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Casa da ISSN 0100-6541

Ano 17 - N.º 1
jan./fev.mar./2014

Agricultura

Apicultura
Apicultura:

Editorial
a importância das

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


abelhas para nossa
agricultura
Rainhas, operárias, zangões. Cada uma com sua função. Umas têm como tarefa a postura dos ovos, outras a
defesa da colmeia. Mas todas trabalham, em conjunto e de forma altamente organizada, para oferecerem o que
há de melhor ao homem e ao meio ambiente. Por essas características, esses insetos, presentes na humanidade
Governador do Estado desde os tempos mais remotos, são bons exemplos de associativismo.
Geraldo Alckmin
Nem todos sabem, mas as abelhas são importantíssimas para a agricultura. Não apenas se responsabilizam
Secretária de Agricultura e Abastecimento
pela produção do mel e dos demais produtos, como são fundamentais para a manutenção e para o desenvol-
Mônika Bergamaschi
vimento da biodiversidade nacional, bem como são essenciais para a produção de alimentos. Isto se deve à ca-
pacidade polinizadora desses insetos, que permite o aumento da disponibilidade de frutos e sementes para a
Secretário-Adjunto
manutenção dos ecossistemas. Algumas plantas dependem exclusivamente de animais polinizadores para sua
Alberto José Macedo
reprodução, outras se beneficiam deles produzindo frutos de melhor qualidade.
Considerada uma das grandes opções para a agricultura familiar por proporcionar o aumento de renda e a fi-
Chefe de Gabinete xação do homem no campo, pela oportunidade de aproveitamento da potencialidade natural do meio ambiente
Silvio Manginelli e da sua capacidade produtiva, a apicultura está em franca expansão e precisa de estímulo e incentivo. Segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é o 11.º produtor mundial de mel e o 12.º
Coordenador/Assistência Técnica Integral maior exportador, conforme informações da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel).
José Carlos Rossetti
O Estado de São Paulo produziu, em 2013, pouco mais de 2.500 toneladas, produção modesta para a potencia-
lidade do Estado. É fato que existe um grande potencial apícola (flora e clima) não explorado e a grande possibili-
Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento
dade de se maximizar a produção em solo paulista. Para tanto, é necessário que o produtor possua conhecimen-
Ypujucan Caramuru Pinto
tos mais específicos para aumentar a produtividade. Nesse contexto, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento
tem investido, desde o final da década de 1920, em pesquisas e projetos realizados em parceria com entidades
Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes
públicas e privadas, que levem à profissionalização da apicultura como atividade geradora de renda e emprego
Edson Luiz Coutinho
para as famílias rurais.
A CATI, atenta ao movimento crescente da apicultura em São Paulo, tem incentivado os apicultores a se organi-
zarem, visando à formalização da produção artesanal, com agregação de valor e maior inserção no mercado. Para
tanto, além de orientação técnica, tem realizado a transferência de tecnologia por meio de capacitações, entre
outras ações. Por meio do Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado, associações e cooperativas de produtores
familiares e de comunidades tradicionais têm sido beneficiadas com recursos para a aquisição de equipamentos
e construção das chamadas Casas do Mel, áreas para o beneficiamento de produtos apícolas. Para contribuir com
a difusão de conhecimento, em 2009, publicamos uma versão atualizada do Boletim Técnico 202 – Apicultura,
importante material que auxilia os iniciantes e estimula os apicultores de longa data.
A escolha do tema Apicultura para a primeira edição do ano demonstra a preocupação da instituição com o
atual cenário mundial, no qual fatores climáticos e de interferência humana têm influenciado no desaparecimen-
to das abelhas em países de todos os continentes. Nosso objetivo é trazer para o debate esse assunto tão impor-
tante, que tem reflexos diretos na produção agrícola brasileira. Para ampliar as informações àqueles que estão
na atividade e oferecer orientações aos que desejam iniciar, unimos artigos e reportagens que contêm dados
sobre legislação, políticas públicas, mercado e comercialização, além de histórias de apicultores que diariamente
praticam a arte de criar abelhas!

Boa leitura!
José Carlos Rossetti
Coordenador da CATI
Expediente Sumário
Edição e Publicação - CECOR/CATI 4 Entrevista
7 Panorama da Apicultura
Departamento de Comunicação e Treinamento – DCT 9 Apicultura: como iniciar na atividade
Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto
Centro de Comunicação Rural - Cecor
12 CATI facilita o acesso do apicultor às políticas públicas
Diretora: Roberta Lage 13 Produção de rainhas: evolução tecnológica na apicultura
15 Por que se preocupar com a polinização?
Editora responsável: Jorn. Roberta Lage (MTB 43.382-SP)
Coeditora: Jorn. Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ)
Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo
Reportagens: Jornalistas Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP),
17 Regulamento traz insegurança e riscos ao setor apícola
Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ), Juliana Montoya (MTB 31.733-SP),
Roberta Lage (MTB 43.382-SP).
18 Os avanços da inspeção de mel com a nova proposta do Riispoa
19 Qualidade na apicultura: da flor ao consumidor
Supervisão técnica dos textos: Engenheira Agrônoma Clélia 21 Produtos das abelhas
Mardegan – CATI Regional Lins
Designer gráfica: Lilian Cerveira 23 Mel: saboroso e nutritivo, o alimento faz bem à saúde e ao bolso!
Distribuição: Centro de Comunicação Rural – Cecor 24 Casa da Agricultura de Cunha
Impressão e acabamento: Gráfica Paulo Sergio Alvarenga
Fragoso/Presidente Prudente (SP) 27 Mercado e comercialização: caminho próspero da apicultura brasileira
29 Apicultura no Vale do Paraíba: sustentabilidade para a cadeia produtiva
Os artigos técnicos são de inteira responsabilidade dos autores.
É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.
32 Em Capão Bonito apicultores e setor privado se unem e criam o Projeto
A reprodução total depende de autorização expressa da CATI. Colmeias, hoje disseminado por todo o Brasil
34 Associações conquistam mais credibilidade com a instalação das Casas do
Mel por meio do Microbacias II
Assista aos vídeos das reportagens na versão virtual da
Revista Casa da Agricultura no site 36 Mel e seus derivados: benefícios terapêuticos ou um alimento saudável?
39
www.cati.sp.gov.br
O alerta é claro: sem abelhas, sem alimento
42 Apicultura no Vale do Ribeira: renda e consciência ecológica para
comunidades quilombolas
Não deixe de nos escrever, por carta ou e-mail 45 Apicultura: um pouco de história e o papel da Secretaria de Agricultura e
Nosso endereço: CATI – Centro de Comunicação Rural Abastecimento

Fotos: Juliana Montoya – Cecor/CATI


Av. Brasil, 2.340 – CEP 13070-178 – C.P. 960 – CEP 13012-970
Campinas, SP – Tel.: (19) 3743-3870 48 Aconteceu
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

espacoleitor@cati.sp.gov.br
www.cati.sp.gov.br
6 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬7

ENTREVISTA mente, os governantes, na grande


maioria, desconhecem esse bene-
de 220 mil t/ano; Argentina, com
produção de 76 mil t/ano e Méxi-
RCA – O sumiço das abelhas Apis
mellifera, responsáveis pela pro-

Abelhas
fício. co, com produção de 59 mil t/ano dução comercial de mel, devido
(Food and Agriculture Organiza- a uma epidemia nos Estados Uni-
RCA – Como estão os panoramas tion Corporate Statistical Databa- dos e na Europa, atingiu de algu-
internacional, nacional e estadu- se/2012). ma forma o Brasil? Existem casos
al da apicultura? relevantes de esvaziamento das

a serviço da O interesse pelas abelhas surgiu ainda enquanto colmeias em terras brasileiras?
criança, mas foi em 1980, após um curso de apicultura na CZ – Inegavelmente, a qualida- "As abelhas estão na natureza O que é mais preocupante neste
de dos produtos das abelhas tais para perpetuarem as espécies setor e que atinge o nosso País?

Agricultura
Associação Paulista de Apicultores, Criadores de Abelhas
Melíficas Europeias (Apacame), em São Paulo, que o tra- como: mel, pólen, geleia real, pró- vegetais, promovendo a
polis e cera produzidos no Brasil, fecundação das suas flores, o CZ – As abelhas Apis mellifera são
balho de Constantino Zara Filho em prol dos insetos se responsáveis pela produção de ali-
solidificou. devido à diversidade da nossa flora, que gera os frutos e as sementes
são apreciados mundialmente. O que servem de alimento para os mentos na Europa e nos Estados
Desde 1981, ele é presidente-executivo da Associação mercado é totalmente comprador, animais e seres humanos." Unidos, sendo que havendo abe-
que o acolheu para um curso e compartilha seus conhe- já que a apicultura mundial não lhas e floradas haverá a produção
cimentos com os 7.822 sócios da Apacame, além de ou- atende à procura pelos produtos. de mel, pólen, geleia real, própo-
tros interessados no mundo das abelhas. Participa de Nacionalmente, o consumo vem RCA – Qual o retrato dos consu- lis, subprodutos da apicultura. Por
crescendo ano a ano e também se mos interno e externo? exemplo: os Estados Unidos são os
congressos nacionais e internacionais com o objetivo de
ressente da falta de oferta dos pro- maiores produtores de amêndoas
apresentar a realidade da apicultura no Brasil e de conhe- do mundo. Sem as abelhas, a pro-
dutos das abelhas, o que faz com CZ – Tanto os mercados interno
cer detalhes da atividade desenvolvida no exterior. como externo são totalmente fa- dução é quase nula.
que, ainda, o preço seja um pouco
Nesta entrevista, Constantino destaca a importância alto. Em nível estadual, São Paulo voráveis, pois os produtos das abe-
vital das abelhas para o meio ambiente e afirma que o se- ainda é um grande produtor, espe- lhas são escassos no mundo todo e No Sul do Brasil, temos mais ou
tor necessita de mais apicultores habilitados para atende- cialmente de mel, devido ao pasto a qualidade do mel, do pólen e da menos 60 mil colmeias exclusiva-
Foto: arquivo pessoal

rem a capacidade de produção brasileira. Também pede apícola ainda disponível nas áreas própolis brasileiros é reconhecida mente para a polinização de maçãs.
de pomares de cítricos e refloresta- mundialmente. No Brasil, temos casos ponteados
por mais atenção do governo para a criação de uma po-
mentos de eucalipto. de sumiço das abelhas causados,
lítica apícola que vise ao desenvolvimento da atividade Lamentavelmente, o consumo de principalmente, pela aplicação de
no País. mel no Brasil ainda é baixo (estima- defensivos agrícolas por via aérea.
RCA – Qual a atual capacidade de
Constantino Zara Filho, presidente-executivo produção do Brasil e do Estado -se 85g per capita), enquanto na Existem apicultores que perderam
da Apacame – apacame@terra.com.br Roberta Lage – Jornalista – Cecor/CATI – roberta.lage@cati.sp.gov.br
de São Paulo? Faça um compara- Alemanha é de 1,2kg per capita. centenas de enxames de abelhas
tivo com outros países e estados. O Brasil tem um mercado interno instalados próximos às aplicações
que, se melhor trabalhado, poderia aéreas dos defensivos.
CZ – De acordo com dados da As- consumir bem mais.
RCA – Como a apicultura teve iní- os imigrantes alemães até o Sul do e Apis mellifera caucasiana (região sociação Brasileira dos Exportado- O que é mais preocupante neste se-
cio no Brasil? País e com italianos que se fixaram do Cáucaso, Leste europeu). Em res de Mel (Abemel), o Brasil é o RCA – Quais as maiores dificulda- tor e que atinge não só o Brasil, mas
no Estado de São Paulo. 1956 foram trazidas as abelhas Apis 12.º maior exportador mundial de des para o desenvolvimento des- o mundo todo, é a falta de abelhas
mellifera scutelata que geraram as mel – em valor – e o 10.º maior ex- ta cadeia produtiva? que, por consequência, vai resultar
CZ – As primeiras colmeias foram
trazidas de Portugal em 1839, após Os imigrantes sabiam que necessi- atuais abelhas existentes no Brasil, portador de mel – em quantidade. na falta de alimentos.
D. Pedro II assinar o Decreto n.º 72, tavam das abelhas para polinizar as conhecidas como abelhas africani- O Brasil tem capacidade para pro- CZ – Certamente é a falta de uma
de 12 de julho do mesmo ano, que frutíferas que trouxeram com eles zadas. duzir cerca de 200 mil toneladas de política apícola que vise ao desen- RCA – A União Europeia adotou
autorizava o padre Antônio Carnei- da Europa e para produzir o mel em mel/ano e está produzindo apro- volvimento da atividade no Brasil. restrições a alguns pesticidas,
ro a trazer, oficialmente, as abelhas suas propriedades. As abelhas estão na natureza para ximadamente 50 mil toneladas, O Ministério da Agricultura, Pecu- sob a alegação de que coloca-
da Europa ou da Costa da África perpetuarem as espécies vegetais, devido à falta de apicultores com ária e Abastecimento (MAPA), ao riam em risco a vida das abelhas.
para o Brasil, não para produção de RCA – Quais as espécies mais promovendo a fecundação das conhecimentos técnicos. qual a apicultura está ligada, é um As medidas entraram em vigor
mel, mas para fornecer cera para as presentes no Brasil e quais os be- suas flores, o que gera os frutos e as dos maiores entraves para o desen- em dezembro de 2013. Como
velas usadas durante as missas. Isso nefícios das abelhas para o meio sementes que servem de alimento O Estado de São Paulo produziu avalia essas restrições e o que
volvimento da apicultura, tendo
fez com que praticamente todos os ambiente e para a economia do para os animais e seres humanos. pouco mais de 2.500 toneladas em tais medidas provocaram no se-
em vista as exigências impostas tor apícola?
conventos tivessem o seu apiário. País? Há consciência do quanto a Desta forma, têm uma importância 2013, o que é muito pouco. Atual- ao setor produtivo. Um exemplo
apicultura pode ser uma grande vital para o meio ambiente e para mente, o Nordeste tem se destaca-
a economia do País, visto que sem destas dificuldades é o extrato de
No entanto, antes disso, por volta aliada da nossa agricultura? do na produção de mel, sendo que CZ – Na verdade, a União Europeia
de 1808, algumas espécies chega- elas não haveria produção de ali- o Piauí é o maior produtor, com própolis, que é um produto tradi- baniu o uso de pesticidas, especial-
ram ao País junto com os primei- CZ – No início da nossa apicultura mentos. produção de 1.600 t/ano (Instituto cionalmente exportado e que ago- mente os neonicotinoides, por um
ros colonos suíços, que fundaram foram trazidas abelhas das espécies Brasileiro de Geografia e Estatís- ra não está sendo contemplado no período de dois anos a partir de
a cidade de Nova Friburgo, no Rio Apis mellifera mellifera (alemã); Apis Os apicultores têm consciência da tica – IBGE/2012). Mundialmen- novo Regulamento da Inspeção In- julho de 2013. Neste intervalo, será
de Janeiro. Já em 1824 chegaram mellifera ligustica (italiana); Apis importância da apicultura na agri- te, os grandes produtores de mel dustrial e Sanitária de Produtos de avaliado o impacto da proibição na
outras espécies, que vieram com mellifera carnica (centro da Europa) cultura, no entanto, lamentavel- são: China, com produção de mais Origem Animal (Riispoa). agricultura e nas abelhas para deci-
8 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬9

Panorama da Apicultura
dir se a regra será mantida por mais loca o apicultor na clandestinidade, CZ – No Brasil, as políticas públicas
tempo. pois o seu produto só estará regu- e a legislação estão voltadas para
lar se for entregue num entreposto. os grandes empreendimentos. Na
RCA – Como é o relacio- apicultura não é diferente, haja vis-
namento do apicultor ta o novo Regulamento

Rodrigo Di Carlo - Cecor/CATI


de Inspeção Industrial Clélia Mardegan – Engenheira Agrônoma – CATI Regional Lins – cleliamardegan@cati.sp.gov.br
com os entrepostos e
Sobre Produtos de Ori-
o mercado? São colo- gem Animal (Riispoa),
cadas em ação as Boas o qual está pronto para colmeias (Síndrome do Colapso das Abelhas), entre
Práticas Agropecuá- ser publicado e que irá outros, têm preocupado autoridades e produtores.
rias e o sistema Análi- jogar todos os apiculto-
se de Perigos e Pontos res na clandestinidade, De acordo com a Food and Agriculture Organization
Críticos de Controle pois os produtores não (FAO), em 2005, a produção mundial de mel alcançou
(APPCC)? terão condições de aten- um patamar de 1,4 milhões de toneladas, das quais
der às exigências impos- 55,3% concentraram-se em oito principais países pro-
tas, tais como as Casas dutores: China, México, Argentina, Estados Unidos,
CZ – Na cadeia produ- do Mel fiscalizadas pelo
tiva dos produtos das MAPA. Temos a notícia Turquia, Ucrânia, Rússia e Índia. China e Argentina
abelhas temos dois elos de que está sendo criada também se destacaram como os maiores exportado-

Fotos: Cleusa Pinheiro - Cecor/CATI


importantíssimos, que a Divisão do Mel e Pro- res do produto, que embora tenham apresentado um
são os apicultores e os dutos Apícolas (Dimel), decréscimo em suas exportações entre 2002 e 2004, a
entrepostos de mel e no MAPA, o que repre- partir de 2005 iniciaram um processo de recuperação.
cera. O apicultor é responsável sentará um avanço, tendo em vista
pela produção dos produtos das que os produtos das abelhas estão, No que diz respeito às importações mundiais de
abelhas, os quais são enviados ao RCA – Alguns apicultores ainda hoje, incorporados à Divisão do Lei- mel, se destacam a Alemanha, os Estados Unidos, o
entreposto que efetua o processa- atuam de forma isolada. Como te/Divisão de Produtos de Origem Japão e o Reino Unido. Segundo dados da FAO, os
mento, ou seja, processa, fraciona, está organizado o setor e qual a Animal (Dipoa), o que impossibilita Estados Unidos importaram aproximadamente 24,5%

A
importância do associativismo/ uma maior atenção aos problemas
rotula, distribui no mercado. É evi- que afligem o setor. s abelhas surgiram no Continente Asiático do total das importações de mel em 2005, seguido
dente que o apicultor toma todos cooperativismo? há aproximadamente 45 milhões de anos, e pela Alemanha, com cerca de 20%, Japão, com 9,9%
os cuidados higiênicos na colheita RCA – Deixe uma mensagem de começaram a ser exploradas racionalmen- e o Reino Unido, com 6,5%. O mercado internacional
e na centrifugação do mel. CZ – Não resta dúvida de que o as- incentivo aos apicultores, aos te a partir de 2400 a. C., proporcionando ao homem do mel vem apresentando crescimento contínuo em
sociativismo é a mola propulsora consumidores e ao governo. produtos como cera, geleia real, própolis, pólen, api- sua demanda, como também tem aumentado as exi-
Já o entreposto aplica o APPCC em da apicultura brasileira, promoven-
toxina, serviços de polinização e mel, produto ampla- gências em relação à qualidade e aos preços dos pro-
todo o processamento, atendendo do a união dos apicultores locais e CZ – Apesar de todas as dificulda-
reivindicando melhorias para a ati- mente utilizado na alimentação, indústria farmacêuti- dutos.
todas as exigências do Ministério des apontadas, acredito num futu- ca, entre outras.
da Agricultura, Pecuária e Abaste- vidade, além de incentivar a capaci- ro promissor para a apicultura, pois No Brasil, a atividade apícola se disseminou a partir
cimento (MAPA). Na verdade, cabe tação profissional. As cooperativas, tudo está por fazer. É uma atividade Além desta grande diversidade de produtos, a do século XIX, com os colonizadores europeus, e hoje
ao entreposto agregar valor aos salvo exceções, atuam com grande que renasceu a partir de 1980 e que atividade apícola é essencialmente ecológica, com-
dificuldade, pois o produtor brasi- é praticada em diversos estados.
produtos das abelhas, o que resul- necessita de mais apicultores para provadamente rentável, sustentável e de grande im-
taria numa melhor remuneração leiro não tem a cultura cooperati- aumentar a produção dos produtos Apesar de ser uma atividade promissora, algumas
portância econômica, principalmente para a pequena
ao produtor. Acontece que os en- vista e na primeira oferta ele vende das abelhas visando atender às de- dificuldades prejudicam o desenvolvimento da cadeia
o seu produto a terceiros. Mesmo as propriedade rural.
trepostos estão preocupados em mandas dos mercados nacional e produtiva do mel, tais como a utilização de tecnolo-
exportar os produtos das abelhas cooperativas instaladas em regiões internacional. Hoje o mel, o pólen, Em franca expansão pelo mundo, a apicultura en- gias não adequadas para a produção, o baixo nível de
a granel, o que é muito ruim, pois de difícil acesso ao mercado têm di- a geleia real e a própolis são con- frenta atualmente dificuldades que restringem sua organização dos produtores, a falta de padronização,
o valor do mel, principalmente no ficuldades e ficam na dependência sumidos durante o ano todo, o que produtividade. As alterações climáticas, a diminuição de boas condições higiênicas do produto e de legisla-
mercado internacional, é muito da ajuda financeira de bancos es- demonstra que o consumidor está
tatais. Apesar de tudo, o associati- assustadora do pasto apícola, o uso indiscriminado de ção inadequada para a obtenção de certificação, en-
baixo. mais bem informado quanto às agrotóxicos, as doenças, o abandono repentino das tre outras.
vismo está organizado com a Con- qualidades dos produtos das abe-
O apicultor tem pouco relaciona- federação Brasileira de Apicultura lhas. Falta, ainda, uma campanha
mento com o mercado, pois ele (CBA), as federações de associações esclarecedora sobre o mel cristali-
não pode fracionar nem rotular o de apicultores e meliponicultores zado, que é uma reação físico-quí-
seu mel e outros produtos das abe- em 27 estados brasileiros e as asso- mica natural do mel, e que o consu-
lhas, ficando à mercê dos entrepos- ciações de apicultores e meliponi- midor ainda estranha. Ao governo
tos que recebem o seu produto e cultores praticamente em todos os pedimos a definição de uma políti-
fazem a distribuição nos mercados, municípios brasileiros. ca apícola que ampare o produtor e
tanto interno como externo. Even- de condições de desenvolver o seu
tualmente, os produtores vendem RCA – Como estão as políticas trabalho com dignidade, uma vez
os seus produtos diretamente ao públicas e a legislação voltadas à que a apicultura é uma atividade
consumidor em feiras locais. apicultura? São suficientes para ambientalmente correta, economi-
Lamentavelmente, a legislação co- atender o setor? camente viável e socialmente justa.
10 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬11

Apicultura: como iniciar na


Entretanto, apesar de todas as dificuldades, o mer- Trabalho de pesquisa realizado levando-se em
cado brasileiro de produtos apícolas está avaliado, conta as regiões administrativas da CATI, no sudoeste
atualmente, em US$ 360 milhões anuais, podendo paulista, os EDRs de Itapeva e Itapetininga obtiveram

atividade
alcançar, no curto prazo, US$ 1 bilhão anual. Apenas 13% da produção de mel, configurando-se como a se-
para atender o mercado interno de mel, existe um gunda maior região produtora do Estado. Essa região
deficit anual de 20 mil toneladas/ano, pois hoje o País tem se destacado na produção apícola, pois possui
produz, em média, 40 mil toneladas/ano de mel e área bastante expressiva com o cultivo de eucalipto,
consome 60 mil. além da proximidade de áreas de citricultura e de
mata nativa preservada. Ricardo de Oliveira Orsi – Professor na Área de Apicultura do Departamento de Produção Animal – Faculdade de Medicina Veterinária e
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Zootecnia – Unesp/Botucatu – Coordenador do Grupo de Pesquisa do Núcleo de Ensino, Ciência e Tecnologia em Apicultura Racional (Nectar)
e Estatística (IBGE), em 2010 os principais Estados As demais regiões do Estado sofrem hoje, princi- orsi@fmvz.unesp.br
produtores de mel foram: Rio Grande do Sul (7.098t); palmente, com a predominância da ocupação do solo Thaís de Souza Bovi – Doutoranda na Área de Apicultura do Departamento de Produção Animal – Faculdade de Medicina Veterinária e
Paraná (5.468t); Santa Catarina (3.966t); Piauí (3.262t); pela monocultura da cana-de-açúcar, o uso de agro- Zootecnia – Unesp/Botucatu – Membro do Nectar – thaisbovi@yahoo.com.br
Minas Gerais (3.076t) e Ceará (2.760t). tóxicos e a consequente diminuição do pasto apícola.
O setor tenta se organizar em associações para viabi-
Dados do Ministério do Desenvolvimento,

C
lizar suas demandas, porém, o maior entrave para os
Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Secretaria aro leitor, você que está começando a ler área de mata silvestre ou uma plantação de laranja ou
pequenos produtores é conseguir a certificação do
do Comércio Exterior (Secex) apontam que, entre ja- este artigo deve estar pensando em iniciar eucalipto para se produzir mel. Hoje, se você pensa
serviço de inspeção, para que seja ampliada a comer-
neiro e junho de 2012, os principais Estados exporta- na atividade apícola e tornar-se um apicul- em produzir o máximo de mel que uma colmeia pode
cialização dos produtos, principalmente mel.
dores de mel foram: São Paulo, que lidera o ranking tor. Parabéns! Trabalhar com abelhas é algo mágico e fornecer, a escolha do local é de extrema importância.
com 2.416t, seguido pelo Ceará, com 1.670t; Paraná, Desta forma, a apicultura paulista espera que auto- maravilhoso, pois envolve uma troca de energia, sa- Sendo assim, o local deve possuir sombra moderada,
com 1.378t; Piauí, com 1.235t; Rio Grande do Sul, ridades se sensibilizem e voltem o seu olhar para este bedoria e organização que, por vezes, supera a socie- evitando-se lugares úmidos ou com sol o dia todo.
com 1.042t e por Santa Catarina, com 735t. Para es- setor tão importante para a sociedade ao oferecer dade humana. As abelhas precisam controlar a temperatura interna
tes órgãos, naquele ano, foram exportadas 9.314t de produtos e serviços da mais alta qualidade, e atentem, da colmeia (32º – 34ºC) e toda ajuda do apicultor é
Nessa atividade pode-se seguir dois caminhos.
mel, gerando receita cambial de US$ 28,582 milhões, principalmente, para os pequenos produtores, que bem-vinda. O local ainda deve possuir fonte de água
O primeiro é estabelecer um pequeno apiário e, dos
representando uma redução no volume (22,73%) e complementam suas rendas com sustentabilidade. corrente e limpa nas proximidades e ter uma barrei-
enxames, colher favos de mel para a família, em uma
no valor (26,43%), em relação ao mesmo período de ra natural contra ventos. Verificar se o local não está
atividade de lazer e relaxamento. O segundo caminho
2011 (volume: 10.630t e receita cambial: US$ 32,980
é instalar um apiário visando lucro, o que logicamente
milhões). O preço médio nacional do mel foi de US$
implica uma profissionalização. Mas, independente-
3,07/Kg, 4,66% a menos que o valor médio do referido
mente de qual caminho seguir, ou de ambos, lembre-
período de 2011 (US$ 3,22/Kg).
-se de que toda atividade deve ter um planejamento.
As duas maiores regiões produtoras de mel do Planejar remete a maiores chances de sucesso.
Estado de São Paulo estão situadas em locais com
Devemos lembrar que no Brasil temos as abelhas
boa disponibilidade de floradas de espécies vege-
Apis mellifera africanizadas, híbrido resultante do cru-
tais, com aptidão para o uso de pólen e néctar. A re-
zamento de linhagens europeias trazidas pelos imi-
gião mais importante localiza-se entre os Escritórios
grantes a partir de 1839 (Apis mellifera mellifera – abe-
de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Barretos e de
lha alemã e Apis mellifera ligustica – abelha italiana,
Araraquara, que é também a maior produtora de la- MACACÃO
por exemplo) com a linhagem africana (Apis mellifera
ranja do Estado. DO
scutellata), esta última introduzida no País em 1956.
Esse híbrido possui alto comportamento defensivo APICULTOR
(isso mesmo, defensivo... hoje não falamos mais em
abelhas agressivas, pois elas apenas defendem seu
território) e todo cuidado com a segurança do apicul- LUVA
tor deve ser tomado. A aquisição de Equipamentos de FORMÃO
Proteção Individual (EPIs) é obrigatória para iniciar a
atividade, pois se trata de garantia de segurança: ma-
cacão do apicultor completo (R$ 90,00), com luvas (R$
10,00) e bota (R$ 35,00), o que evita a ferroada direto FUMIGADOR

Foto: arquivo Nectar


sobre a pele; formão do apicultor (R$ 30,00), neces-
sário para abrir a caixa de abelhas; e fumigador (R$
BOTA
80,00), cuja fumaça é fundamental para se reduzir a
defensividade. Outro ponto importante é o local para
a instalação do apiário (conjunto de colmeias insta- Equipamentos necessários para o trabalho com
ladas em um mesmo local). Não basta apenas uma abelhas africanizadas.
12 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬13

Mas, onde conseguir as abelhas? O apicultor pode 4. Alguns pontos são fundamentais para se observar
capturá-las no ambiente, por meio da remoção de ni- no ninho. O primeiro deles é verificar a presença da
nhos estabelecidos (em cupinzeiros, telhados de ca- rainha ou de sua postura. Também é necessário ob-
sas, caixas de inspeção, dentre outros) ou por caixas servar o número de quadros de cria e de alimento que
iscas para a captura de enxames migratórios que es- existem na colmeia, sendo ideal que haja de dois a
MELGUEIRA COM tão em busca de uma nova moradia. Outra forma é a três quadros com alimento nas extremidades da cai-
10 QUADROS compra direta de outro apicultor. xa, e de sete a oito de cria no centro da mesma. Dessa
forma, garante-se o máximo crescimento do enxame.
TAMPA Com relação ao manejo dos enxames, é Outro ponto importante é averiguar a presença de ali-
importante ressaltar: mento energético (mel) e proteico (pólen). Caso não
MELGUEIRA
1. Quando realizar e com qual frequência? É preciso se observe um dos dois ou ambos, é preciso realizar
lembrar que toda vez que a colmeia é aberta, inter- o manejo de alimentação artificial. Se a falta de ali-
NINHO fere-se na comunicação e temperatura interna do ni- mento persistir, os enxames podem abandonar a cai-
nho. Assim, deve-se fazer o manejo de forma rápida e xa e procurar um local com melhores condições para
consciente, interferindo o mínimo possível nas ativi- se instalar, causando prejuízos ao apicultor. Deve-se,
FUNDO também, observar se existe alguma doença, embora
dades da colônia. Revisões quinzenais são suficientes
para se conseguir acompanhar o desenvolvimento do as abelhas africanizadas sejam resistentes.
enxame ou observar alguma anormalidade. Além dos fatores já discutidos, vale lembrar que,
CAVALETE 2. Deve-se realizar o manejo em dias ensolarados, como toda atividade, por mais simples que pareça, a
sem frio ou chuva. apicultura tem seus segredos. Portanto, antes de ini-
NINHO COM 10 3. Por causa da alta defensividade dos enxames, é im- ciar, faça algum curso de apicultura ou procure um
QUADROS prescindível o uso de fumaça durante o manejo das apicultor de sua cidade ou região e aprenda com ele.

Foto: arquivo Nectar


colmeias. Sua função é simular uma situação de perigo É fundamental saber usar os EPIs, observar o compor-
(ocorrência de incêndio), fazendo com que as abelhas tamento das abelhas, saber quando induzir a produ-
se preparem para fugir ou lutar. Assim, grande parte ção de mel, quando colher, como beneficiar e como
Caixa modelo americano, composta por tampa, melgueira (10 quadros), ninho (10 quadros), fundo e cavalete das operárias consome o máximo de alimento pos- vender o produto ao consumidor.
sível e o armazenam na vesícula nectarífera (tipo de
infestado por formigas ou outros predadores natu- lidade do alimento, para isso, a Casa do Mel deve Certamente, depois da primeira ferroada e do pri-
bexiga com capacidade de inflar ou murchar, locali-
rais das abelhas como tatu e gambá, ter fácil acesso possuir piso branco, cantos arredondados, janelas meiro favo de mel colhido, você jamais se esquecerá
zada no aparelho digestório das abelhas operárias). O
para facilitar o trabalho de manejo, principalmente teladas, ralo e lâmpadas com proteção. Quem vai ma- das abelhas e se tornará um apicultor de coração.
excesso de alimento ingerido, além de deixá-las mais
na época de colheita de mel. Para finalizar, o apiário nipular o mel deve estar de jaleco branco, máscara, lu- pesadas, provoca uma distensão do abdômen, o que
deve estar distante, pelo menos 300 metros de área vas e botas limpas. Por fim, o mel deve ser envasado, dificulta os movimentos para ferroar. Dessa forma, é Boa sorte!
urbana, estradas, moradias e outras criações animais, ficando a critério do apicultor a escolha do tipo mais importante utilizar um bom fumigador com materiais
evitando acidentes em decorrência da elevada defen- adequado de embalagem. Vale lembrar que as mais de combustão de origem vegetal livre de tratamentos
sividade das abelhas africanizadas. usadas são embalagens de plástico (R$ 1,00 para 500 químicos, tais como serragem e folhas secas, de modo * Todos os valores são preços médios referentes ao mês de março
Todo esse trabalho visa à produção de mel? Não, gramas) ou bisnagas (R$ 0,70 para 280 gramas). Uma a produzir uma fumaça branca, fria e sem cheiro forte. de 2014
para isso, o apicultor vai precisar de uma unidade de alternativa para o apicultor reduzir os custos citados

Foto: arquivo FMVZ


extração de mel ou Casa do Mel. Alguns equipamen- é sua afiliação a associações de sua região e o uso de Favo com mel e abelhas operárias.
tos são necessários, como uma mesa desoperculadora uma Casa do Mel existente, além da aquisição de ou-
(R$ 860,00 para 16 quadros de melgueira), local onde tros materiais em conjunto, o que reduz o preço de
se retira a camada de cera que recobre os favos de mel; compra.
garfo desoperculador (R$15,00), equipamento para a Outro ponto é a aquisição de caixa para as abelhas.
retirada da camada de cera dos favos; centrífuga ma- Hoje, trabalha-se com a caixa padrão americano ou
nual (R$ 1.250,00 para oito quadros), para extração do modelo Langstroth, composta de um ninho, um
mel do favo por força centrífuga; balde de aço ino- fundo, uma tampa e 10 quadros (ou caxilhos) móveis
xidável (R$ 160,00), para recolher o mel; peneira (R$ (R$ 120,00). A produção de mel é realizada em peças
100,00), para remover sujeiras inerentes ao processo sobressalentes, denominadas melgueiras (R$ 45,00).
como cera e abelhas; e decantador (R$ 450,00 para 25 Esse material pode ser adquirido em lojas apícolas.
quilos de mel) para que o mel “descanse” e as sujeiras Além disso, o apicultor vai precisar de cavalete (R$
e bolhas de ar subam à superfície. 35,00) para alojar sua colmeia. O apicultor pode
Todos os equipamentos devem ser de material de construir suas próprias caixas, lembrando que elas
aço inoxidável e a instalação deve seguir alguns pa- devem seguir as medidas padronizadas do modelo
drões higiênico-sanitários, para se assegurar a qua- americano.
14 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬15

CATI facilita o acesso do Produção de rainhas: evolução


apicultor às políticas públicas tecnológica na apicultura
Maria Luisa Teles Marques Florencio Alves – Zootecnista, Ms, PqC do Polo Regional Vale do Paraíba/Agência Paulista de Tecnologia
Alexandre Mendes de Pinho – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – almendes@cati.sp.gov.br dos Agronegócios (Apta) – marialuisa@apta.sp.gov.br

A
Alexandre Manzoni Grassi – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – amgrassi@cati.sp.gov.br
criação de rainhas é um segmento básico Novas rainhas podem ser criadas, pois a larva

O
produtor rural paulista pode encontrar apoio nas Casas da Agricultura e nos Escritórios Regionais da em todas as nações detentoras de uma api- oriunda de ovo fecundado, ao eclodir, não é de rainha
CATI para o desenvolvimento de suas atividades nas diversas fases de cada cadeia produtiva agrope- cultura tecnologicamente evoluída. Ao se nem de operária, entretanto tem o potencial de, em
cuária, da produção à comercialização. Os extensionistas da CATI têm o papel de auxiliá-lo na busca de preocupar com a criação de rainhas, o apicultor está condições adequadas, transformar-se em uma ou em
soluções mais eficientes e sustentáveis para seus empreendimentos e as suas propriedades rurais. dando um grande passo na transformação de uma outra. A quantidade e a qualidade do alimento forne-
apicultura tradicional em uma atividade competitiva cido até o 3.º dia larval é que darão as condições para
No segmento da apicultura, o extensionista pode facilitar o acesso às políticas públicas que contemplem esta e lucrativa, na qual se busca a redução de custos e o o desenvolvimento de uma princesa ou operária.
atividade, além de intermediar os assuntos junto a outros técnicos que possuam conhecimento especializado na aumento da produção.
Instintivamente, as abelhas criam novas rainhas
área, ou então, articular parcerias com outras instituições ligadas ao setor, sejam elas públicas ou privadas. O desenvolvimento e a produtividade de uma co- quando chega o momento de aumentar a família (di-
Que tipo de apoio o apicultor pode encontrar na CATI? lônia de abelhas dependem, basicamente, da idade visão natural da colônia por meio da enxameação), ou
e das características de sua rainha. Rainhas jovens e para substituir a titular quando esta acidentalmente
Orientações Orientações portadoras de boas características genéticas podem for perdida ou apresentar problemas físicos e/ou fisio-
para acesso a para acesso resultar em: lógicos.
programas de crédito a programas - aumento da população média dos enxames, pois rai- A criação artificial de rainhas caracteriza-se essen-
rural: Feap, Pronaf de compras nhas jovens têm elevada fertilidade e alta prolificida- cialmente por provocar um estado de orfandade na
Emissão de e outros governamentais de (produzirão muitos ovos e muitas operárias); colônia, oferecendo alvéolos diferenciados com far-
Orientações
DAP - Declaração - diminuição do impulso enxameatório, que é muito ta alimentação e abelhas nutrizes (operárias recém-
técnicas e
de Aptidão ao maior nas rainhas que já formaram e desenvolveram -emergidas com as glândulas mandibulares e hipofa-
sanitárias
Pronaf Emissão de colônias do que nas recém-fecundadas; ringeanas ativas, com grande produção de geleia real)
Elaboração DCAA - Declaração - menor perda de enxames por orfandade quando para alimentação de larvas elegidas para tornarem-se
de projetos de Conformidade ocorre a enxameação ou a substituição da rainha pe- rainhas. Esse é o princípio do método desenvolvido
técnicos Orientações las próprias abelhas, em consequência ao não retorno
da Atividade por G. M. Doolitle, em 1888, o qual com algumas varia-
para acesso ao da rainha virgem que sai para o voo de fecundação;
Agropecuária ções, dentre os muitos métodos de criação de rainhas,
Elaboração de PDRS - Projeto de - aumento significativo da produção total do apiário, ainda é o mais utilizado para a obtenção de rainhas
propostas de Desenvolvimento pois tem-se de 90 a 100% das colmeias produzindo no em larga escala.
crédito rural Rural Sustentável máximo de sua capacidade.
Microbacias II - Acesso
ao Mercado Colônias envolvidas no processo

Foto: Maria Luisa Teles Marques Florencio Alves


Matrizes – colônias de abelhas destinadas a
fornecer as larvas utilizadas na enxertia para se-
O acesso às linhas de crédito
rem transformadas em rainhas.
Alguns programas de financiamento rural podem ser acessados para a aquisição de Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs), destinados à produção e ao processamento de mel e derivados, e ainda, para a construção ou Recria – uma colmeia que reproduz as condi-
ções necessárias para o desenvolvimento de uma
reforma de infraestruturas de beneficiamento de mel e outros produtos apícolas.
nova rainha, podendo ser órfã ou não. Opta-se
Conforme o programa de crédito de interesse, torna-se necessário providenciar documentação específica e pelo uso de recria órfã, que é uma colônia super-
elaborar uma proposta de crédito: os técnicos da CATI podem assessorar o produtor no percurso até a obtenção povoada, com 10 favos cobertos de abelhas, da
do financiamento, auxiliando na elaboração da proposta e orientando sobre os procedimentos e a documenta- qual é retirada a rainha. Durante todo processo
ção requerida. de criação de rainha, essa colmeia é mantida com
um ou dois favos de mel, um favo de pólen fresco,
Entre os programas que oferecem linhas de crédito destacam-se: quatro favos de cria, sendo um de cria aberta (lar-
vas) e três de cria operculada ou fechada (pupas).
FEAP/BANAGRO PRONAF
Semanalmente, na véspera de receber as larvas
O Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista/Banco do Agrone- O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar enxertadas, é reformada, sendo restaurada a for-
gócio Familiar, do Governo do Estado de São Paulo, disponibiliza oferece linhas de crédito para o produtor que se enquadra nos mação inicial.
diversas linhas de crédito, sendo uma delas específica para a critérios de perfil de agricultor familiar. A CATI é habilitada a
apicultura. A taxa de juros é de 3% ao ano (bônus de 25% para o emitir, gratuitamente, a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), Núcleos de fecundação – são pequenas colô-
mutuário que se mantiver adimplente), com um ano de carência e documento necessário para acessar o financiamento. nias destinadas a receber as princesas até serem
até cinco anos para pagar. fecundadas e iniciarem a postura. São colmeias
Produção de rainhas por enxertia tipo Langstroth, com largura reduzida para três a cin-
16 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬17

Por que se preocupar com a


co quadros, povoadas com um favo de cria aberta, um Iluminação artificial (que não produza calor) e uma
favo de cria operculada, um favo de alimento (mel e lupa de aumento facilitam a tarefa, que deve ser feita
pólen) e abelhas aderentes (cerca de cinco mil a 15 mil o mais rapidamente possível.

polinização?
abelhas, de todas as idades).
Com as larvas enxertadas, montam-se as barras no
Apoios – são as colônias fornecedoras dos favos quadro porta-cúpulas, com as cúpulas com a abertura
de mel, pólen e de crias, necessários para a formação para baixo (posição idêntica a das realeiras naturais),
e o desenvolvimento das colônias anteriores, envolvi- sendo colocado na colônia-recria, onde permanece-
das no processo de produção de rainhas. rão por seis dias, quando as realeiras já operculadas Darclet Teresinha Malerbo-Souza – Professora do Departamento de Ciências Agrárias – Universidade Estadual Paulista
Processo de criação de rainhas são transferidas para uma incubadora. "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp/Jaboticabal) – dtmalerbo@gmail.com
André Luiz Halak – Doutorando em Apicultura pela Universidade Estadual de Maringá-PR (UEM) – andrehalak@yahoo.com.br
- Preparo do material para a enxertia
- Incubadora
• Cúpulas de cera – as cúpulas são moldadas em cera

I
líquida utilizando-se bastonete de madeira com cerca As incubadoras de realeiras são normalmente nicialmente, é importante lares interações entre as plantas e polinização das flores do maracu-
de 10cm de comprimento, 0,9cm de diâmetro, termi- adaptações feitas com estufas (aparelho de culturas conhecer o conceito de po- os organismos vivos. Chamamos de jazeiro (Passiflora spp.), sendo que
nando em forma cônica com 0,5cm de diâmetro. O laboratoriais, esterilização) ou chocadeiras avícolas, linização, a qual consiste na ornitofilia a polinização das plantas a falta dessas abelhas exige que
trabalho de moldagem consiste em mergulhar o bas- elétricas. A sua função é garantir o ambiente adequa- transferência do pólen contido nas por aves, incluindo beija-flores, que os agricultores contratem mão de
tonete na cera, à profundidade de 1cm, duas ou três do para a maturação completa da realeira. A tempera- anteras (órgãos masculinos da flor) são muito frequentes nas flores. obra para efetuar a polinização ma-
vezes, com pequeno intervalo de tempo entre uma tura deve ser mantida em torno de 33ºC e o ar interno para o estigma (porção receptiva Temos a quiropterofilia, que é a nual, serviço que é realizado gratui-
imersão e outra para solidificação da cera no basto- ser umedecido por meio de um reservatório de água. dos órgãos femininos). Do sucesso síndrome de polinização efetuada tamente por essas abelhas.
nete. Delicadamente, cada realeira é transferida para um da polinização depende a fecun- por morcegos. E temos, também, a
Os agentes polinizadores são
• Quadros porta-cúpulas – é um quadro normal de pequeno frasco onde a princesa emergirá dentro de dação dos óvulos da flor e a con- entomofilia, que são as plantas po-
atraídos pelos recursos chamados
ninho Langstroth, que possui duas barras de madei- alguns dias. Em cada frasco é colocada uma pequena sequente formação de sementes e linizadas por insetos. Nessa classi-
primários oferecidos pelas flores,
ra removíveis adaptadas, onde as cúpulas de cera (15 porção de cândi, que servirá para a alimentação das frutos. Então, a polinização é o pro- ficação, temos plantas polinizadas
como néctar, pólen, óleos e resinas.
cúpulas por barra) são fixadas, utilizando ou não um princesas no período que estiverem na incubadora. cesso inicial na produção de frutos por coleópteros (cantarofilia), por
Existem, ainda, recursos atrativos
pequeno apoio em madeira (batoque). e sementes. borboletas (lepidopterofilia), por
- Introdução das princesas chamados secundários como as co-
- Enxertia mariposas (psicofilia), por moscas
Por que se preocupar com a res e os odores, sendo que algumas
Logo que emergem, as princesas já podem ser in- (miofilia) e a mais comum que é a
É a transferência da larva, com 12 a 24 horas de polinização? Por que se preocu- flores exalam substâncias atrativas
troduzidas nos núcleos de fecundação, embora pos- melitofilia, polinização efetuada
vida, que é retirada do alvéolo do favo fornecido pela par com o uso indiscriminado de para polinizadores específicos.
sam permanecer na incubadora por mais dois ou três por abelhas, vespas e formigas.
matriz para a cúpula de cera onde deverá completar agrotóxicos, que causam a morte
dias. A introdução é feita em gaiolas Butler (tipo tubo Tanto as abelhas quanto as
seu desenvolvimento. Essa operação é feita com um de milhões de abelhas por todo o As flores e os agentes poliniza-
ou bobe), em núcleos de fecundação previamente mundo? Simplesmente, porque as dores podem estar de tal maneira plantas se beneficiam do processo
aparelho apropriado, denominado agulha ou estilete de polinização. Para as abelhas, as
preparados. A rainha faz seu voo de fecundação com abelhas são as polinizadoras mais adaptados um ao outro, que há
de enxertia. Cada cúpula, antes de a larva ser transferi- flores fornecem o alimento, néctar
cinco a sete dias de idade e normalmente inicia a pos- eficientes da natureza. São capazes casos de orquídeas polinizadas, ex-
da, recebe uma pequena gota de uma mistura de ge-
tura em dois ou três dias. Portanto, somente após 12 de polinizar milhares de flores num clusivamente, por uma espécie de e pólen, além de resinas para a ela-
leia real e água fervida ou destilada na proporção 1:1.
ou 13 dias esses núcleos deverão ser revisados para único dia. abelha. É muito conhecida também boração da própolis. E as plantas,
Uma a uma, cada larva é capturada e depositada verificação se houve ou não fecundação. a importância das mamangavas na oferecendo o alimento para as abe-
sobre a superfície da gota de geleia. Deve-se tomar A transferência de pólen para o
Se for verificada postura (ovos e/ou larvas), a rainha estigma pode ocorrer numa mes-
cuidado para não feri-las, não inverter a sua posição
está fecundada e pode ser retirada, caso contrário, na ma flor (autopolinização) ou pode
e não imergi-las na geleia real (devem ficar flutuando
ausência de postura, o núcleo estará órfão e precisa- ocorrer de uma flor para outra (po-
no centro da gota).
rá ser reformado para estar em condições de receber linização cruzada).
A enxertia pode ser feita em qualquer lugar, entre- outra princesa, dando continuidade ao processo. Essa
tanto, uma sala com temperatura em torno de 28ºC operação é feita sucessivamente, enquanto o procedi- A polinização pode acontecer
e umidade relativa do ar próxima de 60% é o ideal. mento de criação de rainhas estiver ocorrendo. por fatores abióticos, como em
plantas aquáticas que são poliniza-
das pela água; nesse caso chama-
Cronograma de produção de rainhas (Apta/Polo Regional Vale do Paraíba) mos essa síndrome de polinização
de hidrofilia. Temos ainda plantas
Dia do processo Dia da semana Tarefa polinizadas pela ação dos ventos,
1 2.ª feira Colocar quadro para postura na matriz como é o caso do milho (Zeamays
L.), nesse caso, chamamos essa sín-
4 6.ª feira Enxertia
drome de polinização por anemo-
10 5.ª feira Transferir realeiras para estufa filia.

Darclet Teresinha Malerbo-Souza


Reforma da recria
Muitas espécies de plantas são Abelha Apis mellifera
15 ou16 3.ª ou 4.ª feira Introdução das princesas polinizadas por animais e insetos, africanizada visitando
28 2.ª feira Verificar a fecundação então, chamamos de polinização a flor da laranjeira
Retirar as rainhas fecundadas biótica. Na polinização biótica, te- (Citrussinensis L. Osbeck),
Reformar núcleos onde não houve fecundação mos as mais diferentes e espetacu- com pólen nas corbículas.
18 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬19

Regulamento traz insegurança


Abelha Xylocopa É necessário que o conceito de
sp. (mamangava) produzir alimentos com eficiência,
coletando pólen na se preocupando com o solo, com

e riscos ao setor apícola


flor da goiabeira a variedade, com as condições cli-
(Psidiumguayava L.). máticas e com a irrigação, também
deve levar em consideração os or-
ganismos presentes no meio am-
biente que colaboram e que sobre- Nésio Fernandes de Medeiros – Presidente da Federação das Associações de Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc)
vivem desses recursos florais, como faasc.br2009@gmail.com

O
é o caso das abelhas. futuro do setor apícola nacional, atividade que todas as “Casas do Mel”, que passarão a ser deno-
Estudos realizados no sentido na qual o Brasil desponta como o 11.º pro- minadas “Unidades de Extração de Produtos Apícolas
de conhecer as espécies de visi- dutor mundial, está em risco. Lideranças (Uepa)”, sejam previamente registradas no Serviço
tantes florais, os horários em que apícolas de todo o País acompanham com preocu- de Inspeção Federal (SIF) ou no Sistema Brasileiro de
Darclet Teresinha Malerbo-Souza

visitam as plantas, quais os recur- pação as negociações em torno das mudanças na Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-POA).
sos alimentares que as plantas ofe- legislação que regulamenta o setor, no âmbito do Para conseguir o registro, será preciso cumprir uma
recem aos visitantes e o efeito da Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento série de normas e requisitos, além de investimentos
visita desses agentes polinizadores (MAPA), com a finalidade de garantir principalmente que representam um custo elevado para o apicultor.
a segurança alimentar e a sanidade. Caso o texto do
na produção de frutos e sementes, A exigência da Uepa, prevista na versão atual do
novo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária
são essenciais para os agricultores. Riispoa, se baseia na ideia equivocada de que o apicul-
de Produtos de Origem Animal, conhecido como
lhas, recebem em troca a transfe- Muitas colmeias estão morren- Se pensarmos em produção de tor extrai o mel do favo sem infraestrutura e cuidados
Riispoa, seja sancionado sem incluir as mudanças
rência do pólen das anteras para o do em decorrência de doenças, mel, de pólen, de própolis, enfim, básicos de higiene, colocando em dúvida a segurança
propostas pela cadeia produtiva do mel, os apiculto-
estigma, garantindo a perpetuação bactérias e vírus que dizimam a dos produtos apícolas, esse conhe- alimentar dos produtos. O apicultor bem orientado
res terão de assumir despesas financeiras que podem
da espécie, além de proporcionar a colônia, enfraquecidas, na maioria cimento é fundamental também extrai mel em uma sala de uso temporário. Com co-
inviabilizar a atividade.
variabilidade genética dessas plan- das vezes, pelo excessivo uso de para os apicultores. nhecimento das Boas Práticas Apícolas, ele tem condi-
tas. defensivos agrícolas na agricultu- O Riispoa que está em vigor é um decreto anti- ções de fornecer ao entreposto (as indústrias) um mel
Vários estudos, no Brasil e no go, de 1952, complementado por portarias e instru- de qualidade. Os entrepostos são estabelecimentos
ra. Esses defensivos podem matar mundo, confirmam o aumento de
Existem plantas que apresen- ções normativas como a Portaria n.º 6, de 1985, que inspecionados pelo SIF e têm condições de manter
as abelhas diretamente nas flores
tam flores masculinas e flores femi- produção com a presença dos po- contém normas sobre o mel, a cera de abelhas e os a rastreabilidade e análise do produto proveniente
ou indiretamente, pela ingestão
ninas separadas, como é o caso das linizadores. Por exemplo, a laran- derivados e também regulamentos técnicos de iden- do apicultor, certificando a qualidade e inocuidade
de néctar, pólen e água contami-
espécies da família Cucurbitaceae. jeira apresentou 25% de aumento tidade e qualidade do mel e demais produtos. É im- do mel, além de oferecer ao consumidor um produto
nados e, ainda, podem contaminar
Como exemplos dessa família te- de produção de seus frutos, além portante destacar que uma portaria ou instrução nor- seguro e garantido.
os produtos elaborados pelas abe-
mos o pepino (Cucumis sativus), de frutos mais doces e com maior mativa não pode ser menos restritiva que um decreto,
lhas, como o mel e o pólen, que É importante destacar que em momento algum
a melancia (Citrullus lanatus), o quantidade de sementes com a como o Riispoa.
serão consumidos pelo homem. O descarta-se a necessidade de fiscalização e controle
melão (Cucumis mello), o chuchu presença das abelhas africanizadas
desmatamento e as queimadas fre- Desde 2008, o MAPA vem trabalhando na re- de qualidade para uma produção segura do mel e
(Sechium edulis), dentre outras. nos pomares. As mamangavas são
quentes eliminam o habitat natural visão do Riispoa. No caso da cadeia produtiva do seus entrepostos, porém, faz-se necessário, de forma
Essas espécies vegetais necessitam bem conhecidas nas flores do ma-
de muitas espécies de polinizado- mel, participam das discussões a Câmara Setorial da urgente, um ajuste na regulamentação, para que ela
da visita de agentes polinizadores racujazeiro, entretanto, são impor-
res, sejam elas espécies de abelhas, Cadeia Produtiva do Mel e de Produtos Apícolas, a consiga conciliar a certificação do produto sem des-
para que haja produção de frutos. tantes em outros cultivos também,
outros insetos, aves ou animais. Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), e as in- motivar a atuação dos apicultores, principalmente em
Agricultores que plantam melão no como é o caso da goiabeira.
Nordeste estão habituados a con- Existe grande preocupação com dústrias e federações de apicultores de diversos es- seus encargos financeiros, na hora de colocar em prá-
tratar apicultores que levam suas a preservação de agentes polini- Conhecer a interação planta- tados, representadas pela Associação Brasileira dos tica as normas exigidas pelo Riispoa.
colmeias de abelhas Apis mellifera zadores, os quais são responsáveis -polinizador é essencial para a pro- Exportadores de Mel (Abemel). Contudo, esse decreto
africanizadas para polinizarem as pela produção de frutos e semen- dução dos frutos e das sementes, que teve alguns pontos reformulados não atende às
culturas, no período de floresci- tes de inúmeras espécies de plan- sendo a polinização um serviço necessidades e condições do setor, tanto produtivo
mento. tas. A preocupação é tão evidente ecológico fundamental, realizado quanto da indústria. Várias sugestões têm sido apre-
que existe uma Iniciativa Mundial por abelhas, borboletas, outros in- sentadas e discutidas, algumas já devidamente incor-
As abelhas apresentam colônias
com grande número de indivíduos de Preservação de Polinizadores, setos, morcegos e alguns animais. poradas ao novo texto, como a inclusão de produtos
e por estocarem alimentos como o da qual o Brasil tem participado Portanto, para que haja aumento de abelhas sem ferrão, também conhecidas como
mel, por exemplo, são necessárias efetivamente com muitos pesqui- na produção, quantitativa e quali- abelhas nativas ou meliponídeos, e quanto à informa-
visitas constantes às flores, fazen- sadores, renomados internacional- tativamente, é fundamental maior ção nos produtos que contenham mel, sobre a por-
do-as polinizadoras em potencial. mente, estudando e avaliando as incremento do nível técnico dos centagem do mesmo, proporcionando, assim, maior
Além disso, podem ser manejadas plantas e seus polinizadores. cultivos, desde o plantio de varie- clareza ao consumidor.
para a polinização das culturas. Não O célebre Albert Einstein já dizia dades selecionadas até os cuida- Entretanto, alguns dispositivos presentes no regu-
só as abelhas africanizadas são im- que “se as abelhas desaparecessem dos com a apresentação dos frutos lamento não condizem com a realidade da produção

Foto: Abemel
portantes polinizadoras, as abelhas da face da Terra, em apenas quatro destinados ao mercado, não esque- atual, sobretudo do pequeno produtor familiar, que
nativas ou sem ferrão também são anos, a humanidade pereceria de cendo o processo inicial que é a po- representa 90% dos 350 mil apicultores do País. O
muito frequentes nas flores. fome”. linização. maior impasse está no fato de que o Riispoa determina
20 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬21

Os avanços da inspeção de mel Qualidade na apicultura: da


com a nova proposta do Riispoa flor ao consumidor
Aline Soares Nunes – Fiscal Federal Agropecuária
aline.nunes@agricultura.gov.br Lídia Maria Ruv Carelli Barreto – Prof.ª Dr.ª em Apicultura – diretora do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade de Taubaté
Leandro Diamantino Feijó – Fiscal Federal Agropecuário (Unitau) – liadiaunitau@gmail.com
leandro.feijo@agricultura.gov.br Ana Paula da Silva Dib – Prof.ª Dr.ª coordenadora do curso Tecnólogo em Apicultura e Meliponicultura, e do curso de Pós-graduação em
Apicultura da Unitau – unitau:dib2005@hotmail.com

O
Regulamento de Inspeção Industrial e João Carlos Nordi - Prof. Dr. em Apiterapia e Sistemática Vegetal da Universidade de Taubaté – jcnordi@bol.com.br
Sanitária de Produtos de Origem Animal

N
(Riispoa) é o Decreto n.º 30.691/52, que é os últimos anos, a união de esforços entre própolis e extrato de própolis”. A normativa visa
regulamentado pela Lei n.º 1.283/50. Conforme esta os representantes da cadeia produtiva apí- estabelecer a identidade e os requisitos mínimos de
lei, todos os produtos de origem animal estão sujeitos cola brasileira, o Ministério da Agricultura, qualidade que deverão ser cumpridos para cada um
à prévia fiscalização do ponto de vista sanitário e não Pecuária e Abastecimento (MAPA), e alguns cientistas dos referidos produtos. O âmbito de aplicação é vol-
existe previsão de isenção da inspeção sanitária para gerou resultados na concepção de uma apicultura tado aos comércios nacional e internacional, quando
produção de mel, cera de abelhas e seus derivados. As profissional, técnica e competitiva, principalmen- se tem por base o Mercosul. No entanto, cada produ-
regulamentações presentes num decreto não podem te frente à abertura do comércio entre as nações to estará sujeito a cumprir certas peculiaridades perti-
contrariar as obrigatoriedades e determinações pre- (Mercodo Comum do Sul, Mercado Comum Europeu, nentes a cada país de destino.
vistas em lei. dentre outros). Na década de 1980, convivia-se com

Foto: Abemel
Boas Práticas Apícolas
normas adaptadas de outras criações e no controle
A revisão do Riispoa objetivou a harmonização Em relação às Boas Práticas Agropecuárias no setor
laboratorial não existia uma legislação brasileira pa-
com legislações mais atuais, como a Lei n.º 8.078/90 apícola, é importante que o produtor, seja qual for a
drão. Ao final da década de 1990, foram elaboradas
(Código de Defesa do Consumidor), a Lei n.º 7.889/90 lecimento denominado de Apiário e não para as dimensão de seu empreendimento, tenha conheci-
legislações sobre critérios para o processamento e a
e o Decreto n.º 5.741/2006 (Sistema Unificado de Unidades de Extração e Beneficiamento de Produtos mento sobre condutas higiênicas em sua “indústria
qualidade dos produtos apícolas.
Atenção à Sanidade Agropecuária – Suasa). A revisão de Abelhas. Por isso, é inconsistente se estimar valores alimentícia” comparando-a ao metódico trabalho
também buscou atualizá-lo em relação às inovações para a construção deste tipo de estabelecimento. das abelhas Apis mellifera que, ao escolher a matéria-
Algumas normas vigentes no País
tecnológicas e aos avanços científicos. Assim, essa re- -prima e retornando à “central de processamento”, a
O Departamento de Inspeção de Produtos de Portaria n.º 368, de 4 de setembro de 1997, colmeia, passam pela “barreira sanitária” de própolis
visão foi elaborada com embasamentos técnico, cien-
Origem Animal (Dipoa) tem transigido com o setor de MAPA: “Regulamento técnico sobre condições hi- contida no alvado. Chegando ao depósito exclusivo,
tífico e legal, pois no atual Riispoa existem apenas 14
mel, discutindo e esclarecendo a proposta do novo gienicossanitárias e de Boas Práticas de elabora- os alvéolos, depositam néctar ou pólen, seguindo-se
artigos relacionados ao mel.
Riispoa pois, desde 2008 até recentemente, foram ção para estabelecimentos elaboradores/indus- a fase de processamento da matéria-prima, ou seja, a
De forma geral, na área de mel, a proposta do novo analisadas inúmeras solicitações do setor apícola e, a trializadores de alimento”. A referida Portaria vem transformação do néctar em mel, por processos enzi-
Riispoa possibilitará: a inclusão de produtos não con- maioria destas, que possuíam fundamentação cientí- em substituição, no caso da apicultura, às antigas por- máticos, desidratação do mesmo, até o envase e lacre,
templados anteriormente, como própolis, geleia real, fica e legal, foram acatadas e usadas para aperfeiçoar tarias existentes para a construção da Casa do Mel e/ ou seja, a operculação e estocagem do produto nos
pólen, apitoxina, mel de abelhas sem ferrão e com- o novo Riispoa e alinhá-lo com a realidade da cadeia ou de entrepostos. Trata-se de uma abordagem ampla favos. Nesse estágio, o apicultor colhe o mel, devendo
postos apícolas; a regularização das Casas do Mel já produtiva de mel. de condutas para a indústria de alimentos, flexível o realizar procedimentos com Boas Práticas para man-
existentes; ao próprio apicultor beneficiar seu produ- Entenda um pouco mais sobre os tipos de suficiente para adaptar-se ao nosso produto apíco- ter e/ou até mesmo aprimorar a qualidade final do
to e colocá-lo no mercado de forma legalizada e com inspeção no setor do mel la. Retrata conceitos básicos sobre manipulação de produto, nesse caso, o mel. Assim, não será diferen-
valor agregado, sem depender de entregá-lo a entre- alimentos; limpeza; contaminação; princípios gerais te sua conduta para os demais produtos da colmeia,
postos ou a atravessadores. Riispoa – destinado aos que realizam comércio in-
higiênicos da matéria-prima; condições sanitárias de cada qual com suas especificidades.
terestadual e/ou internacional e, para tanto, necessi-
Com tudo isso, o apicultor poderá: obter melhores estabelecimentos, instalações, equipamentos e uten-
tam de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária
preços; incluir-se de forma justa na cadeia produtiva; sílios; combate às pragas; conduta do manipulador;
e Abastecimento (MAPA), conforme Lei n.º 1283/50,
combater a clandestinidade; garantir a rastreabilida- emprego da água; embalagem, armazenamento e
alterada pela Lei n.º 7.889/89.
de e o funcionamento da Unidade de Extração Móvel, transporte da matéria-prima e do produto acabado.
para a realização de extração de mel sob condições Decreto n.º 5.741/2006 e Decreto n.º 7.216/2010
Instrução Normativa n.º 11, de 20 de outubro
adequadas na apicultura migratória e em regiões que – estabelecem as condições de instalação dos estabe-
de 2000, MAPA “Regulamento técnico de identi-
não possuam Casas do Mel; obter maior segurança e lecimentos agroindustriais rurais de pequeno porte.
dade e Qualidade do mel”. O regulamento tem por

Arquivo CEA – Unitau


qualidade do mel, com a definição de critérios para Lei n.º 1.283/50 e Lei n.º 1.889/89 – para a reali- objetivo estabelecer a identidade e os requisitos míni-
o recebimento do mel extraído; receber produtos e zação de comércio local, são as Inspeções Estaduais e mos de qualidade que devem cumprir em relação ao
matérias-primas oriundos de âmbitos de inspeção es- Municipais. mel destinado ao consumo humano. Sua abrangência
tadual e municipal, que tenham aderido ao Sistema inclui todos os estados brasileiros, porém, é feita com
Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal Decreto n.º 5.741/2006 – para estabelecimentos
sob Inspeção Estadual e que desejam realizar comér- bases para atender ao Mercosul.
(Sisbi-POA/Suasa); e flexibilizar e simplificar a estrutu-
ra dos estabelecimentos. cio interestadual há a possibilidade de reconhecimen- Instrução Normativa n.º 3, de 19 de janeiro de
to da equivalência com a Inspeção Federal por meio 2001, MAPA: “Regulamentos técnicos de identi-
As normas existentes atualmente (Portaria n.º do Sisbi-POA. dade e qualidade de apitoxina, cera de abelhas,
6/1985 e Decreto n.º 30.691/52) são para o estabe- geleia real, geleia real liofilizada, pólen apícola,
22 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬23

Produtos das abelhas


Diretrizes principais para obtenção de uma boa matéria-prima
1. Local da instalação do apiário – A escolha do local O macacão ou jaleco utilizado no apiário deverá ser
deve ser criteriosa, levando-se em consideração a uti- limpo a cada manejo.
lização de agroquímicos. Infelizmente algumas áreas Radamés Zovaro – Empresário apícola, diretor técnico da Associação Paulista de Apicultores, Criadores de Abelhas
rurais já estão comprometidas a partir de contamina- 3. Utilização da fumaça – É um procedimento de se- Melíficas Europeias (Apacame) – zovaro@zovaro.com.br
ções do ar, da água e do solo. A topografia do terreno gurança utilizado durante o manejo de colmeias, po-

A
deve ser de fácil acesso. Nos topos de morros geral- rém, o material carburante deve produzir odor agra-
mente encontram-se plantas com nectários resseca- dável, utilizando-se para isto, folhas de eucaliptos ou s abelhas são responsáveis por toda uma Geleia Real
dos em função da forte exposição aos ventos. Assim, erva cidreira misturadas à serragem; não usar dejetos gama de produtos, mas a polinização das flo- A geleia real é uma secreção glandular, viscosa,
as abelhas são submetidas a grandes esforços de su- de animais. A fumaça não deve ser dirigida aos favos res é o seu principal produto. Praticamente amarelada, produzida pelas abelhas para alimenta-
bida e descida, o que aumenta o consumo energético contendo mel (evitando que o produto adquira sabor 70% da alimentação de animais e seres humanos só ção das crias (embriões), até o 3.º dia de vida, e para
e, consequentemente diminui a produção. As várzeas desagradável) ou crias, pois o excesso de fumaça aca- existe porque as abelhas transferem o pólen do órgão a alimentação da abelha rainha por toda a sua vida,
próximas a rios, lagoas e charcos, expõem, por exem- ba por intoxicá-las, devendo ser aplicada no sentido reprodutor masculino para o órgão reprodutor femi- que dura de três a quatro anos, enquanto uma abelha
plo, a colmeia produtora de mel à maior umidade do horizontal da colmeia, quando nenhum quadro esti- nino, dando origem ao fruto e, consequentemente, comum vive em torno de 45 dias.
ambiente, dificultando ou até mesmo impedindo a ver exposto. à preservação das espécies. Por meio da polinização,
temos áreas verdes, alimentos e oxigênio, indispensá- Trata-se de um alimento natural, um dos poucos
desidratação desejada do produto. O excesso de sol que contêm quase todos os componentes essenciais
deve ser evitado, preferindo-se a instalação dos api- 4. Sistematização do manejo – Os enxames para se- veis à vida, daí a importância da manutenção e pre-
servação das abelhas. para o fortalecimento do organismo e por isso atua
ários em locais com sombreamento moderado para rem produtivos demandam de ações com periodici-
como um estimulante geral.
as regiões mais quentes. Locais com sombreamento dade, ou seja, troca anual de rainha; substituição anual Já os outros produtos das abelhas são o mel, a cera,
permanente também proporcionam um maior gasto de favos escurecidos por lâminas inteiras de cera alve- a geleia real, a própolis, o próprio pólen e o veneno A geleia real tem em sua composição: de 60 a 65%
energético dos enxames em função das baixas tem- olada; regularidade na alimentação pré e pós-florada (apitoxina), todos com funções muito importantes. de água; de 12 a 18% de proteínas; minerais como cál-
peraturas. e para enxames em desenvolvimento, bem como no cio, potássio, fósforo, cobre, ferro e silício; possui 16
inverno sem fluxo de alimento energético e proteico; Mel
aminoácidos essenciais entre os 22 conhecidos; vita-
2. Padronização, qualidade do material e segu- controle de formigas e da vegetação próxima às col- O mel é um produto natural. É produzido pelas minas do complexo B (B1, B2, B3, B5, B6, B8, B9 e B12)
rança do apicultor – No Brasil existem normas que meias. Por fim, estabelecer sincronia entre o manejo abelhas a partir do néctar das flores, sendo uma con- e, em pouca quantidade, as vitaminas A, C, D e E.
compreendem as medidas oficiais para a confecção com a maximização da densidade populacional dos centração de glicose, frutose, vitaminas, sais minerais
Pólen
de colmeias elaboradas pela Associação Brasileira de enxames e os períodos de picos de floração. e alguns aminoácidos. A abelha ao visitar a flor coleta
o néctar e, chegando na colmeia, transfere o néctar É um produto de secreção dos órgãos masculinos
Normas Técnicas (ABNT). A conservação das mesmas
5. Colheita e encaminhamento da matéria-prima para outras abelhas, iniciando um processo de intro- das flores, encarregado de fecundar os órgãos femini-
pode ser a partir de tratamentos naturais com mistura
A colheita é a primeira etapa das operações de en- dução de enzimas, produzidas pelo organismo da nos da mesma espécie. Sem o pólen não haveria se-
de própolis, óleo de linhaça e álcool, ou mesmo pintu-
ra com tintas isentas de metais pesados. caminhamento da matéria-prima. Não haverá um própria abelha, que transforma quimicamente o néc- mentes, frutos ou árvores e nem mesmo animais que
O formão e as luvas de borracha deverão estar sempre bom produto, se o mesmo for fabricado com matéria- tar em mel. Ao depositar o mel nos favos, tem início têm seu sustento baseado na alimentação vegetal. As
limpos. A cada manejo, caso seja encontrada alguma -prima desqualificada. É importante lembrar que, no uma nova fase da produção, que é a eliminação de um abelhas usam o pólen como importante fonte de pro-
colmeia “doente”, esses utensílios deverão ser subs- caso do mel, é fundamental sua colheita com 90% do percentual da umidade. Quando a umidade chega ao teínas para alimentar suas crias e para produção de
tituídos. O principal insumo utilizado nas colmeias é favo operculado (maduro). Na colheita, o apicultor índice de 18 a 20%, as abelhas lacram os alvéolos (área geleia real.
a cera alveolada, com procedência idônea, para não deverá estar atento ao tipo de embalagem utilizada de depósito do mel) com cera e o produto é conside-
para transportar sua produção do apiário ao setor de rado pronto para o consumo. O apicultor retira o mel O pólen ou é coletado quando as abelhas visitam
expor os enxames a riscos desnecessários, bem como as flores com o intuito de coletar néctar para transfor-
a produtos contaminados com esporos ou resíduos processamento, evitando, assim, o esmagamento da dos favos em um processo de centrifugação, e comer-
matéria-prima bem como a deposição de poeira e a cializa o produto que pode variar de uma coloração mar em mel ou em casos específicos de necessidade
químicos que comprometerão a qualidade do produ-
transferência de odores e umidade. amarelo clara até a cor bem escura, de acordo com a de pólen para a colmeia, exclusivamente para coletar
to final.
Ao comprar a cera alveolada, certificar-se de que este- origem do néctar. pólen.
ja embalada em plástico filme PVC e se não existe pre- 6. Transporte – O meio impróprio de transporte pode O mel é considerado um alimento de fácil diges- As flores, de acordo com cada espécie, têm um
sença de traça (aspecto esfarelado na lâmina). Rejeitar repercutir negativamente sobre o estado da matéria- tão e pode ser assimilado diretamente ou em receitas, pólen específico, originando uma grande variedade
toda cera que estiver embalada em contato com fo- -prima. O veículo deve apresentar velocidade mode- constituindo importante fonte de alimento e energia de cores e sabores. Constitui-se um excelente com-
rada, evitando-se, também, sacolejos e trancos. Deve que contribui com a harmonia do processo biológico
lhas de jornal, pois a tinta de impressão é uma grande plemento alimentar, que deve ser usado diariamente,
possuir lona protetora, bem como capacidade para do corpo humano por conter proporções equilibradas
fonte contaminante de metais pesados. Um sistema transportar a produção. puro ou misturado com mel, iogurtes, saladas etc.
promissor, que ainda vem sendo adotado em peque- de fermentos, vitaminas, minerais, ácidos e aminoáci-
na escala no Brasil, é o de quadros em PVC, conten- dos, semelhantes aos hormônios, às substâncias bac- O pólen apícola apresenta na sua composição
7. Processamento – A estrutura física e as aparelha- tericidas e aromáticas. Todo mel tem uma tendência a grande quantidade de aminoácidos essenciais, ácidos
do no material a impressão dos alicerces alveolares. gens devem ser organizada conforme um fluxograma,
O material é resistente a temperaturas altas, portanto cristalizar, uns mais cedo, outros mais tarde. Esse é um graxos, vitaminas, oligoelementos, fibras vegetais,
bem como as aparelhagens necessárias no processa- fenômeno natural, que varia em função dos percentu- minerais e moléculas proteicas como flavonoides. O
mergulhos do mesmo em água fervente permitem mento, conforme o tipo de matéria-prima.
uma eficiente higienização. Os cavaletes devem pro- ais de cada um dos seus componentes. pólen é vida!
porcionar altura ergonométrica para evitar lesões na 8. Armazenamento – São considerados os seguintes
coluna do apicultor. O uso correto de Equipamentos quesitos: tipo de embalagem; identificação do produ-
de Proteção Individual (EPIs), como botas, indumen- to; rótulo; temperatura; umidade; luminosidade; tem-
tárias e luvas, evitam picadas que, com o passar dos po, tendo uma estreita relação entre a quantidade e o
anos, podem se tornar nocivas à saúde do apicultor. prazo de validade.
24 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬25

Mel: saboroso e nutritivo, o alimento


faz bem à saúde e ao bolso!
Denise Baldan – Nutricionista – Núcleo de Atividades Complementares (NAC/CATI) – denise.baldan@cati.sp.gov.br

D
esde a mais remota antiguidade, o mel Além do benefício na alimentação, o incentivo ao
é conhecido como rica fonte de energia, uso do mel pode contribuir para o desenvolvimento
sabor e prevenção de muitas doenças; e econômico regional, uma vez que 30% dos produtos
como alimento, é o mais antigo adoçante empregado adquiridos para a merenda escolar são oriundos da
pelo homem, podendo ser usado in natura ou na agricultura familiar. Outra vantagem é o agronegócio
culinária em receitas diversas (iogurtes, bolos, doces apícola ser uma atividade sustentável e um aliado
etc). Sua composição é, na maior parte, feita por da agricultura quando se trata da necessidade de
açúcares simples (frutose e glicose), sendo a frutose a polinização nos mais diversos cultivos comerciais,
que se apresenta em maior quantidade; é composto, da preservação da flora nativa e de espécies animais

Fotos: Radamés Zovaro


ainda, por água, minerais (cálcio, magnésio, ferro, dependentes desta flora. Dessa forma, aos benefícios
entre outros) e vitaminas dos complexos B, C, D e E. nutricionais, somam-se os ambientais, sociais e
econômicos: gera emprego e renda, ativa o comércio
O aroma, o paladar, a coloração, a viscosidade e as
local, ajuda a fixar o homem no campo e a reduzir
propriedades funcionais do mel estão diretamente
a dependência da agricultura de subsistência,
relacionados com a fonte de néctar que o originou
além do grande potencial para a exportação do
e, também, com a espécie de abelha que o produziu.
Própolis O principal objetivo da cera é a construção dos favos, produto, uma demanda crescente. A apicultura
De maneira geral, alguns estudos demonstram que o
A própolis é produzida pelas abelhas a partir de os quais terão a finalidade de armazenar os ovos que é um agronegócio sustentável e
mel possui propriedades antimicrobianas, antivirais,
resinas e bálsamos que elas coletam de vários tipos serão postos pela abelha rainha. Esses ovos se transfor- completo sob todos os
antiparasitária, anti-inflamatória, antioxidante e
de plantas, misturam com cera e pólen, formando o marão em larvas, pré-pupas, pupas e abelhas operárias pontos de vista.
anticarcinogênica. Além disso, o mel pode conter
produto chamado própolis. ou zangões. Os favos também armazenam os alimentos
boas quantidades de colina, essencial para as funções
das abelhas, o mel e o pólen. Além da construção dos
A abelha utiliza a própolis como um antibiótico, cerebral e cardiovascular.
favos, a cera também é encontrada na composição da
cuja finalidade é impermeabilizar as paredes, o teto própolis. Cabe ao apicultor aproveitar a cera após um Quando comparado ao açúcar refinado, além
e os quadros da colmeia, impedindo a proliferação de determinado tempo de uso dos favos pelas abelhas, de ser mais nutritivo, o valor calórico do mel é 18%
micróbios e vírus. É usada, também, para embalsamar recuperando e trocando parte por cera alveolada e co- menor, com poder de doçura duas vezes maior.
inimigos que porventura entrem na colmeia. mercializando o excesso. Atualmente, o consumo de açúcar refinado tornou-se
A qualidade da própolis pode variar de acordo com excessivo e o produto um grande vilão para a saúde,
A cera de abelha, desde os primórdios, ocupou lugar
a sua origem, sendo alteradas e variáveis as condições colaborando com o aumento de doenças crônicas
na sociedade. Durante muito tempo esse material teve
de cor e composição. não transmissíveis. Por este e outros motivos, como os
múltiplas utilidades domésticas, artísticas e medicinais.
altos índices de obesidade na população – o Instituto
A própolis é composta de 50 a 60% por resinas ve- No mundo moderno, a cera de abelha tem acompa-
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que
getais com bálsamo; de 20 a 30% de cera; de 5 a 10% nhado a evolução da tecnologia pois, até hoje, não foi
36,6% de crianças em idade escolar estão acima do
de polén; além de ácidos, sais minerais, vitaminas, encontrado outro produto que apresente propriedades
peso e 40% dos adultos estão na mesma situação –, o
enzimas e antibióticos. Nas de coloração cinza foram emolientes, amaciantes, moldantes e impermeabilizan- O mel cristalizou, e agora?
açúcar vem sendo considerado um grande vilão para
encontrados: cobre, manganês, ferro, zinco, vitaminas tes tais como as que a cera de abelha contém. Apesar de todas as propriedades benéficas do mel, al-
a saúde e, portanto, a substituição do açúcar por mel
do complexo B, E, C, H, flavonoides, antibióticos e en- Além do uso na apicultura, a cera de abelha entra tem tido relevância na promoção dos bons hábitos guns mitos o rodeiam, como por exemplo, de que o mel
zimas. A partir desse material, é produzido o extrato na composição de várias matérias-primas, ajudando na alimentares. cristalizado não deve ser consumido; alguns dizem ainda
de própolis, uma concentração de álcool de cereais e produção de diversos produtos cosméticos, estéticos, que quando há cristalização é sinal de vencimento do pro-
própolis que ficam em maceração por longo tempo. Vale salientar que, de acordo com a Agência duto, porém, tudo não passa de um mito. A cristalização
odontológicos, oftálmicos; nas indústrias automobilísti-
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), crianças do mel consiste na separação da glicose, que é menos
Cera ca (na pintura), farmacêutica, moveleira, alimentícia, bé-
menores de um ano não devem consumir mel (assim solúvel que a frutose e, consequentemente, na formação
A abelha realiza uma sequência de trabalhos em lica; na informática; no artesanato e em muitos outros. de hidratos de glicose. Alguns méis podem nunca crista-
como todos os outros alimentos do grupo de açúcares
toda a sua trajetória de vida, alterando a sua atividade Veneno (apitoxina) e doces), pois não possuem capacidade imunológica lizar, outros cristalizam de maneira lenta, ou muito rápi-
de acordo com a idade. Entre o 12.º e 18.º dia de vida O veneno das abelhas tem uma composição quími- para combater a bactéria causadora do botulismo, da, dependerá do tipo de flor em que a abelha capturou
chega à plenitude com o desenvolvimento das glân- encontrada em alguns méis. Ao se tratar de crianças o néctar e da temperatura de armazenamento, que não
ca complexa, formada por água, aminoácidos, açúcares,
dulas cerígenas, glândulas essas que somente as abe- deve ser menor do que 34 ou 35°C, conforme a tempe-
histamina e outros componentes. Pode servir à indús- em idade escolar, a inclusão do mel na merenda é ratura das colmeias, mas suas propriedades nutricionais
lhas operárias desenvolvem e permitirão a produção tria farmacêutica no tratamento de doenças do sistema muito importante e bem-vinda, pois se trata de um não são alteradas. Para que o mel cristalizado volte ao seu
de cera. O produto tem a maior importância para a circulatório, doenças infecciosas e reumáticas. Porém, momento relevante na formação de bons hábitos estado líquido, sem perder as propriedades nutricionais,
manutenção da família, ou seja, do enxame. É impor- no momento, seu uso está restrito ao preparo de po- alimentares. Inclusive, a inserção do mel como parte o recipiente em que ele se encontra deverá ser imerso em
tante salientar que abelhas com mais idade também madas para queimaduras, artritismo e reumatismo. A do cardápio da merenda escolar já é realidade em banho-maria até 45°C, durante cinco minutos.
podem produzir cera e o fazem conforme a necessida- produção é mínima e a procura também, mas tem po- escolas municipais e estaduais do Estado de São
• Veja receita de tapioca com mel na Revista Virtual, no site da CATI
de, porém, com menor capacidade. tencial para desenvolver-se no futuro. Paulo.
26 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬27

Casa da Agricultura de Cunha


De geração em geração, mudam os cenários e as atividades, mas permanece a essência rural
Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicaçãoi Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br

P
alco das batalhas da Revolução Políticas públicas federais e estaduais têm sido di- à demanda da merenda escolar fornecendo sachês,
Constitucionalista, o município de Cunha ga- vulgadas no município, que é essencialmente agríco- mas o importante é que agora todos se ajudam e o
nhou status de Estância Climática em 1945. la, com destaque para a pecuária mista, como forma número de colmeias trabalhadas por este grupo au-
Porém, sua história começou muito antes, nos primór- de dar oportunidade de acesso aos agricultores fami- mentou 64%”, contaram orgulhosas Priscilla e Vanessa
dios da colonização, quando os portugueses subiram liares às tecnologias adequadas à realidade socioe- na festa de encerramento do curso. “Os relatos emo-
a Serra do Mar, na altura de Paraty (RJ), para conquis- conômica. Assim, muitas Declarações de Aptidão ao cionam pela sinceridade, pois foi possível ver que o
tar as terras do interior paulista então dominadas pe- Programa Nacional da Agricultura Familiar (DAP) têm grupo passou a ter uma nova perspectiva de vida e
los índios Tamoios. Durante décadas, o povoado foi sido emitidas criando condições para operações de não apenas de aumento de renda”, afirma um dos
ponto de parada obrigatório, seja em busca do ouro crédito de custeio e investimento. O prazo para pagar participantes, Bolívar Zinsly, médico oftalmologista,
em Minas Gerais, seja durante o ciclo do café, culti- e o juros baixos são uma oportunidade para o produ- que escolheu Cunha para viver e a produção de rai-
vado nas terras montanhosas que cercam o histórico tor adquirir animais, investir em equipamentos, me- nhas como atividade na cadeia apícola. Mesmo con-
Vale do Paraíba. Com a derrocada do café e o desgaste lhorar sua infraestrutura e reverter esse investimento siderando o envolvimento dos apicultores e o grande
das terras, a pecuária de corte e leite, principalmente, em ganho real. potencial não só de Cunha, mas do Brasil, a atividade
passaram a dominar a economia local. ainda é fonte alternativa de renda na região.
Capacitações voltadas às atividades agropecuárias
Hoje, Cunha com suas matas, cachoeiras e clima e ao associativismo são ações que a CATI Regional A grande parceira deste e de outros empreen-
agradável é um atrativo para os turismos histórico e Guaratinguetá vem promovendo, tanto em Cunha dimentos da Casa da Agricultura é a Prefeitura. Fica
rural. A extensa área territorial rural, entre as maiores como nos outros 17 municípios atendidos pela mais fácil entender essa boa relação pela experiência
do Estado de São Paulo, foi, ao longo do tempo, divi- Regional. As atividades e o público são diversifica- que o prefeito Osmar Felipe Jr., o Felipinho, adquiriu
dida em 3.427 propriedades (dados do Levantamento dos, abrangem várias cadeias e classes econômicas, nos 14 anos em que atuou como engenheiro agrôno-
das Unidades de Produção Agropecuária – LUPA), a e é preciso estar atento às demandas locais. A reali- mo da CA de Cunha. “É uma relação de respeito pelo
balhada pelo principal Projeto da CATI, o Projeto de
maioria tocada por agricultores familiares que procu- dade é uma nas terras baixas e alagadiças do Vale do produtor rural e pela região, que abriga o maior rema-
Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II
ram alternativas de renda que os mantenham e, tam- Paraíba, onde o cultivo do arroz é a principal atividade nescente de Mata Atlântica do Estado", diz Felipinho.
– Acesso ao Mercado. Apontada no Plano Municipal
bém, às próximas gerações, um difícil desafio. Para econômica, e outra compreendendo o Vale Histórico, Em breve, estará concluída a estrada Cunha-Paraty,
de Desenvolvimento Rural como de grande interes-
auxiliá-los, a Casa da Agricultura (CA) faz parcerias e as Serras da Bocaina, Quebra-Cangalha, do Mar e da uma rota certa de turistas (até a divisa com o Estado
se, passou a ser melhor trabalhada, em 2011, a par-
une esforços, conta a engenheira agrônoma Priscilla Mantiqueira, importante bacia leiteira, onde a pre- do Rio de Janeiro já está pronta). Vislumbrando esse
tir da reorganização, revitalização e formalização da
Menezes de Souza, há cinco anos responsável pela CA servação ambiental é um importante desafio. “Nesse potencial de aumento da economia local, o prefeito
Associação dos Apicultores de Cunha (Apicunha) que,
de Cunha, vinculada à CATI Regional Guaratinguetá. cenário geográfico, o técnico da Casa da Agricultura quer ajudar os produtores a obterem a certificação do
em 2013, juntamente com a Casa da Agricultura, rea-
tem que estar afinado com a realidade Serviço de Inspeção Municipal, que dará confiabilida-
lizou o I Curso de Fortalecimento do Associativismo e
produtiva e socioeconômica, fortale- de, além de agregar valor aos produtos de Cunha.
Apicultura Básica do Município de Cunha, encerrado
cer as atividades tradicionais, estimular
em março deste ano, que veio a resgatar até mesmo a É nessa busca pelo acesso ao mercado que as aspi-
e orientar alternativas econômicas, ser
própria Apicunha. “Embora existente há alguns anos, rações da Prefeitura se unem às da CATI. Para garantir
aberto às parcerias, buscando o forta-
a Associação estava praticamente inoperante”, conta a o apoio aos produtores, toda a equipe trabalha unida.
lecimento dos mais variados grupos de
presidente Vanessa das Chagas Silvestre. “Agora, mes- A técnica responsável pela CA, Priscilla Menezes Souza
produtores”, explica o diretor da CATI
mo com o término do curso, vamos manter reuniões e o auxiliar de apoio Maurílio Antonio Galhardo, am-
Regional Guaratinguetá, Jovino Paulo
quinzenais porque não queremos perder o espírito bos da CATI, contam com os profissionais da Prefeitura
Ferreira Neto.
de cooperativismo e união. Ainda há muito a fazer, no atendimento a toda essa população rural. São três
Apicultura tem grande potencial de conseguir o entreposto e obter o selo do Serviço de médicos veterinários (Rafael Sant’Anna de França,
organização e crescimento Inspeção Municipal (SIM) são alguns dos objetivos”, André Luiz Queiroz e José Bráulio de Oliveira) e mais
explica Vanessa. dois engenheiros agrônomos (André de Campos Reis
Daí, alternativas como a apicultu- e Júlio César Frade Santos).
ra estarem sendo incentivadas. Cunha A estratégia para alcançar as metas foi definida en-
Fotos: Graça D'Auria – Cecor/CATI

abriga mais de 100 apicultores, pratica- tre a CATI Regional, a Casa da Agricultura, a Prefeitura Histórias de Cunha: além do potencial para
mente 70% trabalham isoladamente, e a Apicunha. O curso foi um importante passo, os apicultura, outras atividades têm espaço na
sem certificação de origem ou qualquer 12 associados se envolveram com as atividades, que extensa área do município.
recurso, mas com enorme potencial passaram a ser feitas em mutirão. “Em cinco meses de O produtor Otair Monteiro Teixeira, conhecido
de crescimento devido à procura pelo encontros semanais, a relação foi mudando, juntos como “Tó”, chegou na CA em desespero. Era, segundo
mel silvestre de qualidade e, portan- descobriram as afinidades e os objetivos individuais: ele, a última tentativa para salvar a propriedade da fa-
to, foi a cadeia escolhida para ser tra- uns produzir rainhas, outros pólen, outros atenderem mília. Tinha investido tudo em 17 vacas que urinavam
28 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬29

sangue e produziam, em média, dois litros de leite/dia.


Solicitada a visitar o Sítio Aranhas, Priscilla detectou o
problema: na falta de uma alimentação balanceada,
lhoso. São 80 sacas de 60kg de pinhão que retira de
150 araucárias e que ajudam na renda familiar. “Seu
Zezinho é um dos parceiros do Projeto Pinhão, que
Mercado e comercialização: caminho
próspero da apicultura brasileira
os animais famintos comiam brotos de samambaias, tem como objetivos estimular a produção do muni-
uma praga que cresce em solos ácidos. Sob orienta- cípio e apoiar os agricultores na comercialização”, diz
ção da CA, Tó vendeu 16 vacas e investiu em análise Priscilla. Os produtores tentam, também, alterar a lei
do solo, calagem, 23 piquetes e plantio de cana para do defeso, com o objetivo de antecipar a colheita, que
alimentação do gado no inverno. Tirou na enxada Joelma Lambertucci de Brito – Secretária-executiva da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel) – joelma@abemel.com.br
vem ocorrendo mais cedo nos últimos tempos, con-
toda a braquiária e plantou o capim tifton. “Meu so- forme explica Seu Zezinho.

N
nho era produzir 50 litros por dia, passados quatro
anos, com seis vacas e investimento em genética via Jair Rosa era extrativista, só que de palmito enhuma organização, isoladamente, pode público consumidor e da população com poder aqui-
inseminação artificial, chego a 96 litros de leite/dia na Juçara, até que um dia veio a multa estadual e com responder ao desafio de viabilizar uma sitivo.
melhor época e nunca mais abaixo de 50 litros/dia. No ela a conscientização sobre a necessidade de preser- apicultura integrada e sustentável. O atual Ao optar pelo trabalho com a apicultura, os
Sítio Aranhas, Tó e a mulher Lenice produzem queijo vação ambiental. “Eu sabia que estava errado, mas era momento do setor exige uma mudança de compor- produtores têm duas possibilidades de mercado: pro-
tipo muçarela e estão construindo a Casa do Queijo para o sustento da família”, conta Jair. Além de preser- tamento e nos estimula a articular forças, associando dução e comercialização por meio de entrepostos.
de acordo com as normas de inspeção, para poderem var as palmeiras Juçara, comprou uma despolpadeira recursos e integrando competências, para enfrentar
e uma seladora com verba do Programa Nacional da os novos e grandes desafios nacional e internacional. 1) Produtor: com cerca de R$ 10 mil reais é possí-
certificar seu produto com o selo do SIM e, dessa for-
Agricultura Familiar (Pronaf ) e entrega a polpa para a Nesse contexto, é o momento de compartilhar uma vel começar na atividade, investimento relativamente
ma, melhor comercializar a produção. “Nossa salvação
merenda escolar. A multa? Essa, com a ajuda da téc- visão sistêmica do agronegócio apícola e ter uma baixo em relação a outras atividades. Os pequenos
foi procurar a CA e encontrar apoio, senão já tinha de-
nica da CA, ele conseguiu transformar em trabalho abordagem de cadeia produtiva. produtores podem acessar linhas de financiamento
sistido até de viver”, conta o produtor.
ambiental e hoje doa mudas e sementes, além de dar como as do Programa Nacional de Apoio à Agricultura
José dos Campos Carvalho, Seu Zezinho, plan- O Brasil, ao contrário de vários outros países, apre- Familiar (Pronaf ) e do Fundo de Expansão do
aula de educação ambiental. “Passei a viver com dig- senta características especiais de flora e clima que,
ta alface, colhe couve-flores de 6kg e ainda tem um Agronegócio Paulista/Banco do Agronegócio Familiar
nidade”, diz satisfeito. aliados à presença da abelha africanizada, lhe confe-
“gadinho de leite” (todo mundo por lá tem um pouco (Feap/Banagro). A produção tem grande potencial de
de terra e um pouco de leite). Seu sítio fica distante O Sítio Felicidade não poderia ter nome mais signi- rem um potencial fabuloso para a atividade apícola. crescimento, pois o mercado está em plena expansão.
20km da área urbana de Cunha, mas Seu Zezinho ficativo, para demonstrar o espírito de Érica e Marcos Assim, a grande diversidade de floradas silvestres ou-
torga ao País vantagens em relação aos seus concor- 2) Entrepostos (venda a granel e fracionada): é
vem entregando olerícolas para o Programa Nacional Serafim Ferraz. Há cinco anos, com verba do Pronaf,
rentes, face ao elevado potencial para produzir mel necessário um grande investimento nas instalações,
de Alimentação Escolar (PNAE) e ainda tira, em mé- compraram um trator, aumentaram o rebanho, me-
orgânico e para aumentar a sua produção, em função certificações e custos fixos. Atualmente, observa-se
dia, 130 litros/leite por dia com 13 vacas em lactação. lhoraram a nutrição animal com silagem de milho
da grande disponibilidade de pasto apícola silvestre no Brasil que muitos entrepostos trabalham com ca-
“Na CA me ajudaram a elaborar os projetos de custeio e começaram a participar, ou melhor, a ganhar prê-
ainda inexplorado. No entanto, a produção e a pro- pacidade ociosa, demonstrando que é preciso am-
e investimento, discutindo e planejando o que seria mios nos torneios leiteiros da região. Eram 30 vacas e
dutividade brasileira ainda se encontram reduzidas, pliar a produção de matéria-prima. Essas unidades
melhor para a propriedade e a maneira de obtenção 150 litros de produção diária, hoje, com 60 vacas, são
quando comparadas com a produção internacional, o podem tanto exportar como comercializar os produ-
do crédito rural. Com esse apoio, me senti fortalecido”, 800 litros de leite/dia entregues para a Cooperativa
que se explica pela pouca utilização de recursos tec- tos no mercado nacional. No entanto, é necessário ob-
conta Seu Zezinho. Serramar de Guaratinguetá. “Investimos em conhe-
nológicos na produção e pela falta de uma política servar a legislação e adotar sistemas e processos que
Para aumentar a renda, a família colhe pinhão, cimento, buscamos informações na CA, passamos a garantam a qualidade dos produtos nos entrepostos.
usufruir do crédito rural, trocamos experiências em pública de fomento e apoio à atividade.
atividade que Seu Zezinho faz desde moleque. “Hoje
planto um pé ali, outro acolá por prazer e porque visitas e em Dias de Campo organizados pela CATI." As A Associação Brasileira dos Exportadores de Mel
Cunha tem o melhor pinhão do Brasil!”, conta orgu- trocas e parcerias não se limitaram ao conhecimen- (Abemel) vem promovendo a integração, para supera-
to, o convívio com outros produtores ção dos desafios, objetivando posicionar e consolidar
trouxe novas possibilidades, fortale- o Brasil na liderança da apicultura mundial. Por meio
cendo os laços com a comunidade e, de convênio com a Agência Brasileira de Promoção de
com o exemplo, estão passando aos Exportações e Investimentos (ApexBrasil), articula e
filhos o orgulho de serem produtores apoia ações para desenvolvimento do mercado inter-
rurais. A filha de 17 anos já se prepara nacional dos produtos apícolas brasileiros, por inter-
para ser médica veterinária e o irmão médio do Projeto Bee Brazil, cujas informações estão
de 15 quer seguir o mesmo caminho e, disponíveis no site www.beebrazil.com.br
para a família, esta é a mais pura felici-
dade. Vantagens para a apicultura brasileira no
mercado atual
A demanda é grande e os casos, • Aumento do consumo mundial de mel e produtos
mesmo isolados, contam um pouco so- naturais.
bre os produtores de Cunha. Exemplos • Aumento da participação do mel brasileiro nos mer-
como esses podem não mudar o cená- cados nacional e internacional, com o reconhecimen-
rio como um todo, mas de história em to da qualidade do produto nacional diante da maior
história, vão transformando a realida- exigência por qualidade.
de local, resgatando a dignidade do • Flora, clima e geografia favoráveis.
Lenice, Tó, Levy, Priscilla e Zezinho: produtor e dando credibilidade ao tra- • Mão de obra disponível (agricultura familiar).

Fotos: Abemel
parceria da técnica da CA devolveu o
balho de extensão rural desempenha- • Características das abelhas africanizadas.
otimismo aos produtores
do pela CATI, via Casa da Agricultura. • Ampliação do mercado interno, com aumento do
30 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬31

Dicas para os apicultores acessarem os


mercados nacionais
O primeiro passo do produtor para ter uma co-
Necessidade: montar os apiários e a Casa do Mel. O
produtor deve estar obrigatoriamente vinculado à
uma associação e/ou cooperativa para realizar suas
Apicultura no Vale do
mercialização eficaz, é definir o mercado para o qual
deseja comercializar, de acordo com conhecimento
técnico e recurso financeiro.
vendas; o mel a granel deve ser entregue, antes, a um
entreposto com Sistema de Inspeção Federal para ser
analisado, certificado e embalado e, somente depois,
Paraíba: sustentabilidade
1. Venda direta ao consumidor: é preciso registrar
os produtos e, também, o local de produção como en-
ser entregue aos beneficiados pelos programas.
Investimento em marketing e vendas: fazer contato
direto com associações e cooperativas.
para a cadeia produtiva
treposto de mel no Serviço de Inspeção, que pode ser
Retorno financeiro: médio prazo.
municipal, estadual ou federal. Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br
Necessidade: alto investimento financeiro para mon- Apesar de o mel ser o produto mais explorado

A
tar a estrutura de acordo com as normas dos Serviços na atividade apícola, ainda é possível produzir e co- paisagem do Vale do Expansão do Agronegócio Paulista/
de Inspeção; longo tempo para aprovação das instala- mercializar a cera, o pólen, a geleia real, as rainhas, os Paraíba, entrecortada por Banco do Agronegócio Familiar
compostos com mel, entre outros.

Fotos: Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI


ções e registro dos produtos para venda. É preciso ter vales e montanhas co- (Feap/Banagro), foi elaborada por
caixa para custear a estrutura até o funcionamento, Dados de exportação de mel bertos pela rica biodiversidade da um grupo multidisciplinar da re-
pois tem custo fixo mensal nas áreas técnica e admi- Em 2013, o Brasil exportou US$ 54,123 milhões, um Mata Atlântica, é o cenário perfeito gião, encabeçado pelos técnicos
nistrativa. aumento de 3,4% se comparado ao ano anterior. No para atividades que ajustem pro- Jovino Paulo Ferreira Neto, diretor
Investimento em marketing e vendas: é necessário entanto, os números ainda são muito inferiores à ca- dução econômica e conservação da CATI Regional Guaratinguetá, e
prever recursos para este fim. pacidade que o Brasil tem de produzir e ter colocação ambiental, com geração de renda Maria Márcia Santos Souza, enge-
Retorno financeiro: retorno de médio a longo pra- garantida, mesmo que o cenário de produção tenha e emprego para os produtores lo- nheira agrônoma da CATI Regional
zos. sido afetado pelo grande período de estiagem nos cais. Nesse contexto, a apicultura, Pindamonhangaba”.
principais estados produtores. ao lado da tradicional pecuária de em franca expansão. Setecentos
2. Venda do produto a granel: vender o mel e pro- Uma das idealizadoras do apicultores se encontram organiza-
leite, encontrou seu espaço como
dutos apícolas, do produtor aos entrepostos, devida- A qualidade do mel brasileiro tem conquistado Projeto Apicultura Sustentável no dos em associações. “Estamos em
atividade rentável e ecologicamen-
mentes registrados no Serviço de Inspeção Federal, consumidores em muitos países. Atualmente, para Vale do Paraíba, Lídia Barreto, co- processo de amadurecimento, con-
te correta.
que dará a certificação para vender ao consumidor atender à demanda, 26 empresas brasileiras estão ati- ordenadora do Centro de Estudos solidando a cadeia no Vale”.
final. vas como exportadoras. No ano passado, os principais Há 10 anos, um projeto pionei- Apícolas (CEA) da Unitau, que há 25
Necessidade: montar os apiários e adaptar ou cons- países importadores de mel brasileiro, em ordem de ro de iniciativa da Universidade anos dedica sua vida à apicultura e Com a implementação do APL,
truir um espaço para ser a Casa do Mel, com instala- importância, foram: Estados Unidos (US$ 39,792 mi- de Taubaté (Unitau), com apoio aos apicultores, fala com emoção a cadeia da apicultura tem con-
ções que atendam às regras de higiene, com equi- lhões e 11.892 toneladas); Reino Unido (US$ 5,160 da CATI e de outras entidades, ins- sobre o novo patamar conquistado quistado mais aportes de recursos.
pamentos adequados. O produtor pode trabalhar milhões e 1.629 toneladas); Alemanha (US$ 3,841 mi- tigou membros de toda a cadeia pela atividade. “Quando iniciamos “Por meio da Secretaria Estadual
individualmente ou estar vinculado à uma associação. lhões e 1.172 toneladas); Canadá (US$ 3,457 milhões e produtiva para alicerçar bases para os debates em seminários reali- de Desenvolvimento Econômico,
Investimento em marketing e vendas: não é preciso 978 toneladas); Bélgica (US$ 524 mil e 164 toneladas). o desenvolvimento sustentável da zados na Unitau, muitos foram os recebemos recursos que estão pos-
aportar recursos. Fazer contato direto e pessoal com atividade. “A apicultura no Vale do caminhos apontados, mas o dese- sibilitando a construção de um en-
os entrepostos. Os totais exportados, tanto em valor quanto em vo- Paraíba como atividade econômica jo era um só: que a apicultura se treposto no CEA, que favorecerá a
Retorno financeiro: curto prazo. lume, em fevereiro de 2014, foram superiores aos ex- é bem antiga, devido às pesquisas tornasse sustentável econômica, legalização dos produtos de forma
portados no mesmo período de 2013: R$ 8.590.675,00, e capacitações desenvolvidas na social e ecologicamente. Após 10 ampla, pois o mel será beneficiado
3. Vendas governamentais: por meio de programas em fevereiro de 2014, contra R$ 3.424.614,00, em fe- região. No entanto, a cadeia pro- anos, crescemos muito; os apiculto- nesse entreposto, com o selo do
de aquisição de alimentos. vereiro de 2013. Serviço de Inspeção de São Paulo
dutiva precisava ser organizada”, res, a Academia, os municípios e as
explica Paulo Queiroz, diretor da entidades públicas e privadas en- (Sisp) e análise de qualidade fei-
CATI Regional Pindamonhangaba, volvidas. A produção teve um salto ta no Laboratório de Controle de
informando que o trabalho da ins- de volume e qualidade. Os que não Qualidade de Produtos Apícolas do
tituição tem sido capacitar os pro- acreditavam que fazer o manejo CEA”, explica Lídia.
dutores para que se organizem adequado era o segredo do suces- Um dos marcos dessa nova eta-
em associações e/ou cooperativas, so, hoje colhem mais de 50 quilos pa da atividade foi a criação, em
visando reduzir o gargalo da co- por colmeia/ano. Um dos maiores 2012, da Cooperativa Agropecuária
mercialização e a informalidade. entraves, a comercialização, hoje do Vale do Paraíba (CoapVale). “A
“Sozinho, o produtor não tem vo- está em um outro patamar, pois Cooperativa nasceu para legalizar o
lume suficiente para ter um pro- novos nichos de mercado se abri- nosso produto e valorizar o peque-
duto formal e acessar ao mercado. ram, com a profissionalização dos no apicultor, pois comercializare-
Por isso, enfatizamos as ações em produtores. Com a oficialização do mos em conjunto. Na área de pro-
grupo para que se tenha segu- Arranjo Produtivo Local (APL) da dução, incentivados pelos técnicos,
rança tanto na produção como Apicultura, toda a cadeia ganhou melhoramos o manejo. Por neces-
na comercialização, inclusive com e evoluiu”, avalia Lídia, informan- sidade, buscamos informações e
o acesso às políticas públicas de do que, atualmente, 15 municípios as aplicamos corretamente. Alguns
aquisição de alimentos e ao cré- estão envolvidos, com Acordos de cooperados já chegaram a obter
dito, cuja linha de financiamen- Resultados assinados; e a entrega 70 quilos de mel em uma colmeia.
to para a atividade, no Fundo de de mel para a merenda escolar está Agora, nosso desafio como organi-
32 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬33

atividades ambientalmente sus- Apicultura em Monteiro Lobato: vidas transformadas na Comunidade da Pedra Branca
tentáveis. Terezinha F. S. Oliveira, A Comunidade da Pedra Branca, bairro privilegiado pela paisagem bucólica da pequena Monteiro Lobato, en-
apicultora há 25 anos, está à fren- controu na apicultura a resposta para geração de renda, união e amizade entre os moradores que abraçaram a ati-
te do grupo que constituiu a Nutrir vidade. “Em 2004, um grupo de apicultores nos procurou em busca de capacitação. Inicialmente elaboramos um
– Associação Socioeducativa de projeto com foco voltado para o aumento da produção do mel com qualidade, pois nosso objetivo era organizar
Pequenos Produtores de Redenção os apicultores – o que aconteceu com a formação da Associação dos
da Serra, cuja apicultura é uma das Pequenos Produtores Rurais de Monteiro Lobato e Região – para que ti-
principais atividades. “Em uma pa- vessem acesso à assistência e acompanhamento”, explica Lídia Barreto,
lestra ouvimos que deveríamos nos do Centro de Apicultura da Unitau, acrescentando: “após algum tempo,
associar, por isso criamos a Nutrir, percebemos que a comunidade precisava de orientação em outras áre-
Vicente Reis (CoapVale), Edson Soares (CEA/ com poucos, mas interessados pro- balhar anos em uma indústria da as. Isso nos levou a ampliar a ação e envolver outros departamentos da
Unitau), Paulo Lingiardi (CoapVale), Marcos dutores. Contamos com o apoio região. “Sempre acompanhei o Universidade, como os de psicologia, serviço social e arquitetura, bem
Moreira (CoapVale) e Lídia Barreto (CEA/ dos vários parceiros do Projeto trabalho do meu pai com a api- como ter o apoio da Prefeitura, da CATI, do Serviço de Apoio às Micro
Unitau): Projeto aprimorou o conhecimento dos Apicultura Sustentável”, ressalta a cultura. Depois da formalização e Pequenas Empresas (Sebrae), a Universidade Solidária e da empresa
apicultores do Vale do Paraíba. apicultora, que começou na ativi- da Associação de Apicultores de Fibria”.
dade movida por uma necessida- São Luiz do Paraitinga (Apistinga) Helena dos Santos e filhos: apicultores
zação é a sustentabilidade da ativi- de familiar. “Minha filha não podia ganharam mais qualidade de vida Ao longo dos 10 anos de atuação na Comunidade, os frutos po-
e, mais recentemente, da
dade. A abelha é o maior exemplo comer açúcar, por isso começamos dem ser observados nos rostos e nas propriedades dos envolvidos no
Cooperativa, vimos que havia um
de organização, por isso temos que a produzir o mel. Mas a apicultura Projeto, que hoje têm mais qualidade de vida e garantia de renda para continuar na área rural. Os apicultores fo-
nicho de mercado no qual podería-
trabalhar unidos. Vamos incentivar é uma terapia e nos apaixonamos. ram capacitados da produção ao processamento e as crianças foram envolvidas em diversas atividades culturais,
mos nos inserir, além da produção:
as pessoas que acham que a con- Para nos profissionalizarmos, eu e mostrando a preocupação com o processo sucessório da apicultura. Uma unidade de processamento coletivo
a marcenaria para construção de
servação não é um bom negócio, meu marido Pedro, fizemos visitas foi instalada e a produção alcançou a média de quatro toneladas. “Hoje, temos o selo do Serviço de Inspeção
colmeias padrão Langstroth (uni-
mostrando que com abelha pode técnicas, cursos e participamos das Municipal que possibilitou a comercialização na merenda escolar. O excedente da produção será entregue na
versalmente aceito) para colmeias”,
ser. Nosso sonho é que os apiculto- atividades propostas pela profes- Cooperativa. Entre os jovens, contamos com um grupo que já possui caixas próprias, com uma produção média
conta o empresário.
res aproveitem essa oportunidade, sora Lídia da Unitau e pela CATI, de uma tonelada. Além de aprender um ofício, estão obtendo uma renda própria”, relata Lídia, dizendo que o
conquistada com o apoio dos mui- que sempre nos atende e incentiva Para que a empresa da famí- ganho também foi muito grande para os acadêmicos da Universidade, que tiveram oportunidade de colocar em
tos parceiros envolvidos no Projeto como organização para acessar as lia conquistasse a confiança dos prática a teoria obtida na Academia e serem agentes da transformação ocorrida no Bairro.
da Apicultura Sustentável”, explica políticas públicas e o crédito rural”. apicultores, pai e filho investiram
na qualidade e no preço acessível Participantes ativas do movimento iniciado na apicultura, Helena Rosa dos Santos e sua filha Brígida, de 17
Paulo Anselmo Lingiardi, presiden-
Em se tratando de linhas de fi- como diferenciais para o produto. anos, relatam a experiência. “Esse Projeto é uma fonte de emprego no bairro, pois não beneficia só os apiculto-
te da CoapVale, ressaltando que a
nanciamento, a família Oliveira tem “Como também somos apicultores, res. Tem gente que não consegue mexer diretamente com as abelhas e, por isso, trabalha na Casa do Mel. Minha
Cooperativa, que conta com 38 co-
no currículo o pioneirismo no aces- sabemos o quanto as caixas impac- família trabalha há 19 anos com o mel e não conseguíamos vender bem. Com a formação da Associação e o
operados de toda a região, comer-
so ao Feap Apicultura, por meio do tam no custo da produção de mel apoio das entidades conseguimos colocar nosso produto na merenda escolar e agora pretendemos entregar
cializou em seu primeiro ano 2,5 to-
qual construiu, em 2004, a primei- para os pequenos produtores. Por na Cooperativa”, fala Helena, sendo complementada pela filha: “desde pequena acompanho o Projeto e peguei
neladas, tendo a merenda escolar
ra Casa do Mel particular do Vale isso, investimos em equipamentos amor pelas abelhas. Participo do grupo de jovens e tenho as minhas caixas. No futuro, quero colher meu mel e
como principal nicho de mercado.
do Paraíba. “Obtivemos R$ 11 mil, que possibilitem um bom acaba- viver disso”.
“Nossa expectativa é chegar a 30
toneladas, diversificar os produtos sem os quais seria impossível im- mento; só trabalhamos com pinus, Dentre as atividades ligadas à apicultura implementadas na
e nos tornar o braço econômico da plementar a planta do entreposto madeira mais leve, a qual mantém Comunidade, uma vem ganhando destaque pela beleza e resgate da
apicultura familiar”, complemen- artesanal e adquirir os equipamen- a temperatura e que, pintada e autoestima de um grupo de mulheres: o artesanato de peças em te-
ta Marcos Aurélio Moreira, secre- tos. Temos a autorização do Serviço bem manejada, tem uma vida útil cido e palha com motivos de abelhas. “Em 2011, fizemos um curso
tário da Cooperativa, destacando de Inspeção Municipal (SIM) e co- de cerca de 15 anos”, explica Ygor. de artesanato com palha. Logo depois, a professora Lídia nos incenti-
que, futuramente, o Entreposto da mercializamos o mel na merenda vou para investir na atividade, utilizando o motivo das abelhas para nos
escolar. Nosso objetivo, a partir de No entanto, o grande diferencial
Unitau será cedido por convênio integrarmos ao Projeto da apicultura. Conseguimos com a Prefeitura
agora, é entregá-lo na Cooperativa, do produto da família Reis é a ado-
para a CoapVale. a cessão da escola local e, desde então, nos reunimos toda semana.
ampliando a comercialização”, ex- ção das diretrizes da Associação
Redenção da Serra: apicultores Costuramos, bordamos e comercializamos juntas. Estamos começan-
plica Pedro de Oliveira. Brasileira de Normas Técnicas
se unem e a atividade cresce do a visualizar uma alternativa de renda, porém, o mais importante é
(ABNT), o que possibilita que as que nos conhecemos, nos tornamos amigas e afastamos a depressão
O município de Redenção da São Luiz do Paraitinga: suas caixas possam ser comerciali-
produção de caixas para apicul- que muitas sentiam, ou por estarem sozinhas no sítio ou morando na
Serra tem como base da economia zadas para qualquer lugar do Brasil.
tura gera renda para produtores cidade e longe da sua tradição rural familiar”, comemoram Nair Lélis de
a agropecuária, porém, as áreas de “Em cada peça imprimimos o nome
familiares Azevedo, Sueli Hurie e Enedina Maria da Silva, integrantes do grupo.
preservação permanente suscitam da empresa e o número da Norma
“A apicultura me da ABNT, o que agregou valor ao Segundo a engenheira agrônoma Maria Assunción Azcue Lizaso, da
possibilitou voltar nosso produto. A perspectiva é CATI Regional Pindamonhangaba, que assiste aos produtores locais, a instituição tem apoiado as ações com o for-
para casa”. Assim, Ygor boa. Vislumbramos um grande talecimento da Associação e capacitações que os levem a compreender melhor toda a cadeia produtiva, com ên-
Pereira dos Reis, filho crescimento na nossa produção fase em assuntos ligados ao mercado. “Temos acompanhado a Associação, para identificação de oportunidades
do produtor familiar nos próximos anos, ao lado da pro- de negócios e o possível apoio do Projeto Microbacias II. A apicultura é uma alternativa de renda para as famílias
Terezinha
e Pedro Vicente Pereira dos jeção da ampliação da produção e que pode se tornar a principal, por isso fazemos a articulação para que eles possam acessar de forma adequada
Oliveira: Reis, define sua volta da comercialização do mel do Vale o crédito rural e outras políticas públicas disponíveis. Quinzenalmente fazemos plantões de assessoria técnica
Feap para o sítio, após tra- do Paraíba”, avalia Ygor. junto com a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente”.
Apicultura
viabilizou
Casa do Mel.
34 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬35

Em Capão Bonito apicultores e setor privado produção e possibilitando a extra-


ção do mel de 100 melgueiras em
lhando em gestão, produção e co-
mercialização com as associações
apenas 2h30. O sistema é o de mu- de apicultores, eles igualmente
se unem e criam o Projeto Colmeias, hoje tirão e contam com apenas um em-
pregado. O entreposto foi montado
participam de feiras, seminários e
congressos.
disseminado por todo o Brasil também em área cedida pela Fibria
em comodato (Fazenda Paineira)
Capão Bonito tem outra respon-
sabilidade, é sempre ali, onde estão
e construído com material doado
os apicultores mais capacitados e
Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Conicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br pela Prefeitura de Capão Bonito.
amadurecidos profissionalmente,

Fotos: Fibria
Todas essas melhorias em in- que são testadas novas propostas
fraestrutura e capacitação se refle- como a inclusão das mulheres na
tem na qualidade de vida dessas apicultura, já que se trata de uma
mento das ações por parte, tanto da famílias e na economia local. “Tudo atividade geralmente praticada por
empresa quanto dos associados da o que eu tenho hoje, casa, carro e homens; e a apicultura orgânica,
AApicab. Em relação às regras, nos uma boa renda, eu devo à apicul- um projeto-piloto que está sendo
dois primeiros anos do plantio não tura”, afirma Carmo Henrique, que testado em 40% da área que foi de-
é possível colocar as caixas porque se tornou o primeiro e único, até o limitada para esse fim. Eles já têm
elas atrapalham o manejo do euca- momento, presidente da AApicab. todo o manejo do mel rastreado e
liptal (80% do manejo é realizado O apicultor também passou a fazer a certificação do Instituto Brasileiro
nesse período), como, por exemplo,

Fotos: Fibria
investimentos próprios e se profis- de Biodinâmica (IBD-Ecocert).
o controle de formigas, replantio, sionalizou, independente de todo Certamente um novo nicho de
entre outras ações. O mesmo acon-

C
o investimento feito pela Fibria. mercado a ser atingido e com de-
apão Bonito, cidade de 45 Essa conquista também quer di- riam colocar uma colmeia e tirar do tece ao final do ciclo de sete anos, Recentemente, foram investidos manda crescente. Por isso a Fibria
mil habitantes, localiza- zer que o antigo Projeto Colmeias mel um auxílio no sustento de suas quando as árvores serão cortadas. R$ 150 mil em Capão Bonito em incentiva a AApicab, que assumiu
da no interior do Estado terá um novo impulso e o objetivo famílias. Cada um pretendia ganhar Dessa forma, os apicultores têm compra de equipamentos e, só no com a empresa o compromisso de
de São Paulo, tornou-se referência de elevar Capão Bonito ao pata- mais do que o outro e, desorgani- quatro anos livres para exploração ano passado, a Fibria aplicou meio abrir as portas a novos associados.
em apicultura há 10 anos, quan- mar de maior produtor de mel do zados, não se entendiam, era uma apícola. Nesse espaço de tempo, milhão no Programa, recurso des-
do foi formalizada a Associação Estado de São Paulo. Hoje, já são atividade clandestina, não tinham cinco mil colmeias, pertencentes São exemplos como este que
tinado às capacitações técnicas,
produzidas pelos 60 associados tecnologia, colocavam em risco os a 60 apicultores, são responsáveis mostram que é possível mudar a
dos Apicultores de Capão Bonito estudos de campo, consultoria e
da AApicab 150 toneladas de mel, trabalhadores da Fibria, que fica- pela carga de 150 toneladas de mel realidade e tornar as atividades
(AApicab) e teve início o Projeto materiais apícolas. Hoje, a Fibria
a maior parte exportada para a vam impedidos de fazer o manejo de qualidade, com certificação de sustentáveis para o bem das comu-
Colmeias. Foi uma interação de ob- vem replicando a metodologia de
Europa e o restante da produção é do eucalipto, e até as próprias ár- origem, extraídas com os mais mo- nidades locais. E a Fibria, que come-
jetivos que buscavam sanar alguns sucesso aplicada em Capão Bonito
comercializado com marca própria vores. Enfim, Fibria e apicultores dernos equipamentos e alta tecno- çou com as abelhas (que na verda-
problemas e acabou resultando em e já tem, em todo o Brasil, a partici-
no município e, também, para pro- travavam uma luta para manter os logia. “O melhor do País”, concor- de ela não precisa, já que o plantio
um projeto que mudou a vida de pação de 700 apicultores, reunidos
gramas de políticas públicas como seus negócios funcionando. dam os parceiros Israel, pela Fibria, não é realizado por polinização,
agricultores familiares que viram em 29 associações, presentes em
e Carmo Henrique, pela AApicab. mas por meio de clones) já pensa
na apicultura uma possibilidade é o caso do Programa de Aquisição A união de interesses e um bom 250 municípios e que juntos produ-
em outras cadeias produtivas a se-
real de aumentar a renda familiar. de Alimentos (PAA) e do Programa diálogo com o apicultor Carmo A maioria dos apicultores é zem 800 toneladas de mel por ano.
rem trabalhadas no mesmo sistema
Nascido como um projeto, em 2011 Nacional de Alimentação Escolar Henrique Contieri e outros três api- formada por agricultores familia- Além de São Paulo, que participa
de uso múltiplo da floresta de eu-
foi ampliado para um Programa de (PNAE), ambos federais. Para isso, cultores, deram início à formaliza- res que produzem leite e cereais, com 13 associações, há outras for-
calipto, como a integração floresta-
Desenvolvimento Rural Territorial os apicultores contam com o apoio ção da Associação dos Apicultores porém, outros dedicam-se intei- madas em Mato Grosso do Sul, no
-pecuária e/ou floresta-agricultura.
(PDRT), que atua em três eixos: or- da Prefeitura de Capão Bonito, por de Capão Bonito e às novas regras ramente à apicultura e, além do Rio Grande do Sul, Espírito Santo e,
E esse é o novo e grande desafio da
ganização e gestão; produção e as- meio da Secretaria de Agropecuária que deveriam ser seguidas pelos pasto apícola da Fibria, passaram mais recentemente, na Bahia.
empresa.
sistência técnica; e comercialização Abastecimento e Meio Ambiente, apicultores, como o uso de tecno- a praticar apicultura migratória e
Uma das metas da empresa é, a
que vem apoiando as ações da logia e o respeito às áreas demar- levam suas colmeias aos pomares
e mercado. Segundo Israel Batista longo prazo, tornar 70% dos proje-
Fibria e da Associação desde o iní- cadas. Em troca, a Fibria ofereceu de laranja. Mas, na verdade, o que
Gabriel, consultor de sustentabi- tos de geração de renda autossus-
cio, inclusive cedendo um técnico capacitação para a atividade e a aconteceu nestes 10 anos foi que
lidade da Fibria Papel e Celulose e os associados foram e continuam tentáveis. Ainda é exigido que cada
agrícola para atuar junto à AApicab. disponibilidade do pasto apícola. A
responsável pelo Programa, o obje- sendo capacitados a praticar uma associado colabore com 2kg de mel
História : o que era problema, partir daí, todo o território passou
tivo é: “promover o desenvolvimen- apicultura de ponta, receberam de cada caixa para formar um fun-
virou solução e mudou a vida de a ser mapeado e georreferenciado
to local, por meio do fortalecimen- treinamento e os maquinários uti- do de reserva que venha a contri-
dezenas de famílias e as colmeias foram identificadas,
to das associações comunitárias e lizados na extração, centrifugação buir com recursos quando necessá-
permitindo um melhor planeja-
suas redes, focando o apoio às suas O pasto apícola proporciona- e no envase foram importados do rio, com isso os associados podem
cadeias produtivas, com assistência do pelo cultivo de eucaliptos da Uruguai e da Argentina, estando participar de feiras, seminários e
técnica exclusiva, aplicação de tec- Fibria, empresa que cultiva euca- entre os melhores do mundo e per- congressos, organizar compras, en-
nologias de baixo impacto ambien- liptos para fabricação de papel e mitiram que todo o processo fosse fim, se tornar mais independentes.
tal e, dessa forma, contribuir com o celulose, tornou-se uma excelente automatizado, sem nenhum con- A Fibria também contratou uma
Fotos: Fibria

Fotos: Fibria
aumento da renda média das famí- oportunidade para os moradores tato manual, e com maior rapidez. conceituada empresa de consul-
lias beneficiadas”. dos bairros vizinhos. Todos que- São apenas três pessoas na linha de toria internacional que vem traba-
36 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬37

Associações conquistam mais Casa do Mel resgata o sonho dos


apicultores de Socorro
Outra cidade contemplada na pri-
credibilidade com a instalação das Casas meira Chamada Pública pelo Projeto
Microbacias II é Socorro, com a apro-
vação de R$ 93 mil direcionados à
do Mel por meio do Microbacias II adequação da sede da Associação
Rural da Microbacia do Ribeirão dos

Fotos: Juliana Montoya – Cecor/CATI


Cubas e, também, para a aquisição
Juliana Montoya – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI de equipamentos que vão compor a
juliana.montoya@cati.sp.gov.br Casa do Mel no município. Com uma
estrutura um pouco mais modesta de

O
processamento do mel, os trabalhos
Projeto Microbacias II própolis em suas variações dos 22 apicultores associados vão se
– Acesso ao Mercado medicinais, entre outros firmar exclusivamente no beneficia-

Fotos: Juliana Montoya – Cecor/CATI


tem contemplado im- produtos derivados do mel. mento do produto in natura em potes,
portantes trabalhos dentro da ca- Além da compra dos equi- bisnagas e sachês. Atualmente, a pro- seios dos produtores, com tudo o Mais economia no
deia produtiva do mel. Em Araras, pamentos, com o Projeto foi dução média da Associação gira em que eles querem e precisam exe- beneficiamento do mel
a Associação de Apicultores de possível instalar as divisórias torno de 300 a 400 quilos de mel por cutar dentro de suas proprieda-
Araras e Região (AAAR) teve o necessárias para o melhor Em Itatinga, um outro projeto
ano. Para a presidente da Associação des. O objetivo foi o de elaborar
projeto para a instalação da Casa processamento do mel em ambicioso motivou a Associação
Rural da Microbacia do Ribeirão um projeto adequado à realida-
do Mel aprovado na primeira suas várias etapas dentro de Apicultores do Polo Cuesta
dos Cubas, Salete de Fátima Torres de dos apicultores", diz o técnico.
Chamada Pública, em 2012. O do galpão. Para o consultor (AAPC), que já adquiriu os 22 equi-
Ishikawa, o apoio do Microbacias II
Galpão do Agronegócio, entre- técnico da AAAR e ex-extensionista Parte do nosso mel, hoje, atende o é a oportunidade que os apicultores E para os apicultores envol- pamentos para compor a Casa do
gue pelo Governo do Estado de da Casa da Agricultura de Araras, mercado interno da cidade e região precisavam, pois a atividade antes vidos, inclusive nas obras de es- Mel, destinada ao beneficiamen-
São Paulo, em 2000, à cidade de José Maria Baptista de Souza, o e a outra parte vai para a merenda realizada por meio de um mercado truturação e montagem da Casa to e envase do produto. A verba
Araras, foi pleiteado pelos associa- Microbacias II trouxe uma grande escolar. Com mais credibilidade, informal, agora passará a ter um selo do Mel de Socorro, a certeza que para aquisição foi de R$ 94.176,00,
dos junto à Prefeitura – dentro da oportunidade de crescimento para nossa produção vai render muito de qualidade, vai gerar cada vez mais fica é a de poder abraçar a causa sendo R$ 65.923,20 apoiados pelo
Proposta do Microbacias II – para os apicultores, além de reforçar a mais benefícios aos associados”, renda e ainda preservará a flora da re- com um retorno 100% garanti- Projeto Microbacias II. Hoje, a AAPC
que pudesse ser utilizado na estru- importância da atuação da CATI afirma Araújo. gião. “É a realização de um sonho de do. “Agora, com o nosso trabalho conta com 10 mil colmeias em
turação da Casa do Mel. Só no mu- na vida do pequeno e médio agri- mais de 30 anos! Tem apicultores an- bem encaminhado no mercado, 23 mil hectares de pasto apícola,
Já o apicultor e presidente da
nicípio atuam 34 apicultores, mas cultor. “Em meu histórico já acom- tigos que haviam desistido e que nós nós vamos conseguir vender que resultam em 500 toneladas/
AAAR, Carlos Fernando Celano,
a AAAR possui em torno de 170, panhei muitas dificuldades desses conseguimos resgatar na Associação, todo o mel em estoque, com ano de produção. Joel Santiago de
acrescentou que com o novo es-
abrangendo também as cidades de produtores até hoje e a assistência paço dedicado à produção do mel existem outros que nem eram agri- possibilidade de aumentar cada Andrade, atual presidente da AAPC,
Pirassununga e Leme. Atualmente, técnica da CATI nunca teve um pro- será possível não apenas agregar cultores familiares e que se tornaram vez mais a produção”, afirma o explica que a Iniciativa de Negócio
a produção é de 15 toneladas de jeto que orientasse e abrisse opor- valor aos produtos, como também nossos parceiros. E agora, ainda pen- apicultor associado, Vandercilio para o Microbacias II garantirá uma
mel por ano, provenientes de cerca tunidades tão importantes para realizar a troca de experiências en- samos em trazer os filhos dos produ- Vicente Sacco. economia de cerca de 35% no cus-
de 4.800 colmeias espalhadas pela o agricultor enfrentar o mercado, tre os próprios apicultores. “Sozinho tores para formar uma nova geração Com a mesma empolgação, to de produção.
região. como conseguiu agora por meio ninguém faz nada! Promovemos dentro da apicultura”, ressalta Salete.
do Microbacias II”, destaca o con- o apicultor Rogério Donizetti A proposta da AAPC foi desen-
A verba adquirida por meio do cursos aos nossos associados e,
sultor técnico. De acordo com o técnico respon- Rodrigues da Rocha confirma a volvida com o auxílio do assistente
Projeto foi de R$ 84 mil, destinados por meio de outro trabalho muito
sável pela Casa da Agricultura de importância de fazer parte de da CATI Regional Botucatu, Júlio
à compra de equipamentos que A Associação, que já possui a importante como o da CATI, rece-
bemos as informações de mercado Socorro, Rodrigo da Silva Binoti, fo- um trabalho conjunto e com cer- César Thoaldo Romeiro, que des-
vão centrifugar, decantar e envasar certificação do Serviço de Inspeção ram feitos vários levantamentos para
o mel. Ao todo, serão fabricados que nos atualizam e incentivam a tificação do Serviço de Inspeção tacou o amadurecimento dos as-
Municipal (SIM), com o funcio- se chegar a um projeto que atendes-
26 tipos de produtos, entre o mel desenvolver nossas atividades da Municipal. “Eu atendo uma rede sociados durante este período. “De
namento da Casa do Mel poderá se às necessidades dos associados.
em sachês, potes de 1kg e 500g, adequar-se aos padrões exigidos maneira correta”, explica Celano. de hotéis, por exemplo, onde 32 associados, hoje são 50 que bus-
“A CATI, desde o início, buscou os an- eu não podia deixar o meu mel cam a capacitação em cursos volta-
pelo Serviço de Inspeção Outro apicultor bastante otimis-
de São Paulo (Sisp) e ob- exposto em prateleiras dos para a cadeia do mel, tornando
ta quanto aos resultados do Projeto,
ter, futuramente, também porque ainda não tinha o a AAPC ainda mais forte”, conclui o
e mais um membro da Associação é
a do Serviço de Inspeção João Donizete Pavan, que já conta rótulo com a certificação técnico. Fortalecimento que leva o
Federal (SIF). Segundo o com ganhos futuros de pelo me- do produto. Agora, com a incentivo para que novos projetos
fundador da AAAR, José nos 40% em sua produção. “Nós Casa do Mel funcionando, possam ser elaborados em outras
Ribeiro Araújo, as perspec- teremos uma extração adequada e terei condições de aumen- associações, não apenas de apicul-
tivas de trabalho com a uma fiscalização que comprovará a tar meu lucro na comercia- tores, como também das demais
Casa do Mel são as melho- credibilidade do nosso trabalho. E lização porque eu estou cadeias produtivas, que descobrem
res. “O Microbacias II veio o padrão de qualidade é um fator adequado às normas exigi- por meio do Microbacias II como é
coroar o nosso trabalho cada vez mais exigido pelo consu- das pelo mercado”, destaca possível obter mais retorno e de-
realizado há muitos anos. midor”, afirma Pavan. o apicultor. senvolvimento no mercado.
38 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬39

Mel e seus derivados:


serem entregues à China. Além da
comercialização por meio do pró-
prio site, o técnico tem mais 20

benefícios terapêuticos ou
pontos de venda distribuídos pelo
País. Um deles fica na própria cida-
de de Tatuí, uma tradicional farmá-
cia de manipulação, que hoje aten-

um alimento saudável? de aos clientes de várias regiões do


Estado. “Hoje, com o advento da
internet, as pessoas acabam saben-
do muito rápido sobre os produtos.
Juliana Montoya – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI ) – juliana.montoya@cati.sp.gov.br Então, a busca vem de moradores
da capital e de outras cidades, que

Fotos: Juliana Montoya


descobrem pelo meio virtual sobre

Q
uando se fala em mel um pequeno laboratório, onde o os padrões do Ministério da Saúde. os benefícios do creme de abelha
e seus derivados, nor- veneno precisa ser manipulado em Todas as experiências em hospitais, e nos procuram”, afirma Afonso
malmente as pessoas uma câmara que impede a libera- com pacientes do Sistema Único Henrique Avallone, farmacêutico
pensam em seu consumo como ção de gases tóxicos. O produto, se- de Saúde (SUS), apontaram que responsável.
medicamento, principalmente con- gundo o especialista, é pioneiro na eles tiveram 100% de cura em sua pólen; a geleia real; favos de mel;
Se como medicamento o mel e
tra doenças respiratórias, como é o América do Sul e um dos primeiros ação como anti-inflamatório e nós a própolis líquida, em cápsulas ou
seus derivados estão bem difundi-
caso da utilização da própolis. Essa a serem desenvolvidos no mundo. temos tal comprovação e a patente spray; sabonetes e velas artesanais
dos no mercado, como alimento a
substância, que é produzida pelas A fórmula não tem contraindicação do produto com a referida especifi- (veja, no site da CATI, em nossa re-
realidade ainda é bem diferente. De
abelhas a partir de resinas e bál- e foi liberada pela Agência Nacional cação”, explica o especialista. acordo com dados divulgados pelo vista virtual, como elaborar uma
samos coletados das plantas, vem de Vigilância Sanitária (Anvisa), próprio setor, o Brasil está entre os vela de cera de abelha); e até o pi-
para ser comercializada apenas A quantidade de veneno em colé de mel. “O mel embalado em
sendo estudada há muito anos, em 10 maiores produtores e exporta-
como um cosmético, mas ele ga- cada potinho de 30g equivale à potes é bastante encontrado nos
diversos países, em busca de novos dores de mel no mundo, porém, o
rante que a utilização do produto produção de 500 abelhas. Para supermercados. Como no verão
resultados com valor medicinal no consumo nacional como alimento
pode ser feita no dia a dia, como atender à demanda, Ciro pos- ele não é tão vendido, inventamos
combate e na prevenção de do- ainda é considerado baixo quan-
um tratamento terapêutico, inclu- sui uma parceria com apicultores o picolé de mel para vender nas
enças. Um exemplo é a Faculdade do comparado com outros países.
de Engenharia de Alimentos da sive como um anti-inflamatório. “Eu de aproximadamente 50 mil col- feiras e as crianças adoram! Já o
Enquanto nos Estados Unidos e na
Universidade de Campinas (FEA– tenho um trabalho científico feito meias espalhadas pelo Brasil, pela pólen e a própolis não são produ- de veio o encantamento e, após 10
União Europeia o consumo de mel
Unicamp), que mostrou por meio pela Universidade de São Paulo Argentina e pelo Uruguai, e hoje tos de consumo imediato, muitos anos de residência em São Miguel
por habitante passa de um quilo no
da coleta de amostras de vários (USP) e pela Universidade Federal já possui uma encomenda de duas os levam ainda para experimentar Arcanjo, o apicultor possui cerca
ano, aqui essa média não ultrapassa
tipos de própolis, de quase todo o de Santa Catarina (UFSC), seguindo mil unidades de cada produto para pela primeira vez ou para conhecer de 200 colmeias – desse total, cer-
os 10% desse total. Na tentativa de
Brasil, importantes propriedades mudar esse hábito dos brasileiros, os seus benefícios e isso demanda ca de 50 são de espécie indígena
anticancerígenas e anti-HIV. Entre os apicultores apostam em algu- mais tempo”, diz o apicultor. ou natural, como a Mandaçaia e a
tantas pesquisas e variações da mas estratégias de comercialização Jataí. Sua produção varia de quatro
Ter uma boa apresentação dos
própolis, sua utilização é bastante que casam a qualidade do produto a cinco mil quilos de mel por ano e,
produtos nas feiras é um quesito
difundida nas formas de extrato, com a venda direta e preços mais após receber orientações por meio
importante e a do Maurício é bem
spray e pomada com grandes pro- reduzidos ao consumidor final. da Coordenadoria de Assistência
criativa! Até um aquário adaptado,
priedades antimicrobianas, anesté- Técnica Integral (CATI), o apicultor,
A participação em feiras vem com algumas de suas abelhas vi-
sica e anti-inflamatória. hoje, participa de programas go-
sendo uma das formas mais satis- vas, o apicultor deixa à disposição
vernamentais como o Programa
Em Tatuí, outro estudo comple- fatórias de se divulgar o mel e seus para o público conhecer de perto
Nacional de Alimentação Escolar
xo, porém baseado no uso de ve- derivados como um alimento sau- o trabalho dos insetos. Mas, todas
(PNAE) e o Programa de Aquisição
neno de abelha, desenvolveu um dável. O apicultor Maurício Luiz essas conquistas ele não conseguiu
de Alimentos (PAA), ambos do
creme hidratante com função an- Gallão, do Apiário Boa Esperança sozinho. A paixão pela apicultura
Governo Federal.
tirrugas. A história começou quan- de São Miguel Arcanjo, aderiu a nasceu há mais de 15 anos, quando
do o técnico agrícola Ciro Gomes essa prática comercial e acumu- Maurício decidiu sair da capital e se Para o responsável pela Casa da
Fotos: Juliana Montoya

Protta criou, há mais de 20 anos, la ótimos resultados. Em seus es- estabelecer no interior. Conheceu Agricultura de São Miguel Arcanjo,
um aparelho para extrair o veneno tandes, a variedade de produtos é as abelhas por acaso, quando um o engenheiro agrônomo Átila
do inseto. A partir daí, os estudos grande: além do mel in natura ou enxame invadiu sua propriedade Queiroz de Moura, casos como o de
ganharam força e a produção do o composto, encontrado em po- e ele teve que pedir ajuda para Maurício têm dado certo devido às
creme passou a ser realizada em tes, bisnagas e sachês, ele vende o retirá-las de sua casa. Da curiosida- estratégias adotadas pela entidade
40 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬41

O alerta é claro: sem abelhas,


tado porque também melhoram o
teor nutritivo das refeições. “Existe
cada vez mais uma conscientiza-

sem alimento
ção sobre a necessidade de se ter
uma alimentação de qualidade,
por meio de alimentos funcionais,
como é o caso do pólen, da própo-
lis e da geleia real que, além de suas Campanha lançada em São Paulo ganha repercussão internacional
propriedades nutricionais, ainda Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI – gdauria@cati.sp.gov.br
auxiliam o organismo com a fun-
ção de um medicamento”, afirma

B
Baldoni. ee or not to be? A campanha deflagrada por Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
um dos mais conceituados pesquisadores (USP) de Ribeirão Preto, os neonicotinoides agem no
Dona Edna Pereira Castro, de brasileiros sobre o sumiço das abelhas, pro- sistema nervoso das abelhas e provocam a “perda da
77 anos, consome geleia real há 15 fessor dr. Lionel Segui Gonçalves, atual presidente memória”, ou seja, uma espécie de “Alzheimer” e elas,
anos e garante que por conta desse da Comissão Científica da Confederação Brasileira de desorientadas, morrem por não conseguirem voltar
hábito possui muito mais disposi- Apicultura, questiona e repensa a importância das para suas colmeias. E assim, os enxames vão sumindo.
ção em suas tarefas diárias. “Eu gos- abelhas no equilíbrio do planeta. O site www.semabe- Todas estas ações em favor das abelhas têm à frente
to muito da geleia real e do mel lhasemalimento.com.br, que traz uma petição para a o professor Lionel Gonçalves, que há mais de 40 anos
porque me fortalecem quando proteção das abelhas, é outra ferramenta que foi com- dedica sua vida ao estudo das abelhas. Atualmente,
estou cansada ou com estres- plementada pelo recente lançamento do aplicativo além de acompanhar alunos de doutorado e mestra-
no sentido de capacitar uma vez por se. Há quatro anos eu não tomo Beealert. Mais do que um mapeamento sobre a situa- do, tanto na USP-Ribeirão Preto como na Universidade
ano os interessados em atuar na ca- vacina, não fico gripada, faço ção do desaparecimento das abelhas em todo o mun- Federal Rural do Semiárido (Ufersa), em Mossoró (RN),
deia produtiva do mel. Atualmente, musculação e ainda sou dona de do, a partir das denúncias é feito um relatório com ob- também atua no Centro Tecnológico de Apicultura e
São Miguel Arcanjo possui cerca de casa”, conta a aposentada. servações a respeito dos locais, e das condições, além Meliponicultura do Rio Grande do Norte (Cetapis), ins-
30 apicultores que, além das orien- de um breve histórico com as possíveis causas onde talado na Fazenda Experimental da Ufersa.
Outro fiel cliente da família
tações específicas do setor, ainda Baldoni é o comerciante Antônio vem ocorrendo o sumiço das abelhas.
recebem por meio da CATI uma “Muito antes de os homens passa-
Henrique Sousa, que há 10 anos rem a viver da agricultura como fonte

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


capacitação voltada ao turismo ru- acrescentou em seu cardápio do
ral. “Esse fortalecimento da cadeia de alimento, as abelhas já faziam o seu
café da manhã o pólen junto à principal e insubstituível trabalho: a
produtiva do mel não é diferente frutas, iogurte e aveia. Segundo polinização. Todo o restante é secun-
do trabalho realizado com o agri- ele, um hábito adotado por toda dário. Produtos como mel, própolis,
cultor familiar por meio do associa- a família. “É importante por ser cera, geleia real, pólen são importan-
tivismo e cooperativismo. Sem tal um produto natural, sem agrotó- tes para a alimentação e uma vida mais
organização e empreendedorismo, xicos e que faz muito bem à saú- saudável, mas a polinização é essen-
dificilmente um produtor rural so- de”, complementa o comerciante. cial à vida”, explica o professor Lionel
zinho conseguirá o mesmo êxito, a Gonçalves. Sem ela, 70% das culturas
mesma qualidade numa escala de De acordo com os especialis-
agrícolas podem simplesmente desa-
produção, do beneficiamento até a tas em apicultura, o pólen é um
parecer e esse efeito em várias cultu-
comercialização”, explica Átila. tar apicultores e prestar assistência excepcional complemento alimen-
ras e em vários países, como Estados
técnica a esse público específico. tar, recomendado para ser consu- Unidos e Canadá, além da Europa, es-
Mas, para quem mora em uma
Nela, a variedade de mel e demais mido diariamente, por ser rico em tão preocupando pesquisadores do
cidade maior como Campinas,
produtos da colmeia é grande: mel proteínas, aminoácidos, vitaminas, mundo todo. Na Califórnia (EUA), onde
onde o ritmo é mais acelerado nas
de várias floradas (silvestre, laran- oligoelementos e enzimas. Já a produtores pagam, hoje, cerca de US$
ruas e no comércio, e a necessida-
jeira, cipó-uva, citriodora ou euca- geleia real, encontrada de forma 150 por colmeia, o sumiço das abelhas
de de consumo vai além da com-
pra em feiras e drogarias, uma boa lipto, melato de cana); mel de jataí; fresca ou liofilizada (em cápsulas), já compromete a produção de amên-
opção é buscar uma loja especiali- mel com castanhas; própolis em é considerada um dos poucos ali- A mais provável é o uso de defensivos com princí- doas. A população de abelhas era es-
zada em mel e seus derivados. Na vários formatos, pólen, geleia real mentos que contêm quase todos pios neonicotinoides, proibidos na Europa em 2013. timada, há 10 anos, em cinco milhões de colmeias e,
família Baldoni a apicultura surgiu entre outros. Segundo o proprietá- os componentes essenciais para o Desde então, os efeitos vêm sendo observados. A hoje, foi reduzida à metade.
em 1983, porém, a loja foi criada rio da loja, Oswaldo Baldoni, o mel fortalecimento do organismo, atu- descontaminação só ocorre após cinco anos, já que No Brasil, não apenas o professor Lionel foi “picado
10 anos depois, não apenas com o puro ainda é o campeão nas ven- ando como um estimulante geral, são produtos sistêmicos que atingem, inclusive, os e contaminado” pelas abelhas ou pela luta em favor
objetivo de vender os próprios pro- das, mas ele destaca que a procura além de uma importante ação no lençóis freáticos. Segundo as pesquisas brasileiras delas, hoje toda a sua família está envolvida. As cam-
dutos como também para capaci- pelos outros produtos tem aumen- processo de regeneração celular. desenvolvidas pelo Laboratório de Genética, ligado à panhas de cunho internacional nasceram na agência
42 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬43

de publicidade e marketing comandada por Daniel e Brasil só haviam meliponíneos (abelhas sem ferrão), ção da maçã em Santa Catarina e lá os apicultores já
Karin, filhos do pesquisador com a professora aposen- a produção de mel não passava de três a quatro mil recebem aluguel para colocar suas colmeias para poli-

Foto: arquivo pessoal


tada da USP de Ribeirão Preto, na área de Geociências, toneladas/ano, enquanto a Argentina, em área bem nização. No Rio Grande do Norte, mais especificamen-
Neide Maria Malusa Gonçalves, que o acompanha des- menor, produzia 20 mil toneladas/ano. A subespécie te em Mossoró, os produtores de melão também pa-
de os tempos de estudante universitário. Até o casa- africana Apis mellifera scutellata foi trazida ao Brasil gam aluguel aos apicultores para que coloquem suas
mento de Lionel e Neide foi sacramentado por outro em 1956 para estudo, relembra o pesquisador, mas colmeias para as abelhas realizarem a polinização das
apaixonado por abelhas, o professor da Universidade acabaram soltas inadvertidamente por um apicultor, flores de melão, pois já têm consciência em relação
Federal do Paraná, padre Jesus Santiago Moure. “De quando estavam em quarentena no Horto Florestal ao aumento da produção, como ocorre em outros pa-
casamentos ele pouco entendia, não deve ter realiza- de Rio Claro. “Aí foi o caos, o manejo era totalmente di- íses do mundo”. Mas esses movimentos ainda são in-
do meia dúzia, mas em taxonomia (classificação) era ferente em relação às abelhas europeias introduzidas cipientes, conta o professor, a maioria dos apicultores
perito”, contam, com saudade, lembrando do amigo anteriormente e houve vários acidentes e, para piorar, ainda paga para colocar suas colmeias nos pomares,
que os acompanhou em vários congressos interna- mesmo ataques por marimbondos e vespas eram im- como sempre ocorreu nos laranjais do Estado de São
cionais (padre Moure faleceu há pouco mais de dois postos às abelhas africanas. Durante 20 anos, estuda- Paulo.
anos, mas deixou publicados vários trabalhos impor- mos o comportamento e a genética dessas abelhas e
Com a experiência de quem aprendeu a lidar com
tantíssimos sobre taxonomia das abelhas). começamos um trabalho de seleção e melhoramen-
as diferenças, sobretudo as culturais, sociais e econô-
to. Hoje, em todo o Brasil só existem as abelhas po-
Para entender a importância das abelhas é só fa- micas, o professor Lionel lembra que “tudo é relativo
pularmente conhecidas como ‘africanizadas’, que são
zer um retrospecto. Na década de 1950, quando no na vida e tem prós e contras, portanto, trata-se de
híbridos entre as abelhas africanas e as europeias e
uma conscientização geral e de uma política de lon- Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
mais fáceis de lidar. Mas, na verdade, foi
go prazo. Mas quem já quiser fazer a sua parte, pode que, atualmente, trabalha com dados para Análise de
realizado todo um trabalho de pesquisa
se tornar um “Embaixador das Abelhas”, basta se ca- Risco Ambiental, que estabelecerá as regras básicas
sobre o comportamento e manejo des-
dastrar no site www.semabelhasemalimento.com.br, para preservação de várias espécies de mamíferos,
sas abelhas e desenvolvidos equipa-
assinar a petição e ser um mensageiro. O Brasil está aves, peixes e, entre elas, as abelhas.
mentos para lidar com elas”, argumenta
saindo na frente, com o Beealert. Pela primeira vez,
o pesquisador. Os atuais usos de roupas O sumiço das abelhas vem ocorrendo em todo o
teremos a oportunidade de ter em mãos o histórico
brancas ou claras, fumigadores, cavale- Brasil, principalmente no Mato Grosso e em todo o
de desaparecimentos e morte das abelhas em todo o
tes individuais, além da preocupação Sudeste, no caso específico de São Paulo, em todo o
mundo. No ano passado, em Davos (Suíça), onde se
em evitar odores fortes e ruídos altos, Estado. Em apenas cinco anos já há mais de 200 re-
reúnem as maiores potências mundiais, as instituições
fazem parte das técnicas de manejo latos de perdas de abelhas. Elas podem ser causadas
apresentaram um ranking dos principais problemas
disseminadas entre os apicultores. Em por vários motivos, manejo inadequado e presença
que atingem a humanidade. Em primeiro lugar, ficou
contrapartida, a produção de alimentos de agrotóxicos são alguns, mas a comprovação do uso
a poluição dos mares e o desaparecimento das abe-
foi vertiginosa e a produção de mel no de agrotóxicos só ocorreu em apenas quatro casos:
lhas ficou em segundo lugar. Neste caso, estar entre
Brasil saltou para 50 mil toneladas/ano. Boa Esperança do Sul, Gavião Peixoto, Brotas e Araras.
os primeiros não é meritório, mas é grande o mérito
Essa revolução na apicultura brasi- da campanha lançada em abril de 2013, em São Paulo “Isso não quer dizer que não estejam ocorrendo,
leira, que aconteceu a partir da década e, em setembro, no resto do mundo via Congresso o fato é que as comprovações são difíceis de serem
de 1970 até os dias atuais, foi acom- Internacional da Apimondia em Kiev, Ucrânia, organi- feitas. Apesar dos relatos e dos fortes indicativos, é
panhada por um inconveniente e in- zado pela Federação Internacional dos Apicultores e preciso coletar as abelhas mortas de forma adequa-
tensivo uso de defensivos agrícolas, de cujos congressos tem participado o nosso ilustre da, enviá-las de maneira correta e em tempo hábil a
principalmente pelos mais recentes, os professor Lionel Segui Gonçalves. um laboratório, pagar um alto custo para ser feita a
pesticidas agrotóxicos sistêmicos (neo- análise que evidencie a presença de agrotóxico, e esse
nicotinoides), cada vez mais potentes, e custo é um grande gargalo. Enfim, o apicultor acaba
altamente tóxicos às abelhas. Sumiço das abelhas no Estado adquirindo outra colmeia, até acontecer de novo e ele
de São Paulo desistir da atividade ou mudar de local”, explica o dr.
O Brasil é hoje o maior consumidor
mundial de agrotóxicos, sendo usados Malaspina.
O sumiço das abelhas também é tema de pesqui-
de forma mais intensa nos estados do sa do professor dr. Osmar Malaspina, do Instituto Mesmo com todas as dificuldades, o pesquisador
Sudeste, onde, não por acaso, também de Biociências da Universidade Estadual Paulista e sua equipe estão desenvolvendo um projeto-piloto
ocorrem grandes áreas de monocultu- (Unesp)/Rio Claro. Especialista quando o tema é no Estado de São Paulo em que fazem levantamen-
ra, como a cana-de-açucar, a soja entre a Ecotoxicologia das Abelhas, o dr. Malaspina, em tos com o detalhamento das ocorrências, formatam
outras. “À toda ação, corresponde uma parceira com a Universidade Federal de São Carlos e sistematizam para ter uma plataforma com dados
reação, isso é fato”, diz o pesquisador, (UFSCar), unidades Sorocaba e Araras, comanda um confiáveis sobre a perda das abelhas por contamina-
e o sumiço das abelhas já pode ser no- grupo de mais 20 de alunos que fazem trabalhos es- ção causada por agrotóxicos. Com isso, o movimento
tado no Rio Grande do Sul, Paraná, em pecíficos relacionando o uso dos agrotóxicos ao su- em favor das abelhas pode se fortalecer, assim como
Foto: Abemel

Santa Catarina e São Paulo. “Em 2012 e miço das colmeias. O pesquisador também foi convi- as medidas para contornar esse grave problema am-
2013 faltaram colmeias para a poliniza- dado a colaborar junto ao Instituto Brasileiro do Meio biental, alimentar, econômico e social.
44 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬45

Apicultura no Vale do Ribeira:


tínhamos medo das abelhas, ateá-
vamos fogo para espantar ou usá-
vamos veneno. Agora, aprendemos

renda e consciência ecológica a dar valor e ver que dá para viver


disso. Precisamos incentivar os jo-

para comunidades quilombolas


vens também, porque a atividade
tem futuro”, relata o apicultor, que
não se incomoda com o calor nem
com a indumentária necessária
Detentores de saber popular sobre plantas nativas, quilombolas do Vale do Ribeira vêm para o trabalho, e vai para o cam-
incorporando o conhecimento dessa atividade milenar à tecnologia, o que tem resultado em uma po, sempre que pode, “lidar com as
abelhas”.
nova fonte de renda e conservação ambiental para as comunidades.
O vislumbre de um futuro me-
lhor, delineado pela agricultura e
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br
pela atividade, fortaleceu os inte-

Arquivo Fundação Itesp


grantes da Comunidade na luta

N
a extensão dos vales que Na Comunidade Remanescente que as abelhas são mais importan- pela área de 400 alqueires a que
recobrem a região do de Quilombo Bairro Porto Velho, tes do que o mel”, explica Vandir têm direito. “Há muitos anos luta-
Ribeira, rio de extensão em Iporanga, vidas têm sido trans- dos Santos, coordenador do grupo mos pelo nosso território, berço dos
e expressão colossais, o verde da formadas e a consciência ecológica de apicultores. nossos ancestrais. Porém, durante Projeto Castinhas: incentivou a apicultura entre os mais jovens
remanescência da Mata Atlântica resgatada, sinalizando um futuro bastante tempo, tínhamos apenas
proporciona condições para uma melhor para as famílias envolvi- Paulino Rosa de Oliveira, 76 uma agricultura de subsistência e
anos, um dos apicultores mais an- muitos trabalhavam, em péssimas e o Instituto Socioambiental (ISA) dutividade”, explicam. Atualmente,
exploração ecologicamente corre- das na atividade. “Hoje, depois de
tigos do Quilombo, atesta a trans- condições, para grandes produto- desenvolve projetos voltados à a produção de mel é sazonal (outu-
ta: a apicultura. Nos últimos anos, muitas capacitações, temos cons-
formação. “Antigamente, o traba- res. Um episódio marcante – a der- estruturação e gestão da ativida- bro a março) e oscila entre quatro
no seio de comunidades quilom- ciência da importância das abelhas
lho na lavoura era muito pesado e rubada da igreja, ponto de união de apícola. “A apicultura tem sido e seis toneladas. As 10 famílias en-
bolas do Vale do Ribeira foi planta- para a natureza e a produção de
as distâncias muito grandes para da comunidade, por um fazendeiro um grande avanço para as famí- volvidas têm quase 200 caixas. Por
da a semente da profissionalização alimentos e, também, de como po-
vender os produtos. Usávamos o local que queria a terra – ocorrido lias envolvidas, que se dividiram meio de uma parceria do Itesp com
da atividade, a qual vem gerando dem ser fonte de renda com respei-
bons frutos. to ao meio ambiente. Entendemos mel apenas para a família e, como no período em que começamos na em dois grupos e colocaram os os Institutos Adolfo Lutz e Botânico
apicultura (início dos anos 2000), apiários em regiões estratégicas de São Paulo, estão sendo desen-
serviu para nos fortalecer e buscar no Quilombo, improdutivas para a volvidas pesquisas pioneiras para
ainda mais a nossa independên- agricultura, pelo relevo acidenta- identificar a origem botânica do
cia”, ressalta Vandir. Atualmente, do. Assim, podem explorar melhor mel das comunidades quilombo-
25 famílias moram no Quilombo, as duas atividades”, ressalta Sezar las, atestando, assim, que a produ-
usufruindo apenas de 30 alqueires, Aparecido dos Santos, presidente ção é verdadeiramente originária
conquistados por uma liminar. A da Associação dos Moradores do da Mata Atlântica, apesar de os
base da economia é a produção de Quilombo Porto Velho. apiários serem georreferenciados.
hortaliças (comercializadas em pro- “Os resultados serão importantes
Para Marcos Roberto Viotti e
gramas governamentais, por meio Altair Matos Pereira, técnicos do para agregar valor e assegurar a
da Cooperativa de Quilombos do Itesp que atuam diretamente com qualidade, pois as floradas da re-
Vale do Ribeira), farinha de man- a Comunidade, o progresso da api- gião são excelentes e sem conta-
dioca, pupunha e a apicultura, que cultura está intimamente ligado à minação de agroquímicos. Após a
em um futuro próximo deve se tor- conclusão das pesquisas, o objeti-
disposição dos produtores em ob-
nar a principal fonte de renda. vo é que o Governo do Estado lan-
ter mais conhecimento a cada dia.
Contando com o apoio de várias “Desde a primeira capacitação re- ce um selo que certifique o mel da
Cooperativa de Quilombos do Vale
Fotos: Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

instituições, os apicultores estão alizada em parceria com o Serviço


confiantes no desenvolvimento Nacional de Aprendizagem Rural do Ribeira”, afirmam Marcos e Altair.
da atividade. A Fundação Instituto (Senar), eles se mostraram abertos Para que a atividade se perpetue
de Terras do Estado de São Paulo para transformar a atividade em na Comunidade, os técnicos desen-
(Itesp) presta assistência técnica, uma opção de renda. Os primeiros volveram o Projeto Castinhas, de
fornece materiais e realiza capaci- enxames foram capturados, mas educação ambiental, envolvendo
tações; a Igreja Católica conseguiu também já foi feita a introdução de alunos da escola pública local, em
Técnicos da Fundação Itesp e do ISA comemoram os resultados da atividade com os apicultores do Quilombo Porto Velho
doações para montar os apiários; novas rainhas para melhorar a pro- atividades ligadas à apicultura.
46 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬47

“Além das palestras, fizemos con-


cursos de desenhos – que, inclusive,
e os programas de aquisição de
alimentos federal e estadual. Além
outra ação difundida entre os api-
cultores é o investimento em ou- Apicultura: um pouco de história e o papel da
resultou no desenho que estampa da Comunidade de Porto Velho, ou- tros produtos apícolas que têm alto
o rótulo do mel, aperfeiçoado nas tros quilombos irão utilizar a Casa valor de mercado. “Inicialmente, Secretaria de Agricultura e Abastecimento
oficinas de produção da logomarca do Mel: Cangume (Itaoca); Pilões, incentivamos a produção de pólen Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI )– cleusa@cati.sp.gov.br
promovidas pela Fundação Itesp Piririca e Praia Grande (Iporanga). e própolis, que ainda é incipiente.
e pelo ISA –, atividades no campo Estamos elaborando estratégias
Apesar de ter um pasto apícola Projeto Apicultura - Horto Florestal da Cantareira –1928
com abelhas sem ferrão e conver- com eles, para que essa diversifica-
privilegiado, com floradas diversas
sas com os apicultores. Após este ção seja implementada em médio
e sem contaminação de agroquí-

Arquivo Apta Polo Vale do Paraíba


trabalho, alguns jovens começa- prazo”.
micos, o Vale do Ribeira tem como
ram a auxiliar os seus pais e já estão
gargalo a alta umidade relativa do Além da Casa do Mel, o ISA está
iniciando na atividade”. Um deles
ar, que pode levar à fermentação trabalhando uma identidade vi-
é Guilber Rosa Gonçalves. “Percebi
do mel. Para minimizar esse proble- sual para os principais produtos
que a atividade é boa para o meio
ma, os apicultores estão adotando da Comunidade. “Além de uma lo-
ambiente. A renda da minha família
técnicas apuradas, desde a colheita gomarca e rótulos para todos os

E
aumentou com o mel, por isso pen-
até o beneficiamento do mel, mo- produtos da apicultura e para a fa- studos demonstram que, vidade de mel não era tão grande, A liberação dessas abelhas mui-
so em trabalhar com a apicultura”,
nitorando com aparelhos a umida- rinha de mandioca, outro produto desde a Pré-História, o em face à sua não adaptação total to produtivas, porém muito agres-
diz o adolescente.
de e temperatura, para que estejam de destaque, desenvolvemos uma mel tem sido usado como ao clima tropical. Nesse cenário, em sivas, criou um grande problema.
Com o despertar da consciência adequadas, no momento de se rea- estratégia de marketing para lançá- produto medicinal e alimentar, o 1956, o engenheiro agrônomo e “O manejo era totalmente diferen-
ambiental provocado pelo envolvi- lizar a colheita e o beneficiamento. -los com um selo de qualidade e, qual por vários séculos foi retirado um dos maiores pesquisadores de te em relação às abelhas europeias.
mento na apicultura, os moradores “A fermentação inviabiliza o mel com isso, alcançar diversos nichos de forma extrativista e predatória. apicultura do País, Warwick Estevan Durante 20 anos, estudamos o com-
do Quilombo têm desenvolvido para consumo humano, mas não Entretanto, com o tempo, o homem Kerr, dirigiu-se à África, com apoio portamento e a genética dessas
de mercado”, salienta Renato. abelhas e começamos um traba-
ações de preservação, como o plan- impede que ele seja usado em ou- foi aprendendo a proteger os en- do Ministério da Agricultura, com a
tio, em 2009, de espécies melíferas tras áreas, como na indústria cos- Diante de todo o investimento, xames, instalando-os em colmeias incumbência de selecionar rainhas lho de seleção e melhoramento no
e frutíferas, com mudas doadas Vandir dos Santos, coordenador do artificiais e manejando-os de forma de colônias africanas (Apis mellife- Laboratório Integrado de Genética
mética. No entanto, como a maior
grupo de apicultores afirma: “A des- que houvesse maior produção sem ra scutellata) para realizar pesqui- de Abelhas, no Departamento de
pelo ISA e Itesp, na cabeceira do parte da produção dos quilombo-
causar prejuízo para esses insetos. sas comparando produtividade, Genética da USP de Ribeirão Preto,
manancial para ampliar a oferta de las é para venda direta aos consu- coberta da apicultura como ativi-
Surgiu, dessa forma, a Apicultura. rusticidade e agressividade entre fundado pelo professor Kerr. Ao
água, problema que a Comunidade midores, temos incentivado a ado- dade rentável abriu a porta de um lado das pesquisas, investimos no
“Hoje se conhecem, em todo o as abelhas europeias, africanas e
enfrenta há anos. ção de Boas Práticas, da produção futuro melhor para nós e, na união mundo, mais de 20 mil espécies, po- desenvolvimento de equipamen-
seus híbridos e recomendar a mais
Casa do Mel ao beneficiamento”, explicam os de esforços e parcerias, descobri- rém, apenas cerca de 2% produzem apropriada às condições brasileiras. tos para lidar com elas. Hoje, em
técnicos do Itesp, informando que mos como somos fortes”. mel. Entre essa porcentagem, as do Em 1957, rainhas africanas foram todo o Brasil, a maioria das abelhas
Por meio de parceria firmada
gênero Apis são as mais conhecidas levadas ao apiário experimental pertence ao grupo popularmente
com o ISA e a Fundação Itesp, foi ela-
e difundidas. Pesquisas apontam do Horto Florestal de Rio Claro, li- conhecido como ‘africanizadas’; hí-
borado um projeto visando à cap- bridos entre as abelhas africanas e
que, provavelmente, esse gênero gado à Secretaria de Agricultura e
tação de recursos, com a Fundação de abelha tenha surgido na África as europeias”, relata o pesquisador.
Abastecimento. Contudo, algumas
Banco do Brasil, para a construção após a separação do continente colônias enxamearam, liberando-as Os atuais usos de roupas brancas
da Casa do Mel, o que se concreti- americano, tendo posteriormente no Brasil. “Essa liberação possibili- ou claras, fumigadores, cavaletes
zou em 2012. “Procuramos elaborar migrado para a Europa e Ásia”, ex- tou o cruzamento natural das duas individuais, além da preocupação
um projeto completo, com capaci- plica a engenheira agrônoma Clélia populações introduzidas no País em evitar odores fortes e ruídos
dade para o beneficiamento de 25 Mardegan, especialista em apicul- (europeias e africanas), formando o altos, fazem parte das técnicas de
toneladas/mês, para que seja cer- tura da CATI Regional Lins. poli-híbrido conhecido como abe- manejo disseminadas entre os api-
tificada. O projeto de construção e lha africanizada. Mais adaptadas cultores.
No Brasil, a introdução da Apis
aquisição de equipamentos foi ela- é atribuída aos jesuítas que esta- ao clima tropical do que as euro-
borado pelo Instituto de Tecnologia peias, as abelhas africanas impuse- Apicultura: o papel da
beleceram suas missões no Século Secretaria de Agricultura e
de Alimentos (Ital). Estamos em ram várias de suas características
XVIII no noroeste do Rio Grande do Abastecimento
fase de obtenção de uma licença ao híbrido brasileiro, inclusive a
Sul. No entanto, o marco aconteceu
produtividade, a resistência a do- Segundo dados históricos da
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

definitiva pelo Serviço de Inspeção em 1839 quando o padre Antonio


enças e a agressividade”, explica o Agência Paulista de Tecnologia
de São Paulo (Sisp), pois hoje temos Carneiro Aureliano trouxe abelhas pesquisador e professor emérito da dos Agronegócios (Apta) – Polo
apenas um registro provisório”, sa- Apis mellifera de Portugal e instalou (USP)/Ribeirão Preto, Lionel Segui Regional Vale do Paraíba, em
lienta Renato Nestlehner, técnico colmeias no Rio de Janeiro. Gonçalves, presidente da Comissão Pindamonhangaba, onde atu-
do ISA, na região do Vale do Ribeira. Até a década de 1950, as abelhas Científica da Confederação almente está localizado o Setor
Após a certificação, o objetivo é de origem europeia estavam espa- Brasileira de Apicultura e que, há de Apicultura da Secretaria de
ampliar a comercialização, princi- Sezar Aparecido, presidente da Associação, e Vandir dos Santos, líder do grupo de apicultores: lhadas pela maioria dos estados mais de 40 anos, dedica sua vida ao Agricultura e Abastecimento (ante-
palmente para a merenda escolar mel incentivou a organização com geração de renda e emprego no Quilombo. brasileiros, no entanto, a produti- estudo das abelhas. riormente conhecido como Centro
48 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬49

de história da Secretaria com a de referência na apicultura paulis- uma rede de parceiros produzimos Estação Experimental, onde era fei-
Apacame: 35 anos de história
apicultura os trabalhos, tanto da ta. Na Casa da Agricultura, Alcides um milhão de mudas, que foram ta a seleção genética para o melho-
pesquisa quanto da extensão ru- dos Santos Moreira, engenheiro plantadas em toda região, com um ramento de rainhas. “Coletávamos
ral, foram direcionados para otimi- agrônomo egresso da área de de- cadastro das espécies cultivadas”. material genético das melhores No final de 1979, um grupo de
zação da lida com a abelha, maior fesa sanitária, começava um traba- colmeias e multiplicávamos na apicultores se uniu em uma as-
No início do trabalho, ainda sociação visando promover uma
produtividade e cursos para a di- lho nos viveiros de café, na época, Estação. Conseguimos excelentes
existia na região certo receio das “reeuropização” das abelhas no
versificação, bem como para o con- a cultura dominante na região. Em matrizes, que foram enviadas até
pessoas quanto às abelhas africa- Brasil, com a introdução de rainhas
trole de qualidade e origem de pro- suas “andanças”, como descreve as para fora do Estado. Após cinco
nizadas. O agrônomo utilizou en- da espécie Apis mellifera carnica, vi-
dutos. Em 2006, com os registros visitas técnicas, conheceu uma fa- anos de trabalho, não foi possível
tão, os meios de comunicação para sando reverter o quadro de agressi-
de perda de enxames em todo o mília de pequenos produtores, que dar continuidade, por isso transfe-
informar e desmistificar o assunto. vidade das africanizadas. No entan-
mundo, a Secretaria implementou entre as atividades tinha a apicul- rimos nossos equipamentos e estu-
“Nesse período, fizemos um progra- to, o Projeto se mostrou inviável,
o Laboratório de Sanidade Apícola, tura. “Era final da década de 1970 dos para o Laboratório de Genética
ma sobre apicultura, no Telecurso
Fotos: Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
único polo com esse perfil específi- e eu não tinha experiência com da USP de Ribeirão Preto”, destaca apesar disso, o esforço gerou uma
Rural, da TV Cultura, com apoio dos filosofia de associativismo e união
co no Brasil”. abelhas. Porém, a dificuldade da Alcides, que neste trabalho teve o
pesquisadores da USP. Na CATI, pu- entre o grupo: nascia a Associação
família Rossi, em fazer da apicul- apoio dos pesquisadores Ronaldo
Entre as atividades desenvolvi- blicamos o primeiro boletim técni- Paulista de Apicultores, Criadores
tura um negócio rentável, me fez Barbosa e Etelvina de Almeida, do
das há décadas, ganham destaque, co sobre o assunto e com o apoio de Abelhas Melíficas Européias
procurar alternativas. Comecei com Centro de Apicultura Tropical de
até hoje, a produção e comerciali- de um jornalista da Delegacia (Apacame). “Transformamos a
um mapeamento dos apicultores Pindamonhagaba.
zação semanal de rainhas africani- Regional da CATI de Ribeirão Preto, Associação em uma entidade di-
da região e a traçar um perfil da
zadas fecundadas ou virgens (úni- lançamos o jornal Correio Apícola, Após quase 30 anos de atuação fusora de conhecimento apícola,
atividade, com uma pesquisa para
de Apicultura Tropical), o ano de co criatório do gênero existente no distribuído gratuitamente. No mes- com os apicultores em Ibitinga, o com a realização de cursos e ins-
identificar os gargalos e a solução
1925 marca o início da atuação País em instituição de pesquisa); mo período, começamos a fazer agrônomo contabiliza o legado dei- talação da mais completa biblio-
para as dificuldades”, relembra o
efetiva da Secretaria na área apí- treinamento para produtores em uma feira anual com os apicultores, xado. “Começamos o trabalho com teca especializada em apicultura e
agrônomo.
cola, com a implantação do Parque manejo apícola; estágio curricular evento que mais tarde foi incor- sete apicultores e chegamos, no meliponicultura do Brasil”, explica
Modelo de Apicultura (Colmeal supervisionado para estudantes ou A partir daí, a vida do extensio- porado no calendário da cidade. final, com cerca de 40. Foram anos Constantino Zara Filho, presidente
Modelo) no Horto Florestal da profissionais de nível superior, com nista se entrelaçou com a ativida- Também capacitamos técnicos de de aprendizado mútuo, cujos fru- da Apacame.
Cantareira, no qual eram minis- formação compatível às atividades de. “Após a união dos apicultores, toda a Rede, em cursos no Centro tos são colhidos até hoje. Por conta
desenvolvidas na área de pesquisa delineamos um projeto que incluiu de Treinamento em Campinas. Sediada no Parque da Água
trados cursos aos interessados na de questões de mercado, mudan- Branca, a Associação tem um histó-
atividade. “Em 1930, o acervo do em apicultura; permuta de cera al- capacitações, cursos, visitas técni- Além disso, trabalhamos para a ças na agricultura local ou de foro
veolada comum e para criações de cas, palestras etc. Busquei conhe- criação da legislação que permitia rico de trabalhos conjuntos com a
Horto e suas atribuições foram in- íntimo alguns apicultores não es- Secretaria. Um deles foi a Exposição
corporados à Diretoria da Indústria zangões, nesse último caso, a insti- cimento e contei com o apoio de a instalação de Casas do Mel nos tão mais na atividade. No entanto,
tuição detém o único cilindro em pesquisadores, da USP de Ribeirão municípios”, conta o agrônomo. da Cadeia Produtiva da Apicultura
Animal, no Parque da Água Branca. o que importa é que os que estão e Produtos das Abelhas, em 1997,
Em 1935, instalou-se embriona- atividade no País. “Nosso objetivo é Preto. Mas o principal foi que me se consolidaram e tem a apicultura
No início da década de 1990, as que contou com a visita de mais de
riamente um centro criatório de fomentar e disseminar a atividade, tornei apicultor, apaixonado pelas como uma atividade rentável, além
ações se expandiram, culminando 60 mil pessoas.
abelhas na então Fazenda Mista fazendo uma divulgação efetiva da abelhas, como vários que conheci da paixão”.
com a instalação de uma pequena
de Criação de Pindamonhangaba. apicultura e de seus produtos, a im- ao longo do caminho, em mais de
Nas décadas subsequentes, as ati- portância da abelha no ecossiste- 20 anos dedicados à atividade”, ex-
ma e a difusão das pesquisas e ser- plica, acrescentando que, para am- Família Zovaro: quase 100 anos de história com a apicultura
vidades da pesquisa em apicultura
viços”, explicam as pesquisadoras. pliar o pasto apícola na região, im- Tudo começou em 1916, quando Antonio Zovaro, um imigrante italiano iniciou seu
foram gradativamente centraliza-
plementou um projeto de forma- projeto de apicultura no bairro de Vila Mariana, na cidade de São Paulo, transferindo-se,
das nesse local (atual Polo), culmi- Na esfera de debate com os in-
ção de mudas de plantas melíferas posteriormente, em 1918, para a cidade de Caieiras. “Tanto meu avô Antonio, como meu
nando com a transferência defi- tegrantes da cadeia produtiva da

Arquivo Radamés Zovaro


para incrementar a atividade. “Com pai Luiz, eram apaixonados pela atividade. Ambos criavam abelhas italianas (Apis mellifera
nitiva, em 1988, da Seção Técnica apicultura, a Secretaria instituiu, ligustica), sempre com a atenção voltada para a qualidade, no que diz respeito à produti-
de Apicultura do Instituto de em 1997, a Câmara Setorial vidade, mansidão etc. Eles criavam rainhas e enxames. As rainhas eram despachadas pelo
Zootecnia de Nova Odessa, onde de Produtos Apícolas que correio e os enxames transportados por estrada de ferro”, conta Radamés Zovaro, que deu
pesquisas foram intensificadas na se tornou um fórum para continuidade à paixão da família, destacando que acredita-se que Antonio Zovaro foi o
década de 1970”, relembram as discussão sobre os entraves introdutor das abelhas italianas em São Paulo, ao fazer a importação de rainhas em 1936.
pesquisadoras Maria Luisa T. M.F. e as soluções para o setor.
Alves e Érica W. Teixeira, respon- Neste ano, está prevista a Em 1942, tanto Antonio quanto o filho Luiz possuiam apiários próprios. “Havia uma saudável concorrência em casa. Na
sáveis pelas pesquisas no Polo, que reativação da Câmara. época, a Secretaria de Agricultura promovia exposições de animais, com premiações, no Parque da Água Branca. Na área
hoje engloba projetos, entre ou- de apicultura, os prêmios eram para abelhas melíferas, melíponas, cera bruta, cera alveolada, mel e materiais apícolas. Com
tros, ligados à tecnologia de produ- Ibitinga: exemplo de exceção da categoria de materiais, os outros prêmios eram ganhos pelo meu avô e pelo meu pai”, relembra Radamés.
tos apícolas, avaliação de sistemas extensão rural em No final da década de 1970, após um declínio na produção de mel, houve um aumento no interesse pelo consumo de
de produção apícolas e avaliação apicultura produtos naturais, e o mel ocupou um novo espaço. “Por isso, em 1984, eu e meu pai Luiz, abrimos uma empresa para traba-
do perfil químico e da origem botâ- lhar com o processamento de cera alveolada, fabricação de telas excluidoras e cursos de apicultura. “Minha família ganhou
nica dos produtos. Entre as décadas de
1970 e 1980, o município de um novo ânimo, que tinha se arrefecido com os altos e baixos da atividade após a entrada das abelhas africanas e a morte do
Sobre o desenvolvimento da Ibitinga, conhecido como a meu avô, que ocorreu em 1979”, explica Radamés, dizendo que o avô foi muito homenageado dentro e fora do Estado e que
pesquisa no Estado, Érica afirma Capital do Bordado, tam- o pai, falecido em 2003, além dos prêmios conquistados ao longo da vida, tinha muito orgulho de ver o seu nome estampa-
que “ao longo dos quase 100 anos bém poderia ganhar o título do na revista Time, em uma reportagem que foi feita em seus apiários.
50 ‫ ׀‬Casa da Agricultura
Aconteceu
Packing house construído com Governo do Estado aprova (CATI) e de Desenvolvimento dos
o apoio do Microbacias II é aumento de 83% no teto de Agronegócios (Codeagro).
inaugurado em São Miguel venda do PPAIS Os objetivos principais do Horta
Arcanjo O reajuste de 83% no teto de Educativa são incentivar a alimen-
venda do Programa Paulista da tação saudável, diminuir os riscos
Agricultura de Interesse Social de doenças como obesidade e dia-
(PPAIS), assinado pelo governa- betes e investir na educação am-
dor Geraldo Alckmin, foi publi- biental dos alunos de escolas pú-
cado no Diário Oficial do Estado blicas. Para atingi-los, é necessário
no dia 15 de janeiro e autoriza que os educadores e os cuidadores
que todo agricultor fornecedor das hortas nas unidades sejam ca-
de gêneros alimentícios para pacitados quanto aos valores do
as instituições públicas estadu- Programa, bem como a maneira
ais, passe a acessar um valor de adequada de se cultivar hortaliças.
R$ 22 mil por ano.
A capacitação contou com pa-
Desde quando entrou em vi- lestras e foi feita uma demonstra-
gor, em 2012, o PPAIS estipulou ção de como cultivar uma horta.
que no mínimo 30% das verbas Essa atividade foi realizada na
estaduais destinadas à compra Fazendinha Feliz, onde o Programa
de alimentos para serem usa- é desenvolvido com filhos de fun-
dos no preparo de refeições em cionários da CATI.
instituições públicas deveriam
ser utilizadas para adquirir pro- Secretária de Agricultura e
dutos da agricultura familiar, in
Abastecimento entrega nova
natura e manufaturados, com
o limite até então de R$ 12 mil frota de veículos para a CATI, por
anuais por família. O Programa meio do Projeto Microbacias II –
fez com que o Estado se tornas- Acesso ao Mercado
se o principal comprador dos pro- A secretária de Agricultura e
No dia 10 de janeiro foi inau- dutos da agricultura familiar, com Abastecimento do Estado de São
gurado, em São Miguel Arcanjo, o objetivo de melhorar a qualidade Paulo, Mônika Bergamaschi, esteve
na região de Itapetininga, o de vida dos trabalhadores no cam- em Campinas no dia 21 de março
packing house Frutas Sul Brasil, da po. para entregar novos veículos à CATI.
Cooperativa Agrícola Sul Brasil de A iniciativa faz parte das estratégias
Cerca de 700 agricultores, de 60
São Miguel Arcanjo. Esta é mais uma de fortalecimento institucional,
cidades paulistas, foram beneficia-
obra construída graças ao apoio desenvolvidas por intermédio do
dos até agora.
do Projeto de Desenvolvimento Projeto Microbacias II – Acesso ao
Rural Sustentável - Microbacias II - Educadores participam de Mercado. Foram entregues 173 car-
Acesso ao Mercado. Com 1.000m², capacitação do Programa Horta ros zero quilômetro para as Casas
o packing house tem uma estrutura Educativa da Agricultura pertencentes às 40
que permite selecionar, classificar, Regionais que realizam a extensão
embalar, armazenar e distribuir ao Entre os dias 11 e 13 de fevereiro, rural nos municípios paulistas.
mercado frutas e olerícolas. cerca de 350 educadores de esco-
las públicas municipais e estaduais, Para o coordenador da CATI,
Com as verbas do Microbacias II cuidadores de hortas, bem como José Carlos Rossetti, esse investi-
foi possível comprar um caminhão representantes de prefeituras, par- mento em infraestrutura é funda-
baú com capacidade para quatro ticiparam de mais uma etapa de mental para dar suporte aos traba-
toneladas, que fará a coleta dos capacitação do Programa Horta lhos da instituição.
produtos nas propriedades, os leva- Educativa, desenvolvido pela par- Essa foi a terceira entrega de veí-
rá até o packing house e depois ao ceria firmada entre o Fundo Social culos feita por meio do Projeto para
mercado; contratar a empresa res- de Solidariedade do Estado de São o fortalecimento dos trabalhos da
ponsável pelas obras; comprar os Paulo (Fussesp), idealizador e co- instituição, somando até agora um
materiais de construção e instalar a ordenador do Programa, presidido total de 353 carros distribuídos en-
parte elétrica da estrutura. Também pela primeira-dama Lu Alckmin, tre as Regionais da CATI, nos anos
foram adquiridas máquinas tais e a Secretaria de Agricultura e de 2012, 2013 e 2014.
como embaladoras, classificado- Abastecimento, que o execu-
ras, balanças, câmaras frias e outros ta por meio das Coordenadorias Leia as notícias completas no
equipamentos. de Assistência Técnica Integral site da CATI www.cati.sp.gov.br

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