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13
DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS
RELATIVAS A ELEMENTOS
ESTRUTURAIS
FEVEREIRO / 2014
Departamento de Engenharia Civil
ÍNDICE
13 Disposições construtivas relativas a elementos 13.1
13.1 Introdução
13.2 Vigas
Para evitar a rotura frágil duma secção de betão deve dispor-se nessa secção de uma
armadura capaz de equilibrar o momento fletor gerado na secção no instante da abertura
da primeira fenda.
c
Rc Fc
h 2h/3 d z0.9d
M
h/2 Rt
Fs
ct
b As,min
Nestas condições, a resultante das trações na secção será dada pela expressão:
bh (13.1)
R t fctm
4
b h2 (13.2)
M fctm
6
Este momento fletor deverá ser equilibrado, em secção fendilhada, pelo novo binário
instalado na peça (ver Figura 13.1):
fctm
As, min 0.2 6 bd (13.4)
fyk
O EC2 apresenta na secção 9 (ver 9.2.1) para a área mínima da armadura longitudinal
de tração em vigas a seguinte expressão:
fctm
A s, min 0.26 btd (13.5)
fyk
A armadura mínima depende então, quer do tipo de aço, quer da classe do betão em
causa.
As
100 (13.7)
bt d
min (%)
Nos apoios extremos de vigas com ligação monolítica, mesmo que o cálculo tenha sido
realizado para a hipótese de apoio simples, a secção de apoio deverá ser dimensionada
para um momento fletor correspondente a um encastramento parcial de valor igual ou
superior a 15% do momento fletor máximo no vão (ver Figura 13.2):
De acordo com esta disposição regulamentar (ver EC2 9.2.1.2), deveria então ser
calculada a armadura necessária para resistir a este valor de momento fletor. Por
simplicidade, tomaremos para a armadura de apoio 15% da armadura máxima efetiva no
vão:
a1 min b, 2d (13.11)
MEd,apoio15%MEd,max
MEd,max
a ≥ 0.2L
S a1 15%As(,vão
)
As,mín
lbd d
O comportamento resistente de uma viga de betão armado em fase fendilhada, (Fase II),
com armadura transversal para resistir ao esforço transverso, conforme exposto
anteriormente a propósito da verificação da segurança ao esforço transverso, pode ser
avaliado pela clássica analogia da treliça, devida a E. Mörsch. Esta treliça é constituída
por dois banzos paralelos – um banzo comprimido de betão e um banzo tracionado
constituído pelas armaduras longitudinais – ligados entre si por diagonais comprimidas,
inclinadas de em relação à horizontal (bielas de betão a funcionar entre fendas) e
diagonais tracionadas formando um ângulo com a horizontal, constituídas pela
armadura transversal. A Figura 13.4 esquematiza o modelo de funcionamento descrito.
Bielas Banzo
comprimidas comprimido
Diagonais Banzo
traccionadas traccionado
V
O funcionamento descrito é responsável por uma alteração das forças de tração no banzo
inferior, estando na base das disposições contidas no EC2 (ver EC” – 9.2.1.3). Esta
alteração das forças no banzo tracionado representa como que uma translação dos
esforços (momentos) determinados da forma habitual na peça linear.
Considere-se o modelo de treliça simples representado na Figura 13.5 que diz respeito a
uma viga simplesmente apoiada solicitada por uma carga concentrada de valor P,
aplicada a meio-vão. Neste modelo de treliça as armaduras transversais têm uma
inclinação e as escora de betão uma inclinação .
P
C1 C2
T1 T2 T3
a=z(cotg+cotg)
V=P/2
Figura 13.5 – Analogia da treliça simples em viga simplesmente apoiada.
FC2=2 FC1
FT2=V(2cotg+cotg)
FT3=V(3cotg+2cotg)
FT1
M/z
FT2
z
al c otg c otg
M P 2
FT3 c otg c otg
z 4
Treliça
simples Treliça
dupla
Figura 13.6 – Sobreposição do diagrama teórico M/z com os obtidos pela analogia da
treliça.
Em particular, no apoio, em vez do esperado valor nulo, obtém-se um valor FT=FEd, como
facilmente decorre do equilíbrio das forças em presença (ver Figura 13.7), admitindo a
secção fendilhada. Este aspeto permite compreender uma das regras de amarração das
armaduras em apoios extremos com nulo ou fraco grau de encastramento prevista no
EC2 (ver EC2 – 9.2.1.4), que determina esta deva ser suficiente para amarrar uma força
dada por:
al (13.12)
FEd VEd NEd
z
sendo,
Fc
VEd z
VEdal=FEdz
FEd
VEd
al
z
al c otg c otg (13.13)
2
al 1.1 2 5d (13.15)
lb,min al S2 a2
lbd al S1 a1
As2 As1
armadura existente no vão (ver Figura 13.9), devendo respeitar ainda a condição de
armadura mínima. Além disso, a sua amarração deve ser calculada para a força de
tração referida anteriormente, que na ausência de esforço normal é dada por:
VEd al (13.16)
FEd
z
25%As(,vão
)
As(,vão
)
As,mín
S S S
lbd lbd lbd
a max b, 1 0 (13.17)
S
a
As(,vão
)
25%As(,vão
)
As,mín
b
Figura 13.11 – Amarração de armadura inferior em apoios de continuidade.
S
10
a min b, 2d (13.18)
sendo:
b – largura do apoio;
d – altura útil da viga.
lbd S
a a
S
10 d
d lbd
b
a) Apoio de encastramento b) Ligação viga-pilar
Nos casos correntes de vigas em edifícios deve ser disposta uma armadura superior
longitudinal de montagem que assegurará a fixação dos estribos e permitirá a formação
de uma estrutura suficientemente rígida para ser transportada desde a mesa de
montagem das armaduras até ao interior da cofragem. Trata-se de uma armadura que
tem por objectivo único auxiliar a montagem, não sendo por isso contabilizada no
cálculo. À semelhança da armadura inferior, também esta armadura deverá ser
interrompida nos apoios de continuidade, tornando possível a fabricação das armaduras
das vigas por módulos (um módulo por cada tramo). A interrupção destas armaduras de
montagem nos apoios de continuidade poderá ser feita a partir da face interior do apoio
(secção S na Figura 13.14) de um comprimento igual à largura do apoio.
Quando uma viga é apoiada por outra viga e não por uma parede ou um pilar (ver Figura
13.15) a transmissão das ações faz-se na parte inferior, através de bielas de
compressão. Nestes casos deverá dispor-se de uma armadura de suspensão capaz de
absorver as trações adicionais geradas na viga de apoio.
B - viga
apoiada
Fsw
REd
A – viga
de apoio Fsw
B A
REd
c) Escoras na viga apoiada e armadura
de suspensão na viga de apoio
Esta armadura, adicional à armadura necessária por outros motivos, deverá ser
dimensionada de modo a resistir à reação mútua, dada por:
REd
As, susp (13.19)
fyd
sendo:
A armadura de suspensão no cruzamento das duas vigas deverá ser constituída por
estribos envolvendo a armadura principal do elemento de apoio. Alguns desses estribos
poderão ser distribuídos no exterior do volume de betão comum às duas vigas (ver
Figura 13.16).
As armaduras longitudinais da viga apoiada que terminem na viga de apoio devem ser
amarradas segundo as regras dadas anteriormente. Quando não for suficiente uma
amarração recta, os troços dobrados deverão dispor-se paralelamente à armadura
longitudinal da viga de apoio, pois caso contrário poderia haver tendência ao
deslizamento da amarração devido à fendilhação de flexão na viga de apoio.
No caso de uma laje não apoiada na parte superior de uma viga (ver Figura 13.17), deve
igualmente dispor-se na viga de uma armadura de suspensão, adicional a outras
necessárias por outros motivos, como seja a de esforço transverso, que absorva a
totalidade do esforço transmitido, dada por:
viga As,susp
laje
13.3 Lajes
13.3.1 Introdução
Corresponder à parte central de uma laje apoiada nos quatro bordos, cuja
relação entre o vão maior e o vão menor é superior a 2.
Ly Lm Ly Lm
Bordo
livre
Lx > 2Ly
Bordo
apoiado
13.3.2 Espessura
A espessura das lajes maciças depende, em geral, mais das condições de utilização,
como as que se referem à limitação de flechas devida à existência de paredes divisórias e
revestimentos frágeis e muito sensíveis à deformação, do que das verificações de
resistência. É recomendável que se comece por impor à espessura da laje o valor mínimo
de modo a que esteja satisfeita a relação l/d apresentada no EC2 (ver EC2 - 7.4), para
satisfação das condições de controlo da deformação.
Uma área mínima de armadura principal deve ser tida em conta de forma a garantir uma
reserva suficiente de resistência após a fendilhação. As áreas mínimas definidas no EC2
(EC2 – 9.3.1.1) são idênticas às especificadas para as vigas:
fctm
A s, min 0.26 btd
fyk (13.21)
As,min 0.0 0 1 3bt d
d
h
As,p As,dist
smax smax
a) Armadura principal b) Armadura de distribuição
Nas lajes simplesmente apoiadas (ver Figura 13.21), pelo menos metade da armadura
calculada para o vão (As,vão) deverá ser prolongada até ao apoio e aí amarrada, de acordo
com critérios idênticos aos estabelecidos para as vigas (ver Figura 13.10).
≥ 0.2L
As,apoio ≥ 15%As,vão
≥ 50%As,vão As,vão
No caso de num apoio extremo da laje existir encastramento parcial, não considerado no
cálculo, deverá ser providenciada uma armadura superior, designada armadura de apoio,
capaz de resistir a pelo menos 15% do momento máximo no vão adjacente. Por
simplicidade de cálculo, adotar-se-á para este efeito uma armadura que perfaça 15% da
área de aço efetiva no vão (ver Figura 13.21). O seu comprimento será de pelo menos
0.2 vezes o vão adjacente, medido a partir da face interior do apoio.
50%As(,vão
)
As(,vão
)
50%As(,vão
)
As,mín 2h As,mín
3h s 3h
250mm
s s
400mm 400mm
3h 3h
s s
400mm 400mm
20%As(,apoio
)
20%As(,apoio
)
20%As(,apoio
)
20%As(,vão
)
20%As(,apoio
)
3.5h 3h 3.5h
s s s
450mm 400mm 450mm
Ao longo de um bordo livre (não apoiado) a laje deverá ter armaduras longitudinais e
transversais, devendo estas últimas prolongar-se de pelo menos 2h para lá do bordo.
Atendendo a que as armaduras correntes na laje poderão desempenhar esta função,
representa-se na Figura 13.24 algumas soluções de traçado de armadura de bordo livre.
As lajes apoiadas em duas direções transmitem cargas aos apoios pelo caminho mais
curto, através da flexão em duas direções. O comportamento resistente depende muito
da relação entre os lados da laje e das condições de apoio, como se pretende demonstrar
na Figura 13.26 para lajes retangulares sujeitas a cargas uniformemente distribuídas,
apoiadas em todo o seu contorno, com diferentes relações entre vãos. As linhas de
direção dos momentos principais (para o estado não fendilhado), representadas na
figura, determinam muito aproximadamente o desenvolvimento das fendas nas lajes.
Ao eixo de cada painel, as linhas de direção dos momentos principais tendem a ser
paralelas aos bordos. Em lajes em que o lado maior se aproxima do dobro do lado
menor, forma-se uma zona na região central, em que uma das direções dos momentos
positivos se desenvolve essencialmente na direção perpendicular à linha de apoio. Em
lajes mais compridas (ly>2lx), esta zona poderá mesmo ser considerada como apoiada
em apenas uma direção.
Por outro lado, nas regiões dos cantos, as linhas de direção dos momentos principais
desenvolvem-se ao longo das bissetrizes dos ângulos (a 45º para momentos fletores
negativos) e na direção perpendicular às bissetrizes (a 135º para momentos fletores
positivos). Este facto deve ser tido em atenção no dimensionamento e na distribuição da
armadura nesta zona, caso contrário, pode surgir fendilhação excessiva.
lx/ly=1
lx/ly=0.75
lx/ly=0.5
Figura 13.26 - Direções dos momentos principais de lajes retangulares sujeitas a cargas
uniformemente distribuídas (Leonhardt, 1978).
Quadro 13.3 – Métodos para cálculos de esforços em lajes armadas em duas direções.
apoiados em todo o
Não é necessário, em princípio, proceder à
contorno
alternância das sobrecargas
(BS8110)
Armadura de canto
A zona dos cantos de uma laje apoiada nos quatro lados, com apoios com liberdade de
rotação, devido à flexão do vão têm tendência a levantar. Se este levantamento estiver
impedido (ver Figura 13.27), por exemplo, pela existência de armadura de ancoragem ou
de uma carga permanente suficientemente elevada (paredes, por exemplo), surgem na
região do canto momentos principais negativos, m 1, na direção da bissetriz (tração na
face superior da laje), e momentos principais positivos, m 2, na direção perpendicular
àquela (tração na face inferior). O valor máximo destes momentos é igual a m xy, que é o
momento torsor desenvolvido na região do canto.
Para fazer face a estes momentos locais, terão de ser colocadas armaduras na região do
canto que teoricamente deveriam obedecer ao traçado da Figura 13.28 a) ou seja,
armadura disposta a 45º junto da face inferior e a 135º junto da face superior. Contudo,
por razões de ordem prática, será preferível adotar o traçado esquematizado na Figura
13.28 b), com armaduras com áreas idênticas nas faces superiores e inferiores, e
dispostas paralelamente aos eixos de apoio. Embora conduza a uma solução mais
dispendiosa em temos de quantidade de material (cerca de três vezes superior), a sua
Figura 13.27 – Momentos principais na região do canto e reação do canto A, para uma
laje retangular simplesmente apoiada no contorno (Leonhardt, 1978).
c) Secção a-a para laje com carga sobre a d) Secção b-b para laje com carga sobre a
linha de apoio e com ancoragem linha de apoio
Figura 13.28 – Disposição da armadura de canto em lajes com apoios simples (Leonhardt
et al., 1978).
A armadura de canto deve estender-se a partir da face interior do apoio de uma distância
pelo menos igual a 0.2 vezes o menor vão. Frequentemente adota-se um prolongamento
de 0.3 vezes o menor vão, medido a partir do eixo de apoio (0.3l x na Figura 13.28 b)).
Neste esquema lx
representa o menor vão
b) Distribuição de armadura
Figura 13.29 – Laje simplesmente apoiada nos quatro lados (Leonhardt et al., 1978).
Armadura principal
Uma solução mais conservativa, mas também mais simples de aplicar, está
esquematizada na Figura 13.30. Como na solução anterior não há lugar a interrupção da
armadura principal de flexão no vão, mas a dispensa na direção transversal é feita não a
25% do menor vão mas sim a 20%.
0.1lm 0.2lm
7
0.2lm
2
0.2lm
8 5
4 3 1 4 lm
0.1lm
6
2
0.2lm
5 – (Asy - ½Asx) 7 – ½Asy
6 – (Asy - Asx) 8 3 (armadura já existente)
0.2lm 0.2lm
Pormenor da amarração Armadura de canto na face
da armadura no apoio superior
lM ≥ lm
0.3lm
Figura 13.30 – Distribuição de armadura em laje simplesmente apoiada nos quatro lados.
Para a armadura de canto na face inferior, que deve totalizar em cada direção Asy
(armadura correspondente ao momento máximo no vão), é contabilizada a armadura aí
existente, complementando-se apenas com uma armadura que é dada pela diferença
entre a necessária (Asy) e a existente (½Asx ou Asx). Na prática, considera-se para as
situações 5 e 6 a mesma solução de armaduras (ver Figura 13.30). Na face superior, à
falta de outra armadura, é disposta a totalidade da armadura preconizada para a
armadura de canto (Asy).
Armadura de apoio
Por simplicidade de cálculo, considera-se suficiente adotar uma armadura, cuja área seja
superior a 15% da área de aço efetiva existente no vão. Também por facilidade de
representação, e de execução, pode considerar-se que esta armadura se prolonga por
0.3 vezes o menor vão, medido a partir do eixo de apoio, tornando mais fácil a sua
compatibilização com a armadura de canto (ver Figura 13.31).
lM ≥ lm
9 lbd
0.3lm
Figura 13.31 – Armadura de apoio em lajes simplesmente apoiadas nos quatro lados.
Neste esquema
lx representa o
menor vão
b) Distribuição de armadura
Figura 13.32 – Laje encastrada nos quatro lados (Leonhardt et al., 1978).
Armadura principal
A Figura 13.33 representa a distribuição da armadura que poderá ser adotada em lajes
retangulares sujeitas a cargas uniformemente distribuídas.
1 0.2lm
0.3lm
6
2
lm
5 5
3 4
6
0.2lm 0.3lm
lM ≥ lm lM ≥ lm
lbd
lb,min
Representação Representação
em planta: em planta:
Apoio de
continuidade
Neste esquema lx
representa o menor vão
Para relações entre lados ly/lx < 0.5, os momentos principais oblíquos chegam a ser
superiores ao momento a meio do bordo livre. Nestas lajes deverá ser disposta uma
armadura de canto suficiente e uma ancoragem segura contra a força que tende a
levantar o canto.
Aumentando a relação ly/lx, a influência dos momentos oblíquos passa a limitar-se à zona
dos cantos (zona que vai até ylx). Para valores de y>lx (ver Figura 13.35), pode
considerar-se que a laje se comporta como uma laje simplesmente apoiada, armada
numa só direção.
0.1lm 0.2lm
6
0.5ly
0.3lm
2
7 5
4 3 4 ly
0.5ly
1
5 2 (armadura já existente)
(bordo livre) 62–4
72-3
0.2lm 0.2lm
Pormenor da armadura Armadura de canto na face
lx de bordo livre superior
≥2h 0.3lm
Neste esquema lx representa o vão
medido na direção do bordo livre e lm o
menor vão. h
0.3lm
1 – Absx para mbx,max 2
2 – Asx para mx,max Representação
3 – Asy para my,max em planta: 2
4 – ½ Asy
Nas lajes encastradas em três lados, com um bordo livre, os momentos oblíquos na zona
dos cantos são reduzidos, não sendo por isso necessário dispor de armadura de canto. A
distribuição da armadura de encastramento e da armadura no vão segue regras
semelhantes às apresentadas anteriormente para lajes encastradas nos quatro lados. A
Figura 13.37 apresenta uma proposta de distribuição de ambas as armaduras.
4 0.3lm
0.5ly
8
2 3
1 ly
0.5ly
7 7
5 6
(bordo livre) (bordo livre)
lx lx
7 – Asx para m-x,max
8 – Asy para m-y,max
Figura 13.38 - Laje simplesmente apoiada em dois lados adjacentes (Leonhardt, 1978).
Nas lajes maciças armadas em duas direções, a repartição das cargas uniformes pelos
apoios dependerá essencialmente da rigidez dos apoios e dos vãos. Quando em dois
lados adjacentes os apoios são semelhantes (ambos simples ou ambos de
encastramento), pode admitir-se que as cargas uniformes se repartem segundo a
bissetriz (ver Figura 13.40). Quando concorrem um apoio de encastramento e um apoio
simples, a repartição pode admitir-se que se desenvolve segundo uma linha que forma
60º com o lado encastrado.
45º 60º
(Bordo livre)
60º
60º
45º
Figura 13.40 - Repartição da carga para determinação das reações de apoio, para
diferentes condições de apoio.
Esta repartição é importante, não só para quantificar o esforço transverso a que as lajes
estão sujeitas como também para a quantificação de ações sobre as vigas de apoio. A
Figura 13.41 ilustra um processo expedito para quantificar as ações sobre as vigas de
lajes sujeitas a cargas uniformemente distribuídas.
q lx
Áreas de 2
influência
(viga)
lx
q lx (viga)
2
a) Apoios de extremidade
q li
(viga)
lx
Neste caso,
li = lx tg60º
li
13.5 Pilares
NEd NEd
MEd
e = MEd / NEd
e e < 2h – pilar
e > 2h – viga
Vejamos qual a forma de rotura de um pilar pouco esbelto solicitado à compressão, pois
algumas das disposições construtivas têm em vista a boa efetivação da sua capacidade
resistente última. Na Figura 13.43 a) ilustra-se o aspeto de rotura: o betão rompe por
esmagamento e corte segundo planos inclinados e a armadura longitudinal encurva-se
entre cintas. Verifica-se que o efeito de confinamento do betão (contenção lateral) é de
grande importância pois leva a que a rotura seja mais dúctil, aumentando ainda a
capacidade resistente do pilar. Este efeito de confinamento lateral ou cintagem é
desenvolvido pela armadura transversal ou cintas, como indicado na Figura 13.43 b).
Quanto maior for a área de betão confinado na secção transversal, tanto melhor se
comportará o pilar na resistência a cargas elevadas. No caso de secções retangulares, os
varões longitudinais desempenham também um papel importante no confinamento da
secção de betão. Para aumentar eficiência de confinamento do núcleo de betão, tanto o
espaçamento das cintas como o dos varões longitudinais deve ser reduzido (ver Figura
13.44).
a) b)
Figura 13.43 – Análise de um pilar: a) aspeto de rotura; b) confinamento com cintas
circulares e retangulares.
a) b)
O EC2 apresenta como condicionante geométrica para que um dado elemento estrutural
possa ser considerado como pilar que a maior dimensão da secção transversal não seja
superior a 4 vezes a menor dimensão. Além desta limitação, outras disposições devem
— A dimensão mínima da secção transversal de pilares deve ser maior ou igual a 20cm;
— Nas secções ocas, a espessura mínima das paredes não deve ser inferior a 10cm.
Acresce ainda que os pilares não devem ter uma esbelteza =l0/i superior a 140.
≥ 20cm ≥ 20cm
≥ 15cm
≥ 20cm
≥ 20cm
≥ 10cm
≥ 15cm
A área mínima da armadura longitudinal não deve ser inferior ao maior dos valores:
0.10 NEd
A s, min (13.23)
fyd
A
s, min 0.002 A c
sendo:
A área da armadura longitudinal deve ser inferior a As, max, dado pela expressão:
Este valor deve ser verificado fora das zonas de emenda por sobreposição. A s,max deve
ser aumentado para 0.08Ac nas zonas de emendas por sobreposição.
No que diz respeito ao número de varões nas secções, deve dispor-se pelo menos um
varão em cada ângulo (ver Figura 13.46). Recomenda-se ainda que o seu espaçamento
não exceda os 30cm, exceto em faces cuja largura seja igual ou inferior a 40cm, situação
em que bastará dispor varões nos cantos. O número de varões longitudinais num pilar
circular não deve ser inferior a quatro (ver EC2 – 9.5.2 (4)), ainda que o número mínimo
recomendável seja seis.
a d d d d
≤ 135º
d d d
d (1)
d ≤ 300mm
(2)
(1) – armadura construtiva (2) – mínimo 4 varões
O diâmetro das armaduras transversais não deve ser inferior a 6mm ou a um quarto do
diâmetro máximo dos varões longitudinais:
c 6m m
(13.25)
c 1 4 l, máx
s 15 l, min
s amin (13.26)
s 300m m
amin
Øl
c 6m m s
c 4 l
1
Øc
— Zonas junto à ligação com a fundação (ver Figura 13.48) ou com vigas e lajes;
O EC2 (9.5.3 (4)) define que nas secções localizadas a uma distância não superior à
maior dimensão da secção transversal do pilar, acima ou abaixo de uma viga ou de uma
laje (ver Figura 13.49), o espaçamento dado pela expressão (13.26), deve ser reduzido
por um factor de 0.6, ou seja, passará a ser dado pela expressão:
s 9 l, min
s 0.6 amin (13.27)
s 180m m
Esta redução do espaçamento deve ainda ser realizada nas zonas de emendas por
sobreposição. Ainda nestas zonas, se o diâmetro dos varões longitudinais a emendar for
superior ou igual a 16mm, deverá verificar-se a existência de pelo menos três cintas,
igualmente espaçadas, no comprimento de sobreposição.
Figura 13.49 – Zonas de cintagem melhorada na ligação de pilares com vigas e lajes.
Quando muda a direção dos varões longitudinais, como por exemplo quando há variação
da secção transversal do pilar, o espaçamento transversal das armaduras transversais
deve ser calculado tendo em consideração as forças de desvio aí geradas. Estes efeitos
poderão contudo ser desprezados se a mudança de direção for igual ou inferior a à
relação 1/12.
Do ponto de vista do traçado das armaduras transversais, este deve ser tal que cada
varão longitudinal seja abraçado por ramos de cinta formando ângulo não superior a
135º (ver Figura 13.46). Esta condição pode ser dispensada no caso de varões que não
sejam de canto e que se encontrem a menos de 15cm de varões que cumpram tal
condição. Condição aquela também dispensável no caso de pilares circulares ou a tal
assimiláveis.
13.6 Paredes
A área da armadura vertical mínima das paredes, a distribuir por ambas as faces, é dada
pela expressão:
A área da armadura vertical máxima, fora das zonas de emendas por sobreposição, é
dada pela expressão:
A área da armadura vertical a usar, que deverá estar incluída nos limites especificados
(As,vmin ≤ As,v ≤ As,vmáx), deve, em geral, ser distribuída pelas duas faces da parede.
Segundo o EC2 (9.6.2), a distância entre dois varões verticais adjacentes, s (ver Figura
13.50), não deve ser superior ao menor dos valores:
sv, min 3 b
(13.31)
sv, min 4 0 0mm
sv, min 2 b
(13.32)
sv, min 3 0 0mm
sh ≤ 300mm b
Øv sv Øv Øh
Øh sv 2b
sv 3 0 0mm
Øh ≥ ¼ Øv
b≥150mm
O EC2 define que o espaçamento entre dois varões horizontais adjacentes (sh) não
deverá ser superior a 400mm (ver EC2 – 9.6.3). Contudo, na prática é usual limitar este
valor a 300mm.
O diâmetro da armadura horizontal (Øh) não deve ser menor do que um quarto do maior
diâmetro dos varões verticais:
h 6m m
(13.34)
h 1 4 v,máx
Note-se que em paredes com esforços de compressão moderados, pode acontecer que a
armadura horizontal é idêntica à vertical. Isto deve-se à necessidade de controlar a
fendilhação vertical proveniente das tensões geradas na parede por efeito da retração e
das variações de temperatura.
Se a área total da armadura vertical resistente excede 0.02A c, esta armadura deve então
ser convenientemente cintada com armaduras transversais, sob a forma de estribos ou
ganchos, com requisitos semelhantes aos estabelecidos para os pilares. Apenas é feita a
ressalva da zona em que é necessário fazer o reforço da armadura na ligação com vigas
ou lajes, em que se limita essa zona a 4 vezes a espessura da parede (ver Figura 13.49).
st 1 5 l,min
st st amin
s 3 0 0mm
t b
v d d d d h v c
h d ≤ 150mm
c c 1 4 v,máx
c 6m m
b
As armaduras transversais podem ser dispensadas nos casos em que se adote redes
electrossoldadas ou varões verticais com diâmetro v≤16mm com recobrimentos
superiores a c ≥ 2.
Os bordos verticais das paredes devem ser protegidos por dois varões verticais, um em
cada canto, e guarnecidos com estribos em forma de U, prolongados para o interior de
um comprimento 2b, com o mínimo do comprimento de sobreposição l 0 (ver Figura
13.52a).
b
2v
2b h v c
l0 (zona de cintagem melhorada)
Nos bordos livres e nas zonas de parede sujeitas a cargas concentradas elevadas, como
por exemplo, na zona de apoio de vigas, é usual proceder-se ao melhoramento da
cintagem do betão (ver Figura 13.52b), podendo esta zona incluir um reforço da
armadura vertical, como que materializando um pilar embutido na própria espessura da
parede.
Nas zonas dos cantos ou de junções de paredes, as armaduras horizontais que por
razões construtivas são aí interrompidas devem ser convenientemente amarradas com o
comprimento de amarração lbd, com o mínimo de lb,min (ver Figura 13.53).
≥ lb,min
h v
Especiais cuidados devem ser tidos na definição da agressividade do meio ambiente, que
podem ir variando em altura. De facto, nos pisos inferiores, as paredes podem estar em
contacto com o solo de fundação e mais expostas à humidade do que nos pisos
superiores. Pode por isso ser conveniente utilizar recobrimentos diferentes para cada
uma destas situações. A Figura 13.55 ilustra como anéis espaçadores, devidamente
fixados às armaduras, garantem o seu recobrimento, enquanto armaduras construtivas
(armadura construtiva transversal) evitam recobrimentos excessivos.
l0 l0 l0
l0
l0
a) Alçado c) Corte
13.7 Bibliografia
BS 8110 – British Standard for the design and construction of reinforced and prestressed
concrete structures.
Tabelas para el calculo de placas y vigas pared. Richard Bareš. Editorial Gustavo Gili, SA.
Barcelona, 1981.
ANEXO
TABELAS DE CÁLCULO PARA LAJES
ARMADAS EM DUAS DIREÇÕES
MONTOYA – MESEGURER -MORAN
OUTUBRO / 2013