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12/9/2014 Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Yu Jian | Sibila

SIBILA
Sibila, lugares contemporâneos da
Poesia e Crítica Literária
poesia: Yu Jian
Yu Jian | 10 set 2014 | Crítica
YU JIAN (1954, Kunming) é um poeta e cineasta contemporâneo chinês, com um forte interesse
em experimentação. Ele reside em Beijing. É uma figura de destaque da terceira geração de
poetas, conhecida como o grupo Minjian (espaço popular). As características de sua poesia
incluem uma rejeição à linguagem metafórica, ao confessionalismo, ao lirismo e ao idealismo.
Para Yu Jian, poesia “deve ser firmemente plantada no solo da vida contemporânea”.

Embora ele seja acusado de escrever “não poesia” por críticos conservadores, o trabalho de Yu
Jian é geralmente livre da vulgaridade e banalidade. Durante 20 anos, ele experimentou com uma
variedade de estilos em uma busca por uma mistura eficaz do empírico, do especulativo e do
estético. Muitos poemas trabalham um fato da vida cotidiana, para revelar implicações culturais
imprevistas.

Sessenta Poemas (Shiliushi shou), sua primeira coleção significativa, foi publicado em 1989, e foi
seguido por Corvo (Dui yi zhi Wuya de mingming) e Um pregoatravés do céu (Yi mei chuanguo
Tiankong de dingzi). A reunião representativa de sua poesia apareceu sob o título Yu Jian (Yu Jian
de shi, 2000). Este livro contém versões definitivas de dois poemas controversos longos: “Arquivo
0” (dang’an Ling, 1992, feito em um jogo por Mou Sen), uma longa meditação sobre o dossiê
pessoal e sua ampla influência sobre a vida chinesa; e “Flight” (Feixing, 2000), um somatório
ambicioso de estilos e dos temas de sua obra que trata dos efeitos destrutivos da modernização.

Leitura de poesia

Sibila: Você lê poesia?

Yu Jian: Sim.

Sibila: Que poesia você lê?

Yu Jian: Versos livres dos poetas chineses contemporâneos. Poemas clássicos chineses. E
também poemas traduzidos das línguas ocidentais e de outras línguas do Oriente.

Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?

Yu Jian: Afeta a minha visão de mundo.

Escrita de poesia

Sibila: O que você espera ao escrever poesia?

Yu Jian: Espero que o mundo conheça Yu Jian como um ser de linguagem.

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Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?

Yu Jian: Escrever poemas me faz perceber vivo e erótico.

Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?

Yu Jian: Ela funciona aos leitores para que eles saibam que existe um poeta assim e ele escreve
desse jeito específico.

Publicação de poesia

Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?

Yu Jian: Uma vida estável, simples e tranquila. Viagens. Um caderno e algum tempo sem
preocupação.

Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?

Yu Jian: O melhor resultado é quando uma pessoa que lê os meus poemas é o leitor que eu já
estava aguardando. Em minha imaginação esse leitor era um autor que escrevia obras imortais em
sua vida passada, e, agora, reencarnou como exatamente meu leitor e eu o encontrei. Já vivi esta
experiência várias vezes.

Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?

Yu Jian: Eu não sei, eles aparecem às vezes. Cada poema tem seu leitor próprio. Talvez, no caso
de alguns poemas, jamais haja leitores. Eles vêm devagar e chegam meio tarde, tal como a
inspiração. Não se pode achar que um poeta é capaz de produzir bons poemas toda hora.

Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?

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Yu Jian: Gostaria que as pessoas falassem sobre a obra, contassem para outras pessoas, e,
depois de muito tempo, ainda conversassem sobre a obra como se passasse uma luz no meio da
escuridão.

Tradução da entrevista: Fan Xing

* * *

Dois poemas curtos de Yu Jian

Poema 9

amanhecer
uma folha cai no parapeito
da janela
não tenho certeza
ontem
eu era um poeta
ou
uma flor
ou uma caixa
de biscoitos
hoje
eu sou um homem
biscoitos, dentro da caixa,
miram pétalas
num átimo
a folha agora cai
dentro de mim
e eu me sento ao lado dela

诗第9首

黎明时刻

一片叶子飘落在窗台

我不能确定

昨天

我是诗人

或一朵花

或饼干盒子

今天

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我是一个男人

正在看饼干盒子上的

花瓣

那片叶子

现在

进入心里

和我并排而坐

Poema 16

Quando os sapatos não andam


Quem são os pés?
Os pés de sair por conta própria
Sem um corpo
Os sapatos de sair por conta própria
Sem pés
O andar de Lu sai depressa por si
Ei, forma, ei, espere por mim!

诗第16首
鞋子不走路的时候
谁的脚?
脚自己走
没有躯体
鞋子自己走
没有脚
路也自己走
嗨,路,等等我!

Recriações de Régis Bonvicino com o auxílio direto de Yu Jian

* * *

关于读诗的几个问题A. yīgè. Dú shī

Sibila:您读诗吗? nǐ dú shī?

Yujian:是的。

Sibila:读什么类型的诗? Nǐ dú shénme yàng de shī?

Yujian:中国的自由诗。古典诗歌和翻译的诗歌。

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Sibila:你认为读诗会给你带来什么影响? Nǐ rènwéi dú shī huì chǎnshēng

关于写诗的几个问题 B. Xiě shī

Sibila:对于写诗而言,您的期望的是什么?Shénme, nǐ cóng xiě shī de qīwàng?

Yujian:我期望世界因此知道于坚作为一种语言的存在。

Sibila:在你的观念里,写诗给您带来的最大的影响是什么?Zài nǐ kàn lái, zhè shì rénmen kěyǐ


cóng liàn shī dédào zuì hǎo de xiàoguǒ ne?

Yujian:令我意识到我存在着,生活着、爱着。

Sibila:你的诗歌的出版价值是什么?Do nǐ rènwéi nǐ de shīgē yǒu rènhé gōngkāi de jiàzhí?

Yujian:让读者知道有这样一位诗人,他如此写作。

关于出版的几个问题C. Chūbǎn shījí

Sibila:在你写诗的过程中,最好的支持是什么?Nàxiē shì nǐ de shī zuì hǎo de zhīchí?

Yujian:稳定安静朴素的生活。可以到处旅行。一个笔记本和无忧无虑的时间。

Sibila:出版诗集您期待的最好结果是什么?Nǎge shì nǐ cóng nǐ de shīgē chūbǎn qīwàng zuì hǎo


de jiéguǒ?

Yujian:我期待的那类读者读到我的诗。我想象的读者是某些留下了不朽作品的死者,而他们在我
的时代通过某些读者转世,而我遇见他们。我有过这种经验。

Sibila:谁是你最好的读者?Shuí shì nǐ de shīgē de dúzhě zuì hǎo?

Yujian:不知道,他们偶尔会出现。一首诗有一首诗的读者。也许有些诗的读者永不出现,他们姗
姗来迟。
这与写诗的灵感到来是一样的。你不能指望你总是能写好。

Sibila:出版书籍后你最希望得到什么样反应?(希望发生什么?)
Qǐngwèn nín zuì xīwàng fāshēng de shīgē chūbǎn hòu?

Yujian:人们谈论它们,告诉别人,过了很久还在谈论它们,就像在黑暗里传递灯那样。

* * *

Leia a série completa

Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Martín Gubbins


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Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Jean-Marie Gleize
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Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Eduardo Milán

Lugares contemporâneos da poesia

Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino


Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein

Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente


apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se
poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?

Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não
problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de
sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?

Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados
poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples,
primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios
os automatismos da prática.

Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a
escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o
suporte.

A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas
que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.

Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada
disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas
imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.

A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar
para a prática que os define como poetas.

Contemporary places for poetry

There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a
practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been
made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not
going on publishing them?

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But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which
doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not
suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?

Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their
own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions!
–, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the
poetical practice.

Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to
publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.

The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to
avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.

Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all
explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting.
Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know
what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines
them as poets.

• entrevista • lang:pt-BR • lang:zh-CN • Lugares contemporâneos da poesia


• tradução

Sobre Yu Jian
(1954, Kunming) É um poeta e cineasta contemporâneo chinês, com um forte
interesse em experimentação. Ele reside em Beijing. É uma figura de destaque
da terceira geração de poetas, conhecida como o grupo Minjian (espaço popular).
As características de sua poesia incluem uma rejeição à linguagem metafórica,
ao confessionalismo, ao lirismo e ao idealismo. Para Yu Jian, poesia “deve ser
firmemente plantada no solo da vida contemporânea”.
Ver todas as colaborações por Yu Jian →

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