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1 “A definição que se encontra para a paranormalidade é a que ela é um fenômeno que está fora
dos limites da experiência normal, ou que não pode ser explicado cientificamente. Nem uma
coisa nem outra. O limite da normalidade é traçado por instituições existentes, relativas a um
modo de produção historicamente determinado, ao qual correspondem formações sociais
específicas de manifestação. Então, cada modo de produção possui sua propria normalidade
e patologia institucionalizadas.” (SILVA, 1986, p. 15)
(des)limites subjetividade-espaço?2 Pode a “consciência do território” permitir
uma abertura à consciência do Outro?3
2 Fazendo um balanço do meu próprio texto enquanto escrevo esta introdução acabo refletindo
sobre a seguinte questão: frente ao vigor intelectual desta alçada de Armando Corrêa da Silva,
uma investigação acerca dos desafios de uma abordagem territorial para a Saúde Mental me
parece bem pouco ousado... Talvez “Simplesmente Armando” pensasse: “é preciso ir além,
meu rapaz...” (((DEVANEIOS)))
3
Conforme o “Dicionário dos Geógrafos Brasileiros”3, elaborado pelo grupo GeoBrasil3, Armando
Corrêa da Silva, o “geógrafo-filósofo” (SPOSITO, 2008), nasceu em Taquaritinga/SP, estudou piano
na juventude e mudou-se para Goiânia/GO, onde passou a tocar profissionalmente. Retornou para São
Paulo, onde bacharelou-se em Ciências Sociais na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo, sendo aluno de Florestan Fernandes, Octavio Ianni e Fernando Henrique
Cardoso. Enquanto trabalhava como “copydesk” no jornal Folha de São Paulo, estabeleceu contato
com a Geografia universitária através do professor Dirceu Lino de Mattos, que “buscava auxiliares
para uma pesquisa em Geoeconomia na Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA)”.
Como aluno de pós-graduação, cursou uma série de disciplinas de Geografia Física, “a fim de
preparar-se para lecionar Geografia das Indústrias, na FEA”. Doutorou-se em Geografia na mesma
instituição, que veio a lecionar na área de Geografia Humana
4 “Credenciado no Programa de Pós-Graduação em Geografia, não quis orientar ninguém:
permaneceu responsável por sua disciplina, cujo tema era diferente a cada ano, enfatizando,
sempre, o que ele pensava da Geografia por meio de temas como modernidade e pós-
modernidade, cultura, ideologia e cotidiano, principalmente, com ênfase constante no que ele
concebia como o método.” (SPOSITO, 2011, p. 114)
Armando Corrêa da Silva, considerava-se “um bem sucedido, mas não
um sucesso”, tendo em vista que atingir o sucesso trata-se de uma pressão do
mercado e que, desta forma, pode levar a caminhos inesperados, crises e
situações trágicas5.
5 No documentário “Prof. Armando, seu piano e sua Geografia”, dirigido por Olindo Estevam,
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=r9v_quY6Wkg (acesso dia 19/11/2016).
6 De acordo com o verbete “Teoria da Ciência” do Dicionário de Filosofia, de ABBAGNANO
(2007), enquanto teoria do conhecimento, a epistemologia envolve a exposião sistemática
dos princípios fundamentais em que se apoio as ciências, ou seja, “a disciplina que considera
as formas ou os procedimentos do conhecimento científico”.
Spósito (2008) afirma que Armando Corrêa da Silva buscou em Luckács
o conceito de práxis e as bases de uma discussão ontológica para a Geografia.
De Sartre,
8 Fala proferida em entrevista para o documentário “Prof. Armando, seu piano e sua Geografia”.
9 No documentário “Prof. Armando, seu piano e sua Geografia”.
10 Mais a frente, Armando afirma que o “mal-estar” está diretamente ligado “a uma certa pressão
do mercado para se ter sucesso”.
11 Em “Prof. Armando, seu piano e sua Geografia”.
O acesso ao seu legado intelectual, contudo, não é tão fácil.
Primeiro, devido a maior parte de seu material produzido estar disperso
em artigos para revistas e capítulos de livros, aos quais o autor e remete em
seus livros, sem, contudo, uma retomada da reflexão daqueles debates de forma
sistemática12.
16 No documentário supra-citado “Prof. Armando, seu piano e sua Geografia”, Armando afirma:
“Passei um pouco da minha preocupação com o barzinho, com a mulher, com a música para
o papel e acabei sem ter pensado nisso escrevendo um livro que chama-se saudades do
futuro”; e, mais além, explica que “Saudades do futuro não é uma metáfora. É uma maneira
de eu exprimir o meu antes e o meu depois. Por que sou da geração de 50 (meu antes) e vivi
a década de 60 muito intensamente, a de 70 com muita dificuldade, a de 80 e agora já
estamos numa geração de 90. E saudades do futuro representou pra mim uma forma de
exprimir a minha experiência de vida.”
17 Do substantivo “transdução”, que se trata na Física, da transformação de uma energia em uma
energia de natureza diferente.
integrado e parte de um todo. Os enxertos, devem ser explorados mais como
experimentações, um degustar da loucura, do que propriamente como uma
extensão ou prenuncio dos capítulos. Os enxertos, no texto, são pausas.
Entremeios. Intervalos que ampliam a linguagem e campo de expressão, que
buscam unir lógica e afeto. Armando e Lucas (eu, inventor, ou seu alter-ego?
(((DEVANEIOS)))). As conexões entre os enxertos e o texto devem ir se fazendo
ao longo da leitura, de forma aparentemente caótica e desorganizada, mas,
propositalmente orientada. Não se enganem, este texto também vocaliza minhas
loucuras...
[“Uma coisa curiosa a meu respeito é que dizem que eu tenho uma
postura séria que se reflete no rosto, mas isso decorre da necessidade de eu me
concentrar para falar, mas eu sei sorrir também...” – disse Armando em sua
última fala no documentário “Prof. Armando, Seu piano e sua Geografia”, dirigido
por Olindo Estevam, o “Tchê”, antes de sorrir...]