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Rômulo Cavalcante Mota

Conta de água
com transparência
Entenda e defenda-se das
cobranças abusivas da CEDAE
Rômulo Cavalcante Mota

Conta de água com transparência

Entenda e defenda-se das


cobranças abusivas da CEDAE

Rio de Janeiro

Março 2009

1ª Edição
®Todos os direitos desta edição reservados ao autor. Nenhuma parte desta publicação
pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou quaisquer meios
(eletrônico ou mecânico) sem a permissão escrita do autor. ®n Idéias
Sumário
1. Tarifas Residencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

I - O mínimo como estratégia para lucrar o máximo ............... 6


II - Ilegalidade Multiplicada ..................................................... 7
III - Faixa Polêmica ................................................................... 9
IV - A Galinha dos Ovos de Ouro da CEDAE ........................... 10
V - A Justiça Condena ............................................................ 15

2. Tarifas Comerciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

I - Economize e pague mais por isso ...................................... 18


II - Lucro Fácil ......................................................................... 19
III - Na ponta do lápis ............................................................ 21
IV - Fórmula Matemática ....................................................... 23
V - O novo Ovo de Colombo .................................................. 24

3. Pena d’água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

I - Dilema que fala ao bolso ................................................... 31


II - Reconhecer o seu direito .................................................. 33

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Residenciais

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I - O MÍNIMO COMO ESTRATÉGIA PARA LUCRAR O
MÁXIMO

CONSUMO MÍNIMO RESIDENCIAL - 15 m3

Tarifa sobre o consumo mínimo residencial - uma só unidade


autônoma (economia)

O consumo mínimo residencial é o valor que o consumidor paga quando a leitura


do hidrômetro assinala ou informa consumo medido inferior a 15 m3. Ou seja, o
consumidor paga a tarifa pelo consumo mínimo de 15 m3. Essa é a cobrança que a
CEDAE erroneamente chama de “Tarifa Mínima”.
No exemplo abaixo, verifica-se que a leitura do hidrômetro informa que o consumo
real medido foi de apenas 4 m3. Mesmo assim, o consumidor é obrigado a pagar o
consumo mínimo mensal correspondente a 15 m3.
Essa cobrança mínima de 15 m3, que prejudica quem consome menos, é aceita pela
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e pelo Superior
Tribunal de Justiça.

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II - ILEGALIDADE MULTIPLICADA

CONSUMO MÍNIMO MULTIPLICADO PELO NÚMERO DE UNIDADES


AUTÔNOMAS (ECONOMIAS) - 15 m3 x Economias

Não satisfeita com o consumo mínimo de 15 m³ por hidrômetro, a CEDAE


descobriu uma maneira de lucrar ainda mais às custas do consumidor residencial e do
subterfúgio da tal “Tarifa Mínima”. Então, passou a cobrar 15 m³ multiplicado pelo
número de unidades autônomas. Com isso, passou a faturar muito mais sem produzir
ou fornecer mais água ao consumidor.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Superior Tribunal de Justiça
condenaram, por unanimidade, a prática. Contudo, a CEDAE ignorou a sentença e
insiste na cobrança até hoje.
No exemplo abaixo, a leitura do hidrômetro indica que o consumo real medido foi
de 55 m³ em um prédio de cinco unidades. A CEDAE, porém, cobra a tarifa
multiplicando o número de unidades autônomas (economias) por 15 m³. Ou seja, 5
(cinco) economias x 15 m³ que totalizam 75 m³ a cada 30 dias. Muito mais do que
assinala a leitura do hidrômetro.

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Mais uma vez, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e
do Superior Tribunal de Justiça, unanimemente, vem condenando essa prática da
CEDAE:

A PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, Relatora a Ministra


Denise Arruda, no julgamento do Recurso Especial número 655.130, decidiu:
- “NOS CONDOMÍNIOS EDILÍCIOS COMERCIAIS E/OU RESIDENCIAIS, ONDE O
CONSUMO TOTAL DE ÁGUA É MEDIDO POR UM ÚNICO HIDRÔMETRO, A
FORNECEDORA NÃO PODE MULTIPLICAR O CONSUMO MÍNIMO PELO
NÚMERO DE UNIDADES AUTÔNOMAS, DEVENDO SER OBSERVADO, NO
FATURAMENTO DO SERVIÇO, O VOLUME REAL AFERIDO". Tal decisão foi
confirmada, por unanimidade, pela Primeira Seção do STJ no EResp. 655130."

A SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, Relator o Ministro Castro


Meira, no julgamento do Recurso Especial número 966.375, adotou, com as
mesmas palavras, o voto da Ministra Denise Arruda no Resp 655.130. Eis a
decisão proferida: - "NOS CONDOMÍNIOS EDILÍCIOS COMERCIAIS E/OU
RESIDENCIAIS, ONDE O CONSUMO TOTAL DE ÁGUA É MEDIDO POR UM
ÚNICO HIDRÔMETRO, A FORNECEDORA NÃO PODE MULTIPLICAR O
CONSUMO MÍNIMO PELO NÚMERO DE UNIDADES AUTÔNOMAS, DEVENDO
SER OBSERVADO, NO FATURAMENTO DO SERVIÇO, O VOLUME REAL
AFERIDO". (REsp. 655.130/RJ, Rel. Minúmero Denise Arruda. DJU de
28.05.07).

Mas, a CEDAE insiste em cobrar, mesmo após as decisões do STJ.

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III - FAIXA POLÊMICA

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TARIFA PROGRESSIVA RESIDENCIAL - CONSUMO SUPERIOR A 15 M -
UMA SÓ UNIDADE AUTÔNOMA (ECONOMIA)

A Tarifa Progressiva Residencial é cobrada quando uma só unidade autônoma,


residência, com um só hidrômetro, consome mais de 15 m³. No exemplo abaixo, a
medição mensal assinalou 19 m³. A primeira faixa de consumo é de 15 m³. A segunda,
tendo por base o cálculo da tarifa progressiva, é de 4 m³. Ou seja, o consumo acima dos
15 m³.

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Se existissem outras faixas de consumo, a tabela seria a seguinte:

IV - A GALINHA DOS OVOS DE OURO DA CEDAE

TARIFA PROGRESSIVA RESIDENCIAL - CONSUMO SUPERIOR A 15 M³


- VÁRIAS UNIDADES AUTÔNOMAS OU ECONOMIAS

A CEDAE cobra a tarifa progressiva quando existem várias unidades autônomas


(economias) e o consumo medido é superior à multiplicação do número de unidades
pelo consumo mínimo de 15 m³.
O exemplo abaixo demonstra que o condomínio possui 84 unidades autônomas.
Cada faixa de consumo resulta da multiplicação de 84 x 15 m³, isto é, 1.260 m³ por 30
dias. A primeira tarifa incide sobre 1.260 m³. A segunda tarifa sobre 1.260 m³
seguintes. E, assim, sucessivamente a cada 1.260 m³, caso a leitura do hidrômetro
assinale maior volume de consumo de água. Finalmente, a quinta tarifa progressiva
será aplicada aos metros cúbicos que ultrapassarem as 4 (quatro) primeiras faixas.
No exemplo ao lado, o consumo se refere a 29 dias. Por isso, em vez de 1.260 m³
relativa a 30 dias, cada faixa de consumo é de 1.218 m³ referentes aos 29 dias.

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Se existissem outras faixas de consumo, a tabela seria a seguinte:

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Veja como é absurda a tarifa progressiva comparando-a com a tarifa base:

CASO A

10 mansões
10 hidrômetros diferentes

Considere 10 mansões, com um hidrômetro em cada. Há apenas um morador por


mansão e cada um consome 15 m³. O total de água consumido pelas 10 mansões será
de 150 m³. São 10 hidrômetros que a CEDAE é obrigada a manter e conservar.
O valor que cada uma das mansões pagará de água e esgoto será:

Faixa de consumo Consumo Tarifa Água Esgoto

00 a 15/m³ 5 m³ 1,739 26,08 26,08

Considerando que cada mansão pagará, individualmente, R$ 52,16 de consumo, o


total será de 10 x R$ 52,16. Ou seja, R$ 521,60.
Logo, o total pago pelas 10 mansões, sem progressividade, é de R$ 521,60. Cada
metro cúbico (m³) de água e mais o serviço de esgoto custarão R$ 3,477 por m³,
totalizando R$ 3,477.

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CASO B

Uma só moradia com 10 moradores


Um único hidrômetro

Considere uma única moradia onde habitem 10 pessoas. Cada uma delas consome
15m³. O consumo dessa moradia, assinalado no único hidrômetro, será de 150/m³. É
um único hidrômetro que a CEDAE terá que manter e conservar. Ainda assim, a CEDAE
adota a tarifa progressiva a cada 15/m³, como veremos a seguir:

Como a medição foi feita por um único hidrômetro, a casa com 10 moradores
pagará pelo consumo de 150/m³ de água e esgoto a quantia de R$ 3.140,63. Cada
metro cúbico (m3) de água e mais o serviço de esgoto custarão R$ 20.94 por m³,
totalizando R$ 20,94.
A diferença é de R$ 2.618,93 entre uma casa com um único hidrômetro e dez
moradores, e dez mansões com dez hidrômetros e um morador por mansão. Mesmo
que o consumo seja idêntico: 150m³ de água!

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De olho nessa “galinha dos ovos de ouro”, a CEDAE não cumpre o que determina a
Lei Estadual que manda instalar hidrômetros individuais em cada uma das unidades
habitacionais. Além de descumprir a lei, a CEDAE ainda usou a fórmula da tarifa
progressiva para confundir os tribunais!
O que se discute não é a legalidade da tarifa progressiva por faixa de consumo, mas
a forma como é praticada. Além de ferir todos os princípios do Direito, a cobrança da
tarifa progressiva, nos moldes praticados pela CEDAE, constitui um autêntico
enriquecimento ilícito!
Está claro que, em um condomínio residencial, se a CEDAE instalasse um
hidrômetro para cada apartamento, a conta seria muito menor para cada um. Neste
caso, a tarifa progressiva só seria adotada para aqueles que consumissem mais de
15/m³. Mas a CEDAE não cumpre a lei e quem paga a conta é o consumidor.

Abaixo segue a lei, desrespeitada pela CEDAE, que está em vigor:

“O Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em


conformidade com o que dispõe o § 5º combinado com o § 7º do artigo 115 da
Constituição Estadual, promulga a Lei nº 3915, de 12 de agosto de 2002, oriunda do
Projeto de Lei nº 2930, de 2002.”

LEI Nº 3915, DE 12 DE AGOSTO DE 2002.

OBRIGA AS CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS A INSTALAREM


MEDIDORES NA FORMA QUE MENCIONA

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO D E C R E T A:

Art. 1º - As Concessionárias de Serviços Públicos serão obrigadas a instalar, no prazo


máximo de 12 (doze) meses, medidores individuais dos serviços que fornecerem.

Art. 2º - No caso do medidor instalado ser coletivo, caberá a Concessionária a


responsabilidade de cobrança em relação aos inadimplentes.

Art. 3º - Caberá ao representante legal do Condomínio ou do grupo vinculado ao


medidor coletivo encaminhar à Concessionária do Serviço, mês a mês, a relação dos
inadimplentes.

Art. 4º - As despesas com a instalação dos medidores serão arcados pela Concessionária.

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Art. 5º - Poderá o grupo ou o Condomínio, através do seu representante legal,
manifestar-se favorável ao medidor coletivo, hipótese em que a inadimplência será da
responsabilidade do próprio grupo ou Condomínio.

Art. 6º - As Concessionárias abrangidas pela presente Lei são as que fornecem luz, água,
gás, telefonia fixa.

Art. 7º - O não cumprimento da presente Lei penalizará o infrator em multa de 5.000


(cinco mil) UFIRs, no 1º mês e a partir do segundo mês, 1.000 (mil) UFIRs, até o seu
cumprimento, cuja receita reverterá para a melhoria do serviço.

Art. 8º - Fica proibida, pelas concessionárias, a cobrança por estimativa.

Art. 9º - Esta Lei entrará em vigor a partir da data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.

Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 2002”.

V - A JUSTIÇA CONDENA

A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO

A Súmula 82 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, embora considere


legal a cobrança da Tarifa Progressiva, nunca se deteve para examinar a forma da
progressividade. Mas, felizmente, muitos juízes e desembargadores não aceitam as
justificativas da CEDAE para a cobrança da progressividade.
Uma entre inúmeras decisões do Tribunal de Justiça resume bem a discordância
para com a prática da Tarifa Progressiva.
Trata-se da decisão nos Embargos Infringentes número 2007.005.00513, da 18ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, do qual foi relator o
Desembargador e, hoje, Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luis Felipe Salomão.

Em seu voto, afirma o Relator, em determinado trecho:

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"No tocante a alegação de ilegalidade da tarifa progressiva, é bem verdade
que este Relator vinha defendendo a possibilidade dessa forma de tarifação,
ao argumento de se constituir um mecanismo de política tarifária com escopo
de universalizar o fornecimento do serviço.

Ocorre que, revendo posicionamento anterior e adotando entendimento


contrário ao enunciado sumulado número 82 deste Tribunal, observa-se que
o regime de tarifas progressivas se encontra eivado de ilegalidade e
abusividade.

Tal fato se explica, pois, o critério de diferenciação de tarifas baseado apenas


no volume de consumo do usuário, não possui o condão de diminuir as
desigualdades sociais que, em tese, legitimariam essa forma de cobrança,
porquanto nem sempre quem consome mais água possuirá sua capacidade
contributiva superior àquele de menor consumo, acabando, assim, por
refletir em desigualdade insustentável ao caráter social que lhe dá suporte.

É certo que a falta de um critério seguro e efetivo de política social para a


instituição de tarifa progressiva, baseado segundo as categorias de usuários
e faixas de consumo, acaba por violar a isonomia material e desrespeitar os
princípios entabulados no art. 170, da CRFB/88, notadamente aquele
referente à defesa do consumidor, uma vez que a concessão de serviço público
encontra-se incluída no capítulo destinado à ordem econômica e financeira.

Desta feita, o critério de cobrança entabulado pela tarifação progressiva


infringe as normas cogentes previstas na legislação consumerista,
especialmente aquela contida no art. 51, IV, que considera nulas de pleno
direito as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis
com a boa-fé ou equidade.

Sendo assim, não há que se deixar de reconhecer a ilegalidade da tarifa


progressiva, pois, expõe o consumidor a desvantagem exagerada e abusiva,
porquanto o usuário não paga pelo consumo real de água, sendo certo que,
tal diferenciação de cobrança por escalonamento de consumo, não importa
em qualquer alteração na prestação do serviço ou se revela em favor da
população de menor poder aquisitivo, como forma de igualar as
desigualdades sociais e regionais.”

O Relator cita, em seu acórdão, várias decisões no mesmo sentido do Egrégio Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

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Comerciais

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I - ECONOMIZE E PAGUE MAIS POR ISSO

CONSUMO MÍNIMO COMERCIAL - 20 m3

Tarifa sobre o consumo mínimo comercial - uma só unidade


autônoma (economia)

O consumo mínimo comercial é o valor que o consumidor paga quando a leitura


do hidrômetro aponta consumo medido inferior a 20 m3. Trata-se, pois, de
pagamento da tarifa pelo consumo mínimo de 20 m3, e não de “Tarifa Mínima”, como a
Cedae, propositalmente, convencionou chamar.
No exemplo abaixo, verifica-se que o hidrômetro aponta um consumo real de
apenas 9 m3. Ainda assim, graças à lucrativa estratégia da “Tarifa Mínima”, o
consumidor é obrigado a pagar por 20 m3.

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O consumo mínimo de 20 m3 por hidrômetro é reconhecido pelo Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro e pelo Superior Tribunal de Justiça.

“O v. aresto recorrido deu interpretação correta aos artigos 4º da Lei 6.528/78 e 11, 29 e
32 do Decreto n. 82.587/78, ao julgar correta a cobrança de água, em valor
correspondente a um consumo mínimo presumido de 20 metros cúbicos mensais e não
de acordo com o registrado no hidrômetro. Recurso improvido. (REsp. 39.652-MG -
Relator Ministro Garcia Vieira - Primeira Turma do STJ).”

No mesmo sentido o REsp. 533.607 -RJ - Relator Min. Edson Vidigal.; Resp n. 209.067
Relator Ministro Humberto Gomes de Barros

II - LUCRO FÁCIL

CONSUMO MÍNIMO MULTIPLICADO PELO NÚMERO DE UNIDADES


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AUTÔNOMAS (ECONOMIAS) 20 m X economias

A cobrança do consumo mínimo de 20 m3 não foi suficiente para a Cedae. Para


lucrar ainda mais às custas do consumidor, a Companhia Estadual de Água e Esgoto do
Estado do Rio optou pela fórmula: 20 m3 multiplicados pelo número de unidades
autônomas. Dessa maneira, passou a faturar mais sem fornecer nenhuma gota a mais
por isso. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Superior Tribunal de
Justiça, por unanimidade, condenam essa prática, mas a Cedae insiste em passar por
cima da Lei.

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No exemplo abaixo, verifica-se que o consumo real, medido pelo hidrômetro, foi
de apenas 641 m3. Mas Cedae recorreu à calculadora para otimizar seu faturamento e
multiplicou 20 m3 por 96 unidades (economias), totalizando 1.920 m3 a cada 30dias
valor infinitamente maior ao registrado pelo hidrômetro.

A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e do Superior


Tribunal de Justiça condenam essa prática.

A PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, Relatora a Ministra


Denise Arruda, no julgamento do Recurso Especial n. 655.130, decidiu:-
"NOS CONDOMÍNIOS EDILÍCIOS COMERCIAIS E/OU RESIDENCIAIS, ONDE O
CONSUMO TOTAL DE ÁGUA É MEDIDO POR UM ÚNICO HIDRÔMETRO, A
FORNECEDORA NÃO PODE MULTIPLICAR O CONSUMO MÍNIMO PELO
NÚMERO DE UNIDADES AUTÔNOMAS, DEVENDO SER OBSERVADO, NO
FATURAMENTO DO SERVIÇO, O VOLUME REAL AFERIDO." Tal decisão foi
confirmada, por unanimidade, pela Primeira Seção do STJ no EResp.
655130.”

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E

A SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, Relator o Ministro Castro


Meira, no julgamento do Recurso Especial n. 966.375, adotou, com as
mesmas palavras, o voto da Ministra Denise Arruda no Resp 655.130. Eis a
decisão proferida:-"2. NOS CONDOMÍNIOS EDILÍCIOS COMERCIAIS E/OU
RESIDENCIAIS, ONDE O CONSUMO TOTAL DE ÁGUA É MEDIDO POR UM
ÚNICO HIDRÔMETRO, A FORNECEDORA NÃO PODE MULTIPLICAR O
CONSUMO MÍNIMO PELO NÚMERO DE UNIDADES AUTÔNOMAS, DEVENDO
SER OBSERVADO, NO FATURAMENTO DO SERVIÇO, O VOLUME REAL
AFERIDO" . (REsp. 655.130/RJ, Rel. Min. Denise Arruda. DJU de 28.05.07).

Mas, a CEDAE insiste em cobrar, mesmo após as decisões do STJ.

III - NA PONTA DO LÁPIS

TARIFA PROGRESSIVA COMERCIAL

Consumo superior a 20 m3 - uma só unidade autônoma (economia)


Faixas de consumo

A Tarifa Progressiva comercial é cobrada quando uma única unidade autônoma,


loja ou imóvel comercial, com um único hidrômetro, consome mais de 20 m3. No
exemplo abaixo, consideramos uma medição de 27 dias. A primeira faixa de consumo
é de 18 m3 e não 20 m3. A segunda medição é de 9 m3 e não 10 m3. O restante fica na
terceira faixa.

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Logo, o consumo medido foi de 33 m3 e a tarifa progressiva é a seguinte:

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IV - FÓRMULA MATEMÁTICA

TARIFA PROGRESSIVA COMERCIAL

Consumo superior a 20 m3 - várias unidades autônomas (economia)


Faixas de consumo

Quando existem várias unidades autônomas (economias) e o consumo medido é


superior à multiplicação do número de unidades pelo consumo mínimo de 20 m3, a
CEDAE cobra a tarifa progressiva. No exemplo abaixo consideramos um condomínio
com 222 unidades autônomas. Cada faixa de consumo resulta da multiplicação de 222
por 20 m3 , totalizando 4.440 m3. A primeira tarifa incide sobre 4.440 m3. A segunda
tarifa sobre os demais metros cúbicos.
O consumo medido pelo hidrômetro foi de 5.105 m3. Nos primeiros 4.440 m3 incide
a primeira tarifa. Sobre os demais, a segunda tarifa. No caso do consumo ultrapassar
4.440 m3 incidirá a terceira tarifa progressiva, obedecendo ao disposto no artigo 96,
inciso VII, do decreto 553 de 16 de janeiro de 1976, e artigo 96, inciso VII, do decreto
22.672 de 28 de dezembro de 1996.
A tabela da progressividade é a seguinte:

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V - O NOVO OVO DE COLOMBO

A TARIFA PROGRESSIVA COMERCIAL

A CEDAE descobriu o novo ovo de Colombo! Para multiplicar os lucros, a


Companhia Estadual de Água e Esgoto do Estado do Rio passou a considerar um
prédio ou condomínio naturalmente composto por inúmeras unidades
autônomas (economias) como uma única economia.
Decisões unânimes do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e do
Superior Tribunal de Justiça proíbem a CEDAE de usar o cálculo do consumo
mínimo de 20 m3 multiplicado pelo número de unidades autônomas.
Mas para driblar a Lei, nos casos em que é obrigada a cobrar a tarifa pelo
consumo efetivo medido pelo hidrômetro, a CEDAE recorre à conveniente
estratégia de considerar um condomínio de muitas unidades autônomas
(economias) como sendo uma única unidade ou economia.

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Logo, um condomínio que antes era considerado composto de 188 unidades
autônomas (economias), depois que obteve vitória na Justiça para pagar pelo
consumo real medido, voltou a ser alvo da esperteza da CEDAE, que estrategicamente
passou a encará-lo como uma única economia.
Ou seja, o Condomínio do Edifício Christian Barnard composto por 188 economias
(unidades autônomas) pagava pelo consumo mínimo de 20 m3 multiplicado pelo
número de unidades autônomas. Isto é, 3.760 m3 a cada 30dias, com uma única tarifa.

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Mas a CEDAE passou a considerar as 188 unidades autônomas (economias) como
se fossem uma única economia. Passou, então, a cobrar abusivamente e de má-fé,
assim:

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Vale repetir as palavras do Desembargador Sérgio Cavalieri, proferidas quando a
CEDAE inventou a tarifa mínima, multiplicando o consumo mínimo pelo número de
unidades autônomas (economias). Vejamos a semelhança:

Por ocasião do Julgamento dos Embargos Infringentes n. 257/94 na Apelação n.


2.367/94 - do Segundo Grupo de Câmaras Cíveis do TJRJ - o Relator Desembargador
Sérgio Cavalieri Filho desmascarou a ilegalidade praticada pela CEDAE:

“... Ora, no caso em exame o consumo mínimo do prédio do autor, por se tratar de
usuário comercial, seria de 20 metros cúbicos-mês, consoante artigo 1º, do Decreto n.
7.940/84. O hidrômetro mediu, no mês de fevereiro de 1993, um consumo real de 67
m3, superior ao limite mínimo, mas a embargante cobrou 336 m3. Curiosamente, no
mês de fevereiro de 1992, o consumo real foi 42 m3 e a cobrança também, o que
evidencia que, a partir de determinado momento, a embargante modificou
drasticamente a sua política tarifária.

O ovo de Colombo que a embargante parece ter descoberto (ou a galinha dos ovos de
ouro), foi calcular o consumo mínimo não mais pelo número de hidrômetros, mas, sim
pelo número de economias ou unidades imobiliárias existentes no prédio. Verifica
quantas unidades imobiliárias existem em um determinado prédio, digamos,
cinqüenta, e multiplica o consumo mínimo regulamentar pelo número de unidades (20
m3 x 50 = 1.000 m3), desconsiderando por completo a existência do hidrômetro. Com
isso, conseguiu transformar o consumo mínimo em consumo muito superior ao real,
superior mesmo à própria capacidade de fornecimento da CEDAE, ganhando
literalmente por aquilo que não fornece”.

Mas a CEDAE prefere contrariar o disposto no artigo 96, inciso VII, do decreto 553
de 16 de janeiro de 1976 e artigo 96, inciso VII, do decreto 22.672 de 28 de dezembro
de 1996. E, além disso, passou a desrespeitar o próprio Decreto que regulamenta os
serviços de água e esgoto no Estado do Rio.

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DECRETO Nº 22.872 DE 28 DE DEZEMBRO DE 1996 O GOVERNADOR DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO, no uso da atribuição que lhe confere o artigo 145, inciso IV, da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro e tendo em vista o disposto no artigo 29, inciso
I, da Lei Federal nº 8987/95 e no artigo 8º, inciso I da Lei Estadual nº 1481/89,

DECRETA:

Art. 1º - Fica aprovado o Regulamento dos Serviços Públicos de Abastecimento de Água e


Esgotamento Sanitário do Estado do Rio de Janeiro, aplicável às Concessionárias e
Permissionárias de Água e Esgotamento Sanitário, anexo ao presente Decreto.

Art. 2º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as


disposições em contrário, em especial excetuado* o Decreto nº 553, de 16 de janeiro de
1976 e anexo.

O que o Decreto classifica como economias, dispõe o artigo 96:

Art. 96 - Para efeito deste Regulamento, considera-se como ECONOMIA:

VII - cada grupo de quatro salas, ou fração de quatro, com instalação de água em
comum;

E também o Decreto anterior n. 553/76 que, de acordo com o Decreto acima 22.872/96,
não foi por ele revogado.

DESCUMPRIMENTO AO DECRETO N. 553 DE 16 DE JANEIRO DE 1976

Descumpriu, também, o Decreto Estadual 553 de 16 de janeiro de 1976 cujo artigo 96


sobre a classificação de economias:

Art. 96- Para efeito deste Regulamento, considera-se como ECONOMIA:

VII - Cada grupo de quatro salas, ou fração de quatro, com instalação de água em
comum.

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d’água

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I - DILEMA QUE FALA AO BOLSO

Pena d’água (Limitador de consumo) x hidrômetro da CEDAE:


o que é e como funciona

O que é melhor: limitador de consumo (pena d`água) ou a instalação de


hidrômetro para apuração do consumo real, medidor de água fornecida pela CEDAE?
O consumidor tem o direito de pagar o consumo real, medido pelo hidrômetro.
Porém, se o consumo for menor do que o mínimo, o consumidor será obrigado a pagar
o consumo mínimo por hidrômetro.
No imóvel residencial, o mínimo a pagar são 15m³, que correspondem a 15.000
litros de água. No imóvel comercial, o mínimo a pagar são 20m³, que correspondem a
20.000 litros de água.
Para que seja feito desta forma, contudo, será necessária a instalação de um
hidrômetro. Ao contrário, o limitador de consumo ou a chamada pena d`água não
leva em conta o consumo real medido, mas sim o número de quartos existentes no
imóvel, quando residencial, e a área construída quando o imóvel é comercial.

Como funciona a Categoria Residencial

O valor do metro cúbico (m³) de água residencial é de R$ 1,525. Quem paga água e
esgoto, pelo consumo mínimo de 15m³, terá uma conta de R$ 22,87 de água e igual
valor de esgoto, totalizando a conta mensal de R$ 45,75.

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Em uma casa com 5 quartos onde não existe hidrômetro e a conta é por estimativa
(limitador de consumo), o consumidor irá pagar 75m³. Mesmo que só more uma
pessoa e que o consumo seja inferior a 15m³. Portanto, com o hidrômetro o
consumidor pagará muito menos.
Além de pagar pelo que não consome, ainda existe a agravante da Tarifa
Progressiva. A cada 15m³, altera-se o valor da tarifa, desta forma:

No nosso entender, a melhor opção é a instalação de hidrômetro, com a medição


do consumo real e o pagamento de acordo com o que assinalar o equipamento.
Se o seu imóvel não tem hidrômetro e a sua conta é cobrada por estimativa, isto é,
limitador de consumo ou pena d`água e você pretende colocar um hidrômetro, deverá
proceder da seguinte forma, segundo orientação da CEDAE:

1. Procure a loja da Nova CEDAE mais próxima do seu imóvel.


2. A CEDAE enviará um técnico ao imóvel para verificar as condições de
instalação.
3. A CEDAE, a seguir, dará a orientação sobre o tipo de hidrômetro que você
deverá adquirir e as instruções para a construção da caixa protetora do
hidrômetro.
4. Você deverá adquirir um hidrômetro, encontrado em lojas de material de
construção.
5. Ao comprar o hidrômetro exija a nota fiscal com o endereço do imóvel onde
será instalado, as características do hidrômetro e a sua numeração.
6. Avise à loja da CEDAE quando a caixa de proteção do hidrômetro estiver
pronta e apresente a nota fiscal da compra do aparelho para ser anexada ao
processo.
7. A CEDAE marcará nova vistoria para aprovar a instalação e, se tudo
estiver de acordo com as exigências, ela informará a data de instalação do
hidrômetro.

Conta de água com


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O pagamento pelo consumo real, medido pelo hidrômetro, dá ao consumidor a
possibilidade de acompanhar e diminuir o consumo se ele for além de 15m³. Já o
pagamento pelo consumo estimado não leva em conta a medição, pois não existe
hidrômetro e, com isso, o consumidor não tem vantagem alguma se reduzir o
consumo. Isso porque a cobrança será sempre a mesma todo mês.
Por tais motivos, aconselhamos a colocação de hidrômetro nos imóveis que pagam
contas de água e de esgoto por estimativa, por limitador de consumo (pena d`água).

II - RECONHEÇA SEU DIREITO

Se o consumidor não concordar em pagar as despesas de hidrômetro, poderá


valer-se do Poder Judiciário e exigir o cumprimento da Lei Estadual n. 3.915, de
12/08/2002, que atribui à CEDAE tal responsabilidade.
Eis o texto da lei:

O Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em


conformidade com o que dispõe o § 5º combinado com o § 7º do artigo 115 da
Constituição Estadual, promulga a Lei nº 3915, de 12 de agosto de 2002, oriunda do
Projeto de Lei nº 2930, de 2002.

LEI Nº 3915, DE 12 DE AGOSTO DE 2002

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DECRETA:

Art. 1º - As Concessionárias de Serviços Públicos serão obrigadas a instalar, no


prazo máximo de 12 (doze) meses, medidores individuais dos serviços que
fornecerem.

Art. 2º - No caso do medidor instalado ser coletivo, caberá a Concessionária a


responsabilidade de cobrança em relação aos inadimplentes.

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Art. 3º - Caberá ao representante legal do Condomínio ou do grupo vinculado ao
medidor coletivo encaminhar à Concessionária do Serviço, mês a mês, a relação dos
inadimplentes.

Art. 4º - As despesas com a instalação dos medidores serão arcados pela


Concessionária.

Art. 5º - Poderá o grupo ou o Condomínio, através do seu representante legal,


manifestar-se favorável ao medidor coletivo, hipótese em que a inadimplência será
da responsabilidade do próprio grupo ou Condomínio.

Art. 6º - As Concessionárias abrangidas pela presente Lei são as que fornecem luz,
água, gás, telefonia fixa.

Art. 7º - O não cumprimento da presente Lei penalizará o infrator em multa de


5.000 (cinco mil) UFIRs, no 1º mês e a partir do segundo mês, 1.000 (mil) UFIRs,
até o seu cumprimento, cuja receita reverterá para a melhoria do serviço.

Art. 8º - Fica proibida, pelas concessionárias, a cobrança por estimativa.

Art. 9º - Esta Lei entrará em vigor a partir da data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.

Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 2002.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

JURISPRUDÊNCIA

Existem decisões do Tribunal de Justiça que mandam a CEDAE instalar o medidor


de consumo (hidrômetro), como determina a Lei 3.915/2002.
As apelações ns. 2008.001.12053, 2008.001.49504, 2008.001.03512,
2007.001.32039 trazem decisões favoráveis ao consumidor e determinando que a
CEDAE instale os hidrômetros por sua conta e não às custas do consumidor.
O Agravo de Instrumento n. 2008.002.35458, da 8ª Câmara Cível, Relatora a
Desembargadora Mônica Maria Costa, é claro ao determinar que a CEDAE obedeça à
Lei e instale o hidrômetro, como se pode ler, na Ementa a seguir:

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Sobre o autor

Rômulo Cavalcante Mota é advogado militante no mercado


imobiliário desde 1960. Foi presidente da Abadi (Associação
Brasileira das Administradoras de Imóveis) por três mandatos,
diretor jurídico desta Associação nove vezes, e é vice-presidente
do departamento jurídico do Secovi Rio (Sindicato da Habitação)
há dez anos. Como advogado, venceu centenas de ações contra
o município do Rio de Janeiro, em que questionava a
inconstitucionalidade do IPTU, e dezenas de ações contra a
Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto), referentes à
cobrança ilegal de tarifas de água e esgoto.

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