum
de discussões.
Qualquer dúvida contate o tutor.
Bom trabalho!

1. De que maneira o destino do Universo, sua forma


e sua densidade média estão relacionados?
2. O que é o parâmetro de densidade do
Universo?
3.
a) Deduza a expressão da densidade crítica.
b) Qual a sua relação com a constante de
Área 3, Aula 8, p.11
Hubble?
Müller, Saraiva & Kepler
4. Determine o valor da densidade crítica para Ho= 71
km/s/Mpc.
5.
a) A medida que o Universo envelhece, devido à
expansão, sua densidade média diminui. Se a expansão é
desacelerada, o que acontece com o valor de H0 quando o
Universo fica mais velho?
b) O que acontece com o valor de da densidade
crítica?
c) O que acontece com o parâmetro de densidade?
6. Por que a inflação foi introduzida na teoria do Big
Bang?
7.
a) O que é energia escura?
b) Por que os astrônomos pensam que ela existe?
8. É comum ouvir os cientistas dizerem que vivemos em
um universo do qual só conhecemos 4%. A que eles estão se
referindo quando dizem isso?
Esta foi a nossa última aula na modalidade a distância,
fiquem atentos a data da prova da terceira área.
Boa prova!

Área 3, Aula 8, p.12


Müller, Saraiva & Kepler

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