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RESENDE, J.M.; CHITARRA, M.I.F.; MALUF, W.R.; CHITARRA, A.B.; SAGGIN JÚNIOR, O.J.

Atividade de enzimas pectinametilesterase e


poligalacturonase durante o amadurecimento de tomates do grupo multilocular. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.2, p.206-212, abril-junho 2004.

Atividade de enzimas pectinametilesterase e poligalacturonase durante o


amadurecimento de tomates do grupo multilocular
Josane Maria Resende1; Maria Isabel F. Chitarra1; Wilson Roberto Maluf2; Adimilson Bosco Chitarra1;
Orivaldo José Saggin Júnior3
1
UFLA-DCA, 2UFLA-DAG, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG, E-mail: josane.resende@agr.unicamp.br; 3Embrapa Agrobiologia, C.
Postal 74.505, 23851-970 Seropédica-RJ

RESUMO ABSTRACT
Mediu-se a atividade das enzimas pectinametilesterase (PME) e Activity of the enzymes pectinmetylesterase and
poligalacturonase (PG) em frutos de tomate do grupo multilocular polygalacturonase during the ripening of tomatoes of the
em diferentes estádios de maturação e correlacionou-se com mu- multilocular group
danças na textura, pectinas e licopeno. Os tomates foram colhidos The activity of the enzymes pectinametylesterase (PME) and
no estádio verde-maturo e colocados a amadurecer em recinto com polygalacturonase (PG) was measured in tomato fruits of the
umidade relativa de 85-90% e temperatura ambiente de 200C±2. multilocular group at various maturation stages, to obtain the
Durante o armazenamento, foram retiradas amostras nos estádios correlation to changes in texture, pectin and lycopene. Fruits were
verde-maturo, “de vez”, maduro e vermelho-maduro para determi- harvested at the mature-green stage and ripened in a room with 85-
nar a atividade enzimática. As outras características foram analisa- 90% relative humidity and 20ºC±2 room temperature. Throughout
das somente quando os frutos atingiram o estádio vermelho-madu- storage, samples were taken to assess enzymes activity of PME and
ro. Dentre os genótipos avaliados, três híbridos, H3: F1 (BPX 308B PG at the maturation stages: mature green, breaker, ripe and red-
hv x Stevens), H8: F1 (BPX 308B hv x Piedmont) e H1: F1 (BPX ripe. The other variables were surveyed only after the red-ripe stage
308B hv x BPX-127H) sobressaíram-se com melhores característi- of fruits. Among the evaluated genotypes, three hybrids H3: F1 (BPX
cas para o consumo ao natural, quando comparado às testemunhas, 308B hv x Stevens), H8: F1 (BPX 308B hv x Piedmont) and H1: F1
por apresentarem menor atividade das enzimas PME e PG, o que (BPX 308B hv x BPX-127H) stood out with best characteristics for
reduziu a despolimerização e solubilização das pectinas resultando natural consumption when compared to control, showing the least
em maior textura. As maiores espessuras da polpa e menores núme- enzymes activities of PME and PG which led to a decrease in
ros de lóculos também contribuíram para aumentar a textura do fru- depolymerization and solubilization of pectin, causing an increased
to melhorando a vida-de-prateleira e a qualidade dos frutos. A baixa texture. In addition, larger pulp thickness and smaller numbers of
atividade da enzima PG não influenciou o desenvolvimento da cor, locules of these hybrids also contributed to the texture increase,
atributo considerado importante na aceitação do fruto pelo consu- improving shelf life and fruit quality. The low activity of the enzyme
midor. O híbrido H1: F1 (BPX 308B hv x BPX- 127H), que contém PG did not affect the development of color, an important trait for
o gene alc em heterozigose, o qual condiciona maior conservação acceptance of the fruit by consumers. The hybrid H1: F1 (BPX 308B
pós-colheita, foi o terceiro melhor híbrido para consumo, não apre- hv x BPX-127H), containing the alc gene in heterozigosis, which
sentando efeito detrimental na coloração, sugerindo que o gene alc improves post-harvest conservation, was the third best hybrid for
em heterozigose pode ser uma alternativa viável para o melhora- consumption. Presenting the alc gene in heterozigosis and, without
mento genético do tomateiro visando a melhor conservação pós- detrimental effect in coloration, this hybrid may be a viable option
colheita. for tomato plant breeders to improve post-harvest preservation.

Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, híbridos F1, alcobaça, Keywords: Lycopersicon esculentum, F1 hybrids, alcobaça, Crimson,
Crimson, high pigment, melhoramento genético, amaciamento, con- high pigment, plant breeding, softness, post harvest conservation.
servação pós-colheita.

(Recebido para publicação em 14 de outubro de 2003 e aceito em 3 de dezembro de 2004)

A textura é um importante fator de


qualidade em tomates para o con-
sumo ao natural, pois indica a tolerân-
tâncias pécticas (Batisse et al., 1994).
Estas são as principais responsáveis pe-
las mudanças de textura. A firmeza tam-
Embora várias hidrolases da parede
celular tenham sido implicadas no
amaciamento do fruto, especial atenção
cia do fruto ao transporte e manuseio bém depende da espessura da casca, tex- tem sido dada à degradação de
durante a colheita e comercialização. tura da polpa e estrutura locular dos fru- poliuronídeos. O papel das enzimas
Contudo, o mecanismo pelo qual os fru- tos (Mabbett, 1989). Desta forma, a per- pectolíticas, pectinametilesterase (PME)
tos amaciam não é completamente en- da progressiva de textura durante a e poligalacturonase (PG) durante a
tendido. Tem sido sugerido que decrés- maturação do tomate tem sido atribuída maturação do tomate tem sido extensi-
cimos na firmeza durante o amadureci- à redução na espessura das paredes ce- vamente investigado em genética, bio-
mento de frutos são devido a alterações lulares e da força coesiva que as man- química e níveis de expressão de genes
nas características dos polissacarídeos tém unidas, pela decomposição de (Fischer e Bennett, 1991).
da lamela média da parede celular, cujos protopectinas, celuloses, hemiceluloses A PME tem papel importante no
principais componentes são as subs- e amido ( Fisher e Bennett, 1991) amaciamento de frutos pelo aumento in

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Atividade de enzimas pectinametilesterase e poligalacturonase durante o amadurecimento de tomates do grupo multilocular

Tabela 1. Constituição genotípica dos híbridos de tomates, relativa aos locos alcobaça, crimson e high pigment empregados no experimen-
to. Lavras-MG, UFLA, 1995.

+ / + : normal; + / alc: heterozigoto para alcobaça; ogc / ogc : homozigoto para crimson; + / ogc : heterozigoto para crimson ; + / hp:
heterozigoto para high pigment.

vivo da suscetibilidade das pectinas à PG O objetivo do trabalho foi medir a condiciona maior conservação pós-co-
durante o amadurecimento (Koch e atividade de enzimas PME e PG em to- lheita dos frutos. É isogênica à cultivar
Nevins, 1989). Essa enzima catalisa a mates do grupo multilocular em quatro americana Tropic.
desmetilação do C6 do grupo carboxilíco estádios de maturação (verde-maturo, Linhagem BPX-105H: resistente a
dos resíduos de galacturosil, desesteri- “de vez”, maduro e vermelho-maduro), nematóides e homozigótica para os
ficando-os. Assim, a PG só catalisa a e correlacionar com mudanças na tex- genes ogc (“old gold crimson”) e hp
hidrólise das ligações α,1-4 do ácido tura, teores de pectinas e licopeno no (“high pigment”), que condicionam
galacturônico quando desesterificados fruto maduro. maior teor de licopeno nos frutos ma-
(Fischer e Bennett, 1991). Portanto, a duros e, no caso do hp, também maior
hidrólise da pectina depende da ação da MATERIAL E MÉTODOS teor de b-caroteno.
PME, que está presente em todos os es- Cultivar Stevens: procedente da
tádios de desenvolvimento do tomate, Os tratamentos foram constituídos África do Sul, com resistência ao vírus
porém, o aumento em sua atividade só por híbridos F1 experimentais de toma- do grupo vira-cabeça (Topvirus).
ocorre durante o amadurecimento tes do grupo multilocular e como teste- Cultivar Rotam-4: procedente da
(Pressey e Avants, 1982). munhas foram utilizados frutos da linha- África do Sul, é resistente a nematóides
A PG cataliza a hidrólise das liga- gem Tropicana (polinização aberta-op) e murcha bacteriana.
ções α 1-4 entre os resíduos de ácido e do híbrido comercial Ogata Fukuju Linhagem BHRS-2-3: procedente
galacturônico da cadeia de pectina (Tabela 1). da Austrália, é resistente às raças 1, 2 e
(Fischer e Bennett, 1991). Sua ativida- Os progenitores utilizados na obten- 3 de Fusarium oxysporum f. sp
de tem sido identificada em vários fru- lycopersici (Sacc.) Synd e Hans.
ção dos híbridos possuíam as caracte-
tos durante o amadurecimento, e se
rísticas: Cultivar Flórida1-B: procedente da
correlaciona com aumento de pectinas
Linhagem BPX-308B hv: progeni- Universidade da Flórida (EUA).
solúveis e amaciamento durante o ama-
durecimento (Ahrens e Huber, 1990). tor feminino comum a todos os híbri- Linhagem Tropicana: resistente a
Mutantes de tomates com os genes dos. Possui o gene ms-35 para macho nematóides e isogênica à cultivar ame-
rin, nor, Nr ou alc, reduzem a transcri- esterilidade (fortemente ligado ao gene ricana Tropic, portanto, de constituição
ção da PG, provavelmente por não acu- aa) que, quando em homozigose, genotípica semelhante à linhagem BPX-
mular o RNA mensageiro que a codifi- condiciona o fenótipo hipocótilo verde, 127H. Usada também como cultivar de
ca. Porém, esses genes podem induzir o que facilita a identificação da macho polinização aberta (op).
alguns efeitos não desejáveis no sabor, esterilidade na fase de plântula. Possui Cultivar Piedmont: procedente da
aroma e na cor dos frutos (Mutchler et também o gene ogc (“old gold crimson”), Carolina do Norte (EUA), possui o gene
al., 1992). O entendimento da bioquí- associado ao gene sp + que, em Ve, que confere resistência à raça 1 de
mica do amaciamento de frutos com o homozigose condicionam maior teor de Verticillium dahliae Kleb, e o gene I-2,
amadurecimento poderão propiciar in- licopeno nos frutos e hábito de cresci- que confere resistência às raças 1 e 2 de
formações comerciais importantes, uma mento indeterminado, respectivamente. Fusarium oxysporum f. sp lycopersici
vez que frutos mais firmes poderão ser Linhagem BPX-127H: homozi- (Sacc.) Synd e Hans, além de apresen-
comercializados por períodos mais longos. gótica para o locos alcobaça que tar resistência a todo tipo de rachadura

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do fruto, possui ainda o gene u que con- Rouse e Atikins (1955), citados por Jen híbrido H1 sobre o híbrido H7 pode ser
fere maturação uniforme ao fruto, au- e Robinson (1984). Uma unidade de ati- atribuída a ação do gene alcobaça em
sência de ombro verde (Gardner, 1985). vidade de PME foi definida como a heterozigose (+/alc) no primeiro, uma
Ogata Fukuju: híbrido F1 de origem quantidade de enzima capaz de catalisar vez que ambos possuem constituição
japonesa usado como testemunha co- a desmetilação de pectina corresponden- genotípica semelhante, demonstrando
mercial, apresenta consistência do fru- te ao consumo de um nanomol de NaOH que esse gene foi efetivo em aumentar
to maduro muito mole, mas de bom as- por dez minutos. A atividade da PG foi a vida-de-prateleira desse híbrido.
pecto e tamanho médio. determinada pela incubação do extrato Mutschler et al. (1992) trabalhando com
Utilizou-se delineamento em blocos enzimático com ácido poligalacturônico híbridos de tomate heterozigotos para
casualizados, com três repetições. As (substrato) por três horas a 30ºC. Os alc, obtiveram aumento de 60% na vida-
unidades experimentais foram constituí- açúcares redutores liberados após ces- de-prateleira em relação à linhagens de
das por sete frutos de cada um dos dez sada a atividade enzimática foram tomates de amadurecimento normal,
tratamentos. Os frutos foram acondicio- doseados pelo método de Nelson (1944). além de maior firmeza dos frutos.
nados em bandejas plásticas (25 x 30cm) Uma unidade de atividade de PG foi Além da estrutura locular e espes-
e mantidos em ambiente com tempera- definida como a quantidade de enzima sura da polpa, a ausência da rápida sín-
tura de 20ºC±2 e umidade relativa entre capaz de catalisar a formação de 1 tese da parede celular (Mitcham et al.,
85-90%. Foram analisados quatro fru- nanomol de açúcar redutor por minuto 1991) que ocorre em frutos com perfil
tos de cada unidade experimental quan- sob as condições do ensaio. diferente de amadurecimento
to à sua atividade de PME e PG nos es- Os dados obtidos foram submetidos (climatério respiratório atrasado, redu-
tádios verde-maturo, “de vez”, maduro à análise de variância e quando houve ção no pico de etileno e redução na ati-
e vermelho-maduro (Pratt e Workman, significância pelo teste de F, as médias vidade da enzima PG) (Lobo et al.,
1962). Os três frutos restantes foram foram testadas pelo teste de Duncan a 1984), poderia explicar porque híbridos
deixados para atingir o estádio verme- 5% utilizando o programa SANEST como H3 e H8 não perdem a firmeza
lho-maduro para as análises de espes- (Sarriés et al., 1992). tão rapidamente quanto as testemunhas.
sura da polpa, número de lóculos, tex- Essa seria outra possível explicação para
tura, licopeno e pectinas. RESULTADOS E DISCUSSÃO a manutenção da textura nesses híbri-
Foram avaliadas as variáveis: Nº de dos. Segundo Tong e Gross, (1990), a
lóculos (determinado visualmente por O número de lóculos foi maior para rápida aceleração na síntese da parede
meio de contagem); Espessura da pol- o híbrido H2 e a testemunha Ogata celular, que ocorre em tomates de ama-
pa (em cm, determinada em quatro pon- Fukuju, indicando que o melhoramento durecimento normal, pode resultar na
tos distintos, após o corte transversal do do tomateiro multilocular obteve suces- liberação de fragmentos da parede ce-
fruto); Textura (medida nos frutos após so na redução do número de lóculos, lular biologicamente ativos, com resí-
retirar uma pequena porção da casca, por particularmente dos híbridos H8 e H3 duos de galactosil de baixo peso
meio de penetrômetro Magness-Tayler, (Tabela 2). Os híbridos H8, H3 e H4 se molecular, que ocorrem antes do aumen-
com “Pluger” de 7,94 mm de diâmetro; sobressaíram apresentando maior espes- to inicial do ácido carboxílico 1-amino
resultados expressos em Newtons após sura da polpa quando comparados aos ciclopropano e etileno, os quais podem
a multiplicação pelo fator 4,11; os maio- demais, entretanto todas cultivares apre- modificar a estrutura da parede celular
res valores indicam frutos mais firmes); sentaram maior espessura da polpa do levando a um rápido amaciamento do
Licopeno (extraído e determinado se- que a testemunha Ogata Fukuju (Tabe- tecido.
gundo técnica descrita por Mencarelli e la 2). Ambas as características são de- Todas cultivares avaliadas apresen-
Saltveit Jr. (1988); calculado usando o sejáveis no melhoramento do tomate por taram maiores teores de licopeno do que
coeficiente de extinção molecular de contribuírem no aumento da textura dos as testemunhas (Tabela 2). O híbrido
17,02 x 104 mol.cm-1; resultados expres- frutos e consequentemente na sua vida- H2, homozigoto para os genes ogc e
sos em mg de licopeno.g-1 de massa fres- de-prateleira. Todas cultivares, com ex- heterozigoto para hp apresentou maior
ca); Pectina total e solúvel (extraídas ceção do híbrido H2, apresentaram tex- teor de licopeno, o que se esperava de
segundo técnica descrita por McCready tura maior que a testemunha Ogata um material ogc/ogc. No entanto, dois
e McComb (1952), e determinadas Fukuju; este aumento foi mais evidente outros híbridos, o H1 e H5,
colorimetricamente conforme técnica nos híbridos H8, H3 e H4 (Tabela 2). A heterozigotos apenas para o loco ogc (+/
modificada por Bitter e Muir (1962); textura do tomate é influenciada pela ogc), também apresentaram altos teores
resultados expressos em mg de ácido espessura da casca, firmeza da polpa e de licopeno, o que demonstra que em
galacturônico/100g de fruto); Ativida- pela estrutura interna do fruto, ou seja, determinadas constituições genotípicas
de enzimática (os extratos brutos das a relação pericarpo/material placentário o locos em heterozigose (+/ogc) também
enzimas foram obtidos segundo (Mabbett, 1989). Assim, a maior textu- pode apresentar excelente coloração.
metodologia descrita por Pressey e ra dos híbridos H3 e H8 pode ser Além disso o híbrido H1 que é
Avants (1982) e Jen e Robinson (1984)); explicada, em parte, pela maior espes- heterozigoto para locos alc (+/alc) apre-
A atividade da PME foi medida usan- sura da polpa e menor número de sentou excelente pigmentação, demons-
do-se uma modificação do método de lóculos, entretanto a superioridade do trando que o gene alc em heterozigose

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Atividade de enzimas pectinametilesterase e poligalacturonase durante o amadurecimento de tomates do grupo multilocular

Tabela 2. Número de lóculos, espessura de polpa, textura, licopeno, pectina total, pectina solúvel e relação pectina solúvel/pectina total de
híbridos de tomate do grupo multilocular. Lavras-MG, UFLA, 1995.

Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Duncan 5%.
1/
Licopeno em µg.g-1 de fruto
2/
Pectina total e solúvel em mg de ácido galacturônico .100g-1 de fruto

não influencia negativamente a colora- genotípica semelhante ao H7, apresen- textura possuíam maior espessura de
ção, como o faz no homozigoto. Um tou teor de pectina total maior, um efei- polpa, menor número de lóculos, me-
possível efeito negativo do gene alc em to do locos alc em heterozigose (+/alc) nor teor de pectina solúvel e menores
heterozigose na coloração poderia ter neste híbrido, em contraposição ao atividades das enzimas PME e PG nos
sido amenizado pela presença do gene genótipo normal (+/+) neste locos no estádios iniciais de maturação, propi-
ogc em heterozigose (+/ogc), associado híbrido H7. O alto conteúdo de pectina ciando frutos mais firmes, com vida-de-
ainda à atividade alta de PG nesse hí- total das cultivares sugere que a ativida- prateleira mais extensa.
brido quando comparado ao híbrido H7, de da PG é reduzida durante o amadure- Na comparação do híbrido H1 com
de constituição genotípica semelhante. cimento, possivelmente pela imobiliza- o híbrido H7 (Figura 1), que diferem
Aly et al. (1986) e Mutschler et al. ção parcial da enzima, retenção dela no entre si pela presença do gene alcobaça
(1992) sugeriram que o aumento de ati- citoplasma ou regulações secundárias, em heterozigose, verifica-se que o pri-
vidade da enzima PG tem efeito positi- como verificado por Koch e Nevins meiro foi superior para uma atividade
vo sobre o conteúdo de licopeno, por ser (1990), que não constataram mudanças mais baixa da PME, o que sugere a ma-
usualmente acumulada em paralelo com no conteúdo de pectinas totais durante o nifestação do gene alc, que mesmo em
o pigmento durante o amadurecimento. amadurecimento de tomates. heterozigose, proporciona maior poten-
A faixa de licopeno obtida nos híbri- Todas as cultivares mostraram teor cial para conservação pós-colheita. Isto
dos bem pigmentados (75 a 89mg de inferior de pectina solúvel ao do híbri- é particularmente evidente, quando se
licopeno/ g de fruto fresco) encontra-se do Ogata Fukuju. Esses resultados po- observa que em contrapartida o híbrido
próxima àquelas obtidas por Souza et al. dem ser melhor visualizados quando normal H7 apresenta atividade alta de
(1992) (72 a 98 µg/g de fruto fresco) em transformados em valores percentuais PME.
tomates crimson com alta pigmentação. relativos à pectina total (Tabela 2). Os O mRNA de PME e a atividade da
A cor, juntamente com a textura, são híbridos H3 e H8 apresentaram menor enzima são detectados pela primeira vez
atributos importantes na aceitação do porcentagem de pectina solúvel em re- em frutos com 10 a 20 dias de idade, e
tomate pelo consumidor. Suas modifi- lação à pectina total. O híbrido H1 apre- continuam a acumular até o estádio “de
cações durante o amadurecimento têm sentou teor de pectina total maior, vez”, quando atingem níveis vinte ve-
sido empregadas como indicadores da pectina solúvel menor e relação pectina zes mais altos, quando comparados com
qualidade do fruto (Chitarra e Chitarra, solúvel/pectina total menor quando frutos de 10 dias de idade, declinando
1990; Souza et al., 1992). Os resulta- comparado ao híbrido H7 de constitui- em seguida (Harriman et al., 1991). Isso
dos deste estudo indicam que progres- ção genotípica semelhante, o que refle- também foi verificado neste estudo. A
sos consideráveis foram obtidos com o te a ação do locos alc em heterozigose atividade mais alta de PME no estádio
melhoramento, nas cultivares avaliadas, no híbrido H1, sugerindo que o gene alc “de vez” coincidiu com a elevação da
mantendo uma cor adequada para con- em heterozigose proporciona maior tex- atividade de PG e com os primeiros si-
sumo ao natural. tura aos frutos. nais de mudanças na cor dos frutos. A
O híbrido H8 apresentou maior teor Os resultados de pectina solúvel, função da PME é desmetilar o C6 de
de pectina total que os híbridos H2, H4, estão de acordo com os obtidos para tex- ácidos pectínicos possibilitando a ação
H7 e as testemunhas (Tabela 2). Contu- tura e atividade das enzimas PME e PG. da PG no processo de amaciamento de
do, o híbrido H1 de constituição As cultivares que apresentaram maior frutos. O melhoramento obteve sucesso

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J. M. Resende et al.

com os híbridos H3, H8, H4 e H1, man-


tendo as suas atividades da PME em
níveis mais baixos que a maioria dos
híbridos avaliados em todos os estádios
de amadurecimento, e particularmente,
reduzindo o pico de atividade da PME
no estádio “de vez” do amadurecimen-
to. Nos três primeiros casos, trata-se de
genótipos normais no locos alc, enquan-
to que no último trata-se de genótipo +/
alc, indicando que, embora seja possí-
vel aumentar a conservação pós-colheita
em constituições genotípicas normais,
o uso de heterozigotos alc (+/alc) pode
ser uma estratégia viável.
As cultivares diferem entre si na se-
guinte ordem decrescente de atividade
da PG: híbrido Ogata Fukuju > H4 >
H2 > linhagem Tropicana-op = H1 > H5
= H6 =H7 > H8 = H3 (Figura 2). Varia-
ções entre os híbridos também foram
observadas em menor escala para a ati-
vidade de PME (Figura 1). Isso se deve
a um perfil de amadurecimento diferente
entre as cultivares, nas quais essas
enzimas são liberadas pela parede celu-
lar (PC) de forma e em tempos diferen-
tes, e também, devido à natureza das
substâncias pécticas e outros componen-
tes da estrutura da parede celular.
O fato de os híbridos H4 e H1 terem
apresentado atividade mais baixa de
PME, e em contraste, apresentado ati-
vidade de PG relativamente alta, pode
ser explicado pela presença de pectinas
com baixo grau de metoxilação. Além
da capacidade genética desses híbridos
de manterem níveis menores de Ca+2 nos
tecidos, fazendo com que a PG atuasse
mais intensamente sobre as pectinas. O
Ca+2 tem papel relevante na ação da
PME sobre as pectinas. Durante o ama-
durecimento do fruto, a atividade da
PME resulta no aparecimento de gru- Figura 1. Atividade de pectinametilesterase nos estádios de maturação verde-maturo (VM),
pos carboxílicos com carga (COO-1), “de vez” (BR), maduro (VE) e vermelho-maduro (RR) de híbridos F1 de tomates do grupo
reduzindo o grau de esterificação e au- multilocular. H1: F1 (BPX 308B hv x BPX 127H); H2: F1 (BPX 308B hv x BPX 105H); H3:
mentando a densidade de cargas negati- F1 (BPX 308B hv x Stevens); H4: F1 (BPX 308B hv x Rotam-4); H5: F1 (BPX 308B hv x
vas ao longo da cadeia de pectina. As- BHRS-2-3); H6: F1 (BPX 308B hv x Flórida 1B); H7: F1 (BPX 308B hv x Tropicana); H8: F1
(BPX 308B hv x Piedmont); L.T.: Linhagem Tropicana (op); O.F.: Híbrido F1 Ogata Fukuju.
sim, a afinidade por ligação com o Ca+2
Lavras-MG, UFLA, 1995.
é aumentada, e essa ligação é conside- As letras comparam os híbridos dentro do estádio “de vez”, sendo que letras iguais eles não
rada de natureza cooperativa, pois im- diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%
pede a ação da PG e conseqüentemente
mantém a estrutura da parede celular
(Burns e Pressey, 1987). Esse seria um
linhagem Tropicana-op no estádio “de dos genes dessas enzimas ou ainda, à
dos possíveis mecanismos para explicar
vez”. Híbridos com baixa atividade de redução da tradução apenas da enzima
a baixa atividade da PG em cultivares
PME e PG, como o H3 e H8, podem PME associada ao alto nível de
com alta atividade da PME como ocor-
ocorrer devido à redução da tradução metoxilação das substâncias pécticas.
reu com o híbrido H7 e a testemunha,

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Atividade de enzimas pectinametilesterase e poligalacturonase durante o amadurecimento de tomates do grupo multilocular

pais fatores na retenção da textura dos


mutantes por períodos mais prolonga-
dos. O aumento da atividade da enzima
PG pode ter efeito positivo sobre o con-
teúdo de licopeno (Mutschler et al.,
1992), uma vez que ela é usualmente
acumulada em paralelo com esse pig-
mento durante o amadurecimento. En-
tretanto, não foram observadas correla-
ções entre a atividade da PG e o conteú-
do de licopeno dos híbridos. O estado
de heterozigose para crimson (+/ogc)
nos híbridos estudados possivelmente
amenizou os efeitos negativos da redu-
ção na atividade da PG.
Resultados semelhantes aos deste
estudo foram obtidos por Nguyen et al.
(1991), os quais constataram que a re-
dução na atividade da PG em tomates
mutantes não impediu a acumulação do
pigmento licopeno, que foi acumulado
em quantidades semelhantes à de frutos
não mutantes, para menor atividade da
PG.
O híbrido (+/alc) H1 teve atividade
da PG no estádio “de vez” ligeiramente
maior do que seu contraparente normal
(+/+), o híbrido H7, ao contrário do que
ocorreu em relação à atividade da PME.
No entanto, essa diferença foi muito in-
ferior à existente entre as atividades da
PG de genótipos normais (+/+) extre-
mos, como entre os híbridos de ativida-
de baixa (H3 e H8) e os de atividade
alta (linhagem Tropicana-op e híbrido
Ogata Fukuju), podendo ser considera-
da pouco importante. Assim, a
heterozigose no locos alcobaça parece
contribuir para a redução da atividade
de PME, mas não da PG.
As atividades das enzimas PME e
PG foram mais baixas nos híbridos H3,
H8 e H1, quando comparadas às ativi-
Figura 2. Atividade de poligalacturonase nos estádios de maturação verde-maturo (VM), dades dos outros híbridos durante todos
“de vez” (BR), maduro (VE) e vermelho-maduro (RR) de híbridos F1 de tomates do grupo os estádios de amadurecimento. A bai-
multilocular. H1: F1 (BPX 308B hv x BPX 127H); H2: F1 (BPX 308B hv x BPX 105H); H3: xa atividade das enzimas PME e no caso
F1 (BPX 308B hv x Stevens); H4: F1 (BPX 308B hv x Rotam-4); H5: F1 (BPX 308B hv x dos dois primeiros, também de PG, le-
BHRS-2-3); H6: F1 (BPX 308B hv x Flórida 1B); H7: F1 (BPX 308B hv x Tropicana); H8: F1
vou a uma redução na despolimerização
(BPX 308B hv x Piedmont); L.T.: Linhagem Tropicana (op); O.F.: Híbrido F1 Ogata Fukuju.
Lavras-MG, UFLA, 1995. e solubilização das pectinas, resultando
As letras comparam os híbridos dentro do estádio “de vez”, sendo que letras iguais eles não em maior textura. O desenvolvimento da
diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% cor, atributo considerado importante para
qualidade dos frutos não foi influencia-
do pela baixa atividade da PME e da PG
A baixa atividade da PG proporcio- mento, com aqueles de amadurecimen- A heterozigose do locos alcobaça
nou híbridos mais firmes. Em trabalhos to normal (Koch e Nevins, 1990; Schuch promoveu aumento da textura, redução
que comparam a textura de tomates con- et al., 1991), observou-se que a redu- do teor de pectina solúvel e da relação
tendo genes mutantes do amadureci- ção na atividade de PG é um dos princi- pectina solúvel/pectina total, além de

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