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Salmo 133
Certamente, um dos maiores desafios do povo de Deus tem sido manter a unidade
e harmonia. As disparidades parecem não ter fim, os interesses são conflitantes e os
conceitos são opostos, mas o que os une é maior que todas estas questões, supera toda
e qualquer diversidade contraditória, está acima dos ideais particulares; o vínculo
existente entre eles e que os une, não é outro, senão o amor. O amor é superior a todas
as diferenças, pois ele faz com que estas sejam superadas, torna o diverso e contraditório
em unidade recíproca, promovendo a vida por onde passa. E é exatamente isso que
acontece no Salmo em questão: o amor prevalece sobre as questões que dividem o povo,
derruba as barreiras que se levantam e fragmentam a nação escolhida, restaurando a
comunhão outrora perdida.
Foi consciente da importância da unidade que Davi escreveu este salmo. E isto por
ocasião da unificação das doze tribos de Israel sob seu reinado em Jerusalém e
registrada em II Samuel, capítulo 5. Ocasião em que as diferenças foram postas de lado,
os interesses pessoais deram lugar ao anseio coletivo e a unidade foi exaltada. Destarte,
este Salmo nos desafia a vivenciarmos a verdadeira fraternidade cristã e o amor ao
próximo, ao passo em que nos ensina valiosas lições sobre a unidade.
Este Salmo aponta o caminho para a igreja do século XXI, pois cada dia mais
somos levados ao individualismo. Os interesses pessoais de cada membro, parecem
subjugar a unidade do Corpo. Em contraste com isso, a união descrita no Salmo 133,
aponta para a comunhão que deve ser vivenciada pelo povo da aliança. Uma união que
supera acordos políticos, que sobrepuja os limites territoriais, que sub-roga os interesses
pessoais em favor do coletivo. Uma comunhão que como diz Davi “é boa e agradável”.
Essa forma de união, nos faz lembrar da oração sacerdotal de Jesus, quando
séculos mais tarde, roga ao Pai que os seus sejam um e que sejam aperfeiçoados na
unidade (João 17.23). Jesus sabia que os discípulos eram diferentes, pensavam diferente
e agiam diferente uns dos outros. Contudo, precisavam superar as diversidades em nome
do amor e da unidade cristã. O que fica evidente é que a união do povo de Deus não é
produto de fatores externos, de um consenso doutrinário ou da decisão de líderes
denominacionais, mas fruto da ação sobrenatural do Espirito Santo no coração dos
eleitos. O que não significa que não tenhamos a responsabilidade de nos esforçarmos
por manter essa comunhão sempre pulsante em nossos nos corações, visto que a
unidade externa apenas reflete a comunhão interna, pois em Cristo não há distinção,
nele, “não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita,
escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Colossenses 3.11).
A questão é que havia uma intensa relação entre o ofício sacerdotal e a comunhão
da nação, pois mediante o exercício deste ofício, a nação de Israel teria acesso a Deus,
bem como o perdão de seus pecados. E mediante a unidade e comunhão eles receberiam
a benção de Deus. Esta relação é mais tarde, vivenciada por todo o povo de Deus,
quando Cristo o Supremo Sumo Sacerdote, não apenas intercede pelos eleitos, mas
oferece a si mesmo como perfeito sacrifício, unificando todo o povo de Deus. Não há mais
distinção entre judeus e gentios, pois todos somos o povo de Deus.
Ao tratar sobre este Salmo, o Dr. Mauro Meister ressalta que “tanto o rei quanto o
reino e o sacerdócio são tipos de um reinado futuro”, apontam para o Reino de Deus e
para Cristo Jesus, em quem o povo escolhido é apenas um.
Sob Davi, Israel e Judá são reunidos como um só povo, uma só nação. Em Cristo,
não há relativização, judeus e gentios formam o povo escolhido, a nação eleita, o
sacerdócio real (I Pedro 2.9-10). Em Cristo, a união com Deus é restabelecida e o povo
eleito apregoa com sua vida e unidade os resultados dessa eleição, intercedendo uns
pelos outros em amor, exercendo o sacerdócio universal de todos os crentes.
Outra figura referenciada neste precioso Salmo, é o monte Hermom. Davi compara
a unidade e o amor fraternal existentes na nação com o orvalho do Hermom e isto, por
uma razão bastante específica.
O Hermom tem quase 3.000 metros de altitude e seu pico é coberto pela neve
durante todo o ano. O degelo constante, gera um orvalho que cai de seu cume cobrindo
toda a vegetação ao seu redor e os fortes ventos espalham esse orvalho sobre a cadeia
montanhosa que se estende até Jerusalém, promovendo vida em toda aquela região. Por
outro lado, o degelo do Hermom é também, um importante provedor do rio Jordão e
consequentemente do mar da Galileia, pois renova as pastagens e irriga as lavouras às
suas margens. Suas águas atingem as regiões mais distantes e áridas, como o sul de
Israel. Dessa forma, assim como as bênçãos espirituais provinham do ministério
sacerdotal, fixado mais ao Sul, especialmente em Jerusalém, as bênçãos materiais
procediam do Norte, do Hermom. Havia uma dependência recíproca na nação. “Ali,
ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre”, diz o salmista no verso 3. É sobre
essa relação de interdependência que é dispensada a benção de Deus, pois, se por um
lado, o povo era abençoado por Deus, mediante o ministério sacerdotal, por outro, o favor
Divino era dispensado por meio de seu cuidado, mediante o orvalho do Hermom. Assim,
do Sul provinham as bênçãos espirituais e do Norte o favor material. A mútua
dependência é reflexo da Soberana Providência, pois em última análise, todas as
bênçãos, quer espirituais, quer materiais provém de Deus e redundam na sua glória e na
edificação do povo escolhido.
Conclusão e aplicação
Após analisarmos este Salmo e suas implicações, parece saltar aos olhos a
importância de trabalharmos pela unidade do povo de Deus. Esta unidade foi requerida
de Israel e é também exigida de nós, hoje. O ensino claro e objetivo deste Salmo, nos
leva a repensar nossos conceitos e práticas, de forma que diante do exposto, concluímos
serem imprescindíveis pelo menos duas coisas: