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Direito Penal III 1

Consequências Jurídicas dos Crimes

√ Objecto da doutrina das consequências jurídicas do crime


O que constitui o objecto do DP III são as consequências jurídicas do crime.
Para que se verifique um crime é necessário que haja uma acção típica, ilícita, culposa e
punível.
No DP vale o princípio da legalidade, o que significa que “não há crime nem pena sem
lei”. Todas as sanções penais aplicáveis têm que estar descritas na lei (art.40 a 130, CP).

⇒ A doutrina das consequências jurídicas do crime tem como objecto:


↝ As penas:
- Principais:
Prisão
Multa: alternativa
autónoma
- Acessórias
- Substituição
 Aplicáveis as pessoas singulares e as pessoas colectivas

↝ As medidas de segurança:
- Privativas da liberdade
- Não privativas da liberdade

Reacções criminais previstas no nosso sistema sancionatório

Pena: sanção criminal que Medidas de segurança:


pressupõe a culpa do agente ≠ sanção criminal que
Ou seja, pressupõe a perigosidade do
O pressuposto da aplicação agente. São aplicadas
da pena é a culpa do agente independentemente de
culpa.
Ou seja,
O pressuposto da aplicação
da medida de segurança é a
perigosidade do agente

(Receio que o agente cometa


no futuro os mesmos factos)

Nota: pode haver situações em que ao mesmo agente seja aplicada uma pena e uma
medida de segurança, desde que esta não seja privativa da liberdade.

No objecto das consequências jurídicas do crime há a inclusão de:


Pressupostos positivos da punição (art.113 e ss)
Pressupostos negativos da punição (art.118 e ss, 122 e ss e 127 e ss)

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√ Tipos de penas
∙ Penas principais: são aquelas que estão expressamente previstas no tipo legal de crime
e que podem ser fixadas pelo juiz na sentença independentemente de qualquer outra pena.
Só temos dois tipos de penas principais para as pessoas singulares:
⁃ Pena de prisão p.ex. art.131
⁃ Pena de multa, poder ser; p.ex. art.217
Alternativa: quando no tipo legal de crime surge a alternativa à pena de
prisão (p.ex.art.143/1)
Autónoma: quando é a única pena prevista no tipo legal de crime (p.ex.
art.268/3, 366/2)
Para as pessoas colectivas temos: ⁃ Pena de dissolução p.ex. Art.90-A nº1, 90-
⁃ Pena de multa B, 90-F

Antes de 1995, havia a multa complementar (multa + pena de prisão ao mesmo tempo).
Hoje isso não é possível no CP, mas é possível em legislação penal extravagante.

∙ Penas de substituição: são aplicadas e executadas em vez de uma pena principal, ou


seja, são penas que podem substituir qualquer uma das penas principais concretamente
determinadas.
Têm a sua circunscrição à pequena e média criminalidade, quando o tribunal aplica uma
pena de prisão não superior a 5 anos ou uma pena de multa não superior a 240 dias.
Nos finais do séc. XIX constatou-se que não era viável aplicar penas de prisão de curta
duração. Por vezes, a prisão potência a perigosidade criminal do agente, tem um efeito
criminógeno sobre o agente, o que levou ao aparecimento destas penas de substituição, para
substituírem as penas de prisão até 5 anos (antes da reforma de 2007 era de 3 anos)
Este movimento faz alusão ao princípio da necessidade, estabelecendo a pena de prisão
como pena de última ratio (art.18 da CRP).
Segundo a Doutora Maria Antunes com a reforma de 2007 podia-se ter ido mais longe,
dado que se podia incluir na pena principal outras penas para além da pena de prisão e da pena
de multa, p.ex. a pena de prestação de trabalho a favor da comunidade.
Para as pessoas singulares:
⁃ Pena de substituição da pena de multa
A única que existe é admoestação, que é uma censura oral feita ao
arguido em tribunal pelo juiz (art.60)
⁃ Penas de substituição da pena de prisão:
art.43 nº1 e nº3: substituição da pena de prisão pela pena de multa
art.44 nº1 al.a): regime de permanência na habitação
art.45: Prisão por dias livres (prisão de fins de semana)
art.46: regime de semi-detenção (o agente durante o dia sai da prisão e à noite regressa)
art.50: suspensão da execução da pena de prisão
art.58: prestação de trabalho a favor da comunidade
Para as pessoas colectivas e equiparadas: art.90-C, art.90-D, art.90-E

A distinção entre as penas principais e as penas de substituição não é uma


distinção puramente conceitual.
O facto de uma situação ser catalogada de certa forma pode ter efeitos ao nível
da interpretação e da solução.
Não é insignificante qualificar uma pena de principal ou de substituição, pois
pode ser determinante entre a prisão e a liberdade do agente.

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∙ Penas acessórias: são penas cuja aplicação pressupõe a fixação na sentença


condenatória de uma pena principal ou de uma pena de substituição, ou seja, são aplicadas
conjuntamente com uma pena principal ou com uma pena de substituição.
Para as pessoas singulares:
art.66: proibição do exercício de função
art.67: Suspensão do exercício de função
art.69: proibição de conduzir veículo com motor
art.152 nº4: proibição de contacto com a vítima …
art.179 art.163: inibição do poder paternal e proibição do exercício de funções
art.246: incapacidades  art.346: penas acessórias
Para as pessoas colectivas temos: art. 90-G e ss
O legislador considera que muitas vezes a aplicação de uma única pena não assegura
eficazmente a prevenção geral sendo necessário uma resposta específica, logo faz sentido
aplicar cumulativamente uma pena acessória.

√ Medidas de segurança
∙ Privativas de liberdade
Aplicável a inimputáveis por anomalia psíquica
art.99  art.91: internamento
∙ Não privativas de liberdade
Aplicável a imputáveis como inimputáveis
art.100: interdição de actividades
art.101: cassação do título de condução de veículo com motor

√ Institutos que estão correlacionados com a prática de um crime


A prática de um crime pode dar também a condenação do agente a indemnizar a vítima.
Indemnização de perdas e danos emergentes da prática de um crime, pois com a
consequência de um crime podem existir danos.
Antes do CP de 1982 havia uma indemnização que tinha o nome de reparação que era
um efeito penal da condenação, pois era arbitrada oficiosamente e esta reparação não se
identificava com a indemnização civil, nem quanto aos fundamentos, nem quanto à sua
finalidade.
Ex. Crime de ofensa à integridade física numa discussão, há pancadaria e danos no
automóvel de A. Pode haver lugar a uma indemnização pelos danos causados, medicação e
hospital.
Antes do CP actual havia um instituto de reparação que tinha um efeito indemnizatório,
que era arbitrariamente oficioso, mas que não se identificava com a indemnização civil, nem
quanto aos fundamentos, nem quanto à sua finalidade. O estudo da reparação fazia-se como
uma verdadeira consequência jurídica do crime.
Actualmente, o art.129 pressupõe que a indemnização por perdas e danos emergentes de
um crime é regulada pela lei civil, por isso esta indemnização só é relevante do ponto de vista
do direito civil, não sendo uma consequência jurídica de carácter criminal.
Contrariamente ao que acontece com a reparação que era arbitrada oficiosamente, a
indemnização tem de ser sempre solicitada pelo lesado (art.129), em atenção ao princípio do
pedido.
Entre nós, vigora o princípio da adesão do pedido de indemnização civil ao processo
penal (art.71, CPP), o pedido de indemnização civil, ele é feito no próprio processo penal,
devido ao princípio da economia processual.

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Apesar do princípio de adesão existe uma plena autonomia da indemnização civil em


relação ao julgamento do crime (art.84, CPP), pode haver absolvição quanto à prática do crime,
mas não pode haver condenação quanto ao pagamento de uma indemnização civil.
Tem-se vindo a falar novamente na reparação, como uma nova sanção penal, aliada às
penas e às medidas de segurança. Isto, porque muitas vezes o interesse da vitima é mais bem
servido com a reparação do que com uma pena ou uma medida de segurança. E em muitos
casos de pequena e média criminalidade, a reparação pelo agente será suficiente para a
estabilização das expectativas comunitárias das normas violadas e da sua validade (caso da
prevenção geral positiva).
Também se tem invocado a ideia de que a reparação tem um largo efeito socializador.
São ideias que surgem no âmbito de uma ideia de justiça restaurativa e reparadora, criando uma
relação trilateral: Estado, delinquente, vitima.
No CPP, com a revisão de 1998, criou-se o art.82-A que refere a da reparação da vítima
em casos especiais, e esta reparação ocorre nas situações em que a vítima não deduziu um
pedido de indemnização civil, então o tribunal em caso de condenação pode arbitrar uma
quantia a título de reparação, quando especiais interesses da vítima assim o exigir.

O nosso CPP fala em reparação, mas como sendo uma indemnização, e não uma
verdadeira sanção penal.
O que integra a doutrina das consequências jurídicas do crime é a pena e as medidas de
segurança.

No processo penal, os tribunais julgam os crimes mediante uma acusação do


Ministério Público (sistema jurídico penal português)
1ª Função: A primeira imposição do tribunal é tomar posição sobre a matéria de facto. A
matéria de facto procura demonstrar uma certa realidade que aconteceu no passado. O juiz vai
tentar desvendar o que lhe é apresentado pelas partes, daí que seja importante levar ao tribunal
os elementos necessários para que seja produzida prova.
É o juiz define a matéria de facto, dado que, é em função dos factos que o tribunal vai
decidir.
2ª Função: Depois de tomar a decisão sobre a matéria de facto, o tribunal vai proceder à
qualificação jurídica comprovada pelos factos  o juiz vai dar os factos dados como provados
ou como não provados (os factos que configuram o crime X)
Perante uma certa realidade da vida, podemos ter duas realidades:

Os factos provados traduzem a Os factos não provados não


prática do crime traduzem a prática do crime
 
Condenação Absolvição

3ª Função: Aplicação da sanção criminal, como reacção ao tipo legal de crime 


consequência legalmente prevista para o tipo de crime

Nisto consiste o objecto da disciplina de DP III
Aquilo que o juiz deve fazer, uma vez verificado que o agente praticou um crime.

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√ Sistema sancionatório português

▣ Características gerais do sistema sancionatório


▪ Recusa da pena de morte e das penas perpétuas (art.24/2 e 30/1, CRP), o que é
revelação de um princípio de humanidade.
A pena de morte e a pena de prisão perpétua foram abolidas em 1852 para os crimes
políticos e em 1867 para os crimes em geral.
Nota: pode haver medidas de segurança perpétuas quando a perigosidade do agente
assim o exija (caso do internamento)

▪ Sanções privativas da liberdade constituem a última ratio da política criminal.


Dá-se preferência a sanções não privativas de liberdade (art.70)
A sanção privativa da liberdade é restritiva da liberdade do agente e nem sempre é o
mais eficaz.
Dando-se cumprimento aos princípios político-criminais da necessidade, da
proporcionalidade e da subsidiariedade (art.70 e 98)
Nota: a suspensão da execução do internamento permite ao agente cumprir a pena em
liberdade

▪ Não automaticidade dos efeitos das penas (art.30 nº4, CRP e art.65, CP)
Nenhuma pena envolve como efeito necessário a perda de direitos civis, profissionais
ou políticos.
Entre nós, o afastamento dos efeitos automáticos das penas só se efectivou com o CP de
1982

▪ Sistema tendencialmente monista ou de via única de reacções criminais.


Pois há possibilidade de aplicação de uma pena privativa da liberdade e
cumulativamente de uma medida de segurança privativa da liberdade pela prática do mesmo
facto, não for como que o sistema seja um sistema dualista, porque não são duas penas
privativas da liberdade. E também se deve ao regime da pena relativamente indeterminada
(art.83  art.20/2)
Desenvolvimento:
⁃ Sistema monista só conhece um tipo de reacções criminais; penas ou medidas de
segurança.
⁃ Sistema dualista conhece dois tipos de reacções criminais; penas e medidas de
segurança, ou seja, ao mesmo agente aplica-se a pena concretamente aplicada e uma medida de
segurança pela sua perigosidade.
Ao mesmo agente e ao mesmo facto aplica-se uma pena e uma medida de segurança
privativa de liberdade.
Este sistema põe substancialmente em causa o princípio da culpa, pois a medida de
segurança não tem por base a culpa do agente.
Pode gerar problemas ao nível da execução e da eficácia socializadora.
Mas não é esta acepção que nos interessa
O sistema ainda é monista se apesar de prever penas e medidas de segurança, ele
permitir a aplicação de penas a imputáveis e a aplicação de medidas de segurança a
inimputáveis.
Estabelece que é um sistema dualista ou monista consoante admita ou não admita que
ao mesmo agente e pela prática do mesmo facto seja aplicada uma pena e cumulativamente
uma medida de segurança privativas da liberdade.

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⁃ O sistema sancionatório português é tendencialmente monista por causa da pena


relativamente indeterminada, pois podemos aplicar uma pena privativa da liberdade e uma
medida de segurança não privativa da liberdade, pelo mesmo facto. Isto porque não são duas
penas privativas da liberdade
A possibilidade de aplicação de uma pena privativa da liberdade e cumulativamente de
uma medida de segurança não privativa da liberdade pela prática do mesmo facto, não faz com
que o sistema seja um sistema dualista.
Ex. É possível condenar uma pessoa por embriaguez (art.222) e cumulativamente a
medida de segurança de cassação do título de condução, porque não são duas penas privativas
da liberdade, daí que não seja dualista.
Assim, nesta acepção o sistema sancionatório português é um sistema tendencialmente
monista.
Temos no nosso art.99 um regime de medida de internamento.
O art.99 fala-nos no viteriato de execução que trata da aplicação ao mesmo agente de
uma pena e de uma medida de segurança privativas da liberdade, mas por factos diferentes.
Quando é imputável em relação a um facto e inimputável em relação a outro facto, aplica-se
uma medida de segurança em relação a um facto e uma pena em relação a outro facto.
Ex. crime de violação e crime de furto

Inimputável Imputável

Em relação a este Sabe que não deve


facto por neurose roubar

Aplica-se uma Aplica-se uma pena


medida de segurança

Em certos sistemas – Espanha, Itália, Alemanha – temos soluções dualistas: aplicam-se


ao mesmo agente, pelo mesmo facto uma pena e uma medida de segurança em casos de
delinquentes por tendência (especialmente perigosos) e em casos de delinquentes por
imputabilidade diminuída.
Nestes casos podemos aplicar uma pena que tem como pressuposto e limite a culpa do
agente e uma medida de segurança privativa da liberdade que tem como pressuposto a
perigosidade do agente.
 Delinquentes por tendência
Aos delinquentes por tendência aplica-se a pena relativamente indeterminada (art.83)
A pena relativamente indeterminada é uma pena só, ou seja é uma sanção apenas. Mas é
uma sanção de natureza mista, porque até certo ponto é executada de acordo com as regras da
pena e depois disso, é executada de acordo com as regras da medida de segurança.
Fica deste modo relativizada entre nós, a característica do monismo, daí que ela seja
tendencialmente monista e não puramente monista, por causa da pena relativamente
indeterminada.
 Delinquentes de imputabilidade diminuída
O delinquente tem a sua avaliação do facto diminuída, temos um agente menos culpado,
porque tem uma menor capacidade de avaliação do facto, o que leva a uma pena menor. Este
agente manifesta também uma maior perigosidade, dai que são necessárias fortes exigências de
prevenção.
De acordo com o art.29 nº2, ou o agente é considerado imputável e aplica-se-lhe uma
pena, ou é considerado inimputável e aplica-se-lhe uma medida de segurança.
É uma solução monista, ou se aplica uma pensa ou uma medida de segurança.

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Por vezes, a simples aplicação de uma pena não é suficiente para responder a essa
criminalidade, tornando-se necessário aplicar também uma medida de segurança.
O delinquente vê a sanção sempre da mesma forma, as regras de execução é que
mudam:
1ª Fase: cumprimento da pena de prisão
2ª Fase: execução como se fosse uma medida de segurança.
Se cessar a perigosidade, cessa a medida de segurança. Temos uma sanção única, mas
que vai sendo executada de duas formas diferentes. Tem uma natureza híbrida, pois partilha
características da pena e das medidas de segurança.
O limite máximo da pena relativamente indeterminada é de 25 anos. Quando chegue aos
25 anos, o delinquente imputável deve ser colocado em liberdade.
Art.90 nº3  art.92 nº3
Esta caracterização do sistema pressupõe que seja tido em conta o regime da pena
relativamente indeterminada (art.83 e ss), do qual decorre a natureza mista desta sanção; a
declaração de inimputabilidade (art.20 nº2), como resposta à especial perigosidade dos
delinquentes de imputabilidade diminuída; e o regime de execução da pena e da medida de
segurança privativa da liberdade, prevista no art.99.

▪ Outra característica do sistema sancionatório português é a extensão da


responsabilidade penal as pessoas colectivas nos domínios do direito penal clássico ou de
justiça
Uma das novidades da revisão do CP de 2007 foi a extensão da responsabilidade penal
das pessoas colectivas em relação ao CP.
Até 2007, o art.11 dizia “salvo caso contrário, só as pessoas singulares são susceptíveis
de responsabilidade penal”. E no direito penal secundário existia responsabilidade penal das
pessoas colectivas, p.ex. diploma das infracções contra a economia e a saúde pública;
diplomacia do regime geral das infracções tributárias e das infracções informáticas.
Com a reforma de 2007, alterou-se a redacção do art.11, que hoje diz que salvo os casos
previstos na lei e o disposto no nº2 deste artigo, que estabelece uma lista imensa de tipos legais
de crimes que culpam e responsabilizam as pessoas colectivas. E prevê penas para elas, prevê a
responsabilidade penal das pessoas colectivas e a aplicação de penas às pessoas colectivas.
Estas penas são as previstas desde o art.90-A a 90-M.
Tem como penas principais:
Art.90-A: pena de multa
Art.90-F: pena de dissolução (plena relativamente aplicada porque
implica a extinção da pessoa colectiva)
A pena aplicada com mais frequência é a pena de multa.
A pena principal está expressamente prevista no tipo legal de crime e pode ser aplicada
pelo juiz na sentença independentemente de qualquer outra.
Mas quando se fala de pessoas colectivas esta definição sofre uma alteração, porque os
tipos legais de crime do art.11, nº2, referem apenas como único sanção a pena de prisão.
 Como aplicar uma pena de prisão a uma pessoa colectiva
O art.11 nº2 tem sido alvo de grandes críticas por se excluir o estado e as pessoas
colectivas públicas.
Ex. art.372 corrupção: o agente é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.
Que sanção se deve aplicar?
O art.90-B dá resposta a esta questão; a regra de equiparação da pena de prisão à pena
de multa, cada mês de prisão corresponde a 10 dias de multa, neste caso o mínimo seria de 120
dias e o máximo de 960 dias de multa.

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Nos casos em que se prevê a pena de prisão, a pena de multa principal a aplicar à PC,
não está directamente prevista no tipo legal de crime, porque é necessário converter a prisão em
multa de acordo com a regra do art.90-B nº2.
Mas se o tipo legal de crime previr a multa como pena principal, então à PC será
aplicada uma multa de acordo com a moldura penal prevista nesse tipo legal de crime.
A pena principal de dissolução não está prevista em nenhum tipo legal de crime, por
isso é um desvio. A pena de multa estará prevista indirectamente no tipo legal de crime, quando
este tipo prever apenas pena de prisão. E está prevista directamente no tipo legal de crime
quando ele previr a culpa.
Há também penas de substituição que podem ser aplicadas às PC e que podem ser
substituídas: A admoestação: art.90-C
Caução de boa conduta: art.90-D Injunção judiciária
Vigilância judiciária: art.90-E Interdição do exercício de actividades
Há também penas acessórias: Art.90-A, nº2 Proibição de celebrar contratos
Art.90-G e ss Privação do direito a subsídios
Encerramento do estabelecimento
Publicidade da sentença
condenatória
▣ Princípios gerais
▪ Princípio da legalidade
Art.29 CRP  art.1
▪ Princípio da congruência entre a ordem axiológica constitucional e os bens jurídico-
penalmente protegidos
Decorre daqui a exigência da necessidade e subsidiariedade da intervenção penal
(art.18, CRP) e a ideia de que o direito penal é um direito de protecção de bens jurídicos.
▪ Princípio da proibição do excesso
Manifesta-se através do princípio da culpa: não há pena sem culpa, nem pena superior à
medida de culpa.
 O princípio da culpa não tem consagração expressa na CRP, mas ele assume-se como
princípio constitucional de protecção da dignidade da pessoa humana (art.1, 13, 26, CRP)
 O art.40/2 e 74, em caso algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa. A culpa é como
pressuposto e limite, não é fundamento nem medida da pena.
 Não pode haver pena sem culpa, nem pena superior à medida da culpa. Mas pode haver culpa
sem pena; princípio da culpa ou da unilateralidade da culpa.
 A pena pode ficar aquém da culpa
 Só esta concepção da culpa é que permite entender o instituto do CP: a dispensa de pena
(art.74) é um caso especial de determinação da pena. No fundo é declaração de culpa sem declaração de
pena. Não dá origem à absolvição do arguido, porque a sentença que decreta a dispensa de pena é uma
sentença condenatória. P.ex. pagamento de custas judiciais. O arguido é condenado mas não se fazem
exigir necessidades de prevenção. A pena aqui, não é necessária, daí que haja dispensa de pena. Os
pressupostos da dispensa de pena estão no art.74.
 Em relação às medidas de segurança, o princípio da proibição do excesso, manifesta-se através
do princípio da proporcionalidade (art.40/2/3)

▪ Princípio da socialidade
A CRP consagra o estado de direito social (art.2 e 9, CRP) o estado deve proporcionar
ao condenado um programa de ressocialização, que lhe permita conduzir a sua vida futura, sem
cometer crimes
▪ Princípio da preferência pelas reacções criminais não detentivas
É uma consequência das ideias de necessidade e de proporcionalidade /subsidiariedade
da intervenção penal (art.18 e 70: em relação às penas; e no art.98; em relação às medidas de
segurança.

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√ Finalidades das penas

São duas as teorias dos fins das penas:


Teorias absolutas
Prevenção geral: positiva
Teorias relativas negativa

Prevenção especial: positiva


negativa

▣ Teorias absolutas
Para as teorias absolutas ou retributivas a pena visa a retribuição, a expiação ou a
compensação pelo mal do crime. Tiveram um grande mérito, o princípio da culpa, negando a
aplicação de uma pena que viole a dignidade da pessoa humana.
No entanto, a teoria absoluta é recusada como teoria dos fins das penas pelo CP
português e pela doutrina portuguesa dominante.
A relação entre pena e culpa não é uma relação biunívoca. As teorias retributivas
entendem que a culpa é pressuposto, limite, medida e fundamento da pena; fase bilateral da
culpa.

O nosso CP baseia-se no princípio unilateral da culpa, numa concepção relativa.

▣ Teorias relativas ou de prevenção


Estas teorias dividem-se em duas:
Teorias de prevenção geral
Teorias de prevenção especial

∎ Teorias de prevenção geral


Pode desde logo surgir como:
∙ Prevenção negativa ou de intimidação.
A pena é vista como uma forma de intimidação das outras pessoas, pelo mal que
com ela se faz sofrer ao delinquente, e que fará com que os outros não cometam crimes.
p.ex. ladrão de cavalos, condenado à morte para servir de exemplo e não porque
roubou

Não pode ser aceite como teoria dos fins das penas, porque não define um limite
para a pena. A pena seria aquela que fosse necessária para afastar as pessoas da prática
do crime, que conduz a uma maximização das penas. Assim, o direito penal tornar-se-ia
num direito penal violador da dignidade da pessoa humana.
∙ Prevenção geral positiva ou de integração.
A sanção penal é vista como uma forma de reforçar a confiança da comunidade
na validade e na força de vigência das suas normas. Apesar de todas as violações que
tenham tido lugar, a norma continua válida. É uma reintegração da norma no
ordenamento jurídico, é uma norma válida.

É um critério que vai ao encontro da ideia do direito penal como protecção de
bens jurídicos. Permite também, encontrar uma pena adequada à culpa do agente. As
exigências de prevenção são sempre limitadas pela culpa do agente.

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∎ Teorias de prevenção especial ou individual


As teorias de prevenção especial ou individual partem da ideia de que a pena é um
instrumento de actuação preventiva sobre a pessoa do delinquente, propondo-se evitar
que no futuro ele cometa mais crimes.
Pode desde logo surgir como:
∙ Prevenção especial negativa ou de inocuização.
A pena serviria para intimidação do delinquente ou para a defesa da sociedade,
em face da perigosidade do delinquente.

Pretendia-se a separação ou a segregação do delinquente em relação à sociedade.
∙ Prevenção especial positiva ou de socialização
A pena tem como função alcançar a reinserção social do delinquente. A pena de
prisão só leva acabo o seu fim se permitir um efeito socializador. Daí que o estado deva
permitir estas condições necessárias para que o delinquente possa viver no futuro, sem
cometer crimes.

Há situações em que o agente não tem necessidade de ressocialização; é o caso
dos delinquentes por afectação. Então a prevenção especial aqui, resume-se a conferir à
pena uma função de advertência.

À questão das finalidades das penas dá-nos resposta o art.40, introduzido no CP, com a
revisão de 1995, e a sua introdução no CP, foi muito polémica, porque o legislador tomou uma
opção clara em relação a esta matéria: as penas têm uma finalidade preventiva e não retributiva.
Estabelece que a aplicação das penas visa a protecção de bens jurídicos (prevenção
geral) e a reintegração do agente na sociedade (prevenção especial positiva).
De acordo com o nosso o CP, a finalidade primordial da pena é a de prevenção geral
positiva ou de integração. Não obstante a norma ter sido violada com a prática de um crime, ela
continua válida.
A finalidade secundaria é a prevenção positiva ou de ressocialização do agente
O nº2 do art.40 diz que temos aqui o princípio da culpa, em caso algum a pena pode
ultrapassar a medida da culpa.

As penas têm uma finalidade preventiva. A aplicação das penas visa a protecção de
bens-jurídicos e a reintegração do agente na sociedade. Pois, não obstante a norma ter sido
violada, ela continua válida.

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Penas principais

√ Pena de prisão
A pena de prisão é uma pena única e simples.
É uma pena única porque com o actual CP de 1982, desapareceram as formas
diversificadas de prisão. Hoje, as formas de prisão só se distinguem umas das outras, em
função da sua maior ou menor duração. É única por não haver formas diversificadas
É uma pena simples porque à condenação em qualquer pena de prisão se não
ligam efeitos jurídicos necessários ou automáticos que vão para além da sua execução
(art.30, CRP  art.65). A pena de prisão não envolve como efeito necessário a perca de
direitos civis, políticos ou profissionais. A perda destes direitos pode ocorrer por meio
da aplicação de penas acessórias.

▣ Limites da pena de prisão quanto à sua aplicação


A pena além de ser única e simples é de duração limitada e definida, constituindo a
prevenção especial de socialização o denominador comum de todas as características.
∙ Limites gerais ou normais;
De acordo com o art.41 nº1 o limite mínimo da pena de prisão é de 1 mês e o limite
máximo é de 20 anos.
Nos casos em que o tipo legal de crime não diz quais os limites da pena é necessário
recorrer ao art.40. Trata-se de situações em que a lei nada diz quanto ao limite mínimo
(p.ex.art.131, 143). Quando a lei nada diz o limite mínimo de prisão é de um ano.
∙ Limite especial ou excepcional;
Mas há casos em que a pena máxima pode ir até 25 anos (art.41/2):
Concurso de crimes (art.77/2)
Pena relativamente indeterminada (art.83/2; 84/2;86/2)
Homicídio qualificado (art.132)
O nº3 do art.41 afirma que em caso algum pode ser excedido o limite máximo de 25
anos. Este limite aplica-se a cada pena de prisão e não a uma pluralidade de penas sofridas pelo
mesmo agente, o que afasta a ideia de um qualquer direito da pessoa a não permanecer mais do
que 25 anos da sua vida privado da liberdade.
 O entendimento deve ser o de que ninguém pode ser condenado numa puna superior
a 25 anos, numa mesma condenação. Mas se o agente for condenado sucessivamente pode vir a
cumprir mais do que 25 anos na prisão ao longo de toda a sua vida.
Pode o limite mínimo de 1 mês não ser cumprido: é o que acontece no caso da prisão
por dias livres (pena de substituição), dado que, dois dias de prisão por dias livres equivalem a
cinco dias de prisão contínua, daí que o agente possa passar menos de um mês na prisão (art.45
nº2 e 3).
Há uma outra situação: a prisão subsidiária (é a prisão que é cumprida em virtude do
não cumprimento de uma pena de prisão principal) e não pode ter a duração inferior a 1 mês.
Aqui não estaremos a violar o art.41, porque ela é uma forma de constrangimento ao
pagamento da pena de multa. Para levar o condenado a pagar a pena de multa.
De acordo com o art.41 nº4, a contagem dos prazos da pena de prisão é feita segundo os
critérios estabelecidos na lei processual penal e, na sua falta, na lei civil.
O art.479 do CPP dispõe sobre a forma como é contado o tempo de prisão.
O art.481 do CPP estabelece regras sobre o momento da libertação.
Se ainda for necessário haverá sempre a possibilidade do recurso aos critérios
estabelecidos no art.279 do CC.

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Direito Penal III 12

▣ Pena de prisão quanto à sua duração


O facto de a pena de prisão ser única não significa que não faça sentido distinguir vários
graus da pena, consoante a sua mais ou menos longa de prisão de curta, consoante a sua mais
ou menos longa duração.
∙ Penas de curta duração: até um ano
∙ Penas de média duração: de 1 a 5 anos
∙ Penas de longa duração: superiores a 5 anos
Esta distinção corresponde às categorias de pequena, média e grave criminalidade
A distinção assinalada existe no direito vigente para diversos efeitos.
Esta distinção é muito importante no que toca às penas de substituição.
Ao limite de 1 ano liga-se a aplicabilidade de penas de substituição como a
multa, o regime de permanência na habitação, a prisão por dias livres e o regime de
semi-detenção (art.43/1, 44/1 al.a), 45 e 46) e a possibilidade de dispensa de pena
(art.74).
Ao limite de 5 anos liga-se a aplicabilidade de penas de substituição como a
proibição do exercício de profissão, função ou actividade, a prestação de trabalho a
favor da comunidade e a suspensão de execução da pena de prisão (art.43/3, 58 e 50)

√ Pena de multa
A pena de multa pode surgir como pena principal ou como pena de substituição.
A pena de multa principal pode surgir como pena autónoma ou como pena alternativa.

▣ Características
A pena de multa pressupõe que seja figurada como autêntica pena criminal, esta não é
um direito de crédito por parte do estado, nem é uma taxa, nem um imposto. É uma verdadeira
pena, tem um carácter pessoalíssimo.
A pena de multa é um efeito de natureza pessoalíssima. A responsabilidade criminal não
é transmissível (art.30/3) pelo facto de ter um carácter pessoal, se um terceiro pagar a multa
comete um crime de favorecimento pessoal (art.367).
Face ao efeito pessoalíssimo da pena de multa são censuráveis disposições legais que
consagram a responsabilidade subsidiária e solidária de terceiros pelo pagamento das penas de
multa (art.30/3, CRP)
Torna-se particularmente necessário que esta pena seja legalmente conformada e
concretamente aplicada de forma a permitir a plena realização das finalidades das penas
(art.40/1).
O que conduz ao estabelecimento de limites mínimos e máximos para que a
determinação concreta da pena possa fazer dela uma pena com eficácia politica-criminal e a
consagração de mecanismos que permitam reportar a situação económica e financeira do
condenado e os seus encargos pessoais ao momento em que a este haja de cumprir a pena.
A multa é uma pena criminal

Coima: sanção administrativa

Dividas: podem ser pagas por terceiros, com a herança

A responsabilidade criminal extingue-se com a morte do agente (art.127)

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Direito Penal III 13

▣ Valoração político-criminal
∙ Vantagens
Não quebra a ligação do condenado aos seus meios familiar e profissional
Permite uma execução mais elástica (art.47/3/4)
Reduz os custos administrativos e financeiros do sistema de justiça penal (art.130/3)
À diminuição dos casos de aplicação de penas de prisão efectiva corresponderá uma
melhoria significativa do sistema penitenciário.

∙ Desvantagens
O peso desigual que apresenta para os pobres e os ricos
 Só que tal inconveniente pode ser diminuído através da operação de
determinação da pena que visa adequar o quantitativo diário à situação económico-
financeira do condenado e aos seus encargos pessoais (art.47/2)
Consequências familiares desfavoráveis
Um efeito secundário criminógeno
Uma eficácia preventiva de grau menor por comparação com a pena de prisão

▣ Âmbito de aplicação
A aplicação da pena de multa surge quer como pena principal quer como pena de
substituição (art.43/1).
Enquanto pena principal a pena de multa aparece na veste de:
∙ Pena autónoma
 Multa autónoma é a que se encontra expressamente prevista para o
sancionamento dos tipos de crime como única espécie de pena (surge nos
arts.268/3/4 e 366/2)
∙ Pena alternativa
 Multa alternativa é a forma, por excelência, de previsão da pena de
multa, surgindo em diversos tipos legais de crime como alternativa à pena de
prisão (p.ex.art.139, 143/1, 173, 180, 203 e 247)

▣ Limites
∙ Limites em relação ao número de dias de multa
De acordo com o art.47 nº1, o limite mínimo é de 10 dias e o máximo é de 360 dias
Mas, há situações em que a pena de multa pode ir até aos 600 dias (art.204 e 218). E no
caso do concurso de crimes a multa pode ir até aos 900 dias (art.77/2)
No que concerne às pessoas colectivas é necessário ter em atenção ao critério de
conversão do art.90-B nº2 (10 dias de multa corresponde a 1 mês de prisão). O critério de
conversão aqui pode ir até aos 3000 dias de multa.
Podemos concluir que o art.47 vale para a pena de multa, tal como o art.41 vale para a
pena de prisão, quando não há limites na moldura legal

∙ Limites em relação ao quantitativo diário


De acordo com o art.47 nº2, cada dia de multa corresponde a uma quantia entre €5 e
€500
Aqui é necessário ter em atenção a dois aspectos importantes:
1º Determinar o número de dias de multa
2º Determinar o quantitativo diário

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Direito Penal III 14

Pena de substituição

A pena de substituição reconduz-se ao movimento de luta contra a pena de prisão.


As penas de substituição são penas que podem substituir qualquer uma das penas
principais concretamente determinadas.
Há três tipos de penas de substituição:
∙ Pena de substituição em sentido próprio
 Respondem a um duplo requisito:
- têm carácter não institucional ou não detentivo, sendo cumpridas em liberdade
 são penas não privativas da liberdade
- pressupõem a determinação prévia da medida da pena de prisão, sendo
aplicadas e executadas em vez desta  substituem a pena de prisão

Respondem a este duplo requisito:
⁃ A pena de multa de substituição substitui as penas de prisão até 1 ano (art.43/3)
⁃ A pena de substituição de proibição de exercício de profissão ou cargos
públicos ou privados substitui as penas de prisão até 3 anos.
⁃ A pena de suspensão de execução da pena de prisão substitui penas de prisão
até 5 anos. Pode assumir três modalidades:
 Suspensão da execução da pena simples (art.50)
 Suspensão da execução da pena com imposição de deveres (art.51) e a
suspensão da execução da pena com imposição de regras de conduta
(art.52)
 Suspensão de execução da pena com regime de prova (art.53 e art.54)
A suspensão da execução da pena de prisão tem obrigatoriamente de ser
acompanhada do regime de prova, isto em casos especiais. É o caso do art.53/3.
O regime de prova é um programa de reinserção e de ressocialização, quando o
condenado não tiver completado ainda a idade de 21 anos. Neste caso, é sempre
acompanhado do regime de prova.
⁃ A pena de prestação de trabalho a favor da comunidade substitui penas de
prisão até 2 anos (art.58, 59 e art.496, 498 do CPP)
∙ Pena de substituição privativa da liberdade
 Responde apenas ao requisito da determinação prévia da medida da pena de prisão,
sendo aplicadas e executadas em vez desta.

Respondem a este requisito:
⁃ O regime de permanência na habitação (pulseiras electrónicas) substitui a pena de
prisão até um ano (art.44/1 al.a) e art.487 do CPP).
É uma novidade de 2007. Antes de 2007 era uma medida de coação que se aplica no decurso do processo
(prisão preventiva). Mas depois de 2007 surge como pena de substituição.
A Dr.ª Maria João Antunes diz que o art.44 prevê duas coisas diferentes, no seu nº1 prevê uma pena de
substituição e no nº2 prevê uma forma de execução da pena de prisão.
⁃ A pena por dias livres substitui penas de prisão até 1 ano (art.45)
⁃ O regime de semi-detenção substitui penas de prisão até 1 ano (art.46)
Para a aplicação do art.44 e 46 é necessário o consentimento do condenado. Seg. Dr.ª Maria João Antunes
isto leva-nos a dizer que estamos, antes, perante uma forma de execução da pena de prisão

∙ Pena de substituição da pena de multa ou admoestação


 Esta pena pressupõe o requisito da determinação prévia da medida da pena de multa
(principal) (art.60)

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Direito Penal III 15

Pena acessória

Para que estejamos perante uma verdadeira pena, ela tem de estar ligada ao facto e tem
de ser limitada no tempo, no seu limite máximo e no mínimo.
Penas acessórias são penas cuja aplicação pressupõe a fixação na sentença condenatória
de uma pena principal ou de uma pena de substituição, ou seja, são aplicadas conjuntamente
com uma pena principal ou com uma pena de substituição

As penas acessórias têm de ter três características:


Tem como pressuposto a culpa
Tem de ser limitada no tempo
Tem de se referir ao facto

Nas penas acessórias também estão previstas medidas e necessidades de prevenção


geral e especial.
Assim, o juiz aplica uma pena acessória quando atendendo às exigências de prevenção
considerar que a aplicação de uma pena principal ou uma pena de substituição são
insuficientes.
Aplica uma pena acessória, que tem uma função complementar art.66  69.
∙ Na parte geral estão previstas como penas acessórias:
A proibição do exercício da função (art.60)
A suspensão do exercício de função (art.67)
A proibição de conduzir veículos com motor (art.69)
∙ Na parte geral estão previstas como penas acessórias, em concretização com o art.65
nº2 que prevê o princípio do numerus apertus (diferente do principio do numerus clausurus):
A proibição de contrato com a vítima (art.152/4)
A proibição de uso e porte de arma (art.152/4)
A obrigação de frequência de programas específicos de prevenção da violência
doméstica (art.152/4)
A inibição do poder paternal (art.179 al.a))
A proibição do exercício de função (art.179 al.b))
A incapacidade para eleger Presidente da República, membros do Parlamento
Europeu, membros de assembleia legislativa ou de autarquia local, para ser eleito como
tal ou para ser jurado (art.246 e 346)

____________________________________________________________________________

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Direito Penal III 16

Determinação da pena

O procedimento tendente à determinação da pena pressupõe uma estreita cooperação


entre o legislador e o juiz.

Ao legislador cabe:
 Estatuir as molduras penais cabidas a cada tipo de factos, valorando a
gravidade máxima e mínima que cada um daqueles tipos de factos pode
presumivelmente assumir;
 Prever as circunstancias (modificativas) que podem agravar ou atenuar os
limites previamente fixados;
 Fornecer os critérios de determinação concreta e de escolha da pena.

Ao juiz cabe:
 Determinar a moldura penal cabida aos factos dados como provados no
processo;
 Encontrar aí a pena concreta em que o arguido deve ser condenado
 Escolher a espécie ou o tipo de pena a aplicar concretamente
 E determinar, em sede de execução a pena, aquela que é efectivamente
aplicada

No procedimento de determinação da pena trata-se de autêntica aplicação do direito,


dado que, na sentença são expressamente referidos os fundamentos da medida da pena, por
imposição do art.71 nº3. Há uma autonomização do processo de determinação da pena em sede
processual penal (art.369, 370, 371, CPP) e a possibilidade de controlo da decisão sobre a
determinação da pena em sede de recurso, ainda que este seja apenas de revista.

As operações de determinação da pena são três:


1ª Fase ⁃ O juiz vai determinar a moldura penal abstracta a aplicar ao caso
2ª Fase ⁃ O juiz vai determinar a moldura penal concreta
3ª Fase ⁃ O juiz vai escolher a pena efectivamente aplicável ao agente
Esta 3ª fase é uma fase eventual, pode ou não existir.
Esta fase pode surgir na 1ª fase, nos casos em que o tipo legal de crime
prevê em alternativa a pena de prisão e a pena de multa.
Como pode surgir na 3ª fase, quando o juiz decide aplicar uma pena de
prisão não superior a 5 anos, havendo a possibilidade de esta ser substituída por
uma pena de substituição

Determinação da moldura penal abstracta


Nesta fase o juiz tem de determinar o tipo legal de crime que a conduta do agente
preenche. A moldura legal prevista nesse tipo legal de crime, entra automaticamente em
aplicação. No entanto, esta tarefa nem sempre é uma tarefa simples, porque o juiz tem de
averiguar se está perante um tipo de crime fundamental, privilegiado ou qualificado.
Ex. A ofendeu a integridade física de B
A cometeu uma ofensa à integridade física simples (art.143). Mas há vários tipos
de ofensa à integridade física (art.144, 145, 146) logo é necessário saber qual
delas se trata em concreto.
⇒ Nesta fase o juiz pode também de ter em atenção as circunstâncias modificativas,
caso elas existam
As circunstâncias modificativas podem ser atenuante ou agravantes

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Direito Penal III 17

√ Circunstâncias modificativas
Pode acontecer que num caso concreto surjam circunstâncias que levam à modificação
da moldura penal – as circunstâncias modificativas.
As circunstâncias modificativas são tidas em atenção logo na 1ª fase de determinação da
pena. Quando no caso concreto existem circunstâncias modificativas, o juiz tem de as ter em
conta quando está a procurar a moldura legal aplicável ao caso.
As circunstâncias modificativas são pressupostos que não dizem respeito nem ao tipo de
ilícito, nem ao tipo de culpa, mas que contendem com a maior ou menor gravidade do crime
como um todo. Relevando por isso, directamente para a doutrina da determinação da pena.
As circunstâncias modificativas são diferentes dos factores de medida da pena.
Circunstâncias modificativas: Factores de medida da pena:
intervêm atenuando ou agravado a intervêm na determinação da
moldura penal abstracta, no seu medida concreta.
limite mínimo ou máximo, ou em Art.71 nº2
ambos.
Ex. Reincidência (art.75)
Comissão por omissão (art.10/3)
≠ Ex. Grau de ilicitude do facto

Tentativa (art.23/2)
Cumplicidade (art.27/2)
Regime especial do jovem adulto
(art.4 do DL nº401/82)

As circunstâncias modificativas podem ser:


- Agravantes: quando alteram a moldura penal, aumentando-a ou só no limite
máximo ou só no limite mínimo ou em ambos.
- Atenuantes: quando alteram a moldura penal, baixando-a ou só no limite
máximo ou só no limite mínimo ou em ambos.
Podem ser ainda:
- Gerais ou comuns: aplicam-se a qualquer tipo de crime
p.ex. Reincidência (art.75)  é a única agravante
Comissão por omissão (art.10/3)
Tentativa (art.23/2) São atenuantes
Cumplicidade (art.27/2)
Atenuação especial da pena (art.72) (art.27/2, 17/2)
Vamos ter de atender ao art.73 nº1 al.a) e b)
- Especiais ou específicas: aplicam-se somente para certo ou certos tipos legais
de crime
Em caso de concorrência de circunstancias modificativas o juiz deverá fazer funcionar
todas as circunstancias modificativas que no caso concorram.
Se forem só atenuante ou só agravante o juiz deverá fazê-las funcionar sucessivamente,
desde que cada circunstância modificativa possua um fundamento autónomo (art.72/3).
Em caso de concorrência de circunstâncias modificativas agravantes e atenuantes, o
procedimento deverá ser:
Em regra, o de fazer funcionar primeiro as agravantes e depois as atenuantes.
Excepcionalmente, quando se trate de reincidência, deverá funcionar primeiro as
circunstâncias modificativas atenuantes e só depois a agravante, atendendo às especificidades
constantes do art.76.
 Só fazendo funcionar primeiro a circunstancia modificativa atenuante é que é
possível determinar a medida da pena independentemente da reincidência.
 É a única prevista no CP

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Determinação da moldura penal em concreto

Encontrada a moldura legal, o juiz vai ter de determinar a pena que concretamente vai
aplicar ao caso.
A determinação da pena concreta é feita, de acordo com o art.71 nº1, em função da
culpa do agente e das exigências de prevenção.
Os critérios de determinação concreta da pena são a prevenção e a culpa (art.40).
O art.40 refere claramente que as finalidades das penas são preventivas e afirma
também o princípio da culpa. Por isso, quando o legislador se refere no art.71 nº1 à prevenção,
tem o mesmo sentido que no art.40; prevenção geral e especial. A culpa do art.71 é igual à do
art.40, a culpa é critério de determinação da medida concreta da pena. A culpa é o limite da
pena e não o seu fundamento.

√ Relacionamento dos princípios da culpa e da prevenção para determinar a pena a


aplicar ao agente
Teoria do valor de posição ou de emprego
A culpa e a prevenção teriam âmbitos de actuação diferentes, na determinação da
medida concreta da pena. A prevenção actuaria apenas no momento de escolha da pena,
enquanto a culpa actuaria exclusivamente no momento de determinação da medida concreta da
pena.
Este modelo viola o disposto no art.71, que refere que os critérios de determinação da
pena são a culpa e as exigências de prevenção. E viola o disposto no art.40, que refere que a
culpa é apenas o limite da pena. Uma pena encontrada exclusivamente com base na culpa, pode
ser uma pena justa, mas pode não ser a mais adequada, nem a necessária aos modelos de
prevenção, pondo em causa o princípio da necessidade da pena (art.18/2, CRP).

Teoria pena da culpa exacta


Esta teoria parte de dois pressupostos:
A medida da pena é fornecida pela medida da culpa
A culpa é uma grandeza susceptível de se traduzir numa medida exacta de pena
Entende que as exigências de prevenção actuariam apenas dentro do conceito da culpa.
No entanto, esta teoria também é criticável porque dá prevalência a mais ao conceito de culpa.
Parte de um conceito de retribuição e é também criticável porque não é possível converter X
culpa em X pena. Não é possível quantificar a culpa, daí que rejeitemos esta teoria.

Teoria do espaço de liberdade ou da moldura da culpa


Segundo esta teoria, a moldura penal também é dada através da medida de culpa, só que
a culpa não se oferece ao juiz através da grandeza exacta. A culpa surge como uma moldura de
culpa entre um mínimo e um máximo.
Ex. Crime de furto dá uma pena de prisão até 3 anos (art.203).
A moldura legal é de 1 mês a 3 anos.
Na 2ª fase o juiz teria de determinar a medida concreta da pena através da culpa.
Mas a única coisa que o juiz sabe é que uma pena de 6 meses já é adequada à culpa do
agente (p.ex), e que uma pena de 2 anos ainda é adequada à culpa do agente.
Assim, dentro da moldura legal o juiz vai constituir a medida e moldura da
culpa:
Moldura legal: 1 mês a 3 anos
Moldura da culpa: 6 meses a 2 anos

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Direito Penal III 19

E como actuam as exigências de prevenção?????


Segundo Roxin, qualquer pena encontrada dentro da moldura da culpa é uma pena que
satisfaz as necessidades e exigências de prevenção geral, é uma pena justa e adequada à culpa
do agente. E é também dentro desta moldura da culpa que vão actuar as exigências de
prevenção especial e em última análise, é a prevenção especial que vai determinar a medida da
pena.
Dentro da moldura legal o juiz vai encontrar a moldura da culpa e só esta é adequado de
acordo com as exigências de prevenção geral.
Roxin admite uma situação especial em que se pode aplicar ao agente uma pena inferior
à sua culpa. Isto acontece quando o agente não carece de socialização. E a pena vai cumprir ao
nível das exigências de prevenção especial a pena será uma advertência.
Nestes casos, a pena pode ser inferior ao limite mínimo da moldura da culpa. Mas o que
não pode nunca acontecer é aplicar uma pena abaixo do limite mínimo da moldura legal,
porque isto punha em causa a defesa do ordenamento jurídico. A pena mínima ainda
compatível com o ordenamento jurídico coincide com o limite mínimo da moldura legal.
Criticas:
Este modelo não ignora as exigências de prevenção mas concede à culpa um papel
fundamental na determinação da medida da pena.
Este modelo será compatível com o disposto no art.71. No entanto não é compatível
com o disposto no art.40, porque este artigo firma claramente que são as exigências de
prevenção que constituem a finalidade da pena. Por isso, o modelo que se deve adoptar será
aquele criado a partir não da culpa mas das exigências de prevenção.
Também é diferente do art.40 nº2, porque esta norma é clara em afirmar que a culpa é
pressuposto e limite da pena, relacionando-se com esta de forma unívoca. Enquanto que para
Roxin a culpa dá o limite mínimo e máximo da pena.
Não admite que o limite mínimo da prevenção geral possa ser superior ao mínimo da
moldura legal, em função das características do caso concreto. Por um lado, no caso concreto
pode acontecer que para as exigências de prevenção geral se encontrem preenchidas e seja
necessário que a pena se situe acima do limite mínimo da moldura penal. Por outro lado, no
nosso CP, está previsto o instituto da dispensada de pena no art.74, que permite que em certos
casos apesar de haver culpa não se vai aplicar qualquer pena, porque a pena não é requerida
pelas exigências de prevenção. Por isso, podemos dizer que no nosso sistema pode acontecer
que a pena fique abaixo do limite legal.

Teoria da moldura de prevenção (teoria seguida por Coimbra)


É a que se mostra mais consentânea com uma leitura conjuntada com os art.40 e 71.
A medida da pena deve ser dada essencialmente através da medida da culpa, que se
oferece ao aplicador como uma moldura de culpa: com um limite mínimo em que a pena jé
revela adequada à culpa; com um limite máximo em que a pena ainda revela adequada à culpa.
Ou seja:
À luz do art.40 com a aplicação de uma pena visa-se a tutela e protecção de bens
jurídicos (prevenção geral). Deste modo, a medida da pena há-de ser determinada a partir da
medida da necessidade de tutela dos bens jurídicos no caso concreto. Só que a necessidade de
tutela de bens jurídicos não é susceptível de ser dada numa medida exacta. Deste modo, surge
uma moldura que é a moldura da prevenção.
A moldura de prevenção tem como limite superior o ponto óptimo de tutela dos bens
jurídicos e como limite inferior, as exigências mínimas de defesa do ordenamento jurídico e da
paz social. Dentro desta moldura da prevenção geral e de integração, a medida da pena vai ser
encontrada em função das exigências de prevenção especial, que pode cumprir uma de três
funções (ressocialização; advertência; inocuização).
 Nos casos em que a prevenção especial cumprir apenas uma função de advertência a
pena situar-se-á perto do limite mínimo da moldura de prevenção.

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Direito Penal III 20

 Nos casos em que estivermos perante um agente em relação ao qual está excluída
qualquer possibilidade de ressocialização, a prevenção especial vai cumprir a sua função de
inocuização e a pena vai situar-se perto do limite máximo da moldura penal.
A culpa é sempre um limite da pena, quer das exigências de prevenção especial, quer
geral. E podem surgir conflitos entre a culpa e as exigências de prevenção especial mas, por
regra, não existem conflitos entre a culpa e as exigências de prevenção geral positiva, pois não
será fácil encontrar situações em que o ponto óptimo ou ainda aceitável de tutela dos bens
jurídicos venha a situar-se acima daquilo que a adequação à culpa permite. Isto porque as
razões de diminuição da culpa são em principio comunitariamente compreensíveis, e
determinam que no caso concreto as exigências de tutela dos bens jurídicos e de estabilização
das normas sejam menores. É para isso que, em regra, não existem conflitos entre a culpa e as
exigências de prevenção geral positivo.
Ex. Crime de furto (art.203)
3 anos

2 anos
Tendencialmente, o
limite máximo coincide
com a culpa do agente Prevenção Moldura de
especial prevenção geral
(de 1 mês a 3 anos)
6 meses
Defesa da ordem
jurídica

1 mês
A culpa é sempre um limite da pena, quer das exigências de prevenção especial, quer
geral (art.40 nº2)

▣ Critérios de aquisição e de valoração dos factores de medida da pena


Como é que se afere o grau de culpa e as exigências?
É necessário saber quais as circunstâncias daquele acontecimento que relevam para a
culpa e quais as que relevam para exigências de prevenção. A estas circunstâncias chamamos
factores de medida da pena.
Para averiguar os factores de medida da pena o juiz é auxiliado pelo legislador que no
art.71 nº2 enumera de forma exemplificativa alguns factores indicativos da medida da pena.
O art.71 nº2 estabelece que na determinação da medida concreta da pena o juiz
atenderá a todas as circunstâncias que não fazendo parte do tipo de crime deponham a favor
do agente ou contra ele.
 Não devem ser utilizadas pelo juiz para a determinação da medida da pena, as
circunstâncias que façam já parte do tipo de crime.
Assim se expressando o princípio da proibição da dupla valoração, segundo o qual o
juiz não deve utilizar para determinar a medida da pena as circunstâncias que o legislador já
tomou em consideração ao estabelecer a moldura penal do facto.
No art.132, o legislador já teve em consideração a especial perversidade e
censurabilidade da conduta do agente  tem de se dar relevo ao princípio da dupla valoração.

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Direito Penal III 21

Mas, além disso, este princípio vale ainda na medida em que o próprio juiz não pode
avaliar a mesma situação duas vezes.
 Este princípio, nesta vertente, é importante em três matérias:
- Determinação da medida concreta da pena
- Reincidência
- Concurso de crimes
O princípio da proibição da dupla valoração não impede, no entanto, que o juiz atenda à
intensidade ou aos efeitos do preenchimento do tipo legal de crime. Ex.art.144; 158.
Os factores de medida da pena que deponham a favor ou contra o agente têm de
começar por ser identificados como relevantes para o efeito da culpa ou da prevenção.
Em seguida, cada um dos factores tem de ser pesado em função do seu concreto
significado à luz daqueles princípios regulativos.
Finalmente, os factores vão ser reciprocamente avaliados em função da quantificação da
espécie de pena que se decidiu aplicar

√ Factores de determinação da medida concreta da pena (art.71 nº2)


Factores relativos à execução do facto:
Art.71 nº2:
al.a): grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das
suas consequências, bem como o grau de violação dos deveres impostos ao agente;
al.b): a intensidade do dolo ou da negligência
al.c): os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins ou
motivos que o determinam
al.e), in fine: conduta do agente destinada a reparar as consequências do
crime
Factores relativos à personalidade do agente, manifestados no caso:
Art.71 nº2:
al.d): as condições pessoais do agente e a sua situação económica;
al.f): a falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no
facto, quando essa falta deva ser censurada através da aplicação da pena.
Factores relativos à conduta do agente anterior e posterior ao facto:
Art.71 nº2:
al.e): a conduta anterior ao facto e a posterior a este, especialmente quando
esta seja destinada a reparar as consequências do crime.

Importante:
Os factores de medida da pena são ambivalentes, significa que o mesmo factor pode
relevar para a culpa e para as exigências de prevenção, e esta ambivalência pode ser dupla; os
factores de medida da pena podem ser duplamente ambivalentes, isto é, um mesmo factor pode
ter um efeito agravante quando considerado ao nível da culpa e pode ter um efeito atenuante
quando considerado ao nível da prevenção e vice-versa.
No entanto, nem todos os factores são ambivalentes. Os factores que estão relacionados
com comportamentos posteriores à prática do facto, art.71 nº2 al.e), nunca podem contribuir
para a determinação da culpa do agente.
Note: Art.71 nº1  Critérios
Art.71 nº2  Factores

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Direito Penal III 22

√ Procedimento de determinação da pena de multa principal

Sistema da soma global


Pressupõe duas modalidades:
Multa em quantia certa
Multa em quantia a determinar entre um mínimo e um máximo.
Na modalidade de multa em quantia certa fixada pela lei não há qualquer procedimento
a adoptar pelo juiz para a determinação da pena concreta, não podendo adequar-se nem à
gravidade do ilícito e da culpa, nem à condição económico-financeira do agente.
Ex. Quem cometer furto é punido com pena de multa de €300.
Neste caso o juiz só tinha de identificar o tipo legal de crime e aplicar a pena de multa lá
referida.
Este sistema de determinação da pena de multa é duplamente inconstitucional, porque
viola o princípio da igualdade e o princípio da culpa (art.13 nº2, CRP).
Viola o princípio da igualdade, porque não permite atender à situação económico-
financeira do agente, prejudica o agente com uma condição económica mais fraca e beneficia
os mais ricos e pode acabar por perder toda a sua finalidade politico-criminal.
Na modalidade de multa em quantia variável, a individualização da pena em função da
culpa e da situação económico-financeira do agente não é impossível, uma vez que a multa é
determinada entre um mínimo e um máximo.
Ex. Pena entre €200 e €400
Este sistema já permite de algum modo atender à culpa e à situação económico-
financeira do agente. Mas é um sistema insatisfatório, porque considera estes dois factores num
único acto (culpa e situação económica), o juiz não pode atender ao diferente peso que eles
podem assumir na determinação da pena.
Daí que se recuse o sistema da soma global como sistema da determinação da pena de
multa.

Sistema dos dias de multa (sistema adoptado)


Pressupõe três modalidades: Determinação do número de dias de multa
Fixação do quantitativo diário
Fixação do prazo e das condições de pagamento (eventual)
O sistema dos dias de multa é o único que permite a integral realização das intenções
político-criminais e dos referentes jurídico-constitucionais que convergem na aplicação da
multa, uma vez que pressupõe dois actos autónomos de determinação da pena, nos quais se
consideram, em separado e sucessivamente, os factos relevantes para a culpa e para prevenção
e os relevantes para a situação económico-financeira.

▣ Determinação do número de dias de multa


Entre nós a pena de multa determina-se em dias de multa (art.47).
O art.47 refere que a multa é fixada em dias, de acordo com o previsto no art.71. Para a
determinação dos dias de multa, o juiz deve seguir os critérios gerais para a determinação da
pena presentes no art.71, ou seja, em função da culpa do agente e das exigências de prevenção.
Podemos concluir que o número de dias de multa se determina do mesmo modo que se
determina a pena de prisão.
No nº2 do art.71, o legislador enuncia os factores de medida da pena, que relevam para
a culpa e/ou para a prevenção. Um dos factores da medida da pena é a situação do agente
(al.d)).

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Direito Penal III 23

No caso da pena de multa, como a situação económica do agente vai ter depois um
tratamento autónomo, aquando da operação de fixação do quantitativo diário, não faz sentido
atendermos à situação económica do agente logo na 1ª operação de determinação do número de
dias de multa. Se o juiz considerasse a situação económica do agente nesta 1ª fase, estaria a
violar o princípio da proibição da dupla valoração, porque teria de atender novamente à
situação económica do agente aquando da determinação do quantitativo diário.
No entanto, é consensual que o juiz deve atender à situação económico-financeira do
agente aquando da determinação dos dias de multa, nas situações em que a situação económica
do agente for determinante da culpa deste.
Ex. Duas senhoras furtam 2 latas de leite num supermercado.
Uma furta a lata de leite porque tem um bebé e não tem dinheiro para a pagar
 Aqui a situação económica dela faz baixar a culpa do agente, porque está
directamente relacionada com a culpa, excepcionalmente é que a situação económica
deve ser valorada na 1ª operação; operação de determinação dos números de dias de
multa.
A outra rouba para vender e depois vai compra droga
 Aqui a situação económica dela não é relevante.
⇒ Concluindo, todas as considerações atinentes quer à culpa, quer à prevenção geral e
especial devem influenciar apenas a 1ª operação de determinação da pena de multa.
Tudo o que respeita à situação económica do agente não deve em regra ser tido em
consideração nesta fase, excepto quando a situação económica do agente for determinante da
culpa deste.

▣ Fixação do quantitativo diário


Nos termos do art.47 nº2, o juiz deve fixar o quantitativo diário entre 5€ e 500€, tendo
em conta a situação económico-financeira do agente e dos seus encargos pessoais.
Deste modo, pretende-se dar a realização ao princípio da igualdade de ónus e de
sacrifícios, promovendo a eficácia preventiva da multa.
Nem sempre é fácil para o juiz averiguar a verdadeira situação económico-financeira do
agente. O juiz pode fazer uso dos seus poderes de investigação oficiosa para obter prova sobre
os elementos necessários para a correcta determinação do quantitativo diário (art.340, CPP)
Para a determinação do quantitativo diário, o juiz deverá atender à totalidade dos
rendimentos próprios do agente, com excepção de abonos, subsídios eventuais, ajudas de custos
e similares.
O juiz deve atender ao último momento processual possível, isto é, o juiz vai ter em
atenção a situação económico-financeira do agente, no momento da condenação (principio da
proibição da reformatio in pejus) pelo facto de ser fixado neste ultimo momento processual
(art.409, CPP).
Segundo o princípio da proibição da reformatio in pejus, sempre que o recurso seja
interposto no exclusivo interesse da defesa, o condenado não pode ver a sua pena agravada em
sede de recurso. Visa garantir um efectivo direito ao recurso por parte do condenado (art.32/1,
CRP)
No caso de haver um recurso interposto apenas no interesse da defesa, o tribunal não
poderá aumentar o número dos dias de multa, mas já poderá agravar o quantitativo diário, se
entretanto tiver melhorado a situação económico-financeira do condenado, porque o
quantitativo diário se fixa no último momento processualmente possível. Em nome do
principio, de que a pena de multa deve ser sempre uma sanção politico-criminalmente eficaz
(art.409 nº2, CPP).

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Direito Penal III 24

Podemos ter neste âmbito, o problema da carência de rendimentos. No momento em que


o juiz vai determinar o quantitativo diário, este pode verificar que o condenado não tem
rendimentos próprios, por ser estudante, desempregado ou domestica/o, mas não significa que
estas pessoas não podem ser condenadas numa pena de multa.
Auferem de: Estudantes: bolsa, mesada;
Desempregados: subsídio de desemprego;
Donas de casa: beneficiam de uma parte do rendimento do outro cônjuge, para despesas próprias.
Assim deste modo, é a estas quantias que se deve atender quando determinamos a pena
de multa a aplicar a um destes agentes. Devemos atender apenas a esta quantia, porque não
podemos esquecer que não pode haver terceiros a pagar a pena de multa.
Mas há sempre um limite inultrapassável, o mínimo existencial.
Pode acontecer ainda que no momento em que o juiz vai determinar o quantitativo
diário, ele se depare com uma situação em que o condenado nem o mínimo da pena legal pode
pagar (5€), porque o agente vivia no limiar mínimo de subsistência ou mesmo abaixo dele.
Nestes casos, o CP prevê mecanismos para fazer face a estas situações:
- Deve ser fixado o quantitativo no mínimo legal (5€), para posteriormente ter
lugar a conversão da multa em prisão subsidiária
- Depois dá-se a suspensão da execução da pena de prisão subsidiária com
subordinação ao cumprimento e deveres ou regras de conduta de conteúdo não
económico ou financeiro (art.49/1/3)

Esta é a solução actualmente prevista, para os casos de não pagamento da pena
de multa por razões não imputáveis ao condenado, contemporânea da condenação.

▣ Fixação do prazo e condições de pagamento


Pode eventualmente surgir uma 3ª operação, que consiste na fixação do prazo ou das
condições de pagamento da pena de multa, nos termos e com os limites fixados no art.47 nº3, 4
e 5, sempre que a situação económica e financeira do condenado o justifique.
O juiz pode deferir o prazo para pagar a multa ou para permitir o pagamento em
prestações de acordo com a situação económica do condenado (art.47/3). Esta possibilidade
pretende evitar, até ao limite possível, que a pena de multa não seja cumprida, mas têm de
haver limites a esta possibilidade de deferimento e pagamento a prestações, para que a multa
continue a ser sentida como uma verdadeira pena.
O art.47/3 estabelece que sempre que a situação financeira do condenado o justifique, o
tribunal pode autorizar o pagamento da multa dentro de um prazo que não exceda um ano, ou
permitir o pagamento em prestações, não podendo a última delas ir além dos dois anos
subsequentes à data do trânsito em julgado da sentença de condenação. Porém, a falta de
pagamento de uma das prestações importa o vencimento de todas (art.45/5). Vale aqui, o
princípio da razoabilidade, pois são operações autónomas.

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Caso prático
A cometeu um crime de furto (art.203)
Na 1ª operação de determinação da pena ao ter de escolher entre a pena de prisão e a
pena de multa, o juiz optou pela pena de multa principal.
Determine a pena de multa a aplicar a A.
O juiz decidiu aplicar a pena de multa a título principal.
Tem de averiguar a moldura penal abstracta (art.47): 10 dias a 360 dias
Depois deve determinar a medida concreta da pena.
Atendendo à culpa do agente e às exigências de prevenção, o juiz fixa 100 dias de multa
O juiz fixa um quantitativo diário de 9€
Logo, fica 9€ x 100 = 900€ de multa

É importante saber:
- Como se calcula a pena aplicável
- Os pressupostos da punição
- O modo de aplicação da pena.

Caso prático
A foi condenado como cúmplice pela prática de um crime punível com uma moldura
penal abstracta de 5 a 15 anos.
Qual é a moldura de que o juiz deve partir para determinar a pena a aplicar a A?
Crime: 5 a 15 anos
Cúmplice (art.27/2) é uma circunstância modificativa atenuante expressamente prevista
na lei, remete para o art.73
Limite máximo reduzida a 1/3: dá 10 anos
15 x 1/3 = 15/3 = 5
15 – 5 = 10
Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 1 ano
5 x 1/5 = 5/5 = 1
Nova moldura:
1 ano a 10 anos

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Caso prático:
B foi condenado como cúmplice pela prática de um crime punível com uma moldura
penal abstracta de 1 a 9 anos.
Qual é a moldura de que o juiz deve partir para determinar a pena a aplicar a A?
Crime: 1 a 9 anos
Cúmplice (art.27/2) é uma circunstância modificativa atenuante expressamente prevista
na lei, remete para o art.73
Limite máximo reduzida a 1/3: dá 6 anos
9 x 1/3 = 9/3 = 3
9–3=6
Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal (art.41/1): 1 mês
O limite mínimo aqui é reduzido ao mínimo legal por se tratar de uma pena
inferior a 3 anos.
Nova moldura: 1 mês a 6 anos

Caso prático:
A foi condenado pela prática de um crime punível com uma moldura penal abstracta de
3 a 12 anos. A foi cúmplice (art.27/2), mas o crime não chegou verdadeiramente a consumar-se
(art.23/2), e ele tem 19 anos (art.4 do DL nº401/82).
Qual é a moldura de que o juiz deve partir para determinar a pena a aplicar a A?
É um caso de circunstâncias modificativas:
Cumplicidade
Tentativa Art.73 nº1 al.a) e b)
Idade
Vamos fazer funcionar as três circunstâncias, porque têm uma fundamentação diferente.
Nós seguimos o sistema do funcionamento sucessivo, vamos fazer funcionar cada
circunstância sucessivamente.
Crime: 3 a 12 anos
1ª Circunstância a funcionar
Cúmplice (art.27/2) é uma circunstância modificativa atenuante expressamente prevista
na lei, remete para o art.73
Limite máximo reduzida a 1/3: dá 8 anos

Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 7 meses e 6 dias

Como se torna difícil calcular é preferível converter os 3 anos em meses


3 anos = 36 meses
36 |5
1 7 meses

Mas sobra 1 mês, que também pode ser dividido, então converte-se 1 mês em dias e
divide-se novamente por 5
1 mês = 30 dias
30 |5
0 6 dias

Nova moldura: 7 meses e 6 dias a 8 anos

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2ª Circunstância a funcionar
Tentativa (art.23/2, art.73). Partimos da nova moldura legal
Limite máximo reduzida a 1/3: dá 5 anos e 4 meses

8 anos = 96 meses, então teremos:


96 |3
32 meses

32 meses = 2 anos e 8 meses


Logo, 8 anos – 2 anos e 8 meses = 96 meses – 32 meses
= 64 meses
= 5 anos e 4 meses
Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 1 mês (art.41 nº1)
Nova moldura: 1 mês a 5anos e 4 meses
3ª Circunstância a funcionar
Jovem adulto (art.4 do DL e art.73). Partimos da nova moldura legal
Limite máximo reduzida a 1/3: dá 3 anos 6 meses e 20 dias

5 anos e 4 meses = 64 meses, então teremos:


64 |3
04 21 meses
1

21 meses = 1 ano e 9 meses


Mas sobra 1 mês, que também pode ser dividido, então converte-se 1 mês em dias e
divide-se novamente por 3
1 mês = 30 dias
30 |3
0 10 dias

Logo, 5 anos e 2meses – 1 anos, 9 meses e 10 dias = 64 meses – 21 meses e 10 dias


= 43 meses - 10 dias
43 |12
0 7 3 anos

= 3 anos e 7 meses – 10 dias


7 x 30 = 210 dias
= 3 anos e 210 dias – 10 dias
= 3 anos e 200 dias
200 |30
20 6 meses

= 3 anos 6 meses e 20 dias


Limite mínimo reduzido a 1/5 ou ao mínimo legal: dá 1 mês (art.41 nº1)
A moldura legal passou a ser de: 1 mês a 3 anos 6 meses e 20 dias

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Casos especiais de determinação da pena aplicável

√ Reincidência
Não é correcto chamar reincidente a todas as pessoas que cometem mais do que um
crime, porque a reincidência depende da verificação de certos pressupostos (art.75/1/2)

▣ Pressupostos:

Pressuposto material
Porque é que o agente reincidente vai ser mais fortemente punido, do que o agente não
reincidente?
No caso da reincidência, o agente é mais punido porque há um maior grau de culpa, por
causa de a título pessoal, ter havido uma desconsideração pela solene advertência contida na
condenação anterior. O agente praticou um 1º crime e foi condenado por esse crime; essa
condenação transitou em julgado e depois quando pratica um 2º crime, ele revela um
desrespeito pela advertência contida na condenação anterior. Tem por isso, o agente
reincidente, uma maior culpa.
Esquema da reincidência:
Trânsito em Julgado
Crime 1 1º Condenação do 1º crime
Crime 2

Reincidência

Em relação a este agente são necessárias maiores exigências de prevenção especial, pois
o agente é mais perigoso. No entanto, o que justifica a maior punição na reincidência é uma
maior culpa. As necessidades de prevenção especial actuarão apenas de forma indirecta ou
imediata, se o fundamento de uma maior sanção for uma maior perigosidade do agente, de
forma imediata, relevando a culpa de forma mediata, aplica-se aqui uma pena relativamente
indeterminada. Dai que no art.76 nº2 se diga, que se numa situação convergirem os
pressupostos da reincidência e da pena relativamente indeterminada, deve aplicar-se a pena
relativamente indeterminada.
O pressuposto material da reincidência está no art.75 nº1, 2ª parte. É este pressuposto
material que faz com que nem sempre o facto de o agente praticar um crime depois de já ter
transitado em julgado uma condenação por um crime anterior.
Este pressuposto pressupõe que entre os dois crimes tenha de existir uma conexão
íntima, mas esta conexão íntima não exige que tenha de ser a repetição do mesmo tipo de
crime.
p.ex. furto e violação, não têm qualquer relação intima, logo não são reincidentes.
É necessário que sejam factos de natureza análoga e para isto atende-se ao bem jurídico
violado, aos motivos que levaram o agente a praticar o crime e à sua forma de execução.
p.ex. Crime 1: crime de violação (art.164)
Crime 2: crime de coação sexual (art.163)
 São crimes diferentes, mas o bem jurídico é o mesmo; direito à auto-
determinação sexual
O mesmo acontece se for abuso de confiança (art.203) e furto
Pode ainda acontecer que haja a violação do mesmo bem jurídico e não haja
reincidência.
p.ex. a situação de degradação social ou o efeito criminógeneo da prisão, podem fazer
com que, apesar do agente ter voltado a violar o mesmo bem jurídico, ele não revele um
verdadeiro desrespeito pela solene advertência, contida na condenação anterior.

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Direito Penal III 29

Pressupostos formais (art.75)


Pressupostos relativos ao primeiro crime:
▪ É necessário que haja uma decisão transitada em julgada
 Ou seja, quando já não é possível recorrer-se da decisão, o prazo para recorrer
é de 20 dias após da decisão, mas há decisões que são irrecorríveis desde o inicio
(art.411, CPP)
▪ É necessário que se trate de um crime doloso
▪ É necessário que ele tenha sido punido com uma pena de prisão efectiva superior a 6
meses.
O 1º crime tem de ser punido com pena de prisão efectiva, por isso não há reincidência,
se o agente foi punido pelo 1º crime com uma pena de substituição, ainda que privativa da
liberdade. P.ex. semi-detenção
No art.75 nº1 exige-se que o agente tenha sido condenado numa pena de prisão efectiva
de 6 meses, mas não é necessário que ele a tenha cumprido efectivamente (art.75/4)
Pressupostos relativos ao segundo crime:
▪ É necessário que o 2º crime seja um crime doloso
▪ É necessário que seja punido com uma pena de prisão efectiva superior a 6 meses.
▪ É necessário que entre a prática do 1º crime e a prática do 2º crime não tenha
decorrido mais do que 5 anos (art.75/2/4)
Se tiverem passado mais de 5 anos prescreve o regime da reincidência
Para a reincidência não conta o tempo em que o agente esteve preso efectivamente ou
privado da sua liberdade, pois durante esse tempo em que estive preso o agente não foi posto à
prova de modo a cumprir a advertência da condenação anterior

▣ Operações de determinação da pena da reincidência


Nos termos do art.76 o limite mínimo da pena aplicável é elevado de 1/3 e o limite
máximo da pena aplicável permanece inalterado.
1ª Fase: Determinar a pena concreta em que o agente seria condenado se não fosse
reincidente.
Só fazendo esta operação é que saberemos se pelo 2º crime o agente seria ou não punido
com uma penda de prisão efectiva superior a 6 meses.
2ª Fase: Construção da moldura da reincidência (art.76/1)
O limite mínimo da pena aplicável é elevado de 1/3
O limite máximo da pena aplicável permanece inalterado
3ª Fase: Dentro da moldura da reincidência, vamos determinar a pena concreta de
acordo com os critérios do art.71, e tendo em conta que o agente é reincidente
Podia surgir aqui um problema em relação ao princípio da proibição da dupla valoração
da pena, mas este princípio não é violado, pois não estamos a valorar duas vezes o pressuposto
material da reincidência (maior culpa), porque o que foi valorado para a construção da moldura
da reincidência, foi o facto de o agente ter desrespeitado a solene advertência constante da 1ª
condenação.
Na 3ª operação, ao atender à moldura, ao atender à moldura, o que se vai valorar é o
grau desse desrespeito. Este princípio não impede ao juiz de atender à intensidade e aos efeitos
do preenchimento do tipo.

2009/2010
Direito Penal III 30

4ª Fase: Não é uma verdadeira operação de determinação da pena; ela é uma operação
de limitação (art.76/1, 2ª parte)
Temos de ver se a agravação respeita o limite estabelecimento na pena mais grave nas
condenações anteriores. Para evitar que a condenação anterior numa pena pequena possa por
efeito da reincidência, ir gravar desproporcionalmente, a pena do 2º crime – presente a ideia de
proporcionalidade.
Como sabemos de quanto é a gravação?
Sabemo-lo, pela determinação da agravação, através da subtracção à pena da
reincidência, a pena a que o agente seria condenado, se não fosse reincidente.
p.ex.7 – 5 = 2 (a agravação foi de 2 anos)
O limite da gravação foi cumprida, porque a condenação anterior foi de 4 anos, por isso,
não a excedeu. O máximo que se poderia aplicar seria 9, porque 9-5=4  4 é o limite.

Acórdão STJ, de 3 de Novembro 2005

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2009/2010
Direito Penal III 31

Caso prático
Em Março de 2000, A cometeu um crime pelo qual foi condenado em Maio de 2001, a
uma pena de 4 anos de prisão.
Em Abril de 2006, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 12 anos de
prisão.
Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.
Trânsito em Julgado
Crime 1 1º Condenação do 1º crime
Crime 2
Reincidência
Março 2000 Março 2001 Abril 2006
(4 anos) (3 a 12 anos)

Estamos perante um caso que nos leva para o campo da reincidência, casos em que o
arguido comete um crime subsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado.
Logo, aquele que reitera deve ser objecto de uma condenação mais severa do que aquele que
comete um crime pela 1ª vez e nunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência,
mas a reiteração pode levar à perigosidade do agente.
A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aqueles que reúnem os
requisitos do art.75 nº1 e 2.
Art.75  Prevê os casos em que há reincidência
Art.76  Consequências da reincidência.

Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crime


anterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.
Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O
problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É em
relação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.

Determinação da pena em caso de reincidência:


1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente
3 anos
2ª Operação: Construção da moldura da reincidência
Sendo, como vimos, a nossa moldura abstracta de 3 a 12 anos, refere o art.76º/1 que:
⁃ Limite mínimo é elevado a 1/3: dá 1 ano

⁃ Limite máximo permanece inalterado: 12 anos


⁃ Nova moldura legal abstracta: 1 ano a 12 anos.
3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como sendo
reincidente.
Sendo assim, é fixada a pena concreta de 6 anos.
4ª Operação: saber quanto foi a agravação
6 anos (pena da agravação) - 3 anos (pena que lhe seria aplicada se não fosse a
reincidência) = 3 anos  Agravação
Se a agravação não pode exceder a pena aplicada ao crime anterior, então 3 anos
(montante da agravação) é inferior a 4 (pena anterior)

2009/2010
Direito Penal III 32

Caso prático
Em Março de 2000, A cometeu um crime pelo qual foi condenado em Maio de 2001, a
uma pena de 4 anos de prisão.
Em Abril de 2006, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 12 anos de
prisão.
Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.

Trânsito em Julgado
Crime 1 1º Condenação do 1º crime
Crime 2
Reincidência
Março 2000 Março 2001 Abril 2006
(4 anos) (3 a 12 anos)
Estamos perante um caso que nos leva para o campo da reincidência, casos em que o
arguido comete um crime subsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado.
Logo, aquele que reitera deve ser objecto de uma condenação mais severa do que aquele que
comete um crime pela 1ª vez e nunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência,
mas a reiteração pode levar à perigosidade do agente.
A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aqueles que reúnem os
requisitos do art.75 nº1 e 2.
Art.75  Prevê os casos em que há reincidência
Art.76  Consequências da reincidência.

Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crime


anterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.
Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O
problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É em
relação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.

Determinação da pena em caso de reincidência:


1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente
3 anos
2ª Operação: Construção da moldura da reincidência
4 a 9 anos
3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como
sendo reincidente.
5 anos
4ª Operação: saber quanto foi a agravação
5-2 = 2 anos

2009/2010
Direito Penal III 33

Caso prático
Em 2006, A cometeu um crime pelo qual foi condenado 8 meses de prisão.
Em 2008, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 9 anos de prisão.
Partindo do princípio de que se trata de uma situação de reincidência, determine a pena
a aplicar a A.
Trânsito em Julgado
Crime 1 1º Condenação do 1º crime
Crime 2
Reincidência
2006 8 meses 2008
(3 a 9 anos)
Estamos perante um caso que nos leva para o campo da reincidência, casos em que o
arguido comete um crime subsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado.
Logo, aquele que reitera deve ser objecto de uma condenação mais severa do que aquele que
comete um crime pela 1ª vez e nunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência,
mas a reiteração pode levar à perigosidade do agente.
A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aqueles que reúnem os
requisitos do art.75 nº1 e 2.
Art.75  Prevê os casos em que há reincidência
Art.76  Consequências da reincidência.

Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crime


anterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.
Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O
problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É em
relação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.

Determinação da pena em caso de reincidência:


1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente: 3 anos
2ª Operação: Construção da moldura da reincidência: 4 a 9 anos
3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como
sendo reincidente: 5 anos
4ª Operação: saber quanto foi a agravação: 5-2 = 2 anos
Mas não pode ser porque excede o limite dos 8 meses (que é a pena a que foi condenado
no primeiro crimes que é o limite da agravação)
Então, nunca se poderia aplicar os 5 anos.
Mas neste caso mesmo que se aplique uma pena na 3ª operação, que coincida com o
limite mínimo da pena aplicável na reincidência, não se conseguia aplicar o limite mínimo da
agravação. Qualquer pena aplicada aqui não seria nunca igual limite imposto pela agravação,
seria sempre superior.
Neste caso, deve dar-se prevalência ao limite imposto pela agravação, porque este limite
é um limite absoluto e externo igual tem de ser sempre cumprido.
Quando a pena a que o agente foi condenado pelo crime 1 é muito baixa, pode acontecer
que a pena a aplicar ao agente reincidente do crime 2, tenha de fixar abaixo do limite mínimo
da moldura da reincidência, por uma questão de proporcionalidade.
Daí que se diga que a 1ª operação de determinação da pena, no caso de reincidência é
duplamente instrumental.
Porque: É necessário para sabermos se o 2º crime deve ser punido com pena de prisão
efectiva superior a 6 meses.
É necessário para sabermos se está respeitado o limite imposto pela agravação
(art.76/1)

2009/2010
Direito Penal III 34

Caso prático
A praticou um crime de abuso de confiança (art.205/4-al.a)), e foi condenado a uma
pena de 3 anos de prisão. A moldura do art.205 nº4 al.a) é de 1 mês a 5 anos.
Depois, A cometeu um crime de furto qualificado (art.204/2) punível com uma pena de
2 a 8 anos de prisão.
No entanto, este crime de furto não chegou a consumar-se, ficou como tentativa
(art.23/2).
Pressupondo que está preenchido o pressuposto formal da reincidência, diga qual a pena
a aplicar a A pelo segundo crime.
Trânsito em Julgado
Crime 1 1º Condenação do 1º crime
Crime 2
Reincidência
3 anos 2 a 8 anos
Tentativa

Temos aqui um concurso de circunstâncias modificativas atenuantes e agravantes.


Nos casos em que há concorrência entre circunstancias atenuantes e a reincidência
(agravantes), devem actuar 1º as atenuantes e só depois a reincidência (agravante)
Crime 2: 2 a 8 anos
1. Tentativa (atenuante): actua aqui a tentativa porque o crime não se chegou a
consumar (art.23/2  73)
Limite máximo reduzida a 1/3: dá 5 anos 4 meses

8 anos = 96 meses, então teremos:


96 |3
0 32 meses

8 anos - 32 meses = 96 meses – 32 meses


= 64 meses
64 |12
4 5 anos
= 5 anos e 4 meses
Limite mínimo reduzido ao mínimo legal: dá 1 mês (art.41 nº1), porque é inferior a 3
anos (art.73/1 al.b)
Nova moldura: 1 mês a 5 anos 4 meses
2. Reincidência (art.75 e 76)
Aqui tem-se em atenção a nova moldura atenuada: 1 mês a 5 anos 4 meses
1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente
3 anos
2ª Operação: Construção da moldura da reincidência
Limite máximo mantém-se inalterado: dá 5 anos 4 meses
Limite mínimo é elevado a 1/3: dá 1 mês e 10 dias

1 mês = 30 dias, então teremos:


30 |3
0 10 dias

1 mês + 10 dias = 30 dias +10 dias


= 1 mês e 10 dias
Nova moldura: 1 mês e 10 dias a 5 anos 4 meses

2009/2010
Direito Penal III 35

3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como


sendo reincidente.
5 anos
4ª Operação: saber quanto foi a agravação
5-2 = 2 anos
Logo, cumpriu-se o limite da agravação. Pois o limite da agravação foi de 2
anos, respeitando o limite da pena a que o agente havia sido condenado pelo crime 1 (3
anos)
A iria cumprir uma pena de 5 anos

Nestes casos de concorrência entre a reincidência e a circunstância modificativa


atenuante, primeiro actua a circunstância modificativa atenuante, porque só deste modo é que é
possível determinar a medida da pena do crime 2, independentemente da reincidência.
Por outro lado, só deste modo é que sabemos se está preenchido o requisito de i crime 2
ser punido com prisão efectiva superior a 6 meses,
Por outro lado, só fazendo actuar primeiro a circunstancia modificativa atenuante que se
pode vir a saber de quanto é que foi efectivamente a agravação,

Caso prático
Em Março de 2000, A cometeu um crime pelo qual foi condenado em Maio de 2001, a
uma pena de 4 anos de prisão.
Em Abril de 2006, A cometeu um crime punível com uma pena de 3 a 12 anos de
prisão.
Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.

Trânsito em Julgado
Crime 1 1º Condenação do 1º crime
Crime 2
Reincidência
Março 2000 Março 2001 Abril 2006
(4 anos) (3 a 12 anos)

____________________________________________________________________________

2009/2010
Direito Penal III 36

√ Concurso de crimes

O pressuposto da aplicação do regime de punição do concurso de crimes é que o agente


tenha praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles
(art.77/1).

▣ Exige-se:
▪ Que o agente tenha cometido efectivamente mais do que um tipo de crime ou que com
a sua conduta tenha preenchido mais do que uma vez o mesmo tipo de crime (art.30/1), abrange
o concurso efectivo e exclui o concurso legal (onde o que existe é uma unidade criminosa);
▪ Que a prática dos crimes tenha tido lugar antes do transito em julgado da condenação
por qualquer deles.

▣ Possibilidades de tratamento do concurso de crimes


▪ Sistema de acumulação material: determina-se a pena correspondente a cada crime em
concurso, aplicam-se na sua totalidade e são depois sucessivamente cumpridas se tiverem a
mesma natureza e se for materialmente possível.

▪ Sistema da pena única: aos crimes em concurso corresponde uma pena: uma pena
unitária ou uma pena conjunta.
⁃ Pena unitária: quando a punição do concurso ocorra sem considerar o número de
crimes concorrentes e independentemente da forma como poderiam combinar-se as
penas que a cada um caberiam.
Neste caso, a punição do concurso é levada acabo através da pena concretamente
determinada e cabida ao crime mais grave, com a consequência da impunidade dos
crimes de igual ou menor gravidade.
⁃ Pena conjunta: sempre que as molduras penais previstas, ou as penas
concretamente determinadas, para cada um dos crimes em concurso sejam depois
transformadas segundo um principio de observação ou um principio de
exasperação/agravamento.
Neste caso, a punição do concurso ocorre em função da moldura penal prevista para
o crime mais grave, devendo a pena concreta ser agravada por força da pluralidade de
crimes, com a consequência de o efeito agravante ser tanto menor quanto maior for o
número de crimes praticados pelo agente.

▣ Determinação da pena no direito vigente

Nos termos do art.77 nº1, quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar
em julgado a condenação por qualquer deles é condenado numa única pena, sendo
considerados na medida da pena, em conjunto, os factos e a personalidade do agente.
Nos termos do art.77 nº2, a pena aplicável tem como limite máximo a soma das penas
concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos tratando-se de
pena de prisão e 900 dias tratando-se de pena de multa (art.41/2)

2009/2010
Direito Penal III 37

▪ O direito português adopta um sistema de pena conjunta, obtida através de um cúmulo


jurídico.
⁃ O tribunal começa por determinar a pena (de prisão ou de multa) que concretamente
caberia a cada um dos crimes em concurso, segundo o procedimento normal de determinação
até à operação de escolha da pena.
⁃ O tribunal constrói a moldura penal do concurso:
 O limite máximo é dado pela soma das penas concretamente aplicadas aos
vários crimes, com os limites previstos no nº2 do art.77;
 O limite mínimo corresponde à mais elevada das penas concretamente
aplicadas aos vários crimes.
⁃ O tribunal determina a medida da pena conjunta do concurso, seguindo os critérios
gerais da culpa e da prevenção (art.71) e o critério especial segundo o qual na medida da pena
são considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente (art.77/1, 2ª parte). O
critério especial garante a observância do princípio da proibição da dupla valoração.
⁃ O tribunal tem o poder dever de substituir a pena única conjunta encontrada por uma
pena de substituição, em função dos critérios gerais de escolha da pena (art.70), sem que fique
prejudicada a possibilidade de impor penas acessórias ou medidas de segurança (art.77/4).


↝ As operações acabadas de descrever valem para os casos em que os crimes
correspondem penas parcelares da mesma espécie  ou só penas de prisão ou só penas de
multa.
↝ Se as penas parcelares forem de espécie diferente, umas de prisão e outras de multa,
dispõe o art.77 nº3 que a diferente natureza destas mantém-se na pena única resultante da
aplicação dos critérios estabelecidos nos números anteriores.
Se as penas aplicadas aos crimes em concurso forem de prisão e de multa (pena de
multa principal), converte-se a multa em prisão subsidiária nos termos do art.49/1, para desta
forma poder ser determinada a pena única do concurso, segundo o procedimento que vale para
as penas da mesma natureza.
O condenado poderá sempre optar por pagar a multa, caso em que esta deixa de entrar
no procedimento de determinação da pena única conjunta.

Acórdãos importantes nesta matéria:


Ac. STJ 9 de Abril 2008: cúmulo por arrastamento
Ac. STJ 21 de Maio 2008: conhecimento superveniente do concurso
Ac. STJ 14 de Julho 2008: cúmulo jurídico

2009/2010
Direito Penal III 38

▣ Determinação superveniente da pena do concurso

O art.78 nº1 dispõe que se, depois de uma condenação transitada em julgado, se
mostrar que o agente praticou, anteriormente àquela condenação, outro ou outros crimes, são
aplicáveis as regras da punição do concurso, sendo a pena que já tiver sido cumprida
descontada no cumprimento da pena única aplicada ao concurso de crimes. O nº2 refere que
tais regras são aplicáveis relativamente aos crimes cuja condenação transitou em julgado.

▪ Pressupostos:
⁃ Que o crime de que haja só agora conhecimento tenha sido praticado antes da
condenação anteriormente proferida.
O momento temporal decisivo para saber se o crime agora conhecido foi ou não anterior
à condenação é o momento em que esta foi proferida e não o do seu trânsito em julgado.
 O que exclui:
 quer os crimes praticados entre a condenação e o transito em julgado da
mesma;
 quer os crimes praticados depois deste transito em julgado;

Tendo lugar nestes casos a execução sucessiva de várias penas (art.63).
⁃ Que as condições pelos crimes já tenham transitado em julgado, o que pressupõe que
os crimes já tinham sido objecto de condenações transitadas em julgado.
 O actual art.78 nº2 estabelece que a determinação superveniente da pena só tem lugar
se as condenações já tiverem transitado em julgado.
Considerando o art.472 do CPP, é de concluir que, em caso de conhecimento
superveniente do concurso, é sempre designado dia para a realização de audiência, com o
objectivo exclusivo de determinar a pena única correspondente. A determinação superveniente
da pena deixou de poder ser feita pelo tribunal que julga o crime praticado anteriormente à
condenação que já teve lugar, ainda que este segundo tribunal conheça a condenação anterior já
transitada em julgado.
Com as alterações introduzidas pela Lei 59/2007, foi eliminado o pressuposto de a pena
anterior não estar cumprida, prescrita ou extinta  extensão dos casos de determinação
superveniente da pena.

▪ Regime:
⁃ Se a condenação anterior tiver tido lugar por um crime singular, o tribunal, em função
desta condenação e da pena correspondente ao crime praticado antes desta, determina a pena
única conjunta:
⁃ Se a condenação anterior tiver sido já em pena única conjunta, o tribunal anula-a e
determina uma nova pena conjunta, em função das penas parcelares concretamente
determinadas.

Em qualquer caso, a pena que já tiver sido cumprida é descontada no cumprimento da
pena única agora aplicada (art.78/1, in fine).
⁃ Se à condenação anterior corresponder uma pena de substituição, deverá ser
determinada uma pena única conjunta, a partir da pena de prisão substituída ou das penas
parcelares de prisão que integram a 1ª condenação. O tribunal substituirá ou não a pena única
conjunta encontrada em função dos critérios gerais de escolha da pena (art.70), procedendo
depois ao desconto da pena anterior (art.78/1, in fine e art.81/1/2)

2009/2010
Direito Penal III 39

∗ Conclusão:
O que distingue o concurso da reincidência é o facto de:
No concurso, os vários crimes são praticados antes do trânsito em julgado de
qualquer um deles;
Na reincidência, o 2º crime é praticado depois do trânsito em julgado da 1ª
condenação.

Esta diferença não contrariada pelo disposto no art.78, porque no caso do conhecimento
superveniente do concurso, o agente cometeu mais do que um crime, mas no momento do
julgamento, o juiz não teve conhecimento de todos os crimes que o agente cometeu, ou seja, o
2º crime é praticado antes do trânsito em julgado da decisão, mas só é conhecido depois do
trânsito em julgado.

▣ Punição do crime continuado

O art.79 nº1 estabelece que o crime continuado é punível com a pena aplicável à
conduta mais grave que integra a continuação  Principio da exasperação.
O tribunal determina a medida concreta da pena do crime continuado dentro da moldura
penal mais grave cabida aos diversos crimes que integram a continuação, valorando dentro
dessa moldura a pluralidade de actos.
O art.79 nº3 refere que se, depois de uma condenação transitada em julgado, for
conhecida uma conduta mais grave que integre a continuação, a pena que lhe for aplicável
substitui a anterior.
 O efeito de caso julgado deixa de se poder estender a todos os factos que integram a
continuação criminosa.
Atendendo ao procedimento de determinação da pena em caso de concurso de crimes –
o limite máximo da pena corresponde à soma das penas concretamente aplicadas aos vários
crimes, bem como o facto de a pena única ser determinada considerando, em conjunto, os
factos e a personalidade do agente, o que apontaria para a consideração dos pressupostos que
justificam esta hipótese de unidade jurídica criminosa – é de duvidar que o consagrado no
art.79 tenha justificação.
 Posição que, no limite, contende com a necessidade de autonomização da figura do
crime continuado, de um ponto de vista dogmático e político-criminal.

____________________________________________________________________________

2009/2010
Direito Penal III 40

√ Desconto
O instituto do desconto, encontra-se regulado nos artigos 80, 81 e 82, justifica-se do
ponto de vista político-criminal por imposição de justiça material  abrange as privações da
liberdade de natureza processual que o agente tenha sofrido, as quais devem ser descontadas na
pena em que o agente venha a ser condenado.

▣ Medidas processuais
Dispõe o art.80 que a detenção, a prisão preventiva e a obrigação de permanência na
habitação sofridas pelo arguido são descontadas por inteiro no cumprimento da pena de
prisão ou da pena de multa, ainda que tenham sido aplicadas em processo diferente daquele
em que vier a ser condenado, quando o facto por que for condenado tenha sido praticado
anteriormente à decisão final do processo no âmbito do qual as medidas foram aplicadas.
 O desconto das medidas processuais nas penas principais em que o agente venha a
ser efectivamente condenado tem lugar ainda que estas medidas tenham sido aplicadas em
processo diferente daquele em que vier a ser condenado.
‣ Se a medida processual for descontada em pena de prisão, o desconto é feito por
inteiro (art.80/1);
‣ Se for descontada na pena de multa, o desconto é feito à razão de um dia de privação
da liberdade por, pelo menos, um dia de multa (art.80/2).
Não obstante o silencio da lei, as medidas processuais devem ser ainda descontadas na
medida de segurança de internamento (art.90/2), bem como nas penas de substituição que
venham a ser impostas, por inteiro ou fazendo o desconto que parecer equitativo, consoante os
casos.

▣ Pena anterior
Dispõe o art.81 nº1 que se a pena imposta por decisão transitada em julgado for
posteriormente substituída por outra, é descontada nesta a pena anterior, na medida em que já
tiver cumprida.
Isto acontecerá, p.ex.:
- Em casos de conhecimento superveniente do concurso
- No contexto de um processo de revisão (art.449 e ss, CPP)
- Na sequência da reabertura da audiência para aplicação retroactiva de lei penal
mais favorável (art.2/4  art.371-A do CPP)

‣ Se a pena anterior for descontada numa outra pena da mesma natureza, o desconto é
feito por inteiro (art.81/1)
‣ Se a pena anterior e a posterior forem de diferente natureza, é feito o desconto que
parecer equitativo (art.81/2)
O tribunal determinará o quantum da nova pena que, por razões de tutela dos bens
jurídicos e de reintegração do agente na sociedade (art.40/1), se torna ainda indispensável
aplicar tendo em atenção o quantum de pena já anteriormente cumprido.

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2009/2010
Direito Penal III 41

√ Atenuação especial da pena

Nos termos do nº1 do art.72, o tribunal atenua especialmente a pena, para além dos
casos expressamente previstos, quando existirem circunstâncias anteriores ou posteriores ao
crime, ou contemporâneas dele, que diminuam de forma acentuada a ilicitude do facto, a culpa
do agente ou a necessidade de pena.

Casos expressamente previstos: art.10/3, 17/2, 27/2, 35/2, 206/2/3, 286 e 299/4
Circunstâncias: art.72 nº2

O legislador formula no art.72 uma cláusula geral de atenuação especial da pena,


regulando no art.73 o regime a que toda a atenuação especial deve sujeitar-se.
‣ Tratando-se de pena de prisão;
⁃ O limite máximo é reduzido de 1/3 (art.73/1/a))
⁃ A redução do limite mínimo depende do montante deste (art.73/1/b)):
 Se for igual ou superior a 3 anos é reduzido a 1/5
 Se for inferior a 3 anos é reduzido ao mínimo legal (1 mês, art.41/1;)

‣ Tratando-se de pena de multa (art.73/1/c));


⁃ O limite máximo é reduzido de 1/3
⁃ O limite mínimo é reduzido ao mínimo legal (10 dias, art.47/1;)

Nos casos em que o limite máximo da pena de prisão não seja superior a 3 anos admite-
se a substituição desta pena por multa, dentro dos limites gerais do art.70.
A pena que for concretamente determinada dentro da moldura penal especialmente
atenuada, em função dos critérios da culpa e da prevenção e com observância do princípio da
proibição da dupla valoração (art.71/1), pode ainda vir a ser substituída nos termos gerais
(art.73/2 e art.70)

2009/2010
Direito Penal III 42

√ Dispensa de pena

O art.74 nº1 permite ao tribunal, verificados certos pressupostos, declarar o réu (o


arguido) culpado mas não aplicar qualquer pena.
 Declara-o culpado, mas dispensa-o de pena.

Há da parte do arguido um comportamento típico, ilícito, culposo e punível que, no


entanto, não determina a aplicação de uma qualquer pena, só a declaração de que é culpado, em
virtude do carácter bagatelar/insignificante daquele comportamento e da circunstância de a
pena não ser necessária, perante as finalidades que deveria cumprir (art.40/1).
Trata-se de um caso especial de determinação da pena, sendo a sentença que decreta a
dispensa da pena uma sentença condenatória (art.375/3 e 521, CPP).

Segundo o art.74, a dispensa de pena depende da verificação cumulativa dos seguintes


pressupostos:
‣ Que o crime seja punível com pena de prisão não superior a 6 meses ou só com
pena de multa não superior a 120 dias
‣ Que a ilicitude do facto e a culpa do agente sejam diminutas (art.74/1 al.a))
‣ Que o dano tenha sido reparado (art.74/1 al.b) /2)
‣ Que à dispensa não se oponham razões de prevenção (art.74/1 al.c) e art.40/1).
Os requisitos previstos têm de ser observados quando uma outra norma admitir, com
carácter facultativo, a dispensa de pena (art.74/3)  P.ex., os art.143/3, 148/2, 186 e 286.

Os requisitos de que depende o instituto da dispensa admitem um relacionamento


unilateral ou unívoco entre pena e culpa, de harmonia com o preceituado no art.40 nº 1 e 2, o
que permite a asserção de que a culpa é pressuposto e limite da pena, mas não o seu
fundamento.
A dispensa da pena é uma concretização do princípio político-criminal da necessidade
da intervenção penal, com expressão também ao nível do processo penal (art.280 CPP).

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2009/2010
Direito Penal III 43

Caso prático

Em Outubro de 2007, A cometeu um crime e em Dezembro 2007, cometeu outro crime.


Está hoje a ser julgado pela prática destes dois crimes.
Determine a pena a aplicar a A pelo segundo crime.
Julgamento
Crime 1 Crime 2 dos crime1 e 2

Outubro 2007 Dezembro 2007 2008

Esta é uma situação de concurso de crimes (art.77)

Para haver concurso de crimes é necessário estarem preenchidos alguns pressupostos:


- Tem de haver um concurso efectivo ou verdadeiro de crimes
- O agente tem de ter praticado os vários crimes antes de transitar em julgado, a
sentença de qualquer um deles.
- O art.30 nº1 diz que há concurso de crimes, quando o agente preencher vários tipos
legais de crimes, ou quando cometer várias vezes o mesmo crime.

O nosso sistema de determinação da pena no concurso de crimes é o sistema da pena


única, na modalidade de sistema da pena conjunta, pelo método do cúmulo.

Sistema da pena única conjunta, de acordo com o método do cúmulo jurídico



Comporta três operações:
∙ Determinação da pena concreta para cada um dos crimes: segundo o art.71, como
pena principal. (não se considera aqui ainda a possibilidade de substituição)
∙ Construção da moldura do concurso: nesta operação temos que distinguir duas
situações, referidas no art.77 nº2 e 3.
 Se, se tratar de penas parcelares da mesma espécie (ou todas de prisão ou todas
penas de multa), o limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar
mais grave e o limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas. Mas há aqui
um limite: o limite máximo não pode nunca ultrapassar os 25 anos de prisão ou 900 dias
de multa. (art.77/2)
 Quando as penas parcelares são de espécie diferente (seja umas de prisão, outras
de multa).
Antes de ’95, valia a sistema da acumulação material, o agente tinha de cumprir
tanto a pena de multa, como a pena de prisão.
Depois de ’95, também estes casos de penas parcelares de espécie diferente,
continua a valer o sistema da pena única (art.77/3). É necessário converter aqui, a multa
em prisão subsidiária (art.49) procede-se à redução do número de dias de multa a 2/3 e
depois constrói-se a moldura do concurso como se, se tratasse de 2 penas de prisão.
∙ Na 3ª operação vamos proceder à determinação da pena concreta dentro da moldura
do concurso, encontrada em função das exigências da culpa e da prevenção. O juiz vai
determinar a moldura concreta da pena conjunta (art.71) e ao critério especial do art.77 nº1, que
estabelece que na determinação da medida concreta da pena do concurso, serão tidos em conta,
em conjunto, os factos e a personalidade do agente (art.77 nº1, 2ª parte). Mas estes dois
critérios (factos e personalidade do agente), já foram considerados enquanto factores da medida
da pena, quando na 1ª operação se determina a pena concreta a aplicar a cada crime.

2009/2010
Direito Penal III 44

Estaremos a violar o princípio da proibição da dupla valoração?


Não, porque na 3ª operação nós vamos considerar os factos e a personalidade do agente,
em conjunto, tendo em conta a totalidade dos crimes praticados. Ex. Se há uma conexão entre
os diversos factos; se é uma situação ocasional ou se não.
Assim, o critério especial do art.77 nº1, radica no facto de o juiz ir analisar em conjunto,
os factos e a personalidade do agente, em relação à totalidade dos crimes.
Só depois de encontrar a pena única conjunta é que pode haver lugar à substituição
dessa pena, por uma pena de substituição.

Caso prático

Entre Agosto e Novembro de 2007, A cometeu 3 crimes. Os dois primeiros crimes são
puníveis com uma pena de prisão de 1 mês a 3 anos, e o terceiro crime é punido com uma pena
de prisão de 2-8 anos. A está hoje a ser julgado por esses crimes.
Determine a pena a aplicar a A?
Julgamento
Crime 1 Crime 2 Crime 3 dos crimes 1, 2, 3

1 mês a 3 anos 1 mês a 3 anos 2 a 8 anos 2009

É uma situação de concurso de crimes.

1ª Operação: Determinar a pena concreta a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessário
inventar penas)
Crime 1: 1 ano
Crime 2: 2 anos
Crime 3: 2 anos e 6 meses

2ª Operação: Construção da moldura do concurso


Estamos perante penas parcelares da mesma espécie (penas de prisão):
 O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave
Limite mínimo: 2 anos e 6 meses
 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas. Mas há aqui um limite:
o limite máximo não pode nunca ultrapassar os 25 anos de prisão (art.77/2).
Limite máximo: 5 anos e 6 meses

↝ Moldura penal do concurso é de 2 anos e 6 meses a 5 anos e 6 meses

3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade do


agente
‣ O juiz determina uma pena de 3 anos

Como é uma pena inferior a 5 anos, pode esta ser objecto de substituição por:
- Penas privativas da liberdade
- Penas não privativas da liberdade

Nota: Só se procede à substituição da pena, na última operação.

2009/2010
Direito Penal III 45

Caso prático

Entre Janeiro e Novembro de 2007, B cometeu 2 crimes. O primeiro punível com uma
pena de multa até 120 dias e o segundo crime é punível com uma pena de multa entre 60 a 360
dias. B está hoje a ser julgado por esses crimes.
Determine a pena a aplicar a B?
Julgamento
Crime 1 Crime 2 dos crimes 1, 2

10 a 120 dias 60 a 360 dias 2009

É uma situação de concurso de crimes (art.77)

1ª Operação: Determinar a pena concreta a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessário
inventar penas)
Crime 1: 80 dias
Crime 2: 200 dias
Nota: o quantitativo diário só é encontrado no fim, quando tivermos a pena concreta do
concurso.

2ª Operação: Construção da moldura do concurso


Estamos perante penas parcelares da mesma espécie (penas de multa):
 O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave
Limite mínimo: 200 dias
 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas. Mas há aqui um limite:
o limite máximo não pode nunca ultrapassar os 900 dias de pena de multa (art.77/2).
Limite máximo: 280 dias

↝ Moldura penal do concurso é de 200 dias a 280 dias

3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade do


agente
‣ O juiz determina uma pena de multa de 260 dias
‣ O juiz fixa o quantitativo diário em 10€

10€ x 260 = 2600€

A terá de pagar uma multa no valor de 2600€

2009/2010
Direito Penal III 46

Caso prático

Em Agosto de 2007, D cometeu um crime. O crime 1 punível com uma pena de prisão
de 2 a 8 anos.
Em Setembro de 2007, cometeu o crime 2, punível com uma pena de multa entre 60 a
360 dias.
Determine a pena a aplicar a D?
Julgamento
Crime 1 Crime 2 dos crimes 1, 2

2-8 anos de prisão 60 a 360 dias de multa

É uma situação de concurso de crimes (art.77)

1ª Operação: Determinar a pena parcelar a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessário
inventar penas)
Crime 1: 4 anos de prisão
Crime 2: 240 dias de multa

2ª Operação: Construção da moldura do concurso


Estamos perante penas parcelares de espécie diferente
‣ Quando as penas parcelares são de espécie diferente (seja umas de prisão, outras de
multa), continua a valer o sistema da pena única (art.77/3).
É necessário converter aqui, a multa em prisão subsidiária (art.49) procede-se à redução
do número de dias de multa a 2/3 e depois constrói-se a moldura do concurso como se, se
tratasse de 2 penas de prisão.
↝ Conversão da multa em prisão subsidiária

160|30 dias
5 meses

5 meses x 30 = 150 dias  160 dias -150 dias = 10 dias

160 dias de prisão = 5 meses e 10 dias de prisão



Temos assim, duas penas da mesma espécie
Crime 1: 4 anos de prisão
Crime 2: 5 meses e 10 dias de prisão

 O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave


Limite mínimo: 4 anos
 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas (art.77/2).
Limite máximo: 4 anos, 5 meses e 10 dias de prisão

↝ Moldura penal do concurso é de 4 anos a 4 anos, 5 meses e 10 dias de prisão.

2009/2010
Direito Penal III 47

3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade do


agente
‣ O juiz determina uma pena de 4 anos e 3 meses

É necessário ter em atenção o que nos diz o art.77 nº3. O nº3 diz que a diferente
natureza das penas se mantém. Isto significa, que o condenado tem a possibilidade de
pagar a multa evitando que a multa se repercuta/reflicta na pena do concurso.
Assim, quando as penas parcelares são de espécie diferente o condenado:
- Pode optar por pagar a multa e esta não entra na pena do concurso;
- Pode optar por não pagar a multa e esta é convertida em pena de prisão
subsidiária, e entrara como pena parcelar na pena conjunta.

2009/2010
Direito Penal III 48

Caso prático
A está hoje a ser julgado pela prática de um crime de ofensa à integridade física grave,
punido pelo art.144, com uma pena de prisão de 2 a 10 anos e de um crime de furto, punido
pelo art.203, com uma pena de prisão até 3 anos. Ambos os crimes foram cometidos em Abril
de 2006. Tendo em conta, que em Maio de 2004, A foi condenado pela prática de um crime
cometido em 2003, crime doloso de abuso de confiança na pena de 1 ano de prisão.
Determine a pena a aplicar a A.

Crime 1 Crime 3 Julgamento dos


Julgamento Crime 2
2003 2006 crimes 2 e 3
do crime1 2006

Abuso de Maio 2004 2-10anos 1 mês -3 anos


confiança
1 ano
Concurso de
A é reincidente em relação ao crimes
crime1 e o crime 3

Problema: Temos entre o concurso de crimes uma situação em que o agente é reincidente em
relação ao crime de abuso de com fiança e o crime de furto.
P.ex.: O abuso de confiança é quando se empresta o PC a A, e depois este não o
devolve, recusa-se a fazê-lo. Já o furto é quando A rouba mesmo o PC.
No crime 2 e 3 temos um concurso de crimes (art.77)
1ª Operação: Determinar a pena parcelar a aplicar a cada crime. (nota: aqui é necessário
inventar penas)
‣ Crime 2: 4 anos de prisão
↝ No crime 3 há reincidência:
1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente (art.75): 1 ano e 6 meses
2ª Operação: Construção da moldura da reincidência: 1 mês e 10 dias a 3 anos
3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como sendo
reincidente: 2 anos
4ª Operação: limite da agravação e de quanto é: a agravação foi de 6 meses, o limite foi
cumprido. (2 anos – 1 ano e 6 meses = 6 meses)

‣ Crime 3: 2 anos de prisão
2ª Operação: Construção da moldura do concurso
 O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave
Limite mínimo: 5 anos
 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas (art.77/2).
Limite máximo: 7 anos

↝ Moldura penal do concurso é de 5 anos a 7 anos.
3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade do
agente
‣ O juiz determina uma pena de 6 anos.

Nesta operação teremos de analisar em conjunto, os factos e a personalidade do agente
Esta pena não pode ser substituída, porque só podem substituir penas até aos 5 anos.

2009/2010
Direito Penal III 49

Caso prático
Em Janeiro de 2007, A praticou um crime de furto (art.203) e punível com pena de
prisão até 3 anos. Em Fevereiro de 2007, cometeu um crime de ofensa à integridade física
grave (art.144) e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos.
Em Novembro de 2007, A é condenado pena pratica de um crime de furto numa pena de
2 anos de prisão. Neste momento, o tribunal desconhece a prática do crime 2.
Em Outubro de 2008, chega ao conhecimento do tribunal a pratica do crime 2, sabendo
este tribunal também, que A já foi condenado pela prática de crime 1.
O que deve o juiz fazer quanto ao crime 2?
Crime 2
Crime 1 Julgamento Julgamento
Fev. ‘07
Jan. ‘07 do crime 1 do crime 2

1 mês - 8 anos 2 - 10 anos Nov. ‘07 Outubro ‘08


Condenado a 2 anos

É uma situação do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78)


No caso do conhecimento superveniente do concurso, o agente cometeu mais do que um
crime, mas no momento do julgamento, o juiz não teve conhecimento de todos os crimes que o
agente cometeu.
Pressupostos do conhecimento superveniente do concurso:
‣ O crime de que se não teve conhecimento no momento da condenação, tem de ter sido
praticado antes da condenação em 1ª instância.
‣ Os crimes em questão têm de ter sido já objecto de condenações já transitadas em
julgado.

Note-se:
Mesmo que o 2º tribunal tenha conhecimento do crime 1 e do crime 2, ele não pode
determinar a pena única conjunta.
É necessário ter em atenção o nº2 do art.78, que exige que ambos os crimes tenham já
sido objecto de condenação com trânsito em julgado.
Deste modo, o 2º tribunal apenas determina a pena para o 2º crime, por causa do art.78
nº2  art.472 do CPP, tem de ser sempre um 3º tribunal a determinar a pena em causo de
reconhecimento superveniente do concurso.
↝ Imaginemos que o tribunal determina a pena de 3 anos para o crime 2.

O cúmulo jurídico de ambas as penas só pode ser feito depois das duas condenações
terem transitado em julgado
1ª Operação: Determinar a pena parcelar a aplicar a cada crime.
Crime 1: 2 anos de prisão
Crime 2: 3 anos de prisão
2ª Operação: Construção da moldura do concurso
 O limite mínimo da moldura de concurso corresponde à pena parcelar mais grave: 3 anos
 O limite máximo é a soma das penas concretamente aplicadas (art.77/2): 5 anos
Moldura penal do concurso é de 3 anos a 5 anos.

2009/2010
Direito Penal III 50

3ª Operação: Art.71  art.77: é necessário avaliar em conjunto a culpa e a personalidade do agente


‣ O juiz determina uma pena de 4 anos

Neste caso, tem de actuar aqui o instituto do desconto: é necessário descontar na pena
única conjunta a pena já cumprida pela 1ª condenação (art.78/1  art.81).
O desconto é um caso especial de determinação da pena. Este instituto está regulado nos
art.80 a 82 e assenta na ideia de privações da liberdade de qualquer tipo que o agente tenha
sofrido ao longo de um processo penal, devem por imperativos de justiça material, serem
imputados ou descontados na pena a que o agente vier a ser condenado, no âmbito do mesmo
ou de outro crime.

Critério legal do desconto assenta na ideia que as privações da liberdade de qualquer


tipo, que o agente tenha sofrido ao longo do processo penal, devem ser imputadas ou
descontadas na pena que o agente vier a ser condenado no âmbito da mesma ou de outro crime.
↝ Desconto de uma medida processual privativa da liberdade numa pena
 É necessário ter em atenção duas situações diferentes:
- Se o agente for condenado numa pena prisão, o desconto far-se-á por inteiro
(art.80/1)
- Se o agente for condenado numa pena de multa, a privação da liberdade
processual será descontada à razão de um dia de privação da liberdade, por pelo
menos um dia de multa (art.80/2)
↝ Desconto de uma pena noutra pena
 É necessário atender aqui, a duas situações diferentes:
- Se for um desconto de uma pena noutra pena da mesma espécie, o desconto é
feito por inteiro.
- Se a pena anterior e a pena posterior forem de natureza diferente, é feito o
desconto na nova pena, desconto que parecer equitativo, isto é, o juiz tem de
determinar o tempo da nova pena que por razões de prevenção geral e especial, se
mostra ainda indispensável aplicar, tendo em atenção, o tempo de pena que já foi
cumprido (art.80/1)

2009/2010
Direito Penal III 51

Caso prático
Em Janeiro de 2005, A praticou um crime de furto (art.203) e punível com pena de
prisão até 3 anos. Em Fevereiro de 2005, cometeu um crime de ofensa à integridade física
grave (art.144) e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos. Em Março de 2005, cometeu um
crime de dano (art.213/2), punível com pena de prisão de 2 a 8 anos.
Em Setembro 2006, A é julgado pela prática do crime de furto e pela ofensa à
integridade física grave. O tribunal determina para o crime de furto uma pena de 2 anos e para
o 2º crime uma pena de 4 anos. Depois construiu a moldura do concurso de 4 a 6 anos, e
determina a pena única conjunta de 5 anos. Neste momento, o tribunal desconhecia o crime 3.
Em Outubro de 2007, chega ao conhecimento do tribunal a pratica do crime 3.
O que deve o juiz fazer quanto ao crime 2?

Crime 1 Crime 2 Crime 3 Julgamento Trânsito em Julgado Julgamento


Jan. ‘05 Fev. ‘05 Març ‘05 dos crimes 1 e 2 dos crimes 1 e 2 do crime 3

Set. ‘06 Out ‘07


2 - 10 anos 2 - 8 anos
3 anos
Condenado a 5 anos

É uma situação do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78)


1ª Operação: É necessário que o tribunal anule a pena única encontrada pelo tribunal.
2ª Operação: O juiz aproveita as penas que já foram determinadas:
Crime 1: 2 anos
Crime 2: 4 anos
Crime 3: 3 anos
3ª Operação: Construção da moldura do concurso: 4 a 9 anos
4ª Operação: Determinação da pena em concreto, atendendo em conjunto aos factos e à personalidade
do agente: 7 anos
5ª Operação: É necessário descontar a pena já cumprida
A pena numa outra pena da mesma espécie  o desconto é feito por inteiro (art.80/1)

2009/2010
Direito Penal III 52

Caso prático
Em Janeiro de 2006, A praticou um crime de ofensa à integridade física grave (art.144)
e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos.
Em Março de 2006, cometeu um crime de dano (art.213/2), punível com pena de prisão
de 2 a 8 anos.
Em Abril 2007, A punível pelo crime de ofensa à integridade física grave, por 4 anos, e
o juiz decidiu substituir pela pena de suspensão da execução da pena, neste momento, o
tribunal desconhece a pratica do crime 2.
Em Outubro de 2007, o tribunal vem a saber da prática do crime 2 e determina para esse
crime uma pena de 5 anos.
O que deve hoje, fazer o tribunal que pretende determinar a pena conjunta a A?

Crime 1 Crime 2 Julgamento Trânsito em Julgado Julgamento Trânsito em Julgado


Jan. ‘06 Mar. ‘06 dos crimes 1 do crime 1 do crime 2 do crime 2

Abril ‘07 Out ‘07


2 - 10 anos 2 - 8 anos 4 anos pena suspensa
5 anos

É uma situação do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78)


1ª Operação: É necessário que o tribunal anule a pena de substituição.
2ª Operação: O juiz aproveita as penas que já foram determinadas:
Crime 1: 4 anos
Crime 2: 5 anos
3ª Operação: Construção da moldura do concurso: 4 a 9 anos
4ª Operação: Determinação da pena em concreto, atendendo em conjunto aos factos e à personalidade
do agente: 8 anos
5ª Operação: É necessário descontar a pena já cumprida
São penas espécie diferente  o desconto é feito de forma equitativa (art.81/2)

2009/2010
Direito Penal III 53

Caso prático
Em Fevereiro de 2007, A cometeu um crime de homicídio qualificado (art.132) e
punível com pena de prisão de 12 a 25 anos.
Em Janeiro de 2008, A foi julgado e condenado a 22 anos de prisão. A interpôs recurso
desta decisão.
Em Março de 2008 A cometeu um outro homicídio qualificado.
Em Outubro de 2008, o tribunal de recurso proferiu o acórdão relativo ao recurso
interposto por A, tendo por isso, transitado em julgado a condenação pelo crime 1.
A está hoje a ser julgado pelo crime 2.
Determine a pena a aplicar a A?
Julgamento Trânsito em Julgado
Crime 1 do crimes 1 Recurso Crime 2 do crime 1 Julgamento
Fev. ‘07 Jan. ‘08 Crime 1 Mar. ’08 Out. ‘08 do crime 2

12-25 anos
12-25 anos 22 anos

O crime 2 foi cometido entre a condenação e o trânsito em julgado da condenação pelo


crime 1.
Não é reincidência porque para o ser o 2º crime teria de ser praticado depois do tribunal
de justiça da 1ª condenação.
É um caso do conhecimento superveniente do concurso de crimes (art.78) ???
Anteriormente àquela condenação, podem ser duas coisas:
- momento em que a condenação foi proferida
- momento em que a condenação transitou em julgado
Se for no momento em que a condenação transitou em julgado, então o nosso caso é um
caso de conhecimento superveniente do concurso.
Mas se for posterior ao momento em que a condenação foi proferida em 1ª instância,
então o nosso caso não é um caso de conhecimento superveniente do concurso.
A Dr.ª M.J.A. entende que no caso de o 2º crime ser praticado entre a condenação e o
tribunal de justiça da condenação pelo crime 1, nos não estamos perante um caso de
conhecimento superveniente do concurso.
O momento relevante para vermos se estamos perante um conhecimento superveniente
do concurso, é o momento em que é proferida a condenação em 1ª instância.

Dois momentos que justificam esta posição:
1) Razão de ser do art.78, que existe para corrigir falhas na administração da justiça
(neste caso pratico, não houve falha, não se aplica o art.78).
2) Se, se entendesse que os crimes cometidos entre a condenação e o trânsito em julgado
deviam ser considerados para efeitos de determinação duma pena única conjunta, criar-se-ia
deste modo, um período de impunidade para o agente, entre o momento da condenação e o
momento do trânsito em julgado.
Deste modo, se o agente cometer crimes depois da condenação e antes do trânsito em
julgado, não temos um caso de concurso de crimes, temos sim um caso de execução sucessiva
de penas, porque o momento decisivo para se saber se estamos ou não perante um concurso de
crimes, seja o art.77 ou o art.78, esse momento relevante é sempre o momento em que a
condenação é proferida.
Para haver concurso de crimes, o agente tem de ter cometido todos os crimes antes da
condenação em 1ª instância.

2009/2010
Direito Penal III 54

Caso prático
Em Fevereiro de 2006, A cometeu um crime de ofensa à integridade física grave
(art.144) e punível com pena de prisão de 2 a 10 anos. Em Janeiro de 2007, A foi julgado e
condenado a 8 anos de prisão. Desta decisão não houve recurso.
Em Dezembro de 2007, já na prisão, A cometeu um outro crime de ofensa à integridade
física contra um outro recluso.
Determine a pena a aplicar a A?
Julgamento
Crime 1 Crime 2 Julgamento
do crimes 1
Fev. ‘06 Dez. ’07 do crime 2
Jan. ‘07

2-10 anos 8 anos

Estamos perante uma situação em que o agente cometeu o 2º crime depois da decisão da
1ª condenação. Mas no momento em que a pena pelo 1º crime ainda está a ser cumprida.
Como até 2007, um dos requisitos do conhecimento superveniente era o de que a pena
da condenação anterior não estivesse cumprida. Os nossos tribunais, chegaram a fazer uma
enorme confusão e nestes casos que estamos a ver agora, determinavam também uma pena
única conjunta, por achar que era um conhecimento superveniente do concurso. Faziam o
cúmulo por arrastamento.
Estamos perante um caso de reincidência, casos em que o arguido comete um crime
subsequente da mesma espécie pelo qual já tinha sido condenado. Logo, aquele que reitera deve
ser objecto de uma condenação mais severa do que aquele que comete um crime pela 1ª vez e
nunca foi condenado. Pode suceder que não haja reincidência, mas a reiteração pode levar à
perigosidade do agente. A reincidência está reservada para um núcleo restrito de casos, aqueles
que reúnem os requisitos do art.75 nº1 e 2.
Art.75  Prevê os casos em que há reincidência
Art.76  Consequências da reincidência.
Só há reincidência quando o crime é cometido depois do trânsito em julgado do crime
anterior. A reincidência quando actua, actua ao nível da determinação da pena do novo crime.
Os crimes que já estão para trás já têm a pena determinada, já têm a sua condenação. O
problema que o tribunal tem que resolver é a determinação da pena do novo crime. É em
relação ao novo crime que se coloca o problema da reincidência.
Determinação da pena em caso de reincidência:
1ª Operação: Determinar a pena como se não fosse reincidente: 8 anos
2ª Operação: Construção da moldura da reincidência
Sendo, como vimos, a nossa moldura abstracta de 2 a 10 anos, refere o art.76º/1 que:
- Limite mínimo é elevado a 1/3: dá 2 anos e 6 meses
- Limite máximo permanece inalterado: 10 anos
⁃ Nova moldura legal abstracta: 2 anos e 6 meses a 10 anos.
3ª Operação: Dentro da moldura da reincidência determinar a pena concreta, como sendo
reincidente. Sendo assim, é fixada a pena concreta de 10 anos.
4ª Operação: saber quanto foi a agravação
10 anos (pena da agravação) - 8 anos (pena que lhe seria aplicada se não fosse a
reincidência) = 2 anos  Agravação
Se a agravação não pode exceder a pena aplicada ao crime anterior, então 2 anos
(montante da agravação) é inferior a 8 (pena anterior)

2009/2010
Direito Penal III 55

____________________________________________________________________________

2009/2010
Direito Penal III 56

Escolha da pena e penas de substituição

√ Critério de escolha

Podemos identificar um critério geral de escolha da pena a partir dos artigos 70, 45 nº1,
50 nº1, 58 nº1, e 60 nº2, segundo o qual o tribunal dá preferência à pena não privativa da
liberdade, verificados os pressupostos formais de aplicação desta pena, sempre que esta realize
de forma adequada e suficiente as finalidades da punição (art.40/1/2).
O art.43 nº1 prevê um critério preventivo especial, segundo o qual a pena de prisão não
superior a um ano é substituída por pena de multa ou por outra pena não privativa da liberdade,
excepto se a execução da prisão for exigida pela necessidade de prevenir o cometimento de
futuros crimes. O critério de substituição por multa é o critério do art.70. A falta de rendimento
do condenado é que não poderá ser critério da não substituição da pena de prisão por pena de
multa, é aplicável o art.49 nº3.
São finalidades exclusivamente preventivas, de prevenção geral e de prevenção especial
(art.70 e art.40/1), que justificam e impõem a preferência por uma pena não privativa da
liberdade, sem perder de vista a protecção de bens jurídicos.
Se a culpa é limite da pena (art.40/2), desempenha esta função estritamente ao nível da
determinação da medida concreta da pena principal ou da pena de substituição (art.71/1).

O critério de escolha da pena vale:


‣ Na 3ª operação de determinação da pena. Se ao crime forem aplicáveis, em
alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à
pena não privativa da liberdade sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente
das finalidades da punição (art.70), e
‣ Na 1ª operação, quando o tipo de crime é punido com pena de prisão ou com
pena de multa (pena de multa alternativa). Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa,
pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à pena não
privativa da liberdade sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente das
finalidades da punição (art.70).


Trata-se de um poder-dever para o tribunal, com a consequência de dever fundamentar a
não aplicação da pena não privativa da liberdade (fundamentação negativa), quando dê
preferência à pena privativa da liberdade.
Os critérios que conduzem a uma preferência pela pena de multa principal e os que
levam à escolha da pena de multa de substituição são distintos. No primeiro caso, o critério é de
conveniência ou de maior ou menor adequação, enquanto que no segundo o critério é de
necessidade.
Compreende-se então que o tribunal possa numa 1ª operação escolher a pena de prisão
em detrimento da pena de multa principal e acabe por escolher a pena de multa de substituição
na 3ª/última operação
↝ A opção pela pena de prisão, em detrimento da multa alternativa (pena principal),
pode revelar-se mais vantajosa do ponto de vista preventivo-especial, uma vez que fazendo esta
opção o tribunal poderá ter depois, em sede de substituição da pena de prisão não superior a 5
anos, um leque alargado de penas não privativas da liberdade.

2009/2010
Direito Penal III 57

↝ O regime de execução da pena de multa principal e da pena de multa de substituição


é distinto.
Pena de multa principal Pena de multa de substituição
‣ A prisão subsidiária corresponde ‣ Se o agente não pagar tem de
aos dias de multa reduzido a 2/3 cumprir a pena de prisão aplicada na
(art.49/1) sentença (art.43/2, 1ª parte)
‣ O condenado pode a todo o ‣ O condenado não pode evitar, a
tempo evitar, total ou parcialmente, a execução da pena de prisão
execução da prisão subsidiária ‣ A multa parcialmente paga não se
(art.49/2) repercute na pena de prisão aplicada na
‣ A multa parcialmente paga sentença
repercute-se no tempo de prisão ‣ O condenado que cumpra prisão
subsidiária (art.49/2) que se intentou substituir por pena de
‣ O condenado que cumpra prisão multa pode ser libertado
subsidiária não pode ser libertado condicionalmente
condicionalmente

O nº3 do art.43, estabelece um critério de preferência pelas penas de substituição não


detentivas, quando dispõe que a pena de prisão aplicada em medida superior a 1 ano de prisão é
substituída por pena de multa ou por outra pena não privativa da liberdade aplicável,
estabelecendo o art.45 nº1 e o art.46 nº1, que a pena de prisão aplicada em medida não superior
a 1 ano, que não deva ser substituída por pena de outra espécie, é cumprida em dias livres ou
executada em regime de semidetenção.
Enuncia-se um critério de preferência, no âmbito das penas de substituição detentivas,
quando se estabelece que se aplica a prisão por dias livres se a pena de prisão aplicada em
medida não superior a 1 ano não dever ser substituída por pena de outra espécie (art.45/1) e o
regime de semidetenção se a pena de prisão aplicada em medida não superior a 1 ano não dever
ser substituída por pena de outra espécie, nem cumprida em dias livres (art.46/1).
 Há uma preferência legal: 1º - Regime de permanência na habitação (art.44/1 a))
2º - Regime de prisão por dias livres
3º - Regime de semidetenção

▣ Regime das penas de substituição


Até 2007 a medida concreta da pena de substituição era determinada de forma
autónoma, a partir dos critérios estabelecidos no art.71, ou seja, sem haver qualquer
correspondência automática entre o tempo de prisão ou os dias de multa e a medida da pena
que a substitui.
Com as alterações introduzidas em 2007 deixou de se poder afirmar a regra da
determinação, de forma autónoma, da medida concreta da pena de substituição, a partir dos
critérios estabelecidos no art.71.
Hoje, a determinação da pena de substituição afere-se através de um critério de
correspondência entre a pena que se quer substituir e a pena de prisão.
↝ A suspensão da execução da pena de prisão e a prestação de trabalho a favor da
comunidade passam a ter a duração que resultar da regra de correspondência legalmente
estabelecida:
O período de suspensão da execução da pena de prisão tem duração igual à pena de
prisão determinada na sentença, mas nunca inferior a 1 ano (art.50/5)
Cada dia de prisão é substituído por 1 hora de trabalho, no máximo de 480 horas
(art.58/3).

2009/2010
Direito Penal III 58

Execução das penas principais

√ Execução da pena de prisão


De acordo com o art.42, a execução da pena de prisão servindo a defesa da sociedade e
prevenindo a pratica de crimes, deve orientar-se no sentido da reintegração social do recluso,
preparando-o para conduzir a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes.
A execução da pena de prisão é regulada em legislação própria, na qual são fixados os
deveres e os direitos dos reclusos.
A própria CRP dispõe que os condenados a quem sejam aplicadas penas privativas da
liberdade mantêm a titularidade dos direitos fundamentais, salvas as limitações inerentes ao
sentido da condenação e às exigências próprias da respectiva execução (art.30/5).

▣ Regime de permanência na habitação


Com as alterações introduzidas em 2007:
 O remanescente não superior a 1 ano da pena de prisão efectiva que exceder o
tempo de privação da liberdade a que o arguido esteve sujeito em regime de detenção,
prisão preventiva, ou obrigação de permanência na habitação;
 Excepcionalmente, o remanescente não superior a 2 anos, quando se
verifiquem circunstancias de natureza pessoal ou familiar do condenado que
desaconselham a privação da liberdade em estabelecimento prisional (gravidez, idade
inferior a 21 anos ou superior a 65 anos, doença, …)

É executado em regime de permanência na habitação, se o condenado consentir, sempre
que o tribunal concluir que esta forma de cumprimento realiza de forma adequada e suficiente
as finalidades da punição (art.44 nº1 al.b) e nº2).
 Trata-se de uma forma de execução da pena de prisão, que é ainda, da competência
do tribunal da condenação.
Por um lado, trata-se da execução em regime de permanência na habitação do
remanescente não superior a 1 ano da pena de prisão efectiva que exceder o tempo de
privação da liberdade a que o arguido esteve sujeito em regime de detenção, prisão
preventiva, ou obrigação de permanência na habitação (art.80);
Por outro lado, as circunstâncias que o nº2 do art.44 prevê, exemplificativamente,
são circunstâncias que só podem relevar, de forma autónoma ao nível da execução da
pena de prisão, não em sede de escolha da pena (art.70), impondo-se, por isso, que a
remissão do nº2 para o nº1 abranja exclusivamente a al.b) do nº1 do art.44.

▣ Liberdade condicional
É um incidente de execução da pena de prisão que se justifica político-criminalmente à
luz da finalidade preventivo-especial de reintegração só agente na sociedade e do princípio da
necessidade de tutela de bens jurídicos (art.40/1).
A liberdade condicional consiste no facto de o juiz rever a decisão condenatória e
concluir de forma fundamentada que se justifica a execução da pena de prisão ou que nada
obsta/impede a que o condenado seja posto em liberdade.
A partir de 1995 só há liberdade condicional se o condenado der consentimento (art.61/1)
e a sua duração não pode ultrapassar o tempo de pena que ainda falta cumprir (art.61/5).
A liberdade condicional surge com o fim de evitar a reincidência, a prática de crimes,
porque muito tempo dentro da prisão tem efeitos criminógénicos. Trata-se de um período de
transição entre a prisão e a vida em liberdade.

2009/2010
Direito Penal III 59

∎ Pressupostos da liberdade condicional

∙ Consentimento do condenado (art.61/1 e art.485/2 do CPP)


É necessário o consentimento do condenado, pois há aqui um direito de cumprimento
integral da pena por parte deste.
∙ Cumprimento mínimo de 6 meses de pena de prisão.
O tribunal pode colocar o condenado em liberdade condicional quando este tenha
cumprido no mínimo 6 meses de prisão efectiva, pois só exigindo um cumprimento mínimo
efectivo é possível atribuir à execução da pena de prisão uma finalidade ressocializadora e
emitir e emitir o juízo de prognose favorável sobre o comportamento futuro do condenado em
liberdade, legalmente exigido (art.61/2 al.a))
 Ainda que, por efeito do desconto da prisão preventiva ou da obrigação de
permanência na habitação (art.80/1), esteja cumprida metade da pena, é de exigir o
cumprimento mínimo destes 6 meses de pena de prisão, uma vez que estas medidas de coacção
são impostas a arguido presumido inocente, em função de exigências processuais de natureza
cautelar (art.32/2 da CRP e art.191/1, art.204 do CPP), sem qualquer finalidade
ressocializadora que possibilite a formulação do juízo de prognose.
∙ Cumprimento de metade da pena de prisão (art.61/2)
Tem como pressuposto formal o cumprimento de metade da pena de prisão (art.61/2).
Para o efeito de ser concedida a liberdade condicional deve descontar-se na metade da pena em
que o agente foi condenado o tempo em que esteve detido, preso preventivamente ou em
obrigação de permanência na habitação (art.80/1).
P.ex.: A foi condenado em 10 anos de prisão e teve preso preventivamente durante 2
anos.
10 : 2 = 5 -2 = 3 anos (A pode ser posto em liberdade ao fim de 3 anos)
Dr.ª M.J.A. defende que quanto à liberdade condicional o desconto não deve ser feito na
pena mas sim na metade da pena, porque só assim é que tratamos de forma igual os
condenados.
∙ Na finalidade de prevenção especial faz-se um juízo positivo, no sentido de que aquele
condenado não vai voltar a cometer crimes, de acordo com o art.61 nº2 al.a).
É pressuposto material da concessão da liberdade condicional ser fundadamente de
esperar, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior do agente, a sua personalidade e a
evolução desta durante a execução da pena de prisão, que o condenado, uma vez em liberdade,
conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes.
O juízo de prognose favorável sobre o comportamento futuro do condenado em
liberdade faz-se a partir dos elementos aqui enunciados (art.484/2/3, CPP), os quais funcionam
como índice de ressocialização e de um comportamento futuro sem o cometimento de crimes
(critério da evolução da personalidade durante a execução da pena de prisão.
∙ A prevenção geral positiva de integração funciona como limite à actuação das exigências
de prevenção especial de socialização, de acordo com o art.61 nº2 al.b).
É pressuposto material da concessão da liberdade condicional que a libertação se revele
compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social. A aplicação de penas visa a
protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade (art.40/1).
Em suma:
 A concessão da liberdade condicional, com o consentimento do condenado, a metade
do cumprimento da pena, depende da satisfação de exigências de prevenção especial de
socialização e de prevenção geral positiva, sob a forma de tutela do ordenamento jurídico.
Uma vez verificados os pressupostos de que depende o tribunal tem o poder-dever de
conceder a liberdade condicional.

2009/2010
Direito Penal III 60

A decisão é da competência do tribunal de execução das penas (art.477 e art.484, CPP),


sendo susceptível de recurso o despacho que negar a liberdade condicional (art.485/6, CPP).
 Se a liberdade for negada a metade da pena, há renovação da instância apenas
quando estejam cumpridos 2/3 da pena de prisão. Art.61/3: o tribunal coloca o condenado a
prisão em liberdade condicional quando se encontrarem cumpridos 2/3 da pena e no mínimo 6
meses desde que se revele preenchido o requisito constante da al.b) do nº2 do art.61.
No momento desta renovação, o critério da concessão de liberdade condicional funda-se
apenas em exigências de prevenção especial de socialização, considerando que já estão
cumpridos 2/3 da pena de prisão.
 Negada aos 2/3 do cumprimento da pena de prisão (art.61/3), a liberdade condicional
é depois concedida quando estiverem cumpridos 5/6 da pena de prisão, tratando-se de pena
superior a 6 anos e havendo consentimento do condenado, segundo o art.61 nº1 e 4.
Esta concessão não depende da verificação de qualquer pressuposto material, já que visa
promover a transição entre a vida na prisão e a vida em liberdade  Liberdade condicional
obrigatória.

∎ Duração da liberdade condicional


Refere o art.61 nº5, que em qualquer das modalidades a liberdade condicional tem uma
duração igual ao tempo de prisão que falte cumprir, mas nunca superior a 5 anos.
O período de liberdade condicional não pode exceder o tempo de prisão que o
condenado ainda falte cumprir, respeitando-se o conteúdo da sentença condenatória e a
natureza do instituto como incidente da execução da pena de prisão.
5 anos correspondem ao tempo considerado suficiente para se poder afirmar que o
condenado conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes.
Atingido o período de 5 anos, considera-se extinto o excedente da pena (art.64/1  art.57).

∎ Regime da liberdade condicional


O regime do instituto da liberdade condicional está indicado no art.64, por remissão
para o disposto no art.52, no art.53 nº1 e 2, no art.54, no art.55 nº1 nas als.a) a c) e no art.57.
A remissão para os artigos 52, 53 nº1 e 2, 54 significa que a liberdade condicional pode
ficar condicionada pela imposição do cumprimento de regras de conduta (art.52/1), ou pelo
acompanhamento de regime de prova (art.53), assente no plano individual de reinserção social
(art.54).
A remissão para o art.55 nº1 nas als.a) a c), significa que se, durante o período da
liberdade condicional, o libertado, culposamente, deixar de cumprir as regras de conduta
impostas ou não corresponder ao plano de reinserção social, pode o tribunal fazer uma solene
advertência, exigir garantias de cumprimento das obrigações que condicionam a liberdade
condicional ou impor novas regras de conduta ou introduzir exigências acrescidas no plano de
reinserção.
Se o condenado infringir grosseira ou repetidamente as regras de conduta impostas ou
o plano individual de reinserção social, pode ter lugar a revogação da liberdade condicional
(art.64/1  art.56/1). A liberdade condicional é revogada se o libertado cometer crime pelo
qual venha a ser condenado e revelar que as finalidades que estavam na base da libertação
não puderam, por meio dela, ser alcançadas (art.64/1  art.56/1).
A revogação da liberdade condicional determina a execução da pena de prisão ainda não
cumprida, podendo ter lugar relativamente à pena de prisão que vier a ser cumprida a
concessão de nova liberdade condicional nos termos doart.61 (art.64/2/3).

2009/2010
Direito Penal III 61

Para determinar a pena de prisão ainda não cumprida deve deduzir-se ao quantum da
condenação o tempo de prisão já cumprido e o período em que o condenado esteve em
liberdade condicional.
Decorrido o período de liberdade condicional, a pena é declarada extinta se não houver
motivos que possam conduzir à revogação (art.64/1  art.57).
Se, findo o período de liberdade condicional, se encontrar pendente processo por crime
que possa determinar a sua revogação ou incidente por falta de cumprimento das regras de
conduta ou do plano de reinserção, a pena só é declarada extinta quando o processo ou o
incidente findarem e não houver lugar à revogação (art.57/2).

∎ Liberdade condicional em caso de execução sucessiva de várias penas


A execução da pena que deva ser cumprida em 1º lugar é interrompida ao meio da pena,
sucedendo-lhe a execução da pena que deva ser executada a seguir (art.63/1/2); o tribunal
decide sobre a liberdade condicional no momento em que o possa fazer, de forma simultânea,
relativamente à totalidade das penas.
 Esta solução obsta a que o condenado esteja ao mesmo tempo, em liberdade
condicional e em cumprimento de uma outra pena de prisão, o que se verificaria se a execução
da pena que deva ser cumprida em 1º lugar não fosse interrompida (art.63/1).
O nº2 do art.63 prevê que a concessão da liberdade condicional seja decidida somente
quando o tribunal o possa fazer, de forma simultânea, relativamente à totalidade das penas. Só
depois de decorrido o prazo de que depende a concessão da liberdade condicional das várias
penas é que tem lugar o juízo sobre os pressupostos materiais desta concessão (art.61/2 a) b)).
Se o condenado não tiver beneficiado em liberdade condicional e se a soma das penas
que devam ser cumpridas sucessivamente exceder 6 anos de prisão, o tribunal coloca o
condenado em liberdade condicional, desde que este consinta, logo que se encontrarem
cumpridos 5/6 da soma das penas (art.63/3), tendo lugar a liberdade condicional obrigatória.
Por força do nº4 do art.63 prevê, este regime de concessão da liberdade condicional em
caso de execução sucessiva de várias penas não é aplicável quando a execução da pena de
prisão resultar de revogação da liberdade condicional (art.64/2/3)

∎ Especialidades processuais
O processo de concessão da liberdade condicional é da competência do Tribunal de
Execução das Penas (art.477/1, CPP) e encontra-se regulado nos arts.484 a 486 do CPP.
Há um pedido obrigatório de elaboração de um plano de reinserção social, sempre que o
condenado se encontre preso há mais de 5 anos, o qual é elaborado pelos serviços de reinserção
social (art.484/3, CPP), em que o MP emite um parecer sobre a concessão da liberdade
condicional (art.485/1, CPP), e em que o Tribunal de Execução de Penas ouve o condenado
antes de ser proferido despacho sobre a concessão da liberdade condicional, nomeadamente
para obter o seu consentimento (art.485/2, CPP).
De entre as alterações ao CPP é de sublinhar a recorribilidade do despacho que nega a
liberdade condicional (art.485/6, CPP) e do que revoga a liberdade condicional (art.486/4, CPP)

∎ Especialidades processuais
O art.62 prevê que para efeito da adaptação à liberdade condicional, …, a colocação em
liberdade condicional pode ser antecipada pelo tribunal, por um período máximo de 1 ano,
ficando o condenado obrigado durante o período de antecipação, …, ao regime de permanência
na habitação, …. (art.484, 485, 486, CPP)

2009/2010
Direito Penal III 62

√ Execução da pena de multa. Não pagamento e suas consequências

▣ Execução da pena de multa


A execução da pena de multa pode ocorrer por duas formas
- Por pagamento voluntário (art.489 CPP)
- Por prestação de dias de trabalho (art.48 e do art.490 CPP)
A prestação de trabalho deixou de ser uma sanção, para passar a ser uma forma de
cumprimento da pena de multa, a requerimento do condenado, quando for de concluir que
realiza de forma adequada e suficiente as finalidades da punição (art.40/1).
Cada dia de multa corresponde a 1 hora de trabalho, podendo ser prestado em dias úteis,
aos sábados, domingos e feriados, sem que a duração dos períodos de trabalho possa prejudicar
a jornada normal de trabalho ou exceder, por dia, o permitido segundo o regime de horas
extraordinárias aplicável (art.48/2  art.58/3/4).

▣ Não pagamento da multa e suas consequências


Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntariamente
tem lugar o pagamento coercivo (art.49/1), por via da execução patrimonial (art.491 CPP).
Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntaria ou
coercivamente é cumprida prisão subsidiária pelo tempo decorrente reduzido a 2/3, ainda que o
crime não fosse punível com prisão (art.49/1). Esta privação da liberdade tem a prisão fixada
em alternativa na sentença, a natureza de sanção de constrangimento, visando constranger o
condenado a pagar a multa. Trata-se de mera sanção pelo não pagamento da pena de multa
principal, tendo em vista constranger o condenado ao seu pagamento não é admissível a
concessão da liberdade condicional (art.61).
Com a previsão da prisão subsidiária pretende-se alcançar o efeito do pagamento da
multa, pelo que o pagamento, total ou parcial, desta a todo o tempo, evita a execução da prisão
subsidiária (art.49/2). Este pagamento deve reflectir-se, proporcionalmente, no tempo de prisão
subsidiária.
O art.49/3 prevê a suspensão da execução da prisão subsidiária, subordinada ao
cumprimento de deveres ou regras de conduta de conteúdo não económico ou financeiro, se se
provar que a razão do não pagamento não é imputável ao condenado (art.13/2 CRP):
 Quer a razão do não pagamento da pena de multa seja contemporânea da
condenação quer seja superveniente, a solução é sempre a da suspensão da execução da
prisão subsidiária, quando tal razão não seja imputável ao condenado, em observância
do princípio da igualdade.

Isto é para aqueles casos em que o condenado no momento da condenação não pode
pagar a multa.

Em suma:
Segundo Dr.ª M.J.A. a prisão subsidiária ocorrerá em última instância, porque é uma
sanção privativa da liberdade, não é uma pena de prisão, quanto muito é uma substituição da
pena de multa.
A prisão subsidiária é uma sanção imposta ao condenado por este não pagar a multa.
Existe para constranger o condenado ao pagamento da pena de multa.
A prisão subsidiária corresponde a 2/3 dos dias de multa, portanto são menos os dias de
prisão, não pode haver propriamente equivalência entre 1 dia de prisão e 1 dia de multa, porque
a prisão é mais pesada do que a multa.

2009/2010
Direito Penal III 63

Execução da pena de multa de substituição. Não pagamento e suas consequências

▣ Execução da pena de multa de substituição


A execução da pena de multa de substituição pode ocorrer por duas formas
- Por pagamento voluntário (art.489 CPP)
- Por prestação de dias de trabalho (art.48 e do art.490 CPP)
 Aqui não há o instituto da prisão subsidiária

▣ Não pagamento da multa e suas consequências


Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntariamente
tem lugar o pagamento coercivo (art.49/1), por via da execução patrimonial (art.491 CPP).
Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntaria ou
coercivamente é cumprida a pena de prisão aplicada na sentença (art.43/2, 1ª parte), não sendo
correspondentemente aplicável o disposto no art.49 nº2  tem como justificação a
circunstância de estar em causa uma pena de multa de substituição.
Na medida em que está depois em causa a execução da pena de prisão, já é admissível a
libertação condicional do condenado (art.61).
A partir da 2ª parte, do nº2 do art.43 e do art.49 nº3, há a possibilidade de suspensão da
execução da pena de prisão, subordinada ao cumprimento de deveres ou regras de conduta de
conteúdo não económico ou financeiro, se se provar que a razão do não pagamento não é
imputável ao condenado.
 Quer a razão do não pagamento da pena de multa seja contemporânea da
condenação quer seja superveniente, a solução é sempre a da suspensão da execução da
pena de prisão, quando tal razão não seja imputável ao condenado, em observância do
princípio da igualdade (art.13/3 CRP).

2009/2010
Direito Penal III 64

Medidas de segurança

▣ Generalidades
A medida de segurança surge como resposta à especial perigosidade de delinquentes
imputáveis especialmente perigosos e de delinquentes de imputabilidade diminuída,
relativamente aos quais a pena é insuficiente do ponto de vista preventivo-especial, e resposta à
especial perigosidade de delinquentes inimputáveis, em razão de anomalia psíquica, em relação
aos quais a pena é inadequada.
A medida de segurança é uma reacção criminal ao lado das penas.

▣ Pressuposto, fundamento e limite


O pressuposto de aplicação da medida de segurança é a perigosidade criminal do agente.
↪ O que justificou no passado, por referência ao princípio da actualidade do
estado perigoso:
Que se excluísse o efeito de caso julgado da decisão sobre a imposição de
uma medida de segurança;
Que as medidas de segurança fossem imprescritíveis;
Que não se lhes estendesse o princípio da legalidade criminal;
Que fossem admissíveis medidas de segurança pré-delituais;
Que não houvesse limites fundados no princípio da proibição do excesso; e
Que se aceitasse a indeterminação da duração das medidas de segurança.

Este regime foi recusado.
Mas o pressuposto de aplicação de uma medida de segurança continua a
ser a perigosidade criminal do agente, para fazer face à prevenção especial.
É discutível se as medidas de segurança prosseguem também uma finalidade de
prevenção geral positiva, designadamente a de internamento de agente inimputável em razão de
anomalia psíquica (art.91).
↝ O art.40 nº1 não distingue as penas das medidas de segurança.
 Trata-se de uma norma geral sobre as finalidades das medidas de segurança,
incluindo-se, portanto, as aplicáveis a delinquentes imputáveis (art.20/2, 100, 101, 102),
relativamente aos quais ainda é defensável que tais medidas prossigam, de forma autónoma
a finalidade de tutela de bens jurídicos.
↝ O art.91 dispõe que quando o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime
contra as pessoas ou crime de perigo comum puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, o
internamento tem a duração mínima de 3 anos, salvo se a libertação se revelar compatível com
a defesa da ordem jurídica e da paz social.
 Trata-se de uma disposição legal cuja aplicação se deve restringir aos casos
em que há declaração de inimputabilidade nos termos do art.20 nº2 e 3, casos em que a
medida de segurança participa de forma autónoma na protecção de bens jurídicos, já que é
aplicada a delinquentes imputáveis, ainda que de imputabilidade diminuída.
A aplicação de medidas de segurança está subordinada ao princípio jurídico-
constitucional da proibição de excesso, da proporcionalidade em sentido amplo, em matéria de
limitações de direitos fundamentais  pressupõe o respeito pelo princípio da necessidade,
subsidiariedade e proporcionalidade em sentido estrito.
No termos do art.40 nº3, a medida de segurança só pode ser aplicada se for
proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente. (É equivalente ao principio da culpa).

2009/2010
Direito Penal III 65

√ Outros princípios
Para além do princípio da proporcionalidade, no direito penal estão consagrados outros
princípios, com a intenção de fazer valer no âmbito das medidas de segurança os princípios e as
garantias do Estado de direito, próprios do direito das penas.
‣ Princípio da legalidade (art.29, CRP e art.1 e 2, CP)
‣ Princípio do ilícito-típico (art.29, CRP e art.91/1, CP)
‣ Princípio da proporcionalidade em sentido amplo e, em especial, ao da
proporcionalidade em sentido estrito (art.18/2, CRP e art.40/3, 91/1, 93, 94 e 98, CP)
‣ Princípio da prescritibilidade das medidas de segurança (art.124, CP)
‣ Princípio da proibição de medidas de segurança com carácter perpétuo ou de duração
ilimitada ou indefinida (art.30/1, CRP e art.92/2, CP).

√ Medidas de segurança legalmente previstas


A opção por um sistema de reacções criminais tendencialmente monista não obsta à
previsão de medidas de segurança não privativas da liberdade, aplicáveis a delinquentes
imputáveis e a deliquentes inimputáveis, bem como a previsão da medida de segurança de
internamento de delinquente inimputável em razão de anomalia psíquica.
Medidas de segurança não privativas da liberdade:
- Interdição de actividades (art.100, art.508/1/4/5, CPP)
- Cassação do título e interdição da concessão do título de condução de veículo
com motor (art.101, art.508/2/3/5, CPP)
- Aplicação de regras de conduta (art.102, art.508/6, CPP)
É ainda aplicável exclusivamente a delinquentes inimputáveis por anomalia psíquica, a
medida de segurança de suspensão da execução do internamente (art.98)

√ Medidas de segurança de internamento


O nº1 do art.91 dispõe que quem tiver praticado um facto ilícito típico e for considerado
inimputável, nos termos do art.20, é mandado internar pelo tribunal em estabelecimento de
cura, tratamento ou segurança, sempre que, por virtude da anomalia psíquica e da gravidade do
facto praticado houver fundado receio de que venho a cometer outros factos da mesma espécie.

▣ Pressupostos e finalidades
Pressupostos da medida de segurança privativa da liberdade aí prevista são os seguintes
(art.91/1):
- Prática de um facto ilícito típico
- Declaração de inimputabilidade, nos termos do art.20
- Juízo de prognose desfavorável quanto à perigosidade criminal do agente.
É necessário o princípio da proporcionalidade: a medida de segurança só pode ser
aplicada se for proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente.
 Aplicamos-lhe a medida de segurança porque ele é perigoso (art.40/3)
Ao pressuposto irrenunciável da perigosidade criminal do agente, que há-de permanecer
no momento da condenação e durante a execução da sanção, liga-se a finalidade preventivo-
especial da medida de segurança de internamento, sem prejuízo de esta sanção participar na
função de protecção de bens jurídicos.

2009/2010
Direito Penal III 66

Não é imposta qualquer medida de segurança ao agente inimputável relativamente ao


qual, no momento da condenação, não possa ser afirmado o fundado receio de que venha a
cometer outros factos da mesma espécie. Ainda que o nº2 do art.91, fosse aplicável a quem é
declarado inimputável nos termos do art.20 nº1.
Nota: O art.91 nº2 só se aplica caso de inimputabilidade com base no art.20. Neste casos
faz sentido falar-se em finalidade de prevenção geral.
Ao inimputável que cometa qualquer dos crimes previstos no art.274, é aplicável a
medida de segurança do art.91, sob a forma de internamento intermitente e coincidente com os
meses de maior risco de ocorrência de fogos (art.274/9).
Não há, verdadeiramente, a violação de uma norma, não havendo, consequentemente, a
necessidade de reafirmar a validade da mesma, quando o facto ilícito típico é praticado por
quem é depois considerado inimputável por anomalia psíquica, com fundamento no art.20/1.

▣ Duração
O internamento não pode exceder o limite máximo da pena correspondente ao tipo de
crime cometido pelo inimputável (art.92/2, CP e art.501/1, CPP).  Regra
Se o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime punível com pena superior
a 8 anos e o perigo de novos factos da mesma espécie for de tal modo grave que desaconselhe
a libertação o internamento pode ser prorrogado por períodos sucessivos de 2 anos até se
verificar a situação de cessação do estado de perigosidade (art.30/2 CRP, art.92/3 CP,
art.504/5 CPP) Excepção à regra
Do nº2 do art.91, resulta que há casos em que o internamento tem um limite mínimo de
duração (3 anos), devendo constar da decisão que o decreta (art.501/1, CPP).
 Esta previsão excepcional abrange apenas os crimes contra as pessoas e de
perigo comum puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, é de destacar que a
duração do internamento poderá ser inferior a 3 anos se, cessado o estado de
perigosidade, a liberdade se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da
paz social, o que afasta qualquer entendimento no sentido de se ter estabelecimento
aqui uma presunção legal de duração da perigosidade.
 Dada a finalidade especial-preventiva da medida de segurança de
internamento do agente inimputável em razão de anomalia psíquica, nos termos do
art.20/1 e do art.91 nº2, é aplicável apenas quando o agente tenha sido declarado
inimputável nos termos do art.20 nº2 e 3, por nesta hipótese de inimputabilidade
jurídica se fazerem sentir de forma autónoma as exigências de prevenção geral
positiva.
Salvaguardados os casos aos quais é aplicável o nº2 do art.91, o internamento finda
quando o tribunal verificar que cessou o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem
(art.92/1).
 Esta causa justificativa da cessação do internamento pode ser apreciada a todo
o tempo, se for invocada, sendo obrigatoriamente revista a situação do internado,
independentemente de requerimento, decorridos 2 anos sobre o início do
internamento ou sobre a decisão que o tiver mantido (art.93/1/2, CP e art.504/3/4,
CPP).
O internamento findará, ainda pelo decurso do tempo, atingida que seja a duração
máxima do internamento (art.479, 480, 481  art.506, CPP), salvaguardados os casos previstos
no art.92/3.

2009/2010
Direito Penal III 67

▣ Liberdade de prova
Para as situações em que há alterações do estado de perigosidade do internado, durante
a execução da sanção, vale o instituto da liberdade para prova, é um incidente da execução da
medida de segurança de internamento.
Se da revisão da situação do internado resultar que há razões para esperar que a
finalidade da medida de segurança possa ser alcançada em meio aberto, o tribunal coloca o
internado em meio aberto (art.94/1, CP e art.504/1/2/3/4, CPP).
Pressuposto material da colocação em liberdade para prova é a subsistência do estado de
perigosidade criminal que deu origem à medida de segurança, podendo, no entanto, a finalidade
preventivo-especial da sanção ser alcançada em meio aberto.  Dá-se concretização ao
princípio da proporcionalidade em sentido amplo, com ganhos para o processo de reintegração
do agente na sociedade.
Segundo o art.94 nº2, o período de liberdade para prova é fixado entre um mínimo de 2
anos e um máximo de 5 anos, não podendo ultrapassar, o tempo que faltar para o limite
máximo de duração do internamento. Como se trata de um incidente de execução da medida de
segurança de internamento, a liberdade para prova poderá cessar a todo o tempo se o tribunal
verificar que cessou o estado de perigosidade criminal, por aplicação do art.92 nº1 e do art.93
nº1 e 2.
Por remissão do nº3 do art.94 para os nºs 3 e 4 do art.98, a decisão de colocar o
internado para provar impõe ao agente regras de conduta necessárias à prevenção da
perigosidade, bem como o dever de se submeter a tratamentos e regimes de cura ambulatórios
apropriados e de se prestar a exames e observações nos lugares que lhe forem indicados, sendo
colocado sob vigilância tutelar dos serviços de reinserção social.
De acordo com o nº4 do art.94, a medida de internamento é declarada extinta, se não
houver motivos que conduzam à revogação da liberdade para prova, findo o tempo de duração
desta. Se, findo o período de liberdade para prova, se encontrar pendente ou incidente que
possa conduzir à revogação, a medida é declarada extinta quando o processo ou o incidente
findarem e não houver lugar à revogação.
O art.95 prevê duas causas de revogação da liberdade para prova:
- O comportamento do agente revela que o internamento é indispensável (nº1-a));
- O agente foi condenado em pena privativa da liberdade e não se verificam os
pressupostos da suspensão da execução da pena de prisão (nº1-b)).
A consequência da revogação é o reinternamento do agente, sendo aplicável o art.92,
segundo o estabelecido no nº2 do art.95.
Tratando-se de um incidente da execução da medida de segurança de internamento,
deverá contar o tempo que o agente esteve em liberdade para prova.
Decorre do art.505 do CPP que a decisão sobre a revogação tem lugar depois de
recolhida a prova, antecedendo parecer do MP, audição do condenado e audição obrigatória do
defensor.

▣ Execução da medida de segurança de internamento


Art.s 469, 475, 476, 501-506 e 507 do CPP  disposições relativas à execução da
medida de segurança de internamento, valendo como decisão penal condenatória a que impõe
tal sanção (art.376/3, CPP)
O art.96 refere que não pode iniciar-se a execução da medida de segurança de
internamento, decorridos 2 anos ou mais sobre a decisão que a tiver decretado, sem que seja
apreciada a subsistência dos pressupostos que fundamentaram a sua aplicação (cf.art.504/6,
CPP), justificando-se pelo pressuposto da perigosidade criminal.

2009/2010
Direito Penal III 68

Na sequência do reexame o tribunal poderá:


- Confirmar a medida decretada, se se mantiver o estado de perigosidade e não
for caso de suspensão da execução do internamento,
- Suspender a execução da medida decretada, se for razoavelmente de esperar
que com a suspensão se alcança a finalidade da medida (art.98),
- Revogar a medida decretada se, entretanto, tiver cessado o estado de
necessidade de perigosidade criminal que lhe deu origem (art.92/1).
Para além do reexame não se pode deixar de considerar a hipótese de prescrição da
medida de segurança (art.124/1).
Princípio de vicariato na execução (art.99, CP e art.507, CPP) consiste em:
‣ A medida de segurança de internamento é executada antes da pena de prisão a
que o agente tiver sido condenado (art.99 nº1, 1ª parte);
‣ A duração da medida de segurança é descontada na duração da pena de prisão
(art.99 nº1, in fine);
‣ O agente é colocado em liberdade condicional se, efectuado o desconto, se
encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena e a libertação se revelar
compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social (art.99 nº2).
↪ Se a medida de segurança dever cessar, mas não tiver ainda decorrido o
tempo correspondente a metade da pena, o tribunal pode, a requerimento do condenado,
substituir o tempo de prisão que faltar para metade da pena, até ao máximo de 1 ano,
por prestação de trabalho a favor da comunidade, se tal se revelar compatível com a
defesa da ordem jurídica e da paz social (art.99 nº3).

√ Suspensão da execução do internamento


Nota: é medida de segurança não privativa da liberdade, pois é uma medida de segurança de
substituição.
No termos do art.98 nº1 o tribunal que ordenar o internamento determina, em vez dele, a
suspensão da sua execução se for razoavelmente de esperar que com a suspensão se alcance a
finalidade da medida. No entanto, não pode ser decretada se o agente for simultaneamente
condenado em pena privativa da liberdade e não se verificarem os pressupostos da suspensão
da execução desta (art.98 nº5).
Nota: O art.98 é a expressão do princípio jurídico político-criminal segundo o qual a
privação da liberdade é a última ratio.
Excepcionalmente, quando seja aplicado o nº2 do art.91, exige-se também que a medida
de segurança não privativa da liberdade seja compatível com a defesa da ordem jurídica e da
paz social (art.98/2).
A previsão desta medida de segurança não privativa da liberdade dá expressão ao
princípio da proporcionalidade em sentido amplo, com ganhos evidentes para o processo de
reintegração do agente na sociedade.
A decisão de suspensão impõe ao agente regras de conduta (art.52) necessárias à
prevenção da perigosidade, bem como o dever de se submeter a tratamentos e regimes de cura
ambulatórios apropriados e de se prestar a exames e observações nos lugares que lhe forem
indicados, sendo colocado sob vigilância tutelar dos serviços de reinserção social (art.98/3/4).
A suspensão da execução do internamento tem, em regra, a duração máxima
correspondente à da medida de segurança de internamento, devendo findar quando o tribunal
verificar que cessou o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem, num quadro revisão
periódica da situação do agente (art.98/6 al.a)  art.92, 93/1/2).

2009/2010
Direito Penal III 69

A suspensão da execução do internamento é revogada se o comportamento do agente


revelar que o internamento é indispensável ou se o agente for condenado em pena privativa da
liberdade e não se verifiquem os pressupostos da suspensão da execução da pena de prisão,
com a consequência de ter, então, lugar o internamento do agente (art.98/6 al.b)  art.95).

2009/2010
Direito Penal III 70

Pena relativamente indeterminada

▣ Generalidades
A pena relativamente indeterminada (art.83 a 90) pretende ser uma resposta à
delinquência especialmente perigosa: a delinquência por tendência e à delinquência ligada ao
abuso de álcool e de estupefacientes.
Esta encontra justificação político-criminal numa acentuada inclinação para o crime por
parte do agente, sem que se confunda com a pena aplicada ao agente reincidente, apesar dos
pontos de coincidência (art.76/2), uma vez que na pena relativamente indeterminada releva de
forma imediata o pressuposto da perigosidade criminal.
A pena relativamente indeterminada é uma sanção de natureza mista (art.90), porque:
 É executada como pena até ao momento em que se mostrar cumprida a pena
que concretamente caberia ao crime;
 É executada como medida de segurança a partir deste momento e até ao seu
limite máximo.

▣ Pressupostos

▪ Pressupostos formais
No âmbito da “delinquência por tendência grave” são pressupostos de aplicação de uma
pena relativamente indeterminada que (art.83/1):
- O agente pratique em crime doloso
- Devesse aplicar-se concretamente prisão efectiva por mais de 2 anos
- Tenha cometido anteriormente 2 ou mais crimes dolosos,
- A cada um dos quais tenha sido ou seja aplicada prisão efectiva por mais de 2
anos, sempre que a avaliação conjunta dos factos praticados e a personalidade do agente
revele uma acentuada inclinação para o crime, que no momento da condenação ainda
persista
↝ Devem de ser tomados em conta os factos julgados em pais estrangeiro que tiverem
conduzido à aplicação de uma pena de prisão efectiva por mais de 2 anos, desde que a eles seja
aplicável, segundo a lei portuguesa, pena de prisão superior a 2 anos (art.83/4).

No âmbito da “delinquência por tendência menos grave” são pressupostos de aplicação


de uma pena relativamente indeterminada que (art.84/1):
- O agente pratique em crime doloso
- Devesse aplicar-se concretamente prisão efectiva
- Tenha cometido anteriormente 4 ou mais crimes dolosos,
- A cada um dos quais tenha sido ou seja aplicada prisão efectiva, sempre que se
verificarem os pressupostos fixados no art.83 nº1.
↝ Devem de ser tomados em conta os factos julgados em país estrangeiro que tiverem
conduzido à aplicação de uma pena de prisão efectiva, desde que a eles seja aplicável, segundo
a lei portuguesa, pena de prisão (art.84/4).

Exige-se que o agente tenha sido ou seja condenado em pena de prisão efectiva por
certo tempo ou em pena de prisão efectiva.
A aplicação da pena relativamente indeterminada não exige a condenação pelos crimes
anteriormente praticados, bastando-se com a sua prática: é pressuposto que a cada um dos
crimes anteriores tenha sido ou seja aplicada pena de prisão por certo tempo ou pena de prisão
efectiva.

2009/2010
Direito Penal III 71

Prevê-se um prazo de prescrição da tendência, na medida em que qualquer crime deixa


de ser tomado em conta, quando entre a sua prática e a do crime seguinte tiverem decorrido
mais de 5 anos, não sendo computado neste prazo o período durante o qual o agente cumpriu
medida processual, pena de prisão ou medida de segurança (art.83/3, art.84/3).

▪ Pressuposto material
Para a aplicação da pena relativamente indeterminada é necessário que a avaliação
conjunta dos factos praticados e da personalidade do agente revele uma acentuada inclinação
para o crime, que no momento da condenação ainda persiste (art.83/1, in fine e art.84/1, in
fine)

√ Limites de duração
Aos “delinquentes por tendência grave” aplica-se uma pena relativamente
indeterminada que tem um mínimo correspondente a 2/3 da pena de prisão que concretamente
caberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 6 anos, sem
exceder 25 anos no total (art.83/2)
Aos “delinquentes por tendência menos grave” aplica-se uma pena relativamente
indeterminada que tem um mínimo correspondente a 2/3 da pena de prisão que concretamente
caberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 4 anos, sem
exceder 25 anos no total (art.84/2)

√ Agentes com menos de 25 anos


Em razão da idade do agente há uma atenuação do regime da pena relativamente
indeterminada (art.85) que se concretiza nos artigos 83 e 84 só é aplicável se o agente tiver
cumprido prisão no mínimo de 1 ano.
Nestas hipóteses o limite máximo da pena relativamente indeterminada corresponde a
um acréscimo de 4 ou 2 anos à prisão que concretamente caberia ao crime cometido.
O prazo de prescrição da tendência é de 3 anos nos casos de “delinquência por
tendência grave”

√ Alcoólicos e equiparados
Se um alcoólico, pessoa com tendência para abusar de bebidas alcoólicas ou pessoa que
abuse de estupefacientes praticar um crime a que devesse aplicar-se concretamente prisão
efectiva e tiver cometido anteriormente crime a que tenha sido aplicada prisão efectiva, é
punido com uma pena relativamente indeterminada sempre que os crimes tiverem sido
praticados em estado de embriaguez, estiverem relacionados com o alcoolismo ou com o abuso
de estupefacientes ou com a tendência do agente (art.86/1 e art.88).
A pena tem um mínimo correspondente a 2/3 da pena de prisão que concretamente
caberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 2 anos na 1ª
condenação e de 4 anos nas restantes, sem exceder 25 anos.

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Direito Penal III 72

√ Execução
Em caso de aplicação de pena relativamente indeterminada, é elaborado, com a
brevidade possível, um plano individual de readaptação do delinquente com base nos
conhecimentos que sobre ele houver e sempre que possível, com a sua concordância, o qual
poderá sofrer, no decurso do cumprimento da pena, as modificações exigidas pelo progresso do
delinquente e por outras circunstâncias relevantes (art.89/3, CP e art.509/1/9, CPP).
Tratando-se de alcoólicos e de agentes que abusem de estupefacientes, a execução da
pena é orientada no sentido de eliminar o alcoolismo ou a toxicodependência do agente ou
combate a sua tendência para abusar de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes (art.87, 88).

√ Libertação do condenado
O tempo de pena relativamente indeterminada que o condenado deve efectivamente
cumprir nunca é fixado na decisão condenatória. É determinado já na fase de execução, uma
vez cumprido o limite mínimo legalmente fixado em função da medida da pena que ao crime
caberia segundo os critérios do art.71.
O tempo de pena efectivamente cumprido é determinado a partir das regras de execução
da pena de prisão, que funcionarão até ao momento em que se mostrar cumprida a pena que
concretamente coberta ao crime cometido e pelas regras de execução da medida de segurança
de internamento, a partir deste momento e até ao limite máximo da pena relativamente
indeterminada (art.90, CP e art.509/3/4/5/6, CPP).

▣ Regras até se mostrar cumprida a pena que caberia ao crime


Até ao momento em que se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao
crime cometido, pode ser concedida a liberdade condicional ao condenado (art.90/1/3, CP e
art.509/3/4, CPP).
O condenado é colocado em liberdade condicional quando se encontrar cumprido o
limite mínimo da pena relativamente indeterminada (2/3 da pena de prisão que concretamente
caberia ao crime cometido), se nisso consentir, se se encontrarem cumpridos no mínimo 6
meses de prisão e se se revelar preenchido o art.61 nº2 al.a).
Se for fundamente de esperar, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior do
agente, a sua personalidade e a evolução desta durante a execução da pena de prisão, que o
condenado, uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem
cometer crimes (art.90/1  art.62/1/3).
De acordo como o art.90 nº2 a liberdade condicional tem uma duração igual ao tempo
que falta para atingir o máximo da pena, mas não será nunca superior a 5 anos.
Desta regra de duração poderá resultar que seja ultrapassada a pena que concretamente
caberia ao crime cometido, caso em que a pena relativamente indeterminada continuará a ser
executada como pena.
Há, no entanto, um desvio à regra segundo o qual a pena relativamente indeterminada é
executada como medida de segurança a partir do momento em que se mostrar cumprida a pena
que concretamente caberia ao crime cometido.
Se a liberdade condicional não for concedida, atingido o limite mínimo da pena
relativamente indeterminada, há renovação anual da instância até se mostrar cumprida a pena
que concretamente caberia ao crime cometido (art.509/4 al.a), CPP). É durante a execução que
é determinado o tempo de prisão efectivamente cumprido pelo condenado.

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Direito Penal III 73

Por remissão do nº1 do art.90, aplica-se o regime da liberdade condicional previsto no


art.64, valendo inteiramente as normas sobre a imposição de regras de conduta, sobre a falta de
cumprimento destas regras ou do plano de readaptação social e sobre os motivos da renovação
da liberdade condicional.
Em caso de revogação e até se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao
crime cometido, a liberdade condicional pode ser concedida de novo passados 2 anos sobre o
inicio da continuação do cumprimento da pena e, caso não seja concedida, decorrido cada
período ulterior de 1 ano (art.509/4 al.b), CPP).

▣ Regras depois de se mostrar cumprida a pena que caberia ao crime


Quando se mostrar cumprida a pena que concretamente ao crime cometido, o
condenado poderá ser libertado por aplicação de regras de execução da medida de segurança de
internamento ou porque foi atingido o limite máximo da pena relativamente indeterminada
(art.90/3, CP e art.509/5, CPP).
Por remissão do nº3 do art.90, é aplicável o art.92 nº1 de onde decorre que a pena
relativamente indeterminada finda, libertando-se o condenado, quando o tribunal verificar que
cessou o estado de perigosidade criminal que deu origem à aplicação da sanção e que, justificou
a continuação da execução da mesma, para além da pena que concretamente caberia ao crime.
A causa justificativa da libertação do condenado pode ser apreciada a todo o tempo,
havendo apreciação obrigatória, independentemente de requerimento, decorridos 2 anos sobre o
momento em que se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao crime cometido ou
sobre a decisão que tiver mantido a execução da sanção (art.93/1/2, 90/3, CP e art.509/5 CPP).
Por remissão do nº3 do art.90, o condenado é colocado em liberdade para prova, sendo
aplicáveis as regras gerais do incidente de execução da medida de segurança de internamento
(art.94, 95, CP e art. 509/6  art.495, CPP), se da revisão da situação do condenado
(art.93/1/2), resultar que há razões para esperar que a finalidade da sanção possa ser alcançada
em meio aberto.
Se o condenado em pena relativamente indeterminada atingir o limite máximo da
sanção, não foi colocado em liberdade condicional ou em liberdade para prova ou, tendo sido,
houve revogação, é libertado logo que atinja tal limite, ainda que subsista a perigosidade
criminal (art.479, 480, 481, CPP)
Diferentemente da medida de segurança de internamento, não há lugar à prorrogação da
sanção nos termos do art.92/3.

____________________________________FIM_____________________________________

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