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1.

INTRODUÇÃO

No dia-a-dia do professor de Matemática do ensino Fundamental e do Médio,


é comum o docente encontrar alunos que chegam ao final do 9º ano, último ano do
ensino fundamental, com varias dúvidas sobre a resolução de equações de grau
maior que dois, Que não são sanadas com a conclusão do ensino médio e a
consequente abordagem de equações polinomiais.

Além disso, os cursos de matemática de nível superior, em particular o do


IFBA Campus Eunápolis, não englobam em suas estruturas curriculares, disciplinas
que abordem fórmulas resolventes de equações de grau superior a dois. Também,
não é comum encontrar fontes acadêmicas que tratem exclusivamente tais
questões.

A existência de diversos softwares capazes de solucionar equações, de altas


complexidades, de diferentes graus e a dificuldade de se obter, manualmente as
mesmas raízes, através de formulas resolventes, seja talvez, um motivo para a
escassez destas fontes.

Considerando então, a pouca disponibilidade de trabalhos acadêmicos sobre


a resolução de equações de 3º e 4º grau, esse trabalho tem como objetivo
apresentar o método de resolução de equações algébricas por radicais, abordado a
partir do seu desenvolvimento histórico. Além disso, investiga também o porquê de
equações de grau igual ou superior a 5 não possuir uma fórmula resolutiva.

Desta forma, este trabalho justifica-se por servir como fonte de pesquisas
iniciais para aqueles que se interessarem por este tema e também, por apresentar
uma abordagem mais profunda a respeito das resoluções das equações polinomiais.

Produzido a partir de pesquisa bibliográfica e aprofundamento dos cálculos


algébricos, o trabalho foi estruturado em capítulos que apresentam os motivos pelos
quais se estudou as equações algébricas polinomiais e seu desenvolvimento
histórico. Assim, cada capitulo apresenta os fatos mais importantes, em ordem
cronológica, que culminaram com a descoberta de um método de resolução de
equações algébricas por radicais, separadas de acordo com o grau, que variam do

12
1º ao 4º. Por último, apresenta os desdobramentos a respeito das equações
algébricas de 5º grau.

2. EQUAÇÕES DO 1º GRAU
13
2.1. A necessidade de se estudar equações algébricas polinomiais

A fim de comprovar a necessidade de se estudar equações algébricas


polinomiais, consideremos o seguinte problema: Eduardo construiu uma caixa em
forma de bloco retangular, sem tampa, a partir de uma folha retangular de cartolina
que media 33 cm por 20 cm, recortando um quadrado em cada vértice do retângulo
(ver figura 1). Depois de pronta, Eduardo verificou que a caixa fica completamente
cheia após despejar um saco de 1,05 litros de areia. Como Eduardo deverá
proceder para descobrir a medida do lado do quadrado?

Todo o problema consiste em determinar a medida do quadrado que foi


cortado em cada vértice, assim iniciemos mostrando a planificação desta caixa após
o recorte.

Figura 1

Inicialmente, ele deverá identificar as dimensões da caixa, em função da


medida x do lado do quadrado (ver figura 2).

Figura 2

O volume de um bloco retangular (paralelepípedo) é dado por

14
V = (comprimento) ∙ ( largura) ∙ (altura),

isto é:

V = (33 – 2x) ∙ (20 – 2x) ∙ x

V = 4x3 – 106x2 + 660x

A condição do problema é V = 1,05 litro = 1050 cm 3, assim

4x3 – 106x2 + 660x = 1050

O valor de x procurado é uma solução da equação simplificada

2x3 – 53x2 + 330x – 525 = 0

Note que a solução do problema é determinada através da resolução da


equação algébrica, por isso se faz necessário o estudo sobre as resoluções das
equações.

As equações algébricas exponenciais, diferenciais trigonométricas ou de


qualquer outra natureza constituem, pelo menos do ponto de vista prático a parte
mais importante da matemática. “Qualquer problema que possa ser solucionado
através dos números certamente será tratado, direto ou indiretamente por meio de
equações”. (Garbi, 1997, p.1)

São vários os tipos de equações, abaixo segue alguns exemplos:

 x2 + 7x + 10 = 0, equação polinomial

9 2
   2 , equação fracionária
x  4 y 1

 x7 + x3 + 20x = 3
x 5 – 3x2 + 8, equação irracional, entre outras.

Todos os exemplos acima são classificados como equações algébricas. Outro


tipo de equação são as transcendentes. Uma equação transcendente é uma
equação que contém alguma função que não é redutível a uma fração entre
polinômios, e cuja solução não pode ser expressa através de funções elementares.

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De modo geral, uma equação transcendente não possui uma solução exata
expressa através de funções conhecidas, sendo necessário recorrer ao cálculo
numérico para obter uma solução. As equações transcendentes mais comuns são:
 equações trigonométricas em que a incógnita aparece tanto como argumento
de uma função trigonométrica quanto independente. Ex.: a Equação de Kepler,
x - a sen(x) = b.
 equações logarítmicas com combinações do logaritmo e da incógnita. Ex.: O
NIS (Nível de Intensidade Sonora) é dado em decibéis (dB) por
10
 IS 
NIS = log  ,
 IR 

em que IS é a intensidade sonora e IR é o valor padrão de intensidade (em watt por


cm²). Entre outras.

2.2. Equações Algébricas

A própria linguagem cotidiana já se apropriou de expressões pertencentes à


linguagem algébrica, como o verbo “equacionar” e expressões como o “xis do
problema”.

“Equacionar um problema”, mesmo entre os leigos, é generalizadamente


entendido como colocá-lo dentro de um mecanismo do qual ele sairá
inapelavelmente resolvido (Garbi, 1997, p.1).

Para entender por quais motivos as equações assumiram um papel tão


importante, é preciso não esquecer que a palavra equação vem da mesma raiz
latina que originou as palavras “igual” e “igualdade”. Ora a Ciência, cuja essência é o
estabelecimento de correlações entre fatos, conceitos e idéias, está sempre
descobrindo equivalências entre associações de entes e utiliza as equações, como
linguagem, forma ou veículo para expressar tais correlações.

Resolver uma equação é, através da correlação que ela expressa, encontrar


alguma coisa que desconhecemos e que costumamos denominar incógnita. A

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solução de uma equação pode ser um ou mais números, mas, pode também, ser a
medida de uma grandeza física, como uma distância, um peso, um intervalo de
tempo; uma grandeza química, como o número de átomos de hidrogênio mais
oxigênio que sob certas condições produzem água, etc.

Equações Algébricas são aquelas em que a incógnita aparece apenas


submetida às chamadas operações algébricas (soma, subtração, multiplicação,
divisão, potenciação e radiciação). (Garbi, 1997, p.4). Por exemplo:

ax + b = c

ax2 + bx + c = 0

x7 + x3 + 20x = 3 2
x 5 – 3x + 8

x –2 = 5 + x –1

Por outro lado, as equações a seguir não são algébricas,

x4 + 2x3 = – 7 + e – x

tg x + cotg (3x) = 3

 
cos  x  = – 1
 6

Quando uma equação algébrica é colocada sob a forma

ao xn + a1 xn-1 + ... + an-1 x1 + an = 0 ( n inteiro positivo)

diz-se que ela está em sua Forma Canônica e a mesma é chamada de Equação
Polinomial. Sendo estas equações nosso objeto de estudo, voltaremos nossa
atenção para elas a partir daqui.

O maior expoente da incógnita em uma equação algébrica em sua forma


canônica é denominado o grau da referida equação. Deste modo, a equação

x6 – 6x4 + 13x3– 14x2 + 12x – 8 = 0 ,

é uma equação do 6º grau.

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Segundo Dante (2004, p. 542), denomina-se raiz da equação algébrica

ao xn + a1 xn-1 + ... + an-1 x1 + an = 0

o valor α de x que satisfaz a igualdade, ou seja, o valor tal que:

ao α n + a1 α n-1 + ... + an-1 α 1 + an = 0.

Por exemplo,
x2 + x – 6 = 0
admite x = – 3 como raiz pois,
(– 3 )2 + (– 3 ) – 6 = 0.
Equações do tipo

x7 + x3 + 20x = 3 2
x 5 – 3x + 8

x – 2 = 5 + x – 1,

embora algébricas, não são polinomiais e, portanto, não faz sentido falar em grau. A
primeira equação pertence à classe das irracionais e a segunda à classe das
equações fracionárias.

2.3. Desenvolvimento da notação algébrica

Quanto ao desenvolvimento da álgebra, a fase antiga (elementar), que


abrange o período de 1700 a.C. a 1700 d.C., aproximadamente, caracterizou-se pela
invenção gradual do simbolismo e pela resolução de equações (em geral
coeficientes numéricos) por vários métodos, apresentando progressos pouco
importantes até a resolução "geral" das equações cúbicas e quárticas e o inspirado
tratamento das equações polinomiais em geral feito por François Viéte (1540-1603),
também conhecidos por Vieta.

18
O desenvolvimento da notação algébrica evoluiu ao longo de três estágios: o
retórico (ou verbal), o sincopado (no qual eram usadas abreviações de palavras) e
o simbólico. No último estágio, a notação passou por várias modificações até tornar-
se razoavelmente estável ao tempo de Isaac Newton.

Como a álgebra, provavelmente, se originou na Babilônia, parece apropriado


ilustrar o estilo retórico com um exemplo daquela região. O problema seguinte
mostra o relativo grau de sofisticação da álgebra babilônica. É um exemplo típico de
problemas encontrados em escrita cuneiforme 1, em tábuas de argila que remontam
ao tempo do rei Hammurabi. A explanação, naturalmente, é feita em português; e
usa-se a notação decimal indo-arábica em vez da notação sexagesimal cuneiforme.
A coluna à direita fornece as passagens correspondentes em notação moderna. Eis
o exemplo (http://www.somatematica.com.br/algebra.php.):

[1] Comprimento, largura. Multipliquei comprimento por largura, obtendo


assim a área: 252. Somei comprimento e largura: 32. Pede-se: comprimento e
largura.

x+y=k
[2] [Dado] 32 soma; 252 área.
x . y= P (I)
[3] [Resposta] 18 comprimento; 14
largura.

[4] Segue-se este método: Tome


k/2
metade de 32 [que é 16].

16 x 16 = 256 (k/2)2

256 - 252 = 4 (k/2)2 - P = t2 (II)

2
k
A raiz quadrada de 4 é 2.   P t
2

16 + 2 = 18 comprimento. (k/2) + t = x.
1
A escrita cuneiforme foi desenvolvida pelos sumérios, sendo a designação geral dada a certos tipos
de escrita, feitas com auxílio de objetos em formato de cunha. É juntamente com os
hieróglifos egípcios, o mais antigo tipo conhecido de escrita, tendo sido criado pelos sumérios por
volta de 3500 a.C. Inicialmente a escrita representava formas do mundo (pictogramas), mas por
praticidade as formas foram se tornando mais simples e abstratas.
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16 - 2 = 14 largura (k/2) - t = y.

[5] [Prova] Multipliquei 18 comprimento


((k/2)+t) ((k/2)-t)
por 14 largura.
= (k2/4) - t2 = P = xy.
18 x 14 = 252 área

Nota-se que na etapa [1] o problema é formulado, na [2] os dados são


apresentados, na [3] a resposta é dada, na [4] o método de solução é explicado com
números e, finalmente, na [5] a resposta é testada.
A "receita" acima é usada repetidamente em problemas semelhantes. Ela tem
significado histórico e interesse atual por várias razões. Entretanto, não é a maneira
como resolveríamos hoje o sistema (I).
O procedimento padrão nos atuais textos escolares de álgebra é resolver,
digamos, a primeira equação para y (em termos de x), substituir na segunda
equação e, então, resolver a equação quadrática resultante em x; em outras
palavras, usaríamos o artifício da substituição. Os babilônios também sabiam
resolver sistemas por substituição, mas frequentemente preferiam usar seu método
paramétrico. Ou seja, usando-se notação moderna, eles concebiam x e y em termos
de uma nova incógnita (ou parâmetro) t fazendo
k k
x t e y  t .
2 2

Então o produto
k  k   k 2
xy =   t   t  =   t2 = P
2 2  2

levava-os à relação (II):


2
k
  Pt
2

2

O problema acima tem significado histórico porque a álgebra grega


(geométrica) dos pitagóricos e de Euclides seguia o mesmo método de resolução,

20
traduzida, entretanto, em termos de segmentos de retas e áreas e ilustrada por
figuras geométricas.
Alguns séculos depois, outro grego, Diofanto, também usou a abordagem
paramétrica em seu trabalho com equações "diofantinas". Ele deu início ao
simbolismo moderno introduzindo abreviações de palavras e evitando o estilo um
tanto intrincado da álgebra geométrica.
Já os matemáticos árabes (inclusive al-Khowarizmi) não usavam o método
empregado no problema anterior; preferiam eliminar uma das incógnitas por
substituição e expressar tudo em termos de palavras e números.
A álgebra babilônica era capaz de resolver uma variedade surpreendente de
equações, inclusive certos tipos especiais de cúbicas e quárticas.

2.4. Surgimento e desenvolvimento das equações

Os matemáticos e astrônomos babilônicos do II milênio a.C., realizaram feitos


surpreendentes: eles conheciam a propriedade geral dos triângulos retângulos, que
hoje chamamos de teorema de Pitágoras e que era de conhecimento dos chineses
no séc. XII a.C., resolviam equações do primeiro e segundo graus, calculavam áreas
e volumes de certas figuras geométricas, determinavam com grande precisão a raiz
de 2, entre outras coisas.

Embora os primeiros conhecimentos matemáticos fossem sendo acumulados


de maneira indutiva e não dedutiva, talvez, nesta época, as descobertas
matemáticas contavam com o apoio de algum raciocínio dedutivo não formalizado,
que desconhecemos.

Dentre todos os antigos documentos matemáticos que chegaram aos dias de


hoje, talvez os mais famosos sejam os chamados Papiro de Ahmes (ou Rhind),
papiro informativo que apresenta dados sobre trigonometria, aritmética, equações,
área de volume, e o Papiro de Moscou, que tem dimensões de 8 cm por 5 cm e
conta com 25 problemas de geometria e matemática. O de Ahmes é um longo papiro
egípcio, de cerca de 1.650 a.C., onde um escriba de nome Ahmes, ensina as
21
soluções de 85 problemas de aritmética e geometria. Este papiro foi encontrado pelo
egiptólogo inglês Rhind no final do século 19 e hoje está exposto no Museu
Britânico, em Londres.

O de Moscou é um pouco mais velho e contém a fórmula correta para o


cálculo do volume de um tronco de pirâmide. Muito provavelmente existiram papiros
análogos anteriores, mas estes foram os mais velhos que se salvaram. Além disso, o
de Ahmes notabilizou-se por ter sido seu autor o mais antigo matemático cujo nome
a história registrou. Em ambos os papiros aparecem problemas que contêm tímida e
disfarçadamente, equações de 1º grau (ver figuras 3 e 4).

Figura 3 Figura 4

O problema 25 do papiro de Ahmes dizia: “Uma quantidade e sua metade,


somadas juntas, resultam 16. Qual é a quantidade?”. Em notação atual o
problema 25 equivale à equação do 1º grau
x
x  16 .
2
Evidentemente, os egípcios não adotavam a simbologia algébrica moderna e nem
sabiam resolver equações, mesmo as de 1º grau, pelos nossos métodos. Mas de
acordo com Garbi (2007, p. 12), eles usavam uma técnica muito engenhosa que lhes
permitia encontrar a resposta correta e que veio a ser chamada de "Regra da Falsa
Posição". Por esta regra, fazia-se uma hipótese inicial qualquer a respeito do
número desejado e verificava-se o que ocorria.
22
Para se resolver esta equação pelo método da falsa posição, consideremos
x = 2.
Com este valor computa-se a expressão
x
x  3.
2
16
Deste modo o fator de correção deve ser , pois este vezes 3 resulta o lado
3
direito da equação original que é igual a 16, ou seja, o valor correto de x, deve ser

16 32
.2  .
3 3

2.5. As primeiras demonstrações e a busca de um método prático para


resolução da equação do 1º grau

Tales visitou o Egito e a Babilônia, e de lá trouxe para a Grécia o estudo


da Geometria. Entretanto, ao invés de apenas transmitir o que aprendera, introduziu
um conceito revolucionário: o de que as verdades matemáticas precisam ser
demonstradas. A partir daí começaram as demonstrações dos teoremas, através de
Tales.

Poucas décadas depois, Pitágoras, que provavelmente estudou com Tales ou


com seus discípulos na chamada escola de Mileto, demonstrou o teorema dos
triângulos retângulos, sem dúvida o mais famoso e popular de toda a Matemática.

Pitágoras criou uma escola voltada ao estudo da Filosofia, das Ciências e da


Matemática por volta de 540 a.C. em Crotona, sul da Itália. Então quando Pitágoras
demonstrou que em um triângulo retângulo vale a relação

a2 = b2 + c2,

produzi-se pela 1º vez na Europa, uma equação do 2º grau, com um atraso de pelo
menos 1 200 anos em relação ao que já havia acontecido na Babilônia.

Após Tales e Pitágoras as descobertas geométricas avançaram rapidamente,


basicamente graças aos gregos, que através de Atenas, viveu um glorioso caminho

23
cultural. Mas quando Felipe da Macedônia passou a controlar a maior parte do
mundo grego e seu sucessor, Alexandre Magno, conquistou boa parte da Ásia, criou
no delta do rio Nilo uma cidade portuária chamada Alexandria, no Egito.

Após a morte de Alexandre, o Egito ficou sob controle de Ptolomeu I, que


criou a chamada Universidade de Alexandria, formada por um museu e uma
gigantesca biblioteca, onde por volta de 300 a.C. surgiu um gênio que se encarregou
de sintetizar e sistematizar o conhecimento matemático que se reunirá até então.
Este homem foi Euclides, autor dos Elementos, considerados por muitos o mais
influente livro texto de matemática de todos os tempos Garbi ( 2007, p. 18).

Euclides demonstrou alguns importantíssimos teoremas da Teoria dos


Números e introduziu conceitos que se tornaram fundamentais na solução de
equações. Logo no inicio dos Elementos ele explicou algumas verdades evidentes
por si mesmas, agrupando-as em postulados de natureza geométrica (cinco) e em
noções comuns (também cinco). As noções comuns de Euclides foram:

1. Coisas iguais à mesma coisa são iguais entre si.


2. Se a quantidades iguais se adicionam quantidades iguais, obtêm-se
quantidades iguais.
3. Se a quantidades iguais se subtraem quantidades iguais, obtêm-se
quantidades iguais.
4. Coisas que coincidem são iguais.
5. O todo é maior que a parte.
Embora não tenha sido diretamente enunciada por Euclides, é fácil aceitar
outra verdade.
6. Iguais multiplicados ou divididos por iguais continuam iguais.
Estes são os conceitos para a solução das equações do 1º grau. Suponha-se,
por exemplo, a seguinte equação.
3x + 2 = 8
Pela verdade evidente (3), se subtrairmos dos dois lados o número 2, a
igualdade se preserva. Logo
3x + 2 – 2 = 8 – 2 ou
3x = 6

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Pela verdade decorrente 6, se dividirmos os dois lados pelo número 3, a
igualdade se preserva. Assim
3x 6
 ou
3 3

x=2

Desta forma, foi descoberto um método geral de resoluções das equações do


1º grau, sem as angustias da Regra da Falsa Posição, com base em verdades
evidentes por si mesmas, válidas tanto para a Geometria como para a Aritmética.

3. EQUAÇÕES DO 2º GRAU

3.1. Uma nova página no desenvolvimento da matemática

Mesmo antes de um método prático para resolução das equações do 1° grau


ser descoberto, as equações do 2º grau já eram conhecidas há muito tempo e sua
resolução desafiava a mente humana. Foram os Babilônios, que habitaram a antiga
mesopotâmia, atual região do Iraque, os primeiros que resolveram problemas de
encontrar dois números desconhecidos, tal que a soma entre eles e o produto era
sabido, cuja solução recai numa equação do 2º grau.

Mas o primeiro tratado a abordar sistematicamente as equações do 2º grau e


suas soluções foi Os Elementos de Euclides. Em Os Elementos, Euclides nos dá
soluções geométricas da equação do segundo grau. Mas os métodos geométricos
ali encontrados, embora interessantes, não são práticos.
25
Após Euclides, passaram pela universidade de Alexandria outros grandes
matemáticos, que ao longo dos séculos, contribuíram grandemente para a evolução
desta ciência. Entretanto a conquista do Egito por Roma em 31 a.C. afetou bastante
o desempenho da universidade e somente um século depois voltaram a aparecer
outros grandes nomes. Entre eles é importante ressaltar Diofanto, que em torno do
ano 250, publicou o tratado Arithmetica do grego Diofanto, um conjunto de 13 livros
sobre soluções racionais de equações algébricas, no qual aparece o método de
resolução dos Babilônios.

Diofanto é considerado o pai da álgebra, no sentido de ter sido o primeiro a


empregar notações simbólicas para expressões algébricas, pois os tratados de
matemática dos precursores dele eram escritos no estilo retórico. Entretanto suas
notações eram bem diferentes das empregadas hoje.

Embora, a Universidade de Alexandria, ainda tenha visto aparecer grandes


nomes que se dedicaram ao estudo da matemática, ela teve o século V d.C. como
referência do fim da matemática grega, ou seja, a partir desse período a matemática
grega deixou de prestar relevantes contribuições ao desenvolvimento da
matemática. A universidade ainda resistiu por mais dois séculos, até sua extinção.

Paralelo a isso, o poderoso império Romano, assolado por uma série de


problemas internos e externos, acabou sendo dividido em 395. A parte Romana do
Império Ocidental, cuja capital era Roma, acabou então sendo invadida pelos Godos
por volta de 475, marcando assim o inicio da Europa na chamada Idade das “trevas”,
caracterizada pela obscuridade intelectual, enquanto o Império Romano do oriente
resistiu por séculos embora tenha perdido o Egito para os árabes em 641, dando aí,
início a uma nova página na história da “Rainha das Ciências”.

3.2. A grande contribuição árabe

26
O califa2, al–Mansur (reinou de 754 a 775), construiu Bagdad, hoje capital do
Iraque, às margens do rio Tigre, desejando fazer dela uma nova Alexandria e para lá
atraiu sábios de várias regiões. Já o califa Harun al–Raschid (reinou de 786 a 809),
ordenou que Os Elementos fossem traduzidos para o árabe, fato que permitiu que a
Europa mais tarde, reencontrar-se os perdidos ensinamentos de Euclides. Seu filho
Al-Mamun (reinou de 813 a 833) criou uma escola científica cuja biblioteca foi a
melhor do mundo desde que a que existira em Alexandria e assim foram salvas
importantes obras de gênios da Antiguidade Clássica.

Tal instituição criada por Al-Mamun, conhecida como a Casa da Sabedoria,


recebeu muitos dos melhores cientistas do mundo e entre eles o famoso astrônomo
e matemático Abu-Abdullah Muhamed ibn-Musa Al-Khwarizmi. De Al-Khwarizmi
derivam-se as palavras algarismo e algoritmo, ambas as latinizações de Al-
Khwarizmi.

A pedido do Califa Al-Mamun, Al-Khwarizmi escreveu uma obra popular sobre


a ciência das equações, chamada Al-Kitab Al-jabr wa’l Muqabalah, que pode ser
traduzida como O Livro da Restauração e Balanceamento. O termo Al-jabr,
significa restauração, e daí derivou-se a palavra álgebra, ele era empregado por Al-
Khwarizmi para designar operações em que, por exemplo,

x–3=6

passa a

x = 9,

significando uma “restauração” de

x–3

a torna-se a incógnita completa x.

2
Califa era o título que se atribuía ao chefe supremo do islamismo, durante o período de expansão do
Império Árabe.O califa era considerado o sucessor de Maomé e possuía vários poderes relacionados
à justiça, economia, ações militares e ações religiosas.
27
No seu trabalho, Al-Khwarizmi apresenta dois métodos geométricos de
solução da equação do 2º grau, sem a utilização de notações simbólicas em seu
tratado, pois suas equações são escritas no estilo retórico.

Para exemplificar seus dois métodos, segue a solução da equação do 2º grau


realmente encontrada no trabalho de Al-Khwarizmi

x2 + 10x = 39

Solução da equação 1º método:

Primeiramente, a equação é escrita na forma

10
x2  4   x  39
4

ou seja

5
x 2  4   x  39
2

Figura 5 3

Interpretando geometricamente o lado esquerdo desta equação, como na


figura 5, temos a soma das áreas de um quadrado de lado x e de quatro retângulos
de lados 5/2 e x totalizando 39 unidades de área.

5
Interpretação geométrica da equação x  4   x  39
3 2

2
28
Figura 6 4

Completando então essa soma de áreas com a área de quatro quadrados de


lados 5/2, cada um de área 25/4, obtém-se a área de um quadrado de lado

5
x  2   x  5 ,
2

medindo então

 25 
39  4     39  25  64
 4 

unidades de área. Algebricamente,

2 2
5 5 5
x 2  4   x  4     39  4   
2 2
  2

ou seja,

 x  5 2  39  25  64

de onde, então, Al-Khwarizmi deduz que

x5  64  8

Chega-se então à solução

x = 8 – 5 = 3.
4
O completamento do quadrado é realizado, resultando na equação equivalente
2 2
5 5 5
x 2  4   x  4     39  4   
2 2 2

29
Para Al-Khwarizmi, porém, quantidades negativas careciam de sentido, por isso no
seu método, a solução

x = – 8 – 5 = – 13

não existe.

Solução da mesma equação pelo 2º método.

Este método é mais simples. Nele a equação

x2 + 10x = 39

é escrita na forma

x2 + 5x + 5x = 39.

Figura 7 5

Interpretando geometricamente o lado esquerdo desta equação, como na


Figura 7, temos agora a soma das áreas de um quadrado de lado x e de dois
retângulos de lados 5 e x totalizando 39 unidades de área.

5
Interpretação geométrica da equação x2 + 5x + 5x = 39.
30
Figura 8 6

Completando então essa soma de áreas com a área de um quadrado de lado


5, portanto de área 25, obtém-se a área de um quadrado de lado x + 5, medindo
então 39 + 25 = 64 unidades de área. Algebricamente,

x2 + 5x + 5x + 52 = 39 + 52

de onde, então,

(x + 5)2 = 39 + 25 = 64

procedendo-se então, a partir daqui, de maneira análoga ao primeiro método.

Al-Khwarizmi escrevia com grande preocupação em torna-se compreendido


por seus leitores, por isso, não foi por acaso, que as escolas passaram a instruir a
partir de seus ensinamentos, de forma que em algumas décadas suas idéias já eram
usadas pelas pessoas do povo, em particular pelos comerciantes. E foi na extensa
fronteira entre os mundos cristão e mulçumano que os europeus, realizando
transações comerciais com árabes, tiveram acesso aos conhecimentos provenientes
de Al-Khwarizmi.

3.3. Bhaskara e a fórmula que imortalizou seu nome

6
O completamento do quadrado é realizado, resultando na equação equivalente
x + 5x + 5x + 52 = 39 + 52.
2

31
No primeiro milênio da era cristã a Índia produziu célebres matemáticos e
astrônomos, mas nenhum teve tanta notoriedade quanto Bhaskara, que foi um dos
mais importantes matemáticos do século XII, graças aos seus avanços em álgebra,
no estudo de equações. Quando se cita o nome de Bhaskara, associa-se logo o seu
nome a fórmula geral da solução das equações do segundo grau, porém tal nome
relacionado a esta fórmula aparentemente só ocorre no Brasil, pois não há esta
referência na literatura internacional.

É importante ressaltar que a fórmula de Bhaskara não foi descoberta por ele,
conforme o mesmo relatou ainda em vida. Existem registros atribuídos ao próprio
Bhaskara, de que a idéia inicial da citada fórmula teria sido desenvolvida no século X
por Sridhara, matemático hindu, e publicada em uma obra a qual não temos acesso
hoje. Mas foi Bhaskara, que ao lançar o célebre livro Lilavati, mesmo nome de sua
filha e escrito na forma de versos, que tratava de Álgebra e Geometria que a
eternizou.

A fórmula geral para a solução das equações do 2º grau é amplamente


conhecida, mas merece aqui alguns comentários. Em primeiro lugar, seu encontro
fundamentou-se na idéia de buscar uma forma de reduzir o grau da equação do 2º
para o 1º, através da extração de raízes quadradas. Este foi o engenhoso
instrumento que os hindus utilizaram com sucesso para chegar à fórmula de
Bhaskara.

Seja a equação geral do 2º grau

ax2 + bx + c = 0, com a ≠ 0

dividindo-se ambos os membros pelo coeficiente a, têm-se

b c
x2  x 0
a a

ou seja,

b c
x2  x
a a

32
daí, para reduzir o grau do 2º para o 1º, é necessário extrair a raiz quadrada de
x 2  (b / a ) x . Todavia, este binômio não é um quadrado perfeito, logo foi necessário

somar aos dois membros da igualdade alguma coisa que tornasse o lado esquerdo
um quadrado perfeito, exatamente o mesmo raciocínio seguido pelos Babilônios. A
quantidade a ser somada é

b 2 / 4a 2

, pois

x 2  (b / a ) x  b 2 / 4a 2

é um trinômio quadrado perfeito. Assim, tem-se:

b b2 c b2
x  x 2   2
2

a 4a a 4a

o que é permitido pela já citada noção comum de Euclides.

Como

x 2  (b / a ) x  b 2 / 4a 2

é o trinômio quadrado perfeito

( x  b / 2a ) 2 ,

tem-se

2
 b  c b2
x     2
 2a  a 4a

ou

2
 b  b 2  4ac
x   
 2a  4a 2

Agora é possível extrair raízes quadradas, mas é preciso atenção para um


fato do qual os Babilônios não se deram conta, números positivos ou negativos

33
elevados ao quadrado são sempre positivos. Logo, extrações de raízes quadradas
geram sempre duas alternativas, uma com sinal + e outra com sinal –.

2
 b  b 2  4ac
x   
 2a  4a 2

ou

b b 2  4ac b b 2  4ac
x    x   
2a 4a 2 2a 2a

Portanto,

 b  b 2  4ac
x
2a

Esta então é a famosa Fórmula de Bhaskara, da qual decorre uma


importantíssima constatação: equações acima do 1º grau poderiam ter mais do que
uma solução.

É conveniente ressaltar que a notação (simbologia) utilizada por Bhaskara


para a equação

ax2 + bx + c = 0

não era esta forma compacta usada nos dias de hoje. Na realidade até o fim do
século XVI não se utilizava uma fórmula para obter as raízes de uma equação do
segundo grau, simplesmente porque não existia a notação usual de hoje, pois esta
notação literal e intuitiva, somente foi introduzida no século XVII, por René
Descartes, filósofo e matemático francês (1596 - 1650).

34
4. EQUAÇÕES DO 3º GRAU

No final do primeiro milênio, um francês conhecido por Gerbert d’Aurillac (950-


1 003), teve a oportunidade de estudar na Espanha Mulçumana, passando a
conhecer a Astronomia e a Matemática dos Árabes. Retornando a Europa, ocupou
uma série de cargos da Igreja Católica até chegar ao cargo de Papa. Através de sua
posição tentou substituir os algarismos romanos pelos indo-arábicos, porém sem
êxito. Entretanto sua iniciativa despertou a atenção dos demais matemáticos para a
matemática praticada pelos mulçumanos.

Anos depois, um inglês conhecido por Adelard de Bath (1075 a 1160), após
viagem por vários países islâmicos, levou para a Inglaterra uma cópia dos
Elementos de Euclides em Árabe, o qual traduziu para o Latim, colocando assim a
Inglaterra em contato com a matemática grega.

Daí, os séculos seguintes, 12 e 13, se tornaram um período de marcantes


acontecimentos na Europa. As cruzadas haviam mobilizado milhões de pessoas em
praticamente todos os países, os conquistadores bárbaros foram finalmente
absorvidos pelo que restou da cultura greco-romana, o comércio liderado por
Veneza e outras cidades italianas floresceu, Nesse período, marcado pela
construção das grandes catedrais, Marco Polo chegou ao Extremo Oriente e

35
surgiam as primeiras universidades: a de Bolonha em 1 088, a de Paris em 1 200, a
de Oxford em 1 214, a de Pádua em 1 222, a de Nápoles em 1 224, a de Cambridge
em 1 231.

Foi neste período de efervescência cultura que viveu o matemático Leonardo


de Pisa (1 175-1 250), maior matemático europeu da idade média, mais conhecido
como Fibonacci, responsável pela introdução vitoriosa dos algarismos hindu-
arábicos na Europa. Mas a contribuição de Leonardo de Pisa para a álgebra vai
além da substituição dos inconvenientes algarismos romanos pelo novo sistema.

Continuando a obra de Diofanto de Alexandria, Leonardo introduziu as


palavras “res” (“coisa” em Latim) e “radix” (raiz) para representar à incógnita,
enquanto os termos “census” e “cubus” representavam, respectivamente, seu
quadrado e seu cubo. Na falta de um símbolo que representasse a igualdade ele
utilizava a palavra aequalis, e R maiúsculo para indicar a raiz quadrada.

Com uma reputação de grande Matemático já conhecido, Leonardo chamou a


atenção do imperador Frederico II, com o conseqüente convite a ele para participar
de um torneio matemático. Nesta competição o conselheiro do imperador, João de
Palermo, propôs encontrar pelos métodos euclidianos uma solução da equação
cúbica

x3+ 2x2 + 10x – 20 = 0.

Fibonacci tentou provar que a equação não poderia ser resolvida com régua e
compasso, mas obteve uma resposta aproximada que, expressa em notação
decimal, é 1,3688081075 e que é correta até a nona casa decimal.

Mais uma vez, as equações do terceiro grau, que desde o período áureo da
Grécia antiga já desafiava matemáticos que tentaram, em vão, deduzir um método
geral de solução da equação cúbica e que Arquimedes, num tratado sobre esferas e
cilindros, estudando alguns problemas, deu origem a uma das primeiras equações
do 3º grau da história, passava a provocar novamente os matemáticos.

Após Leonardo, o próximo matemático a obter grande destaque foi o também


italiano Luca Paciolo (1 445-1 514), considerado o pai da contabilidade moderna e

36
também conhecido como Pacioli. Seguindo o caminho de Fibonacci, Pacioli
introduziu mais alguns símbolos na Álgebra: a incógnita que antes fora abreviada
para “cosa”, passou a ser chamada como “co”, enquanto o quadrado e o cubo
chamados respectivamente de “census” e “cubus” foram abreviados para “ce” e
“cu”.

Pacioli afirmava que não podia haver regra geral para a solução de problemas
do tipo “cubo e coisas igual a número”, ou seja,

x3+ px = q.

Afirmação que foi demolida, pouco tempo depois, na própria Itália, por dois grandes
matemáticos que marcaram seus nomes na história pela enorme rivalidade em torno
das equações cúbicas, sendo eles: Tartaglia e Cardano.

4.1. O primeiro método resolutivo de uma equação cúbica

Por volta de 1515, um professor da Universidade de Bolonha, cuja vida pouco


se sabe, chamado Scipione Del Ferro resolveu algebricamente a equação cúbica do
tipo

x3+ px = q,

baseando seu trabalho provavelmente em fontes árabes e assim resolvendo um


problema que desafiou matemáticos por mais de três mil anos.

Ferro nunca publicou sua descoberta, na realidade, jamais publicou nada,


mas revelou o segredo a dois discípulos: Annibale Dela Nave, que mais tarde veio a
se tornar seu genro e sucessor na cadeira de Bolonha, e Antônio Maria Fiore, a
quem Ferro deu a regra, mas não a prova.

Mais tarde Antônio Maria Fiore, também chamado de Fior, tentou ganhar
notoriedade valendo-se da descoberta do mestre. Para isso, desafiou Nicolo
Fontana (1499-1557), mais conhecido como Tartaglia (o gago) para uma disputa

37
pública. Nesta época, estes duelos intelectuais eram freqüentes, cercados de
rituais, presididos por alguma autoridade e muitas vezes assistido por muitas
pessoas. Chegando a determinar o destino de professores universitários na
cátreda7, de acordo com o desempenho dos professores nessas disputas.

Nicoló Tartaglia nasceu em Brescia, Itália. Era muito pobre quando criança.
Aos onze anos viu sua cidade ser invadida por tropas francesas, nessa oportunidade
sofreu graves ferimentos na face. Deste incidente Tartaglia levou para o resto da
vida uma profunda cicatriz na boca, o que lhe trouxe permanente defeito na fala.

Tartaglia desde cedo demonstrou grande interesse pelos estudos, porém sua
mãe retirou-o da escola por impossibilidade de paga-lá, assim passou a estudar
sozinho nos raros livros que encontrara e sem dinheiro para comprar papel, pena e
tinta, escrevia nas lápides dos túmulos de um cemitério com carvão. Mesmo diante
de tais dificuldades, conseguiu construir sua cultura, passando a se sustentar dela
como professor de ciência em Veneza.

A infeliz idéia de Fior em eleger Tartaglia como seu oponente se deu por este
já ter derrotado outros desafiantes, o que o tornou bastante conhecido por seu
talento. O desafio consistia na solução de diversos problemas que um deveria
propor ao outro e faltando poucos dias para a disputa, Tartaglia descobriu que Fior
estava armado por um método descoberto por seu falecido mestre que lhe permitia
resolver equações do 3º grau.

Sentindo-se ameaçado, conforme mais tarde relatou o próprio Tartaglia,


“mobilizei todo o entusiasmo, a aplicação e a arte de que fui capaz,
objetivando encontrar uma regra para a solução daquelas equações, o que
consegui a 10 de fevereiro de 1535”, ( Garbi, 1997, p.37). O mesmo dedicou todo
o seu empenho e obteve grande êxito, pois além de resolver as equações do tipo
7
Cátedra é hoje principalmente vista como uma posição contratual, de natureza
permanente, destinada ao ensino e investigação numa determinada disciplina científica
numa universidade e à coordenação desse ensino e investigação. Mas a origem do conceito está
na cátedra enquanto peça de mobiliário. Esta é uma cadeira colocada num plano elevado, na qual o
professor universitário medieval leccionava ou outra pessoa de alto cargo, nomeadamente um bispo,
que tem a autoridade plena em determinado local fixo (catedral) para expor uma questão
determinante de qual temos como máximo exemplo o papa católico ao exercer a sua ex cathedra.

38
x3+ px = q,

resolveu também a equação cúbica do tipo

x3+ px2 = q,

que Fior desconhecia.

Assim no dia do duelo, Tartaglia sabia resolver dois tipos de cúbicas,


enquanto Fior somente uma, Tartaglia então triunfou plenamente resolvendo os 30
problemas proposto por Fior, todos envolvendo, de um modo ou de outro, questões
que dependessem daquele tipo de equação de 3º grau a qual Scipione Del Ferro lhe
ensinara. Fior, ao contrario, não conseguiu resolver nenhum dos problemas que lhe
foram propostos, pois os mesmo dependiam da resolução da equação cúbica, que
somente Tartaglia conhecia. Desta forma, além da humilhação que passara, Fior
tinha a obrigação de pagar o prêmio estipulado ao vencedor, que era 30 banquetes,
prêmio este que Tartaglia recusou magnanimamente.

4.2. O drama de Tartaglia

Nesta mesma época, Girolano Cardano, um gênio que ensinava matemática e


praticava medicina, residindo em Milão, teve noticias sobre o desafio vencido por
Tartaglia e a natureza dos problemas por ele resolvidos, o que logo lhe despertou
interesse, uma vez que o mesmo ainda acreditava no que Pacioli havia afirmado

Girolano Cardano (1501-1576) nasceu em Pávia na Itália, filho ilegítimo de um


jurista, era um “personagem rico em facetas contraditórias e talentos vários” (LIMA,
1991, p.16). Era médico, mas paralelamente dedicava-se a astrologia, filosofia e
matemática. Ocupou cadeiras importantes nas universidades de Pávia e Bolonha e
escreveu muitos livros, sobre vários assuntos, sempre guiado por uma curiosidade
ilimitada. Através de suas obras, Cardano conseguiu melhorar vários assuntos
tratados por Pacioli e no momento que recebeu as noticias sobre o desafio,

39
pretendia publicar um livro de álgebra, ajudado por seu brilhante e fiel discípulo
Ludovico Ferrari.

Não era pretensão de Cardano tocar no tema das equações cúbicas em seu
livro, porém resolveu pedir a Tartaglia que lhe revelasse a solução de tais equações
com o intuito de publicá-la. Compreensivelmente, Tartaglia lhe negou o pedido com o
intuito de publicá-la futuramente. A negativa, porém, não desestimulou Cardano que
usou de todos os meios para atrair Tartaglia até a sua casa em Milão. Lá em 1539,
Cardano persuadiu Tartaglia a contar-lhe seu método secreto de solução das
cúbicas, sob o juramento de jamais divulgá-lo.

Em 1545, porém, Cardano quebrou todas as promessas e fez publicar em Ars


Magna, um tratado sobre álgebra, a solução de Tartaglia da cúbica. A reação de
Tartaglia foi imediata, “publicou sua versão dos fatos e denunciou Cardano por haver
traído um sagrado juramento” (GARBI,1997, p. 38). Os protestos de Tartaglia foram
rebatidos por Ferrari, que em defesa de seu mestre, acusou Tartaglia de ter plagiado
Scipione Del Ferro, iniciando assim uma polêmica que durou mais de um ano e
produziu os 12 panfletos (seis de cada lado) conhecidos como “Cartelli di Sfida
Mathematica” (sfida significa disputa).

Esses panfletos criaram um círculo de ódio, rivalidade e intriga, que


culminaram com um desafio para um debate matemático em Milão em 1548.
Tartaglia desafiou Cardano, mas este não compareceu, tendo enviado Ferrari para
representá-lo. Após longas trocas de insulto, cada parte retirou-se “cantando vitória”.
O resultado, porém, não ficou muito claro, mas parece que Ferrari saiu com certa
vantagem na disputa, pois as autoridades em Brescia, para onde Tartaglia acabara
de transferir-se, cortaram seu contrato. Tartaglia então desempregado regressou a
Veneza, onde viveu humildemente e morreu nove anos mais tarde.

Como os protagonistas dessa novela, “nem sempre colocaram a verdade em


primeiro plano, encontra-se muitas variações quanto aos detalhes da trama” (EVES,
2004, p.303). Quem se beneficiou com todo esse desenrolar foi à matemática que
desfrutou das descobertas da resolução parcial das equações cúbicas. Parcial, pois
o que Tartaglia solucionou foram tipos especiais de equação, a saber,

40
x 3  px  q  0

x 3  px 2  q  0

e não a equação geral

ax 3  bx 2  cx  d  0 .

4.3. A famigerada fórmula de Cardano

Para entender o método de resolução da equação do terceiro grau exposto


em Ars Magna, é necessário esclarecer primeiro que qualquer equação geral de
terceiro grau pode ser reduzida facilmente em um daqueles casos especiais. A
saber, a equação

ax 3  bx 2  cx  d  0 ,

1
pode ser simplificada, multiplicando-se ambos os membros por , resultando a
a
equação equivalente

b 2 c d
x3  x  x   0.
a a a

Logo, basta considerar equações em que o coeficiente de x 3 é igual a 1.

Consideremos então, a equação

x 3  ax 2  bx  c  0

a substituição de

a
x y
3

a transforma em

41
3 2
 a  a  a
 y    a y    b y    c  0 ,
 3  3  3

ou seja:

 a2  2a 3 ab
y 3   b   y   c  0,
 3  27 3

que é uma equação desprovida do termo do segundo grau. Portanto a equação do


3º grau em y será do tipo

y 3  py  q  0 ,

e se soubermos resolvê-la, acharemos x que é

a
y .
3

Portanto, quando encontrou a solução das equações do tipo

x 3  px  q  0 ,

Tartaglia deu uma resposta geral e não apenas uma resposta particular.

Para resolver esta equação, a idéia de Tartaglia foi supor que a solução
procurada era composta de duas parcelas. Assim escrevendo

xuv

E substituindo na equação

x 3  px  q  0 ,

obtemos

 u  v  3  p u  v   q  0 ,

u 3  3u 2 v  3uv 2  v 3  p  u  v   q  0 ,

isto é:

u 3  v 3  (3uv  p )(u  v)  q  0 . (I)

42
Portanto, se conseguirmos achar números u, v tais que:

p
u 3  v 3  q e u  v   ,
3

ou seja

p3
u 3  v 3  q e u 3  v 3   ,
27

tais números irão satisfazer a igualdade, demonstrando serem raízes da equação I,


então

xuv

será raiz da equação

x 3  px  q  0 .

Contudo, u 3 e v 3 são dois números dos quais conhecemos a soma e o


produto e este é um problema clássico que se resolve com equações do segundo
grau. Pois como se sabe, dada a equação do segundo grau

p3
w2  qw    0,
27

na variável w , suas raízes são dois números cujo soma é  q e produto é

p3
 .
27

Utilizando então, a fórmula clássica para se resolver a equação

p3
w2  qw    0,
27

obtemos:

q q2 p3 q q2 p3
u3     e v3     ,
2 4 27 2 4 27

43
donde obtemos a famosa fórmula de Cardano, que não foi descoberta por ele mas
sim por Tartaglia:

q q2 p3 3 q q2 p3
x uv3        .
2 4 27 2 4 27

Assim x  u  v , dada pela fórmula acima é uma raiz da equação

x 3  px  q  0 .

Abaixo, segue um exemplo retirado do livro de álgebra de Leonard Euler,


escrito em 1770. Seja a equação:

x3  6x  9  0 ,

aqui, p  6 e q  9 , logo

9 9 2 (6) 3 3 9 9 2 (6) 3
x3     
2 4 27 2 4 27

9 49 3 9 49
3   
2 4 2 4

97 3 97
3 
2 2

3 83 1

 2 1  3 ,
isto é, x  3 é raíz da equação.
Aparentemente, as equações cúbicas que trouxeram fracasso a tantos outros
matemáticos que tentaram resolvê-las, estavam vencidas. Mas logo começaram a
surgir dúvidas e questionamentos em torno das mesmas. Entre elas, uma surgiu
naturalmente: se a fórmula de Bhaskara exibe claramente as duas raízes, por que o
mesmo não acontece com as equações de 3º grau, mesmo quando as três soluções
de dada equação cúbica são conhecidas? Onde estariam as outras?

Foi aí que entrou em cena um novo “ator”, Rafael Bombelli, nascido em


Bolonha na Itália no ano de 1530, era engenheiro hidráulico por profissão e segundo
44
Garbi “Bombelli era daquele tipo de pessoas nascidas para fazer história: corajoso,
pertinaz e sempre disposto a pensar em coisas novas”.

4.4. Desvendando os mistérios da fórmula de Cardano

Quase trinta anos depois da publicação de Ars Magna, por Cardano, Bombelli
notou que a equação

x 3  15 x  4  0 , (III)

tem uma solução real positiva, a saber x = 4. Notou também que as demais soluções
dessa equação, 2 3 , são também reais, sendo elas as raízes do polinômio do
2º grau

x 2  4x  1 ,

obtido como quociente da divisão de

x 3  15 x  4  0 por x  4 .

No entanto, notou Bombelli, que a fórmula de Cardano não se aplica à cúbica


em questão. Para facilitar as explicações que seguirão daqui à diante, indicaremos a
expressão que se encontra no radical quadrático e que chamaremos a partir de
agora de ∆ ( descriminante), por

2 3
q  p
     ,
2 3

Nesse caso

2 3
q  p
        121  0 .
2  3 

Um notável paradoxo surgiu então: a cúbica

45
x 3  15 x  4  0 ,

tem suas três raízes reais e, no entanto, a formula de Cardano, quando aplicada,
produzia uma expressão numérica que carecia de sentido.

Por conta disso, os fatos indicavam que os números com que a matemática
vinha trabalhando, havia séculos, não eram mais suficientes para o estudo da
álgebra. Assim, Bombelli pôs-se a estudar essa nova espécie de números, mais
tarde denominados números complexos, tornando-se o primeiro algebrista a
formular regras elementares das operações dos números complexos em seu tratado
L'Algebra parte Magiore dell’ Arithmetica (1572), ou seja , Bombelli “lançou as bases
para o desenvolvimento de um gigantesco ramo da matemática, com infindáveis
aplicações práticas, principalmente na Eletrônica: A Teoria dos Números
Complexos” (GARBI, 1997,p. 52).

Paralela a era de Bombelli, nascia na França François Viète (1540-1603),


matemático que viria a ajudar na evolução simbologia algébrica e dos números
complexos. Viète foi um advogado francês, membro do parlamento, com grande
vocação matemática. Destacando-se como grande algebrista, obteve importantes
resultados no campo das equações algébricas. “Em seu tratado In artem
analyticem Isagoge, de 1591, Viète aplicou álgebra ao estudo de geometria,
quando até então, a prática tinha sido sempre a de aplicar geometria na álgebra”
(SAMPAIO). Neste mesmo livro Viète fez uma importante inovação no simbolismo
algébrico, ele usou sistematicamente as letras para representar não só as
quantidades desconhecidas (incógnitas), mas, também os coeficientes das
equações, o que foi um progresso em relação a simbologia de Pacioli, Cardano e
Tartaglia, mas ainda estava longe daquilo que usamos hoje em dia.

Para se ter uma idéia do progresso da simbologia implantada por Viète,


naquela época, em comparação com a que utilizamos, veja como fica uma equação
que hoje é escrita da seguinte maneira,

3BA 2  DA  A 3  Z ,

e era escrita por Viète como

46
B3 in quad - D plano in A + A cubo aequator Z solido,

o que torna mais esplêndido, ainda, as façanhas desses personagens da história da


matemática que destacamos neste trabalho.

Através de um engenhoso artifício, Viète conseguiu encontrar outro caminho


algébrico para a solução das equações do 3º grau, diferente daquele descoberto por
Tartaglia. Entretanto tal solução de nada ajudou nas dúvidas que rodeavam as
equações cúbicas e assim permaneciam sem respostas algumas questões sobre a
quantidade de raízes e operações com números complexos.

Então, como profundo conhecedor que era de trigonometria, área da


matemática elementar, e usando-a, encontrou uma solução trigonométrica para o
problema levantado por Bombelli a respeito das raízes da equação (III). Porém, por
fugir do escopo deste trabalho, a mesma não será demonstrada aqui. Além disso, é
importante salientar que a belíssima solução, além de não ser algébrica, não se
aplicava a todas as equações.

A resolução total das equações de 3º grau ainda aguardou mais de um


século, para ser desvendada. Antes, porém, “entrou em cena” na história das
ciências, aquele que veio a ser um divisor na história da matemática, Isaac Newton.
Mas apesar das ciências exatas poderem ser divididas entre antes e depois de
Newton, no tocante ao cálculo de raízes, ele criou um método não algébrico
aproximado para o encontro de raízes reais. O chamado Método de Newton é
simples e extremamente prático, no entanto, sua compreensão exige algum
conhecimento sobre cálculo diferencial e por isso mesmo, não será abordado aqui.

Somente no século XVIII é que as equações algébricas tiveram consolidada


sua simbologia moderna através de Leonhard Euler (1707-1783). Foi Euler que
consagrou o que de melhor existira à época, mas, também, inventou muito do que
hoje se utiliza.

Euler era suíço e foi um escritor prolífico, não havendo ramo da matemática
em que seu nome não figure. Para se ter uma idéia, a sociedade Suíça de Ciências
Naturais catalogou 886 trabalhos produzidos por ele, entre livros e artigos. Ele viveu
os últimos 18 anos de sua vida, completamente cego, mas já havia perdido a visão
47
do olho esquerdo desde os 28 anos. Mesmo assim continuou a produzir guiado por
um secretário. Apesar de sua obra ser demasiadamente numerosa, cabe aqui além
da já citada simbologia moderna por ele implantada, suas contribuições a respeito
dos números complexos.

Depois que Bombelli, audaciosamente iniciou sua caminhada com raízes


quadradas de números negativos, introduzindo as primeiras regras elementares das
operações dos números complexos. Segundo Garbi, “muitos pesquisadores já
haviam trabalhado na matéria quando Euller fez-lhe um ataque final, deixando pouca
coisa a ser descoberta no futuro”, e é exatamente por isso que Euller é visto como o
matemático que dominou os números complexos.

Coube a Euller a façanha de determinar como extrair a raiz enésima de um


número complexo e como conseqüência desta descoberta descobriu que “qualquer
número complexo não nulo (os reais inclusive) tem exatamente n raízes
enésimas ( n inteiros)”, (GRABI, 1997, p. 106). Ou seja, sabe-se que o número 9,
por exemplo, tem duas raízes quadradas, mas, também possui três raízes cúbicas,
quatro raízes quartas e assim sucessivamente.

Assim, além da conseqüência destacada anteriormente, Euler conseguiu, ao


determinar as raízes enésimas de um número complexo, após 200 anos acabar com
o enigma que encheu de curiosidades aqueles que tentaram aplicar a fórmula de
Cardano-Tartaglia nos casos em que   0 .

Euler precedeu um período em que viveu aquele que, no campo da


matemática, é considerado por muitos como o maior matemático de todos os
tempos: Carl Friedrich Gauss (1777-1855), rivalizando com o notório Newton, no
campo matemático, o que é privilégio de pouquíssimos.

Carl Friedrich Gauss, nasceu em Brunswick na Alemanha, era filho de um


jardineiro muito simples que não via utilidade nos estudos. Apesar disso, sua
genialidade foi logo percebida por sua mãe e seu tio e ambos não pouparam
esforços para que o menino tivesse acesso aos estudos. Assim aos 21 anos,
apresentou sua tese de doutorado em matemática, apresentando o alicerce mais

48
importante da teoria das equações algébricas, o Teorema Fundamental da
Álgebra.

Este teorema afirmar que toda equação polinomial de coeficientes reais ou


complexos tem, no campo complexo, pelo menos uma raiz. Portanto, ao demonstrar
que as equações têm pelo menos uma raiz no campo complexo, Gauss demonstrou
também a suspeita de matemáticos anteriores de que uma equação polinomial de
grau n, possui exatamente n raízes.

Euler já desconfiava disso, antes, porém de relatar suas conclusões, é


necessário chamar atenção para um fato a respeito das raízes estranhas de uma
equação. Para entender do que se trata considere a equação

x2 (IV)

É evidente que a elevação dos dois lados da igualdade ao quadrado continua


mantendo o equilíbrio, ou seja,

x 2  4 . (V)

Porém as equações (IV) e (V) não são equivalentes, pois embora a


passagem da equação (IV) para (V) seja válida, a equação (IV) tem apenas a raiz x
= 2, enquanto a equação (V) tem por raízes x = 2 e x = - 2, é esta última que é uma
raiz estranha a original.

Euler descobriu que enquanto a potenciação é unívoca (cada número tem


somente uma potência enésima), a radiciação não é (um número tem n raízes
enésimas), ou seja, sempre que os membros de uma equação são elevados a uma
potência inteira, corremos o risco de estar introduzindo raízes estranhas e, neste
caso, cada resposta deve ser testada na equação pela qual começou.

Com isso Euler chama a atenção que se deve ter para com as equações
cúbicas, tendo em vista que a fórmula

q q2 p3 3 q q 2 p3
x3       
2 4 27 2 4 27

49
é composta pela soma de duas parcelas, cada qual correspondendo a extração de
raízes cúbicas , tendo, portanto, três alternativas. Como são duas parcelas, 9 são os
valores possíveis para a soma que compõem x, sendo 3 deles raízes legítimas e 6
raízes estranhas.

Dos estudos realizados por Euler e por todos os outros que o antecederam,
após Tartaglia e Cardano, pode-se também se afirmar a respeito das equações

x 3  px  q  0 ,

que quando

  0 , as 3 raízes são reais e distintas,

  0 , uma raiz é real e duas são complexas,

  0 , as 3 raízes são reais, mas pelo menos duas delas são coincidentes.

4.5. Aprendendo a utilizar a fórmula de Cardano

Agora é possível resolver a equação proposta

x3  6x  4  0 ,

cuja resolução deve seguir alguns passos, a saber:

1º Deve-se eliminar o termo quadrático na equação geral

x 3  ax 2  bx  c  0 ,

para isso façamos a substituição

a
x y ,
3

o que é desnecesario para esta equação, assim.

2º Deve-se aplicar a equação cúbica em questão, a fórmula de Cardano-Tartaglia

50
q q2 p3 3 q q 2 p3
x3       
2 4 27 2 4 27

para p  6 e q  4 , assim

(4) (4) 2 (6) 3 3 (4) (4) 2 (6) 3


x3       
2 4 27 2 4 27

x 3
2 48  3 2 48

x  3 2 4 3 2 4

x  3 2  2i  3 2  2i

3º Ao chegar à soma de raízes cúbicas, utiliza-se o conhecimento sobre números


complexos para determinar tais raízes. As raízes de um número complexo z  u  vi
podem ser calculada pela fórmula abaixo:

    2k     2k 
w  n z cos   isen  .
  n   n 
Para tanto, precisamos antes de usa-lá,
I) Identificar qual a parte real e imaginária, para z1  2  2i , u  2 e v  2 ,
II) em seguida, calcula-se o módulo do número complexo,
z1  22  22  44  8,

III) A partir do valor do módulo, determina-se o seno e o cosseno, e a partir


deles, inferir o argumento utilizando o círculo trigonométrico, logo para z1 , têm-
se

u 2 2
cos     
z1 8 2 
 
  
4
v 2 2
sen    
z1 8 2 

IV) Agora se utiliza a fórmula.

51
    2k     2k 
w  n z cos   isen   , assim
  n   n 

    
   2  0     2  0  
w0  3
8 cos 4   isen 4  ,
  3 



3 

    

     
w0  2 cos   isen  ,
  12   12 
 6 2 6  2
w0  2 i ,
 4 4 

12  2 12  2
w0  i .
4 4

Como os argumentos das raízes cúbicas formam uma P.A. de razão 2 / 3 ,


as raízes seguintes são:
  9   9 
w1  2 cos   isen  ,
  12   12 
 2 2
w1  2 i ,
 2 2 

w1  1  i ,

  17   17 
w2  2 cos   isen  ,
  12   12 
 6  2  6  2
w2  2 i ,
 4 4 

 12  2  12  2
w2  i
4 4

Agora é necessário determinar as raízes cúbicas de z2  2  2i , mas


como o processo para a obtenção dessas raízes é análogo, não se faz necessário
repetir o processo, então têm-se:
2  12 12  2
0  i
4 4
1  1  i

52
2  12 2  12
2  i
4 4

4º: diante das respectivas raízes cúbicas, determina-se os 9 valores possíveis para a
soma que compõem x:

 12  2 12  2   2  12 12  2  4  2 12 12
x1  w0   0   i 
  i 
  1 i
 4 4   4 4  4 2

 12  2 12  2  12  2 12  6
x 2  w0  1   i   ( 1  i ) 
  i
 4 4  4 4

 12  2 12  2   2  12 2  12  12
x3  w0   2   i 
  i   1
  1 3
 4 4   4 4  2

 2  12 12  2   2  12 12  6
x4  w1   0    1  i    i 
  i
 4 4  4 4

x5  w1  1    1  i   (1  i )  2

 2  12 2  12   2  12 6  12
x 6  w1   2    1  i    i 
  i
 4 4  4 4

  12  2  12  2   2  12 12  2  12
x7  w2   0   i 
  i   1
 i
 4 4   4 4  2

  12  2  12  2   12  2  12  6
x8  w2  1   i   (1  i ) 
  i
 4 4  4 4

  12  2  12  2   2  12 2  12 
x9  w2  1   i 
  i   1 3 .

 4 4   4 4 

É importante ressaltar que, dos nove valores possíveis para a soma que
compõem x, três deles são raízes legítimas e seis raízes estranhas, portanto é
necessário testar cada um deles para eliminar as raízes estranhas. Porém,
utilizando-se das informações a respeito do descriminante, nota-se que   0 , o que
implica que as raízes são todas reais, e por sua vez, dos nove valores possíveis
para a soma, apenas três resulta em números reais, donde pode-se concluir que
estes valores, a saber

 2, 1  3 e 1 3
são as raízes da equação
x3  6x  4  0 ,
53
dispensando o teste das nove somas.
Devido à complexidade que as equações do 3º grau podem apresentar, como
exposto no exemplo anterior, é conveniente fazer algumas observações sobre a
solução dessas equações, a saber:
I) qualquer equação escrita na forma:

x 3   x 2  x    0 ,

pode ser reduzida a uma do tipo


x 3  ax 2  bx  c  0
1
para isso, basta múltiplcar ambos os membros da equação por .

II) Nos casos em que o discriminante   0 , a aplicação da fórmula de
Tartaglia se torna árdua e muitas vezes inconveniente, por levantar mais problemas,
com extrações de raízes cúbicas de número complexo, do que soluções. No entanto
há situações em que é conveniente a lei do anulamento do produto com segue
abaixo:
x3  4x  0
x ( x 2  4)  0

x  0 ou ( x 2  4)  0

x 2  4  0  x  2 ou x  2
donde concluímos que as raízes da referida equação são 0, 2 e – 2 .
III) Nos casos em que   0 , a equação de Tartaglia sempre nos fornecerá
uma soma de raízes cúbicas cujo resultado nos mostra uma das três raízes da
equação. Mas diante dela podemos utilizar a mesma idéia de Bombelli, adaptada ao
caso em que a fórmula nos mostra claramente uma das equações, por exemplo,
para a equação
x3  6x  9  0 ,
ao utilizarmos a fórmula resolutiva temos:
para p  6 e q  9 , assim

(9) (9) 2 (6) 3 3 (9) (9) 2 (6) 3


x3       
2 4 27 2 4 27

54
9 49 9 49
x3  3 
2 4 2 4

9 7 3 9 7
x3   
2 2 2 2

x  3 8  3 1  2 1  3,

neste caso para encontrarmos as outras duas raízes, o polinômio


x3  6x  9  0 ,
é dividido por
x3
o que resulta em
x 2  3x  3  0 ,
isto é
x 3  6 x  9  ( x  3)( x 2  3x  3)  0

donde pela lei do anulamento do produto temos que as raízes da equação


x 2  3x  3  0
pela fórmula resolutiva de Bhaskara são
3i 3 3i 3
x ex .
2 2
Assim concluímos que as raízes da equação
x3  6x  9  0
são
3i 3 3i 3
3, e .
2 2

5. EQUAÇÕES DO 4º GRAU

Ludovico Ferrari (1522-1560) nasceu em Bolonha, Itália, e foi o discípulo mais


famoso de Cardano, pela sua genialidade e pelo seu envolvimento nas intrigas que
envolveram as equações cúbicas. Segundo Garbi (1997) seu temperamento era
55
incontrolável e sua forma blasfema de expressar-se produziam permanentes atritos
com Cardano, mas apesar disso, eram amigos e colaboradores. Foi dessa relação
que conseguiu alcançar importantes posições que lhe renderam boas rendas,
tornando-se professor de matemática na universidade de Bolonha, mas infelizmente
adoeceu repentinamente e morreu imediatamente aos 38 anos de idade. Ficaram as
suspeitas que tenha sido envenenado com arsênico por sua própria irmã.
Seu destaque dentro do desenvolvimento da matemática veio em 1540,
quando o matemático italiano Zuanne de Tonini da Coi, dentro do costume então
vigente de proporem problemas uns aos outros, propôs um problema a Cardano
que recaía numa equação quática.
x 4  6 x 2  60 x  36  0
Após inúmeras tentativas sem êxito, Cardano passou essa questão ao seu
jovem discípulo Ferrari, que teve êxito nessa tarefa, e Cardano teve o prazer de
publicar também essa solução em Ars Magna, em continuação à solução dada por
Tartaglia.
O método de Ferrari de resolução de equações do 4º grau consiste em uma
transformação simples que reduz a quática completa
ax 4  bx 3  cx 2  dx  e  0
a forma
x 4  px 2  qx  r  0 ,

fazendo
b
x y
4a
de modo de modo a anular o termo do terceiro grau.
Assim, analogamente ao que ocorre com as equações de 3º grau, quem
souber resolver a equação incompleta
x 4  px 2  qx  r  0 ,

saberá resolver qualquer tipo de equação do 4º grau.


A idéia de Ferrari para resolver a equação quártica, desprovida do termo
cúbico, foi reagrupar os termos de modo que nos dois membros surgissem
polinômios quadrados perfeitos. Com esse objetivo a equação foi escrita assim:
x 4  px 2  r   qx .

56
Somando-se x 2   em ambos os membros, com  e  sendo números a ser
determinados de modo que os dois lados da igualdade sejam quadrados perfeitos e
reagrupando temos
x 4  ( p   ) x 2  ( r   )  x 2  qx   (I).

Assim temos que os discriminantes,   b 2  4ac , dos dois trinômios do segundo


grau, são iguais a zero, ou seja
( p   ) 2  4  1  (r   )  0 (II) e

q2
q2  4     0    ,
4
substituindo
q2
 
4
na equação (II) têm-se:
 q2 
( p   ) 2  4   r    0,
 4 

q2
( p   ) 2  4 r   0,

ou seja,
 3  2 p 2  ( p 2 4r )  q 2  0

o que é uma equação de 3º grau em  . Como as equações de 3º grau podem ser


resolvidas, acha-se  , em seguida  e extraem-se as raízes quadradas da
equação (I)
x 4  ( p   ) x 2  ( r   )   x 2  qx   .
Para cada alternativa de sinal + ou – tem-se uma equação do 2º grau, ambas
com duas soluções e assim a equação do 4º grau apresenta suas quatro raízes,
semelhante ao que ocorre com a fórmula de Bhaskara.
Diante disso é possível resolver a equação

x 4  15 x 2  10 x  24  0 ,

cuja resolução deve seguir os seguintes passos:

1º: toma-se a equação geral e faz-se uma transformação do tipo


b
x y
4a
57
de modo a cair-se em uma equação sem o termo do 3º grau; o que não será
necessário ao exemplo em questão.
2º: Reagrupam-se seus termos de modo a fazer com que ambos os lados da
igualdade sejam quadrados perfeitos para, a partir disso, chegar a equação do 3º
grau em .
x 4  15 x 2  10 x  24  0
x 4  15 x 2  24  10 x
x 4  15 x 2  24  x 2    10 x  x 2  

x 4  (  15) x 2  (   24)  x 2  10 x  

Como ambos os lados da igualdade são quadrados perfeitos, temos o


discriminante   b 2  4ac . Para isto
(  15) 2  4  1  (   24)  0

e
25
10 2  4      0    .

Substituindo o valor de  no 1º descriminante,
 25 
(  15) 2  4  1    24   0
  
chega-se a equação
 3  30 2  129  100  0 .
3º: Resolve-se a equação em  , pelo método de Tartaglia. Obtém  e calcula-se
.

Neste caso a resolução da equação cúbica em  será ocultada, pois este já


foi discutido no capitulo anterior. Assim a resolução algébrica dessa equação fornece
as raízes  1  1 ,  2  4 e  3  25 .
Para  1  1 ,
25
1   25 .
1
Analogamente

 2  25 e  3  1.
4
4º: Com  e  extraem-se as raízes quadradas dos dois lados da igualdade e
obtém-se os 4 valores possíveis para y, caso tenha sido feita a substituição

58
b
x y ,
4a
caso contrário, os valores serão as 4 raízes da equação quártica, como segue para
 1  1 e 1  25 :
x 4  (  15) x 2  (   24)  x 2  10 x  

x 4  (1  15) x 2  (25  24)  1  x 2  10 x  25

x 4  14 x 2  49  x 2  10 x  25
( x 2  7) 2  ( x  5) 2

( x 2  7)   ( x  5) 2 .
Assim
x1  4
( x 2  7)  ( x  5)  x 2  x  12  0 
x 2  3

ou
x3  2
( x 2  7)  ( x  5)  x 2  x  2  0  .
x4  1

E assim chega-se as quatros raízes da equação


x 4  15 x 2  10 x  24  0 .
Note que com esta dupla de valores de  e  já é possível determinar as
quatro raízes, o que ocorreria com qualquer outra dupla de  e  . Não podemos
nos deixar enganar pela aparência, pois o método de Ferrari é extremamente
trabalhoso, o que talvez não tenha sido aparente pela ocultação da extração das
raízes cúbicas.

59
6. EQUAÇÕES DE GRAU MAIOR QUE QUATRO

Após Ludovico Ferrari apresentar ao mundo uma forma de exprimir


algebricamente as soluções da equação quártica, nos 250 anos seguintes, vários se
esforçaram na tentativa de resolver a equação geral de 5º grau, porém falharam.
Entre eles Euler que, segundo Eves (2004) , utilizou a ideia de que uma equação
quártica se reduz a resolução de uma equação cúbica associada a ela, tentou o
mesmo com a resolução de uma equação geral do 5º grau, mas falhou.
Em 1786, E.S. Bring mostrou que a equação geral do 5º grau pode ser
reduzida, por transformações algébricas, à equação
x5  x  A  0 ,
A principio uma redução desse tipo parecia indicar um passo importante na busca
por uma fórmula resolutiva da equação quíntica por radicais, porém Paolo Ruffini
mostrou, em 1799, que uma solução geral da equação quíntica por radicais era
impossível. A demonstração desse fato, feita por Ruffini, foi considerada
insatisfatória na época. Entretanto, em 1826, Niels Abel publicou uma prova
satisfatória desse fato.
Niels Henrik Abel (1802-1829) foi um brilhante matemático que teve sua vida
marcada por tragédias sucessivas que culminaram com sua morte no auge da vida,
que embora curta, foi de enorme produção em quantidade e qualidade, com
inovações que desafiaram homens como Cauchy e Legendre que se esforçaram
para compreendê-lo.

60
Aos 19 anos, antes mesmo de ingressar na Universidade, Abel desenvolveu
pesquisas no campo das equações, chegando a acreditar que tivesse encontrado
uma solução geral para as equações de 5º grau. Mas durante processo de se fazer
entender por outros matemáticos o próprio Abel descobriu que sua solução era
incorreta.
Obcecado pela resolução de tais equações, dedicou-se a estudá-las e
conseguiu demonstrar a impossibilidade de estabelecer a solução geral quíntica por
meio de radicais, acabando com um problema que afligia os matemáticos havia
séculos. Abel ainda conseguiu generalizar tal conclusão para qualquer equação
acima do 4º grau, indo além do que Paolo Ruffini havia conjecturado.
Abel morreu de tuberculose, aos vinte e seis anos de idade e seu sonho que
almejava em vida só veio a se concretizar dois dias depois de morrer, quando uma
carta tardia lhe foi enviado com um convite para trabalhar na Universidade de
Berlim.
Mesmo, com todo o sofrimento vivido por Abel, a vida de Évariste Galois foi
ainda mais trágica. Nascido em 25 de outubro de 1811 numa cidade próxima de
Paris, aos 14 anos teve seu primeiro contato com a matemática, a partir daí,
debruçando-se sobre as obras de Legendre, Jacobi e Abel, chegou a tudo que se
sabia a época sobre as equações algébricas, percebendo que aquela matéria
deveria ser tratada perante novas perspectivas, dedicando-se assim a sua própria
criação.
Antes mesmo de completar 18 anos apresentou a Academia de Ciências de
Paris um trabalho intitulado Pesquisas sobre as equações algébricas de grau primo,
que já apresentava descobertas naquilo que lhe rendeu glória póstuma, a Teoria dos
Grupos.
Em 1830 foi publicado um artigo de sua autoria sobre equações, com
resultados visivelmente baseados numa teoria geral. Essa teoria, baseada em
conceitos da teoria dos grupos, fornece critérios para a resolubilidade de equações
por radicais.
Em 1832, aos vinte e um anos de idade, uma manobra envolvendo um caso
amoroso e possíveis aspirações políticas, arrastou-o a um maldito duelo de pistola
no qual foi morto. Na noite que antecedeu o tolo duelo, Galois percebendo
plenamente que com toda certeza seria morto, dedicou-se a escrever um testamento
61
cientifico na forma de uma carta a um amigo. Neste escreveu um artigo denominado
Notas sobre Abel, onde esclareceu que suas teorias eram totalmente independentes
do falecido Abel.
Realmente, ambos demonstraram que as equações de grau superior ao 4º
não podem ser resolvidas algebricamente, mas enquanto Abel o fez utilizando ao
máximo os recursos da Álgebra Clássica, Galois inventou uma nova teoria dentro da
qual aquele fato era apenas um caso particular (Garbi, 2007, p. 166).
7. CONCLUSÃO

A falta de fontes acadêmicas que tratem exclusivamente sobre resolução de


equações por meio de radicais, foi comprovada durante a realização deste trabalho,
uma vez que encontrar fontes que apresentassem material de pesquisa sobre o
tema tratado foi um trabalho árduo, ora por falta das mesmas, ora pelo grau de
aprofundamento do conteúdo ali apresentado.
Foi verificado também que qualquer equação do 1º, 2º, 3º e 4º grau pode ser
resolvida algebricamente, isto é, que as raízes de qualquer uma dessas equações
podem ser obtidas apenas através de operações de soma, subtração, multiplicação,
divisão, potenciação inteira e radiciação, aplicadas em seus coeficientes através de
um número finito de operações.
No caso da resolução da equação algébrica de 3º grau, a fórmula resolutiva
apresenta-se como trabalhosa e árdua, por ser necessária uma verificação das
raízes. Entretanto, um estudo sobre o descriminante da equação, facilita o encontro
das raízes, pois quando:
   0 , as 3 raízes são reais e distintas. Logo não é necessário verificar
as raízes complexas derivadas da fórmula de Cardano, pois estas são
falsas.
   0 , uma raiz é real e duas são complexas. Neste caso, a fórmula de
Cardano apresenta a raiz real. De posse dessa, é mais fácil aplicar a
equação de terceiro grau uma divisão por x – raiz, para reduzir o grau
da equação a 2 e nesta aplicar a fórmula de Bhaskara para determinar
as raízes complexas.

62
   0 , as 3 raízes são reais, mas pelo menos duas delas são
coincidentes. Nesta situação também é mais conveniente utilizar a
mesma ideia de quando o   0 .

Já nas equações quárticas, como a resolução da mesma recai na resolução


de uma equação do terceiro grau, as mesmas conclusões a respeito das equações
de grau 3, podem ser aplicadas durante a resolução das quárticas.

Por último, uma equação genérica de grau acima do 4º, não pode ser
resolvida algebricamente, mas existe um grande número de casos particulares em
que isto é possível, independente do grau da equação, porém somente
conhecimentos de Álgebra superior, em especial de Teoria dos Grupos, permitem
saber se ela é ou não resolúvel algebricamente. Foi por esse motivo que, excluir
sobre certo ponto de vista, Galois superou Abel e podemos afirmar que Abel
representa o ápice da Álgebra Clássica enquanto o francês marca o inicio da
Álgebra Moderna (Garbi, 2007, p. 166).

Fica aberto também o caminho para que em trabalhos futuros possa ser
abordado outras deduções das fórmulas resolutivas para as equações algébricas de
3º e 4º grau, bem como explorar possíveis relações entre os coeficientes de cada
uma dessas equações, ou ainda, um aprofundamento sobre o fato de não ser
possível uma fórmula resolutiva para equações algébricas de grau maior que 4.

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8. REFERÊNCIAS

GARBI, Gilberto G. O romance das equações algébricas. 2º Edição revi. e ampl. –


São Paulo, SP: Editora Livraria da Física, 2007.

EVESI, Howard. Introdução a história da matemática / Howard Eves; tradução


Hygino H. Domingues – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004.

DANTE, Luiz Roberto. Matemática: contexto e aplicações. Volume 2. São Paulo, SP:
Editora Ática, 2004.

LIMA, E.L. Meu professor de matemática e outras histórias. Rio de Janeiro: SBM,
Coleção do Professor de Matemática, 1991.

SAMPAIO, João C.V. Artigo científico: O ensino da álgebra elementar através de


sua história. São Carlos, SP: DM-UFSCar.

MOREIRA, Carlos Gustavo T. de A. Revista do professor de matemática 25: Uma


solução das equações do 3º e do 4º graus. Rio de Janeiro, RJ: IMPA, 1994.

DANIEL, José Anisio. Dissertação de mestrado: Um estudo de equações


algébricas de 1º grau com o auxilio do software Aplusix. São Paulo, SP: Editora
da PUC, 2007.

LIMAL, Elon Lages. Matemática Universitária nº 5: A equação do terceiro grau.


Rio de Janeiro, RJ: IMPA, 1987.

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http://clubedegeometria.blogspot.com.br/2008/03/egipto-2000-ac.html. Acesso em
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http://problemasteoremas.wordpress.com/2010/05/13/resolucao-da-equacao-do-3-
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http://problemasteoremas.wordpress.com/2010/05/20/resolucao-da-equacao-do-4-
%C2%BA-grau-ou-quartica/. Acesso em 20/03/2013.

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