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ani te ct os crimes son 8 pss Artigo 169° (Lenocinio) 1. Quem, profissionalmente ou com intengio Incrativa, fomentar, favorecer ou facilitar o exereicio por outra pessoa de prostituigio é punido com pena de prisio de seis meses a cinco anos. 2. Se 0 agente cometer o crime previsto no niimero @) Por meio de violéncia ou ameaga grave; }) Através de ardil ou manobra fraudulenta; ©) Com abuso de autoridade resultante de uma relagio familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierarquica, econémica ou de trabalho; ou 4) Aproveitando-se de incapacidade psiquica ou de situagio de especial vulnerabilidade da vitima; & punido com pena de prisio de um a oito anos. terior: L. A.construgio do tipo eo bem juridico 1. © art, 169.1 e o problema da eventual descriminalizagio da conduta nele contida § 1 Com a entrada em vigor do CP de 1982, operou-se a revogagio da dis- posiglo legal incriminadora contida no art. 2°-1, do DL 44 579, de 19 de Setembro de 1962, de acordo com a qual bastava que o agente “favorecesse” ou “de algum modo facilitasse” 0 exercicio da prostituiglo para poder ser punido pela pritica do crime de lenocinio (sobre esta concepgao de Ienocinio, cf, Beteza pos SANTOS, RZ.J 60° 97; era também esta concepgao tradicional a vvazada no Proj PE, art. 263°-1, Actas 1979 212). Nao se exigia, como 0 pas- sou a fazer 0 art. 215°%-1 6) do referido CP de 1982, que o agente, ao “fomen- tar, favorecer ou facilitar”, na linguagem do legislador de entio, “a pritica de actos contrérios ao pudor ou & moralidade sexual” (sobre isto, cf, infra § 2) por qualquer pessoa, estivesse a explorar uma “situagao de abandono ou de extrema necessidade econdmica” em que tais pessoas se encontrassem, Esta orientago manteve-se na versio do CP de 1995 que, com as transformages devidas no teor verbal da incriminago, continuow a exigir, para que de lenocinio se pudesse falar, que 0 agente fomentasse, favorecesse ou facilitasse 0 exercicio da pros- tituigdo ou a pratica de actos sexuais de relevo, “explorando situagdes de aban- dono ou de necessidade econémica” (art. 170°-1, na versio de 1995). Foi, de 76 combate Anata Miran Rodrig / Sia Pil Lewin 62) Arto novo, a primitiva orientagdo que, de alguma forma, consagrou a 1, 65/98, de 2 de Setembro, deixando de exigir a verificaglo deste elemento tipico e alargando, assim, o mbito da incriminaglo. As alteragSes introduzidas neste tipo legal de crime pela L 99/2001, de 25 de Agosto, ¢ pela I. 59/2007, de 4 de Setembro, deixaram este ponto intocado. Com a Revisio de 2007, foi, no entanto, elimi- nada a referéncia a “pritica de actos sexuais de relevo”. Comete agora 0 crime de lenocinio quem “profissionalmente ou com intengao Iucrativa, fomentar, favorecer ou facilitar © exereicio por ourtra pessoa de prostituigdo” (art. 169%-1). Refira-se que com a Revisio de 2007 se verificou uma renumeragio do artigo que prevé o tipo legal de crime de lenocinio, constando a noma agora do art. 169° do CP. § 2 Questo que nao deve ser aqui silenciada € @ da eventual descrimina- lizagdo do crime de lenocinio previsto no n? 1 do art. 169° agora em andlise (Coloca 0 problema FIGUEIREDO Dias, Actas 1993 258). Com esta inerimina- ‘so 0 bem protegido nfo é como devia, a liberdade de expressiio sexual da pessoa, mas persiste aqui uma certa ideia de “defesa do sentimento geral de pudor ¢ de moralidade”, que nio ¢ encarada hoje como funsao do direito penal ¢, de qualquer modo, nao presidiu ao novo enquadramento dos “crimes contra a liberdade sexual” no titulo mais vasto dos crimes contra as pessoas € como uma forma que asstimem os atentados contra a liberdade (cf, no fentanto, REIS ALVES, Crimes sexuaix 67 s., defendendo que o bem juri tutelado no crime de lenocinio no €, nem deve ser, a liberdade ¢ @ autode- terminagdo sexual da pessoa, mas sim “o interesse geral da sociedade na preservayio da moralidade sexual e do ganho honesto” e, em consondincia ‘com este entendimento, propondo a insergao sistematica dos arts. 170° e 176° — actuais arts. 169° ¢ 175° — no Titulo TV “Des crimes contra a vida em sociedade”), Uma proposta coerente com 0 pressuposto de que se partiu ‘de 86 se considerar legitima a incriminagao de condutas do foro sexual se ena medida em que atentem contra um especifico bem juridico eminente- mente pessoal — leva a que 0 direito penal s6 deva intervir em dois grupos de casos: quando est em causa 0 desenvolvimento sexual de menores (0 que justifiea a punigo do lenocinio de menor: cf, sobre isto, 0 comentirio a0 art, 175°), ou quando, em relacdo a adultos, se utilize a violéneia, ameaga grave, se provoque 0 erro ou se aproveite do seu estado de pessoa “indefesa” (a justificar, agora a punigio, designadamente, dos arts. 163°, 164°, 165°, 166°, 1692-2). Tudo o mais — a ineriminaedo do lenocinio prevista no art. 165°-1, pelo que agora nos interessa — & proteger bens juridicos transpersonalistas de timo moralista por via do direito penal — 0 que se tem hoje por ilegi- “Anobela Mondo Redigues / Sint Peaigo Cores féhors® 197 An 16" 63) Dos ees conta as pesous timo —, aproximando-nos perigosamente de um direito penal de ‘“fachada” (para utilizar a expresso de H. H. Jescusck, Niederschrifien VII 299, na discussiio na GrofeStrafrechtskommission, a propésito do caso do arrenda- ‘mento de quartos numa pensio a héspedes constituidos por casais no casa- dos). Com a eliminagio da exigéncia de que o favorecimento, da prostituigiio se ligasse & exploragdo de situagdes de abandono ou de necessidade econd- mica, o legislador “eliminou a referéncia do comportamento ao bem juridico da liberdade © da autodoterminagao sexual e tornou-se infiel a0 principio do direito penal do bem juridico” (Frouswepo Dias, XXV Anos de Jurisprudén- cia Constitucional Portuguesa 2009 41; neste sentido também j& ANABELA MiraNpA Roricues, RMP 27 24 s., ¢ FIGUEIREDO Dias, DP i 6/32. Cf, também, MouRAZ Lopes, Crimes sexuais 2008 84 5., € VERA RAPOSO, Liber Discipulorum Figueiredo Dias 949 s. Também CARLOTA PIZARRO DE ALMEIDA (em anotagao a0 Ac. do TC 144/2004, Jurisprudéncia Constitucional 7 2005 35) conclui que “deverd a incriminago consagrada no art. 170° [actual-art 169°] (...) ser considerada incompativel com o princfpio da necessidade de pena, na medida em que abranja situagées em que nenhum bem penalmente protegido ¢ posto em perigo”), § 3. Nesta perspectiva, pode pois dizer-se que 0 crime de lenocinio do a, 169°-1 6 um erime “sem vitima”, Nem mesmo a exigéncia que se fazia 1a verso do CP de 1995 quanto & verificaglo do elemento tipico “exploragio 4e situagGes de abandono ou de nevessidade econémica” justificava, do nosso ponto de vista, a ineriminagio. Com efeito, nio se diga que a verificago estas situagses coloca logo, sem mais, a pessoa — sem haver alguma “pres- silo" sobre esta — numa situago de dependéncia que a priva de poder decidir-se livremente pela via da prostituigdo ou da prética de actos sexuais de relevo. Um tal entendimento das coisas servira para mostrar como a incriminago é desprovida de, sentido. E que, estando em causa, para fomen- tar, favorecer ou facilitar o exercicio da prostituiglo, a utilizagio de meios nfo violentos ou enganosos, — como & 0 caso do n? 1 do art. 165° — “seria” realmente preciso haver “press” sobre a pessoa, porque s6 assim se toma claro que esta agiu sob coaceio ¢ se justficaria incriminagao (neste sentido, de que “a ‘exploragio’ supe sempre 0 exercicio, por parte do agente que explora, de um qualquer tipo de pressio sobre a prostituta”, R. TORRES Vouca, Tribuna da Justiga 5-85 7, a luz do direito anterior & Revisto de 1995). Com efeito, de vontade deficiente na decisio nao se pode falar logo, 6 pelo facto de a pessoa estar em situaglo de abandono ou de necessidade econémica. Com 0 que se torna claro que o bem juridico protegido pela 798 coon eta Anabela Miranda Redrigser Sinks Fielgo enone 845) Ant 19" incriminagdo, 4 & luz do direito anterior & Revisdo de 1998 — e que a versio de 1998 nio fez. sento reforgar — ndo é a liberdade sexual da pessoa, mas ‘um bem juridico transpessoal que, como teferimos, nao cabe ao direito penal defender, §.4 Nao se esquece, entretanto, que em 1995, a opeio criminalizadora dos referidos comportamentos que envolviam a exploragdo de situagdes “de aban- dono ou de necessidade econémica” pela via do fomento, favorecimento © facilitaglo do exercicio da prostituigo ou da pritica de actos sexuais de relevo conduzia, afinal, a que esses comportamentos s6 fossem criminoss porque se ligavam a situagdes de “miséria e de exclusdo socia?. Como bem salientou Ficueraepo Dias (Actas /993 258), trata-se aqui, pois, “de um pro- blema social e de policia®, que nfio justifica a intervengdo penal (na conclusto também 0 AE-BT Sexualdelikte 9, onde se afirma que “quando a defesa da cordem pblica estiver em causa com a violagio de ‘sentimentos gerais de pudor © de moralidade’, assogurar essa defesa é uma tarefa da policia e da administrago”), $6 que, esta ordem de consideragBes conduz, do nosso porto de vista, & descriminalizagao dos referidos comportamentos. Sendo, por isso, contraditéria, desta perspectiva sustentada, a solugdo encontrada em 1998 — climinando a exigéncia de verificagio do elemento “exploracdo de situa- ges de abandono ou de necessidade econdmiea” — que resulta num alarga- mento da incriminagio. §5. O Tribunal Constitucional foi jé chamado, por diversas vezes, a pronun- ciat-se sobre a (in)constitucionalidade da incriminac&o do lenocinio simples, tendo decidido sempre pela nio inconstitucionalidade da norma em apreso (Cf. Acs. 144/2004, 196/2004, 303/2004, 170/2006, 396/2007, 52/2007, 591/207 e 141/2010; v., no entanto, a declaracao de voto de MARIA Jox ANTUNES, no Ac. 396/2007, defendendo a inconstitucionalidade do art. 170" do’ CP, na redacgo dada pela L, 65/98, por violagdo do art. 18°-2 da CRD). No Ac. 144/2004 (DR — LI 19-04-2004 6082 s.) — cuja posieo tem sido seguida pela jurisprudéncia constitucional posterior — 0 Tribunal Constitu- cional entendeu que 0 disposto no art. 170°-1 (actual art. 169-1) se justifiea “pela normal associagtio entre as condutas que sio designadas como lenocinio € 8 exploragio da necessidade econémica e social das pessoas que se dedicam a prostituigdo, fazendo desta um modo de subsisténcia”. Defendeu o Tribunal Constitucional que 0 “facto de a disposigao legal ndo exigir, expressamente, como elemento do tipo uma concreta relagdo de exploragdo nao significa que a prevengio desta nfo seja a motivarao fundamental da incriminagao a partir Anabela Miranda Redigut/ Sona Fdelgo coinbe Eore® 199 An 18" (63) De ene con a een 44a qual 0 aproveitamento econémico da prostituigao de quem fomente, favor reca ou facilite a mesma exprima, tipicamente, wm modo social de exploragio de uma situagdo de caréncia e desprotecgao social” (cit. 6084). Lé-se, ainda, neste Acérdao, que a intervengao do Direito Penal no dominio da exploragio ¢ favorecimento da prostituigo tem “um significado diferente de uma mera tutela juridica de uma perspectiva moral, sem correspondéncia necessdria com valores essenciais do direito © com as suas finalidades especificas mum Estado de direito,.O significado que & assumido pelo legislador penal é, antes, o da protecgio da liberdade e de uma ‘autonomia para a dignidade’ das pessoas {que se prostituem” (cit). Concluiu 0 Tribunal Constitucional que 0 “enten- dimento subjacente & lei penal radica, em suma, na protecsio por meios pen contra a recessidade de utilizar a sexualidade como modo de subsisténcia, protecgio directamente fundada no principio da dignidade da pessoa humana” it. 6085; v., ainda, FERNANDA PALMA, Diretto constitucional Penal 2006 75s). Acompanhamos AUGUSTO SR.vA Dias, Liber Amicorum de José de ‘Sousa ¢ Brito 2009 124-125, quando afirma nao ser fécil “manter a ideia de que o motivo fundamental da incriminago é caracteristicamente a prevengao de situagdes de caréncia e de abandono social depois de o legislador ter eli- minado expressamente essa referéncia do n° 1 do art. 169° ¢ a ter transferido para o tipo qualificado do n° 2” (ef. infra §§ 18 e 23). Nao nos parece admissivel, assim, a “interpretagao constitucional restritiva do tipo penal” defendida por PINTO DE ALBUQUERQUE, art, 169° 11, no sentido de se exigir a prova do “elemento tipico implicito da ‘exploragao da necessidade econé- ‘mica e sovial’ da vitima prostituta”. Fundamental ¢, ainda, ndo esquecer que “o pior servigo que pode prestar-se ao primeiro e mais elevado principio de toda a orcem juridica democratica — o do respeito pela eminente dignidade da pessoa — é, em matéria penal, invocé-lo como prinepio presctitivo dotado de um contetido fixo, imutavel e apto & subsungdo e como tal aplicdvel a coneretas situagées da vida” (FIOUEIREDO Dias, XV Anoa de Jurisprudéncia Constitucional Portuguesa, cit. 41). A natureza do principio € “sim a de se cerguer como tum veto inultrapassavel a qualquer actividade do Estado que no respeite aquela dignidade e, deste modo, antes que como fundamento, como Fimite absoluto da intervengio estadual”, o que fara “com que 0 aludido prin- efpio nfo deva constituir fundamento de validade constitucional de uma incriminasdo como a constante do actual art. 169°, mas possa, pelo contrério, ‘20 menos em certas circunstincias, ser legitimamente invocado como funda- mento da sua inconstitucionalidade” (Ficuertepo Dias, cit; entendendo tam- bbém que’“a dignidade humana no ¢ um bem juridico”,.GuzmAN DALBORA, RPCC 2008 460). Discordamos, assim, de VAZ, PATTO (Direito e Justiga 15 800 coe sion Anal Miranda Rodis / Sta Fel esos 6557) Are 169" 2001 138; e Jornadas 2008 197 s.) que defende que 0 bem juridico protegido pelo tipo legal de crime de lenocinio é 2 “dignidade da pessoa que se pros- titui”. (V., ainda, com interesse para esta questo, 0 Ac. do STI, de 05-09-2007, com um voto de vencido de Maia Costa). § 6 Nao so tendo embora seguido a via da deseriminalizagto total, em 1995 avangou-se pelo menos no sentido de s6 se considerar criminosa a conduta do agente que vimos referindo se este a levar a cabo “profissionalmente ow ‘com intengio lucrativa” (cf. art. 1699-1). Verificou-se, pois, em relago 20 direito anterior, na parte em que se incriminava o lenocinio entre adultos (art. 215°-1 b) do CP de 1982), uma alteragio substancial das coisas, tradurida no facto de, desde a Revisio de 1995, constituirem elementos da conduta criminosa ser ela desenvolvida “profissionalmente ou com intengao lucrativa”, quando anteriormente eram tdo-s6 motivo de agravagdo (cf. art. 216° a) eb) do CP de 1982), O que significa que, em relagio ao CP de 1982, em 1995 se verificou uma descriminalizagao parcial, no sentido de deixar de ser punido 6 lenocinio entre adultos, quando o agente nio leva a cabo o comportamento “profissionalmente ou com intengao Iucrativa” (na concluso, FIGUEIREDO Dias, Actas 1993 258), §7 Com as alteragdes introduzidas pela L 59/2007 foi eliminada, do n° 1 do art, 169°, a referéncia & pritica de “actos sexuais de relevo”. No sentido de que se verificou, também aqui, uma descriminalizag4o parcial (que se estende ao n° 2 do art. 169°), MARIA Dc CARMO SILVA Dias, Jornadas 2008 249. (Sobre a discussio acerca da referéncia a pritica de “actos sexuais de relevo” a propésito do crime de trifico, ef. Actas 1993 257; v., também, a nossa anotagio ao art, 169° § 11, na edigio anterior deste Comentario). Entende-se que a pratica de “striptease” — que no poderé integrar 0 con- ceito de “acto sexual de relevo” (sobre este conceit, of. anotaedio ao art. 163° §§ 8 s.) — no é abrangida pela incrimizagao, da mesma forma que também © no € a participagio em filmes pornograficos. icaré em aberto, nestes casos, a possibilidade de punigdo pelo crime de tréfico de pessoas (art. 160°), quando se verificarcm os elementos tipicos deste crime. Entendendo que a climinagao da referéncia & prética de “actos sexuais de relevo” nao traduz qualquer alteragio na incriminagao do Ienocinio, pelo facto de 0 conceito de prostituigéo ser “um conceito abrangente que, em interpretagao declarativa lata pode abarcar tudo 0 que ¢ imoral, indecente, ou degradante, portanto também os actos sexuais de relevo prat cados ilicitamente”, Mala GONCAL~ Es, art, 169° 1. Anabela Mirada Rockin! Sits Rial Cointe tow® 0 Are 9" (5 #9) Dos eves conta 28 peous 2. O art, 169-2 § 8 O comportamento verdadeiramente digno de tutela penal cncontra-se, @ nosso ver, abrangido pela incrimina¢do contida no art. 169°-2. E isto porque, afirmamo-lo agora sem necessidade de mais explicagBes, $6 aqui o bem juridico tutelado € a liberdade de autodeterminagao sexual da pessoa, © que se tora evidente quando se verifica que os meios utilizedos para evar outra pessoa ao exercicio da prostituigéo sto agora “violéncia ov ameaga grave” (al, a)), “ardil ou manobra fraudulenta” (al, 6)), “abuso de autoridade resultante de uma relagao familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierérquica, econémica ou de trabalho” (al. ¢)), ou aproveita- mento de ‘“ineapacidade psiquica ou de situagdo de especial vulnerabilidade da vitima” (al. d)), A referéncia, no n? 2, a0 “abuso de autoridade resultante de uma relagio de dependéncia hierérquica, econdmica ou de trabalho”, bem ‘como a0 aproveitamento de qualquer “situago de especial vulnerabilidade” foi introduzida pela L 99/2001. 4 a referéncia a0 “abuso de autoridade resultante de uma relagdo familiar, de tutela ou curatela” foi introduzida pela L, 59/2007, 3. A descriminalizacio do “rufianismo” §.9 A Comissio Revisora de 1991 entendeu — e bem — descriminalizar a ‘concuta abrangida pela norma do art 215°-2 do CP de 1982, tradicionalmente ‘conhecida por rufianismo. Por contraposiga0 a0 proxeneta — que é um mediador, fomentando, favorecendo ou facilitando a prética da prostituigao ‘ou ce actos sexuais de relovo — no rufianismo existe, em rigor, um apro- veitamento daquela actuacéo sexual alheia, sem que previamente 0 agente enka criado a situacdo que a desencadeou (assim, LEAL-HENRIQUES / SIMAS Santos, Cédigo Penal Anotado T2000 430). Como bem salienta NELSON Hunoria (apud Leat-HENRIQUES / SIMAS SANTOS, cit), “ndo & necessério que a iniciativa parta do agente; o crime existe ainda que haja oferecimento cespantineo da prostituta”. © que tudo conforta na opefo tomada. E mani- feste que o bem jurfdico protegido por tal incriminagdo no era a liberdade sexual da pessoa, pelo que aquela configuraria, mais uma vez, um “rime sem vitima”, que as mais recentes orientagées de politica criminal aconselham a descriminalizar. Como elucidativamente opinou Costa ANDRADE (cf. Actas 1993 258), “a telagdo de rufianaria pode criar relagdes de particular afecto © de protecgito, néo devendo ocorrer intervengao de diteito penal”. Que acres- cents ainda que “nos casos em que no ocorter essa especial relagdo, existe gm conte Eterm Arable Miranda Rodrig / Sonia Fidel Lematvo 101 Are 169" 44 uma significativa previsto de crimes contra as pessoas” (ef-Actas cit., onde 0 referido autor também qualifiea o crime como um “crime sem vitima”; cf. ainda, no sentido de se considerar descriminalizado — e bem — o rufianismo, Ris ALVES, Crimes Sexuais 67; FERREIRA RAMOS, RMP 15 1994-59 36; Mala GoNGALVES, art. 169°-2; © LRAL-HENRIQUES / SiMAS SANTOS, Cédigo Penal Anotado 1 2000 431; a este propésito cf. Acs. do STJ de 29 de Feverciro de 1996, cit. in Maia GONCALVES art. 169°-4, © de 6 de Margo de 1996, CJ IV-1° 224; Mouraz Lops (Crimes sexuais 2008 86) defende que com a Revisio de 1998 a criminalizagio voltou a abranger 0 rufisnismo: nao é adequada esta interpretagto, uma vez que o tipo legal de crime continua a exigir, desde 1998, que o agente fomente, favorega, ou facilite 0 exercicio da prostituigao, profissionalmente ou com intengo Inerativa) IL. 0 tipo objectivo de ilieito 1. O agente § 10 Agente do crime previsto nos n** | ¢ 2 do art. 169° pode ser qualquer pessoa, homem ow mulher, desde que actue profissionalmente ou com inten so lucrativa (cf. infra §§ 20 e 25). Questio que se levantava até & Revisto de 2007 era a de saber se tal exigéncia se justificava quando o crime fosse cometido utilizando o agente violéncia, ameaga grave, ardil ou manobra frau- dulenta ou aproveitando-se da incapacidade psiquica da vitima (cf. a nossa anotagdo ao art. 170° § 8, na edigiio anterior deste Comentério), Com efeito, entendendo-se, como se entendia jd perante a versio anterior a 2007, que 0 n° 2 consagra crime de lenocinio qualificado (cf. infra § 21), s6 0 agente que, actuando profissionalmente ou com intengdo lucrativa, fomentasse, favo- recesse ou facilitasse 0 exercicio da prostituigo cometeria 0 erime de leno- cinio qualificado. Esta questio esti hoje esclarecida uma vez que, desde a Revisio de 2007, o n° 2 do art. 169° estabelece que “se o agente cometer 0 ime previsto no ntimero anterior (...) € punido com pena de pristio de ‘um a oito anos”. § 11 Segundo a caracterizagio que podemos ir buscar a BBLIZA Dos SANTOS (RLI 60° 97), 0 agente de um crime de lenocinio € um “intermediério”, um “medianciro” — fomenta, favorece, facilita 0 exercicio da prostituigao —, {que actua com vista a satisfazer interesses de terceiros. Ainda nas palavras de BELEZA DOS SANTOS, cit, o agente “nao corrompe, nfo auxilia, nfo excita, niio agrava ou mantém a prostituicao ou corrupeao alheias para Gnica satis Anabela MirondsRodsgue / Soni Fidel Combe Eetan® 003 Ane 19" G2) as cries contra a pesos fago de um prazer sexual proprio, mas para a dos outros (...)"; a actuagao do agente visa “satisfazer os desejos libidinosos de um terceiro”. Nem hé razio para que se altere a compreensio tradicional de lenocinio que aqui esta implicada, embora nem o legislador actual, nem 0 de 1982, tenham expres- samente esclarecido — tal como se fazia, contudo, no art. 263°-1 do ProjPE 1979 (“Quem ... pratica de actos ... entre terceiros, servindo de intermedié- rio ...”)— que 0 agente do crime & um terceiro relativamente aos interve- niontes no acto sexual. Mas, com efeito, em abono desta tese sempre se poder dizer que, quando 0 agente intervém na pritica do acto sexual, 0 que pode estar em causa é 0 cometimento de outro tipo legal de erime que atente contra a liberdade de autodeterminagao sexual. § 12. Na linha da acepsio tradicional de lenocinio, vem-se sustentando que a satisfagio de interesses de tereeiros constitui ainda elemento essencial do crime de lenoeinio. que, do nosso ponto de vista (neste sentido, também, LeaL-HEnriquts / Simas Santos, Cédigo Penal Anotado II 2000 431), no E correcto. Com efeito, essa finalidade do lenocinio, presente no CP de 1886 (Cf. art. 405°: “... para satisfazer os desejos desonestos de outrem ..."), foi afastada na versio actual do CP, no estando ja presente no art. 215% 6) do CP de 1982 nem no art, 263° do ProjPE. (Cf. jf, de resto, ao tempo da vigéncia do CP de 1885, 0 Ass, do STJ de 19 de Jutho de 1961 (BMI 109° 437), no sentido de que no era necessdrio que o agente actuasse com fim de desmoralizar para que cometesse 0 crime previsto no § Gnico do art. 25° do DL 20 431, de 24 de Outubro de 1931). Do ponto de vista do agente, elemento essencial do crime de Ienocinio (a? 1 do art. 169) ¢ 0 agente desenvolver a sua actividade “profissionalmente ou com intuito lucrativo” (cl. infra § 20). Sendo, entio, possivel configurar situagdes “em que 0 agente promove ou favorece litungias sexuais para uso préprio ¢ exclusivo, ¢, por- tanto, para goz0 pessoal” (hipsteso extraida de LeaL-Henriques / Simas SANTOS, cit.) e comete o crime de Ienocinio, se se verificarem todos os ele- ‘mentos deste crime, Dizer que a hipétese & de diffcil ocorréncia na pratica, uma vez que ha a considerar o elemento profissionalismo € 0 intuito lucrativo, no invalida a conclusio de que & indiferente para a punigio do agente que ele actue para satisfazer aquele tipo de interesses a que nos vimos referindo, préprios ou alhoios (na conchuséo também Lrai-Haxraquns / Simas SANTOS, Cédigo Penal Anotado Ii 2000, 431-432). Alids, sempre se poderé acrescen- tar que a ressondncia “moralista” que assim se retira a conduta do agente esti em tudo de acordo com a orientagéo que presidiu, apesar de tudo, & sua cri- minalizagao, 04 comb Eero Andee Miranda Rodis / Sia Fielge Lemetao (51349) Are 169" 2. Avitima $13 Vitima do crime de lenoeinio, em qualquer uma das suas formas, pode ser qualquer pessoa, adulta, homem ou mulher. Logo “na verstio decorrente da reforma de 1995, ao ser climinada qualquer referéncia & prostituiglo femi- a, a que se aludia no art. 215*.2 do Cédigo de 1982, estabelece-se defini- tivamente o carfeter neutro, em termos de género, deste tipo de crime” (assim, ‘Mouraz Loves, Crimes sexuais 2008 91), § 14. Para efeitos de punig0 a0 abrigo do art. 169°, considera-se adulta (desde a Revisto de 2007) qualquer pessoa que fenha mais de 18 anos de dade. Se a vitima for menor de 18 anos, o agente comete o crime de “leno- ‘ini de menores” (art. 175°). 3. Elementos do ilicito tipico objectivo § 15 A conduta tipiea prevista no n? | do art. 169° traduz-se em um acto do agente de fomento, favorecimento ou facilitagdo do exereicio por outra pessoa da prostituiglo, Na versio do CP de 1995, exigia-se ainda que o agente actuasse ‘explorando a situagéo de “abandono ou de nevessidade cconémica” da vitima, * Sé.a verificago cumulativa dos dois requisitos — a que se acrescentava, tal como hoje, o da profissionalidade da actividade por parte do agente ou @-sua actuago com intengao lucrativa (elementos que constitulam circunstincias agravantes no dominio do CP de 1982: art. 216° a) ¢ b)) — permitia dizer que 0 agente come- ti o crime referido. 1 se 0 agente, actuando profissionalmente ou com intensiio Jucrativa, fomenta, favorece ou facilita 0 exereicio da prostituigso e para tal utiliza 0 meios tipicos da violéncia, ameaga grave, ardil ou manobra fraudulenta, abuso de autoridade resultante de uma relagao familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierdrquica, econdmica ou de trabalho, ou aproveitamento da inca- pacidade psiquica ou de situago de especial vulnerabilidade da vitima, pratica o crime de lenocinio previsto no n° 2 do art. 169, § 16 A determinagio do sentido da actuagiio do agente ao “fomentar, favo- recet ou facilitar” a pratica da prostituigo, tem conduzido a distingdo entre lenocinio principal, quando esté. em causa “fomentar” tal actividade, e leno~ cinio acessério, quando do que se trata é de “favorecer ou facilita” a referida pritica (neste sentido, LEAL-Henriques / SiMas SANTOS, Cédigo Penal Ano- tado Vi 2000 427-428; também no sentido da distingio, REIS ALVES, Crimes Sexuais 68, © RODRIGUES MARQUES, O crime de lenocinio Tribunal da Anabela Minds Rodhigne / Sinia Fda eine dort 908 Ar 19" G18) Dos cries con as esas ‘Boa-Hora 178/179, jé para o direito anterior & Revisto de 1995). Com efeito, explicita-se, “fomentar” significa “incentivar a corrupso, ou, melhor dizendo, determind-la (quando uinda no exista), agravée-la (se j6 existe) ou manté-la (evitar que enfraquesa ou termine quando ainda esté em curso)” (LEAL-HEN- niques / Smaas SANTOS, Cédigo Penal Anotado It 2000 427, apelando a BELEZA Dos SANTOS € a Luls Osoxio). “Favorecer” ou “facilitar”, por seu ‘urno, significam “auxiliar” ou “apoiar”, no segundo caso, diferentemente do primeiro, pondo “i disposigo meios”, coadjuvando, proporcionando “instru- mentos de propagiyao”, Salientando-se, portanto, que “em qualquer destas duas hipéteses o agente niio contribui directamente para a formago da von- tade criminosa”. Pelo que esta distinedo dé origem & referida qualificago do lenocinio como “principal” e “acessbrio”, tomando-se agora claro que, no primeiro easo, se tata de um lenocinio “em que o agente determina ou toma a iniciativa da perversio, da desmoralizag2o ou do encaminhamento & pros- tituigao”; e, no segundo, “o agente nao contribui directamente para a forma- e#0 da vontade criminosa”, pelo que a sua posigao & a de um “actuanto” que se limita a “anuir, a ligarse, a aderir a um estado de espirito pré-existente para a pratica de actos tipificados na lei” (Leat-HENRIQUES / SIMAS SANTOS, Cédigo Penal Anotado MI 2000 428). Nestes termos, acrescente-se, quem Fomenta a prética da prostituigio esti necessariamente a Tevar outrem & pratica de tal actividadg, pois que actuar desta maneira significa, por seu turno, necessariamente, que € 0 agente que determina a pessoa a sua pratica. Enten- demos que a distingdo, nesta base, entre lenocinio principal e acessério nko tem razio de ser. Opinio que encontra apoio em corrente sustentada na Comissio Revisora de 1991 a propésito da distingfo entre actividades que consistem em fomentar, favorecer ou facilitar a prostituigo (ou a pratica de actos sexuais de relevo) ¢ as que consistem em levar a vitima a praticar a referida conduta (dctas 266 ¢ REIS ALVES, Crimes sexuais 68 e 107 s.). Com efeito, 0 que se afitma é que, fomentando 0 exercicio da prostituigo, 0 agente “colabora no processo de decisio”; e, favorecendo ou facilitando 0 exercicio da prostituisdo, 0 agente “auxilia no processo de execugao” (Rets ALVES, Crimes sexuais 108). © que quer dizer que o agente, em qualquer dos casos, apenas colabora no encaminbamento da vitima para a prostituiglo, mas ndo determina 4 sua vontade para a pritica dos actos em causa (no a leva & pratica dos refe- ridos actos). Send> que, assim, também quem fomenta (e nfo apenas quem favorece ou facilita) nfo esté necessariamente a levar outrem a pritica de pros- tituigo. Em suma: ntio ha aqui qualquer “coacgao” por parte de quem fomenta, favoreco ou facilita a pritica da prostituicdo sem utilizar os meios tipicos da Violéncia, ameasa grave, ardil ou manobra fraudulenta, abuso de autoridade 406 cama este” Anabela Morante Rodeiguer | Sia Fidel Leto (517) Arco resultante de uma relagdo familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierérquica, econémica ov de trabalho ou aproveitamento da incapacidade psi- quica ou de situago de especial vulnerabilidade da vitima. A dar razio & opinidio que defende que esta actuagdo devia ser descriminalizada. §.17 O elemento exploracio era, na versio do CP de 1995, esseneil ao cometimento do crime de Tenoofnio, Sendo certo que no 1 1 Uo endo at. 170°» Festa tikae eonsiden rado a hipétese de a exploragio ecorrer por qualquer meio nfo tipificado — e, portanto, por tim meio que nfo envalveste tentados @ lierdade pessoal de outrem ou casas em que ‘2 vitima néo fosse induzida em erro — e de se referir apenas « situagdes do “sbandono ou de necessidade econdmica” da vitima. Pelo que, abrangida pela inctiminagdo seria qualquer actuaglo de um agente que fomentasse,favorecesse ou feilitase 0 exercicio da prostituigo (ua prtica de actos sexuais de relevo — por exemplo, cedendo ou arrendando quartos a pessoas para af praticarem a prostuiggo —, desde que a "viima” estivesse em situagdo de “abandono ou nevessidade econémica". Como jé se refer (ef. supra § 3), uma certa cor rente entendia, & luz do CP de 1982 (cf. art. 215%1 8) que nfo havia explorapio da situae ‘fo de sbandono ou de necessidade econémica de ontrem na actusgd0 de um agente que arrendava quartos a mulheres para al praticarem a prostituiglo, « nfo ser que o agente ‘exercesse um qualquer tipo de “pressio™ sobre a prostitute, Com o que, se se lograva, do ‘nosso ponto de vista, uma (correcta) descriminalizag0 das situagSes em analise — que a versio do CP de 1998 contrariou —, era essa descriminalizagao aleangada por forma incor recta, j6 que 0 dispositive legal na versio do CP de 1995 nto permitia — tal como neo permitia0 dispositivo da versio original do CP de 1982 — tal intrpretagdo, Em sums, na versio do CP de 1995: para a conduta do agente ser incrrsinada bastava verificar-se uma situagio de “abandono ou de necessidade econémica” da vitima e aquele forentar,Favoro- cer ou failtar, por qualquer meio, o exereicio da prostiig8o ou a prtica de actos sexuais, de relevo, Desde a Revisto de 1998 o problema nao se coloce, tendo desaparecido aquele elemento tipice. Mas foi porventurs aquela intepretago — errénea, do ponto de vista ja referido — que tera comdurido A alterapto legisltiva de 1998. Injustficada, da perspoctiva da deseriminalizago aqui sustentada, como ja se refer (cf. supra $§ 2 e 5). Entretanio, aquele entendimento referido conforta-nos na posiglo que defendemos supra, no sentido de ‘que nio se deveria criminalizar @ condute descrita no actual at. 1691. Com efeito, $6 dessa forma — exeroendo “pressdo” sobre a pessoa (0 que corresponderi a utlizagdo dos ‘meiae tipioos prevstas no n° 2 do art. 169") — se pode dizer que esta nto se decidiu em. liberdade pela pritica de tais comportamentos. § 18 Quanto ao tipo de dependéncia que na vitima se cria do agente do crime, podia ela ser, na versio do CP de 1995, essencialmente econémica ou paiquiea. E isto porque, desde logo, mal se compreenderia que a incrimina- ‘ho da actuagéo do agente, explorando qualquer um destes tipos de depen- déncia, ficasse excluida. E, por outro lado, tal interpretagao cabia na letra da lei, j8 que 0 conceito de “abandono” tem uma determinada carga histérica que se liga a ideia de “‘desamparo”, em suma, de caréncia econémica (neste Anabela Mironds Rodrigues / Sina Fuago Are 1" 19) Des crimes cone apres sentido Actas 1993 259 ¢ LeaL-Henrigues / Simas Santos, Cédigo Penal Anotado Ik 1996 273, referindo-se 20 vocdbulo “‘com o sentido técnico que 4s antigas leis atribuiam a determinadas situagées de desamparo”), E nada ‘obstava a que © conceito de “necessidade” fosse interpretado no sentido de dependéncia psiquica (pense-se nas situaydes de (estado de) necessidade des- culpante) (cf, a este propésito, a nossa anotacao art. 169° §§ 9 e 11, na ‘edigdo anterior deste Comentério). Essencial ao lenocinio era, assim, a idcia de exploragao da situago econdmica ou psiquica. Entretanto, se a exploragio fosse econdmica, sem utilizagao de meios tipicos, © agente cometia o crime de lenocinio simples (n° 1). J4 se a explorago fesse econémica ¢ 0 agente utiizasse qualquer dos referides meios tipieos, o lenoeinio seria qualificado (n° 2), Mas era suficiente que houvesse exploragao psiquica, quer houvesse ou niio violéncia, para o lenocinio ser qualificado. Sendo certo que se no hhouvesse exploraso de qualquer situxgo de dependéncia da vitima, houvesse ou nao utilizagao dos referidos meios tipicos, o agente néo cometia 0 crime de lenocinio, mas eventualmente outros crimes (sexuais, contra a liberdade Pessoal ow outros). Em suma: essencial ao cometimento do crime de lenocf- nio simples era a exploragao da situardo de abandono ou necessidade econd- mica da vitima; bem como ao cometimento do crime de lenocinio qualificado, quando ele era praticado utilizando qualquer um dos meios tipicos referidos no n® 2, Jd se o agente actuasse, aproveitando-se da ineapacidade psiquica da vitima — independentemente dos meios utilizados —, 0 lenocinio seri qualificado (no sentido das conchisées avangadas, LEAL-HENRIQUES / SIMAS Santos, Cédigo Penal Anotado It 1996 277 s.). Ora, relativamente a este quadro, 0 que se alterou em 1998 foram, como jé foi sobejamente referido, ‘95 requisitos de que depende 0 cometimento do crime de lenocinio simples, no sendo agora necessério a sua verificagdo a exploragdo de situagdies de abandono ou necessidade econémica da vitima. Perante a alterago introdu- zida em 1998, perguntava-se se néo teria sido légico qualificar 0 lenocinio também quando se verificasse a exploragdio de situagdes de abandono ou necessidade econémica, Era dificil explicar porque € que quando se vetificava uma situagdo de “incapacidade psiquica” da vitima o crime era qualificado 4 punipio era de I @ 8 anos de prisio e, por contraposigio, quando se veri ficasse uma situagao de abandono ou necessidade econémica nfo havia qua- lificagdo € a punigao era s6 de 6 meses a 5 anos de pristio. Com a L 99/2001, © legislador veio esclarecer esta questo, acrescentando, no n° 2, a referéncia 20 aproveitamento de “qualquer outra situagao de especial vulnerabilidade”. Desde 2001, se o agente se aproveitar de qualquer situagio de especial valnerabilidade da vitima, comete lenoeinio qualificado (cf infra § 23). 08 cama erat Anabela Miron Rogues) Sénla Fidalgo Ls Gp 192)) ane 16 sf ml bmi res cote ee ee Se en ne ee oe Pr apna, Soren a a Saami epee Pataca neon hee ery § 20° Desde 1995, & inegivel, face A letra do entio art. 170°-1 e actual art 1697-1, que 0 agente do crime abrangido por esta incriminagio tem de ser uma pessoa que faga do seu comportamento profissio ou tenha intengao Iuerativa © que, face a0 direto anterior — em que acruar profssionsknents ou com intengo luerativa apenas agravava o lenocinio (cf. art, 2162) © 5) do CP de 1982) —,restringe, correctamente, 0 mbito dos comportamentos basics de incrimiyo. Enea, pane peso ea, edu alidade a discussto que se travava, no direto anterior, em tomo da ques- ito de saber seo lenoctno exigia ou nto orequsto da habitualidade (ef dendo a posigdo resitiva da exigencia da habitualidade no CP de 1982, RopRiGues MARQUES, cit, 180; também BELEZA Dos SANTOS, RLJ 60° 288 s., perante 0 art. 406° do CP de 1886). Com eftito,relevante € agora saber qual © conteido que encerra a ideia de profssionalismo e de intenglo Tucrativa, Ba verdade € que, se a actividade profissional tem um significado que a liga a uma caraterstca de habitualidade (assim, REIS ALVES, Crimes sexuals 69; Leat-Henniquis / Sinas SavTos, Cédigo Penal Anotado 11 2000 431, falam de “actividade permanente, sinéa que nfo exclusiva” © de 0 agente fazer da actividade “o seu principal modo de vida"; parece deduzirse que the alia também uma ideia de habitualidade, MouRaz Lo%es, Crimes sexuais 2008 91; vv, ainda no mesmo sentido, Ac. do STS, de 7-1-93, CJ 1993-1° 160), jé a intengio lucrativa pode realizar-se “através de uma actividade meramente pontual ou esporica” assim Leal-Heugues/ Sivas SANTOS, eit; © MOURAZ Loves, Crimes sexuais 2008 91, que fala de “mera actividade ocasiona”) Para além disto (ef. Leat-Heseuquss / Smuas SANTOS, cit), este recorte tipico cieunsereve a ineriminagto a actividades que trazem para o agente ganhos sfectivos (actividades profissionais) ¢ ganhos possiveis(actividade realizada ‘com intengo Lueratva). 4, O art, 169°2 js ° i lificado de lenocinio 21. O legislador consagrou no n° 2 um crime quali fuathoeens 1 Simas SANTOS, Cédigo Penal Anotado II 2000 429, falam Anabela Mra Rodhigaes / Sonia Fidalga coimtes Eton 809 Art 16" 22) Des crimes cone ws poss de um crime agravado, 0 que inculea a ideia de que consideram os elemen- tos af referidos como circunstincias modificativas agravantes), cujos elemen- tos tipicos qualificadores sto os meias utilizados para praticar 0 crime: vio- léneia ou ameaga grave (q)), ardil ou manobra fraudulenta (6)), abuso de autoridade resultante de uma relagdo familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierdrquica, econdmica ou de trabalho (c)), aproveitamento de incapacidade psiquica ou de situagdo de especial vulnerabilidade da vitima (@). Como referimos jé (supra § 8), a L 99/2001 a L 59/2007 procederam um alargamento da incriminagao do lenocinio qualificado, através da con- sagragdo de novos meios tipicos de acedo. A referéncia, no n° 2, a0 “abuso de autoridade resultante de uma relagdo de dependéncia hierérquica, econé- ‘mica ou de trabalho”, bem como ao aproveitamento de qualquer “situagao de especial vulnerabilidade” foi introduzida pela L 99/2001; a referéncia ao “abuso de autoridade resultante de uma relagio familiar, de tutela ou curatela” foi introduzida pela L 59/2007. § 22. Na versio do CP de 1982, 0 uso de violéncia, ameaga grave ou fraude ¢ as relagBes de um certo tipo entre o agente © a vitima — uma telagdo familiar ou equiparada ou uma relago de dependéncia — eram motivo de egravamento da pena (art, 216° c) e d)) (sem que caiba discutir aqui se estas circunsténcias configuravam verdadeiras circunstancias ow eram afinal elementos tipicos qualificadores). Em 1995, o legislador distinguiu © crime praticado com utilizagao de violéncia, ameaga grave ou manobra fraudulenta, ou com aproveitamento de incapacidade psiquica da vitima, do crime praticado por quem tivesse com a vitima uma relacdo do tipo referid: familiar ou equiparada ou uma relagao de dependéncia hierérquica, econs- ‘mica ou de trabalho (cf. art. 177°-1). Com a L 99/2001, foi introduzida, no n° 2, a referéncia quer ao “abuso de autoridade resultante de uma relacdo de dependéncia hierérquica, econémica ou de trabalho”, quer ao aproveita- mento de qualquer “situaglo de especial vulnerabilidade”. Com a L 59/2007, foi introduzida a referencia a0 “abuso de autoridade resultante de uma rela so familias, de tutela ou curatela”. ‘Tudo aponta, pois, para que sejam considerados como elementos tipicos os meios de acco (violéncia, ameaca grave, ardil ow manobra fraudulenta, abuso de autoridade resultante de uma relagdo familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierdrquica, econémica ou de trabalho e aproveitamento de incapacidade psiquica ou de situagfo de especial vulnerabilidade da vitima), em tudo subordinados fis regras que para estes valem, que contendem com 0 tipo de ilicito e, por ai, agravam 0 crime cometido pelo agente, Sendo que, assim, a medida 810 coimieetton® Anabela rand Rsrgues (Sina Figo Leno 62) An@" legal da pena prevista no tipo entra automaticamente em aplicagao a partir do momento em que se considere que o agente cometeu um crime de leno- cinio qualificado, subsumivel ao art, 169°-2, Nos termos do art. 177-2, as agravagdes da pena previstas no art. 177°-I nao so aplicdveis nos casos do art, 169°-2 ©), “solugdo a que sempre se chegaria mesmo que o legislador no 0 dissesse expressamente” (MARtA JOA ANTUNES, anotagdio ao art. 177° §2). § 23. A conduta tipica traduz-se assim em 0 agente, profissionalmente ou com intenao luerativa, fomentar, favorecer ou facilitar 0 exercicio por outra pessoa de prostituigdo através da utilizagio de um meio tipico de coaecdo, imediatamente ditigido pratica de prostitu¢ao. Em causa esto actuagées (@ utilizagao de meios) que, por diferentes formas embora, todas tém como feito privar a pessoa da capacidade de livremente e de forma esclarecida optar por dedicar-se A prostituigio. Sobre os conceitos de “violéncia” “ameaga grave”, cf. anotagio a0 art, 163° §§ 23-28. Quanto 4s manobras ardilosas ou fraudulentas poder-se-4o equiparar, no sentido de que ambas provocam na vitima um erro. Segundo Ltat-Henriques / SiMas SANTOS, Cédigo Penal Anotado Tl 2000 425, hé aqui “um proceso enganoso em que se figura um cendrio que no tem correspondéncia com a realidade, mas que se recebe como tal” (cf., também, antago a0 art. 160° § 10). Quanto a0 meio tipico de abuso “de autoridade resultante de uma relago familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierdrquica, econémica ou de trabalho”, ef, anotagao ao art. 163° §§ 53-54 e anotagio ao art. 177° § 2. Quanto a0 aproveitamento de “incapacidade psiquica da vitima”, ef. anotagdo ao art. 160° § 12, O conceito de “situagdio de especial vulnerabilidade da vitima” um conceito de dificil determinagao. Acompanhamos TAIPA DE CARVALHO {anotagio ao art. 160° § 12) no sentido de que a vulnerabilidade a que se refere a al, d), no se confunde com a vulnerabilidade subjacente a al. c). Esta 6 uma “vulnerabilidade relativa” (¢ > crime em causa é um crime especifico), enquanto a “especial vulnerabilidade de vitima” se traduz numa “vulnerabilidade absoluta” (sendo o crime em causa um crime comum) CTAIPA DE CARVALHO, cit). Poderé interpretar-se 0 coneeito de “situagdo de especial vulnerabilidade da vitima” no sentide de que a vitima néo tem “outra altemnativa possivel” — ideia evocada nos trabalhos preparatérios da Con- vengio de Palermo e retomada na Decisio-Quadro do Conselho, de 19 de Julho de 2002 (relativa ao tréfico de seres humanos) — seniio submeter-se a0 exercicio da prostituiglo. Podem, assim, configurar-se como crime de lenocinio qualificado situagdes de desamparo social, como 05 casos em que Ancdite ronda Rodbigues| Sika Fidlgo Combe atone tL Ari 16" (95-29) Ds ees cont a pesos 4 pessoa, por exemplo em situago a pobreza extrema e sem possibilidade de prover ao seu sustento e da sua familia que dela depende, consente dedicar-se & prostituigo (cf, ANABELA MIRANDA RODRIGUES, Estudos Figuei- redo Dias II 583; ¢ Vaz PatTo, Jornadas 2008 194. Neste sentido também AuousTo SiLvA Diss, cit. 125 nota 36; © MOURAZ LoPss, Crimes sexuais 2008 93, Discordamos, assim, de PINTO DE ALBUQUERQUE, art. 169° 16, quando afirma que a “especial vulnerabilidade da vitima’ s6 inclui a vuine- rabilidade em razBo da idade, deficiéncia, doenga ou gravidez, por identidade de-razio com 0 artigo 155°, n° 1, al. b), 0 artigo 158°, n° 2, al. e), ¢ até com © artigo 218%, n° 2, al. ¢)”. CF, também, ainda a este propésito, anotagdo v-atl, 160" § 12), § 24 Na versdo do CP de 1995, poderia colocar-se a questo de saber se 0 facto de o agente se aproveitar da incapacidade psiquiea da vitima constituia uum elemento qualificador auténomo. Jé na 1.* edig8o deste Comentério (cf. anotagio ao art. 170° § 22) respondemos em sentido afirmativo (assim, tam- bém, LeaL-Henniques / Simas SANTOS, Cédigo Penal Anotado II 1996 278), conctuindo que bastava que a vitima fosse uma pessoa psiquicamente incapaz € 0 agente se tivesse aproveitado dessa incapacidade para que este praticasse © crime de lencefnio qualificado. Com a Revisio de 2007, a nova redacgio do n® 2 do art. 169° nfo deixa margem para diividas: cada um dos elementos qualificadores referidos nas varias alineas do n° 2 do art. 169° funciona de modo auténomo. Ou seja: para praticar o crime de lenocinio qualificado no € preciso que 0 agente actue utilizando violéncia, ameaca grave, ardil ou manobra fraudulent. § 25. Finalmente, tudo leva & conclusio (ef. supra § 10) que o agente do crime de lenocinio qualificado 36 pode ser quem actue “profissionalmente ou com intengio Iucrativa”. Conclusio a que chegévamos ja atendendo & versio do CP de 1995, © que com a L 59/2007 sain reforgada: estabelece agora o n° 2 do art. 169° que “quem cometer o crime previsto no imero anterior (...) & punido com pena de pristo de um a oito anos”. Naturalmente, a0 ter querido, no n’ I do art. 165°, imitar a punigo do lenocfnio fiundamen- tal a estes casos, 0 legislador, em coeréncia, nfo podia ter querido coisa diferente quanto a0 lenocinio qualificado. De resto, situagées em que o agente no detenha as referidas qualidades exigidas pelo tipo legal em causa sempre poderto ser abrangidas por outras incriminages previstas no capitulo dos erimes contra a liberdade ¢ autodeterminagdo sexual ou incriminagdes contidas no capitulo dos crimes contra a liberdade pessoal. B12 compe eon Anabela Mronde Rodrigue! nia Fdao exon Es2y Ante 5. O lenocinio como crime de resultado, § 26 A luz doCP de 1886, perante 05 arts, 405° e 406°, sustentava BELEZA Dos SANTOS que 0 czime de lenocinio era um crime formal. O que se compreende, ‘considerando como considerava este autor que @ incriminagdo legal bastava a “excitagdo” ou 0 “favorecimento”, sendo estes os elementos essenciais do tipo. ara haver crime bastava, assim, averiguar se 0 meio empregado era ou no “de ‘per si susceptivel de producin, agravar ou impedir o desaparecimento da corrup- ‘go alheia” (RIJ 60° 130). E continuava, noutro passo (163); “E a propria excitagdo ou favorecimento que a lei visa © néo as consequéncias que destes factos posoam reculta”, © que tudo concordava, de resto, com a jusificagao da incriminagéo: a tutela de valores morais-sociais e do sentimento geral de pudor. § 27. Com a transformagiio do entendimento das coisas neste ponto, traduzida — ainda que nio totalmente (cf. supra §§ 2 ¢ .) — ao nivel do recorte tfpico da ineriminagao, o crime x6 pode ser entendido como ctime de resultado, pretendendo proteger-se — como se pretende, apesar de tudo — o bem juri= ico liberdade autodeterminagao’sexual da pessoa. Este entendimento das coisas, entretanto, era ainda mais nitido na versio do CP de 1995. Com efeito, exigi 10 preenchimento do tipo, entre outros aspectos, a veri casio cumulativa de dois requisitos: no s6 0 fomento, favorecimento ou facilitagdo do exercicio da prosttuigdo © da pritica de actos sexuais de relevo, como também a exploragio da situagio de dependéncia (econémica ou psi- ‘quica) da vitima, Se podia, assim, falar-se num conceito superior de “explo- rragdo”, contendo em si aqueles dois elementos, certo & que ele s6 so concre- tizava quando a vitima efectivamente praticava a prostituigdio ou actos sextiais de relevo. Desta forma, tomava-se claro, que era, com efeito, a liberdade e autodeterminago sexual da pessoa 0 bem juridico tutelado com ‘a incriminagao. Tudo aponta, j4, portanto — e bem —, para a consideragao deste crime como um crime de resultado (na conclusto, RODRIGUES MARQUES, cit. 176 e 182; em sentido contrério, entendendo que se trata de um crime formal ou de mera actividade, Mata GONCALYES, art. 169°-2, € PINTO DE ALBUQUERQUE, art. 169° 3). IIL. 0 tipo subjectivo de ilcito § 28. E de exigir o dolo relativamente 4 totalidade dos elementos constitu- tivos do tipo objectivo de ilfeto, O tipo legal de crime no exige jé 0 dolo specifica (cf. 0 que ja se disse supra § 12). Anabela Mata Resigns / Sota Fidlgo Combe trot 813 Act 16" (6629.32) Dos eens conn as pessoas As formas de aparecimento do crime 1, Tentativa § 29 Tratando-se de um crime de resultado, a eonsumagio do crime de lenocinio depende do exercfcio da prostituigéo. Deve considerar-se que 0 tipo legal esté preenchido desde que se pratique um s6 acto sexual de relevo ‘a troco de uma contrapartida. Com eftito, essencial ao conceito de prostitui- so € esta contrapartida, normalmente traduzida em dinheiro. § 30 Na hipétese de nio se chegar a verificar o exercicio da prostituicao, {eremos um caso de ten‘ativa da pritica de crime de lenocinio, em qualquer das suas formas, a qual & punivel (art. 23°-1). 2, Coneurso § 31 Podemos confrontar-nos com situagdes de concurso aparente (relaco de consungiio) entre o crime de lenocfnio qualificado ¢ os erimes de coacgaio sexual e violagdo, uma vez que quando se fomenta o exercicio de prostituisdo utilizando os meios tipicos previstos no n° 2 do art. 169° se esta a levar outra ‘pessoa a praticar actos sexuais de relevo. $32. Poder haver casos de concurso efectivo entre o erime de lenocinio e © crime de tréfieo de pessoas para fins de explorago sexual. Apesar de cestarmos perante a proteceo, em ambos 0s casos, do bem juridico “liberdade da pessoa”, protegem-se manifestagdes/expressdes diferentes dessa liberdade pessoal: num caso, a liberdade de acgo ou de decisto; no outro, a liberdade sexual. Nao se trata aqui de concurso aparente, uma vez que “da pluralidade das normas tipicas concretamente aplicaveis a0 comportamento global é legitimo conciuir (...) que aquele comportamento revela uma pluralidade de sentidos sociais” (“materiais”) de “ilicitude” (cf. Fiouemeno Dias, DP I 43°73). 0 sentido da ilicitude revelado pela conduta do agente & plirimo: a deslocagio, sob coaceao (tipica), de uma pessoa, ¢ 0 favorecimento da pros- tituigio sob coace2o (tipica) de uma pessoa. Nestes termos, nfio vemos razio, para flar em “grau de instrumentalizagao da vitima” (Vaz Parto, Jornadas 2008 198) para distinguir o crime de trifico do de lenocinio, previsto no n° 2 do art. 169° A coacyio terd de existir sempre, em qualquer dos casos, podendo ser maior ow menor, mas tal nao interessando ao tipo de crime cometido, O que televa para identificar o crime cometido € saber se a coae- S14 Canta tao Anobsta Mronda Rodrigues / Sn Fdeto ewan 692535 An too" fio atinge a liberdade de acgio ou decisio, ou a liberdade sexual, ou se atinge ambas — caso em que estaremos perante um concurso efectivo de crimes (neste sentido ja, ANABELA MiRANDA Ropaicues, Estudos Figueiredo Dias Ill 584; na conciustio, também, TAIPA DE CARVALHO, anotag#o ao art. 160° § 22). ¥. Apena §33 A condenagdo em pena principal pelo cometimento do crime de leno- cinio pode acrescer a condenagio em pena acesséria de inibigdo do poder paternal e proibigao do exercicio de fimgées (cf. art 179° e respectiva ano- tagdo). § 34 Desde a Revisio de 2007 esté expressamente prevista a possibili- dade de responsabilidade penal das pessoas colectivas por este crime (cf. art, 11°-2), Anabela Miranda Rodrigues Sonia Fidalgo Aneta Miranda Roig / Ska Fidalgo combs ketone 15 Anite 13415) Dos crimes corr a esas § 13 Ao fixar em 14 anos de idade o limite minimo a partir do qual hi crime de recurso a prostituigo de menores fica a partida afastada a questio de um eventual eoneurso com o crime de abuso sexual de criangas (art. 171°), Afastada também esta a possibilidade de eoneurso com o crime de lenocinio de menores (art. 175°), quando esteja em causa.actividade de prostituigao, uma vez que o agente da prética deste crime desempenhard sempre o papel de “intermediério”, de “medianeiro” (infra art. 175°). VI A pena § 14 A pena aplicével ao crime & a de 1 més a 2 anos de prisio (art. 41°-1) ow a de 10 (art. 47°-1) a 240 dias de mutta, se se tratar de crime simples (n° 1), € a de 1 més a 3 anos de prisio (art. 41°-1) ou a de 10 (art. 47°-1) 2 360 dias de multa, se se tratar de erime qualificado (n° 2). E aplicavel, por conseguinte, uma multa enquanto pena principal na modalidade de pena alternativa, desde que esta realize de forma adequada e suficiente as finali- dades da punigo (arts. 70° e 40°-1 ¢ 2). § 15 Se entre o agente ¢ a vitima interceder uma relagio do tipo das previs- tas nas als. a) ¢ 8) do n® | do art. 177° a pena é agravada de um tergo, nos seus limites minimo ¢ méximo (infra art. 17°), Nos termos do art. 1773, 4 5, a pena & ainda aghavada de um terco, nos seus limites minimo e maximo, se 0 agente for portador de doenca sexualmente transmissivel (infra art, 177°; agravada de metade, nos seus limites minimo ¢ méximo, se do comportamento descrito no art. 174° resultar gravides, ofensa a integridade fisica grave, trans- missdo de agente patogénico que crie perigo para a vida, suicidio ou morte da vitima (infra art. 177°), ou agravada de um tergo, nos seus limites minimos © méximo, se a vitima for menor de 16 anos (infra art. 177°). Porém, de acordo com o que dispde 0 art. 177°-7, s¢ no mesmo compor- tamento concorrerem mais do que uma destas cireunsténcias $6 & considerada para efeito de determinacao da pena aplicdvel a que tiver efeito agravante mais forte, sendo a outra ou outras valoradas na medida da pena. Maria Joto Antunes Cléudia Santos 970 cinta tion Marta ttn Annes J Clini Soi Lancto de mecores 6D ane Artigo 175° (CLenocinio de menores) 1. Quem fomentar, favorecer ou facilitar 0 exercicio da prostituigdo de menor é punido com pena de prisio de um a cinco anos. 2. Se o agente cometer o crime previsto no niimero anterior: 4) Por meio de violéncia ou ameaga grave; }) Através de ardil ou manobra fraudulenta; ©) Com abuso de autoridade resultante de uma relasio familiar, de futela ou curatela, ou de dependéncia hierérquica, econémica ou de trabalho; @ Actuando profissionalmente ou com intengio luerativa; ow © Aproveitando-se de incapacidade psiquica ou de situagio de especial yulnerabilidade da vitimas € punido com pena de prisio de dois a dez anos. I. Antecedentes e evolugiio §.1 Coma revisho do CP em 1995 passa a reverse de forma auténoma 0 tipo Tegal deerme de lencetnio de menor, a0 arepio da verato orginal de 1982, onde © mre ea tatado apenas com unt das vias possvis do ere de lesotsib. O ent ar 213" tipo fundamental de lencinio ~~ dterminava gue ser pido com piso até 2 anos cma te 100 cia qt foment, fvorecer ou fait a prin de eto contrrios uo pudor ou A oralidade sexual, ou de prostiugto re Ehamente «pessoa menor on portadora de ancali sia, 04m qualquer pesca, txplovandostagio de abandono ou de extra necesatide econémicn. Di Gente em a Solusho do Pro|PE 1979 ao prever somo ee sitnomo © lence relatvamente a menores de [8 anos (at 2651) 0 qu se dstingula do lento Civ gore por prenchmento do po legal de tine nfo depender da inten en Sve do gens, Eta una previo tale pina dado CP de TANG, qu previa, pare tle donot ar 405°) prs slsfra os denis deanoneos de oun, aucendens exci, favorcer ou facil a prostuo ou comrupeto de qualquer pesson se desrendnt, Sr condenado a pst de im dos aot e mula come Pondente,Seandosuspenso dos diets polticos por doze anos”, a corupeo de Inenores (ar 4062) "Toa x pesson que hebitunnene ext, favors om ak Mar evasiaoou corpo de qugnes menor de wine eas, pare sais os desjos desonesen de outem, ser punda com pristo dots meats a um an © Iullacorespondenteesuspenio dos dros pls pr cinco anes” Devendo exacts qe est Codigo de 1885 apenas ncrimina(s) cea oss de lenocno Que angen una grvidede porta, ou elas psson gue © ekream e gl, pala Maria Jodo Aan ints téton® 1 Art 178" (52) Dos crimes cna a petsone sua situagto relativamente as vitimas, tinham dover especial de 0 nto realizar, ou elas pessoas em relagao as quais o lenoctnio se efectua, por merecerem uma especial protecgo" (BELEZA Dos SaNTOS, RLJ 60." 114), 'S6 com as alteras8es introduzidas pela L 65/98, do 2-9, passa a prever-se de forma ‘auténoma 0 tipo legal de erime de tréfico de menor, tipo legal que também a versdo original do CP no autonomizava. Dada a especial vulnerabilidade do menor de 16 anos, 44 mesma que justfica a previsio do crime de lenocfnio de menor, faz todo 0 sentido Incriminar a conduta daquele leva o menor & pratica, em pals estrangeiro, da prosituigho ‘u de actos sexuais de relevo (pronunciava-se Jf neste sentido EL:aNA Gexsio, “Crimes sexuais contra criangas. O direito penal portugues a luz das resolugses do Congresso de Estocolmo contra # exploragto sexual das criangas para fins comerciais”, Infancia e Juventude 97.2 18 © 25. No mesmo sentido of. supra art, 169,° § 7 da edigfo anterior este: Comentario), © tipo legal de crime de trifico de menor pera fins de exploragéo sextel, com as alteragdes introduzidas pela, 99/2001, de 25-8, deixou de estar previsto de forma auts- noma depois de 2007. A L $9/2007, de 4-9, numa outra insergto sistemstica, passou prover 0 crime de Trifico de pessoas (ef. supra art. 160.9, § 2 Uma das elteragses significativas de L $9/2007 foi a descriminalizago do com- Portamento de quem fomenta, favorece ou facilita a prétien de actos sexuais de relevo or menor entre /4/¢ 16 anos de idade, tendo deixado de fazer sentido distinguir, quanto 40 conteiido dos actos sexuais, o exercicio da prasttulcao da pritiea de actos sexuals de relevo. Com eftito, qualquer um daqueles comportamentos, por si s6, nfl viola 0 ‘bem juridico do livre desenvolvimento da personalidade do menor na esfera sexual, tanto mais quanto o legislador partiu do principio de que ¢ até aos 14 anos de idade que a prética de actos sexuzis prejudica o desenvolvimento global do menot (cf. supra art, 171.9. do tem sentido, p. ex., criminalizac a conduta dos pais que faciltam a pritica de actos sexuais de reievo da filha de 15 anos de idade com o namorado, E n8o ‘om sentido, também, porque tal criminalizagdo vai contra a propria aceppio tradicional do termo enocinio — a “acgo de facilitar ow provocar a prostituigtio ou corrugdo de luma pessoa” (BELEZA Dos SaNTOs, RLI 60." 97), sendo certo que, no actual entendi ‘mento dos crimes sexuais, a ago de “corromper” uma pessoa tem que significar nocessariamente que se perturba o livre desenvolvimento da personalidade do menor na cesfera sexual © legislador tinha ido longe demais 20 substitu os “actos contrétios eo pudor ou & moralidade sexual” (art. 215. da versio original do CP de 1982) por “actos sexuais de relevo”. E foi longe demais, porque a prética de actos sexuais de relevo, Por si 56, no acarreta a violag4o do bem juridico que se pretendia proteger quando em causa est8o menores entre 14 ¢ 16 anos; enquanto que a prtica de actos contrérios a0 pudor ou a moralidade sexual encerra em si mesma a necessidade de tutela do bem juridico que entdo se pretendia proteger. Daf que, quando confrontado Goma questi de seber se devem ser punldos os pals que permitem relagdes sexuais Ga filha com 0 noivo, EDUARDO ConasiA tenha respondide negativamente, observando gue “nfo pode dizer-se que a sua actuagso seja contréria ao pudor ou & moralidade sexual” (Actas 1979 213), Bn Gina tte Mara Lota Anos Lense de menor (6995) Anis TO bem juridico § 3. Ao ser criminalizada a conduta daquele que fomenta, favorece ou faci- lita 0 exercicio da prostituigao de menor de certa idade, o bem juridico que se pretende tutelar € 0 do livre desenvolvimento da personalidade do menor na esfera sexual, criando as condigées para que esse desenvolvimento se processe de uma forma adequada e sem perturbagies (assim, entre outros, Vives ANTON / Oxts BERENGUER 967), Por esta via se afastando a tutela, a titulo principal, dos “fundamentos ético-sociais da vida social” e, especi ‘mente, da “moralidade sexual”, uma vez que a incriminarao se justfica, ainda, por referéncia aquele bem juridico, dadas as caracteristicas da prostituiglo. Neste art, 175.° a tutela daquele bem juridieo pretende-se “absoluta”, uma vez ‘que se prescinde, diferentemente do ienocinio (art. 169.°), que o agente actue profissionalmente ou com intengao lucrativa (destacam este aspecto, FIGUET- REDO DIAS, Aciat 1993 265, REIS ALVES, Crimes Sexuais. Notas e Comenté= ios aos Arts. 163.° a 179.° do Cédigo Penal 1995 107 e Eu1axa GERSAO, cit. 17). § 4 Importa, no entanto, interrogarmo-nos sobre se esta tutela “absoluta” no tera ido longe demais, na medida em que passou a abranger 0 menor entre 05 16 € 0s 18 anos de idade, na sequéncia das alteragées introduzidas em 2007. ‘A questio nio & nova, O Projecto da Comissio de Revisto do C Penal, que deu origem & revistio de 1995, elegia como vitima do lenocinio qualquer menor, tendo havido um abaixamento da idade para 16 anos na roposta de Proposta de lei n.° 92/V1, a qual veio a ser aprovada relativa- mente a este porto (sobre a alteragio cf. AR Reforma Il 47 s.; no sentido de a idade dever ser a de 18 anos, FERREIRA RAMOS, RMP 59 49 © ELIANA GeRsKo cit. 22). Posteriormente, numa Proposta de 24 de Junho de 2004 (36/Prop/2004) ¢ na Proposta de lei n.° 149/IX, foi retomada a idade de 18 anos. IIL 0 tipo objectivo de iticito §5 Agente da orética do crime de lenoefnio de menor pode ser qualquer Pessoa, homem cu mulher, desde quo tenha 16 anos ou mais (art, 19.°) © desempenhe 0 papel de “intermedisrio”, de “medianeiro” (ef. BELEZA DOs Sano, RLJ 60. 97; cf. supra art. 169.°). Diferentemente do art. 263.° do ProjPE 1979 — “quem fomentar, favorecer ou facilitar @ pratica de actos Mara Jodo Avene ‘Colina sénore® 575 Anis ($68) os enmes cont a petoas contrérios a0 pudor ou a moralidade sexual entre terceiros, servindo de intermediirio (...)” — 98 arts, 169.° e 175.° no prevéem expressamente que 0 agente seja um terceiro relativamente aos intervenientes no acto sexual; 0 que nao invalida, no entanto, que assim se tenha que entender, Por um ledo, a acepedo tradicional do termo lenocinio aponta indiscutivel- mente nesse sentido (ef. BELEZA pos SANTOS, RLJ 60.° 97 ss.); por outro lado, quando o agente intervém no acto sexual a tutela do bem juridico em ‘causa esti jé assegurada noutros tipos legais de erime ou, pura e simples- mente, néo ha necessidade de tutela, Assim, se o agente praticar actos sexuais de relevo, mediante pagamento ou outra contrapartida, com um menor de 14 anos de idade comete 0 crime de abuso sexual de criangas (art. 171.9; se praticar actos sexuais de relevo, mediante pagamento ou outra contrapartida, com um menor entre 14 ¢ 18 anos de idade comete o crime de recurso & prostituigdo de menores (art. 174.°), comportamento que passou a ser criminalizado (supra art. 174°), § 6 Vitima do crime de lenocinio de menor é necessariamente um menor de 18 anos de idade. Distingue-se, no entanto e coerentemente com a opyiio feita noutros tipos de crime, 0 caso em que a vitima é um menor entre 14 © 16 anos de idade, do caso em. que a vitima é um menor de 14 anos de idade, para o efeito de agravar a pena de pristio (infra § 12), § 7. De acordo com o art. 175.1 0 tipo de ilicito € preenchido através de varias modalidades de acsao a saber: fomentar 0 exercicio da prastituigdo; favorecer 0 exercicio da prostituigdo; facilitar 0 exercicio da prostituicdo, Modalidades de acgio estas que devem ser entendidas nos exactos termos defendidos para as modalidades homénimas do lenocinio (supra art. 169.%, por nio haver aqui qualquer razio, politico-criminal ou dogmética, que jus- tifique um outro entendimento, § 8 Tratando-se de um erime de resultado — o que se pretende tutelar & a liberdade ¢ a autodeterminagio sexual do menor @ nio a acco de “desmo- ralizar outra pessoa” (cf. supra art. 169.°) — a consumagio do crime de lenocinio depende do exercicio da prostituicdo, Muito embora o sentido usual deste termo aponte para uma certa reiteragio, 0 tipo legal de-crime deve considerarse preenchido ainda que o menor pratique um 36 acto sexual de relevo a troco de um prego (neste sentido, para o direito espankol, VIVES ANTON / ORTS BERENGUER, cit. 970). #4 comb edor® Nori Jt Anas Leoni de menor IV. 0 tipo subjective de ilicito $9. E de exigir 0 dolo relativamente totalidade dos elementos constitutivos do tipo objectivo de ilicito. Quanto ao erro que recaia sobre a idade da vitima valem completamente as consideragdes ja feitas anteriormente (cf. supra art. 171.°. Y. 0 lenocinio qualificado . § 10 No art, 175:-2 qualifica-se o lenoeinio de menores em fungo dos meios usados, das relagdes com a vitima, do objectivo visado e das condigses da vitima, Quanto aos meios, o legislador especifiea o uso por parte do agente de vio- éncia, ameaca grave, ardil ou manobra fraudulenta, valendo aqui os conte- lidos jé definidos anteriormente (cf. supra arts. 163° © 169.) No que se refere as relagies com a vitima, a qualificagio do lenocinio de menores ocorre quando 0 agente actue com abuso de autoridade, resultante da existéncia de uma especial relagdo entre este ¢ a vitima: relagdo familiar, tutela ou curatela, ou relagio de dependéncia hierdrguica, econdmica ou de trabalho (sobre 0 contetido destes dois elementos ef. supra art. 169.°). 'No que diz respeite aos objectivos, 0 fenocinio de menotes ¢ qualificado quando o agente actue profissionalmente ou com intencdo lucrativa ao fomen- tar, favorecer ou facilitar 0 exercicio da prostituigio (sobre 0 contetido destes dois elementos ef. supra art. 169.°). Considerando expressamente as condigdes da vitima, 0. lenocinio de menores 6 qualificado quando o agente se aproveita da incapacidade psiquica do menor ou de situagay de especial vulnerabilidade desta (sobre 0 contetido destes dois elementos cf. supra art. 169.) ‘VI. As formas especiais do crime § 11 Tratando-se aqui de um crime de resultado, a consumacao s6 se verifica quando o menor efectivamente se prostitui (ef. supra § 8). Na hipétese de nfio se chegat a verificar o exereicio da prostituisao a hipdtese sera de mera tenta- tiva da pritica de crime de lenocinio a qual é puntvel (art. 23.1) VIL. A pena § 12 A pena aplicdvel ao agente que praticar as condutas descritas no art, 1752-1 € a de prisio entre um e cinco anos, sendo consequentemente Mara et Aine Caines esters? 515 ants G13) Des crimes coment psons punivel a tentativa da pritica do crime de lenocinio de menor (art. 23-1), Se o agente for ascendente, adoptante, parente ou afim até ao segundo grau da vitima a pena é agravada (art. 177-1 a). Infra art. 177°); do mesmo modo é agravada se a vitima se encontrar sob a sua fuiela ou curatela ou se encontrar numa relagdo de dependéncia hierdrquica, econdmica ou de trabalho do agente ¢ 0 crime for praticado com aproveitamento desta relagao (art, 117-1 8). Infra art. 177.2). A pena € agravada também em fungio da idade da vitima: quando é ‘menor de 14 anos de idade (art. 177-6); ou quando é menor entre 14 € 16 anos idade (art. 17.-5), caso em que 0 agente & menos punido do que na hipétese anterior, mas mais punido do que na hipétese de a vitima ser menor centre 16 © 18 anos de idade (infra art. 177°). Porém, de acordo com 0 que dispée o art. 177,%-7, se no mesmo com- portamento concorrerem mais do que uma destas circunsidincias s6 & consi« derada para efeito de determinagio da pena aplicavel a que tiver efeito agravante mais forte, sendo a outra ou outras valoradas na medida da pena. § 13 Se as condutas descritas no n.° | forem praticadas com o uso de vio= lencia, ameaga grave, ardil ou manobra fraudulenta, se 0 agente cometer 0 crime com abuso de autoridade resultante de uma relagao familiar, de tutela ‘ou curatela, ou de dependéncia hierérquica, se 0 agente actuar profissional- ‘mente ou com intengéo lucrativa, ou se se aproveitar de incapacidade psfquica da vitima ou de situagdo de especial vulnerabilidade desta — art. 175.2 —, ‘a pena correspondente é a de prisio de 2 a 10 anos, sendo consequentemente Punivel a tentativa da pritica do crime de lenocinio de menores qualificado (art. 23-1), Se 0 agente for ascendente, adoptante, parente ou afim até 20 segundo grau da vitima a pena & agravada (art. 177-1 a). Intra art. 177}; do mesmo modo é agravada se a vitima se encontrar sob a sua tutela ou curatela ou se encontrar numa relagdo de dependéncia hierirquica, econémica ou de trabalho do agente ¢ crime for praticado com aproveitamento desta relagdo (art. 117.°-1 b). Infra art. 177.) ‘A agravaplo 86 ndo tera lugar se 0 agente cometer o crime com abuso de autoridade resultante de uma relagio familiar, de tutela ou curatela, ou de dependéncia hierérquica, por forga do disposto no art. 177.°-2 (infra art. 177.9. Nesta hipétese, a agravagio da pena jé poderd ter lugar em razio da idade da vitima: quando esta 6 menor de 14 anos de idade (art. 177.%.6); ou quando é menor entre 14 e 16 anos idade (art. 17-5), caso em que o agente é menos punido do que na hipétese anterior, mas mais punido do que na hipétese de a vitima ser menor entre 16 ¢ 18 anos de idade (infra art. 177.°. 6 Coens Estee Mari tot es erecta de menos (1) Anas ‘A pena prevista no art. 177.2 6 agravada também em funsiio da idade da viina: quando 6 menor de 14 anos de idade (ar. 177-6); ou quando & menor entre 14 € 16 anos idade (art, 177.°-5), caso em que o agente & menos punido do que na hipétese anterior, mas mais punido do que na hipotese de 1 vitima ser menor entre 16 ¢ 18 anos de idade (infra art. 177.%). Porém, de acordo com 0 que dispde o art. 177:-7, se no mesmo compor- tamento concorrerem mais do que wna destas circunsténcias s6 & considerada para efeito de determinaglo da pena aplicavel a que tiver efeito agravante mais forte, sendo a outra ou outras valoradas na medida da pena. Maria Jodo Antunes Ito Annes ointe eSton® 877

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