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CEPED UFSC
Florianópolis – 2013
PRESIDENTE DA REPÚBLICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ESTUDOS
Dilma Vana Rousseff REITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL E PESQUISAS SOBRE DESASTRES
MINISTRO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL DE SANTA CATARINA DIRETOR GERAL
Fernando Bezerra Coelho Professora Roselane Neckel, Dra. Professor Antônio Edésio Jungles, Dr.
SECRETÁRIO NACIONAL DE DEFESA CIVIL DIRETOR DO CENTRO TECNOLÓGICO DA DIRETOR TÉCNICO E DE ENSINO
Humberto de Azevedo Viana Filho UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Professor Marcos Baptista Lopez Dalmau, Dr.
Professor Sebastião Roberto Soares, Dr.
DIRETOR DO CENTRO NACIONAL DE FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA
GERENCIAMENTO DE RISCOS E DESASTRES E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Rafael Schadeck SUPERINTENDENTE
Professor Gilberto Vieira Ângelo, Esp.
Volume Maranhão.
Lista de Gráficos
Gráfico 1: Frequência anual de desastres causados por estiagem e seca no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012..................................................................................................................34
Gráfico 2: Frequência mensal de estiagem e seca no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012...................................................................................................................................................................35
Gráfico 3: Danos humanos ocasionados por estiagem e seca no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012.........................................................................................................................................35
Gráfico 4: Frequência anual de desastres por enxurrada no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012....................................................................................................................................................45
Gráfico 5: Frequência mensal de desastres por enxurrada no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012................................................................................................................................................45
Gráfico 6: Danos humanos causados por desastres de enxurrada no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012...............................................................................................................................46
Gráfico 7: Estruturas destruídas e danificadas pelas enxurradas no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012....................................................................................................................................47
Gráfico 8: Frequência anual de desastres por inundações no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012..................................................................................................................................................57
Gráfico 9: Frequência mensal de desastres por inundações no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012..............................................................................................................................................57
Gráfico 10: Danos humanos causados por desastres de inundações no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012..........................................................................................................................58
Gráfico 11: Danos materiais causados por desastres de inundações no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012..........................................................................................................................59
Gráfico 12: Frequência anual de desastres por alagamentos no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012............................................................................................................................................69
Gráfico 13: Frequência mensal de desastres por alagamentos no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012........................................................................................................................................69
Gráfico 14: Danos humanos causados por desastres de alagamentos no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012.......................................................................................................................69
Gráfico 15: Quantificação dos danos materiais de alagamentos no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012....................................................................................................................................70
Gráfico 16: Frequência mensal de movimento de massa no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012...................................................................................................................................................88
Gráfico 17: Danos humanos associados a movimento de massa no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012...................................................................................................................................89
Gráfico 18: Frequência mensal de registros de incêndios florestais no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012..............................................................................................................................94
Gráfico 19: Frequência anual de registros de incêndios florestais no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012.................................................................................................................................95
Gráfico 20: Percentual dos desastres naturais mais recorrentes no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012.....................................................................................................................................99
Gráfico 21: Frequência mensal dos desastres naturais mais recorrentes no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2010................................................................................................................100
Gráfico 22: Municípios mais atingidos, classificados pelo maior número de registros por desastres naturais no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012...................................100
Gráfico 23: Total de registros de desastres coletados no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012........................................................................................................................................................106
Lista de Infográficos
Infográfico 1: Síntese das ocorrências de estiagem e seca no Estado do Maranhão.................................................................................................................................................................................................................36
Infográfico 2: Síntese das ocorrências de enxurradas no Estado do Maranhão...........................................................................................................................................................................................................................47
Infográfico 3: Síntese das ocorrências de inundações no Estado do Maranhão...........................................................................................................................................................................................................................60
Infográfico 4: Síntese das ocorrências de alagamento no Estado do Maranhão...........................................................................................................................................................................................................................71
Infográfico 5: Síntese das ocorrências de vendavais no Estado do Maranhão...............................................................................................................................................................................................................................76
Infográfico 6: Síntese das ocorrências de granizos no Estado do Maranhão..................................................................................................................................................................................................................................82
Infográfico 7: Municípios atingidos por movimentos de massa no período de 1991 a 2012................................................................................................................................................................................................89
Infográfico 8: Síntese das ocorrências de incêndios florestais no Estado do Maranhão..........................................................................................................................................................................................................95
Infográfico 9: Registros de desastres naturais por evento, nos municípios do Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012.............................................................................................................101
Lista de Mapas
Mapa 1: Municípios e mesorregiões do Estado do Maranhão................................................................................................................................................................................................................................................................20
Mapa 2: Registros de estiagem e seca no Estado do Maranhão de 1991 a 2012.......................................................................................................................................................................................................................32
Mapa 3: Registros de enxurradas no Estado do Maranhão de 1991 a 2012.................................................................................................................................................................................................................................42
Mapa 4: Registros de inundações no Estado do Maranhão de 1991 a 2012.................................................................................................................................................................................................................................54
Mapa 5: Registros de alagamento no Estado do Maranhão de 1991 a 2012.................................................................................................................................................................................................................................66
Mapa 6: Registros de vendavais no Estado do Maranhão de 1991 a 2012.....................................................................................................................................................................................................................................74
Mapa 7: Registros de granizos no Estado do Maranhão de 1991 a 2012........................................................................................................................................................................................................................................80
Mapa 8: Registros de movimentos de massa no Estado do Maranhão de 1991 a 2012.........................................................................................................................................................................................................84
Mapa 9: Registros de incêndios no Estado do Maranhão de 1991 a 2012.....................................................................................................................................................................................................................................92
Mapa 10: Registros do total dos eventos no Estado do Maranhão de 1991 a 2012................................................................................................................................................................................................................98
Lista de Quadros
Quadro 1: Hierarquização de documentos.......................................................................................................................................................................................................................................................................................................14
Quadro 2: Principais eventos incidentes no País.............................................................................................................................................................................................................................................................................................16
Quadro 3: Transformação da CODAR em COBRADE..............................................................................................................................................................................................................................................................................16
Quadro 4: Termos e definições propostos para as enxurradas..............................................................................................................................................................................................................................................................43
Quadro 5: Alguns conceitos utilizados para definir as inundações graduais....................................................................................................................................................................................................................................55
Quadro 6: Características dos principais tipos de escorregamento....................................................................................................................................................................................................................................................85
Quadro 7 : Principais fatores deflagradores de movimentos de massa.............................................................................................................................................................................................................................................88
Lista de Tabelas
Tabela 1: População, taxa de crescimento, densidade demográfica e taxa de urbanização, segundo Brasil, Estado do Maranhão e as Grandes Regiões do Brasil – 2000/2010..............23
Tabela 2: População, taxa de crescimento e taxa de população urbana e rural, segundo a Região Nordeste e Unidades da Federação – 2000/2010...................................................................23
Tabela 3: Produto Interno Bruto per capita, segundo a Região Nordeste e Unidades da Federação – 2004/2008...............................................................................................................................................23
Tabela 4: Déficit Habitacional Urbano em Relação aos Domicílios Particulares Permanentes, Segundo Brasil, Região Nordeste e Unidades da Federação – 2008......................................24
Tabela 5: Distribuição percentual do Déficit Habitacional Urbano por Faixas de Renda Média Familiar Mensal, Segundo Região Nordeste e Unidades da Federação – FJP/2008.....25
Tabela 6: Pessoas de 25 anos ou mais de idade, total e respectiva distribuição percentual, por grupos de anos de estudo – Brasil, Região Nordeste e Estado do Maranhão – 2009........25
Tabela 7: Taxas de fecundidade total, bruta de natalidade, bruta de mortalidade, de mortalidade infantil e esperança de vida ao nascer, por sexo – Brasil, Região Nordeste e
Unidades.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................26
Tabela 8: Danos humanos relacionados aos eventos mais severos (1991-2012)........................................................................................................................................................................................................................46
Tabela 9: Mortes relacionadas aos eventos mais severos (1991-2012).............................................................................................................................................................................................................................................46
Tabela 10: Descrição dos principais municípios em relação aos danos materiais (1991-2012)..........................................................................................................................................................................................47
Tabela 11: Os municípios mais severamente atingidos no Estado do Maranhão (1991-2012)...........................................................................................................................................................................................58
Tabela 12: Total de danos materiais – eventos mais severos (1991-2012)......................................................................................................................................................................................................................................59
Tabela 13: Danos humanos relacionados aos eventos de alagamento (1991-2012) ...............................................................................................................................................................................................................70
Tabela 14: Descrição danos materiais nos municípios afetados por alagamento no Estado do Maranhão (1991-2012)...................................................................................................................................70
Foto: Claudinez Lacerda. Palácio dos Leões, São Luis.
Sumário ESTIAGEM E SECA
INTRODUÇÃO
31
13
ENXURRADA
O ESTADO DO
MARANHÃO
19
41
DESASTRES NATURAIS NO
ESTADO DO MARANHÃO
DE 1991 A 2012
29
INUNDAÇÃO 53
ALAGAMENTO MOVIMENTO DE MASSA
65 83
73 91
GRANIZO
DIAGNÓSTICO DOS DESASTRES
NATURAIS NO ESTADO DO MARANHÃO
97
79
Introdução
O
Atlas Brasileiro de Desastres Naturais é um produto de pesquisa Figura 1: Registro de desastres
realizada por meio de um acordo de cooperação celebrado entre o Incidência de Evento Adverso
Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da Uni- Município
versidade Federal de Santa Catarina e a Secretaria Nacional de Defesa Civil.
A pesquisa teve por objetivo produzir e disponibilizar informações so-
bre os registros de desastres no território nacional ocorridos nos últimos 22 NOPRED AVADAN FIDE
anos (1991 a 2012), na forma de 26 volumes estaduais e um volume Brasil.
No Brasil, o registro oficial de um desastre poderia ocorrer pela emis-
são de três documentos distintos, não obrigatoriamente dependentes: Decreto Municipal ou Estadual
Notificação Preliminar de Desastre (NOPRED), Avaliação de Danos (AVA-
DAN), ou Decreto municipal ou estadual. Após a publicação da Instrução Portaria de Reconhecimento Federal
Normativa n. 1, de 24 de agosto de 2012, o NOPRED e o AVADAN foram
substituídos por um único documento, o Formulário de Informações so- Fonte: Dados da pesquisa (2013)
bre Desastres (FIDE).
A emissão de um dos documentos acima referidos ou, na ausência O Relatório de Danos também foi um documento para registro oficial
deles, e a decretação municipal ou estadual de situação de emergência utilizado pela Defesa Civil até meados de 1990, mas foi substituído, poste-
ou estado de calamidade pública decorrente de um desastre são subme- riormente, pelo AVADAN. Os documentos são armazenados em meio físico
tidas ao reconhecimento federal. Esse reconhecimento ocorreu devido à e as Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil são responsáveis pelo arqui-
publicação de uma Portaria no Diário Oficial da União, que tornou pública vamento dos documentos.
e reconhecida a situação de emergência ou de calamidade pública decre- Os resultados apresentados demonstram a importância que deve ser
tada. A Figura 1 ilustra o processo de informações para a oficialização do dada ao ato de registrar e de armazenar, de forma precisa, integrada e siste-
registro e reconhecimento de um desastre. mática, os eventos adversos ocorridos no País, porém até o momento não exis-
14 Introdução Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
te banco de dados ou informações sistematizadas sobre o contexto brasileiro possibilitando o resgate histórico dos últimos 22 anos de registros de desastres
de ocorrências e controle de desastres no Brasil. no Brasil. Os documentos encontrados consistem em Relatório de Danos, AVA-
Dessa forma, a pesquisa realizada se justifica por seu caráter pioneiro no DANs, NOPREDs, FIDE, decretos, portarias e outros documentos oficiais (relató-
resgate histórico dos registros de desastres e ressalta a importância desses re- rios estaduais, ofícios).
gistros pelos órgãos federais, distrital, estaduais e municipais de Defesa Civil. Como forma de minimizar as lacunas de informações, foram coletados do-
Desse modo, estudos abrangentes e discussões sobre as causas e a intensida- cumentos em arquivos e no banco de dados do Ministério da Integração Nacio-
de dos desastres contribuem para a construção de uma cultura de proteção nal e da Secretaria Nacional de Defesa Civil, por meio de consulta das palavras-
civil no País. chave “desastre”, “situação de emergência” e “calamidade”.
Notícias de jornais encontradas nos arquivos e no banco de dados também
Levantamento de Dados compuseram a pesquisa, na forma de dados não oficiais, permitindo a identifi-
cação de um evento na falta de documentos oficiais.
Os registros até 2010 foram coletados entre outubro de 2010 e maio de
2011, quando pesquisadores do CEPED UFSC visitaram as 26 capitais brasileiras Tratamento dos Dados
e o Distrito Federal para obter os documentos oficiais de registros de desastres
disponibilizados pelas Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil e pela Defesa Para compor a base de dados do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais,
Civil Nacional. Primeiramente, todas as Coordenadorias Estaduais receberam os documentos pesquisados foram selecionados de acordo com a escala de
um ofício da Secretaria Nacional de Defesa Civil comunicando o início da pes- prioridade apresentada no Quadro 1 para evitar a duplicidade de registros.
quisa e solicitando a cooperação no levantamento dos dados.
Quadro 1: Hierarquização de documentos
Os registros do ano de 2011 foram digitalizados sob a responsabilidade
da SEDEC e os arquivos em meio digital foram encaminhados ao CEPED UFSC Documento prioritário em função da abrangência de
para a tabulação, a conferência, a exclusão das repetições e a inclusão na base AVADAN/FIDE informações registradas
de dados do S2ID.
NOPRED Selecionado no caso de ausência de AVADAN/FIDE
Os registros de 2012 foram digitalizados em fevereiro de 2013 por uma
equipe do CEPED UFSC que se deslocou à sede da SEDEC para a execução Relatório de Selecionado no caso de ausência de AVADAN/FIDE e NOPRED
da tarefa. Além desses dados foram enviados ao CEPED UFSC todos os do- Danos
cumentos existentes, em meio digital, da Coordenadoria Estadual de Defesa Selecionado no caso de ausência de AVADAN/FIDE, NOPRED e
Portaria Relatório de Danos
Civil de Minas Gerais e da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Paraná.
Selecionado no caso de ausência de AVADAN/FIDE, NOPRED,
Esses documentos foram tabulados e conferidos, excluídas as repetições e, por Decreto Relatório de Danos e Portaria
fim, incluídos na base de dados do S2ID. Além disso, a Coordenadoria Estadual
Selecionado no caso de ausência de AVADAN/FIDE, NOPRED,
de Defesa Civil de São Paulo enviou uma cópia do seu banco de dados que foi Outros Relatório de Danos, Portaria e Decreto
convertido nos moldes do banco de dados do S2ID.
Jornais Selecionado no caso de ausência dos documentos acima
Como na maioria dos Estados, os registros são realizados em meio físico e
depois arquivados, por isso, os pesquisadores utilizaram como equipamento de Fonte: Dados da pesquisa (2013)
Quedas, Tombamentos e rolamentos – Blocos 11311 Quedas, Tombamentos e rolamentos – Matacões 13304 11313
Quedas, Tombamentos e rolamentos – Matacões 11313 Corridas de Massa – Solo/Lama 13302 11331
Erosão Continental – Ravinas 11432 Ciclones - Ventos Costeiros (Mobilidade de Dunas) 13310 13111
Ciclones – Ventos Costeiros (Mobilidade de Dunas) 13111 Tempestade Local/Convectiva – Tornados 12104 13211
Ciclones/vendavais Ciclones – Marés de Tempestade (Ressacas) 13112 Onda de Frio – Geadas 12206 13322
13211
Produção de Mapas Temáticos
Onda de Frio – Geadas 13322 Com o objetivo de possibilitar a análise dos dados foram desenvol-
14131 vidos mapas temáticos para espacializar e representar a ocorrência dos
Incêndio Florestal
14132 eventos. Utilizou-se a base cartográfica do Instituto Brasileiro de Geogra-
Fonte: Dados da pesquisa (2013) fia e Estatística (IBGE, 2005) para estados e municípios e a base hidrográ-
fica da Agência Nacional de Águas (ANA, 2010). Dessa forma, os mapas
que compõem a análise dos dados por estado, são:
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão Introdução
17
• mapas, municípios e mesorregiões de cada estado; • ausência de unidades e campos padronizados para as informações
• mapas para cada tipo de desastres; e declaradas nos documentos;
• mapas de todos os desastres do estado. • inexistência de método de coleta sistêmica e armazenamento dos
dados;
Análise dos Dados • falta de cuidado quanto ao registro e integridade histórica;
• dificuldades na interpretação do tipo de desastre pelos responsá-
A partir dos dados coletados para cada estado foram desenvolvidos veis pela emissão dos documentos;
mapas, gráficos e tabelas que possibilitaram a construção de um pano-
• problemas de consolidação, transparência e acesso aos dados.
rama espaço-temporal sobre a ocorrência dos desastres. Quando foram
encontradas fontes teóricas que permitiram caracterizar os aspectos geo-
Cabe ressaltar que o aumento do número de registros a cada ano
gráficos do estado, como clima, vegetação e relevo, as análises puderam
pode estar relacionado à constante evolução dos órgãos de Defesa Civil
ser complementadas. Os aspectos demográficos do estado também com-
quanto ao registro de desastres pelos documentos oficiais. Assim, acre-
puseram uma fonte de informações sobre as características locais.
dita-se que pode haver carência de informações sobre os desastres ocor-
Assim, a análise dos desastres, associada a informações complementa-
ridos no território nacional, principalmente entre 1991 e 2001, período
res, permitiu a descrição do contexto onde os eventos ocorreram e subsidia
anterior ao AVADAN.
os órgãos responsáveis para as ações de prevenção e de reconstrução.
Dessa forma, o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, ao reunir in-
formações sobre os eventos adversos registrados no território nacional, é
um repositório para pesquisas e consultas, contribuindo para a constru-
ção de conhecimento.
Limitações da Pesquisa
As principais dificuldades encontradas na pesquisa foram as condições
de acesso aos documentos armazenados em meio físico, já que muitos deles
se encontravam sem proteção adequada e sujeitos às intempéries, resultan-
do em perda de informações valiosas para o resgate histórico dos registros.
As lacunas de informações quanto aos registros de desastres, o ban-
co de imagens sobre desastres e o referencial teórico para caracterização
geográfica por estado também se configuram como as principais limita-
ções para a profundidade das análises.
Por meio da realização da pesquisa, foram evidenciadas algumas fra-
gilidades quanto ao processo de gerenciamento das informações sobre
os desastres brasileiros, como:
Foto 1: Sara Wengberg Kullan84. Wikimedia Commons, 2013. Foto 2: Vitor 1234. Wikimedia Commons, 2013. Foto 3: Eurico Zimbres Fonte: Wikimedia
Commons, 2013. Foto 4: Gerly Sanchez. CEPED UFSC, 2011. Foto 5: Iain and Sarah. Wikimedia Commons, 2013.
5
2
4
1
3
O Estado do Maranhão
20 O Estado do Maranhão Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
Caracterização Geográfica As temperaturas médias anuais no estado variam entre 25°C a 27°C.
O
No entanto, de um modo geral, pode-se notar no Estado do Maranhão
Estado do Maranhão localiza-se no nordeste brasileiro, en- condições hidrológicas favoráveis e diferenciadas, comparativamente a
tre os paralelos 1°01’ e 10°21’ de latitude sul e os meridianos outros estados do nordeste. Isso se deve a sua localização geográfica,
41°48’ e 48°50’ de longitude oeste. Com uma área territorial de próximo à Amazônia e voltado para o Oceano Atlântico. De acordo com
331.983,293 km², é o segundo maior estado do nordeste em dimensões Viegas (2010), o Maranhão é o estado que menos sofre com problemas de
territoriais, correspondente aproximadamente a 4% do tamanho do Bra- escassez de água na Região Nordeste.
sil, e 18% da Região Nordeste. É um dos estados que compõe a Amazônia Essas características climáticas se configuram no Estado do Maranhão
Legal, possui 217 municípios, com capital em São Luis. pela atuação de diversos mecanismos atmosféricos que influenciam no clima
De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Ma- regional. Tais sistemas são: Eventos El Niño-Oscilação Sul (ENOS), Temperatu-
ranhão (MARANHÃO, 2011), o estado se divide em cinco mesorregiões: ra da Superfície do Mar (TSM) na bacia do Oceano Atlântico, Zona de Conver-
Norte Maranhense, Oeste Maranhense, Centro Maranhense, Leste Mara- gência Intertropical (ZCIT) e Linhas de Instabilidade (FERREIRA; MELO, 2005).
nhense e Sul Maranhense, conforme mostra o Mapa 1. O litoral do Estado do Maranhão possui extensão aproximada de 640
O clima no Estado do Maranhão, de acordo com a classificação climá- km, estendendo-se no sentido oeste-leste da foz do rio Gurupi, divisa
tica de Köppen, possui dois tipos climáticos. A parte oeste do estado pos- com o Estado do Pará, até o delta do Rio Parnaíba, no limite com o Estado
sui um clima tropical quente e úmido (As), pois está mais
Figura 2: Ponte Imperatriz
próximo da Região Amazônica e, por isso, os índices plu-
viométricos nessa região chegam a 2.800 mm ao ano (VIE-
GAS, 2010). No restante do território maranhense tem-se
um clima tropical quente e semiúmido (Aw), cujos índices
pluviométricos chegam a 1.250 mm ao ano, sendo o perío-
do chuvoso no verão, e seco no inverno. Denota-se ainda
que, quanto mais próximo da região semiárida nordestina
(a sudeste do estado), menores são os índices pluviomé-
tricos, podendo chegar a 1.000 mm anuais (SEMA, 2011).
De acordo com a Secretaria Estadual do Meio Am-
biente (SEMA, 2011), o período chuvoso se concentra en-
tre os meses de dezembro a maio e o mês de março tem
o maior índice pluviométrico, da ordem de 290,4 mm. O
período seco ocorre entre os meses de junho a novembro,
alcançando os menores índices pluviométricos no mês de
agosto, com registros de 17,1 mm. Assim, as chuvas ocor-
rem com maior frequência nas planícies a noroeste do es-
tado e com menor frequência nos tabuleiros e planaltos a
sudeste do estado. Fonte: Wikimedia Commons (2013) /Foto: Etore. Santos
22 O Estado do Maranhão Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
do Piauí, sendo o segundo mais extenso do Brasil e da Região Nordeste, Devido à extensão territorial, como evidenciado anteriormente, no-
superado apenas pelo litoral da Bahia (FEITOSA, 2006). É dividido em ta-se diferentes tipos climáticos no Estado do Maranhão, pois o estado
Litoral Ocidental, Golfão Maranhense e Litoral Oriental. se localiza entre faixas de transições de distintos sistemas atmosféricos,
O Estado do Maranhão apresenta um relevo de planícies com terre- recebendo influências da umidade amazônica, além da seca do semiárido
nos de altimetria suave, inferior a 200 m, que seguem rumo ao interior do nordestino. Do mesmo modo, tal influência determinou as característi-
estado acompanhando os vales dos rios. A planície litorânea é modelada cas da cobertura vegetal maranhense. De acordo com a SEMA (2011), o
por agentes e processos marinhos e fluviomarinhos que dão origem às estado apresenta três principais biomas que o caracterizam, representa-
praias: mangues, vasas, pântanos, apicuns, lagunas e falésias, enquanto dos pelos biomas Amazônico, Cerrado e Caatinga. A floresta amazônica
na área de fluxo indireto, marés dinâmicas, ocorrem os pântanos e cam- maranhense é caracterizada por ser ombrófila, latifoliada, e situada entre
pos inundáveis (FEITOSA, 2006). áreas úmidas e de terra firme. Compreende parte da região norte e re-
Vale um destaque para a feição morfológica litorânea do Golfão Ma- gião noroeste do Maranhão, que possui áreas transicionais entre vegeta-
ranhense, o qual abrange, ao centro, a Ilha Upaon-Açu, mais conhecida ções adaptadas a ambientes com regime pluviométrico, com períodos de
como Ilha do Maranhão ou Ilha de São Luís (onde está inserida a capi- estiagem e tendência notadamente para formações do bioma Cerrado.
tal do estado São Luís), além das ilhas do Medo, Pequena, Livramento, Nestes locais encontram-se extensas áreas de florestas estacionais deci-
Caranguejos, Duas Irmãs, Tauá-Redonda, Tauá-Mirim e Ponta Grossa, e duais, além de vegetação típica de área de transição. Além disso, é carac-
compreendendo as baías de Cumã, São Marcos, São José e Tubarão (FEI- terizado também pelo intenso processo de modificação antrópica de seu
TOSA, 2006). ecossistema natural, onde extensas áreas de floresta foram convertidas
O relevo segue com os tabuleiros do noroeste maranhense que são em pastagens (SEMA, 2011).
delimitados pelos rios Gurupi e Turiaçu e correspondem a estruturas sedi- Apesar da notável importância do bioma amazônico no Estado do
mentares dissecadas em relevos tabulares. Posteriormente se evidencia a Maranhão, é o cerrado que cobre a maior porção territorial no estado e,
planície fluvial que corresponde às morfoesculturas modeladas pelos rios, de acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente maranhense, se
nos seus baixos cursos. Apresenta largura variável de oeste para leste e expressa sob as diversas fisionomias vegetais, desde campos (vegetação
maior penetração para o interior acompanhando os vales dos rios, nota- rasteira e poucas árvores de pequeno porte) até matas mais densas (cer-
damente os que desembocam no Golfão Maranhense (FEITOSA, 2006). radão ou florestas semideciduais), incluindo ainda outras formações pe-
Ainda sobre o relevo maranhense, Feitosa (2006) descreve a apresen- culiares de ambientes específicos, como veredas e vegetações adaptadas
tação do planalto, o qual abrange as áreas mais elevadas do centro-sul do a solos rochosos.
estado, com altitudes entre 200 e 800 metros. Subdivide-se nas seguintes Por fim, a vegetação que ocupa a menor extensão no território ma-
unidades geomorfológicas: Pediplano Central, Planalto Oriental, Planalto ranhense é a caatinga, que ficou restrita em áreas isoladas de pequena
Ocidental, Depressão do Balsas e do Planalto Meridional. abrangência e associadas às regiões com maiores índices de aridez. Lo-
Por fim, se evidencia a Depressão do Balsas que, de acordo com Fei- calizam-se na parte leste do estado, próximas à divisa com o Estado do
tosa (2006), compreende o conjunto de morfoesculturas rebaixadas, mo- Piauí, na Bacia Hidrográfica do Parnaíba (SEMA, 2011).
deladas pela drenagem do Rio Balsas e seus afluentes com alongamen- O Maranhão é, dentre os estados nordestinos, o que menos se iden-
to no sentido leste-oeste. É dominada por formas amplas e baixas, com tifica com a característica maior dessa região: a escassez de recursos hí-
maiores altitudes a oeste, nas cabeceiras dos rios, com cotas máximas dricos. Com efeito, o Estado do Maranhão é detentor de uma invejável
alcançando os 350 m. rede hidrográfica composta por, pelo menos, dez bacias perenes, poden-
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão O Estado do Maranhão
23
Tabela 2: População, taxa de crescimento e taxa de população urbana e rural,
do ser individualizadas as seguintes bacias hidrográficas: Gurupi, Turiaçu,
segundo a Região Nordeste e Unidades da Federação – 2000/2010
Maracaçumé-Tromaí, Uru-Pericumã-Aurá, Mearim, Itapecuru, Tocantins,
Parnaíba, Munim e pequenas bacias do norte. Cinco são as vertentes hi- População Taxa de Taxa de Taxa de
Abrangência
Crescimento População População
drográficas principais do Estado do Maranhão: a Chapada das Mangabei- Geográfica 2000 2010 (2000-2010) Urbana (2010) Rural (2010)
ras, a Chapada do Azeitão, Serra das Crueiras, Serra do Gurupi e Serra do
Brasil 169.799.170 190.732.694 12,33% 84,36% 15,70%
Tiracambu (SEMA, 2011).
Região Nordeste 47.741.711 53.078.137 11,18% 73,13% 26,87%
Os principais rios do estado são: Tocantins, Pindaré, Grajaú, Itapecu- Maranhão 5.651.475 6.569.683 16,25% 63,07% 36,93%
ru e Munin. Piauí 2.843.278 3.119.015 9,7% 65,77% 34,23%
Ceará 7.430.661 8.448.055 13,69% 75,09% 24,91%
Dados Demográficos Rio Grande do Norte 2.776.782 3.168.133 14,09% 77,82% 22,18%
Paraíba 3.443.825 3.766.834 9,38% 75,37% 24,63,%
A Região Nordeste do Brasil possui uma densidade demográfica de Pernambuco 7.918.344 8.796.032 11,08% 80,15% 19,85%
34,15 hab/km², a terceira menor do Brasil. E também possui a terceira Alagoas 2.822.621 3.120.922 10,57% 73,64% 26,36%
menor taxa de crescimento do País, com 11,18%, no período de 2000 a Sergipe 1.784.475 2.068.031 15,89% 73,51% 26,49%
2010. Já o Estado do Maranhão apresenta uma população de 6.569.683 Bahia 13.070.250 14.021.432 7,28% 72,07% 27,93%
habitantes e densidade demográfica de 19,28 hab/km² (Tabelas 1). Fonte: IBGE (2010)
Tabela 1: População, taxa de crescimento, densidade demográfica e taxa de urbanização,
Tabela 3: Produto Interno Bruto per capita, segundo a Região
segundo Brasil, Estado do Maranhão e as Grandes Regiões do Brasil – 2000/2010
Nordeste e Unidades da Federação – 2004/2008
Taxa de Densidade Taxa de
População População PIB per capita em R$
Grandes Regiões Crescimento Demográfica População
em 2000 em 2010 Abrangência Taxa de
2000 a 2010 (hab/km²) 2010 Urbana – 2010
Geográfica 2004 2005 2006 2007 2008 Variação
Brasil 169.799.170 190.732.694 12,33% 22,43 84,36%
2004/2008
Região Norte 12.900.704 15.865.678 22,98% 4,13 73,53% Brasil 10.692,19 11.658,12 12.686,60 14.464,73 15.989,75 50,00%
Região Nordeste 47.741.711 53.078.137 11,18% 34,15 73,13% Região Nordeste 4.889,99 5.498,83 6.028,09 6.748,81 7.487,55 53,00%
Maranhão 5.651.475 6.569.683 16,25% 19,28 63,07% Maranhão 3.587,90 4.509,51 4.627,71 5.165,23 6.103,66 70,00%
Região Sudeste 72.412.411 80.353.724 10,97% 86,92 92,95% Piauí 3.297,24 3.701,24 4.211,87 4.661,56 5.372,56 63,00%
Região Sul 25.107.616 27.384.815 9,07% 48,58 84,93%
Ceará 4.621,82 5.055,43 5.634,97 6.149,03 7.111,85 54,00%
Região Centro-Oeste 11.636.728 14.050.340 20,74% 8,75 88,81%
Rio Grande do Norte 5.259,92 5.950,38 6.753,04 7.607,01 8.202,81 56,00%
Fonte: IBGE (2010) Paraíba 4.209,90 4.691,09 5.506,52 6.097,04 6.865,98 63,00%
Pernambuco 5.287,29 5.933,46 6.526,63 7.336,78 8.064,95 49,00%
A população maranhense é, em sua maioria, urbana, com uma taxa de
Alagoas 4.324,35 4.688,25 5.162,19 5.858,37 6.227,50 44,00%
63,07%, a menor entre os estados da região. A característica de maior po-
Sergipe 6.289,39 6.823,61 7.559,35 8.711,70 9.778,96 55,00%
pulação urbana é encontrada também na Região Nordeste, com 73,13%,
Bahia 5.780,06 6.581,04 6.918,97 7.787,40 8.378,41 45,00%
a menor do País, com 84,3% (Tabela 2 e 3).
Fonte: IBGE (2008)
24 O Estado do Maranhão Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
No Brasil, em 2008, o déficit habitacional urbano, que engloba as Déficit Habitacional – Valores Absolutos – 2008
Abrangência
moradias sem condições de serem habitadas, em razão da precarieda- Geográfica Percentual em Relação aos Domicílios
Total Urbano Rural
Particulares Permanentes
Brasil 5.546.310 4.629.832 916.478 9,60%
1
PIB - Produto Interno Bruto: É o total dos bens e serviços produzidos pelas unidades Nordeste 1.946.735 1.305.628 641.107 13,00%
produtoras residentes destinadas ao consumo final sendo, portanto, equivalente à soma Maranhão 434.750 204.632 230.118 26,90%
dos valores adicionados pelas diversas atividades econômicas acrescida dos impostos so-
bre produtos. O PIB também é equivalente à soma dos consumos finais de bens e serviços Piauí 124.047 71.358 52.689 14,20%
valorados a preço de mercado sendo, também, equivalente à soma das rendas primárias. Ceará 276.915 186.670 90.245 11,70%
Pode, portanto, ser expresso por três óticas: a) da produção – o PIB é igual ao valor bruto
Rio Grande do Norte 104.190 78.261 25.929 11,70%
da produção, a preços básicos, menos o consumo intermediário, a preços de consumidor,
mais os impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos; b) da demanda – o PIB é igual à Paraíba 104.699 87.746 16.953 9,60%
despesa de consumo das famílias, mais o consumo do governo, mais o consumo das ins- Pernambuco 263.958 214.182 49.776 10,60%
tituições sem fins de lucro a serviço das famílias (consumo final), mais a formação bruta de
Alagoas 85.780 63.353 22.427 9,70%
capital fixo, mais a variação de estoques, mais as exportações de bens e serviços, menos
as importações de bens e serviços; c) da renda – o PIB é igual à remuneração dos empre- Sergipe 66.492 57.606 8.886 11,70%
gados, mais o total dos impostos, líquidos de subsídios, sobre a produção e a importação, Bahia 485.904 34.820 144.084 11,50%
mais o rendimento misto bruto, mais o excedente operacional bruto. (IBGE, 2008).
2
Déficit Habitacional: o conceito de déficit habitacional utilizado está ligado diretamente Fonte: Brasil (2008, p. 31)
às deficiências do estoque de moradias. Inclui ainda a necessidade de incremento do es-
toque, em função da coabitação familiar forçada (famílias que pretendem constituir um do-
micilio unifamiliar), dos moradores de baixa renda com dificuldade de pagar aluguel e dos
que vivem em casas e apartamentos alugados com grande densidade. Inclui-se ainda nessa Déficit Habitacional Urbano em 2008, Segundo Faixas de
rubrica a moradia em imóveis e locais com fins não residenciais. O déficit habitacional pode Renda Familiar em Salários Mínimos
ser entendido, portanto, como déficit por reposição de estoque e déficit por incremento de
estoque. O conceito de domicílios improvisados engloba todos os locais e imóveis sem fins
residenciais e lugares que servem como moradia alternativa (imóveis comerciais, embaixo A análise dos dados refere-se à faixa de renda média familiar mensal
de pontes e viadutos, carcaças de carros abandonados e barcos e cavernas, entre outros), o em termos de salários mínimos sobre o déficit habitacional. O objetivo é
que indica claramente a carência de novas unidades domiciliares. (BRASIL,2008).
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão O Estado do Maranhão
25
destacar os domicílios urbanos precários e sua faixa de renda, alvo prefe- seja, pessoas com até três anos de estudos, e os de baixa escolaridade
rencial de políticas públicas que visem à melhoria das condições de vida (21,60%), compondo um indicador formado pelos sem escolaridade, com
da população mais vulnerável. muito baixa e baixa escolaridade, que, na soma, corresponde a 61,40% da
No Estado do Maranhão, as desigualdades sociais estão expressas população acima de 25 anos (Tabela 6).
pelos indicadores do déficit habitacional, segundo faixa de renda. Os da-
Tabela 6: Pessoas de 25 anos ou mais de idade, total e respectiva distribuição percentual,
dos mostram que a renda familiar mensal das famílias é extremamente
por grupos de anos de estudo – Brasil, Região Nordeste e Estado do Maranhão – 2009
baixa, onde 95,30% recebem renda mensal de até três salários mínimos.
Na Região Nordeste, representa 95,6%, enquanto a média no Brasil é de Pessoas de 25 anos ou mais de idade
Abrangência
89,6% das famílias (Tabela 5). geográfica Total (1000 Distribuição percentual, por grupos de anos de estudo
pessoas) Sem Instrução e Menos de 1 ano de Estudo 1 a 3 anos 4 a 7 anos
Tabela 5: Distribuição percentual do Déficit Habitacional Urbano por Faixas de Renda
Brasil 111.952 12,90% 11,80% 24,80%
Média Familiar Mensal, Segundo Região Nordeste e Unidades da Federação – FJP/2008
Nordeste 29.205 23,20% 14,90% 22,20%
Abrangência Faixas de Renda Média Familiar Mensal (Em Salário Mínimo) Maranhão 3.236 23,90% 15,90% 21,60%
Geográfica Até 3 3a5 5 a 10 Mais de 10 Total Piauí 1.745 29,10% 16,80% 20,40%
Brasil 89,60% 7,00% 2,80% 0,60% 100% Ceará 4.590 23,20% 14,40% 21,20%
Nordeste 95,60% 2,80% 1,20% 0,40% 100% Rio Grande do Norte 1.745 19,20% 15,30% 24,70%
Maranhão 95,30% 3,40% 1,30% - 100% Paraíba 2.108 26,30% 14,50% 21,60%
Piauí 91,50% 5,40% 3,10% - 100% Pernambuco 4.894 20,80% 13,20% 23,30%
Ceará 95,60% 2,60% 1,40% 0,40% 100% Alagoas 1.646 27,20% 18,70% 23,20%
Rio Grande do Norte 91,00% 3,60% 4,20% 1,20% 100% Sergipe 1.096 19,30% 15,50% 21,40%
Paraíba 97,70% 1,10% 0,60% 0,60% 100% Bahia 8.115 22,90% 14,80% 22,10%
Pernambuco 97,50% 2,00% 0,40% 0,10% 100%
Fonte: IBGE (2009a)
Alagoas 98,20% 0,90% - 0,90% 100%
Sergipe 98,30% 0,60% 1,20% - 100%
Esperança de Vida ao Nascer3
Bahia 94,90% 3,50% 1,00% 0,60% 100%
Fonte: Brasil (2008) No Estado do Maranhão, o indicador de esperança de vida – 68,44
anos – está abaixo da média nacional – 73,1 anos – e da regional – 70,4
Escolaridade anos – e é o mais baixo entre os estados da região. O indicador taxa de
fecundidade – 2,31% – está acima do regional – 2,04% - e do nacional –
A média de anos de estudo do segmento etário que compreende as 1,94 – e é o segundo maior entre os estados da região. O indicador taxa
pessoas acima de 25 anos ou mais de idade revela a escolaridade de uma
sociedade, segundo IBGE (2010). 3
No Brasil, o aumento de esperança de vida ao nascer, em combinação com a queda do
O indicador de escolaridade no Estado do Maranhão pode ser visto nível geral de fecundidade, resulta no aumento absoluto e relativo da população idosa. A
pelo percentual de analfabetos (23,90%), que indica ser o maior com rela- taxa de fecundidade total corresponde ao número médio de filhos que uma mulher teria
no final do seu período fértil; essa taxa no Brasil nas ultimas décadas vem diminuindo, e sua
ção aos outros estados da região; de analfabetos funcionais (15,90%), ou redução reflete a mudança que vem ocorrendo no Brasil em especial com o processo de
urbanização e com a entrada da mulher no mercado de trabalho.
26 O Estado do Maranhão Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
Referências
bruta de natalidade – 20,56% – está acima do regional – 18,91% – e do
nacional – 15,77% – é o segundo mais alto entre os estados da região,
perdendo somente para Alagoas – 23,18. O indicador taxa bruta de mor-
talidade – 6,45% - está próximo do regional – 6,56% – e do nacional –
BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Déficit
6,27%. O indicador taxa de mortalidade infantil – 36,50% – está acima da
habitacional no Brasil 2008. Brasília, DF: Fundação João Pinheiro, Centro
média regional – 33,20% – e da média nacional – 22,5% – e é a segunda
de Estatística e Informações. 2008. 129 p. (Projeto PNUD-BRA-00/019 –
mais alta entre os estados da região, ficando abaixo apenas de Alagoas –
Habitar Brasil – BID). Disponível em: <http://www.fjp.gov.br/index.php/
46,40% (Tabela 7).
servicos/81-servicos-cei/70-deficit-habitacional-no-brasil>. Acesso em: 19
Tabela 7: Taxas de fecundidade total, bruta de natalidade, bruta maio 2013.
de mortalidade, de mortalidade infantil e esperança de vida ao
nascer, por sexo – Brasil, Região Nordeste e Unidades CARVALHO, Márcia Eliane Silva; FONTES, Aracy Losano. Estudo ambiental
Abrangência
Taxa de Taxa Taxa Taxa de Esperança de Vida ao Nascer da zona costeira sergipana como subsídio ao ordenanento territorial.
Fecundidade Bruta de Bruta de Mortalidade
Geográfica
Total Natalidade Mortalidade Infantil Total Homens Mulheres
Revista Geonorte, São Cristóvão, ano 15, n. 2, p. 10-39, 2006. Disponível
Brasil 1,94% 15,77% 6,27% 22,50% 73,10 69,40 77,00 em: <http//www.campusitabaiaba.ufs.br/npgeo/geonordest/2006/
Região Nor- REVISTA%20GEONORTE,%202006,%20N%C2%BA02.pdf>. Acesso em: 10
2,04% 18,91% 6,56% 33,20% 70,40 66,90 74,10
deste jun. 2013.
Maranhão 2,31% 20,56% 6,45% 36,50% 68,44 64,59 72,48
Piauí 2,05% 19,92% 6,26% 26,20% 69,68 66,67 72,84 FEITOSA, Antonio Cordeiro. Relevo do Estado do Maranhão: uma nova
Ceará 2,14% 17,96% 6,41% 27,60% 70,95 66,75 75,37 proposta de classificação topomorfológica. SIMPÓSIO NACIONAL DE
Rio Grande do
Norte
2,10% 17,98% 6,48% 32,20% 71,12 67,34 75,08 GEOMORFOLOGIA, 6., 2006, Goiânia. Anais... Goiânia: UFG, 2006.
Paraíba 2,24% 14,76% 7,29% 35,20% 69,75 66,33 73,34
Disponível em: <www.labogef.iesa.ufg.br/links/sinageo/articles/476.pdf>.
Pernambuco 2,05% 17,42% 7,33% 35,70% 69,06 65,65 72,65
Acesso em: 20 maio 2013.
Alagoas 2,29% 23,18% 7,00% 46,40% 67,59 63,69 71,69
Sergipe 1,83% 20,42% 5,90% 31,40% 71,59 68,27 75,07
FERREIRA, A. C.; MELO, N. G. S. Principais sistemas atmosféricos atuantes
Bahia 1,87% 18,81% 6,11% 31,40% 72,55 69,35 75,91
sobre a região nordeste do Brasil e a influência dos oceanos Pacífico e
Atlântico no clima da região. Revista Brasileira de Climatologia, [S.l.], v. 1,
Fonte: IBGE (2009b)
n. 1, p. 15-28, 2005.
De maneira geral, o Estado do Maranhão apresenta um quadro de
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas
indicadores demográfico, econômico e social muito precário, se compa-
regionais do Brasil 2004 – 2008: tabela 4 - Produto Interno Bruto a
rado aos da Região Nordeste e do Brasil.
preços de mercado per capita, segundo Grandes Regiões e Unidades da
No Censo Demográfico de 2010, o Maranhão foi ranqueado como
Federação – 2003-2007. 2008. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/
o estado com piores condições de vida do País. O estado ultrapassou o
home/estatistica/economia/contasregionais/2003_2007/tabela04.pdf>.
Piauí que, até então, era o que ocupava essa colocação (IBGE, 2010).
Acesso em: 19 jun. 2013.
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão O Estado do Maranhão
27
______. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2009. Brasília, DF:
IBGE, 2009a. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/
populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/>. Acesso em: 5 jun. 2013.
O
s desastres relativos aos fenômenos de estiagens e de secas com- • hidrológico: quando a deficiência ocorre no estoque de água
põem o grupo de desastres naturais climatológicos, conforme a nova dos rios e dos açudes; e
Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE). • edáfico: quando o déficit de umidade é constatado no solo.
O conceito de estiagem está diretamente relacionado à redução das preci-
pitações pluviométricas, ao atraso dos períodos chuvosos ou à ausência de chu- Nos períodos de seca, para que se configure o desastre, é necessá-
vas previstas para uma determinada temporada, em que a perda de umidade ria uma interrupção do sistema hidrológico de forma que o fenômeno
do solo é superior a sua reposição (CASTRO, 2003). A redução das precipitações adverso atue sobre um sistema ecológico, econômico, social e cultural,
pluviométricas relaciona-se com a dinâmica atmosférica global, que comanda as vulnerável à redução das precipitações pluviométricas. O desastre seca
variáveis climatológicas relativas aos índices desse tipo de precipitação. é considerado, também, um fenômeno social, pois caracteriza uma situa-
Considera-se fenômeno de estiagem existente quando há um atraso ção de pobreza e de estagnação econômica, advinda do impacto desse
superior a quinze dias do início da temporada chuvosa e quando as mé- fenômeno meteorológico adverso. Dessa forma, a economia local, sem a
dias de precipitação pluviométricas mensais dos meses chuvosos perma- menor capacidade de gerar reservas financeiras ou de armazenar alimen-
necem inferiores a 60% das médias mensais de longo período, da região tos e demais insumos, é completamente bloqueada (CASTRO, 2003).
considerada (CASTRO, 2003). Além dos fatores climáticos de escala global, como EL Niño e La Niña,
A estiagem é um dos desastres de maior ocorrência e impacto no as características geoambientais podem ser elementos condicionantes na
mundo, devido, principalmente, ao longo período em que ocorre e à frequência, na duração e na intensidade dos danos e dos prejuízos rela-
abrangência de grandes áreas atingidas (GONÇALVES; MOLLERI; RU- cionados às secas. As formas de relevo e a altitude da área, por exem-
DORFF, 2004). Assim, a estiagem, como desastre, produz reflexos sobre as plo, podem condicionar o deslocamento de massas de ar, interferindo na
reservas hidrológicas locais, causando prejuízos à agricultura e à pecuária. formação de nuvens e, consequentemente, na precipitação (KOBIYAMA
Dependendo do tamanho da cultura realizada, da necessidade de irriga- et al., 2006). O padrão estrutural da rede hidrográfica pode ser também
ção e da sua importância na economia no município, os danos podem um condicionante físico que interfere na propensão para a construção de
apresentar magnitudes economicamente catastróficas. Seus impactos na reservatórios e na captação de água. O porte da cobertura vegetal pode
sociedade, portanto, resultam da relação entre eventos naturais e as ativi- ser caracterizado, ainda, como outro condicionante, pois retém umida-
dades socioeconômicas desenvolvidas na região, por isso, a intensidade de, reduz a evapotranspiração do solo e bloqueia a insolação direta no
dos danos gerados é proporcional à magnitude do evento adverso e ao solo, diminuindo também a atuação do processo erosivo (GONÇALVES;
grau de vulnerabilidade da economia local ao evento (CASTRO, 2003). MOLLERI; RUDORFF, 2004).
O fenômeno de seca, do ponto de vista meteorológico, é uma estia- Dessa forma, situações de secas e de estiagens não são necessaria-
gem prolongada, caracterizada por provocar uma redução sustentada das mente consequências somente de índices pluviais abaixo do normal ou
reservas hídricas existentes (CASTRO, 2003). Sendo assim, seca é a forma de teores de umidade de solos e ar deficitários. Pode-se citar como outro
crônica do evento de estiagem (KOBIYAMA et al., 2006). condicionante o manejo inadequado de corpos hídricos e de toda uma
De acordo com Campos (1997), o fenômeno da seca pode ser classi- bacia hidrográfica, o que se torna resultado de uma ação antrópica de-
ficado em três tipos: sordenada no ambiente. As consequências, nesses casos, podem assumir
características muito particulares, e a ocorrência de desastres, portanto,
• climatológico: que ocorre quando a pluviosidade é baixa em pode ser condicionada pelo efetivo manejo dos recursos naturais realiza-
relação às chuvas normais da área; do na área (GONÇALVES; MOLLERI; RUDORFF, 2004).
34 Estiagem e Seca Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
As secas que se instalam periodicamente na região Nordeste do Bra- Outros 28 municípios foram afetados duas vezes e 65 municípios foram
sil se relacionam com múltiplos fatores condicionados pela geodinâmica atingidos ao menos uma vez por esse tipo de evento.
terrestre global em seus aspectos climáticos e meteorológicos. Um dos Conforme o Gráfico 1, os dois primeiros anos da pesquisa não regis-
grandes fatores das fortes secas é o fenômeno climático El Niño – Osci- tram desastres causados por estiagens e secas. O ano de 1993 apresentou
lação Sul (ENOS) que provoca grandes enchentes na região Sul, e torna 38 registros. Do ano de 1993 a 2005 não foram registradas ocorrências de
mais severa a seca na região semiárida do Nordeste (CIRILO, 2008; SAN- estiagem e seca em nenhum município do Estado do Maranhão. Em 2006,
TOS; CÂMARA, 2002). Assim, pode-se observar que os desastres naturais o desastre foi registrado apenas no Município de Balsas, da Mesorregião
vinculados à estiagem e à seca, no Estado do Maranhão, ocorrem com do Sul Maranhense. No ano seguinte, 2007, ocorreu o mesmo, sendo o
frequência e causam diversos transtornos à população. único registro no município de Godofredo Viana, na Mesorregião Oeste
No decorrer do período entre 1991 a 2012, ocorreram 167 registros Maranhense. Em 2010, ocorreu um grande acréscimo, com 41 registros,
oficiais de estiagem e seca no Estado do Maranhão. Conforme pode ser com três ocorrências a mais que o ano de 1993. O ano de 2012 foi o mais
observado no Mapa 2, ao longo dos 22 anos analisados, 64 municípios crítico para o Estado do Maranhão, com o registro de 86 ocorrências de
foram afetados. Esses registros estão distribuídos nas cinco mesorregiões eventos de estiagem e seca.
do estado. Entretanto, o número de ocorrências é evidentemente maior
Gráfico 1: Frequência anual de desastres causados por estiagem e
no leste do território, na Mesorregião Leste Maranhense.
seca no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
O Sul Maranhense, que compreende as chapadas, dentre elas a Cha-
pada das Mangabeiras, apresentou somente um registro de evento de
estiagem e seca, no Município de Balsas. 100
90 86
A Mesorregião Central Maranhense, que possui características climá-
ticas quentes e secas (tropical seco), apresentou 24 registros oficiais de 80
Frequência Anual
estiagens e secas. Nesta mesorregião, de acordo com o Mapa 2, é pos- 70
sível observar a recorrência desse fenômeno nos municípios de Grajaú, 60
Barra do Corda, Fortuna e São Domingos do Maranhão, todos com dois 50
41
registros desta tipologia. A Mesorregião do Oeste Maranhense apresen- 40 36
tou 13 dos seus municípios atingidos, uma vez cada, por estiagem e seca. 30
Por fim, a Mesorregião do Leste Maranhense foi a mais afetada. Isso 20
porque suas características climáticas e sua localização territorial se en- 10
1 1
contram mais próximas ao semiárido nordestino, polígono das secas. De 0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
acordo com SEMA (2011), essa região possui médias pluviométricas anuais
em torno de 800 mm o que justifica os maiores casos de estiagens e secas.
São, no total, 87 registros do fenômeno climático. O município desta re-
gião que apresentou mais ocorrências foi Codó, com quatro registros. Os Fonte: Brasil (2013)
municípios de Brejo, Buriti, Caxias, Chapadinha, Colinas, Coroatá, Coelho
Neto, Duque Bacelar, Mata Roma, São Bernardo, Santa Quitéria do Ma- Com relação à frequência mensal desses eventos adversos no Estado
ranhão, Matões, Timbiras e Timon foram afetados três vezes, cada um. do Maranhão entre 1991 e 2012, é possível observar no Gráfico 2 que as
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão Estiagem e seca
35
Gráfico 3: Danos humanos ocasionados por estiagem e seca no
ocorrências de estiagem e seca são frequentes no estado durante prati-
Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
camente todos os meses do ano. No entanto, há um número maior de
ocorrência entre os meses de março a junho. 600.000 536.082
Gráfico 2: Frequência mensal de estiagem e seca no Estado 500.000
do Maranhão, no período de 1991 a 2012
400.000
Habitantes
60 55 300.000
50 200.000
Frequência Mensal
40 100.000
34
27.278
27 10 15
30 0
Mortos
Feridos
Enfermos
Desabrigados
Desalojados
Desaparecidos
Outros
Afetados
20 18
12
10 8
3 4 3
1
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Fonte: Brasil (2013)
Fonte: Brasil (2013) De acordo com o Gráfico 3, durante os anos de análise, constatou-
se um total de 536.082 pessoas afetadas, das quais dez pessoas ficaram
Com base em estudos pluviométricos e análise dos principais siste- enfermas, em decorrência da estiagem e seca no Estado do Maranhão.
mas meteorológicos do Estado do Maranhão citados por SEMA (2011), o O uso inadequado dos recursos hídricos e do solo, a destruição da
estado pode apresentar índices pluviométricos de até 2.800 mm ao ano, vegetação nativa e as queimadas são fatores da ação antrópica que po-
enquanto a maior parte apresenta áreas que não ultrapassam 1.000 mm dem intensificar a ocorrência de estiagem e seca, além de favorecer os
ao ano, chegando alguns lugares ao índice mínimo de 700 mm ao ano. Em processos de desertificação em muitas áreas do semiárido nordestino
função dos baixos índices pluviométricos, tendo em vista a irregularidade (LEITE et al., 1993).
das chuvas em alguns locais, ocasionados pelas características climáticas, Grande parte do nordeste brasileiro está inserida no polígono das se-
o Estado do Maranhão é suscetível aos eventos adversos de estiagem e cas, onde são identificados manejos insustentáveis dos recursos naturais.
seca. Portanto, a recorrência desses eventos afeta, sobretudo, a parte les- Esse fato, aliado à fragilidade natural do ecossistema da região, acarreta
te do estado, pela proximidade com o polígono das secas, área afetada graves problemas socioambientais, que culminam na geração e aumento
por clima semiárido no Nordeste Brasileiro. da pobreza da população local (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2009).
36 ESTIAGEM E SECA ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO
100
Estiagem e seca
Eventos por ano 50
38 PERITORÓ
ESTIAGEM E SECA
PINHEIRO
ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS 1
– 1991 A 2012 – VOLUME
1
1
MARANHÃO
1
PIRAPEMAS 1 1 2
PRESIDENTE DUTRA 1 1
Infográfico 1: Síntese das ocorrências de estiagem e seca no Estado do Maranhão
PRESIDENTE VARGAS 1 1
RAPOSA 1 1
SANTA FILOMENA DO MARANHÃO 1 1
SANTA HELENA 1 1
SANTA LUZIA 1 1
SANTA QUITÉRIA DO MARANHÃO 1 1 1 3
SANTA RITA 1 1 2
SÃO BENEDITO DO RIO PRETO 1 1 2
SÃO BERNARDO 1 1 1 3
SÃO DOMINGOS DO MARANHÃO 1 1 2
SÃO FRANCISCO DO MARANHÃO 1 1 2
SÃO JOÃO BATISTA 1 1
SÃO JOÃO DO CARÚ 1 1
SÃO JOÃO DO SOTER 1 1 2
SÃO JOÃO DOS PATOS 1 1
SÃO JOSÉ DE RIBAMAR 1 1
SÃO JOSÉ DOS BASÍLIOS 1 1
SÃO LUÍS GONZAGA DO MARANHÃO 1 1
SÃO ROBERTO 1 1
SERRANO DO MARANHÃO 1 1
SUCUPIRA DO NORTE 1 1 2
SUCUPIRA DO RIACHÃO 1 1
TIMBIRAS 1 1 1 3
TIMON 1 1 1 3
TUNTUM 1 1
TUTÓIA 1 1
URBANO SANTOS 1 1
VARGEM GRANDE 1 1 2
VIANA 1 1
Referências
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inpe.br/marte%4080/2008/05.19.18.22/doc/156-161.pdf>. Acesso em: 10
ago. 2013.
S
Quadro 4: Termos e definições propostos para as enxurradas
egundo a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRA-
DE), proposta em 2012, as inundações Bruscas passaram a ser denomi- Termo Autor Definição
nadas enxurradas e são definidas como Inundações bruscas que ocorrem dentro de 6 horas, após
National Disaster
Escoamento superficial de alta velocidade e energia, provocado por uma chuva, ou após a quebra de barreira ou reservatório,
Flash flood Education Coalitation
ou após uma súbita liberação de água armazenada pelo
chuvas intensas e concentradas, normalmente em pequenas bacias de rele- (2004)
atolamento de restos ou gelo.
vo acidentado. Caracteriza-se pela elevação súbita das vazões de determi- Uma inundação causada pela pesada ou excessiva chuva em
nada drenagem e transbordamento brusco da calha fluvial. (BRASIL, 2012, um curto período de tempo, geralmente menos de 6 horas.
Flash flood NWS/NOAA (2005) Também uma quebra de barragem pode causar inundação
p. 73). brusca, dependendo do tipo de barragem e o período de
São diversas as definições utilizadas para o termo enxurrada. Em in- tempo decorrido.
glês, o termo flash flood é amplamente empregado para nomear as en- Inundações bruscas usualmente consistem de uma rápida
elevação da superfície da água com uma anormal alta
xurradas (KOBIYAMA; GOERL, 2007). Já em espanhol, geralmente, utili- velocidade das águas, frequentemente criando uma parede
za-se o termo avenidas súbitas, avenidas repentinas, avenidas, crecidas de águas movendo-se canal abaixo ou pela planície de
Flash flood FEMA (1981)
inundação. As inundações bruscas geralmente resultam
repentinas, inundaciones súbitas (MORALES et al., 2006; SALINAS; ESPI- da combinação de intensa precipitação, numa área de
NOSA, 2004; CORTES, 2004). No Brasil, observa-se na literatura termos inclinações íngremes, uma pequena bacia de drenagem, ou
numa área com alta proporção de superfícies impermeáveis.
como inundação relâmpago, inundação ou enchente repentina e inunda-
Inundações bruscas são inundações de curta vida e que
ção brusca como sinônimos de enxurradas (TACHINI; KOBIYAMA; FRANK, Choudhury et al.
Flash flood duram de algumas horas a poucos dias e originam-se de
(2004)
2009; TAVARES, 2008; GOERL; KOBIYAMA, 2005; MARCELINO; GOERL; pesadas chuvas.
RUDORFF, 2004). IAHS-UNESCO-WMO,
Súbitas inundações com picos de descarga elevados,
Flash flood produzidos por severas tempestades, geralmente em uma
Ressalta-se que a terminologia está associada à localidade (TACHINI (1974)
área de extensão limitada.
et al., 2009), assim como a ciência que a aborda, pois na ciência do solo/
Operacionalmente, inundações bruscas são de fusão
agronomia, o termo enxurrada está muitas vezes associado ao fluxo con- curta e requerem a emissão de alertas pelos centros locais
Flash flood Georgakakos (1986)
centrado, aos processos e à perda de solo (ALBUQUERQUE et al., 1998; de previsão e aviso, preferencialmente aos de Centros
Regionais de Previsão de Rios.
CASTRO; COGO; VOLK, 2006; BERTOL et al., 2010).
Inundações bruscas são normalmente produzidas por
Além dos diversos termos, várias definições também são propostas intensas tempestades convectivas, numa área muito
Flash flood Kömüsçü et al. (1998)
aumentando ainda mais a complexidade desse fenômeno (Quadro 4). limitada, que causam rápido escoamento e provocam danos
enquanto durar a chuva.
No Brasil, Pinheiro (2007) argumenta que as enchentes ocorridas em
São provocadas por chuvas intensas e concentradas em
pequenas bacias são chamadas popularmente de enxurradas e, quando Inundação
regiões de relevo acidentado, caracterizando-se por súbitas
Brusca ou Castro (2003)
ocorrem em áreas urbanas, elas são tratadas como enchentes urbanas. e violentas elevações dos caudais, que se escoam de forma
Enxurrada
rápida e intensa.
Para Amaral e Gutjahr (2011), as enxurradas são definidas como o escoa-
Inundações bruscas geralmente ocorrem em pequenas áreas,
mento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode passado apenas algumas horas (às vezes, minutos) das chuvas,
Flash flood Kron (2002)
ou não estar associado a áreas de domínio dos processos fluviais. Autores e elas têm um inacreditável potencial de destruição. Elas são
produzidas por intensas chuvas sobre uma pequena área.
como Nakamura e Manfredini (2007) e Reis et al. (2012) utilizam os termos
escoamento superficial concentrado e enxurradas como sinônimos. Fonte: Goerl e Kobiyama (2005)
Nota-se que as definições ainda precisam amadurecer até que se
chegue a uma consonância. Contudo, em relação às características, há
44 Enxurrada Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
mais consenso entre os diversos autores/pesquisadores. Montz e Grunt- Registros das Ocorrências
fest (2002) enumeram os seguintes atributos das enxurradas: ocorrem de
maneira súbita, com pouco tempo de alerta; seu deslocamento é rápido e As enxurradas, conforme já visto, estão associadas a pequenas bacias
violento, resultando em muitas perdas de vida e em danos à infraestrutura de relevo acidentado ou ainda a áreas impermeabilizadas caracterizadas pela
e às propriedades; sua área de ocorrência é pequena; geralmente está rápida elevação do nível dos rios. Contudo, essas características indicam os
associada a outros eventos como os fluxos de lama e de detritos. locais mais susceptíveis a sua ocorrência, podendo ocorrer em qualquer local.
Em relação ao seu local de ocorrência, Amaral e Ribeiro (2009) ar- O Estado do Maranhão possui 154 registros oficiais de enxurradas
gumentam que os vales encaixados (em V) e vertentes com altas decli- severas caracterizadas como desastre, entre os anos de 1991 e 2012. O
vidades predispõem as águas a atingirem grandes velocidades em curto Mapa 3 apresenta a distribuição espacial destas ocorrências no território
tempo, causando inundações bruscas e mais destrutivas. Dessa maneira, maranhense.
as enxurradas tendem a ocorrer em áreas ou bacias hidrográficas peque- Observa-se no Mapa 3 que todas as mesorregiões registraram pelo
nas e declivosas, com baixa capacidade de infiltração ou solos rasos que menos um evento de enxurrada severa. A mesorregião menos afetada
saturam rapidamente ou ainda em locais urbanizados (TUCCI; COLLIS- foi a Sul Maranhense, com apenas 6% dos registros. As demais mesorre-
CHOON, 2006; SUN; ZHANG; CHENG, 2012). giões foram afetadas de maneira semelhante, registrando cada região,
Atualmente, devido à redução da capacidade de infiltração associada aproximadamente 22% dos desastres de enxurrada, com destaque para
à urbanização irregular ou sem planejamento, as enxurradas têm se tornado ao Leste Maranhense, com 26%. Além disso, é possível notar no Mapa 3
frequentes em diversos centros urbanos, estando muitas vezes associadas que os municípios mais afetados estão dispersos no estado, estando os
a alagamentos, sendo que sua distinção se torna cada vez mais complexa. mesmos situados em regiões de diferentes regimes climáticos e hidrome-
Para NOAA (2010), independente de qual definição seja adotada, o teorológicos.
sistema de alerta para as enxurradas deve ser diferenciado em relação Timon, situado na Mesorregião Leste Maranhense, apresentou a
aos outros tipos de processos hidrometeorológicos. Dessa maneira, a sua maior quantidade de registros: cinco enxurradas. Os municípios de Ara-
previsão é um dos maiores desafios para os pesquisadores e os órgãos me, Igarapé Grande, Pedreiras, Mirador, Arari, Açailândia, e Imperatriz re-
governamentais ligados à temática dos desastres naturais. A maior parte gistraram três eventos cada. Os demais municípios atingidos registraram
dos sistemas alertas atuais esta focado em eventos ou fenômenos com um e dois enxurradas.
um considerável tempo de alerta, sendo que os fenômenos súbitos ainda O Município de Timon ocupa a quarta posição em termos de popu-
carecem de sistemas de alerta efetivos (HAYDEN et al., 2007). Borga et al. lação no Estado do Maranhão, com aproximadamente 155 mil habitantes.
(2008) e Georgakakos (1986) sugerem que o sistema de alerta para enxur- Dentre os outros municípios com maior frequência (três enxurradas), ape-
radas deva ser em escala local, pois os fenômenos meteorológicos causa- nas Imperatriz e Açailândia possuem mais de 100 mil habitantes, enquan-
dores das enxurradas geralmente possuem escalas inferiores a 100 km². to os demais possuem menos de 40 mil (IBGE, 2011). Isso evidencia que
Como no Brasil o monitoramento hidrológico e meteorológico em não apenas os condicionantes antrópicos (população) estão associados a
pequenas bacias ainda é insuficiente para que se tenha um sistema de ocorrências de desastres, mas também condicionantes físicos, pois nem
alerta para enxurradas, a análise histórica pode indicar quais bacias ou ci- sempre os municípios mais populosos apresentam maior frequência de
dades que este sistema de alerta local deve ser implementado, demons- eventos registrados.
trando a importância da correta identificação do fenômeno e consequen- O Gráfico 4 apresenta a frequência anual de enxurradas registradas
temente o seu correto registro. entre 1991 e 2012. Nos primeiros anos (1991-2001) observam-se dois com
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão Enxurrada
45
mais frequência, 1995 e 1996. Após os eventos de 1996, há uma drástica Em relação à frequência mensal, os meses de março, abril e maio
redução das enxurradas, até 2009, quando foram registrados 64 eventos. se destacam, concentrando aproximadamente 89% de todos os registros
Além desses, destaca-se também o ano de 2011, com 20 registros. Obser- (Gráfico 5). Nota-se uma reduzida frequência de eventos nos meses de
va-se que os anos com maior frequência são excepcionais, pois a maior inverno e primavera. O elevado número de eventos em abril e maio está
parte dos anos ficou abaixo da média anual. associado principalmente aos anos de 1996 e 2009.
No ano de 2009, os elevados índices pluviométricos estão relaciona- O clima do Estado do Maranhão é influenciado principalmente pelos
dos com posicionamento favorável da Zona de Convergência Intertropical sistemas meteorológicos da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e
(ZCIT) e, no setor Centro-Sul do estado, estão ligados ao posicionamento Linhas de Instabilidade, que caracteriza uma região de grande variabili-
favorável de Vórtices Ciclônicos de ar superior nas faixas entre o Oceano dade nos índices pluviométricos. A porção oeste do nordeste brasileiro,
Atlântico e a Costa Leste da Região Nordeste do Brasil. As duas conjun- onde se insere o Estado do Maranhão, tem sua estação chuvosa ocorren-
turas atmosféricas estiveram associadas também com a combinação de te nos meses de dezembro a maio (SEMA, 2011).
muito calor e muita umidade sobre o Estado do Maranhão, aliadas, ainda,
Gráfico 5: Frequência mensal de desastres por enxurrada no
com a atuação do fenômeno La Niña. No ano de 2009, o total pluvio-
Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
métrico médio acumulado no Estado do Maranhão foi de 2.249,08 mm,
distribuídos em 141 dias com chuva. Essa característica também pode
70 Frequência
observada no ano de 1996, que foi o segundo ano com o maior número 59
60 Média Mensal
de ocorrências de desastres. 54
Frequência Mensal
Gráfico 4: Frequência anual de desastres por enxurrada no 50
Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012 40
Frequência 30 24
70 64
Média Anual
20
60
10
Frequência Anual
50 6 6
1 1 3
0
40
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
30 25
18 20 Fonte: Brasil (2013)
20
10 6 8 Os 154 eventos de enxurradas afetaram mais de 500 mil pessoas, dei-
3 1 2 1 1 1 1 2 1
0 xando 52 mil desabrigados, 15 mil desalojados e ocasionando 13 falecimen-
tos. 39% dos afetados estão associados a apenas um evento, ocorrido no ano
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Gráfico 6: Danos humanos causados por desastres de enxurrada Tabela 8: Danos humanos relacionados aos eventos mais severos (1991-2012)
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
Ano Município Mesorregião Desabrigados Desalojados Enfermos Afetados
509.683 2012 Imperatriz Oeste Maranhense - 8 - 200.000
500.000
Número de pessoas atingidas
Feridos
Enfermos
Desabrigados
Desalojados
Desaparecidos
Outros
Afetados
Tabela 9: Mortes relacionadas aos eventos mais severos (1991-2012)
A Tabela 8 apresenta os dez municípios que apresentaram o maior Nota-se que uma conjuntura de fatores contribui para a severidade
número de afetados por evento. O evento de 2012, em Imperatriz, afetou de uma enxurrada. Não se pode, assim, analisar a precipitação, relevo e
80% da população, indicando a severidade do evento. Os demais muni- fatores antrópicos de maneira isolada.
cípios, exceto Divinópolis, foram afetados pelo evento de 2009. Vargem Como a sociedade, ao longo da sua história, procurou se estabelecer
Grande teve 25% de sua população afetada e Grajaú 19%. Já Mirador, o preferencialmente próximo aos rios e cursos de água, os eventos de en-
quinto mais atingido, teve 57% de seus habitantes afetados. xurrada ocasionam um elevado número de habitações destruídas e danifi-
Em relação ao número de mortos, a Tabela 9 apresenta os falecimen- cadas (Gráfico 7). Contudo, diferente dos afetados, onde a maioria esteve
tos registrados pelos municípios do estado. Santa Luzia descreve no relató- associada a apenas um município, os danos materiais representam princi-
rio de danos uma chuva de 101 mm, em 15 horas, resultando numa severa palmente o somatório dos eventos ocorridos em 2009 nos diversos municí-
enxurrada que ocasionou o óbito de sete habitantes. Imperatriz, que foi pios. Os principais municípios em relação aos danos materiais foram justa-
o município com mais afetados ao longo dos 22 anos, também registrou mente atingidos pelas enxurradas de 2009 (Tabela 10). Destaca-se Coelho
uma morte, e consta no relatório de danos: “Enchentes repentinas, com a Neto, com 752 edificações destruídas, das quais 750 são habitações.
subida do Rio Tocantins, represando a desembocadura das microbacias do As enxurradas estão associadas a chuvas intensas em bacias hidro-
município, devido às fortes chuvas que caem na região.” (BRASIL, 2013). gráficas declivosas. Contudo, elas podem ocorrem em qualquer lugar.
ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO ENXURRADA
47
Gráfico 7: Estruturas destruídas e danificadas pelas enxurradas Tabela 10: Descrição dos principais municípios em relação aos danos materiais (1991-2012)
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
Ano Município Mesorregião Total Destruídas Total Danificadas Total
2009 Coelho Neto Leste Maranhense 752 4 756
90 Destruídas 8.821 2009 Apicum-Açu Norte Maranhense 67 552 619
80 Danificadas 2009 Vargem Grande Norte Maranhense 181 322 503
70 2009 Icatu Norte Maranhense 183 289 472
60
Edificações
Ensino
Comunitários
Habitações
O Infográfico 2 apresenta uma síntese dos registros de enxurrada no
Estado do Maranhão ao longo desses 22 anos.
80
60
Enxurradas
Eventos por ano 40
20
0
48 ENXURRADA ALTAS
ALDEIAS
ALTAMIRA DO MARANHÃO
1
1
ATLAS 1
BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME
2
MARANHÃO
1
ALTO ALEGRE DO MARANHÃO 1 1
AMARANTE DO MARANHÃO 2 2
APICUM-AÇU Infográfico 2: Síntese das ocorrências de enxurradas no Estado do Maranhão 1 1
ARAGUANÃ 1 1
ARAME 1 2 3
BACABAL 1 1 2
BACURI 1 1 2
BALSAS 1 1 2
BARÃO DE GRAJAÚ 1 1
BELA VISTA DO MARANHÃO 1 1
BENEDITO LEITE 1 1
BOM JESUS DAS SELVAS 1 1
BURITI BRAVO 1 1
BURITICUPU 1 1
CAJARI 1 1
CAMPESTRE DO MARANHÃO 1 1
CANTANHEDE 1 1
CAPINZAL DO NORTE 1 1
CAXIAS 1 1
CENTRO NOVO DO MARANHÃO 1 1
COELHO NETO 1 1 2
COLINAS 1 1 2
COROATÁ 1 1
DAVINÓPOLIS 1 1
DOM PEDRO 1 1 2
DUQUE BACELAR 1 1 2
ESPERANTINÓPOLIS 1 1 2
ESTREITO 1 1
FEIRA NOVA DO MARANHÃO 1 1
FERNANDO FALCÃO 1 1
FORMOSA DA SERRA NEGRA 1 1
FORTUNA 1 1
GODOFREDO VIANA 1 1
GOVERNADOR NUNES FREIRE 1 1
GRAJAÚ 1 1
GUIMARÃES 1 1
ICATU 1 1 2
ITAIPAVA DO GRAJAÚ 1 1
ITAPECURU MIRIM 1 1
ITINGA DO MARANHÃO 2 2
JATOBÁ 1 1 2
JOSELÂNDIA 1 1
LAGO DA PEDRA 2 2
LAGO DO JUNCO 1 1 2
LAGO DOS RODRIGUES 1 1
LAGOA DO MATO 1 1
LAJEADO NOVO 1 1
MARAJÁ DO SENA 1 1
MATÕES 1 1
MIRANDA DO NORTE 1 1
MONÇÃO 1 Fonte: Brasil (2013) 1
MONTES ALTOS 1 1
PAÇO DO LUMIAR 1 1
PALMEIRÂNDIA 1 1
PARAIBANO 1 1 2
JOSELÂNDIA 1 1
LAGO DA PEDRA 2 2
LAGO DO JUNCO 1 1 2
LAGODE
ATLAS BRASILEIRO DOS RODRIGUES
DESASTRES
LAGOA DO MATO
NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO 1
1
ENXURRADA
49
1
1
LAJEADO NOVO 1 1
MARAJÁ DO SENA 1 1
Infográfico 2: Síntese das ocorrências de enxurradas no Estado do Maranhão
MATÕES 1 1
MIRANDA DO NORTE 1 1
MONÇÃO 1 1
MONTES ALTOS 1 1
PAÇO DO LUMIAR 1 1
PALMEIRÂNDIA 1 1
PARAIBANO 1 1 2
PARNARAMA 1 1
PASSAGEM FRANCA 1 1 2
PASTOS BONS 1 1
PAULO RAMOS 1 1 2
PEDRO DO ROSÁRIO 1 1
PENALVA 1 1
PERI MIRIM 1 1
PERITORÓ 1 1
PINDARÉ-MIRIM 1 1
PIO XII 1 1
PIRAPEMAS 1 1
PORTO FRANCO 1 1
PRESIDENTE DUTRA 1 1
PRESIDENTE JUSCELINO 1 1
PRESIDENTE VARGAS 1 1 2
PRIMEIRA CRUZ 1 1
RAPOSA 1 1
RIACHÃO 1 1
ROSÁRIO 1 1
SANTA FILOMENA DO MARANHÃO 1 1
SANTA HELENA 1 1
SANTA LUZIA 1 1
SANTA LUZIA DO PARUÁ 1 1 2
SANTA QUITÉRIA DO MARANHÃO 1 1 2
SÃO BERNARDO 1 1 2
SÃO FÉLIX DE BALSAS 1 1
SÃO FRANCISCO DO BREJÃO 1 1
SÃO FRANCISCO DO MARANHÃO 1 1
SÃO JOÃO DO SOTER 1 1
SÃO JOSÉ DE RIBAMAR 1 1
SÃO JOSÉ DOS BASÍLIOS 1 1
SÃO LUÍS 1 1
SÃO LUÍS GONZAGA DO MARANHÃO 1 1
SÃO PEDRO DA ÁGUA BRANCA 1 1
SÃO RAIMUNDO DO DOCA BEZERRA 1 1
SÍTIO NOVO 1 1
SUCUPIRA DO RIACHÃO 1 1
TASSO FRAGOSO 1 1
TRIZIDELA DO VALE 1 1 2
TUNTUM 1 1 2
TURIAÇU 1 1
VARGEM GRANDE Fonte: Brasil (2013) 1 1
VIANA 1 1
VILA NOVA DOS MARTÍRIOS 1 1
VITÓRIA DO MEARIM 1 1
ZÉ DOCA 1 1
SÃO PEDRO DA ÁGUA BRANCA 1 1
SÃO RAIMUNDO DO DOCA BEZERRA 1 1
50 SÍTIO NOVO
ENXURRADA
SUCUPIRA DO RIACHÃO
ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES 1
NATURAIS – 1991
1
A 2012 – VOLUME 1
MARANHÃO
1
TASSO FRAGOSO 1 1
TRIZIDELA DO VALE 1 1 2
Infográfico 2: Síntese das ocorrências de enxurradas no Estado do Maranhão
TUNTUM 1 1 2
TURIAÇU 1 1
VARGEM GRANDE 1 1
VIANA 1 1
VILA NOVA DOS MARTÍRIOS 1 1
VITÓRIA DO MEARIM 1 1
ZÉ DOCA 1 1
IGARAPÉ GRANDE 1 2 3
PEDREIRAS 1 1 1 3
MIRADOR 1 1 1 3
ARARI 1 1 1 3
AÇAILÂNDIA 1 1 1 3
IMPERATRIZ 1 1 1 3
TIMON 1 1 1 1 1 5
MARCELINO, E. V.; GOERL, R. F.; RUDORFF, F. M. Distribuição espaço- SEMA – SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE. Plano estadual
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Inundação
54 Inundação Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
A
Quadro 5: Alguns conceitos utilizados para definir as inundações graduais
s inundações, anteriormente denominadas como “enchentes ou inun-
dações graduais” compõem o grupo dos desastres naturais hidrológi- Termo Autor Definição
cos, segundo a nova Classificação e Codificação Brasileira de Desas- Uma condição geral ou temporária de parcial ou completa
tres (COBRADE). Referem-se à inundação de dois ou mais acres de uma terra normalmente
Flood NFIP (2005) ou de duas ou mais propriedades (uma das quais é a
Submersão de áreas fora dos limites normais de um curso de água sua propriedade), proveniente da inundação de águas
em zonas que normalmente não se encontram submersas. O transbor- continentais ou oceânicas.
damento ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por chuvas Inundações ocorrem nas chamadas planícies de inundação,
prolongadas em áreas de planície. (BRASIL, 2012, p. 73) National Disaster quando prolongada precipitação por vários dias, intensa
Flood Education Coalition chuva em um curto período de tempo ou um entulhamento
Gontijo (2007) define as enchentes como fenômenos temporários (2004) de gelo ou de restos, faz com que um rio ou um córrego
transbordem e inundem a área circunvizinha.
que correspondem à ocorrência de vazões elevadas num curso de água,
com eventual inundação dos seus terrenos marginais. Assim, elas ocorrem A inundação de uma área normalmente seca causada pelo
aumento do nível das águas em um curso d’água estabelecido
quando o fluxo de água em um trecho do rio é superior à capacidade de Flood NWS/NOAA (2005)
como um rio, um córrego, ou um canal de drenagem ou um
drenagem de sua calha normal, e então ocorre o transbordamento do dique, perto ou no local onde as chuvas precipitaram.
corpo hídrico e a água passa a ocupar a área do seu leito maior (TUCCI, Inundação resulta quando um fluxo de água é maior do que
a capacidade normal de escoamento do canal ou quando
1993; LEOPOLD, 1994). Flood FEMA (1981) as águas costeiras excedem a altura normal da maré alta.
Para Castro (2003), as inundações graduais são caracterizadas pela Inundações de rios ocorrem devido ao excessivo escoamento
superficial ou devido ao bloqueio do canal.
elevação das águas de forma paulatina e previsível, mantendo-se em si-
tuação de cheia durante algum tempo, para depois escoarem gradual- As águas elevam-se de forma paulatina e previsível, mantém
Inundações
em situação de cheia durante algum tempo e, a seguir,
Graduais ou Castro (1996)
mente. São eventos naturais que ocorrem com periodicidade nos cursos Enchentes
escoam-se gradualmente. Normalmente, as inundações
graduais são cíclicas e nitidamente sazonais.
d’água, sendo características das grandes bacias hidrográficas e dos rios
de planície, como o Amazonas. O fenômeno evolui de forma facilmente Inundações de rios ocorrem devido às pesadas chuvas das
monções e ao derretimento de gelo nas áreas a montante
previsível e a onda de cheia desenvolve-se de montante para jusante, Choudhury et al.
River Flood dos maiores rios de Bangladesh. O escoamento superficial
(2004)
guardando intervalos regulares. resultante causa a elevação do rio sobre as suas margens
propagando água sobre a planície de inundação.
Na língua inglesa, o evento inundação é denominado flood ou floo-
Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade
ding. No Quadro 5, podem ser observadas algumas definições utilizadas de infiltrar, grande parte do volume escoa para o sistema de
para as inundações graduais. Inundações Tucci e Bertoni drenagem, superando sua capacidade natural de escoamento.
Ribeirinhas (2003) O excesso de volume que não consegue ser drenado ocupa
É possível perceber algumas características em comum nas diversas a várzea inundando-a de acordo com a topografia das áreas
definições. Elas ocorrem nas áreas adjacentes às margens dos rios que próximas aos rios.
por determinados períodos permanecem secas, ou seja, na planície de Office of Uma inundação de terra normalmente não coberta pela água
Flood Thecnology e que são usadas ou utilizáveis pelo homem.
inundação. Geralmente são provocadas por intensas e persistentes chu- Assessment (1980)
vas e a elevação das águas ocorre gradualmente. Devido a essa elevação É o resultado de intensas e/ou persistentes chuvas por
gradual das águas, a ocorrência de mortes é menor do que durante uma alguns dias ou semanas sobre grandes áreas, algumas vezes
River Flood Kron (2002) combinadas com neve derretida. Inundações de rios que se
inundação brusca. Contudo, devido à sua área de abrangência, a quanti- elevam gradualmente, algumas vezes em um curto período
dade total de danos acaba sendo elevada. de tempo.
Tucci (1993) explica que a ocorrência de inundações depende das ca- inundações, que quando pequena, a população despreza a sua ocorrência,
racterísticas físicas e climatológicas da bacia hidrográfica – especialmente aumentando significativamente a ocupação das áreas inundáveis (TUCCI,
a distribuição espacial e temporal da chuva. 1997), podendo desencadear situações graves de calamidade pública.
A magnitude das inundações geralmente é intensificada por variáveis A International Strategy for Disaster Reduction considera as inunda-
climatológicas de médio e longo prazo e pouco influenciáveis por variações ções como desastres hidrológicos, ou seja, relacionados a desvios no ci-
diárias de tempo. Relacionam-se muito mais com períodos demorados de clo hidrológico (BELOW; WIRTZ; GUHA-SAPIR, 2009). No entanto, antes
chuvas contínuas do que com chuvas intensas e concentradas. Em condi- de serem desastres, as inundações são fenômenos naturais, intrínsecas ao
ções naturais, as planícies e fundos de vales estreitos apresentam lento regime dos rios. Quando esse fenômeno entra em contato com a socieda-
escoamento superficial das águas das chuvas, e nas áreas urbanas estes fe- de, causando danos, passa a ser um desastre.
nômenos são intensificados por alterações antrópicas, como a impermea- A frequência das inundações é alterada devido às alterações na bacia
bilização do solo, retificação e assoreamento de cursos d’água (TAVARES; hidrográfica, que modificam a resposta hidrológica e aumentam a ocor-
SILVA, 2008). Essas alterações tornam-se um fator agravante, uma vez que rência e magnitude do fenômeno (CENAPRED, 2007). Flemming (2002)
a água é impedida de se infiltrar, aumentando ainda mais a magnitude da relembra que as inundações, por serem fenômenos naturais, não podem
vazão de escoamento superficial. Outro fator importante é a frequência das ser evitadas, porém seus danos podem ser mitigados.
Frequência Anual
Brasil, onde a elevação do nível dos rios causou inundações. No Nordes-
te, o setor norte do Estado do Maranhão foi uma das áreas mais afetadas 60
pelos sistemas que favoreceram as chuvas intensas: a Zona de Conver- 50
gência Intertropical (ZCIT), a formação de Linhas de Instabilidade (LIs) ao 40
longo da costa, e a propagação de cavados na média e alta troposfera. 30
Em 2008, foram 64 registros de inundações. A atuação conjunta de 20
vários sistemas meteorológicos contribuiu para a ocorrência de chuvas 12 11
10 7
acima da média histórica em grande parte da Região Nordeste do Brasil, 1 3
0
especialmente no Maranhão, em que o mês de março foi considerado um
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
dos mais chuvosos dos últimos 47 anos, conforme boletim de informações
climáticas do CPTEC/INPE (CHUVAS..., 2008).
Os demais anos com ocorrências apresentam números inferiores de Fonte: Brasil (2013)
eventos. Verifica-se, portanto, que não há uma frequência anual de regis-
Gráfico 9: Frequência mensal de desastres por inundações no
tros de desastres no estado, uma vez que existem muitas lacunas (Gráfico Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
8). Embora sejam poucos os registros entre os anos de 1991 e 2012, não
significa que não tenham ocorrido outros desastres associados a inunda- 70
63
ções no Estado do Maranhão, neste período. 60
60
A partir dos dados apresentados no Gráfico 9 é possível observar a
Frequência Mensal
frequência mensal de todos os registros de inundações no estado. Veri- 50
43
fica-se uma recorrência dos desastres entre os meses de janeiro a maio.
40
Esse período insere-se na estação chuvosa do estado, que ocorre de de-
zembro a maio (MARANHÃO, 2011). 30
Os meses de verão e outono representam 43% e 57%, respectiva- 20
mente, do total de registros. O mês de março foi o mais afetado ao longo 11
do período em análise, com 63 registros. Das ocorrências desse mês, 54 10
3
correspondem aos eventos de inundação ocorridos no ano de 2008, que 0
atingiram municípios de todas as mesorregiões do estado, com exceção jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
da Sul Maranhense. O elevado número de registros nos meses de abril e
maio corresponde às inundações do ano de 2009, que totalizam 40 ocor- Fonte: Brasil (2013)
O Estado do Maranhão caracteriza-se como uma região de grande junto às margens de rios. Destacam-se as bacias hidrográficas dos rios
variabilidade nos índices pluviométricos, devido à influência, principal- Mearim e Itapecuru, que cortam as áreas de maior densidade demográfi-
mente, dos sistemas meteorológicos representados pela Zona de Conver- ca do estado, segundo o Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010).
gência Intertropical (ZCIT) e pelas Linhas de Instabilidade. Com relação aos danos relacionados a desabrigados, mortos e afeta-
As precipitações prolongadas durante o período chuvoso podem ori- dos, a Tabela 11 apresenta os municípios mais atingidos, com os respec-
ginar consequências negativas para comunidades de alguns municípios, tivos anos das inundações e os totais de danos em número de pessoas.
por conta da elevação dos níveis dos rios no estado. Nesse sentido, os O Município de Imperatriz registrou, na inundação de março de 2011,
danos humanos relacionados aos desastres por inundações são apresen- o total de 102.000 afetados e 275 desabrigados. Esse evento extremo
tados no Gráfico 10. Verificam-se mais de 700 mil pessoas afetadas ao atingiu áreas do setor urbano e rural, com a inundação do Rio Tocantins
longo dos anos analisados. No período de 1991 a 2012, foram registrados, e de outros cursos d’água que banham o território. O mesmo município
oficialmente, 22 mortos, 608 feridos, 30.467 enfermos, 84.550 desabriga- registrou danos humanos relevantes na inundação de maio de 2009, com
dos, 167.609 desalojados, 109 desaparecidos e 2.204 pessoas atingidas 1.207 pessoas desabrigadas e 15.281 afetadas. Nesse evento, as chuvas
por outros tipos de danos. provocaram o aumento do nível do Rio Tocantins e de seus afluentes em
O número expressivo de afetados pelas inundações pode ser reflexo 11 metros acima do normal, de acordo com o documento oficial.
da elevada densidade demográfica de algumas cidades, principalmente Inundações ocorridas em Caxias, Bacabal, Trizidela do Vale e Pedrei-
ras resultaram em óbitos, além de gerar desabrigados e afetados, confor-
Gráfico 10: Danos humanos causados por desastres de inundações
me ilustra a Tabela 11. Há municípios que não estão entre os mais afeta-
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
dos, mas que apresentaram, no entanto, registros de óbitos consideráveis
800.000 por inundação, como Anapurus, com três mortes, e Viana, com duas mor-
707.688
Número de pessoas atingidas
700.000 tes, nas inundações de maio de 2009, e Imperatriz, com duas mortes, no
evento de janeiro de 2002.
600.000
500.000 Tabela 11: Os municípios mais severamente atingidos no Estado do Maranhão (1991-2012)
Feridos
Enfermos
Desabrigados
Desalojados
Desaparecidos
Outros
Afetados
Ensino
Comunitários
Habitações
Infraestrutura
de danos materiais (3.934) refere-se a prejuízos econômicos corresponden-
tes a perdas na criação de gado, de aves e agricultura, bem como danos na
infraestrutura urbana e nos setores de saúde e ensino.
Os episódios de inundação, em geral, são recorrentes nas áreas urba-
nas, principalmente quando essas áreas apresentam ocupação desordenada
Fonte: Brasil (2013) em planícies de inundação. Dessa forma, as moradias e seus habitantes pas-
sam a ser alvo dos desastres naturais relacionados com o aumento do nível
Na Tabela 12 são apresentados os municípios afetados, com os danos dos rios.
materiais mais expressivos. É possível observar o quanto as inundações do O acompanhamento da evolução diária das condições meteorológicas,
ano de 2009 causaram danos à população maranhense. assim como o monitoramento do nível dos rios, permite antecipar a possibi-
O Município de Caxias apresenta-se como o mais afetado do Estado lidade das ocorrências de inundação e, consequentemente, a minimização
do Maranhão, segundo os documentos oficiais levantados, com o total de dos danos, tanto humanos quanto materiais. No entanto, essa previsibilida-
14.809 estabelecimentos e estruturas destruídos e danificados, referente à de não faz parte de um processo de gestão do risco, aumentando conse-
inundação de abril de 2009. Nesse evento, bairros da zona urbana e povoa- quentemente a vulnerabilidade das comunidades ribeirinhas, bem como do
dos da zona rural foram atingidos com a elevação do nível do Rio Itapecuru, perímetro urbano, aos desastres ocasionados por enchentes e inundações.
60 INUNDAÇÃO ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO
100
Inundações
Eventos por ano 50
62 SANTA RITA
INUNDAÇÃO
SANTO AMARO DO MARANHÃO
ATLAS 1
BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS
1
– 1991 A 2012 – VOLUME
1
MARANHÃO
1
SÃO BENEDITO DO RIO PRETO 1 1
SÃO BENTO 1 1
SÃO JOÃO DO CARÚ Infográfico 3: Síntese das ocorrências de inundações no Estado do Maranhão 1 1
SÃO JOÃO DO PARAÍSO 1 1
SÃO JOÃO DO SOTER 1 1
SÃO JOSÉ DE RIBAMAR 1 1
SÃO JOSÉ DOS BASÍLIOS 1 1
SÃO LUÍS GONZAGA DO MARANHÃO 1 1 1 3
SÃO MATEUS DO MARANHÃO 1 1 2
SÃO PEDRO DA ÁGUA BRANCA 1 1 2
SÃO PEDRO DOS CRENTES 1 1
SÃO RAIMUNDO DO DOCA BEZERRA 1 1
SÃO ROBERTO 1 1
SATUBINHA 1 1 2
SENADOR ALEXANDRE COSTA 1 1
TIMBIRAS 1 1
TIMON 1 1 2
TUFILÂNDIA 1 1 2
TURILÂNDIA 1 1
TUTÓIA 1 1
VARGEM GRANDE 1 1
VIANA 1 1
VITÓRIA DO MEARIM 1 1
VITORINO FREIRE 1 1
MAGALHÃES DE ALMEIDA 1 1 1 3
SANTA QUITÉRIA DO MARANHÃO 1 1 1 3
SÃO BERNARDO 1 1 1 3
NINA RODRIGUES 1 1 1 3
PENALVA 1 1 1 3
BOA VISTA DO GURUPI 1 1 1 3
LAGOA GRANDE DO MARANHÃO 1 1 1 3
PINDARÉ-MIRIM 1 1 1 3
BACABAL 1 1 1 1 4
ARAIOSES 1 1 2 4
PEDREIRAS 1 1 1 1 1 5
TRIZIDELA DO VALE 1 1 1 1 1 5
IMPERATRIZ 1 1 1 1 1 5
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pdf_infoclima/200905.pdf>. Acesso em: 25 maio 2013.
1994. p. 110-125.
64 Inundação Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
S
egundo a Classificação e a Codificação Brasi- Figura 4: a) Construção de novos loteamentos b) Aumento no hidrograma jamento, ou seja, o que
leira de Desastres (COBRADE), proposta em facilmente comprova a sua
2012, os alagamentos caracterizam-se pela ineficiência imediatamente
“Extrapolação da capacidade de escoamento de após as precipitações sig-
sistemas de drenagem urbana e consequente acú- nificativas, com transtornos
mulo de água em ruas, calçadas ou outras infraes- à população quando causa
truturas urbanas, em decorrência de precipitações inundações e alagamentos
intensas [...]” (BRASIL, 2012, p. 73) e da topografia (FUNASA, 2006).
suave (CERRI, 1999). Sua ocorrência está direta- A Figura 4 mostra
mente relacionada com os sistemas de Drenagem como cada novo empreen-
Urbana, que são entendidos como o conjunto de dimento que é aprovado
medidas que objetivam a redução dos riscos rela- aumenta a vazão e, conse-
cionados às enchentes, bem como à redução dos quentemente, a frequên-
prejuízos causados por elas (TUCCI et al. 2007). Fonte: Tucci (2007) cia da sua ocorrência. O
De modo geral, a urbanização promove a ca- Figura 5: a) Obstrução à drenagem b) Lixo retido na drenagem aumento da impermeabi-
nalização dos rios urbanos e as galerias acabam lização gera maior volume
por receber toda a água do escoamento superfi- escoado superficialmente.
cial. Esses conceitos já ultrapassados dos projetos Como resposta, o municí-
de drenagem urbana, que têm como filosofia es- pio construiu um canal nos
coar a água precipitada o mais rapidamente pos- trechos que a drenagem
sível para a jusante, aumentam, em várias ordens inunda a cidade, o que
de magnitude, a vazão máxima, a frequência e o apenas transfere para a
nível de inundação e de alagamentos à jusante jusante a nova inundação.
(CHOW; MAYS, 1988). Dessa forma, o rápido afas- Dessa forma, a população
tamento das águas propicia a combinação dos fe- perde duas vezes: pelo au-
nômenos de enxurradas e de alagamentos, prin- mento da inundação e pelo
cipalmente em áreas urbanas acidentadas, como desperdício de recursos
ocorre no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em públicos (BRASIL, 2009).
cidades serranas, o que torna os danos ainda mais Fonte: Tucci (2005) Outro grande proble-
severos (CASTRO, 2003). ma dos sistemas de drena-
Os alagamentos são frequentes nas cidades mal planejadas ou que gem está relacionado à própria gestão do saneamento. O carreamento
crescem explosivamente, já que a realização de obras de drenagem e de de lixo e de sedimentos para as sarjetas, as bocas de lobo e para as gale-
esgotamento de águas pluviais é deixada em segundo plano. Assim, os rias acaba obstruindo as entradas e as tubulações de drenagem, colabo-
sistemas de drenagem são altamente impactados e se sobressaem como rando na ocorrência de alagamentos localizados. Ademais, interligações
um dos problemas mais sensíveis causados pela urbanização sem plane- clandestinas de esgoto contribuem para a insuficiência das redes de dre-
68 Alagamentos Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
nagem, com possibilidade de rompimento das tubulações. Essas condi- este: drenagem urbana sustentável. A drenagem urbana sustentável visa
ções, mesmo em pequenos volumes pluviométricos, são capazes de gerar imitar o ciclo hidrológico natural controlando o escoamento superficial o
alagamentos intensos em cidades urbanizadas, com diversos transtornos mais próximo da fonte, através de técnicas estruturais e não estruturais,
e possibilidade de desastres. com o objetivo de reduzir a exposição da população aos alagamentos e
Nesse sentido é oportuno citar os estudos de Mattedi e Butzke (2001), às inundações e a, consequente, minimização dos impactos ambientais.
eles mostraram que as pessoas que vivem em áreas de risco percebem os Os danos causados pelos alagamentos são, de modo geral, de pequena
eventos como uma ameaça, contudo não atribuem seus impactos a fato- magnitude, pois a elevação das águas é relativamente baixa. Por outro lado,
res sociais. Essa percepção é comum aos alagamentos, pois as pessoas os transtornos causados à população são de ordem elevada, principalmente
costumam atribuir à força da natureza a inundação de suas moradias e no que ser refere à circulação de automóveis e de pessoas, bem como a lim-
não à forma como ocupam e utilizam os espaços urbanos. peza das residências e das áreas de comércio após o escoamento das águas.
A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2010) indica que a De fato, o escoamento das águas superficiais sempre ocorrerá, existindo ou
eficiência dos sistemas de drenagem de águas pluviais – e a consequente não um sistema adequado de drenagem. Por isso, a qualidade do sistema é
prevenção de desastres com enchentes e alagamentos – está diretamente que determina a existência de benefícios ou de prejuízos à população.
relacionada à existência dos dispositivos de controle de vazão, pois eles
atenuam a energia das águas e o carreamento de sedimentos para os cor- Registros das Ocorrências
pos receptores, onde há a disposição final dos efluentes da drenagem plu-
vial. A ausência desses dispositivos é facilmente perceptível nos dados di- O Estado do Maranhão possui oito registros oficiais de alagamen-
vulgados pelo IBGE (2010), pois mostram que um em cada três municípios tos severos caracterizados como desastre, entre os anos de 1991 e 2012.
tem áreas urbanas de risco que demandam drenagem especial. Dentre os O Mapa 5 mostra a distribuição espacial desses registros no território
municípios que relataram a existência de áreas de risco, somente 14,6% estadual, com maioria dos desastres ocorrendo no Leste Maranhense. Os
utilizam informações meteorológicas e/ou hidrológicas, o que limita ainda municípios atingidos foram Afonso Cunha, Coelho Neto, Duque Bacelar,
mais as condições de manejo das águas pluviais e da drenagem urbana. Humberto de Campos, Nova Iorque, Parnarama, Pedreiras e Trizidela do
Para suportar as modificações do uso do solo na bacia, são necessá- Vale, com um desastre registrado em cada um.
rias obras de ampliação do sistema de drenagem (medidas estruturais), Desses municípios, apenas Afonso Cunha e Nova Iorque tem menos
cujos valores são tão altos que se tornam inviáveis. Tucci, Hespanhol e de 20 mil habitantes, com a população de ambos não chegando a 10 mil
Cordeiro Netto (2001), por exemplo, citam valores de US$50 milhões/km habitantes. Isso evidencia que não apenas os condicionantes antrópicos
para aprofundamento de canais da macrodrenagem. Nesse quesito, as (população) estão associados a ocorrências de desastres por alagamento,
medidas não estruturais (planejamento, controle na fonte, zoneamento, mas também condicionantes físicos, já que municípios pouco populosos
etc.) tornam-se medidas menos onerosas e mais práticas. foram atingidos por alagamentos severos.
Nessa temática, Pompêo (1999) afirma que se deve relacionar a sus- Gráfico 12 apresenta a frequência anual de alagamentos registrados
tentabilidade com a drenagem urbana, por meio do reconhecimento da entre 1991 e 2012, cuja maior frequência é observada no ano de 2007.
complexidade das relações entre os ecossistemas naturais, o sistema ur- Em relação à distribuição mensal, observa-se que os desastres ocor-
bano artificial e a sociedade. Essa postura exige que a drenagem e o reram em apenas três meses, atingindo o pico em janeiro. Todos os de-
controle de cheias em áreas urbanas sejam reconceitualizadas em ter- sastres de 2004 foram registrados em janeiro e fevereiro, ao passo que o
mos técnicos e gerenciais. Essa definição eleva o conceito de drenagem a registro de 2009 ocorreu em maio.
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão Alagamentos
69
Gráfico 12: Frequência anual de desastres por alagamentos no
Os alagamentos podem originar consequências negativas para as co-
Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
munidades maranhenses. Reitera-se que esses eventos originam, de modo
geral, poucos danos, já que a elevação do nível da água é relativamente bai-
10 Frequência xa. Contudo, pode-se notar que mais de 6 mil pessoas foram afetadas, 2.092
9
pessoas desalojadas, 3.968 desabrigadas e 30 ficaram feridas (Gráfico 14).
8
Frequência Anual
7
7 Gráfico 14: Danos humanos causados por desastres de alagamentos
6 no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
5
7.000
4
Mortos
Feridos
Enfermos
Desabrigados
Desalojados
Desaparecidos
Outros
Afetados
5 Frequência
4
4
Frequência Mensal
3
3 Fonte: Brasil (2013)
Tabela 13: Danos humanos relacionados aos eventos de alagamento (1991-2012) Gráfico 15: Quantificação dos danos materiais de alagamentos
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
Ano Município Mesorregião Desabrigados Desalojados Afetados
2004 Pedreiras Centro Maranhense 1.800 900 3.615 1.200 Destruídas 1.088
2004 Trizidela do Vale Centro Maranhense 975 450 1.905
Danificadas
2009 Humberto de Campos Norte Maranhense 39 173 625
1.000
800
Edificações
Fonte: Brasil (2013)
mesmo fato ocorreu com a identificação do desastre na maioria dos municí- 600
pios, que citaram a enchente do Rio Parnaíba como causa dos alagamentos 400 267
severos. Ressalta-se que a Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba é a maior den-
tre as bacias maranhenses, com uma área de 66.449,09 km², representando 200
1 17
cerca de 20% da área total do Estado do Maranhão (UEMA, 2011). 0
O registro errôneo dos desastres é muito comum, conforme foi explanado
Saúde
Ensino
Habitações
no capítulo de enxurradas. Reitera-se, no entanto, que o registro correto permite
avaliar com maior clareza os fatos e as características reais que desencadearam
determinado desastre. Os alagamentos, por exemplo, cujo nível da água é bai-
xo, causam poucos danos e estão associados à dificuldade de escoamento da
Fonte: Brasil (2013)
água, problema que é intensificado pela urbanização. As enxurradas são carac-
terísticas em pequenas bacias com relevo acidentado, cujo escoamento da água Tabela 14: Descrição danos materiais nos municípios afetados
possui alta energia, o que pode gerar danos importantes. Já nas inundações, o por alagamento no Estado do Maranhão (1991-2012)
transbordamento dos rios ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por Ano Município Mesorregião Total Destruídas Total Danificadas Total
chuvas prolongadas em áreas de planície. Assim, os alagamentos registrados no 2004 Pedreiras Centro Maranhense 150 401 551
Estado do Maranhão podem ser de fato, inundações, que são eventos naturais 2004 Trizidela do Vale Centro Maranhense 55 455 510
que ocorrem com periodicidade nos cursos d’água. 2004 Duque Bacelar Leste Maranhense 50 204 254
O Gráfico 15 apresenta todos os prejuízos materiais registrados por ala- Fonte: Brasil (2013)
gamentos no Estado do Maranhão, no período analisado. Observa-se que as
habitações são as unidades mais impactadas, o que é frequente nos casos de Embora não causem danos comparáveis a outros tipos de desastres naturais,
inundação, pois, historicamente, a sociedade procurou se estabelecer próxi- esses fenômenos geram inúmeros transtornos à população atingida As causas
mo aos rios e cursos de água. Assim, os eventos registrados como alagamen- desse cenário estão principalmente relacionadas às condições espaciais da
tos ocasionaram 267 habitações destruídas e 1.088 danificadas. ocupação urbana e à gestão da drenagem no nível local. Assim, a elaboração
A Tabela 14 apresenta os maiores danos materiais registrados pelos de um Plano Diretor de Drenagem Urbana nos municípios, aliada a outras me-
municípios. Pedreiras foi o mais atingido, com 551 edificações danificadas didas não estruturais, colabora para a redução dos alagamentos e, consequen-
ou destruídas. temente, dos transtornos e desastres.
Ressalta-se que apesar de o Estado do Maranhão ter apenas oito de- O Infográfico 4 apresenta um resumo dos registros oficiais de alaga-
sastres registrados, a ocorrência de alagamentos é cada vez mais frequente. mentos ocorridos no Estado do Maranhão.
ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO ALAGAMENTOS
71
Infográfico 4: Síntese das ocorrências de alagamento no Estado do Maranhão
8
6
Alagamentos
Eventos por ano 4
2
0
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa CERRI, L. E. S. Riscos geológicos urbanos. In: CHASSOT, A; CAMPOS, H
Civil. Banco de dados e registros de desastres: sistema integrado de (Org.). Ciência da terra e meio ambiente: diálogos para (inter)ações no
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BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa 1988. 52 p.
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2006. 408 p.
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Ambiental. Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS). IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa
Conceitos, características e interfaces dos serviços públicos de nacional de saneamento básico 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. 219 p.
saneamento básico. Brasília, DF: Editora, 2009. 193 p. (Lei Nacional de
Saneamento Básico: perspectivas para as políticas e gestão dos serviços
públicos; v. 2).
72 Alagamentos Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
Q
uanto a sua origem, segundo a COBRADE, vendaval é enquadrado Segundo Tominaga, Santoro e Amaral (2009), danos humanos come-
como desastre natural de causa meteorológica relacionado às tempes- çam a ser causados por ventos acima dos 75 km/hora, como destelhamento
tades, por meio da intensificação do regime dos ventos. de casas mais frágeis, quedas de placas e quebra de galhos das árvores. No
Neste sentido, o vendaval pode ser definido como um deslocamento inten- entanto, as consequências mais sérias correspondem ao tombamento de
so de ar na superfície terrestre devido, principalmente, às diferenças no gradien- árvores, de postes e de torres de alta tensão, causando danos à transmis-
te de pressão atmosférica, ao incremento do efeito de atrito e das forças centrí- são de energia elétrica e de telefonia; danos às plantações; destelhamen-
fuga, gravitacional e de Coriolis, aos movimentos descendentes e ascendentes tos e/ou destruição das edificações; lançamento de objetos como projéteis
do ar e à rugosidade do terreno (CASTRO, 2003; VIANELLO; ALVES, 1991). etc., que podem causar lesões e ferimentos em pessoas e em animais e que
As diferenças no gradiente de pressão correspondem às variações nos va- podem se tornar até fatais. Além disso, o lançamento de projéteis pode
lores entre um sistema de baixa (ciclone) e alta pressão atmosférica (anticiclone). causar danos nas edificações, como o rompimento de janelas e de portas
Assim, quanto maior for o gradiente, mais intenso será o deslocamento de ar. (LIU; GOPALARATNAM; NATEGHI, 1990; FEMA, 2000).
Os movimentos ascendentes e descendentes de ar estão associados ao Com base nos danos causados, foi construída a escala Beaufort que varia
deslocamento de ar dentro de nuvens cúmulos-nimbus, que são acompanhadas de 0 a 12. O grau 12 classifica os ventos acima de 120 km/h. Ventos com maior
normalmente por raios e trovões e podem produzir intensas rajadas de ventos velocidade são considerados com intensidade de furacão e passam a se enqua-
(VIANELLO; ALVES, 1991; VAREJÃO-SILVA, 2001; CASTRO, 2003). drar em outra escala, chamada de escala Saffir-Simpson, que utiliza os mesmos
Ressalta-se que os vendavais, normalmente, são acompanhados por pre- princípios da Beaufort (KOBIYAMA et al., 2006).
cipitações hídricas intensas e concentradas, caracterizando, assim, as tempes- Desse modo, na Escala de Beaufort, os vendavais correspondem a ven-
tades. Além das chuvas intensas, os vendavais podem ser acompanhados ainda daval ou à tempestade referentes ao grau 10, com ventos de velocidades que
por queda de granizo ou de neve, quando são chamados de nevascas. variam entre 88 a 102 km/h. Produzem destelhamento e danos consideráveis em
As variações bruscas na velocidade do vento denominam-se rajadas, habitações mal construídas e derrubam árvores.
as quais, normalmente, são acompanhadas também por mudanças bruscas Em situações extremas, os vendavais podem ainda se caracterizar
na direção (VAREJÃO-SILVA, 2001). Nas proximidades da interface super- como muito intensos ou ciclones extratropicais e como extremamente in-
fície-atmosfera, a intensidade dos ventos é altamente influenciada pelas tensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais. Os vendavais muito intensos
características geométricas (rugosidade no terreno), sejam elas natural (co- correspondem ao grau 11 da Escala de Beaufort, compreendendo ventos
linas, morros, vales, etc.) ou construída (casas, prédios, etc.), e pelo estado cujas velocidades variam entre 102,0 a 120,0 km/h. Além das chuvas con-
de aquecimento da própria superfície (KOBIYAMA et al., 2006). Assim, o centradas, esses vendavais vêm acompanhados por inundações, ondas gi-
vento à superfície normalmente apresenta rajadas. gantescas, raios, naufrágios e incêndios provocados por curtos-circuitos.
A ocorrência de sistemas frontais (frentes frias), sistemas convectivos Os vendavais muito intensos surgem quando há uma exacerbação das con-
isolados (tempestades de verão), ciclones extratropicais, entre outros, po- dições climáticas, responsáveis pela gênese do fenômeno, incrementando
dem ocasionar vendavais intensos. No entanto, para o Estado do Rio Gran- a sua magnitude. Quando apresentam ventos de velocidades superiores
de do Norte o único registro refere-se somente ao desastre causado por a 120,0 km/h, correspondendo ao grau 12 da Escala de Beaufort, causam
vendaval em tempestade convectiva local. severos danos à infraestrutura e aos humanos (CASTRO, 2003).
Esse tipo de desastre natural está mais associado a danos materiais do A magnitude dos danos causados por vendavais pode ser mitigada por
que humanos e afeta consideravelmente, ou seja, nas áreas em que ocor- meio de monitoramento e de medidas de prevenção que se dividem em emer-
rem ventos fortes sempre há danos mais intensos. genciais e as de longo prazo. Com relação ao monitoramento, os serviços me-
76 VENDAVAL ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO
Vendavais 2
Eventos por ano
1
O
s granizos, também conhecidos por saraivada, de acordo com a CO- A agricultura é um dos setores econômicos que mais sofre com este fenô-
BRADE, compõem o grupo de desastres naturais meteorológicos re- meno, pois plantações inteiras podem ser destruídas dependendo da quantida-
lacionados às tempestades. São caracterizados por precipitação sólida de e dos tamanhos das pedras de gelo. De acordo com Tavares (2009), no Brasil,
de pedras de gelo, transparentes ou translúcidas, de forma esférica ou irregular, as culturas de frutas de clima temperado, como maçã, pera, pêssego e kiwi e a
de diâmetro igual ou superior a 5 mm (VAREJÃO-SILVA, 2001). fumicultura são as mais vulneráveis ao granizo. Dentre os danos materiais pro-
As condições que propiciam a formação de granizo acontecem na parte vocados, os mais importantes correspondem à destruição de telhados, especial-
superior de nuvens convectivas do tipo cúmulos-nimbus. Essas nuvens apresen- mente quando construídos com telhas de amianto ou de barro.
tam temperaturas extremamente baixas no seu topo e elevado desenvolvimen- O monitoramento e alerta sobre a ocorrência de granizos é uma medida
to vertical, podendo alcançar alturas de até 1.600 m, condições propícias para a preventiva importante na mitigação dos danos causados por esses eventos na-
transformação das gotículas de água em gelo. turais. Neste sentido, os serviços de meteorologia acompanham diariamente as
A precipitação de granizos ocorre, em geral, durante os temporais. Uma condições do tempo e têm condições de prevenir sobre sua provável ocorrência.
grande gota de chuva na parte inferior da nuvem, numa forte corrente de ascen- O fenômeno ocorre em todos os continentes, especialmente nas regiões
são, é levada para cima e, ao alcançar temperaturas menores na linha isotérmica continentais de clima quente das médias latitudes (20° a 55°), diminuindo em
de 0oC, transforma-se em gelo. As gotas congeladas, ao crescerem pelo proces- regiões marítimas e equatoriais. Entretanto, apresenta também grande frequên-
so de coalescência (agrupamento com outras gotas menores), movimentam-se cia nas altas altitudes (regiões montanhosas) das regiões tropicais. No Brasil, as
com as correntes subsidentes. Nessa movimentação, ao se chocarem com gotas regiões mais atingidas por granizo são a Sul, Sudeste e parte meridional da Cen-
mais frias, crescem rapidamente até alcançarem um peso máximo, ao ponto de tro-Oeste, especialmente nas áreas de planalto, de Santa Catarina, Paraná e Rio
não serem mais suportadas pelas correntes ascendentes, quando ocorre a pre- Grande do Sul (TAVARES, 2009).
cipitação, conforme apresenta a Figura 7 (KULICOV; RUDNEV, 1980; KNIGHT; Apesar de o Estado do Maranhão se encontrar em uma área de clima tro-
KNIGHT, 2001). pical, menos propício à formação de granizos em relação ao clima temperado, o
O tempo de duração de uma precipitação de granizo está relacionado à estado apresentou dois registros oficiais do fenômeno, apresentados no Mapa
extensão vertical da zona de água no interior da nuvem e à dimensão das go- 7.
tas. Nesse sentido, quanto maior for o desenvolvimento vertical Normalmente, a ocorrência de granizo em regiões
da zona de água e mais assimétricas forem as gotas, maior será a Figura 7: Processo de formação de granizo tropicais se dá em áreas continentais. Assim, os municí-
duração da precipitação (KULICOV; RUDNEV, 1980). pios atingidos localizam-se na Mesorregião Leste Mara-
De acordo com Mota (1983), durante a precipitação muitas nhense, mais afastada do litoral. São Francisco do Mara-
vezes os granizos degelam, chegando ao chão em forma de gotas nhão e Timon registraram o evento nos dias 17 e 24 de
líquidas muito frias, ou ainda o granizo pode se fundir com ele- janeiro de 1996, respectivamente.
mentos gasosos e, com isso, adquirir a forma de floco de neve, e A possível explicação para essas ocorrências de
não mais de pedra de gelo. precipitação de granizos no estado pode estar relacio-
O grau de dano causado por ocorrência de granizos depen- nada com as Frentes Frias (FFs) ou Sistemas Frontais,
de basicamente do tamanho das pedras, da densidade da área, oriundas das latitudes subtropicais, que atingem o Nor-
da duração do temporal, da velocidade de queda e das caracterís- deste e induzem a formação de nebulosidade convecti-
ticas dos elementos atingidos. No entanto, chuvas intensas e ven- va sobre essa região. São caracterizadas por uma banda
tos fortes quando acompanham o granizo aumentam os danos. de nuvens que se desloca de sudoeste para nordeste
Fonte: Tavares (2009)
82 GRANIZO ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO
sobre o continente e o Oceano Atlântico. As nuvens se formam na confluên- elevadas, aumentando a probabilidade das chuvas serem acompanhadas por
cia da massa de ar frio mais densa que penetra sob uma massa de ar quente, tempestade com queda de granizo e ventos fortes, como registrado nos docu-
quando avançam em direção ao norte. Durante os meses mais quentes, podem mentos oficiais dos dois municípios.
interagir com o ar tropical quente e úmido, gerando convecção profunda com A ocorrência de granizos geralmente está relacionada a prejuízos econômi-
precipitação intensa, algumas vezes com ventos fortes e granizo (CAVALCANTI; cos, ambientais e sociais nas áreas afetadas. No entanto, nos documentos ofi-
KOUSKY, 2009). ciais, não foram registrados danos humanos e danos materiais em decorrência
Nesse sentido, os eventos foram registrados no mês de verão, que além dos desastres.
de ser o período mais chuvoso da mesorregião, apresenta temperaturas mais
Infográfico 6: Síntese das ocorrências de granizos no Estado do Maranhão
Granizo 2
Eventos por ano
1
N
a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE), os Quadro 6: Características dos principais tipos de escorregamento
movimentos de massa estão na categoria de desastres naturais do tipo
Processos Características do movimento, material e geometria
geológico. Esses movimentos estão associados a deslocamentos rápidos
Vários planos de deslocamento (internos)
de solo e rocha de uma encosta onde o centro de gravidade deste material se Velocidade de muito baixas (cm/ano) a baixas e descendentes com a
desloca para fora e para baixo dessa feição e quando ocorrem de forma imper- Rastejo ou fluência
profundidade
Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes
ceptível, ao longo do tempo, são denominados de rastejo (TERZAGHI, 1952). Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada
Os movimentos de massa estão relacionados a condicionantes geo- Geometria indefinida
lógicos e geomorfológicos, aspectos climáticos e hidrológicos, vegeta- Poucos planos de deslocamento (externos)
Velocidade de médias (km/h) a altas (m/s)
ção e à ação do homem relativa às formas de uso e ocupação do solo Pequenos a grandes volumes de material
(TOMINAGA, 2007). Esse tipo de desastre assume grande importância em Escorregamentos
Geometria e materiais variáveis
Planares ou translacionais em solos pouco espessos, solos e rochas com um
função de sua interferência na evolução das encostas e pelas implicações plano de fraqueza
socioeconômicas associadas aos seus impactos sobre a sociedade. Circulares em solos espessos homogêneos e rochas muito fraturadas
Em cunha quando em solo e rochas com dois planos de fraqueza
sa proposta por Varnes (1978) à dinâmica ambiental brasileira, relacio- Fonte: Augusto Filho (1992)
nando os diferentes tipos desses movimentos com suas características,
material envolvido e geometria, conforme apresentado no Quadro 6. Os nandes e Amaral (1996) destacam, entre os diversos aspectos geológicos
diferentes tipos de movimentos de massa, indicados no Quadro 6, estão e geomorfológicos, as fraturas, falhas, foliação e bandeamento composi-
esquematicamente representados na Figura 8. cional, descontinuidades no solo, morfologia da encosta e depósitos de
encosta. As principais associações destes aspectos em relação aos movi-
CondicionantesGeológicoseGeomorfológicos mentos de massa são os seguintes:
Os movimentos de massa estão diretamente relacionados aos aspec- • As fraturas e as falhas representam um aspecto de destaque
tos geológicos e geomorfológicos que são indicadores dos locais mais na medida em que afetam a dinâmica hidrológica, favorecem
prováveis para a deflagração deste tipo de dinâmica de superfície. Fer- o intemperismo e podem também gerar uma barreira ao fluxo
86 Movimento de Massa Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
de água quando esses planos de fraqueza forem silicificados ou Figura 8: Representação esquemática dos principais tipos de escorregamento
colmatados.
• As foliações e bandeamento são importantes em locais onde
afloram rochas metamórficas e estas descontinuidades interceptam
a superfície da encosta com uma atitude desfavorável.
• As descontinuidades do solo estão presentes nos solos residuais
no horizonte saprolítico também conhecido como horizonte
residual jovem. Esse horizonte tem como principal característica
o fato de apresentar estrutura reliquiar herdada da rocha de
origem e geralmente apresenta uma condutividade hidráulica
maior atuando muitas vezes como um dreno para os horizontes
mais superficiais (FERNANDES; AMARAL, 1996). Essas estruturas
reliquiares são planos de fraqueza que podem condicionar os
movimentos de massa.
Quadro 7 : Principais fatores deflagradores de movimentos de massa Figura 10: Município de Grajaú
Frequência Mensal
A localização dos municípios atingidos, com a discriminação das quanti-
dades de movimentos de massa ocorridas nesses municípios, está repre- 2
sentada no Mapa 8. Os municípios de Buriticupu e Jenipapo dos Vieiras,
localizados em uma região formada por chapadões, chapadas e cuestas,
1 1
apresentam clima subúmido e precipitações anuais variando entre 1.200 e 1
1.600 mm (IMESC, 2008). Os movimentos de massa ocorreram em março
de 2003, no Município de Buriticupu, e em fevereiro de 2007, no Municí-
pio de Jenipapo dos Vieiras, tendo sido deflagrados pelas chuvas que se 0
concentram nos primeiros meses do ano no Estado de Maranhão. A fre- jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
quência mensal destes desastres está apresentada no Gráfico 16.
Fonte: Brasil (2013)
ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO MOVIMENTO DE MASSA
89
Gráfico 17: Danos humanos associados a movimento de massa
O movimento de massa ocorrido no Município de Jenipapo dos
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
Vieiras apresentou uma quantidade maior de danos humanos com 149
pessoas desabrigadas, 115 desalojadas e 319 afetadas. No Município de 350 319
Buriticupu os danos humanos estão relacionados ao deslocamento de 15
300
pessoas. Não há registro de óbito em nenhum desses dois municípios
Número de pessoas
atingidos. O Gráfico 17 apresenta os registros de danos humanos asso- 250
ciados a movimentos de massa ocorridos no Estado do Maranhão, entre 200
os anos de 1991 e 2012. 149
No Infográfico 7 estão representados os municípios do Estado do 150
115
Maranhão atingidos por movimentos de massa com os respectivos anos e 100
70
quantidade de ocorrência.
50
1
0
Mortos
Feridos
Enfermos
Desabrigados
Desalojados
Desaparecidos
Outros
Afetados
Fonte: Brasil (2013)
1,5
Movimentos de Massa 1
Eventos por ano
0,5
O
Figura 11: Município de Grajaú
s incêndios florestais correspondem à classificação dos desastres na-
turais relacionados com a intensa redução das precipitações hídricas.
É um fenômeno que compõe esse grupo, pois a propagação do fogo
está intrinsecamente relacionada com a redução da umidade ambiental e ocor-
re com maior frequência e intensidade nos períodos de estiagem e de seca.
A classificação dos incêndios florestais está relacionada: ao estrato
florestal, que contribui dominantemente para a manutenção da combus-
tão; ao regime de combustão e ao substrato combustível (CASTRO, 2003).
Esse fenômeno pode ser provocado por: causas naturais, como raios,
reações fermentativas exotérmicas, concentração de raios solares por pe-
daços de quartzo ou cacos de vidro em forma de lente e outras causas;
imprudência e descuido de caçadores, mateiros ou pescadores por meio
da propagação de pequenas fogueiras, feitas em seus acampamentos; fa-
gulhas provenientes de locomotivas ou de outras máquinas automotoras,
consumidoras de carvão ou lenha; perda de controle de queimadas, rea-
lizadas para limpeza de campos ou de sub-bosques; além de incendiários
e/ou piromaníacos. Incêndios podem iniciar-se de forma espontânea ou
em consequência de ações e/ou omissões humanas. Mesmo neste último
caso, os fatores climatológicos e ambientais são decisivos para incremen-
tá-los, pois facilitam a sua propagação e dificultam o seu controle (CAS-
TRO, 2003).
Para que um incêndio se inicie e se propague, é necessária a conjun-
ção dos seguintes elementos condicionantes: combustíveis, comburente, Fonte: COMDEC de Grajaú – MA (MARANHÃO, 2013b)
calor e reação exotérmica em cadeia. A propagação é influenciada por fa-
tores como: quantidade e qualidade do material combustível; condições visualização, os registros foram espacializados no Mapa 9, onde pode ser
climáticas, como umidade relativa do ar, temperatura e regime dos ven- vista a localização dos municípios afetados e seus respectivos números
tos; tipo de vegetação e maior ou menor umidade da carga combustível de registros.
e a topografia da área (CASTRO, 2003). De acordo com o Mapa 9, verifica-se que, dos 217 municípios do
Os incêndios atingem áreas florestadas e de savanas, como os cerra- estado, somente três deles (1%) foram atingidos por incêndios florestais.
dos e as caatingas. De uma maneira geral, queimam mais facilmente: os Ainda pode-se observar que todos os municípios atingidos localizam-se
restos vegetais; as gramíneas, os liquens e os pequenos ramos e arbustos na área oeste do estado, na Mesorregião Oeste Maranhense. Entre os
ressecados. A combustão de galhos grossos, troncos caídos, húmus e de atingidos estão Açailândia, Carutapera e Imperatriz, cada um com um re-
raízes é mais lenta (CASTRO, 2003). gistro de desastre natural por incêndio decretado.
As ocorrências de incêndios florestais no Estado do Maranhão, entre Ao analisar o aspecto climático como predominante na deflagração
os anos de 1991 e 2012, totalizaram três registros oficiais. Para melhor desse tipo de evento adverso, verifica-se no Gráfico 18 que o único mês
94 Incêndio Florestal Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão
Gráfico 18: Frequência mensal de registros de incêndios florestais Figura 12: Município de Grajaú
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
12
10
Frequência Mensal
4 3
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
que apresentou ocorrência foi o mês de setembro. Esse mês está incluído
na estação seca do estado (GOVERNO DO MARANHÃO, 2013). Logo, os
períodos de seca e estiagem são mais suscetíveis à ocorrência e ao au-
mento da frequência de incêndios, com destaque para o mês de setem-
bro, último da estação seca, que teve os registros de desastres.
Em relação à frequência anual de incêndios, conforme se pode ob-
servar no Gráfico 19, nos sete primeiros anos da pesquisa, não foram re-
gistrados desastres causados por incêndios florestais em documentos
oficiais da Defesa Civil. Destaca-se o ano de 1998, por ser o único a apre-
sentar registro de desastre natural por incêndio florestal, com três regis-
tros no total.
Os incêndios, em condições naturais, podem ser iniciados localmente
como consequência direta de condições meteorológicas propícias, como:
falta de chuva, altas temperaturas, baixa umidade do ar, déficit hídrico e
ventos fortes (JUSTINO; ANDRADE, 2000).
Segundo informações do CPTEC/INPE (MELO, 2011), 1998 foi um ano
de ocorrência de El Niño intenso. Esse fenômeno é caracterizado pelo
aquecimento anormal das águas superficiais no Oceano Pacífico Tropical,
Fonte: COMDEC de Grajaú – MA (MARANHÃO, 2013b)
ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO INCÊNDIO FLORESTAL
95
Gráfico 19: Frequência anual de registros de incêndios florestais
que, ao alterar os padrões de vento a nível mundial, pode afetar o clima
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
regional brasileiro. Além disso, afeta os regimes de chuva em regiões tro-
picais de latitudes médias. Na Região Nordeste, El Niño intensificou o pe-
14
ríodo de estiagem, pois diminuiu as precipitações e, consequentemente,
aumentou o risco de incêndios florestais. 12
De acordo com os documentos oficiais levantados, durante a ocor-
Frequência Anual
10
rência desses eventos, três municípios do Estado do Maranhão decreta-
ram estado de emergência. No entanto, não foram registrados danos hu- 8
manos referentes aos desastres causados por incêndio. A falta de registro 6
de danos não representa, necessariamente, a inexistência de qualquer
4 3
prejuízo humano motivado por incêndios.
Ainda que não se saiba de que forma esses incêndios foram provo- 2
cados, se espontaneamente ou por intervenções humanas, sabe-se que
0
a intensa redução das precipitações hídricas reduz a umidade ambiental,
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
favorecendo a propagação do fogo.
Ao analisar o Infográfico 8, o único ano que apresenta registros de
incêndios foi 1998, com três episódios do evento adverso. Fonte: Brasil (2013)
4
3
Incêndio
Eventos por ano 2
1
0
Referências
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa
Civil. Banco de dados e registros de desastres: sistema integrado de
informações sobre desastres – S2ID. 2013. Disponível em: <http://s2id.
integracao.gov.br/>. Acesso em: 10 mar. 2013.
Mapa 10: Registros do total dos eventos no Estado do Maranhão de 1991 a 2012
Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – volume maranhão Diagnóstico dos desastres naturais no Estado do Maranhão
99
A
o analisar os desastres naturais que afetaram o Estado do Maranhão fenômeno, as enxurradas muitas vezes ocorrem associadas a vendavais e,
ao longo de 22 anos (1991-2012), nota-se a ocorrência dos seguintes também, podem desencadear outros eventos, que potencializam o efeito
eventos naturais adversos: estiagem e seca, movimentos de massa, ala- destruidor, aumentando os danos causados.
gamentos, enxurradas, inundações, granizo, vendavais e incêndios florestais. O Estado do Maranhão sofre anualmente com o excesso das chuvas.
No Mapa 10 pode-se observar que dos 217 municípios do Estado do No entanto, em alguns municípios, sofre com a escassez, em virtude das
Maranhão, 187 foram atingidos ao menos uma vez por algum dos tipos de precipitações concentradas, em períodos curtos de tempo, afetando tan-
desastres citados acima, no decorrer da escala temporal adotada. Desses, to áreas rurais como urbanas. Os desastres relativos à estiagem e seca
100 municípios foram afetados entre uma e duas vezes; 58 municípios apresentam-se como o segundo desastre de maior ocorrência no estado,
foram afetados entre três e quatro vezes, 20 municípios foram afetados com um total de 167 registros, equivalentes a 32% dos registros nos últi-
entre cinco e seis vezes, nove municípios foram afetados entre sete e mos 22 anos, conforme Gráfico 20. A Mesorregião do Leste Maranhense
nove vezes e o Município de Timon, na Mesorregião Leste Maranhense foi a mais afetada pelos eventos de estiagem e seca, com 87 registros do
foi afetado 12 vezes no total, por eventos de seca e estiagem, inundação, fenômeno climático. O município dessa região que apresentou mais ocor-
vendaval, granizo e enxurradas. rências foi Codó, com quatro registros.
O Infográfico 9 apresenta todos os municípios atingidos e especifica
Gráfico 20: Percentual dos desastres naturais mais recorrentes
o número de ocorrências para cada tipologia de desastre.
no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
No Estado do Maranhão, os maiores números de ocorrências se apre-
sentam na porção nordeste do estado, em que municípios registram de 0%
1%
sete a 12 eventos. Esse é o caso de Caxias, Coelho Neto, Duque Bacelar, 2% Estiagens e Secas
Imperatriz, Santa Quitéria do Maranhão, São Bernardo, Trizidela do Vale, Movimento de Massa
Pedreiras e Timon, localizados a leste do estado e na região central. Inundação
32%
Conforme o Gráfico 20 verifica-se que grande parte dos registros Enxurradas
Gráfico 22: Municípios mais atingidos, classificados pelo maior número de registros
Conforme se observa no Gráfico 21, os registros de inundações e en-
por desastres naturais no Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
xurradas, assim como de estiagens e secas foram distribuídos em uma fre-
quência mensal ao longo do período entre 1991 a 2012. Verifica-se que os Vendaval Enxurrada Estiagem e Seca
meses referentes ao período chuvoso no Estado do Maranhão, sobretudo Inundação Alagamento Granizo
março, abril e maio, apresentam elevados picos de desastres naturais oca-
Arari
sionados por inundações e enxurradas. Nesse período também foram re-
Coelho Neto
gistradas estiagens e secas. Isso se deve à extensão territorial do Estado do Caxias
Maranhão, que permite uma variabilidade nas características climáticas do Trizidela do Vale
seu território. As chuvas com maior intensidade ocorrem no noroeste do São Bernardo
estado, e no mesmo período, há uma carência de precipitações pluviomé- Santa Quitéria do
Maranhão
tricas causando estiagens e secas na parte mais oriental do estado.
Imperatriz
Gráfico 21: Frequência mensal dos desastres naturais mais recorrentes Duque Bacelar
Granizo
50 43
dois registros de inundação, um registro de vendaval e um registro de
40 34 granizo. O Município de Pedreiras aparece em segundo lugar, com nove
30 27 ocorrências, das quais cinco se referem a inundações, três a enxurradas e
24
há um registro de alagamento. Duque Bacelar, Imperatriz, Santa Quitéria
20 18
200
150
Total dos Eventos
Por classe 100
50
0
104 DPAULINO
IAGNÓSTICO NEVES
PAULO RAMOS
2 DO MARANHÃO
DOS DESASTRES NATURAIS NO ESTADO
1 2
ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME 2
MARANHÃO
3
PEDREIRAS 1 3 5 9
PEDRO DO ROSÁRIO 1 1 2
Infográfico 7: Registros de desastres naturais por evento, nos municípios do Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
PENALVA 1 1 3 5
PERI MIRIM 1 1
PERITORÓ 1 1 2
PINDARÉ-MIRIM 1 3 4
PINHEIRO 1 1
PIO XII 1 3 4
PIRAPEMAS 2 1 2 5
POÇÃO DE PEDRAS 1 1
PORTO FRANCO 1 1
PRESIDENTE DUTRA 1 1 2 4
PRESIDENTE JUSCELINO 1 1 2
PRESIDENTE SARNEY 1 1
PRESIDENTE VARGAS 1 2 3
PRIMEIRA CRUZ 1 1 2
RAPOSA 1 1 1 3
RIACHÃO 1 1
ROSÁRIO 1 1 2
SAMBAÍBA 1 1
SANTA FILOMENA DO MARANHÃO 1 1 2 4
SANTA HELENA 1 1 1 3
SANTA LUZIA 1 1 2
SANTA LUZIA DO PARUÁ 2 1 3
SANTA QUITÉRIA DO MARANHÃO 3 2 3 8
SANTA RITA 2 1 3
SANTO AMARO DO MARANHÃO 1 1
SÃO BENEDITO DO RIO PRETO 2 1 3
SÃO BENTO 1 1
SÃO BERNARDO 3 2 3 8
SÃO DOMINGOS DO MARANHÃO 2 2
SÃO FÉLIX DE BALSAS 1 1
SÃO FRANCISCO DO BREJÃO 1 1
SÃO FRANCISCO DO MARANHÃO 2 1 1 1 5
SÃO JOÃO BATISTA 1 1
SÃO JOÃO DO CARÚ 1 1 2
SÃO JOÃO DO PARAÍSO 1 1
SÃO JOÃO DO SOTER 2 1 1 4
SÃO JOÃO DOS PATOS 1 1
SÃO JOSÉ DE RIBAMAR 1 1 1 3
SÃO JOSÉ DOS BASÍLIOS 1 1 1 3
SÃO LUÍS 1 1
SÃO LUÍS GONZAGA DO MARANHÃO 1 1 3 5
SÃO MATEUS DO MARANHÃO 2 2
SÃO PEDRO DA ÁGUA BRANCA 1 2 3
SÃO PEDRO DOS CRENTES 1 1
SÃO RAIMUNDO DO DOCA BEZERRA 1 1 2
SÃO ROBERTO 1 1 2
SATUBINHA 2 2
SENADOR ALEXANDRE COSTA Fonte: Brasil (2013) 1 1
SERRANO DO MARANHÃO 1 1
SÍTIO NOVO 1 1
SUCUPIRA DO NORTE 2 2
SUCUPIRA DO RIACHÃO 1 1 2
SÃO JOSÉ DOS BASÍLIOS 1 1 1 3
SÃO LUÍS 1 1
SÃO LUÍS GONZAGA DO MARANHÃO 1 1 3 5
ATLAS SÃO MATEUS
BRASILEIRO DO MARANHÃO
DE DESASTRES
SÃO PEDRO DA ÁGUA BRANCA
NATURAIS – 1991 A 2012 – VOLUME MARANHÃO
1
2
2
DIAGNÓSTICO DOS DESASTRES NATURAIS NO ESTADO DO MARANHÃO
105
2
3
SÃO PEDRO DOS CRENTES 1 1
SÃO RAIMUNDO DO DOCA BEZERRA 1 1 2
Infográfico 7: Registros de desastres naturais por evento, nos municípios do Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
SÃO ROBERTO 1 1 2
SATUBINHA 2 2
SENADOR ALEXANDRE COSTA 1 1
SERRANO DO MARANHÃO 1 1
SÍTIO NOVO 1 1
SUCUPIRA DO NORTE 2 2
SUCUPIRA DO RIACHÃO 1 1 2
TASSO FRAGOSO 1 1
TIMBIRAS 3 1 4
TIMON 3 5 2 1 1 12
TRIZIDELA DO VALE 1 2 5 8
TUFILÂNDIA 2 2
TUNTUM 1 2 3
TURIAÇU 1 1
TURILÂNDIA 1 1
TUTÓIA 1 1 2
URBANO SANTOS 1 1
VARGEM GRANDE 2 1 1 4
VIANA 1 1 1 3
VILA NOVA DOS MARTÍRIOS 1 1
VITÓRIA DO MEARIM 1 1 2
VITORINO FREIRE 1 1
ZÉ DOCA 1 1
mente, recomenda-se aplicar um instrumento de análise mais preciso Apesar de não poder assegurar a relação direta entre registros e ocor-
para validação desses dados. rências, o presente documento permite uma série de importantes análi-
As inconsistências encontradas retratam certa fragilidade histórica ses, ao oferecer informações – nunca antes sistematizadas – que ampliam
do sistema nacional de defesa civil, principalmente pela ausência de pro- as discussões sobre as causas das ocorrências e a intensidade dos de-
fissionais especializados em âmbito municipal e pela falta de unidade e sastres. Com esse levantamento, é possível fundamentar novos estudos,
de padronização das informações declaradas pelos documentos de re- tanto de âmbito nacional quanto local, com análises de informações da
gistros de desastres. É, portanto, por meio da capacitação e da profis- área afetada, danos humanos, materiais e ambientais, bem como prejuí-
sionalização dos agentes de defesa civil que se busca sanar as principais zos sociais e econômicos. Também é possível estabelecer relações entre
limitações no registro e na produção das informações de desastres. É a as informações sobre desastres e sua contextualização com as variáveis
valorização da história e de seus registros que contribuirá para que o país geográficas regionais e locais.
consolide sua política nacional de defesa civil e suas ações de redução de No Estado do Maranhão, por exemplo, percebe-se a incidência de
riscos de desastres. tipologias fundamentais de desastres, representadas por inundações
Os dados coletados sobre o Estado do Maranhão e publicados neste bruscas, graduais e as estiagens e secas. Esses resultados possibilitam
volume demonstram que o registro de ocorrência de desastres praticamen- verificar a sazonalidade e a recorrência e, assim, subsidiar os processos
te quintuplicou nos últimos dez anos, conforme ilustrado pelo Gráfico 23, decisórios para direcionar recursos, reduzir danos e prejuízos e evitar per-
mas não permite, sem uma análise mais detalhada, afirmar que houve um das humanas.
aumento de ocorrências na mesma proporção do aumento de registros. A partir das análises que derivam deste Atlas, pode-se afirmar que
este estudo é mais um passo na produção do conhecimento necessário
Gráfico 23: Total de registros de desastres coletados no
para a gestão dos desastres naturais no País e na construção de comuni-
Estado do Maranhão, no período de 1991 a 2012
dades resilientes e sustentáveis.
O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais marca o início do proces-
160 Frequência 147
so de avaliação e de análise das séries históricas de desastres naturais
140 no Brasil. Espera-se que o presente trabalho possa embasar projetos e
120
Total de registros
Referências
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa
Civil. Banco de dados e registros de desastres: sistema integrado de
informações sobre desastres – S2ID. 2013. Disponível em: <http://s2id.
integracao.gov.br/>. Acesso em: 10 mar. 2013.