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The findings of a research carried out in a Brazilian enterprise which can be seen as
pionner in the introduction of new human resources policies.
PALAVRAS-CHAVE:
Novas Políticas, dualismo so-
cial, racionalidade instrumen-
tai, modelo japonês, relações
de trabalho.
KEYWORDS:
New policies, social dualism,
instrumental rationality, Japa-
nese model, industrial rela-
tions.
Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 34, n. 3, p. 115-124 Mai./Jun. 1994 115
11!J/J ARTIGO
Apesar de recorrer aos princípios de concorrência japonesa. No entanto, em
antigas teorias administrativas, as políti- vez de tentar a síntese dos dois modelos
cas de pessoal, adotadas por um grande (aderindo, assim, à corrente chamada "ca-
número de empresas ocidentais no de- liforniana") a idéia do Projeto Saturno era
correr dos últimos anos, apresentam-se a de inaugurar uma nova prática geren-
como inovadoras. Com efeito, por trás de cial, diferente de tudo o que havia sido fei-
um discurso mais sofisticado e pretensa- to até então. Apesar da busca de originali-
mente científico, é possível identificar as dade, a maior novidade neste segundo
principais formulações de antigas teorias modelo consiste na tentativa de se criar
administrativas como a Teoria de Rela- um novo pacto social, negociado com os
ções Humanas, a Teoria Estruturalista, a sindicatos, ao invés da hostilidade aberta
Teoria Comportamental, dentre outras. O contra a ação sindical manifestada pelas
que nos parece representar uma novida- empresas "californianas". Além disso, na
de é a considerável generalização dessas empresa "saturniana", as divergências e
antigas idéias, isto é, sua grande aceita- conflitos são considerados inevitáveis e
ção e conseqüente aplicação por um nú- por isso devem ser tratados de forma
mero cada vez maior de empresas, no de- aberta e negociada para se obter o consen-
correr dos últimos anos. so. A forma de controle é que se modifica:
A entrada dos produtos japoneses no "O empregador saturniano se serve das nego-
mercado mundial e as crises do petróleo ciações coletivas como um meio de se informar
têm sido apontadas como as duas prin- sobre o que se passa na fábrica". 2
cipais causas da expansão desta "nova" Percebe-se, no entanto, que o sindicalis-
prática gerencial. Realmente, após a en- mo aceito e preconizado por este modelo
trada massiva de produtos japoneses no identifica-se exatamente com aquele do
ocidente, ameaçando economias até en- qual tenta se afastar, ou seja, o "sindicalis-
tão hegemônicas, a preocupação central mo à japonesa". É o próprio Messine, um
dentro da administração tem sido a de dos apologistas deste modelo, que nos
decifrar o segredo tão bem guardado oferece o melhor argumento quando afir-
pelo Japão e que lhe permitiu, não ape- ma: "É preciso reduzir a função tradicional do
nas recuperar rapidamente sua econo- sindicato relativa à negociação salarial, para
mia, totalmente destruída após a Segun- privilegiar um sindicalismo de proposição, to-
da Guerra, como também provocar de- talmente voltado para a eficácia operacional.
sequilíbrios importantes no mercado Esta reorientação significa o abandono pro-
mundial. gressivo de um sindicalismo nacional ou por
Uma das primeiras tentativas de com- categoria, em proveito de um sindicalismo por
preensão do sucesso japonês foi realizada empresa. Enquanto o primeiro fixa as normas
por William Ouchi, no best seller Teoria Z.1 salariais e, por natureza, ignora os problemas
A idéia mais importante veiculada por específicos de cada empresa considerada indivi-
este autor é a de que é possível realizar dualmente, o segundo se presta bem a uma in-
uma síntese entre os modelos administra- tegração funcional à japonesa". 3
tivos oriental e ocidental. Segundo ele, as Portanto, as políticas de pessoal que
empresas mais lucrativas do ocidente são têm sido adotadas por um número signifi-
aquelas que já realizaram esta síntese. cativo de empresas ocidentais baseiam-se,
Muitos autores lhe sucederam e a idéia direta ou indiretamente, no que conven-
de se importar o modelo administrativo cionamos chamar de Modelo Japonês.
japonês permanece, com ligeiras modifi- Aquelas que possuem os recursos neces-
cações, até os dias atuais. sários conseguem importar este modelo
No entanto, é preciso citar uma outra de maneira bastante fiel, enquanto que às
1. OUCHI, W. Théorie Z - faire corrente dentro da administração contem- outras resta apenas a possibilidade de um
face au défi japonais. Paris: In- porânea, composta por críticos à importa- arremedo grotesco, como temos presen-
tereditions, 1979. ção do Modelo Japonês. O modelo preco- ciado através da recente generalização dos
nizado pelos autores desta corrente ba- programas de Qualidade Total. As políti-
2. MESSINE, Ph. Les saturniens
- quand les patrons reinventent seia-se numa experiência realizada pela cas adotadas pelas primeiras empresas,
la société. Paris: La Découverte, General Motors, denominada Projeto Sa- isto é, aquelas que conseguiram importar
1987. de maneira mais fiel o Modelo Japonês,
turno. Evidentemente, esse projeto foi
3. Idem, ibidem. também concebido para se enfrentar a podem ser assim resumidas: estabilidade
116 © 1994, Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.
NOVAS POLíTICAS DE RECURSOS HUMANOS ...
tópico acabe virando assunto de greve". Uma dencial, onde associava-se à imagem de
frase sua resume bem o verdadeiro objeti- um jovem audacioso e dinâmico, natu-
vo de suas políticas: "a desobediência civil ralmente o único capaz de levá-la a ter-
na empresa deve ser sutilmente encorajada ... O mo. Modernizar significava, antes de
bom senso requer um pouco de desobediência mais nada, integrar o Brasil ao Primeiro
civil para alertar a organização de que alguma Mundo. Este é apresentado como o
coisa não vai bem". Desta forma, a empresa exemplo maior de sucesso e como o pa-
pode ser alertada sobre as insatisfações e raíso das conquistas materiais, em espe-
os conflitos antes que eles possam "virar cial, graças ao funcionamento da econo-
assunto de greve". 9 mia de mercado sem interferência do Es-
Apesar disso, este discurso foi muito tado. Se o mercado é soberano, a abertu-
bem recebido em nossa sociedade: de ra total da economia aparece como a úni-
um lado, a população em geral vê neste ca saída possível ao subdesenvolvimen-
modelo o nascimento de uma nova rela- to. Segundo Barelli, "As dificuldades da
ção, mais justa e mais humana, entre ca- economia brasileira são atribuídas à inter-
pital e trabalho, ou até mesmo a solução venção excessiva do Estado e à fraca exposi-
mágica às contradições e aos conflitos ção da economia ao exterior. Ao liberar as ex-
sempre presentes nesta relação e consi- portações, a indústria brasileira seria obriga-
derados até então como insolúveis; de da a se modernizar e a incorporar as novas
outro lado, os empresários vêem nele a tecnologias, sob pena de não poder enfrentar
resposta aos problemas econômicos vivi- a concorrência internacional". 12 Concorda-
dos por suas empresas. Aqueles que co- mos com este autor quando ele fala da
locam em prática estas políticas são per- extrema fragilidade deste argumento
cebidos como verdadeiros pioneiros na que negligencia "o fato de que a atual divi-
humanização da empresa no Brasil. são internacional do trabalho tem suas pró-
Além disso, eles foram capazes de solu- prias regras no que se refere aos capitais e à
cionar problemas muito graves e antigos tecnologia, e que não é suficiente abrir a eco-
sem provocar mudanças drásticas na or- nomia para conquistar posições no mundo
dem das coisas. 10 Enfim, estes empresá- contemporâneo". 13 Além disso, não pode-
rios são percebidos como extremamente mos deixar de perceber, neste tipo de
habilidosos, pois foram capazes de en- discurso, o que Mappa 14 considera como
contrar medidas que satisfaziam plena- a melhor ilustração da racionalidade ins-
mente todos os participantes da organi- trumental, isto é, "a questão do como al-
zação, assegurando assim a paz social e cançar o trem do desenvolvimento domina
organizacional. E tudo isso não impede - aquela do porque, para quem e qual desen-
mas ao contrário, favorece - a rentabili- volvimento".
dade crescente da empresa. Este é um Foi, portanto, com este objetivo vago
dos seus maiores méritos: conseguir au- de "modernização industrial" no Brasil
mentar cada vez mais os lucros sem que que um grupo de técnicos do Ministério
isto implique o tratamento injusto e de- da Economia elaborou em 1990 o docu- 9. SEM LER, R. Op. cit.
sumano de seu pessoal. Eles lhe conce- mento citado anteriormente e que mere-
10. Como diz o próprio Sem ler:
dem, pelo contrário, vantagens materiais ce ser rapidamente descrito. Para eles, a "Não há sinal de revolução e de
e psicológicas que as outras empresas ja- modernização das indústrias brasileiras desautorização a caminho".
depende da adoção de modernos méto- SEMLER, R. Op. cit.
mais pensaram em introduzir nas suas
políticas. dos de gestão da produção e de gestão 11. CARDOSO DE MELLO, Z. et
Um outro elemento importante para tecnológica, assim como da capacidade ai. A modernização industrial no
compreendermos a expansão dessas no- de incorporar novas tecnologias. Para Brasil, documento divulgado em
1990.
vas políticas de pessoal no Brasil diz res- isto, o essencial é a "qualidade e a produti-
peito a algumas medidas adotadas pelo vidade" que são colocadas como "instru- 12. BARELLI, W. Le coüt social
governo Collor. Um documento elabora- mentos estratégicos" para tomar possível de la modernisation conservatri-
ce. Revue Mensuel, Marxisme,
do por Zélia Cardoso de Mello e seus as- "o crescimento econômico e o desenvolvimen- Mouvement. Paris, n. 42,1990.
sessores é bastante revelador do desejo to social". Segundo eles, a política adota-
deste governo de colocar em prática um da pelo governo Collor, buscando redu- 13. Idem, ibidem.
plano de modernização das empresas. 11 zir a presença do Estado na atividade 14. MAPPA, S. et ai. Rapport de
Esta idéia de modernização esteve pre- produtiva, tomava a economia competi- Synthese de Forum de Delphes.
sente durante toda a campanha presi- tiva em nível internacional e oferecia um Paris: Karphala, 1991.
base de uma economia regida pelo merca- cessivamente dependentes e pouco críti-
do, e que se manifesta com mais clareza cas em relação à empresa. Existe, portan-
na concorrência entre capitalistas e na re- to, um preço a ser pago pela participação
lação capital-trabalho. Observamos que as em um grupo tão privilegiado.
empresas que adotam estas políticas ade- Um outro resultado que nos parece im-
rem a este princípio ao ponto de introduzir portante diz respeito à amplificação ou até
o "mercado" no seu próprio espaço inter- mesmo à imposição de estratégias defensi-
no. Na empresa estudada, esta prática, ca- vas por essas políticas. Certos tipos de me-
racterizada notadamente por uma forte canismos de defesa (idealização, identifi-
política de carreira, provoca uma violenta cação, recusa da realidade, clivagem, re-
concorrência entre setores e indivíduos, pressão etc.), 18 assim como certos compor-
cujos meios para vencer não diferem da- tamentos defensivos (individualismo, re-
queles utilizados no mercado externo. Não lação instrumental com o outro etc.), pare-
nos parece muito difícil concluir que uma ceram-nos ampliados e, às vezes, adota-
sociedade que considera legítimo o afron- dos com muito esforço pelo sujeito para
tamento de interesses e que, além disso, responder às pressões típicas dessas em-
considera-o como a única maneira de al- presas. Estas pressões são, essencialmente,
cançar a ordem e o equilíbrio, legitime, ao as exigências excessivas de produtividade
mesmo tempo, certas condutas pouco con- e de qualidade, a forte competição entre
formes à ética, como, por exemplo, a rela- pares, as injunções paradoxais e as contra-
ção instrumental com o outro. Não se tra- dições (facilmente observadas nos seus
ta, portanto, de um mero acaso à forte pre- princípios), além do imperativo de auto-
sença deste comportamento nos resultados superação. É importante esclarecer que a
obtidos, especialmente entre aqueles que intensificação exacerbada de mecanismos
psicológicos de defesa é considerada 17. Alguns autores (I. Hoffman
se dispõem a entrar na corrida pela ascen- em seu artigo Les managers et
são e que, portanto, participam mais ativa- como elemento importante nos processos le capitalism; J. Palmade, no ar-
mente do jogo proposto pela empresa. Em de ruptura da estabilidade psíquica, o que tigo Management post-moderne
nossa opinião, este jogo não passa de uma reforça a nossa hipótese de que a situação ou la technocratisation des
sciences de I'homme, dentre
recuperação, por parte da empresa, das criada por estas políticas envolve riscos outros) têm alertado sobre a
práticas mais comuns na sociedade con- mentais significativos. possibilidade de que estas práti-
temporânea, e o Brasil não representa, de Além disso, observamos uma estreita cas ultrapassem o espaço da
empresa, invadam o espaço so-
maneira nenhuma, uma exceção. relação entre a função afetiva preenchida cial e reforcem, desta maneira,
Nosso objeto de estudo era, essencial- pela família de origem e o tipo de relação suas tendências autoritárias.
mente, os impactos dessas novas políticas que o sujeito irá estabelecer com a empre- Nossas primeiras observações
sobre a forma pela qual os pro-
sobre a subjetividade dos empregados. sa que adota estas políticas. Nossos resul- gramas de Qualidade Total têm
Percebemos que essas novas práticas ge- tados sugerem fortemente que aqueles penetrado em outros setores,
renciais não são de modo algum inocen- que viveram relações originárias pouco como a educação e a saúde, re-
velam-nos que esta previsão
tes e que elas repercutem negativamente, afetivas se mostravam mais dispostos a pode, infelizmente, ser correta.
não só na vida psíquica dos indivíduos, aceitar o discurso dessas empresas e a se
mas também no campo social. 17 É impor- identificar com elas. Em resumo, a maior 18. Os mecanismos de defesa
parte dos indivíduos que tiveram pouco são compreendidos como "dife-
tante sublinhar que todas estas considera- rentes tipos de operação" ela-
ções não nos impedem de reconhecer os afeto na família tentam recriar este afeto, borados pelo ego, através dos
aspectos positivos presentes nessas políti- seja com a empresa, seja com o superior quais o sujeito afronta os confli-
hierárquico. Aqueles que tiveram segu- tos. A idealização é um "proces-
cas: a maior valorização econômica dos so psíquico através do qual as
empregados, que se reflete na política de rança afetiva na família mostraram-se qualidades e o valor do objeto
altos salários, o maior espaço para inova- sempre capazes de estabelecer uma boa são elevados à perfeição". A cli-
distância em relação à empresa e de lhe vagem é definida como uma
ção e participação, o enriquecimento do forma de defesa através da qual
conteúdo de algumas funções, a maior se- dar uma dimensão mais real. Nossos re- o objeto é cindido em "bom" e
gurança no emprego, as relações hierár- sultados nos permitem concluir que os im- "mau". A identificação é defini-
pactos dessas políticas diferem segundo a da como "um processo psicoló-
quicas menos despóticas etc. No entanto, gico pelo qual um sujeito assi-
não podemos nos esquecer de que todas categoria socioprofissional na qual se en- mila um aspecto, uma proprie-
estas vantagens representam ao mesmo contra o sujeito, mas têm igualmente uma dade, um atributo do outro e se
tempo um perigo, pois a maioria das pes- relação com a sua história pessoal e com o transforma, total ou parcialmen-
te, em seu modelo". LAPLAN-
soas que se submetem a tais políticas ma- perfil psicológico que dela resulta. CHE, J., PONTAUS, J. Vocabu-
nifestam um forte apego aos privilégios É igualmente importante salientar que lsire de la Psychanalyse. Paris:
que lhes são concedidos, tomando-se ex- nossa análise centrou-se sobre o sujeito e PUF, p. 67 e 186-87,1967.
antigos métodos que tinham no corpo o dividuais, são aspectos dessas políticas
seu alvo mais importante. No entanto, que nos ajudam a compreender melhor
este universo representa, ao mesmo tem- este dado.
po, uma situação de extremo conforto à Diante das evidências oferecidas pela
medida que ele oferece aos participantes grande parte dos países que adotam essas
uma espécie de segurança, de certeza e de políticas, até mesmo aqueles que as de-
satisfação narcísea dificilmente encontra- fendem serão obrigados a admitir que é
das em outras situações de trabalho. impossível a sua adoção por todas as em-
Esse tipo de empresa torna-se um lu- presas, assim como é impossível estender
gar privilegiado, uma referência maior à sociedade como um todo os benefícios
de valores, substituindo outras institui- que lhes são atribuídos. As conclusões de
ções como a família, a igreja, a escola ou Gorz nos parecem pertinentes para com-
mesmo o sindicato. Tudo isso concorre preender, pelo menos em parte, o que se
para a redução considerável da capacida- passa na nossa sociedade. Este autor
de crítica do sujeito e,conseqüentemente, constata uma "divisão ou dualismo social"
de suas possibilidades concretas de opor que se opera nas sociedades industrializa-
uma resistência a essas políticas. Percebe- das há algum tempo e que lhe parece ine-
mos que um número importante de em- vitável. Segundo ele, é uma elite de traba-
pregados forjou uma imagem da empre- lhadores nessas sociedades que detém o
sa como inatacável e perfeita, através de privilégio de ter um emprego, um traba-
um jogo complexo de idealizações, cliva- lho mais qualificado, altos salários e
gens e deslocamentos. Isto não quer dizer maiores possibilidades de formação e
que os meios de resistência e de reapro- promoção. Este privilégio tem como con-
priação estejam ausentes, mas constata- trapartida, segundo ele, o desemprego, a
mos que eles estão bem aquém do que precariedade do emprego, a desqualifica-
tem sido observado nas empresas que ção e a insegurança da maioria. As suas
adotam outras políticas. conclusões vêm reforçar as nossas pró-
prias observações: para ele, as empresas
As dimensões sociológicas tentam fixar uma elite operária da qual
No plano sociológico, a análise dessas elas não podem prescindir, tentando, ao
novas práticas gerenciais nos leva a pen- mesmo tempo, "desligá-la de sua classe de
sar num duplo processo de exclusão: de origem, conferindo-lhe uma identidade e uma
um lado, a exclusão de uma grande mas- dignidade sociais distintas". E conclui, de
sa de assalariados que não tem acesso às uma forma bastante coerente com os nos-
vantagens oferecidas por essas empresas sos próprios resultados, dizendo que esta
que - apesar de sua importante difusão elite operária "é encorajada a ter seus pró-
no decorrer dos últimos anos - são ainda prios sindicatos independentes, seus próprios
uma minoria, particularmente em função seguros de saúde co-financiados pela empresa,
do alto custo dessas políticas; de outro mas que ela terá ao mesmo tempo sua capaci-
lado, constatamos a auto-exclusão dos dade de negociação e de reivindicação limita-
próprios empregados dessas empresas das devido ao seu isolamento e ao seu apego
em função do seu isolamento num uni- aos privilégios que lhe são concedidos". 21
verso tão distante da realidade na qual Enriquez segue na mesma direção
vive e trabalha a maioria das pessoas. quando afirma que nas empresas estraté-
Observamos, entre outras coisas, que os gicas a implicação dos empregados não
trabalhadores da empresa estudada sen- significa sua integração, pois o critério de
tem-se muito distantes das reivindica- eficácia está bem longe do critério de inte-
ções mais freqüentemente expressas pela gração. Suas conclusões coincidem com as
classe operária no Brasil, além de rejeita- nossas: "... trata-se freqüentemente de uma
rem fortemente o sindicato. A antecipa- identificação dos trabalhadores com a empresa,
ção dos conflitos, a hostilidade em rela- com seus objetivos (rentabilidade, eficácia, lu- 21. GORZ, A. Métamorphose du
ção à ação sindical (mesmo se alguns cro) e com seus métodos. Neste caso, a aliena- travail - la quête du senso Paris:
desses empresários defendem uma polí- ção é maior à medida que aquilo que é solicita- Galilée, 1988.
tica de boas relações com o sindicato) e a do ao trabalhador não é somente seu trabalho, 22. ENRIQUEZ, E. Rapport de
tentativa de evitar toda reivindicação co- mas seu ser como um todo, sua afetividade ou symnêse de Forum de Delphes.
letiva, privilegiando as reivindicações in- até mesmo seu inconsciente". 22 Paris: Karphala, 1991.
124 Artigo recebido pela Redação da RAE em setembro/93, avaliado em 18/10/93, 30/11/93 e 11/02/94, aprovado para publicação em fevereiro/94.