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TECNOLOGIA

Agregado artificial de
argila calcinada: a
primeira inovação tecnológica
patenteada pelo IME
Guótavo da Luz Lima Cabral*
Álvaro Vieira **

RESUMO
Conforme vem sendo divulgado pela mídia nos últimos meses, o Exército Brasileiro, por intermédio do
Instituto Militar de Engenharia (lME), depositouo seu primeiro pedido de patente de invenção junto ao
INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e, simultaneamente, revela os resultados atingidos
com a primeira produção industrial experimental do agregado de argila calcinada.
A tecnologia do agregado de argila calcinada vem atingindo resultados de resistência mecânica
similares aos agregados provenientes de rochas e surge como uma alternativa vantajosa financeira-
mente para infra-estrutura viária do País, mais especificamente da Região Amazônica, que pode estar
assistindo ao fim dos problemas causados pela escassez de jazidas de rochas na região.

PALAVRAS-CHAVE
Argila calcinada, agregado artificial, custo, produção industrial, patente de invenção.

INTRODUÇÃO dos para a busca de tecnologias relacionadas aos


agregados artificiais vêm avançando continua-
A carência de agregados naturais em várias mente em face dos esforços de pesquisas científi-
regiões do país, particularmente na amazônica, cas e estratégicas levadas a efeito.
constitui um grande obstáculo à construção ro- Incluída neste cenário, a Engenharia Militar
doviária (figura 1). Somadas à escassez geológica do Exército Brasileiro convive há muitos anos com
das jazidas, as restrições ambientais à sua explo- esse problema, pois, nesta região, estão situados
ração agravam essa carência, tornando a busca alguns de seus batalhões de Engenharia de Cons-
por agregados artificiais uma alternativa atraen- trução, que freqüentemente são encarregados
te (figura 2). No Brasil, os principais estudos volta- da construção e da conservação de diversos cor-

* Capitão QEM (CRO/ 1l, En ge nh eiro d e Fortificação e Con st ruçã o, IME, 1998; M. Se., IME, 2005.
** Coronel R/ 1 QEM (IMEl, Engenheiro de Fortificação e Co nstrução, IME, 1979; M. Se., PUC, 1985.

56 3 ~ QUADRIMESTRE DE 2005 C ~T
redores rodoviários que agregam valores indis-
pensáveis ao desenvolvimento regional, integra-
ção nacional e manutenção de políticas estraté-
gicas para a Região Amazônica.
A pesquisa relativa aos agregados cerâmi-
cos no país teve seu início na década de 1980, com
os estudos do Instituto de Pesquisas Rodoviárias -
IPR/DNER [7], sobre a viabilidade de produção e
emprego de agregados de argila expandida na Re-
gião Norte. Os resultados preliminares indicaram Figura 2- Pavimentação urbana com ouso de cacos erejeitas da indústria cerâmica
custos elevados de produção desse tipo de agrega- em Rio Branco no Estado do Acre (Fonte: Ricardo R. do Nascimento).
do, inviabilizando o prosseguimento dos estudos.
Nos últimos anos, pesquisas desenvolvidas A evolução da linha de pesquisa
no IME têm-se direcionado, com sucesso, à obten-
ção de agregados de menor custo, obtidos por Com os resultados de Soares et aI. [10], Cos-
calcinação de solos argilosos selecionados, e à ta et aI. [6] e Batista [4], foi comprovada tecnica-
análise do seu comportamento em misturas as- mente a viabilidade desta alternativa como ma-
fálticas e misturas solo-agregado. O processo de terial de pavimentação. Sendo assim, tornara-se
evolução do estudo relacionado ao agregado ar- uma conseqüência natural a obtenção de respos-
tificial de argila calcinada no IME atingiu um nível tas relativas à passagem da produção em labora-
de desempenho amplamente satisfatório, con- tório para a escala industrial.
cluindo um primeiro ciclo de desenvolvimento Além da necessidade de evidenciar a vanta-
pela dissertação de mestrado na área de infra-es- gem econômica do agregado cerâmico, julgava-
trutura de transportes. se também relevante a elaboração de um com-
pêndio sobre todo o conhecimento adquirido
ao longo dos oito anos de pesquisa, assim como
a confecção de um roteiro operacional, propici-
ando a alternativa do agregado artificial de argi-
la calcinada ao engenheiro militar que conviva
com o problema da escassez do agregado pétreo
durante a escolha dos materiais para o seu pro-
jeto viário.
Com estes objetivos principais, desenvol-
veu-se a pesquisa de mestrado intitulada "Meto-
dologia de produção e emprego de agregados
D ÁREA CARENTE DE de argila calcinada para pavimentação'; do se-
AGREGADO

gundo autor [5]. Aliado a estes propósitos, fo-

Figura 1 - Área carente de rochas na Região Amazônica ram também objetivos adicionais deste estudo
eseus principais corredores rodoviários. a elucidação de questionamentos e recomenda-

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ções proferidas nas pesquisas anteriores, alguns do um levantamento do estado da arte sobre o
deles listados a seguir: assunto. De posse deste levantamento, passou-
~ ampliar a base de dados dos resultados se para a etapa de elaboração de uma metodo-
existentes relativos aos ensaios de viabilidade logia que pudesse avaliar as características da
técnica e eliminar variáveis que denotavam dú- matéria-prima do produto cerâmico produzido e
vidas sobre a produção do agregado artificial, obter as respostas deste produto como um agre-
tais como temperatura e tempo de queima, com- gado para pavimentação em misturas solo-agre-
posição química e mineralógica; gado e misturas asfálticas.
~ realizar um estudo minucioso relativo à A metodologia proposta está na figura 3. A
absorção do agregado artificial de argila calci - fase relacionada à produção industrial do agre-
nada e verificar a existência de aditivos capazes gado de argila calcinada (em tracejado na figura
de reduzir esta porosidade; 3) pode ser visualizada por completo na figura 4.
~ analisar o comportamento de uma mis- Conforme será mais bem detalhado nos próxi-
tura solo-agregado utilizando o agregado de ar- mos itens, nesta metodologia, são sugeridas duas
gila calcinada, para emprego em camadas de sub- possibilidades de produção: usinas pré-fabricadas
base e base para pavimentação, sob a ótica dos ou ainda em unidades de produção de peças ce-
métodos empírico e mecanístico, e comparar o râmicas convencionais (olarias). Caso seja optado
resultado com uma mistura semelhante que por esta alternativa de produção em olaria, cabe
utilize o agregado natural; ressaltar que todo o maquinário envolvido nas eta-
~ verificar o comportamento de misturas pas listadas (figura 4) é de conhecimento notório
asfálticas com o agregado artificial de argila calci- das indústrias cerâmicas ou das indústrias envol-
nada e observar o teor de ligante obtido quan- vidas com materiais de pavimentação, tais como
do empregado um agrega-
do menos poroso e elaborar
r--------------------,
uma mistura asfáltica cuja do-
sagem fosse composta com
Cameterização eompteta }
100% de agregados de argi- Diagrama de Wlnkler
Moldagem e secagem ao ar
la calcinada, inclusive o fíler.
Secagem em estufa
ou 110 6 C
Queima em ceràmica local
I
A metodologia proposta I
I
I
I
t" ---
Composição química
No intuito da busca da Composição mineralógica
Anãlise térmica (ATD/ATG)
industrialização do processo Ab sorção e den sIdade
Desgaste após fervura
de produção da argila calci- Abrasão l os Angeles
Treton, 10% Finos, Res.
nada, naturalmente obser- Esmagamento

vou-se uma grande seme- Não Satisfatório

lhança com a indústria cerâ- ---~


~lisfatóriO
mica convencional. A partir
desta constatação, foi realiza- Figura 3- Fluxograma dametodologia:etapas de análise da matéria-prima;escolha do modelo de fabricação; emprego.

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dêmica, com o andamento dessas visitas, foi vis-
lumbrada uma outra possibilidade de produção
e, conseqüentemente, uma nova alternativa a
ser considerada: efetuar a produção do agrega-
do de argila calcinada em olarias.
Essa alternativa também foi planejada devi-
do às peculiaridades de diversos municípios loca-
lizados na Região Norte do País, atingidos pela
escassez de rochas e que não têm como dispor
estocagem
de um elevado aporte de recursos para a aquisi-
laminação
ção de uma usina pré-fabricada . Diante desses
fatos, a solução encontrada foi levada a efeito e
Figura 4- Fluxograma das etapas de fabricação do
compôs uma linha de ação dentro da pesquisa.
agregado deargila calcinada.
As figuras 5 e 6 ilustram esta fase de aprendizado.
usinas de misturas asfálticas, usinas de misturas
solo-agregado e unidades de britagem de rochas.

A alternativa da indústria cerâmica

Paralelamente ao início da etapa experi -


mentai do estudo que contemplou uma aplica-
ção completa da metodologia (figura 3), notou- '
se a necessidade de adquirir conhecimentos es-
pecíficos sobre a indústria cerâmica, conforme
explicado anteriormente. Foram então realiza-
das visitas aos pólos cerâmicos dos estados do Figura 5- Combustíveis alternativosdas indústriascerâmicas:
Rio de Janeiro (Itaboraí e Campos dos Goytaca- queimadores paraserragem e/ou gás natural.
zes) e Pará (Santarém).
Tais conhecimentos começaram a ser utili-
zados para a idealização e o desenho de um pro-
jeto-tipo de usina de fabricação de argila calci-
nada, sendo propostos,juntamente com a meto-
dologia, de forma similar ao que foi elaborado pelo
estudo do DNER [7] para o agregado de argila ex-
pandida, mas sem o "anseio" de viabilizá-Io na prá-
tica, devido aos recursos financeiros necessários
à montagem de um projeto deste vulto.
Apesar de essa proposição (mesmo que so-
mente teórica) já possuir alguma relevância aca- Figura 6- Unidade de pré-tratamento da serragem.

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A produção experimental inicial foi praticamente unânime, uma vez que es-
tava sendo mostrada não somente uma solução
Conforme foi relatado, estava delineada a para um problema da engenharia local, mas tam-
possibilidade de ser efetuada uma produção ex- bém uma nova alternativa de mercado.
perimentai em uma indústria cerâmica. Por mo- Acreditando que uma produção piloto pu-
tivos de proximidade e maior facilidade, este lote desse ser viabilizada a médio prazo, até com o
experimental seria realizado em indústrias loca- intuito de não prejudicar o funcionamento des-
lizadas no município de Campos dos Goytacazes tas indústrias, em menos de 3 semanas houve
- RJ, principalmente pelo grande auxílio presta- um retorno de um proprietário de olaria, sendo
do pelo Prof. Jonas Alexandre [2], docente da transmitida a informação de que já haviam sido
Universidade Estadual do Norte Flum inense fabricados aproximadamente 400kg de agrega-
(UENF). E, em seguida, seriam efetuadas as devi- dos, já britados, prontos para serem enviados e
das alterações nas análises de custos, para que avaliados em laboratório. Registrava -se, dessa
fosse possível obter dados mais aproximados forma, em julho de 2004, a primeira produção in-
da realidade encontrada na Região Norte do País. dustrial (figura 8) do agregado de argila calcina-
Neste ínterim, por ocasião do planejamen-
to da 2ª Operação Ricardo Franco (OPRF li), em
que alunos do 5º ano de graduação do IME de-
senvolvem projetos de cunho técnico/social em
comunidades da região amazônica, foi incluída,
como uma localidade a ser atendida, a cidade de
Santarém no Pará (figura 9).
Levando em consideração um pedido que
viria a criar a possibilidade de efetuar esta pro-
dução experimental na própria região de estu-
do da presente dissertação, o comando do IME
Figura7 - Amostradeargila calcinada produzida emlaboratório no IME,
pela primeira vez inclui um aluno de pós gradu-
disseminadaaos produtores cerâmicosduranteaOPRF 11.
ação na operação, e novamente lançava-se ou-
tro "desafio" a ser defrontado: durante os dez
dias disponíveis pela operação, deveriam ser
efetuadas novas visitas em empresas cerâmicas,
procurando o fomento necessário a esta produ-
ção desejada.
Durante a visita ao pólo cerâmico de Santa-
rém, além da oportunidade de divulgação de
publicações científicas e inovações que estavam
sendo praticadas nas regiões Sudeste e Sul do
país, a tecnologia da argila calcinada foi apresen-
tada aos ceramistas (figura 7), e a sua aceitação Figura 8- Agregadodeargila calcinada produzido emolariadeSantarém(PA).

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metro de fluorescência de raios-X do Instituto de
Geologia da UFRJ. A análise dos argilominerais
presentes na matéria-prima foi efetuada pela téc-
nica de difração de raios-X, no Laboratório de Fluo-
rescência de Raios-X do Instituto de Geologia da
UFRJ. Os ensaios de análise térmica diferencial e
análise termogravimétrica foram realizados na
Escola de Química da UFRJ, com base na compo-
sição química e dos argilominerais existentes na
matéria-prima.

Figura 9 - Presença dosalunos do IME e oficiais do 82 BECnst na OPRF 11.


l OO. " . . . - - - - - - - - - - -- - " T 0.8

da, sob controle tecnológico, em uma unidade 95


0 .4
de produção de peças cerâmicas convencionais.

Resultados obtidos .E 85
f
80
Na seqüência da pesquisa, foram realizados
·0.8
os testes de verificação da resistência mecânica 75

do agregado de "argila calcinada industrial': assim o = _


70 +---~-~-~-~-~-~.,---I- ·1.2
~ ~ I~ 1=
Exo Up Temperature ("C) Universal V2.6D TA Inslrumenls
como o seu emprego e desempenho em mistu-
ras solo-agregado e mistura asfáltica. Figura10 - Curvasdaanálise térmicadiferencial etermogravimétrica.

Tabela 1- Etapas de desenvolvimeto da parte experimental


Item Ação desenvolvida
12 Ensaios preliminares da matéria-prima.
22 Ensaios complementares da matéria-prima: análise química emineralógica, análise térmica diferencial etermogravimétrica.
32 Realização da produção experimental de 400kg de agregadosde argila calcinada em olaria de Santarém (PA).
42 Verificação da resistência mecânica do lote experimental de agregados de argila calcinada industrial ecomparação.
52 Estudo adicional da absorção dosagregados deargila calcinada.
6º- Análise dos custosenvolvidos na produção experimental.
72 Emprego: mistura solo-agregado; mistura asfáltica eavaliação do desempenho em laboratório.
82 Estudo adicional da densidade da mistura asfáltica por diferentes métodos.

A análise química foi efetuada segundo dois A figura 10 representa as curvas termogra-
métodos distintos, que encerram informdçôes vi métrica (TG), derivada termogravimétrica (DTG)
complementares: o método da espectrometria e de análise térmica diferencial (DTA) da mistura,
de energia dispersiva de raios-X (EDS) em apare- contendo 50% de cada tipo de argila. Deve-se sali-
lho de microscopia eletrônica de varredura (MEV) entar o que ocorre com as curvas termogravi-
do IME; e o método da fluorescência em espectrô- métrica (TG) e derivada termogravimétrica (DTG)

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após a temperatura de aproximadamente 500°(, forno túnel. O tempo de queima durou em média
ou seja, a perda de massa é praticamente irrele- 36 horas, mas isto foi devido à necessidade de
vante, e este fato pode vir a acelerar o processo de aproveitamento da fornada de produção dos
queima na produção após a passagem por esta tijolos e telhas. A queima foi realizada com o au-
temperatura, tendo em vista que não seriam oca- mento gradativo da temperatura, e o forno é aber-
sionadas trincas ou tensões internas ao agregado. to quando atinge cerca de 300°C. O combustível
utilizado foi a lenha, e eventualmente também
A etapa de produção dos agregados
utilizaram-se resíduos de madeireiras. Ambos são
A seguir,são relatadas as principais caracte- adquiridos com baixo custo, devido à diversidade
rísticas da fabricação realizada na olaria ou uni- de madeireiras nas proximidades. Na ocasião da
dade de produção (UP) que foi disponibilizada visita, novos queimadores eram instalados para
para a produção experimental. Tais informações o uso da serragem e do gás natural. A fornada
foram repassadas por intermédio de um questio- de uma unidade móvel (vagão) produz de 13
nário enviado à UP. As figuras 11 e 12 revelam al- mil a 20 mil peças, consumindo, em média, 20m 3
gumas peculiaridades da UP escolhida. de lenha . Por convenção, esta amostra de agre-
A argila é extraída e transportada da jazida
(próxima ao Rio Amazonas) até o depósito em
pátio coberto na própria UP em que é praticado
um curto período de sazonamento. A massa foi
preparada e, em seguida, houve a extrusão em
barras de 25cm de comprimento, com espessura
e altura aproximadas de um tijolo maciço. A UP
adaptou uma boquilha especificamente para esta
produção em sua própria serralheria. A secagem
das barras foi considerada satisfatória, sendo
efetuada à temperatura ambiente.
A UP é provida com fornos tipo túnel para Figura 11 - Foto do vagão fora do forno, com as peças empilhadas.

a queima das peças cerâmicas. Estas peças são


empilhada s em "vagões" que são deslocados
sobre trilhos até o interior dos fornos, os quais
são fechados e vedados por ocasião da queima.
A queima das barras cilíndricas foi efetuada até
um patamar cuja temperatura atingiu 950°C.Tais
barras foram empilhadas na parte superior dos
vagões (na mesma posição em que são empilha-
das as telhas) e queimadas juntamente com os
tijolos e telhas da produção convencional da UP.
A UP efetua o controle da temperatura pe- Figura 12- Usodalenha como combustível einstalação
los medidores dispostos em diversos pontos do do novosistema de queima.

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gados produzidos na UP de Santarém recebeu ções são referentes (em peso) a uma produção
a denominação de "Argila Calcinada Industrial': de 486 toneladas de tijolos maciços no período
Para a previsão de um custo estimado da de análise, e a partir de algumas considerações
fabricação do agregado de argila calcinada in- a respeito da transformação para volume de
dustrial, foram necessários alguns dados relati- agregados britados, são efetuados os cálculos
vos do processo produtivo bem como uma pla- da tabela 2.
nilha mensal composta dos custos da olaria (UP) A dosagem da mistura asfáltica inicialmen-
relacionados a um tijolo maciço produzido nes- te obteve um teor"ótimo': com 8,7% de ligante e
ta indústria cerâmica . Sabendo que estas anota- um volume de vazios de 4,4%, seguindo as es-

Custos mensais da Unidade de Produção (Tijolo maciço)

RS 6.000.00 - , - - - - -- -- - -- - ----,

RS 5.000.00

RS4.000.00

RS 3.000.00
Hr A<. \0 DL MESTRADO -CAPLI t~
RS 2.000,00
\K<,ll" (A LCIl\/\DA rNDUI RlAI
RS 1.000,00
J IrORÓTIMO,8.70%

Figura 13 - CP dosado apenas com CAP-20 e 100%


de agregados de argila calcinada,
Figura 18 - Planilha de custos mensais da fabricação de tijolo
maciço na olaria de Santarém,

Tabela 2 - Custo estimado do agregado de


argila calcinada industrial
Custo/ton = R$ 60,78
Massa específica aparente - ~,p (ton/m 1) = 1,05
Fatorde conversão (limite inferior) = 0,25
Fator de conversão (limite superior) = 0,60
Custo/m 1(maciço) = R$ 63,82
Custo/mJbritado (limite inferior) = R$ 51,06
Custo/m1britado (limite superior) = R$ 39,89
Figura l4 - Execução do ensaio de Rice [3J,

Tabelo 3 - Comparativo de desempenho de concretos asfálticos para aRreMR•

PINTO [9]: Concreto BATISTA [4]: Concreto asf, Concreto asfáltico com 100%de
Parâmetro
I asfáltico com brita com argila cale. de laboratório agregados de argila calcinada industrial
RT- 25°C (MPa) 0,81 0,65 0,76
RT - 30°C (MPa) 0,63 0,33 0,47
RT- WC (MPa) 0,42 0,22 0,33
MR- 25°C (MPa) 3.520 2.086 3,225

C ~T 32 QUADRIMESTRE DE 2005 63
pecificações Marshall. o desempenho do con- que ratifica ainda mais a resistência do agrega-
creto asfáltico, dosado apenas com CAP-20 e do, pois foi submetido a sessenta golpes no com-
100% de ag regados de argila calcinada industrial, pactador original Marshall do Instituto de Pes-
está na tabela 3. quisas Rodoviárias (IPR) . Conforme pode ser no-
Apresenta-se, na tabela 4, outro importante tado, além da soma da degradação das peneiras
resultado sobre a resistência do agregado presen- preconizadas pela norma citada, foi feita a avali-
te na mistura asfáltica: a degradação verificada após ação da degradação em todas as peneiras cons-
a compactação no equipamento Marshall. Apesar tantes dos percentuais do projeto, e mesmo as-
de a norma DNER-ME 401/99 não estabelecer li- sim ambos resultados foram inferior ao valor de
mite de aceitação, Albuquerque [1] relata que 6% de degradação.
alguns pesquisadores já constataram que o com-
pactador Marshall propicia uma condição de im- A proteção da inovação tecnológica
pacto mais severa do que é observada em campo.
Sendo assim, limites de 6% já foram citados como Atualmente, ainda é notório no País a falta
o mais apropriado para a aceitação da degrada- de cultura na área da propriedade intelectual (ma r-
ção do agregado, após a compactação no equipa- cas, patentes, desenho industrial, registro de sof-
mento Marshall com ligante asfáltico. tware e outros), que também perdura em grande
parte da comunidade científica. A principal con-
Tabela 4 - fndicede degradaçãoMarshall com o seqüência é que o Brasil não transforma o conhe-
agregado de argila calcinada industrial. cimento gerado em inovações, ou seja, em rique-
Projeto za e transferência de tecnologia para a sociedade.
Peneira Média dos (P's
Soma Ilustra-se este aspecto com a informação de
11/2" 100% 100% que, em média, apenas de 5% a 10% de toda a tec-
1" 100% 100% nologia produzida mundialmente são protegidos
3/4" 100% 100% em países em desenvolvimento, aí incluindo-se o
DEGRADAÇÃO 112" 85% 86% Brasil. Isto quer dizer que a maioria da tecnologia
MARSHALL 3/8" 78% 75% mundial produzida não se acha protegida em nos-
Nº4 58% 52% so País. Cabe então dizer que aquele que vier a
Nº10 34% 25% utilizar-se dessa tecnologia em domínio público no
Nº40 17% 16% Brasil deverá procurar saber em que países ela se
Nº80 13% 11% acha protegida antes de efetivar, por exemplo,
Nº200 11% 8% exportações que envolvam essa tecnologia .
NORMA: 3,67% O interesse em avançar no desenvolvimento
fNDICE DE DEGRADAÇÃO
TODAS AS PENEIRAS: 4,00% da Região da Amazônia, que é a menos atendida
do Brasil em infra-estrutura de transporte, foi o
Ressalta-se que a norma contempla apenas fator motivador para desencadear um processo
os deslocamentos nas peneiras 3/4", 3/8", Nº 4, até então não explorado pelo sistema de Ciência
Nº 10, Nº 40 e Nº 200 e prevê a compactação dos e Tecnologia do Exército Brasileiro: a proteção de
corpos de prova com cinqüenta golpes, fato este uma pesquisa iniciada e desenvolvida, ao longo

64 3º QUADRIMESTRE DE 2005 C~T


de oito anos, na Seção de Engenharia de Fortifica- borada a redação do documento de pater)te con-
ção e Construção do Instituto Militar de Engenharia. tendo todo o processo produtivo desde a pros-
Além da escassez de recursos para o desen- pecção da matéria-prima até a expedição do agre-
volvimento da pesquisa, a continuidade do estu- gado artificial de argila calcinada com emprego na
do do agregado de argila calcinada também es- pavimentação, protegendo assim toda a tecno-
teve próxima de ser ameaçada por uma informa- logia que é de domínio dos pesquisadores do IME.
ção errônea que estava sendo divulgada através Registrava-se, desta forma, em dezembro de
de terceiros. 2004, o depósito do pedido de patente junto ao
Por sorte, dentro da equipe de pesquisado- INPI, da tecnologia do agregado artificial de argila
res, existem integrantes que já atuavam neste ra- calcinada, sob titularidade, pela primeira vez, do
mo do Direito, com habilitação pela World Intellec- IME e simultaneamente do Exército Brasileiro.
tual Property Organization - WIPO (um organismo
da ONU), e que estava, paralelamente à realização Discussões e conclusões
da etapa experimental, sendo feita uma minuciosa
busca em bases de dados nacionais do Instituto ---7 Os conhecimentos obtidos junto aos ce-
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), norte- ramistas ratificaram a necessidade de se avaliar
americanas (United States Patent Office - USPTO), de forma conjunta a composição química, a mi-
européias (European Patent Office - EPO) e inclusi- neralogia e a análise térmica da matéria-prima.
ve as de acesso privado (Dialog System) sobre ---7 A análise térmica (diferencial e termo-
tecnologias correlatas, com vistas à sensibilização gravimétrica) constitui-se em uma ferramenta ex-
do Comando do IME para a realização dos procedi- tremamente útil, para informar como deverá ser
mentos para a obtenção deste tipo de proteção tratado termicamente o agregado, ou seja, oI/pIa-
pioneira no instituto, uma vez que estavam sendo no de queima" para a fase de produção.
atendidos todos os requisitos necessários ao de- ---7 A hipótese de produção da argila calci-
pósito de uma patente de invenção. nada em uma indústria cerâmica, consolidada du-
Foi então durante essas buscas que surgiu a rante as visitas, provou ser viável tecnicamente e
informação de que a tecnologia já havia sido pro- vantajosa financeiramente. Essa alternativa foi
tegida por um empresário ceramista de Rio Bran- planejada principalmente para atender às peque-
co, no Acre. Ao averiguar a veracidade da informa- nas demandas de municípios da Região Norte do
ção, percebeu-se que havia apenas a proteção do País, que encontram dificuldades logísticas e pe-
sinal marcário identificador de um produto. Pro- culiares a esta região de selva e não têm como
duto este que não possuía a mesma qualidade dispor de um elevado aporte de recursos para a
técnica atingida pelo agregado de argila calcinada. aquisição de uma usina pré-fabricada para a pro-
Temendo que esta modalidade de proteção dução do agregado de argila calcinada.
da tecnologia pudesse evoluir em um futuro pró- ---7 As taxas de ligante obtidas com o agre-
ximo para um pedido de patente de invenção, e gado de argila calcinada (8% a 9%) aparentemen-
que dessa forma pudesse impedir o prossegui- te podem parecer elevadas quando compara-
mento das pesquisas realizadas no IME em bene- das às observadas nos concretos asfálticos empre-
fício da engenharia viária da Região Norte, foi ela- gados com o agregado natural (4% a 7%). O que

ChT 3º QUADRIMESTRE DE 2005 1 65


deve ser lembrado e ratificado é a relação de massa ção industrial do agregado de argila calcinada, a
e volume que difere estas duas misturas em par- meta de se atingir, em curto ou médio prazo, al-
ticular, e aí se entende a espessura a ser observa- gum trecho experimenta l com este material alter-
da na camada de revestimento do pavimento, nativo deve ser encarada com afinco, para que seja
que, a princípio, deve ser a mesma. possível propor esta solução à infra-estrutura de
--7 Apesar da vantagem financeira já expli- transportes dos diversos municípios da Região
cada em relação à aquisição da brita, as conside- Norte do País e, desta forma, capacitar a execução
rações feitas no cálculo estimativo proporciona- de empreendimentos viários que por outrora eram
ram uma majoração, e chegou-se a um custo mé- economicamente inviáveis, devido ao "custo ama-
3
dio de R$ 45,OO/m para a argila calcinada. Segun- zõnico" de aquisição de materiais pétreos.
do dados do proprietário da indústria responsá- --7 Da mesma forma, a busca pela proteção
vel pela produção experimental, vários são os fa- de propriedade intelectual desenvolvida e pro-
tores que são capazes de prover uma acentuada prietária do IME estabeleceu desde já a expecta-
queda deste valor. Entre elas, cita-se a mudança tiva do Direito de Propriedade Industrial do IME,
do sistema de queima para a serragem, que tor- mediante o depósito do seu primeiro pedido de
naria ínfimo o custo de aquisição de combustível patente, ação esta que, além de pioneira, tornou-
para a queima. se um marco gerador da proteção ao processo
--7 Assim como foi uma proposta desafiado- inovador da instituição e da Ciência e Tecnologia
ra a tentativa acadêmica de realizar uma produ- do Exército Brasileiro. l3U

Referências bibliográficas

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