Professional Documents
Culture Documents
JOINVILLE
2017
KALEBE SALES VIEIRA
JOÃO VITOR HECHT
MAYKON DUTRA
DÉBORA DOS SANTOS
JOINVILLE
2017
RESUMO
O Wing Chun é uma arte marcial chinesa que inicia por volta de 1733, se diferindo
das demais pela economia de movimentos, sendo um sistema de defesa pessoal.
Há momentos de meditação silenciosa e práticas com movimentos lentos e
contemplativos, mas também treinamentos de força, rapidez, resistência física,
alongamentos, mobilidade do corpo, exercícios isométricos, e mesmo combates
corpo a corpo1. Um dos mais famosos alunos da arte é o cineasta Bruce Lee, aluno
de Yip Man (um dos mais experientes mestres de Wing Chun da história, a quem foi
inspirada a trilogia O Grande Mestre).
O princípio básico do Wing Chun é utilizar a força do agressor contra o mesmo, onde
a defesa já funciona como ataque e vice-versa2. Algumas características da prática
seriam utilizar de movimentos simples, curtos e rápidos, e focar os ataques em
pontos vitais e áreas sensíveis, baseados na linha central (uma linha que começa na
parte central superior da cabeça e viaja pelo centro do tronco até chegar às partes
“baixas” do corpo. É considerada uma região vulnerável da nossa estrutura, devendo
ser protegida o tempo todo3).
1
n: http://www.cebb.org.br/grupo-de-wing-chun-arte-marcial-em-joinville-participe/
2
In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Wing_Chun
3
In: http://pt.wikihow.com/Aprender-Wing-Chun
A prática da meditação tem sua origem nas filosofias espirituais do Oriente, mas
somente a partir da década de 60 o movimento de trazer essa cultura oriental para
solos do Ocidente tomou forma. Assim, juntamente com o maior interesse da
população em conhecer e praticar a meditação a ciência começa a realizar
pesquisas acerca da prática. Segundo Halsh & Shapiro (2006), citado por Menezes
& Dell’aglio, (2009):
Segundo uma pesquisa realizada por Menezes e Dell’aglio (2009) com pessoas que
praticam a meditação há mais de um ano, foi realizada a seguinte pergunta: “como a
meditação reflete em sua vida?”. Basicamente foram especificadas seis principais
dimensões influenciadas pela prática: a cognição (maior autoconhecimento, clareza
e compreensão de si e das coisas, maior capacidade de atenção e concentração,
objetividade), o emocional (aumento de tranquilidade, paz, equilíbrio emocional,
redução do estresse e ansiedade, bem-estar e qualidade de vida, além de mais
autoestima e segurança), o físico (relaxamento do corpo e melhor qualidade do sono
e da saúde em geral), o social (aspectos interpessoais, como maior aceitação dos
outros e sensação de pertença a um grupo) e o espiritual (aspectos de ordem
superior, como um sentimento de conexão com algo maior, aproximação de Deus e
equilíbrio espiritual). Os centros de meditação comumente oferecem atividades
complementares, como retiros e palestras, a fim de que o praticante tenha uma
maior compreensão dos preceitos que sustentam a prática de meditação As
respostas obtidas na pergunta aberta sobre como percebem a meditação intervindo
em suas vidas, indica que os praticantes experimentam e mantêm a prática
meditativa por sentirem uma série de resultados positivos, que abrangem diferentes
âmbitos de sua vida
METODOLOGIA
O presente artigo tem por objetivo Investigar aspectos psicossociais presentes nas
práticas da arte marcial de Wing Chun no Centro de Estudos Budistas Bodisatva
(CEBB) com o instrutor e seus alunos. A investigação será conduzida através da
Observação das aulas de Wing Chun na CEBB, entrevistar com o instrutor e seus
alunos de como as práticas da CEBB afetaram suas relações interpessoais, para
então comparar os dados levantados com a pesquisa bibliográfica, adquirindo um
melhor entendimento da harmonia entre a mente e o corpo e construir conhecimento
científico acerca da cultura oriental.
O seguinte projeto visa efetuar uma pesquisa qualitativa, que segundo Minayo
(2002) se preocupa com uma realidade que não pode ser quantificada, “ela trabalha
com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais profundo das relações”. Com dois alunos de
Wing Chun no Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) e seu instrutor, a
coleta de dados será feita através de uma observação das aulas seguido de uma
entrevista em pautas que será gravada e transcrita para melhor entendimento dos
aspectos psicossociais de cada indivíduo que participar da pesquisa. A análise dos
dados então será executada mediante a observação das experiências em campo
sem interferência dos pesquisadores comparado à pesquisa bibliográfica. Serão no
fim identificados e separados através dos áudios transcritos das entrevistas as
relações entre o tempo que se pratica e como afetou suas emoções e relações
sociais. Espera-se como resultado adquirir conhecimento científico acerca da
meditação e da prática de artes marciais, como também um melhor entendimento de
como essas práticas afetam os aspectos psicossociais de um sujeito.
RESULTADOS
Conforme cita S2: “A mente é como se fosse a raiz, se você trabalha a mente,
aprende a lidar com o restante”. Em um momento de tensão como tende a ocorrer
no sparring, o praticante é estimulado através da meditação (que ocorre antes e
depois do treino físico) a obter o máximo de relaxamento, para que, no momento da
prática, possa executar seus movimentos com o máximo de leveza e precisão.
Segundo CARTER (2005) e SLAGTER (2007) “o treino da meditação pode modular
mecanismos atencionais e aumentar a capacidade do processamento de informação
mediante um maior controle da distribuição dos recursos mentais”.
Outro ponto importante também levantado pelos entrevistados foi a influência das
práticas nas relações sociais, todos os entrevistados relacionaram melhorias em
suas relações sociais com as práticas da CEBB, principalmente do Wing Chun. S1:
“Melhora em todos os âmbitos, relação com o namorado ou namorada, relações com
os amigos e a família e tudo”. Relataram diminuição de ansiedade. S2: “Eu perdi um
pouco o medo de falar o que eu estou sentindo, estou começando a perder esse
medo”. Também foi relatado aumento da autoestima. S3: “Me sinto mais confiante,
com um olhar mais amplo do que tinha antes”. Essas informações dialogam com
estudos de Costa et al. (2007) onde a depressão, transtorno que pode ser
“associada a uma alta incapacidade e perda social” pode ser tratado através das
ativações fisiológicas do exercício físico assim como também proporcionar sensação
de bem-estar, humor e autoestima.
Também se nota a partir das entrevistas como as práticas podem diminuir a tensão
e a ansiedade, trazendo um relaxamento através das expressões emocionais do
corpo manifestados durante as práticas que estabelecem uma relação mais íntima
dos sujeitos com o que sentem. S1: “Posso perceber que eu como por ansiedade, se
estou mais relaxado com a mente um pouco mais estável, como porque tenho a
necessidade física de me alimentar”. É mencionado também como não só as
práticas como o budismo ao todo auxiliou na relação intrapessoal. S2: “Eu sempre
fui um cara que controlava minha irritação, controlava, de segurar, de reter, o
budismo me ajudou a não reter, a soltar. [...] Não me preocupar com isso. [...]
Acolher acho que é o termo correto, [...] É lidar, observar”. Conforme pesquisa feita
por Braga et al. (2016) a ansiedade que está associada ao aumento da frequência
respiratória pode ser regulada através de técnicas de respiração e meditação, que
podem mudar a dominância de pessoas estressadas e ansiosas em ativação
simpática para a parassimpática, que controlam sintomas de ansiedade. Costa et al.
(2007) também denota a capacidade dos exercícios físicos de trazerem benefícios
psicológicos como “redução da ansiedade, tensão e depressão”.
Essa mudança de comportamento faz com que ocorra um movimento dialético, pois
acontecem transformações significativas no contexto social. O entrevistado
encontrou um gatilho para manter-se relaxado quando fica com raiva, angustiado,
tudo isso é possível por causa da luta e dos treinos, já que os sentimentos durante a
luta se assemelham fora dela, então ele consegue ter esse controle, bloqueando
essas vibrações ruins que possam a vir tirar sua tranquilidade e manter o equilíbrio
mental e físico.
Neff (2003), com base na literatura budista, definiu compaixão como um estado de
espírito compreensivo ao sofrimento do próximo, de modo que você compreende a
dor e desperta um desejo de cuidar ou aliviar o determinado sofrimento. A religião
budista tem seus princípios fundamentadas na compaixão e no amor ao próximo, de
modo que você transmita paz e sossego a qualquer ambiente ou situação que você
tenha de enfrentar. Juntando as práticas meditativas fundamentas nos princípios
budistas e as artes marciais, os praticantes desenvolvem uma auto percepção com
menos julgamentos e mais compreensão, o que reflete em potencial no momento da
luta. Segundo S1: “Através da luta, é possível perceber quais são as suas
expressões, teus impulsos e como eles se seguem, sua raiva, seu medo, como se
fosse uma leitura de sua vida”.
Podemos então constatar que a influência da cultura budista, pela questão empática
e harmoniosa, associada a prática do estado de mindfulness, em que a percepção é
abrangida de modo que aceitamos as coisas como elas são, tende a desenvolver
nos praticantes um sentimento de acolhimento frente aos seus problemas e
problemas dos outros. S1 reforça que: “Começamos a ficar mais atentos, então
cuidamos mais dos outros, desenvolve mais compaixão, pois começamos a observar
mais os outros, seus obstáculos”.
CONCLUSÃO
GILBERT, P., Procter, S. Compassionate mind training for people with high
shame and self-criticism: Overview and pilot study of a group therapy
approach. Clinical Psychology and Psychotherapy, 13, 353-379, 2006.
SANTOS, A.C. et al. Intervention in Autism: Social Engagement Implemented by
Caregivers. Paidéia (ribeirão Preto), [s.l.], v. 25, n. 60, p.67-75, abr. 2015.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
863X2015000100067&lang=pt#B18>. Acesso em: 21 nov. 2017.