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Departamento de Engenharia Civil

13
DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS

RELATIVAS A ELEMENTOS
ESTRUTURAIS

CARLOS FÉLIX / PAULO GUEDES / TRIGO NEVES

FEVEREIRO / 2014
Departamento de Engenharia Civil

ÍNDICE
13 Disposições construtivas relativas a elementos 13.1

13.1 Introdução 13.1

13.2 Vigas 13.1

13.2.1 Armadura longitudinal mínima 13.1

13.2.2 Armadura longitudinal máxima 13.3

13.2.3 Armadura de apoio 13.3

13.2.4 Alteração dos esforços no banzo tracionado 13.5

13.2.5 Dispensa das armaduras longitudinais de tração 13.8

13.2.6 Amarração de armaduras inferiores em apoios extremos 13.8

13.2.7 Amarração de armaduras inferiores em apoios intermédios 13.9

13.2.8 Amarração de armaduras inferiores em apoios de encastramento 13.10

13.2.9 Amarração de armaduras superiores em apoios 13.10

13.2.10 Armaduras longitudinais de montagem 13.11

13.2.11 Apoios indirectos 13.12

13.2.12 Armadura de alma 13.14

13.2.13 Armadura de ligação dos banzos à alma 13.14

13.2.14 Armadura para absorção de forças de desvio 13.14

13.3 Lajes 13.15

13.3.1 Introdução 13.15

13.3.2 Espessura 13.15

13.3.3 Armadura na direção principal 13.15

13.3.4 Armadura de distribuição 13.16

13.3.5 Espaçamento dos varões 13.16

13.3.6 Dispensa das armaduras longitudinais de tração 13.17

13.3.7 Armadura inferior junto dos apoios 13.17

Instituto Superior de Engenharia do Porto i


Estruturas de Betão

13.3.8 Armadura de apoio 13.18

13.3.9 Armaduras principal e de distribuição: resumo 13.18

13.3.10 Amarração de armaduras em apoio 13.18

13.3.11 Armadura em apoios não considerados no cálculo 13.19

13.3.12 Armaduras nos bordos livres 13.19

13.3.13 Dispositivos de montagem 13.19

13.4 Lajes armadas em duas direções 13.20

13.4.1 Comportamento resistente de lajes retangulares 13.20

13.4.2 Lajes simplesmente apoiadas nos quatro lados 13.22

13.4.3 Lajes encastradas nos quatro lados 13.28

13.4.4 Lajes contínuas armadas em duas direções 13.29

13.4.5 Lajes simplesmente apoiadas em três lados 13.29

13.4.6 Lajes encastradas em três lados 13.31

13.4.7 Lajes apoiadas em dois lados 13.32

13.4.8 Reações de apoio 13.33

13.5 Pilares 13.35

13.5.1 Considerações gerais 13.35

13.5.2 Condicionantes geométricas 13.36

13.5.3 Armaduras longitudinais 13.37

13.5.4 Armaduras transversais 13.38

13.6 Paredes 13.43

13.6.1 Considerações gerais 13.43

13.6.2 Armaduras verticais 13.43

13.6.3 Armaduras horizontais 13.44

13.6.4 Armaduras transversais 13.45

13.6.5 Armaduras de bordo livre 13.45

13.6.6 Utilização de redes electrossoldadas 13.46

13.6.7 Recobrimento das armaduras 13.46

ii Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.7 Bibliografia 13.48

Instituto Superior de Engenharia do Porto iii


Departamento de Engenharia Civil

13 Disposições construtivas relativas a elementos

13.1 Introdução

Apresentam-se neste capítulo algumas das disposições relativas a elementos estruturais,


nomeadamente no que diz respeito a limites regulamentares relativos a áreas e a
espaçamentos de armaduras e regras de apoio à quantificação de outras armaduras,
para além das armaduras principais. São ainda apresentados pormenores relativos ao
traçado de armaduras.

13.2 Vigas

13.2.1 Armadura longitudinal mínima

Com a definição da armadura longitudinal mínima pretende-se controlar a fendilhação e


evitar a rotura frágil das secções. No que diz respeito à limitação da fendilhação deve-se
respeitar o especificado no exposto no capítulo dedicada aos estados limites de
utilização.

Para evitar a rotura frágil duma secção de betão deve dispor-se nessa secção de uma
armadura capaz de equilibrar o momento fletor gerado na secção no instante da abertura
da primeira fenda.

Considere-se a secção representada na Figura 13.1a, sujeita a um momento fletor M. Se


M for de valor reduzido, será admissível a distribuição de tensões indicadas, com o eixo
neutro posicionado, aproximadamente, a meia altura). Se o valor de M aumenta, a
primeira fissuração ocorrerá quando ct se aproximar de fctm.

c

Rc Fc
h 2h/3 d z0.9d
M
h/2 Rt
Fs

ct
b As,min

a) Antes da primeira fenda b) Após a fendilhação

Figura 13.1 – Armadura mínima: momento fletor instalado.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.1


Estruturas de Betão

Nestas condições, a resultante das trações na secção será dada pela expressão:

bh (13.1)
R t  fctm
4

em que fctm representa o valor médio da resistência à tração do betão. E o momento


fletor instalado, aquando da abertura da primeira fenda, será dado pela expressão:

b h2 (13.2)
M fctm
6

Este momento fletor deverá ser equilibrado, em secção fendilhada, pelo novo binário
instalado na peça (ver Figura 13.1):

M  As,min  fyd  z (13.3)

Igualando as expressões (13.2) e (13.3), admitindo z0.9d e d0.9h e atendendo a que


fyd=fyk/1.15 virá:

fctm
As, min  0.2 6 bd (13.4)
fyk

O EC2 apresenta na secção 9 (ver 9.2.1) para a área mínima da armadura longitudinal
de tração em vigas a seguinte expressão:

fctm
A s, min  0.26 btd (13.5)
fyk

devendo ainda ser verificada a condição:

As,min  0.0 0 1 3bt d (13.6)

em que bt representa a largura média da zona tracionada; no caso de uma viga em T


com os banzos comprimidos, deverá considerar-se apenas a largura da alma no cálculo
de bt.

A armadura mínima depende então, quer do tipo de aço, quer da classe do betão em
causa.

Definindo a percentagem da armadura na secção pela relação:

As
   100 (13.7)
bt d

em que As representa a área da secção da armadura, pode calcular-se os valores de min


substituindo As por As,min. Nestas condições, utilizando a expressão (13.5) e o limite
imposto pela expressão (13.6), obtêm-se os valores apresentados no Quadro 13.1.

13.2 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

Quadro 13.1 - Percentagem mínima de armadura longitudinal de tração.

min (%)

fyk fck [MPa]


[MPa] 12 16 20 25 30 35 40 45 50
400 0.130 0.130 0.144 0.167 0.188 0.209 0.228 0.247 0.265
500 0.130 0.130 0.130 0.133 0.151 0.167 0.182 0.197 0.212
600 0.130 0.130 0.130 0.130 0.130 0.139 0.152 0.164 0.176

13.2.2 Armadura longitudinal máxima

A área da secção da armadura longitudinal de tração ou de compressão não deverá ser


superior a As,max dada por:

As,max  0.0 4 Ac (13.8)

sendo Ac a área da secção de betão.

13.2.3 Armadura de apoio

Nos apoios extremos de vigas com ligação monolítica, mesmo que o cálculo tenha sido
realizado para a hipótese de apoio simples, a secção de apoio deverá ser dimensionada
para um momento fletor correspondente a um encastramento parcial de valor igual ou
superior a 15% do momento fletor máximo no vão (ver Figura 13.2):

MEd, apoio  0.1 5 MEd,max, vao (13.9)

De acordo com esta disposição regulamentar (ver EC2 9.2.1.2), deveria então ser
calculada a armadura necessária para resistir a este valor de momento fletor. Por
simplicidade, tomaremos para a armadura de apoio 15% da armadura máxima efetiva no
vão:

As, apoio  0.1 5 As,max, vao (13.10)

Esta armadura, em termos de área, deverá ainda respeitar a condição de armadura


mínima e em termos de comprimento ser prolongada para o vão de um comprimento
pelo menos igual a 20% do vão (ver Figura 13.3), contado a partir da face interior do
apoio, e amarrada no apoio, a partir da secção S, de valor lbd. Conforme adiante se
referirá, a secção S dista da face interior do apoio o menor dos valores:

a1  min  b, 2d  (13.11)

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.3


Estruturas de Betão

MEd,apoio15%MEd,max

MEd,max

Figura 13.2 – Momento fletor em apoio extremo não contabilizado no cálculo.

a ≥ 0.2L

S a1  15%As(,vão
)

 As,mín

lbd d

Figura 13.3 – Armadura de apoio.

13.4 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.2.4 Alteração dos esforços no banzo tracionado

A clássica analogia da treliça

O comportamento resistente de uma viga de betão armado em fase fendilhada, (Fase II),
com armadura transversal para resistir ao esforço transverso, conforme exposto
anteriormente a propósito da verificação da segurança ao esforço transverso, pode ser
avaliado pela clássica analogia da treliça, devida a E. Mörsch. Esta treliça é constituída
por dois banzos paralelos – um banzo comprimido de betão e um banzo tracionado
constituído pelas armaduras longitudinais – ligados entre si por diagonais comprimidas,
inclinadas de  em relação à horizontal (bielas de betão a funcionar entre fendas) e
diagonais tracionadas formando um ângulo  com a horizontal, constituídas pela
armadura transversal. A Figura 13.4 esquematiza o modelo de funcionamento descrito.

Bielas Banzo
comprimidas comprimido

 

Diagonais Banzo
traccionadas traccionado
V

Figura 13.4 – Modelo de treliça simples de Mörsch.

Alteração dos esforços no banzo tracionado

O funcionamento descrito é responsável por uma alteração das forças de tração no banzo
inferior, estando na base das disposições contidas no EC2 (ver EC” – 9.2.1.3). Esta
alteração das forças no banzo tracionado representa como que uma translação dos
esforços (momentos) determinados da forma habitual na peça linear.

Considere-se o modelo de treliça simples representado na Figura 13.5 que diz respeito a
uma viga simplesmente apoiada solicitada por uma carga concentrada de valor P,
aplicada a meio-vão. Neste modelo de treliça as armaduras transversais têm uma
inclinação  e as escora de betão uma inclinação .

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.5


Estruturas de Betão

P
C1 C2

 T1  T2 T3

a=z(cotg+cotg)
V=P/2
Figura 13.5 – Analogia da treliça simples em viga simplesmente apoiada.

Nas condições expostas, a partir do equilíbrio de nós é possível a determinação dos


esforços nos diferentes componentes, resultando:

 Esforço nas diagonais tracionadas: Fsw=V/sen

 Esforço nas diagonais comprimidas Fcw=V/sen

 Esforços no banzo comprimido: FC1=V(cotg+cotg)

FC2=2 FC1

 Esforços no banzo tracionado: FT1=Vcotg

FT2=V(2cotg+cotg)

FT3=V(3cotg+2cotg)

A sobreposição do diagrama contendo os valores encontrados de FT1, FT2, e FT3, ao


diagrama teórico M/z, representado na Figura 13.6, mostra com clareza as alterações
que o comportamento analisado produz nos esforços de tração das armaduras
longitudinais. De acordo com este esquema, as armaduras longitudinais terão de
suportar em cada secção um esforço em geral superior ao valor esperado M/z para a
referida secção.

13.6 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

FT1
M/z
FT2
z
al  c otg  c otg 
M P 2
FT3  c otg  c otg 
z 4

Treliça
simples Treliça
dupla

Figura 13.6 – Sobreposição do diagrama teórico M/z com os obtidos pela analogia da
treliça.

Em particular, no apoio, em vez do esperado valor nulo, obtém-se um valor FT=FEd, como
facilmente decorre do equilíbrio das forças em presença (ver Figura 13.7), admitindo a
secção fendilhada. Este aspeto permite compreender uma das regras de amarração das
armaduras em apoios extremos com nulo ou fraco grau de encastramento prevista no
EC2 (ver EC2 – 9.2.1.4), que determina esta deva ser suficiente para amarrar uma força
dada por:

al (13.12)
FEd  VEd  NEd
z

sendo,

NEd eventual esforço normal a adicionar ou a subtrair à força de tração.

Fc

VEd z
VEdal=FEdz

FEd

VEd

al

Figura 13.7 – Força de tração em apoio com liberdade de rotação.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.7


Estruturas de Betão

13.2.5 Dispensa das armaduras longitudinais de tração

Decorre do exposto que em elementos com armadura de esforço transverso, as


armaduras longitudinais de tração poderão ser dispensadas após a translação do
diagrama das forças de tração de valor al dado por:

z
al  c otg  c otg  (13.13)
2

Admitindo z=0.9d virá:

al  0.4 5d c otg  c otg  (13.14)

Caso se utilizem estribos verticais (cotg=0), e se tenha adotado o valor máximo da


cotg (cotg=2.5) a expressão anterior simplificará para:

al  1.1 2 5d (13.15)

As armaduras poderão ser interrompidas depois de convenientemente amarradas, de


valor lbd. A excepção é feita para o caso da armadura superior, a partir do momento nulo,
onda bastará amarrar com o comprimento lb,min (ver Figura 13.8).

lb,min al S2 a2

lbd al S1 a1

As2 As1

S1 – secção onde MEd = MRd (As2)


S2 – secção de momento nulo (MEd = 0)

Figura 13.8 – Interrupção da armadura superior em apoio de continuidade.

13.2.6 Amarração de armaduras inferiores em apoios extremos

A armadura inferior em apoios de extremidade considerados no cálculo com grau de


encastramento reduzido ou nulo, deverá ter uma área de, pelo menos, 25% da área da

13.8 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

armadura existente no vão (ver Figura 13.9), devendo respeitar ainda a condição de
armadura mínima. Além disso, a sua amarração deve ser calculada para a força de
tração referida anteriormente, que na ausência de esforço normal é dada por:

VEd  al (13.16)
FEd 
z

 25%As(,vão
)
As(,vão
)

 As,mín

Figura 13.9 – Valor da área de armadura longitudinal inferior em apoios extremos.

As armaduras inferiores em apoios extremos são amarradas a partir de face interior do


apoio (secção S na Figura 13.10) de comprimento lbd.

S S S
lbd lbd lbd

a) Apoio directo b) Apoio em pilar c) Apoio indirecto

Figura 13.10 – Amarração de armaduras inferiores em apoios extremos.

13.2.7 Amarração de armaduras inferiores em apoios intermédios

Em apoios intermédios, à semelhança do que se recomenda para os apoios extremos,


deverá existir uma armadura inferior cuja área seja, pelo menos, 25% da área da
armadura existente no vão (ver Figura 13.11), devendo respeitar ainda a condição de
armadura mínima. A amarração desta armadura no apoio é medida a partir da face
interior (secção S na Figura 13.11) de um comprimento a dado pelo maior dos valores:

a  max  b, 1 0  (13.17)

sendo b a largura do apoio.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.9


Estruturas de Betão

S
a

As(,vão
)
 25%As(,vão
)

 As,mín
b
Figura 13.11 – Amarração de armadura inferior em apoios de continuidade.

13.2.8 Amarração de armaduras inferiores em apoios de encastramento

Para a amarração de armaduras inferiores em apoios extremos de encastramento,


adotar-se-á regras semelhantes às dos apoios intermédios, conforme se esquematiza na
Figura 13.12. Atendendo a que nestes casos o apoio poderá ter uma largura elevada,
será em geral suficiente limitar o valor de a a 10ø.

S
10

Figura 13.12 – Amarração de armaduras inferiores em apoio de encastramento.

13.2.9 Amarração de armaduras superiores em apoios

A amarração das armaduras de cobertura de momentos de encastramento deve ser


medida a partir de uma secção S, que dista da face interior do apoio o menor dos valores
(ver Figura 13.13):

a  min  b, 2d  (13.18)

sendo:

b – largura do apoio;
d – altura útil da viga.

13.10 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

lbd S
a a
S

10 d
d lbd

b
a) Apoio de encastramento b) Ligação viga-pilar

Figura 13.13 – Amarração de armaduras superiores em apoios de encastramento.

13.2.10 Armaduras longitudinais de montagem

Nos casos correntes de vigas em edifícios deve ser disposta uma armadura superior
longitudinal de montagem que assegurará a fixação dos estribos e permitirá a formação
de uma estrutura suficientemente rígida para ser transportada desde a mesa de
montagem das armaduras até ao interior da cofragem. Trata-se de uma armadura que
tem por objectivo único auxiliar a montagem, não sendo por isso contabilizada no
cálculo. À semelhança da armadura inferior, também esta armadura deverá ser
interrompida nos apoios de continuidade, tornando possível a fabricação das armaduras
das vigas por módulos (um módulo por cada tramo). A interrupção destas armaduras de
montagem nos apoios de continuidade poderá ser feita a partir da face interior do apoio
(secção S na Figura 13.14) de um comprimento igual à largura do apoio.

ab (Largura do Apoio)

Figura 13.14 – Interrupção da armadura de montagem em apoios de continuidade.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.11


Estruturas de Betão

13.2.11 Apoios indirectos

Quando uma viga é apoiada por outra viga e não por uma parede ou um pilar (ver Figura
13.15) a transmissão das ações faz-se na parte inferior, através de bielas de
compressão. Nestes casos deverá dispor-se de uma armadura de suspensão capaz de
absorver as trações adicionais geradas na viga de apoio.

B - viga
apoiada

Fsw

REd

A – viga
de apoio Fsw

a) Esquema estático b) Tirantes na viga de apoio

B A

REd
c) Escoras na viga apoiada e armadura
de suspensão na viga de apoio

Figura 13.15 – Transmissão de cargas em apoio indirecto.

Esta armadura, adicional à armadura necessária por outros motivos, deverá ser
dimensionada de modo a resistir à reação mútua, dada por:

REd
As, susp  (13.19)
fyd

sendo:

As,susp a totalidade de armadura de suspensão a dispor;

REd o valor de combinação da reação de apoio da viga apoiada.

A armadura de suspensão no cruzamento das duas vigas deverá ser constituída por
estribos envolvendo a armadura principal do elemento de apoio. Alguns desses estribos

13.12 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

poderão ser distribuídos no exterior do volume de betão comum às duas vigas (ver
Figura 13.16).

Figura 13.16 – Disposição da armadura de suspensão na zona de intersecção de duas


vigas (vista em planta).

As armaduras longitudinais da viga apoiada que terminem na viga de apoio devem ser
amarradas segundo as regras dadas anteriormente. Quando não for suficiente uma
amarração recta, os troços dobrados deverão dispor-se paralelamente à armadura
longitudinal da viga de apoio, pois caso contrário poderia haver tendência ao
deslizamento da amarração devido à fendilhação de flexão na viga de apoio.

No caso de uma laje não apoiada na parte superior de uma viga (ver Figura 13.17), deve
igualmente dispor-se na viga de uma armadura de suspensão, adicional a outras
necessárias por outros motivos, como seja a de esforço transverso, que absorva a
totalidade do esforço transmitido, dada por:

As, susp FEd


 (13.20)
s fyd

viga As,susp

laje

VEd,dir VEd,esq FEd


FEd  VEd, dir  VEd, esq

Figura 13.17 – Armadura de suspensão em vigas invertidas.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.13


Estruturas de Betão

Por motivos de segurança, deve prever-se armadura semelhante no caso de vigas


embebidas (vigas cuja altura coincide com a espessura da laje).

A armadura de suspensão deve envolver a armadura longitudinal da viga e ser


convenientemente amarrada.

13.2.12 Armadura de alma

13.2.13 Armadura de ligação dos banzos à alma

13.2.14 Armadura para absorção de forças de desvio

13.14 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.3 Lajes

13.3.1 Introdução

Consideram-se como lajes os elementos laminares planos sujeitos a ações dirigidas


principalmente na normal ao plano médio, causando flexão transversal, cuja dimensão
mínima no seu plano b é maior ou igual a 5 vezes a sua espessura total (b ≥ 5h).

Uma laje, solicitada predominantemente por cargas uniformemente distribuídas poderá


ser considerada como resistente numa só direção nos seguintes casos:

 Ter dois bordos livres (não apoiados) sensivelmente paralelos;

 Corresponder à parte central de uma laje apoiada nos quatro bordos, cuja
relação entre o vão maior e o vão menor é superior a 2.

Ly Lm Ly Lm

Bordo
livre
Lx > 2Ly
Bordo
apoiado

a) Com dois bordos livres b) Zona central de uma laje 2D

Figura 13.18 – Laje resistente numa só direção.

13.3.2 Espessura

A espessura das lajes maciças depende, em geral, mais das condições de utilização,
como as que se referem à limitação de flechas devida à existência de paredes divisórias e
revestimentos frágeis e muito sensíveis à deformação, do que das verificações de
resistência. É recomendável que se comece por impor à espessura da laje o valor mínimo
de modo a que esteja satisfeita a relação l/d apresentada no EC2 (ver EC2 - 7.4), para
satisfação das condições de controlo da deformação.

13.3.3 Armadura na direção principal

Uma área mínima de armadura principal deve ser tida em conta de forma a garantir uma
reserva suficiente de resistência após a fendilhação. As áreas mínimas definidas no EC2
(EC2 – 9.3.1.1) são idênticas às especificadas para as vigas:

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.15


Estruturas de Betão

fctm
A s, min  0.26 btd
fyk (13.21)
As,min  0.0 0 1 3bt d

em que bt, no caso de lajes, poderá ser considerado bt = 1m.

A área da secção da armadura na direção principal, de tração ou de compressão, não


deverá ser superior a As,max dada por:

As,max  0.0 4 Ac (13.22)

sendo Ac a área da secção de betão.

13.3.4 Armadura de distribuição

Nas lajes armadas numa só direção, deverão utilizar-se armaduras de distribuição


adequadas, dispostas transversalmente ao vão (ver Figura 13.19). A secção de tal
armadura deve, localmente, ser pelo menos igual a 20% da secção da armadura principal
aí existente. No caso, porém, das lajes em consola, aquela percentagem deve ser
referida à secção da armadura principal no encastramento.

As,dist As,3 As,dist As,dist As,max


≥0.20As,3 (*) (*)

As,2 As,1 #As,dist


As,dist As,dist (*) (*) - ≥0.20As,max
≥0.20As,2 ≥0.20As,1

a) Laje contínua b) Laje em consola

Figura 13.19 – Armadura de distribuição em lajes armadas numa só direção.

13.3.5 Espaçamento dos varões

O espaçamento dos varões da armadura principal e da armadura de distribuição não


deve exceder os valores indicados no Quadro 13.2 (ver Figura 13.20). Na prática, não se
recomenda, em qualquer das situações, espaçamentos superiores a 300 ou a 350mm.

13.16 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

d
h

As,p As,dist
smax smax
a) Armadura principal b) Armadura de distribuição

Figura 13.20 – Espaçamento de varões em lajes.

Quadro 13.2 - Espaçamento máximo de varões em lajes.

Armaduras principais Armaduras de distribuição

Zonas de momento máximo 2h 3h


ou com cargas concentras Max. 250mm Max. 400mm
3h 3.5h
Zonas restantes
Max. 400mm Max. 450mm

13.3.6 Dispensa das armaduras longitudinais de tração

Em elementos sem armadura de esforço transverso, as armaduras longitudinais de


tração poderão ser dispensadas após a translação do diagrama das forças de tração de
valor al = d.

13.3.7 Armadura inferior junto dos apoios

Nas lajes simplesmente apoiadas (ver Figura 13.21), pelo menos metade da armadura
calculada para o vão (As,vão) deverá ser prolongada até ao apoio e aí amarrada, de acordo
com critérios idênticos aos estabelecidos para as vigas (ver Figura 13.10).

≥ 0.2L

As,apoio ≥ 15%As,vão

≥ 50%As,vão As,vão

Figura 13.21 – Armaduras das lajes junto dos apoios.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.17


Estruturas de Betão

13.3.8 Armadura de apoio

No caso de num apoio extremo da laje existir encastramento parcial, não considerado no
cálculo, deverá ser providenciada uma armadura superior, designada armadura de apoio,
capaz de resistir a pelo menos 15% do momento máximo no vão adjacente. Por
simplicidade de cálculo, adotar-se-á para este efeito uma armadura que perfaça 15% da
área de aço efetiva no vão (ver Figura 13.21). O seu comprimento será de pelo menos
0.2 vezes o vão adjacente, medido a partir da face interior do apoio.

13.3.9 Armaduras principal e de distribuição: resumo

As figuras seguintes resumem as disposições construtivas relativas às lajes armadas


numa só direção, no que diz respeito à armadura principal e à armadura de distribuição.

h  espessura da Laje Maciça

 50%As(,vão
)
As(,vão
)
 50%As(,vão
)

 As,mín  2h  As,mín

 3h s  3h
 250mm 
s s
400mm 400mm

Figura 13.22 – Armadura principal em lajes: secção e espaçamentos.

 3h  3h
 
s s
400mm 400mm

 20%As(,apoio
)
 20%As(,apoio
)

 20%As(,apoio
)
 20%As(,vão
)
 20%As(,apoio
)

 3.5h  3h  3.5h
  
s s s
450mm 400mm 450mm

Figura 13.23 – Armaduras de distribuição em lajes: secção e espaçamentos.

13.3.10 Amarração de armaduras em apoio

A amarração de armaduras em apoios segue as regras indicadas para as vigas.

13.18 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.3.11 Armadura em apoios não considerados no cálculo

13.3.12 Armaduras nos bordos livres

Ao longo de um bordo livre (não apoiado) a laje deverá ter armaduras longitudinais e
transversais, devendo estas últimas prolongar-se de pelo menos 2h para lá do bordo.
Atendendo a que as armaduras correntes na laje poderão desempenhar esta função,
representa-se na Figura 13.24 algumas soluções de traçado de armadura de bordo livre.

≥2h ≥2h ≥2h

Figura 13.24 – Armadura em bordos livres.

13.3.13 Dispositivos de montagem

À semelhança de outros elementos de betão armado, a montagem das armaduras das


lajes maciças conduzem à necessidade de utilização de dispositivos diversos, como
ligadores, espaçadores e outros dispositivos de posicionamento e de fixação. De entre
estes, no caso particular das lajes maciças, merece especial atenção a que garante o
posicionamento da armadura da face superior, antes da betonagem. Para o efeito podem
ser dispostos tripés, idênticos aos representados na Figura 13.25, cuja dimensão é
determinada função da espessura da laje, dos recobrimentos e do diâmetro das
armaduras.

Figura 13.25 – Dispositivos de montagem: tripés.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.19


Estruturas de Betão

13.4 Lajes armadas em duas direções

13.4.1 Comportamento resistente de lajes retangulares

As lajes apoiadas em duas direções transmitem cargas aos apoios pelo caminho mais
curto, através da flexão em duas direções. O comportamento resistente depende muito
da relação entre os lados da laje e das condições de apoio, como se pretende demonstrar
na Figura 13.26 para lajes retangulares sujeitas a cargas uniformemente distribuídas,
apoiadas em todo o seu contorno, com diferentes relações entre vãos. As linhas de
direção dos momentos principais (para o estado não fendilhado), representadas na
figura, determinam muito aproximadamente o desenvolvimento das fendas nas lajes.

Ao eixo de cada painel, as linhas de direção dos momentos principais tendem a ser
paralelas aos bordos. Em lajes em que o lado maior se aproxima do dobro do lado
menor, forma-se uma zona na região central, em que uma das direções dos momentos
positivos se desenvolve essencialmente na direção perpendicular à linha de apoio. Em
lajes mais compridas (ly>2lx), esta zona poderá mesmo ser considerada como apoiada
em apenas uma direção.

Por outro lado, nas regiões dos cantos, as linhas de direção dos momentos principais
desenvolvem-se ao longo das bissetrizes dos ângulos (a 45º para momentos fletores
negativos) e na direção perpendicular às bissetrizes (a 135º para momentos fletores
positivos). Este facto deve ser tido em atenção no dimensionamento e na distribuição da
armadura nesta zona, caso contrário, pode surgir fendilhação excessiva.

A determinação de esforços de lajes armadas em duas direções exige métodos mais


elaborados de cálculo. Contudo, existem disponíveis tabelas e regras simplificadas que
permitem, com razoável grau de aproximação, o cálculo dos esforços. Tais tabelas
permitem, em geral, a consideração de diferentes tipos de carregamento e diferentes
condições de apoio. O Quadro 13.3 resume as condições de utilização e os resultados que
se obtêm a partir de dois documentos de referência.

Em anexo é apresentado um excerto das tabelas da autoria de Montoya destinadas ao


cálculo dos esforços de flexão e de flechas neste tipo de lajes. Nestas tabelas:

 lx representa a dimensão do maior vão do painel

 ly representa a dimensão do menor vão do painel

 mx o momento fletor que dá origem à armadura na direção o-x

 my o momento fletor que dá origem à armadura na direção o-y

13.20 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

lx/ly=1

lx/ly=0.75

lx/ly=0.5

a) apoiada no contorno b) encastrada no contorno

Figura 13.26 - Direções dos momentos principais de lajes retangulares sujeitas a cargas
uniformemente distribuídas (Leonhardt, 1978).

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.21


Estruturas de Betão

Quadro 13.3 – Métodos para cálculos de esforços em lajes armadas em duas direções.

Método Condições de aplicação Características do método

 Laje constituída por  Apoia-se numa análise elástica, corrigida à luz


painéis retangulares de resultados experimentais
Regulamento britânico

apoiados em todo o
 Não é necessário, em princípio, proceder à
contorno
alternância das sobrecargas
(BS8110)

 Painéis com bordos


 Os valores fornecidos pelo método podem ser
contínuos ou
usados directamente para dimensionamento
descontínuos
sem qualquer redistribuição
 Carga uniformemente
 Sobre apoios descontínuos (ligação laje/viga)
distribuída
colocar sempre pelo menos metade da
armadura do vão (na direção considerada)

 Laje constituída por  Apoia-se numa análise pela teoria da


Meseguer - Moran

painéis retangulares elasticidade


Montoya –

 Bordos contínuos,  É necessário proceder à alternância de


descontínuos ou livres sobrecargas no caso de painéis com
continuidade
 Carga uniformemente
distribuída e triangular  Obtidos os esforços é conveniente, em geral,
proceder a uma redistribuição de momentos

13.4.2 Lajes simplesmente apoiadas nos quatro lados

Armadura de canto

A zona dos cantos de uma laje apoiada nos quatro lados, com apoios com liberdade de
rotação, devido à flexão do vão têm tendência a levantar. Se este levantamento estiver
impedido (ver Figura 13.27), por exemplo, pela existência de armadura de ancoragem ou
de uma carga permanente suficientemente elevada (paredes, por exemplo), surgem na
região do canto momentos principais negativos, m 1, na direção da bissetriz (tração na
face superior da laje), e momentos principais positivos, m 2, na direção perpendicular
àquela (tração na face inferior). O valor máximo destes momentos é igual a m xy, que é o
momento torsor desenvolvido na região do canto.

Para fazer face a estes momentos locais, terão de ser colocadas armaduras na região do
canto que teoricamente deveriam obedecer ao traçado da Figura 13.28 a) ou seja,
armadura disposta a 45º junto da face inferior e a 135º junto da face superior. Contudo,
por razões de ordem prática, será preferível adotar o traçado esquematizado na Figura
13.28 b), com armaduras com áreas idênticas nas faces superiores e inferiores, e
dispostas paralelamente aos eixos de apoio. Embora conduza a uma solução mais
dispendiosa em temos de quantidade de material (cerca de três vezes superior), a sua

13.22 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

execução é mais simples e mais facilmente coordenada com as restantes armaduras da


laje (armadura principal do vão, armadura de apoio, etc).

Figura 13.27 – Momentos principais na região do canto e reação do canto A, para uma
laje retangular simplesmente apoiada no contorno (Leonhardt, 1978).

a) Armadura a 45º e a 135º b) Armadura paralela aos eixos de apoio

c) Secção a-a para laje com carga sobre a d) Secção b-b para laje com carga sobre a
linha de apoio e com ancoragem linha de apoio

Figura 13.28 – Disposição da armadura de canto em lajes com apoios simples (Leonhardt
et al., 1978).

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.23


Estruturas de Betão

A menos de determinação mais rigorosa, a área da armadura de canto por unidade de


comprimento e em cada direção deve ser pelo menos igual à armadura correspondente
ao momento máximo no vão. As armaduras já existentes na região do canto podem ser
contabilizadas também para armaduras de canto.

A armadura de canto deve estender-se a partir da face interior do apoio de uma distância
pelo menos igual a 0.2 vezes o menor vão. Frequentemente adota-se um prolongamento
de 0.3 vezes o menor vão, medido a partir do eixo de apoio (0.3l x na Figura 13.28 b)).

Finalmente refira-se que a armadura de canto deve respeitar os valores especificados no


EC2 para a percentagem da armadura principal de flexão, assim como os respectivos
valores dos espaçamentos.

Neste esquema lx
representa o menor vão

a) Diagrama simplificado de momentos fletores

b) Distribuição de armadura

Figura 13.29 – Laje simplesmente apoiada nos quatro lados (Leonhardt et al., 1978).

13.24 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

Armadura principal

A armadura principal de lajes armadas em duas direções é geralmente disposta em


malha retangular nas direções x e y, e a sua interrupção obedece frequentemente a
regras práticas.

A Figura 13.29 ilustra de forma esquemática os diagramas de momentos e a disposição


de armadura para painéis retangulares simplesmente apoiados nos quatro lados,
proposta por Leonhardt et al (1978), onde, além da armadura principal de flexão, é
também representada a armadura de canto.

A armadura principal, mesmo após realizadas as dispensas, deve respeitar os valores


especificados no EC2 para a armadura principal de flexão, quer em termos de
percentagem mínima quer de espaçamento máximo.

Uma solução mais conservativa, mas também mais simples de aplicar, está
esquematizada na Figura 13.30. Como na solução anterior não há lugar a interrupção da
armadura principal de flexão no vão, mas a dispensa na direção transversal é feita não a
25% do menor vão mas sim a 20%.

Armadura na face inferior para Armadura adicional na face inferior na


momentos flectores no vão zona do canto – pormenor ampliado

0.1lm 0.2lm
7
0.2lm
2
0.2lm
8 5
4 3 1 4 lm
0.1lm
6
2
0.2lm
5 – (Asy - ½Asx) 7 – ½Asy
6 – (Asy - Asx) 8  3 (armadura já existente)

0.2lm 0.2lm
Pormenor da amarração Armadura de canto na face
da armadura no apoio superior
lM ≥ lm
0.3lm

Neste esquema lm representa o menor vão


lbd
1 – Asx para mx,max 0.3lm
3
2 – ½Asx
Representação
3 – Asy para my,max
em planta: 3
4 – ½Asy

Figura 13.30 – Distribuição de armadura em laje simplesmente apoiada nos quatro lados.

Para a armadura de canto na face inferior, que deve totalizar em cada direção Asy
(armadura correspondente ao momento máximo no vão), é contabilizada a armadura aí

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.25


Estruturas de Betão

existente, complementando-se apenas com uma armadura que é dada pela diferença
entre a necessária (Asy) e a existente (½Asx ou Asx). Na prática, considera-se para as
situações 5 e 6 a mesma solução de armaduras (ver Figura 13.30). Na face superior, à
falta de outra armadura, é disposta a totalidade da armadura preconizada para a
armadura de canto (Asy).

Armadura de apoio

À semelhança do preconizado para as lajes maciças armadas numa só direção, nos


apoios em que não foram contabilizados outros momentos fletores, deve ser distribuída
uma armadura, designada por armadura de apoio, a prolongar por 0.2 vezes o vão na
direção considerada, medido a partir da face interior do apoio. Tal armadura deve,
localmente, ser suficiente para resistir a pelo menos 15% do momento fletor existente no
vão, nessa direção. A armadura de apoio, que tem por missão absorver eventuais flexões
não contabilizadas que possam surgir nos apoios, deve respeitar a armadura mínima
especificada no EC2.

Por simplicidade de cálculo, considera-se suficiente adotar uma armadura, cuja área seja
superior a 15% da área de aço efetiva existente no vão. Também por facilidade de
representação, e de execução, pode considerar-se que esta armadura se prolonga por
0.3 vezes o menor vão, medido a partir do eixo de apoio, tornando mais fácil a sua
compatibilização com a armadura de canto (ver Figura 13.31).

lM ≥ lm

0.3lm Pormenor da amarração


Zona da armadura de canto S
da armadura de apoio

9 lbd
0.3lm

7 – 15% Asx Representação


8
8 – 15% Asy em planta:
lm
9 9 – Armadura de
distribuição a compatibilizar
Obs.: A secção S dista da
7 com a armadura de canto
face interior do apoio o
menor dos valores:
Neste esquema, lm  menor vão largura do apoio, 2d

Figura 13.31 – Armadura de apoio em lajes simplesmente apoiadas nos quatro lados.

A armadura de apoio deve ainda respeitar os valores especificados no EC2 para a


armadura principal de flexão, quer em termos de percentagem mínima quer de
espaçamento máximo.

13.26 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

a) Diagrama simplificado de momentos fletores

Neste esquema
lx representa o
menor vão

b) Distribuição de armadura

Figura 13.32 – Laje encastrada nos quatro lados (Leonhardt et al., 1978).

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.27


Estruturas de Betão

13.4.3 Lajes encastradas nos quatro lados

Armadura principal

A Figura 13.32 representa-se os diagramas de momentos fletores e a disposição


esquemática da armadura respectiva, assim como regras para a interrupção da armadura
principal, de uma laje retangular encastrada nos quatro lados, proposta por Leonhardt et
al (1978).

No caso de encastramento perfeito em dois lados concorrentes, os momentos principais


na região do canto são relativamente pequenos, não surgindo forças de canto com
significado. Não tem por isso lugar a consideração de armadura adicional nessa zona.

A Figura 13.33 representa a distribuição da armadura que poderá ser adotada em lajes
retangulares sujeitas a cargas uniformemente distribuídas.

Armadura na face inferior para Armadura na face superior para


momentos flectores no vão momentos flectores no apoio

1 0.2lm
0.3lm
6
2
lm
5 5
3 4
6
0.2lm 0.3lm

0.2lm 0.2lm 0.3lm 0.3lm

lM ≥ lm lM ≥ lm

5 – Asx para m-x,max


Neste esquema lm representa o menor vão
6 – Asy para m-y,max
1 – ½ Asx para m+x,max
2 – ½ Asx Pormenor da amarração
Pormenor da amarração
3 – ½ Asy para m+y,max da armadura no apoio de
da armadura no apoio
4 – ½ Asy encastramento

lbd
lb,min

Representação Representação
em planta: em planta:

Figura 13.33 – Distribuição de armadura em laje encastrada nos quatro lados.

13.28 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.4.4 Lajes contínuas armadas em duas direções

No caso de lajes contínuas, quando a diferença entre os comprimentos de vãos vizinhos


for reduzida (0.8 ≤ l1/l2 ≤ 1.25), os momentos máximos podem ser calculados, de modo
aproximado, considerando-se uma alternância de sobrecarga em forma de tabuleiro de
xadrez, calculando cada painel por meio de tabelas para lajes isoladas.

Para relações de vãos adjacentes superiores, devem ser compatibilizados os momentos


negativos sobre os apoios de continuidade, procedendo-se para o efeito a uma
redistribuição para os momentos positivos nos vãos. Nesta redistribuição deve ter-se em
atenção não só a rigidez das lajes l/EI mas também a relação entre os lados (l x/ly).

Nos painéis extremos, em que as condições de apoio de bordos concorrentes forem


diferentes, deve dispor-se uma armadura superior suplementar paralela ao bordo
encastrado, com a secção transversal igual a metade da armadura máxima no vão (ver
Figura 13.34), prolongada de 0.3 vezes o menor vão, medido a partir do eixo de apoio.
Quando os dois lados concorrentes forem simplesmente apoiados deve dispor-se a
armadura de canto, nas faces superior e inferior, conforme apresentado anteriormente.

Apoio de
continuidade

Neste esquema lx
representa o menor vão

Figura 13.34 – Armadura adicional de canto em painéis de laje com continuidade


(Leonhardt et al., 1978).

13.4.5 Lajes simplesmente apoiadas em três lados

A Figura 13.35 ilustra o andamento dos momentos principais em lajes retangulares


apoiadas em três lados e um bordo livre, com apoios com liberdade de rotação, sujeita a
cargas uniformemente distribuídas. As direções dos momentos principais estão
fortemente condicionadas pela relação entre os lados ly/lx. Para ly < lx, a laje suporta as
cargas predominantemente nos cantos, isto é, os momentos principais, em grandes
zonas, desenvolvem-se segundo a bissetriz do ângulo formado pelos lados da laje (a
45º) e na direção ortogonal (a 135º).

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.29


Estruturas de Betão

Figura 13.35 – Direções dos momentos principais em lajes simplesmente apoiadas em


três lados (Leonhardt, 1978).

Para relações entre lados ly/lx < 0.5, os momentos principais oblíquos chegam a ser
superiores ao momento a meio do bordo livre. Nestas lajes deverá ser disposta uma
armadura de canto suficiente e uma ancoragem segura contra a força que tende a
levantar o canto.

Aumentando a relação ly/lx, a influência dos momentos oblíquos passa a limitar-se à zona
dos cantos (zona que vai até ylx). Para valores de y>lx (ver Figura 13.35), pode
considerar-se que a laje se comporta como uma laje simplesmente apoiada, armada
numa só direção.

A distribuição de armadura recomendada para estes casos está esquematizada na Figura


13.36. A armadura calculada para os momentos que se desenvolvem na direção do bordo
livre deve ser distribuída numa largura igual à metade do vão, medido na direção
perpendicular a esse bordo. Na pormenorização da armadura de bordo deve ser tido em
atenção o especificado no EC2 acerca da armadura de bordo livre (ver EC2 – 9.3.1.4).

13.30 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

Armadura na face inferior para Armadura adicional na face


momentos fletores no vão inferior na zona do canto

0.1lm 0.2lm
6

0.5ly
0.3lm
2
7 5
4 3 4 ly

0.5ly

1
5  2 (armadura já existente)
(bordo livre) 62–4
72-3
0.2lm 0.2lm
Pormenor da armadura Armadura de canto na face
lx de bordo livre superior
≥2h 0.3lm
Neste esquema lx representa o vão
medido na direção do bordo livre e lm o
menor vão. h
0.3lm
1 – Absx para mbx,max 2
2 – Asx para mx,max Representação
3 – Asy para my,max em planta: 2
4 – ½ Asy

Figura 13.36 – Distribuição de armadura em laje simplesmente apoiada em três lados.

13.4.6 Lajes encastradas em três lados

Nas lajes encastradas em três lados, com um bordo livre, os momentos oblíquos na zona
dos cantos são reduzidos, não sendo por isso necessário dispor de armadura de canto. A
distribuição da armadura de encastramento e da armadura no vão segue regras
semelhantes às apresentadas anteriormente para lajes encastradas nos quatro lados. A
Figura 13.37 apresenta uma proposta de distribuição de ambas as armaduras.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.31


Estruturas de Betão

Armadura na face inferior para Armadura na face superior para


momentos fletores no vão momentos fletores no apoio
0.2lm

4 0.3lm
0.5ly
8
2 3
1 ly

0.5ly
7 7
5 6
(bordo livre) (bordo livre)

0.2lm 0.2lm 0.3lm 0.3lm

lx lx
7 – Asx para m-x,max
8 – Asy para m-y,max

Neste esquema lx Pormenor da amarração


representa o vão Pormenor da armadura Pormenor da amarração
da armadura no apoio de
medido na direção do de bordo livre da armadura no apoio encastramento
bordo livre e lm o ≥2h
menor vão.
lbd
1 – ½ Absx para mbx,max h
lb,min
2 – ½ Absx para mbx,max
3 – ½ Asx para m+x,max
4 – ½ Asx para m+x,max Representação Representação Representação
5 – ½ Asy para m+y,max em planta: em planta: em planta:
6 – ½ Asy para m+y,max

Figura 13.37 – Distribuição de armadura em laje encastrada em três lados.

13.4.7 Lajes apoiadas em dois lados

a) Direção dos momentos principais b) Disposição da armadura

Figura 13.38 - Laje simplesmente apoiada em dois lados adjacentes (Leonhardt, 1978).

13.32 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

a) Direção dos momentos principais b) Disposição da armadura

Figura 13.39 - Laje encastrada em dois lados adjacentes (Leonhardt, 1978).

13.4.8 Reações de apoio

Nas lajes maciças armadas em duas direções, a repartição das cargas uniformes pelos
apoios dependerá essencialmente da rigidez dos apoios e dos vãos. Quando em dois
lados adjacentes os apoios são semelhantes (ambos simples ou ambos de
encastramento), pode admitir-se que as cargas uniformes se repartem segundo a
bissetriz (ver Figura 13.40). Quando concorrem um apoio de encastramento e um apoio
simples, a repartição pode admitir-se que se desenvolve segundo uma linha que forma
60º com o lado encastrado.

45º 60º
(Bordo livre)

60º

60º
45º

Figura 13.40 - Repartição da carga para determinação das reações de apoio, para
diferentes condições de apoio.

Esta repartição é importante, não só para quantificar o esforço transverso a que as lajes
estão sujeitas como também para a quantificação de ações sobre as vigas de apoio. A

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.33


Estruturas de Betão

Figura 13.41 ilustra um processo expedito para quantificar as ações sobre as vigas de
lajes sujeitas a cargas uniformemente distribuídas.

q  lx
Áreas de 2
influência

(viga)
lx

q  lx (viga)
2

a) Apoios de extremidade

q  li
(viga)

lx

Neste caso,
li = lx tg60º
li

b) Exemplo de um apoio intermédio

Figura 13.41 - Reações de apoio.

13.34 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.5 Pilares

13.5.1 Considerações gerais

Consideram-se como pilares as peças lineares solicitadas predominantemente à


compressão. Com frequência, os pilares estão também sujeitos a esforços de flexão
importantes, tornando-se por consequência difícil, por vezes, classificar um elemento
como pilar ou como viga. Esta distinção tem interesse (unicamente) para efeito de
aplicação das disposições construtivas regulamentares. Neste contexto, a título
indicativo, recomenda-se que se considere como pilares elementos em que o esforço
normal de compressão atue com uma excentricidade menor que duas vezes a altura da
secção (ver Figura 13.42).

NEd NEd
MEd
e = MEd / NEd

e e < 2h – pilar
e > 2h – viga

Figura 13.42 – Recomendação para identificação de um pilar a partir dos esforços.

Vejamos qual a forma de rotura de um pilar pouco esbelto solicitado à compressão, pois
algumas das disposições construtivas têm em vista a boa efetivação da sua capacidade
resistente última. Na Figura 13.43 a) ilustra-se o aspeto de rotura: o betão rompe por
esmagamento e corte segundo planos inclinados e a armadura longitudinal encurva-se
entre cintas. Verifica-se que o efeito de confinamento do betão (contenção lateral) é de
grande importância pois leva a que a rotura seja mais dúctil, aumentando ainda a
capacidade resistente do pilar. Este efeito de confinamento lateral ou cintagem é
desenvolvido pela armadura transversal ou cintas, como indicado na Figura 13.43 b).
Quanto maior for a área de betão confinado na secção transversal, tanto melhor se
comportará o pilar na resistência a cargas elevadas. No caso de secções retangulares, os
varões longitudinais desempenham também um papel importante no confinamento da
secção de betão. Para aumentar eficiência de confinamento do núcleo de betão, tanto o

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.35


Estruturas de Betão

espaçamento das cintas como o dos varões longitudinais deve ser reduzido (ver Figura
13.44).

a) b)
Figura 13.43 – Análise de um pilar: a) aspeto de rotura; b) confinamento com cintas
circulares e retangulares.

a) b)

Figura 13.44 – Ação de confinamento proporcionada por: a) armadura longitudinal; b)


armadura transversal.

13.5.2 Condicionantes geométricas

O EC2 apresenta como condicionante geométrica para que um dado elemento estrutural
possa ser considerado como pilar que a maior dimensão da secção transversal não seja
superior a 4 vezes a menor dimensão. Além desta limitação, outras disposições devem

13.36 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

ser consideradas para as corretas condições de execução e de funcionamento dos pilares,


nomeadamente (ver Figura 13.45):

— A dimensão mínima da secção transversal de pilares deve ser maior ou igual a 20cm;

— No caso de secções compostas por elementos retangulares (secções T, L ou I), a


espessura (lado menor) de cada elemento não deve ser menor do que 15cm e o
comprimento menor que 20cm;

— Nas secções ocas, a espessura mínima das paredes não deve ser inferior a 10cm.

Acresce ainda que os pilares não devem ter uma esbelteza =l0/i superior a 140.

≥ 20cm ≥ 20cm
≥ 15cm
≥ 20cm

≥ 20cm
≥ 10cm
≥ 15cm

Figura 13.45 – Condicionantes geométricas de secções transversais de pilares.

13.5.3 Armaduras longitudinais

Os varões da armadura longitudinal devem ter um diâmetro não inferior a 10mm.

A área mínima da armadura longitudinal não deve ser inferior ao maior dos valores:

 0.10 NEd
A s, min  (13.23)
 fyd
A
 s, min  0.002 A c

sendo:

NEd – valor de cálculo do esforço normal de compressão

fyd – valor de cálculo da tensão de cedência das armaduras

Ac – área da secção transversal do pilar

A área da armadura longitudinal deve ser inferior a As, max, dado pela expressão:

A s,max  0.04 A c (13.24)

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.37


Estruturas de Betão

Este valor deve ser verificado fora das zonas de emenda por sobreposição. A s,max deve
ser aumentado para 0.08Ac nas zonas de emendas por sobreposição.

No que diz respeito ao número de varões nas secções, deve dispor-se pelo menos um
varão em cada ângulo (ver Figura 13.46). Recomenda-se ainda que o seu espaçamento
não exceda os 30cm, exceto em faces cuja largura seja igual ou inferior a 40cm, situação
em que bastará dispor varões nos cantos. O número de varões longitudinais num pilar
circular não deve ser inferior a quatro (ver EC2 – 9.5.2 (4)), ainda que o número mínimo
recomendável seja seis.

a d d d d

≤ 135º

a ≤ 400mm d > 150mm d ≤ 150mm d ≤ 300mm

d d d

d (1)

d ≤ 300mm
(2)
(1) – armadura construtiva (2) – mínimo 4 varões

Figura 13.46 – Disposições de armadura em secções transversais de pilares.

13.5.4 Armaduras transversais

Conforme exposto anteriormente, as armaduras transversais desempenham um papel


importante na efetivação da capacidade resistente última dos pilares, garantindo o
confinamento da secção do núcleo do betão definido pelas armaduras longitudinais e
evitando o varejamento destas armaduras. As armaduras transversais têm ainda por
missão manter as armaduras em posição durante a betonagem e resistir a esforços
transversos quando estes estão presentes.

O diâmetro das armaduras transversais não deve ser inferior a 6mm ou a um quarto do
diâmetro máximo dos varões longitudinais:

13.38 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

 c  6m m
 (13.25)
 c  1 4 l, máx

O espaçamento s das armaduras transversais no sentido do eixo do pilar não deve


exceder o menor dos seguintes valores (ver Figura 13.47):

s  15 l, min

s  amin (13.26)
s  300m m

amin

Øl
c  6m m s

c  4 l
1
Øc

amin – menor dimensão do pilar


Øl – diâmetro dos varões longitudinais
Øc – diâmetro das armaduras transversais

a) Secção transversal b) Corte longitudinal

Figura 13.47 – Representação da armadura transversal em pilares em secção corrente.

Em certas circunstâncias é necessário reduzir o espaçamento s entre cintas, para evitar o


descascamento do betão ou qualquer deterioração local (fendilhação). Precauções
especiais devem ser tomadas nos seguintes casos:

— Zonas junto à ligação com a fundação (ver Figura 13.48) ou com vigas e lajes;

— Zonas de emendas por sobreposição de armadura;

— Zonas de mudança de direção de varões longitudinais.

O EC2 (9.5.3 (4)) define que nas secções localizadas a uma distância não superior à
maior dimensão da secção transversal do pilar, acima ou abaixo de uma viga ou de uma
laje (ver Figura 13.49), o espaçamento dado pela expressão (13.26), deve ser reduzido
por um factor de 0.6, ou seja, passará a ser dado pela expressão:

s  9 l, min

s  0.6  amin (13.27)
s  180m m

Esta redução do espaçamento deve ainda ser realizada nas zonas de emendas por
sobreposição. Ainda nestas zonas, se o diâmetro dos varões longitudinais a emendar for

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.39


Estruturas de Betão

superior ou igual a 16mm, deverá verificar-se a existência de pelo menos três cintas,
igualmente espaçadas, no comprimento de sobreposição.

Figura 13.48 – Rotura de pilar na ligação à fundação.

Figura 13.49 – Zonas de cintagem melhorada na ligação de pilares com vigas e lajes.

13.40 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

Refira-se ainda que, não obstante o esquematizado na Figura 13.49, as emendas e


interrupções da armadura longitudinal devem ser preferencialmente localizadas a meia
altura dos pilares, especialmente se se pretende obter uma melhor comportamento da
estrutura às ações sísmicas. As emendas das armaduras nas zonas dos nós, sendo muito
práticas do ponto de vista da execução, fragilizam esta zona considerada crítica, por
serem máximos os esforços de corte. Daí também se recomendar que não seja
interrompida a armadura transversal do pilar, mesmo na zona de inserção com as
armaduras da viga ou da laje.

Quando muda a direção dos varões longitudinais, como por exemplo quando há variação
da secção transversal do pilar, o espaçamento transversal das armaduras transversais
deve ser calculado tendo em consideração as forças de desvio aí geradas. Estes efeitos
poderão contudo ser desprezados se a mudança de direção for igual ou inferior a à
relação 1/12.

Do ponto de vista do traçado das armaduras transversais, este deve ser tal que cada
varão longitudinal seja abraçado por ramos de cinta formando ângulo não superior a
135º (ver Figura 13.46). Esta condição pode ser dispensada no caso de varões que não
sejam de canto e que se encontrem a menos de 15cm de varões que cumpram tal
condição. Condição aquela também dispensável no caso de pilares circulares ou a tal
assimiláveis.

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.41


Estruturas de Betão

13.42 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.6 Paredes

13.6.1 Considerações gerais

Consideram-se como paredes os elementos laminares sujeitos a esforços de compressão,


associados ou não a flexão, e cuja largura da secção transversal é superior ou igual a 4
vezes a espessura.

As paredes desempenham nas construções um papel fundamental de contraventamento


da estrutura. A quantidade de armadura e as correspondentes disposições construtivas
poderão ser obtidas a partir do modelo de escores e tirantes. No caso de o esforço
predominante ser a flexão transversal, aplicam-se as regras relativas a lajes.

Existem contudo disposições regulamentares e construtivas que devem ser respeitadas


tendo em vista o seu correcto funcionamento estrutural e as convenientes condições de
exequibilidade. É nesta perspectiva que se recomenda que a espessura das paredes não
deve ser inferior a 100mm para paredes pré-fabricadas e a 150mm para paredes
betonadas in situ, nem a sua esbelteza deve exceder 120:

b  100m m paredespré  fabricadas


 (13.28)
b  150m m paredesbetonadasin situ
  120

13.6.2 Armaduras verticais

A área da armadura vertical mínima das paredes, a distribuir por ambas as faces, é dada
pela expressão:

A s, v min  0.002 A c (13.29)

em que Ac é a área da secção de parede correspondente.

A área da armadura vertical máxima, fora das zonas de emendas por sobreposição, é
dada pela expressão:

A s, vmáx  0.04 A c (13.30)

A área da armadura vertical a usar, que deverá estar incluída nos limites especificados
(As,vmin ≤ As,v ≤ As,vmáx), deve, em geral, ser distribuída pelas duas faces da parede.
Segundo o EC2 (9.6.2), a distância entre dois varões verticais adjacentes, s (ver Figura
13.50), não deve ser superior ao menor dos valores:

sv, min  3 b

(13.31)

sv, min  4 0 0mm

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.43


Estruturas de Betão

Na prática adota-se, em geral, valores mais conservativos:

sv, min  2 b

(13.32)

sv, min  3 0 0mm

Corte vertical Corte horizontal

sh ≤ 300mm b

Øv sv Øv Øh

Øh sv  2b

sv  3 0 0mm
Øh ≥ ¼ Øv
b≥150mm

Figura 13.50 – Disposição de armadura vertical e horizontal em paredes.

13.6.3 Armaduras horizontais

Nas paredes devem dispor-se de armaduras horizontais, colocadas junto de ambas as


faces (e junto aos bordos livres), exteriormente à armadura vertical (ver Figura 13.50),
contribuindo para a segurança à encurvadura dos varões verticais, tendo em conta um
adequado envolvimento pelo betão. A secção dessas armaduras, em cada face, não deve
ser inferior ao maior dos valores:

A s,h min  0.25 A s, v



(13.33)

A s,h min  0.001 A c

O EC2 define que o espaçamento entre dois varões horizontais adjacentes (sh) não
deverá ser superior a 400mm (ver EC2 – 9.6.3). Contudo, na prática é usual limitar este
valor a 300mm.

O diâmetro da armadura horizontal (Øh) não deve ser menor do que um quarto do maior
diâmetro dos varões verticais:

h  6m m
 (13.34)
h  1 4  v,máx

Note-se que em paredes com esforços de compressão moderados, pode acontecer que a
armadura horizontal é idêntica à vertical. Isto deve-se à necessidade de controlar a
fendilhação vertical proveniente das tensões geradas na parede por efeito da retração e
das variações de temperatura.

13.44 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

13.6.4 Armaduras transversais

Se a área total da armadura vertical resistente excede 0.02A c, esta armadura deve então
ser convenientemente cintada com armaduras transversais, sob a forma de estribos ou
ganchos, com requisitos semelhantes aos estabelecidos para os pilares. Apenas é feita a
ressalva da zona em que é necessário fazer o reforço da armadura na ligação com vigas
ou lajes, em que se limita essa zona a 4 vezes a espessura da parede (ver Figura 13.49).

Corte vertical Corte horizontal

st  1 5 l,min

st st  amin
s  3 0 0mm
 t b

v d d d d h v c

h d ≤ 150mm

c c  1 4 v,máx


c  6m m

b

Figura 13.51 – Disposição de armaduras transversais em paredes.

As armaduras transversais podem ser dispensadas nos casos em que se adote redes
electrossoldadas ou varões verticais com diâmetro v≤16mm com recobrimentos
superiores a c ≥ 2.

13.6.5 Armaduras de bordo livre

Os bordos verticais das paredes devem ser protegidos por dois varões verticais, um em
cada canto, e guarnecidos com estribos em forma de U, prolongados para o interior de
um comprimento 2b, com o mínimo do comprimento de sobreposição l 0 (ver Figura
13.52a).

Corte horizontal Corte horizontal

b
2v

 2b h v c

 l0 (zona de cintagem melhorada)

a) Bordos em zonas correntes b) Bordos sujeitos a cargas concentradas


Figura 13.52 – Armaduras de bordo livre em paredes.

Nos bordos livres e nas zonas de parede sujeitas a cargas concentradas elevadas, como
por exemplo, na zona de apoio de vigas, é usual proceder-se ao melhoramento da

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.45


Estruturas de Betão

cintagem do betão (ver Figura 13.52b), podendo esta zona incluir um reforço da
armadura vertical, como que materializando um pilar embutido na própria espessura da
parede.

Nas zonas dos cantos ou de junções de paredes, as armaduras horizontais que por
razões construtivas são aí interrompidas devem ser convenientemente amarradas com o
comprimento de amarração lbd, com o mínimo de lb,min (ver Figura 13.53).

Corte horizontal Corte horizontal


≥ lb,min

≥ lb,min
h v

Figura 13.53 – Pormenor das armaduras nas zonas dos cantos.

13.6.6 Utilização de redes electrossoldadas

As redes electrossoldadas são utilizadas com alguma frequência na execução de paredes


de betão armado. Na Figura 13.54 exemplifica-se a disposição destas redes em paredes
de edifícios. A sobreposição lateral das malhas (vista em alçado) é a definida para as
redes electrossoldadas enquanto que a sobreposição dos varões verticais é determinada
em função do comprimento de emenda por sobreposição l 0 para varões isolados, , caso
não existam varões transversais soldados na zona da emenda.

13.6.7 Recobrimento das armaduras

Especiais cuidados devem ser tidos na definição da agressividade do meio ambiente, que
podem ir variando em altura. De facto, nos pisos inferiores, as paredes podem estar em
contacto com o solo de fundação e mais expostas à humidade do que nos pisos
superiores. Pode por isso ser conveniente utilizar recobrimentos diferentes para cada
uma destas situações. A Figura 13.55 ilustra como anéis espaçadores, devidamente
fixados às armaduras, garantem o seu recobrimento, enquanto armaduras construtivas
(armadura construtiva transversal) evitam recobrimentos excessivos.

13.46 Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

l0 l0 l0

l0

l0

a) Alçado c) Corte

Figura 13.54 – Disposição de painéis de redes electrossoldadas em paredes.

Figura 13.55 - Anéis espaçadores e estribos transversais numa parede (Leonhardt e


Monning, 1978).

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.47


Estruturas de Betão

13.7 Bibliografia

NP EN 1992-1-1 (2010) – Eurocódigo 2: Projecto de estruturas de betão. Parte 1-1:


Regras gerais e regras para edifícios. Instituto Português da Qualidade.

BS 8110 – British Standard for the design and construction of reinforced and prestressed
concrete structures.

Traité de Génie Civil. Dimensionnement des Structures en Béton. Volume 7. Bases et


technologie. René Walther e Manfred Miehlbradt. Ecole Polytechnique Fédérale de
Lausanne. Presses Polytechniques et Universitaires Romandes. 1990.

Construções de Concreto. Volume 3: Princípios básicos sobre a armação de estruturas de


concreto armado. F. Leonhardt e E. Mönnig. Editora Interciência, Lda. 1978.

Hormigón Armado. Jiménez Montoya/García Meseguer/Morán Cabré. 14ª Edição. Gustavo


Gili, 2007.

Tabelas para el calculo de placas y vigas pared. Richard Bareš. Editorial Gustavo Gili, SA.
Barcelona, 1981.

Nova Regulamentação de estruturas. Disposições relativas a elementos estruturais.


Joaquim A. Figueiras. FEUP, 1987.

Cálculo de lajes armadas em duas direções. Apontamentos do Prof. Joaquim A. Figueiras.


FEUP, 2003.

13.48 Departamento de Engenharia Civil


Departamento de Engenharia Civil

ANEXO
TABELAS DE CÁLCULO PARA LAJES
ARMADAS EM DUAS DIREÇÕES
MONTOYA – MESEGURER -MORAN

OUTUBRO / 2013

Instituto Superior de Engenharia do Porto


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.i


Estruturas de Betão

13.ii Departamento de Engenharia Civil


Disposições construtivas relativas a elementos estruturais

Instituto Superior de Engenharia do Porto 13.iii


Estruturas de Betão

13.iv Departamento de Engenharia Civil

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