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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
MARAJÓ - A EXÓTICA
ILHA AMAZÔNICA
PARÁ

INTRODUÇÃO

A região Amazônica poderia ter sido palco de experimentos


desenvolvimentistas induzidos globalmente por ações institucionais,
mas paradoxalmente, a preservação e exploração dos recursos naturais
quase sempre geraram conflitos com as condições de vida precária das
populações tradicionais. Mesmo no apogeu da economia, ocorrido
durante o ciclo da borracha, nunca houve modelo de distribuição de
renda nas áreas rurais que permitisse suprir as necessidades mínimas
de assistência educacional, acesso à moradia e saúde pública.
Marajó, na foz do rio Amazonas, é o maior arquipélago fluvial do
mundo, com aproximadamente 50.000 km2, formado por três ilhas: Mexiana,
Ilha Grande de Gurupá e Caviana, um dos pontos mais atingidos pela
violência da pororoca.
A ilha do Marajó constituiu-se historicamente em importante base
do desenvolvimento estadual, contribuindo desde o século XVII com
sua produção de carne e couro de gado, pescado, produtos artesanais
e essências florestais nativas, detendo um grande potencial turístico no
segmento rural, com uma demanda espontânea de diversas origens.
O turismo em áreas naturais foi considerado como uma das alternativas
de desenvolvimento sustentável para a região. Essa atividade iniciou sua
expansão durante a década de 80, conduzida pela reflexão mundial sobre
a importância da conservação do último grande patrimônio natural das
florestas tropicais. Na tentativa de atender à crescente demanda espon-
tânea, foram cometidos muitos erros de planejamento e operação turística,
p roduzidos principalmente pelo aumento excessivo da oferta de
produtos pouco qualificados, para fazer frente à competitividade dos
mercados nacional e internacional.

Solano de Vasconcelos Lisboa Filho, Consultor do Sebrae Pará, elaborou o estudo de caso sob
a orientação de César Simões Salim e Helene Kleinberger Salim, baseado no curso Desenvolvendo
Casos de Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-Rio, integrando as atividades da
Prioridade Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso no Sistema Sebrae.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


CAVALGADA PELOS CAMPOS DE MARAJÓ NA FAZENDA SÃO JOAQUIM “SANJO”

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

CAVALGADA PELOS CAMPOS E ALAGADOS DE MARAJÓ


NA FAZENDA CAMBURUPY
MARAJÓ - A EXÓTICA ILHA AMAZÔNICA - PA 3

Por sua natureza exuberante, pela diversidade de atrativos turísticos


da ilha e produtos oferecidos de formas não sistematizadas, verificou-se
a necessidade de organizar essa atividade econômica na região.
Os equipamentos turísticos muito divulgados pelas agências e
comprados internacionalmente costumavam resultar em políticas de
isolamento social, não contemplando a diversidade regional e a cultura
local. Esses modelos de “ilhas da fantasia” vinham excluindo as comuni-
dades locais dos arranjos turísticos assim criados.
Era necessário então evitar tais erros, procurando a integração da
população local e, conseqüentemente, a melhoria de suas condições
de vida, com a valorização cultural de suas tradições.

A ILHA DO RIO MAR

O arquipélago do Marajó é uma mistura de ilhas fluvial e oceânica.


Ao norte, banhada pelo Atlântico e ao sul, pelo rio. A ilha guardava muitas
belezas e curiosidades. Sua população de búfalos era maior que a de habi-
tantes e a carne do animal, um dos pratos típicos locais. O guará, pássaro
vermelho, cuja revoada em bando era uma das atrações apreciadas
pelos turistas, era outro elemento que enchia de encantamento esse
cenário paradisíaco.
A h a rmonia das revoadas das brancas garças, pássaros que formavam
nuvens baixas sobre os rios e compunham-se com o exotismo dos guarás
vermelhos, aves que parecem metade flor, metade pássaros, criavam
uma dança no espaço para encher os olhos com a beleza local.
A intensidade das chuvas, que aconteciam de fevereiro a maio, era
tamanha que dois terços do Marajó ficavam completamente alagados.
Por causa dessa característica, a ilha tinha o maior rebanho de búfalos
do país, pois esse animal se adaptava bem a terrenos alagadiços.

Coordenação Técnica do Projeto: José Ronaldo Vieira de Vasconcelos e Maria Algina Soares
Silva.

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MARAJÓ - A EXÓTICA ILHA AMAZÔNICA - PA 4

Era comum andar nas ruas e esbarrar com esses animais, que
ocupavam domesticamente os quintais das casas. Eram eles, para o
marajoara, um eficiente meio de transporte de carga e no policiamento
da cidade.
Os turistas levavam sempre de lembrança uma foto onde apareciam
montados num búfalo.
A maior ilha fluviomarinha do mundo tinha várias praias com dunas
de areias claras, apresentações de danças folclóricas e restaurantes de
comidas típicas. O artesanato da região era muito rico e procurado. O
relevo plano podia ser observado no trajeto até Cachoeira do Arari,
onde ficava o Museu de Marajó. Outra atração era se hospedar em
algumas fazendas da ilha e acompanhar o dia-a-dia dos trabalhadores.
O arquipélago do Marajó possuía 14 municípios, sendo Soure o
mais procurado pelos visitantes. A ilha tinha poucos restaurantes, todos
bem simples. Era normal o próprio dono preparar a comida e servir à
mesa. As acomodações oscilavam entre razoáveis e boas nos seus
poucos hotéis e pousadas.
Outra forma de conhecer Marajó era por meio de suas fazendas,
ver o cotidiano dessas propriedades, tendo o dono como guia,
perc o r rendo fazendas com dezenas de milhares de hectares, onde o
tempo parece atrelado à natureza.
Marajó ficava a poucos quilômetros de Belém e o acesso era feito
por via aérea ou fluvial.
O lado histórico do manejo pecuário da ilha possuía características que
se destacavam pela sua singularidade no Brasil: a criação de búfalos, em
regime aberto, nas grandes extensões de pastagens nativas; a utilização
comunitária das áreas de manguezais para a coleta de caranguejos; o
trabalho artesanal de ceramistas que reproduziam a arte ancestral do povo
marajoara; os ambientes ribeirinhos cobertos com maciços de açaizeiro s
e fruteiras cultivadas; a tradição culinária e medicinal que reunia uma
mistura etnológica adaptada às disponibilidades de alimentos, tempero s ,
raízes e ervas naturais e cultivadas. As tradições de pesca artesanal, a
beleza e sensualidade dos grupos folclóricos de dança de carimbó, a
presença inquieta dos bandos de aves, como os guarás e garças, faziam da
ilha do Marajó um lugar especial para a concretização de um pólo turístico
na região amazônica, que poderia complementar a principal base produtiva;
a pecuária extensiva com baixos índices tecnológicos e rentabilidade.

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MARAJÓ - A EXÓTICA ILHA AMAZÔNICA - PA 5

OS PRIMEIROS PASSOS PARA O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DA ILHA

S eria, então, necessário realizar um projeto que organizasse e criasse


as condições para receber de modo sistemático as levas de turistas. No
período de março de 2000 a julho de 2002, foi, então, implantado o
programa de Diversificação da Oferta Turística do Pólo do Marajó.

O planejamento
Em março de 2000, a Companhia Paraense de Turismo (Paratur)
solicitou ao Sebrae/PA a criação de um programa que pudesse
desenvolver o turismo na ilha do Marajó. Foi elaborado o plano de
Diversificação da Oferta Turística do Pólo do Marajó, juntamente com os
fazendeiros locais, para o fortalecimento do setor e o desenvolvimento
da região. Iniciou-se o programa, tendo como referencial o resgate e valo-
rização da cultura local que fortaleceria os laços comunitários, a figura do
vaqueiro marajoara, o artesanato, o folclore, a gastronomia típica da região
e o desenvolvimento de um novo potencial na região: o turismo rural.
O consenso dos participantes do projeto era de que o aprimoramento
das oportunidades de negócios turísticos no território amazônico
precisava ser pautado na multiplicidade de ofertas de serviços gerados
a partir da segmentação do mercado. Nesse sentido, abria-se uma
e n o rme janela de possibilidades apoiadas, quase que em sua
totalidade, no saber e no fazer das tradições culturais dos povos
amazônicos. Tomavam como exemplo alguns serviços e atrativos que
foram trabalhados:
• O manejo pelos turistas das manadas de búfalos e dos cavalos
marajoaras da ilha do Marajó.
• A busca de alternativas e soluções de monitoramento de
p roblemas socioambientais pelos pesquisadores, por meio da
coleta e análise dos dados ambientais.
• O envolvimento com a produção extrativista das populações
ribeirinhas e a coleta dos frutos do açaizeiro.
• A pesca esportiva catch and release conduzida por pescadores
tradicionais.
• Jornadas de canoagem pelos rios e igarapés da Amazônia.
• Engajamento em campanhas de preservação de animais da
região como tartarugas, peixes, boi, botos, aves, etc.
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• Passeios para observação de pássaros.


• Visitação de sítios arqueológicos e trilhas ecológicas nos manguezais.
A elaboração do Plano Diretor Turístico foi uma das etapas que norm a-
tizou o uso e ocupação do solo e as políticas de gestão da atividade nos
municípios de Soure e Salvaterra, servindo de base para a definição das áreas
de interesse turístico. Foram escolhidas as que estavam localizadas na estrada
do Pesqueiro, por apresentarem boa infra-estrutura, estarem próximas das
fazendas rurais e da Praia do Pesqueiro e de outra região onde se
localizavam os principais estabelecimentos que estavam engajados na
atividade do turismo rural.

A execução
Antes do programa, apenas três fazendas eram visitadas na região. Em
2002 eram mais de 12 pequenos empreendimentos que começavam a
sentir o gostinho da geração de renda a partir do turismo, sem deixar
de lado os demais processos produtivos da propriedade. As fazendas
ficaram mais bonitas, mais bem-estruturadas; os habitantes começaram a
sentir um valor especial nas suas tradições que passaram a ser valorizadas
pela sua cultura. A natureza preservada vinha sendo entendida como
a principal moeda de troca do povo marajoara.
Logo de início, foram prospectados os mais importantes atrativos
turísticos dos municípios de Soure e Salvaterra, principal portão de
entrada da Ilha do Marajó. Um processo de imersão no cenário do Marajó
foi necessário para apontar um caminho de atuação que identificasse
os atores sociais, os recursos potenciais e a capacidade empreendedora.
Todo o trabalho voltou-se para um redirecionamento e interiorização
da oferta turística, no sentido de atender às expectativas do mercado.
Os roteiros nos ambientes rurais do Marajó, que eram utilizados
superficialmente pelo trade turístico, foram lentamente se transfor-
mando em experiências reais para os visitantes. As manadas de búfalos,
os extensos campos sem piquetes, os pássaros guarás e o conheci-
mento secular do vaqueiro marajoara foram se destacando nos roteiros
de visitação, criando alternativas viáveis de crescimento econômico nas
fazendas e nas comunidades isoladas do Marajó.
Essa nova atividade turística contemplou sete propriedades rurais
que foram adequadas para essa finalidade e ampliou outros quatro
empreendimentos já existentes nos municípios de Soure e Salvaterra.
Essas propriedades foram adaptadas para hospedar o turista nas fazendas
e direcioná-lo para os eventos programados.
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As fazendas de criação de búfalos e cavalos marajoaras daqueles


municípios, as quais já estavam se organizando para a atividade turística, recebiam
visitação diurna com permanência de duas a quatro horas. Com o aumento
do fluxo de turistas, houve necessidade de redefinição da infra-estrutura,
adequação de equipamentos e capacitação de recursos humanos.
Outra etapa do programa foi a criação do Distrito Turístico Municipal,
com a definição de políticas de incentivos fiscais e programas de apoio
à infra-estrutura básica e turística.

A evolução do projeto
A elaboração de uma pesquisa de demanda turística para nortear as
ações de melhoramentos dos serviços de operação receptiva e definição
de prioridades e investimentos públicos e privados foi outra etapa do
programa. Essa ação foi incorporada ao evento do Encontro Latino-
Americano de Turismo Rural, realizado no período de 8 a 10 /06/2002
na ilha do Marajó, o qual teve como proposta principal apresentar ao
mercado nacional e internacional os produtos criados e apoiados pelo
Programa de Diversificação da Oferta Turística o encontro contou com
a participação de oito operadoras de todo o Brasil, três operadoras de
nível internacional, 21 agências de viagens do estado e cinco palestrantes
de países da América Latina.
O resgate do patrimônio histórico e cultural, por meio da utilização
das referências culturais da comunidade, envolveu os professores da
rede escolar como agentes multiplicadores de técnicas e conceitos.
Com isto, as crianças e adolescentes passaram a conviver diariamente com
sua própria história, contada por meio dos conteúdos de aprendizagem.
Foram realizados doze seminários, envolvendo um total de 303 professores
da rede pública e informando aproximadamente 9.000 alunos sobre a
pesca artesanal, a cultura da mandioca e artesanato com o intuito de
fortalecer o processo de apropriação da metodologia por parte das
equipes de coordenação pedagógica e do corpo docente.
O auxílio aos empreendedores do turismo rural, para a elaboração
de plano de negócios, definição de infra-estrutura e projeto de captação
de investimentos, a partir dos dados colhidos com os empresários, criou
uma dinâmica de mobilização e conscientização sobre a atividade turística,
visando à construção de produtos turísticos integrados. Nesse sentido,
todos os empreendimentos foram tratados de forma complementar ao con-
junto de opções de oferta turística para as áreas rurais da ilha do Marajó.
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Durante os acompanhamentos técnicos, foram definidos produtos


de hospedagem rural, cavalgadas, roteiros náuticos, canoagem, trilhas
ecológicas, passeios de canoas pelos furos e alagados, observação de
animais silvestres, pesca desportiva, atividades culturais e gastronômicas.
No total, foram mobilizados três equipamentos existentes e criados seis
novos meios de hospedagem rural, realizada a melhoria dos serviços
em três empresas de transportes náuticos, uma empresa de roteiros de
cavalgadas com duas opções de roteiros integrados e duas empresas
do setor de alimentação. Além disso, foram mobilizadas três empresas de
operação receptiva para organização e venda de roteiros turísticos rurais,
melhoria do segmento artesanal, implantação de sinalização turística
dos municípios envolvidos e revitalização dos grupos folclóricos.
Foi criado um Centro de Promoção Turística Marajoara para definição
de estratégias e diretrizes administrativas e operacionais, que foi incor-
porado à Associação de Turismo Rural da Ilha do Marajó – ATURMA,
constituída por empresários do setor para gerir as ações de interesse
comum dos associados, principalmente as de promoção em parceria com
a Companhia Paraense de Turismo (Paratur) e sob a orientação do Sebrae.
Outra etapa do trabalho foi o desenvolvimento de um programa
de divulgação e sinalização do destino turístico da Ilha do Marajó. Foi
feito um plano de marketing e projetado um portal na internet e, ainda,
a confecção do guia turístico do Marajó, com o lançamento de nove
roteiros turísticos integrados.
O desenvolvimento do turismo na região contribuiu para a geração
de emprego e renda, bem como para o fortalecimento de grupos
folclóricos – com os trabalhos desenvolvidos pelos grupos de dança e a
valorização do vaqueiro marajoara, que passou a ser peça fundamental
nas atividades turísticas – e para o envolvimento das classes de
professores e alunos da rede pública municipal de ensino, com a
valorização da cultura e do patrimônio histórico local.

As parcerias
O programa de Diversificação da Oferta Turística do Pólo do
Marajó foi desenvolvido em parceria com o Sebrae na coordenação
técnica, financeira e o desenvolvimento da metodologia e articulação
político-institucional para a implantação do programa.
A Companhia Paraense de Turismo (Paratur) atuou na articulação
político-institucional, viabilização de transporte aéreo e terre s t re ,
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hospedagem e alimentação para a equipe técnica e promoção do


destino turístico da região.
O Banco da Amazônia S/A – BASA participou com recursos finan-
ceiros para a criação do website, elaboração de um guia turístico, geração
de imagens de satélite e fomento ao segmento artesanal.
As prefeituras municipais de Soure e de Salvaterra, na articulação
político-institucional, viabilização de espaço físico e logística local.
O programa foi desenvolvido com base em uma metodologia
gerada a partir dos conceitos e princípios do desenvolvimento turístico
sustentável, valorizando e respeitando as particularidades regionais
socioculturais, a viabilização econômica e financeira dos empreen-
dimentos e a manutenção e preservação do meio físico.
A implantação do programa nas propriedades rurais, que antes
trabalhavam apenas na atividade da pecuária extensiva, criou novas oportu-
nidades de negócios, com a geração de 65 novos empregos, tendo como
conseqüência: a melhoria da qualidade de vida e o resgate das
tradições culturais, despertando uma nova consciência empresarial e
cidadã, a formatação de novos produtos turísticos, a integração de
agentes de desenvolvimento, bem como a diversificação, a oferta e a
qualidade do destino turístico da ilha do Marajó.
Esse caminho de conquistas envolveu um esforço concentrado do
Sebrae, dos municípios e do Governo do Estado do Pará, no sentido
de trabalhar sob a ótica de construção de um caminho permanente e
duradouro de crescimento socioeconômico. Ações de educação patri-
monial, mobilização empreendedora, capacitação, vivências em ro t e i ro s
de integração regional, marketing e promoção turística ampliaram a
capacidade de entendimento sobre o mercado extremamente competitivo
do turismo. Esses passos foram ampliados na medida em que a demanda
e a capacidade empreendedora das empresas estiverem sendo desafiadas
para o crescimento econômico qualitativo, gerando distribuição de renda.

Os resultados, em 2002
Algumas das ofertas de produtos turísticos no espaço rural:

FAZENDA CAMBURUPY, Soure


Of e recia um ro t e i ro de cavalgada e participação da lida do campo. A
sede da fazenda foi adaptada para hospedagem de visitantes e o equi-
pamento de cavalgada foi modelado especialmente para atender as exigên-
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cias de conforto, sem abrir mão do estilo da tradicional sela marajoara.


Cerca de seis vaqueiros da própria fazenda foram treinados para servir de
guias de cavalgada. As mulheres dos vaqueiros ajudavam na preparação
de alimentos, nos serviços de hospedagem e na produção do artesanato.

FAZENDA SÃO JERÔNIMO, Soure


A casa sede foi adaptada para ser uma hospedaria com cinco suítes e
foi construído um restaurante para atender até 80 pessoas. As atividades
externas com passeios de charrete e caminhadas era uma importante
forma de captação de visitantes. A fazenda São Jerônimo estava planejando
uma expansão de mais 10 unidades habitacionais para ampliar a capacidade
de atendimento e receita operacional.

FAZENDA SANJO, Soure


A fazenda, que não trabalhava com a atividade turística, re f o rmou a
casa sede e construiu quatro apartamentos. A fazenda oferecia roteiros
de cavalgada e se especializou na observação da fauna silvestre.

FAZENDA ARARUANA, Soure


O local recebia grande fluxo de visitantes, mas não obtinha re t o rn o
com a atividade. Iniciou o trabalho de recepção de turistas, oferecendo
passeios em canoas pelos igarapés, lanches típicos marajoaras e apresen-
tações folclóricas com o grupo de carimbó Cruzeirinho, coordenado
pela proprietária Amélia Barbosa.

FAZENDA BOM JESUS, Soure


A fazenda operava roteiros de visitação, continua sendo a principal
área rural de visitação do Pólo do Marajó, atuando também dentro dos
roteiros integrados com as demais fazendas de Soure.

FAZENDA ALEGRE, Salvaterra


Estava sendo preparada a infra-estrutura interna na fazenda, com
construção da área de hospedagem, açudes de piscicultura e acessos.
Como o proprietário já possuía uma pousada na área urbana de Salvaterra,
a operação era facilitada para a inclusão nos roteiros turísticos.

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CONCLUSÃO

M arajó vinha recebendo atenção por parte da mídia nacional.


Apesar do ambiente pouco comum na Amazônia, com vastos campos
alagados e praias de água salobra com áreas de densos manguezais, a
ilha era reconhecida como um dos principais destinos turísticos da
região Norte do país. Essa mistura singular de extensas fazendas,
culturas caboclas tradicionais e presença marcante da natureza sem
igual da foz do rio Amazonas tornou-se um cenário perfeito para o
turismo de lazer.
Durante muito tempo, Marajó era visitada por turistas atraídos pela
riqueza natural e pelos costumes culturais da região. Algumas agências
de turismo já vinham oferecendo pacotes e roteiros aos visitantes que
vinham a Belém, capital do Estado. Entretanto, não se conseguia escala
econômica e nem sistematização do turismo por falta de infra-estrutura
e planejamento.
Geralmente nos municípios rurais detentores de recursos naturais
e culturais diferenciados, os prestadores de serviços e as instituições
tinham grande dificuldade na mobilização de grupamentos representativos
dos diversos participantes da comunidade, impedindo a continuidade das
ações de desenvolvimento e promoção dos projetos de interesse global.
As tentativas bem sucedidas de mobilização comunitária, para a
implantação do programa elaborado nesse projeto, permitiram a
justificação do aporte de recursos, a obtenção da prioridade para o
projeto com o poder público e a participação das instituições sociais
da comunidade no fortalecimento da economia local.
A necessidade da valorização do papel de cada parc e i ro e
construção de uma visão integrada de toda a atividade do turismo rural
foi um dos bons resultados obtidos com o projeto.
O Sebrae e os seus parceiros deram um passo muito importante
na promoção do desenvolvimento do segmento do turismo rural na região,
abrindo o espaço para que em futuros trabalhos viessem a ser gerados
novos produtos, capazes de trazer maior sustentação ao turismo local,
habilitando-o a disputar uma fatia importante no mercado internacional.

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PONTOS PARA DISCUSSÃO


• Como poderíamos fomentar essa atividade turística na região para
resolver os problemas de divulgação e acesso de tal forma a criar um
fluxo regular e contínuo de turistas, garantindo a sustentação do
negócio?

• A partir da atual oferta de equipamentos de lazer, ainda pouco quali-


ficada para os padrões requeridos pelos turistas internacionais, como
se poderia equacionar de modo econômico tal problema, tornando o
turismo local mais atraente?

• Como poderíamos sensibilizar o poder público para a importância da


criação e melhorias da infra-estrutura de apoio às atividades turísticas?

• Que estratégias de marketing do destino turístico poderiam ser criadas de


forma a atingir o mercado doméstico e internacional efetivamente?

Diretoria Executiva do Sebrae Pará (2002): Augusto Jorge Joy Colares, Maria Oslecy Rocha
Garcia e Valdemar Masao Ohashi

Agradecimentos:
Adenauer Góes – Presidente da PARATUR; Alacid Nunes Filho – Proprietário da Fazenda
Camburupy; Almir Gabriel – Governador do Estado do Pará; Ana Tereza Acataussú –
Presidente da ATURMA – Associação do Turismo Rural do Marajó Fazenda Sanjo; Augusto
Jorge Joy Colares – Diretor Financeiro do Sebrae/PA; Dário Pedrosa – Secretário de turismo de
Salvaterra; Lúcio Antônio Machado – Proprietário da GEKKO - Soluções Ambientais e
Atividades Turísticas; Margareth Teixeira – Secretária de Turismo de Soure; Maria Oslecy
Rocha Garcia – Superintendente do Sebrae/PA; Prefeitura Municipal de Soure; Raimundo B r i t o
– Proprietário da Fazenda São Jerônimo; Salvaterra, BASA- Banco de Desenvolvimento da
Amazônia; Valdemar Masao Ohashi, – Diretor Técnico do Sebrae/PA.

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