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PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA – CAPES-UNISINOS

Andréia Santos da Costa


E.E.E.M. Caic Madezatti

RESENHA
BUNZEN, Clecio. Da era da Composição à era dos gêneros: O ensino de
produção de textos no ensino médio. In: Português no ensino médio e
formação do professor. São Paulo: Parábola, 2006.

Clecio Bunzen é graduado em Letras, mestre e doutor em Linguística


Aplicada, professor titular do curso de Pedagogia da Universidade Federal de
São Paulo (UNIFESP). Desenvolve pesquisas direcionadas a produção,
avaliação e uso do livro didático de língua portuguesa de Ensino Fundamental I
e II, assim como de Ensino Médio.
O Capítulo 8 organiza-se em cinco etapas, nas quais o autor discute as
práticas de ensino voltadas à produção textual. Ele inicia o texto apresentando
o assunto e aponta para a fragmentação das disciplinas escolares, em que o
professor se torna especialista em determinados conteúdos dentro da própria
disciplina, ou seja, temos, no ensino fragmentado, a aula de redação, a aula de
gramática e a aula de literatura, ensinadas separadamente.
Para explicar essa fragmentação, Bunzen nos remete à história recente
do ensino sistemático do escrever, em que é possível perceber o destaque
dado às regras gramaticais e à leitura, no qual os gêneros literários eram
classificados e apresentados nas escolas como modelos do bem escrever, pois
apontavam as qualidades e os defeitos de estilo. O texto era entendido como
tradução do pensamento lógico, e acreditava-se que o processo de
aprendizagem se dava por meio da imitação de bons autores (FIORIN, 1999. p.
154 apud BUNZEN, 2006). Depois, o texto passou a ser visto como objeto de
uso, servindo apenas para desenvolver a criatividade nos alunos.
Algumas mudanças nos objetivos, nos procedimentos didáticos e na
formulação de métodos para o ensino da língua materna ocorrem a partir da
LDB n. 5692/71, em que o enfoque passou a ser a compreensão e o estudo
dos códigos comunicacionais. Em 1977, com o Decreto Federal n. 79.298 foi
estabelecida a obrigatoriedade da prova de redação nos vestibulares. A
obrigatoriedade teve como objetivo melhorar o desempenho do aluno na
produção de textos escritos, porém acabou por cristalizar a redação do
vestibular como objeto de ensino e deixou de perceber, nas produções escritas
dos alunos, um sujeito- autor.
A partir de breve relato da história recente do ensino sistemático do
escrever, o autor lança a pergunta: “O texto na sala de aula: redação ou
produção de texto?”. Ele responde, dizendo que, mesmo com todas as
mudanças, o professor continua valorizando o produto final que esteja de
acordo com as regras do modelo cristalizado da redação do vestibular, ou seja,
não há interação com o texto.
Entre 1998 e 1990, surge a expressão “produção de textos”, trazendo
novas concepções de ensino e de aprendizagem. A escola passa agora a
preocupar-se com o contexto de produção e recepção dos textos, e BUZEM
lança o seguinte questionamento “escrevemos na escola ou para a escola?” O
autor esclarece que, com essa nova concepção, os alunos devem passar a
produzir textos diversos que se aproximem dos usos extraescolares com
função específica e situada dentro de uma prática escolar (BUNZEN, p.148). A
preocupação, na produção de textos, deve focar: quem escreve, de que forma
escreve e para quem escreve.
Em outro tópico, Bunzen destaca a diversidade de práticas sociais e o
uso de gêneros e critica a exemplificação dos processos de produção de
textos. Para isso, faz alguns apontamentos sobre os PCNEM, que adotam, de
forma mais camuflada, o texto como unidade de ensino e os gêneros como
objeto de ensino. O autor faz referência a Bazerman (2005, p. 31 apud
BUNZEN, 2006): “a definição de gêneros como apenas um conjunto de traços
textuais ignora o papel dos indivíduos no uso e na construção de sentidos”, e a
Bakhtin (1979, 301 apud BUNZEN, 2006)), segundo o qual “a escolha de um
gênero é determinada em função da especificidade da esfera de produção em
que ocorre a comunicação verbal, pelas necessidades de uma temática e do
conjunto constituído pelos participantes”.
Com isso, Bunzen conclui que as aulas de produção de textos não
podem ser dissociadas de atividades de leitura com ênfase na compreensão
ativa e responsiva, pois assim se estará promovendo a inter-relação entre as
práticas sociais de linguagem, as situações de produção e os gêneros, pois as
práticas de leitura e de produção textual fazem parte do cotidiano dos alunos
em diversos espaços de socialização. Elas não podem ser reduzidas a uma
prática escolar que visa apenas à correção gramatical e ao alcance de uma
nota.
Trazendo estas ideias para a sala de aula, percebe-se a dificuldade em
compreender a produção textual como atividade de inter-relação entre as
práticas sociais de linguagem e as situações de produção e os gêneros, uma
vez que tanto para professores como para alunos isso ainda não está claro.
Se, por um lado, o professor quer inserir, em sua disciplina, práticas de
ensino que desenvolvam o pensamento crítico, o hábito da leitura, a coerência
na organização e na apresentação das ideias, por outro lado vê-se obrigado a
dar conta de um conteúdo programático extenso e incoerente, pois as escolas
continuam preparando o aluno para o mercado de trabalho “operário”. Eles, por
sua vez, devem e querem estar preparados para escreverem uma boa redação
e alcançar uma boa nota no vestibular ou no ENEM e, assim, ingressar na
Universidade ou se ver livre do Ensino Médio.
A discussão sobre produção textual em todos os níveis,reafirma Bunzen,
deve focar “quem escreve, de que forma escreve e para quem escreve” para,
assim, formar alunos/cidadãos capazes de produzir textos coerentes, objetivos
e críticos no seu cotidiano.
A obra Português no ensino médio e formação do professor é leitura
imprescindível, pois esclarece possíveis equívocos a respeito do tema
produção textual, promove a discussão para uma mudança na forma de
abordá-lo e aponta novos caminhos para o ensino e aprendizagem.

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