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Conhecimento Científico
Marlon Vinícius Soares 1 [marl on.soares @bomjesus.br]
Roberto Tadeu Berro 2 [robertob@bomjesus.br]
1
Setor de Tecnologia; Programa de Pós -Graduação em Engenharia – UFPR , Colégio Bom Jesus
2
Centro de Estudos e Pesquisas – Colégio Bom Jesus; UNIFAE
RESUMO
Esse trabalho se propõe a oferecer aos professores de Física (e Ciências) um relato de uma
abordagem para o ensino de Física aplicada a alunos da primeira e segunda série do ensino
médio de uma escola de Curitiba (PR) no ano de 2008. O foco principal deste estudo é a
apresentação e discussão de algumas das gravuras do artista holandês Maurits Cornelis
Escher em ambiente escolar analisado como os professores de física e de outras áreas de
conhecimento interagem com este artista apontando quais são as suas potencialidades em
termos de contextualização e aplicabilidade no contexto escolar do ensino de Física. Em
última análise, busca-se compreender algumas das influências que cientistas como Bruno
Ernst e Coxeter exerceram sobre a obra de Escher , bem como outros entornos sociais que
influenciaram a sua produção a assim, ratificando o papel da escola, qualificar uma via
acessível aos estudantes para que possam compreender conceitos científicos . A partir da
visualização de algumas gravuras de Escher, os alunos são levados a interpretar e relacionar
os elementos gráficos com algumas leis ou princípios da Física que foram estudados ou até
mesmo para que tenham uma mudança conceitual diante da insatisfação com os conceitos
prévios devido a sua incapacidade de explicar a situação apresentada pelo professor.
Visando uma aprendizagem eficaz na compreensão dos fenômenos físicos, o modelo obtido
é vinculado à educação escolar levando em conta duas categorias de conhecimento: o
conhecimento científico e o conhecimento cotidiano, este último entendido na perspectiva
de conhecimentos prévios dos alunos. A abordagem do conhecimento é temática, sendo que
a História da Arte constitui um plano de fundo para a discussão e a compreensão de
elementos e grandezas da Física e para própria ampliação de um conceito de Ciência na
mente dos alunos.
ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
Ao longo do ano letivo de 2008, foram apresentadas aos alunos gravuras de Esher em duas
circunstâncias: no início de algumas aulas – com objetivo de problematizar e motivar o estudo de
um assunto; e no fim de algumas aulas: com objetivo de reforçar conceitos científicos construíd os,
forçar os alunos a buscar explicações físicas para certas incoerências. As principais gravuras
utilizadas e a respectiva abordagem científica são apresentadas abaixo:
Espelhos Planos
A gravura acima foi utilizada como ferramenta de síntese final do conteúdo “Espelhos
Planos”, por mais que os alunos utilizem dos espelhos no seu dia a dia, há muita dificuldade em
compreender, duas características básicas das imagens fornecidas pelos espelhos planos: a
propriedade de objeto e imagem serem simétricos e enantiomorfos entre si.
Nos livros didáticos de Física este aspecto é geralmente ilustrado colocando-se um triângulo
escaleno na frente do espelho e representando a sua respectiva imagem, para que fique bastante
nítida a questão da inversão da imagem, mostrando que objeto e imagem não podem ser
sobrepostas.
Gravitação Universal
Espelhos Esféricos
Conservação da Energia
Essa gravura foi utilizada como elemento de aplicação para a conservação da energia. No
início do conteúdo de conservação da energia os alunos foram questionados sobre as incoerências e
impossibilidades da figura. Além da discussão de caráter artístico (levando em conta o erro de
perspectiva) os alunos analisaram os tipos de energias envolvidas no processo. Essa gravura
também pode ser uma ferramenta para abordar o conceito de entropia e 2ª Lei da Termodinâmica.
Equilíbrio de Corpos
Ilusão de Óptica
Para a área de conhecimento de Física, as figuras impossíveis são um material farto para que seja
trabalhado a Óptica da visão no que concerne as ilusões de Óptica. Por ilusão de Óptica vamos aqui
definir como sendo todas as ilusões que enganam o sistema visual humano, fazendo-nos ver
qualquer coisa que não está presente na figura ou ainda de modo equivocado, podendo ocorrer
naturalmente ou por alguma deficiência do nosso sistema visual.
Ao trabalhar o conteúdo de Óptica da visão, explicando o funcionamento do olho normal ou
emétrope (sem defeit os de visão de quaisquer espécies, seja de ordem refrativo ou congênita), é
comum se relacionar depois as ametropias, e os motivos pelas quais elas acontecem. E neste
aspecto, faz-se necessário distinguir os problemas de visão de outros que são conseqüências de
análises erradas que a nossa mente faz em conjunto com o sentido da visão. Ainda na área de
Óptica, além das figuras impossíveis, poderíamos aqui ainda relacionar outras tantas que trabalham
com a reflexão da luz em superfícies planas e esféricas que seriam de extrema aplicabilidade para se
explicar o comportamento da luz nos espelhos planos e nos espelhos esféricos. Nesse sentido, a
figura 6 ofereceu um grande suporte para discussões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho nos remete a seguinte questão: De que forma os físicos podem trabalhar
com a História da Arte e seus mais distintos personagens para abrilhantarem as aulas de Física? A
metodologia dessa atividade fez uso de uma abordagem qualitativa, de cunho bibliográfico e
documental, tomando como base a interação da obra do artista com as sensações evocadas pelas
conexões do olhar, sentir, pensar daqueles alunos que se apropriam de sua obra no ambiente escolar.
De que forma podemos trabalhar com os conceitos científicos como sendo fruto de uma
construção humana, inserida num processo histórico e social identificada em várias manifestações
da vida comum de um ser humano qualquer, em diferentes âmbitos e setores, como nas artes ou em
quaisquer atividades que tenham um sentido ou significado pa ra as nossas vidas? Ou ainda, de que
forma podemos pensar em organização de trabalhos, atividades e encaminhamentos didáticos
pedagógicos que proporcionem aos alunos tanto se aproximar de saberes e valores artísticos como
escolares transcendendo ao saber técnico geralmente abordado tanto nas aulas de Física quanto nas
de artes?
O trabalho desenvolvido mostrou que os alunos responderam de forma positiva à proposta
de trabalho, envolvendo-se nas atividades de análise e discussão das imagens e no levantamento e
de hipóteses para as diversas situações ou baseados em seus conhecimentos prévios, ou em
conhecimentos adquiridos nas aulas. Da mesma forma, foram capazes de discutir os resultados
obtidos da análise das gravuras , algumas vezes por si mesmos e outras ve zes com o auxílio do
professor.
O fato de alguns alunos terem sido apresentados às obras de Escher e outros terem
observado detalhes da obra com outros olhos, despertou grande interesse em muitos alunos pela arte
não só de Escher como de outros artistas como Salvador Dalí (COSTA, 2007) que foi citado pelo
professor. Assim, a idéia de associar a um tema e a um conteúdo específico – no caso, a Arte – um
trabalho envolvendo elementos do conhecimento científico confirmou-se como uma possibilidade
interessante para desafiar os jovens a pensar cientificamente e outros temas da Física poderão ser
trabalhados de forma semelhante a partir de outros artístas , contribuindo-se assim para diminuir as
distâncias entre o ensino da ciência e os significados que os alunos podem estabelecer, a partir dos
conceitos que já construíram em suas experiências anteriores (SOARES, 2007).
REFERÊNCIAS
BERRO, Roberto Tadeu. Relações entre Arte e Matemática: Um estudo da obra de Maurits
Cornelis Escher. Dissertação defendida e aprovada na Universidade São Francisco em 19 de
setembro de 2008 pela banca examinadora constituída pelos professores.
COSTA, Rodrigo Ronelli D. Salvador Dalí e a Mecânica Quântica. Física na Escola , São Paulo,
vol.8, n.2, p.23-26, 2007.
DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José A.; PERNAMBUCO, Marta M.. Ensino de Ciências:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
ERNST, Bruno. O espelho mágico de M. C. Escher. Colônia – Alemanha, Editora Taschen, 1978
GIORDAN, André e VECCHI Gérard De. As Origens do Saber: das concepções dos
aprendentes aos conceitos científicos. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996
SOARES, Marlon V. A Origem das Crateras Lunares: uma proposta para ensinar elementos
do método científico. XVII Simpósio Nacional de Ensino de Física. São Luis, Maranhão, 2007
VEIT, Eliane Angela e TEODORO, Vítor Duarte. Modelagem no Ensino: Aprendizagem de Física
e os Novos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Rev. Brasileira de Ensino de
Física. São Paulo, v.24, n.2, p.87-96, jun. 2002.