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CRIME DE TORTURA

Para se entender Tortura e assim versar sobre ela necessário que se leiam obras

consagradíssimas no tema, tais como: “OBSERVAÇÕES SOBRE A TORTURA”,

de PIETRO VERRI;
VERRI; “DOS DELITOS E DAS PENAS”, de CESARE DE

BONESANA (‘CESARE
(‘CESARE BECCARIA’);
BECCARIA’); “OS MISERÁVEIS”, de VITOR MARIE

HUGO;
HUGO; “A TORTURA”, de HENRI ALLEG,
ALLEG, com prefácio de JEAN PAUL

SARTRE (47 páginas); “é ISTO UM HOMEM?”, de PRIMO LEVI;


LEVI;

“SOBREVIVÊNCIA”, de BRUNO BETHELEIM;


BETHELEIM; “VIGIAR E PUNIR” de

MICHEL FOUCAULT;
FOUCAULT; “TRATADO SOBRE A VIOLÊNCIA”, de WOLFGANG

SOFISK;
SOFISK; além de inúmeros livros nacionais que recontam as diversas torturas e

execuções praticadas pela ditadura militar (golpe de 1° de abril de 1964).

Vejamos o que nos diz o filósofo alemão WOLFGANG SOFISK:


SOFISK:

 “A TORTURA NÃO É UMA RELÍQUIA DA INQUISIÇÃO OU DO

ABSOLUTISMO. NA HISTÓRIA DA EUROPA, A PRÁTICA DE

TORTURA SE ESTENDE POR TODA A ANTIGUIDADE GREGA E

ROMANA, POR TODA A IDADE MÉDIA E, POSTERIORMENTE, ATÉ

AS REFORMAS JUDICIAIS DO SÉCULO XVIII – FOI ABOLIDA, EM

TODAS AS PARTES, NO PRIMEIRO QUARTO DO SÉCULO XIX”.


XIX”.
 É UMA DAS PRÁTICAS MAIS EFICAZES DO “PODER”.
 A TORTURA NÃO PRODUZ NADA; SIMPLESMENTE INVERTE A CRIAÇÃO,

ANULANDO-A.
 ELA SE APLICA A TODAS AS CATEGORIAS SOCIAIS QUE NÃO FORMAM PARTE

DO NÚCLEO DA SOCIEDADE HOMOGÊNEA.


 A TORTURA DESONRA, HUMILHA E MUTILA A VÍTIMA. TRANSFORMA A

AGONIA EM SUPLÍCIO. SUA CAPACIDADE DE MUTAÇÃO VAI ALÉM DA


DESTRUIÇÃO CORPORAL E TRANSFORMA O HOMEM EM UMA CRIATURA

AGONIZANTE.

Vejamos o que escreveu o filósofo JEAN PAUL SARTRE sobre a Tortura:

 “A FINALIDADE DO SUPLÍCIO NÃO É SOMENTE A DE OBRIGAR A

FALAR, A TRAIR; É NECESSÁRIO QUE A VÍTIMA SE DESIGNE A SI

MESMA, POR SEUS GRITOS, POR SUA SUBMISSÃO, COMO UMA

BESTA HUMANA. AOS OLHOS DE TODOS E AOS SEUS PRÓPRIOS

OLHOS. É PRECISO QUE SUA TRAIÇÃO A DESTRUA E A APAGUE

PARA SEMPRE. AQUELE QUE CEDE AO TORMENTO, NÃO SE QUIS

SOMENTE OBRIGÁ-LO A FALAR; IMPÔS-SE-LHE UM ESTATUTO: O

DE SUBHOMEM”.
 “O MAIS URGENTE, SE AINDA HÁ TEMPO, É HUMILHÁ-LO O

ORGULHO EM SEUS ESPÍRITOS, REDUZI-LOS AO NÍVEL DA

BESTA. DEIXAR-SE-ÃO VIVOS OS CORPOS, MAS MATAR-SE-LHES-

Á O ESPÍRITO”.
 “COM EFEITO, É AO HOMEM QUE SE QUER DESTRUIR, COM

TODAS AS SUAS QUALIDADES: O VALOR, A VONTADE, A

INTELIGÊNCIA, A FIDELIDADE – AS MESMAS QUE O

COLONIZADOR REIVINDICA”.
REIVINDICA”.

O conceito de Tortura não se baseia na pretensão de obter-se uma confissão, mas

sim a de provocar dor, sofrimento e humilhação. Os casos históricos de torturas

promovidas com a finalidade de confissão, como se deram durante a ditadura

militar instalada a partir de 1964, frequentemente terminavam em morte, posto

que tortura e execução são por vezes indissociáveis. Todavia, de modo geral, a

tortura visa tão somente causar sofrimento ao torturado.


Nos crimes de Tortura há lesões e vestígios característicos, os quais serão

devidamente descritos e avaliados pela Perícia Médico Legal, a qual deverá seguir

a seguinte rotina:

 Valoração do Exame esquelético-tegumentar;


 Descrição detalhada e minudente das lesões – VISIUM ET REPERTUM –,
 caracterizando formas, dimensões, localizações e meio que as produziram;
 Descrição de possíveis cicatrizes;
 Elaborar os esquemas corporais, apontando as localizações anatômicas das

lesões descritas;
 Estabelecer, sempre que possível for, a idade cronológica da (s) lesão (ões);
 Registrar fotografias das lesões, inclusive em “close
“close up”,
up”, e com escala

métrica;
 Radiografar sempre quando necessário se fizer, os segmentos corporais

acometidos;
 Trabalhar em equipe, tendo a participação de odontolegista, de psiquiatra
 forense e de radiologista, sempre que necessário;
 Recorrer a exames toxicológico, odontológico e radiológico forenses sempre
 que imperioso for;
 Examinar cuidadosamente as vestes do examinando, visando a
 identificação, colheita, preservação e acondicionamento de todo e qualquer
 vestígio;
 Obedecer fielmente a Cadeia de Custódia.

São condições essenciais para a realização de Exame pericial em casos de Tortura:

 Absoluta e total imparcialidade, bem como independência, por parte dos

peritos;
 Ambiente propício e livre da presença de Agentes do Estado (custódia),

assim como de familiares – somente os peritos e profissionais, adstritos ao

segredo médico, presentes;


presentes;
 Jamais realizar o exame em ambientes tais como Delegacias, Casas de

Custódia, Presídios etc.


etc.
 Consentimento expresso, livre e esclarecido, do examinando, assinado

também pelos peritos e testemunhas adstritas ao segredo médico

(testemunhas);
Vejamos os órgãos dos sentidos e segmentos corporais frequentemente acometidos

por Tortura, que tem de ser examinados pelos peritos legistas:

 Cabeça;
 Face: olhos, pirâmide nasal, maxilas, mandíbula, dentes;
 Audição e visão - exames otológico e oftalmológico sempre que necessários;
necessários;
 Pescoço;
 Tórax e Abdômen;
 Membros superiores e inferiores, com especial atenção para mãos e pés;
 Aparelho gênito-urinário;
 Região anal;
 O dano neuropsíquico (Exame Neuropsíquico) há de ser também avaliado,

nos casos de Tortura, a saber:

I - Transtorno por stress traumático

 Psicossomáticos (dores; cefaleias; pesadelos; insônia; terror noturno;

tremores; desmaios; sudorese; diarreia);


 Afetivos (depressão; depressão maior; ansiedade; medos; fobias; desordem

do sofrimento prolongado);
 Comportamentais (isolamento; irritabilidade; impulsividade; disfunções

sexuais; tendência suicida; síndrome do pânico; dependência de drogas

lícitas ou
 ilícitas);
 Mentais ou Intelectuais (confusão; desorientação; perda de memória;
 perda da concentração);

II - Transtorno por stress pós-traumático

 Psicossomáticos (dores; cefaleias; pesadelos; insônia; terror noturno;


 tremores; desmaios; sudorese; diarreia; hipertensão arterial; asma);
 Afetivos (depressão; ansiedade; medos; fobias; síndrome do pânico;

depressão maior);
 Comportamentais (isolamento; irritabilidade; impulsividade; disfunções

sexuais; tendência suicida);


 Mentais ou Intelectuais (confusão; desorientação; perda de memória; perda

da concentração);
Os Padrões de Tortura Física são os seguintes:

 Espancamentos e outras ações de natureza contundente


 Espancamentos nas mãos e nos pés
 Suspensões
 Outras formas de tortura posicional
 Tortura por choques elétricos – sedes características
 Tortura dentária
 Tortura por modalidades de asfixias
 Tortura sexual e violação (estupro)

Dr. Leví Inimá de Miranda – Médico Perito-Legista Independente


Perito-Legista Oficial Aposentado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro
Tenente-Coronel Médico Reformado do Exército Brasileiro
Ex-Chefe do Serviço de Medicina Legal do Hospital Central do Exército
Membro da Ordem do Mérito Ministério Público Militar
Autor do livro “Balística Forense – do Criminalista ao Legista”, pela editora

Rubio; 2014
Consultor em Medicina Legal e Ciências Forenses

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