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Periodicidade trimestral
ISSN 0103-5150
CDD 615.82
CDU 615.8
3
SUMÁRIO
EDITORIAL .................................................................................................................................................... 7
EDITORIAL
Resumo
A análise dos estudos das respostas eletromiográficas da musculatura que envolve a articulação do joelho,
juntamente com os procedimentos terapêuticos, pode fornecer ao terapeuta uma gama de informações
importantes para o tratamento das luxações recidivas da patela. Saber que o fortalecimento seletivo do
vasto medial pode ser realizado entre 90° e 50° de flexão do joelho e que os vastos medial e lateral podem
ser trabalhados com exercícios de curta duração e alta intensidade são apenas algumas das conclusões
a que chegamos. Apresentaremos os resultados obtidos visando principalmente a prevenção precoce da
agressão tissular da articulação femoro-patelar, bem como fornecer ao leitor subsídios para construir
programas de reabilitação que atuem com recursos bem fundamentados, evitando e alertando para o
problema sério que é a degeneração da articulação femoro-patelar no processo terapêutico.
Abstract
The analysis of studies the answers electromyographic musculature that involves the articulation of
the knee, together with the therapeutic procedures, they can supply the therapist, a range of important
information for treatment dislocations recidivas of the patella .Know the selective invigoration vastus
medialis can be accomplished among 90° and 50° of knee flexion, and the vastus medialis and lateralis
they can be worked with exercises of short duration and high intensity they are just some of the
conclusions one that we arrived. We will present the obtained results seeking mainly the precocious
prevention of the aggression tissular of the patellofemural, as well as to supply to the reader subsidies
to build rehabilitation programs that act better with resources based, avoiding and alerting for the
serious problem that is the degeneration of the articulation patellofemural in the therapeutic process.
INTRODUÇÃO
Sabe-se que o mecanismo que mantém a patela nivelada em seu eixo depende de vários
fatores, sejam eles bloqueios ósseos (hipoplasia do côndilo femural lateral, formato da patela), sejam eles
mecanismos cápsulo-ligamentares (1). A estabilidade femoro-patelar é mais dinâmica do que estática (2).
Essa estabilidade se torna possível pela ação e equilíbrio do músculo vasto lateral, trato iliotibial e complexo
cápsulo ligamentar, juntamente com o músculo vasto medial que traciona a patela medialmente na extensão
do joelho (3, 4, 5, 6, 7).
Quando esse mecanismo dinâmico e estático não funciona em harmonia, ocorre a instabilidade
femoro-patelar (8). Esses quadros são característicos, levando a dor nessa articulação devido aos desgastes
provocados pelos episódios de deslocamento da patela (4, 9). Esses eventos podem ser recorrentes
principalmente no adolescente, quando a dor é aguda e a deformidade é óbvia, e dependendo do grau,
podem se tornar luxações inveteradas e indolores. Essas luxações levam a certo desapontamento em
relação à reabilitação, pois é quase certo seu realinhamento por via cirúrgica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Faremos, então, uma retrospectiva na história de alguns trabalhos já publicados sobre a análise
eletromiográfica dos músculos que envolvem a articulação femoro-patelar e, a partir daí, analisaremos e
traçaremos alguns parâmetros para promover a prevenção precoce da agressão da superfície da articulação
femoro-patelar, bem como fornecer ao leitor subsídios para construir programas de reabilitação que atuem
com recursos melhor fundamentados, evitando e alertando para o problema sério que é a degeneração da
articulação femoro-patelar no processo terapêutico.
RESULTADOS
possuir uma distribuição aleatória de suas fibras, apresenta uma predominância de fibras tipo II. Da mesma
forma, o músculo vasto medial oblíquo (VMO) apresenta um padrão que é significativamente diferente do
VML, mas que se assemelha ao VLL, possuindo, então, maior concentração de fibras tipo II, isto é, de
contração rápida.
Para a ativação das fibras tipo II, preconiza-se exercícios de curta duração e alta intensidade,
porém essas fibras apresentam alta freqüência de despolarização, o que pode ocasionar fadiga na contração
e diminuição da força do músculo. Sczepanski e colaboradores observaram que exercícios realizados em
alta velocidade num equipamento isocinético ativaram preferencialmente as fibras do vasto medial oblíquo
em relação ao do vasto lateral (16).
Observamos, anteriormente, que o músculo vasto medial oblíquo (VMO) e músculo vasto
lateral longitudinal (VLL) apresentam fibras histologicamente parecidas e, portanto, não podem ser ativados
seletivamente no exercício como o que propôs Sczepanski. São essas e outras colocações que temos que
ter o cuidado de analisar segundo Monteiro (13).
Para se elaborar um programa de reabilitação que vise a recuperação funcional muscular
seletiva, é importante o terapeuta compreender a arquitetura muscular da porção que está sendo trabalhada.
Portanto, entender e conhecer o comportamento de cada tipo de fibras musculares é condição primordial
para um trabalho consciente. O músculo vasto lateral é composto aproximadamente por porcentagens
equivalentes de fibras tipo I e tipo II, com fibras tipo IIb (metabolicamente oxidativa-glicolíticas e alta
resistência a fadiga) predominando sobre o tipo IIc (fibras indiferenciadas e poliinervadas, ambos tipos de
metabolismo I e II).
Edgerton mostrou a presença de 32% de fibra tipo I no vasto lateral (17). Para Travnik, o VML
e o V MO tem 59,6% e 44% respectivamente de fibras tipo 1; e 6,3% e 15% de fibras tipo IIb (metabolicamente
glicolítica e fadiga rápida) (16).
Considera-se que a melhor angulação do joelho para se trabalhar o vasto medial oblíquo
(VMO) onde esse é o músculo que tem que ser mais freqüentemente trabalhado, nos programas de
reabilitação, independente da patologia (13).
Em cadeia cinética aberta a 90° de flexão do joelho, há menor estresse femoro-patelar do que
a 50°, que por sua vez é menor do que o estresse encontrado a 15°. Além disso, a atividade eletromiográfica
do músculo VMO é significativamente maior do que a do músculo VLL e VLO, a 50 e a 90 (13). Alguns
resultados de pesquisas evidenciaram que o VMO é mais ativo do que o VLL e VLO na contração isométrica
voluntária máxima (CIVM) a 15°, no entanto esta diferença de ativação, pelos resultados, são maiores a 50°
e 90° do que nos últimos graus de extensão (18, 19, 13).
Em relação ao tipo de movimento selecionado para o trabalho de equilíbrio muscular, num
processo de deslocamento da patela, têm-se destaque os exercícios isométricos, pois são os mais utilizados
e preconizados no início do tratamento e situação onde existe comprometimento da articulação femoro-
patelar. Basmajian (11), Lieb e Perry (20) e Moller et al. (21) preconizaram o uso dos exercícios isométricos
para o fortalecimento do vasto medial e de SLR para o músculo reto da coxa. Basmajiam (11) e Knight (22)
verificaram que a força era obtida mais eficazmente nos exercícios isotônicos de extensão.
Como se vê, existem várias maneiras de se relacionar clinicamente, sendo mais razoável abrir
um leque de informações, e a partir delas, adaptá-las ao paciente seletivamente, de modo que ele se
adapte a sua condição. Desejamos então que o presente trabalho colabore para que o leitor tenha mais
informação e tome por si só suas conclusões terapêuticas.
• o tratamento conservador deve ser ponderado como a primeira opção nos casos de luxações
recidivas da patela;
• é indicado iniciar o tratamento com exercícios isométricos do quadríceps, nos casos de
comprometimento da articulação femoro-patelar;
• o ângulo de flexão do joelho 90 a 50° pode ser utilizados para fortalecimento seletivo do vasto
medial;
• a adução da coxa pode servir como acessório para o fortalecimento do vasto medial;
• o exercício isotônico pode ser utilizado para o fortalecimento do quadríceps de uma maneira
global;
• para o fortalecimento do vasto medial e do vasto lateral, deve-se utilizar de exercícios de curta
duração e alta intensidade;
• é importante o alongamento da musculatura lateral do joelho (tracto iliotibial e tensor da fáscia
lata), bem como isquiotibiais e gastrocnêmios;
• o terapeuta tem que ter em mente que cada paciente tem que ser analisado profundamente e
baseado na sua condição clínica escolhe-se a melhor abordagem terapêutica ao seu problema.
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22. Knight KZ, Martin JA, Londeree BR. EMG comparison of quadriceps femoris activity during knee
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Renata Marquetti
Graduada em Fisioterapia no Centro Universitário Maringá. Maringá - PR. e-mail: refisio@ibest.com.br
Resumo
A osteoartrite de joelho é uma das doenças reumáticas mais prevalentes pelo fato de suportar
grandes cargas de peso. O quadro clínico de dor, rigidez articular e perda da função freqüentemente
levam à redução de capacidade funcional e da qualidade de vida. Uma das principais intervenções
terapêuticas no tratamento é a fisioterapia aquática, porém há poucos estudos que verificam os seus
benefícios. Foi realizado um estudo com 10 pacientes com diagnóstico de osteoartrite de joelho,
de ambos os sexos, com média de idade de 56 anos. Antes e após o tratamento, os pacientes foram
avaliados por meio de uma ficha pré-elaborada que continha vários instrumentos. O tratamento
consistiu de 20 sessões de fisioterapia aquática, com freqüência de 3 vezes semanais e duração de
50 minutos por sessão. Considerando-se variáveis significantes com p-valor menor que 0,05. Ao
término das 20 sessões, os pacientes apresentaram melhora da amplitude de movimento de flexão
(ativo e passivo p-valor = 0,0025) e extensão de joelho (ativo p-valor = 0,0089 e passivo p-valor
= 0,0544), melhora significante tanto no Índice de Lequesne quanto no WOMAC (p-valor = 0,00253).
Em relação à força muscular de quadríceps, não houve dados estatisticamente significantes pós-
tratamento (p-valor = 0,0544). Por meio dos achados deste estudo, sugere-se que a fisioterapia
aquática possa ser uma boa alternativa de tratamento fisioterapêutico nos pacientes com
osteoartrite de joelho.
Abstract
The knee osteoarthritis is one of the most predominated rheumatic diseases because they bear a
great amount of weight. The symptoms of pain, articular rigity and loss of function frequently
lead to reduction of functional ability and quality of life. One of the most essential treatment
therapy intervention is aquatic therapy, however there are few studies that verify its benefits. A
study was done with ten patients with knee osteoarthritis, with both sexes, with an average age
of 56 years old. Before and after the attendance the patients were examined by a pre-organized card
with many topics. The attendance was done in twenty aquatic therapy session, three times a week,
fifty minutes lasting. At the end of the twenty sessions, the patients improved their bend range
of motion (active and passive p value = 0,0025) and knee stretching (active p value = 0,0089 and
passive p value = 0,0544) important improvement was noticed as much Lequesne index as
WOMAC (p value = 0,00253). Related to quadriceps muscular strength there was not differences
after treatment (p value = 0,0544). Through this study, suggests the aquatic therapy as an
alternative in physiotherapeutic treatment to knee osteoarthritis patients.
INTRODUÇÃO
A osteoartrite (OA) ou osteoartrose é uma das doenças reumáticas mais prevalentes, estando
associada à dor, rigidez articular, deformidade e progressiva perda da função (1, 2). Pode-se considerar
que esta afecção acometa o indivíduo em múltiplas dimensões: a nível orgânico e até mesmo social
(3).
Apesar de não haver estudos que estabeleçam a incidência nacional, Marques e Kondo (4)
afirmam que a OA tem uma incidência bastante elevada, ocupando o terceiro lugar na lista dos
segurados da Previdência Social que recebem auxílio-doença no Brasil. Deste modo, esta afecção
compreende 65% das causas de incapacidade, atrás somente de doenças cardiovasculares e mentais.
Por ser uma doença de caráter lentamente progressivo, afeta primariamente indivíduos a
partir da meia-idade, igualmente em ambos os sexos, embora na mulher a incidência é maior após o
período da menopausa, devido à redução dos níveis hormonais (5).
Os locais mais comuns de acometimento da doença são as articulações das mãos, dos pés,
dos joelhos, dos quadris, e a coluna cervical e lombar (1). O joelho entra nesta incidência pelo fato de
suportar grandes descargas de peso (6).
A etiologia da OA é causa de polêmica, sendo classificada em primária e secundária (6). A
lesão é considerada primária quando sua causa é desconhecida, ou seja, com o envelhecimento e a
sobrecarga mecânica nas articulações, a cartilagem enfraquece e há desgaste, ainda podendo haver
associação de um fator hereditário agravante. No caso da secundária, um fator inicial pode ser
identificado, como traumatismos articulares, infecções articulares, necrose avascular, doenças
inflamatórias, doenças metabólicas e doenças hemorrágicas. A OA ainda pode ser considerada
conseqüência de uma carga anormal sobre uma cartilagem normal ou de carga normal sobre uma
cartilagem anormal (7, 8).
Pode-se relacionar a presença de vários fatores de risco que predispõem ao surgimento da
OA, em especial no joelho, dentre eles: obesidade, atividades ocupacionais repetitivas, períodos
prolongados em posição agachada e ajoelhada, lesões de meniscos e ligamentos (6) e atividades
esportivas de alto nível competitivo (que impõem grande impacto sobre o membro inferior), fatores
endócrinos, genéticos, idade, fatores étnicos e constitucionais (1).
A patologia desta afecção envolve alterações específicas na cartilagem articular e no osso
subcontral. A cartilagem osteoartrósica sofre degradação com surgimento de fibrilações e erosões,
redução progressiva da sua espessura até o seu desaparecimento; o osso subcondral passa a receber
maior impacto mecânico devido à redução do amortecimento da cartilagem, reagindo com intensa
remodelação, tornando-se mais denso, prolongando-se nas bordas da superfície articular e formando
as exostoses marginais, denominadas osteófitos. No estágio final da doença, também chamado
eburneação óssea, o osso articular pode ficar completamente desnudado e sua superfície se torna lisa
e brilhante (8).
Com relação ao quadro clínico da artrose, seu início é insidioso, normalmente não-relacionado
à história de trauma. A dor, que é de origem mecânica, inicialmente se associa ao movimento e, na fase
mais avançada da doença, com o repouso, aparecendo com freqüência à noite (2). Outros aspectos
importantes são a rigidez, que normalmente é matinal, e a crepitação, que pode ocorrer com ou sem o
movimento resistido.
Além dos sintomas já descritos, na OA de joelho é comum o aparecimento de edema,
frouxidão ligamentar, diminuição e/ou perda do movimento, contraturas capsulares, fraqueza muscular,
espasmos, fibrose e deformidades progressivas em flexão, fatores estes agravantes para a instabilidade
articular (1). Também pode haver deteriorização da propriocepção ou senso de posição articular (9).
O objetivo principal do tratamento da OA de joelho não deve estar somente direcionado ao
alívio dos sintomas e sim à melhora da capacidade funcional. Isso se deve ao fato de que não há modalidade
específica estabelecida que leve à cura da OA. Dentre as alternativas terapêuticas, pode-se mencionar as
não-medicamentosas, as medicamentosas e a cirúrgica (10).
Como primeira escolha terapêutica, o tratamento não-medicamentoso inclui educação do
paciente, perda de peso, fisioterapia, programas de condicionamento físico e uso de órteses, associadas ou
não ao uso de drogas analgésicas antiinflamatórias nos casos onde não se obtêm boas respostas no
controle da dor e melhora da função (1, 11). Quando o tratamento conservador não se mostra eficaz, é
considerada a cirurgia para a colocação de prótese de joelho (1, 12).
A atuação da fisioterapia junto aos cuidados médicos apropriados pode evitar que o impacto da
osteoartrite cause maiores danos e leve à limitação funcional. Assim, sua proposta deve seguir vários objetivos,
tais como: o alívio da dor, a prevenção da perda de trofismo, força muscular e redução de amplitude de
movimento. Além disso, outros benefícios, como a melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida
podem ser alcançados por meio da execução de um adequado programa terapêutico (4).
A fisioterapia aquática pode ser considerada como uma das principais intervenções terapêuticas
no tratamento da osteoartrite de joelho, porém há poucos trabalhos que verifiquem seus benefícios. As
propriedades físicas e fisiológicas da água possibilitam a realização de exercícios dificilmente executados em
solo, e que, associados à maior amplitude de movimento e à temperatura elevada da água, aumentam a
mobilidade articular, o controle muscular e a resistência, aliviando dores e acelerando o processo de recuperação
funcional (10, 13). Ao mesmo tempo, o programa terapêutico executado na água é uma forma mais segura de
fortalecimento, pois não aumenta o atrito articular, como é o caso dos exercícios executados em solo (14).
Foley et al. (15), em um ensaio clínico randomizado, compararam os efeitos dos exercícios de
fortalecimento em 105 pacientes com osteoartrite, realizados em solo, com outros pacientes que faziam os
exercícios em piscina. Estes foram randomizados em três grupos (solo, água e grupo controle), sendo
distribuídos 35 pacientes em cada grupo. Os resultados mostraram que os exercícios realizados em água e
grupo controle melhoraram a capacidade funcional dos pacientes, mas os realizados em solo foram mais
efetivos na melhora de força muscular.
Em um estudo sobre avaliações econômicas dos exercícios aquáticos para pessoas com
osteoartrite, Patrick el al. (14) verificaram significante ganho de força e amplitude de movimentos nas
articulações afetadas, além de melhora de função e diminuição da dor.
Minor et al. (10) também verificaram que os exercícios aquáticos, de forma aeróbica, assim
como a caminhada em solo, mostraram ser alternativas terapêuticas efetivas em pacientes com artrite
reumatóide e osteoartrite.
Aguiar Junior e Gêremias (13) utilizaram 10 sessões de fisioterapia aquática no tratamento da
osteoartrite de joelho em 4 indivíduos e verificaram as variações de freqüência cardíaca, pressão arterial e
amplitude de flexão de joelho. Foram obtidos resultados significativos apenas no ganho de flexão de joelho.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado na clínica de fisioterapia do Centro Universitário de Maringá - CESUMAR,
na cidade de Maringá/PR, no período de abril a agosto de 2004.
Foram selecionadas fichas de encaminhamento de indivíduos de ambos os sexos, maiores de
40 anos, que procuraram o ambulatório de fisioterapia com diagnóstico de osteoartrite de joelho. Após
entrar em contato com os pacientes e esclarecê-los da metodologia do estudo, aqueles que concordaram
em participar assinaram voluntariamente um termo de consentimento livre e esclarecido, sendo, então,
incluídos no estudo.
Além da participação voluntária, os indivíduos selecionados preencheram aos seguintes critérios
de inclusão: diagnóstico radiológico (17) e clínico de OA de joelho uni ou bilateral; deambulando com ou
sem dispositivos de auxílio à marcha; apresentando dor em um ou ambos os joelhos de freqüência constante
ou intermitente no último mês; apresentando nível cognitivo suficiente para entender os procedimentos e
acompanhamento às orientações dadas. Foram excluídos aqueles que tinham sido submetidos a cirurgias
prévias no joelho, os portadores de outras doenças inflamatórias e obesidade mórbida, aqueles que receberam
previamente outra forma de tratamento (sendo permitido o medicamentoso) e os que referiram
impossibilidade de freqüentar as sessões necessárias para a participação no programa. Todos os pacientes
apresentaram exame dermatológico como condição e permissão de entrada na piscina.
Após a seleção e inclusão, os pacientes foram avaliados por uma discente do curso de fisioterapia,
mediante uma ficha pré-elaborada. Foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação: o Índice de
Lequesne, para verificar as características da dor, a capacidade de deambulação e o grau de dificuldade em
realizar tarefas de locomoção (18); o Índice de WOMAC, sendo mais específico e eficaz para detectar
rigidez, dor e capacidade funcional (5, 19, 20, 21); e, para qualidade de vida, o SF-36, um questionário
multidimensional englobando capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade,
aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental e comparação entre as condições de saúde atual e as
de um ano atrás (2). Estes instrumentos foram previamente validados no Brasil e têm sido utilizados
freqüentemente em pesquisas de intervenções para a OA de joelho (18).
Além dos instrumentos específicos para OA de joelho, foi realizada prova de função muscular
manual de quadríceps e cirtometria de coxa.
O tratamento consistiu de 20 sessões de fisioterapia aquática, com freqüência de três vezes por
semana e duração de 50 minutos por sessão, formando-se grupos de no máximo 4 pacientes. O protocolo
de exercícios elaborado englobou cinco fases, sendo, porém, adaptado ao grau de dificuldade de cada
paciente (Tabela 1).
Fase 3: - Ex ercício de cadeia cinética fechada, ou seja, flexão e extensão de joelho, tornozelos e
Fortalecimento quadril (agachamento) com apoio na barra lateral da piscina (quatro séries de 10 repetições,
com intervalos de 10 segundos entre as séries).
- Ex ercícios de quadrante – adução e abdução de quadril com extensão de joelhos e
extensão de quadril com extensão de joelhos – ( duas séries de 10 repetições para cada
membro inferior, com intervalo ativo entre as séries).
- Exercícios de chute – extensão de quadril associados à flexão de j oelho seguido de flexão
de quadril e extensão de joelho (duas séries de 10 repetições cada membro inferior, com
intervalo ativo).
Duração de 15 minutos.
Fase 4: - Realizado com prancha proprioceptiva.
Propriocepção Duração de 5 minutos.
Fase 5:
Relaxamento - Realizado com auxílio de flutuadores e colete cervical.
Duração de 10 minutos.
Na décima sessão do tratamento, a resistência na execução dos exercícios foi aumentada por
meio de tornozeleiras de peso (1kg) em todos os pacientes. O nível de profundidade da água manteve-se
em 1,20 m e a temperatura média entre 32° a 34°.
RESULTADOS
Foram avaliados 12 pacientes, sendo que 2 destes (ambos do sexo feminino) desistiram do
tratamento por se queixarem da má situação climática externa. Completaram o estudo, então, 10 pacientes
(Tabela 2).
A amostra se constituiu de 100% de pessoas alfabetizadas, das quais 70% pertenciam à classe
funcional III. A maioria dos participantes deste estudo foi do sexo feminino (90%), com faixa etária variando
entre 32 e 74 anos de idade (média de 56 anos e coeficiente de variação de 41,15%). Grande parte destes
(70%) apresentava o problema bilateralmente, sendo que em 50% dos pacientes há mais de 30 meses.
Após as 20 sessões, os pacientes foram reavaliados, pelo mesmo avaliador inicial, pela ficha.
A análise estatística dos resultados foi realizada comparando os dados iniciais do tratamento
com os finais. Utilizou-se o Teste de Hipóteses para calcular as variáveis, sendo aplicado o Teste dos
Pontos de Wilcoxon para dados pareados. Como regra de decisão para rejeição ou não da hipótese H0,
estipulou-se que quando p-valor fosse menor que 0,05 (5% de significância) rejeitaria a H0, e quando o p-
valor fosse maior ou igual a 0,05 não refutaria a H0.
Tanto no Índice de Lequesne quanto no WOMAC, o benefício foi evidente, sendo a mediana
após tratamento menor que a prévia (p-valor = 0,00253). Deste modo, demonstrou-se importante melhora
nestes aspectos (Figura 1).
E
B
A
N
C
C
ES
A
A
A
M
U
M
Q
O
O
LE
W
W
W
FIGURA 1 - Análise da capacidade funcional utilizando o valor médio, antes e após o
tratamento, pelos Índices de WOMAC (seções A, B e C) e Lequesne
DISCUSSÃO
A amostra desta pesquisa foi caracterizada por indivíduos em sua maioria do sexo feminino,
aspecto que está de acordo com os achados da literatura, que referem maior comprometimento deste sexo
(5).
Com o protocolo de exercícios aquáticos aplicado, obtiveram-se benefícios no que se refere à
melhora da amplitude de movimento em flexão e extensão de joelho, resultados estes condizentes com
vários estudos realizados sobre o assunto (10, 13, 14, 16).
Também foi observada uma diminuição significante no quadro álgico, avaliado pelos Índices
de Lequesne, WOMAC e pelo questionário SF-36, o que concorda com os trabalhos de Minor et al. (10),
Patrick et al. (14), Wyatt et al. (16) e Aguiar Junior e Gêremias (13).
A melhora da capacidade funcional, aspecto também verificado por meio dos três instrumentos
demonstrados, foi condizente com as pesquisas de Patrick et al. (14) e de Foley et al. (15).
Em relação ao ganho de força muscular, os resultados deste estudo não foram significantes, o
que está de acordo com Foley et al. (15). Estes autores, apesar de demonstrar benefícios em vários outros
aspectos com a execução da fisioterapia aquática, só encontraram melhora da força muscular nos pacientes
submetidos à terapia em solo. Estas observações contradizem trabalhos anteriores que já obtiveram importante
melhora em força e trofismo muscular (15, 16).
Não foram encontrados trabalhos específicos de fisioterapia aquática para OA de joelho que
tenham verificado a redução de edema. Nesta pesquisa, notou-se uma diminuição de cirtometria de coxa,
achado este que pode estar relacionado à redução de edema. Há influência, porém, das alterações de
trofismo muscular, podendo haver confusão na tentativa de se considerar que houve melhora ou não neste
aspecto.
CONCLUSÃO
Em relação aos pacientes tratados neste estudo, pode-se observar que a fisioterapia aquática
alcançou bons resultados no ganho de amplitude de movimento, na melhora do quadro álgico e da
qualidade de vida. Estes achados foram satisfatórios, já que o objetivo principal deste estudo foi melhorar
a capacidade funcional e, conseqüentemente, a qualidade de vida destes pacientes.
É de extrema relevância ressaltar que, apesar da pesquisa ter sido realizada com uma amostra
pequena, os resultados foram significantes estatisticamente.
Da mesma forma, seria interessante verificar se os benefícios alcançados com esta modalidade
terapêutica podem ser mantidos após o término das sessões, já que não se seguiu um período de
acompanhamento dos pacientes pós-intervenção fisioterapêutica.
Apesar de não ter sido realizada nenhuma avaliação para graduar conforto e motivação dos
pacientes, percebeu-se uma melhor expectativa por resultados positivos e maior facilidade na execução
dos exercícios demonstrada por eles. Isso se deve ao fato de o tratamento ter sido realizado em um
ambiente mais agradável e favorável que o solo. Além do ambiente, o fato de ter sido executado em
pequenos grupos, merece destaque com relação ao estímulo de socialização, o que também pode ter
influenciado na melhora da qualidade de vida.
Deste modo, é de grande importância que se realizem mais pesquisas, com amostra maior, e
que estas sejam, de preferência, uma comparação da fisioterapia aquática com as demais modalidades de
intervenção, ou mesmo com a terapia em solo. Por meio destas possivelmente poderá ser comprovada a
efetividade desta modalidade no tratamento de pacientes com osteoartrite de joelho.
REFERÊNCIAS
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Resumo
Abstract
This study aimed to characterize the musculoskeletal discomforts noticed among different groups
of workers formed according to age range, gender and occupation. A transversal study was
carried out with 436 people from a water and sewage company, in 2 age groups, like this: 291
young adults and 145 middle-aged adults. The sample was composed of 227 women and 209 men.
Considering the kind of jobs, 179 had sedentary work and 257 physically light job activities. The
instruments included a sociodemographic and occupational questionnaire of characterization
and another one concerning the complaints related to musculoskeletal discomfort noticed in the
last six months and in the last seven days. Descriptive statistic and inferential tests involving
the non-parametric variance analysis technique (Mann-Whitney) were applied. The results
showed that in the comparison between: 1) the age ranges, sedentary male young adults reported
more symptoms, in the last six months and in the last seven days; 2) the genders, in middle-aged
women, not considering the job, the differences of answers were always significant in the last six
moths; 3) the kinds of jobs, young male adults with physically light job activities reported
significantly more symptoms, in the last six months; 4) the genders, in the last seven days, women
with physically light activity, not considering their age, reported more symptoms and with
significant difference. Thus, there is a predominance of discomfort in women, in young male
adults and middle-aged with physically light activity.
INTRODUÇÃO
Os desconfortos musculoesqueléticos percebidos podem ser definidos como relatos de percepção
física desagradável e de sintomas físicos, tais como dor, sensação de peso, formigamento e fadiga (1).
Estudos de prevalência revelaram que de 10 a 20% da população referiram-se à dor lombar, 6,9% à dor nos
ombros e 5,9 a 12% à dor na coluna cervical, em algum momento da vida (2).
Lock et al. (3) estudaram 1546 indivíduos ingleses por meio de um questionário e verificaram
que a prevalência aumenta de 145 por 1000, entre os 18 e os 24 anos para 223 por 1000, entre 55 e 64 anos.
Urwin et al. (4) notaram que a freqüência de desconfortos é de 65% em indivíduos na faixa etária de 16 a
44 anos e 36% na de 65 a 74 anos.
Em estudo realizado com 8000 finlandeses, Mailis e Papagapiou (5) verificaram que 9,5% dos
homens e 13,5% das mulheres apresentavam cervicalgia. Resultados do General Household Survey de 1995
revelaram que a taxa de desconfortos musculoesqueléticos nas mulheres adultas é de 159 por 1000 e nos
homens adultos de 143 por 1000 (4).
Tuomi et al. (6) avaliaram a prevalência de desconfortos em diferentes categorias profissionais
e notaram que há maior número de sintomas nas atividades ocupacionais pesadas e fisicamente leve
quando comparadas com as sedentárias.
De acordo com Sjogren-Ronka et al. (7), há necessidade de estudos que explorem a associação
direta e indireta entre demanda física no trabalho e as variáveis pessoais, físicas, psicológicas, sociais e do
meio ambiente em diferentes ocupações. Em relação a estudos dessa natureza no Brasil, verifica-se total
carência de dados sistemáticos sobre a relação entre a presença de desconfortos musculoesqueléticos, a
idade, o gênero e tipo de ocupação.
Investigações nesses domínios podem ser utilizadas como apoio para os profissionais do Serviço
de Saúde Ocupacional de empresas em suas avaliações e estudos sobre o trabalho e dos fatores que os
afetam; além de oferecer subsídios para medidas de reabilitação e proposição de programas preventivos
que contribuirão para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e aumento de suas chances de
uma velhice satisfatória.
Nesse sentido, considerando o exposto, o objetivo proposto para esta investigação foi caracterizar
os desconfortos musculoesqueléticos percebidos em diferentes grupos de indivíduos compostos por critérios
de gênero, faixa etária e tipo de ocupação.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo transversal envolvendo adultos jovens e de meia-idade, que executam
atividades ocupacionais sedentárias e fisicamente leves, de ambos os gêneros. As variáveis antecedentes
foram representadas pelos dados sociodemográficos (faixa etária, gênero e tipo de ocupação) e a variável
critério pelos desconfortos musculoesqueléticos percebidos.
Sujeitos
O estudo foi desenvolvido com a participação de 436 trabalhadores, recrutados nos diversos
setores de uma empresa de água e esgoto da cidade de Bauru, São Paulo. Destes, 291 eram adultos jovens,
de 20 a 35 anos, e 145 de meia-idade, na faixa etária entre 36 e 50 anos, que totalizavam 227 mulheres e
209 homens. Em relação ao tipo de ocupação, 179 exerciam atividades sedentárias e 257 executavam
trabalho fisicamente leve.
As condições propostas para o plano analítico definiram que todos os sujeitos deveriam estar
trabalhando há mais de um ano em atividades sedentárias ou fisicamente leves. O critério para classificar
os sujeitos como sedentários e fisicamente leve no trabalho foi a estimativa de consumo calórico exigido
no trabalho (8).
Procedimentos
Para avaliação dos desconfortos musculoesqueléticos foi utilizado o questionário nórdico (9),
adaptado para a cultura brasileira por Barros (10). O instrumento é composto de três questões: a primeira
pergunta se o sujeito sentiu desconfortos (formigamento, dor, sensação de peso, dormência) nos últimos
seis meses em regiões específicas do corpo (pescoço, ombro, cotovelo, punho e mão, coluna dorsal,
coluna cervical, coluna lombar, quadris, coxas e nádegas, joelhos e tornozelos e pés); a segunda, se sentiu
desconfortos nos últimos sete dias, nas mesmas regiões corporais e, a terceira, se nos últimos seis meses o
sujeito deixou de fazer atividades normais por causa de alterações nos segmentos corporais já citados.
A aplicação dos instrumentos foi feita em sessões individuais, realizadas nos locais de trabalho
dos sujeitos, após autorização dos responsáveis e com a concordância dos sujeitos, que foram informados
sobre os objetivos do estudo.
Análise estatística
RESULTADOS
TABELA 1 - Medidas descritivas do número total de desconfortos musculoesqueléticos percebidos, nos últimos seis
meses, segundo gênero, faixa etária e tipo de ocupação.
Tipo de ocupação
Gênero Faixa etária
Sedentários Fisicamente leve
3,50 ± 1,90 bAα * 3,00 ± 2,00 aAα
20 a 35
(0,00; 8,00) ** (0,00; 8,00)
Masculino
1,00 ± 1,50 aAα 3,00 ± 2,00 aAβ
36-50
(0,00; 8,00) (0,00; 7,00)
TABELA 2 - Medidas descritivas do número total de desconfortos musculoesqueléticos percebidos, nos últimos
sete dias, segundo gênero, faixa etária e tipo de ocupação.
Tipo de ocupação
Gênero Faixa etária
Sedentários Fisicamente leve
3,00 ± 2,00 bAα* 2,00 ± 1,50 aAα
20 a 35
(1,00; 8,00) ** (1,00; 9,00)
Masculino
2,00 ± 1,00 aAα 2,00 ± 1,50 aAα
36-50
(1,00; 7,00) (1,00; 8,00)
DISCUSSÃO
trabalho similar, fator que aumenta o risco de sobrecarga musculoesquelética. O segundo está relacionado à dupla
jornada de trabalho – na empresa e em casa, gerando redução no período de descanso e sobrecarga para os
tecidos musculoesqueléticos. O terceiro fator refere-se ao planejamento das estações de trabalho, que são inadequadas
para as mulheres, pois são projetadas com base em medidas antropométricas de homens. Como conseqüência,
tendem a ocorrer posturas inadequadas, com aumento dos riscos de lesões musculoesqueléticas (12, 15).
Outra explicação sugerida na literatura é de ordem psicossocial. Acredita-se que as mulheres de fato
não têm mais desconfortos do que os homens, mas se queixam com maior freqüência do que eles. De acordo com
esta linha, os contrastes resultam das diferenças na predisposição de homens e mulheres quanto a relatar as
informações (15). Talvez as mulheres tenham mais liberdade social para falar sobre seus sintomas e sentimentos,
ou talvez elas tenham uma capacidade de auto-observação mais desenvolvida, devendo-se ambos os eventos a
fatores sociais e educacionais.
Os homens adultos jovens do presente estudo apresentaram significativamente mais desconfortos
musculoesqueléticos quando comparados à faixa etária de meia-idade, fixado gênero e tipo de ocupação. De
Zwart et al. (16), em um estudo sobre desconfortos, idade e exigências do trabalho, notaram que os indivíduos na
faixa etária de 20 a 30 anos apresentam freqüências elevadas de desconfortos.
Tal fato pode ser explicado pela falta de experiência e pela pequena habilidade para exercer os
movimentos no trabalho, contribuindo, assim, para a maior susceptibilidade para o aparecimento dos desconfortos
musculoesqueléticos (17).
Os dados do presente estudo revelaram que na comparação entre os tipos de ocupação, fixados
gênero e faixa etária, os indivíduos que exercem trabalho fisicamente leve apresentam maiores freqüências de
desconfortos. McDonald (18), em um estudo epidemiológico sobre as doenças no trabalho, notou que o trabalhador
que executa atividade fisicamente leve apresentou maiores taxas de desconfortos. De Zwart et al. (15) analisaram
a relação entre os desconfortos, idade, gênero e demanda física no trabalho em quatro categorias de ocupação
(sedentário, fisicamente leve, físico e mental e fisicamente pesado). Verificaram que os indivíduos que exercem
trabalho fisicamente pesado ou fisicamente leve apresentaram maior freqüência de desconfortos dos que os que
executam trabalho sedentário.
Uma possível explicação pode estar relacionada às características destas ocupações, nas quais o
trabalhador é exposto a tarefas que exigem transporte de cargas, flexões e rotações da coluna vertebral, postura
em pé por longos períodos, movimentos repetitivos e carga estática (19, 20).
Os dados do presente estudo mostraram que há predomínio da manifestação dos desconfortos nas
mulheres, nos homens adultos jovens e nos homens de meia-idade que exercem trabalho fisicamente leve.
Acredita-se que dados dessa natureza e de outras que dela decorrerem podem contribuir para a compreensão das
relações entre variáveis e poderão oferecer contribuições úteis ao planejamento de medidas visando à manutenção,
à melhora e à promoção do bem-estar físico e psicológico dos cidadãos.
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Gustavo Christofoletti
Prof. MS. do Departamento de Fisioterapia da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
e-mail: gustavo_fisiophy@yahoo.com.br
Francine Hygashi
Especialista em Neurologia Infantil pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
e-mail: francinehygashi@hotmail.com
Resumo
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida (QV) pode ser definida como a
percepção do indivíduo quanto à sua posição na vida e no contexto da cultura e sistemas de valores
em que se vive, podendo ser alterada por fatores intrínsecos e extrínsecos. É sabido que o
comprometimento motor, afetado de diferentes maneiras na Paralisia Cerebral (PC), pode levar à
exclusão social do sujeito. O presente estudo teve como objetivo analisar a influência do
acometimento motor sobre a QV de crianças com PC atendidas no Ambulatório de Fisioterapia
Aplicada à Neurologia Infantil da Unicamp. Foi realizado um estudo de corte transversal, de caráter
descritivo, onde 33 crianças foram avaliadas por meio do questionário AUQEI-modificado. Esse
questionário é composto por 40 itens relacionados aos domínios: atividade, saúde, função e
separação, e as respostas foram classificadas em muito triste, triste, feliz e muito feliz. Das 33
crianças, 5 (15,16%) foram diagnosticadas tetraparéticas, 9 (27,28%) diparéticas e 19 (57,56%)
hemiparéticas. Dos tetraparéticos, 40% não apresentam marcha independente; dos que apresentam,
20% ficam tristes quando correm. Todos se sentem tristes quando pegam objetos com a mão mais
comprometida. Dos diparéticos, 33,33% sentem-se tristes quando pensam no pai e 22,23% não
ficam felizes ao verem a própria foto. Dos hemiparéticos, 42,10% ficam tristes ou muito tristes ao
irem ao médico; enquanto 47,05% ficam tristes quando pensam na mãe e 29,41% quando pensam
no pai. No total, 80% dos tetraparéticos e 100% dos diparéticos e hemiparéticos disseram gostar
da sessão de fisioterapia. Os dados refletem uma heterogeneidade das respostas analisadas,
segundo o grau de comprometimento motor, influenciando, assim, na QV. Uma intervenção
interdisciplinar é indispensável para melhor promoção de saúde.
Abstract
Relating to the World Health Organization, quality of life (QoL) can be defined as the perception
that the individuous have amoung position on life and context of culture and systems of living
values, beeing changed by intrinsec and extrinsic factor. It is know that motor disability, affected
in different ways on Cerebral Palsy (CP), can lead to social exclusion. The aim of this study was
to analyse the influence that motor disabilities exercises on QoL of children with CP assisted at
Unicamp’s Physical Therapy Childsh Neurology Ambulatory. This is a descriptive, transversal
design study, where 33 children were evaluated with the AUQEI-modified questionnaire. This
questionnaire is compound by 40 itens related with the domains: activities, health, function and
separation, which answers were classified as very said, said, happy, and very happy. From this
33 children, 5 (15,16%) were diagnosted as tetraparetics, 9 (27,28%) as diparetics and 19
(57,56%) as hemiparetics. Analysing the tetraparetic group, 40% didn’t have independente gait;
from thoses who have, 20% becomes said when are running. Everyone becomes said when catch
an object with the hand more compromised. From the diparetic group, 33,33% fills said when
think on father and 22,23% are not happy when see the own photo. From the hemiparetic group,
42,10% said that they fill said or very said when go to the doctor. As long as 47,05% are said when
they think on mother, 29,41% fills said when think on father. Relative to physiotherapy, 80% of
the tetraparetic grupou and 100% of the diparetic and hemiparetic group said that enjoy the
sesson. The results shows that the answers are heterogeneous according to the motor disability,
and disability influences directly the QoL. An interdisciplinary intervention is inevitable for a
batter health promotion.
INTRODUÇÃO
Paralisia cerebral (PC) é um termo usado para um grupo de condições caracterizadas
essencialmente por disfunção motora, podendo estar associada a déficits sensoriais e cognitivos, decorrentes
de uma lesão não-progressiva, mas freqüentemente mutável, do encéfalo em desenvolvimento (1). Segundo
a Comissão Mundial de Paralisia Cerebral, o referido termo engloba um distúrbio de postura e movimento
persistente, causado por lesão no sistema nervoso em desenvolvimento, antes do nascimento, durante o
nascimento ou nos primeiros meses da lactância (2).
A incidência mundial de PC tem-se mantido constante nos últimos anos: 1, 5 a 2, 5 por 1000
nascidos vivos (3). Isso se deve, dentre outras razões, às melhores condições de atendimento materno-
infantil atingidas pelo avanço tecnológico, favorecendo principalmente a sobrevida de pré-termos. Em
prematuros com menos de 1500 g, a incidência de paralisia cerebral é de 25 a 31 vezes maior que os
nascidos a termo (4).
Em relação à etiologia, apesar de muitas vezes desconhecida, pode-se afirmar que os casos
pré-natais associam-se principalmente às condições anóxicas, à infecção materna e fetal, ao uso de narcóticos
e ao etilismo materno. Os casos peri-natais relacionam-se, sobretudo, à asfixia, aos traumas diversos e ao
uso fórceps durante o parto. Em relação aos casos pós-natais, é comum observar a associação de PC com
casos de infecção, problemas vasculares, traumatismos crânio-encefálico, dentre outros (1).
A PC pode ser classificada de acordo com a região cerebral acometida, conforme a severidade
do comprometimento ou pela distribuição topográfica da lesão. Quanto ao acometimento cerebral, a PC
pode ser subdividida em espástica, atáxica, coroatetósica, mista e hipotônica. A distribuição topográfica é
feita principalmente em três tipos: tetraparética, diparética e hemiparética (5).
Diante dos diferentes quadros clínicos observados, diversas modalidades de tratamentos
objetivam promover saúde, independência funcional e qualidade de vida à criança. Dentre os tratamentos,
MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo apresenta delineamento de corte transversal. A seleção dos participantes foi realizada
a partir da amostra de pacientes que freqüentavam o Ambulatório de Fisioterapia Aplicada à Neurologia
Infantil – Hospital das Clínicas – Unicamp, no ano de 2004. Como critérios de inclusão, foram admitidos:
pacientes de ambos os sexos; idade superior a 5 anos e inferior a 16 anos; diagnóstico de PC comprovado
na avaliação médica; cursando escola regular, pública ou particular, normal ou especial; e com capacidade
FIGURA 1 - Faces do AUQUEI - 1 Muito triste (MT), 2 Triste (T), 3 Feliz (F), 4 Muito feliz (MF)
Fonte: ASSUMPÇÃO et al. (2000)(8).
As perguntas foram feitas por um único avaliador, em uma sala reservada, com a presença
exclusiva do avaliador e da criança a ser entrevistada. Inicialmente foram expostas as instruções de forma
simples e clara à criança para o adequado entendimento do questionário. Os resultados foram submetidos
à análise estatística, com análise descritiva dos dados.
O termo de consentimento livre e esclarecido foi entregue ao cuidador responsável da criança,
por meio de duas cópias do documento. Nele foram esclarecidos os objetivos e benefícios da presente
pesquisa, além de garantida a manutenção do tratamento fisioterapêutico sem prejuízos nos casos de não-
participação ou abandono do estudo.
RESULTADOS
Foram analisadas 33 crianças com diagnóstico de paralisia cerebral. Destas, 5 (15,16%)
foram classificadas como tetraparéticas, 9 (27,28%) como diparéticas e 19 (57,56%) como
hemiparéticas.
Em relação à função social, foram encontradas com grande freqüência as repostas feliz ou
muito feliz nas perguntas referentes ao dia do aniversário (100% dos casos), à permanência na sala de
aula (100% dos tetraparéticos e diparéticos e 89% dos hemiparéticos), ao recreio escolar (80% dos
tetraparéticos, 89% dos diparéticos e 98,5% dos hemiparéticos) e às férias escolares (100% das respostas).
Foi observada uma maior freqüência das respostas triste ou muito triste nas perguntas que envolveram
brincadeiras com os irmãos (12% dos hemiparéticos e diparéticos, e 0% dos tetraparéticos).
Nas questões referentes às relações familiares, foram observados 100% das respostas
felizes ou muito felizes quando as crianças estão na presença dos avós. Quando relacionado à
figura materna, 100% dos tetraparéticos, 70,6% dos hemiparéticos e 56% dos diparéticos ficam felizes
ou muito felizes. Em relação ao pai, 40% dos tetraparéticos, 47,05% dos hemiparéticos e 33,33% dos
diparéticos dizem sentir-se triste ou muito triste.
Sobre o domínio atividades, 100% das crianças analisadas responderam feliz ou muito
feliz às perguntas referentes ao ato de almoçar e de tomar banho. Relacionando à deambulação,
40% dos tetraparéticos não deambulam. Dos que deambulam, 20% ficam triste ao correr. Quando
comparado com os grupos diparéticos e hemiparéticos, este valor refere-se a 11,2% e a 31,6%,
respectivamente. Em relação a brincadeiras envolvendo bolas, 40% dos tetraparéticos, 11,1% dos
hemiparéticos e 15,8% dos diparéticos responderam sentir-se triste ou muito triste na atividade;
26,3% dos hemiparéticos disseram sentir-se triste ou muito triste no ato de subir escadas (contra 0%
dos diparéticos e 20% dos tetraparéticos). Em relação à prática esportiva, 20% dos tetraparéticos,
33,3% dos hemiparéticos e 10,5% dos diparéticos relatam a resposta triste ou muito triste como
sendo a mais característica.
Em relação ao tópico saúde, a grande maioria das crianças respondeu feliz ou muito feliz
quando vão à fisioterapia (80% dos tetraparéticos e 100% dos hemiparéticos e diparéticos) e ao
médico (80% dos tetraparéticos, 100% dos diparéticos e 57,9% dos hemiparéticos). A resposta triste
ou muito triste foi vista com muita freqüência nas questões relacionadas a cirurgias (60% dos
tetraparéticos, 44,4% dos diparéticos e 26,3% dos hemiparéticos), ao uso de órteses de membros
inferiores (20% dos tetraparéticos, 22,3% dos diparéticos e 89,5% dos hemiparéticos) e ao uso de
medicamentos (40% dos tetraparéticos, 44,4% dos diparéticos e 73,6% dos hemiparéticos).
Sobre a auto-imagem, 80% das crianças tetraparéticas, 88,9% das diparéticas e 84,2% das
hemiparéticas dizem ficar feliz ou muito feliz ao pensar quando estiverem crescidos. A resposta feliz
e muito feliz também foi muito observada quando analisado o ato de ver uma foto sua (100% dos
tetraparéticos, 87,8% dos hemiparéticos e 77,7% dos diparéticos).
Em relação ao item separação, 40% dos tetraparéticos, 55,7% dos diparéticos e 62,1% dos
hemiparéticos relataram as respostas triste ou muito triste quando brincam sozinhos. Em relação a
dormir longe da família, 100% dos tetraparéticos, 44,4% dos diparéticos e 84,2% dos hemiparéticos
responderam ficar triste ou muito triste.
DISCUSSÃO
Independente do grupo, os resultados deste estudo apontam uma semelhança das respostas
do questionário AUQEI-modificado, indicando que o comprometimento motor da PC afeta a qualidade de
vida da criança, qualquer que seja o grau de severidade de sua disfunção.
Embora se sabe que o comprometimento motor pode levar à exclusão social, a amostra analisada
não reflete este índice. O padrão feliz e muito feliz refuta os dados de Petersen et al. (2005) (13), que
analisaram 360 crianças com disfunções crônicas. Nas questões referentes às relações familiares, houve
diferença dos dados encontrados em relação à figura materna e paterna. Não houve correlação entre o
grau de acometimento motor e as questões familiares, pois o grupo tetraparético apresentou uma menor
porcentagem de respostas triste e muito triste quando comparado com o grupo hemiparético.
Em relação ao domínio atividades, as respostas triste e muito triste foram observadas nos três
grupos, principalmente nas questões referentes à corrida, brincadeiras com bola e ao ato de subir escada,
concordando com os resultados de Vargus-Adam (2005) (14). Analisando 177 crianças com PC, este autor
conclui que as atividades funcionais interferem na qualidade de vida da criança. Diferente dos resultados
encontrados, Varni e colaboradores (2995) (15) argúem haver um comprometimento da qualidade de vida
de crianças com PC, sendo estritamente relacionado à disfunção motora.
Em relação ao tópico saúde, a grande maioria das crianças relatou a resposta feliz ou muito
feliz ao freqüentar o fisioterapeuta e o consultório médico. Isso representa um resultado importante, pois
o processo de reabilitação é influenciado pela confiança do familiar e da criança no terapeuta. Como era
de se esperar, a resposta triste e muito triste foi vista quando perguntado sobre cirurgias. Houve certa
discordância das respostas referente às órteses de membros inferiores, com predomínio de resposta triste
e muito triste no grupo hemiparético. Diante deste resultado, temos que considerar a órtese como: meio
facilitador da marcha, auxiliando na independência da criança; e como barreira psicológica, visto muitas
vezes com preconceito pela população (16). Como a criança hemiparética geralmente apresenta as funções
cognitivas preservadas, a resposta triste e muito triste observada neste grupo deve estar relacionada ao
preconceito da sociedade.
Em relação à auto-imagem da criança, não foi observado influência do comprometimento
motor sobre a qualidade de vida, haja vista o predomínio de respostas feliz e muito feliz nos três grupos.
Diferentemente, o item separação não apresentou respostas similares entre os grupos, refletindo em tendência
a uma influência do comprometimento motor sobre a qualidade de vida.
CONCLUSÃO
Os dados obtidos refletem a idéia de que o comprometimento motor, encontrado de forma
diferente nos grupos tetraparéticos, diparéticos e hemiparéticos, pode vir a influenciar a qualidade de vida
da criança portadora de PC. No entanto, tem-se que tomar ressalvas ao elaborar essa conclusão, pois
fatores não observados neste estudo, como nível socioeconômico, funções cognitivas e freqüência de
crises epilépticas podem vir a influenciar no resultado. O pequeno tamanho amostral, associado à
heterogeneidade dos grupos (5 crianças tetraparéticas, 9 diparéticas e 19 hemiparéticas), pode ser considerado
um viés da pesquisa. Contudo, conclui-se que a análise da qualidade de vida e das técnicas interdisciplinares
envolvidas no processo de reabilitação são essenciais para a promoção de saúde da criança com PC.
REFERÊNCIAS
COLABORAÇÃO
APOIO FINANCEIRO
AGRADECIMENTOS
Resumo
Este estudo teve por objetivo realizar uma descrição das posturas e movimentos de operadores de
checkout durante a realização da atividade. Participaram voluntariamente dois funcionários de um
supermercado. Para análise da postura e movimentos, foram utilizados fotos e observações dos
autores. Observou-se que o trabalho é desenvolvido em posição ortostática e os funcionários
adotam posturas desequilibradas, alternando movimentos de rotação e inclinação lateral do tronco.
Realizam ainda movimentos amplos para alcance das mercadorias, movimentos de pronação-
supinação para apresentação do código de barras e realizam trabalho muscular estático para a
sustentação de peso. A tarefa executada pelos operadores de checkout requer precisão, rapidez e
repetitividade.
Abstract
The aim of the present study was to describe the movements and postures involved during the
performance of supermarket checkout operators. Two supermarket operators participated
voluntarily. Photos were used to analyze each worker’s posture and movements, associated with
an observational analysis. The observation indicated that the job is performed in orthostatic
position and that the operators adopt unbalanced postures, alternating rotation and inclination
movements of the trunk. They also do wide movements to reach products, wrist pronation-
supination movements for the scanning process and static muscular work for weight sustentation.
The task performed by the operators requires precision, speed and repetitive movements.
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Sujeitos
Procedimentos
Foi realizada a mensuração do posto de trabalho utilizado pelos operadores (Tabela 1), utilizando-
se fita métrica inextensível, goniômetro universal e máquina fotográfica Yashica 32 mm. Pelo fato de os
checkouts possuírem design com medidas e formatos padronizados, não houve a necessidade da mensuração
dos outros postos.
Com base nas descrições dos próprios funcionários, foram selecionados produtos mais
freqüentemente manuseados. A partir daí, realizou-se a pesagem destes itens em uma balança digital do
próprio supermercado, para se determinar a variação da massa manuseada no dia-a-dia.
A postura e os movimentos dos operadores foram analisados qualitativamente por meio de
fotografias e observações durante o período de trabalho. Foi realizada uma descrição cinesiológica com o
intuito de caracterizar a atividade analisada. A filmagem não pode ser realizada por impedimento da
diretoria da empresa.
RESULTADOS
A E B
G H
F
C
Descrição da atividade
Durante o período na qual os trabalhadores foram observados, foram listados produtos com
maior freqüência de manuseio e verificou-se uma variação de 0,34 kg e 5,2 kg manuseados. A jornada de
trabalho dos funcionários variou de 6 a 8 horas por dia.
O trabalho dos funcionários é desenvolvido em posição ortostática e estática, associada a
movimentos de rotação, inclinação lateral e anterior de tronco para alcance e empacotamento de mercadorias,
para ativação do painel de controle e para retirada do comprovante de compra, entre outras funções. Não
há local adequado para descanso das pernas, como pode ser observado na Figura 2. O supermercado em
questão não oferecia pausas regulares durante a jornada de trabalho, apenas o horário destinado ao
almoço.
O movimento de flexão anterior de tronco é freqüentemente realizado pelos funcionários
visando a abertura da gaveta de dinheiro, atividades de digitação e ortografia, além da limpeza do posto.
Este movimento tem relação direta com a altura do indivíduo, estando mais prejudicados aqueles com
maior estatura, já que a altura da bancada é fixa (Figura 2). Observou-se uma grande rotação da coluna
cervical, principalmente durante a visualização da saída do comprovante de compra, localizado à esquerda
e durante a visualização da tela e do suporte de sacolas à direita.
Foi possível observar que o checkout do supermercado analisado apresentava painel de leitura
óptica na vertical (mais utilizada) e na horizontal. Para a realização da leitura óptica do código de barras
era necessário que o funcionário utilizasse movimentos de prono-supinação do antebraço, flexo-extensão
e desvio rádio-ulnar do punho, concomitante a uma sobrecarga estática de ombro e membros superiores
em grande parte do tempo, como pode ser observado na Figura 3.
DISCUSSÃO
Os operadores exercem suas funções em postos de trabalho que possuem designs com medidas
e formatos padronizados e, portanto, não levam em consideração as diferenças antropométricas individuais.
A estação de trabalho mais próxima do ideal deve ser flexível e ajustável, apresentando espaço suficiente
para movimentação livre e segura do usuário, proposta esta não observada no estudo, já que a área
reservada para o funcionário não prevê espaço suficiente para livre movimentação, para a utilização da
cadeira e para o empacotamento das mercadorias. Isso pode ocasionar posturas rígidas e desequilibradas,
como foi verificado em uma análise ergonômica do posto de trabalho de 10 supermercados da cidade de
São Paulo (3).
Sabe-se que os músculos nutrem-se principalmente no período de relaxamento. Deste modo,
a pressão interna do músculo durante atividades estáticas pode ultrapassar o valor da pressão arterial do
sangue e ocasionar um fechamento dos vasos sanguíneos responsáveis pela sua nutrição, culminando com
o acúmulo de ácido lático e irritação das terminações nervosas, causando dor (8). Segundo Barreira (9), a
coluna vertebral permite e necessita de movimentos. Dessa forma, as posturas estáticas exigem a ação
repetida dos mesmos grupos musculares, não permitindo períodos de relaxamento e adequado aporte
sanguíneo. Além disso, estas posturas interferem nos discos intervertebrais com a manutenção de uma
pressão significativamente aumentada.
De acordo com Lannersten e Harns-Ringdahl (10), a posição em pé facilita a mobilidade,
movimentação dos pés ou descarga do peso do corpo entre as pernas. Entretanto, a posição prolongada
em pé proporciona outros problemas, tais como fadiga muscular, aparecimento de varizes e agravamento
de lesões preexistentes nos tecidos moles dos membros inferiores (11). Deste modo, acredita-se que uma
das soluções ergonômicas seria permitir ao caixa alternar as posturas sentadas e em pé, em acordo com
outros estudos (10, 11). No entanto, não se observou uma cadeira adequada (ajustável e com assento
estofado) para descanso do funcionário, bem como o uso de suporte para apoio dos pés para alívio da
fadiga dos membros inferiores, recomendações estas feitas por Baron e Hobes (12).
Diniz e Ferreira (3) afirmam que a esteira rolante antes e depois da leitura óptica facilita a
movimentação das mercadorias e impede o esforço excessivo para alcançá-las ou empurrá-las, recomendação
observada no checkout em questão.
O teclado à frente do operador e acima do scanner em posição inclinada exige que este
funcionário realize movimentos de extensão de punho, posição considerada estressante (12). O mesmo
autor sugere, ainda, que o scanner fique à frente do operador e o teclado à frente e acima do scanner deve
ser ajustável em todas as direções e ângulo de inclinação. Além do movimento do punho, é necessário que
o caixa levante a mercadoria para passá-la por meio do scanner na altura e distância corretas para permitir
a leitura do preço. Esse trabalho de flexão e postura estática dos ombros aumenta a atividade da parte
descendente do trapézio e músculos extensores da coluna (10).
Um estudo (10) comparou a atividade muscular do ombro e cotovelo durante o trabalho dos
caixas para os diferentes modos de leituras. Os autores observaram maior ação muscular durante o trabalho
com scanner na vertical, scanner na horizontal, caneta de leitura óptica e caixa registradora convencional,
respectivamente. Ainda, Kofler e colaboradores (13) utilizaram a eletromiografia de superfície para avaliar
a atividade muscular em um posto de trabalho padrão. Os autores tentaram estabelecer uma diminuição da
atividade muscular com a proposta de um novo posto ergonômico e assim encontrar uma maneira de
prevenir o desenvolvimento de distúrbios musculares relacionados ao trabalho. Ao que parece, estimativas
da exposição física e suas conseqüências fisiológicas são atividades essenciais (14). Embora o presente
estudo não tenha utilizado a eletromiografia de superfície para avaliar a atividade muscular, a análise de
posturas e movimentos, juntamente com um estudo prévio de sintomas confirmou, por meio dos relatos
subjetivos dos trabalhadores, que as tarefas com scanner na vertical proporcionam uma sobrecarga muscular
considerável.
Análises de checkouts (5) demonstraram que as três tarefas que mais consomem tempo são o
processo de leitura do código de barras do produto (20%), empacotamento (18%) e transações de pagamento
(22%). Pode-se verificar que o empacotamento das mercadorias era realizado pelo próprio operador de
caixa, o que certamente somado às outras tarefas desempenhadas pode aumentar a sobrecarga física,
expondo-o a maior risco de lesões osteomioarticulares. Se esta função fosse desempenhada por outro
funcionário, o tempo de espera do cliente seria reduzido, agilizando o atendimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O padrão de movimento e as posturas adotadas durante o período de trabalho, associados à
inadequação do posto, parecem favorecer a sobrecarga mecânica das estruturas do sistema
musculoesquelético. Este fato indica a predisposição dos trabalhadores avaliados a sintomas
predominantemente nas regiões da coluna lombar, ombros e punhos. Faz-se necessária a realização de
outros estudos, como, por exemplo, a avaliação da atividade muscular por meio da eletromiografia de
superfície, com o intuito de determinar a sobrecarga muscular e proporcionar uma melhor compreensão
da relação entre a atividade analisada e influências do posto de trabalho.
REFERÊNCIAS
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de melhorias ergonômicas de um setor industrial. Rev Bras Fisiot. 2000; 4(2):83-92.
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Luciana Di Thommazo
Aluna de Graduação do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos - SP.
e-mail: lucianadt@gmail.com
Resumo
Abstract
Downsizing and reengineering have been used with the aim of improving organizational
efficiency, productivity and competitiveness; however, these industrial changes involve staff
reductions and workload for the remaining workers. The objective of this study was to evaluate
the impact of two strategies of work organization on the levels of perception of effort and pain
reported by employees of a multinational industrial company undergoing reorganization.
Twenty-five women working in a multinational production company participated in this study.
The participants were evaluated by using the perceived effort (Ratings of Perceived Exertion -
RPE) and pain (Visual Analogue Scale - VAS) scales. They worked within two different
organizational contexts: 1 - having three workers in each working cell, and 2 - having four
workers in a similar workplace. There were significant differences in the level of effort perception
between work contexts at the beginning and the end of the shifts. Differences between work
contexts regarding perception of pain were identified at the beginning of the shifts, but not at the
end. The RPE was shown to be a sensitive tool used to identify the levels of effort perception
throughout a day of work as well as between different work demands, thereby indicating the
importance of using psychophysical scales in occupational contexts. In order to avoid the negative
effects of downsizing, this study suggests that the workers’ health should be taken in account
whenever the production processes are altered without considering the impact of new
implementation on their functional capacity.
INTRODUÇÃO
As indústrias estão em constante evolução e implantação de novas tecnologias. Isso requer
mudanças em marketing e em estratégias de produção o que, segundo Kuorinka (1), exige esquemas mais
flexíveis de trabalho. Estes processos industriais engajados na atual situação de globalização avançam com
perspectivas de downsizing, de reengenharia, dentre outras, as quais podem causar prejuízos à saúde dos
funcionários das empresas.
Neste contexto, downsizing pode ser definido como um conjunto de atividades conduzidas
pela gestão de uma empresa, que tem como objetivo melhorar a eficiência organizacional, a produtividade
e a competitividade, envolvendo redução do tamanho da empresa no que se refere ao número de funcionários
(2, 3).
O downsizing organizacional possui algumas características peculiares, como, por exemplo, o
propósito de melhorar a eficácia da organização do trabalho na indústria, ou seja, é uma estratégia que
busca aumentar a velocidade de todos os processos de produção, envolvendo redução dos recursos
necessários, dentre estes, a redução no número de funcionários, enquanto busca também melhorar a
produtividade e eficiência, estimulando, assim, a competitividade. Esta estratégia envolve a reestruturação,
eliminação ou redesenho do trabalho realizado na indústria (2).
Um downsizing corporativo, que se fundamente na redução de funcionários como principal
medida para reduzir custos sem que as necessárias ações para que a reestruturação geral dos processos
organizacionais aconteça, pode acarretar um aumento do número de doenças cardiovasculares e afastamentos
dos funcionários por motivos de saúde, entre aqueles que permanecem trabalhando na indústria (4, 5). Em
levantamento bibliográfico de Rego (4), o autor conclui que quando a empresa se limita a reduzir funcionários
sem alterar outros aspectos de apoio, modificará o empenho dos empregados e terá como provável
conseqüência a redução de custos apenas por curto período, pois necessitará retornar ao número original
de funcionários antes de decorridos dois anos.
A reengenharia, seguindo esta mesma linha de redução de custos, visa a erradicar o trabalho
desnecessário e fazer com que os processos da empresa apontem na direção da satisfação do cliente,
redução do tempo do ciclo e qualidade total (6). De acordo com Hamel e Prahalad (6), uma empresa não
deve simplesmente diminuir o seu tamanho e aumentar sua eficiência e rapidez, por mais importante que
sejam estas tarefas. É preciso que, antes, a empresa passe por uma revigoração de suas estratégias e
reestruturação dos setores. Caso isso não seja realizado, os efeitos da intensificação do trabalho serão transferidos
diretamente para os trabalhadores remanescentes no processo, que serão sobrecarregados. Essa sobrecarga
pode ser avaliada pelo aumento dos níveis de esforço e dos níveis de dor e desconforto no trabalho.
Nos últimos anos, a avaliação de percepção de esforço ou de sintomas de fadiga durante
trabalho físico vem sendo utilizada por profissionais da área da saúde nos diversos setores de trabalho.
Para tanto, tem-se empregado, dentre outras, as técnicas de medição psicofísicas. Uma destas técnicas é a
Escala de Borg (RPE – Ratings of Perceived Exertion), que é interessante por possuir intervalos numéricos
e descritores verbais (7). Esta escala tem se mostrado válida em avaliações de intensidade do trabalho
imediato (8). Segundo, O’Sullivan (8), a escala teria como implicação prática o fato de auxiliar no ajuste da
intensidade do trabalho por meio da percepção dos níveis de esforços individuais aos quais o corpo está
sendo submetido.
Para estimar intensidades de dor e desconforto, outras escalas têm sido utilizadas, como é o
caso da Escala Visual Analógica (EVA). Esta escala psicofísica consiste de uma linha, geralmente, com 10
cm de comprimento, com descritores verbais em cada ponta. Estes descritores servem para avaliar os
extremos do atributo a ser analisado. O indivíduo marca um traço vertical sobre a linha em um ponto que
corresponda à intensidade da sua percepção do atributo definido pelos descritores (9). No caso de percepção
de dor e desconforto, em uma extremidade da linha, o descritor usualmente utilizado é “ausência de dor
ou desconforto” e, na outra extremidade, correspondendo ao valor máximo do atributo, será “dor ou
desconforto insuportável” (10). Este tipo de escala tem sido utilizado na medicina e é considerada válida e
confiável, para a avaliação da intensidade de dor (11).
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o impacto de duas estratégias de
organização do trabalho quanto aos níveis de percepção de esforço e dor relatados pelos funcionários de
um setor industrial submetido à reorganização.
MATERIAIS E MÉTODOS
Participantes
Fizeram parte deste estudo 25 trabalhadores do sexo feminino, com idades entre 25 e 52 anos,
que trabalhavam nas células de produção de uma empresa multinacional produtora de material escolar.
Dentre os 36 trabalhadores, 25 (69,4%) completaram os critérios de inclusão: eram funcionárias efetivas,
tinham mais de um ano de experiência no setor avaliado, aceitaram participar do estudo e, efetivamente,
fizeram parte de ambas as fases do estudo. As participantes representam 92,6% do total de trabalhadores
efetivos no setor. Do total de participantes, 14 funcionárias com idade média de 35,5 anos (±6,70) trabalhavam
em um dos turnos (das 7h00 às 16h00), enquanto as outras 11 com idade média de 37,5 anos (±4,91)
trabalhavam no outro turno (das 16h00 à 1h00). Todas foram informadas do objetivo geral do estudo e
assinaram o termo de concordância em participar dele. O estudo foi conduzido segundo as recomendações
éticas e foi aprovado pelo Comitê Local de Ética em Pesquisas e da Universidade Federal de São Carlos,
sob protocolo 032/03.
Procedimentos
Para a realização deste estudo, foi elaborado um questionário, no qual foram avaliados os
níveis de percepção de esforço por meio da Ratings of Perceived Exertion (RPE). Esta escala foi escolhida
por possuir descritores verbais que permitem determinar numericamente o nível de esforço, além de
permitir relacionar as alterações fisiológicas ao esforço com a intensidade da atividade (7). Para avaliar os
níveis de percepção de dor foi escolhida a Escala Visual Analógica de Dor (EVA). Esta escala foi escolhida
por ser de fácil administração, de fácil entendimento especialmente entre as participantes com a média de
idade supracitada e por ser de fácil pontuação (10).
O estudo transcorreu nas instalações da própria empresa. As participantes selecionadas de
nove células de produção existentes no setor receberam um questionário uma hora após o início dos
turnos. Cada funcionária permanecia em sua própria célula de trabalho para responder ao questionário,
sem que houvesse qualquer ônus para o seu salário.
Foram dadas instruções quanto ao sigilo de identidade, quanto ao preenchimento de apenas
uma alternativa para cada pergunta e quanto à individualidade com que as perguntas deveriam ser
respondidas, ou seja, a funcionária não poderia conversar com a colega de trabalho durante o preenchimento
do questionário. Uma hora antes do término dos turnos, um novo questionário – idêntico ao primeiro – foi
aplicado, seguindo os mesmos critérios de coleta dos dados.
Para o propósito do estudo, os procedimentos descritos acima foram aplicados em duas
estratégias de organização do trabalho. O trabalho em cada célula de produção consistia em: abastecimento
das máquinas com material e controle de qualidade do material produzido. Na Estratégia 1, este trabalho
era desenvolvido por apenas três trabalhadoras em cada célula. Na Estratégia 2, este mesmo trabalho era
realizado por quatro trabalhadoras.
O teste Qui-quadrado foi aplicado para avaliar os resultados da RPE entre duas estratégias de
organização (com 3 funcionárias e com 4 funcionárias por células de produção), assim como entre os dois
períodos (início e final dos turnos). Para a aplicação deste teste, dois grupos foram estabelecidos a partir
de um gráfico de dispersão dos resultados efetivamente obtidos, sendo um grupo apresentando valores
entre 9,0 – 14,5 e o outro com valores entre 14,6 – 20,0. Os resultados da EVA de dor também foram
analisados quanto às duas estratégias e aos dois períodos de trabalho. Novamente, dois grupos foram
estabelecidos, sendo um apresentando valores entre 0 – 5,0 e o outro com valores entre 5,1 – 10,0. A
correlação de Spearman foi utilizada para comparar os resultados entre as escalas.
Para todas as análises, foi empregado um nível de significância de 0,05.
RESULTADOS
De acordo com os resultados da Figura 1, verificou-se que o contingente de funcionárias
que assinalaram valores acima de 14,5 na primeira estratégia, no início dos turnos, foi superior ao contingente
verificado na segunda estratégia de organização do trabalho. Constatou-se uma diferença significativa
entre as estratégias no início dos turnos (c˝=15,70; p<0,001). Esta mesma observação pode ser feita para o
final dos turnos, sendo que a diferença também foi estatisticamente significativa (c˝= 12,00; p<0,007).
Entretanto, quando se observa a diferença entre o início e o final dos turnos na primeira estratégia, nota-
se que embora a média no final do turno tenha sido ligeiramente superior à verificada no início, o teste
Qui-quadrado não revelou diferença significativa entre os períodos na primeira estratégia (c˝= 0,50; p<0,918).
Na segunda estratégia de trabalho, esta pequena diferença não foi verificada e, sendo assim, também não
houve diferença significativa entre os períodos nesta estratégia de organização (c˝= 1,58; p<0,662).
A Figura 2 mostra os resultados obtidos com a aplicação da Escala Visual Analógica de Dor.
De acordo com esses resultados, o contingente de funcionárias que assinalaram valores acima de 5,0 na
primeira estratégia, no início dos turnos, foi superior ao contingente verificado na segunda estratégia de
organização do trabalho. Essa diferença foi limítrofe, porém significativa (c˝= 7,71; p<0,052). No final dos
turnos, contudo, esta diferença não foi estatisticamente significativa (c˝= 5,35; p<0,147). É possível verificar
também que entre o início e o final dos turnos na primeira estratégia de trabalho houve uma pequena
diferença entre a dor percebida no início e no final dos turnos, sendo a final ligeiramente superior à do
início. Esta sutil diferença entre os períodos nesta primeira estratégia de trabalho não foi comprovada
estatisticamente (c˝=1,04; p<0,790). Na segunda estratégia de trabalho não houve diferença entre as médias
(c˝=2,12; p<0,547).
DISCUSSÃO
No presente estudo verificou-se que a estratégia de organização do trabalho influenciou a
percepção dos níveis de esforço e de dor, visto que o trabalho realizado por apenas 3 funcionárias
(Estratégia 1) gerou maior sobrecarga de trabalho quando comparado ao mesmo trabalho sendo realizado
por 4 funcionárias (Estratégia 2).
Gamberale (12) relatou que a aplicação de escalas psicofísicas no estudo de demanda do
trabalho físico pode fornecer um resultado útil da relação entre a percepção e o nível físico de esforço.
Segundo o autor, há forte evidência de que a percepção de esforço, sem considerar o tipo de trabalho ou
grupo muscular envolvido, é possivelmente acelerada em função do aumento da carga de trabalho (destinada
a um trabalhador).
Quanto às escalas psicofísicas utilizadas no presente estudo, a RPE é considerada por Gamberale
(12) um instrumento versátil, econômico e válido para a mensuração de percepção de esforço. Enquanto
que Björkstén et al. (13) consideram a EVA um instrumento confiável, simples, sensível, reprodutível e
universal na mensuração da percepção de dor.
Walsh (14) encontrou resultados consistentes com o uso da EVA e ressalta que o estado presente
do trabalhador pode ser avaliado não somente por exames clínicos objetivos, mas também por instrumentos
que levem em conta a percepção do trabalhador sobre seu estado.
Sato (15) relata que a RPE e a EVA apresentaram variações consistentes ao longo do dia, sendo
sensíveis para identificar alterações do esforço e desconforto, respectivamente. No presente estudo, este
resultado não foi comprovado estatisticamente, embora tenha sido observado em forma de tendências na
Estratégia 1 para RPE e para EVA ao longo do dia (início e final do turno). Acredita-se que esta diferença
pequena entre os momentos tenha sido observada porque os valores médios encontrados na Estratégia 2
já eram altos inicialmente. Presume-se que este fato se deva ao caráter crônico e multifatorial da situação,
ou seja, todos os funcionários que participaram do estudo eram efetivos na empresa e trabalhavam em
ambas as estratégias durante a fase de alta produção. Nessa fase, os trabalhadores apresentam sinais e
sintomas mais persistentes. Quanto a ser multifatorial, sugere-se que além da organização do trabalho, os
fatores biomecânicos, fisiológicos, psicológicos, hábitos e atividades da vida extratrabalho, condições
físicas e ambientais também podem influenciar na percepção de esforço e dor. Apesar de ser grande o
número de fatores atuando sobre o indivíduo em fases de maior intensificação do trabalho, a sobrecarga
mental e física pode potencializar o esforço (16) e os sintomas percebidos, principalmente a dor em várias
regiões do corpo (17).
Sato (15) relata que não existe na literatura um “padrão ouro” para medir a demanda física do
trabalho e que métodos subjetivos devem continuar a serem utilizados nos estudos, porém levando-se em
consideração a complexidade existente e a forte interação com os fatores psicossociais e organizacionais.
Vale ressaltar que embora alguns estudos tenham avaliado estratégias de organização do trabalho,
levando em consideração o fator idade (18), alavancas, ângulos e orientação do movimento (19), a localização
e freqüência de trabalho (20) e a associação entre downsizing, afastamentos e mortalidade em grupos de
trabalhadores efetivos e temporários (5), nenhum estudo foi identificado que tenha avaliado
comparativamente diferentes estratégias de organização do trabalho em relação aos níveis de percepção
de esforço e dor dos trabalhadores. Assim, o presente estudo apresenta resultados originais que alertam
sobre os riscos da intensificação da atividade sobre aspectos do bem-estar e saúde dos indivíduos. E isso
é importante, pois quando o trabalhador sente-se bem, é capaz de realizar o trabalho sem queixa de
cansaço excessivo ou sintomas de dor, fato fundamental para a saúde do trabalhador e para a empresa,
que evita afastamentos e propicia um clima social positivo (7).
Nas empresas que estão em fase de grande produção e em processo de modernização do
sistema produtivo, porém que não despendem a necessária atenção à saúde do trabalhador, observa-se
que o número de trabalhadores tem diminuído, mas o número de ocorrência de doenças relacionadas ao
trabalho tem aumentado. Gil Coury (21) afirma que a pressão imposta aos trabalhadores na produção
pode contribuir para o aumento do número de casos destas doenças. Vahtera et al. (22) encontraram
relação entre esta pressão sobre os trabalhadores e aumento do risco de lesões musculoesqueléticas e
acidentes de trabalho, devido à repetitividade e ao clima de insegurança presente no local de trabalho, o
que conseqüentemente favorece os afastamentos por motivos de saúde. Portanto, as mudanças nos processos
produtivos promovidas pelas empresas para se adequarem às exigências da economia globalizada, e cada
vez mais competitiva, podem trazer conseqüências sérias para a saúde do trabalhador. Dentre estas mudanças
estão aquelas geradas pela alteração na organização do trabalho e pela adoção de novas tecnologias
baseadas na informatização e automatização do sistema produtivo (15, 23).
Os resultados do presente estudo permitem constatar ainda que as escalas RPE e EVA
correlacionaram-se positivamente, o que implica dizer que estas escalas, simples e práticas de aplicar,
avaliaram de forma consistente os atributos de interesse e que são relevantes para a análise do efeito do
trabalho sobre o indivíduo, em contextos ocupacionais.
Por fim, o presente estudo permite ressaltar que, na economia globalizada, os processos de
downsizing e de reengenharia só deveriam ser aplicados quando medidas paralelas de ajustes ergonômicos
no processo produtivo possam também ser introduzidas, de forma a atenuar os efeitos nocivos da
intensificação do trabalho na saúde do trabalhador.
AGRADECIMENTOS
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Resumo
A Síndrome do Impacto é uma das afecções ortopédicas mais freqüentes. Essa síndrome produz
dor e limitação funcional, especialmente na realização de atividades acima da cabeça. Os objetivos
deste trabalho foram analisar a funcionalidade e a intensidade da dor de indivíduos portadores desta
disfunção, submetidos a programa de intervenção fisioterapêutica. Participaram do estudo sete
voluntárias com idade média de 48,9 ± 18,1 anos. Os indivíduos foram submetidos a programa de
intervenção fisioterapêutica dividida em duas fases: a primeira fase foi composta por oito sessões
e teve como objetivo combater a inflamação, a dor, restaurar a amplitude de movimento e a força
muscular, e estimular o controle neuromotor; a segunda fase foi composta por oito sessões e teve
como objetivo promover o fortalecimento muscular. O escore de dor avaliado pela Escala Visual
Analógica foi reduzido em 27% ao final da primeira fase e em 47% ao final da segunda fase (p <
0,05). O escore final de intensidade da dor avaliado por meio dos critérios da UCLA diminuiu 163%.
Todos os escores avaliados por meio dos critérios da UCLA melhoraram significantemente, exceto
o de força muscular: função do ombro (50%), flexão anterior ativa (35%), força muscular (25%) e
satisfação (500%). Os resultados permitem concluir que a intervenção fisioterapêutica proposta
reduz a intensidade da dor e aumenta a funcionalidade do ombro de indivíduos portadores de
síndrome do impacto.
Abstract
The Impingement Syndrome is one of the most common orthopedics diseases. This syndrome
produces pain and functional limitation, specially when the limb is positioned above the head. The
objectives of this study were to verify the functionality and the intensity of pain of patients with
this dysfunction , submitted into a program of physiotherapy intervention. Seven volunteers
participated in this study their average age was of 48, 9 ± 18, 1 years. The patients were submitted
to a program of physiotherapy which was divided in two phases: the first phase was composed
of eight sessions and the objective was to resolve the inflammation, pain, restore the range of
motion and muscles force, and stimulate the neuromotor control. The second phase was composed
of eight sessions and the objective was to promote the gain force of the muscles. The pain score
evaluated by the analogical visual scale was reduced in 27% at the end of the first phase and in
47% at the end of the second phase (p < 0,05). The intensity score of the pain evaluated by the
UCLA criteria decreased in 163%. All the scores evaluated by the UCLA criteria improved
significantly, except of the muscles force: function of the shoulder (50%), anterior active flexion
(35%), muscles force (25%) and satisfaction (500%).The results allow us to conclude that the
intervention of the physiotherapy reduces the intensity of pain and increases the functionality of
the shoulder of Impingement Syndrome patients.
INTRODUÇÃO
A articulação do ombro é a que permite maior mobilidade e, por isso, apresenta certa instabilidade.
Na literatura especializada, é tratada como “o complexo articular do ombro”. Esse complexo é uma região
interessante devido à integração de várias articulações e à susceptibilidade a traumatismos (1, 2, 3).
Com relação às alterações musculoesqueléticas, a dor no ombro é muito comum, ficando atrás
apenas das dores na região cervical e na região lombar da coluna vertebral (4).
A síndrome do impacto é mais freqüente em indivíduos que praticam certas atividades
ocupacionais, envolvendo movimentos de lustrar, lixar e moer. Atividades recreativas e esportivas (5), tais
como natação, arremesso e tênis (6, 7, 8), estão entre as causas mais comuns de síndrome do impacto. A
faixa etária mais atingida por essa síndrome é a terceira idade – 34% da população acima de 65 anos
apresenta disfunção do ombro (5). Speed e Hazleman (9) relatam que a prevalência de dores e disfunções
no ombro varia entre 4 a 20% da população acima de 40 anos no Reino Unido e a incidência destas
disfunções aumenta 1% a cada ano. Na Holanda, estudos mostraram que a incidência de dores no ombro,
oriundas de todas as causas, foi de 11,2 por 1000 pessoas ao ano; a tendinite do manguito rotador teve
incidência ao redor de 3,2 a 4,2 por 1000 pessoas ao ano (10). Na Noruega, a incidência de dor nos ombros
foi de 70 a 260 por 1000 pessoas ao ano (11).
Uma das afecções mais comuns do ombro é a síndrome do impacto ou do pinçamento, termo
geral designativo de variadas alterações no ombro que se manifestam por dor e limitação funcional,
sobretudo, na realização de atividades acima da cabeça (10). Essa afecção possui como causa mais comum
a tendinite dos músculos do manguito rotador, bursite subacromial e tenossinovite, que, se não tratadas a
tempo, podem levar à alteração das estruturas envolvidas (1, 12). A etiologia da Síndrome do Impacto
pode ser decorrente de impacto primário, que é resultante da compressão mecânica do manguito rotador
sob a porção ântero-inferior do acrômio. O acrômio, por sua vez, pode ser essencialmente de três tipos:
reto, curvo ou ganchoso. Este último é o que propicia maior impacto entre as estruturas (1). Neer (13)
descreveu três estágios de impacto primário: estágio I: edema e hemorragia; estágio II: fibrose e tendinite;
estágio III: lesões do manguito rotador, ruptura do bíceps e alterações ósseas. Alterações como espessamento
do manguito rotador e da cabeça umeral, bem como alterações da cápsula articular também podem
favorecer o impacto primário. O impacto secundário, de acordo com Neer (13), acontece quando há
relativa redução do espaço subacromial, devido à instabilidade funcional glenoumeral ou escapulotorácica.
Visto ser essa síndrome muito freqüente na clínica médica e de fisioterapia, este estudo teve os
seguintes objetivos: analisar a funcionalidade e a intensidade da dor de indivíduos portadores desta disfunção,
submetidos a programa de intervenção fisioterapêutica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Vinte e dois indivíduos com síndrome do impacto (estágio II), encaminhados pelos postos de
saúde da Região Sul, da cidade de São Paulo, foram contatados pela Policlínica do Centro Universitário
Adventista de São Paulo – UNASP, câmpus 1, no mês de março de 2005. Foram incluídos indivíduos que
apresentavam a afecção há pelo menos três meses, com diagnóstico clínico confirmado por avaliação
fisioterapêutica, realizada por meio da execução dos seguintes testes especiais para o complexo do ombro:
Neer, Jobe, Gerber, Hawkins/Kennedy, Sinal de Ludington, Sinal de Queda de Braço, Arco Doloroso 70° -
120° (1, 14, 15), devendo o indivíduo apresentar positividade em pelo menos dois dos sete testes aplicados.
Não foram incluídos no estudo os indivíduos que tivessem próteses, osteossíntese e/ou que estivessem
realizando tratamento concomitante.
Nove indivíduos preencheram os critérios de inclusão. Durante o estudo, dois indivíduos
foram descontinuados: um por ter mais de duas faltas às sessões de tratamento fisioterapêutico e o outro
por iniciar tratamento concomitante. Todos os indivíduos foram devidamente informados acerca dos
procedimentos e os que concordaram deram seu consentimento livre e esclarecido por escrito. O estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do UNASP, câmpus 1. A intervenção foi realizada no
período de abril a junho de 2005.
Os sete indivíduos eram do sexo feminino, com idades variando entre 25 e 77 anos. O lado
direito estava envolvido isoladamente em 43% dos indivíduos, o esquerdo em 14% dos indivíduos e 43%
apresentavam acometimento bilateral. O membro superior direito era o dominante em 5 indivíduos (71%)
e estava acometido em 86% dos casos, conforme é demonstrado na Tabela 1.
TABELA 1 - Anamnese e dados demográficos dos indivíduos com síndrome do impacto, incluídos no
programa de intervenção fisioterapêutica
Lado Lado
Pacientes Idade Sexo Ocupação
Acometido Dominante
A. L. S. 28 F Balconista D D
E. A. S. 50 F Do Lar D E
J. S. 77 F Do Lar Bilateral D
M. V.C. 58 F Do Lar Bilateral E
M. A. S. 46 F Do Lar Bilateral D
M. S. T. 58 F Do Lar D D
S. C. C. 25 F Do Lar E D
A partir das considerações feitas na literatura (1, 2, 16, 17), optou-se por dividir o programa de
intervenção fisioterapêutica em duas fases: a primeira fase teve como objetivos combater a inflamação, a
dor, restaurar a amplitude de movimento e a força muscular e estimular o controle neuromotor do ombro
afetado. Foram utilizadas oito sessões de tratamento, 60 minutos cada sessão, aproximadamente, com
freqüência semanal de duas vezes.
Nos primeiros quinze minutos da sessão, realizou-se crioterapia na região do ombro, utilizando-
se bolsa de gelo envolvida por pano fino para proteção da pele (18). Em seguida, foi realizada mobilização
passiva (adução, abdução, elevação, depressão) da cintura escapular para aumento da amplitude de
movimento. Nesse momento, os indivíduos foram mobilizados em decúbito lateral. A seguir, os indivíduos
realizaram mobilização ativa com dez repetições para os movimentos de flexão, extensão, adução e abdução
da articulação glenoumeral, na posição em pé. Na seqüência, os indivíduos realizaram exercícios pendulares
de Codman. Dando continuidade à sessão, os indivíduos realizaram, de forma ativa, alongamento muscular
dos flexores, extensores, abdutores, adutores, rotadores mediais e laterais do ombro, na posição em pé.
Nas primeiras quatro sessões, os indivíduos realizaram exercícios isométricos dos grupos
musculares supracitados para o fortalecimento muscular, pressionando-se pequena bola de borracha contra
a parede. Nas quatro últimas sessões da primeira fase, os indivíduos realizaram exercícios isotônicos, com
utilização de faixa elástica de média tensão (Ruber Band®) presa ao espaldar. O indivíduo permaneceu em
pé, com os cotovelos em 90° e executou uma série de dez repetições para os movimentos de rotação
interna e externa. A seguir, realizou os movimentos de flexão e extensão do ombro. Segundo Fleck e
Kraemer (19), o uso de uma série única de um exercício é eficaz para indivíduos destreinados ou iniciando
um programa de treinamento de força.
Ao final das sessões, os indivíduos realizaram exercícios proprioceptivos. Os benefícios dos
exercícios proprioceptivos são resumidos por Souza (1) da seguinte maneira: estimulam a percepção
relativa da posição e do movimento articular, restauram o mecanismo neuromuscular de estabilização
articular, proporcionam recuperação da dinâmica articular e redução da probabilidade de reincidência das
lesões. Estes exercícios foram realizados na posição em pé, com o membro afetado sobre bola suíça –
superfície instável (bola Bobath®) – sobre a qual o indivíduo deveria realizar deslocamentos látero-laterais,
mantendo a bola sob sua mão. Nesse momento, o terapeuta realizava movimentos de deslocamento da
bola para que o indivíduo promovesse estabilização rítmica da articulação, impedindo o deslocamento da
bola. Com os indivíduos ainda em pé, em flexão de 120° do ombro, a mão deveria estar apoiada sobre a
bola que, por sua vez, deveria estar apoiada à parede. Nessa condição, o terapeuta provocava desequilíbrios
látero-laterais do corpo do indivíduo, que deveriam ser resistidos apenas pelo contato da mão sobre a
bola. Em seguida, sentado sobre a bola Bobath, o indivíduo mantinha os membros superiores livres acima
da cabeça, elevava um dos membros inferiores tentando manter o equilíbrio corporal. Para incrementar
ainda mais o trabalho de controle neuromotor, o terapeuta jogava pequena bola de borracha em diferentes
direções na altura da cabeça. Após esses exercícios, os indivíduos realizavam impulsos pliométricos com
as mãos apoiadas sobre cama elástica.
A segunda fase do programa teve como objetivo promover fortalecimento muscular na busca
do equilíbrio dinâmico do complexo do ombro. Esta fase compreendeu oito sessões, de aproximadamente
uma hora cada, realizadas com uma freqüência semanal de três vezes, no CENAPE (Centro de Atividades
Físicas e Práticas Esportivas) – UNASP, câmpus 1. Para determinar a carga a ser utilizada por voluntário no
treino resistido, foi realizado o teste indireto (2 a 20 repetições) para a estimativa da força máxima (uma
repetição máxima ou 1RM); a seguir foi utilizada a equação: 1RM (kg) = carga ¸ {[100 - (rep2-20 x 2)] ¸
100}(20). Optou-se por esse protocolo em função de sua natureza submáxima, que proporciona menor
risco de lesões quando comparado ao teste direto de 1RM. Após as quatro primeiras sessões, foi executado
o teste direto de 1RM e a carga de treinamento foi ajustada (20).
No início de cada sessão, foi realizada mobilização passiva (adução, abdução, elevação,
depressão) da cintura escapular, para aumento da amplitude de movimento. Nesse momento, os indivíduos
foram mobilizados em decúbito lateral. Após a mobilização, os indivíduos realizaram exercícios pendulares
de Codman, segurando 1,0 kg. Em seguida, cada indivíduo, em pé, realizava, de forma ativa, alongamento
muscular dos flexores, extensores, abdutores, adutores, rotadores mediais e laterais do ombro bem como
RESULTADOS
Análise estatística
Os dados da Escala Visual Analógica (EVA) foram analisados por meio de análise de variância
para medidas repetidas (One Way Repeated Measures Analysis of Variance), seguida pelo teste “post hoc”,
de Tukey. Os dados das variáveis relativas à dor, à função, à flexão ativa, à força de flexão anterior (força
manual), à satisfação e ao escore geral UCLA foram analisados por meio do teste de Wilcoxon. As diferenças
entre as médias foram consideradas estatisticamente significantes quando p < 0,05. Os valores são
apresentados como médias ± desvios-padrão.
TABELA 2 - Valores dos resultados por componente da UCLA antes e após intervenção fisioterapêutica
Avaliação Avaliação
UCLA p
inicial final
Dor 2,28 ± 1,70 6,00 ± 2,00 0,010
Função 5,14 ± 3,23 7,71 ± 1,38 0,049
Flexão ativa 3,71 ± 1,25 5,00 ± 0,00 0,035
Força de flexão anterior 3,42 ± 1,39 4,28 ± 0,48 0,111
Satisfação do paciente 0,00 ± 0,00 5,00 ± 0,00 0,001
Escore Total 14,57 ± 5,62 28,00 ± 1,29 0,001
Considerando que a UCLA avalia a funcionalidade do ombro e que isso é dado por um
somatório de questões, após a intervenção, houve melhora estatisticamente significante de 92% da
funcionalidade dos indivíduos, conforme demonstra o Gráfico 2.
Valor Valor
Pacientes Qualificação Qualificação
inicial final
A. L. S. 11 Pobre 28 Bom
E. A. S. 17 Pobre 27 Razoável
J. S. 12 Pobre 28 Bom
M. V.C. 14 Pobre 30 Bom
M. A. S. 13 Pobre 28 Bom
M. S. T. 9 Pobre 26 Razoável
S. C. C. 26 Razoável 29 Bom
00 - 20 = Pobre, 21 - 27 = Razoável, 28 - 33 = Bom, 34 - 35 = Excelente
DISCUSSÃO
A síndrome do impacto é muito comum em indivíduos adultos. É responsável por prejuízos
funcionais e socioeconômicos (22). A intervenção fisioterapêutica, nessa situação, é considerada a primeira
escolha de tratamento, por melhorar o equilíbrio muscular da região, aumentar a funcionalidade do membro
acometido e possibilitar retorno mais rápido às atividades de vida diária, com diminuição das dores. Além
disso, existem indicações seguras (10) de que o tratamento cirúrgico não difere significantemente da
intervenção fisioterapêutica quanto à melhora da funcionalidade e quanto à redução da dor. Essas informações
não encontram concordância generalizada. Segundo alguns autores, existem controvérsias quanto à
superioridade de um tratamento sobre o outro. Alguns sugerem que a conduta mais conservadora é
preferível ao tratamento cirúrgico, outros preferem adotar tratamento mais agressivo em função do fato de
a doença ser de evolução contínua (23). Admitindo-se a intervenção fisioterapêutica como tratamento mais
adequado, esta deveria incluir crioterapia, mobilização articular, reequilíbrio neuromuscular, exercícios de
fortalecimento, eletroterapia e decoaptação articular (17).
No presente estudo, a utilização de crioterapia objetivou reduzir a dor a fim de proporcionar
melhor mobilização passiva e ativa da articulação do ombro. Verificou-se diminuição significante do nível
da dor por meio da Escala Visual Analógica. Essa melhora foi observada já nas primeiras sessões. Associada
à crioterapia, a mobilização passiva e ativa das articulações que envolvem o complexo do ombro contribuiu
para a diminuição da dor e melhora da amplitude de movimento. Adicionalmente, a realização de exercícios
de fortalecimento muscular acentuou ainda mais a redução da dor. Çitaker et al. (24) compararam dois
grupos de portadores de síndrome do impacto: um tratado com mobilização e outro com facilitação
neuromuscular proprioceptiva. Após 20 sessões, verificaram que os dois tipos de intervenção apresentaram
resultados satisfatórios, porém o grupo que realizou exercícios de mobilização referiu acentuada diminuição
da dor em relação ao outro grupo. Walther et al. (22) compararam indivíduos que realizaram tratamento
fisioterapêutico convencional, exercícios de fortalecimento muscular, somente com instruções sobre
exercícios, e indivíduos que utilizaram brace funcional. Também verificaram que ambos exibiram diminuição
significante da dor quando avaliados pela Escala Visual Analógica.
Os dados do presente estudo indicaram que, após 16 sessões de tratamento, houve melhora da
dor e da funcionalidade, avaliados pela UCLA.
Esses resultados são ratificados pelos dados encontrados após a intervenção. O aumento da
funcionalidade e a diminuição da dor resultaram em significante aumento da satisfação referente à sua
condição anterior à intervenção fisioterapêutica. O protocolo desenvolvido demonstrou-se eficaz para esse
tipo de indivíduo. Esses achados confirmam que até mesmo indivíduos portadores de disfunções crônicas
(estágio II da síndrome do impacto) podem ser beneficiados com o tratamento fisioterapêutico. Çitaker et
al. (24) avaliaram a funcionalidade de indivíduos com síndrome do impacto, utilizando a UCLA, e encontraram
melhoras significantes após 20 sessões de intervenção. Essa melhora ocorreu somente nos indivíduos com
síndrome do impacto, com tendinite e fibrose (estágio II).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTO
Ao Professor Ms. Leslie Andrews Portes, pelo incentivo e esclarecimentos.
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Resumo
A vertigem é uma sensação ilusória de movimento da própria pessoa ou do ambiente que a cerca
e pode ser um componente da tontura. Dessa forma, pacientes com disfunção vestibular
apresentam uma diminuição nas atividades diárias devido a manifestações dos sintomas durante
essas atividades, resultando em uma diminuição na qualidade de vida (QV). O objetivo deste estudo
foi verificar o impacto da vertigem na QV desses indivíduos. Foram avaliados 60 pacientes, 28 do
sexo masculino e 32 do sexo feminino, com idade média de 50 ±47 anos. Foi aplicado, inicialmente,
o Inventário da Incapacidade decorrente da Tontura (IIDT), para avaliação de comprometimento
da disfunção vestibular. Foi aplicado, então, o questionário de QV SF-36. A aplicação inicial do IIDT
apontou 32 pacientes que possuíam disfunção vestibular, uma vez que todos estes apresentaram
escores muito elevados (42±25,3) e 28 pacientes sem disfunções vestibulares apresentaram um
escore de 0 (nenhuma incapacidade percebida). O SF-36 evidenciou uma diminuição em todos os
itens da avaliação. Esses dados demonstram o impacto negativo da vertigem na qualidade de vida.
Abstract
The vertigo is a illusory sensation of movement of the proper person or the environment who the fence,
and can be one component of giddiness. Of this form, patients with vestibular dysfunction tend to
present a reduction of the quality in the daily activities had the manifestations of the symptoms during
these activities, presenting, thus, one consequent reduction in the quality of life.The aim of this study
was to verify the impact of the vertigo in the quality of life of these individuals. 60 patients, 28 of
masculine sex and 32 of the feminine sex had been evaluated, with average age of 50 (±47). He was
applied, initially, the Inventory of the decurrent Incapacity of Tontura (IIDT), for evaluation of the
vestibular dysfunction. Soon after the questionnaire of quality of life Sf-36 was applied. The initial
application of the IIDT pointed the 32 patients who can vestibular dysfunction, a time that all these
had presented props up very high (42±25,3) and 28 patients without vestibular dysfunction had
presented one prop up of 0 (no perceived incapacity).The Sf-36 evidenced a reduction in all items
of the evaluation.These data demonstrate the impact of the vertigo in the ones in the quality of life.
INTRODUÇÃO
Lesões no sistema vestibular podem ser largamente categorizadas de acordo com a área da
disfunção: o órgão terminal, os terminais do nervo vestibular, as conexões do órgão terminal com o tronco
cerebral e os centros mais altos do cerebelo e cérebro. As causas das lesões são variadas e incluem
infecções, doenças vasculares, neoplasias, traumatismo cranioencefálico, desordens metabólicas, uso de
drogas tóxicas e doenças de causa desconhecida (1).
A tontura é a terceira queixa mais comum na clínica médica depois de dor torácica e fadiga (2).
Entre a população adulta, 42% relatam apresentar vertigem em algum momento. Estima-se que 76 milhões
de americanos sofrerão de algum tipo de distúrbio vestibular (3).
O sistema vestibular fornece informações sensoriais sobre os movimentos e as posições cefálicas
em referência à gravidade. As informações vestibulares aferentes são usadas para a estabilização do olhar,
a postura e o equilíbrio contribuem com a nossa sensação consciente de orientação no espaço (4). Além
disso, participa dos controles de ajustes posturais e antecipa e exerce influência sobre informações
autonômicas e na consciência (5, 6, 7, 8). Dessa forma, a patologia do sistema vestibular pode produzir
problemas associados: a) estabilização do olhar, incluindo visão embaraçada ou oscilopsia (visão oscilante)
durante a interrupção do reflexo vestíbulo-ocular; b) postura e equilíbrio e c) vertigem ou tontura (9).
A vertigem é uma sensação ilusória de movimento da própria pessoa ou do ambiente que a
cerca, e pode ser um componente da tontura (10, 11). Esses pacientes apresentam, geralmente, limitações
cinético-funcionais como instabilidade postural, associadas a manifestações neurovegetativas (12), alterações
da marcha (13), fatigabilidade (7) e indisposição (14), resultando em dificuldades para as atividades de
vida diária (AVDs).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, saúde é definida como “estado de completo bem-
estar físico, mental e social e não somente pela ausência de doença ou enfermidade”. Já a qualidade de
vida (QV) pode ser definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da
cultura e do sistema de valores em que ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações. Nessa definição, fica implícito que o conceito de QV é subjetivo, multidimensional e inclui
elementos de avaliação tanto positivos quanto negativos (15).
Várias evidências científicas mostram que a QV afeta a saúde; esta, por sua vez, influencia na
vida do ser humano (16). Neste campo, Ortiz e Puerredón (17) destacam que a QV relacionada com a
saúde está sendo cada vez utilizada como indicador de resultado da ação das intervenções terapêuticas
(18, 19, 20).
Assim, pacientes com disfunção vestibular tendem a apresentar uma diminuição da qualidade
nas atividades diárias devido a manifestações dos sintomas durante essas atividades, apresentando, assim,
uma conseqüente diminuição na QV. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi verificar o impacto das
alterações vestibulares na QV de indivíduos que apresentavam vertigem secundária.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e os pacientes
foram informados sobre os procedimentos e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Foram avaliados 60 pacientes, 28 do sexo masculino e 32 do sexo feminino, com idade média de 50 ±47
anos. Foi aplicado, inicialmente, o Inventário da Incapacidade decorrente da Tontura (IIDT), para avaliação
de comprometimento da disfunção vestibular (21). Essa escala foi aplicada a fim de identificar, primariamente,
os pacientes que realmente apresentavam disfunção vestibular. Essa avaliação é uma escala de incapacidade
autopercebida, atribuída à doença vestibular. São fornecidas 25 questões, classificadas dentro dos domínios
físico, funcional e emocional. A resposta “sim” vale 4 pontos, “às vezes” vale 2 e “não” vale 0. Portanto, a
pontuação total varia entre 0 (nenhuma incapacidade percebida) e 100 ( incapacidade máxima percebida).
Foi aplicado, então, o questionário SF-36 (22). O questionário SF-36 foi aplicado individualmente,
sendo o paciente auxiliado quando solicitado, mas sem ter interferência nas suas respostas. O SF-36
engloba oito componentes: (1) capacidade funcional, (2) aspectos físicos, (3) dor, (4) estado geral de
saúde, (5) vitalidade, (6) aspectos sociais, (7) aspectos emocionais e (8) saúde mental (23).
As pontuações de cada componente do SF-36 são calculadas pelo somatório dos itens de cada
questão e transformadas em uma escala de 0 a 100 pelo cálculo de Raw Scale. Nesse escore, o zero
corresponde ao pior estado geral de saúde, e o valor 100, ao melhor estado de saúde. Assim, para cada
componente sendo avaliado em separado, não existe um único valor que resuma toda a avaliação, traduzindo-
se num estado geral de saúde que seja melhor ou pior. Isso evita o erro de não identificar ou subestimar os
reais problemas relacionados à condição do paciente.
RESULTADOS
A aplicação inicial do IIDT apontou os pacientes que possuíam disfunção vestibular. Dos 60
indivíduos avaliados, 32 apresentavam vertigem secundária, uma vez que todos estes apresentaram escores
muito elevados (42±25,3) e 28 não apresentam esse comprometimento, uma vez que apresentaram um
escore de 0.
No SF-36 foram observadas diminuições nas porcentagens totais dos pacientes com vertigem
quando comparadas ao outro grupo. Os resultados obtidos nos dois grupos são mostrados na Figura 1.
80
60
40
20
0
capacidade aspectos dor estado geral vitalidade aspectos aspectos saúde mental
funcional físicos de saúde sociais emocionais
DISCUSSÃO
motores compensatórios anormais e podem exigir o auxílio de dispositivos ou outros tipos de assistência.
Quando o desequilíbrio é grave, pode haver quedas, levando a lesões secundárias.
As repercussões psicossociais atingem não somente o paciente com disfunção vestibular, mas
todo o universo familiar, podendo trazer problemas complexos que irão traduzir em prejuízo na QV de
todo o grupo. Portanto, é importante o processo de adaptação da família a esse indivíduo e a nova
situação. São consideradas como implicações desse processo os custos financeiros, o desgaste físico, o
estresse emocional, a atividade produtiva e a vida social (33).
Conforme Buss (16), uma nova concepção identifica a saúde com bem-estar e QV, e não
simplesmente com ausência de doença. Os procedimentos de tratamento visam não apenas a diminuir o
risco de doenças, mas aumentar as chances de saúde e de vida.
No presente estudo, inicialmente, foi necessário averiguar os pacientes que apresentaram
disfunção vestibular para que pudessem ser posteriormente avaliados. Para esse fim, aplicou-se o IIDT. O
IIDT tem uma alta consistência interna e pode ser usado para identificar problemas funcionais, emocionais
ou físicos específicos e associados à tontura. Esse teste é confiável, exige pouco tempo para ser administrado
e pode ser proveitoso para analisar a instalação da disfunção e a eficácia do tratamento. Após a aplicação
da escala IIDT foi, então, aplicada a escala SF-36 para averiguação da qualidade de vida nestes indivíduos.
A aplicação do SF-36 foi um importante meio do reconhecimento do perfil dos pacientes com
vertigem (34). Esses valores mostraram a interferência da disfunção na QV desses indivíduos e as limitações
apresentadas nas atividades de vida diária. Esses indivíduos apresentaram valores que chamaram a atenção
como diminuição na capacidade funcional, vitalidade, aspectos sociais e emocionais. Esses aspectos geram
um grande impacto na saúde mental e estado geral de saúde nesses indivíduos (34, 35).
CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou o impacto da vertigem secundária na QV dos indivíduos avaliados
e atenta para estratégias de tratamento que venham a contribuir com a melhora das habilidades funcionais
que repercutam na QV dos pacientes com vertigem.
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Resumo
Abstract
Obesity is a problem of public health because it has been increased in an alarmists proportion.
Obesity and overweight increase substantially the risk of morbidity, because they can cause
hypertension, stroke, diabetes, breathing disturbs, orthopedic problems and others diseases.
Researches shows that the obesity can cause an asymmetric overweight at the spine, causing
disturbs at the normal curvature, often resulting on a more accentuated curvature. The purpose of
this study was to know how obesity has influenced the posture, comparing normal-weight, over-
weight and obese children from 7 to 10 years old. This project assessed 24 obese, 13 over-weight and
40 normal-weight children through four photographs (front, back, side and oblique views) analyzed
at Corel Draw v. 10.0, and by a flexible rule, molded in the spine processes. It was observed, a
significant difference between the obese group (OG), over-weight group (OWG) and the normal-
weight group (NWG) about the lumbar hyperlordosis (66,67% of OG, 53,85% of OWG and 35%
of NWG) and head protraction (54,17% of OG, 41,67% of OWG and 12,5% of NWG), but the
difference of the thoracic hyperkyphosis (54,17% of OG, 41,67% of OWG and 32,5% of NWG) and
scoliosis (33,33% of OG, 31,81% of OWG and 34,28% of NWG) was not so significant. It was
observed a difference in the angle of inclination of the lumbar (hiperlordose lumbar) and the head
protraction of OG. It suggests that the excess of corporal mass is a significant factor for the risk of
postural alterations and associates pathologies in the analyzed age band.
INTRODUÇÃO
A obesidade tem aumentado em proporção epidêmica, o excesso de peso na população
brasileira já é um problema de maior magnitude do que a desnutrição, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (1). Cerca de 35% da população infantil do mundo tem o problema da
obesidade. No Brasil, 15% das crianças são obesas (2).
No adulto, o excesso de gordura corporal aumenta o risco de doenças metabólicas, cardiovasculares,
distúrbios respiratórios, osteoarticulares, entre outros (3). Na infância, os principais riscos são as alterações
respiratórias, a elevação do triglicérides e do colesterol, além de distúrbios ortopédicos (4).
Dentre os distúrbios ortopédicos, as alterações posturais da coluna e dos membros inferiores
são os mais incidentes. Este fato é preocupante, pois na infância e na adolescência o sistema
musculoesquelético ainda está se desenvolvendo, o que torna o corpo mais susceptível a deformações.
Sacco et al. (5) observaram a associação da obesidade com alterações posturais pelo excesso de massa
corporal, diminuição da estabilidade e aumento das necessidades mecânicas para adaptação corporal.
A boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de
suporte do corpo contra lesão ou deformidade progressiva independente da atitude (ereta, deitada, agachada,
encurvada) nas quais essas estruturas estão trabalhando ou repousando. Sob tais condições, os músculos
funcionam mais eficientemente e posições ideais são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais.
A má postura é uma relação defeituosa entre várias partes do corpo, que produz uma maior tensão sobre as
estruturas de suporte e onde ocorre um equilíbrio menos eficiente do corpo sobre sua base de suporte (6).
Existem basicamente duas formas principais de avaliação postural, sendo a forma qualitativa a
mais tradicional e barata, estando baseada na prática e olho crítico do terapeuta. E a forma quantitativa,
que tem como recurso a fotogrametria, permite que a foto seja analisada por programas de computador e
as alterações quantificadas, permitindo melhor comparação entre pacientes e até entre os estágios de
evolução de um mesmo paciente (7, 8).
São inúmeras as causas de alterações posturais e quase sempre atuam conjuntamente. Dentre
essas causas, o excesso de peso corporal deve ser especialmente abordado devido às suas diversas
MATERIAIS E MÉTODOS
Os sujeitos foram divididos em três grupos, sendo o Grupo Obeso (GO) formado por 24
crianças com idade entre 7 e 10 anos, tendo como ponto de corte para excesso de peso o percentil 95 da
curva estatística do NCHS (Centro Nacional de Estatísticas em Saúde) de IMC (Índice de Massa Corpórea),
o Grupo Sobrepeso (GS) por 13 crianças com IMC entre o percentil 95 e o percetil 85, e o Grupo Eutrófico
(GE) por 40 crianças com IMC inferior ao percentil 85 e da mesma faixa etária (11). Foram excluídas
crianças com patologias neuromusculares, traumáticas, reumáticas, respiratórias e/ou que praticam atividade
física mais que duas vezes na semana além daquela proposta pela escola.
Os responsáveis das crianças foram esclarecidos sobre a relevância do trabalho, dos
procedimentos experimentais e assinaram um termo de consentimento. A pesquisa foi aprovada pela
Comissão de Ética do Hospital Universitário (HU) da USP, tendo sido realizada no ambulatório de pediatria
do HU e na Escola Estadual João Crispiniano Soares.
O método de avaliação escolhido foi a fotogrametria realizada por meio de quatro fotos digitais
(nas vistas anterior, lateral esquerda, posterior e oblíqua) com o indivíduo em pé, estático, cotovelos e
joelhos relaxados (12). A criança se encontrava em trajes de banho e com adesivos esféricos marcando as
espinhas ilíacas póstero-superiores e espinhas ilíacas ântero-superiores, vértebras cervicais (C5, C7), vértebras
torácicas (T2, T3, T5, T7, T9, T11, T12), vértebras lombares (L3, L5) e sacral (S2).
O ângulo de inclinação da coluna cervical foi estimado pelo traçado de uma linha-guia, ligando
a vértebra cervical C7 ao meato acústico e outra horizontal passando por C7 (figura 1), no programa Corel
Draw 10.0. A escoliose foi avaliada pelo método descrito por Watson e Mac Donncha (12). As inclinações
da coluna torácica e lombar foram calculadas por meio da régua flexível Trident, moldada acima dos
processos espinhosos, segundo Leroux (13) e Chernukha (14), respectivamente.
Na análise estatística, foi utilizado o programa estatístico SPSS 13.0, aplicando-se o teste GLM
(General Linear Model), utilizando Post-Hoc de Tukey para amostras independentes, com o nível de
significância a 5% e para diferenças marginalmente significantes entre 0,05 < a <0,100.
RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta a caracterização dos grupos com relação à idade, altura, peso e IMC. Os
valores de IMC apresentam-se nos limites de valores predeterminados anteriormente para divisão dos
grupos.
Pela Tabela 2, observou-se uma diminuição na média do ângulo de protração da cabeça em
GS (52,5+7,06)º e uma diminuição maior ainda no GO (47,3+7,26)º em relação ao GE (57,6+7,33)º, sendo
a primeira comparação marginalmente significante e a segunda significante. A média da lordose lombar do
GO (23,3+ 6,7)º aproxima-se da média encontrada no GS (22,5+6,8)º, porém a média do GO diverge do
valor de GE (19,7+6,2)º, mostrando uma diferença marginalmente significante no ângulo de inclinação da
lombar entre as crianças obesas e as eutróficas.
A Tabela 3 mostra alta incidência de hiperlordose lombar, hipercifose torácica, protração de
cabeça e escoliose nos três grupos.
TABELA 1 - Caracterização antropométrica da amostra de crianças estudadas
GO GS GE
M édia e faixa Média e faixa Média e faixa
Idade (anos) 8,9 (7 e 10) 8,9 (7 e 10) 8,5 (7 e 10)
Peso (kg) 49,3 (32 e 70,7) 42,1 (28 e 59,4) 28,2 (18 e 35)
Altura (m) 1,4 (1,255 e 1,6) 1,4 (1,23 e 1,61) 1,3 (1,15 e 1,48)
2
IMC (kg/m ) 24,9 (19,5 e 29,62) 20,3 (17,92 e 22,91) 16,1 (11,34 e 19,2)
TABELA 2 - Valores das análises dos ângulos de inclinação da coluna e distância do terceiro dedo ao chão. Os
números com asterisco indicam valores estatisticamente significantes ou marginalmente significantes
GO GS GE GO x GS GO x GE GS x GE
(média + SD) (média + SD) (média + SD) p p p
protração da 47.3+7.26 52,5+7,06 57,6+7,33 0,100* 0,000* 0,075*
cabeça (o )
cifose torácica (o) 39.1+ 8.74 38,9+6,30 37,0+7,10 0,999 0,543 0,697
lordose lombar (o) 23.3+ 6.73 22,5+6,79 19,7+6,21 0,919 0,082* 0,379
escoliose (o ) 1.49+1.083 1,11+ 0,621 1,22+0,698 0,752 0,422 0,247
DISCUSSÃO
A interpretação dos resultados desse trabalho permitiu verificar que das manifestações posturais
analisadas, a hiperlordose lombar, a hipercifose torácica e a protração da cabeça foram as que mais
incidiram nas crianças avaliadas de todos os grupos (GO, GS e GE).
A grande incidência de desvios posturais da coluna pode ter sido conseqüência de alterações
fisiológicas naturais do crescimento e desenvolvimento. Segundo Widhe (15), a curvatura lordótica e cifótica
da coluna tende a diminuir até a adolescência, assim como a sua flexibilidade. No entanto, alguns desvios
posturais podem ser provocados por formas inadequadas de carregar mochilas (geralmente com peso excessivo),
passar muito tempo sentado em posições incorretas, ou o uso de sapatos e mobiliários inadequados (16).
A hiperlordose lombar esteve presente em 66,67% do GO, 53,85% do GS e 32,5% do GE, sendo
que o grupo GO tendeu a apresentar uma curvatura lombar mais acentuada em relação ao GE, reforçando
a relação entre a obesidade e a hiperlordose lombar. No estudo de Campos et al. (17), 72% das crianças
obesas, com idade de 9 a 18 anos, apresentaram hiperlordose lombar e, no estudo de Pinho e Duarte (18),
50% das crianças eutróficas apresentaram esse desvio.
Outro desvio postural encontrado nos dois grupos foi a hipercifose torácica, estando presente
em 54,17% GO, 41,67% do GS e 32,5% do GE. Houve maior incidência no GO, mas a diferença entre os
grupos não foi significativa. Bruschini e Néri (19) relacionam a obesidade com o aumento da cifose
torácica, lordose lombar, inclinação anterior da pelve e o deslocamento anterior da cabeça, porém, no
presente estudo, a relação da hipercifose torácica e a obesidade não foi encontrada. Pinho e Duarte (18)
encontraram incidência de hipercifose de 21% nas crianças eutróficas. Penha et al. (20) verificaram freqüência
de 45% de hipercifose em 133 meninas eutróficas de 7 a 10 anos.
A grande incidência de hiperlordose lombar e de hipercifose torácica nos três grupos pode ser
explicada pelo fato de as crianças nessa faixa etária possuírem fraqueza na musculatura abdominal,
evidenciada por meio do abdome protuso, que ocasiona aumento na curva lombar e compensação na
coluna torácica (6).
Sibella et al. (9) sugerem que o abdome protuso da pessoa obesa desloca o centro de gravidade
corporal, aumentando a lordose lombar e a cifose torácica. Este trabalho sugere que a nova estratégia
postural adotada também provoca um aumento na lordose cervical para um reposicionamento da cabeça
e recuperação do equilíbrio corporal. No presente estudo, a protração de cabeça foi encontrada em 54,17%
do GO, 41,67% do GS e em apenas 12,5% do GE, sendo que o GO apresentou uma diferença significante
em relação ao GE nesta característica e nas comparações entre o GO e GS e entre o GS e GE foi marginalmente
significante. No estudo feito por Campos et al. (17), 85% das crianças obesas apresentaram protração de
cabeça, sugerindo que o fator peso possa exercer grande influência nessa característica. As alterações
posturais encontradas podem surgir com maior freqüência nos obesos em virtude da ação mecânica
desempenhada pelo excesso de peso corporal e o aumento das necessidades mecânicas regionais.
A incidência de escoliose no GO foi 33,33%, no GS foi de 31,81% e no GE foi de 34,28%. No
estudo de Pinho e Duarte (18), 30% das crianças eutróficas nessa faixa etária apresentaram escoliose.
Enquanto que Bertoldi et al. (21) verificaram freqüência de 23,8% de escoliose em crianças eutróficas de 7
a 12 anos. As incidências encontradas no GO e no GS se aproximam dos valores encontrado no GE,
sugerindo que essa característica não seja influenciada pela obesidade.
Há um número insuficiente de trabalhos publicados na área e os poucos trabalhos publicados
apresentaram diferenças nas análises metodológicas e na faixa etária das crianças, o que compromete a
comparação entre estes estudos, apesar dos dados desses trabalhos terem sido citados.
As alterações posturais encontradas nas crianças podem ser geradas pela utilização inadequada
dos mobiliários e mochilas, e formas inadequadas de se movimentar. Convém ressaltar a importância de
um programa de avaliação da postura nas escolas e palestras informativas para as crianças e seus responsáveis,
a fim de evitar maiores problemas futuros. Contudo, deve-se levar em consideração que a postura é um
equilíbrio neuromotor, resultante de reflexos sensitivos, integrados ao sistema nervoso, sendo influenciada
pela cultura, pela hereditariedade, pela personalidade, pelos sentimentos e emoções (22).
Vale ressaltar que a depressão é uma doença comum entre as crianças obesas, sendo estas
muito mais introvertidas que as eutróficas (23). As pessoas introvertidas tendem a adotar uma postura
particular, tendo uma maior protração da cabeça e ombro (22), sugerindo que as diferenças posturais
encontradas entre os dois grupos podem não ser apenas o resultado do aumento do peso, mas da diferença
no tratamento cultural dos dois grupos, seus hábitos (como o sedentarismo) e sua personalidade introvertida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se maior tendência no GO de apresentar aumento nas curvaturas sagitais da coluna,
principalmente na lordose e na cervical. Já o GS obteve tendência ao aumento apenas da curvatura
cervical. O que sugere que o excesso de massa corpórea seja um fator significativo para o risco de
alterações posturais da coluna na faixa etária analisada.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio financeiro da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo), a colaboração da Diretora do colégio E. E. P. G. João Crispiniano Soares, Prof. Andrea B.
Santana, a Luciana O. Cicca, aluna de fisioterapia da FMUSP, na coleta dos dados e de Guilherme G. Artioli,
aluno de mestrado da EEFE, na análise estatística.
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Resumo
Abstract
The process of the aging comes followed by a series of physiological alterations in the organism,
that can affect in such a way the pharmacokinetics significantly as the pharmacodynamic of the
existing drugs. The majority of the aged ones consumes, at least, a drug, and about one third
consumes five or more simultaneously. The use of multiple drugs, the medicine prescription
contraindicated for aged and the inadequate handling of these components for the health group
can unchain adverse effect in the motor performance generating instabilidades, falls and others
diseases. The objective of this study was to evaluate the performance of aged persons of the
community in tests of mobility and balance and relating them with used drugs. It concerns a
transversal and observacional study carried through with 35 aged people of the community that
frequented a group fromthe third age in Belo Horizonte/MG. The performance of these people in
the tests of mobility (timed up and go) and of balance (one leg stance) had been related with used
drugs. A significant relation was found among the used drugs number and the weak performance
in the TUG and the one leg stance for the aged (p<0,05). The performance in TUG was worse
between the aged ones that used anticoagulant agents (p=0.029). The ones that used hypolipidemia
agents, hypoglycemic agents and phytotherapy had been incapable to carry through the one leg
stance test (p<0.05). Simple tests can be sensitive to the adverse effect of medications. To
recognize the resulting motor alterations of the inadequate pharmacoterapy constitutes a
preventive approach of the physiotherapist.
INTRODUÇÃO
A população brasileira vem apresentando, desde o início da década de 60, um acentuado
processo de envelhecimento. Este processo é o resultado da associação de três eventos: a queda das taxas
de fecundidade que começaram a estreitar progressivamente a base da pirâmide populacional, a diminuição
dos índices de mortalidade (em especial a infantil) e o aumento da expectativa de vida (1).
O processo do envelhecimento vem acompanhado de uma série de alterações fisiológicas no
organismo, que pode afetar sensivelmente tanto a farmacocinética como a farmacodinâmica da maioria
das drogas existentes (2). Nessa faixa etária, as doenças crônicas e degenerativas são comuns e,
freqüentemente, são utilizados muitos medicamentos para o tratamento de suas manifestações.
A maioria dos idosos consome, pelo menos, um medicamento e cerca de um terço deles
consome cinco ou mais simultaneamente. Esse uso irracional se traduz em um consumo excessivo de
produtos supérfluos, ou não indicados, e a subutilização de outros, essenciais para o controle das doenças.
O uso de múltiplos produtos, a prescrição de medicamentos contra-indicados para os idosos e o uso de
dois ou mais fármacos com a mesma atividade farmacológica favorecem o aparecimento dos efeitos adversos
e das interações medicamentosas (3). Esse processo leva a duas situações quase idiossincráticas da assistência
médica ao idoso: a polifarmácia e a iatrogenia. A polifarmácia está relacionada ao uso de pelo menos uma
droga desnecessária num rol de prescrições supostamente necessárias. A iatrogenia configura o efeito
patogênico de uma droga ou da interação de várias drogas (4). As conseqüências dessas práticas inadequadas
podem levar a resultados indesejáveis, acarretando internações hospitalares e elevando os custos do sistema
de saúde (5).
Manifestações motoras indesejáveis em decorrência do uso inadequado de medicações vêm
sendo relatadas pela literatura. Vários estudos indicam uma associação entre o uso de medicamentos e um
aumento no risco de cair de 6 vezes (6). Vários tipos de medicamentos têm sido citados pela literatura
relacionados com o risco aumentado de cair, dentre eles, os psicotrópicos, cardiovasculares, corticosteróides
e os antiinflamatórios não-hormonais.
A literatura descreve vários testes funcionais utilizados para detectar alterações da mobilidade
e do equilíbrio. Esses testes permitem verificar o risco dos idosos em desempenhar as atividades funcionais
do cotidiano. Freqüentemente usados e de fácil aplicação na prática clínica, destacam-se o Timed Up and
Go (TUG) e o teste do apoio unipodálico.
O TUG é uma modificação do teste get up and go, descrito por Mathias (7) e desenvolvido
inicialmente, para mensurar de maneira qualitativa, o desempenho do indivíduo em levantar-se a partir de
uma posição sentada, caminhar três metros e retornar à posição inicial. Segundo Podsiadlo e Richardson
(8), modificaram o get up and go, incorporando a medida de tempo para se realizar o teste devido à baixa
correlação da avaliação interexaminadores.
O apoio unipodálico (One Leg Stance) é o teste de equilíbrio estático mais simples e utilizado
na prática clínica com idosos. O teste é de fácil aplicação e tem alta confiabilidade e sensibilidade quando
aplicado em idosos da comunidade, institucionalizados e hospitalizados (9). São instrumentos simples e de
baixo custo que permitem avaliar o risco de quedas em idosos, permitindo medidas preventivas.
O objetivo desse estudo foi avaliar o desempenho de idosos da comunidade em testes de
mobilidade (timed up and go) e de equilíbrio (apoio unipodálico) e relacioná-los com os medicamentos
usados.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostra
Instrumentos e procedimentos
Análise estatística
Para a avaliação dos dados clínicos, demográficos e sociais, foi utilizada a estatística descritiva.
O modelo de regressão logística foi utilizado para determinar a relação existente entre o número de
medicamentos e o desempenho no teste de apoio unipodálico. Esse método também foi utilizado para
avaliar a relação entre a quantidade de doenças relatadas, o número de quedas e a relação entre a idade
com o teste de apoio unipodálico. O método stepwise foi usado para identificar quais medicamentos
RESULTADOS E DISCUSSÃO
relação inversa entre as duas variáveis, ou seja, quanto mais medicamentos são usados pelo idoso, menor
é a sua probabilidade de ser capaz de realizar o teste unipodálico direito. A Odds Ratio mostra que a
chance de ser incapaz no apoio direito é 1,64 vezes maior a cada novo medicamento usado (1/0,61 = 1,64).
Essa razão é cumulativa, ou seja, a chance de um idoso ser incapaz no apoio unipodálico direito é 3,28
vezes maior se comparado a um idoso que usa dois medicamentos a menos.
Os idosos que usavam os medicamentos hipolipemiantes (p = 0,02), hipoglicemiantes (p =
0,016) e fitoterápicos (p = 0,008) foram incapazes de realizar o teste de apoio unipodálico (P<0,05). Destes,
3 idosos usavam somente o hipolipemiante, 4 usavam apenas o hiploglicemiante, 3 somente o fitoterápico
e apenas 1 usava simultaneamente o hipolipemiante e o fitoterápico. O anti-hipertensivo, apesar de não
apresentar uma relação significativa (p = 0,09), não pode ser descartado, devido ao valor próximo de 0,05.
A relação entre a quantidade de doenças presentes nos idosos não foi capaz de afetar o
desempenho no TUG, no apoio unipodálico ou com o número de quedas relatado (P>0,05). Na amostra
pesquisada, uma média de 1,52 quedas foi relatada para cada idoso no último ano, 50% dos idosos caíram
nenhuma ou 1 vez e 75% caíram menos de 3 vezes. Não foi observada uma relação evidente entre o
número de quedas dos idosos no último ano e a quantidade de medicamentos ou doenças relatadas
(P>0,05).
A relação entre o desempenho no TUG e a idade (P<0,05) foi baixa. A Figura 2 mostra que,
apesar do coeficiente de correlação ser de apenas 0,347, a amostra é considerável, indicando uma relação
direta e baixa entre as variáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, torna-se importante o conhecimento dos padrões de uso e de prescrição
de medicamentos entre os idosos, como também do perfil das reações adversas e seus impactos clínicos,
sociais e monetários. Tornam-se necessárias intervenções que busquem melhoria das prescrições, maior
adesão do paciente ao tratamento, maior controle das reações adversas e, conseqüentemente, redução dos
custos.
Testes simples podem ser sensíveis aos efeitos adversos das medicações. Reconhecer as alterações
motoras decorrentes da farmacoterapia inadequada constitui uma abordagem preventiva do fisioterapeuta.
Outros estudos mais aprofundados, estratificados por categorias dos medicamentos e com uma amostra
maior, serão necessários.
REFERÊNCIAS
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Organização Mundial da Saúde para a Família de Classificações Internacionais, org.; Coordenação da
tradução: Cassia Maria Buchala. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2003. p. 13-15.
Resumo
A Reeducação Postural Global é uma técnica de Fisioterapia que trata das desarmonias corporais,
trabalhando os sistemas musculoesqueléticos como um todo, objetivando maior harmonia em
acompanhamento individual semanal. Cinco pacientes do sexo feminino, na faixa etária de 20 a
30 anos de idade, foram submetidas ao tratamento fisioterapêutico visando a correção postural e
redução de queixas álgicas decorrentes de alterações posturais. As mesmas cinco pacientes foram
radiografadas nas incidências ântero-posterior e perfil, na semana consecutiva à alta terapêutica,
quando se observava melhora postural evidenciada pela retração de ombro, e após quatro meses
desta. As distâncias lineares entre a clavícula e o tubérculo maior do úmero, e deste à escápula e
ao centro da cavidade glenóide, foram mensuradas e avaliadas estatisticamente. Este estudo
objetivou analisar a efetividade da técnica de Reeducação Postural Global após a alta terapêutica,
com base na avaliação da protusão na articulação do ombro, bilateralmente. Não foram observadas
diferenças estatisticamente significantes entre as medidas realizadas, demonstrando que não houve
perda do ganho obtido pelo tratamento proposto no período entre a alta e a reavaliação após quatro
meses.
Abstract
Global Postural Reeducation is a techniques of Physical Therapy that treats body discordance,
working on muscle-skeletal sistems as if all, looking for body harmony performing individual
accompaniment every week. Five female patients aged of 20 to 30 years old, realized Physical
Therapy treatment to obtain the right posture and decrease of pain complaint caused by postural
changes. The same five patients were radio graphed on the anteroposterior and side views, on the
week after discharge from therapy, when the improvement on posture was evidenced by shoulder
retraction, and after four months. The linear interval between clavicle and humeral major
tubercle, and from this to tenterhook and the middle of glenoid cavity were measured and
appraised from statistician. The objective of this article was to analyse the effectiveness of Global
Postural Reeducation techniques after discharge from therapy, based on evaluation of shoulder
articulation protrusion, both sides. Differences statisticians significantly were not noticed by the
measured realized, showing that the earnings with treatment were not lost in the period from the
discharge from therapy to reevaluation after four months.
INTRODUÇÃO
A Reeducação Postural Global, ou RPG, é um método de Fisioterapia criado na França, em
1980, pelo fisioterapeuta francês Phillipe-Emanuel Souchard, a partir de uma insatisfação com relação aos
tratamentos clássicos. Esta técnica chegou ao Brasil também na década de 80 (1, 2, 3).
A RPG trata das desarmonias do corpo humano, levando em consideração as necessidades
individuais de cada paciente, visto que cada organismo reage de maneira diferente às agressões sofridas.
Avaliam-se as retrações e os enrijecimentos musculares considerados como responsáveis pelo desequilíbrio
postural, que por sua vez pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento de inúmeros problemas
morfológicos, articulares, neurológicos, traumáticos, respiratórios e esportivos (4, 5).
A técnica considera sistemas musculares e esqueléticos como um todo e procura tratar de
forma individualizada músculos dinâmicos e estáticos. Utiliza posturas estáticas, que são realizadas associadas
a exercícios respiratórios sob orientação do fisioterapeuta (1, 2, 5).
Para se obter um resultado positivo com RPG, são necessárias sessões semanais, de
aproximadamente uma hora, podendo haver exceções, nos casos de maior gravidade (4). Objetivando a
harmonia postural, podem ser utilizadas oito posturas de alongamento. Normalmente, o paciente pratica
duas posições em cada sessão, em que não existem movimentos de repetição (3). O tratamento é indicado
para todas as faixas etárias, sendo a sua efetividade evidenciada, por exemplo, na retração escapular
comparativa à protusão do complexo articular do ombro, que pode ser observada na avaliação inicial (2).
O ombro é um conjunto funcional que permite unir o membro superior ao tórax, apresentando
as funções de promover a mobilização com grande amplitude de movimento do braço e a boa estabilidade
no caso em que o membro superior necessita de força, como durante o manejo de objetos pesados (6).
O cíngulo escapular é composto pela clavícula, que se articula com acrômio e esterno, e pela
escápula, que se articula com o úmero e com a clavícula, sendo considerada a mais móvel das articulações
do corpo humano (7, 8).
Quatro articulações separadas formam o complexo articular do ombro: a escapuloumeral, a
esternoclavicular, a acromioclavicular e a escapulotorácica, cada qual conferindo movimento ao braço,
mediante ações articulares coordenadas. Seus movimentos são de abdução e adução, flexão e extensão,
circundução, elevação e rotações (medial e lateral). O ombro tem maior grau de movimento e liberdade
que qualquer outra articulação, devido, em grande parte, ao movimento escapular, o qual inclui elevação
e abaixamento, protusão, retração e rotação (9, 10).
Os músculos que se inserem na escápula, clavícula e úmero funcionam como uma unidade
coordenada para produzir um movimento suave do ombro. Os músculos do ombro fixam-se em numerosos
ossos e são divididos em dois grupos: os que mobilizam a escápula e a clavícula sobre o tórax (serrátil
anterior, subclávio, peitoral menor, esternocleidomastóideo, elevador da escápula, rombóide menor e trapézio)
e os que mobilizam o úmero sobre a escápula (subescapular, supra-espinal, infra-espinal, redondo menor,
coracobraquial, bíceps braquial, peitoral maior, latíssimo do dorso, redondo maior e deltóide) (6, 11).
No ombro, os músculos podem gerar a maior produção de força no movimento de adução e
esta é o dobro da força do movimento de abdução, embora o movimento de abdução seja usado mais
freqüentemente em atividades diárias e esportivas. O movimento de extensão é o segundo em nível de
força e é levemente mais forte que a flexão. As ações articulares mais fracas no ombro são os movimentos
articulares de rotação, sendo rotação externa a mais fraca delas (9).
Algumas saliências ósseas, como os tubérculos maior e menor do úmero, e o tubérculo conóide
da clavícula, que está localizado próximo a sua face articular acromial, podem ser visualizadas radiograficamente
na projeção antero-posterior (AP), além de evidenciar o acrômio e a espinha da escápula (12, 13).
O tratamento com RPG é realizado utilizando-se posturas estáticas indicadas precisamente para
cada tipo de dor ou patologia, dependendo da queixa de cada paciente, de modo que os músculos estáticos
sejam alongados e os dinâmicos sejam contraídos (contração excêntrica), buscando reencontrar a boa morfologia
corporal e solucionando os problemas relacionados a esta, incluindo a retração escapular (2, 3).
Apesar de difundida nacionalmente, a sua comprovação científica ainda é escassa, bem como
sua efetividade a longo prazo, e a manutenção dos ganhos obtidos ao tratamento após a alta terapêutica.
O objetivo deste estudo foi avaliar a efetividade do tratamento de RPG na protusão de ombro,
após a alta terapêutica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram avaliadas cinco pacientes do sexo feminino, na faixa etária de 20 a 30 anos, que se
submeteram ao tratamento fisioterapêutico com RPG, com o objetivo de corrigir alterações posturais,
minimizar queixas álgicas e melhorar a consciência corporal.
A avaliação física foi realizada pela mesma fisioterapeuta em todas as pacientes, seguindo
avaliação postural global, sendo que 4 (quatro) apresentavam predominância de cadeia anterior e 1 (uma)
cadeia mista.
O tratamento foi realizado semanalmente também pela mesma fisioterapeuta, utilizando-se as
posturas “rã no chão” e “asa delta” ou “bailarina”, em sessões de aproximadamente 50 minutos, por
período superior a quatro meses.
Ao atingir os objetivos, as pacientes receberam alta terapêutica e observou-se, como evidência
de melhora postural, retração escapular bilateral e maior simetria corporal, associado à ausência de dor em
todos os casos. As pacientes foram orientadas à prática de atividade física (preferencialmente hidroginástica),
visando manutenção dos ganhos obtidos.
As participantes foram orientadas quanto à realização da pesquisa e assinaram “Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido”.
Após uma semana da alta terapêutica, a articulação do ombro foi radiografada
bilateralmente, nas incidências ântero-posterior (AP) e perfil, com orientação ao técnico em radiologia
responsável pelo exame a manter a articulação na posição de relaxamento muscular, sem
posicionamentos corretivos.
Utilizando o paquímetro Vernier Calipers – 150 x 0,05 mm/6” x 1/128 in, foram realizadas
medidas, pela mesma pesquisadora, das distâncias lineares entre o acrômio da escápula em sua
porção apical e o tubérculo maior do úmero, e deste ao tubérculo conóide da clavícula, visando
avaliar a retração ou protusão de ombro. A distância linear do tubérculo maior do úmero ao centro
da cavidade glenóide também foi mensurada para avaliação de rotações umerais. Tais medidas
foram reavaliadas quatro meses após a alta, e avaliadas estatisticamente.
RESULTADOS
Segundo questionário aplicado na mesma data em que se realizou a avaliação radiográfica
após quatro meses da alta terapêutica, a amostra estudada pode ser caracterizada como ilustrado pela
Tabela 1 apresentada a seguir.
Caracterização da Amostra
No de pacientes %
Idade 20 a 25 anos 1 20
25 a 30 anos 4 80
Dominância Direito 5 100
Esquerdo - -
Realização de atividade física após alta Durante os 4 meses 1 20
Parte do período 2 40
Não 2 40
Queixa álgica Não 3 60
Sim 2 40
Medida utilizada para alívio álgico Medicamento - -
Alongamento 1 50
Cessou espontaneamente - -
Outra 1 50
Satisfação ao tratamento Total 3 60
Parcial 2 40
Insatisfação - -
As médias das medidas encontradas nas avaliações radiográficas quando da alta terapêutica e
após quatro meses desta, avaliadas pelos testes estatísticos, podem ser observadas no Gráfico 1. Tais
medidas demonstraram não haver evidências suficientes para concluir que tenha ocorrido mudança, por
não demonstrarem alterações estatisticamente significantes (p= 0,05), mesmo ao diminuir o grau de
confiabilidade do teste aplicado.
3,7
3,34 3,24
3,14
1 2 3 4 5 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a prática de RPG, o alongamento dos tecidos é obtido muito progressivamente, de
maneira quantitativa, sendo solicitada contração dos músculos hipertônicos, em contração isotônica
excêntrica de baixa intensidade, ou mesmo isométrica excêntrica, enquanto os músculos da dinâmica
são exercitados em isotonia concêntrica. Enfim, durante uma mesma postura de tratamento, são colocados
em tração todos os músculos retraídos concernentes a uma lesão, tornando possível assim chegar à
causa da lesão (14).
A RPG apresenta bons resultados na prática diária, porém a falta de trabalhos científicos
sobre o tema dificulta a sua difusão. Estudo realizado comparativo entre os desempenhos da RPG com
a série de Williams (o método convencional) comprovou-se que a RPG alivia a lombalgia com mais
rapidez, corrige a postura e previne a reincidência do problema (15, 16).
Segundo este mesmo trabalho, o contraste também aparece no índice de satisfação com o
tratamento. Enquanto 80% das pessoas submetidas à RPG declararam resultados positivos, apenas 45%
das pessoas submetidas ao tratamento convencional declararam o mesmo (15, 16).
Conforme apresentado, todas as pacientes que participaram desta pesquisa demonstraram
satisfação ao tratamento realizado após quatro meses da alta terapêutica, sendo que apenas 40% relataram
queixa álgica durante o período estudado, o que pode ser associado à não prática de atividade física
pelas participantes, apesar da orientação.
Em nenhuma das médias das medidas realizadas evidenciou-se mudanças significativas, mesmo
com uma diminuição do grau de confiabilidade do teste utilizado, demonstrando que não ocorreu perda
do ganho, do melhor posicionamento escapular, obtido com o tratamento utilizando a técnica de RPG.
Portanto, avaliando-se a efetividade da técnica de RPG após a alta terapêutica, utilizando como
parâmetros as medidas de distâncias lineares entre estruturas ósseas na articulação do ombro, com finalidade
de determinar possível perda do posicionamento escapular evidenciada clinicamente durante o período de
tratamento, observa-se que, durante o período de quatro meses após a alta terapêutica, os ganhos são
mantidos, visto não haver diferença estatisticamente significante entre as medidas encontradas uma semana
após a alta terapêutica e após 4 meses desta.
Para uma maior percepção das razões pelas quais estas mudanças não foram percebidas,
torna-se necessário um aumento do número da amostra ou pesquisas mais aprofundadas (qualitativa e
quantitativa).
A carência de estudos publicados comprovando cientificamente a técnica dificulta sua divulgação
no meio científico. Este estudo promove a possibilidade de maiores investigações na comprovação da
efetividade da técnica.
REFERÊNCIAS
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este mal pela raiz: a má postura, que acaba desalinhando os músculos. Revista Saúde [periódico na
Internet]. 2003 Jul [acesso em 25 de junho de 2005]; (08) 2003 Disponível em: http://www.sbrpg.com.br/
publica08.asp.
Jussara de Oliveira
Docente do Curso de Fisioterapia, Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde, Centro Universitário de Araraquara -
UNIARA, Araraquara – SP.
Resumo
Introdução: A Artrite Reumatóide Juvenil é uma patologia crônica auto-imune, que afeta o tecido
conjuntivo, sendo caracterizada por dor articular, rigidez e fadiga, havendo inflamação contínua nas
articulações afetadas. Para que haja bom resultado no tratamento da ARJ, é necessário um diagnóstico
precoce e a imediata intervenção fisioterápica. Objetivo: Avaliar a capacidade funcional e a qualidade
de vida de uma criança portadora de ARJ submetida a um programa de hidroterapia, pelo questionário
SF-36. Metodologia: O estudo teve a participação de um voluntário portador de ARJ, idade de 5 anos,
avaliado no início e no final do tratamento utilizando métodos quantitativos (amplitude de movimento
articular, força muscular, entre outros) e qualitativos, como o questionário de qualidade de vida SF-
36, adaptado ao paciente estudado. O tratamento consistiu de duas sessões semanais de hidroterapia,
com duração de uma hora, totalizando 10 sessões. Em cada sessão, foram executados exercícios de
amplitude de movimento e resistência especialmente para membros inferiores. Resultados: Pelos
dados obtidos, foi observada a melhora da amplitude de movimento de joelho, quadril e tornozelo,
redução da semiflexão de joelho adotada pelo paciente na posição ortostática, melhora da
flexibilidade muscular (reto femoral e isquiotibiais), redução dos valores de cirtometria em membros
inferiores e melhora na capacidade funcional, dor, estado geral de saúde e vitalidade (SF-36).
Conclusão: A hidroterapia promoveu melhora significante na funcionalidade e qualidade de vida
da criança portadora de artrite reumatóide juvenil.
Abstract
Introduction: Juvenile Rheumatoid Arthritis is a chronic auto immune disease that affects
conjunctive tissue characterized by joint pain and swilling, rigidity, fatigue and continuous
inflammation in joints. For a good prognostic it’s necessary the initiation of effective therapy,
especially physical therapy. Objective: The aim of this work was evaluation of the functional
capacity and health quality of a child with juvenile idiopathic arthritis (JIA). Methods: This
study had the participation of one male voluntary child with JIA diagnosis with age of five years
old. This voluntary was submitted to a hydrotherapy program divided in one hour sessions, two
times a week, in a total of 10 sessions. In each session, exercises to improve the range of motion
(ROM) and resistance, especially to the inferior members, were executed. Results: The
hydrotherapy improved the ROM in hip, knee and ankle. The posture evaluation showed a
reduction in maintained flexion of the knees. The treatment also improved the muscle flexibility
(hamstring and rectus femoris) and cirtometric values of legs. In the health quality evolution (SF-
36), it was observed an improved in functional capacity, pain, general state of health and vitality.
Conclusion: The hydrotherapy had significant results like improvement in the functionality and
life’s quality of a child with Juvenile Rheumatoid Arthritis.
INTRODUÇÃO
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, as doenças reumáticas podem ser definidas
como um grande grupo de diferentes patologias que têm em comum o comprometimento do sistema
musculoesquelético.
Dentre as doenças reumáticas, destaca-se a Artrite Reumatóide (AR), uma patologia crônica
sistêmica, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor articular, rigidez e fadiga, havendo inflamação
contínua nas articulações. Com a evolução, ocorre o envolvimento de um número crescente de articulações,
havendo predileção pelas mãos, pés e punhos, geralmente num padrão simétrico (1).
Uma das formas de AR é a denominada Artrite Reumatóide Juvenil (ARJ), uma patologia
crônica auto-imune, que afeta o tecido conjuntivo. Diferentemente de sua forma adulta, acomete crianças
menores de 16 anos de idade, persistindo por no mínimo 6 semanas, em pelo menos uma articulação. É
caracterizada por dor articular e edema, podendo progredir para comprometimento da cartilagem e do
osso, resultando em perda de função e deformidades articulares (2, 3, 4).
Assim como na AR, essa patologia acomete indivíduos de qualquer raça, com predominância
do sexo feminino de 3:1. A etiologia e patogênese da ARJ permanecem desconhecidas. Como ocorre na AR
em adultos, a presença de antígeno de histocompatibilidade (HLA) pode ser um importante fator relacionado
à suscetibilidade genética. Diferente da forma adulta, apenas uma minoria (10 a 20%) dos pacientes com
ARJ são positivos para o fator reumatóide (FR), anticorpo (Ac) que reage contra o fragmento Fc da IgG,
sendo que todos esses pacientes têm a patologia com surgimento poliarticular (5).
A ARJ pode ser dividida em três subtipos. A forma mais comum de ARJ é a Oligoarticular,
constituindo mais da metade dos casos, sendo afetadas até 4 articulações, principalmente as grandes, com
maior freqüência no joelho, podendo envolver cotovelos e tornozelos, de modo assimétrico. Os sintomas
articulares nesses indivíduos são brandos e seu surgimento é insidioso. A patologia não-diagnosticada ou
não-tratada pode resultar em atrofia muscular, contraturas articulares e distúrbios no crescimento (6).
A forma Poliarticular representa 30 a 40% dos pacientes com ARJ, sendo observada principalmente
em meninas, com envolvimento de mais de 4 articulações, grandes ou pequenas. Quando os pacientes
apresentam FR sérico, sofrem uma artropatia destrutiva persistente e exibem nódulos reumatóides subcutâneos
associados. Em relação aos sintomas, seu surgimento é gradual, ocorrendo redução da atividade, rigidez
matinal, edema nas articulações e ocasionalmente dores articulares. O exame revela sinovite proliferativa
e efusões com freqüente perda nos movimentos das articulações (1).
O surgimento do terceiro subtipo da ARJ, o Sistêmico, ocorre em 10 a 20% dos casos, com
manifestações de febre alta com padrão irregular, mal-estar e exantema. Quase todos os pacientes apresentam-
se com adenopatia e hepatoesplenomegalia. Outras manifestações sistêmicas podem ser pericardite,
miocardite, efusão pleural e doença pulmonar intersticial (1, 7).
A ARJ tem um prognóstico bastante variável, dependendo de diversos fatores, além do tipo de
manifestação. Sinas que evidenciam a possibilidade de melhor evolução da patologia são pouca idade e
sexo masculino (3).
Para que haja bom resultado no tratamento da ARJ, é necessário um diagnóstico precoce e a
imediata intervenção fisioterápica.
Na fase aguda da patologia, a criança comumente apresentará dor, tumefação, febre, mal-estar
geral e limitação funcional e os principais objetivos do tratamento fisioterápico serão controlar a inflamação
e a dor, evitar rigidez articular e atrofias musculares, preservar e melhorar a mobilidade articular e força
muscular e prevenir deformidades (8).
Posteriormente, nas fases subaguda e crônica, será importante a prevenção das agudizações,
correção das deformidades e recuperação do tônus muscular. Para alcançar tais objetivos, além do tratamento
postural, serão usadas órteses de correção e os alongamentos em todas as articulações que apresentem
retrações de partes moles (5, 8).
Dentre os recursos disponíveis para os portadores de ARJ, pode-se citar a hidroterapia, que se
destaca por aliar as propriedades físicas da água aos benefícios de redução da dor e da rigidez articular,
aumento da extensibilidade das fibras de colágeno e alívio dos espasmos musculares (9, 10, 11, 12).
Frente a todos estes dados apresentados, fica evidente a necessidade de ampliar os
conhecimentos acerca dos tratamentos utilizados na ARJ com a aplicação de hidroterapia, uma vez que as
pesquisas nesta área são escassas. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a influência da hidroterapia
na capacidade funcional e qualidade de vida de uma criança portadora de ARJ.
METODOLOGIA
Um voluntário, M.R.S., 5 anos, do sexo masculino, portador de ARJ classificada como
Oligoarticular, foi submetido à avaliação fisioterapêutica, sendo avaliado por métodos quantitativos, incluindo
testes de amplitude de movimento articular (ADM), de força muscular, de flexibilidade, cirtometria de
membros inferiores e também por métodos qualitativos, como anamnese, inspeção, palpação, avaliação da
marcha e avaliação postural. Para avaliação da qualidade de vida desta criança, foi aplicado o questionário
de qualidade de vida SF- 36, adaptado à faixa etária do paciente estudado. Em função de tratar-se de uma
criança, o questionário foi aplicado a sua mãe.
O SF-36 (The Medical Outcomes Study 36 – item Short-Form) é formado por 36 itens, reunidos
em dois grandes componentes, denominados físico e mental. Esses componentes são formados por quatro
domínios, que, por sua vez, constituem-se de itens que avaliam uma mesma área da vida dos pacientes. O
componente físico é composto pelos seguintes domínios: capacidade funcional (10 itens), aspectos físicos
(4 itens), dor (2 itens) e estado geral de saúde (5 itens); o componente mental abrange domínios como
vitalidade (4 itens), aspectos sociais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens) e saúde mental (5 itens) (13,
14, 15, 16, 17).
Após esta avaliação, este paciente iniciou um tratamento utilizando hidroterapia, na Clínica de
Fisioterapia da UNIARA, consistindo de duas sessões semanais, com duração de 1 hora, totalizando 10
sessões. Em cada sessão, foram realizadas atividades de aquecimento (exercícios de caminhada ou bicicleta
com uso de espaguetes), alongamentos (passivos e ativo-assistidos), exercícios resistidos (com uso de
flutuadores como espaguetes, alteres, pranchas e palmares, além da resistência do terapeuta e da própria
água), relaxamento (com uso de flutuadores de cinturas e espaguetes) e atividades lúdicas, como jogo de
bola, brinquedos e natação.
RESULTADOS
Pelos dados de amplitude de movimento obtidos com a evolução do estudo, foi possível
observar que após o tratamento fisioterapêutico, houve melhora na amplitude de movimento de flexão e
extensão de joelho e flexão de quadril, e melhora ainda mais significativa na flexão plantar de tornozelo.
Já a amplitude de movimento de extensão de quadril e dorsiflexão de tornozelo mantiveram-se sem
grandes alterações (Figura 1).
Na avaliação postural final, observou-se redução da semiflexão dos joelhos adotada pelo
paciente na posição ortostática.
Em relação à força muscular, não houve alterações ao término do programa de tratamento, uma
vez que o paciente não apresentava déficit de força no início do tratamento ao Teste Muscular Manual.
Diante dos dados obtidos na cirtometria dos membros inferiores, foi possível observar uma
tendência à redução dos valores obtidos, especialmente com relação ao membro inferior direito, como
mostra a Figura 2.
FIGURA 4 - Avaliação da Qualidade de Vida por meio do SF-36, ao início e término do tratamento
DISCUSSÃO
O paciente portador de artrite reumatóide juvenil selecionado para o presente estudo apresentou
no início do tratamento um quadro característico da ARJ com dor articular principalmente nos joelhos e
tornozelos, edema e fadiga, com padrão de marcha eventualmente alterado pelos sintomas álgicos.
Dentre os três subtipos existentes, o paciente estudado encaixa-se no tipo Oligoarticular
que, segundo Roberto et al. (6), constitui mais da metade dos casos, sendo afetadas até quatro articulações,
principalmente as grandes, geralmente com predileção pelo joelho, na maioria dos casos com sintomas
brandos e início insidioso.
Observando-se os dados obtidos no estudo, pode-se notar que o protocolo de hidroterapia
proposto parece ter causado redução do edema articular (dados confirmados na cirtometria), além da
melhora da flexibilidade dos músculos isquiotibiais e reto femoral, que se encontravam encurtados o início
do tratamento. Observou-se melhora também na amplitude de movimento dos membros inferiores, mostrando
um resultado ainda mais evidente na flexão plantar dos tornozelos. Esses dados vão ao encontro dos
achados de Becker (9) e Campion (10), que afirmam que a hidroterapia destaca-se por aliar as propriedades
físicas da água, como o empuxo, a absorção e o calor, proporcionando ao paciente redução da dor e
edema articular, aumento da força muscular e da amplitude de movimento articular e ganho de capacidade
funcional, sendo também um ambiente confortável de relaxamento.
A utilização do questionário de qualidade de vida SF-36 antes e ao término do tratamento
proposto mostrou uma significante melhora na qualidade de vida da criança estudada, principalmente nos
itens de Capacidade Funcional, Dor, Vitalidade e Estado Geral de Saúde, o que nos faz acreditar que a
hidroterapia foi responsável por uma melhora global na qualidade de vida do paciente em questão.
A versão do questionário SF-36 adaptada às crianças possibilita, com vantagem, o uso deste
instrumento para a avaliação da qualidade de vida de portadores de artrite crônica na fase da infância.
Confirmou-se no presente estudo a aplicabilidade do questionário avaliando o perfil da qualidade de vida
em diversos aspectos, de acordo com a percepção dos pais (18). Segundo Brasil (12), o efeito completo da
artrite sobre o paciente e o seu prognóstico não é inteiramente captado sem o uso de um instrumento
genérico de avaliação da qualidade de vida.
É de extrema importância destacar que no estudo em questão, diversas vezes deparou-se
com a falta de colaboração por parte da criança, que eventualmente encontrava-se dispersa, agitada e
pouco colaborativa.
Vale também ressaltar que o programa de tratamento escolhido adapta-se bem a pacientes
dessa faixa etária, uma vez que a água é um ambiente agradável, o que possibilita melhor adesão ao
tratamento.
Frente aos achados do presente trabalho, sugerimos a realização de novos estudos utilizando
diferentes modalidades terapêuticas, abrangendo um número maior de indivíduos como amostra, além de
um tempo tratamento mais prolongado, para que os resultados obtidos sejam mais significantes e de maior
confiabilidade.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Gustavo Christofoletti
Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Motricidade pela UNESP/Rio Claro - SP.
e-mail: Gustavo_physio@yahoo.com.br
Florindo Stella
Prof. Dr. da UNESP/Rio Claro-SP e Coordenador do Ambulatório de Psiquiatria Geriátrica da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). e-mail: fstella@rc.unesp.br
Sebastião Gobbi
Prof. Dr. da UNESP/Rio Claro-SP e Coordenador do Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento (LAFE).
e-mail: sgobbi@.rc.unesp.br
Resumo
Abstract
To compare the cognitive functions of institutionalized elderly people with dementia that walk
independently forms those who use wheelchair. Methods: This study was composed by 22
institutionalized old people, male and female, with moderate or severe dementia according to
Diagnostic and Statistical Manual (DSM-IV) and Score Clinic Dementia (CDR), aged with 75.6
± 9.5 and scholarity of 4.8 years. The subjects were divided in two groups: a) 11 subjects able to
walk by himselves (group 1) and b) 11 old people dependents by wheelchair (group 2). The
cognitive functions were evaluated by means of the Mini-Mental State Examination (MMSE),
the Brief Cognitive Screening Battery (BCSB), the Verbal Fluency Test and the Clock Drawing
Test. To analyse the data the U-Mann Whitney test was applied, with 95% of confidence level.
Results: U-Mann Whitney test pointed no significant differences between the groups to age
(UMW=46,0; p>0,05) and scholarity (UMW=59,0; p>0,05). It was observed a statistically
difference between groups in the BCSB (UMW=18,5; p<0,01), the Verbal Fluency Test
(UMW=22,0; p<0,05), and the Clock Drawing Test UMW=15,5; p<0,01) in favor to walkers
(group 1). Neverthless, this difference is not verified in the MMSE (UMW=38,0; p>0,05).
Conclusion: The data showed that elderly people that walk independently have better cognitive
performance when compared to those that use wheelchair. If the adoption of strategies that
propitiates the non-locomotion olders conditions for a better motor performance could minimize
the cognitive decline, still remains an question to be answered.
INTRODUÇÃO
As demências são patologias caracterizadas, sobretudo, por sintomas relacionados ao declínio
progressivo de memória, atenção e concentração, raciocínio lógico e alterações de personalidade, humor
e comportamento (1). Tais eventos podem afetar o controle postural padrão, a velocidade, o ritmo e a
freqüência da marcha do idoso com demência (2, 3).
Inúmeros são os fatores de risco que podem acarretar doenças demenciantes, entre os quais,
destacam-se a idade (alterações nos genes das pré-senilinas), história familiar, polimorfismo da
apolipoproteína do alelo e baixa escolaridade, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, cardiopatias e
doenças cerebrovasculares (4). Com a evolução do quadro clínico, observam-se perdas cerebrais irreversíveis
que causam diversos distúrbios neuropsiquiátricos, como delírios, alucinações, agressividade, irritabilidade,
depressão, alterações do sono e agitação, que são responsáveis, na maioria dos casos, pela institucionalização
do paciente (5).
O ato de caminhar de forma independente requer processamentos cognitivos e motores cujos
mecanismos envolvidos estão relacionados aos recursos atencionais, funções executivas e aos sistemas
sensorial e musculoesquelético (6, 7). Deste modo, a locomoção depende da funcionalidade desses processos
sob a regência de estruturas cerebrais superiores, comumente comprometidas nas demências (8).
É de consenso na literatura que a locomoção é um fator diretamente relacionado à preservação
da independência física, realização das atividades da vida diária e interação social (9, 10). No entanto, em
relação a idosos com diagnóstico de demência, alguns estudos apontam o comprometimento motor como
conseqüência de estágios mais avançados (4), enquanto outros defendem que a dependência não é resultante
somente do declínio cognitivo acentuado, mas também da existência de outros fatores associados, como
doenças debilitantes e acidentes vasculares encefálicos (2).
Diante disso, o objetivo do estudo consistiu em comparar as funções cognitivas de dois grupos
de idosos institucionalizados com demência: um grupo que caminhava de forma independente e o outro
dependente de cadeira de rodas para a locomoção.
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS
O grupo dos idosos independentes foi constituído por 11 participantes, com idade média de
77,7±9,2 anos e com escolaridade de 4,6±4,9 anos. O grupo de idosos cadeirantes, também composto por 11
sujeitos, apresentou idade média de 73,4±9,7 anos e escolaridade de 4,9±5,4 anos. Por meio do teste U-Mann
Whitney não foi observada diferença significativa em relação à idade (UMW=46,0; p>0,05) e à escolaridade
(UMW=59,0; p>0,05), indicando que tais variáveis não influenciaram os resultados da avaliação cognitiva.
Os escores médios obtidos com os idosos independentes no MEEM foi de 20,1±1,5, na BBRC
67,2±11,1, no Teste de Fluência Verbal 11,5±1,2 e no Teste do Desenho do Relógio 3,9±0,8. Em relação aos
idosos cadeirantes, a média dos valores foi de 15,6±2,2 no MEEM; 90,7±6,0 na BBRC; 5,2±1,6 no Teste de
Fluência Verbal, e 0,6±0,3 no Teste do Desenho do Relógio.
Ambos os grupos apresentaram escores, nestes testes, compatíveis com o quadro demencial,
mais acentuado no grupo de idosos cadeirantes. Teste U-Mann Whitney apontou diferença significativa
entre esses grupos para: BBRC (UMW=18,5; p<0,01), Teste de Fluência Verbal (UMW=22,0; p<0,05) e Teste
do Desenho do Relógio (UMW=15,5; p<0,01). No entanto, não foi constatada diferença estatisticamente
significativa no MEEM (UMW=38,0; p>0,05) entre os grupos (Figura 1).
DISCUSSÃO
Os dados do estudo indicam diferenças significativas nas funções cognitivas entre idosos
independentes e idosos cadeirantes. As funções cognitivas dos idosos independentes encontram-se mais
preservadas em comparação com as dos idosos cadeirantes na BBRC, Teste de Fluência Verbal e Teste do
Desenho do Relógio. A análise estatística não apontou diferença significativa do MEEM nos dois grupos,
porém constatou-se tendência de maior comprometimento nos idosos cadeirantes, quando comparados
com os idosos independentes.
Christofoletti et al. (18) analisaram a influência do MEEM e da BBRC na escolaridade de 176
idosos, divididos em moradores da comunidade cognitivamente preservados e indivíduos moradores em
casas de longa permanência com diagnóstico de demência. Esses autores obtiveram dados semelhantes
aos de outro estudo que demonstrou a pouca influência da escolaridade nos dados da BBRC, diferentemente
do que ocorre com a influência da escolaridade nos escores do MEEM (15), confirmando que a BBRC sofre
pouca influência da escolaridade. Assim, a BBRC constitui-se em um instrumento útil para o rastreio
cognitivo em nosso meio, cuja população idosa tem pouca escolaridade.
Em relação ao Teste de Fluência Verbal, o menor desempenho dos idosos cadeirantes talvez
esteja relacionada com lesões corticais mais freqüentes e mais acentuada. Segundo um estudo de meta-
análise com 15.990 idosos demenciados e idosos que não apresentavam patologias neuropsiquiátricas, o
comprometimento da fluência verbal indicou déficits em memória semântica e funções executivas (além
de lesões corticais específicas). Essas alterações cognitivas foram associadas a lesões corticais específicas
(19). O desempenho no Teste Desenho do Relógio de ambos os grupos mostrou disfunções cerebrais
importantes. Contudo, os déficits obtidos com os idosos cadeirantes indicaram maior comprometimento.
Tais déficits podem ser explicados como conseqüência do próprio quadro clínico, com progressivo
comprometimento de memória, atenção, funções executivas, praxia vísuo-construtiva e coordenação
psicomotora, bem com comprometimento de áreas e estruturas neuroanatômicas, entre eles, lobo frontal,
lobo temporal e hipocampo (20).
Alguns fatores preditores de demência, como lesões tromboembólicas, angiopatia amilóide,
acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, lesões extensas de substância branca são processos que
causam declínio abrupto e, comumente, acarretam grandes prejuízos motores e distúrbios neuropsiquiátricos
(21). Desse modo, o menor desempenho dos idosos cadeirantes, neste estudo, parece estar associado à
natureza do quadro demencial.
A estimulação motora no idoso pode diminuir morbidades, risco de diabetes e hipertensão,
aumentar massa muscular e densidade óssea, melhorando a realização das atividades da vida diária com
conseqüente diminuição do risco de quedas (22). Também são evidenciados benefícios na oxigenação e
fluxo sangüíneo cerebral, plasticidade neural, transmissão sináptica e produção de certos neurotransmissores,
como serotonina, acetilcolina, noradrenalina e dopamina (23).
Segundo recentes investigações, o idoso com demência que realiza algum tipo de atividade
motora, como caminhada ou ginástica, apresenta menores alterações de humor, sono e sintomas depressivos.
Com a diminuição desses distúrbios, os cuidadores destes pacientes também apresentam atenuação do
nível de ansiedade, depressão e estresse (24). Deste modo, a estimulação motora tem representado uma
estratégia não-farmacológica importante para o tratamento das doenças demenciantes.
Em conclusão, os dados encontrados demonstraram que idosos independentes para locomoção
apresentam melhor desempenho cognitivo quando comparados com idosos cadeirantes. Se a adoção de
estratégias que propiciem aos idosos cadeirantes condições para um melhor desempenho motor poderia
minimizar o declínio cognitivo permanece ainda uma questão a ser respondida.
AGRADECIMENTOS
CAPES, LAFE, PROFIT, FUNASA, FINEP, PROEX-UNESP, FUNDUNESP.
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Daniela Junges
Fisioterapeuta, graduada na UNESP/FCT. e-mail: danijunqes@yahoo.com.br
Resumo
Lombalgia com dor irradiada e sinais neurológicos é uma condição extremamente desafiadora para tratar.
O tratamento, a princípio, é conservador e envolve repouso, medicamentos e fisioterapia. Se o tratamento
conservador falhar, é improvável que ocorra resolução espontânea da crise e então a intervenção cirúrgica
deve ser considerada. O objetivo do presente trabalho foi analisar a evolução de pacientes que se
submeteram à cirurgia para correção de hérnia de disco e estenose foraminal no segmento lombar. Os
pacientes foram avaliados por meio do questionário de Oswestry para lombar, da escala visual analógica
de dor, dos reflexos patelar e aquileu e do flexímetro utilizado para mensuração da mobilidade da coluna.
As avaliações foram realizadas um, dois, três, seis e doze meses após a cirurgia e as medianas dos índices
de Oswestry foram de 44%, 24%, 14%, 16% e 10%, respectivamente. Os resultados nos mostram que as
evoluções dos pacientes não podem ser consideradas satisfatórias, pois a evolução é lenta e os pacientes,
ao final de um ano, apresentam disfunção e dor residual. Porém, é importante salientar que a intervenção
cirúrgica é realizada principalmente para aliviar a incapacitante dor ciática, porém a deficiência mecânica
decorrente da patologia discal permanece.
Abstract
Low back pain with irradiated symptoms and neurological signs is a condition extremely challenging
to treat. At first, this kind of treatment is conservative when the patients must rest, take medicine and
do physiotherapy sections. If this conservative treatment fails, it is unlikely the symptoms disappear
by themselves, and then the surgical intervention will be considered. The aim of this study was to
analyze the evolution of patients who were undergone a surgery due to disc herniation and foraminal
stenosis correction in the low back segment. These patients were evaluated by the Oswestry disability
index for low back, the analogical visual scale of pain, patellar and ankle reflexes and fleximeter used
for mensuration of the of the spinal column mobility. The assessment were performed one, two, three,
six and twelve months after the surgery and the Oswestry index values were 44%, 24%, 14%, 16%
and 10% respectively. These results show that the patients evolution can not be considered good
because it is slow and after a year they have still had disfunction and some residual pain. Although
it is important to point out that surgical intervention is made to relieve the hard sciatical pain, but the
mecanical disfunctions caused by the disc disease still goes on.
INTRODUÇÃO
As enfermidades da coluna vertebral acometem cerca de 80% da população e representam
importante causa de absenteísmo e de afastamento do trabalho, gerando grandes prejuízos para o indivíduo
e para a nação, já que é a terceira causa de afastamento pela previdência social brasileira (1). Quando o
afastamento perdura por mais de 2 anos, a maioria dos indivíduos não retorna às suas atividades (2).
Como as causas mais freqüentes de lombociatalgias são de natureza mecânico-degenerativa, sua
gênese tem origem em desordens estruturais, desvios biomecânicos, ou na interação desses dois fatores (1),
sendo que os indivíduos com maior risco são os que desempenham atividade laborativa de alto desgaste
físico, os que apresentam degeneração do anel fibroso (3) e os idosos (4).
Uma hérnia discal corresponde à ruptura do anel fibroso e, em alguns casos, do ligamento
longitudinal posterior, com deslocamento do material do núcleo pulposo para dentro do canal vertebral ou
para o interior do forame de conjugação. Antes do quadro agudo da hérnia discal se instalar, ocorrem
períodos variáveis de lombalgia. Esta lombalgia agrava-se até culminar em dor radicular intensa, que se
irradia no trajeto de distribuição periférica da raiz nervosa acometida (5, 6).
Inicialmente, o diagnóstico é feito pelo quadro clínico. Exames complementares trazem subsídios
para confirmação diagnóstica e localização precisa da hérnia (4, 6).
No estágio agudo da dor lombar (1 a 7 dias), o melhor tratamento parece ser não tratar (7), não
interferindo com o favorável curso natural da doença. Ainda de acordo com o referido autor, ficar acamado
ou realizar exercícios faz o paciente piorar e o melhor tratamento é manter o nível de atividade normal,
combinado com o retorno gradual ao trabalho. Na fase aguda da lombalgia, Kisner e Colby (8) sugerem que
deve ser encontrada uma posição funcional que alivie a dor, podendo ser esta de flexão ou de extensão da
coluna lombar ou uma tendência a não apoiar peso. Na fase subaguda (1 a 7 semanas), para Torstensen et al.
(7), há maior evidência da efetividade dos exercícios físicos e acredita-se que seja o melhor período para
completa avaliação e desenvolvimento do programa de tratamento para dor lombar, já que é neste período
em que a curva da história natural da doença começa a declinar. No estágio crônico (12 semanas ou mais),
há evidência científica (7) que vários programas de exercícios designados por fisioterapeutas são efetivos.
Aproximadamente 90% dos pacientes com doença articular degenerativa ou doença discal
degenerativa da coluna lombar se recuperam sem cirurgia. A eficácia do tratamento não-operatório pode
depender grandemente da natureza e da severidade dos sintomas do paciente e das alterações observadas
nas radiografias (9, 10, 11).
O tratamento inicial deve ser sempre conservador (12) e se este falhar a intervenção cirúrgica
deve ser considerada. Os critérios eletivos para a cirurgia (13) são: a dor ciática e os sinais neurológicos
(parestesia, diminuição ou ausência dos reflexos e fraqueza muscular) progressivos. Em caráter de urgência,
quando há envolvimento neurológico da bexiga e intestino, além de casos de ataques recorrentes de
ciática que impedem o trabalho e a vida normal (12, 13).
O procedimento cirúrgico para o prolapso discal vem sendo praticado desde que Mixter e Barr
descobriram a ligação entre a ciática e a herniação de um disco lombar em 1934. Os procedimentos
cirúrgicos utilizados incluem a laminectomia (14), reposição do disco (15) e fusão vertebral, sendo que a
fusão vertebral é indicada em alguns casos nos quais há risco de instabilidade, evolução para artrose
interapofisária e defeito mecânico como resultado da inabilidade do disco degenerado em lidar com
sobrecargas, aumentando a tensão nos ligamentos e músculos que controlam aquele segmento (13).
Atualmente as cirurgias para hérnia de disco lombar vêm evoluindo no sentido de se tornarem
cada vez menos invasivas. Importância especial tem sido dada ao uso do microscópio cirúrgico e instrumental
para microcirurgia (16), cirurgias percutâneas e endoscópicas (17).
O objetivo principal do tratamento cirúrgico do prolapso discal é aliviar a incapacitante dor
ciática (13). Deve-se considerar que é puramente uma operação para aliviar a dor e a disfunção nervosa,
a qual, mesmo quando realizada satisfatoriamente, deixa a coluna lombar com uma deficiência mecânica
própria da doença discal (13, 5).
Pesquisas relatam a efetividade do tratamento cirúrgico em relação ao tratamento conservador
(18, 19). Contudo, em outras pesquisas, mostra-se igual progresso em ambos os tipos de tratamento (20) e
em outros estudos revelam resultados cirúrgicos não satisfatórios a longo prazo (21).
O desenvolvimento do Índice Funcional de Oswestry (I.F.O.) tem como objetivo detectar o
grau de disfunção dos indivíduos, com lombalgia, na realização das atividades de vida diária. O questionário,
pelo qual se obtém o índice, foi inicialmente utilizado por John O’Brien, em 1976, sendo publicado em
1980 e largamente disseminado a partir de 1981 (22), com alto grau de confiabilidade demonstrada em
pesquisas posteriores (23, 21).
Loupasis et al. (21), acompanhando pacientes submetidos à discectomia padrão, por 20 anos,
utilizando o questionário funcional de Oswestry como instrumento de medida, observou resultado
insatisfatório em mais do que um terço dos pacientes e mais do que um quarto se queixava de dor residual
significativa.
O presente estudo foi iniciado há dois anos, a partir de uma casuística de apenas dez pacientes
e por um período de 90 dias (24), o que suscitou a necessidade de continuar avaliando e cadastrando
novos pacientes para um seguimento em longo prazo.
O objetivo deste trabalho foi analisar a evolução, no decorrer de um ano, de pacientes que se
submeteram à cirurgia para descompressão de raízes nervosas no segmento lombar.
MATERIAL E MÉTODOS
A população acompanhada compreendeu 17 pacientes que se submeteram à cirurgia de
hérnia de disco, realizadas em três hospitais, durante o período compreendido entre 30 dias e 1 ano
após a data da cirurgia. O grupo consistiu de 6 mulheres e 11 homens, na faixa etária de 22 a 70
anos, com idade média de 44,5.
Os pacientes foram avaliados, num total de cinco etapas, após assinarem o Termo de
Consentimento. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual
Paulista, de acordo com a resolução 196/96. A primeira avaliação foi realizada 30 dias após a
cirurgia e repetida após 60 e 90 dias. A partir desta data, realizou-se a avaliação de 6 meses e 1 ano
de pós-operatório.
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Índice Funcional de Oswestry lombar (25). A escala consiste de dez sessões que se referem às
atividades diárias que podem ser interrompidas ou prejudicadas pela lombalgia. Cada uma delas contém
seis afirmações, as quais, progressivamente, descrevem um maior grau de dificuldade na atividade que a
afirmação precedente. As afirmações são pontuadas de zero a cinco, dando pontuação máxima de 50. O
total de pontos é multiplicado por dois e expresso em forma de porcentagem. O I.F.O. pode ser completado
em menos de 5 minutos e pontuado em menos de 1 minuto (26). O grau de disfunção dado pelo I.F.O. é
classificado por nenhuma disfunção (0%), disfunção mínima (1 a 20%), disfunção moderada (21 a 40%),
disfunção severa (41 a 60%) e incapacidade (acima de 60%) (27).
O questionário de Oswestry ainda não foi validado no Brasil, mas no Departamento de
Enfermagem da UNICAMP, o projeto de validação do referido questionário está em andamento. Segundo
informações obtidas, estão seguindo as normas internacionais para a adaptação cultural do questionário,
que envolve: tradução, backtranslation, comitê de juizes, pré-teste, validação e confiabilidade.
Escala Visual Analógica de dor (E.V.A.). Consiste de uma linha horizontal com 10 cm de
comprimento e, nas extremidades, as expressões: sem dor, à esquerda e correspondendo ao zero e, muita
dor, à direita e correspondendo a 10. Para efeito de comparação com o Questionário Funcional de Oswestry,
apresentado em porcentagem, o número da escala foi multiplicado por 10.
Flexímetro1. Foi fixado na região lateral do tórax, na altura do processo xifóide. Com o leitor
do aparelho na posição zero, foi solicitado ao paciente executar os movimentos de flexão e extensão da
coluna lombar. Esses movimentos foram repetidos por 3 vezes, para certificar o valor obtido de amplitude.
O procedimento foi realizado com o paciente sentado, para que fosse isolado o movimento da coluna do
movimento pélvico.
Teste dos reflexos patelar e aquileu. O reflexo patelar foi averiguado com o paciente sentado,
com as pernas pendentes a 90º de flexão de joelho, sendo o estímulo dado sobre o tendão patelar por meio
do martelo neurológico2. O reflexo aquileu foi mensurado com o mesmo posicionamento do paciente, sendo
o pé mantido em posição neutra pelo terapeuta. O estímulo neste caso foi dado no tendão de Aquiles.
Nesta pesquisa de natureza prospectiva, os dados obtidos mediante a aplicação do índice de
Oswestry, da escala de dor e do flexímetro, foram analisados descritivamente por meio das medianas. Para
análise dos resultados (avaliações no decorrer do tempo de 30, 60, 90, 180 e 360 dias), utilizou-se um teste
não-paramétrico, pois as variáveis em estudo, Oswestry, EVA e mobilidade, não apresentam um
comportamento de uma distribuição normal (Gaussiana). Isso foi verificado utilizando-se o teste de
normalidade de Anderson-Darling, o qual rejeitou a normalidade dos dados. Portanto, como os dados não
têm distribuição normal e existem várias amostras relacionadas, foi utilizado o teste de Friedman para
comparações múltiplas (28).
RESULTADOS
Dos 17 pacientes avaliados, 9 foram inseridos no grupo de trabalhadores com alto desgaste
físico, enquanto os demais foram incluídos no grupo de trabalhadores de médio e baixo desgaste físico, de
acordo com a atividade profissional de cada paciente.
As medianas dos resultados do Índice Funcional de Oswestry (I.F.O.), o qual revela o grau de
disfunção dos indivíduos para realizarem suas atividades de vida diária (AVDs), no período até 360 dias
após a cirurgia, são apresentadas na Tabela 1. Com relação ao I.F.O., verificou-se uma melhora significativa
no decorrer do tempo (p<0,001), mais especificamente esta diferença ocorreu nos tempos: 30 e 60; 30 e 90;
30 e 180 e 30 e 360 dias.
1
Flexímetro: equipamento desenvolvido e fabricado no Brasil, sob patente e registro do Instituto Code de Pesquisa (Reg. Um
8320-3RJ).
2
Martelo Buck para reflexos, de 18 cm, fabricado por Profissional Hospital Furnishers, Paquistão.
TABELA 1 - Medianas e Intervalo de 95% de Confiança do Índice Funcional de Oswestry (%) até 360 dias após a cirurgia
P.O.: pós-operatório.
As medianas dos resultados da escala visual analógica (E.V.A.) para o mesmo período são
apresentadas na Tabela 2. Com relação à E.V.A., não se verificou melhora significativa no decorrer do tempo.
TABELA 2 - Medianas e Intervalo de 95% de Confiança da Escala Visual Analógica (%) até 360 dias após a cirurgia
TABELA 4 - Número de pacientes com resposta positiva aos reflexos patelar e aquileu, até 360 dias após a cirurgia
DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se, neste estudo, que com o passar do tempo, há melhora da dor, da função, da
mobilidade lombar e dos reflexos. Entretanto, a evolução pode ser considerada lenta na medida em que os
pacientes apresentavam queixa de dor e alguma disfunção residual um ano após a cirurgia. Publicações
dos protocolos de tratamento fisioterapêutico a partir do primeiro dia de pós-operatório de hérnia de disco
dos hospitais e clínicas especializadas são necessários para melhorar a evolução dos pacientes. Técnicas de
mobilização dos tecidos aplicadas precocemente podem prevenir as complicações comuns desta cirurgia.
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Resumo
Abstract
Objective: The purpose of this survey is to list injuries in competitive swimming. Material and
Methods: We have studied, longitudinally, all the swimming athletes that have passed by the
rehabilitation department of a club in São Paulo (total of 63 athletes), from both sexes, with the
medium age of 18.5 years old, during a period of 3.7 years. The data which refers to athletes and
injuries occured during the research, they have been registered by the physiotherapist thru a
questionnaire and a sector medical prontuary survey. Results: 83 injuries have been listed in
the 63 athletes that have participated in this survey. The upper limbs have been the most affected
by injuries, mainly the shoulder region, being the tendinitis/bursitis the most common diagnosis.
It was not possible to stablish a comparison between the swimming style and injury type, as well
as anatomical location affected , once the major part of athletes swum crawl style during a phase
his or her training. Conclusion: Swimming overloads are most observable in the shoulder region,
which is the area most affected by injuries finded in this assignement, requiring intensive
prevention programs and follow up for competitive swimming athletes.
INTRODUÇÃO
A natação é um dos esportes mais populares do mundo e os povos são atraídos para ela na
busca por lazer, melhora da função cardiopulmonar ou por competição.
Atletas de elite são um caso à parte em relação a seus equivalentes esportistas recreacionais,
pois atuam dentro do esporte, no limite fisiológico entre o máximo da performance atlética e a lesão, e
esta barreira pode ser ultrapassada por inúmeras circunstâncias advindas dos esportes de alta
competitividade (1).
Segundo Carazzato (2), a necessidade da evidência e do sucesso impõe aos atletas uma
necessária e inevitável condição, em que são submetidos a esforços físicos e psíquicos muito próximos
de seus limites fisiológicos, expondo-os conseqüentemente a uma faixa de atividade física potencialmente
patológica, que é agravada pelos fatores pré-disponentes, pela somatotipologia, pela dinâmica do esporte
e pela não aplicabilidade de medidas preventivas, resultando em um alto número de lesões atléticas,
principalmente do aparelho locomotor, com gravidade variada e seqüelas, muitas vezes limitantes ou
incapacitantes.
A natação como esporte competitivo implica em elevadas demandas para o atleta quanto ao
tempo e carga de treinamento. Tais níveis de exigência geram um estresss considerável sobre as estruturas
articulares e musculoesqueléticas do indivíduo, as quais se associam a uma variada gama de lesões (3).
As lesões na natação foram descritas pela primeira vez em 1968, onde Councilman (4)
estudou a prevalência de lesões em nadadores de competição e identificou um maior acometimento do
ombro, com 37% do total, seguidas do joelho, com 28%, e do pé e do tornozelo, ambos com 19%. Relata
que as lesões musculoesqueléticas nos nadadores podem ser de origem traumática ou secundárias, por
overuse. As lesões traumáticas agudas são raras e as lesões por overuse ocorrem predominantemente em
atletas de competição.
Apesar de conhecida na comunidade científica já há praticamente três décadas, o diagnóstico,
a prevenção e o tratamento das lesões na natação envolvem-se, ainda, de muitas dúvidas, o que acarreta
a urgência de conhecimento aprofundado de sua fisiopatologia e do estabelecimento de diagnóstico
correto, sem o que ficam prejudicadas as intervenções terapêuticas adequadas e a possibilidade de
orientação profilática (5).
Desta forma, a proposta deste trabalho é de documentar as lesões na natação competitiva.
Assim, posteriormente, os dados poderão colaborar na elaboração de medidas preventivas.
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS
Dos 63 atletas que fizeram parte desse estudo, 38 (60,3%) eram do sexo masculino e 25
(39,7%) eram do sexo feminino.
A maioria dos atletas (74,5%) tinha entre 5 e 10 anos de prática do esporte; 17,5% mais que 10
anos e 8% menos que 5 anos.
Em relação ao estilo de nado praticado na época da lesão, o nado crawl foi o mais freqüente
(30,1%), seguido por crawl/costas (19,3%), costas (10,8%), crawl/borboleta (10,8%), peito/medley (7,2%),
borboleta (6%), medley (6%), costas/medley (3.6%), crawl/peito (2,4%), crawl/medley (2,4%) e peito (1,2%).
Durante o período do estudo, foram descritas 83 lesões.
Quanto à classificação segundo o diagnóstico da lesão, vimos que a tendinite/bursite (75,9%)
foi a mais comum, seguida de dorsalgia (9,6%) e lombalgia (6%). Quanto às lesões classificadas como
outras (8,4%), encontramos duas condromalácias, uma mialgia de bíceps femoral, uma sinovite de joelho,
uma lesão de menisco medial, uma cervicobraquialgia e uma sinovite de ombro (Figura 1).
Quanto à região anatômica das lesões, estas ocorreram predominantemente nos membros superiores
(61,4%), localizadas principalmente no ombro (49,4%) e seguidas do cotovelo (12%). Os membros inferiores
aparecem em segundo lugar (21,7%), com as lesões sendo localizadas principalmente no joelho (14,4%),
seguidas do tornozelo (4,8%), pé (1,2%) e perna/coxa (1,2%). A região do tronco aparece com menor freqüência
(16,9%), apresentando um acometimento maior na região dorsal da coluna vertebral e tórax (9,6%), seguida da
região lombar da coluna vertebral e cintura pélvica (6%) e cabeça/pescoço (1,2%) (Figuras 2 e 3).
• ombro: (49,4% do total das lesões); 97,57% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite.
Foi observada predominância das tendinites (isoladas) do supra-espinhoso (41,5%), seguidas das
tendinites do supra-espinhoso/cabeça longa do bíceps (36,6%), das tendinites (isoladas) da cabeça
longa do bíceps (14,6%), da tendinite do infra-espinhoso (2,43%), da bursite subdeltoideana
(2,43%) e da sinovite (2,43%).
• joelho: (14,.4% do total das lesões); 66,67% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite,
com predominância das tendinites da “pata de ganso” (41,66%), seguidas das tendinites patelares
(25%), das condromalácias (16,66%), da sinovite (8,33%) e da lesão do menisco medial (8,33%).
• cotovelo: (12% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite,
sendo 70% representadas como tendinite triciptal e 30% como epicondilite medial;
• tornozelo: (4,8% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como tendinite/
bursite, sendo 50% representadas como tendinite do tibial anterior, 25% como tendinite do
calcâneo e 25% como tendinite do fibular longo;
• região dorsal da coluna vertebral e tórax: (9,6% do total das lesões); 100% das lesões foram
classificadas como dorsalgia, sendo 37,5% representadas como mialgia do trapézio, 37,5%
como mialgia dos rombóides, 12,5% como mialgia dos paravertebrais e 12,5% como mialgia
dos paravertebrais/subescapular;
• região lombar da coluna vertebral e cintura pélvica: (6% do total das lesões); 100% das lesões
foram classificadas e representadas como lombalgia;
• pé: (1,2% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite,
sendo esta representada por uma única tendinite dos flexores dos dedos;
• perna/coxa: (1,2% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como outras,
sendo esta representada por uma única mialgia do bíceps femoral;
• cabeça/pescoço: (1,2% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como outras,
sendo esta representada por uma única cervicobraquialgia;
Em nosso estudo, não foi possível realizar a comparação entre o estilo de nado praticado e o
tipo de lesão, bem como a localização anatômica acometida, devido ao fato de a maioria dos atletas
nadarem o estilo crawl em alguma fase do treinamento, dificultando, assim, o agrupamento dos atletas
quanto ao nado praticado, mas notamos que praticamente em todas as correlações entre estilo de nado e
região anatômica acometida de lesão, o nado crawl foi o mais citado isolado ou associado a outro estilo,
com exceção das lesões que acometeram a região da cabeça e pescoço, sendo essa citada somente pelos
nadadores do estilo costas/medley.
Quanto à associação entre o estilo de nado praticado (predominante) na época da lesão e a
classificação segundo o diagnóstico da lesão, como já citado anteriormente, não foi possível realizar a
comparação estatística, mas notamos ao avaliar unicamente os atletas que praticavam somente uma
modalidade de nado, que no estilo crawl, costas e peito predominaram as tendinites, já no estilo borboleta
e no medley, as dorsalgias foram as mais citadas (Figura 4).
100%
90%
Outros
80%
70%
60% Lombalgia
50%
40%
Dorsalgia
30%
20%
Tendinite/bursit
10%
0%
DISCUSSÃO
A natação como esporte competitivo implica em elevadas demandas para o atleta quanto
ao tempo e carga de treinamento. Tais níveis de exigência geram um estresse considerável sobre as
estruturas articulares e musculoesqueléticas do indivíduo, as quais se associam a uma variada gama de
lesões (3).
A análise do tempo de experiência e também de exposição dos atletas às condições e
situações de risco a que são submetidos é de fundamental importância num estudo epidemiológico
(1). Segundo Bak e Fauno (5), a queixa do nadador de elite geralmente tem início depois de seis a oito
anos de experiência no esporte, o que equivale a aproximadamente dez mil quilômetros nadados ou
a cerca de três a quatro milhões de braçadas em cada braço. Em nosso estudo, isso foi confirmado,
pois a minoria dos atletas (8%) apresentaram tempo de prática menor que 5 anos e a grande maioria
(82%) apresentou tempo de prática maior que 10 anos. Tais fatos podem ser explicados em razão de
a maioria das lesões encontradas terem sido classificadas como tendinite/bursite, lesões estas que
apresentam características de sobrecarga e que podem estar relacionadas ao tempo de prática do esporte.
O sucesso na natação é estabelecido primeiramente no desempenho dos nadadores nas competições;
entretanto, a maioria dos treinadores acredita que o sucesso de um nadador depende essencialmente do ganho
de força e de resistência conseguidas com muitos meses de treinamento pesado (7).
Os nadadores de elite nadam freqüentemente até 11 períodos de duas horas por semana. Além
disso, 80% destes atletas participam também do treinamento de peso, que consiste geralmente em três
períodos de 30 a 50 minutos por semana (8). Em nosso estudo, tais dados foram confirmados, onde todos
os atletas treinavam 11 períodos de duas horas por semana e, além disso, ainda realizavam treinamento de
musculação em solo por uma hora, 4 vezes por semana.
Quanto ao tipo de lesão, no nosso estudo, as classificadas como tendinite/bursite, com 75,9%
dos casos, foram as mais comuns, sendo estas mais representativas no ombro, com 63,5% dos casos. Tais
resultados já eram esperados, pois a vasta maioria literária relata o mesmo dentro da natação (3, 4, 8, 9, 10,
11, 12, 13, 14). Os demais tipos de lesão não apresentaram grande diferença entre si, sendo 9,6% classificadas
como dorsalgia, 8,4% como outras e 6% como lombalgia.
Em relação à região anatômica agrupada (Tronco, MMSS e MMII), toda a literatura que aborda
a natação relata os membros superiores como região mais acometida por lesões (3, 4, 8, 11, 14). Em nosso
estudo, isso se confirmou, onde os membros superiores foram responsáveis por 61,4% das lesões, seguidos
por membros inferiores, com 21,7% e tronco com 16,9%.
Quanto à localização anatômica específica mais lesada na natação, toda a literatura pesquisada
nesse trabalho relata as lesões localizadas no ombro como sendo as mais comuns (3, 4, 8, 9, 10, 11, 12, 13,
14, 15, 16). Em nosso estudo, tais dados foram confirmados, com as lesões localizadas no ombro
representando 49,4% do total, o que pode ser explicado pelo fato de o ombro ser o propulsor primário nos
estilos crawl, costas e borboleta, principais estilos praticados pelos nadadores em nosso trabalho.
Segundo Vieira e Lianza (17), o ombro do nadador é uma condição patológica causada por inflamação
dos tendões do músculo supra-espinhoso e da porção longa do bíceps braquial que, devido a excessivos
movimentos giratórios do úmero, impactam contra o arco coracoacromial. Araya (3) acrescenta que as lesões no
ombro do nadador podem ser causadas por diversos fatores, como os movimentos repetitivos acima de 90° de
abdução, instabilidade articular, hipovascularização, fadiga do manguito rotador, disfunção escapular, fortalecimento
muscular realizado em solo com cargas excessivas, má técnica de nado e má relação entre força e flexibilidade
muscular do ombro e estabilizadores da escápula. Uma outra possível causa das lesões no ombro pode ser o
fato de os músculos rotadores mediais do ombro serem significativamente mais fortes nos nadadores do que na
população geral, diferença essa que não é significativa com relação aos rotadores laterais (17).
Segundo Heater (15), as lesões no ombro são relacionadas aos estilos crawl, costas e borboleta.
Bak, Blue e Olsson (9) também relacionam as lesões no ombro ao estilo borboleta, mas não relacionam ao
crawl e ao nado costas. Rodeo (11) e Martos (13) relacionam as lesões no ombro aos estilos crawl e
borboleta, mas não relacionam ao estilo costas e sim ao peito, ocasionalmente. Vieira e Lianza (17) relacionam
a dor no ombro ao nado crawl e borboleta, mas não citam as lesões no ombro em atletas de costas e peito.
No estudo realizado por Araya (3), as lesões localizadas no ombro são relacionadas principalmente ao
estilo crawl, mas também se relacionam ao estilo borboleta e costas. Bak e Fauno (5) afirmam que
independentemente do estilo de nado preferido, todo nadador pratica o nado crawl por mais de 50% de
seu tempo em treinamento, dados esses que se confirmaram em nosso estudo e que podem ser a justificativa
para a ocorrência de lesões no ombro em todos os estilos.
Alguns autores mostram o joelho como sendo a segunda região mais acometida por lesões (3,
4, 8, 11, 12, 15, 16). Em nosso estudo, isso foi confirmado, onde encontramos as lesões localizadas no
joelho representando 14,4% do total de lesões.
Bak, Blue e Olsson (9), Kenal e Knapp (10), Rodeo (11), Heater (15), e Keskinen, Eriksson e
Komi (18) relacionam as lesões no joelho principalmente com os nadadores de peito, mas afirmam que
podem ocorrer em todos os estilos. Já Ramos e Redondo (16) afirmam que as lesões no joelho são
exclusivas dos nadadores de peito. Em nosso estudo, não foi possível realizar tal comparação, pois, como
já foi citado, a maioria dos atletas nadava o estilo crawl em alguma fase do treinamento.
Segundo Kenal e Knapp (10), e Keskinen, Eriksson e Komi (18), as dores no joelho, quando
relacionadas ao estilo peito, localizam-se na borda medial, sendo causadas pelo estresse rotatório e força
em valgo excessiva; e as principais lesões são a condromalácia, a síndrome do ligamento colateral medial
e a sinovite medial.
Devido aos repetitivos movimentos de flexo-extensão dos joelhos nos estilos crawl, costas e
borboleta, são muito freqüentes o surgimento de outras lesões por overuse, como, por exemplo, a tendinite
patelar.
No nosso estudo, obtivemos dados semelhantes: das 12 lesões relatadas no joelho, 5 foram
classificadas como tendinite da pata-de-ganso, 3 como tendinite patelar, 2 como condromalácia, uma como
sinovite e uma como lesão do menisco medial.
Quanto à gravidade das lesões encontradas em nosso estudo, estas podem ser classificadas
como leves, já que apenas uma necessitou de tratamento cirúrgico e afastamento dos treinamentos, essa
representada por uma lesão do menisco medial e 37 dias de afastamento. Nas demais lesões, o afastamento
dos treinamentos não foi observado e sim uma diminuição no volume destes mediante às lesões. Outro
dado que pode ser considerado na caracterização das lesões como leves foi o pouco tempo de tratamento
fisioterapêutico que elas necessitaram (média de 7,83 sessões e mediana de 8 sessões), além de apenas
20,5% do total terem sido tratadas com anti-inflamatório não hormonal, decisão essa tomada pelo médico
do setor.
Acreditamos que quando trabalhamos em equipes interdisciplinares, onde há um interesse
comum em diminuir as lesões no esporte, os resultados podem ser alcançados com um melhor desempenho
atlético. Além disso, a conscientização por parte dos atletas quanto aos materiais e técnicas já existentes na
prevenção de lesões é essencial para a própria proteção do esportista, facilitando, assim, o trabalho dos
profissionais que atuam no esporte. A demonstração de dados atuais a respeito da epidemiologia das
lesões musculoesqueléticas em atletas da natação pode ser importante para o melhor conhecimento das
sobrecargas exercidas nestes atletas no decorrer de suas vidas. Essas análises podem ser as bases para a
elaboração de medidas preventivas nessa modalidade esportiva, visando melhor aproveitamento, melhores
resultados e maior vida útil esportiva, em atletas de competição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A região do ombro foi a mais acometida, com quase metade de todas as lesões (49,4%), sendo
a tendinite/bursite o diagnóstico mais citado.
A região do joelho foi a que despendeu maior tempo de tratamento fisioterapêutico.
Não foi possível realizar a comparação entre o estilo de nado praticado e o tipo de lesão, bem
como a localização anatômica acometida, devido ao fato de a maioria dos atletas nadarem o estilo crawl
em alguma fase do treinamento.
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[dissertation]. St. Louis: Washington Univ.;
1995.
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Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health *Importante: padronizar a forma de citação,
care for elderly people. New York: Churchill Livingstone; utilizando sempre a mesma expressão escolhida.
1996.
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Luíz Alberto Sousa Alves e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (organizadores)
Coleção Exatas
1- Tecnologias na Construção Civil e Matemática Aplicada
Roberto Fendrich (organizador)
2- Platão Redimido
Manoel de Campos Almeida
3- Vade-mécum de Tipografia
Antônio Martiniano Fontoura
2- Prisão e Trabalho
Rodrigo Sanches Rios
2- A interdisciplinaridade na universidade
Lilian Anna Wachowicz (organizadora)
Coleção Comunicação
1- Show do Milhão – Imaginário de Silvio Santos e do SBT
Alexander Bernardes Goulart
Coleção Filosofia
1- A Genealogia de Nietzche
Antonio Edmilson Paschoal
3- Temas de Ética
Inês Lacerda de Araújo e Francisco Verardi Bocca (Organizadores)
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Periódicos
Estudos de Biologia
Telefone: (41) 3271-2392
Fax: (41) 3271-1621 Revista de Filosofia
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Fisioterapia em Movimento
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Psicologia Argumento
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Estudos Bandeirantes
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agrárias e ambientais
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ISSN - 1718-9775
Revista de Estudos da
Comunicação
Volume 4 Número 7 Jan./Abr. 2003
Revista de Clínica e
Revista de Estudos da Comunicação
Pesquisa Odontológica
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A presente edição foi composta pela Editora Universitária Champagnat e impressa na Gráfica da APC, em sistema offset, papel offset 75g (miolo)
e papel couché 150g, em outubro de 2007.