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BIOGRAFIA DE CESÁRIO VERDE

“...a mim o que me rodeia é o que me preocupa”.

José Joaquim Cesário Verde nasceu em 25 de Fevereiro de 1855, na Rua da Padaria, bem próximo da Sé de Lisboa.

Ainda jovem, começa por ajudar o pai na sua loja de ferragens da Baixa lisboeta. Em 1873, com 18 anos, matricula-se
no Curso Superior de Letras (que frequenta apenas por alguns meses), onde conhece o jornalista Silva Pinto. Nesse
mesmo ano começa a publicar os seus primeiros poemas no Diário de Notícias, e nos anos seguintes nos
jornais Ocidente (de Lisboa), Diário da Tarde, Renascença, Tribuna e Jornal de Viagens (do Porto) e Mosaico (Coimbra),
entre outros. Depois de ter publicado "O sentimento dum Ocidental", em 1880, cujas críticas não lhe foram favoráveis,
deixa de publicar durante quatro anos, para se dedicar em exclusivo à vida prática.

É sobretudo nessa altura que desenvolve os negócios da família, proprietária desde 1869 de uma quinta em Linda-a-
Pastora. Começa então a frequentar cada vez mais os meios literários e as tertúlias intelectuais. Faz parte do grupo
boémio que se reúne no Café Martinho, onde se cruza com nomes como Guerra Junqueiro, Gomes Leal, João de Deus,
Fialho de Almeida etc. Mais tarde, frequenta a Cervejaria Leão de Ouro, onde reúne o Grupo do Leão, com escritores
como Abel Botelho, Alberto de Oliveira, Fialho de Almeida, Gualdino Gomes e pintores como José Malhoa, Silva Porto,
Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro.

Em 1877 queixa-se dos primeiros sintomas de tuberculose, doença que o viria a vitimar anos mais tarde. Em 1884
deixa de frequentar os meios literários. Ainda tenta recuperar da doença refugiando-se em Caneças, mas o seu estado
de saúde não deixou de se agravar. Morre em 19 de Julho de 1886, com 31 anos de idade, em casa de amigos, no Paço
do Lumiar. No ano seguinte, o seu amigo Silva Pinto, com a colaboração de Jorge Verde, irmão do poeta, reúne os seus
trabalhos dispersos e edita O Livro de Cesário Verde.

Dividindo a poesia com as funções de ferrageiro/lavrador, a obra de Cesário Verde expressa uma oposição ao lirismo
tradicional, procurando um tom natural, que valorizasse a linguagem do concreto e do coloquial, por vezes até com
cariz técnico, abrindo caminho ao modernismo e ao neorrealismo, e influenciando decisivamente poetas posteriores,
como Fernando Pessoa, António Nobre, Camilo Pessanha, Roberto de Mesquita, Mário de Sá-Carneiro. Na sua época,
porém, o carácter prosaico dos seus versos, o seu realismo, não reuniram muitos admiradores, nem no meio
intelectual, nem nas críticas da imprensa, como anteriormente se fez notar.
BIOGRAFIA DE CESÁRIO VERDE

“...a mim o que me rodeia é o que me preocupa”.

José Joaquim Cesário Verde nasceu em 25 de Fevereiro de 1855, na Rua da Padaria, bem próximo da Sé de Lisboa.

Ainda jovem, começa por ajudar o pai na sua loja de ferragens da Baixa lisboeta. Em 1873, com 18 anos, matricula-se
no Curso Superior de Letras (que frequenta apenas por alguns meses), onde conhece o jornalista Silva Pinto. Nesse
mesmo ano começa a publicar os seus primeiros poemas no Diário de Notícias, e nos anos seguintes nos
jornais Ocidente (de Lisboa), Diário da Tarde, Renascença, Tribuna e Jornal de Viagens (do Porto) e Mosaico (Coimbra),
entre outros. Depois de ter publicado "O sentimento dum Ocidental", em 1880, cujas críticas não lhe foram favoráveis,
deixa de publicar durante quatro anos, para se dedicar em exclusivo à vida prática.

É sobretudo nessa altura que desenvolve os negócios da família, proprietária desde 1869 de uma quinta em Linda-a-
Pastora. Começa então a frequentar cada vez mais os meios literários e as tertúlias intelectuais. Faz parte do grupo
boémio que se reúne no Café Martinho, onde se cruza com nomes como Guerra Junqueiro, Gomes Leal, João de Deus,
Fialho de Almeida etc. Mais tarde, frequenta a Cervejaria Leão de Ouro, onde reúne o Grupo do Leão, com escritores
como Abel Botelho, Alberto de Oliveira, Fialho de Almeida, Gualdino Gomes e pintores como José Malhoa, Silva Porto,
Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro.

Em 1877 queixa-se dos primeiros sintomas de tuberculose, doença que o viria a vitimar anos mais tarde. Em 1884
deixa de frequentar os meios literários. Ainda tenta recuperar da doença refugiando-se em Caneças, mas o seu estado
de saúde não deixou de se agravar. Morre em 19 de Julho de 1886, com 31 anos de idade, em casa de amigos, no Paço
do Lumiar. No ano seguinte, o seu amigo Silva Pinto, com a colaboração de Jorge Verde, irmão do poeta, reúne os seus
trabalhos dispersos e edita O Livro de Cesário Verde.

Dividindo a poesia com as funções de ferrageiro/lavrador, a obra de Cesário Verde expressa uma oposição ao lirismo
tradicional, procurando um tom natural, que valorizasse a linguagem do concreto e do coloquial, por vezes até com
cariz técnico, abrindo caminho ao modernismo e ao neorrealismo, e influenciando decisivamente poetas posteriores,
como Fernando Pessoa, António Nobre, Camilo Pessanha, Roberto de Mesquita, Mário de Sá-Carneiro. Na sua época,
porém, o carácter prosaico dos seus versos, o seu realismo, não reuniram muitos admiradores, nem no meio
intelectual, nem nas críticas da imprensa, como anteriormente se fez notar.
O sentimento dum ocidental é um poema bastante extenso dividido em quatro partes intituladas: Ave-Marias(vespertino, ao cair da tarde); Noite Fechada (o acender das luzes
noturnas); Ao gás (fixação da noite) e Horas Mortas(noite segura) em que o escritor luso Cesário Verde (1855-1886) dedica, ao amigo Guerra Junqueiro, às impressões que tem de
Lisboa ao anoitecer. Verde é poeta realista e saudosista e, com uma luneta particular, observa, de longe, a capital portuguesa. Esse observar lhe causa repulsa e o atrai ao mesmo
tempo; a cada palavra, a cada verso, a cada rima percebe-se o conflito do poeta que ama e odeia a cidade em que habita.
Teve uma vida difícil e faleceu com apenas 31 anos, de tuberculose, perdeu o irmão e a irmã com a mesma doença e com menos idade, ainda. Uma de suas paixões era o sítio Linda-a-
Pastora que sofreu incêndio e, nisso, Cesário perdeu grande espólio literário, móveis e a vontade de viver. Suas obras são póstumas e estão reunidas no Livro de Cesário Verde,
publicado em 1887, ou seja, um ano após sua morte.

O narrar não linear do poema com relação ao tempo estende-se ao longo da noite até a madrugada. Inicia-se ao entardecer, com o pôr do sol, quando os operários saem das fábricas
que poluem Lisboa, deixando-a como Londres (nublada, poluída, acinzentada, nebulosa), quando, enfim, os lusos rezam a Ave Maria, no período vespertino, e termina no alto da
madrugada, cujas horas são mortas. Nessas quatro partes, o poeta vai descrevendo como vê e o que sente em relação ao que vê. Conta uma história que vai desencadeando outras e
mais outras, dessa forma, fala de Portugal e dos próprios sentimentos com relação a Portugal. A intenção era fazer poesia para homenagear Camões, mas o que o poeta não poderia
fazer era fechar os olhos para um País encalhado, decadente. Era como se ele quisesse gritar: "Veja, Camões em que e no que nos transformamos!".

Jornalista, literato, disperso e tímido, Cesário caminha mentalmente pelas ruas da cidade e vai descrevendo-a. Não gosta do que vê, porque saudosista, clama por um Portugal glorioso
da época classicista em que a terra lusa, com grandes navegações, conquistava espaços africanos e latino-americanos. Um Portugal nobre e rico, cheio de suntuosidade, com palácios e
reis messiânicos. Chora por uma época camoniana, cuja obra Os Lusíadas narra em versos os feitos, as conquistas e as vitórias dos exércitos lusos.

Mas Lisboa modernizou-se, mesmo sem ter a mínima condição para tal, foi construindo aqui e ali irregularmente, prédios semelhantes a gaiolas, a viveiros, lugar onde vivem os
operários, que saem das fábricas, saem sujos e se amontoam (aos magotes) perto do porto marítimo a caminho de casa.

Em Ave-Marias, Verde dá início à descrição do lugar e ao sentimento que o perturba, enquanto observa e conceitua o espaço. Espaço que, ao anoitecer, traz ao poeta, uma vontade
louca de sofrer, devido à melancolia, às sombras e ao murmúrio do Tejo, um dos rios mais famosos de Portugal, cantado em versos por tantos poetas, inclusive Fernando Pessoa. Tão
famoso quanto o rio Sena, na França; o Tamisa, no sul da Inglaterra e o Vístula, na Polônia.

A monotonia do anoitecer e a poluição das fábricas perturbam o poeta: a cidade cheia de neblina, gás, a fumaça das chaminés e os operários fazendo bagunça, aos montes, tumultuando
espaços. A cidade deixa-o completamente perturbado: o bulício, os carros, a via férrea e as pessoas indo e vindo, amontoando-se. Ele descreve a cidade e o que sente ao descrevê-la e,
assim, vai desvendando uma Lisboa decadente, mas amada.

O eu-lírico alucina e nas imagens das revistas, vê o mundo, outras cidades, o modernismo, a felicidade. No entanto, volta à realidade e percebe que as construções são de madeira e
semelhantes às casas de morcegos e passarinhos. Os operários saindo da fábrica, caminhando enfarruscados com seus jaquetões ao ombro, o que pode denotar calor, ou seja, o
tempo pode ser marcado pelo verão. E, em meio a esse cenário, Cesário evoca o tempo camoniano e vive, por instantes, um passado de glória, cujas embarcações bandeirantes
desbravaram caminhos, continentes e nações.

Vive o épico de Luís de Camões e o vê salvando a obra a nado, referindo-se ao naufrágio que o classicista sofreu tentando salvar as páginas D’os Lusíadas, alva a obra, mas perde
a amada Dinamene. Mesmo em sonho, mesmo hipnotizado por um passado, tem a consciência de que a realidade é outra: “E evoco as crônicas navais, mouros, baixéis, heróis
ressuscitados, lutas e conquistas, que não verei jamais”. E essa consciência o mata, o mortifica, o incomoda, mas também, inspira-o.

Lembra-se da calamidade que a Inglaterra causou em Portugal, como os lusos odeiam ingleses e espanhóis. Imagina os couraçados ingleses dominando tudo e a todos, ao mesmo
tempo em que o barulho dos talheres, dos restaurantes da cidade o traz à realidade da noite lisboeta.

Eis Lisboa crua e nua: dentistas conversam num canto, um manco agitado tenta andar aos trancos e barrancos, os anjos eminentes percorrem espaços, os lojistas contam os minutos
para cerrar as portas, entediados que estão; as mulheres operárias (que para o poeta conotam um cardume negro, porém, divertido) caminham descalças, falando alto, zombeteiras,
alegres, descem sacudindo as ancas abastadas (bundas enormes ou mulheres gordas?), descem barulhentas com cestos na cabeça e vão em direção as pequenas embarcações, as
mesmas que podem levar em naufrágio os filhos que terão. Ou as embarcações que já levaram os filhos que Portugal teve, os heróis lusos, os deuses: Vênus e Tétis, a mesma Tétis que
desmontou o gigante Adamastor.

O poeta vê as operárias em sua miserabilidade: “apinham-se num bairro onde miam gatas e o peixe podre gera os focos de infecção”. Percebe-se aqui a desordem, a sujeira, a podridão
de uma cidade que cresceu sem recurso e está à revelia.

Em Noite Fechada, a tarde já se foi, surge à noite: bares abertos, prostitutas paradas em esquinas. Cadeias, grades, cafés, tabacarias e tendas. Tudo isso traz ao poeta um desconforto,
uma morbidez tamanha que ele desconfia ter um aneurisma, como se adoecesse, como se enlouquecesse com o que vê ou imagina ver e sente.

Já é bem noite e a lua aparece como um circo de malabares, marcando o tempo não linear do poema. O poeta adentra à história e salienta o quanto a igreja católica manchou, com a
inquisição e o santo ofício, as doutrinas e as guerras santas, as páginas de Lisboa, de Portugal, da Europa inteira. Para ele, a igreja é uma "nódoa negra e fúnebre". Na estrofe seguinte,
lembra-se do terremoto que levou a cidade à ruína, mas que, depois, foi reconstruída gloriosamente. No entanto, nessa cidade reconstruída, há um público vulgar dividindo espaços com
antigos monumentos de proporções guerreiras e épicas.

O poeta escreve Cólera e Febre com letra maiúscula, porque se refere aos deuses e não às doenças, fala do colapso social, em que há palácios em frente aos casebres, como as favelas
em frente às mansões. E que por mais moderna que esteja Lisboa, a Idade Média ainda se derrama pela capital.

Nesse momento, o eu-lírico se entristece ao ver a cidade que ama tão soturna e melancólica. Fala da paixão defunta por amar uma cidade morta, cujo cenário é de operárias ou de
burguesas hipócritas e inconscientes: “as duas elegantes olhando jóias”.

Na parte intitulada Ao gás, o poeta enxerga as prostitutas, porque as lâmpadas a gás foram acesas e faz Cesário ver a cidade como periferia, cheia de becos, as burguesas do
catolicismo, as freiras histéricas, os ladrões, os moleques menores, o fabricante de facas e o forjador. Sente o cheiro saudável de pão no forno e imagina um livro que pudesse ter tudo e
dar a ele todas as respostas que necessita.

Ironiza a classe burguesa de modo a evidenciar o ridículo da indumentária à francesa com bandos, debuxos, traine, leques antigos e adornos exagerados. Associa a burguesia hipócrita
com o sistema absolutista e ditatorial dos alemães (Mecklenburg). Descreve o uso excessivo dos produtos importados, vendidos por caixeiros viajantes: “tecidos estrangeiros, plantas
ornamentais e flocos de pó de arroz pairam sufocadores”. E os candelabros a gás se apagam. Sobram solidão, vozes ásperas, vendedores de bilhetes da sorte. As casas
resplandecentes tornam-se mausoléus, ou seja, túmulos (cidade morta). Casas fechadas e escuras.

Cesário cita a decadência de Lisboa, a miserabilidade de Portugal, um País que conquistou tantos espaços e que foi nobre e rico. Cita, ainda, como, na modernidade, a educação é
desvalorizada e desqualificada na figura do professor que pede esmolas na madrugada: “Dó da miséria! ... Compaixão de mim!... E, nas esquinas, calvo, eterno e sem repouso, pede-me
sempre esmola um homenzinho idoso, meu velho professor nas aulas de latim”.

A última parte representa a madrugada, as Horas Mortas, cujas famílias estão dentro das casas, fechadas, apagadas e, nas ruas, sobram trapeiras, os portões expostos nas ruas, em
becos, e os olhos dos que caminham espantam o poeta, amedrontam-no, pois sangram. A miséria e a noite sangra, a cidade em colapso social sangra. Tudo é sangue, tristeza e morte.

De repente, o eu-lirico deseja a imortalidade, como os épicos, como os clássicos, como Camões e Os Lusíadas: “se eu não morresse nunca”. Em seguida, volta à realidade e se vê
emparedado, num espaço sem árvores, no vale das muralhas, e, nesse momento, ouve os gritos de socorro dos estrangulados. E, novamente, tudo é sangue, melancolia e morte.

O eu-lírico sente-se nauseado com a decadência, com os tristes bêbados cantando, de braços dados; com os ladrões, os febris e errantes, os cães e os lobos. À noite fechada,
os guardas revistam as escadas com lanternas, pois só há trevas nas horas mortas da madrugada. As prostitutas (doentes) tossem e fumam sobre as sacadas. Eis o cenário que Cesário
vê e sente, é impressionista, porque, de luneta, ele emite um parecer pessoal, e sonha, ilude-se, enfrenta a realidade, imagina e, saudoso, deseja um Portugal camoniano, que já não
existe há quase 300 anos.

O poeta encerra com a última estrofe que fala não da angústia ou da melancolia do luso, mas da dor humana em si, esse ser que busca alento e novos horizontes. Que tenta sobreviver
na decadência ou do passado. No entanto, é dentro de uma massa irregular de gentes e prédios feito sepulturas, de novos horizontes além mar, cujas marés são amargas, como um
sinistro mar!

E assim, encerra o ponto de vista poético, demonstrando realidades e sentimentos, sonhos, quimeras e imaginações, lembranças e saudades, pesares, dores e amores. O poeta marca
tempo e espaço, traça personagens e revela os estados de alma: os estados anímicos e ideológico-sociais de Cesário Verde, que declara o próprio sentimento em relação à cidade que
ama e odeia, em versos.

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