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Volume 20 • Número 1 • Janeiro/Março 2007

Physical Therapy in Movement


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Fisioterapia em Movimento / Pontifícia Universidade Católica


do Paraná. – v. 20. n. 1 (jan./mar. 2007) – Curitiba :
Champagnat, 1989-
il. ; 28 cm.

Periodicidade trimestral
ISSN 0103-5150

1. Fisioterapia. 2. Manipulação – Tratamento. I. Pontifícia


Universidade Católica do Paraná. II. Título.

CDD 615.82
CDU 615.8
3

Volume 20 • Número 1 • Janeiro/Março 2007


Editor chefe Scorsato, Sérgio (Mestre) – PUCPR – PR
Profa Dra Auristela Duarte Lima Moser Tamás, Bender (Doutor) – ISMH – Hungria
Tamaki, Jorge (Doutor) – PUCPR – PR
Conselho Científico
André, Edison Sanfelice (Doutor) – FURB - SC Secretária
Assunção, Maria Laura Aquino Calado de (Mestre) – PUCPR – PR Marilú Duran
Arruda, Eliani de Souza – (Mestre) – PUCPR – PR
Baraúna, Mario Antonio (Doutor) – UNIT – MG Fisioterapia em Movimento
Barela, José Ângelo (Doutor) – UNESP - SP ISSN 0103-5150
Beraldo, Pedro Cezar (Mestre) – PUCPR – PR
Bertassoni Neto, Luiz (Mestre) – PUCPR – PR Indexada
Bigaton, Delaine Rodrigues (Doutora) – FACIS/UNIMEP – LILACS
Brandalize, Salete do Rocio Cavassin (Mestre) – PUCPR – PR _ IBICT
Brasileiro, Jamilson Simoões - (Doutor) – UFRN – RN – CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health
Britto, Raquel Rodrigues (Doutora) – UFMG – MG Literature)
Caldas, Maria Alice Junqueira (Doutora) – UFJF - MG
Cardoso, Jefferson Rosa (Doutor) – UEL – PR Tiragem
Caromano, Fátima A. (Doutora) – USP – SP 1000 exemplares
Carvalho, Gustavo (Doutor) – UCB – DF
Cunha, Márcia Bauer (Doutora) – UNIFESP – SP Editora Universitária Champagnat
Silva, Ester da (Doutora) – UNIMEP – SP Planejamento Gráfico
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Dias, Rosangela Correa (Doutora) – UFMG – MG Capa
Dornelas, Armele (Doutora) – UFPE – PE Naicele de O.Noronha
Fellippa, Carmem Silvia (Doutora) – UFSM – RS/CHINA Revisora
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Gomes, Zuleika Coelho Moya (Mestre) – PUCPR – PR Bibliotecária
Guirro, Elaine Caldeira de O. (Doutora) – UNIMEP – SP Viviane Gonçalves - CRB 9/1490
Israel, Vera Lúcia (Doutora) – UFPR – PR
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Kulczycki, Marciane Maria (Mestre) – PUCPR – PR Publicar trabalhos técnicos-científicos, que abordem temas
Linhares, Juliana (Mestre) – PUCPR – PR de abrangência da área de Fisioterapia e áreas afins,
Loureiro, Ana Paula Cunha (Mestre) – PUCPR – PR prescrevendo a interdisciplinaridade.
Manffra, Elisangela Ferretti (Doutora) – PUCPR – PR
Marques, Amélia Pasqual (Doutora) – USP – SP Solicita-se permuta/Exchange requested/Pede-se permu-
Muller, Andréa Pires (Mestre) – PUCPR – PR ta/on prie l'echange
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Oliveira, Claudia Santos (Doutora) – UNIVAP – SP
Oliveira, Luis Vicente Franco (Doutor) – UNIVAP – SP REVISTA FISIOTERAPIA EM MOVIMENTO
Oliveira, Maristela Palma de (Mestranda) – PUCPR– PR ISSN 0103-5150
Pardo, Maria Benedita Lima (Doutora) – UFSE – SE Publicação do Curso de Fisioterapia da PUCPR
Parizotto, Nivaldo (Doutor) – UFSCAR – SP E-mail: revista.fisioterapia@pucpr.br
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Preis, Cássio (Mestre) – PUCPR – PR Clínica de Fisioterapia
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Rodacki, André Luiz Felix (Doutor) – UFPR – PR
Roesler, Helio (Doutor) – UDESC – SC
Salmela, Luci Fuscaldi Teixeira (Doutora) - UFMG – MG ® Copyright 2007
Salvini, Tania F. (Doutora) – UFSCAR – SP Editora Universitária Champagnat
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SUMÁRIO

EDITORIAL .................................................................................................................................................... 7

ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA COMO BASE PARA O TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES RECIDIVAS


DA PATELA ................................................................................................................................................... 11
Analysis Electromyographic as Base for the Treatment of the Dislocations Recidiva of the Patella
Paulo Henrique Altran Veiga

FISIOTERAPIA AQUÁTICA NO TRATAMENTO DA OSTEOARTRITE DE JOELHO: SÉRIE DE CASOS... 17


Aquatic therapy in knee ostearthritis treatment: serie of cases
Ligia Maria Facci, Renata Marquetti, Kelley Cristina Coelho

DESCONFORTOS MUSCULOESQUELÉTICOS PERCEBIDOS EM TRABALHADORES DE


DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS, GÊNEROS E OCUPAÇÕES ...................................................................... 29
Musculoskeletal Discomforts Noticed Among Workers of Different Age Ranges, Genders and
Occupations
Vitta Alberto De, Zapater André Rocha, Campos Rodrigo da Silveira, Padovani Carlos Roberto

PARALISIA CEREBRAL: UMA ANÁLISE DO COMPROMETIMENTO MOTOR SOBRE A QUALIDADE


DE VIDA ........................................................................................................................................................ 37
Cerebral Palsy: An Analisys Amoung Motor Disabilities and Quality of Life
Gustavo Christofoletti, Francine Hygashi, Ana Lúcia Ribeiro Godoy

ANÁLISE DE POSTURAS E MOVIMENTOS DE OPERADORES DE CHECKOUT DE


SUPERMERCADO .......................................................................................................................................... 45
Posture and movement analysis of supermarket checkout operators
Celita Salmaso Trelha, Rodrigo Luiz Carregaro, Renata Felício Drummond de Castro, Juliana Maria
Citadini, Douglas Luciano Lopes Gallo, Daniela Wosiack da Silva

NÍVEIS DE PERCEPÇÃO DE ESFORÇO E DE DOR EM DUAS ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO


DO TRABALHO............................................................................................................................................. 53
Levels of Perception of Effort and Pain for Two Strategies of Work Organization
Fernanda Pereira dos Santos Silva, Luciana Di Thommazo, Isabel Aparecida Porcatti Walsh, Michele
Elisabete Rubio Alem, Helenice Jane Cote Gil Coury

ANÁLISE DA FUNCIONALIDADE E DA DOR DE INDIVÍDUOS PORTADORES DE SÍNDROME


DO IMPACTO, SUBMETIDOS À INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA .................................................... 61
Patients Shoulder Function and Pain Analisys with Subacromial Impingement Syndrome After
Physical Therapy Intervention
Geisa Clementino de Souza Lima, Fábio Marcon Alfieri, Elaine Monteiro Barboza

IMPACTO DA VERTIGEM NA QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM DISFUNÇÃO


VESTIBULAR.................................................................................................................................................. 71
Impact of the vertigo in the quality of life in patients with vestibular dysfunction
Aretha Cintra Vaz, Ana Paula Rocha de Oliveira
6

CARACTERIZAÇÃO POSTURAL DA COLUNA DE CRIANÇAS OBESAS DE 7 A 10 ANOS ....................... 77


Postural characterization of obese children spine between 7 and 10 years old.
Mari Oliveira Mota Kussuki, Silvia Maria Amado João, Ana Claudia Pereira da Cunha

DESEMPENHO DE IDOSOS EM TESTES FUNCIONAIS E O USO DE MEDICAMENTOS ........................ 85


Aged people’s perfomance in functional tests and the use of drugs
Flavia P. Martins, Helena Uemoto Pereira, Leani Souza Máximo Pereira

ANÁLISE DA EFETIVIDADE DA REEDUCAÇÃO POSTURAL GLOBAL NA PROTUSÃO DO OMBRO


APÓS A ALTA TERAPÊUTICA ...................................................................................................................... 93
Analyse of Global Postural Reeducation Effectiveness on Shoulder Protrusion after Discharge from
Therapy
Cláudia Mara Cruz Moreira, Danielle Ramos Leite Soares

HIDROTERAPIA E QUALIDADE DE VIDA DE UM PORTADOR DE ARTRITE REUMATÓIDE


JUVENIL – ESTUDO DE CASO .................................................................................................................... 101
Hydrotherapy and health survey in a child with juvenile idiopathic arthritis – Case’s Report
Fernanda Censoni Santoni, Silvana C. Pereira de Freitas, Jussara de Oliveira, Raquel Agnelli Mesquita

LOCOMOÇÃO E DESEMPENHO COGNITIVO EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS COM


DEMÊNCIA .................................................................................................................................................... 109
Locomotion and Cognitive Performance of Institutionalized Elderly People with Dementia
Merlyn Mércia Oliani, Gustavo Christofoletti. Florindo Stella, Lílian Teresa Bucken Gobbi, Sebastião
Gobbi

ÍNDICE FUNCIONAL DE OSWESTRY APÓS CIRURGIA PARA DESCOMPRESSÃO DE RAÍZES


NERVOSAS .................................................................................................................................................... 115
Oswestry Disability Index after Surgery for Decompression of Nerve Roots
Maria Rita Masselli, Cristina Elena Prado Teles Fregonesi, Claudia Regina Sgobbi de Faria, Manoel
Ivanildo Silvestre Bezerra, Daniela Junges, Tatiana Harumi Nishioka

LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS EM ATLETAS COMPETIDORES DA NATAÇÃO................................ 123


Muscoloskeletal Injuries in Competitor Athletes of Swimming
Daniel Negreiros de Mello, Alexandre Sabbag da Silva, Fábio Rodrigues José
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EDITORIAL

A visibilidade de uma profissão está diretamente vinculado à visibilidade do conhecimento


produzido por ela. A produção do conhecimento por sua vez, passa pelo fomento ao ensino que alimenta
a pesquisa, e pelo aprimoramento dos meios de divulgação do conhecimento produzido. Ou seja, não
basta produzir e divulgar a produção, mas, cuidar para que os resultados de pesquisa de qualidade
cheguem ao maior número possível de leitores, objetivo primordial de qualquer veículo de divulgação. A
visibilidade, portanto, depende da permeabilidade do periódico nas várias camadas da comunidade
científica, e ambas são tributárias dos mais variados insumos, como apoio logístico de corpo de revisores
com suas análises, apoio financeiro das instituições de fomento e suporte logístico da equipe técnica de
editoração. Todos estes atores precisam estar afinados dentro de um complexo processo que exige a
velocidade do processo aliada ao olhar crítico e ao zelo pela qualidade do periódico. Nesta primeira
edição os leitores poderão ter contato com o constante crescimento científico de nossos pares representado
pelos artigos que tratam de temas como eletroterapia, Fisioterapia aquática, transtornos osteomusculares e
posturais, paralisia cerebral , qualidade de vida , intervenção fisioterapia pós-cirúrgica e lesões advindas
do esporte. Os artigos foram selecionados por um corpo de revisores voluntários que aceitam cotidianamente
a árdua tarefa de contribuir com a sua “expertise” para que alcancemos o grau de cientificidade que
estabelecemos como meta. Agradecemos sobretudo a todos os nossos leitores e assinantes que têm estado
sempre ao nosso lado nesses últimos anos marcados por mudanças e dificuldades de várias origens. E
finalmente reiteramos os melhores esforços para aliar qualidade editorial e eficiência de divulgação e
distribuição.

Professora Auristela Duarte Moser


Editora

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, jan./mar., 2007


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ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA COMO BASE PARA O


TRATAMENTO DAS LUXAÇÕES RECIDIVAS DA PATELA
Analysis Electromyographic as Base for the Treatment of the
Dislocations Recidiva of The Patella

Paulo Henrique Altran Veiga


Mestre em Ortopedia e Traumatologia pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia - Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. IOT-HC/FMUSP; Especialista em Avaliação do Aparelho Locomotor pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte-UFRN. Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP.
Coordenador do Curso de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau - PE.
Recife - PE. e-mail: paulohve@usp.br/paulohveiga@gmail.com

Resumo

A análise dos estudos das respostas eletromiográficas da musculatura que envolve a articulação do joelho,
juntamente com os procedimentos terapêuticos, pode fornecer ao terapeuta uma gama de informações
importantes para o tratamento das luxações recidivas da patela. Saber que o fortalecimento seletivo do
vasto medial pode ser realizado entre 90° e 50° de flexão do joelho e que os vastos medial e lateral podem
ser trabalhados com exercícios de curta duração e alta intensidade são apenas algumas das conclusões
a que chegamos. Apresentaremos os resultados obtidos visando principalmente a prevenção precoce da
agressão tissular da articulação femoro-patelar, bem como fornecer ao leitor subsídios para construir
programas de reabilitação que atuem com recursos bem fundamentados, evitando e alertando para o
problema sério que é a degeneração da articulação femoro-patelar no processo terapêutico.

Palavras-chave: Eletromiografia; Luxação; Joelho.

Abstract

The analysis of studies the answers electromyographic musculature that involves the articulation of
the knee, together with the therapeutic procedures, they can supply the therapist, a range of important
information for treatment dislocations recidivas of the patella .Know the selective invigoration vastus
medialis can be accomplished among 90° and 50° of knee flexion, and the vastus medialis and lateralis
they can be worked with exercises of short duration and high intensity they are just some of the
conclusions one that we arrived. We will present the obtained results seeking mainly the precocious
prevention of the aggression tissular of the patellofemural, as well as to supply to the reader subsidies
to build rehabilitation programs that act better with resources based, avoiding and alerting for the
serious problem that is the degeneration of the articulation patellofemural in the therapeutic process.

Keywords: Electromyographic; Luxation; Knee.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 11-16, jan./mar., 2007


12 Paulo Henrique Altran Veiga

INTRODUÇÃO

Sabe-se que o mecanismo que mantém a patela nivelada em seu eixo depende de vários
fatores, sejam eles bloqueios ósseos (hipoplasia do côndilo femural lateral, formato da patela), sejam eles
mecanismos cápsulo-ligamentares (1). A estabilidade femoro-patelar é mais dinâmica do que estática (2).
Essa estabilidade se torna possível pela ação e equilíbrio do músculo vasto lateral, trato iliotibial e complexo
cápsulo ligamentar, juntamente com o músculo vasto medial que traciona a patela medialmente na extensão
do joelho (3, 4, 5, 6, 7).
Quando esse mecanismo dinâmico e estático não funciona em harmonia, ocorre a instabilidade
femoro-patelar (8). Esses quadros são característicos, levando a dor nessa articulação devido aos desgastes
provocados pelos episódios de deslocamento da patela (4, 9). Esses eventos podem ser recorrentes
principalmente no adolescente, quando a dor é aguda e a deformidade é óbvia, e dependendo do grau,
podem se tornar luxações inveteradas e indolores. Essas luxações levam a certo desapontamento em
relação à reabilitação, pois é quase certo seu realinhamento por via cirúrgica.

MATERIAIS E MÉTODOS
Faremos, então, uma retrospectiva na história de alguns trabalhos já publicados sobre a análise
eletromiográfica dos músculos que envolvem a articulação femoro-patelar e, a partir daí, analisaremos e
traçaremos alguns parâmetros para promover a prevenção precoce da agressão da superfície da articulação
femoro-patelar, bem como fornecer ao leitor subsídios para construir programas de reabilitação que atuem
com recursos melhor fundamentados, evitando e alertando para o problema sério que é a degeneração da
articulação femoro-patelar no processo terapêutico.

Atividade eletromiográfica (EMG)

A utilização da EMG no processo de reabilitação é de extrema importância, pois pode-se


verificar o comportamento de determinados músculos em determinados movimentos e, a partir daí, o
fisioterapeuta pode definir qual posição angular da articulação, bem como qual o melhor tipo de atividade
pode ser ministrada com os pacientes. A terapia do médico é o medicamento, já a substância medicamentosa
do fisioterapeuta é, sem dúvida, o movimento. Utilizar-se, portanto, desse movimento, de maneira a
perceber seu trabalho na EMG, é para o terapeuta uma ferramenta importante. Alguns autores conseguiram
já naquela época traçar alguns pontos que até hoje são utilizados na reabilitação (10). Eles verificaram por
meio da EMG, com eletrodos de superfície, que na extensão resistida do joelho com o paciente sentado,
partindo de 90º de flexão (isotônico resistido), o músculo reto da coxa iniciou o movimento, enquanto que
os músculos vasto medial e vasto lateral apresentaram maior atividade no final do movimento. Acrescentaram
também que o músculo vasto medial apresentou maior atividade com o joelho em extensão e com o
quadril rodado externamente. Já com o joelho em extensão com o quadril rodado internamente, o vasto
lateral teve maiores respostas no EMG. Basmajian, em 1985, definiu que as contrações isométricas com o
joelho em extensão ativa os músculos vastos do quadríceps (11).
Morrish e Woledge estudaram 49 pacientes com problemas femoro-patelares e 20 indivíduos normais,
verificando que o trabalho dos músculos vastos ocorre de maneira sincronizada nos movimentos de extensão do
joelho (12). Estes, por sua vez, têm tendências para serem ativados mais rapidamente em relação ao quadríceps,
justamente para manter o membro em extensão completa. Monteiro e colaboradores realizaram analises EMG, com
o joelho em 15º e 50º, e verificaram que em 15º não houve diferença estatisticamente significante, porém em 50º, o
vasto medial podia ser trabalhado de maneira seletiva (13). Eloranta e Komi investigaram os padrões de EMG dos
músculos reto da coxa, vasto lateral e vasto medial, chegando à conclusão de que os exercícios concêntricos tinham
maiores respostas EMG do que os exercícios de contração excêntrica. No entanto, o músculo vasto medial apresentou
maior atividade na contração concêntrica nos últimos graus de extensão em relação ao vasto lateral (14).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 11-16, jan./mar., 2007


Análise eletromiográfica como base para o tratamento das luxações recidivas da patela 13

Princípios para o tratamento conservador da luxação recidiva da patela

Classicamente, o tratamento da luxação da patela é baseado em alongamentos da musculatura


isquiotibial, tracto iliotibial e gastrocnêmios, juntamente com fortalecimento do músculo vasto medial,
além de crioterapia, estimulação elétrica, farádica, ultra-som, taping patelar e antiinflamatórios não-hormonais.
Dentro de uma conduta conservadora, diga-se não-cirúrgica, podemos encontrar vários trabalhos publicados.
É importante termos consciência também de que a luxação propriamente dita não é o único acometimento
da articulação femoro-patelar, onde a condromalácia, a síndrome femoro-patelar (SDF), as tendinites
anteriores, as creptações e as plicas sinoviais patológicas são comprometimentos comuns e passíveis
também de tratamento, onde uma técnica pode aliviar vários sintomas de patologias diferentes na articulação
femoro-patelar. Sabe-se que atividades isométricas com o joelho em extensão protegem a articulação
femoro-patelar. É importante também ter-se consciência de que quando se trabalha com a extensão do
joelho a partir da flexão, a patela vem de uma posição estável para uma posição instável. As forças de
compressão femoro-patelares são um fator a mais para o fisioterapeuta se deter. Em extensão, a patela tem
menor contato com a fossa troclear, porém quanto menor a área de contato, maior a pressão exercida na
superfície articular e também maior a possibilidade da patela se deslocar lateralmente, devido a esta não
estar no centro de seu caminho na fossa troclear. Por outro lado, quando se estende o joelho entre 90º e
60º a partir da posição fletida, a patela se encontra na fossa troclear, "apoiada" com um contato relativamente
satisfatório, impedindo agressão e desgaste da femoro-patelar. É importante lembrar também que isso
ocorre apenas nos pacientes que não têm sinais de condromalácia ou artrose na face posterior da patela,
sendo então uma boa alternativa para poder se trabalhar o mecanismo extensor do joelho, em casos de
joelho com superfícies de cartilagem sem nenhum problema degenerativo. Portanto, se existe instabilidade,
essa é uma boa maneira de se fortalecer os vastos e reequilibrar as forças musculares envolvidas com a
extensão do joelho (15). Vários autores revisaram o papel dos exercícios para o quadríceps no tratamento
da (SDF) e discutiram o papel de exercícios tradicionais considerados essenciais, mostrando que ao contrário
do que se pensava, não trazem tantos benefícios assim (15, 13). Um deles são os isométricos em extensão
total, que não são capazes de fortalecer seletivamente o vasto medial oblíquo. Os exercícios nos últimos
graus de extensão, que diminuem o contato da patela na tróclea, também têm sido questionados uma vez
que a patela se encontra instável no arco de movimento de 0º a 30º. Alguns estudos têm mostrado que o
vasto medial oblíquo se encontra ativo em todo arco de movimento e não somente nos últimos graus.

RESULTADOS

A importância do reconhecimento diagnóstico correto decorre de que o tratamento instituído


será de maneira mais focal e eficiente. Informações corretas sobre a patologia envolvida leva, logicamente,
ao seu terapêutico mais específico e teoricamente a uma recuperação de melhor qualidade.
Analisaremos agora, baseados no comportamento muscular, juntamente com o conhecimento
anatômico e fisiológico da articulação do joelho, alguns procedimentos terapêuticos que podem ser úteis
no momento de se traçar um programa de tratamento para as luxações recidivantes da patela.
Em relação ao fortalecimento seletivo do músculo vasto medial, é importante levar-se em
consideração que o trabalho deva ser realizado não somente no arco de movimento que este apresente
maior atividade, mas também que possa oferecer trabalho numa angulação onde as forças de reação
femoro-patelar não sejam deletérias para a face posterior da patela. Fornecer estabilidade ideal evitando
luxações recorrentes no momento do exercício e procurar sempre maior atividade em relação aos
componentes laterais também é muito importante. Bose et al. (1980) preconizaram que o músculo vasto
medial poderia ser trabalhado juntamente com o movimento de adução da coxa, por meio de suas expansões
aponeuróticas com o músculo adutor magno, fazendo com que o vasto medial também fosse trabalhado.
Uma das dificuldades de se fortalecer seletivamente o músculo vasto medial é a semelhança das características
histoquímicas e morfométricas entre esse músculo e o vasto lateral longitudinal (VLL), o que reflete na
função de estabilidade da patela (16). Estudos histoquímicos do músculo VLL indicam que este, apesar de

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 11-16, jan./mar., 2007


14 Paulo Henrique Altran Veiga

possuir uma distribuição aleatória de suas fibras, apresenta uma predominância de fibras tipo II. Da mesma
forma, o músculo vasto medial oblíquo (VMO) apresenta um padrão que é significativamente diferente do
VML, mas que se assemelha ao VLL, possuindo, então, maior concentração de fibras tipo II, isto é, de
contração rápida.
Para a ativação das fibras tipo II, preconiza-se exercícios de curta duração e alta intensidade,
porém essas fibras apresentam alta freqüência de despolarização, o que pode ocasionar fadiga na contração
e diminuição da força do músculo. Sczepanski e colaboradores observaram que exercícios realizados em
alta velocidade num equipamento isocinético ativaram preferencialmente as fibras do vasto medial oblíquo
em relação ao do vasto lateral (16).
Observamos, anteriormente, que o músculo vasto medial oblíquo (VMO) e músculo vasto
lateral longitudinal (VLL) apresentam fibras histologicamente parecidas e, portanto, não podem ser ativados
seletivamente no exercício como o que propôs Sczepanski. São essas e outras colocações que temos que
ter o cuidado de analisar segundo Monteiro (13).
Para se elaborar um programa de reabilitação que vise a recuperação funcional muscular
seletiva, é importante o terapeuta compreender a arquitetura muscular da porção que está sendo trabalhada.
Portanto, entender e conhecer o comportamento de cada tipo de fibras musculares é condição primordial
para um trabalho consciente. O músculo vasto lateral é composto aproximadamente por porcentagens
equivalentes de fibras tipo I e tipo II, com fibras tipo IIb (metabolicamente oxidativa-glicolíticas e alta
resistência a fadiga) predominando sobre o tipo IIc (fibras indiferenciadas e poliinervadas, ambos tipos de
metabolismo I e II).
Edgerton mostrou a presença de 32% de fibra tipo I no vasto lateral (17). Para Travnik, o VML
e o V MO tem 59,6% e 44% respectivamente de fibras tipo 1; e 6,3% e 15% de fibras tipo IIb (metabolicamente
glicolítica e fadiga rápida) (16).
Considera-se que a melhor angulação do joelho para se trabalhar o vasto medial oblíquo
(VMO) onde esse é o músculo que tem que ser mais freqüentemente trabalhado, nos programas de
reabilitação, independente da patologia (13).
Em cadeia cinética aberta a 90° de flexão do joelho, há menor estresse femoro-patelar do que
a 50°, que por sua vez é menor do que o estresse encontrado a 15°. Além disso, a atividade eletromiográfica
do músculo VMO é significativamente maior do que a do músculo VLL e VLO, a 50 e a 90 (13). Alguns
resultados de pesquisas evidenciaram que o VMO é mais ativo do que o VLL e VLO na contração isométrica
voluntária máxima (CIVM) a 15°, no entanto esta diferença de ativação, pelos resultados, são maiores a 50°
e 90° do que nos últimos graus de extensão (18, 19, 13).
Em relação ao tipo de movimento selecionado para o trabalho de equilíbrio muscular, num
processo de deslocamento da patela, têm-se destaque os exercícios isométricos, pois são os mais utilizados
e preconizados no início do tratamento e situação onde existe comprometimento da articulação femoro-
patelar. Basmajian (11), Lieb e Perry (20) e Moller et al. (21) preconizaram o uso dos exercícios isométricos
para o fortalecimento do vasto medial e de SLR para o músculo reto da coxa. Basmajiam (11) e Knight (22)
verificaram que a força era obtida mais eficazmente nos exercícios isotônicos de extensão.
Como se vê, existem várias maneiras de se relacionar clinicamente, sendo mais razoável abrir
um leque de informações, e a partir delas, adaptá-las ao paciente seletivamente, de modo que ele se
adapte a sua condição. Desejamos então que o presente trabalho colabore para que o leitor tenha mais
informação e tome por si só suas conclusões terapêuticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

• o tratamento conservador deve ser ponderado como a primeira opção nos casos de luxações
recidivas da patela;
• é indicado iniciar o tratamento com exercícios isométricos do quadríceps, nos casos de
comprometimento da articulação femoro-patelar;

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 11-16, jan./mar., 2007


Análise eletromiográfica como base para o tratamento das luxações recidivas da patela 15

• o ângulo de flexão do joelho 90 a 50° pode ser utilizados para fortalecimento seletivo do vasto
medial;
• a adução da coxa pode servir como acessório para o fortalecimento do vasto medial;
• o exercício isotônico pode ser utilizado para o fortalecimento do quadríceps de uma maneira
global;
• para o fortalecimento do vasto medial e do vasto lateral, deve-se utilizar de exercícios de curta
duração e alta intensidade;
• é importante o alongamento da musculatura lateral do joelho (tracto iliotibial e tensor da fáscia
lata), bem como isquiotibiais e gastrocnêmios;
• o terapeuta tem que ter em mente que cada paciente tem que ser analisado profundamente e
baseado na sua condição clínica escolhe-se a melhor abordagem terapêutica ao seu problema.

REFERÊNCIAS
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16 Paulo Henrique Altran Veiga

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Recebido em: 25/12/2005


Received in: 12/25/2005

Aprovado em: 25/04/2006


Approved in: 04/25/2006

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FISIOTERAPIA AQUÁTICA NO TRATAMENTO DA


OSTEOARTRITE DE JOELHO: série de casos

Aquatic therapy in knee ostearthritis treatment: serie of cases

Ligia Maria Facci


Mestre do Centro Universitário de Maringá. Maringá - PR. e-mail: facci@wnet.com.br/ligiafacci@cesumar.br

Renata Marquetti
Graduada em Fisioterapia no Centro Universitário Maringá. Maringá - PR. e-mail: refisio@ibest.com.br

Kelley Cristina Coelho


Mestranda em Fisiologia do Exercício. Maringá - PR. e-mail: kelleyfisio@cesumar.br/kelleyfisio@cesumar.br

Resumo

A osteoartrite de joelho é uma das doenças reumáticas mais prevalentes pelo fato de suportar
grandes cargas de peso. O quadro clínico de dor, rigidez articular e perda da função freqüentemente
levam à redução de capacidade funcional e da qualidade de vida. Uma das principais intervenções
terapêuticas no tratamento é a fisioterapia aquática, porém há poucos estudos que verificam os seus
benefícios. Foi realizado um estudo com 10 pacientes com diagnóstico de osteoartrite de joelho,
de ambos os sexos, com média de idade de 56 anos. Antes e após o tratamento, os pacientes foram
avaliados por meio de uma ficha pré-elaborada que continha vários instrumentos. O tratamento
consistiu de 20 sessões de fisioterapia aquática, com freqüência de 3 vezes semanais e duração de
50 minutos por sessão. Considerando-se variáveis significantes com p-valor menor que 0,05. Ao
término das 20 sessões, os pacientes apresentaram melhora da amplitude de movimento de flexão
(ativo e passivo p-valor = 0,0025) e extensão de joelho (ativo p-valor = 0,0089 e passivo p-valor
= 0,0544), melhora significante tanto no Índice de Lequesne quanto no WOMAC (p-valor = 0,00253).
Em relação à força muscular de quadríceps, não houve dados estatisticamente significantes pós-
tratamento (p-valor = 0,0544). Por meio dos achados deste estudo, sugere-se que a fisioterapia
aquática possa ser uma boa alternativa de tratamento fisioterapêutico nos pacientes com
osteoartrite de joelho.

Palavras-chave: Artrose; Hidroterapia; Exercício.

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18 Ligia Maria Facci, Renata Marquetti, Kelley Cristina Coelho

Abstract

The knee osteoarthritis is one of the most predominated rheumatic diseases because they bear a
great amount of weight. The symptoms of pain, articular rigity and loss of function frequently
lead to reduction of functional ability and quality of life. One of the most essential treatment
therapy intervention is aquatic therapy, however there are few studies that verify its benefits. A
study was done with ten patients with knee osteoarthritis, with both sexes, with an average age
of 56 years old. Before and after the attendance the patients were examined by a pre-organized card
with many topics. The attendance was done in twenty aquatic therapy session, three times a week,
fifty minutes lasting. At the end of the twenty sessions, the patients improved their bend range
of motion (active and passive p value = 0,0025) and knee stretching (active p value = 0,0089 and
passive p value = 0,0544) important improvement was noticed as much Lequesne index as
WOMAC (p value = 0,00253). Related to quadriceps muscular strength there was not differences
after treatment (p value = 0,0544). Through this study, suggests the aquatic therapy as an
alternative in physiotherapeutic treatment to knee osteoarthritis patients.

Keywords: Arthritis; Hydrotherapy; Exercise.

INTRODUÇÃO
A osteoartrite (OA) ou osteoartrose é uma das doenças reumáticas mais prevalentes, estando
associada à dor, rigidez articular, deformidade e progressiva perda da função (1, 2). Pode-se considerar
que esta afecção acometa o indivíduo em múltiplas dimensões: a nível orgânico e até mesmo social
(3).
Apesar de não haver estudos que estabeleçam a incidência nacional, Marques e Kondo (4)
afirmam que a OA tem uma incidência bastante elevada, ocupando o terceiro lugar na lista dos
segurados da Previdência Social que recebem auxílio-doença no Brasil. Deste modo, esta afecção
compreende 65% das causas de incapacidade, atrás somente de doenças cardiovasculares e mentais.
Por ser uma doença de caráter lentamente progressivo, afeta primariamente indivíduos a
partir da meia-idade, igualmente em ambos os sexos, embora na mulher a incidência é maior após o
período da menopausa, devido à redução dos níveis hormonais (5).
Os locais mais comuns de acometimento da doença são as articulações das mãos, dos pés,
dos joelhos, dos quadris, e a coluna cervical e lombar (1). O joelho entra nesta incidência pelo fato de
suportar grandes descargas de peso (6).
A etiologia da OA é causa de polêmica, sendo classificada em primária e secundária (6). A
lesão é considerada primária quando sua causa é desconhecida, ou seja, com o envelhecimento e a
sobrecarga mecânica nas articulações, a cartilagem enfraquece e há desgaste, ainda podendo haver
associação de um fator hereditário agravante. No caso da secundária, um fator inicial pode ser
identificado, como traumatismos articulares, infecções articulares, necrose avascular, doenças
inflamatórias, doenças metabólicas e doenças hemorrágicas. A OA ainda pode ser considerada
conseqüência de uma carga anormal sobre uma cartilagem normal ou de carga normal sobre uma
cartilagem anormal (7, 8).
Pode-se relacionar a presença de vários fatores de risco que predispõem ao surgimento da
OA, em especial no joelho, dentre eles: obesidade, atividades ocupacionais repetitivas, períodos
prolongados em posição agachada e ajoelhada, lesões de meniscos e ligamentos (6) e atividades
esportivas de alto nível competitivo (que impõem grande impacto sobre o membro inferior), fatores
endócrinos, genéticos, idade, fatores étnicos e constitucionais (1).
A patologia desta afecção envolve alterações específicas na cartilagem articular e no osso
subcontral. A cartilagem osteoartrósica sofre degradação com surgimento de fibrilações e erosões,

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Fisioterapia aquática no tratamento da osteoartrite de joelho: série de casos 19

redução progressiva da sua espessura até o seu desaparecimento; o osso subcondral passa a receber
maior impacto mecânico devido à redução do amortecimento da cartilagem, reagindo com intensa
remodelação, tornando-se mais denso, prolongando-se nas bordas da superfície articular e formando
as exostoses marginais, denominadas osteófitos. No estágio final da doença, também chamado
eburneação óssea, o osso articular pode ficar completamente desnudado e sua superfície se torna lisa
e brilhante (8).
Com relação ao quadro clínico da artrose, seu início é insidioso, normalmente não-relacionado
à história de trauma. A dor, que é de origem mecânica, inicialmente se associa ao movimento e, na fase
mais avançada da doença, com o repouso, aparecendo com freqüência à noite (2). Outros aspectos
importantes são a rigidez, que normalmente é matinal, e a crepitação, que pode ocorrer com ou sem o
movimento resistido.
Além dos sintomas já descritos, na OA de joelho é comum o aparecimento de edema,
frouxidão ligamentar, diminuição e/ou perda do movimento, contraturas capsulares, fraqueza muscular,
espasmos, fibrose e deformidades progressivas em flexão, fatores estes agravantes para a instabilidade
articular (1). Também pode haver deteriorização da propriocepção ou senso de posição articular (9).
O objetivo principal do tratamento da OA de joelho não deve estar somente direcionado ao
alívio dos sintomas e sim à melhora da capacidade funcional. Isso se deve ao fato de que não há modalidade
específica estabelecida que leve à cura da OA. Dentre as alternativas terapêuticas, pode-se mencionar as
não-medicamentosas, as medicamentosas e a cirúrgica (10).
Como primeira escolha terapêutica, o tratamento não-medicamentoso inclui educação do
paciente, perda de peso, fisioterapia, programas de condicionamento físico e uso de órteses, associadas ou
não ao uso de drogas analgésicas antiinflamatórias nos casos onde não se obtêm boas respostas no
controle da dor e melhora da função (1, 11). Quando o tratamento conservador não se mostra eficaz, é
considerada a cirurgia para a colocação de prótese de joelho (1, 12).
A atuação da fisioterapia junto aos cuidados médicos apropriados pode evitar que o impacto da
osteoartrite cause maiores danos e leve à limitação funcional. Assim, sua proposta deve seguir vários objetivos,
tais como: o alívio da dor, a prevenção da perda de trofismo, força muscular e redução de amplitude de
movimento. Além disso, outros benefícios, como a melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida
podem ser alcançados por meio da execução de um adequado programa terapêutico (4).
A fisioterapia aquática pode ser considerada como uma das principais intervenções terapêuticas
no tratamento da osteoartrite de joelho, porém há poucos trabalhos que verifiquem seus benefícios. As
propriedades físicas e fisiológicas da água possibilitam a realização de exercícios dificilmente executados em
solo, e que, associados à maior amplitude de movimento e à temperatura elevada da água, aumentam a
mobilidade articular, o controle muscular e a resistência, aliviando dores e acelerando o processo de recuperação
funcional (10, 13). Ao mesmo tempo, o programa terapêutico executado na água é uma forma mais segura de
fortalecimento, pois não aumenta o atrito articular, como é o caso dos exercícios executados em solo (14).
Foley et al. (15), em um ensaio clínico randomizado, compararam os efeitos dos exercícios de
fortalecimento em 105 pacientes com osteoartrite, realizados em solo, com outros pacientes que faziam os
exercícios em piscina. Estes foram randomizados em três grupos (solo, água e grupo controle), sendo
distribuídos 35 pacientes em cada grupo. Os resultados mostraram que os exercícios realizados em água e
grupo controle melhoraram a capacidade funcional dos pacientes, mas os realizados em solo foram mais
efetivos na melhora de força muscular.
Em um estudo sobre avaliações econômicas dos exercícios aquáticos para pessoas com
osteoartrite, Patrick el al. (14) verificaram significante ganho de força e amplitude de movimentos nas
articulações afetadas, além de melhora de função e diminuição da dor.
Minor et al. (10) também verificaram que os exercícios aquáticos, de forma aeróbica, assim
como a caminhada em solo, mostraram ser alternativas terapêuticas efetivas em pacientes com artrite
reumatóide e osteoartrite.
Aguiar Junior e Gêremias (13) utilizaram 10 sessões de fisioterapia aquática no tratamento da
osteoartrite de joelho em 4 indivíduos e verificaram as variações de freqüência cardíaca, pressão arterial e
amplitude de flexão de joelho. Foram obtidos resultados significativos apenas no ganho de flexão de joelho.

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20 Ligia Maria Facci, Renata Marquetti, Kelley Cristina Coelho

Em um ensaio clínico randomizado mais recente, o programa de exercícios aquáticos trouxe


benefícios similares no que se refere a ganho de amplitude de movimento de joelho, ganho de trofismo e
em redução de tempo em teste de caminhada, quando comparado ao método tradicional de exercícios em
terra. Porém, na redução do quadro doloroso, o grupo que realizou exercícios aquáticos mostrou uma
redução mais significativa (47%) que o grupo que realizou exercícios em terra (33%) (16).
O objetivo deste estudo é analisar os benefícios da fisioterapia aquática no tratamento da OA
de joelho, mediante a investigação da melhora da capacidade funcional, da dor e da qualidade de vida dos
pacientes submetidos a esta terapia.

METODOLOGIA
O estudo foi realizado na clínica de fisioterapia do Centro Universitário de Maringá - CESUMAR,
na cidade de Maringá/PR, no período de abril a agosto de 2004.
Foram selecionadas fichas de encaminhamento de indivíduos de ambos os sexos, maiores de
40 anos, que procuraram o ambulatório de fisioterapia com diagnóstico de osteoartrite de joelho. Após
entrar em contato com os pacientes e esclarecê-los da metodologia do estudo, aqueles que concordaram
em participar assinaram voluntariamente um termo de consentimento livre e esclarecido, sendo, então,
incluídos no estudo.
Além da participação voluntária, os indivíduos selecionados preencheram aos seguintes critérios
de inclusão: diagnóstico radiológico (17) e clínico de OA de joelho uni ou bilateral; deambulando com ou
sem dispositivos de auxílio à marcha; apresentando dor em um ou ambos os joelhos de freqüência constante
ou intermitente no último mês; apresentando nível cognitivo suficiente para entender os procedimentos e
acompanhamento às orientações dadas. Foram excluídos aqueles que tinham sido submetidos a cirurgias
prévias no joelho, os portadores de outras doenças inflamatórias e obesidade mórbida, aqueles que receberam
previamente outra forma de tratamento (sendo permitido o medicamentoso) e os que referiram
impossibilidade de freqüentar as sessões necessárias para a participação no programa. Todos os pacientes
apresentaram exame dermatológico como condição e permissão de entrada na piscina.
Após a seleção e inclusão, os pacientes foram avaliados por uma discente do curso de fisioterapia,
mediante uma ficha pré-elaborada. Foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação: o Índice de
Lequesne, para verificar as características da dor, a capacidade de deambulação e o grau de dificuldade em
realizar tarefas de locomoção (18); o Índice de WOMAC, sendo mais específico e eficaz para detectar
rigidez, dor e capacidade funcional (5, 19, 20, 21); e, para qualidade de vida, o SF-36, um questionário
multidimensional englobando capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade,
aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental e comparação entre as condições de saúde atual e as
de um ano atrás (2). Estes instrumentos foram previamente validados no Brasil e têm sido utilizados
freqüentemente em pesquisas de intervenções para a OA de joelho (18).
Além dos instrumentos específicos para OA de joelho, foi realizada prova de função muscular
manual de quadríceps e cirtometria de coxa.
O tratamento consistiu de 20 sessões de fisioterapia aquática, com freqüência de três vezes por
semana e duração de 50 minutos por sessão, formando-se grupos de no máximo 4 pacientes. O protocolo
de exercícios elaborado englobou cinco fases, sendo, porém, adaptado ao grau de dificuldade de cada
paciente (Tabela 1).

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Fisioterapia aquática no tratamento da osteoartrite de joelho: série de casos 21

TABELA 1 - Programa de exercícios aquáticos para osteoartrite de joelhos

Fase 1: - Alterar caminhada de frente, de costas e em lateral.

Aquecimento Duração de 10 minutos.

Fase 2: - Auto-alongamento de isquiotibiais com apoio de membros superiores na barra lateral da


Alongamento piscina (quatro séries de 30 segundos de alongamento cada membro, com intervalo ativo).
- Auto-alongamento de quadríceps e adutores de quadril com apoio de membros
superiores na barra lateral (quatro séries de 30 segundos de alongamento cada membro,
com intervalo ativo).
Duração de 10 minutos.

Fase 3: - Ex ercício de cadeia cinética fechada, ou seja, flexão e extensão de joelho, tornozelos e
Fortalecimento quadril (agachamento) com apoio na barra lateral da piscina (quatro séries de 10 repetições,
com intervalos de 10 segundos entre as séries).
- Ex ercícios de quadrante – adução e abdução de quadril com extensão de joelhos e
extensão de quadril com extensão de joelhos – ( duas séries de 10 repetições para cada
membro inferior, com intervalo ativo entre as séries).
- Exercícios de chute – extensão de quadril associados à flexão de j oelho seguido de flexão
de quadril e extensão de joelho (duas séries de 10 repetições cada membro inferior, com
intervalo ativo).
Duração de 15 minutos.
Fase 4: - Realizado com prancha proprioceptiva.
Propriocepção Duração de 5 minutos.

Fase 5:
Relaxamento - Realizado com auxílio de flutuadores e colete cervical.
Duração de 10 minutos.

Na décima sessão do tratamento, a resistência na execução dos exercícios foi aumentada por
meio de tornozeleiras de peso (1kg) em todos os pacientes. O nível de profundidade da água manteve-se
em 1,20 m e a temperatura média entre 32° a 34°.

RESULTADOS

Foram avaliados 12 pacientes, sendo que 2 destes (ambos do sexo feminino) desistiram do
tratamento por se queixarem da má situação climática externa. Completaram o estudo, então, 10 pacientes
(Tabela 2).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 17-27, jan./mar., 2007


22 Ligia Maria Facci, Renata Marquetti, Kelley Cristina Coelho

TABELA 2 - Características dos pacientes envolvidos no estudo

Paciente Sexo Idade IMC Joelho Classe Doenças Grau


(anos) (kg/m2 ) acometido funcional associadas radiológico
(n)
1 F 72 28, 39 B III Hipertensão 2
2 F 40 26,83 B I Frouxidão 1
Ligamentar
3 F 74 24,46 B III Hipertensão 3
4 F 63 33,08 B II Hipertensão 2
5 M 52 29, 29 B III --- 4
6 F 32 23,52 B II --- 1
7 F 58 28,90 UD III --- 3
8 F 63 29,77 B III Hipertensão 3
9 F 57 29,43 UE III Hipertensão 2
10 F 49 33,98 UE III Hipertensão 1
F = feminino; M = masculino; IMC = índice de massa corpórea; B = bilateral; UD = unilateal direito; UE = unilateral esquerdo.

A amostra se constituiu de 100% de pessoas alfabetizadas, das quais 70% pertenciam à classe
funcional III. A maioria dos participantes deste estudo foi do sexo feminino (90%), com faixa etária variando
entre 32 e 74 anos de idade (média de 56 anos e coeficiente de variação de 41,15%). Grande parte destes
(70%) apresentava o problema bilateralmente, sendo que em 50% dos pacientes há mais de 30 meses.
Após as 20 sessões, os pacientes foram reavaliados, pelo mesmo avaliador inicial, pela ficha.
A análise estatística dos resultados foi realizada comparando os dados iniciais do tratamento
com os finais. Utilizou-se o Teste de Hipóteses para calcular as variáveis, sendo aplicado o Teste dos
Pontos de Wilcoxon para dados pareados. Como regra de decisão para rejeição ou não da hipótese H0,
estipulou-se que quando p-valor fosse menor que 0,05 (5% de significância) rejeitaria a H0, e quando o p-
valor fosse maior ou igual a 0,05 não refutaria a H0.
Tanto no Índice de Lequesne quanto no WOMAC, o benefício foi evidente, sendo a mediana
após tratamento menor que a prévia (p-valor = 0,00253). Deste modo, demonstrou-se importante melhora
nestes aspectos (Figura 1).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 17-27, jan./mar., 2007


Fisioterapia aquática no tratamento da osteoartrite de joelho: série de casos 23

E
B
A

N
C
C

ES
A
A

A
M

U
M

Q
O
O

LE
W
W

W
FIGURA 1 - Análise da capacidade funcional utilizando o valor médio, antes e após o
tratamento, pelos Índices de WOMAC (seções A, B e C) e Lequesne

Na verificação da amplitude de movimento de flexão de joelho, tanto ativa quanto passiva,


mostrou-se melhora estatisticamente significante (p-valor = 0,0025). Para extensão, porém, houve ganho
relevante apenas na ativa (p-valor = 0,0089), o que não ocorreu na passiva (p-valor = 0,0544).
A cirtometria de coxa apresentou menores valores após a execução do tratamento, nos lados
direito (p-valor = 0,0212) e esquerdo (p-valor = 0,0707). A força muscular de quadríceps não revelou
diferenças significativas com a execução do tratamento (p-valor = 0,0544).
A qualidade de vida, avaliada pelo SF-36 (Tabela 3), demonstrou melhora em capacidade
funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos emocionais, saúde mental
(todos estes com p-valor = 0,00253) e nos aspectos sociais (p-valor = 0,00384). É importante ressaltar que,
na avaliação do questionário SF-36, em todos os aspectos, quanto maior a pontuação melhor a qualidade
de vida.

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24 Ligia Maria Facci, Renata Marquetti, Kelley Cristina Coelho

TABELA 3 - Análise descritiva da qualidade de vida por meio do SF-36.

Média Mediana Min. Max. DP CV


P valor

CF Inicial 27,50 22,50 10,00 70,00 16,71 60,76

final 59,00 57,50 50,00 75,00 9,66 16,38 0,00253

AF Inicial 2,50 0,00 0,00 25,00 7,90 316,23

final 72,50 75,00 25,00 100,00 27,51 37,98 0,00253

Dor Inicial 23,40 26,50 0,00 41,00 12,33 52,69

final 58,30 52,00 41,00 84,00 12,61 21,64 0,00253

EGS Inicial 44,50 43,50 25,00 67,00 12,83 28,84

final 63,50 67,00 32,00 97,00 17,65 27,79 0,00253

V Inicial 32,50 30,00 15,00 50,00 11,12 34,21

final 57,00 52,50 30,00 100,00 19,61 34,40 0,00253

AS Inicial 26,38 25,00 0,00 50,00 18,20 69,02

final 57,50 50,00 50,00 75,00 10,54 18,33 0,00384

AE Inicial 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

final 86,67 100,00 66,67 100,00 17,21 19,86 0,00253

SM Inicial 42,00 36,00 28,00 64,00 13,89 33,07

final 58,80 50,00 40,00 96,00 16,97 28,87 0,00253

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 17-27, jan./mar., 2007


Fisioterapia aquática no tratamento da osteoartrite de joelho: série de casos 25

DISCUSSÃO

A amostra desta pesquisa foi caracterizada por indivíduos em sua maioria do sexo feminino,
aspecto que está de acordo com os achados da literatura, que referem maior comprometimento deste sexo
(5).
Com o protocolo de exercícios aquáticos aplicado, obtiveram-se benefícios no que se refere à
melhora da amplitude de movimento em flexão e extensão de joelho, resultados estes condizentes com
vários estudos realizados sobre o assunto (10, 13, 14, 16).
Também foi observada uma diminuição significante no quadro álgico, avaliado pelos Índices
de Lequesne, WOMAC e pelo questionário SF-36, o que concorda com os trabalhos de Minor et al. (10),
Patrick et al. (14), Wyatt et al. (16) e Aguiar Junior e Gêremias (13).
A melhora da capacidade funcional, aspecto também verificado por meio dos três instrumentos
demonstrados, foi condizente com as pesquisas de Patrick et al. (14) e de Foley et al. (15).
Em relação ao ganho de força muscular, os resultados deste estudo não foram significantes, o
que está de acordo com Foley et al. (15). Estes autores, apesar de demonstrar benefícios em vários outros
aspectos com a execução da fisioterapia aquática, só encontraram melhora da força muscular nos pacientes
submetidos à terapia em solo. Estas observações contradizem trabalhos anteriores que já obtiveram importante
melhora em força e trofismo muscular (15, 16).
Não foram encontrados trabalhos específicos de fisioterapia aquática para OA de joelho que
tenham verificado a redução de edema. Nesta pesquisa, notou-se uma diminuição de cirtometria de coxa,
achado este que pode estar relacionado à redução de edema. Há influência, porém, das alterações de
trofismo muscular, podendo haver confusão na tentativa de se considerar que houve melhora ou não neste
aspecto.

CONCLUSÃO
Em relação aos pacientes tratados neste estudo, pode-se observar que a fisioterapia aquática
alcançou bons resultados no ganho de amplitude de movimento, na melhora do quadro álgico e da
qualidade de vida. Estes achados foram satisfatórios, já que o objetivo principal deste estudo foi melhorar
a capacidade funcional e, conseqüentemente, a qualidade de vida destes pacientes.
É de extrema relevância ressaltar que, apesar da pesquisa ter sido realizada com uma amostra
pequena, os resultados foram significantes estatisticamente.
Da mesma forma, seria interessante verificar se os benefícios alcançados com esta modalidade
terapêutica podem ser mantidos após o término das sessões, já que não se seguiu um período de
acompanhamento dos pacientes pós-intervenção fisioterapêutica.
Apesar de não ter sido realizada nenhuma avaliação para graduar conforto e motivação dos
pacientes, percebeu-se uma melhor expectativa por resultados positivos e maior facilidade na execução
dos exercícios demonstrada por eles. Isso se deve ao fato de o tratamento ter sido realizado em um
ambiente mais agradável e favorável que o solo. Além do ambiente, o fato de ter sido executado em
pequenos grupos, merece destaque com relação ao estímulo de socialização, o que também pode ter
influenciado na melhora da qualidade de vida.
Deste modo, é de grande importância que se realizem mais pesquisas, com amostra maior, e
que estas sejam, de preferência, uma comparação da fisioterapia aquática com as demais modalidades de
intervenção, ou mesmo com a terapia em solo. Por meio destas possivelmente poderá ser comprovada a
efetividade desta modalidade no tratamento de pacientes com osteoartrite de joelho.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 17-27, jan./mar., 2007


26 Ligia Maria Facci, Renata Marquetti, Kelley Cristina Coelho

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Recebido em: 08/07/2006


Received in: 07/08/2006

Aprovado em: 06/07/2007


Approved in: 07/06/2007

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 17-27, jan./mar., 2007


28
29

DESCONFORTOS MUSCULOESQUELÉTICOS PERCEBIDOS


EM TRABALHADORES DE DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS,
GÊNEROS E OCUPAÇÕES

Musculoskeletal Discomforts Noticed Among Workers of Different


Age Ranges, Genders and Occupations
Vitta Alberto De
Professor Doutor do Curso de Fisioterapia e do Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade do Sagrado Coração (USC),
Bauru, SP. Bauru - SP. e-mail: albvitta@yahoo.om.br

Zapater André Rocha


Mestrando em Desenho Industrial na Universidade Estadual Paulista (FAAC/UNESP) e Fisioterapeuta da Universidade do
Sagrado Coração (USC). Bauru - SP. e-mail: andrezapa@yahoo.com.br

Campos Rodrigo da Silveira


Graduando em Fisioterapia, Universidade do Sagrado Coração (USC), Bauru - SP. e-mail: camposrs@uol.com.br

Padovani Carlos Roberto


Professor Titular do Departamento de Bioestatística, Universidade Estadual Paulista (IB/UNESP), Botucatu - SP.
e-mail: bioestatística@ibb.unesp.br

Resumo

O objetivo do presente estudo foi caracterizar os desconfortos musculoesqueléticos percebidos em


diferentes grupos compostos por critérios de faixa etária, gênero e tipo de ocupação. Realizou-se um estudo
transversal, com 436 indivíduos de uma empresa de água e esgoto que formaram dois grupos de idade,
sendo 291 adultos jovens e 145 de meia-idade. A casuística foi composta por 227 mulheres e 209 homens.
Em relação ao tipo de ocupação, 179 exerciam atividades sedentárias e 257 fisicamente leve. Os
instrumentos incluíram um questionário de caracterização sociodemográfica e ocupacional e um de
queixas relativas a desconfortos musculoesqueléticos percebidos, nos últimos seis meses e nos últimos
sete dias. Foram realizadas estatísticas descritivas e testes inferenciais envolvendo a técnica da análise de
variância não-paramétrica para o modelo com três fatores. Os resultados indicaram que na comparação
entre: 1) as faixas etárias, os adultos jovens masculinos sedentários referiram significantemente mais
sintomas, nos últimos seis meses e sete dias; 2) os gêneros, nas mulheres de meia-idade, independentemente
do tipo de ocupação, as diferenças de respostas mostraram-se sempre significativas, nos últimos seis meses;
3) os tipos de ocupação, os masculinos de meia-idade que exercem trabalho fisicamente leve referiram
significantemente mais sintomas, nos últimos seis meses; 4) os gêneros, nos últimos sete dias, as mulheres
sedentárias de meia-idade e as do grupo fisicamente leve adultos jovens relataram significativamente mais
sintomas. Portanto, há uma peculiaridade de predomínio da manifestação dos desconfortos nas mulheres,
nos homens adultos jovens e de meia-idade que exercem trabalho fisicamente leve.

Palavras-chave: Desconfortos musculoesqueléticos; Faixa etária; Gênero; Tipo de Ocupação.

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30 Vitta Alberto De, Zapater André Rocha, Campos Rodrigo da Silveira, Padovani Carlos Roberto

Abstract

This study aimed to characterize the musculoskeletal discomforts noticed among different groups
of workers formed according to age range, gender and occupation. A transversal study was
carried out with 436 people from a water and sewage company, in 2 age groups, like this: 291
young adults and 145 middle-aged adults. The sample was composed of 227 women and 209 men.
Considering the kind of jobs, 179 had sedentary work and 257 physically light job activities. The
instruments included a sociodemographic and occupational questionnaire of characterization
and another one concerning the complaints related to musculoskeletal discomfort noticed in the
last six months and in the last seven days. Descriptive statistic and inferential tests involving
the non-parametric variance analysis technique (Mann-Whitney) were applied. The results
showed that in the comparison between: 1) the age ranges, sedentary male young adults reported
more symptoms, in the last six months and in the last seven days; 2) the genders, in middle-aged
women, not considering the job, the differences of answers were always significant in the last six
moths; 3) the kinds of jobs, young male adults with physically light job activities reported
significantly more symptoms, in the last six months; 4) the genders, in the last seven days, women
with physically light activity, not considering their age, reported more symptoms and with
significant difference. Thus, there is a predominance of discomfort in women, in young male
adults and middle-aged with physically light activity.

Keywords: Musculoskeletal discomfort; Age range; Gender; Occupation.

INTRODUÇÃO
Os desconfortos musculoesqueléticos percebidos podem ser definidos como relatos de percepção
física desagradável e de sintomas físicos, tais como dor, sensação de peso, formigamento e fadiga (1).
Estudos de prevalência revelaram que de 10 a 20% da população referiram-se à dor lombar, 6,9% à dor nos
ombros e 5,9 a 12% à dor na coluna cervical, em algum momento da vida (2).
Lock et al. (3) estudaram 1546 indivíduos ingleses por meio de um questionário e verificaram
que a prevalência aumenta de 145 por 1000, entre os 18 e os 24 anos para 223 por 1000, entre 55 e 64 anos.
Urwin et al. (4) notaram que a freqüência de desconfortos é de 65% em indivíduos na faixa etária de 16 a
44 anos e 36% na de 65 a 74 anos.
Em estudo realizado com 8000 finlandeses, Mailis e Papagapiou (5) verificaram que 9,5% dos
homens e 13,5% das mulheres apresentavam cervicalgia. Resultados do General Household Survey de 1995
revelaram que a taxa de desconfortos musculoesqueléticos nas mulheres adultas é de 159 por 1000 e nos
homens adultos de 143 por 1000 (4).
Tuomi et al. (6) avaliaram a prevalência de desconfortos em diferentes categorias profissionais
e notaram que há maior número de sintomas nas atividades ocupacionais pesadas e fisicamente leve
quando comparadas com as sedentárias.
De acordo com Sjogren-Ronka et al. (7), há necessidade de estudos que explorem a associação
direta e indireta entre demanda física no trabalho e as variáveis pessoais, físicas, psicológicas, sociais e do
meio ambiente em diferentes ocupações. Em relação a estudos dessa natureza no Brasil, verifica-se total
carência de dados sistemáticos sobre a relação entre a presença de desconfortos musculoesqueléticos, a
idade, o gênero e tipo de ocupação.
Investigações nesses domínios podem ser utilizadas como apoio para os profissionais do Serviço
de Saúde Ocupacional de empresas em suas avaliações e estudos sobre o trabalho e dos fatores que os
afetam; além de oferecer subsídios para medidas de reabilitação e proposição de programas preventivos
que contribuirão para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e aumento de suas chances de
uma velhice satisfatória.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 29-36, jan./mar., 2007


Desconfortos musculoesqueléticos percebidos em trabalhadores de diferentes faixas etárias, gêneros e ocupações 31

Nesse sentido, considerando o exposto, o objetivo proposto para esta investigação foi caracterizar
os desconfortos musculoesqueléticos percebidos em diferentes grupos de indivíduos compostos por critérios
de gênero, faixa etária e tipo de ocupação.

MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo transversal envolvendo adultos jovens e de meia-idade, que executam
atividades ocupacionais sedentárias e fisicamente leves, de ambos os gêneros. As variáveis antecedentes
foram representadas pelos dados sociodemográficos (faixa etária, gênero e tipo de ocupação) e a variável
critério pelos desconfortos musculoesqueléticos percebidos.

Sujeitos

O estudo foi desenvolvido com a participação de 436 trabalhadores, recrutados nos diversos
setores de uma empresa de água e esgoto da cidade de Bauru, São Paulo. Destes, 291 eram adultos jovens,
de 20 a 35 anos, e 145 de meia-idade, na faixa etária entre 36 e 50 anos, que totalizavam 227 mulheres e
209 homens. Em relação ao tipo de ocupação, 179 exerciam atividades sedentárias e 257 executavam
trabalho fisicamente leve.
As condições propostas para o plano analítico definiram que todos os sujeitos deveriam estar
trabalhando há mais de um ano em atividades sedentárias ou fisicamente leves. O critério para classificar
os sujeitos como sedentários e fisicamente leve no trabalho foi a estimativa de consumo calórico exigido
no trabalho (8).

Procedimentos

Para avaliação dos desconfortos musculoesqueléticos foi utilizado o questionário nórdico (9),
adaptado para a cultura brasileira por Barros (10). O instrumento é composto de três questões: a primeira
pergunta se o sujeito sentiu desconfortos (formigamento, dor, sensação de peso, dormência) nos últimos
seis meses em regiões específicas do corpo (pescoço, ombro, cotovelo, punho e mão, coluna dorsal,
coluna cervical, coluna lombar, quadris, coxas e nádegas, joelhos e tornozelos e pés); a segunda, se sentiu
desconfortos nos últimos sete dias, nas mesmas regiões corporais e, a terceira, se nos últimos seis meses o
sujeito deixou de fazer atividades normais por causa de alterações nos segmentos corporais já citados.
A aplicação dos instrumentos foi feita em sessões individuais, realizadas nos locais de trabalho
dos sujeitos, após autorização dos responsáveis e com a concordância dos sujeitos, que foram informados
sobre os objetivos do estudo.

Análise estatística

Para a análise do número total de desconfortos musculoesqueléticos percebidos, nos


últimos seis meses e nos últimos sete dias, segundo gênero, faixa etária e tipo de ocupação, foi
utilizada a técnica da análise de variância não-paramétrica para o modelo com três fatores, com os
resultados apresentados em tabelas contendo medidas de posição e variabilidade, com os respectivos
indicativos das significâncias das comparações entre os níveis dos fatores. Foram consideradas para
indicação das significâncias letras minúsculas nas comparações entre faixas etárias, fixando-se gênero
e tipo de ocupação; letras maiúsculas para gênero dentro de faixa etária e tipo de ocupação e, por
fim, letras gregas, para tipo de ocupação fixados gênero e faixa etária. Para interpretação dos
resultados, considerou-se que duas medianas com uma mesma letra da mesma espécie não diferem
(p>0,05) quanto aos níveis do fator em consideração. Todas as conclusões estatísticas foram discutidas
em 5% de significância (11).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 29-36, jan./mar., 2007


32 Vitta Alberto De, Zapater André Rocha, Campos Rodrigo da Silveira, Padovani Carlos Roberto

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta as medidas descritivas do número total de desconfortos musculoesqueléticos


percebidos, nos últimos seis meses, segundo gênero, faixa etária e tipo de ocupação. No confronto das
faixas etárias, verificou-se significância da freqüência de desconforto nos sedentários do gênero masculino,
com maior número de desconfortos nos adultos jovens.
Na comparação entre os gêneros, nas mulheres de meia-idade, independentemente do tipo de
ocupação, as diferenças de respostas mostraram-se sempre significativas e, entre os tipos de ocupação, os
masculinos de meia-idade que exercem trabalho fisicamente leve referiram mais sintomas.

TABELA 1 - Medidas descritivas do número total de desconfortos musculoesqueléticos percebidos, nos últimos seis
meses, segundo gênero, faixa etária e tipo de ocupação.

Tipo de ocupação
Gênero Faixa etária
Sedentários Fisicamente leve
3,50 ± 1,90 bAα * 3,00 ± 2,00 aAα
20 a 35
(0,00; 8,00) ** (0,00; 8,00)
Masculino
1,00 ± 1,50 aAα 3,00 ± 2,00 aAβ
36-50
(0,00; 8,00) (0,00; 7,00)

3,50 ± 1,00 aAα 4,00 ± 2,00 aAα


20 a 35
(1,00; 8,00) (0,00; 9,00)
Feminino
4,50 ± 1,50 aBα 5,00 ± 2,50 aBα
36 a 50
(1,00; 10,00) (0,00; 10,00)
* Mediana ± semi-amplitude interquartílica
** (Valor mínimo; valor máximo)

A Tabela 2 mostra as medidas descritivas do número total de desconfortos musculoesqueléticos


percebidos, nos últimos sete dias, segundo gênero, faixa etária e tipo de ocupação. Nota-se que, nos
masculinos sedentários, a faixa etária adulto jovem apresentou significantemente mais sintomas.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 29-36, jan./mar., 2007


Desconfortos musculoesqueléticos percebidos em trabalhadores de diferentes faixas etárias, gêneros e ocupações 33

TABELA 2 - Medidas descritivas do número total de desconfortos musculoesqueléticos percebidos, nos últimos
sete dias, segundo gênero, faixa etária e tipo de ocupação.

Tipo de ocupação
Gênero Faixa etária
Sedentários Fisicamente leve
3,00 ± 2,00 bAα* 2,00 ± 1,50 aAα
20 a 35
(1,00; 8,00) ** (1,00; 9,00)
Masculino
2,00 ± 1,00 aAα 2,00 ± 1,50 aAα
36-50
(1,00; 7,00) (1,00; 8,00)

4,00 ± 1,50 aAα 3,00 ± 2,00 aBα


20 a 35
(1,00; 8,00) (1,00; 10,00)
Feminino
4,00 ± 2,50 aBα 3,00 ± 3,00 aAα
36 a 50
(1,00; 11,00) (1,00; 11,00)
* Mediana ± semi-amplitude interquartílica
** (Valor mínimo; valor máximo)

Na comparação entre os gêneros, as mulheres sedentárias de meia-idade e as do grupo


fisicamente leve adultos jovens relataram significativamente mais sintomas. Não houve significância estatística
para os tipos de ocupação.

DISCUSSÃO

Os dados da presente investigação mostraram que há certo predomínio da manifestação dos


desconfortos nas mulheres. Alguns estudos confirmam essas suspeitas. Kelsh e Sahl (12) avaliaram 9812 mulheres
e 26.898 homens do setor elétrico do Estado da Califórnia (USA) e verificaram que os homens apresentavam
maior freqüência de desconfortos do que as mulheres. Contudo, controlando o tipo de ocupação, os autores
notaram que a ocorrência de desconfortos foi maior nas mulheres, quando trabalhavam em ocupações
tradicionalmente exercidas por homens, tais como operação de linha de transmissão e de subestação, que
envolvem repetição, força, posturas inadequadas e carga estática por longos períodos.
O predomínio de desconfortos nas mulheres foi confirmado por Zwerling, Sprince e Ryan (13),
envolvendo trabalhadores postais que exerciam atividades de balconista, classificador de correspondência por
meio mecânico e carteiro.
Considerando 1007 jornalistas que utilizavam terminais de computadores, Polonyi et al. (14) analisaram
a relação entre variáveis sociodemográficas, postura, tipo de tarefa, fatores psicossociais e desconfortos
musculoesqueléticos e verificaram que a freqüência foi de 28% nas mulheres e 14% nos homens.
As diferenças entre os gêneros podem ser explicadas, principalmente, por três fatores. O primeiro
está relacionado à força física, que é menor nas mulheres do que nos homens. Isso faz com que o gasto
energético das mulheres seja maior, em comparação com o dos homens, quando expostas à demanda de

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 29-36, jan./mar., 2007


34 Vitta Alberto De, Zapater André Rocha, Campos Rodrigo da Silveira, Padovani Carlos Roberto

trabalho similar, fator que aumenta o risco de sobrecarga musculoesquelética. O segundo está relacionado à dupla
jornada de trabalho – na empresa e em casa, gerando redução no período de descanso e sobrecarga para os
tecidos musculoesqueléticos. O terceiro fator refere-se ao planejamento das estações de trabalho, que são inadequadas
para as mulheres, pois são projetadas com base em medidas antropométricas de homens. Como conseqüência,
tendem a ocorrer posturas inadequadas, com aumento dos riscos de lesões musculoesqueléticas (12, 15).
Outra explicação sugerida na literatura é de ordem psicossocial. Acredita-se que as mulheres de fato
não têm mais desconfortos do que os homens, mas se queixam com maior freqüência do que eles. De acordo com
esta linha, os contrastes resultam das diferenças na predisposição de homens e mulheres quanto a relatar as
informações (15). Talvez as mulheres tenham mais liberdade social para falar sobre seus sintomas e sentimentos,
ou talvez elas tenham uma capacidade de auto-observação mais desenvolvida, devendo-se ambos os eventos a
fatores sociais e educacionais.
Os homens adultos jovens do presente estudo apresentaram significativamente mais desconfortos
musculoesqueléticos quando comparados à faixa etária de meia-idade, fixado gênero e tipo de ocupação. De
Zwart et al. (16), em um estudo sobre desconfortos, idade e exigências do trabalho, notaram que os indivíduos na
faixa etária de 20 a 30 anos apresentam freqüências elevadas de desconfortos.
Tal fato pode ser explicado pela falta de experiência e pela pequena habilidade para exercer os
movimentos no trabalho, contribuindo, assim, para a maior susceptibilidade para o aparecimento dos desconfortos
musculoesqueléticos (17).
Os dados do presente estudo revelaram que na comparação entre os tipos de ocupação, fixados
gênero e faixa etária, os indivíduos que exercem trabalho fisicamente leve apresentam maiores freqüências de
desconfortos. McDonald (18), em um estudo epidemiológico sobre as doenças no trabalho, notou que o trabalhador
que executa atividade fisicamente leve apresentou maiores taxas de desconfortos. De Zwart et al. (15) analisaram
a relação entre os desconfortos, idade, gênero e demanda física no trabalho em quatro categorias de ocupação
(sedentário, fisicamente leve, físico e mental e fisicamente pesado). Verificaram que os indivíduos que exercem
trabalho fisicamente pesado ou fisicamente leve apresentaram maior freqüência de desconfortos dos que os que
executam trabalho sedentário.
Uma possível explicação pode estar relacionada às características destas ocupações, nas quais o
trabalhador é exposto a tarefas que exigem transporte de cargas, flexões e rotações da coluna vertebral, postura
em pé por longos períodos, movimentos repetitivos e carga estática (19, 20).
Os dados do presente estudo mostraram que há predomínio da manifestação dos desconfortos nas
mulheres, nos homens adultos jovens e nos homens de meia-idade que exercem trabalho fisicamente leve.
Acredita-se que dados dessa natureza e de outras que dela decorrerem podem contribuir para a compreensão das
relações entre variáveis e poderão oferecer contribuições úteis ao planejamento de medidas visando à manutenção,
à melhora e à promoção do bem-estar físico e psicológico dos cidadãos.

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Recebido em: 21/12/2005


Received in: 12/21/2005

Aprovado em: 16/04/2006


Approved in: 04/16/2006

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 29-36, jan./mar., 2007


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37

PARALISIA CEREBRAL: uma análise do


comprometimento motor sobre a qualidade de vida
Cerebral Palsy: An Analisys Amoung Motor Disabilities and
Quality of Life

Gustavo Christofoletti
Prof. MS. do Departamento de Fisioterapia da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
e-mail: gustavo_fisiophy@yahoo.com.br

Francine Hygashi
Especialista em Neurologia Infantil pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
e-mail: francinehygashi@hotmail.com

Ana Lúcia Ribeiro Godoy


Supervisora do Curso de Aprimoramento em Fisioterapia Aplicada à Neurologia Infantil da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). e-mail: alrg@splicenet.com.br

Resumo
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida (QV) pode ser definida como a
percepção do indivíduo quanto à sua posição na vida e no contexto da cultura e sistemas de valores
em que se vive, podendo ser alterada por fatores intrínsecos e extrínsecos. É sabido que o
comprometimento motor, afetado de diferentes maneiras na Paralisia Cerebral (PC), pode levar à
exclusão social do sujeito. O presente estudo teve como objetivo analisar a influência do
acometimento motor sobre a QV de crianças com PC atendidas no Ambulatório de Fisioterapia
Aplicada à Neurologia Infantil da Unicamp. Foi realizado um estudo de corte transversal, de caráter
descritivo, onde 33 crianças foram avaliadas por meio do questionário AUQEI-modificado. Esse
questionário é composto por 40 itens relacionados aos domínios: atividade, saúde, função e
separação, e as respostas foram classificadas em muito triste, triste, feliz e muito feliz. Das 33
crianças, 5 (15,16%) foram diagnosticadas tetraparéticas, 9 (27,28%) diparéticas e 19 (57,56%)
hemiparéticas. Dos tetraparéticos, 40% não apresentam marcha independente; dos que apresentam,
20% ficam tristes quando correm. Todos se sentem tristes quando pegam objetos com a mão mais
comprometida. Dos diparéticos, 33,33% sentem-se tristes quando pensam no pai e 22,23% não
ficam felizes ao verem a própria foto. Dos hemiparéticos, 42,10% ficam tristes ou muito tristes ao
irem ao médico; enquanto 47,05% ficam tristes quando pensam na mãe e 29,41% quando pensam
no pai. No total, 80% dos tetraparéticos e 100% dos diparéticos e hemiparéticos disseram gostar
da sessão de fisioterapia. Os dados refletem uma heterogeneidade das respostas analisadas,
segundo o grau de comprometimento motor, influenciando, assim, na QV. Uma intervenção
interdisciplinar é indispensável para melhor promoção de saúde.

Palavras-chave: Paralisia cerebral; Qualidade de vida; Fisioterapia.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 37-44, jan./mar., 2007


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Abstract

Relating to the World Health Organization, quality of life (QoL) can be defined as the perception
that the individuous have amoung position on life and context of culture and systems of living
values, beeing changed by intrinsec and extrinsic factor. It is know that motor disability, affected
in different ways on Cerebral Palsy (CP), can lead to social exclusion. The aim of this study was
to analyse the influence that motor disabilities exercises on QoL of children with CP assisted at
Unicamp’s Physical Therapy Childsh Neurology Ambulatory. This is a descriptive, transversal
design study, where 33 children were evaluated with the AUQEI-modified questionnaire. This
questionnaire is compound by 40 itens related with the domains: activities, health, function and
separation, which answers were classified as very said, said, happy, and very happy. From this
33 children, 5 (15,16%) were diagnosted as tetraparetics, 9 (27,28%) as diparetics and 19
(57,56%) as hemiparetics. Analysing the tetraparetic group, 40% didn’t have independente gait;
from thoses who have, 20% becomes said when are running. Everyone becomes said when catch
an object with the hand more compromised. From the diparetic group, 33,33% fills said when
think on father and 22,23% are not happy when see the own photo. From the hemiparetic group,
42,10% said that they fill said or very said when go to the doctor. As long as 47,05% are said when
they think on mother, 29,41% fills said when think on father. Relative to physiotherapy, 80% of
the tetraparetic grupou and 100% of the diparetic and hemiparetic group said that enjoy the
sesson. The results shows that the answers are heterogeneous according to the motor disability,
and disability influences directly the QoL. An interdisciplinary intervention is inevitable for a
batter health promotion.

Keywords: Cerebral Palsy; Quality of Life; Physiotherapy.

INTRODUÇÃO
Paralisia cerebral (PC) é um termo usado para um grupo de condições caracterizadas
essencialmente por disfunção motora, podendo estar associada a déficits sensoriais e cognitivos, decorrentes
de uma lesão não-progressiva, mas freqüentemente mutável, do encéfalo em desenvolvimento (1). Segundo
a Comissão Mundial de Paralisia Cerebral, o referido termo engloba um distúrbio de postura e movimento
persistente, causado por lesão no sistema nervoso em desenvolvimento, antes do nascimento, durante o
nascimento ou nos primeiros meses da lactância (2).
A incidência mundial de PC tem-se mantido constante nos últimos anos: 1, 5 a 2, 5 por 1000
nascidos vivos (3). Isso se deve, dentre outras razões, às melhores condições de atendimento materno-
infantil atingidas pelo avanço tecnológico, favorecendo principalmente a sobrevida de pré-termos. Em
prematuros com menos de 1500 g, a incidência de paralisia cerebral é de 25 a 31 vezes maior que os
nascidos a termo (4).
Em relação à etiologia, apesar de muitas vezes desconhecida, pode-se afirmar que os casos
pré-natais associam-se principalmente às condições anóxicas, à infecção materna e fetal, ao uso de narcóticos
e ao etilismo materno. Os casos peri-natais relacionam-se, sobretudo, à asfixia, aos traumas diversos e ao
uso fórceps durante o parto. Em relação aos casos pós-natais, é comum observar a associação de PC com
casos de infecção, problemas vasculares, traumatismos crânio-encefálico, dentre outros (1).
A PC pode ser classificada de acordo com a região cerebral acometida, conforme a severidade
do comprometimento ou pela distribuição topográfica da lesão. Quanto ao acometimento cerebral, a PC
pode ser subdividida em espástica, atáxica, coroatetósica, mista e hipotônica. A distribuição topográfica é
feita principalmente em três tipos: tetraparética, diparética e hemiparética (5).
Diante dos diferentes quadros clínicos observados, diversas modalidades de tratamentos
objetivam promover saúde, independência funcional e qualidade de vida à criança. Dentre os tratamentos,

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 37-44, jan./mar., 2007


Paralisia cerebral: uma análise do comprometimento motor sobre a qualidade de vida 39

recebe importante destaque a medicina (clínica e cirúrgica), a farmacologia, a psicologia, a fisioterapia, a


terapia ocupacional, a fonoaudiologia e a educação física.
O conceito de qualidade de vida, no entanto, apresenta certa discordância na comunidade
científica. Duas tendências quanto à conceituação do termo são identificadas: qualidade de vida como um
conceito mais genérico e qualidade de vida relacionada à saúde (health-related quality of life). No primeiro
caso, qualidade de vida apresenta uma acepção mais ampla, aparentemente influenciada por estudos
sociológicos, sem fazer referência a disfunções ou agravos (6). No segundo, tem-se o conceito elaborado pela
Organização Mundial da Saúde, onde observa a qualidade de vida como a percepção do indivíduo da sua
posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores em que se vive em relação às expectativas, aos
objetivos, aos padrões e aos conceitos. Neste último caso, a qualidade de vida é vista como um contexto
abrangente que pode ser afetado pela saúde física, pelo estado psicológico, pelo nível de independência,
pelos relacionamentos sociais, pelas crenças pessoais e pelas relações com o meio ambiente (7).
Há uma controvérsia associada ao uso de medidas específicas da qualidade de vida relacionadas
à saúde. Alguns autores defendem os enfoques mais específicos da qualidade de vida, assinalando que
esses podem contribuir para melhor identificar as características relacionadas a um determinado agravo.
Outros ressaltam que algumas medidas de qualidade de vida relacionadas à saúde têm abordagem
eminentemente restrita aos sintomas e às disfunções, contribuindo pouco para uma visão abrangente dos
aspectos não-médicos associados à qualidade de vida (8). Na prática clínica, a avaliação dos sinais e
sintomas é parâmetro essencial para identificar os resultados de uma conduta terapêutica. Ouvir o que o
paciente tem a dizer abrange uma perspectiva de atendimento integral em saúde e permite avaliar os
efeitos dos procedimentos terapêuticos.
Nos últimos anos, a avaliação da qualidade de vida na criança tem se tornado possível graças
ao uso de instrumentos específicos relacionados ao caráter multidimensional, embora a ênfase habitualmente
recaia sobre sintomas, incapacidades ou limitações ocasionados por enfermidade (9,6). Dos instrumentos
elaborados, recebe importante destaque o Questionário da Saúde da Criança (CHQ), o Questionário do
Cuidador (CQ), o Wee-Functional Independence Measure (WeeFIM) e o Autoquestionnaire Qualité de Vie
Enfant Imagé (AUQEI), tendo apresentado, este último, adequada fidelidade interna (Cronbach a 0,71),
validade normal de construção (rotação Varimax normalizada), validade externa e reprodutividade razoáveis
(conseguida por teste e re-teste 1 mês após a primeira aplicação) (9, 10). Além disso, o AUQEI encontra-
se traduzido e validado à língua portuguesa por Assumpção et al. (8).
Segundo Manificat et al. (11), a sensação subjetiva de qualidade de vida é influenciada por
uma complexa interação entre potencial funcional e desenvolvimento ambiental e individual, com o qual
organiza certos modos de respostas ou estratégias para adaptar-se. Assim, enquanto duas crianças possam
apresentar a mesma limitação funcional, não pode ser inferido que ambas apresentem a mesma qualidade
de vida. Isso porque esta última depende também da capacidade de aceitação e adaptação às limitações
(12).
Diante da influência na qual o potencial funcional e os estímulos ambientais exercem sobre a
qualidade de vida de crianças, torna-se de grande importância os estudos que analisam a extensão destes
fatores sobre as relações biológicas, psicológicas, econômicas e sociais do indivíduo.
Diante do anteriormente exposto, o presente estudo teve como objetivo analisar a influência
exercida pelo comprometimento motor sobre a qualidade de vida de crianças com PC atendidas no
Ambulatório de Fisioterapia Aplicada à Neurologia Infantil do Hospital das Clínicas da Unicamp.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo apresenta delineamento de corte transversal. A seleção dos participantes foi realizada
a partir da amostra de pacientes que freqüentavam o Ambulatório de Fisioterapia Aplicada à Neurologia
Infantil – Hospital das Clínicas – Unicamp, no ano de 2004. Como critérios de inclusão, foram admitidos:
pacientes de ambos os sexos; idade superior a 5 anos e inferior a 16 anos; diagnóstico de PC comprovado
na avaliação médica; cursando escola regular, pública ou particular, normal ou especial; e com capacidade

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40 Gustavo Christofoletti, Francine Hygashi, Ana Lúcia Ribeiro Godoy

de compreensão e expressão para responder ao questionário AUQEI-modificado. As crianças foram


classificadas de acordo com a lesão topográfica instalada (tetraparéticas, hemiparéticas ou diparéticas).
Foram coletados também informações referentes à escola, tipo de marcha (não deambula, marcha dependente
ou marcha independente), freqüência de atendimento fisioterapêutico, uso ou não de órteses em membros
inferiores (sendo estes acessórios ortopédicos, com funções de posicionamento e/ou auxílio na marcha),
possível histórico de cirurgias e medicações em uso.
O questionário AUQEI é baseado no ponto de vista da satisfação da criança, visualizada a
partir de quatro figuras que exprimem diferentes estados emocionais (Figura 1) e que são associadas a
diversos domínios da vida da criança. O questionário é composto por 26 questões que abrangem relações
sociais e familiares, atividades de vida diária, saúde, auto-imagem e separação. Foi realizado um acréscimo
de 14 perguntas ao questionário, objetivando abordar aspectos da incapacidade motora e do processo de
reabilitação, que não constam no questionário original.

FIGURA 1 - Faces do AUQUEI - 1 Muito triste (MT), 2 Triste (T), 3 Feliz (F), 4 Muito feliz (MF)
Fonte: ASSUMPÇÃO et al. (2000)(8).

FIGURA 2 - Perguntas realizada no AUQUEI-modificado

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Paralisia cerebral: uma análise do comprometimento motor sobre a qualidade de vida 41

As perguntas foram feitas por um único avaliador, em uma sala reservada, com a presença
exclusiva do avaliador e da criança a ser entrevistada. Inicialmente foram expostas as instruções de forma
simples e clara à criança para o adequado entendimento do questionário. Os resultados foram submetidos
à análise estatística, com análise descritiva dos dados.
O termo de consentimento livre e esclarecido foi entregue ao cuidador responsável da criança,
por meio de duas cópias do documento. Nele foram esclarecidos os objetivos e benefícios da presente
pesquisa, além de garantida a manutenção do tratamento fisioterapêutico sem prejuízos nos casos de não-
participação ou abandono do estudo.

RESULTADOS
Foram analisadas 33 crianças com diagnóstico de paralisia cerebral. Destas, 5 (15,16%)
foram classificadas como tetraparéticas, 9 (27,28%) como diparéticas e 19 (57,56%) como
hemiparéticas.
Em relação à função social, foram encontradas com grande freqüência as repostas feliz ou
muito feliz nas perguntas referentes ao dia do aniversário (100% dos casos), à permanência na sala de
aula (100% dos tetraparéticos e diparéticos e 89% dos hemiparéticos), ao recreio escolar (80% dos
tetraparéticos, 89% dos diparéticos e 98,5% dos hemiparéticos) e às férias escolares (100% das respostas).
Foi observada uma maior freqüência das respostas triste ou muito triste nas perguntas que envolveram
brincadeiras com os irmãos (12% dos hemiparéticos e diparéticos, e 0% dos tetraparéticos).
Nas questões referentes às relações familiares, foram observados 100% das respostas
felizes ou muito felizes quando as crianças estão na presença dos avós. Quando relacionado à
figura materna, 100% dos tetraparéticos, 70,6% dos hemiparéticos e 56% dos diparéticos ficam felizes
ou muito felizes. Em relação ao pai, 40% dos tetraparéticos, 47,05% dos hemiparéticos e 33,33% dos
diparéticos dizem sentir-se triste ou muito triste.
Sobre o domínio atividades, 100% das crianças analisadas responderam feliz ou muito
feliz às perguntas referentes ao ato de almoçar e de tomar banho. Relacionando à deambulação,
40% dos tetraparéticos não deambulam. Dos que deambulam, 20% ficam triste ao correr. Quando
comparado com os grupos diparéticos e hemiparéticos, este valor refere-se a 11,2% e a 31,6%,
respectivamente. Em relação a brincadeiras envolvendo bolas, 40% dos tetraparéticos, 11,1% dos
hemiparéticos e 15,8% dos diparéticos responderam sentir-se triste ou muito triste na atividade;
26,3% dos hemiparéticos disseram sentir-se triste ou muito triste no ato de subir escadas (contra 0%
dos diparéticos e 20% dos tetraparéticos). Em relação à prática esportiva, 20% dos tetraparéticos,
33,3% dos hemiparéticos e 10,5% dos diparéticos relatam a resposta triste ou muito triste como
sendo a mais característica.
Em relação ao tópico saúde, a grande maioria das crianças respondeu feliz ou muito feliz
quando vão à fisioterapia (80% dos tetraparéticos e 100% dos hemiparéticos e diparéticos) e ao
médico (80% dos tetraparéticos, 100% dos diparéticos e 57,9% dos hemiparéticos). A resposta triste
ou muito triste foi vista com muita freqüência nas questões relacionadas a cirurgias (60% dos
tetraparéticos, 44,4% dos diparéticos e 26,3% dos hemiparéticos), ao uso de órteses de membros
inferiores (20% dos tetraparéticos, 22,3% dos diparéticos e 89,5% dos hemiparéticos) e ao uso de
medicamentos (40% dos tetraparéticos, 44,4% dos diparéticos e 73,6% dos hemiparéticos).
Sobre a auto-imagem, 80% das crianças tetraparéticas, 88,9% das diparéticas e 84,2% das
hemiparéticas dizem ficar feliz ou muito feliz ao pensar quando estiverem crescidos. A resposta feliz
e muito feliz também foi muito observada quando analisado o ato de ver uma foto sua (100% dos
tetraparéticos, 87,8% dos hemiparéticos e 77,7% dos diparéticos).
Em relação ao item separação, 40% dos tetraparéticos, 55,7% dos diparéticos e 62,1% dos
hemiparéticos relataram as respostas triste ou muito triste quando brincam sozinhos. Em relação a
dormir longe da família, 100% dos tetraparéticos, 44,4% dos diparéticos e 84,2% dos hemiparéticos
responderam ficar triste ou muito triste.

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42 Gustavo Christofoletti, Francine Hygashi, Ana Lúcia Ribeiro Godoy

DISCUSSÃO

Independente do grupo, os resultados deste estudo apontam uma semelhança das respostas
do questionário AUQEI-modificado, indicando que o comprometimento motor da PC afeta a qualidade de
vida da criança, qualquer que seja o grau de severidade de sua disfunção.
Embora se sabe que o comprometimento motor pode levar à exclusão social, a amostra analisada
não reflete este índice. O padrão feliz e muito feliz refuta os dados de Petersen et al. (2005) (13), que
analisaram 360 crianças com disfunções crônicas. Nas questões referentes às relações familiares, houve
diferença dos dados encontrados em relação à figura materna e paterna. Não houve correlação entre o
grau de acometimento motor e as questões familiares, pois o grupo tetraparético apresentou uma menor
porcentagem de respostas triste e muito triste quando comparado com o grupo hemiparético.
Em relação ao domínio atividades, as respostas triste e muito triste foram observadas nos três
grupos, principalmente nas questões referentes à corrida, brincadeiras com bola e ao ato de subir escada,
concordando com os resultados de Vargus-Adam (2005) (14). Analisando 177 crianças com PC, este autor
conclui que as atividades funcionais interferem na qualidade de vida da criança. Diferente dos resultados
encontrados, Varni e colaboradores (2995) (15) argúem haver um comprometimento da qualidade de vida
de crianças com PC, sendo estritamente relacionado à disfunção motora.
Em relação ao tópico saúde, a grande maioria das crianças relatou a resposta feliz ou muito
feliz ao freqüentar o fisioterapeuta e o consultório médico. Isso representa um resultado importante, pois
o processo de reabilitação é influenciado pela confiança do familiar e da criança no terapeuta. Como era
de se esperar, a resposta triste e muito triste foi vista quando perguntado sobre cirurgias. Houve certa
discordância das respostas referente às órteses de membros inferiores, com predomínio de resposta triste
e muito triste no grupo hemiparético. Diante deste resultado, temos que considerar a órtese como: meio
facilitador da marcha, auxiliando na independência da criança; e como barreira psicológica, visto muitas
vezes com preconceito pela população (16). Como a criança hemiparética geralmente apresenta as funções
cognitivas preservadas, a resposta triste e muito triste observada neste grupo deve estar relacionada ao
preconceito da sociedade.
Em relação à auto-imagem da criança, não foi observado influência do comprometimento
motor sobre a qualidade de vida, haja vista o predomínio de respostas feliz e muito feliz nos três grupos.
Diferentemente, o item separação não apresentou respostas similares entre os grupos, refletindo em tendência
a uma influência do comprometimento motor sobre a qualidade de vida.

CONCLUSÃO
Os dados obtidos refletem a idéia de que o comprometimento motor, encontrado de forma
diferente nos grupos tetraparéticos, diparéticos e hemiparéticos, pode vir a influenciar a qualidade de vida
da criança portadora de PC. No entanto, tem-se que tomar ressalvas ao elaborar essa conclusão, pois
fatores não observados neste estudo, como nível socioeconômico, funções cognitivas e freqüência de
crises epilépticas podem vir a influenciar no resultado. O pequeno tamanho amostral, associado à
heterogeneidade dos grupos (5 crianças tetraparéticas, 9 diparéticas e 19 hemiparéticas), pode ser considerado
um viés da pesquisa. Contudo, conclui-se que a análise da qualidade de vida e das técnicas interdisciplinares
envolvidas no processo de reabilitação são essenciais para a promoção de saúde da criança com PC.

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Paralisia cerebral: uma análise do comprometimento motor sobre a qualidade de vida 43

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Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 37-44, jan./mar., 2007


44 Gustavo Christofoletti, Francine Hygashi, Ana Lúcia Ribeiro Godoy

COLABORAÇÃO

Universidade Estadual de Campinas


Faculdade de Ciências Médicas
Curso de Aprimoramento
Setor de Fisioterapia e Terapia Ocupacional Aplicado à Neurologia Infantil
Ambulatório de Fisioterapia Aplicada à Neurologia Infantil

APOIO FINANCEIRO

FUNDAP – Fundação de Desenvolvimento Administrativo

AGRADECIMENTOS

Ao Setor de Fisioterapia Aplicado à Neurologia Infantil da Faculdade de Ciências Médicas da


Unicamp.
Ao curso de pós-graduação latu-sensus, modalidade Aprimoramento, da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp.
À Fundap.

Recebido em: 28/04/2005


Received in: 04/28/2005

Aprovado em: 17/04/2006


Approved in: 04/17/2006

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 37-44, jan./mar., 2007


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ANÁLISE DE POSTURAS E MOVIMENTOS DE OPERADORES


DE CHECKOUT DE SUPERMERCADO

Posture and movement analysis of supermarket


checkout operators

Celita Salmaso Trelha


Fisioterapeuta, Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina, Doutoranda em Medicina e
Ciências da Saúde, Londrina - PR. e-mail: celita@uel.br

Rodrigo Luiz Carregaro


Fisioterapeuta, bolsista do PIBIC-CNPq enquanto acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina -
PR. e-mail: rodrigocarregaro@yahoo.com.br

Renata Felício Drummond de Castro


Fisioterapeuta, graduada pela Universidade Estadual de Londrina - PR. E-mail: Rfdc2610@yahoo.com.br

Juliana Maria Citadini


Fisioterapeuta, graduada pela Universidade Estadual de Londrina - PR. e-mail: jmciladini@yahoo.com.br

Douglas Luciano Lopes Gallo


Fisioterapeuta, graduado pela Universidade Estadual de Londrina - PR. e-mail: dougfisio@yahoo.com.br

Daniela Wosiack da Silva


Fisioterapeuta, graduada pela Universidade Estadual de Londrina - PR. e-mail: daniwosiack@uel.br

Resumo

Este estudo teve por objetivo realizar uma descrição das posturas e movimentos de operadores de
checkout durante a realização da atividade. Participaram voluntariamente dois funcionários de um
supermercado. Para análise da postura e movimentos, foram utilizados fotos e observações dos
autores. Observou-se que o trabalho é desenvolvido em posição ortostática e os funcionários
adotam posturas desequilibradas, alternando movimentos de rotação e inclinação lateral do tronco.
Realizam ainda movimentos amplos para alcance das mercadorias, movimentos de pronação-
supinação para apresentação do código de barras e realizam trabalho muscular estático para a
sustentação de peso. A tarefa executada pelos operadores de checkout requer precisão, rapidez e
repetitividade.

Palavras-chave: Movimento; Postura; Operadores de Checkout.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 45-52, jan./mar., 2007


46 Celita Salmaso Trelha et. al.

Abstract

The aim of the present study was to describe the movements and postures involved during the
performance of supermarket checkout operators. Two supermarket operators participated
voluntarily. Photos were used to analyze each worker’s posture and movements, associated with
an observational analysis. The observation indicated that the job is performed in orthostatic
position and that the operators adopt unbalanced postures, alternating rotation and inclination
movements of the trunk. They also do wide movements to reach products, wrist pronation-
supination movements for the scanning process and static muscular work for weight sustentation.
The task performed by the operators requires precision, speed and repetitive movements.

Keywords: Movements; Posture; Checkout operators.

INTRODUÇÃO

Com a evolução humana, os modos de produção foram se modificando, passando-se do


artesanato, onde o homem detinha todo o processo de produção, até os dias atuais, nos quais o
trabalhador encontra-se inserido em um esquema de automação e especialização do trabalho. Com o
aparecimento das linhas de montagem, o trabalhador passou a executar somente uma parcela ou
segmento do produto final, com movimentos repetitivos e posturas nem sempre adequadas às suas
condições pessoais (1). O trabalho industrializado mecanizado e a automação, aliados a uma busca
constante pela produtividade e alta qualidade, vêm impondo condições extremamente prejudiciais à
saúde do ser humano de forma geral (2). Em 1970, foram relatados os primeiros casos de danos à
saúde entre operadores de checkout no Japão (3). Nesse sentido, deve-se ressaltar que o fato de o
homem passar a maior parte de sua vida no ambiente de trabalho pode influenciar significativamente
a qualidade da sua saúde (4).
Ainda, aspectos simultâneos e integrados relacionados às condições de trabalho, como,
por exemplo, o posto, equipamentos, organização, conteúdo e ambiente podem gerar repercussões
para a saúde do trabalhador. Avanços tecnológicos, como a introdução do leitor óptico nos caixas de
supermercado, otimizaram o serviço prestado aos clientes. Entretanto, este benefício ocasionou um
custo para a saúde dos operadores, traduzido pelas lesões por esforços repetitivos (5). No Canadá,
enfatiza-se o aumento da incidência de queixas dos trabalhadores em relação à fadiga muscular após
a introdução da leitura óptica, visto que freqüentemente o scanner é colocado em checkouts
convencionais sem nenhuma adaptação (3). Não somente a introdução da leitura óptica, mas a
pressão do tempo que o operador sofre a fim de evitar a formação de grandes filas de espera, leva-o
a acelerar o ritmo de trabalho. Desse modo, aumenta-se tanto a sobrecarga física quanto a mental,
aliando-se a isso a espera por parte dos clientes por um serviço mais rápido e eficiente (4,5).
A prevenção de sintomas relacionados com distúrbios musculoesqueléticos pode ser atingida
quando equipamentos, postos e metodologia de trabalho são desenhadas de acordo com as capacidades
humanas e suas limitações, ou seja, pelo uso de princípios ergonômicos (6). Os riscos de se ignorar
estes princípios podem ser resumidos em aumento do absenteísmo e de custos médicos, risco de
acidentes, menor produção e baixa qualidade de trabalho (6).
Nesse sentido, a compreensão dos fatores de risco presentes em determinadas atividades
pode auxiliar a reestruturação do posto e as modificações organizacionais, com o objetivo de diminuir
a sobrecarga física e mental durante a realização do trabalho (4). Sendo assim, o propósito deste
estudo foi realizar uma análise qualitativa das posturas e movimentos adotados por operadores de
checkout de um supermercado da cidade de Londrina-PR. Um segundo objetivo foi descrever o posto
de trabalho utilizado na empresa e discorrer sobre possíveis influências deste posto com a presença
de riscos à atividade dos operadores de caixa de supermercado.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 45-52, jan./mar., 2007


Análise de posturas e movimentos de operadores de chechout de supermercado 47

MATERIAIS E MÉTODOS

Sujeitos

O estudo foi realizado em um supermercado de grande porte da cidade de Londrina/PR.


Foram recrutados dois operadores de caixa, sendo um do sexo masculino e um do sexo feminino, com
idade de 21 e 24 anos e altura de 1,80 m e 1,62 m respectivamente, com base nos seguintes critérios:
trabalhar há mais de um ano na empresa e atuar exclusivamente no setor de recepção (caixas), além de
não possuir sintomas ou lesões musculoesqueléticas. Um estudo prévio que avaliou os sintomas
musculoesqueléticos dos operadores foi utilizado para excluir funcionários com desordens osteomioarticulares
acentuadas (7).

Procedimentos

Foi realizada a mensuração do posto de trabalho utilizado pelos operadores (Tabela 1), utilizando-
se fita métrica inextensível, goniômetro universal e máquina fotográfica Yashica 32 mm. Pelo fato de os
checkouts possuírem design com medidas e formatos padronizados, não houve a necessidade da mensuração
dos outros postos.

TABELA 1 - Medidas do posto de trabalho utilizado pelos operadores

Altura da bancada do caixa 82 cm


Espaço do funcionário (“cockpit”) 69,5 x 50 cm
Comprimento total do caixa 428 cm
Distância da bancada até o scanner 41,5 cm
Altura do teclado 18 cm
Altura do chão até saída do ticket (à esquerda) 107 cm
Ângulo de rotação (pegar compra até o outro lado) 126°
Altura do assento 98 cm
Largura entre esteiras 66 cm
Altura até metade do painel da leitura ótica 7,5 cm
Altura do painel de comando (botões das 3 esteiras, geral e alarme) 62 cm
Distância da bancada até o monitor (à direita) 37 cm
Angulação do teclado 30°
Distância do chão até a quina inferior da bancada 66 cm

Com base nas descrições dos próprios funcionários, foram selecionados produtos mais
freqüentemente manuseados. A partir daí, realizou-se a pesagem destes itens em uma balança digital do
próprio supermercado, para se determinar a variação da massa manuseada no dia-a-dia.
A postura e os movimentos dos operadores foram analisados qualitativamente por meio de
fotografias e observações durante o período de trabalho. Foi realizada uma descrição cinesiológica com o
intuito de caracterizar a atividade analisada. A filmagem não pode ser realizada por impedimento da
diretoria da empresa.

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48 Celita Salmaso Trelha et. al.

RESULTADOS

Descrição do posto de trabalho (checkout)

O checkout (Figura 1) é composto por 2 esteiras intercaladas (A e B) por um espaço no qual se


encontram a gaveta de dinheiro (C) disposta horizontalmente e, à frente do operador, o painel de leitura
óptica na vertical e horizontal (D). Logo acima, em posição inclinada, encontra-se o teclado (E). Também
compreendido neste espaço, localizado na quina inferior da bancada e à esquerda encontra-se o painel de
controle (F), utilizado para acionar as esteiras e o alarme.

A E B

G H
F
C

FIGURA 1 - Representação do posto de trabalho analisado no estudo. A e B) Esteiras rolantes; C) Gaveta


de dinheiro; D) Leitores ópticos; E) Teclado; F) Painel de controle; G) Saída do
comprovante de compra; H) Tela e suporte de sacolas e I) Espaço reservado ao funcionário

Ainda à esquerda do funcionário, localiza-se a máquina de preenchimento de cheques e saída


do comprovante de compra (G). Já à direita do operador, encontra-se o suporte de sacolas e o monitor de
discriminação da compra, este último voltado para o cliente (H).
O espaço reservado para o funcionário localiza-se entre a máquina de preenchimento de
cheques e o suporte de sacolas (I). O operador deve ainda dividir o espaço com um banco em dobradiça
à direita, como pode ser observado na Figura 2.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 45-52, jan./mar., 2007


Análise de posturas e movimentos de operadores de chechout de supermercado 49

FIGURA 2 - Operadora realizando flexão de tronco durante o preenchimento de formulário (à


esquerda) e adotando rotação com inclinação do tronco quando do registro de
mercadorias (à direita). Notar o pequeno espaço de movimentação e ausência de local
adequado para descanso das pernas

Descrição da atividade
Durante o período na qual os trabalhadores foram observados, foram listados produtos com
maior freqüência de manuseio e verificou-se uma variação de 0,34 kg e 5,2 kg manuseados. A jornada de
trabalho dos funcionários variou de 6 a 8 horas por dia.
O trabalho dos funcionários é desenvolvido em posição ortostática e estática, associada a
movimentos de rotação, inclinação lateral e anterior de tronco para alcance e empacotamento de mercadorias,
para ativação do painel de controle e para retirada do comprovante de compra, entre outras funções. Não
há local adequado para descanso das pernas, como pode ser observado na Figura 2. O supermercado em
questão não oferecia pausas regulares durante a jornada de trabalho, apenas o horário destinado ao
almoço.
O movimento de flexão anterior de tronco é freqüentemente realizado pelos funcionários
visando a abertura da gaveta de dinheiro, atividades de digitação e ortografia, além da limpeza do posto.
Este movimento tem relação direta com a altura do indivíduo, estando mais prejudicados aqueles com
maior estatura, já que a altura da bancada é fixa (Figura 2). Observou-se uma grande rotação da coluna
cervical, principalmente durante a visualização da saída do comprovante de compra, localizado à esquerda
e durante a visualização da tela e do suporte de sacolas à direita.
Foi possível observar que o checkout do supermercado analisado apresentava painel de leitura
óptica na vertical (mais utilizada) e na horizontal. Para a realização da leitura óptica do código de barras
era necessário que o funcionário utilizasse movimentos de prono-supinação do antebraço, flexo-extensão
e desvio rádio-ulnar do punho, concomitante a uma sobrecarga estática de ombro e membros superiores
em grande parte do tempo, como pode ser observado na Figura 3.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 45-52, jan./mar., 2007


50 Celita Salmaso Trelha et. al.

FIGURA 3 - Exemplo da utilização da prono-


supinação e flexo-extensão de
punho para registrar item de
compra no leitor vertical.

DISCUSSÃO
Os operadores exercem suas funções em postos de trabalho que possuem designs com medidas
e formatos padronizados e, portanto, não levam em consideração as diferenças antropométricas individuais.
A estação de trabalho mais próxima do ideal deve ser flexível e ajustável, apresentando espaço suficiente
para movimentação livre e segura do usuário, proposta esta não observada no estudo, já que a área
reservada para o funcionário não prevê espaço suficiente para livre movimentação, para a utilização da
cadeira e para o empacotamento das mercadorias. Isso pode ocasionar posturas rígidas e desequilibradas,
como foi verificado em uma análise ergonômica do posto de trabalho de 10 supermercados da cidade de
São Paulo (3).
Sabe-se que os músculos nutrem-se principalmente no período de relaxamento. Deste modo,
a pressão interna do músculo durante atividades estáticas pode ultrapassar o valor da pressão arterial do
sangue e ocasionar um fechamento dos vasos sanguíneos responsáveis pela sua nutrição, culminando com
o acúmulo de ácido lático e irritação das terminações nervosas, causando dor (8). Segundo Barreira (9), a
coluna vertebral permite e necessita de movimentos. Dessa forma, as posturas estáticas exigem a ação
repetida dos mesmos grupos musculares, não permitindo períodos de relaxamento e adequado aporte
sanguíneo. Além disso, estas posturas interferem nos discos intervertebrais com a manutenção de uma
pressão significativamente aumentada.
De acordo com Lannersten e Harns-Ringdahl (10), a posição em pé facilita a mobilidade,
movimentação dos pés ou descarga do peso do corpo entre as pernas. Entretanto, a posição prolongada

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 45-52, jan./mar., 2007


Análise de posturas e movimentos de operadores de chechout de supermercado 51

em pé proporciona outros problemas, tais como fadiga muscular, aparecimento de varizes e agravamento
de lesões preexistentes nos tecidos moles dos membros inferiores (11). Deste modo, acredita-se que uma
das soluções ergonômicas seria permitir ao caixa alternar as posturas sentadas e em pé, em acordo com
outros estudos (10, 11). No entanto, não se observou uma cadeira adequada (ajustável e com assento
estofado) para descanso do funcionário, bem como o uso de suporte para apoio dos pés para alívio da
fadiga dos membros inferiores, recomendações estas feitas por Baron e Hobes (12).
Diniz e Ferreira (3) afirmam que a esteira rolante antes e depois da leitura óptica facilita a
movimentação das mercadorias e impede o esforço excessivo para alcançá-las ou empurrá-las, recomendação
observada no checkout em questão.
O teclado à frente do operador e acima do scanner em posição inclinada exige que este
funcionário realize movimentos de extensão de punho, posição considerada estressante (12). O mesmo
autor sugere, ainda, que o scanner fique à frente do operador e o teclado à frente e acima do scanner deve
ser ajustável em todas as direções e ângulo de inclinação. Além do movimento do punho, é necessário que
o caixa levante a mercadoria para passá-la por meio do scanner na altura e distância corretas para permitir
a leitura do preço. Esse trabalho de flexão e postura estática dos ombros aumenta a atividade da parte
descendente do trapézio e músculos extensores da coluna (10).
Um estudo (10) comparou a atividade muscular do ombro e cotovelo durante o trabalho dos
caixas para os diferentes modos de leituras. Os autores observaram maior ação muscular durante o trabalho
com scanner na vertical, scanner na horizontal, caneta de leitura óptica e caixa registradora convencional,
respectivamente. Ainda, Kofler e colaboradores (13) utilizaram a eletromiografia de superfície para avaliar
a atividade muscular em um posto de trabalho padrão. Os autores tentaram estabelecer uma diminuição da
atividade muscular com a proposta de um novo posto ergonômico e assim encontrar uma maneira de
prevenir o desenvolvimento de distúrbios musculares relacionados ao trabalho. Ao que parece, estimativas
da exposição física e suas conseqüências fisiológicas são atividades essenciais (14). Embora o presente
estudo não tenha utilizado a eletromiografia de superfície para avaliar a atividade muscular, a análise de
posturas e movimentos, juntamente com um estudo prévio de sintomas confirmou, por meio dos relatos
subjetivos dos trabalhadores, que as tarefas com scanner na vertical proporcionam uma sobrecarga muscular
considerável.
Análises de checkouts (5) demonstraram que as três tarefas que mais consomem tempo são o
processo de leitura do código de barras do produto (20%), empacotamento (18%) e transações de pagamento
(22%). Pode-se verificar que o empacotamento das mercadorias era realizado pelo próprio operador de
caixa, o que certamente somado às outras tarefas desempenhadas pode aumentar a sobrecarga física,
expondo-o a maior risco de lesões osteomioarticulares. Se esta função fosse desempenhada por outro
funcionário, o tempo de espera do cliente seria reduzido, agilizando o atendimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O padrão de movimento e as posturas adotadas durante o período de trabalho, associados à
inadequação do posto, parecem favorecer a sobrecarga mecânica das estruturas do sistema
musculoesquelético. Este fato indica a predisposição dos trabalhadores avaliados a sintomas
predominantemente nas regiões da coluna lombar, ombros e punhos. Faz-se necessária a realização de
outros estudos, como, por exemplo, a avaliação da atividade muscular por meio da eletromiografia de
superfície, com o intuito de determinar a sobrecarga muscular e proporcionar uma melhor compreensão
da relação entre a atividade analisada e influências do posto de trabalho.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 45-52, jan./mar., 2007


52 Celita Salmaso Trelha et. al.

REFERÊNCIAS

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de melhorias ergonômicas de um setor industrial. Rev Bras Fisiot. 2000; 4(2):83-92.
2. Zilli CM. Manual de cinesioterapia/ginástica laboral: uma tarefa interdisciplinar com ação multiprofissional.
São Paulo: Lovise; 2002.
3. Diniz CA, Ferreira Jr M. Prevalência de sintomas músculo-esqueléticos em operadores de checkout em
mercados. Rev Saúde Ocup. 1998; 25(93/94):75-91.
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na ergonomia e no stress no trabalho. Rev Fisiot e Pesquisa. 1999; 6(1):83-91.
5. Carrasco C, Coleman N, Healey S, Lusted M. Packing products for customers: An ergonomics evaluation
of three supermarket checkouts. Appl Ergon. 1995; 26(2):101-108.
6. Rosskam E. Listening to our pain: Preventing workplace injuries and illnesses through ergonomics.
[online]. World of Work 1997 (21) Sep/Oct. [cited 2003 mar 2]; Available from: URL: http://www.ilo.org/
public/english/bureau/inf/magazine/21/21erg.htm.
7. Trelha CS, Cunha ACV, Silva DW, Lopes AR, Parra KC, Citadini JM, et al. LER/DORT em operadores de
checkout: Um estudo de prevalência. Salusvita. 2002; 21(3):87-95.
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of the Evidence. Phys Ther. 2002; 82:173-187.
9. Barreira THC. Um enfoque ergonômico para as posturas de trabalho. Rev Bras Saúde Ocup. 1989;
67(17):61-69.
10. Lannersten L, Harms-Ringdahl K. Neck and shoulder muscle activity during work with different cash
register systems. Ergonomics. 1990; 33(1):49-65.
11. Couto H. Ergonomia aplicada ao trabalho. O manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte:
Ergo; 1995. v. 1.
12. Baron SL, Habes D. Occupational musculoskeletal disorders among supermarket cashiers. Scand J
Work Environ Health. 1992; 18(2):127-129.
13. Kofler M, Kreczy A, Gschwen dtner A. Occupational backache: surface electromyography demonstrates
the advantage of an ergonomic versus a standard microscope workstation. Eur J Appl Physiol. 2002;
86(6):492-497.
14. Hägg GM, Luttmann A, Jager M. Methodologies for evaluating electromyographic field data in ergonomics.
J Electrom Kinesiol. 2000; 10:301-312.

Recebido em: 29/03/2003


Received in: 03/29/2003

Aprovado em: 03/11/2004


Approved in: 11/03/2004

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 45-52, jan./mar., 2007


53

NÍVEIS DE PERCEPÇÃO DE ESFORÇO E DE DOR EM DUAS


ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Levels of Perception of Effort and Pain for Two Strategies of


Work Organization

Fernanda Pereira dos Santos Silva


Fisioterapeuta, aluna do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São
Carlos -SP. e-mail: silva.fernandapereira@gmail.com

Luciana Di Thommazo
Aluna de Graduação do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos - SP.
e-mail: lucianadt@gmail.com

Isabel Aparecida Porcatti Walsh


Profa. Dra. da UNICEP, São Carlos - SP. e-mail: unicep@unicep.com.br

Michele Elisabete Rubio Alem


Profa. Dra. Orientadora de estágio dos alunos do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos - SP.
e-mail: alem@faber_castell.com.br

Helenice Jane Cote Gil Coury


Profa. Dra. Responsável pelas disciplinas de Prevenção de Lesões Musculoesqueléticas Curso de Fisioterapia da Universidade
Federal de São Carlos, Professora orientadora do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, São Carlos - SP.
e-mail: helenice@power.ufscar.br

Resumo

O downsizing e a reengenharia têm sido empregados visando a melhorar a eficiência organizacional, a


produtividade e a competitividade, contudo, essas mudanças envolvem a redução do número de funcionários
e a sobrecarga para os trabalhadores remanescentes. O objetivo deste estudo foi o de avaliar o impacto de
duas estratégias de organização do trabalho quanto aos níveis de percepção de esforço e dor relatados pelos
funcionários de um setor industrial submetido à reorganização. Para tanto, fizeram parte deste estudo 25
funcionárias que trabalhavam em uma empresa multinacional. As participantes foram avaliadas quanto aos
níveis de percepção de esforço, por meio da Ratings of Perceived Exertion (RPE), e de dor, por meio da Escala
Visual Analógica (EVA), em dois contextos organizacionais: 1 - o trabalho era desenvolvido por apenas três
trabalhadoras em cada célula de trabalho; e 2 - este mesmo trabalho era realizado por quatro trabalhadoras.
Constatou-se diferença nos níveis de percepção de esforço entre as estratégias tanto no início quanto no final
dos turnos e diferença nos níveis de percepção de dor entre as estratégias somente no início dos turnos.
Sugere-se que a RPE é uma ferramenta sensível para diferenciar níveis de percepção de esforço ao longo
do dia trabalhado e entre as demandas de trabalho diversas, reforçando a importância da utilização de escalas
psicofísicas em contextos ocupacionais. Sugere-se, também, que atenção deve ser dada à saúde dos
trabalhadores para evitar os efeitos negativos do downsizing quando processos de produção são alterados
sem considerar o impacto das novas medidas sobre a capacidade funcional dos envolvidos.

Palavras-chave: Organização do trabalho; Downsizing; Reengenharia; Percepção de esforço;


Percepção de dor.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, jan./mar., 2007


54 Fernanda Pereira dos Santos Silva et. al.

Abstract

Downsizing and reengineering have been used with the aim of improving organizational
efficiency, productivity and competitiveness; however, these industrial changes involve staff
reductions and workload for the remaining workers. The objective of this study was to evaluate
the impact of two strategies of work organization on the levels of perception of effort and pain
reported by employees of a multinational industrial company undergoing reorganization.
Twenty-five women working in a multinational production company participated in this study.
The participants were evaluated by using the perceived effort (Ratings of Perceived Exertion -
RPE) and pain (Visual Analogue Scale - VAS) scales. They worked within two different
organizational contexts: 1 - having three workers in each working cell, and 2 - having four
workers in a similar workplace. There were significant differences in the level of effort perception
between work contexts at the beginning and the end of the shifts. Differences between work
contexts regarding perception of pain were identified at the beginning of the shifts, but not at the
end. The RPE was shown to be a sensitive tool used to identify the levels of effort perception
throughout a day of work as well as between different work demands, thereby indicating the
importance of using psychophysical scales in occupational contexts. In order to avoid the negative
effects of downsizing, this study suggests that the workers’ health should be taken in account
whenever the production processes are altered without considering the impact of new
implementation on their functional capacity.

Keywords: Work organization; Downsizing; Reengineering; Effort perception; Pain.

INTRODUÇÃO
As indústrias estão em constante evolução e implantação de novas tecnologias. Isso requer
mudanças em marketing e em estratégias de produção o que, segundo Kuorinka (1), exige esquemas mais
flexíveis de trabalho. Estes processos industriais engajados na atual situação de globalização avançam com
perspectivas de downsizing, de reengenharia, dentre outras, as quais podem causar prejuízos à saúde dos
funcionários das empresas.
Neste contexto, downsizing pode ser definido como um conjunto de atividades conduzidas
pela gestão de uma empresa, que tem como objetivo melhorar a eficiência organizacional, a produtividade
e a competitividade, envolvendo redução do tamanho da empresa no que se refere ao número de funcionários
(2, 3).
O downsizing organizacional possui algumas características peculiares, como, por exemplo, o
propósito de melhorar a eficácia da organização do trabalho na indústria, ou seja, é uma estratégia que
busca aumentar a velocidade de todos os processos de produção, envolvendo redução dos recursos
necessários, dentre estes, a redução no número de funcionários, enquanto busca também melhorar a
produtividade e eficiência, estimulando, assim, a competitividade. Esta estratégia envolve a reestruturação,
eliminação ou redesenho do trabalho realizado na indústria (2).
Um downsizing corporativo, que se fundamente na redução de funcionários como principal
medida para reduzir custos sem que as necessárias ações para que a reestruturação geral dos processos
organizacionais aconteça, pode acarretar um aumento do número de doenças cardiovasculares e afastamentos
dos funcionários por motivos de saúde, entre aqueles que permanecem trabalhando na indústria (4, 5). Em
levantamento bibliográfico de Rego (4), o autor conclui que quando a empresa se limita a reduzir funcionários
sem alterar outros aspectos de apoio, modificará o empenho dos empregados e terá como provável
conseqüência a redução de custos apenas por curto período, pois necessitará retornar ao número original
de funcionários antes de decorridos dois anos.
A reengenharia, seguindo esta mesma linha de redução de custos, visa a erradicar o trabalho
desnecessário e fazer com que os processos da empresa apontem na direção da satisfação do cliente,

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, jan./mar., 2007


Níveis de percepção de esforço e de dor em duas estratégias de organização do trabalho 55

redução do tempo do ciclo e qualidade total (6). De acordo com Hamel e Prahalad (6), uma empresa não
deve simplesmente diminuir o seu tamanho e aumentar sua eficiência e rapidez, por mais importante que
sejam estas tarefas. É preciso que, antes, a empresa passe por uma revigoração de suas estratégias e
reestruturação dos setores. Caso isso não seja realizado, os efeitos da intensificação do trabalho serão transferidos
diretamente para os trabalhadores remanescentes no processo, que serão sobrecarregados. Essa sobrecarga
pode ser avaliada pelo aumento dos níveis de esforço e dos níveis de dor e desconforto no trabalho.
Nos últimos anos, a avaliação de percepção de esforço ou de sintomas de fadiga durante
trabalho físico vem sendo utilizada por profissionais da área da saúde nos diversos setores de trabalho.
Para tanto, tem-se empregado, dentre outras, as técnicas de medição psicofísicas. Uma destas técnicas é a
Escala de Borg (RPE – Ratings of Perceived Exertion), que é interessante por possuir intervalos numéricos
e descritores verbais (7). Esta escala tem se mostrado válida em avaliações de intensidade do trabalho
imediato (8). Segundo, O’Sullivan (8), a escala teria como implicação prática o fato de auxiliar no ajuste da
intensidade do trabalho por meio da percepção dos níveis de esforços individuais aos quais o corpo está
sendo submetido.
Para estimar intensidades de dor e desconforto, outras escalas têm sido utilizadas, como é o
caso da Escala Visual Analógica (EVA). Esta escala psicofísica consiste de uma linha, geralmente, com 10
cm de comprimento, com descritores verbais em cada ponta. Estes descritores servem para avaliar os
extremos do atributo a ser analisado. O indivíduo marca um traço vertical sobre a linha em um ponto que
corresponda à intensidade da sua percepção do atributo definido pelos descritores (9). No caso de percepção
de dor e desconforto, em uma extremidade da linha, o descritor usualmente utilizado é “ausência de dor
ou desconforto” e, na outra extremidade, correspondendo ao valor máximo do atributo, será “dor ou
desconforto insuportável” (10). Este tipo de escala tem sido utilizado na medicina e é considerada válida e
confiável, para a avaliação da intensidade de dor (11).
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o impacto de duas estratégias de
organização do trabalho quanto aos níveis de percepção de esforço e dor relatados pelos funcionários de
um setor industrial submetido à reorganização.

MATERIAIS E MÉTODOS
Participantes

Fizeram parte deste estudo 25 trabalhadores do sexo feminino, com idades entre 25 e 52 anos,
que trabalhavam nas células de produção de uma empresa multinacional produtora de material escolar.
Dentre os 36 trabalhadores, 25 (69,4%) completaram os critérios de inclusão: eram funcionárias efetivas,
tinham mais de um ano de experiência no setor avaliado, aceitaram participar do estudo e, efetivamente,
fizeram parte de ambas as fases do estudo. As participantes representam 92,6% do total de trabalhadores
efetivos no setor. Do total de participantes, 14 funcionárias com idade média de 35,5 anos (±6,70) trabalhavam
em um dos turnos (das 7h00 às 16h00), enquanto as outras 11 com idade média de 37,5 anos (±4,91)
trabalhavam no outro turno (das 16h00 à 1h00). Todas foram informadas do objetivo geral do estudo e
assinaram o termo de concordância em participar dele. O estudo foi conduzido segundo as recomendações
éticas e foi aprovado pelo Comitê Local de Ética em Pesquisas e da Universidade Federal de São Carlos,
sob protocolo 032/03.

Procedimentos

Para a realização deste estudo, foi elaborado um questionário, no qual foram avaliados os
níveis de percepção de esforço por meio da Ratings of Perceived Exertion (RPE). Esta escala foi escolhida
por possuir descritores verbais que permitem determinar numericamente o nível de esforço, além de
permitir relacionar as alterações fisiológicas ao esforço com a intensidade da atividade (7). Para avaliar os
níveis de percepção de dor foi escolhida a Escala Visual Analógica de Dor (EVA). Esta escala foi escolhida

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, jan./mar., 2007


56 Fernanda Pereira dos Santos Silva et. al.

por ser de fácil administração, de fácil entendimento especialmente entre as participantes com a média de
idade supracitada e por ser de fácil pontuação (10).
O estudo transcorreu nas instalações da própria empresa. As participantes selecionadas de
nove células de produção existentes no setor receberam um questionário uma hora após o início dos
turnos. Cada funcionária permanecia em sua própria célula de trabalho para responder ao questionário,
sem que houvesse qualquer ônus para o seu salário.
Foram dadas instruções quanto ao sigilo de identidade, quanto ao preenchimento de apenas
uma alternativa para cada pergunta e quanto à individualidade com que as perguntas deveriam ser
respondidas, ou seja, a funcionária não poderia conversar com a colega de trabalho durante o preenchimento
do questionário. Uma hora antes do término dos turnos, um novo questionário – idêntico ao primeiro – foi
aplicado, seguindo os mesmos critérios de coleta dos dados.
Para o propósito do estudo, os procedimentos descritos acima foram aplicados em duas
estratégias de organização do trabalho. O trabalho em cada célula de produção consistia em: abastecimento
das máquinas com material e controle de qualidade do material produzido. Na Estratégia 1, este trabalho
era desenvolvido por apenas três trabalhadoras em cada célula. Na Estratégia 2, este mesmo trabalho era
realizado por quatro trabalhadoras.
O teste Qui-quadrado foi aplicado para avaliar os resultados da RPE entre duas estratégias de
organização (com 3 funcionárias e com 4 funcionárias por células de produção), assim como entre os dois
períodos (início e final dos turnos). Para a aplicação deste teste, dois grupos foram estabelecidos a partir
de um gráfico de dispersão dos resultados efetivamente obtidos, sendo um grupo apresentando valores
entre 9,0 – 14,5 e o outro com valores entre 14,6 – 20,0. Os resultados da EVA de dor também foram
analisados quanto às duas estratégias e aos dois períodos de trabalho. Novamente, dois grupos foram
estabelecidos, sendo um apresentando valores entre 0 – 5,0 e o outro com valores entre 5,1 – 10,0. A
correlação de Spearman foi utilizada para comparar os resultados entre as escalas.
Para todas as análises, foi empregado um nível de significância de 0,05.

RESULTADOS
De acordo com os resultados da Figura 1, verificou-se que o contingente de funcionárias
que assinalaram valores acima de 14,5 na primeira estratégia, no início dos turnos, foi superior ao contingente
verificado na segunda estratégia de organização do trabalho. Constatou-se uma diferença significativa
entre as estratégias no início dos turnos (c˝=15,70; p<0,001). Esta mesma observação pode ser feita para o
final dos turnos, sendo que a diferença também foi estatisticamente significativa (c˝= 12,00; p<0,007).
Entretanto, quando se observa a diferença entre o início e o final dos turnos na primeira estratégia, nota-
se que embora a média no final do turno tenha sido ligeiramente superior à verificada no início, o teste
Qui-quadrado não revelou diferença significativa entre os períodos na primeira estratégia (c˝= 0,50; p<0,918).
Na segunda estratégia de trabalho, esta pequena diferença não foi verificada e, sendo assim, também não
houve diferença significativa entre os períodos nesta estratégia de organização (c˝= 1,58; p<0,662).

FIGURA 1 - Média e desvio-padrão dos valores da


RPE para as duas estratégias de
organização do trabalho no início e
final dos turnos. * p<0,05

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, jan./mar., 2007


Níveis de percepção de esforço e de dor em duas estratégias de organização do trabalho 57

A Figura 2 mostra os resultados obtidos com a aplicação da Escala Visual Analógica de Dor.
De acordo com esses resultados, o contingente de funcionárias que assinalaram valores acima de 5,0 na
primeira estratégia, no início dos turnos, foi superior ao contingente verificado na segunda estratégia de
organização do trabalho. Essa diferença foi limítrofe, porém significativa (c˝= 7,71; p<0,052). No final dos
turnos, contudo, esta diferença não foi estatisticamente significativa (c˝= 5,35; p<0,147). É possível verificar
também que entre o início e o final dos turnos na primeira estratégia de trabalho houve uma pequena
diferença entre a dor percebida no início e no final dos turnos, sendo a final ligeiramente superior à do
início. Esta sutil diferença entre os períodos nesta primeira estratégia de trabalho não foi comprovada
estatisticamente (c˝=1,04; p<0,790). Na segunda estratégia de trabalho não houve diferença entre as médias
(c˝=2,12; p<0,547).

FIGURA 2 - Média e desvio-padrão dos valores de


EVA para as duas estratégias de
organização do trabalho no início e
final dos turnos. * p=0,05

Referente aos coeficientes de Correlação de Spearman, obteve-se um valor positivo (r=0,573;


p<0,001), indicando correlação moderada e significativa entre as escalas, RPE e EVA.

DISCUSSÃO
No presente estudo verificou-se que a estratégia de organização do trabalho influenciou a
percepção dos níveis de esforço e de dor, visto que o trabalho realizado por apenas 3 funcionárias
(Estratégia 1) gerou maior sobrecarga de trabalho quando comparado ao mesmo trabalho sendo realizado
por 4 funcionárias (Estratégia 2).
Gamberale (12) relatou que a aplicação de escalas psicofísicas no estudo de demanda do
trabalho físico pode fornecer um resultado útil da relação entre a percepção e o nível físico de esforço.
Segundo o autor, há forte evidência de que a percepção de esforço, sem considerar o tipo de trabalho ou
grupo muscular envolvido, é possivelmente acelerada em função do aumento da carga de trabalho (destinada
a um trabalhador).
Quanto às escalas psicofísicas utilizadas no presente estudo, a RPE é considerada por Gamberale
(12) um instrumento versátil, econômico e válido para a mensuração de percepção de esforço. Enquanto
que Björkstén et al. (13) consideram a EVA um instrumento confiável, simples, sensível, reprodutível e
universal na mensuração da percepção de dor.
Walsh (14) encontrou resultados consistentes com o uso da EVA e ressalta que o estado presente
do trabalhador pode ser avaliado não somente por exames clínicos objetivos, mas também por instrumentos
que levem em conta a percepção do trabalhador sobre seu estado.
Sato (15) relata que a RPE e a EVA apresentaram variações consistentes ao longo do dia, sendo
sensíveis para identificar alterações do esforço e desconforto, respectivamente. No presente estudo, este

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, jan./mar., 2007


58 Fernanda Pereira dos Santos Silva et. al.

resultado não foi comprovado estatisticamente, embora tenha sido observado em forma de tendências na
Estratégia 1 para RPE e para EVA ao longo do dia (início e final do turno). Acredita-se que esta diferença
pequena entre os momentos tenha sido observada porque os valores médios encontrados na Estratégia 2
já eram altos inicialmente. Presume-se que este fato se deva ao caráter crônico e multifatorial da situação,
ou seja, todos os funcionários que participaram do estudo eram efetivos na empresa e trabalhavam em
ambas as estratégias durante a fase de alta produção. Nessa fase, os trabalhadores apresentam sinais e
sintomas mais persistentes. Quanto a ser multifatorial, sugere-se que além da organização do trabalho, os
fatores biomecânicos, fisiológicos, psicológicos, hábitos e atividades da vida extratrabalho, condições
físicas e ambientais também podem influenciar na percepção de esforço e dor. Apesar de ser grande o
número de fatores atuando sobre o indivíduo em fases de maior intensificação do trabalho, a sobrecarga
mental e física pode potencializar o esforço (16) e os sintomas percebidos, principalmente a dor em várias
regiões do corpo (17).
Sato (15) relata que não existe na literatura um “padrão ouro” para medir a demanda física do
trabalho e que métodos subjetivos devem continuar a serem utilizados nos estudos, porém levando-se em
consideração a complexidade existente e a forte interação com os fatores psicossociais e organizacionais.
Vale ressaltar que embora alguns estudos tenham avaliado estratégias de organização do trabalho,
levando em consideração o fator idade (18), alavancas, ângulos e orientação do movimento (19), a localização
e freqüência de trabalho (20) e a associação entre downsizing, afastamentos e mortalidade em grupos de
trabalhadores efetivos e temporários (5), nenhum estudo foi identificado que tenha avaliado
comparativamente diferentes estratégias de organização do trabalho em relação aos níveis de percepção
de esforço e dor dos trabalhadores. Assim, o presente estudo apresenta resultados originais que alertam
sobre os riscos da intensificação da atividade sobre aspectos do bem-estar e saúde dos indivíduos. E isso
é importante, pois quando o trabalhador sente-se bem, é capaz de realizar o trabalho sem queixa de
cansaço excessivo ou sintomas de dor, fato fundamental para a saúde do trabalhador e para a empresa,
que evita afastamentos e propicia um clima social positivo (7).
Nas empresas que estão em fase de grande produção e em processo de modernização do
sistema produtivo, porém que não despendem a necessária atenção à saúde do trabalhador, observa-se
que o número de trabalhadores tem diminuído, mas o número de ocorrência de doenças relacionadas ao
trabalho tem aumentado. Gil Coury (21) afirma que a pressão imposta aos trabalhadores na produção
pode contribuir para o aumento do número de casos destas doenças. Vahtera et al. (22) encontraram
relação entre esta pressão sobre os trabalhadores e aumento do risco de lesões musculoesqueléticas e
acidentes de trabalho, devido à repetitividade e ao clima de insegurança presente no local de trabalho, o
que conseqüentemente favorece os afastamentos por motivos de saúde. Portanto, as mudanças nos processos
produtivos promovidas pelas empresas para se adequarem às exigências da economia globalizada, e cada
vez mais competitiva, podem trazer conseqüências sérias para a saúde do trabalhador. Dentre estas mudanças
estão aquelas geradas pela alteração na organização do trabalho e pela adoção de novas tecnologias
baseadas na informatização e automatização do sistema produtivo (15, 23).
Os resultados do presente estudo permitem constatar ainda que as escalas RPE e EVA
correlacionaram-se positivamente, o que implica dizer que estas escalas, simples e práticas de aplicar,
avaliaram de forma consistente os atributos de interesse e que são relevantes para a análise do efeito do
trabalho sobre o indivíduo, em contextos ocupacionais.
Por fim, o presente estudo permite ressaltar que, na economia globalizada, os processos de
downsizing e de reengenharia só deveriam ser aplicados quando medidas paralelas de ajustes ergonômicos
no processo produtivo possam também ser introduzidas, de forma a atenuar os efeitos nocivos da
intensificação do trabalho na saúde do trabalhador.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro recebido do CNPq (processo nº.550487/2002-6).

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Níveis de percepção de esforço e de dor em duas estratégias de organização do trabalho 59

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Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, jan./mar., 2007


60 Fernanda Pereira dos Santos Silva et. al.

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Recebido em: 10/12/2005


Received in: 12/10/2005

Aprovado em: 15/04/2006


Approved in:15/04/2006

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 53-60, jan./mar., 2007


61

ANÁLISE DA FUNCIONALIDADE E DA DOR DE INDIVÍDUOS


PORTADORES DE SÍNDROME DO IMPACTO, SUBMETIDOS
À INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
Patients Shoulder Function and Pain Analisys with
Subacromial Impingement Syndrome after Physical Therapy
Intervention

Lima, Geisa Clementino de Souza


Acadêmica do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP, Graduada em Educação Física -
UNISA. São Paulo-SP. e-mail: lima.geisa@gmail.com

Barboza, Elaine Monteiro


Acadêmica do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP, São Paulo - SP.
e-mail: barboza.elaine@gmail.com

Alfieri, Fábio Marcon


Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia, Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Adventista de São Paulo –
UNASP, São Paulo - SP. e-mail: fabiomarcon@bol.com.br

Resumo

A Síndrome do Impacto é uma das afecções ortopédicas mais freqüentes. Essa síndrome produz
dor e limitação funcional, especialmente na realização de atividades acima da cabeça. Os objetivos
deste trabalho foram analisar a funcionalidade e a intensidade da dor de indivíduos portadores desta
disfunção, submetidos a programa de intervenção fisioterapêutica. Participaram do estudo sete
voluntárias com idade média de 48,9 ± 18,1 anos. Os indivíduos foram submetidos a programa de
intervenção fisioterapêutica dividida em duas fases: a primeira fase foi composta por oito sessões
e teve como objetivo combater a inflamação, a dor, restaurar a amplitude de movimento e a força
muscular, e estimular o controle neuromotor; a segunda fase foi composta por oito sessões e teve
como objetivo promover o fortalecimento muscular. O escore de dor avaliado pela Escala Visual
Analógica foi reduzido em 27% ao final da primeira fase e em 47% ao final da segunda fase (p <
0,05). O escore final de intensidade da dor avaliado por meio dos critérios da UCLA diminuiu 163%.
Todos os escores avaliados por meio dos critérios da UCLA melhoraram significantemente, exceto
o de força muscular: função do ombro (50%), flexão anterior ativa (35%), força muscular (25%) e
satisfação (500%). Os resultados permitem concluir que a intervenção fisioterapêutica proposta
reduz a intensidade da dor e aumenta a funcionalidade do ombro de indivíduos portadores de
síndrome do impacto.

Palavras-chave: Síndrome do impacto (pinçamento); Ombro; Amplitude de movimento; Dor;


Fisioterapia.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


62 Lima, Geisa Clementino de Souza, Barboza, Elaine Monteiro, Alfieri, Fábio Marcon

Abstract

The Impingement Syndrome is one of the most common orthopedics diseases. This syndrome
produces pain and functional limitation, specially when the limb is positioned above the head. The
objectives of this study were to verify the functionality and the intensity of pain of patients with
this dysfunction , submitted into a program of physiotherapy intervention. Seven volunteers
participated in this study their average age was of 48, 9 ± 18, 1 years. The patients were submitted
to a program of physiotherapy which was divided in two phases: the first phase was composed
of eight sessions and the objective was to resolve the inflammation, pain, restore the range of
motion and muscles force, and stimulate the neuromotor control. The second phase was composed
of eight sessions and the objective was to promote the gain force of the muscles. The pain score
evaluated by the analogical visual scale was reduced in 27% at the end of the first phase and in
47% at the end of the second phase (p < 0,05). The intensity score of the pain evaluated by the
UCLA criteria decreased in 163%. All the scores evaluated by the UCLA criteria improved
significantly, except of the muscles force: function of the shoulder (50%), anterior active flexion
(35%), muscles force (25%) and satisfaction (500%).The results allow us to conclude that the
intervention of the physiotherapy reduces the intensity of pain and increases the functionality of
the shoulder of Impingement Syndrome patients.

Keywords: Impingement syndrome; Shoulder; Range of motion; Pain; Physiotherapy.

INTRODUÇÃO
A articulação do ombro é a que permite maior mobilidade e, por isso, apresenta certa instabilidade.
Na literatura especializada, é tratada como “o complexo articular do ombro”. Esse complexo é uma região
interessante devido à integração de várias articulações e à susceptibilidade a traumatismos (1, 2, 3).
Com relação às alterações musculoesqueléticas, a dor no ombro é muito comum, ficando atrás
apenas das dores na região cervical e na região lombar da coluna vertebral (4).
A síndrome do impacto é mais freqüente em indivíduos que praticam certas atividades
ocupacionais, envolvendo movimentos de lustrar, lixar e moer. Atividades recreativas e esportivas (5), tais
como natação, arremesso e tênis (6, 7, 8), estão entre as causas mais comuns de síndrome do impacto. A
faixa etária mais atingida por essa síndrome é a terceira idade – 34% da população acima de 65 anos
apresenta disfunção do ombro (5). Speed e Hazleman (9) relatam que a prevalência de dores e disfunções
no ombro varia entre 4 a 20% da população acima de 40 anos no Reino Unido e a incidência destas
disfunções aumenta 1% a cada ano. Na Holanda, estudos mostraram que a incidência de dores no ombro,
oriundas de todas as causas, foi de 11,2 por 1000 pessoas ao ano; a tendinite do manguito rotador teve
incidência ao redor de 3,2 a 4,2 por 1000 pessoas ao ano (10). Na Noruega, a incidência de dor nos ombros
foi de 70 a 260 por 1000 pessoas ao ano (11).
Uma das afecções mais comuns do ombro é a síndrome do impacto ou do pinçamento, termo
geral designativo de variadas alterações no ombro que se manifestam por dor e limitação funcional,
sobretudo, na realização de atividades acima da cabeça (10). Essa afecção possui como causa mais comum
a tendinite dos músculos do manguito rotador, bursite subacromial e tenossinovite, que, se não tratadas a
tempo, podem levar à alteração das estruturas envolvidas (1, 12). A etiologia da Síndrome do Impacto
pode ser decorrente de impacto primário, que é resultante da compressão mecânica do manguito rotador
sob a porção ântero-inferior do acrômio. O acrômio, por sua vez, pode ser essencialmente de três tipos:
reto, curvo ou ganchoso. Este último é o que propicia maior impacto entre as estruturas (1). Neer (13)
descreveu três estágios de impacto primário: estágio I: edema e hemorragia; estágio II: fibrose e tendinite;
estágio III: lesões do manguito rotador, ruptura do bíceps e alterações ósseas. Alterações como espessamento
do manguito rotador e da cabeça umeral, bem como alterações da cápsula articular também podem

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


Análise da funcionalidade e da dor de indivíduos portadores de Síndrome do Impacto,
submetidos à intervenção fisioterapêutica 63

favorecer o impacto primário. O impacto secundário, de acordo com Neer (13), acontece quando há
relativa redução do espaço subacromial, devido à instabilidade funcional glenoumeral ou escapulotorácica.
Visto ser essa síndrome muito freqüente na clínica médica e de fisioterapia, este estudo teve os
seguintes objetivos: analisar a funcionalidade e a intensidade da dor de indivíduos portadores desta disfunção,
submetidos a programa de intervenção fisioterapêutica.

MATERIAIS E MÉTODOS
Vinte e dois indivíduos com síndrome do impacto (estágio II), encaminhados pelos postos de
saúde da Região Sul, da cidade de São Paulo, foram contatados pela Policlínica do Centro Universitário
Adventista de São Paulo – UNASP, câmpus 1, no mês de março de 2005. Foram incluídos indivíduos que
apresentavam a afecção há pelo menos três meses, com diagnóstico clínico confirmado por avaliação
fisioterapêutica, realizada por meio da execução dos seguintes testes especiais para o complexo do ombro:
Neer, Jobe, Gerber, Hawkins/Kennedy, Sinal de Ludington, Sinal de Queda de Braço, Arco Doloroso 70° -
120° (1, 14, 15), devendo o indivíduo apresentar positividade em pelo menos dois dos sete testes aplicados.
Não foram incluídos no estudo os indivíduos que tivessem próteses, osteossíntese e/ou que estivessem
realizando tratamento concomitante.
Nove indivíduos preencheram os critérios de inclusão. Durante o estudo, dois indivíduos
foram descontinuados: um por ter mais de duas faltas às sessões de tratamento fisioterapêutico e o outro
por iniciar tratamento concomitante. Todos os indivíduos foram devidamente informados acerca dos
procedimentos e os que concordaram deram seu consentimento livre e esclarecido por escrito. O estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do UNASP, câmpus 1. A intervenção foi realizada no
período de abril a junho de 2005.
Os sete indivíduos eram do sexo feminino, com idades variando entre 25 e 77 anos. O lado
direito estava envolvido isoladamente em 43% dos indivíduos, o esquerdo em 14% dos indivíduos e 43%
apresentavam acometimento bilateral. O membro superior direito era o dominante em 5 indivíduos (71%)
e estava acometido em 86% dos casos, conforme é demonstrado na Tabela 1.

TABELA 1 - Anamnese e dados demográficos dos indivíduos com síndrome do impacto, incluídos no
programa de intervenção fisioterapêutica

Lado Lado
Pacientes Idade Sexo Ocupação
Acometido Dominante
A. L. S. 28 F Balconista D D
E. A. S. 50 F Do Lar D E
J. S. 77 F Do Lar Bilateral D
M. V.C. 58 F Do Lar Bilateral E
M. A. S. 46 F Do Lar Bilateral D
M. S. T. 58 F Do Lar D D
S. C. C. 25 F Do Lar E D

Os indivíduos foram examinados quanto à dor e à funcionalidade, utilizando-se, respectivamente,


a Escala Visual Analógica – EVA e a Escala Funcional da “University of California at Los Angeles” – UCLA.
A avaliação da dor (EVA) foi feita no início, durante e ao final da intervenção fisioterapêutica. A escala
funcional da UCLA foi aplicada no início e ao final da intervenção fisioterapêutica. O exame físico e os
testes foram realizados sempre pelo mesmo avaliador.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


64 Lima, Geisa Clementino de Souza, Barboza, Elaine Monteiro, Alfieri, Fábio Marcon

A partir das considerações feitas na literatura (1, 2, 16, 17), optou-se por dividir o programa de
intervenção fisioterapêutica em duas fases: a primeira fase teve como objetivos combater a inflamação, a
dor, restaurar a amplitude de movimento e a força muscular e estimular o controle neuromotor do ombro
afetado. Foram utilizadas oito sessões de tratamento, 60 minutos cada sessão, aproximadamente, com
freqüência semanal de duas vezes.
Nos primeiros quinze minutos da sessão, realizou-se crioterapia na região do ombro, utilizando-
se bolsa de gelo envolvida por pano fino para proteção da pele (18). Em seguida, foi realizada mobilização
passiva (adução, abdução, elevação, depressão) da cintura escapular para aumento da amplitude de
movimento. Nesse momento, os indivíduos foram mobilizados em decúbito lateral. A seguir, os indivíduos
realizaram mobilização ativa com dez repetições para os movimentos de flexão, extensão, adução e abdução
da articulação glenoumeral, na posição em pé. Na seqüência, os indivíduos realizaram exercícios pendulares
de Codman. Dando continuidade à sessão, os indivíduos realizaram, de forma ativa, alongamento muscular
dos flexores, extensores, abdutores, adutores, rotadores mediais e laterais do ombro, na posição em pé.
Nas primeiras quatro sessões, os indivíduos realizaram exercícios isométricos dos grupos
musculares supracitados para o fortalecimento muscular, pressionando-se pequena bola de borracha contra
a parede. Nas quatro últimas sessões da primeira fase, os indivíduos realizaram exercícios isotônicos, com
utilização de faixa elástica de média tensão (Ruber Band®) presa ao espaldar. O indivíduo permaneceu em
pé, com os cotovelos em 90° e executou uma série de dez repetições para os movimentos de rotação
interna e externa. A seguir, realizou os movimentos de flexão e extensão do ombro. Segundo Fleck e
Kraemer (19), o uso de uma série única de um exercício é eficaz para indivíduos destreinados ou iniciando
um programa de treinamento de força.
Ao final das sessões, os indivíduos realizaram exercícios proprioceptivos. Os benefícios dos
exercícios proprioceptivos são resumidos por Souza (1) da seguinte maneira: estimulam a percepção
relativa da posição e do movimento articular, restauram o mecanismo neuromuscular de estabilização
articular, proporcionam recuperação da dinâmica articular e redução da probabilidade de reincidência das
lesões. Estes exercícios foram realizados na posição em pé, com o membro afetado sobre bola suíça –
superfície instável (bola Bobath®) – sobre a qual o indivíduo deveria realizar deslocamentos látero-laterais,
mantendo a bola sob sua mão. Nesse momento, o terapeuta realizava movimentos de deslocamento da
bola para que o indivíduo promovesse estabilização rítmica da articulação, impedindo o deslocamento da
bola. Com os indivíduos ainda em pé, em flexão de 120° do ombro, a mão deveria estar apoiada sobre a
bola que, por sua vez, deveria estar apoiada à parede. Nessa condição, o terapeuta provocava desequilíbrios
látero-laterais do corpo do indivíduo, que deveriam ser resistidos apenas pelo contato da mão sobre a
bola. Em seguida, sentado sobre a bola Bobath, o indivíduo mantinha os membros superiores livres acima
da cabeça, elevava um dos membros inferiores tentando manter o equilíbrio corporal. Para incrementar
ainda mais o trabalho de controle neuromotor, o terapeuta jogava pequena bola de borracha em diferentes
direções na altura da cabeça. Após esses exercícios, os indivíduos realizavam impulsos pliométricos com
as mãos apoiadas sobre cama elástica.
A segunda fase do programa teve como objetivo promover fortalecimento muscular na busca
do equilíbrio dinâmico do complexo do ombro. Esta fase compreendeu oito sessões, de aproximadamente
uma hora cada, realizadas com uma freqüência semanal de três vezes, no CENAPE (Centro de Atividades
Físicas e Práticas Esportivas) – UNASP, câmpus 1. Para determinar a carga a ser utilizada por voluntário no
treino resistido, foi realizado o teste indireto (2 a 20 repetições) para a estimativa da força máxima (uma
repetição máxima ou 1RM); a seguir foi utilizada a equação: 1RM (kg) = carga ¸ {[100 - (rep2-20 x 2)] ¸
100}(20). Optou-se por esse protocolo em função de sua natureza submáxima, que proporciona menor
risco de lesões quando comparado ao teste direto de 1RM. Após as quatro primeiras sessões, foi executado
o teste direto de 1RM e a carga de treinamento foi ajustada (20).
No início de cada sessão, foi realizada mobilização passiva (adução, abdução, elevação,
depressão) da cintura escapular, para aumento da amplitude de movimento. Nesse momento, os indivíduos
foram mobilizados em decúbito lateral. Após a mobilização, os indivíduos realizaram exercícios pendulares
de Codman, segurando 1,0 kg. Em seguida, cada indivíduo, em pé, realizava, de forma ativa, alongamento
muscular dos flexores, extensores, abdutores, adutores, rotadores mediais e laterais do ombro bem como

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


Análise da funcionalidade e da dor de indivíduos portadores de Síndrome do Impacto,
submetidos à intervenção fisioterapêutica 65

flexores do cotovelo. Após o alongamento, os indivíduos realizaram exercícios de fortalecimento isotônico


para os músculos flexores e abdutores do ombro e flexores do cotovelo. Segundo Fleck e Kraemer (19),
quando um programa de série única é comparado com um programa periodizado de séries múltiplas,
resultados significantemente superiores são observados com esse último. Com o indivíduo deitado em
decúbito lateral e cotovelos junto ao corpo flexionados em 90°, foram feitos exercícios de fortalecimento
isotônico para rotadores internos e externos do ombro, utilizando-se halter, anilha e/ou tornozeleira como
carga. Os indivíduos executavam três séries de dez repetições, com 75% de 1RM (21). Ao término dos
exercícios resistidos, os indivíduos repetiram os alongamentos iniciais e receberam orientações para realizar
em casa crioterapia (três vezes ao dia, durante 20 minutos), exercícios pendulares de Codman e alongamentos
ativos (uma vez ao dia).

RESULTADOS

Análise estatística

Os dados da Escala Visual Analógica (EVA) foram analisados por meio de análise de variância
para medidas repetidas (One Way Repeated Measures Analysis of Variance), seguida pelo teste “post hoc”,
de Tukey. Os dados das variáveis relativas à dor, à função, à flexão ativa, à força de flexão anterior (força
manual), à satisfação e ao escore geral UCLA foram analisados por meio do teste de Wilcoxon. As diferenças
entre as médias foram consideradas estatisticamente significantes quando p < 0,05. Os valores são
apresentados como médias ± desvios-padrão.

Escala visual analógica

Na avaliação intermediária, após as oito primeiras sessões de intervenção fisioterapêutica


(crioterapia, mobilização, alongamento, fortalecimento e propriocepção), observou-se melhora
estatisticamente significante (p<0,05) de 27% no escore de dor. Na avaliação final, após a segunda fase de
intervenção (mobilização, alongamentos e fortalecimento) observou-se melhora de 47% (Gráfico 1).

GRÁFICO 1 - Valores médios (cm) da avaliação de dor, segundo


a Escala Visual Analógica (EVA), antes, durante e
após intervenção fisioterapêutica, em indivíduos
portadores de síndrome do impacto

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


66 Lima, Geisa Clementino de Souza, Barboza, Elaine Monteiro, Alfieri, Fábio Marcon

Escala de funcionalidade da UCLA

Analisando-se os componentes da UCLA, observou-se melhora estatisticamente significante de


162% no escore de dor, de 50% na função do ombro, de 35% na flexão anterior ativa, de 500% na
satisfação. A força muscular melhorou 12%, mas essa diferença não alcançou significância estatística,
conforme revela a Tabela 2.

TABELA 2 - Valores dos resultados por componente da UCLA antes e após intervenção fisioterapêutica

Avaliação Avaliação
UCLA p
inicial final
Dor 2,28 ± 1,70 6,00 ± 2,00 0,010
Função 5,14 ± 3,23 7,71 ± 1,38 0,049
Flexão ativa 3,71 ± 1,25 5,00 ± 0,00 0,035
Força de flexão anterior 3,42 ± 1,39 4,28 ± 0,48 0,111
Satisfação do paciente 0,00 ± 0,00 5,00 ± 0,00 0,001
Escore Total 14,57 ± 5,62 28,00 ± 1,29 0,001

Considerando que a UCLA avalia a funcionalidade do ombro e que isso é dado por um
somatório de questões, após a intervenção, houve melhora estatisticamente significante de 92% da
funcionalidade dos indivíduos, conforme demonstra o Gráfico 2.

GRÁFICO 2 - Demonstração do valores médios referentes à Escala de


Funcionalidade (UCLA), antes e após intervenção
fisioterapêutica

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


Análise da funcionalidade e da dor de indivíduos portadores de Síndrome do Impacto,
submetidos à intervenção fisioterapêutica 67

Analisando os dados individuais do escore máximo da escala de funcionalidade da UCLA,


verificou-se que, na avaliação inicial, seis indivíduos eram qualificados como “pobre” e apenas um tinha
qualificação “razoável”. Ao final do tratamento, cinco evoluíram para uma qualificação “bom” e dois para
“razoável” (Tabela 3).
TABELA 3 - Qualificação dos resultados da UCLA antes e após intervenção fisioterapêutica, em indivíduos
portadores de síndrome do impacto na fase crônica

Valor Valor
Pacientes Qualificação Qualificação
inicial final
A. L. S. 11 Pobre 28 Bom
E. A. S. 17 Pobre 27 Razoável
J. S. 12 Pobre 28 Bom
M. V.C. 14 Pobre 30 Bom
M. A. S. 13 Pobre 28 Bom
M. S. T. 9 Pobre 26 Razoável
S. C. C. 26 Razoável 29 Bom
00 - 20 = Pobre, 21 - 27 = Razoável, 28 - 33 = Bom, 34 - 35 = Excelente

DISCUSSÃO
A síndrome do impacto é muito comum em indivíduos adultos. É responsável por prejuízos
funcionais e socioeconômicos (22). A intervenção fisioterapêutica, nessa situação, é considerada a primeira
escolha de tratamento, por melhorar o equilíbrio muscular da região, aumentar a funcionalidade do membro
acometido e possibilitar retorno mais rápido às atividades de vida diária, com diminuição das dores. Além
disso, existem indicações seguras (10) de que o tratamento cirúrgico não difere significantemente da
intervenção fisioterapêutica quanto à melhora da funcionalidade e quanto à redução da dor. Essas informações
não encontram concordância generalizada. Segundo alguns autores, existem controvérsias quanto à
superioridade de um tratamento sobre o outro. Alguns sugerem que a conduta mais conservadora é
preferível ao tratamento cirúrgico, outros preferem adotar tratamento mais agressivo em função do fato de
a doença ser de evolução contínua (23). Admitindo-se a intervenção fisioterapêutica como tratamento mais
adequado, esta deveria incluir crioterapia, mobilização articular, reequilíbrio neuromuscular, exercícios de
fortalecimento, eletroterapia e decoaptação articular (17).
No presente estudo, a utilização de crioterapia objetivou reduzir a dor a fim de proporcionar
melhor mobilização passiva e ativa da articulação do ombro. Verificou-se diminuição significante do nível
da dor por meio da Escala Visual Analógica. Essa melhora foi observada já nas primeiras sessões. Associada
à crioterapia, a mobilização passiva e ativa das articulações que envolvem o complexo do ombro contribuiu
para a diminuição da dor e melhora da amplitude de movimento. Adicionalmente, a realização de exercícios
de fortalecimento muscular acentuou ainda mais a redução da dor. Çitaker et al. (24) compararam dois
grupos de portadores de síndrome do impacto: um tratado com mobilização e outro com facilitação
neuromuscular proprioceptiva. Após 20 sessões, verificaram que os dois tipos de intervenção apresentaram
resultados satisfatórios, porém o grupo que realizou exercícios de mobilização referiu acentuada diminuição
da dor em relação ao outro grupo. Walther et al. (22) compararam indivíduos que realizaram tratamento
fisioterapêutico convencional, exercícios de fortalecimento muscular, somente com instruções sobre
exercícios, e indivíduos que utilizaram brace funcional. Também verificaram que ambos exibiram diminuição
significante da dor quando avaliados pela Escala Visual Analógica.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


68 Lima, Geisa Clementino de Souza, Barboza, Elaine Monteiro, Alfieri, Fábio Marcon

Os dados do presente estudo indicaram que, após 16 sessões de tratamento, houve melhora da
dor e da funcionalidade, avaliados pela UCLA.
Esses resultados são ratificados pelos dados encontrados após a intervenção. O aumento da
funcionalidade e a diminuição da dor resultaram em significante aumento da satisfação referente à sua
condição anterior à intervenção fisioterapêutica. O protocolo desenvolvido demonstrou-se eficaz para esse
tipo de indivíduo. Esses achados confirmam que até mesmo indivíduos portadores de disfunções crônicas
(estágio II da síndrome do impacto) podem ser beneficiados com o tratamento fisioterapêutico. Çitaker et
al. (24) avaliaram a funcionalidade de indivíduos com síndrome do impacto, utilizando a UCLA, e encontraram
melhoras significantes após 20 sessões de intervenção. Essa melhora ocorreu somente nos indivíduos com
síndrome do impacto, com tendinite e fibrose (estágio II).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do presente estudo permitem concluir que indivíduos portadores de síndrome do


impacto, com dor e limitações funcionais, são beneficiados por meio do programa de intervenção fisioterapêutica
proposto. O programa utilizado demonstrou-se eficaz em diminuir a dor, resultado intensificado na fase de
fortalecimento, e aumentar a funcionalidade do membro afetado, em todos os indivíduos.

AGRADECIMENTO
Ao Professor Ms. Leslie Andrews Portes, pelo incentivo e esclarecimentos.

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Recebido em: 18/11/2005


Received in: 11/18/2005

Aprovado em: 17/03/2006


Approved in: 03/17/2006

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007


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71

IMPACTO DA VERTIGEM NA QUALIDADE DE VIDA EM


PACIENTES COM DISFUNÇÃO VESTIBULAR
Impact of the vertigo in the quality of life in patients with
vestibular dysfunction
Aretha Cintra Vaz
Graduanda em Fisioterapia UNIFRAN. e-mail: arethavaz@yahoo.com.br

Ana Paula Rocha de Oliveira


Mestre em Fisioterapia UNIFRAN/UNIARAXA. e-mail: anaproliveira@uai.com.br

Resumo

A vertigem é uma sensação ilusória de movimento da própria pessoa ou do ambiente que a cerca
e pode ser um componente da tontura. Dessa forma, pacientes com disfunção vestibular
apresentam uma diminuição nas atividades diárias devido a manifestações dos sintomas durante
essas atividades, resultando em uma diminuição na qualidade de vida (QV). O objetivo deste estudo
foi verificar o impacto da vertigem na QV desses indivíduos. Foram avaliados 60 pacientes, 28 do
sexo masculino e 32 do sexo feminino, com idade média de 50 ±47 anos. Foi aplicado, inicialmente,
o Inventário da Incapacidade decorrente da Tontura (IIDT), para avaliação de comprometimento
da disfunção vestibular. Foi aplicado, então, o questionário de QV SF-36. A aplicação inicial do IIDT
apontou 32 pacientes que possuíam disfunção vestibular, uma vez que todos estes apresentaram
escores muito elevados (42±25,3) e 28 pacientes sem disfunções vestibulares apresentaram um
escore de 0 (nenhuma incapacidade percebida). O SF-36 evidenciou uma diminuição em todos os
itens da avaliação. Esses dados demonstram o impacto negativo da vertigem na qualidade de vida.

Palavras-chave: Vertigem; Disfunção vestibular; Qualidade de vida.

Abstract
The vertigo is a illusory sensation of movement of the proper person or the environment who the fence,
and can be one component of giddiness. Of this form, patients with vestibular dysfunction tend to
present a reduction of the quality in the daily activities had the manifestations of the symptoms during
these activities, presenting, thus, one consequent reduction in the quality of life.The aim of this study
was to verify the impact of the vertigo in the quality of life of these individuals. 60 patients, 28 of
masculine sex and 32 of the feminine sex had been evaluated, with average age of 50 (±47). He was
applied, initially, the Inventory of the decurrent Incapacity of Tontura (IIDT), for evaluation of the
vestibular dysfunction. Soon after the questionnaire of quality of life Sf-36 was applied. The initial
application of the IIDT pointed the 32 patients who can vestibular dysfunction, a time that all these
had presented props up very high (42±25,3) and 28 patients without vestibular dysfunction had
presented one prop up of 0 (no perceived incapacity).The Sf-36 evidenced a reduction in all items
of the evaluation.These data demonstrate the impact of the vertigo in the ones in the quality of life.

Keywords: Vertigo; Vestibular dysfunction; Quality of life.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 71-76, jan./mar., 2007


72 Aretha Cintra Vaz, Ana Paula Rocha de Oliveira

INTRODUÇÃO

Lesões no sistema vestibular podem ser largamente categorizadas de acordo com a área da
disfunção: o órgão terminal, os terminais do nervo vestibular, as conexões do órgão terminal com o tronco
cerebral e os centros mais altos do cerebelo e cérebro. As causas das lesões são variadas e incluem
infecções, doenças vasculares, neoplasias, traumatismo cranioencefálico, desordens metabólicas, uso de
drogas tóxicas e doenças de causa desconhecida (1).
A tontura é a terceira queixa mais comum na clínica médica depois de dor torácica e fadiga (2).
Entre a população adulta, 42% relatam apresentar vertigem em algum momento. Estima-se que 76 milhões
de americanos sofrerão de algum tipo de distúrbio vestibular (3).
O sistema vestibular fornece informações sensoriais sobre os movimentos e as posições cefálicas
em referência à gravidade. As informações vestibulares aferentes são usadas para a estabilização do olhar,
a postura e o equilíbrio contribuem com a nossa sensação consciente de orientação no espaço (4). Além
disso, participa dos controles de ajustes posturais e antecipa e exerce influência sobre informações
autonômicas e na consciência (5, 6, 7, 8). Dessa forma, a patologia do sistema vestibular pode produzir
problemas associados: a) estabilização do olhar, incluindo visão embaraçada ou oscilopsia (visão oscilante)
durante a interrupção do reflexo vestíbulo-ocular; b) postura e equilíbrio e c) vertigem ou tontura (9).
A vertigem é uma sensação ilusória de movimento da própria pessoa ou do ambiente que a
cerca, e pode ser um componente da tontura (10, 11). Esses pacientes apresentam, geralmente, limitações
cinético-funcionais como instabilidade postural, associadas a manifestações neurovegetativas (12), alterações
da marcha (13), fatigabilidade (7) e indisposição (14), resultando em dificuldades para as atividades de
vida diária (AVDs).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, saúde é definida como “estado de completo bem-
estar físico, mental e social e não somente pela ausência de doença ou enfermidade”. Já a qualidade de
vida (QV) pode ser definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da
cultura e do sistema de valores em que ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações. Nessa definição, fica implícito que o conceito de QV é subjetivo, multidimensional e inclui
elementos de avaliação tanto positivos quanto negativos (15).
Várias evidências científicas mostram que a QV afeta a saúde; esta, por sua vez, influencia na
vida do ser humano (16). Neste campo, Ortiz e Puerredón (17) destacam que a QV relacionada com a
saúde está sendo cada vez utilizada como indicador de resultado da ação das intervenções terapêuticas
(18, 19, 20).
Assim, pacientes com disfunção vestibular tendem a apresentar uma diminuição da qualidade
nas atividades diárias devido a manifestações dos sintomas durante essas atividades, apresentando, assim,
uma conseqüente diminuição na QV. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi verificar o impacto das
alterações vestibulares na QV de indivíduos que apresentavam vertigem secundária.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e os pacientes
foram informados sobre os procedimentos e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Foram avaliados 60 pacientes, 28 do sexo masculino e 32 do sexo feminino, com idade média de 50 ±47
anos. Foi aplicado, inicialmente, o Inventário da Incapacidade decorrente da Tontura (IIDT), para avaliação
de comprometimento da disfunção vestibular (21). Essa escala foi aplicada a fim de identificar, primariamente,
os pacientes que realmente apresentavam disfunção vestibular. Essa avaliação é uma escala de incapacidade
autopercebida, atribuída à doença vestibular. São fornecidas 25 questões, classificadas dentro dos domínios
físico, funcional e emocional. A resposta “sim” vale 4 pontos, “às vezes” vale 2 e “não” vale 0. Portanto, a
pontuação total varia entre 0 (nenhuma incapacidade percebida) e 100 ( incapacidade máxima percebida).
Foi aplicado, então, o questionário SF-36 (22). O questionário SF-36 foi aplicado individualmente,
sendo o paciente auxiliado quando solicitado, mas sem ter interferência nas suas respostas. O SF-36

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 71-76, jan./mar., 2007


Impacto da vertigem na qualidade de vida em pacientes com disfunção vestibular 73

engloba oito componentes: (1) capacidade funcional, (2) aspectos físicos, (3) dor, (4) estado geral de
saúde, (5) vitalidade, (6) aspectos sociais, (7) aspectos emocionais e (8) saúde mental (23).
As pontuações de cada componente do SF-36 são calculadas pelo somatório dos itens de cada
questão e transformadas em uma escala de 0 a 100 pelo cálculo de Raw Scale. Nesse escore, o zero
corresponde ao pior estado geral de saúde, e o valor 100, ao melhor estado de saúde. Assim, para cada
componente sendo avaliado em separado, não existe um único valor que resuma toda a avaliação, traduzindo-
se num estado geral de saúde que seja melhor ou pior. Isso evita o erro de não identificar ou subestimar os
reais problemas relacionados à condição do paciente.

RESULTADOS
A aplicação inicial do IIDT apontou os pacientes que possuíam disfunção vestibular. Dos 60
indivíduos avaliados, 32 apresentavam vertigem secundária, uma vez que todos estes apresentaram escores
muito elevados (42±25,3) e 28 não apresentam esse comprometimento, uma vez que apresentaram um
escore de 0.
No SF-36 foram observadas diminuições nas porcentagens totais dos pacientes com vertigem
quando comparadas ao outro grupo. Os resultados obtidos nos dois grupos são mostrados na Figura 1.

com disfunção vestibular


sem disfunção vestibular
100

80

60

40

20

0
capacidade aspectos dor estado geral vitalidade aspectos aspectos saúde mental
funcional físicos de saúde sociais emocionais

FIGURA 1 - Representação gráfica das médias dos resultados da avaliação da


qualidade de vida dos pacientes que não apresentavam vertigem
secundária e os que apresentam vertigem secundária (cálculo do Raw
Scale).

DISCUSSÃO

Existe uma alta prevalência de problemas psicológicos e comportamentais não reconhecidos


nos pacientes com tontura, especialmente as disfunções de ansiedade (24, 25). Em muitos pacientes, os
sintomas de vertigem provocada por movimento cefálico, sensação de flutuação, instabilidade ou
combinações entre estes são a manifestação de ansiedade e distúrbio de pânico primários (25, 26). Estes
pacientes se classificam como sendo muito mais incapacitados por causa da vertigem do que aqueles que
não apresentam nenhuma disfunção psiquiátrica (27, 28, 29).
As fraturas traumáticas do osso temporal podem produzir hipofunção vestibular unilateral ou
bilateral. As fraturas transversais são responsáveis por quase 20% de todas as fraturas do osso temporal e
foi relatado que elas resultam mais habitualmente dos golpes no occipício (30, 31).
As deficiências de equilíbrio afetam negativamente a função motora, levando à incapacidade
(32). Essas deficiências freqüentemente restringem os níveis de atividade, produzindo comportamentos

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 71-76, jan./mar., 2007


74 Aretha Cintra Vaz, Ana Paula Rocha de Oliveira

motores compensatórios anormais e podem exigir o auxílio de dispositivos ou outros tipos de assistência.
Quando o desequilíbrio é grave, pode haver quedas, levando a lesões secundárias.
As repercussões psicossociais atingem não somente o paciente com disfunção vestibular, mas
todo o universo familiar, podendo trazer problemas complexos que irão traduzir em prejuízo na QV de
todo o grupo. Portanto, é importante o processo de adaptação da família a esse indivíduo e a nova
situação. São consideradas como implicações desse processo os custos financeiros, o desgaste físico, o
estresse emocional, a atividade produtiva e a vida social (33).
Conforme Buss (16), uma nova concepção identifica a saúde com bem-estar e QV, e não
simplesmente com ausência de doença. Os procedimentos de tratamento visam não apenas a diminuir o
risco de doenças, mas aumentar as chances de saúde e de vida.
No presente estudo, inicialmente, foi necessário averiguar os pacientes que apresentaram
disfunção vestibular para que pudessem ser posteriormente avaliados. Para esse fim, aplicou-se o IIDT. O
IIDT tem uma alta consistência interna e pode ser usado para identificar problemas funcionais, emocionais
ou físicos específicos e associados à tontura. Esse teste é confiável, exige pouco tempo para ser administrado
e pode ser proveitoso para analisar a instalação da disfunção e a eficácia do tratamento. Após a aplicação
da escala IIDT foi, então, aplicada a escala SF-36 para averiguação da qualidade de vida nestes indivíduos.
A aplicação do SF-36 foi um importante meio do reconhecimento do perfil dos pacientes com
vertigem (34). Esses valores mostraram a interferência da disfunção na QV desses indivíduos e as limitações
apresentadas nas atividades de vida diária. Esses indivíduos apresentaram valores que chamaram a atenção
como diminuição na capacidade funcional, vitalidade, aspectos sociais e emocionais. Esses aspectos geram
um grande impacto na saúde mental e estado geral de saúde nesses indivíduos (34, 35).

CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou o impacto da vertigem secundária na QV dos indivíduos avaliados
e atenta para estratégias de tratamento que venham a contribuir com a melhora das habilidades funcionais
que repercutam na QV dos pacientes com vertigem.

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Recebido em: 29/11/2005


Received in: 11/29/2005

Aprovado em: 02/03/2006


Approved in: 03/02/2006

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 71-76, jan./mar., 2007


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CARACTERIZAÇÃO POSTURAL DA COLUNA DE CRIANÇAS


OBESAS DE 7 A 10 ANOS

Postural characterization of obese children spine between


7 and 10 years old

Mari Oliveira Mota Kussuki


Aluna de Fisioterapia, bolsista de iniciação científica da FAPESP – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP), São Paulo - SP. e-mail: mari_kussuki@hotmail.com

Silvia Maria Amado João


Fisioterapeuta, Mestre em Ciências pelo ICB – USP, Doutora em Ciências pelo ICB – USP e Docente do Curso de Graduação em
Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo - SP. e-mail: smaj@usp.br

Ana Claudia Pereira da Cunha


Pediatra do ambulatório de pediatria do Hospital Universitário da USP, São Paulo - SP.
e-mail: anaclaudiacunha@hotmail.com

Resumo

A obesidade é um problema de saúde pública, pois vem crescendo em índices alarmantes. O


aumento do tecido adiposo é fator predisponente para diversas doenças, como a hipertensão,
doenças cardiovasculares, desordens respiratórias e distúrbios osteoarticulares, entre outros.
Estudos indicam que a obesidade gera uma sobrecarga assimétrica sobre a coluna, gerando
alterações nas suas curvaturas normais, sendo que na maioria dos casos elas se apresentam mais
acentuadas. O objetivo desse trabalho foi analisar a influência do excesso de peso sobre a coluna
da criança obesa ou com sobrepeso, comparando-as com a coluna de crianças eutróficas. Foram
utilizados métodos quantitativos de análise postural, por meio de fotos digitais, programa Corel
Draw v. 10.0 e régua flexível. Foi realizada uma avaliação postural em 24 crianças obesas, 13 com
sobrepeso e 40 eutróficas, com idade entre 7 e 10 anos, no Hospital Universitário da USP e na escola
pública João Crispiniano Soares. Observou-se maior incidência de hiperlordose lombar (62%) e
protração da cabeça (51%) no GO (Grupo Obeso), sendo 53,85% e 41,67% no GS (Grupo
Sobrepeso) e 35% e 12% no grupo eutrófico, respectivamente. Observou-se maior tendência no GO
de apresentar aumento nas curvaturas sagitais da coluna, principalmente na lordose e na cervical.
Já o GS obteve tendência ao aumento apenas da curvatura cervical

Palavras-chave: Avaliação; Postura; Fisioterapia; Crianças; Obesidade.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007


78 Mari Oliveira Mota Kussuki, Silvia Maria Amado João, Ana Claudia Pereira da Cunha

Abstract

Obesity is a problem of public health because it has been increased in an alarmists proportion.
Obesity and overweight increase substantially the risk of morbidity, because they can cause
hypertension, stroke, diabetes, breathing disturbs, orthopedic problems and others diseases.
Researches shows that the obesity can cause an asymmetric overweight at the spine, causing
disturbs at the normal curvature, often resulting on a more accentuated curvature. The purpose of
this study was to know how obesity has influenced the posture, comparing normal-weight, over-
weight and obese children from 7 to 10 years old. This project assessed 24 obese, 13 over-weight and
40 normal-weight children through four photographs (front, back, side and oblique views) analyzed
at Corel Draw v. 10.0, and by a flexible rule, molded in the spine processes. It was observed, a
significant difference between the obese group (OG), over-weight group (OWG) and the normal-
weight group (NWG) about the lumbar hyperlordosis (66,67% of OG, 53,85% of OWG and 35%
of NWG) and head protraction (54,17% of OG, 41,67% of OWG and 12,5% of NWG), but the
difference of the thoracic hyperkyphosis (54,17% of OG, 41,67% of OWG and 32,5% of NWG) and
scoliosis (33,33% of OG, 31,81% of OWG and 34,28% of NWG) was not so significant. It was
observed a difference in the angle of inclination of the lumbar (hiperlordose lumbar) and the head
protraction of OG. It suggests that the excess of corporal mass is a significant factor for the risk of
postural alterations and associates pathologies in the analyzed age band.

Keywords: Assessment; Posture; Physical therapy; Children; Obesity.

INTRODUÇÃO
A obesidade tem aumentado em proporção epidêmica, o excesso de peso na população
brasileira já é um problema de maior magnitude do que a desnutrição, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (1). Cerca de 35% da população infantil do mundo tem o problema da
obesidade. No Brasil, 15% das crianças são obesas (2).
No adulto, o excesso de gordura corporal aumenta o risco de doenças metabólicas, cardiovasculares,
distúrbios respiratórios, osteoarticulares, entre outros (3). Na infância, os principais riscos são as alterações
respiratórias, a elevação do triglicérides e do colesterol, além de distúrbios ortopédicos (4).
Dentre os distúrbios ortopédicos, as alterações posturais da coluna e dos membros inferiores
são os mais incidentes. Este fato é preocupante, pois na infância e na adolescência o sistema
musculoesquelético ainda está se desenvolvendo, o que torna o corpo mais susceptível a deformações.
Sacco et al. (5) observaram a associação da obesidade com alterações posturais pelo excesso de massa
corporal, diminuição da estabilidade e aumento das necessidades mecânicas para adaptação corporal.
A boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de
suporte do corpo contra lesão ou deformidade progressiva independente da atitude (ereta, deitada, agachada,
encurvada) nas quais essas estruturas estão trabalhando ou repousando. Sob tais condições, os músculos
funcionam mais eficientemente e posições ideais são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais.
A má postura é uma relação defeituosa entre várias partes do corpo, que produz uma maior tensão sobre as
estruturas de suporte e onde ocorre um equilíbrio menos eficiente do corpo sobre sua base de suporte (6).
Existem basicamente duas formas principais de avaliação postural, sendo a forma qualitativa a
mais tradicional e barata, estando baseada na prática e olho crítico do terapeuta. E a forma quantitativa,
que tem como recurso a fotogrametria, permite que a foto seja analisada por programas de computador e
as alterações quantificadas, permitindo melhor comparação entre pacientes e até entre os estágios de
evolução de um mesmo paciente (7, 8).
São inúmeras as causas de alterações posturais e quase sempre atuam conjuntamente. Dentre
essas causas, o excesso de peso corporal deve ser especialmente abordado devido às suas diversas

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007


Caracterização postural da coluna de crianças obesas de 7 a 10 anos 79

conseqüências, como a diminuição da estabilidade e aumento da solicitação mecânica. Muitos estudos


clínicos sobre a obesidade e suas conseqüências são feitos, mas do ponto de vista da biomecânica esses
estudos ainda são muito escassos (9).
Fisberg (4) avaliou 46 crianças e adolescentes obesos, encontrando um elevado número de
alterações posturais, como a hiperlordose lombar, a protração da cabeça, a anteversão pélvica, rotação
medial do quadril, joelhos valgos e pés planos, ocasionados pela exagerada massa corporal, sobrecarregando
o sistema musculoesquelético. No trabalho de Souza e Sacco (10), foi demonstrado que o arco longitudinal
medial dos pés se forma mais tardiamente em crianças obesas.
Deste modo, a obesidade traz alterações posturais e a identificação dos padrões dessas alterações
é de extrema importância para uma intervenção precoce e para o tratamento dessas, prevenindo alterações
musculoesqueléticas mais significativas que a obesidade venha gerar ou agravar no decorrer da vida
adulta.
O objetivo principal do trabalho foi caracterizar e quantificar as alterações posturais em crianças
obesas e com sobrepeso, identificando os padrões típicos destas crianças. O objetivo secundário foi comparar
o padrão postural das crianças obesas e com sobrepeso com o padrão postural de crianças com IMC
dentro do padrão de normalidade (crianças eutróficas).

MATERIAIS E MÉTODOS

Os sujeitos foram divididos em três grupos, sendo o Grupo Obeso (GO) formado por 24
crianças com idade entre 7 e 10 anos, tendo como ponto de corte para excesso de peso o percentil 95 da
curva estatística do NCHS (Centro Nacional de Estatísticas em Saúde) de IMC (Índice de Massa Corpórea),
o Grupo Sobrepeso (GS) por 13 crianças com IMC entre o percentil 95 e o percetil 85, e o Grupo Eutrófico
(GE) por 40 crianças com IMC inferior ao percentil 85 e da mesma faixa etária (11). Foram excluídas
crianças com patologias neuromusculares, traumáticas, reumáticas, respiratórias e/ou que praticam atividade
física mais que duas vezes na semana além daquela proposta pela escola.
Os responsáveis das crianças foram esclarecidos sobre a relevância do trabalho, dos
procedimentos experimentais e assinaram um termo de consentimento. A pesquisa foi aprovada pela
Comissão de Ética do Hospital Universitário (HU) da USP, tendo sido realizada no ambulatório de pediatria
do HU e na Escola Estadual João Crispiniano Soares.
O método de avaliação escolhido foi a fotogrametria realizada por meio de quatro fotos digitais
(nas vistas anterior, lateral esquerda, posterior e oblíqua) com o indivíduo em pé, estático, cotovelos e
joelhos relaxados (12). A criança se encontrava em trajes de banho e com adesivos esféricos marcando as
espinhas ilíacas póstero-superiores e espinhas ilíacas ântero-superiores, vértebras cervicais (C5, C7), vértebras
torácicas (T2, T3, T5, T7, T9, T11, T12), vértebras lombares (L3, L5) e sacral (S2).
O ângulo de inclinação da coluna cervical foi estimado pelo traçado de uma linha-guia, ligando
a vértebra cervical C7 ao meato acústico e outra horizontal passando por C7 (figura 1), no programa Corel
Draw 10.0. A escoliose foi avaliada pelo método descrito por Watson e Mac Donncha (12). As inclinações
da coluna torácica e lombar foram calculadas por meio da régua flexível Trident, moldada acima dos
processos espinhosos, segundo Leroux (13) e Chernukha (14), respectivamente.
Na análise estatística, foi utilizado o programa estatístico SPSS 13.0, aplicando-se o teste GLM
(General Linear Model), utilizando Post-Hoc de Tukey para amostras independentes, com o nível de
significância a 5% e para diferenças marginalmente significantes entre 0,05 < a <0,100.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007


80 Mari Oliveira Mota Kussuki, Silvia Maria Amado João, Ana Claudia Pereira da Cunha

FIGURA 1 - Cálculo do ângulo de protração


de cabeça pela vista lateral. As
setas indicam as projeções
feitas no programa Corel Draw
para medir o ângulo de
protração da cabeça

RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta a caracterização dos grupos com relação à idade, altura, peso e IMC. Os
valores de IMC apresentam-se nos limites de valores predeterminados anteriormente para divisão dos
grupos.
Pela Tabela 2, observou-se uma diminuição na média do ângulo de protração da cabeça em
GS (52,5+7,06)º e uma diminuição maior ainda no GO (47,3+7,26)º em relação ao GE (57,6+7,33)º, sendo
a primeira comparação marginalmente significante e a segunda significante. A média da lordose lombar do
GO (23,3+ 6,7)º aproxima-se da média encontrada no GS (22,5+6,8)º, porém a média do GO diverge do
valor de GE (19,7+6,2)º, mostrando uma diferença marginalmente significante no ângulo de inclinação da
lombar entre as crianças obesas e as eutróficas.
A Tabela 3 mostra alta incidência de hiperlordose lombar, hipercifose torácica, protração de
cabeça e escoliose nos três grupos.
TABELA 1 - Caracterização antropométrica da amostra de crianças estudadas

GO GS GE
M édia e faixa Média e faixa Média e faixa
Idade (anos) 8,9 (7 e 10) 8,9 (7 e 10) 8,5 (7 e 10)
Peso (kg) 49,3 (32 e 70,7) 42,1 (28 e 59,4) 28,2 (18 e 35)
Altura (m) 1,4 (1,255 e 1,6) 1,4 (1,23 e 1,61) 1,3 (1,15 e 1,48)
2
IMC (kg/m ) 24,9 (19,5 e 29,62) 20,3 (17,92 e 22,91) 16,1 (11,34 e 19,2)

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007


Caracterização postural da coluna de crianças obesas de 7 a 10 anos 81

TABELA 2 - Valores das análises dos ângulos de inclinação da coluna e distância do terceiro dedo ao chão. Os
números com asterisco indicam valores estatisticamente significantes ou marginalmente significantes

GO GS GE GO x GS GO x GE GS x GE
(média + SD) (média + SD) (média + SD) p p p
protração da 47.3+7.26 52,5+7,06 57,6+7,33 0,100* 0,000* 0,075*
cabeça (o )
cifose torácica (o) 39.1+ 8.74 38,9+6,30 37,0+7,10 0,999 0,543 0,697
lordose lombar (o) 23.3+ 6.73 22,5+6,79 19,7+6,21 0,919 0,082* 0,379
escoliose (o ) 1.49+1.083 1,11+ 0,621 1,22+0,698 0,752 0,422 0,247

TABELA 3 - Freqüência das alterações posturais da coluna

GO (%) GS (%) GE (%)

Hiperlordose lombar 66,67 53,85 35


Lombar retificada 4,17 7,69 22,5
Hipercifose torácica 54,17 41,67 32,5
Torácica retificada 16,67 7,69 22,5
Cervical retificada 0 25 12,5
Protração cabeça 54,17 41,67 12,5
Escoliose 33,33 31,81 34,28

DISCUSSÃO
A interpretação dos resultados desse trabalho permitiu verificar que das manifestações posturais
analisadas, a hiperlordose lombar, a hipercifose torácica e a protração da cabeça foram as que mais
incidiram nas crianças avaliadas de todos os grupos (GO, GS e GE).
A grande incidência de desvios posturais da coluna pode ter sido conseqüência de alterações
fisiológicas naturais do crescimento e desenvolvimento. Segundo Widhe (15), a curvatura lordótica e cifótica
da coluna tende a diminuir até a adolescência, assim como a sua flexibilidade. No entanto, alguns desvios
posturais podem ser provocados por formas inadequadas de carregar mochilas (geralmente com peso excessivo),
passar muito tempo sentado em posições incorretas, ou o uso de sapatos e mobiliários inadequados (16).
A hiperlordose lombar esteve presente em 66,67% do GO, 53,85% do GS e 32,5% do GE, sendo
que o grupo GO tendeu a apresentar uma curvatura lombar mais acentuada em relação ao GE, reforçando
a relação entre a obesidade e a hiperlordose lombar. No estudo de Campos et al. (17), 72% das crianças
obesas, com idade de 9 a 18 anos, apresentaram hiperlordose lombar e, no estudo de Pinho e Duarte (18),
50% das crianças eutróficas apresentaram esse desvio.
Outro desvio postural encontrado nos dois grupos foi a hipercifose torácica, estando presente
em 54,17% GO, 41,67% do GS e 32,5% do GE. Houve maior incidência no GO, mas a diferença entre os
grupos não foi significativa. Bruschini e Néri (19) relacionam a obesidade com o aumento da cifose
torácica, lordose lombar, inclinação anterior da pelve e o deslocamento anterior da cabeça, porém, no
presente estudo, a relação da hipercifose torácica e a obesidade não foi encontrada. Pinho e Duarte (18)

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007


82 Mari Oliveira Mota Kussuki, Silvia Maria Amado João, Ana Claudia Pereira da Cunha

encontraram incidência de hipercifose de 21% nas crianças eutróficas. Penha et al. (20) verificaram freqüência
de 45% de hipercifose em 133 meninas eutróficas de 7 a 10 anos.
A grande incidência de hiperlordose lombar e de hipercifose torácica nos três grupos pode ser
explicada pelo fato de as crianças nessa faixa etária possuírem fraqueza na musculatura abdominal,
evidenciada por meio do abdome protuso, que ocasiona aumento na curva lombar e compensação na
coluna torácica (6).
Sibella et al. (9) sugerem que o abdome protuso da pessoa obesa desloca o centro de gravidade
corporal, aumentando a lordose lombar e a cifose torácica. Este trabalho sugere que a nova estratégia
postural adotada também provoca um aumento na lordose cervical para um reposicionamento da cabeça
e recuperação do equilíbrio corporal. No presente estudo, a protração de cabeça foi encontrada em 54,17%
do GO, 41,67% do GS e em apenas 12,5% do GE, sendo que o GO apresentou uma diferença significante
em relação ao GE nesta característica e nas comparações entre o GO e GS e entre o GS e GE foi marginalmente
significante. No estudo feito por Campos et al. (17), 85% das crianças obesas apresentaram protração de
cabeça, sugerindo que o fator peso possa exercer grande influência nessa característica. As alterações
posturais encontradas podem surgir com maior freqüência nos obesos em virtude da ação mecânica
desempenhada pelo excesso de peso corporal e o aumento das necessidades mecânicas regionais.
A incidência de escoliose no GO foi 33,33%, no GS foi de 31,81% e no GE foi de 34,28%. No
estudo de Pinho e Duarte (18), 30% das crianças eutróficas nessa faixa etária apresentaram escoliose.
Enquanto que Bertoldi et al. (21) verificaram freqüência de 23,8% de escoliose em crianças eutróficas de 7
a 12 anos. As incidências encontradas no GO e no GS se aproximam dos valores encontrado no GE,
sugerindo que essa característica não seja influenciada pela obesidade.
Há um número insuficiente de trabalhos publicados na área e os poucos trabalhos publicados
apresentaram diferenças nas análises metodológicas e na faixa etária das crianças, o que compromete a
comparação entre estes estudos, apesar dos dados desses trabalhos terem sido citados.
As alterações posturais encontradas nas crianças podem ser geradas pela utilização inadequada
dos mobiliários e mochilas, e formas inadequadas de se movimentar. Convém ressaltar a importância de
um programa de avaliação da postura nas escolas e palestras informativas para as crianças e seus responsáveis,
a fim de evitar maiores problemas futuros. Contudo, deve-se levar em consideração que a postura é um
equilíbrio neuromotor, resultante de reflexos sensitivos, integrados ao sistema nervoso, sendo influenciada
pela cultura, pela hereditariedade, pela personalidade, pelos sentimentos e emoções (22).
Vale ressaltar que a depressão é uma doença comum entre as crianças obesas, sendo estas
muito mais introvertidas que as eutróficas (23). As pessoas introvertidas tendem a adotar uma postura
particular, tendo uma maior protração da cabeça e ombro (22), sugerindo que as diferenças posturais
encontradas entre os dois grupos podem não ser apenas o resultado do aumento do peso, mas da diferença
no tratamento cultural dos dois grupos, seus hábitos (como o sedentarismo) e sua personalidade introvertida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se maior tendência no GO de apresentar aumento nas curvaturas sagitais da coluna,
principalmente na lordose e na cervical. Já o GS obteve tendência ao aumento apenas da curvatura
cervical. O que sugere que o excesso de massa corpórea seja um fator significativo para o risco de
alterações posturais da coluna na faixa etária analisada.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio financeiro da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo), a colaboração da Diretora do colégio E. E. P. G. João Crispiniano Soares, Prof. Andrea B.
Santana, a Luciana O. Cicca, aluna de fisioterapia da FMUSP, na coleta dos dados e de Guilherme G. Artioli,
aluno de mestrado da EEFE, na análise estatística.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007


Caracterização postural da coluna de crianças obesas de 7 a 10 anos 83

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Recebido em: 12/06/2006


Received in: 06/12/2006

Aprovado em: 01/02/2007


Approved in: 02/01/2007

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007


85

DESEMPENHO DE IDOSOS EM TESTES FUNCIONAIS


E O USO DE MEDICAMENTOS

Aged people’s perfomance in functional tests


and the use of drugs

Flávia Pereira Martins


Fisioterapeuta com Pós-Graduação Lato Sensu em Fisioterapia – Área de ênfase: Geriatria e Gerontologia. Departamento de
Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte - MG.
e-mail: flaviapmartins@hotmail.com

Helena Uemoto Maia


Fisioterapeuta com Pós-Graduação Lato Sensu em Fisioterapia – Área de ênfase: Geriatria e Gerontologia. Departamento de
Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte - MG.
e-mail: helenauemoto@yahoo.com.br

Leani Souza Máximo Pereira


Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação/EEFFTO da
Universidade Federal de Minas Gerais, Doutora em Ciências Biológicas/ICB/ UFMG, Especialista em Gerontologia pela SBGG.
Belo Horizonte - MG. e-mail: leanismp.bh@terra.com.br

Resumo

O processo do envelhecimento vem acompanhado de uma série de alterações fisiológicas no


organismo, que pode afetar sensivelmente tanto a farmacocinética como a farmacodinâmica das drogas
existentes. A maioria dos idosos consome, pelo menos, um medicamento e cerca de um terço consome
cinco ou mais simultaneamente. A utilização de múltiplas drogas, a prescrição de medicamentos contra-
indicados para os idosos e o manejo inadequado desses componentes pela equipe de saúde podem
desencadear efeitos adversos no desempenho motor, gerando instabilidades, quedas e suas comorbidades.
O objetivo desse estudo foi avaliar o desempenho de idosos da comunidade em testes de mobilidade
e de equilíbrio e correlacioná-los com os medicamentos usados. Trata-se de um estudo observacional
transversal realizado com 35 idosos da comunidade que freqüentavam um grupo de terceira idade em
Belo Horizonte/MG. O desempenho dos idosos nos testes de mobilidade (timed up and go) e de
equilíbrio (apoio unipodálico) foi relacionado com os medicamentos usados. Uma relação significativa
foi encontrada entre o número de medicamentos utilizados e o fraco desempenho no TUG e no apoio
unipodálico pelos idosos (P<0,05). O desempenho no TUG foi pior entre os idosos que utilizavam
anticoagulantes (P=0,029). Os idosos que usavam hipolipemiantes, hipoglicemiantes e fitoterápicos
foram incapazes de realizar o teste de apoio unipodálico (P<0,05). Testes simples podem ser sensíveis
aos efeitos adversos das medicações. Reconhecer as alterações motoras decorrentes da farmacoterapia
inadequada constitui uma abordagem preventiva do fisioterapeuta.

Palavras-chave: Idosos; Testes de mobilidade; Equilíbrio; Medicamentos.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 85-92, jan./mar., 2007


86 Flávia Pereira Martins, Helena Uemoto Maia, Leani Souza Máximo Pereira

Abstract

The process of the aging comes followed by a series of physiological alterations in the organism,
that can affect in such a way the pharmacokinetics significantly as the pharmacodynamic of the
existing drugs. The majority of the aged ones consumes, at least, a drug, and about one third
consumes five or more simultaneously. The use of multiple drugs, the medicine prescription
contraindicated for aged and the inadequate handling of these components for the health group
can unchain adverse effect in the motor performance generating instabilidades, falls and others
diseases. The objective of this study was to evaluate the performance of aged persons of the
community in tests of mobility and balance and relating them with used drugs. It concerns a
transversal and observacional study carried through with 35 aged people of the community that
frequented a group fromthe third age in Belo Horizonte/MG. The performance of these people in
the tests of mobility (timed up and go) and of balance (one leg stance) had been related with used
drugs. A significant relation was found among the used drugs number and the weak performance
in the TUG and the one leg stance for the aged (p<0,05). The performance in TUG was worse
between the aged ones that used anticoagulant agents (p=0.029). The ones that used hypolipidemia
agents, hypoglycemic agents and phytotherapy had been incapable to carry through the one leg
stance test (p<0.05). Simple tests can be sensitive to the adverse effect of medications. To
recognize the resulting motor alterations of the inadequate pharmacoterapy constitutes a
preventive approach of the physiotherapist.

Keywords: Elderly; Drugs; Assessment mobility; Balance.

INTRODUÇÃO
A população brasileira vem apresentando, desde o início da década de 60, um acentuado
processo de envelhecimento. Este processo é o resultado da associação de três eventos: a queda das taxas
de fecundidade que começaram a estreitar progressivamente a base da pirâmide populacional, a diminuição
dos índices de mortalidade (em especial a infantil) e o aumento da expectativa de vida (1).
O processo do envelhecimento vem acompanhado de uma série de alterações fisiológicas no
organismo, que pode afetar sensivelmente tanto a farmacocinética como a farmacodinâmica da maioria
das drogas existentes (2). Nessa faixa etária, as doenças crônicas e degenerativas são comuns e,
freqüentemente, são utilizados muitos medicamentos para o tratamento de suas manifestações.
A maioria dos idosos consome, pelo menos, um medicamento e cerca de um terço deles
consome cinco ou mais simultaneamente. Esse uso irracional se traduz em um consumo excessivo de
produtos supérfluos, ou não indicados, e a subutilização de outros, essenciais para o controle das doenças.
O uso de múltiplos produtos, a prescrição de medicamentos contra-indicados para os idosos e o uso de
dois ou mais fármacos com a mesma atividade farmacológica favorecem o aparecimento dos efeitos adversos
e das interações medicamentosas (3). Esse processo leva a duas situações quase idiossincráticas da assistência
médica ao idoso: a polifarmácia e a iatrogenia. A polifarmácia está relacionada ao uso de pelo menos uma
droga desnecessária num rol de prescrições supostamente necessárias. A iatrogenia configura o efeito
patogênico de uma droga ou da interação de várias drogas (4). As conseqüências dessas práticas inadequadas
podem levar a resultados indesejáveis, acarretando internações hospitalares e elevando os custos do sistema
de saúde (5).
Manifestações motoras indesejáveis em decorrência do uso inadequado de medicações vêm
sendo relatadas pela literatura. Vários estudos indicam uma associação entre o uso de medicamentos e um
aumento no risco de cair de 6 vezes (6). Vários tipos de medicamentos têm sido citados pela literatura
relacionados com o risco aumentado de cair, dentre eles, os psicotrópicos, cardiovasculares, corticosteróides
e os antiinflamatórios não-hormonais.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 85-92, jan./mar., 2007


Desempenho de idosos em testes funcionais e o uso de medicamentos 87

A literatura descreve vários testes funcionais utilizados para detectar alterações da mobilidade
e do equilíbrio. Esses testes permitem verificar o risco dos idosos em desempenhar as atividades funcionais
do cotidiano. Freqüentemente usados e de fácil aplicação na prática clínica, destacam-se o Timed Up and
Go (TUG) e o teste do apoio unipodálico.
O TUG é uma modificação do teste get up and go, descrito por Mathias (7) e desenvolvido
inicialmente, para mensurar de maneira qualitativa, o desempenho do indivíduo em levantar-se a partir de
uma posição sentada, caminhar três metros e retornar à posição inicial. Segundo Podsiadlo e Richardson
(8), modificaram o get up and go, incorporando a medida de tempo para se realizar o teste devido à baixa
correlação da avaliação interexaminadores.
O apoio unipodálico (One Leg Stance) é o teste de equilíbrio estático mais simples e utilizado
na prática clínica com idosos. O teste é de fácil aplicação e tem alta confiabilidade e sensibilidade quando
aplicado em idosos da comunidade, institucionalizados e hospitalizados (9). São instrumentos simples e de
baixo custo que permitem avaliar o risco de quedas em idosos, permitindo medidas preventivas.
O objetivo desse estudo foi avaliar o desempenho de idosos da comunidade em testes de
mobilidade (timed up and go) e de equilíbrio (apoio unipodálico) e relacioná-los com os medicamentos
usados.

MATERIAL E MÉTODOS

Amostra

Trata-se de um estudo transversal/observacional, realizado com um grupo de idosos participantes


de um Grupo de Terceira Idade em Belo Horizonte/MG. A amostra foi composta de 35 idosos, sendo 30 do
sexo feminino e 5 do sexo masculino (72,51 ± 6,8 anos). Foram excluídos os idosos com alterações
cognitivas graves; visuais; labirintopatias agudizadas, em uso de auxílios para deambulação, com dores
agudizadas nos membros inferiores; seqüelas de doenças ortopédicas, neurológicas, respiratórias,
cardiovasculares, reumatológicas e outras que os impossibilitassem a realização os testes. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFMG (parecer ETIC/ 331/04).

Instrumentos e procedimentos

Um questionário sociodemográfico clínico foi aplicado para a caracterização da amostra e em


seguida foram aplicados os testes de mobilidade e do apoio unipodálico. O TUG foi desenvolvido para
avaliar o desempenho do indivíduo em levantar-se a partir de uma posição sentada, caminhar três metros
e retornar à posição inicial. O tempo gasto para desempenhar o teste é diretamente relacionado ao nível de
mobilidade funcional (10). Adultos independentes sem alterações no equilíbrio realizam o teste em 10
segundos ou menos; adultos com independência em transferências básicas em 20 segundos ou menos;
adultos que necessitam de mais de 30 segundos para realizar o teste são dependentes em muitas atividades
da vida diária e na habilidade da mobilidade (11). Uma cadeira padronizada com assento com altura igual
a 45 cm e apoio de braços com 63 cm foi utilizada para a realização do teste.
O teste do apoio unipodálico foi realizado solicitando que o sujeito permanecesse na posição
de pé somente em uma das pernas sem apoio, por 5 segundos (12).

Análise estatística

Para a avaliação dos dados clínicos, demográficos e sociais, foi utilizada a estatística descritiva.
O modelo de regressão logística foi utilizado para determinar a relação existente entre o número de
medicamentos e o desempenho no teste de apoio unipodálico. Esse método também foi utilizado para
avaliar a relação entre a quantidade de doenças relatadas, o número de quedas e a relação entre a idade
com o teste de apoio unipodálico. O método stepwise foi usado para identificar quais medicamentos

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 85-92, jan./mar., 2007


88 Flávia Pereira Martins, Helena Uemoto Maia, Leani Souza Máximo Pereira

poderiam influenciar o desempenho no teste de apoio unipodálico e no TUG. O coeficiente de correlação


linear de Pearson foi usado para verificar a relação entre o número de medicamentos, a idade e o desempenho
no TUG. O nível de significância estabelecido foi de 5% (p<0,05). Foram utilizados os softwares estatísticos
SPSS versão 10.0 e Minitab, instalados em ambiente Windows.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da amostra de 35 idosos participantes do estudo, 77% possuíam Ensino Básico incompleto, 9%


eram analfabetos e apenas 1 idoso possuía Ensino Superior completo. A metade da amostra possuía um
convênio de saúde particular e o restante fazia acompanhamento médico, quando necessário, no SUS. Vale
ressaltar que somente um idoso fazia acompanhamento médico com um geriatra. O número de doenças
relatadas variou de 1 a 5, sendo a doença cardiovascular a mais prevalente, com um total de 62,8%. O
número de medicamentos variou de 0 a 8, com uma média de 2,74 por indivíduo, sendo o tipo de
medicação mais utilizada os anti-hipertensivos.
O desempenho dos idosos no TUG variou de 8,4 a 18,75 segundos; 9 idosos realizaram o teste
em menos de 10 segundos, caracterizando independência na mobilidade para a realização das Atividades
de Vida Diária (AVDs) e 26 idosos situaram-se entre 10 e 20 segundos, sugerindo sua dependência leve
para a realização das AVDs. Nenhum idoso apresentou dificuldades moderadas ou graves na realização do
teste.
Após a análise estatística, nota-se que existe relação significativa crescente entre o número de
medicamentos e o desempenho no TUG (P<0,05). O gráfico de dispersão (Figura 1) mostra que quanto
mais medicamentos são consumidos, maior é o tempo gasto para a realização do TUG.

FIGURA 1 - Relação entre o número de medicamentos utilizados pelos idosos


e o desempenho no TUG
TUG: Timed up and go

Ao se analisar separadamente as categorias das drogas utilizadas pelos idosos, observou-se


que o uso de anticoagulantes foi o medicamento que mais influenciou o desempenho dos idosos no TUG
(p = 0,029).
Pela análise de regressão logística, observa-se que a quantidade de medicamentos utilizados
possui relação significativa com o teste de apoio unipodálico direito (P<0,05). Os resultados mostram uma

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 85-92, jan./mar., 2007


Desempenho de idosos em testes funcionais e o uso de medicamentos 89

relação inversa entre as duas variáveis, ou seja, quanto mais medicamentos são usados pelo idoso, menor
é a sua probabilidade de ser capaz de realizar o teste unipodálico direito. A Odds Ratio mostra que a
chance de ser incapaz no apoio direito é 1,64 vezes maior a cada novo medicamento usado (1/0,61 = 1,64).
Essa razão é cumulativa, ou seja, a chance de um idoso ser incapaz no apoio unipodálico direito é 3,28
vezes maior se comparado a um idoso que usa dois medicamentos a menos.
Os idosos que usavam os medicamentos hipolipemiantes (p = 0,02), hipoglicemiantes (p =
0,016) e fitoterápicos (p = 0,008) foram incapazes de realizar o teste de apoio unipodálico (P<0,05). Destes,
3 idosos usavam somente o hipolipemiante, 4 usavam apenas o hiploglicemiante, 3 somente o fitoterápico
e apenas 1 usava simultaneamente o hipolipemiante e o fitoterápico. O anti-hipertensivo, apesar de não
apresentar uma relação significativa (p = 0,09), não pode ser descartado, devido ao valor próximo de 0,05.
A relação entre a quantidade de doenças presentes nos idosos não foi capaz de afetar o
desempenho no TUG, no apoio unipodálico ou com o número de quedas relatado (P>0,05). Na amostra
pesquisada, uma média de 1,52 quedas foi relatada para cada idoso no último ano, 50% dos idosos caíram
nenhuma ou 1 vez e 75% caíram menos de 3 vezes. Não foi observada uma relação evidente entre o
número de quedas dos idosos no último ano e a quantidade de medicamentos ou doenças relatadas
(P>0,05).
A relação entre o desempenho no TUG e a idade (P<0,05) foi baixa. A Figura 2 mostra que,
apesar do coeficiente de correlação ser de apenas 0,347, a amostra é considerável, indicando uma relação
direta e baixa entre as variáveis.

FIGURA 2 - Relação entre o desempenho no TUG e a idade


TUG: Timed up and go

Já a relação entre a idade e o desempenho no teste de apoio unipodálico foi significativa


(P<0,05). Por meio da Odds Ratio, conclui-se que a chance de um indivíduo apresentar incapacidade
para a realização do teste é 1,14 vezes maior se comparado a um indivíduo 1 ano mais novo (1/0,88
= 1,14). Ou também, a chance de um indivíduo apresentar essa incapacidade é 11,4 vezes maior se
comparado a um indivíduo 10 anos mais novo (1,14 x 10=11,4). Isso mostra que a probabilidade de
dois idosos apresentarem incapacidade para o apoio unipodálico é quase igual se a diferença na idade
for de apenas 1 ano. Entretanto, se a diferença de idade for alta, o idoso mais velho possui uma
probabilidade muito maior de ser incapaz.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 85-92, jan./mar., 2007


90 Flávia Pereira Martins, Helena Uemoto Maia, Leani Souza Máximo Pereira

Os resultados do presente estudo mostraram que na população pesquisada, quanto maior


o número de medicamentos usados, pior foi o desempenho nos testes de mobilidade e equilíbrio
utilizados. Entretanto, os medicamentos usados pelos idosos da amostra pesquisada que influenciaram o
desempenho nos testes não estão de acordo com a literatura pesquisada.
De acordo com Leipzig e colaboradores (13), foram realizadas duas metas-análises com o
objetivo de avaliar criticamente a associação entre classes específicas de drogas cardíacas, analgésicas e
psicotrópicas com quedas em idosos. A primeira meta-análise foi composta por 29 estudos, onde se
concluiu que o uso da digoxina, anti-arrítmico tipo IA e diuréticos estão associados com quedas em idosos.
Nenhuma associação foi encontrada para outras classes de drogas cardíacas ou analgésicas examinadas
(13). A segunda meta-análise, composta por 40 estudos, concluiu que existe uma pequena, porém consistente,
associação entre o uso da maioria das classes de psicotrópicos com as quedas. Um aumento de quedas
ocorre entre pacientes que fazem uso de mais de uma droga psicotrópica. Entretanto, o autor relata que
idosos que fazem uso de 3 ou mais medicamentos de qualquer tipo apresentam risco maior de quedas
recorrentes (14). Essa afirmação vem ao encontro dos achados do presente estudo, onde se observou que
os idosos que utilizavam um número maior de medicação tiveram os piores desempenhos em testes de
mobilidade e equilíbrio, que são preditivos de quedas.
Resultados da literatura brasileira pesquisada também foram divergentes do presente estudo.
Conforme o estudo de Chaimowicz e colaboradores (15), foi verificado que a ocorrência de quedas estava
associada à utilização de psicoativos, mesmo quando as variáveis gênero, idade, visão e audição foram
controladas em uma regressão linear múltipla. Em um estudo de Rozenfeld e colaboradores(16) para
determinar a prevalência de quedas em mulheres idosas e sua associação com consumo de medicamentos,
verificou-se que mulheres que tomavam beta-bloqueadores informaram 2 vezes mais quedas recorrentes
do que as que não os consumiam. O risco de quedas recorrentes entre mulheres que sofriam de hipotensão
postural e tomavam ansiolíticos e sedativos foi 4.9 vezes maior do que as que não tomavam.
O presente estudo não observou a interferência das medicações no evento quedas e sim no
desempenho dos testes aplicados. Era de se esperar que os medicamentos citados pela literatura pesquisada
exercessem alguma influência na realização do TUG e no desempenho do apoio unipodálico, porém esse
fato não ocorreu. Surpreendentemente, os medicamentos que influenciaram mais significativamente no
desempenho do apoio unipodálico na amostra pesquisada foram os hipolipemiantes, os hipoglicemiantes
e os fitoterápicos. Segundo Rang (17), os distúrbios gastrintestinais, insônia e erupções cutâneas, efeitos
indesejáveis dos hipolipemiantes, são discretos e pouco freqüentes. Os efeitos adversos mais graves são
raros e consistem em miosite grave, hepatite e angiodema. Essa categoria de medicação, isoladamente, não
exerce alterações na função motora. Entretanto, em pacientes que utilizam anticoagulante, a ação dos
hipolipemianteas pode ser potencializada pelas vastatinas, possivelmente por deslocamento do anticoagulante
da proteína. Hábitos alimentares, uso de álcool e fatores correlatos também podem potencializar a ação
dos hipolipemiantes, entretanto, esses dados não foram pesquisados no presente estudo. Um desempenho
pior no TUG dos idosos que utilizavam o anticoagulante foi observado, 2 idosos usavam simultaneamente
o anticoagulante e o hipolipemiante. Cendoroglo (18) relata que pacientes que usam hipolipemiante
(vastatina) associada a outros agentes e a drogas imunossupressoras, como eritromicina, apresentam maior
incidência de miopatia, rabdomiólise, mioglobinuria e insuficiência renal. Outros efeitos colaterais podem
incluir fadiga, cefaléia, distúrbios do sono. A miopatia, fadiga e o descondicionamento induzem ao
desempenho motor inadequado, entretanto não temos dados em nosso estudo para concluir essa observação.
O hipoglicemiante foi a outra categoria de medicamento encontrada na população pesquisada
que influenciou a realização do apoio unipodálico. Os sinais de hipoglicemia em decorrência da utilização
inadequada dos hipoglicemiantes, tais como taquicardia, sudorese fria e palidez cutânea podem estar ausentes ou
menos intensos em idosos. Entretanto, em idosos, a diminuição da função renal, a interação com outras drogas, a
menor ingestão alimentar devido à falta da dentição, doenças associadas e o erro na medicação podem predispor
essa faixa etária a outros sintomas. Dessa forma, os episódios de hipoglicemia possuem maior morbidade em
idosos, aumentando o risco de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e a maior freqüência de
quedas e suas comorbidades (19). A utilização dos hipoglicemiantes deve ser criteriosa em idosos e a sua utilização
deve ser pautada de cuidados e orientações que muitas vezes não são observadas pelos idosos.

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Desempenho de idosos em testes funcionais e o uso de medicamentos 91

Segundo Dennehy e Tsourounis (20), muitos consumidores adotaram o uso de fitoterápicos e


outros complementos como abordagem “natural” para a saúde. Infelizmente, são comuns os conceitos
equivocados a respeito da segurança e da eficácia desses agentes. O fato de uma substância ser designada
como “natural” obviamente não garante a sua segurança. Com efeito, esses produtos podem ser adulterados,
rotulados erroneamente ou contaminados de modo deliberado ou involuntariamente de diversas maneiras.
Além disso, as doses recomendadas para substâncias fitoterápicas ativas podem ser muito maiores do que
aquelas consideradas clinicamente seguras. Foram documentados efeitos adversos com uma variedade de
ervas medicinais. Na maioria dos casos, a análise química do produto envolvido raramente é efetuada. Essa
situação leva à incerteza quanto ao fato de o efeito adverso ser causado pela própria erva ou devido a um
agente adulterante. Em alguns casos, os componentes químicos da erva podem provocar claramente
toxicidade. As alterações fisiológicas no organismo do idoso podem afetar sensivelmente tanto a
farmacocinética como a farmacodinâmica das drogas fitoterápicas utilizadas.
O presente estudo verificou o desempenho de idosos em testes que poderiam ser indicativos
de instabilidade e quedas. Foram utilizados testes com bons índices de confiabilidade, sensibilidade e
especificidade. Medicamentos não citados pela literatura interferiram na realização dos testes. Uma amostra
maior estratificada por categoria de medicamentos utilizados poderia justificar resultados condizentes com
os citados pela literatura. Optou-se por uma amostra aleatória e alguns medicamentos apresentaram resultados
significativos.
Os resultados do presente estudo mostraram também que a relação entre a quantidade de
doenças e o desempenho no TUG, no apoio unipodálico ou ao número de quedas não foi significativa
(P>0,05). Esses achados destacam a importância da avaliação baseada no impacto da restrição funcional
provocadas pelas doenças e não somente na quantidade de doenças apresentada. Essa proposta vai ao
encontro com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF (2003) (21). Ao
contrário da CID (Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde), a CIF
permite avaliar o impacto da doença sobre o ser e a restrição funcional determinada pela doença.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, torna-se importante o conhecimento dos padrões de uso e de prescrição
de medicamentos entre os idosos, como também do perfil das reações adversas e seus impactos clínicos,
sociais e monetários. Tornam-se necessárias intervenções que busquem melhoria das prescrições, maior
adesão do paciente ao tratamento, maior controle das reações adversas e, conseqüentemente, redução dos
custos.
Testes simples podem ser sensíveis aos efeitos adversos das medicações. Reconhecer as alterações
motoras decorrentes da farmacoterapia inadequada constitui uma abordagem preventiva do fisioterapeuta.
Outros estudos mais aprofundados, estratificados por categorias dos medicamentos e com uma amostra
maior, serão necessários.

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Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 85-92, jan./mar., 2007


92 Flávia Pereira Martins, Helena Uemoto Maia, Leani Souza Máximo Pereira

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tradução: Cassia Maria Buchala. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2003. p. 13-15.

Recebido em: 07/12/2005


Received in: 12/07/2005

Aprovado em: 25/03/2006


Approved in: 03/25/2006

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 85-92, jan./mar., 2007


93

ANÁLISE DA EFETIVIDADE DA REEDUCAÇÃO


POSTURAL GLOBAL NA PROTUSÃO DO OMBRO
APÓS A ALTA TERAPÊUTICA

Analyse of Global Postural Reeducation Effectiveness on


Shoulder Protrusion after Discharge from Therapy

Cláudia Mara Cruz Moreira


Fisioterapeuta Pós-Graduada em Reabilitação Musculoesquelética e Desportiva pela UGF
Muriaé - MG. e-mail: kdclaudinha@hotmail.com

Danielle Ramos Leite Soares


Fisioterapeuta Pós-Graduada em Reabilitação Musculoesquelética e Desportiva pela UGF
Muriaé - MG. e-mail: daniellerls@hotmail.com

Resumo

A Reeducação Postural Global é uma técnica de Fisioterapia que trata das desarmonias corporais,
trabalhando os sistemas musculoesqueléticos como um todo, objetivando maior harmonia em
acompanhamento individual semanal. Cinco pacientes do sexo feminino, na faixa etária de 20 a
30 anos de idade, foram submetidas ao tratamento fisioterapêutico visando a correção postural e
redução de queixas álgicas decorrentes de alterações posturais. As mesmas cinco pacientes foram
radiografadas nas incidências ântero-posterior e perfil, na semana consecutiva à alta terapêutica,
quando se observava melhora postural evidenciada pela retração de ombro, e após quatro meses
desta. As distâncias lineares entre a clavícula e o tubérculo maior do úmero, e deste à escápula e
ao centro da cavidade glenóide, foram mensuradas e avaliadas estatisticamente. Este estudo
objetivou analisar a efetividade da técnica de Reeducação Postural Global após a alta terapêutica,
com base na avaliação da protusão na articulação do ombro, bilateralmente. Não foram observadas
diferenças estatisticamente significantes entre as medidas realizadas, demonstrando que não houve
perda do ganho obtido pelo tratamento proposto no período entre a alta e a reavaliação após quatro
meses.

Palavras-chave: Ombro; Reeducação; Postura; Fisioterapia.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 93-99, jan./mar., 2007


94 Cláudia Mara Cruz Moreira, Danielle Ramos Leite Soares

Abstract

Global Postural Reeducation is a techniques of Physical Therapy that treats body discordance,
working on muscle-skeletal sistems as if all, looking for body harmony performing individual
accompaniment every week. Five female patients aged of 20 to 30 years old, realized Physical
Therapy treatment to obtain the right posture and decrease of pain complaint caused by postural
changes. The same five patients were radio graphed on the anteroposterior and side views, on the
week after discharge from therapy, when the improvement on posture was evidenced by shoulder
retraction, and after four months. The linear interval between clavicle and humeral major
tubercle, and from this to tenterhook and the middle of glenoid cavity were measured and
appraised from statistician. The objective of this article was to analyse the effectiveness of Global
Postural Reeducation techniques after discharge from therapy, based on evaluation of shoulder
articulation protrusion, both sides. Differences statisticians significantly were not noticed by the
measured realized, showing that the earnings with treatment were not lost in the period from the
discharge from therapy to reevaluation after four months.

Keywords: Shoulder articulation; Reeducation; Posture; Physical therapy.

INTRODUÇÃO
A Reeducação Postural Global, ou RPG, é um método de Fisioterapia criado na França, em
1980, pelo fisioterapeuta francês Phillipe-Emanuel Souchard, a partir de uma insatisfação com relação aos
tratamentos clássicos. Esta técnica chegou ao Brasil também na década de 80 (1, 2, 3).
A RPG trata das desarmonias do corpo humano, levando em consideração as necessidades
individuais de cada paciente, visto que cada organismo reage de maneira diferente às agressões sofridas.
Avaliam-se as retrações e os enrijecimentos musculares considerados como responsáveis pelo desequilíbrio
postural, que por sua vez pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento de inúmeros problemas
morfológicos, articulares, neurológicos, traumáticos, respiratórios e esportivos (4, 5).
A técnica considera sistemas musculares e esqueléticos como um todo e procura tratar de
forma individualizada músculos dinâmicos e estáticos. Utiliza posturas estáticas, que são realizadas associadas
a exercícios respiratórios sob orientação do fisioterapeuta (1, 2, 5).
Para se obter um resultado positivo com RPG, são necessárias sessões semanais, de
aproximadamente uma hora, podendo haver exceções, nos casos de maior gravidade (4). Objetivando a
harmonia postural, podem ser utilizadas oito posturas de alongamento. Normalmente, o paciente pratica
duas posições em cada sessão, em que não existem movimentos de repetição (3). O tratamento é indicado
para todas as faixas etárias, sendo a sua efetividade evidenciada, por exemplo, na retração escapular
comparativa à protusão do complexo articular do ombro, que pode ser observada na avaliação inicial (2).
O ombro é um conjunto funcional que permite unir o membro superior ao tórax, apresentando
as funções de promover a mobilização com grande amplitude de movimento do braço e a boa estabilidade
no caso em que o membro superior necessita de força, como durante o manejo de objetos pesados (6).
O cíngulo escapular é composto pela clavícula, que se articula com acrômio e esterno, e pela
escápula, que se articula com o úmero e com a clavícula, sendo considerada a mais móvel das articulações
do corpo humano (7, 8).
Quatro articulações separadas formam o complexo articular do ombro: a escapuloumeral, a
esternoclavicular, a acromioclavicular e a escapulotorácica, cada qual conferindo movimento ao braço,
mediante ações articulares coordenadas. Seus movimentos são de abdução e adução, flexão e extensão,
circundução, elevação e rotações (medial e lateral). O ombro tem maior grau de movimento e liberdade
que qualquer outra articulação, devido, em grande parte, ao movimento escapular, o qual inclui elevação
e abaixamento, protusão, retração e rotação (9, 10).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 93-99, jan./mar., 2007


Análise da efetividade da reeducação postural global na protusão do ombro após a alta terapêutica 95

Os músculos que se inserem na escápula, clavícula e úmero funcionam como uma unidade
coordenada para produzir um movimento suave do ombro. Os músculos do ombro fixam-se em numerosos
ossos e são divididos em dois grupos: os que mobilizam a escápula e a clavícula sobre o tórax (serrátil
anterior, subclávio, peitoral menor, esternocleidomastóideo, elevador da escápula, rombóide menor e trapézio)
e os que mobilizam o úmero sobre a escápula (subescapular, supra-espinal, infra-espinal, redondo menor,
coracobraquial, bíceps braquial, peitoral maior, latíssimo do dorso, redondo maior e deltóide) (6, 11).
No ombro, os músculos podem gerar a maior produção de força no movimento de adução e
esta é o dobro da força do movimento de abdução, embora o movimento de abdução seja usado mais
freqüentemente em atividades diárias e esportivas. O movimento de extensão é o segundo em nível de
força e é levemente mais forte que a flexão. As ações articulares mais fracas no ombro são os movimentos
articulares de rotação, sendo rotação externa a mais fraca delas (9).
Algumas saliências ósseas, como os tubérculos maior e menor do úmero, e o tubérculo conóide
da clavícula, que está localizado próximo a sua face articular acromial, podem ser visualizadas radiograficamente
na projeção antero-posterior (AP), além de evidenciar o acrômio e a espinha da escápula (12, 13).
O tratamento com RPG é realizado utilizando-se posturas estáticas indicadas precisamente para
cada tipo de dor ou patologia, dependendo da queixa de cada paciente, de modo que os músculos estáticos
sejam alongados e os dinâmicos sejam contraídos (contração excêntrica), buscando reencontrar a boa morfologia
corporal e solucionando os problemas relacionados a esta, incluindo a retração escapular (2, 3).
Apesar de difundida nacionalmente, a sua comprovação científica ainda é escassa, bem como
sua efetividade a longo prazo, e a manutenção dos ganhos obtidos ao tratamento após a alta terapêutica.
O objetivo deste estudo foi avaliar a efetividade do tratamento de RPG na protusão de ombro,
após a alta terapêutica.

MATERIAIS E MÉTODOS
Foram avaliadas cinco pacientes do sexo feminino, na faixa etária de 20 a 30 anos, que se
submeteram ao tratamento fisioterapêutico com RPG, com o objetivo de corrigir alterações posturais,
minimizar queixas álgicas e melhorar a consciência corporal.
A avaliação física foi realizada pela mesma fisioterapeuta em todas as pacientes, seguindo
avaliação postural global, sendo que 4 (quatro) apresentavam predominância de cadeia anterior e 1 (uma)
cadeia mista.
O tratamento foi realizado semanalmente também pela mesma fisioterapeuta, utilizando-se as
posturas “rã no chão” e “asa delta” ou “bailarina”, em sessões de aproximadamente 50 minutos, por
período superior a quatro meses.
Ao atingir os objetivos, as pacientes receberam alta terapêutica e observou-se, como evidência
de melhora postural, retração escapular bilateral e maior simetria corporal, associado à ausência de dor em
todos os casos. As pacientes foram orientadas à prática de atividade física (preferencialmente hidroginástica),
visando manutenção dos ganhos obtidos.
As participantes foram orientadas quanto à realização da pesquisa e assinaram “Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido”.
Após uma semana da alta terapêutica, a articulação do ombro foi radiografada
bilateralmente, nas incidências ântero-posterior (AP) e perfil, com orientação ao técnico em radiologia
responsável pelo exame a manter a articulação na posição de relaxamento muscular, sem
posicionamentos corretivos.
Utilizando o paquímetro Vernier Calipers – 150 x 0,05 mm/6” x 1/128 in, foram realizadas
medidas, pela mesma pesquisadora, das distâncias lineares entre o acrômio da escápula em sua
porção apical e o tubérculo maior do úmero, e deste ao tubérculo conóide da clavícula, visando
avaliar a retração ou protusão de ombro. A distância linear do tubérculo maior do úmero ao centro
da cavidade glenóide também foi mensurada para avaliação de rotações umerais. Tais medidas
foram reavaliadas quatro meses após a alta, e avaliadas estatisticamente.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 93-99, jan./mar., 2007


96 Cláudia Mara Cruz Moreira, Danielle Ramos Leite Soares

Associada à avaliação radiográfica posterior à alta, as pacientes responderam a questionário,


por meio do qual foi avaliada a ocorrência de dor e a prática da atividade física orientada durante o
período.
Os resultados obtidos pelas distâncias medidas radiograficamente foram avaliados pelos testes
estatísticos Wilcoxon e pelo teste T-student Paired, sendo este último teste mais confiável que o primeiro,
pois é possível variar o grau de exigência a ser pedido.

RESULTADOS
Segundo questionário aplicado na mesma data em que se realizou a avaliação radiográfica
após quatro meses da alta terapêutica, a amostra estudada pode ser caracterizada como ilustrado pela
Tabela 1 apresentada a seguir.

TABELA 1 - Caracterização da amostra avaliada

Caracterização da Amostra

No de pacientes %

Idade 20 a 25 anos 1 20
25 a 30 anos 4 80
Dominância Direito 5 100
Esquerdo - -
Realização de atividade física após alta Durante os 4 meses 1 20
Parte do período 2 40
Não 2 40
Queixa álgica Não 3 60
Sim 2 40
Medida utilizada para alívio álgico Medicamento - -
Alongamento 1 50
Cessou espontaneamente - -
Outra 1 50
Satisfação ao tratamento Total 3 60
Parcial 2 40
Insatisfação - -

As médias das medidas encontradas nas avaliações radiográficas quando da alta terapêutica e
após quatro meses desta, avaliadas pelos testes estatísticos, podem ser observadas no Gráfico 1. Tais
medidas demonstraram não haver evidências suficientes para concluir que tenha ocorrido mudança, por
não demonstrarem alterações estatisticamente significantes (p= 0,05), mesmo ao diminuir o grau de
confiabilidade do teste aplicado.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 93-99, jan./mar., 2007


Análise da efetividade da reeducação postural global na protusão do ombro após a alta terapêutica 97

Médias das amostras obtidas


7,48 7,5 7,5
7,18

5,12 5,0 5,04 5,04

3,7
3,34 3,24
3,14

1 2 3 4 5 6

uma semana após a alta terapêutica


quatro meses após a alta terapêutica
GRÁFICO 1 - Demonstra as 6 médias entre as medidas realizadas, com os respectivos valores
de p, sendo: (1) medida entre o tubérculo maior do úmero e a clavícula direita
(p=0,206), (2) daquele à clavícula esquerda (p=1,00), (3) entre o referido
tubérculo umeral e o acrômio da escápula direita (p= 0,515), (4) ao acrômio
da escápula esquerda (p=0,606), (5) ao centro da cavidade glenóide à direita
(p=0,324) e (6) à esquerda (p=1,00)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a prática de RPG, o alongamento dos tecidos é obtido muito progressivamente, de
maneira quantitativa, sendo solicitada contração dos músculos hipertônicos, em contração isotônica
excêntrica de baixa intensidade, ou mesmo isométrica excêntrica, enquanto os músculos da dinâmica
são exercitados em isotonia concêntrica. Enfim, durante uma mesma postura de tratamento, são colocados
em tração todos os músculos retraídos concernentes a uma lesão, tornando possível assim chegar à
causa da lesão (14).
A RPG apresenta bons resultados na prática diária, porém a falta de trabalhos científicos
sobre o tema dificulta a sua difusão. Estudo realizado comparativo entre os desempenhos da RPG com
a série de Williams (o método convencional) comprovou-se que a RPG alivia a lombalgia com mais
rapidez, corrige a postura e previne a reincidência do problema (15, 16).
Segundo este mesmo trabalho, o contraste também aparece no índice de satisfação com o
tratamento. Enquanto 80% das pessoas submetidas à RPG declararam resultados positivos, apenas 45%
das pessoas submetidas ao tratamento convencional declararam o mesmo (15, 16).
Conforme apresentado, todas as pacientes que participaram desta pesquisa demonstraram
satisfação ao tratamento realizado após quatro meses da alta terapêutica, sendo que apenas 40% relataram
queixa álgica durante o período estudado, o que pode ser associado à não prática de atividade física
pelas participantes, apesar da orientação.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 93-99, jan./mar., 2007


98 Cláudia Mara Cruz Moreira, Danielle Ramos Leite Soares

Em nenhuma das médias das medidas realizadas evidenciou-se mudanças significativas, mesmo
com uma diminuição do grau de confiabilidade do teste utilizado, demonstrando que não ocorreu perda
do ganho, do melhor posicionamento escapular, obtido com o tratamento utilizando a técnica de RPG.
Portanto, avaliando-se a efetividade da técnica de RPG após a alta terapêutica, utilizando como
parâmetros as medidas de distâncias lineares entre estruturas ósseas na articulação do ombro, com finalidade
de determinar possível perda do posicionamento escapular evidenciada clinicamente durante o período de
tratamento, observa-se que, durante o período de quatro meses após a alta terapêutica, os ganhos são
mantidos, visto não haver diferença estatisticamente significante entre as medidas encontradas uma semana
após a alta terapêutica e após 4 meses desta.
Para uma maior percepção das razões pelas quais estas mudanças não foram percebidas,
torna-se necessário um aumento do número da amostra ou pesquisas mais aprofundadas (qualitativa e
quantitativa).
A carência de estudos publicados comprovando cientificamente a técnica dificulta sua divulgação
no meio científico. Este estudo promove a possibilidade de maiores investigações na comprovação da
efetividade da técnica.

REFERÊNCIAS
1. Azevedo Michely, Kunz Souza, Adriana Zilves, Paiva Magda Cordeiro, Monteiro Alexandre Ferreira,
Sampol Antônio Vital. A Cinesioterapia através da técnica de RPG. 2004 Jun. [acesso em 08 de novembro
de 2004]. Disponível em: http://www.foa.org.br/vitalsampol/Artigos/Artigo31-40/38.html.
2. Castro Pedro Cláudio Gonsales de. Avaliação computadorizada por fotografia digital, como recurso de
avaliação na Reeducação Postural Global. Revista ACTA Fisiatrica [periódico na Internet]. 2003 [acesso
em 05 de dezembro de 2004]; 10(2). Disponível em: http://www.reeducacaoposturalglobal.hpg.ig.com.br.
3. Cintra Luiz Henrique. Harmonia postural através do RPG. [Acesso em 27 de maio de 2005]. Disponível
em: http://www.noolhar.com/opovo/cienciaesaude/73760.html.
4. Torres Carol Pedrozo. Reeducação Postural Global. [19—]. Disponível em: http:/www.vaidosa.com.br/
vaidosa/content/beleza/docs/04-05/bl040521-01.shtml.
5. Bushatsky Ângela. RPG no Brasil. São Paulo: È Realizações Editora; [19—]. Disponível em: http://
www.erealizacoes.com.br/rpg/rpg_br.htm.
6. Germain BC. Anatomia para o movimento. São Paulo: Manole; 1992.
7. Kapandji IA. Fisiologia Articular. 5ª ed. São Paulo: Manole; 1990. v. 1. p. 09-79.
8. Kendal FP, McCreary EK. Músculos, provas e funções. 3ª ed. São Paulo: Manole; 1990.
9. Hamill J., Knutzen KM. Bases biomêcanicas do movimento humano. São Paulo: Manole; 1999.
10. Coelho MM., Reis RJ Doenças Músculo-Esqueléticas dos Membros Superiores de Origem Ocupacional.
Belo Horizonte: Health; 1998.
11. Turek SL. Ortopedia: princípios e sua aplicação. São Paulo: Manole; 1991. v. 2. p. 1041-1088.
12. Tixa S. Atlas de Anatomia Palpatória do Pescoço, do Tronco e do Membro Superior. São Paulo: Manole;
2000.
13. Goss CM. Gray Anatomia. 29ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 1988.
14. Souchard Phillipe-Emanuel. Reeducação e Tradição. Revista Brasileira de RPG: 1998 Nov. Disponível
em http://www.rpgsouchard-sp.com.br/artigos.htm.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 93-99, jan./mar., 2007


Análise da efetividade da reeducação postural global na protusão do ombro após a alta terapêutica 99

15. Pereira Alessandra. Estudo comprova eficácia de RPG - Resultados da Reeducação Postural Global são
superiores aos do método convencional tanto no alívio da dor quanto na melhora da postura. Jornal
da Paulista [periódico na Internet] 2003 Abr [acesso em 25 de junho de 2005]; 16 (178). Disponível em
http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed178/pesquisa7.htm.
16. Cupani Gabriela. O corpo no eixo - A Reeducação Postural Global alivia as dores nas costas ao cortar
este mal pela raiz: a má postura, que acaba desalinhando os músculos. Revista Saúde [periódico na
Internet]. 2003 Jul [acesso em 25 de junho de 2005]; (08) 2003 Disponível em: http://www.sbrpg.com.br/
publica08.asp.

Recebido em: 09/08/2005


Received in: 08/09/2005

Aprovado em: 20/02/2006


Approved in: 02/20/2006

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 93-99, jan./mar., 2007


100
101

HIDROTERAPIA E QUALIDADE DE VIDA DE UM


PORTADOR DE ARTRITE REUMATÓIDE JUVENIL –
ESTUDO DE CASO
Hydrotherapy and health survey in a child with juvenile
idiopathic arthritis – Case’s Report

Fernanda Censoni Santoni


Fisioterapeuta Graduada pelo Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, Araraquara – SP.

Silvana C. Pereira de Freitas


Fisioterapeuta Graduada pelo Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, Araraquara – SP.

Jussara de Oliveira
Docente do Curso de Fisioterapia, Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde, Centro Universitário de Araraquara -
UNIARA, Araraquara – SP.

Raquel Agnelli Mesquita


Docente do Curso de Fisioterapia e do Mestrado em Reabilitação – UNINOVE, Diretoria da Saúde, São Paulo – SP.
e-mail: raquelmesquita@hotmail.com

Resumo

Introdução: A Artrite Reumatóide Juvenil é uma patologia crônica auto-imune, que afeta o tecido
conjuntivo, sendo caracterizada por dor articular, rigidez e fadiga, havendo inflamação contínua nas
articulações afetadas. Para que haja bom resultado no tratamento da ARJ, é necessário um diagnóstico
precoce e a imediata intervenção fisioterápica. Objetivo: Avaliar a capacidade funcional e a qualidade
de vida de uma criança portadora de ARJ submetida a um programa de hidroterapia, pelo questionário
SF-36. Metodologia: O estudo teve a participação de um voluntário portador de ARJ, idade de 5 anos,
avaliado no início e no final do tratamento utilizando métodos quantitativos (amplitude de movimento
articular, força muscular, entre outros) e qualitativos, como o questionário de qualidade de vida SF-
36, adaptado ao paciente estudado. O tratamento consistiu de duas sessões semanais de hidroterapia,
com duração de uma hora, totalizando 10 sessões. Em cada sessão, foram executados exercícios de
amplitude de movimento e resistência especialmente para membros inferiores. Resultados: Pelos
dados obtidos, foi observada a melhora da amplitude de movimento de joelho, quadril e tornozelo,
redução da semiflexão de joelho adotada pelo paciente na posição ortostática, melhora da
flexibilidade muscular (reto femoral e isquiotibiais), redução dos valores de cirtometria em membros
inferiores e melhora na capacidade funcional, dor, estado geral de saúde e vitalidade (SF-36).
Conclusão: A hidroterapia promoveu melhora significante na funcionalidade e qualidade de vida
da criança portadora de artrite reumatóide juvenil.

Palavras-chave: Artrite reumatóide juvenil; Qualidade de vida; Hidroterapia; SF-36; Tratamento.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


102 Fernanda Censoni Santoni, Silvana C. Pereira de Freitas, Jussara de Oliveira, Raquel Agnelli Mesquita

Abstract

Introduction: Juvenile Rheumatoid Arthritis is a chronic auto immune disease that affects
conjunctive tissue characterized by joint pain and swilling, rigidity, fatigue and continuous
inflammation in joints. For a good prognostic it’s necessary the initiation of effective therapy,
especially physical therapy. Objective: The aim of this work was evaluation of the functional
capacity and health quality of a child with juvenile idiopathic arthritis (JIA). Methods: This
study had the participation of one male voluntary child with JIA diagnosis with age of five years
old. This voluntary was submitted to a hydrotherapy program divided in one hour sessions, two
times a week, in a total of 10 sessions. In each session, exercises to improve the range of motion
(ROM) and resistance, especially to the inferior members, were executed. Results: The
hydrotherapy improved the ROM in hip, knee and ankle. The posture evaluation showed a
reduction in maintained flexion of the knees. The treatment also improved the muscle flexibility
(hamstring and rectus femoris) and cirtometric values of legs. In the health quality evolution (SF-
36), it was observed an improved in functional capacity, pain, general state of health and vitality.
Conclusion: The hydrotherapy had significant results like improvement in the functionality and
life’s quality of a child with Juvenile Rheumatoid Arthritis.

Keywords: Juvenile idiopathic arthritis; Health quality; Hydrotherapy; SF-36; Treatment.

INTRODUÇÃO
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, as doenças reumáticas podem ser definidas
como um grande grupo de diferentes patologias que têm em comum o comprometimento do sistema
musculoesquelético.
Dentre as doenças reumáticas, destaca-se a Artrite Reumatóide (AR), uma patologia crônica
sistêmica, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor articular, rigidez e fadiga, havendo inflamação
contínua nas articulações. Com a evolução, ocorre o envolvimento de um número crescente de articulações,
havendo predileção pelas mãos, pés e punhos, geralmente num padrão simétrico (1).
Uma das formas de AR é a denominada Artrite Reumatóide Juvenil (ARJ), uma patologia
crônica auto-imune, que afeta o tecido conjuntivo. Diferentemente de sua forma adulta, acomete crianças
menores de 16 anos de idade, persistindo por no mínimo 6 semanas, em pelo menos uma articulação. É
caracterizada por dor articular e edema, podendo progredir para comprometimento da cartilagem e do
osso, resultando em perda de função e deformidades articulares (2, 3, 4).
Assim como na AR, essa patologia acomete indivíduos de qualquer raça, com predominância
do sexo feminino de 3:1. A etiologia e patogênese da ARJ permanecem desconhecidas. Como ocorre na AR
em adultos, a presença de antígeno de histocompatibilidade (HLA) pode ser um importante fator relacionado
à suscetibilidade genética. Diferente da forma adulta, apenas uma minoria (10 a 20%) dos pacientes com
ARJ são positivos para o fator reumatóide (FR), anticorpo (Ac) que reage contra o fragmento Fc da IgG,
sendo que todos esses pacientes têm a patologia com surgimento poliarticular (5).
A ARJ pode ser dividida em três subtipos. A forma mais comum de ARJ é a Oligoarticular,
constituindo mais da metade dos casos, sendo afetadas até 4 articulações, principalmente as grandes, com
maior freqüência no joelho, podendo envolver cotovelos e tornozelos, de modo assimétrico. Os sintomas
articulares nesses indivíduos são brandos e seu surgimento é insidioso. A patologia não-diagnosticada ou
não-tratada pode resultar em atrofia muscular, contraturas articulares e distúrbios no crescimento (6).
A forma Poliarticular representa 30 a 40% dos pacientes com ARJ, sendo observada principalmente
em meninas, com envolvimento de mais de 4 articulações, grandes ou pequenas. Quando os pacientes
apresentam FR sérico, sofrem uma artropatia destrutiva persistente e exibem nódulos reumatóides subcutâneos
associados. Em relação aos sintomas, seu surgimento é gradual, ocorrendo redução da atividade, rigidez

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


Hidroterapia e qualidade de vida de um portador de artrite reumatóide juvenil – estudo de caso 103

matinal, edema nas articulações e ocasionalmente dores articulares. O exame revela sinovite proliferativa
e efusões com freqüente perda nos movimentos das articulações (1).
O surgimento do terceiro subtipo da ARJ, o Sistêmico, ocorre em 10 a 20% dos casos, com
manifestações de febre alta com padrão irregular, mal-estar e exantema. Quase todos os pacientes apresentam-
se com adenopatia e hepatoesplenomegalia. Outras manifestações sistêmicas podem ser pericardite,
miocardite, efusão pleural e doença pulmonar intersticial (1, 7).
A ARJ tem um prognóstico bastante variável, dependendo de diversos fatores, além do tipo de
manifestação. Sinas que evidenciam a possibilidade de melhor evolução da patologia são pouca idade e
sexo masculino (3).
Para que haja bom resultado no tratamento da ARJ, é necessário um diagnóstico precoce e a
imediata intervenção fisioterápica.
Na fase aguda da patologia, a criança comumente apresentará dor, tumefação, febre, mal-estar
geral e limitação funcional e os principais objetivos do tratamento fisioterápico serão controlar a inflamação
e a dor, evitar rigidez articular e atrofias musculares, preservar e melhorar a mobilidade articular e força
muscular e prevenir deformidades (8).
Posteriormente, nas fases subaguda e crônica, será importante a prevenção das agudizações,
correção das deformidades e recuperação do tônus muscular. Para alcançar tais objetivos, além do tratamento
postural, serão usadas órteses de correção e os alongamentos em todas as articulações que apresentem
retrações de partes moles (5, 8).
Dentre os recursos disponíveis para os portadores de ARJ, pode-se citar a hidroterapia, que se
destaca por aliar as propriedades físicas da água aos benefícios de redução da dor e da rigidez articular,
aumento da extensibilidade das fibras de colágeno e alívio dos espasmos musculares (9, 10, 11, 12).
Frente a todos estes dados apresentados, fica evidente a necessidade de ampliar os
conhecimentos acerca dos tratamentos utilizados na ARJ com a aplicação de hidroterapia, uma vez que as
pesquisas nesta área são escassas. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a influência da hidroterapia
na capacidade funcional e qualidade de vida de uma criança portadora de ARJ.

METODOLOGIA
Um voluntário, M.R.S., 5 anos, do sexo masculino, portador de ARJ classificada como
Oligoarticular, foi submetido à avaliação fisioterapêutica, sendo avaliado por métodos quantitativos, incluindo
testes de amplitude de movimento articular (ADM), de força muscular, de flexibilidade, cirtometria de
membros inferiores e também por métodos qualitativos, como anamnese, inspeção, palpação, avaliação da
marcha e avaliação postural. Para avaliação da qualidade de vida desta criança, foi aplicado o questionário
de qualidade de vida SF- 36, adaptado à faixa etária do paciente estudado. Em função de tratar-se de uma
criança, o questionário foi aplicado a sua mãe.
O SF-36 (The Medical Outcomes Study 36 – item Short-Form) é formado por 36 itens, reunidos
em dois grandes componentes, denominados físico e mental. Esses componentes são formados por quatro
domínios, que, por sua vez, constituem-se de itens que avaliam uma mesma área da vida dos pacientes. O
componente físico é composto pelos seguintes domínios: capacidade funcional (10 itens), aspectos físicos
(4 itens), dor (2 itens) e estado geral de saúde (5 itens); o componente mental abrange domínios como
vitalidade (4 itens), aspectos sociais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens) e saúde mental (5 itens) (13,
14, 15, 16, 17).
Após esta avaliação, este paciente iniciou um tratamento utilizando hidroterapia, na Clínica de
Fisioterapia da UNIARA, consistindo de duas sessões semanais, com duração de 1 hora, totalizando 10
sessões. Em cada sessão, foram realizadas atividades de aquecimento (exercícios de caminhada ou bicicleta
com uso de espaguetes), alongamentos (passivos e ativo-assistidos), exercícios resistidos (com uso de
flutuadores como espaguetes, alteres, pranchas e palmares, além da resistência do terapeuta e da própria
água), relaxamento (com uso de flutuadores de cinturas e espaguetes) e atividades lúdicas, como jogo de
bola, brinquedos e natação.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


104 Fernanda Censoni Santoni, Silvana C. Pereira de Freitas, Jussara de Oliveira, Raquel Agnelli Mesquita

Ao término do tratamento, o paciente foi reavaliado, utilizando-se dos mesmos critérios de


avaliação do início da terapia. Os dados coletados foram então comparados com os iniciais, a fim de
determinar a evolução do paciente com o tratamento de hidroterapia proposto.
A mãe do paciente, na condição de responsável por ele, assinou um termo de consentimento
no qual declarou estar ciente da pesquisa e de seus objetivos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Centro Universitário de Araraquara (protocolo n° 226/04).

RESULTADOS
Pelos dados de amplitude de movimento obtidos com a evolução do estudo, foi possível
observar que após o tratamento fisioterapêutico, houve melhora na amplitude de movimento de flexão e
extensão de joelho e flexão de quadril, e melhora ainda mais significativa na flexão plantar de tornozelo.
Já a amplitude de movimento de extensão de quadril e dorsiflexão de tornozelo mantiveram-se sem
grandes alterações (Figura 1).

FIGURA 1 - Verificação da amplitude de movimento de membros


inferiores com a evolução do tratamento, medida em
graus

Na avaliação postural final, observou-se redução da semiflexão dos joelhos adotada pelo
paciente na posição ortostática.
Em relação à força muscular, não houve alterações ao término do programa de tratamento, uma
vez que o paciente não apresentava déficit de força no início do tratamento ao Teste Muscular Manual.
Diante dos dados obtidos na cirtometria dos membros inferiores, foi possível observar uma
tendência à redução dos valores obtidos, especialmente com relação ao membro inferior direito, como
mostra a Figura 2.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


Hidroterapia e qualidade de vida de um portador de artrite reumatóide juvenil – estudo de caso 105

FIGURA 2 - Valores de dados da cirtometria de membro inferior


direito ao início e término do tratamento

A Figura 3 representa a flexibilidade avaliada ao início e ao término do tratamento e evidencia


a melhora da flexibilidade dos músculos isquiotibiais e reto-femoral em ambos os membros inferiores, não
havendo alterações nos músculos flexores e abdutores de quadril, uma vez que estes não apresentaram
encurtamentos no início do tratamento.

FIGURA 3 - Avaliação da Flexibilidade da Musculatura de Membros


Inferiores ao início e término do tratamento

Com a aplicação do questionário de qualidade de vida SF36, no início e ao término do tratamento


fisioterapêutico proposto, foi possível verificar melhora de 23,8% na Capacidade Funcional, 84% na Dor,
14% no Estado Geral de Saúde e 4% na Vitalidade. Contudo, os itens Aspectos Físicos, Aspectos Sociais,
Aspectos Emocionais e Saúde Mental não se alteraram com o tratamento (Figura 4).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


106 Fernanda Censoni Santoni, Silvana C. Pereira de Freitas, Jussara de Oliveira, Raquel Agnelli Mesquita

FIGURA 4 - Avaliação da Qualidade de Vida por meio do SF-36, ao início e término do tratamento

DISCUSSÃO
O paciente portador de artrite reumatóide juvenil selecionado para o presente estudo apresentou
no início do tratamento um quadro característico da ARJ com dor articular principalmente nos joelhos e
tornozelos, edema e fadiga, com padrão de marcha eventualmente alterado pelos sintomas álgicos.
Dentre os três subtipos existentes, o paciente estudado encaixa-se no tipo Oligoarticular
que, segundo Roberto et al. (6), constitui mais da metade dos casos, sendo afetadas até quatro articulações,
principalmente as grandes, geralmente com predileção pelo joelho, na maioria dos casos com sintomas
brandos e início insidioso.
Observando-se os dados obtidos no estudo, pode-se notar que o protocolo de hidroterapia
proposto parece ter causado redução do edema articular (dados confirmados na cirtometria), além da
melhora da flexibilidade dos músculos isquiotibiais e reto femoral, que se encontravam encurtados o início
do tratamento. Observou-se melhora também na amplitude de movimento dos membros inferiores, mostrando
um resultado ainda mais evidente na flexão plantar dos tornozelos. Esses dados vão ao encontro dos
achados de Becker (9) e Campion (10), que afirmam que a hidroterapia destaca-se por aliar as propriedades
físicas da água, como o empuxo, a absorção e o calor, proporcionando ao paciente redução da dor e
edema articular, aumento da força muscular e da amplitude de movimento articular e ganho de capacidade
funcional, sendo também um ambiente confortável de relaxamento.
A utilização do questionário de qualidade de vida SF-36 antes e ao término do tratamento
proposto mostrou uma significante melhora na qualidade de vida da criança estudada, principalmente nos
itens de Capacidade Funcional, Dor, Vitalidade e Estado Geral de Saúde, o que nos faz acreditar que a
hidroterapia foi responsável por uma melhora global na qualidade de vida do paciente em questão.
A versão do questionário SF-36 adaptada às crianças possibilita, com vantagem, o uso deste
instrumento para a avaliação da qualidade de vida de portadores de artrite crônica na fase da infância.
Confirmou-se no presente estudo a aplicabilidade do questionário avaliando o perfil da qualidade de vida
em diversos aspectos, de acordo com a percepção dos pais (18). Segundo Brasil (12), o efeito completo da
artrite sobre o paciente e o seu prognóstico não é inteiramente captado sem o uso de um instrumento
genérico de avaliação da qualidade de vida.
É de extrema importância destacar que no estudo em questão, diversas vezes deparou-se
com a falta de colaboração por parte da criança, que eventualmente encontrava-se dispersa, agitada e
pouco colaborativa.
Vale também ressaltar que o programa de tratamento escolhido adapta-se bem a pacientes
dessa faixa etária, uma vez que a água é um ambiente agradável, o que possibilita melhor adesão ao
tratamento.
Frente aos achados do presente trabalho, sugerimos a realização de novos estudos utilizando
diferentes modalidades terapêuticas, abrangendo um número maior de indivíduos como amostra, além de
um tempo tratamento mais prolongado, para que os resultados obtidos sejam mais significantes e de maior
confiabilidade.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


Hidroterapia e qualidade de vida de um portador de artrite reumatóide juvenil – estudo de caso 107

CONCLUSÃO

Assim, conclui-se que a hidroterapia possibilitou melhora na capacidade funcional (flexibilidade,


ADM, edema, dor) e qualidade de vida de um portador de Artrite Reumatóide Juvenil. Além disso, ficou
evidente que o SF-36 é um instrumento importante, que pode ser aliado aos exames clínicos convencionais
na avaliação de crianças com patologias reumáticas.

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Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


108 Fernanda Censoni Santoni, Silvana C. Pereira de Freitas, Jussara de Oliveira, Raquel Agnelli Mesquita

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Fisioterapia da Universidade de São Paulo. 2002; 9(2):63-68.

Recebido em: 17/12/2004


Received in: 12/17/2004

Aprovado em: 09/04/2005


Approved in: 04/09/2005

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 101-108, jan./mar., 2007


109

LOCOMOÇÃO E DESEMPENHO COGNITIVO EM IDOSOS


INSTITUCIONALIZADOS COM DEMÊNCIA

Locomotion and Cognitive Performance of Institutionalized


Elderly People with Dementia

Merlyn Mércia Oliani


Profa do Curso de Ed. Física da UNIFADRA/Dracena-SP, Mestranda em Ciências da Motricidade pela UNESP/Rio Claro - SP.
e-mail: meloliani@yahoo.com.br

Gustavo Christofoletti
Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Motricidade pela UNESP/Rio Claro - SP.
e-mail: Gustavo_physio@yahoo.com.br

Florindo Stella
Prof. Dr. da UNESP/Rio Claro-SP e Coordenador do Ambulatório de Psiquiatria Geriátrica da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). e-mail: fstella@rc.unesp.br

Lilian Teresa Bucken Gobbi


Profa Dra da UNESP/Rio Claro-SP e Coordenadora do Laboratório de Estudos da Postura e Locomoção (LEPLO).
e-mail: itbgobbi@rc.unesp.br

Sebastião Gobbi
Prof. Dr. da UNESP/Rio Claro-SP e Coordenador do Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento (LAFE).
e-mail: sgobbi@.rc.unesp.br

Resumo

Comparar as funções cognitivas de idosos demenciados e institucionalizados que caminham de forma


independente com as de idosos dependentes de cadeira de rodas para a locomoção. Materiais e
Métodos: Participaram do estudo 22 idosos de ambos os sexos (idade média de 75,6±9,5 anos e
escolaridade de 4,8±5,2 anos), com diagnóstico de demência provável, segundo os critérios do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), com nível de gravidade avançado,
classificado de acordo com o Escore Clínico de Demência (CDR). Os sujeitos foram divididos em dois
grupos: a) 11 idosos independentes; e b) 11 idosos cadeirantes. As funções cognitivas dos participantes
foram mensuradas por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Bateria Breve de Rastreio
Cognitivo (BBRC), Teste de Fluência Verbal e Teste do Desenho do Relógio. Para análise estatística,
utilizou-se o teste U-Mann Whitney, admitindo-se nível de significância de 5% (p<0,05). Resultados:
Nas variáveis: idade (UMW=46,0; p>0,05), escolaridade (UMW=59,0; p>0,05) e no MEEM (UMW=38,0;
p>0,05) não houve diferença significativa entre os grupos. No entanto, com relação à BBRC (UMW=18,5;
p<0,01), Teste de Fluência Verbal (UMW=22,0; p<0,05) e Teste do Desenho do Relógio (UMW=15,5;
p<0,01), observaram-se diferenças significativas entre os idosos independentes e os idosos cadeirantes.
Conclusão: Os dados encontrados demonstraram que idosos independentes para locomoção
apresentam melhor desempenho cognitivo quando comparados com idosos cadeirantes. Se a adoção
de estratégias que propiciem aos idosos cadeirantes condições para um melhor desempenho motor
poderia minimizar o declínio cognitivo, permanece ainda uma questão a ser respondida.

Palavras-chave: Demência; Funções cognitivas; Atividade motora; Locomoção.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 109-114, jan./mar., 2007


110 Merlyn Mércia Oliani et al.

Abstract

To compare the cognitive functions of institutionalized elderly people with dementia that walk
independently forms those who use wheelchair. Methods: This study was composed by 22
institutionalized old people, male and female, with moderate or severe dementia according to
Diagnostic and Statistical Manual (DSM-IV) and Score Clinic Dementia (CDR), aged with 75.6
± 9.5 and scholarity of 4.8 years. The subjects were divided in two groups: a) 11 subjects able to
walk by himselves (group 1) and b) 11 old people dependents by wheelchair (group 2). The
cognitive functions were evaluated by means of the Mini-Mental State Examination (MMSE),
the Brief Cognitive Screening Battery (BCSB), the Verbal Fluency Test and the Clock Drawing
Test. To analyse the data the U-Mann Whitney test was applied, with 95% of confidence level.
Results: U-Mann Whitney test pointed no significant differences between the groups to age
(UMW=46,0; p>0,05) and scholarity (UMW=59,0; p>0,05). It was observed a statistically
difference between groups in the BCSB (UMW=18,5; p<0,01), the Verbal Fluency Test
(UMW=22,0; p<0,05), and the Clock Drawing Test UMW=15,5; p<0,01) in favor to walkers
(group 1). Neverthless, this difference is not verified in the MMSE (UMW=38,0; p>0,05).
Conclusion: The data showed that elderly people that walk independently have better cognitive
performance when compared to those that use wheelchair. If the adoption of strategies that
propitiates the non-locomotion olders conditions for a better motor performance could minimize
the cognitive decline, still remains an question to be answered.

Keywords: Dementia; Cognitive functions; Motor activity; Locomotion.

INTRODUÇÃO
As demências são patologias caracterizadas, sobretudo, por sintomas relacionados ao declínio
progressivo de memória, atenção e concentração, raciocínio lógico e alterações de personalidade, humor
e comportamento (1). Tais eventos podem afetar o controle postural padrão, a velocidade, o ritmo e a
freqüência da marcha do idoso com demência (2, 3).
Inúmeros são os fatores de risco que podem acarretar doenças demenciantes, entre os quais,
destacam-se a idade (alterações nos genes das pré-senilinas), história familiar, polimorfismo da
apolipoproteína do alelo e baixa escolaridade, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, cardiopatias e
doenças cerebrovasculares (4). Com a evolução do quadro clínico, observam-se perdas cerebrais irreversíveis
que causam diversos distúrbios neuropsiquiátricos, como delírios, alucinações, agressividade, irritabilidade,
depressão, alterações do sono e agitação, que são responsáveis, na maioria dos casos, pela institucionalização
do paciente (5).
O ato de caminhar de forma independente requer processamentos cognitivos e motores cujos
mecanismos envolvidos estão relacionados aos recursos atencionais, funções executivas e aos sistemas
sensorial e musculoesquelético (6, 7). Deste modo, a locomoção depende da funcionalidade desses processos
sob a regência de estruturas cerebrais superiores, comumente comprometidas nas demências (8).
É de consenso na literatura que a locomoção é um fator diretamente relacionado à preservação
da independência física, realização das atividades da vida diária e interação social (9, 10). No entanto, em
relação a idosos com diagnóstico de demência, alguns estudos apontam o comprometimento motor como
conseqüência de estágios mais avançados (4), enquanto outros defendem que a dependência não é resultante
somente do declínio cognitivo acentuado, mas também da existência de outros fatores associados, como
doenças debilitantes e acidentes vasculares encefálicos (2).
Diante disso, o objetivo do estudo consistiu em comparar as funções cognitivas de dois grupos
de idosos institucionalizados com demência: um grupo que caminhava de forma independente e o outro
dependente de cadeira de rodas para a locomoção.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 109-114, jan./mar., 2007


Locomoção e desempenho cognitivo em idosos institucionalizados com demência 111

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo, com delineamento transversal, investigou 22 idosos institucionalizados de


ambos os sexos (idade média de 75,6±9,5 anos e escolaridade de 4,8±5,2 anos), com diagnóstico de
demência segundo os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) (11),
com nível de gravidade moderado ou avançado, classificado de acordo com o Escore Clínico de Demência
(CDR) (12). Os sujeitos foram divididos em dois grupos: a) 11 idosos independentes; e b) 11 idosos
cadeirantes. As funções cognitivas dos participantes foram mensuradas por meio do Mini Exame do Estado
Mental (MEEM) (13), Bateria Breve de Rastreio Cognitivo (BBRC) (14, 15), Teste de Fluência Verbal (16) e
Teste do Desenho do Relógio (17).
O MEEM é um instrumento de rastreio cognitivo composto por questões agrupadas em sete
categorias, cada uma delas planejada com o objetivo de se avaliarem funções cognitivas específicas. São
elas: orientação para tempo, orientação para local, registro de três palavras, atenção e cálculo, evocação
das três palavras registradas, linguagem e praxia vísuo-construtiva. Seu escore varia de 0 a 30 pontos,
sendo que valores mais baixos apontam para possível déficit cognitivo.
A BBRC também é um instrumento de rastreio que mensura processos cognitivos, especialmente,
memória. Ela consiste na apresentação, ao sujeito, de 10 figuras comuns (sapato, colher, pente, árvore,
tartaruga, chave, avião, casa, livro e balde). Estes objetos devem ser nomeados pelo sujeito (identificação/
nomeação), e imediatamente é solicitado a ele que evoque cada um, sem que lhe seja informado que os
objetos deveriam ser memorizados (memória incidental). A seguir, as figuras são reapresentadas e é solicitado
ao sujeito que as memorize (memória imediata), procedimento que é repetido (memória de aprendizagem).
Novamente, as figuras são reapresentadas ao sujeito, com orientação para memorizá-las e evocá-las
posteriormente, após 5 minutos. Antes desta evocação, no entanto, o aplicador introduz dois testes que
servem como distratores, além de serem instrumentos importantes para a avaliação de outras funções
cognitivas. São eles: o Teste de Fluência Verbal e o Teste do Desenho do Relógio. Após estes dois testes,
solicita-se ao sujeito que evoque as figuras apresentadas anteriormente (memória de 5 minutos). Finalmente,
as 10 figuras são reapresentadas juntamente com outras 10, e o participante deverá reconhecer as figuras
originalmente apresentadas (reconhecimento). Aos escores de cada item é aplicada uma equação matemática
de integração desses dados, sendo que pontuação igual ou superior a 30 indica possível quadro demencial.
O Teste de Fluência Verbal é um instrumento simples, caracterizado pela capacidade de
nomeação pelo sujeito do maior número possível de animais durante um minuto. Este teste avalia atenção,
memória semântica e principalmente linguagem. O Teste do Desenho do Relógio compreende a tarefa de
desenhar um relógio com a inserção dos ponteiros marcando 2h45. Este teste avalia funções executivas
(planejamento, seqüência lógica, capacidade de abstração, flexibilidade mental e monitoramento de
execução), atenção concentrada, organização vísuo-espacial, praxia visuoconstrutiva, coordenação
psicomotora e memória recente.
O procedimento estatístico adotado consistiu na utilização da análise descritiva dos dados
(média e desvio-padrão) e do teste não-paramétrico U-Mann Whitney, para se compararem os valores dos
testes cognitivos obtidos pelos dois grupos. Admitiu-se nível de significância de 5% (p<0,05).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Paulista –
UNESP/Rio Claro (protocolo no 4494). Todos os participantes e seus responsáveis assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, baseado na resolução 196/96 do Ministério da Saúde.

RESULTADOS

O grupo dos idosos independentes foi constituído por 11 participantes, com idade média de
77,7±9,2 anos e com escolaridade de 4,6±4,9 anos. O grupo de idosos cadeirantes, também composto por 11
sujeitos, apresentou idade média de 73,4±9,7 anos e escolaridade de 4,9±5,4 anos. Por meio do teste U-Mann
Whitney não foi observada diferença significativa em relação à idade (UMW=46,0; p>0,05) e à escolaridade
(UMW=59,0; p>0,05), indicando que tais variáveis não influenciaram os resultados da avaliação cognitiva.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 109-114, jan./mar., 2007


112 Merlyn Mércia Oliani et al.

Os escores médios obtidos com os idosos independentes no MEEM foi de 20,1±1,5, na BBRC
67,2±11,1, no Teste de Fluência Verbal 11,5±1,2 e no Teste do Desenho do Relógio 3,9±0,8. Em relação aos
idosos cadeirantes, a média dos valores foi de 15,6±2,2 no MEEM; 90,7±6,0 na BBRC; 5,2±1,6 no Teste de
Fluência Verbal, e 0,6±0,3 no Teste do Desenho do Relógio.
Ambos os grupos apresentaram escores, nestes testes, compatíveis com o quadro demencial,
mais acentuado no grupo de idosos cadeirantes. Teste U-Mann Whitney apontou diferença significativa
entre esses grupos para: BBRC (UMW=18,5; p<0,01), Teste de Fluência Verbal (UMW=22,0; p<0,05) e Teste
do Desenho do Relógio (UMW=15,5; p<0,01). No entanto, não foi constatada diferença estatisticamente
significativa no MEEM (UMW=38,0; p>0,05) entre os grupos (Figura 1).

FIGURA 1 - Média e desvio-padrão dos testes cognitivos: Mini Exame do Estado


Mental (MEEM), Bateria Breve de Rastreio Cognitivo (BBRC), Teste
de Fluência Verbal (TFV) e Teste do Desenho do Relógio (TDR) dos
idosos independentes para locomoção (G1) e dos idosos cadeirantes
(G2)

DISCUSSÃO
Os dados do estudo indicam diferenças significativas nas funções cognitivas entre idosos
independentes e idosos cadeirantes. As funções cognitivas dos idosos independentes encontram-se mais
preservadas em comparação com as dos idosos cadeirantes na BBRC, Teste de Fluência Verbal e Teste do
Desenho do Relógio. A análise estatística não apontou diferença significativa do MEEM nos dois grupos,
porém constatou-se tendência de maior comprometimento nos idosos cadeirantes, quando comparados
com os idosos independentes.
Christofoletti et al. (18) analisaram a influência do MEEM e da BBRC na escolaridade de 176
idosos, divididos em moradores da comunidade cognitivamente preservados e indivíduos moradores em
casas de longa permanência com diagnóstico de demência. Esses autores obtiveram dados semelhantes
aos de outro estudo que demonstrou a pouca influência da escolaridade nos dados da BBRC, diferentemente
do que ocorre com a influência da escolaridade nos escores do MEEM (15), confirmando que a BBRC sofre
pouca influência da escolaridade. Assim, a BBRC constitui-se em um instrumento útil para o rastreio
cognitivo em nosso meio, cuja população idosa tem pouca escolaridade.
Em relação ao Teste de Fluência Verbal, o menor desempenho dos idosos cadeirantes talvez
esteja relacionada com lesões corticais mais freqüentes e mais acentuada. Segundo um estudo de meta-
análise com 15.990 idosos demenciados e idosos que não apresentavam patologias neuropsiquiátricas, o
comprometimento da fluência verbal indicou déficits em memória semântica e funções executivas (além
de lesões corticais específicas). Essas alterações cognitivas foram associadas a lesões corticais específicas

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 109-114, jan./mar., 2007


Locomoção e desempenho cognitivo em idosos institucionalizados com demência 113

(19). O desempenho no Teste Desenho do Relógio de ambos os grupos mostrou disfunções cerebrais
importantes. Contudo, os déficits obtidos com os idosos cadeirantes indicaram maior comprometimento.
Tais déficits podem ser explicados como conseqüência do próprio quadro clínico, com progressivo
comprometimento de memória, atenção, funções executivas, praxia vísuo-construtiva e coordenação
psicomotora, bem com comprometimento de áreas e estruturas neuroanatômicas, entre eles, lobo frontal,
lobo temporal e hipocampo (20).
Alguns fatores preditores de demência, como lesões tromboembólicas, angiopatia amilóide,
acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, lesões extensas de substância branca são processos que
causam declínio abrupto e, comumente, acarretam grandes prejuízos motores e distúrbios neuropsiquiátricos
(21). Desse modo, o menor desempenho dos idosos cadeirantes, neste estudo, parece estar associado à
natureza do quadro demencial.
A estimulação motora no idoso pode diminuir morbidades, risco de diabetes e hipertensão,
aumentar massa muscular e densidade óssea, melhorando a realização das atividades da vida diária com
conseqüente diminuição do risco de quedas (22). Também são evidenciados benefícios na oxigenação e
fluxo sangüíneo cerebral, plasticidade neural, transmissão sináptica e produção de certos neurotransmissores,
como serotonina, acetilcolina, noradrenalina e dopamina (23).
Segundo recentes investigações, o idoso com demência que realiza algum tipo de atividade
motora, como caminhada ou ginástica, apresenta menores alterações de humor, sono e sintomas depressivos.
Com a diminuição desses distúrbios, os cuidadores destes pacientes também apresentam atenuação do
nível de ansiedade, depressão e estresse (24). Deste modo, a estimulação motora tem representado uma
estratégia não-farmacológica importante para o tratamento das doenças demenciantes.
Em conclusão, os dados encontrados demonstraram que idosos independentes para locomoção
apresentam melhor desempenho cognitivo quando comparados com idosos cadeirantes. Se a adoção de
estratégias que propiciem aos idosos cadeirantes condições para um melhor desempenho motor poderia
minimizar o declínio cognitivo permanece ainda uma questão a ser respondida.

AGRADECIMENTOS
CAPES, LAFE, PROFIT, FUNASA, FINEP, PROEX-UNESP, FUNDUNESP.

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Recebido em: 11/12/2006


Received in: 12/11/2006

Aprovado em: 25/04/2007


Approved in: 04/25/2007

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 109-114, jan./mar., 2007


115

ÍNDICE FUNCIONAL DE OSWESTRY APÓS CIRURGIA PARA


DESCOMPRESSÃO DE RAÍZES NERVOSAS

Oswestry Disability Index after Surgery for Decompression


of Nerve Roots

Maria Rita Masselli


Doutora em Ciências. Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT/UNESP, Departamento de Fisioterapia.
e-mail: mrm@fct.unesp.br

Cristina Elena Prado Teles Fregonesi


Doutora em Ciências Biológicas, Departamento de Fisioterapia, FCT/UNESP, Presidente Prudente - SP.
e-mail: cristina@fct.unesp.br

Claudia Regina Sgobbi de Faria


Doutora em Ciências, Departamento de Fisioterapia, FCT/UNESP, Presidente Prudente - SP.
e-mail: claudiasqfaria@terra.com.br

Manoel Ivanildo Silvestre Bezerra


Mestre em Estatística, Departamento de Matemática, FCT/UNESP, Presidente Prudente - SP.
e-mail: manoel@fct.unesp.br

Daniela Junges
Fisioterapeuta, graduada na UNESP/FCT. e-mail: danijunqes@yahoo.com.br

Tatiana Harumi Nishioka


Fisioterapeuta, graduada na UNESP/FCT. e-mail: thnishick@yahoo.com. Br

Resumo

Lombalgia com dor irradiada e sinais neurológicos é uma condição extremamente desafiadora para tratar.
O tratamento, a princípio, é conservador e envolve repouso, medicamentos e fisioterapia. Se o tratamento
conservador falhar, é improvável que ocorra resolução espontânea da crise e então a intervenção cirúrgica
deve ser considerada. O objetivo do presente trabalho foi analisar a evolução de pacientes que se
submeteram à cirurgia para correção de hérnia de disco e estenose foraminal no segmento lombar. Os
pacientes foram avaliados por meio do questionário de Oswestry para lombar, da escala visual analógica
de dor, dos reflexos patelar e aquileu e do flexímetro utilizado para mensuração da mobilidade da coluna.
As avaliações foram realizadas um, dois, três, seis e doze meses após a cirurgia e as medianas dos índices
de Oswestry foram de 44%, 24%, 14%, 16% e 10%, respectivamente. Os resultados nos mostram que as
evoluções dos pacientes não podem ser consideradas satisfatórias, pois a evolução é lenta e os pacientes,
ao final de um ano, apresentam disfunção e dor residual. Porém, é importante salientar que a intervenção
cirúrgica é realizada principalmente para aliviar a incapacitante dor ciática, porém a deficiência mecânica
decorrente da patologia discal permanece.

Palavras-chave: Dor Lombar; Hérnia discal; Cirurgia; Resultado de tratamento.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 115-122, jan./mar., 2007


116 Maria Rita Masselli et al.

Abstract

Low back pain with irradiated symptoms and neurological signs is a condition extremely challenging
to treat. At first, this kind of treatment is conservative when the patients must rest, take medicine and
do physiotherapy sections. If this conservative treatment fails, it is unlikely the symptoms disappear
by themselves, and then the surgical intervention will be considered. The aim of this study was to
analyze the evolution of patients who were undergone a surgery due to disc herniation and foraminal
stenosis correction in the low back segment. These patients were evaluated by the Oswestry disability
index for low back, the analogical visual scale of pain, patellar and ankle reflexes and fleximeter used
for mensuration of the of the spinal column mobility. The assessment were performed one, two, three,
six and twelve months after the surgery and the Oswestry index values were 44%, 24%, 14%, 16%
and 10% respectively. These results show that the patients evolution can not be considered good
because it is slow and after a year they have still had disfunction and some residual pain. Although
it is important to point out that surgical intervention is made to relieve the hard sciatical pain, but the
mecanical disfunctions caused by the disc disease still goes on.

Keywords: Low back pain; Lumbar disc herniation; Surgery; Outcome.

INTRODUÇÃO
As enfermidades da coluna vertebral acometem cerca de 80% da população e representam
importante causa de absenteísmo e de afastamento do trabalho, gerando grandes prejuízos para o indivíduo
e para a nação, já que é a terceira causa de afastamento pela previdência social brasileira (1). Quando o
afastamento perdura por mais de 2 anos, a maioria dos indivíduos não retorna às suas atividades (2).
Como as causas mais freqüentes de lombociatalgias são de natureza mecânico-degenerativa, sua
gênese tem origem em desordens estruturais, desvios biomecânicos, ou na interação desses dois fatores (1),
sendo que os indivíduos com maior risco são os que desempenham atividade laborativa de alto desgaste
físico, os que apresentam degeneração do anel fibroso (3) e os idosos (4).
Uma hérnia discal corresponde à ruptura do anel fibroso e, em alguns casos, do ligamento
longitudinal posterior, com deslocamento do material do núcleo pulposo para dentro do canal vertebral ou
para o interior do forame de conjugação. Antes do quadro agudo da hérnia discal se instalar, ocorrem
períodos variáveis de lombalgia. Esta lombalgia agrava-se até culminar em dor radicular intensa, que se
irradia no trajeto de distribuição periférica da raiz nervosa acometida (5, 6).
Inicialmente, o diagnóstico é feito pelo quadro clínico. Exames complementares trazem subsídios
para confirmação diagnóstica e localização precisa da hérnia (4, 6).
No estágio agudo da dor lombar (1 a 7 dias), o melhor tratamento parece ser não tratar (7), não
interferindo com o favorável curso natural da doença. Ainda de acordo com o referido autor, ficar acamado
ou realizar exercícios faz o paciente piorar e o melhor tratamento é manter o nível de atividade normal,
combinado com o retorno gradual ao trabalho. Na fase aguda da lombalgia, Kisner e Colby (8) sugerem que
deve ser encontrada uma posição funcional que alivie a dor, podendo ser esta de flexão ou de extensão da
coluna lombar ou uma tendência a não apoiar peso. Na fase subaguda (1 a 7 semanas), para Torstensen et al.
(7), há maior evidência da efetividade dos exercícios físicos e acredita-se que seja o melhor período para
completa avaliação e desenvolvimento do programa de tratamento para dor lombar, já que é neste período
em que a curva da história natural da doença começa a declinar. No estágio crônico (12 semanas ou mais),
há evidência científica (7) que vários programas de exercícios designados por fisioterapeutas são efetivos.
Aproximadamente 90% dos pacientes com doença articular degenerativa ou doença discal
degenerativa da coluna lombar se recuperam sem cirurgia. A eficácia do tratamento não-operatório pode
depender grandemente da natureza e da severidade dos sintomas do paciente e das alterações observadas
nas radiografias (9, 10, 11).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 115-122, jan./mar., 2007


Índice funcional de Oswestry após cirurgia para descompressão de raízes nervosas 117

O tratamento inicial deve ser sempre conservador (12) e se este falhar a intervenção cirúrgica
deve ser considerada. Os critérios eletivos para a cirurgia (13) são: a dor ciática e os sinais neurológicos
(parestesia, diminuição ou ausência dos reflexos e fraqueza muscular) progressivos. Em caráter de urgência,
quando há envolvimento neurológico da bexiga e intestino, além de casos de ataques recorrentes de
ciática que impedem o trabalho e a vida normal (12, 13).
O procedimento cirúrgico para o prolapso discal vem sendo praticado desde que Mixter e Barr
descobriram a ligação entre a ciática e a herniação de um disco lombar em 1934. Os procedimentos
cirúrgicos utilizados incluem a laminectomia (14), reposição do disco (15) e fusão vertebral, sendo que a
fusão vertebral é indicada em alguns casos nos quais há risco de instabilidade, evolução para artrose
interapofisária e defeito mecânico como resultado da inabilidade do disco degenerado em lidar com
sobrecargas, aumentando a tensão nos ligamentos e músculos que controlam aquele segmento (13).
Atualmente as cirurgias para hérnia de disco lombar vêm evoluindo no sentido de se tornarem
cada vez menos invasivas. Importância especial tem sido dada ao uso do microscópio cirúrgico e instrumental
para microcirurgia (16), cirurgias percutâneas e endoscópicas (17).
O objetivo principal do tratamento cirúrgico do prolapso discal é aliviar a incapacitante dor
ciática (13). Deve-se considerar que é puramente uma operação para aliviar a dor e a disfunção nervosa,
a qual, mesmo quando realizada satisfatoriamente, deixa a coluna lombar com uma deficiência mecânica
própria da doença discal (13, 5).
Pesquisas relatam a efetividade do tratamento cirúrgico em relação ao tratamento conservador
(18, 19). Contudo, em outras pesquisas, mostra-se igual progresso em ambos os tipos de tratamento (20) e
em outros estudos revelam resultados cirúrgicos não satisfatórios a longo prazo (21).
O desenvolvimento do Índice Funcional de Oswestry (I.F.O.) tem como objetivo detectar o
grau de disfunção dos indivíduos, com lombalgia, na realização das atividades de vida diária. O questionário,
pelo qual se obtém o índice, foi inicialmente utilizado por John O’Brien, em 1976, sendo publicado em
1980 e largamente disseminado a partir de 1981 (22), com alto grau de confiabilidade demonstrada em
pesquisas posteriores (23, 21).
Loupasis et al. (21), acompanhando pacientes submetidos à discectomia padrão, por 20 anos,
utilizando o questionário funcional de Oswestry como instrumento de medida, observou resultado
insatisfatório em mais do que um terço dos pacientes e mais do que um quarto se queixava de dor residual
significativa.
O presente estudo foi iniciado há dois anos, a partir de uma casuística de apenas dez pacientes
e por um período de 90 dias (24), o que suscitou a necessidade de continuar avaliando e cadastrando
novos pacientes para um seguimento em longo prazo.
O objetivo deste trabalho foi analisar a evolução, no decorrer de um ano, de pacientes que se
submeteram à cirurgia para descompressão de raízes nervosas no segmento lombar.

MATERIAL E MÉTODOS
A população acompanhada compreendeu 17 pacientes que se submeteram à cirurgia de
hérnia de disco, realizadas em três hospitais, durante o período compreendido entre 30 dias e 1 ano
após a data da cirurgia. O grupo consistiu de 6 mulheres e 11 homens, na faixa etária de 22 a 70
anos, com idade média de 44,5.
Os pacientes foram avaliados, num total de cinco etapas, após assinarem o Termo de
Consentimento. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual
Paulista, de acordo com a resolução 196/96. A primeira avaliação foi realizada 30 dias após a
cirurgia e repetida após 60 e 90 dias. A partir desta data, realizou-se a avaliação de 6 meses e 1 ano
de pós-operatório.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 115-122, jan./mar., 2007


118 Maria Rita Masselli et al.

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO

Índice Funcional de Oswestry lombar (25). A escala consiste de dez sessões que se referem às
atividades diárias que podem ser interrompidas ou prejudicadas pela lombalgia. Cada uma delas contém
seis afirmações, as quais, progressivamente, descrevem um maior grau de dificuldade na atividade que a
afirmação precedente. As afirmações são pontuadas de zero a cinco, dando pontuação máxima de 50. O
total de pontos é multiplicado por dois e expresso em forma de porcentagem. O I.F.O. pode ser completado
em menos de 5 minutos e pontuado em menos de 1 minuto (26). O grau de disfunção dado pelo I.F.O. é
classificado por nenhuma disfunção (0%), disfunção mínima (1 a 20%), disfunção moderada (21 a 40%),
disfunção severa (41 a 60%) e incapacidade (acima de 60%) (27).
O questionário de Oswestry ainda não foi validado no Brasil, mas no Departamento de
Enfermagem da UNICAMP, o projeto de validação do referido questionário está em andamento. Segundo
informações obtidas, estão seguindo as normas internacionais para a adaptação cultural do questionário,
que envolve: tradução, backtranslation, comitê de juizes, pré-teste, validação e confiabilidade.
Escala Visual Analógica de dor (E.V.A.). Consiste de uma linha horizontal com 10 cm de
comprimento e, nas extremidades, as expressões: sem dor, à esquerda e correspondendo ao zero e, muita
dor, à direita e correspondendo a 10. Para efeito de comparação com o Questionário Funcional de Oswestry,
apresentado em porcentagem, o número da escala foi multiplicado por 10.
Flexímetro1. Foi fixado na região lateral do tórax, na altura do processo xifóide. Com o leitor
do aparelho na posição zero, foi solicitado ao paciente executar os movimentos de flexão e extensão da
coluna lombar. Esses movimentos foram repetidos por 3 vezes, para certificar o valor obtido de amplitude.
O procedimento foi realizado com o paciente sentado, para que fosse isolado o movimento da coluna do
movimento pélvico.
Teste dos reflexos patelar e aquileu. O reflexo patelar foi averiguado com o paciente sentado,
com as pernas pendentes a 90º de flexão de joelho, sendo o estímulo dado sobre o tendão patelar por meio
do martelo neurológico2. O reflexo aquileu foi mensurado com o mesmo posicionamento do paciente, sendo
o pé mantido em posição neutra pelo terapeuta. O estímulo neste caso foi dado no tendão de Aquiles.
Nesta pesquisa de natureza prospectiva, os dados obtidos mediante a aplicação do índice de
Oswestry, da escala de dor e do flexímetro, foram analisados descritivamente por meio das medianas. Para
análise dos resultados (avaliações no decorrer do tempo de 30, 60, 90, 180 e 360 dias), utilizou-se um teste
não-paramétrico, pois as variáveis em estudo, Oswestry, EVA e mobilidade, não apresentam um
comportamento de uma distribuição normal (Gaussiana). Isso foi verificado utilizando-se o teste de
normalidade de Anderson-Darling, o qual rejeitou a normalidade dos dados. Portanto, como os dados não
têm distribuição normal e existem várias amostras relacionadas, foi utilizado o teste de Friedman para
comparações múltiplas (28).

RESULTADOS
Dos 17 pacientes avaliados, 9 foram inseridos no grupo de trabalhadores com alto desgaste
físico, enquanto os demais foram incluídos no grupo de trabalhadores de médio e baixo desgaste físico, de
acordo com a atividade profissional de cada paciente.
As medianas dos resultados do Índice Funcional de Oswestry (I.F.O.), o qual revela o grau de
disfunção dos indivíduos para realizarem suas atividades de vida diária (AVDs), no período até 360 dias
após a cirurgia, são apresentadas na Tabela 1. Com relação ao I.F.O., verificou-se uma melhora significativa
no decorrer do tempo (p<0,001), mais especificamente esta diferença ocorreu nos tempos: 30 e 60; 30 e 90;
30 e 180 e 30 e 360 dias.

1
Flexímetro: equipamento desenvolvido e fabricado no Brasil, sob patente e registro do Instituto Code de Pesquisa (Reg. Um
8320-3RJ).
2
Martelo Buck para reflexos, de 18 cm, fabricado por Profissional Hospital Furnishers, Paquistão.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 115-122, jan./mar., 2007


Índice funcional de Oswestry após cirurgia para descompressão de raízes nervosas 119

TABELA 1 - Medianas e Intervalo de 95% de Confiança do Índice Funcional de Oswestry (%) até 360 dias após a cirurgia

Período P.O. 30 60 90 180 360


Medianas 44 24 14 16 10
Intervalos de (34,0; 52,0) (18,0; 37,9) (10,0; 26,0) (2,0; 32,0) (2,0; 18,0)
Confiança

P.O.: pós-operatório.

As medianas dos resultados da escala visual analógica (E.V.A.) para o mesmo período são
apresentadas na Tabela 2. Com relação à E.V.A., não se verificou melhora significativa no decorrer do tempo.

TABELA 2 - Medianas e Intervalo de 95% de Confiança da Escala Visual Analógica (%) até 360 dias após a cirurgia

Período P.O. 30 60 90 180 360


Medianas 21 25 20 20 15
Intervalos de (12,1; 45,0) (15,1; 29,9) (10,0; 40,0) (5,0;29,9) (0,0; 39,5)
Confiança
P.O.: pós-operatório.

As amplitudes de movimento de flexão e extensão do segmento lombar da coluna vertebral,


mensuradas pelo flexímetro, no período de 30, 60, 90, 180 e 360 dias de pós-operatório, foram somadas
para obtenção da totalidade da amplitude de movimento da coluna lombar (Tabela 3).
TABELA 3 - Medianas e Intervalo de 95% de Confiança da Flexo-Extensão Lombar (graus) até 360 dias após a cirurgia

Período P.O. 30 60 90 180 360


Medianas 36 51 62,5 75 85
Intervalos de (18,5; 49,5) (37,8; 66,0) (52,0; 75,2) (66,3; 88,7) (71,6; 93,0)
Confiança
P.O.: pós-operatório.

Com relação à mobilidade, verificou-se uma melhora significativa no decorrer do tempo


(p<0,001), mais especificamente ao comparar a primeira avaliação (30 dias), com a quarta avaliação (180
dias) e também entre a primeira e a última avaliação.
A análise dos reflexos patelar e aquileu foi feita somente no membro inferior comprometido,
antes da cirurgia, sendo que para o período até 360 dias de pós-operatório, observou-se na maioria dos
pacientes boa recuperação de seus reflexos (Tabela 4).

TABELA 4 - Número de pacientes com resposta positiva aos reflexos patelar e aquileu, até 360 dias após a cirurgia

Período P.O. 30 60 90 180 360


Medianas 11 11 12 14 17
Intervalos de 8 9 8 8 15
Confiança
P.O.: pós-operatório.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 115-122, jan./mar., 2007


120 Maria Rita Masselli et al.

DISCUSSÃO

Nesse estudo, foram verificados aspectos da evolução de 17 pacientes que se submeteram à


cirurgia para descompressão de raízes nervosas.
Decorridos os 360 dias de pós-operatório, todos os pacientes que apresentavam grau de disfunção
severa encontravam-se no grupo de alto desgaste físico em sua atividade laborativa, sendo este mesmo
resultado observado em pesquisa, a qual relata que o grau de desgaste físico com relação ao trabalho antes
da cirurgia também influencia significativamente os resultados (21).
Ao analisar a relação entre o I.F.O. e a E.V.A. em 360 dias, pode-se observar que com o passar
do tempo, ocorre a melhora da dor e conseqüentemente a melhora da função, significando que estas são
diretamente relacionadas. Após 90 dias, a melhora observada foi muito pequena, pois os pacientes, neste
período, por conseguirem realizar maior número de atividades, acabavam se excedendo nestas, segundo
relatos dos próprios pacientes. Além disso, foi o período no qual a maioria já suspendera a medicação.
Após 180 dias, tanto o I.F.O. como a E.V.A. melhoraram um pouco, porém, na avaliação de 360
dias, a E.V.A. apresentava uma piora. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que quatro pacientes
apresentavam E.V.A. igual ou superior a 70%, e para eles estava sendo estudada a possibilidade de uma
segunda cirurgia.
Ao analisar a evolução do pós-operatório em pacientes com compressão de raiz nervosa,
observam-se controvérsias em relação ao tempo de recuperação funcional, pois esta pode ocorrer
principalmente entre 6 semanas e 6 meses (29) , ou até 2,8 anos após a cirurgia (30).
Ao comparar o I.F.O. e a E.V.A. entre homens e mulheres em 360 dias de P.O., observou-se
que não há diferença entre os sexos, porém esta diferença é encontrada em estudos que revelam que as
mulheres apresentam maior grau de disfunção do que os homens (21, 31).
A mobilidade lombar total de flexo-extensão dos pacientes avaliados neste estudo apresentou
melhora, com amplitude próxima do valor normal, que é de 95º. Esta melhora foi mais evidente 90 dias
após a cirurgia, quando há maior alívio da dor, em concordância com pesquisas que descrevem que
amplitude de movimento depende em parte da cooperação e do limiar de dor do paciente (32, 33).
A análise dos reflexos patelar e aquileu demonstra que há melhora proporcional entre eles até
90 dias de pós-operatório, sendo que após este período, ocorre um retorno mais rápido do reflexo patelar
em relação ao aquileu. Contudo, aos 360 dias de P.O., a maioria dos pacientes que apresentou déficit de
reflexos, recuperaram-nos completamente, resultado diferente dos encontrados em pesquisas nas quais o
retorno dos reflexos ocorre em até dois anos de pós-operatório (13, 9).
Weinstein (34) questiona a necessidade de operar hérnia de disco. Em estudo amplo, publicado
recentemente no The Journal of the American Medical Association, pesquisadores afirmam que pessoas
que sofreram rupturas de discos lombares geralmente se recuperam, quer passem por cirurgia ou tratamento
conservador. O estudo com seguimento de dois anos constatou que a cirurgia parece promover o alívio da
dor em menos tempo, mas que a maioria dos pacientes acaba se recuperando de qualquer maneira, com
o tempo, e que não há mal nenhum em esperar. Os resultados foram em certo sentido decepcionantes, de
acordo com o autor, pois todos esperavam que o estudo demonstrasse qual opção é melhor. Para o
pesquisador, a mensagem final é que, independentemente do procedimento adotado, ninguém piorou, e
isso era desconhecido antes do estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se, neste estudo, que com o passar do tempo, há melhora da dor, da função, da
mobilidade lombar e dos reflexos. Entretanto, a evolução pode ser considerada lenta na medida em que os
pacientes apresentavam queixa de dor e alguma disfunção residual um ano após a cirurgia. Publicações
dos protocolos de tratamento fisioterapêutico a partir do primeiro dia de pós-operatório de hérnia de disco
dos hospitais e clínicas especializadas são necessários para melhorar a evolução dos pacientes. Técnicas de
mobilização dos tecidos aplicadas precocemente podem prevenir as complicações comuns desta cirurgia.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 115-122, jan./mar., 2007


Índice funcional de Oswestry após cirurgia para descompressão de raízes nervosas 121

Os pacientes cadastrados continuam sendo avaliados periodicamente e os resultados serão publicados


oportunamente.

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Recebido em: 18/12/2006


Received in: 12/18/2006

Aprovado em: 13/04/2007


Approved in: 04/13/2007

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LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS EM ATLETAS


COMPETIDORES DA NATAÇÃO

Muscoloskeletal injuries in competitor athletes of swimming

Daniel Negreiros de Mello


Fisioterapeuta, Especialista em Osteopatia - CBES. Afiliado à Universidade de Guarulhos.
São Paulo - SP. e-mail: danielnegreiros@hotmail.com

Alexandre Sabbag da Silva


Fisioterapeuta, Mestre em Reabilitação – UNIFESP – EPM. Docente do Curso de Fisioterapia das Universidades Guarulhos e
São Marcos. São Paulo - SP. e-mail: alesabbag@bol.com.br

Fábio Rodrigues José


Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Esportiva - UNIFESP - EPM. Coordenador do Departamento de Fisioterapia FINASA
ESPORTES. Membro do laboratório de Biomecânica EEFE-USP. Docente do Curso de Fisioterapia, da Universidade
Bandeirantes. São Paulo - SP. e-mail: fabiorodriguesj@hotmail.com

Resumo

Objetivo: A proposta desse estudo é de documentar as lesões na natação competitiva. Material


e Métodos: Foram estudados, longitudinalmente, todos os atletas da natação que passaram pelo
departamento de reabilitação de um clube paulista (total de 63 atletas), de ambos os sexos, com
idade média de 18,5 anos, num período de 3,7 anos. Os dados referentes aos atletas e às lesões
ocorridas no período do estudo foram registrados pelo fisioterapeuta por meio de questionário e
levantamento dos prontuários médicos do setor. Resultados: Foram descritas 83 lesões em 63
atletas que fizeram parte desse estudo. Os membros superiores foram as regiões mais acometidas
por lesões, em principal a região do ombro, sendo tendinite/bursite os diagnósticos mais comuns.
Não foi possível a comparação entre o estilo de nado praticado e o tipo de lesão, bem como a
localização anatômica acometida, pois a maioria dos atletas nadava o estilo crawl em alguma fase
do treinamento. Conclusão: As sobrecargas deste esporte são mais visíveis na região do ombro,
área de maior freqüência de lesões encontradas nesse trabalho, exigindo programas intensivos de
prevenção e acompanhamento de atletas de competição na natação.

Palavras-chave: Lesões atléticas; Natação; Ombro do nadador.

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124 Daniel Negreiros de Mello, Alexandre Sabbag da Silva, Fábio Rodrigues José

Abstract

Objective: The purpose of this survey is to list injuries in competitive swimming. Material and
Methods: We have studied, longitudinally, all the swimming athletes that have passed by the
rehabilitation department of a club in São Paulo (total of 63 athletes), from both sexes, with the
medium age of 18.5 years old, during a period of 3.7 years. The data which refers to athletes and
injuries occured during the research, they have been registered by the physiotherapist thru a
questionnaire and a sector medical prontuary survey. Results: 83 injuries have been listed in
the 63 athletes that have participated in this survey. The upper limbs have been the most affected
by injuries, mainly the shoulder region, being the tendinitis/bursitis the most common diagnosis.
It was not possible to stablish a comparison between the swimming style and injury type, as well
as anatomical location affected , once the major part of athletes swum crawl style during a phase
his or her training. Conclusion: Swimming overloads are most observable in the shoulder region,
which is the area most affected by injuries finded in this assignement, requiring intensive
prevention programs and follow up for competitive swimming athletes.

Keywords: Athletic injuries; Swimming; Shoulder swimmer´s.

INTRODUÇÃO
A natação é um dos esportes mais populares do mundo e os povos são atraídos para ela na
busca por lazer, melhora da função cardiopulmonar ou por competição.
Atletas de elite são um caso à parte em relação a seus equivalentes esportistas recreacionais,
pois atuam dentro do esporte, no limite fisiológico entre o máximo da performance atlética e a lesão, e
esta barreira pode ser ultrapassada por inúmeras circunstâncias advindas dos esportes de alta
competitividade (1).
Segundo Carazzato (2), a necessidade da evidência e do sucesso impõe aos atletas uma
necessária e inevitável condição, em que são submetidos a esforços físicos e psíquicos muito próximos
de seus limites fisiológicos, expondo-os conseqüentemente a uma faixa de atividade física potencialmente
patológica, que é agravada pelos fatores pré-disponentes, pela somatotipologia, pela dinâmica do esporte
e pela não aplicabilidade de medidas preventivas, resultando em um alto número de lesões atléticas,
principalmente do aparelho locomotor, com gravidade variada e seqüelas, muitas vezes limitantes ou
incapacitantes.
A natação como esporte competitivo implica em elevadas demandas para o atleta quanto ao
tempo e carga de treinamento. Tais níveis de exigência geram um estresss considerável sobre as estruturas
articulares e musculoesqueléticas do indivíduo, as quais se associam a uma variada gama de lesões (3).
As lesões na natação foram descritas pela primeira vez em 1968, onde Councilman (4)
estudou a prevalência de lesões em nadadores de competição e identificou um maior acometimento do
ombro, com 37% do total, seguidas do joelho, com 28%, e do pé e do tornozelo, ambos com 19%. Relata
que as lesões musculoesqueléticas nos nadadores podem ser de origem traumática ou secundárias, por
overuse. As lesões traumáticas agudas são raras e as lesões por overuse ocorrem predominantemente em
atletas de competição.
Apesar de conhecida na comunidade científica já há praticamente três décadas, o diagnóstico,
a prevenção e o tratamento das lesões na natação envolvem-se, ainda, de muitas dúvidas, o que acarreta
a urgência de conhecimento aprofundado de sua fisiopatologia e do estabelecimento de diagnóstico
correto, sem o que ficam prejudicadas as intervenções terapêuticas adequadas e a possibilidade de
orientação profilática (5).
Desta forma, a proposta deste trabalho é de documentar as lesões na natação competitiva.
Assim, posteriormente, os dados poderão colaborar na elaboração de medidas preventivas.

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Lesões musculoesqueléticas em atletas competidores da natação 125

MATERIAL E MÉTODOS

Foram estudados, longitudinalmente, todos os atletas da natação que passaram pelo


departamento de reabilitação de um clube paulista (total de 63 atletas), de ambos os sexos, com idade
média de 18.5 anos, durante o período de 12/02/2001 a 08/09/2004.
O departamento de reabilitação do clube continha um médico e um fisioterapeuta, responsáveis,
respectivamente, pelo diagnóstico e tratamento dos atletas.
Por meio de questionário aplicado ao treinador (técnico) da natação, foram colhidos dados
referentes ao treinamento dos atletas, com o objetivo de identificar o tempo de prática do esporte, o estilo
de nado praticado (predominante) nos treinamentos, o tipo de prova disputada em competições, o nível
de competição disputada e o volume de treinamento na piscina e no solo.
Pelo levantamento dos prontuários médicos do setor, foram colhidos os dados referentes às
lesões, com o objetivo de identificar o diagnóstico, o estilo de nado praticado nessa época e a região e
localização anatômica acometida, além do número de sessões fisioterapêuticas realizadas e eventual
tratamento médico.
Para caracterizar a lesão, seguimos a definição de Hoff e Martin (6), que consideram como
lesão atlética qualquer lesão ocorrida durante a prática esportiva, podendo levar o atleta a perder parte ou
todo o treinamento e competição ou limitar sua habilidade atlética.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, CEP – 25/2004.

RESULTADOS

Dos 63 atletas que fizeram parte desse estudo, 38 (60,3%) eram do sexo masculino e 25
(39,7%) eram do sexo feminino.
A maioria dos atletas (74,5%) tinha entre 5 e 10 anos de prática do esporte; 17,5% mais que 10
anos e 8% menos que 5 anos.
Em relação ao estilo de nado praticado na época da lesão, o nado crawl foi o mais freqüente
(30,1%), seguido por crawl/costas (19,3%), costas (10,8%), crawl/borboleta (10,8%), peito/medley (7,2%),
borboleta (6%), medley (6%), costas/medley (3.6%), crawl/peito (2,4%), crawl/medley (2,4%) e peito (1,2%).
Durante o período do estudo, foram descritas 83 lesões.
Quanto à classificação segundo o diagnóstico da lesão, vimos que a tendinite/bursite (75,9%)
foi a mais comum, seguida de dorsalgia (9,6%) e lombalgia (6%). Quanto às lesões classificadas como
outras (8,4%), encontramos duas condromalácias, uma mialgia de bíceps femoral, uma sinovite de joelho,
uma lesão de menisco medial, uma cervicobraquialgia e uma sinovite de ombro (Figura 1).

FIGURA 1 - Distribuição da freqüência de lesão segundo o


diagnóstico

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007


126 Daniel Negreiros de Mello, Alexandre Sabbag da Silva, Fábio Rodrigues José

Quanto à região anatômica das lesões, estas ocorreram predominantemente nos membros superiores
(61,4%), localizadas principalmente no ombro (49,4%) e seguidas do cotovelo (12%). Os membros inferiores
aparecem em segundo lugar (21,7%), com as lesões sendo localizadas principalmente no joelho (14,4%),
seguidas do tornozelo (4,8%), pé (1,2%) e perna/coxa (1,2%). A região do tronco aparece com menor freqüência
(16,9%), apresentando um acometimento maior na região dorsal da coluna vertebral e tórax (9,6%), seguida da
região lombar da coluna vertebral e cintura pélvica (6%) e cabeça/pescoço (1,2%) (Figuras 2 e 3).

FIGURA 2 - Distribuição da freqüência de lesão segundo


a região anatômica

FIGURA 3 - Distribuição da freqüência de lesão segundo a localização


anatômica

Quanto à associação entre a classificação da lesão segundo o diagnóstico e a localização


anatômica lesionada, observamos que a maioria das regiões apresentou um único tipo de lesão:

• ombro: (49,4% do total das lesões); 97,57% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite.
Foi observada predominância das tendinites (isoladas) do supra-espinhoso (41,5%), seguidas das
tendinites do supra-espinhoso/cabeça longa do bíceps (36,6%), das tendinites (isoladas) da cabeça
longa do bíceps (14,6%), da tendinite do infra-espinhoso (2,43%), da bursite subdeltoideana
(2,43%) e da sinovite (2,43%).
• joelho: (14,.4% do total das lesões); 66,67% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite,
com predominância das tendinites da “pata de ganso” (41,66%), seguidas das tendinites patelares
(25%), das condromalácias (16,66%), da sinovite (8,33%) e da lesão do menisco medial (8,33%).

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007


Lesões musculoesqueléticas em atletas competidores da natação 127

• cotovelo: (12% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite,
sendo 70% representadas como tendinite triciptal e 30% como epicondilite medial;
• tornozelo: (4,8% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como tendinite/
bursite, sendo 50% representadas como tendinite do tibial anterior, 25% como tendinite do
calcâneo e 25% como tendinite do fibular longo;
• região dorsal da coluna vertebral e tórax: (9,6% do total das lesões); 100% das lesões foram
classificadas como dorsalgia, sendo 37,5% representadas como mialgia do trapézio, 37,5%
como mialgia dos rombóides, 12,5% como mialgia dos paravertebrais e 12,5% como mialgia
dos paravertebrais/subescapular;
• região lombar da coluna vertebral e cintura pélvica: (6% do total das lesões); 100% das lesões
foram classificadas e representadas como lombalgia;
• pé: (1,2% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite,
sendo esta representada por uma única tendinite dos flexores dos dedos;
• perna/coxa: (1,2% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como outras,
sendo esta representada por uma única mialgia do bíceps femoral;
• cabeça/pescoço: (1,2% do total das lesões); 100% das lesões foram classificadas como outras,
sendo esta representada por uma única cervicobraquialgia;

Em nosso estudo, não foi possível realizar a comparação entre o estilo de nado praticado e o
tipo de lesão, bem como a localização anatômica acometida, devido ao fato de a maioria dos atletas
nadarem o estilo crawl em alguma fase do treinamento, dificultando, assim, o agrupamento dos atletas
quanto ao nado praticado, mas notamos que praticamente em todas as correlações entre estilo de nado e
região anatômica acometida de lesão, o nado crawl foi o mais citado isolado ou associado a outro estilo,
com exceção das lesões que acometeram a região da cabeça e pescoço, sendo essa citada somente pelos
nadadores do estilo costas/medley.
Quanto à associação entre o estilo de nado praticado (predominante) na época da lesão e a
classificação segundo o diagnóstico da lesão, como já citado anteriormente, não foi possível realizar a
comparação estatística, mas notamos ao avaliar unicamente os atletas que praticavam somente uma
modalidade de nado, que no estilo crawl, costas e peito predominaram as tendinites, já no estilo borboleta
e no medley, as dorsalgias foram as mais citadas (Figura 4).

100%
90%
Outros
80%
70%
60% Lombalgia
50%
40%
Dorsalgia
30%
20%
Tendinite/bursit
10%
0%

FIGURA 4 - Distribuição da freqüência segundo a associação entre o estilo de nado praticado


na época da lesão e a classificação segundo o diagnóstico

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007


128 Daniel Negreiros de Mello, Alexandre Sabbag da Silva, Fábio Rodrigues José

Em relação à associação entre o número de sessões fisioterapêuticas realizadas e à classificação


da lesão segundo o diagnóstico, encontramos:
A média de sessões fisioterapêuticas nas lesões classificadas como outras foi a mais alta, sendo
de 9,28; seguida de tendinite/bursite (8,.04), já a mediana das lesões classificadas como tendinite/bursite
foi a mais alta, sendo de 8 sessões (Tabela 1).
TABELA 1 - Distribuição da freqüência segundo a associação entre o número de sessões
fisioterapêuticas e o diagnóstico da lesão

Diagnóstico Média Mediana


Tendinite / bursite 8,04 8
Dorsalgia 5,25 5
Lombalgia 7,2 6
Outras 9,28 6

Quanto à associação entre o número de sessões fisioterapêuticas realizadas e a localização


anatômica da lesão, encontramos:
Tanto a média quanto a mediana de sessões fisioterapêuticas realizadas para as lesões localizadas
no joelho foram mais altas em relação às demais (10,16). Não foram calculadas as médias e as medianas
das lesões localizadas no pé, cabeça/pescoço e perna/coxa por apresentarem somente uma lesão cada
(Tabela 2).
TABELA 2 - Distribuição da freqüência segundo a associação entre o número de sessões
fisioterapêuticas e a localização anatômica

Localização Média Mediana


Ombro 7,97 8
Joelho 10,16 8,5
Cotovelo 8,8 8
Região lombar 5,25 5
Região dorsal 7,2 6
Tornozelo 5,75 6

DISCUSSÃO
A natação como esporte competitivo implica em elevadas demandas para o atleta quanto
ao tempo e carga de treinamento. Tais níveis de exigência geram um estresse considerável sobre as
estruturas articulares e musculoesqueléticas do indivíduo, as quais se associam a uma variada gama de
lesões (3).
A análise do tempo de experiência e também de exposição dos atletas às condições e
situações de risco a que são submetidos é de fundamental importância num estudo epidemiológico
(1). Segundo Bak e Fauno (5), a queixa do nadador de elite geralmente tem início depois de seis a oito
anos de experiência no esporte, o que equivale a aproximadamente dez mil quilômetros nadados ou
a cerca de três a quatro milhões de braçadas em cada braço. Em nosso estudo, isso foi confirmado,
pois a minoria dos atletas (8%) apresentaram tempo de prática menor que 5 anos e a grande maioria

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007


Lesões musculoesqueléticas em atletas competidores da natação 129

(82%) apresentou tempo de prática maior que 10 anos. Tais fatos podem ser explicados em razão de
a maioria das lesões encontradas terem sido classificadas como tendinite/bursite, lesões estas que
apresentam características de sobrecarga e que podem estar relacionadas ao tempo de prática do esporte.
O sucesso na natação é estabelecido primeiramente no desempenho dos nadadores nas competições;
entretanto, a maioria dos treinadores acredita que o sucesso de um nadador depende essencialmente do ganho
de força e de resistência conseguidas com muitos meses de treinamento pesado (7).
Os nadadores de elite nadam freqüentemente até 11 períodos de duas horas por semana. Além
disso, 80% destes atletas participam também do treinamento de peso, que consiste geralmente em três
períodos de 30 a 50 minutos por semana (8). Em nosso estudo, tais dados foram confirmados, onde todos
os atletas treinavam 11 períodos de duas horas por semana e, além disso, ainda realizavam treinamento de
musculação em solo por uma hora, 4 vezes por semana.
Quanto ao tipo de lesão, no nosso estudo, as classificadas como tendinite/bursite, com 75,9%
dos casos, foram as mais comuns, sendo estas mais representativas no ombro, com 63,5% dos casos. Tais
resultados já eram esperados, pois a vasta maioria literária relata o mesmo dentro da natação (3, 4, 8, 9, 10,
11, 12, 13, 14). Os demais tipos de lesão não apresentaram grande diferença entre si, sendo 9,6% classificadas
como dorsalgia, 8,4% como outras e 6% como lombalgia.
Em relação à região anatômica agrupada (Tronco, MMSS e MMII), toda a literatura que aborda
a natação relata os membros superiores como região mais acometida por lesões (3, 4, 8, 11, 14). Em nosso
estudo, isso se confirmou, onde os membros superiores foram responsáveis por 61,4% das lesões, seguidos
por membros inferiores, com 21,7% e tronco com 16,9%.
Quanto à localização anatômica específica mais lesada na natação, toda a literatura pesquisada
nesse trabalho relata as lesões localizadas no ombro como sendo as mais comuns (3, 4, 8, 9, 10, 11, 12, 13,
14, 15, 16). Em nosso estudo, tais dados foram confirmados, com as lesões localizadas no ombro
representando 49,4% do total, o que pode ser explicado pelo fato de o ombro ser o propulsor primário nos
estilos crawl, costas e borboleta, principais estilos praticados pelos nadadores em nosso trabalho.
Segundo Vieira e Lianza (17), o ombro do nadador é uma condição patológica causada por inflamação
dos tendões do músculo supra-espinhoso e da porção longa do bíceps braquial que, devido a excessivos
movimentos giratórios do úmero, impactam contra o arco coracoacromial. Araya (3) acrescenta que as lesões no
ombro do nadador podem ser causadas por diversos fatores, como os movimentos repetitivos acima de 90° de
abdução, instabilidade articular, hipovascularização, fadiga do manguito rotador, disfunção escapular, fortalecimento
muscular realizado em solo com cargas excessivas, má técnica de nado e má relação entre força e flexibilidade
muscular do ombro e estabilizadores da escápula. Uma outra possível causa das lesões no ombro pode ser o
fato de os músculos rotadores mediais do ombro serem significativamente mais fortes nos nadadores do que na
população geral, diferença essa que não é significativa com relação aos rotadores laterais (17).
Segundo Heater (15), as lesões no ombro são relacionadas aos estilos crawl, costas e borboleta.
Bak, Blue e Olsson (9) também relacionam as lesões no ombro ao estilo borboleta, mas não relacionam ao
crawl e ao nado costas. Rodeo (11) e Martos (13) relacionam as lesões no ombro aos estilos crawl e
borboleta, mas não relacionam ao estilo costas e sim ao peito, ocasionalmente. Vieira e Lianza (17) relacionam
a dor no ombro ao nado crawl e borboleta, mas não citam as lesões no ombro em atletas de costas e peito.
No estudo realizado por Araya (3), as lesões localizadas no ombro são relacionadas principalmente ao
estilo crawl, mas também se relacionam ao estilo borboleta e costas. Bak e Fauno (5) afirmam que
independentemente do estilo de nado preferido, todo nadador pratica o nado crawl por mais de 50% de
seu tempo em treinamento, dados esses que se confirmaram em nosso estudo e que podem ser a justificativa
para a ocorrência de lesões no ombro em todos os estilos.
Alguns autores mostram o joelho como sendo a segunda região mais acometida por lesões (3,
4, 8, 11, 12, 15, 16). Em nosso estudo, isso foi confirmado, onde encontramos as lesões localizadas no
joelho representando 14,4% do total de lesões.
Bak, Blue e Olsson (9), Kenal e Knapp (10), Rodeo (11), Heater (15), e Keskinen, Eriksson e
Komi (18) relacionam as lesões no joelho principalmente com os nadadores de peito, mas afirmam que
podem ocorrer em todos os estilos. Já Ramos e Redondo (16) afirmam que as lesões no joelho são
exclusivas dos nadadores de peito. Em nosso estudo, não foi possível realizar tal comparação, pois, como

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007


130 Daniel Negreiros de Mello, Alexandre Sabbag da Silva, Fábio Rodrigues José

já foi citado, a maioria dos atletas nadava o estilo crawl em alguma fase do treinamento.
Segundo Kenal e Knapp (10), e Keskinen, Eriksson e Komi (18), as dores no joelho, quando
relacionadas ao estilo peito, localizam-se na borda medial, sendo causadas pelo estresse rotatório e força
em valgo excessiva; e as principais lesões são a condromalácia, a síndrome do ligamento colateral medial
e a sinovite medial.
Devido aos repetitivos movimentos de flexo-extensão dos joelhos nos estilos crawl, costas e
borboleta, são muito freqüentes o surgimento de outras lesões por overuse, como, por exemplo, a tendinite
patelar.
No nosso estudo, obtivemos dados semelhantes: das 12 lesões relatadas no joelho, 5 foram
classificadas como tendinite da pata-de-ganso, 3 como tendinite patelar, 2 como condromalácia, uma como
sinovite e uma como lesão do menisco medial.
Quanto à gravidade das lesões encontradas em nosso estudo, estas podem ser classificadas
como leves, já que apenas uma necessitou de tratamento cirúrgico e afastamento dos treinamentos, essa
representada por uma lesão do menisco medial e 37 dias de afastamento. Nas demais lesões, o afastamento
dos treinamentos não foi observado e sim uma diminuição no volume destes mediante às lesões. Outro
dado que pode ser considerado na caracterização das lesões como leves foi o pouco tempo de tratamento
fisioterapêutico que elas necessitaram (média de 7,83 sessões e mediana de 8 sessões), além de apenas
20,5% do total terem sido tratadas com anti-inflamatório não hormonal, decisão essa tomada pelo médico
do setor.
Acreditamos que quando trabalhamos em equipes interdisciplinares, onde há um interesse
comum em diminuir as lesões no esporte, os resultados podem ser alcançados com um melhor desempenho
atlético. Além disso, a conscientização por parte dos atletas quanto aos materiais e técnicas já existentes na
prevenção de lesões é essencial para a própria proteção do esportista, facilitando, assim, o trabalho dos
profissionais que atuam no esporte. A demonstração de dados atuais a respeito da epidemiologia das
lesões musculoesqueléticas em atletas da natação pode ser importante para o melhor conhecimento das
sobrecargas exercidas nestes atletas no decorrer de suas vidas. Essas análises podem ser as bases para a
elaboração de medidas preventivas nessa modalidade esportiva, visando melhor aproveitamento, melhores
resultados e maior vida útil esportiva, em atletas de competição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A região do ombro foi a mais acometida, com quase metade de todas as lesões (49,4%), sendo
a tendinite/bursite o diagnóstico mais citado.
A região do joelho foi a que despendeu maior tempo de tratamento fisioterapêutico.
Não foi possível realizar a comparação entre o estilo de nado praticado e o tipo de lesão, bem
como a localização anatômica acometida, devido ao fato de a maioria dos atletas nadarem o estilo crawl
em alguma fase do treinamento.

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4. Councilman JE. The science of swimming. Swimming Techniq. 1968; 12:19-26.

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007


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6. Hoff GL, Martin TA. Outdoor and indoor soccer: injuries among youth players. Am. J. Sports Med. 1986;
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17. Vieira MSR, Lianza S. Estudo sobre o ombro doloroso do nadador. Med. de Reab. 2001; 57:12-16.
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Recebido em: 21/12/2006


Received in: 12/21/2006

Aprovado em: 12/03/2007


Approved in: 03/12/2007

Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007


132
NORMAS EDITORIAIS 133

Objetivo, escopo e política Instruções para os autores


A Revista FISIOTERAPIA EM MOVIMENTO é Instruções gerais
uma publicação trimestral, com trabalhos de pesquisa
destinados à área do conhecimento específico e, atual- Os manuscritos e correspondências deverão
mente, tem publicado artigos científicos, de trabalhos ser enviados para:
de pesquisa ou de revisão.
Os artigos serão encaminhados aos Profa Dra Auristela Duarte Moser, Editora da
pareceristas para Peer Review. Fica a critério da revista Revista Fisioterapia em Movimento
a seleção dos artigos que deverão compor os fascícu- Pontifícia Universidade Católica do Paraná
los, sem nenhuma obrigatoriedade de publicá-los, sal- Clínica de Fisioterapia
vo os selecionados pelos pares. Quando recusados, os Rua Imaculada Conceição. 1155 - Prado Ve-
artigos serão devolvidos juntamente com a justificativa lho - CEP 80215-901
do editor. Todos os artigos devem ser inéditos e não Curitiba, PR, Brasil
devem ser submetidos para avaliação simultânea em e-mail: revista.fisioterapia@pucpr.br
outros periódicos. É obrigatório anexar uma declara- Formato dos Originais
ção assinada por todos os autores dessa exclusividade Os trabalhos devem ser apresentados em três
do artigo, com endereço completo , telefone, fax e e- cópias acrescidas do disquete ou CD-ROM e ou arqui-
mail. Na carta de pedido de publicação obrigatoria- vo on-line [sem identificação do(s) autor(es)} , digitados
mente transferir os direitos autorais para a Revista Fisio- em Word for windows, em Times New Roman, tama-
terapia em Movimento. Afirmações, opiniões e concei- nho 12, espaçamento 1.5, formato Letter, não devendo
tos expressados nos artigos são de responsabilidade dos ultrapassar dez páginas incluindo as referências, ilus-
autores. trações, quadros, tabelas e gráficos.
Trabalhos que contenham resultados de estu- • As ilustrações, (gráficos, desenhos etc.) de-
dos humanos e/ou animais somente serão aceitos para vem ser limitados ao mínimo indispensável e enviadas
publicação se estiver claro que todos os princípios de separadamente do texto, identificadas, e numeradas
ética foram utilizados na investigação (envia cópia do consecutivamente em algarismos arábicos. (Imagens
parecer do comitê de ética). Estes trabalhos devem obri- digitalizadas, enviar em resolução 300 dpis, JPG).
gatoriamente incluir uma afirmação de que o protocolo • As tabelas e figuras os quadros numera-
de pesquisa foi aprovado por um comitê de ética dos consecutivamente, em algarismos arábicos. A le-
institucional. (Reporte-se á Resolução 196/96, do Con- genda será colocada na parte superior dos mesmos. No
selho Nacional de Saúde, que trata do Código de Ética texto, a referência será feita em algarismos arábicos.
em Pesquisa em Seres Humanos). Para experimentos Unidades. Usar o Sistema Internacional (SI) de unida-
com animais, considere as diretrizes internacionais Pain, des métricas para as medidas e abreviações das unida-
publicada em: PAIN, 16: 109-110, 1983). des.
Os pacientes têm o direito à privacidade, • CHECAR ANTES DO ENVIO:
o qual não pode ser infringido sem um consentimento • Todos os artigos devem ser inéditos e não
esclarecido. Em caso de utilização de fotografias de devem ser submetidos para avaliação simultânea em
pessoas/pacientes, estas não podem ser identificáveis outros periódicos (anexar carta, assinada por todos os
ou as fotografias devem estar acompanhadas de per- autores, com essa exclusividade, transferindo os direi-
missão específica escrita para uso e divulgação das ima- tos autorais e assumindo a responsabilidade sobre apro-
gens. O uso de máscaras oculares não é considerado vação em comitê de ética, quando for o caso).
proteção adequada para a anonimidade. • Afirmações, opiniões e conceitos expres-
Os trabalhos podem ser encaminhados em sados nos artigos são de responsabilidade dos autores.
português ou inglês. • Todos os artigos serão submetidos à co-
Abreviações oficiais poderão ser empregadas, missão editorial da revista, ecaso pertinente à área da
somente após uma primeira menção completa. Gírias, Fisioterapia serão encaminhados para avaliação dos
expressões e abreviaturas pouco comuns não deverão pares.
ser usadas. • Deverá constar, no final dos trabalhos, o
Deverá constar, o endereço completo, afiliação endereço completo, afiliação, telefone, e-mail (atuali-
e telefone, (e-mail), para encaminhamento de corres- zar sempre que necessário) para encaminhamento de
pondência pela Comissão editorial. correspondência pela comissão editorial.
Não serão publicadas fotos coloridas, a não • Não serão publicadas fotos coloridas, a não
ser em caso de absoluta necessidade e a critério da ser em caso de absoluta necessidade e a critério da
Comissão Editorial. Comissão Editorial.
134

No preparo do original, deverá ser obser- Referências


vada a seguinte estrutura:
Todas as instruções estão de acordo com o
Cabeçalho Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas
(Vancouver) incluindo as referências, as informações
• Título do artigo em português (CAIXA encontram-se disponíveis em: (URL: http://
ALTA, em negrito, fonte Times New Roman, tamanho www.icmje.org).
14, parágrafo centralizado) e em inglês (Caixa Baixa,
com iniciais em maiúsculo, em itálico, fonte Times New
Roman, tamanho 12, parágrafo centralizado). O título Artigos em Revistas
deve conter no máximo 12 palavras, sendo suficiente-
mente específico e descritivo. Até seis autores:
Resumo e Abstract Naylor CD, Williams JI, Guyatt G. Structured
• É a apresentação sintetizada dos pontos abstracts of proposal for clinical
principais do texto, destacando as considerações emiti- and epidemiological studies. J Clin Epidemiol
das pelo autor. Para elaboração do resumo, (no máxi- 1991; 44:731-737.
mo 250 palavras).
• Palavras-chave e Keywords: São Mais de seis autores
descritores, que identificam o conteúdo do artigo. Para Listar os seis primeiros autores seguidos
padronizar as palavras-chave utilizar o Thesaurus (DECs). de et al.
O número de descritores desejado é de no mínimo três
e no máximo cinco. Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E,
Friedl HP, Ivanov E, et al
O Corpo Do Texto Childhood leukaemia in Europe after
Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer
• Introdução: Deve apontar o propósito do 1996; 73:1006-12.
estudo, de maneira concisa, e descrever quais os avan-
ços que foram alcançados com a pesquisa. A introdu- Suplemento de volume
ção não deve incluir dados ou conclusões do trabalho Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel
em questão. carcinogenicity and occupational lung cancer. Environ
• Materiais e métodos: Deve ofertar, de Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.
forma resumida e objetiva, informações que permitam
que o estudo seja repetido por outros pesquisadores. Suplemento de número
Referenciar as técnicas padronizadas. Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women´s
• Resultados: Devem oferecer uma descri- psychological reactions to
ção sintética das novas descobertas, com pouco pare- breast cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl
cer pessoal. 2):89-97.
• Considerações finais: Deve limitar-se ao
propósito das novas descobertas, relacionando-as ao Artigos em formato eletrônico
conhecimento já existente. Utilizar citações somente Al-Balkhi K. Orthodontic treatment planning:
quando forem indispensáveis para embasar o estudo. do orthodontists treat to cephalometric norms. J Contemp
• Agradecimentos: Se houver devem ser Dent Pract 2003 Nov. 4 (4) Fall issue. Available from:
sintéticos e concisos. URL: www.thejcdp.com
• Referências. Devem ser numeradas con-
secutivamente na ordem em que são primeiramente
mencionadas no texto. Identificar as referências no Livros e monografias
texto, tabelas e legendas por números arábicos entre
parênteses. Exemplos: livro
Berkovitz BKB, Holland GR, Moxham BJ.
• “o caso apresentado é exceção quando Color atlas & textbook of oral
comparado a relatos da prevalência das lesões anatomy. Chicago:Year Book Medical
hemangiomatosas no sexo feminino (6,7)” ou Publishers; 1978.
• “Segundo Levy (3), há mitos a respeito dos
idosos que precisam ser recuperados”. Capítulo de livro
Israel HA. Synovial fluid analysis. In: Merril
135

RG, editor. Disorders of the temporomandibular joint I: Trabalhos acadêmicos (Teses e Dissertações)
diagnosis and arthroscopy. Philadelphia: Saunders; Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the
1989. p. 85-92. elderly´s access and utilization
[dissertation]. St. Louis: Washington Univ.;
1995.
Editor, Compilador como Autor

Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health *Importante: padronizar a forma de citação,
care for elderly people. New York: Churchill Livingstone; utilizando sempre a mesma expressão escolhida.
1996.
Recomendamos que o autor efetue um
Livros/Monografias Em Cd-Rom checklist, conforme a seguir:

CDI, clinical dermatology illustrated • Solicite a um profissional da área inerente


[monograph on CD-ROM], Reeves JRT, Maibach H. CMEA à apreciação do seu artigo antes de enviá-lo à revista;
Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0. San • Revise cuidadosamente o trabalho com re-
Diego: CMEA; 1995. lação às normas solicitadas: tamanho da fonte em cada
item do trabalho, numeração de página, notas em nú-
Anais de congressos, conferências congêneres mero arábico, a legenda de tabelas e quadros,
Damante JH, Lara VS, Ferreira Jr O, Giglio formatação da página e doa parágrafos, citação no cor-
FPM. Valor das informações clínicas e radiográficas no po do texto e referências conforme solicitado. Verifique
diagnóstico final. Anais X Congresso Brasileiro de o português e ou inglês. Verifique se todos os autores
Estomatologia; 1-5 de julho 2002; Curitiba, citados constam nas Referências no final do trabalho;
Brasil. Curitiba, SOBE; 2002. • Certifique-se de que você está encami-
nhando no mesmo envelope as 3 cópias impressas (sem
Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data identificação), o disquete ou CD-Rom com cópia digitada
protection, privacy and security e a carta de apresentação (completa) do manuscrito
in medical informatics. In: Lun KC, Degoulet para o Editor responsável.
P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92.
Proceedings of the 7th World Congress of Medical NOTA: fica a critério da revista a seleção dos
Informatics;1992 Spt 6-10; Geneva, Switzerland. artigos que deverão compor os fascículos, sem nenhu-
Amsterdam:North-Holland; ma obrigatoriedade de publicá-los, salvo os seleciona-
1992. p. 1561-5. dos pelos pares.
136

PUBLISHING NORMS
Objective, scope and politics Instructions for the authors General
FISIOTERAPIA EM MOVIMENTO journal is instructions
a quarterly publication with research papers directed
to physical therapy that has published scientific
Manuscripts and mail should be sent to:
papers, research or review papers.
Profa Dra Auristela Duarte Moser, Editor of the
Papers are submitted to reviewers for peer
Fisioterapia em Movimento Journal Pontifícia
review. The journal at its own discretion selects the
Universidade Católica do Paraná
papers that will be published in the journal, without
Clínica de Fisioterapia
any obligation of publishing them, except those
Rua Imaculada Conceição. 1155 - Prado Ve-
selected by the peers. When papers are not accepted
lho - CEP 80215-901, Curitiba, PR, Brazil
for publication, they are returned to the authors
e-mail: revista.fisioterapia@pucpr.br
together with a justification by the editor. All papers
Original Formats
have to be unpublished and should not be submitted
Papers should be presented in three copies
for review to other journals at the same time. A paper
in addition to a floppy disk or CD-ROM and/or on-line
exclusivity statement signed by the authors must
file [without identification of the author(s)], typed in
be attached, with address, telephone, fax and e-mail
Word for windows, Times New Roman, size 12, spacing
address. In the letter requesting the publication,
1.5, Letter format and should not exceed ten pages
authors must transfer their copyrights to the Fisio-
including the references, illustrations, charts, tables and
terapia em Movimento journal. The authors are
graphs.
accountable for statements, opinions and concepts
• Illustrations (graphs, pictures, etc) should
expressed in the paper. Papers that contain results
be limited to the minimum required and submitted
of studies in humans and/or animals will only be
separate from the text, labeled and consecutively
accepted for publication if it is clear that all
numbered in Arabic numerals. (Digital images should
principles of ethics have been followed in the
be sent in 300 dpis resolution, JPG).
research (authors have to send a copy of the ethics
• Tables, figures and charts should be
committee expert opinion). These papers should
numbered consecutively in Arabic numerals. Legends
include a statement saying that the research protocol
should be placed on their upper part. In the text,
was approved by an institutional ethics committee.
references will be made in Arabic numerals. Units: the
(Refer to Resolution 196/96, National Health Council
International System (IS) of metric units for
dealing with the Code of Ethics in Research in Human
measurements and unit abbreviations should be used.
Beings). For animal experiments, consider the
international guidelines Pain published in: PAIN, 16:
109-110, 1983).
Check before submitting:
Patients have the right to privacy, which cannot • All papers should be unpublished and
be violated without an infor med consent. If should not have been submitted for assessment to other
photographs of people/patients are used, they cannot journals at the same time (please attach a letter signed
be identifiable or photographs should come with a by all authors stating this exclusivity, transferring the
specific authorization in writing for use and copyrights and taking over the responsibility for the
publication of the pictures. The use of eye masks is approval by an ethics committee, if this applies).
not considered proper protection against disclosure. • The authors are accountable for statements,
Papers should be written in Portuguese or opinions and concepts expressed in the paper.
English. • All papers will be submitted to the journal
Official abbreviations can be used only after editorial commission and if they are relevant to the
being mentioned once at full length. physical therapy area, they will be sent for peer review.
Slang, unusual expressions and • At the end of the paper, authors should
abbreviations should not be used. include their complete address, membership, telephone
The paper should contain full address, number, e-mail address (update whenever necessary)
membership and telephone, (e-mail address) for for mailing by the editorial commission.
mailing by the Editorial Commission. • Color pictures will not be published, unless
Color pictures will not be published, unless absolutely necessary and at the discretion of the Edito-
absolutely necessary and at the discretion of the Edi- rial Commission.
torial Commission. The following structure must be followed
when drafting the original:
137

Header Naylor CD, Williams JI, Guyatt G. Structured


• Paper title in Portuguese (UPPER CASE, in abstracts of proposal for clinical and epidemiological
bold, Times New Roman font, size 14, centralized studies. J Clin Epidemiol 1991; 44:731-737.
paragraph) and in English (Low Case, initials in Upper - More than six authors
Case, in italic, Times New Roman font, size 12, List the first six authors followed by et al.
centralized paragraph). The title should contain a Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E,
maximum of 12 words, being sufficiently specific and Friedl HP, Ivanov E, et al Childhood leukaemia in Europe
descriptive. after Chernobyl : 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;
73:1006-12.
Abstract - Volume supplement
• It is a summarized presentation of the key Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel
points of the text, highlighting the remarks made by the carcinogenicity and occupational lung cancer. Environ
author. The abstract should have a maximum of 250 Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.
words. - Issue supplement
• Keywords: Key words are descriptors that Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women´s
identify the paper content. In order to standardize key psychological reactions to breast cancer. Semin Oncol
words, please use the Thesaurus (DECs). The desirable 1996;23(1 Suppl 2):89-97.
number of key words ranges from three to five. - Papers in electronic format
The Text Body Al-Balkhi K. Orthodontic treatment planning:
• Introduction: It should concisely refer to do orthodontists treat to cephalometric norms. J Contemp
the study purpose and describe the progress made in Dent Pract 2003 Nov. 4 (4) Fall issue. Available from:
the research. The introduction should not include data URL: www.thejcdp.com
or conclusion of the study. Books and monographs
• Materials and methods: It should briefly - Book
and objectively provide information that enables the Berkovitz BKB, Holland GR, Moxham BJ.
study to be repeated by other researchers. Mention the Color atlas & textbook of oral anatomy. Chicago :Year
standardized techniques. Book Medical Publishers; 1978.
• Results: They should provided a synthetic - Book chapter
description of the new findings with little personal Israel HA. Synovial fluid analysis. In: Merril
opinion. RG, editor. Disorders of the temporomandibular joint I:
• Final remarks: Final remarks should be diagnosis and arthroscopy. Philadelphia : Saunders; 1989.
restricted to the purpose of the new findings, relating p. 85-92.
the latter to present knowledge. Use quotations only - Editor, Compiler as Author
when absolutely necessary to provide a basis for the Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health
study. care for elderly people. New York : Churchill Livingstone;
• Acknowledgements: If there is any, they 1996.
should be synthetic and concise. - Books/Monographs in CD-Rom
• References. References should be CDI, clinical dermatology illustrated
consecutively numbered in the order they are first [monograph on CD-ROM], Reeves JRT, Maibach H. CMEA
mentioned in the text. Identify references in the text, Multimedia Group, producers. 2 nd ed. Version 2.0. San
tables and legends by Arabic numerals in parenthesis. Diego : CMEA; 1995.
Examples: - Proceedings of meetings, conferences and
• “the case shown is an exception when alike
compared to prevalence reports for hemangiomatosis Damante JH, Lara VS, Ferreira Jr O, Giglio
lesions in females (6,7)” or FPM. Valor das informações clínicas e radiográficas no
• “According to Levy (3), there are myths diagnóstico final. Anais X Congresso Brasileiro de
regarding the elderly that have to be recovered”. Estomatologia; 1-5 de julho 2002; Curitiba, Brasil.
Curitiba, SOBE; 2002.
References Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of
All instructions are in accordance with the data protection, privacy and security in medical
International Committee of Medical Journals Editors informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE,
(Vancouver) including the references, information is Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the
available at: (URL: http://www.icmje.org). 7th World Congress of Medical Informatics;1992 Spt 6-
Papers in Journals 10; Geneva , Switzerland . Amsterdam :North-Holland;
- Up to six authors: 1992. p. 1561-5.
138

Academic Papers (Theses and Dissertations) and charts, page and paragraph formatting, quotation
Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the in the text body and references as requested. Proofread
elderly´s access and utilization [dissertation]. St. Louis : the Portuguese or English. Check if all authors quoted
Washington Univ. ; 1995. in the paper were included in the References at the end
• Important : standardize the quotation of the paper;
mode, always using the same expression. • Make sure you are sending in the same
We recommend the author makes a checklist envelop the 3 hard copies (without identification), the
as follows: floppy disk or CD-ROM with the digital copy and the
• Ask a professional from a related area to introduction letter (complete) of the manuscript to the
review your paper before you submit it to the journal; Editor in charge.
• Carefully review your paper regarding the NOTE : the journal will select at its own
requested rules: font size for each paper item, page discretion the papers that will be published, without
numbering, notes in Arabic numerals, legends in tables any obligation to publish them, except those selected
by the peers.
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140

Publicações da Editora Universitária Champagnat


Livros
Coleção Agrárias
1- Fisiologia Vegetal - Produção e Pós-colheita
Cyntia Maria Wachowicz e Ruy Inácio Neiva de Carvalho (Organizadores)

Coleção Educação Gestão e Política


1- Consenso para a mudança na educação superior
Luis Yarzábal tradução de José Dias Sobrinho

2- Políticas e Gestão da Educação Superior


Maria Amélia Sabbag Zainko e Maria Lourdes Gisi (organizadoras)

Coleção Educação Gralha Azul


1- As Escolas da Colonização Polonesa no Brasil
Ruy Christovam Wachowicz

2- A Educação dos Imigrantes Alemães Católicos em Curitiba


Valquíria Elita Renk

3- Identidade e Experiência: Uma Escola Confessional na República Velha


Rosângela Wosniak Zulian

Coleção Educação Religião


1- Um ideal, um caminho, uma proposta
Sérgio Rogério Azevedo Junqueira

2- Educação Religiosa
Luíz Alberto Sousa Alves e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (organizadores)

3- A Identidade Pedagógica da Pastoral na Universidade Católica


Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (organizador)

4- Pastoral da Universidade e Universidade em Pastoral: Um Novo Paradigma


Alexander Bernardes Goulart, Elaine Fátima Strapasson e Águeda Bichels (Organizadores)

5- O Ensino Religioso no Brasil


Sérgio Rogério Azevedo Junqueira e Raul Wagner (Organizadores)

Coleção Educação Teoria e Prática


1- Pedagogia Hospitalar
Elizete Lúcia Moreira Matos e Margarida Maria Teixeira de Freitas Muggiati

2- Uma Experiência de Virtualização Universitária: O Eureka da PUCPR


Elizete Lúcia Matos e Péricles Varella Gomes (organizadores)

3- Docência Universitária na Sociedade do Conhecimento


Marilda Aparecida Behrens (organizadora)

4- O tempo e o espaço na educação: a formação do professor


Ana Maria Eyng, Romilda Teodora Ens e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (organizadores)
141

5- O tempo e o espaço na educação: o cotidiano escolar


Ana Maria Eyng, Romilda Teodora Ens e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (organizadores)

Coleção Exatas
1- Tecnologias na Construção Civil e Matemática Aplicada
Roberto Fendrich (organizador)

2- Platão Redimido
Manoel de Campos Almeida

3- Vade-mécum de Tipografia
Antônio Martiniano Fontoura

Coleção Ponto de Partida


1- Espaços ambientais protegidos e unidades de conservação
Carlos Frederico Marés de Souza Filho

2- Prisão e Trabalho
Rodrigo Sanches Rios

3- Justiça Tributária e Processo Tributário


James Marins

Coleção Saúde Didatik


1- MIAT - Manobras Invasivas no Atendimento ao Trauma
Marcos Leal Brioschi, Daniel Colman, Fábio Silveira e Luiz Carlos Von Bahten

2- Fisiologia Básica - Aplicada à Fisioterapia


Rafael Michel de Macedo e Paulo Rogério Stelle

3- Pesquisa e Assistência - Experiências com Grupos de Estudo na Enfermagem


Mercedes Trentini, Lygia Paim

Coleção Saúde Odontologia


1- Notações Cefalométricas
Wilson Denis Martins, Monir Tacla, Fernando Henrique Westphalen, Ataliba Moreira (in
memorian)

Série Educação: Teoria e Prática


1- Um Brasil Mal-educado
Pedro Demo

2- A interdisciplinaridade na universidade
Lilian Anna Wachowicz (organizadora)

3- Avaliação da aprendizagem: concepções e teoria da prática


Zélia Milléo Pavão

4- O Paradigma Emergente e a Prática Pedagógica


Marilda Aparecida Behrens

5- Centros Universitários: proposta e gestão


Almeri Paulo Finger e Sérgio Ferraz de Lima
142

6- Piaget e Vygotski: um diálogo inacabado


Peri Mesquida

Coleção Serviço Social


1- Assistência Social referências conceituais e propositivas
Odária Battini (organizadora)

Coleção Comunicação
1- Show do Milhão – Imaginário de Silvio Santos e do SBT
Alexander Bernardes Goulart

Coleção Filosofia
1- A Genealogia de Nietzche
Antonio Edmilson Paschoal

2- Wittgenstein: a forma do silêncio e a forma da palavra


Bortolo Valle

3- Temas de Ética
Inês Lacerda de Araújo e Francisco Verardi Bocca (Organizadores)
143

Periódicos

Estudos de Biologia
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Volume 4 Número 7 Jan./Abr. 2003

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A presente edição foi composta pela Editora Universitária Champagnat e impressa na Gráfica da APC, em sistema offset, papel offset 75g (miolo)
e papel couché 150g, em outubro de 2007.

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