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Origem e funcionamento da lista aberta no Brasil (Câmara dos Deputados)
1. 1932 - Representação proporcional, voto preferencial [o eleitor classifica uma
lista de candidatos em ordem de preferência]. O eleitor podia escolher
candidatos de diferentes partidos ou desvinculados de qualquer partido.
Entretanto, o processo de apuração privilegiava o nome que encabeçava a lista
dos candidatos
2. 1935 - O eleitor passa a votar em um único nome. (só entrou em vigor em 1945
devido ao governo Vargas)
3. No sistema em vigor, é possível votar em um nome ou em um partido
(legenda). Dessa maneira, as cadeiras obtidas pelos partidos ou por suas
coligações são destinadas aos candidatos mais votados de cada lista. Em outras
palavras, o total de cadeiras que o partido recebe no estado é o resultado
agregado da votação que cada candidato conquista individualmente.
Nicolau atenta para dois aspectos do sistema eleitoral na Câmara dos Deputados:
1. Forma como os nomes dos candidatos foram apresentados aos eleitores: a cédula não
apresenta uma lista completa dos candidatos. O eleitor escreve ou digita o nome ou
número do candidato sem menção aos outros componentes da lista. Resultado: reforça
a falsa ideia de tratar-se de eleições conforme a regra majoritária.
2. Institucionalização do voto partidário: de cédulas partidárias (impressas pelo próprio
partido e distribuídas para o eleitor colocar na cabine no dia da votação. Os votos de
legenda serviam para quando houvesse imprecisões de preenchimento), passando pela
cédula oficial a partir de 1962 (eleitor passou a ter que escrever o nome do candidato ou
sigla do partido. Introduziu de maneira mais formal o voto de legenda) e chegando a
votação via urna eletrônica a partir de 1998.
Seleção de candidatos
Na disputa para a Câmara dos Deputados, os partidos apresentam uma lista de
candidatos, com uma série de exigências: quantidade de candidatos em relação ao número de
cadeiras; em relação ao gênero; um ano de vínculo com o partido; vínculo territorial;
alfabetização; idade mínima de 21 anos. Um candidato não pode concorrer em listas de outros
estados nem disputar simultaneamente outros cargos na mesma eleição.
Segundo a legislação partidária, a norma para escolha dos candidatos deve ser
definida pelo regimento interno de cada partido.
Os partidos podem coligar-se, desde que as coligações em eleições presidenciais sejam
diferentes das coligações em âmbito estadual. Um partido que não apresentou candidato a
Presidência pode se coligar com qualquer partido nos estados.
Quanto às escolhas internas, Nicolau afirma que há pouco conhecimento sobre o tema.
Sabe-se que:
1. Nenhum partido usa prévias internas com filiados;
2. Os candidatos são escolhidos antes das convenções oficiais.
Nicolau levanta a hipótese de fatores que são fundamentais: dimensão territorial e
diversidade social (critérios geográficos para atrair nomes de diversas regiões do estado, e
buscando diferentes setores do eleitorado). Os partidos buscam apresentar muitos nomes, uma
vez que o total de cadeiras conquistado por ele é, na verdade, a soma da conquista individual
de cada candidato.
Efeitos.
A. Efeitos sobre os partidos
Efeito do sistema eleitoral sobre a estratégia eleitoral dos candidatos.
Questão: até que ponto o efeito do sistema eleitoral tem impacto na configuração
organizacional de um partido?
A lista aberta estimula a competição entre os membros de uma mesma legenda,
novamente afetando o partido. A alocação intralista é feita pelo sistema majoritário, de forma
que os candidatos têm como principais adversários os membros do mesmo partido. A
competição é agravada pela incerteza que se dá nas eleições para deputado federal: número
de candidatos em cada lista superior ao potencial eleitoral do partido; e a reduzida informação
que os candidatos têm sobre esse potencial eleitoral.
Estudo de Katz acerca da disputa intrapartidária: os candidatos à reeleição podem
perder o mandato ou por falha do partido (“quando não há nome novo na lista final dos eleitos
por aquele partido (...) ou quando o partido pelo qual ele concorreu não elegeu ninguém” -
p.106) ou por falha do candidato (partido elege algum nome novo e ele fica de fora). Na
Câmara dos Deputados (1994, 1998, 2002), 10% foram derrotados por falha do partido e 22%
por falha do candidato - ou seja, não se reelegeram por terem sido derrotados por outros
membros da lista, o que mostra a alta competição intrapartidária.
C. Efeitos sobre a relação dos deputados com as bases eleitorais
A relação dos deputados com os eleitores está estritamente vinculada com os fatores
de diferentes sistemas eleitorais. Nos estudos de Gallaguer, nos sistemas proporcionais
centrados no candidato, o deputado busca realizar atividades que o diferenciem do colega. Isso
se dá, segundo o autor, por meio de projetos clientelísticos. Nicolau discorda desse ponto,
argumentando que, para diferenciar-se, um deputado pode investir esforços na vida legislativa
ou reforçar seu partido.
No Brasil, os deputados federais desenvolvem diferentes padrões de prestação de
contas. Um parlamentar da elite pode mobilizar recursos que dispensem o uso de ações
particularistas. Já parlamentares que não fazem parte da elite tendem a beneficiar diretamente
seu reduto eleitoral.
Na pesquisa de Carvalho, os deputados declararam a ação junto aos
municípios-eleitores como sendo o aspecto mais significativo para seu sucesso eleitoral.
Isto é, a visita frequente aos municípios onde o deputado foi bem votado; liberação de
emendas do orçamento e a intermediação do pleito dos prefeitos e lideranças locais. Em
compensação, a patronagem e a conexão com o governador são valores pouco importantes
para o sucesso eleitoral segundo os deputados. Em ordem decrescente, temos: ação junto aos
municípios-eleitores; atividade na Câmara dos Deputados; presença na mídia; patronagem;
outros.
Como se dá essa predominância geográfica? A decisão de onde concentrar a
campanha está associada ao perfil político e à disponibilidade de recursos. Uma liderança
com trajetória política mais abrangente dispersa seus recursos. Uma liderança com fortes
vínculos com determinado município direciona sua campanha a uma área específica do estado.
“Os municípios precisam ser visitados frequentemente; o deputado deve se
empenhar em obter recursos do orçamento para determinadas áreas e encaminhar o
pleito dos prefeitos e lideranças locais” (p.114)