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Universidade de São Paulo – USP

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH

Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas – DLCV

Kelly Cristina Rufino

Os caminhos da língua brasileira de Mário de Andrade

São Paulo

2015
KELLY CRISTINA RUFINO

OS CAMINHOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE MÁRIO DE ANDRADE

Artigo apresentado como trabalho de


conclusão da disciplina do curso de pós-
graduação A Correspondência de Mário de
Andrade como “Arquivo da Criação”
Literária oferecida pelo Departamento de
Letras Clássicas e Vernáculas – DLCV no 2º
semestre de 2015.

Área de concentração: Literatura brasileira.

Prof. Dr. Marcos Antonio de Moraes

São Paulo

2015
Sumário

Resumo............................................................................................................................01

Abstract............................................................................................................................01

Verbo Itinerário...............................................................................................................02

A Gramatiquinha de Mário de Andrade..........................................................................03

Retrodatação linguística - A jornada da palavra..............................................................05

Correspondência – Manuel Bandeira..............................................................................08

Correspondência – Sousa da Silveira

Correspondência – Pio Lourenço Corrêa, o Tio Pio........................................................11

Correspondência – Carlos Drummond de Andrade.........................................................14

A estrada até aqui............................................................................................................17

REFERÊNCIAS..............................................................................................................18
1

RESUMO

O presente artigo busca explorar as discussões a respeito dos fenômenos


linguísticos no período que compreende o começo da segunda década até meados da
quarta década do século XX, presentes na correspondência ativa e passiva de Mário
Raul de Moraes Andrade (1893 – 1945) com Manuel Carneiro de Sousa Bandeira (1886
– 1968), Pio Lourenço Corrêa (1875 – 1957) e Carlos Drummond de Andrade (1902 –
1987). Polígrafo, o escritor modernista do pregava o uso da variante brasileira da
Língua Portuguesa, fazendo sua aplicação uma rotina em sua correspondência, com
vasta gama de expressões coloquiais. Serão também apresentados resultados do
processo de retrodatação linguística de vocábulos que visa obter dados mais precisos
acerca do desenvolvimento da língua para que haja exatidão na datação etimológica do
português brasileiro.

Palavras-chave: Correspondência, Mário de Andrade, Etimologia, Retrodatação,


Modernismo brasileiro.

ABSTRACT

This article aims explore discussions about the linguistic phenomena from the beginning
of the second decade until the middle of the fourth decade of the twentieth century,
present in the active and passive correspondence of Mario Raul de Moraes Andrade
(1893 - 1945) with Manuel Carneiro de Sousa Bandeira (1886 - 1968), Pio Lourenço
Corrêa (1875 - 1957) and Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987). Polygraph, the
modernist writer preached the use of Brazilian variant of the Portuguese language,
writing it in his domestic correspondence with wide range of colloquial expressions.
Also will be presented results of the process of antedating of words that aims to obtain
more accurate data of language development along time as an effort to get accuracy in
etymological dating Brazilian Portuguese.

Key words: Correspondence, Mário de Andrade, Etymology, Antedating, Brazilian


modernism.
2

Verbo Itinerário

Mário Raul de Moraes Andrade (1893 – 1945), escritor, modernista, folclorista,


poligrafo. Idealizador de um projeto de identidade brasileira, Mário pregava o uso, no
Brasil, do português brasileiro, como chamava “A língua do povo”. Dessa língua deixou
inúmeros registros ao longo de mais de 20 anos de sua vasta correspondência, rastro
esse que nos permite observar, de forma testemunhal, o caminho linguístico percorrido
pelo escritor e estudioso da língua.

Em sua biblioteca particular, hoje propriedade do IEB – Instituto de Estudos


Brasileiros da Universidade de São Paulo, há livros de estudos linguísticos, como a
Gramática Secundária da Língua Portuguesa, de Said Ali e O dialeto caipira, de
Amadeu Amaral, ambos anotados em sua marginalia com apontamentos de Mário sobre
a língua brasileira a respeito de vocabulário, sintaxe e etimologia. Além de obras de
referência do filólogo e professor brasileiro Sousa da Silveira, há também uma edição
do livro de Mário de Andrade, Belazarte, anotado pelo filólogo, com apontamentos
linguísticos sobre a criação do autor de Macunaíma.

Mário viveu a língua, seus caminhos, desencontros e importância para a


identidade do povo brasileiro e fez do idioma um estandarte para seu projeto de
identidade brasileira, destacando-a em suas obras literárias, como Macunaíma e Amar,
verbo Intransitivo. Mal compreendido pela crítica literária da época, o escritor não
esmoreceu em seu ideal, estabelecer uma língua literária brasileira, e continuou
empregando a variedade brasileira da Língua Portuguesa em sua literatura e vida
cotidiana.

A carta, objeto de comunicação revelador da história e registro histórico da


língua, propicia espaço amplo para a observação do esforço do autor em exprimir um
Brasil real através da língua empregada na escrita das missivas. O espaço da
correspondência, propicio para o desenvolvimento de discussões de cunho intelectual,
foi cenário para Mário de Andrade colocar em prática seu projeto de uma língua
brasileira com os mais diversos correspondentes, como Manuel Bandeira (1886 – 1968),
o filólogo Sousa da Silveira (1883 – 1967), Pio Lourenço Corrêa (1875 - 1957), o Tio
Pio, e Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987).
3

Nas cartas discutia, sobretudo, a fala do brasileiro, os aspectos regionais, desvios


de sintaxe, a riqueza do vocabulário criado pelas experiências do povo do Brasil e a
criação de sua Gramatiquinha, livro que apesar de anunciado em obras em preparo em
Losango Cáqui, Clã do Jabuti, Amar, verbo intransitivo e Macunaíma, não foi
publicado pelo autor em vida.

A Gramatiquinha de Mário de Andrade

— Você anunciou, uma vez, a Gramatiquinha da língua brasileira. Por que


não publicou nunca esse livro?

— Da língua, não. Da fala brasileira. Não tinha a pretensão de criar uma


língua brasileira. Nenhum escritor criou língua nenhuma. Anunciei o livro, é
verdade, mas nunca o escrevi. Anunciava o livro por me parecer necessário
ao movimento moderno. Para dar mais importância às coisas que queríamos
defender. É ainda muito cedo para escrever-se uma Gramática da língua
brasileira. Eu queria prevenir contra os abusos do escrever errado. Estávamos
caindo no excesso contrario. Como muito bem observou um dos redatores de
Estética, não me lembro se Sérgio Buarque de Holanda ou Prudente de
Morais. Estávamos criando o "erro de brasileiro". Quando falo em escrever
certo, estendo a questão até o problema ortográfico. Considero-o um
problema de ordem moral (Barbosa/ Andrade, 1954).

Para Mário de Andrade, a composição da Gramatiquinha estava diretamente


ligada ao ideário modernista de valorização dos elementos formadores da cultura
brasileira, por isso Gramatiquinha da fala brasileira e não da língua, pois os ideais
eram morais e psicológicos e visavam normatizar o falar brasileiro, que não era
diferente, para o autor, da Língua Portuguesa de Portugal, mas distinto em muitos
aspectos. Essa normatização da variante brasileira da língua visava análise estilística e
psicológica da língua falada no Brasil.

As discussões linguísticas com diversos destinatários revela a intenção de Mário


de Andrade em criar a Gramatiquinha, denunciando a dualidade do autor em relação ao
projeto. Parte de seu ideário nacionalista, a obra seria de extrema importância para
enfatizar a valorização da cultura e história do povo brasileiro, pois as tradições e
costumes de um povo são transmitidos às gerações futuras através da língua, muitas
vezes o sermo vulgaris, por outro lado, Mário não acreditava ter o conhecimento
cientifico suficiente para elaborar um livro que codificasse de forma normativa a
variante brasileira da Língua Portuguesa.
4

A obra nunca foi finalizada pelo autor, que deixou anotações e rastros, nas
correspondências e documentos dispersos do que seria a Gramatiquinha. Concebida
como obra fictícia, Mário não deixou qualquer metodologia de análise para elaboração
de uma gramática, somente a estrutura geral de um índice, envelopes com documentos
anotados, uma caderneta intitulada Língua Brasileira, folhas avulsas, recortes de jornais
com artigos a respeito da língua e autógrafos dispersos em livros de sua biblioteca.

Baseando-se no material deixado pelo autor e na vasta correspondência a Prof.


Edith Pimentel Pinto organizou uma edição crítica e anotada da Gramatiquinha,
publicada em 1990, na qual trata da concepção da obra pelo e analisa minuciosamente
os materiais dispersos deixados pelo autor num esforço de interpretar, a partir dos
documentos e comentários em cartas, o que seria a composição da obra idealizada por
Mário de Andrade, compondo assim um ensaio da obra.

Além da edição crítica elaborada pela Prof. Edith Pimentel Pinto, há uma edição
genética, feita a partir dos manuscritos presentes no arquivo de Mário de Andrade
pertencente ao IEB – USP que foi organizada por Aline Novais de Almeida, em sua tese
de mestrado orientada pela Prof. Therezinha A. Porto Ancona Lopez, em 2013. O
trabalho esmerado de Aline revela, assim como o texto da Prof. Edith Pimentel Pinto, a
intenção de Mário em criar uma gramática não gramatical e não normatizada, mas uma
obra de ficção, como parte de seu projeto de ideologia estética modernista com o intuito
de forçar a aceitação da variedade brasileira da língua e validar seu uso literário, assim
como ele próprio fazia em suas obras.

A percepção da língua brasileira de Mário de Andrade, presente em a


Gramatiquinha, esclarecida a partir dos esforços de Edith Pimentel Pinto e Aline
Novais Almeida, proporciona subsídios que embasam a pesquisa histórica a respeito do
pensamento linguístico da época, visto que a elaboração do material, por Mário de
Andrade, gerou discussões em cartas ricas em questões que abordavam a linguagem e
seu uso em um contexto histórico.
5

Retrodatação linguística - A jornada da palavra

O percurso de uma palavra ao longo do tempo deixa rastros ortográficos,


fonéticos e sociais. A maneira como a língua se revela no decorrer dos anos pode
também revelar o modo como determinada comunidade social evolui e se comporta.
Segundo VIARO (2011) a datação da ocorrência mais antiga de um vocábulo é de suma
importância, porque só por meio dela saberemos que a palavra já era usada naquela
sincronia, portanto é preciso fazer a refinação das datas já disponíveis em alguns
dicionários etimológicos e fazer a retrodatação à procura da data mais recuada.

A procura do terminus a quo1 é feita de forma apurada e validade pelos


documentos originais para se garantir o rigor da hipótese etimológica. Constato o
vocábulo que pode ser retrodatado o mesmo é comparado com diversos corpora
linguísticos virtuais e dicionários como o Houaiss & Villar (2001) e o Dicionário
Etimológico de Antonio Cunha (2006).

A correspondência ativa e passiva do poligrafo Mário de Andrade compõe um


amplo material de estudo para compreender o uso do português brasileiro, em sua forma
coloquial, no auge do Movimento Modernista, sendo a carta meio de comunicação, mas
também um instrumento que revela e situa seus interlocutores na sociedade, expondo
seus pensamentos e sentimentos perante a época em que vivem, visto que seja
testemunho da história.

Como documento testemunhal da história a correspondência do autor,


desenvolvida entre 1917 e 1945 também serve de subsidio para a pesquisa de hipóteses
do terminus a quo de estrangeirismos e neologismos característicos da língua falada que

1
Registrado datado mais antigo da palavra.
6

necessita de fontes históricas datadas para que seja realizada com rigor, como orienta
Mário Eduardo Viaro:

Para estabelecer-se o étimo de uma palavra é preciso ter corpora datados.


Conhecer, na prática, a data da criação de uma palavra, é, contudo,
praticamente impossível, a não ser em termos técnicos. Normalmente a
palavra é usada na fala e aparece na escrita somente muito tempo depois. No
entanto a datação da ocorrência mais antiga é importante porque só por meio
dela saberemos que naquela sincrônica a palavra já era usada. (VIARO,
2011)

A carta pessoal, sendo espaço de interlocução entre destinatário e remetente


proporciona material registrado que mais se aproxima do que seria a língua falada da
época, sobretudo tratando-se da correspondência de Mário de Andrade, que idealizava
como parte do seu projeto nacional estilístico e literário o reconhecimento da língua
falada brasileira, como apontam os arquivos da criação da Gramatiquinha. O período da
correspondência é relativamente recente em termos de pesquisa histórica linguística e,
portanto colabora para a datação de étimos modernos do século XX, que necessitam
cada vez mais de fontes fidedignas de pesquisa, pois a maior valorização da língua
falada encurtou o tempo de inserção dos neologismos na língua escrita formal (VIARO,
2011).

Assim como as anotações e documentos referentes à composição da


Gramatiquinha, Mário de Andrade deixou, em sua correspondência, vasto material para
a pesquisa de retrodatação linguística, pois com muitos de seus correspondentes a língua
foi assunto corriqueiro, seja a respeito da composição de suas obras, como é o caso das
longas discussões que se estenderam por anos com Manuel Bandeira a respeito da
língua brasileira utilizada por Mário ou discussão de dúvidas e assuntos linguísticos
vigentes da época com Pio Corrêa Lourenço, o Tio Pio, grande estudioso da língua.

Além do próprio material linguístico proveniente do dialogo nas cartas a


correspondência revelou outras fontes para a pesquisa linguística histórica, como as
fichas de estudo de Pio Corrêa citadas em muitas de suas cartas: Só um recado por
horas. Não, é “por oras” que se escreve. Está aí um caso bom de contaminação que me
parece ninguém inda não escreveu sobre não, escreveu? Como vamos de fichas?
7

(ANDRADE, 1927) 2. São cerca de 10.200 fichas com estudos de Pio Corrêa, muitas
delas com apontamentos linguísticos, hoje no fundo PCL.

Há também, menção de registros fonéticos, material escasso para pesquisas de


linguística histórica, em carta de Manuel Bandeira a Mário de Andrade de 24 de abril de
1937:

Aqui vai o texto definitivo. Mostrei-o ao Nascentes, que o aprovou. Tinha


mostrado ao Sousa da Silveira o texto com as alterações propostas por você.
Ele fez-me algumas sugestões: esconder, escondi; andar; continue;
camondongo; Jaime; compadre; o juiz teve em vez de o juiz absolveu (preferi
o juiz teimou); paina, esqueceu; esquecia. Creio que assim está bom.
Repetindo cada frase, eu leio tudo em três minutos. Quanto aos discos, acha o
Nascentes que não convém neste principio de fixação regional admitir muitos
tipos, mas apenas os principais, deixando para mais tarde os tipos
intermediários. E os tipos que ele reputa principais são 7, a saber: Norte
(Amazonas ou Pará), Nordeste (Pernambuco ou Paraíba), Bahia, Carioca,
Mineiro, Paulista, Rio-grandense-do-sul. 14 discos pois, está de acordo?
(Bandeira, 2001, 24 abr. de 1937).

O projeto tinha a principal intenção de registrar as prosódias regionais do Brasil,


com gravações de sujeitos considerados “cultos” e “incultos”, resultando uma série de
discos que se encontram hoje na Discoteca Oneyda Alvarenga, do Centro Cultural de
São Paulo. A produção de tal projeto ressalta a grande importância que os estudos
linguísticos e de registro de corpus tinha para os autores de época, além de proporcionar
material diversificado para a pesquisa diacrônica do português.

A pesquisa etimológica não deve ser de caráter definitivo, portanto o corpus da


correspondência de Mário de Andrade constitui fonte histórica, testemunhal e costumaz
para hipóteses de terminus a quo para retrodação de vocábulos num período que
compreende a 2ª metade do século XX. A seguir alguns dos resultados hipotéticos já
obtidos a partir da analise linguística da correspondência com três interlocutores,
Manuel Bandeira, Pio Lourenço Corrêa e Carlos Drummond de Andrade.

2
Fragmento de carta de Mário de Andrade a Pio Lourenço Corrêa de 24 de janeiro de 1927 publicada na
edição anotada por Denise Guaranha e Tatiana Longo Figueira, Pio & Mário diálogo da vida inteira, p.
101.
8

Correspondência - Manuel Bandeira

Durante mais de vinte anos de correspondência, entre 1922 e 1944, Mário de


Andrade discutiu com o escritor e grande amigo, Manuel Bandeira, a respeito de
assuntos diversos de vida profissional e pessoal. A questão da língua brasileira é tema
recorrente da interlocução, seja pelo uso “anarquista” que Mário faz da norma padrão,
como cita Manuel Bandeira na primeira edição da reunião de cartas publicada por ele
em 1954 ou por discussões a respeito dos aspectos linguísticos da época, como em carta
a Manuel Bandeira, de 06 de agosto de 1933.

O caso do “obsecar” eu sabia perfeitamente mas é um desses casos que,


tantos na vida! A gente resolve a trouxe-mouxe e vai de repente, alguém
obriga a gente raciocinar mais de espaço about. É um caso curioso de
etimologia popular. semi-erudita. Os galipardas dos jornais, querendo
obséder, mais lembrando obcecar (cuja grafia naturalmente não lembravam),
fizeram “obsecar”, verbo novo com o sentido tão necessário de obséder. Do
resto o próprio circunlóquio que você me propõe mostra claramente a
precisão em que estamos do verbo, ou dum verbo que fale a mesma coisa.
Quando estiver com o Sousa da Silveira ou por aí mesmo, veja se descobre.
Se não descobrir, sustento o “jornalístismo”, palavra que ainda não foi
lembrada pra classificar certos vícios de linguagem, e é boa, não acha?
(Andrade, 2001, 6 ago. de 1933)
9

No exemplo acima, nota-se discussão ímpar a respeito do terminus a quo do


verbo obcecar, com a acepção de privar dos sentidos, grafado com s, por Mário de
Andrade, pois a palavra, que hoje é de uso corriqueiro, não integrava a norma padrão da
língua. Dessa forma, pode-se observar como a palavra evoluiu ao longo do tempo.
Segundo a única etimologia presente no dicionário Houaiss & Villar (2001) obcecar
vem do lat. obcaeco ou occaeco,as,ávi,átum,áre 'cegar, fazer cego, causar cegueira;
cegar (o espírito), tornar escuro, escurecer, perturbar'; ver cec(i/o)-, sem qualquer
datação e abonação em português do Brasil.

Assim como a discussão de etimologia popular supracitada, há também


discussões sobre ortografia e a importância de uma reforma ortográfica que desse conta
da língua brasileira, como cita Mário em carta a Manuel Bandeira de 26 de janeiro de
1935:

(...) Arre também! não vá pra Cumbuquira “concertar” o fígado que você se
estraga completamente, que coragem! Isso acho que é demais. Apesar de suas
razões que já conheço hoje, concertar com c, pra qualquer sentido da palavra
está consagrado definitivamente. Vamos: me retruque que o “hontem”, o
“geito” e o “precêgo” também estavam concertados definitivamente entre
escritores e que então eu não devia concertá-los. Você está certo, mas a
minha resposta é o “brinque-se”! Por enquanto. Porque se vier uma nova
reforma ortográfica mandando distinguir definitivamente consertar e
concertar, assim farei em nome da minha desindividualização teórica. Viva a
humanidade! (...) (Andrade, 2001, 26 jan. de 1935).

O trecho da carta escrita um ano após o Acordo Ortográfico de 1934


estabelecido pelo governo de Getúlio Vargas que retrocedeu à decisão do Acordo de
1931, acatado primeiro por Portugal e depois pelo Brasil e que deixavam os países em
consonância linguística. A atitude nacionalista do governo gerou polêmica entra a
população e acadêmicos.

Toda a década de 30 foi marcada por controvérsias a respeito dos Acordos


Ortográficos, sendo que somente em 1942, Gustavo Capanema, então ministro da
educação, discursou na Academia Brasileira de Letras com o intuito de incentivar os
acadêmicos a instituírem um vocabulário próprio brasileiro. O discurso surtiu efeito em
um decreto de 13 de janeiro de 1943 estabeleceu o Vocabulário Ortográfico e Ortoépico
10

da Língua Portuguesa, criado em um dos Acordos da década de 30, para uso oficial até
que a Academia Brasileira de Letras estabelecesse vocabulário próprio.

No mesmo ano foi estabelecido o Formulário Ortográfico da Língua


Portuguesa, pela Academia Brasileira de Letras, que resultou no Pequeno Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa de 1943, que incorporou neologismos brasileiros,
topônimos provindos de línguas indígenas e africanas, bem como estrangeirismos
incorporados pela fala brasileira.

Gustavo Capanema, assim como Carlos Drummond de Andrade faziam parte do


círculo intelectual de discussão que envolvia Mário de Andrade e Manuel Bandeira, o
que atesta a importância das discussões desenvolvidas pelos últimos interlocutores a
respeito das inúmeras reformas ortográficas da época e a necessidade de se reconhecer
como válida a variante brasileira da Língua Portuguesa por questão sociológica de
identidade nacional.

O volume da correspondência de Mário de Andrade com Manuel Bandeira é


recheado de exemplos tão pertinentes quanto os recortes ilustrativos acima citados,
como a discussão que se estendeu por anos a respeito do capítulo Carta para as
Icamiabas, de Macunaíma, que Manuel Bandeira desaprovou, em partes, pelo uso da
língua, como revela carta de 12 de novembro de 1927:

(...) A carta em que Macunaíma aparece como tendo aprendido português,


Macunaíma com a vaidade de escrever com sabor clássico, é um disparate,
uma quebra violenta da unidade da personagem (...). Tem mais: ainda mesmo
que eu achasse cabimento na carta e naquela linguagem, a carta em si me
caceteia: era preciso que estivesse escrita com a ingênua gostosura do
ridículo com que se expressam Laudelino e outros colaboradores da Revista
de Língua Portuguesa: você falhou em sua sátira (...) (Bandeira, 2001, 12 de
nov. de 1927).

Manuel Bandeira, visto como coautor e grande amigo por Mário de Andrade,
auxiliava-o também em questões linguísticas que geraram discussões frutíferas e
influenciaram até mesmo outros intelectuais do círculo intelectual mutuo dos
correspondentes. O conjunto das correspondências é vasto, proporciona grande campo
de pesquisa e fonte histórica reveladora da interlocução de dois grandes intelectuais
brasileiros.
11

Correspondência - Pio Lourenço Corrêa, o Tio Pio

Grande estudioso autodidata da língua Pio Lourenço Corrêa, o Tio Pio, que
assim era chamado por Mário de Andrade por pura familiaridade, pois na verdade Mário
era primo de sua mulher, Zulmira, vivia em Araraquara e era 17 anos mais velho que o
modernista. Mário, acostumado a se corresponder com grandes intelectuais e escritores
de sua época, via em Pio Corrêa interlocutor especial para suas discussões linguísticas,
como revela a Manuel Bandeira em carta de 09 de janeiro de 1935, escrita em
Araraquara, na chácara Sapucaia, propriedade de Pio Corrêa:

(...) Aliás, por exemplo, nestas férias, aqui com meu tio Pio Lourenço nesta
chacra em que Macunaíma nasceu, vivemos falando diário no Sousa da
Silveira. Meu tio, abalizadíssimo em português, como creio já contei pra
você, venera o Sousa da Silveira, tem todas as obras dele em todas as
edições, ficha os escritos dele etc. Eu também, você já sabe. Ora, nossas
conversas aqui são exclusivamente de língua ou de história natural .(...) Em
língua, aliás, não nos entendemos, porém só na questão que se deve atualizar
a língua literária brasileira de acordo com a... psicologia linguística da fala
brasileira atual (...). (Andrade, 2008, 9 fev. de 1935)

A correspondência entre Mário e Pio estendeu-se de 1917 até 1945 e conta com
um acervo de 84 cartas. A “chacra” em Araraquara era refúgio do escritor modernista e
12

foi o berço de Macunaíma, como o autor divulgou largamente que foi escrito em sete
dias, em uma de suas estadas na casa de Pio. A discussão linguística estabelecida entre
os dois correspondente contribuiu, também para a composição do léxico de Macunaíma:

Sugiro a ideia de você encher minha ausência de qualquer maneira suave (a


estadia em Sta. Lúcia, por exemplo, que de outra vez gorou). E não suponha
que o casamento foi invenção minha: - eu inventei isso já há 24 anos, sem
prejuízo, portanto, do seu descanso aqui com as mandaguaris. (Corrêa, 2009,
1º sem. de 1922).

O vocábulo em questão é supostamente formado em tupi-guarani (cf. CUNHA


1989 s.v.) nomeia uma espécie de abelha silvestre do Brasil, da família dos
meliponídeos. O vocábulo foi utilizado com a mesma grafia, por Mário de Andrade, na
rapsódia Macunaíma - o herói sem nenhum caráter, em 1928: “(...) Fez um anzol com
cera de mandaguari mas bagre mordia, levava anzol e tudo” (ANDRADE, 1996: 102).
A versão eletrônica de 2001 do dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, traz três
datações do vocábulo:

no TupGN, tupi mandagwa'im 'espécie de abelha silvestre do Brasil', comp.


de manda 'feixe, amarrado' e guaim 'suave, bonito'; f.hist. 1876 mandaguahy,
1928 mandaguarí, 1930 mandaguary. (Houaiss & Villar, 2001).

Segundo o dicionário, a data mais antiga da grafia mandaguari do vocábulo é


1928 (a grafia novecentista mandaguahy seria grafada hoje como “mandaguaí” e não
“mandaguari”). No entanto, como se encontra na carta de Pio, de 1922, pode ser
retrodatada para seis anos antes. Mais exemplos ilustram o vasto dialogo a respeito da
língua, como se vê em carta de Pio a Mario datando de 31 de agosto de 1921:

O caso da agá de perdoar-me-há, de que me fala em sua carta de 12, deu-me


ensejo a perlustrar de novo os mandamentos da ortografia oficial portuguesa.
Isso acabei de fazer agora, já com luz elétrica. Não ali sombra de agá
obrigatório nas formas de futuro e condicional tmésicos 3 – e ainda bem.
(Correia, 2009, 31 ago. de 1921).

A carta que contém o trecho acima é extensa, sobretudo para os padrões de Pio
Corrêa, que ao contrário de Mário de Andrade escrevia missivas curtas e diretas, traz o
título de “Uma dissertação contra o agá” e nela Pio discorre sobre sua preferência pelo
não o uso da letra h na mesóclise “perdoar-me-há” formada pelo verbo no infinitivo,

3
Neologismo de Pio Lourenço Corrêa
13

para isso recorre a seu amplo conhecimento linguístico, apresentando argumentos com
exemplos que provam o uso desnecessário da letra h, nesse caso.

Mário de Andrade, à vontade com seu interlocutor, que é amigo e grande


apreciador dos estudos linguísticos, não deixa, por sua vez, de enriquecer as discussões
a respeito da língua, de forma implícita e bem humorada com neologismos e erros de
sintaxe típicos de sua escrita pessoal:

O New Standard nem bem chegou: funcionou, pois. Com todo o peso
intelectual dele me deu pra mim um ar de abalizado com bastante suficiência
e... conspicuidade. Desculpe o neologismo e o “pra mim”. Do neologismo
careci, por fatalidade de expressão. E o “pra mim”, se fosse excluído tornava
a frase ambígua e jamais que o sr. não sabia com certeza se a suficiência, a
base e o neologismo qualificavam o dicionário ou este seu criado. (Andrade,
2009, 18 jun. de 1928)

O caminho da correspondência de Mário de Andrade com Pio Lourenço Corrêa


percorre quase três décadas de diálogos à distância intercalados com a convivência
familiar, que deu intimidade aos dois interlocutores para que se posicionassem a
respeito de como representavam o mundo através da língua. Como os exemplos de
registros aqui citados existem inúmeros outros ao longo das 84 cartas que compõe a
correspondência ativa e passiva do escritor e do fazendeiro.

Pio Lourenço Corrêa, linguística e filólogo autodidata contribuiu ativamente no


processo criativo de Mário de Andrade, abrindo sempre espaço para o diálogo a respeito
da língua, opinando a respeito do argumento de sua produção literária e propiciando o
refugio, a chácara em Araraquara, para onde Mário fugiu quando o coração e o espírito
já não podiam mais com a Paulicéia Desvairada.

Além de corpus rico em registro do vocabulário da época e discussões


linguísticas a correspondência com Pio Corrêa revela-se quase um compêndio de
estudos filológicos do português brasileiro. Nesse amplo material para pesquisa há
ainda dados sobre plantas, insetos, regionalismos, neologismos, línguas indígenas e
também literatura. A intimidade da correspondência com destinatário anônimo oferece
material espontâneo, pois o dialogo acontece no plano familiar, despido de quaisquer
pretensões literárias, atribuindo, dessa forma, caráter testemunhal fiel aos
14

acontecimentos que permearam a estrada cruzada de Mário de Andrade e Pio Lourenço


Corrêa.

Correspondência – Carlos Drummond de Andrade

Para Carlos Drummond de Andrade, Mário foi mais que amigo, foi o professor
pioneiro em pedagogia à distância através das cartas. Engajado no seu projeto de
identidade nacional o autor utilizou de todos os recursos, incluindo os linguísticos, para
fazer Drummond “realizar o Brasil”. No inicio da correspondência, em 1925, Mário
recebe carta do escritor itabirano, que à época não entendia a cultura brasileira como
material para trabalho literário, e percebe naquele momento que o Brasil perderia um
grande escritor brasileiro.

O corpus das missivas dos dois escritores compreende o período de 1924 a 1945,
um longo caminho no qual Mário de Andrade colocou os pés com amor pedagógico
desde o começo. Em Drummond via o aluno, cheio de sede de saber literário e com o
passar dos anos o amigo, admirado por suas grandes qualidade humanas e literárias.
Entre os escritores, no espaço da carta, foram criadas e cocoricadas muitas das que
seriam as grandes obras da Literatura nacional.

Parte do seu projeto idealista nacional, a língua serviu largamente os propósitos


pedagógicos de Mário em relação a Drummond e na correspondência entre eles ganhou
importância desde o primeiro momento:
15

A aventura que me meti é uma coisa séria já muito pensada e repensada. Não
estou cultivando exotismos e curiosidades de linguajar caipira. Não. É
possível que por enquanto eu erre muito e perca em firmeza e clareza e
rapidez de expressão. Tudo isso é natural. Estou num país novo e na escureza
completa duma noite. Não estou fazendo regionalismo. Trata-se duma
estilização culta da linguagem popular da roça como da cidade, do passado e
do presente. É uma trabalheira danada que tenho diante de mim. E possível
que me perca mas que o fim é justo ou ao menos justificável e que é sério,
vocês podem estar certos disso. Não estou pitorescando o meu estilo nem
muito menos colecionando exemplos de estupidez. O povo não é estúpido
quando diz "vou na escola”, “me deixe”, “carneirada”, “mapear”, “besta
ruana”, “farra", “vagão”, “futebol”. É antes inteligentíssimo nessa aparente
ignorância porque sofrendo as influências da terra, do clima, das ligações e
contatos com outras raças, das necessidades do momento e de adaptação, e da
pronúncia, do caráter, da psicologia racial, modifica aos poucos uma língua
que já não lhe serve de expressão porque não expressa ou sofre essas
influências e a transformará afinal numa outra língua que se adapta a essas
influências. Então os escrevedores estilizam esse novo vulgar, descobrem-lhe
as leis embrionárias e a língua literária, única que tem reconhecimento
universal (aqui sinônimo de culto) aparece. (...). (Andrade, 1982, 18 fev.. de
1925)

No trecho acima Mário discorre sobre a psicologia do português brasileiro e


antevê mudanças significativas, como a palavra futebol grafada de forma abrasileirada
que, para época, era considerado vício de linguagem, mas hoje desperta
inconscientemente na maioria do povo brasileiro e até mesmo em estrangeiros o
sentimento de nacionalidade brasileira. Segundo o dicionário Houaiss a etimologia da
palavra futebol se dá da seguinte forma:

ing. football (association), orign. adp. foot-ball (1423-1424) 'jogo de bola


praticado com os pés', do ing. foot 'pé' + ball 'bola'; no ing.n.-am. football
association reduz-se a soccer por alt. de association, e o voc. football designa
o jogo rugby football (1864) (cp. rúgbi), que na Inglaterra se firmou como
rugby (do top. Rugby, porque a prática desse jogo se inicia na Rugby School,
Warwickshire, Inglaterra); as demais línguas copiam (sXIX-XX) o termo
football; no it. adapta-se calcio 'coice, pontapé' de gioco del calcio (do lat.
calx,cis 'calcanhar, pé, pata') para futebol; o erud. balípodo (gr. bállo 'lançar'
+ poús,podós 'pé'), proposto pelo gramático Castro Lopes para substituir o
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anglicismo, não se fixou na língua; f.hist. 1889 foot-boll, 1899 foot-ball,


1933 futebol. (Houaiss & Villar 2001)

De acordo com os dados acima, o terminus a quo da palavra futebol, com grafia
abrasileirada é de 1933, porém o Mário de Andrade emprega a grafia brasileira em carta
de 1925 constando-se a retrodatação da data presente no dicionário Houaiss & Villar
(2001). O autor, perspicaz à psicologia da variante brasileira da Língua Portuguesa
notou o quanto os estrangeirismos enraizados na cultura brasileira necessitavam ser
abrasileirados.

Na mesma carta, Mário orienta Drummond quanto à escolha vocabular estilística


para composição de seus poemas:

Você já escapa com naturalidade quanto a um galicismo nos seus poemas.


Mas nem sempre. Aliás procure evitar o mais possível os artigos tanto
definidos como indefinidos. Não só porque evita galicismos e está mais
dentro das línguas hispânicas como porque dá mais rapidez e força incisiva
pra frase.

Dessa forma o escritor experiente orientava o amigo a escrever cada vez mais de
acordo com o português do Brasil, incutindo nele o senso de amor à pátria. Por sentir
esse amor nacionalista, Mário, em longa carta de 23 de agosto de 1925 desabafa ao
discípulo Drummond o quanto sofre por seu posicionamento linguístico:

Pois principalmente com minhas últimas evoluções sou ferozmente


incompreendido até pelos meus amigos que me acham orgulhoso e insincero
tentando “criar a língua brasileira”. Nunca tive essa vaidade, esta veleidade:
dou minha solução, que os outros tenham a coragem de fazer o mesmo e
pronto: não dou vinte anos teremos uma língua não diferente, porém bastante
diversa da portuguesa e, o que é muito mais importante, afeiçoada ao nosso
caráter e condições. (Andrade, 1982, 23 ago. de 1925)

No desabafo ao amigo está o argumento para convencer Drummond a ter a


coragem de assumir uma língua, em sua literatura, cuja identidade desvelasse o caráter
brasileiro e servisse aos anseios e propósitos de um povo sem uma identidade definida,
que apenas mimetizava culturas já consagradas de diversas partes do mundo. O ideal
nacional, sempre presente em sua correspondência e projetos literários levou Mário de
Andrade a extrair de Drummond o brasileiro que havia se reservado dentro do escritor
itabirano.
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Ao longo dos anos a correspondência revela Drummond, o grande escritor


brasileiro, engajado também ao projeto nacional de Mário de Andrade, grande amigo,
compartilhou ao longo dos anos das lições e apreensões do escritor paulistano. A língua
brasileira como cenário da correspondência de dois grandes escritores brasileiros revela
o poder de expressão e convencimento criado pela variante do povo.

A estrada até aqui

“Eu sou trezentos...trezentos e cincoenta”, três, dos inúmeros correspondentes de


Mário de Andrade revelam os perfis que o escritor modernista explorava em suas cartas:
Com Bandeira, o amigo desvelado, com Tio Pio, o futurista da capital e com
Drummond o professor. Desses três, obteve o reflexo do homem no espelho: Bandeira,
o crítico literário rigoroso, Tio Pio, o refúgio fraterno e Drummond, o discípulo
dedicado.

A língua brasileira aparece como trilha sonora da longa correspondência; fonte


inesgotável de debates, geradora de discussões a respeito da criação literária e
argumento de um ideário estilístico nacional. O legado dos esforços de Mário de
Andrade para o reconhecimento da variante brasileira da Língua Portuguesa é
inestimável e garante que, hoje em dia, o povo brasileiro possa se expressar em
plenitude e consonância com seu caráter e características sociais e psicológicas.

O gigantismo epistolar do autor modernista deixou um material sem precedentes


para os mais variados campos de pesquisa. Mário fazia da carta seu lugar de
convivência e experimentação preferido, sendo lugar propicio para o desenvolvimento
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dos arquivos de criação do escritor e de compreensão da gênese de seus projetos


engajados em ideologias ou simplesmente artísticos.

Das mais variadas possibilidades de pesquisa na correspondência de Mário de


Andrade a língua é a que está presente o tempo todo. De forma despretensiosa e, muitas
vezes, intencional e argumentativa, o escritor explorou o uso, em sua escrita particular,
da variante brasileira da Língua Portuguesa, a língua falada, língua do povo, bonita a
seus olhos. O espaço de experimentação da correspondência validou o projeto de
identidade nacional a partir da aceitação de uma língua diversificada do idioma de
Portugal.

Prova disso é o vasto volume de correspondência, que empreendeu ao longo


durante década e até o final de sua vida com os mais diversos interlocutores. Compondo
um volume com mais de 8.000 documentos entre correspondência ativa e passiva,
Mário de Andrade comprovou o poder de comunicação e convencimento da língua
brasileira, cheia das características psicológicas, sociais e culturais do povo brasileiro.

REFERÊNCIAS

Correspondência

ANDRADE, Mário de. Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Org.;
intr. e notas de Marcos Antonio de Moraes. São Paulo. Edusp, 2000 (2 ed., 2001).

__________, Mário de; CORREA, Pio Lourenço. Pio & Mário: diálogo da vida inteira.
Estabelecimento de texto e notas de Denise Guaranha; estabelecimento de texto, das
datas e revisão ortográfica de Tatiana Longo Figueiredo. São Paulo: Edições SESC-SP/
Ouro Sobre Azul, 2009.

___________. A Lição do Amigo: Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de


Andrade. Ed. prep. Pelo destinatário. Rio de Janeiro, José Olympio, 1982.

____________. A Lição do Amigo: Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond


de Andrade anotadas pelo destinatário/ posfácio André Botelho, 1 ed.,. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015.

Obras sobre Mário de Andrade


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ALMEIDA, Aline Novais de. Edição genética d’A Gramatiquinha da fala brasileira de
Mário de Andrade/ Aline Novais de Almeida; São Paulo, 2013. 1211 f. Dissertação
(Mestrado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas , Departamento de
Letras Clássicas e Vernáculas . Universidade de São Paulo - S.P.

BARBOSA, Francisco de Assis. Testamento de Mário de Andrade e outras reportagens.


Rio de Janeiro, MEC, 1954 (Col Os Cadernos de Cultura, nº 64, disponível em formato
pdf na página do Domínio Público, na internet, em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001886.pdf)

PINTO, Edith Pimentel. A gramatiquinha de Mário de Andrade: texto e contexto. São


Paulo, Duas Cidades, 1990.

Estudos linguísticos

HOUAISS & VILLAR. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa v 1.0.


Editora Objetiva, 2001.

VIARO, Mário Eduardo. Etimologia. São Paulo. Contexto, 2011.

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