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Nota preliminar Estes livros so o resultado de um trabalho.conjunto das gestdes 2011/12 2012/3 da ANPOF e contaram coma colaboragao dos Coordenadores dos Programas de P6s-Graduagaio filiados & ANPOF e dos Coordenadores de G's da ANPOF, respon- ‘saveis pela selegdo dos trabalhos. Também colaboraram na preparagio do material para publicag2o os pesquisadores André Penteado e Fernando Lopes de Aquino. ANPOF - Gesto 2011/12 Vinicius de Figueiredo (UFPR) Edgar da Rocha Marques (UFR)) Telma de Souza Birchal (UFMG) Bento Prado de Almeida Neto (UFSCAR) Maria Aparecida de Paiva Montenegro (UFC) Darlei Dalt’Agnol (UFSC) Daniel Omar Perez (PUC/PR) Marcelo de Carvatho (UNIFESP) ANPOF - Gestio 2013/14 Marcelo Carvalho (UNIFESP) ‘Adriano N. Brito (UNISINOS) Ethel Rocha (UFRJ) Gabriel Pancera (UFMG) Hélder Carvalho (UFPI) Lia Levy (UFRGS) rico Andrade (UFPE) Delamar V. Dutra (UFSC) Dados Intermacionais de Catalogago na Publicagio (CIP) Filosofia alema de Kant Hegel / Organizagio de Marcelo Carvalho, Viniclus Figueiredo, Sao Paulo : ANPOF, 2013, 770p. F487 Bibliografia ISBN 978-85-88072-14-5 1, Filosofia alema_ 2, Kanta Hegel 3, Filosofia -Histéria |. Carvalho, Marcelo Il, Figueiredo, Vinicius Ill, Encontro ‘Nacional ANPOF DD 100, O Fim do Estatuto Transcendental da Razao? Confronto Fichte vs Schelling Lui ino Carlos Utteich* "Nem a todos os que as interrogam respondem as criaturas, mas sé aos que as julgam"* Introdugao pectiva “transcendental” da razo como ponto de partida fundacional do incondicionado que, embora semelhantes, distinguiram-se e acabaram por distanciar-se uma da outra. Na medida em que a filosofia kantiana negava temati- zara questdo do fundamento da razao a partir de um Gnico conceito ou principio superior, restou a ser estabelecida a questio do estatuto da desvinculagio entre os dominios puro e empirico do pensamento. A nao fundamentacio - também transcendental - do vinculo entre o Intelectual e o Empirico colocaria a perder a recém-fundada doutrina kantiana do Idealismo transcendental. Kant apresentou na Critica da razdo pura, numa énfase monocromatica, essa doutrina trazendo 0 esclarecimento de que através dela ha de se entender que, Fe © Schelling apresentaram duas estratégias argumentativas da pers- * SANTO AGOSTINHO, Confissdes, Livro X, 6, Ed. Abril Cultural, p. 199, Comparativamente, hd a pas- sagem de Kant, que diz na Critica da razdo pura: "A razdo sé entende aguilo que produz segundo os ‘seus préprios planos; que ela tem de tomar a diancelra com principios, que determinam os seus jutzos ‘segundo leis constantese deve forgar a natureza a responder ds suas interrogaptes na qualidade de juiz Investido nas suas fungées, que obriga as testernunhas @ responder aos quesitos que Ines apresente”. KANT, Kritik der reinen Vernunft B XII Werkausgabe: in 12 Biden, Hrsg. von Wilhelm Weischedel Frankfurt am Main:Subirkamp, (= KrV]; 1968. (Critica da raado pura, Lisboa; Calouste-Gulbenkian,[ = CRP] p. 18. O Finn do Estatuto Transcendental da Razio? Confronio Fichle vs Schelling * Professor Adjunto da Universidade Estadu- al do Oeste do Parani (UNIOESTE), Toledo (Parans, Brasil. Doutor em Filosofia pelo Instituto de Filosofia Ciéncias Hu- ‘manas da Pontificia Uni- versidade Catéliea do Rio Grande do Sul (PUCRS} Porto Alegre. Agradego CAPES pelo au lucauttelch@terracom.br (..) tudo que se intui no espago e no tempo e, por conseguinte, todos os objetos de uma exper possivel para nés, sdo apenas fenémenos, isto é, 'meras representagdes que, tal como as representamos enquanto seres exten- ‘$08 ou séries de mudangas, ndo tém fora dos nossos pensamentos existéncia fundamentada em si, A esta doutrina chamo eu idealismo transcendental, Pelo fato de ter af discriminado menos os aspectos inteligiveis que os as- ectos empiricos envolvides nos atos constitutivos do conhecimento puro a priori, Kant acentuou 0 foco sobre o modo de aplicagao das categorias no conhecimento a natureza (razao tedrica). Entretanto, a essa altura ja havia fundado na Critica da razdo pura a diferenca e 0 uso, com sentidos distintos, dos objetos posstveis em fenémeno e mimeno®, Assim, se desde a doutrina do Idealismo transcendental & antecipada a tematizagao do lado do qual tem de ser considerado e posto o objeto (pelo entendimento), distinguindo todos os objetos da experiéncia como relativos a experiéncia sensivel ou experigncia possivel, nao ficou jé evidente, por outro lado, desde af o lugar mediante qual devia ser pensado 0 “fundamento” da experiénci este s6 poderia ser obtido pela tematizarao do lado do sujeito (Ich denke) Ainda que no texto do Prolegémenos* Kant esbocou a aplicagao do conceito de ntimeno no sentido negativo para a determinagao dos “limites” da experiéncia, como exercicio do pensamento fora do conhecimento senstvel, as pistas ali apre- sentadas nao foram suficientes para considerarmos como tendo ele levado a efeito uma verdadeira tematizagio do fundamento de toda a experiéncia. B, visto que na doutrina do Idealismo transcendental afirmara que os objetos da experiéncia Possivel “ndo ¢ém fora dos nossos pensamentos existéncia fundamentada em si" se- ria por sua vez inconseqiiente sustentar (buscando endosso para isso na mesma doutrina) que “a representagdo (.) é algo jd por si” e “pode subsistir por si sd", sendo "algo" sem necessitar “ir vinculada a outro elemento distinto”® dela, Ou seja, concer- nente a exigéncia necesséria da razdo (Vernunft) de constituir efetivamente o Sis- tema da razdo, a ndo tematizagtio do fundamente da experiéncia revela a auséncia de critério ou medida para dirimir a dévida a respeito da indistingae mantida, do ponto de vista sistematico, entre o Idealismo transcendental e o Realismo ingénuo. "KANT, KrV B519 (CRP, p. 437), * Um pano de funde mais significative, face ao carter monoeromatico da exposico da doutrina do Wealismo transcendental, é trazido quando Kant realiza a distingo entre fendmeno e ntimeno, no capitulo da Critica da razdo pura, intitulado Do Principio da distingdo de tadas as objetos em gerat em {fendmenos emimenos. Cie, KANT, KtV, B 295-315 (CRP, p. 257-273). “A propésito, parece um contra-senso aqui a explicitagao da defesa do so negativo do conceito ‘numénico, na primeira Critica, «0 espaco no qual (al usa devia er sido desenwvolvido visando pensar € dar conta das questées sistematicas. Ao invés de executar esse desenvolvimento, deparamo-nos com. ‘ auséncia dessa tematizacio, = FICHTE, Erste Einleitung in die Wissenschaftslehre. In: Fichtes Werke, rs, von IH, Fichte, Berlin: de Gruyter 1971, Bd. [= EE] p. 432 (Primera Introduccién de la Dacerina de a Ciencia. a. Tacos, [= Pt}p17). es Luciano Carlos Utteich Relativo a tal critério tanto Fichte quanto Schelling recuperaram o debate. Fichte respectivamente na Primeira e na Segunda Introdugéo @ Doutrina da Ciéncia, ambos textos de 1797, e Schelling no texto Cartas Filosdficas sobre o Dogmatismo 20 Griticismo (1795). Passemos a uma breve exposicao de ambos os modos de apresentagao do exigido critério sistemético, Adiante veremos como residindo no diferente modo de conceber as determinagdes sistematicas do conhecimento sob o privilégio seja do sujeito, seja do objeto, o elemento separador das abordagens de Fichte e de Schelling, vindo este tltimo a inaugurar uma pesquisa mais ampla que a propicia- da pelo dominio transcendental da razo, e que vird significar a superagao mesma do enfoque meramente “transcendental” do Sistema da razio pura, Injungées Doutrindrias: Idealismo (Criticismo) vs Realismo (Dogmatismo) “Supanho que na filosofia ndo hd nenhum autor eléssico; Gx) peco que se conheca a significasto de meu termo antes de julgar meu sistema”, Ao instaurar o debate acerca da tematizagao do “fundamento” do Sistema da Filosofia transcendental, na Primeira e Segunda Introdugao @ Doutrina da Ciéncia (1797), Fichte defrontou-se com as diferentes abordagens vigentes, a saber, a do Realismo ea do Criticismo. Kant havia alegado que “(.) todos as objetos de uma experiéncia posstvel para nds sao apenas fendmenos’, ¢ que eles "(.) ndo tém fora dos nossos pensamentos existéncia fndamentada em si”. Por meio disso ele designado ou deixou indica- do ja o lugar do fundamento da experiéncia: esse lugar repousa no pensamento mesmo. E, visto que a abordagem das categorias para o conhecimento (aplicag3o empirica) preservou o Idealismo transcendental como “doutrina’, sem atender & questo da fundamentacao mesma deste Idealismo, sendo s6 a de langar para fora (da esfera) do conhecimento a possibilidade do Sistema da razio, restou por ser demonstrado que no pensamento as representagdes possuem um fundamento ou que algo corresponde as representacdes, dir Fichte, “independentemente do ato representativo"® © As duas Introdugdes foram publicadas, concomitantemente, no Philosophtsches Journal, Bd. 5. 1-47, Bd. ¥,S. 319-378, noana de 1797. ° FICHTE, Zweite Einleftung in die Wissenschaftsiehre In: Fichtes Werke, hrsg von I. Flehte, Berlin: dde Gruyter 1971, Ba, I [* ZE] p. 472-3 (Segunda Introduecién de la Doctrina dela Ciencia, Ed. Teens, I] p59). " FICHTE, EE p, 432 (PI, p.17) Fim do Estatuto Transcendental da Razio? Conjronto Fichle vs Schelling 386 Pela reintrodugio, por Fichte, da norao de Intuicao Intelectual (Intellektuele Anschawung) na estratégia argumentativa, evidencia-se com mais clareza em que sentido se dé a construcao do Sistema da razao, pois, diz ele, co fundamento da evidéncia imediata da necessidade e da validade universal no esté nunca no conceito, mas na intuigdo do conceber; intuigo que, alids, hnunca é necessiria, ou contingente, aw algo dessa order, mas apenas é, pura e-simplesmente, e 6 assim como é~ e que tampouco ¢ universalmente valida, pois permanece eternamente uma ea mesma, mas justamente por Isso comu- nica a todo conceito que 2 concebe, porque a cancebe e na medida em que a cconcebe, sua inalteralidade”. Diante da exposicio do seu método da Filosofia transcendental ~ que pre- tende fundamentar o Idealismo ~ Fichte convoca os leitores & precausao para nao rejeitarem “de antemdo e sem exame essa idéia [da doutrina da ciéneta como de uma ciéncia inteiramente recém-descobertal, tdo logo ouam pronunciar as pala- vras ‘dowerina da ciéncia’e ‘intuigdo’e ‘intuicdo intelectual”, jé que "6 de uma tal in- ‘tuicdo que parte a doutrina da ciéncia’. E, complementa ele, para que no rejeitem de anteméo “a maneira de Kant, que recentemente se pds « explicar ds pessoas as expresses que elas mesmas utilizam, de tal modo que estas tém de ser consideradas incorretas de qualquer modo que as empreguem’, Desde os medievais até Kant.a nogio de Intui¢ao Intelectual estivera atrelada a ogo de constitui¢ao imediata do objeto senstvel"”, conduzindo a um tipo de contor= » FICHTE, Anktindigung einer neue Darstellung der Wissenschaftstebre (Anincio de uma nova exposi- so da Doutrina da Ciéneta; trad. O Programa da Doutrina da Clgncia, 1800), In: A Doutrina da Ciéncia de 1794 e outros escrites. Trad. Rubens R. Filho. Sio Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 191, "© Parece suficiente as nossas pretensOes comparar aqui o sentido do veto de Kant atvidade da In- Intelectual coma andlise eita por Heidegger, em Kant eo problema da metafsica (Kant und das Problem der Metophys), acerca do carsterlinito das condigBes do conheeimente humana, atrelado A nica forma de avesso aus objetos, a intuige. Conforme ele," esséncia da sensibilidade consste na {init do intuiego. Os instramentas que esto a servi do ofecpao so instrumentossenstveks, por per- tencer d intwipdofinita,dsensibilidade. Kant obteve assim, pela primeira vez, 9 caneeita antalégico na senstalista da sensibitidade”(p, 32). Ou seja, confronta-se a esfera da intuigdo Inteleetual com a fato dda sensibilidadle humana ser Hnita ea eapactdade cognoscente da razio ser dependents Poi, conti- hia, “esse nitude da razdo ndo consiste rica eprimariamente no fato de que a conhecimenta humana ‘demonstre multas defeitas devido d inconstdncia, inexatiddo e ao err, sendo que reside na estructura ‘essencia! do conhecimento mesma. A limitagéo fética do conhecimento néo é senio uma conseqiéncia desta esséncia"(p. 28), Neste sentido & posto em contraste a esséncia do conhecimento humano fnito ‘coma idéia do canhecimento divino infnito, ou sea, com a intuitus originarius,enquanto a essncia do conhecimento humano procede por intuitus derivatus, Diz Heidegger: “a diferenga entre a intuigdo infnita ea fnita reside unicamente em que aquela, em sua representogdo imediata do objet singular, ‘sto 6 do ente nico e singular como.um todo, 0 nerodue primeiraments em seu ser; Ihe ajuda em sua for ‘magio (orig) (p. 30) Ow seja,é uma intuigie absoluta que "ndo seria absoluca se estivese destinada ‘um entefé dante dos olhos, d medido do qual se faria acessive! o objeto da intugda. O eanhecimento divino é aquela forma de representasio que produz na intuigdo o ence desta fintuipdo] como ta. Eeamo ‘maui o ente imediatamente em sua totolidade com uma transparéncia absoluta, néo necesita da pensa- ‘mento, Pos 0 pensamento como tl leva jé selo da fnitude"(p, 30-1). Nas palavras de Kant, o conhe- cimento divino é “intuigdo, pois todo seu conhecimento tem de ser sempre incyigdo e nda pensomento, pois sempre o pensamento demonstra lmitagdes"(Apuad Heldegger, Kanty el problema de la Metafisica, Ea, Fondo de Cultura Econdmica p. 31) Isso significa, portanto, que o conhecimento human & uma Luciano Carlos Utteich ho e evasao da auténtica investigapdo dedutiva da capacidade da razio. jé para Kant, “(~) 0 ato de sintese (..) é inevitavelmente, o primeiro principio (..)"", que de modo algum é desconsiderado por Fichte, sendo que a nogdo de Intuigéo Intelectual por ele empregue agrega o sentido de ser uma “consciéncia imediata, mas ndo sensivel"®. Para Kant, conforme o texto da Critica da razao pura, a nogio de Intuigao In- telectual era um conceito que conduzia tudo completa obscuridade, como maneira ‘meramente “intuitiva"(sensivel) de proceder, que néo estava em condigdes de justi- ficar qualquer antecipacdo legitima relativa ao conhecimento, visto ndio suportar 0 fato de que o conhecimento exige ser exposto metodicamente, cujo desenvolvimento 6 provado s6 enquanto possibilita ser acompanhado exaustivamente em todos os pontos de seu proceso. Nao resta diivida de que a busca de referéncia ao mundo real de objetos por meio de uma faculdade no envolvida com processos demonstrativos € de justificagao representa um empecilho & auténtica investigarao cienttfica, trun- cando a necessiria pormenorizagio dos instrumentos de que dispée a razo para fundar o conhecimento, levando antes a bloquear o préprio caminho de investigacao. Todavia, o encaminhamento fichtiano da nogao de Intuigdo Intelectual nao converge com a nogo acima, mas adiciona um sentido nao contemplado pelo pro= prio Kant, portanto distanciando-se do veto colocado por ele. Fichte procede, por assim dizer, justo na dirego contréria, servindo-se da Intuigo Intelectual como uum tipo de “raciacinio a partir dos fatos manifestos da consciéncia"®, jé que a Intui- so Intelectual s6 6 encontrada quando se distingue “o que se dé unido na conscién- cia vulgar e ao analisar 0 todo em suas partes integrantes"*, No dizer de Fichte, visto que “recebe o nome de ‘objeto’ da consciéncia (.) tudo aquilo de que sou consciente", 0 ilésofo nao deixa de considerar a nogao de objeto como desenvolvida a partir da caracterizagdo dos doislados da razao. A doutrina fun- dada do Idealismo transcendental constréi e impde mesmo essa concepeao, de que “o que se contrapse ao meu atuar~ algo devo the contrapor, visto que sow finito - é 0 mundo sensfvel [e] 0 que deve surgir em virtude de meu atuar é 0 mundo inteligfvel”, Intuigdo nao-criadora; ele possul uma intuigao que tem que poder “apresentar mediatamente em sua singularidade {aquilo que] deve estar Jé diante dos olhos’ assim o objeto dessa intuigao tem de ser “um ente que existe Jé por si mesmo’, Ou sea, ele nfo pode ser “criado” pelo exercfcio de wma intuigo pensante, Kant caracterizou por esse motivo o entendimenta humano como entendimento discur ‘sivo: para apresentar suas conceitualizagées, se requer que o entendimentofaca urn rodelo em torno 4a questio (objeto), visto nfo ter condides de ter uma intuigao dos objetos como totum simul. E foi por esse motivo que, pode-se dizer, Kant concebeu a necessidade de um coneeito de unidade como © da Apercepsdo transcendental, como eritério ditimo para o estabelecimento da legitimidade © a valldade objetiva das categorias, ® KANT, KV, § 17, B 139 (CRP, p. 138). *® FICHTE,ZE. p. 472 (Sl, p. 59}. E, enquanto tal, ela “ndo se dirige de mod algum a um ser, mas sim a um atwar’, ™ FICHTE, ZB, p, 464 (SI,p. 81). FICHTE,ZE,p. 458 (SI, p. 51-2) “FICHTE, BE, p. 427 (PI, p.12)- 16 -FICHTE,ZE, p. 467 (S1.p.54), O Fins do Estatuto Transcendental da Razio? Confronto Fiche vs Schelling 387 Em vista disso € que, por assim dizer, agrega Fichte, “tio sé em virtude desta Intuigao Intelectual do Eu-espontaneo resulta possivel o conceito do atuar. 0 con- ceito do atuar € 0 tinico que une os dois mundos que existem para nés,o sensivel eo inteligivel””, Ou seja, na medida em que “me vejo" como auto-ativa (esponténeo), 36 entio € que surge “para mim esse ingrediente totalmente alhelo que 6 a ago real de meu Eu numa consciéncia que, de outro modo, seria tao sé a consciéncia de uma suces- a0 de minhas representades"™. Por isso a Intuigo Intelectual se constitui na “tinica realidade firme para toda a filosofia” ¢ desde ela “pode se explicar tudo 0 que tem lugar na consciéncia’, na medida em que & razdo livre “sé pode caber uma necessidade” Ou seja, completa ele: “aqui minha filosofia se torna completamente inde- pendente de todo arbitrio e produto de uma férrea necessidade, [isto é, aqui a ra- 1240] se faz, produto de uma necessidade pratica’”. Assim, indaga, por fim, Fichte: ‘uma filosofia edificada naquilo que a filosofia kantiana decididamente recha- ‘¢2 constitui ~ por si sé ~a perfeita antitese do sistema kantiano e daria lugar a esse sistema absurdo e fatal do qual tanto fala Kant no artigo ‘Sobre o tom distinto em Filasoffa'(Monatschrift, maio de 1796)? Isto é, teria de ser averiguado, “antes de construir sobre este argumento, se no se expressam por acaso nos dois sistemas, com a mesma palavra [Intuigo In- telectual], conceitos inteframente distintos” Assim, pela faculdade de Intuigo Intelectual alcanca-se antes uma tematiza~ go de duplo foco, como constitutiva da razdo em geral (Vernunft) (tal como poderia ser encontrado, por exemplo, no sentido kantiano, aquele pensar que alcanga tanto aatividade do conhecer como a do pensar), e ndo um modo de pensar estritamente “formal’, ou mesmo tinica ¢ exclusivamente “fora” da condigao de tempo formal. Portanto, a referéncia ao conceito de Intuigéo Intelectual, na Critica da razdo pura de Kant®, nao alcanga a nogao de Intuigao Intelectual exposta por Fichte. Ao "FICHE, 26, p. 467 (SL p.S4). * FICHTE, ZB, p. 466 (SI p. 53). ' FICHTE,ZE, p. 466-7 (Sp. 53). ® FICHTE, ZE, p. 471 (SI, p, 5). Com efeito, mais precisamente neste texto, “Sobre o tom distinto em Filosofia’ Kant incide contra 2 Intuicao Intelectual come uma “ilusdo” e como no¢do & qual sao leva {dos os filésofos que menosprezam todo trabalho e tda investigaglo exaustivamente estabelecida. © PICHTE,2E, p. 471 (SI, p. 58), Disse Kant: “Um encendimento que, tomando consciéncia de sf mesmo, fornecesse ao mesmo tempo 2 diverso da intwicdo, um entendimento, mediante cuja reprosentagdo existissesimultaneamente os objetos dessa representagda, ndo teria necessidade de um ato particular de sitese da diverso para a tnidade da conseréneia, como disso carece o entendimente humana, que 6 pensa, noo intui” KV, §17,8 139 (CRP, p. 138). E ainda: “Um entendimento no qual todo o diverso fesse dado ao mesino tempo pol ‘utoconsciéncia seria intuitive; 0 nosso s6 pode pensar e necessita de procurar a intuigao nos sontidos" Idem, § 16,6 135 (Idem p. 134). Tadavis, do mesmo mado camo Kant nao desvincula a sensbilidade afaculdade de pensamento, também Fichte apresenta uma vinculagaa sui generis para omode como se dé arelagao entre ambos, intugko e pensamiento, Luciano Carlos Uteick invés de uma abordagem na perspectiva dos dois lados da raz0, a nogao de In- tuigdo Intelectual criticada por Kant executava a produsao dos abjetos sensfveis a partir do puro pensar, desvinculado da matéria sensivel (sensibilidade) e das condigdes das faculdades do ser humano finito. “ A concepgio fichtiana do Idealismo transcendental suplanta, por sua vez, as consegiiéncias da fundamentagao meramente critica de atividades das faculdades da razio e dos objetos do filosofar transcendental kantiano, na medida em que a nogao de “objeto”, fundada agora no Ambito de uma “doutrina da ciéncia’, compreende tam- bém um algo a mais (um carter suplementar), a saber, doravante, do ponte de vista sistemitico, 0 objeto é objeto + o seu limite (0 objeto acrescido de seu limite). A base disso Fichte tematiza 0 confronto entre as escolas “dogmatica” “idealista”: pelo fato de cada uma delas ser levada a entender a nogao de “ser” de um modo distinto da outra, Dogmatismo e Idealismo disputam o entendimento do ponto de vista desde o qual apenas o Sistema do idealista consegue se colocar como ponto de vista “transcendental” da razdo; isto porque a perspectiva do tema do idealista possui a seu favor nao sé a experiéncia, mas ao mesmo tempo 0 sistema (ou principio de sistematizagao) de todas as representagées, pensado a partir do fundamento ~ que nao pode ser considerado ele mesmo como dado pela experiéncia -, a Intuigdo Intelectual. Ou seja, a necessidade da Intuigao Intelectual deve ser por isso compreendi da, diz Fichte, na medida em que “tudo quanto tenha de chegar a ser minha ‘repre- sentagdo’ tem que achar-se referido a mim”, visto que “a intuigdo sensivel s6 & pos- sivel unida @ Intuigdo Incelectual”™, Noutras palavras, o “contetido" do Eu - como © atuar que volta a si mesmo ou como a “forma” da egoidade - é constituido pela Intuigdo Intelectual, sempre vinculada & matéria, visto que, nesse quesito - com- pleta ele ~ nao é fungao do filésofo e 0 filésofo nao deve intervir no desenvolvimento do fendmeno, mas sim prestar atencéo aos fendmenos, seguir-lhes adequadamente a pista ¢ estabelecer conexdes entre eles, uma vez que "a tiniea finalidade de toda a filosofia éa dedusio ce uma verdade objetiva, tanto no mundo dos fendmenas, como no mundo inteligivel”*. Assim, na medida em que é “a experiéncia [que] encerra toda a matéria de ensamento do ser racional finito"”, a avaliagdo acerca de qual dos dois pdlos tem de ser escolhido ou privilegiado, se o da inteligéncta (representag0/Idealismo) ou oda coisa (ser/Realismo), passa pelo esclarecimento acerca daquilo que se mostra inseparavelmente unido na expe S FICHTE,Z&, p. 464 (SI,p-51). * FICHTE, ZB, p. 464 (SI,p.51)- © BICHTE,ZE, p. 454 (Sl, p. 40). * PICHTE,ZE, p 455, Fussnote. (SI, p. 41, nota de rodapé). PICHTE, BF, p. 425 (PI, 10) (O Finn do Estatuto Transcendental da Razio? Confronto Fide vs Schelling 389 Visto que na experiéncia se mostram inseparavelmente unidas a coisa ~ como aquilo que parece ser determinado independentemente de nossa liberdade e pelo qual nosso conhecimento deve se reger ~, e ainteligéncia - aquilo que deve + é possivel separé-las 56 mediante a liberdade do pensamento (ou “por ou seja, fazendo abstragdo de ambos os elementos. 0 filésofo realiza essa separarao e abstrai de ambos os elementos, sem que Por isso os percat por esse ato de abstracao ele unicamente se eleva sobre a ex: periéncia, jé que abstrai dela. Por seu turno, de que modo se conduz o Dogmatis- mo? Este traz em si uma concepsdo de “ser” ou de “coisa” com vistas a explicar 0 fundamento da experigncia (como sistema de todas as representagdes). Mas, 20 tentar demonstrar o modo como se dé a passagem do “ser” ao “tepresentar™ ele s6 aparenta estar em condigdes de fazer isso, uma vez que suas tentativas de res- posta, por tomarem por base um principio que s6 pode fornecer o fundamento de um ser, nao ainda “o fundamento do representar, totalmente contraposto ao ser”, incorrem em inconsequéncias. Apretensao de legitimidade do Dogmatismo assenta em ser um modelo que preserva como concepeao de sistema uma noso demasiado estreita ¢ furtiva, mas que faz subsistir um “enorme oco que fica entre cotsas e representagses”™ e que, em vez de colocar uma explicacao™, nem tocada pelo Dogmatismo pelo fato deste pir “palavras vazias que se podem aprender de meméria ¢ repeti-ias de novo"™. Ou sefa, relativo aquilo que se mostra inseparavelmente unido na experién- cia (coisa e ainteligéncia) nao ha um interesse por parte do dogmatico em sepa -las (para isso falta-Ihe a liberdade do pensamento), jf que no hé aqui para ele 0 espago para um ato deliberativo prévio, que é a condigo para chegar aquilo que pode ser conduzido,a saber,a liberdade do pensar, que depende de um encaminha- mento para ser realizada por “inclinaro” ou por “interesse”. E56 a base disso que surge o conceito mesmo desta “atividade” da liberdade (para o [dealista, vinculada a seu “interesse"), identificada com a Intuigo Intelec- tual, como subsfdio para a constituicao da nogdo de “objetividade” do pensar no interesse de constituir-se, enquanto ato de abstrair conduzido pela liberdade do pensar, como “comega de toda série"®, 5 FICHTE, EE, p. 437 (PI, p.22). » FICHTE, EE, p. 437 (PI, p. 22), Continua Fichte: “Fes do um enorme salto a um mundo campleta- mente estranko a seu prineipio.Bles procuram oculter, de matos miodos, este salt.” EE, p. 437 (Pl pe. 22), A conclusio fichtiana é paradigmética j& que, sentencia, “nenhum dos dois sistemas pode fazer ‘nada contra o outro’, porque cada sistema traz dentro de si seu proprio principio condutor, conforme ‘© qual procede em favor da defesa da sua prépria perspectiva Ce. EE, p.431 (PI, p.17). “© FICHTE, BE, p. 438 (PI, p. 24). © ichte aponta aqui a uma disjungao interna, como possibilidade do sistema do Idealism prefigu- rada desde a oposicfo entre um Idealism Critica ou crticsta (wanscendente) eum Idealismo Abso- Juto (transcendental) * PICHTE, EE, p. 438 (PL p24}, © Nesta medida se se vincula a possibilidade de atribuir valor de verdade ou objetvidade as repre- sentagies ao "conceito” desta liberdade do pensar (conduzida por interesse), poe ser mostrado, em contraposigdo is exigincias do Dogmitico, o modo pelo qual o ato de condugia das representagies fax surgir um principio constitutive (objetivo) para a "série completa” das representagiies como exis: ‘indo (idealmente) & base delas. 300, Luciano Carlos Utteich Para o Dogmatico, ao contrério, ao querer fazer derivar de Kant - da propria Critica da razdo pura ~ seu modelo como op¢ao aventada e verdadeiramente esco- Ihida por Kant, é levada adiante a concepsao, condicionada historicamente, de se atribuir a qualidade de “objetivo” ou de “objetividade” exclusivamente a perspec- tiva que conduz por fim a um “ser*(uma coisa), no sentido de que parece indicar um fundamento seguro e uma base sélida (fixa) para o pensamento e seu método. Neste sentido, para destrincar o sentido equivoco da atribuigéo destas ex- presses & favor da abordagem do sistema do dogmatico como ponto de vista me- todologicamente correto, Fichte chama a atengao ao fato de que, previamente & elucidago do pano de fundo da aplicagdo dessas expressdes, como condigio das mesmas, reside uma abordagem mais fundamental™: trata-se de considerar pri- meiro ~ ¢ confrontar em seguida - qual dos padrdes de medida, adatados pelos modelos de sistema do dogmdtico e do idealista, é 0 mais puramente “racional’, O ponto de partida aqui é mostrar que “ndo hé fundamento da decisao possi- vel por parte da razdo"® em favor da independéncia do Eu ou da independéncia da coisa, Isto porque, indica Fichte, nao possivel que ambos os pontos de vista me- tédicos sejam pensados "como sendo algo uno”, sendo que tém de ser pensados como dois modelos exclusivamente diferentes e que se distanciam’”. Neste terreno surge como ponto decisive o distanciamento entre esses modelos, como repousa no ponto de partida (Primeiro Princfpio) por eles adotado, Portanto, reside em que, completa Fichte, na perspectiva do Idealismo “nao se trata da conextio de um elemento na série singular na qual so suficientes os fundamentos racionais, mas sim do comego de todaa série, o qual, por ser um ato absolutamente primeiro, de- pende 56 da liberdade do pensar”, Assim, 0 verdadeiramente disputado no debate entre Dogmatismo e Idealis- mo assenta na questo do “comeco” da atividade representacional como tals para » Como enunciow no paragrafo segundo do Ensaio de uma Critica a toda Revelacto, 0 alcance do principio primeiro fichtiano (autoconstiéncia) vird tornar presente que "ado é a representapdo que deve nos determinar; [pois] neste caso 0 sujeto se comportoria de mado samente passive ~ sero deter- Ininedo, porém, nao deverminaria a si préprio ~ mas somos nds que devemos nas determinar através «da representagdo’ Versuch einer Kritk aller Offenbarung, § 2 ~ Theorie des Willen, als Vorbereitung einer Deduktion der Religion dborhaupt (trad, Ensayo de una Critica detoda Revelacién,§ 2. Teoria de lavoluntad como preparacidn de una deducién de la Religion en general, p. 176) ICHTTE, EE, p. 432 (Pl, p 18) °“ FICHTE, 2, p. 369 (SI, p. 73) Isto 6, resultaré por fi "a absolute incompatibilidade de ambos siste- mas, pois 0 que se segue de um fica anulado pelas conclusdes do outro; e de acordo cam isto se torna patente aforgosa inconseqiéncia que constituiria afusdo dos dots sistemas em um sé” Ce. FICHTE, EE, 431 (Pi, p16). Diz Fichte: "Nenhuin destes dots sistemas pode desvirtvar diretamenteo sistema oposto’,¢ “cada um naga todo o sistema oposto,e néo tém nenhum ponto comum a partir do qual podem se par de acordo «coincidi.” EE, p. 429 (Pl, p14), Pols, ainda quand “paregamt concordar no ques refere és palavrs de uma proposigda,o certo é que cada um deles as torna em sentido diferente, EE, p. 430 (PL p15) ® BICHTE, EE, p, 432-3 (Pl p. 18). * Para Fichte nfo ¢ um contra-senso admitir que exista tanto uma representagio da“Independéncia do Eu’, como uma representagio da “independéncia da coisa’: Mas admit isso nio & 0 mesmo que sustentar conjuntamente a independéncia de ambos. Isto é, uma delas deve sero primeiro,o inicial, ‘ independente e “aquilo que &o segundo resulta necessariamente, pela favo de sero segundo, depen ( Finn do Estatuto Transcendental da Razio? Canfronto Fichte vs Schelling 391 392 © Sistema do idealista nao é possivel conceder valor de verdade a representagdes isoladas, constituidas desde uma perspectiva sistematicamente fragmentéria ou raps6dica. Em conseqéncia da adocao do encaminhamento da liberdade do pen- sar é pontuado um crescente distanciamento das diregdes tomadas pelos pontos de partida dos sistemas do idealista e do dogmético: a opgao (deliberagao) tomada pelo idcalista é aquela que tem condigdes de tazer a exposigao de todas os motivos de sua escolha para conduzir seus atos exclusivamente por “interesse™”, Eé esse 0 nico ponto de vista cabivel ac fildsofo auténtico, enquanto a perspectiva metodo- logicamente correta é justamente essa, a de “ter que formar-se [para si] a idéia de que é livre e de que fora dele existem determinadas coisas"*. Ou seja, o modelo filoséfico legitimo esté do lado da filosofia que se ocupar de explicar a contento a dedugio da passagem entre as coisas e a representagio® Assim, ciente de que por mais que seja fechado o cerco em torno da abordagem dogmatica, “nenhum dos dois sistemas pode fazer nada contra o outro, Fichte alega, contemporizando, que cada sistema traz dentro de si seu prOprio principio condutor, conforme o qual procede na defesa da sua prépria perspectiva, Por isso as diferengas entre ambos os sistemas, principalmente as diferencas atribuidas a0 sistema do dogmatico pelo Idealismo, tém de ser desqualificas para servirem como dedugSes no operar contra o dogmatismo™, pois mesmo que pudesse ser mostra- do ao dogmatico “a insuficiéncia e inconseqiiéncia de seu sistema" e até fazé-lo “desconcertar-se e inquietar-se por todos os lados", pelo fato de ser incapaz de es- cutar ¢ examinar “tranguila e friamente uma doutrina [o ldealismo] ~ que simples- mente nao pode suportar’, ele simplesmente nao pode ser convencido por outrem, devendo acontecer isso s6 a partir de si mesmo, pelo autoconvencimento. Desde essa perspectiva a "representagao” tem de ser acolhida como reunin- do em si jd os elementos que facultam concebé-la como “uma série completa” do pensamento™, Essa série completa jamais é possivel s6 pelo puro ato de abstrair, ‘dente do primeira BE, p. 482 (PI, p18). Com efeit, Fichte demonstra que o sistema do dogmético nunea consegue nega o que ¢ instituido pelo sistema do idealist, sendo que sempre s6 procura,a mado de reagio ou agao de segunda mio, {demonstra afalsidade do que é afirmado ou sustentado pelo sistema do idealista:o dogmético "(.) do mega o fato de consciéncta segundo o qual nés nos consideramas livres, pois isto seria absurdo, mas demonstra, baseando-se em seu prineipo,afalidade desta afirmaedo. EE, p, 430 (PI, p. 16). “ FICHTE, BE, p. 432 (PI, p. 17). “© FICHTE, BE, p. 438 (PI, p. 24), “© PICHTE, BE. p. 432 (PI, p17). “ FICHTE, BE, p. 432 (PI, p18). © ICHTE, BE, p. 434 (PI, p. 20) “A questio reside em identifica, do ponto de vista ideal, a série completa do pensamento com 0 significado de uma "representacio verdadeira’ tal como trazida pelo texto fichtiano. Essa tematica Fichte desenvolve na Segunda Introdugo, na qual enfatiza, dizendo: “Uma representasto completa requer trés elementos: (.) A) aquilo pelo qual « representagdo se vefere a um abjetoe se converte na representado de alge, ao qual denominamas unicamente intuigdo sensfvel (também no caso de que eu ‘mesmo sejao objeto da representacdo; eu venho a ser alga subsiscente na tempo para mim mesmo). B) ‘aquito pelo qual a representagdo se refore aa sujelta# se converte em minha representagdo, a qual s6 fe chamo “intvigdo" porque isso guarda a mesma relarda com a representagdo completa que a intuigao sensivel (enem Kant, nem Schulz a chamiam assim). E, por tleimo, C) aqua pelo qual ambos elementos se.unem e unicamentese tarnam representacda, a0 qual chamamos de mode undnime, mas uma ver, somes." ZE,p.474 (SL, p. 60-1)(grifo nosso. Luciana Carlos Utteich no qual o fildsofo se coloca acima da experiéncia, Agregado a isso, a “condugio” desse ato de abstrair ~ ainda como ato de liberdade deliberado ou “por interesse” ou por inclinacao”~ é 0 que verdadeiramente conduza cada um dos dois sistemas, automaticamente os distanciando e distinguindo” No dizer de Fichte, dé-se pela captagao do Eu, como atividade da Intuigao Intelectual (vinculada a matéria sensivel), que seja possivel se elevar a filosofia do ponto de vista transcendental enquanto Sistema, visto que s6 para o flésofo “o Ew se dé nessa forma", E neste sentido pode ser dito que a Doutrina da Ciéncia parte desse Eu, como Intui¢io Intelectual, na medida em que “unicamente da Intuigo Intelectual pode proceder a conscléncia-Eu"™ Assim, completa ele, é sempre "por um raciocinio a partir dos fatos manifesto da consciéncia" que o filésofo "chega @ Intuicdo Incelectual™, isto é, em nada dife- rente do modo como 0 fildsofo chega "ao conhecimento e d representagéo isolada da intuigao sensivet™ Eo cardter da Intuigto Intelectual, de estar vinculada ao “raciocinio" reside ‘em que, completa Fichte, “esta intuicdo [Intelectual] nao se d4 nunca sé,a modo de ‘umato [j] completo da consciéncia; como também a intuigo sensivel ndo se dé sé nem completa a consciéncia”, Isso é assim, na medida em que “sé por ela [Intuic2o Intelectual] distingo meu atuar; e neste atuar me distingo a mim mesmo do objeto do atuar que se me faz presente, Todo aquele que cré tet uma atividade alega esta intuigao"™ E, por fim, porque nao hé razdio “..) nos ingredientes senstveis"™ para admitir que sou “este principio ativo e me encontro com que ndo posso renunciar a esta situ- ago sem renunciar a mim mesmo”, a Intuicao Intelectual é aqui “uma consciéncia especial e, por certo, imediata, isto é, de uma intui¢ao que é uma intuicao da mera atividade, a qual nao é nada estavel, mas sim algo que se escapa, que é um viver, e ‘no um ser (pols nao se dirige a algo material permanente)", © Rbbase da nuance do “ato de abstraeao" exigito ae sujito, no espago concedid ainda auma escolha livre para referi tal ato editigi-o coisa ou a inteligéncta, mostramse os limites que circunscrevem cada uma das abordagens metidicas possiveis, “© FICHTE, 26, p.515 (Sp. 102). © ICHTE, Zp. 464 (SI, p. 51). ® FICHTE, ZE, p. 465 (SI, p. 51). Sobre essa atuagZo da Intuigfo Intelectual, complementa Pichte: ‘Proponho-me fazer esta ou outra cosa determinada, ea representapao de que a faco tem efetivamente lugar. sto 6m feto de conscincia, [Mas] Se oconsidero segunda a leis da canseléncia meramente sen- sfvelnele no se dé nada mais que o dit, uma sucesso de certas representagdes. 56 teria consciéneia [aqui] de ta sucesso no decurso do tempo, endo elo a tnica que eu poderia afirmar.” RICHTE, Zp. 465 (S1,p. 51), ® RICHTE, 26, p. 463 (SI, p. 50). FICHTE, 26, p, 463 (SI, p. 50). * FICHTE, 2, p. 465 (SI, p. 52) ® FICHTE, 28, p. 465 (Shp. 52). ‘“FICHTE, 25, p. 468 (SI, p. 52}. ( Fim do Estatuto Transcendental da Razio? Conjronto Fiche vs Schelling 393, E, neste sentido, completa, “nao posso ver-me atuanda sem ver um objeto sobre o qual atuo, em uma intuigdo sensivel que é conceitualizada, sem esbogar ‘uma imagem daquilo que quero produzir, o qual é igualmente conceitualizado"’ Ou seja, visto nao pode haver outra via, exceto a via da abstragao, para clevar~ -se acima da experléncia, esses dois elementos, coisa e inteligéncia, sie 0s tinicos elementos constitutivos na consciéncia da experiéncia, mas nem par isso os dois, encampados pelo sistema do dogmatismo (que refere o ato de abstragao e dirige-o coisa, “por inclinagao") e pelo sistema do idealismo (que refere o ato de abstracao ¢ dirige-o a inteligéncia, "por interesse"), apresentam ao mesmo tempo as mesmas condigées de legitimidade para modelo filoséfico auténtico. As condigdes necessarias para tanto so aleangadas s6 pelo Sistema do ide- alista, na medida em que s6 ele possui 0 “conceito” dessa liberdade de pensar ou desse tipo de liberdade de atuar. Esse conceito refere-se a0 pensamento do Eu ("Bu" como “sentimento de uma pura necessidade" no pensamento"), pelo e para o fil6sofo, que nao esta fundado em algo fora do pensamento, no sentido de assentar © pensamento de Si préprio noutra coisa que nao no pensamento mesmo". Se uma auténtica explicagao transcendental nao pode prescindir do atuar puro ou da capacidade inteligivel da razdo para organizadora da experiéncia (tan- to dos elementos sensiveis como inteligiveis), é legitima a apropriacio por Fichte da questo motivada pelo texto kantiano, Porém, ao atender & fundamentasao do Idealismo transcendental de modo sistemético, a abordagem de Schelling, exposta no texto Cartas Filoséficas sobre 0 Dogmatismo e o Criticismo (179), se contrapos dada por Fichte. ® PICHTE, 2, p, 464 (Sl, p, 50), Continua Fichte:"E como se o que quero produ, e como poderia sabé- ose no é contemplando-me imediatamvente na busco do canceita do fim, ou, se se quiser,em umn aan?” em vireude disso que, diz, “(-) a qualquer um cabe muito bem mastrar-The, na prépria experiéncia reconhecida por ele mesmo, que esta Incuigdo Incelectual se dé a todo momenta de sua conscigncia”. © Como observa Fichte, tratase do “sistema ds representopdes acompanhadas de um sentimento de rnecessidade" que, como tal, requer ser demonstrad em conformidade com itn fundamento, e nfo Ser detxado carente de fundamentacio, 0 mesmo t6plco seré retemado na abordagem de Fichte no texto de 1900, nie incluido nas Obras Completas de Immanuel Hermann Fichte, mas publicado em 1921 por Friedrich Meyer, com o tito: “Um texto desaparscido de Fichte’, em edisio fora de comérci, Intitr- lado Ankinigung einer neve Darstelling der Wissenschofslehre (Antincio de uma nova exposicao da Doutrina da Cincia ou ainda “Set sechs Jahren leg die Wissenschaftslelre’ Neste texto Fichte ques- ji que pretendem estabelecer ciéncia necesséria ¢ universalmente valida, partem de concei- ‘tas ey necessidade camo conceito vocés afrmam, isto dos quaisaftmam que a diversocoligido neles é SCHELLING, INph (IFN, p. 81). SCHELLING, INph (IFN, pp. 81-2). " Todavia, Espinosa s6 pode explicar “a partir da nosso natureza ideal a fato de termos representagdes das colsos fara de nds e de as nossas representagoes as ultrapassarem; mas 0 fata de a estas represen {agées corresponderem coisas reais teve de explicé-lo a partir de afeegbes determinagées do ideal em ‘nds'(INphy; IFN, p. 79}; ainda assim, ele ndo conseguiu tornar compreensivel “como & que existem ot podem exstr afecgdes e determinagdes num absoluto fora de min, dra Schelling, INph (IFN, p. 81). © SCHELLING, INph (IN, p. 77) "9 SCHELLING, INph (IFN, p. 79). “ SCHELLING, INph (IFN, p. 69). (O Fim do Estatulo Transcendental da Razao? Confronto Fiche vs Schelling 399 400 espaso e o tempo, em seguida os conceitos de substncia e acidente, causa e efeito, etc", ¬ério que uma interpretago como a de Espinosa, para quem “conceites e coisas, pensamento ¢ extensdo, eram uma ea mesma coisa, ambos apenas modifica pies de uma e mesma natureza [36] ideal", nao poderia ser sendo “em oposigdo ao ideal, que nés nos tornarfamos conscientes do real, assim como néo nos tornariamos conscientes do ideal sendo em relagdo ao reat”. 0u seja, porque nao poderia haver nenhuma separagao entre as coisas reais, € a5 nossas representagdes delas, valia para Espinosa o pressuposto de que “afec- ses e determinagses num absoluto fora de mim”** fornecem o principio uniticador origindrio, sem poder ao mesmo tempo tornar compreensivel como nos tornamos = por meio dele ~conscientes destas sucessdes, na medida em que o mero “fato de ser representada por mim esta sucesstio e sé-lo com necessidade, resultava que as coisas e as minhas representagdes eram originariamente uma e a mesma coisa”. Avia corretiva proposta por Schelling para isso advém de uma reflextio mais acurada, que ensina, por fim, imediatamente, "a qualquer um que cada p6r em mim da identidade absoluta do finito e do infinito, tal como o pr fora de mim, é, mais uma ver, apenas © meu pér, ¢ que, portanto, aquele nao é, em si mesmo, nem um em mim, nem um fora de mim’ A questo requer ser reformulada: néio importa a pergunta acerca do modo como surgiu “fora de nés” isto o que chamamos “curso da natureza’, sendo antes perguntar “como é que se tornow real para nds aquela conexdo de fendmenos e a série de causas ¢ efeitos, denominada ‘curso da natureza””" Em vista disso, resulta “da consequéncia necessdria da nossa finitude o fato de ‘as representagies sesucederem em nds; (..) [e] 0 fato de esta série ser infindével, mos- tra que ela resulta de um ser em cuja natureza esto unidas finitude e infinitude™”. Ou seja, como fato inegavel, nés temos enfim apenas que pressupor que "a repre- sentagio de uma sucessdo de causas e de efeitos fora de nds € tdo necesséria para 0 nosso espirito como se pertencesse ao seu préprio ser ou esséncia’, € nisto, na natu- reza de nosso espirito - visto que para Espinosa “o comego do devir era tao incom- preensivel camo o comego do ser’®? - visto que “no seu sistema ndo havia qualquer passagem do infinito ao finito”*, ®SCHELLING, INph (IFN, p.77) SCHELLING, INph (IFN, p.81). " SCHELLING, INph (IFN, p.81). '© SCHELLING, INph (IFN, p.81) " SCHELLING, INph (IFN, p.81). ®* SCHELLING, INph, Fussnote (IFN, p83, nota) © Noutras palavras, diz Schelling: “como é que aquele sistema e aquela conexdo de fendmenos encantr- dram 0 caminko para 0 nosso esprit e como é que, na nossa representaga, atingiram a necessidade «com a qual somos orgados a pensé-los Ce, SCHELLING, INph (IEN, p69). © SCHELLING, INph (IFN, p.83). " SCHELLING, INph (FN, p81). ™ SCHELLING, INph (IFN, p81) Luciana Carlos Utteich Evidencia-se a partir daqui a pretensdo demonstrativa schellinguiana, como demonstragao da mitua dependéncia entre o Real e o Ideal, explicitada no dizer de que “a natureza deve ser o espirito vistvel, [e} 0 espirito, a natureza invistvel™, ambos sob a perspectiva do “devir™, Com isso Schelling inaugura, no interior da doutrina do Idealismo transcen- dental, uma perspiciéncia (Einsiche) do mundo e da natureza, alcangada na possi- bilidade de identificar o fundamento sistemdtico origindrio da razio, do ponto des- de o qual parece superado a perspectiva meramente “transcendental” da razio. A questio a ser consolidada adiante como meta, desenvolvida num texto mais tardio, raz de modo aprofundado essa discordancia em rela¢ao a abordagem transcen- dental da razdo, na medida em que Schelling primaré entao por distinguir, dora vante, como diz ele, “(..) entre o ser (Wesen), na medida em que existe, € 0 ser na ‘medida em que é mero fundamento (Grund) da existéncia (Existenz). [J4 que] Esta distingao é tao antiga como a primeira apresentacao cientifica desta filosofia Conclusdo Ambas as fundamentagbes, de Fichte e de Schelling, do Idealismo transcen- dental qualificam-se para fundar a razdo como auténoma, convertendo em primado © pensamento, em vez de o fenémeno. Entretanto, ambas as perspectivas sistemdti- cas nao sao intrinsecamente idénticas, apesar de comegarem por atender & escassa fundamentaso da doutrina do Idealismo transcendental elaborada por Kant. No fundo, a tOnica da questio do fundamento trata de que aquilo que apa- rece sé se manifesta a titulo de fendmeno, enquanto o fundamento mesmo nao se manifesta de modo algum, constituindo-se por isso em exigéncia da razao pura pressupor haver um puro “principio” do Sistema a fim de, por desfazer-se através dele da desconfianga em relacao as armadithas do sensivel, evitar sucumbir pela raziio no tralgoeio daquilo que € puro aparecer. Referéncias FICHTE, |. G. Erste Einleitung in die Wissonschaftslehre. Fichtes Werke. Berlin: Walter de Gruyter & Co, Vol I, 1971. —— Zwelte Einleitung in die Wissenschaltstehre, Fichtes Werke. Berlin: Walter de Gruyter &Co, Vol.I, 1971. ° SCHELLING, INph (IN, . 115). SCHELLING, INph (IFN, p. 87). Continua Schelling, dizendo: "De agora em diante todo odogmatisma é invertido deste 0 seu fundamento. Néo consideramos a sistema de nossus representasdes no se ser, ‘mas no seu devir’ * SCHELLING, Darstellung meines System der Philosophie (1801). SM, IV, PP, 106-212. (Exposigio do mou sistema de Filosofia), Publicado em 1801 na Zeitschrift fir spekulative Physi fundada por Schelling em 1798 para divulgar a nova filosofia da natureza, este texto fol publicado no volume IV, das Sémiliche Werke de Schelling, (0 Fin: do Estatuto Transcendental da Razio? Confront Fichtev ‘Schelling 401 402 Primera Introduccién de la Doctrina de la Ciéncta, Trad. José Marfa Quintana Cabanas. Madrid: Tecnos, 1987. Segunda Introduecién de la Doctrina de la Ciéncia. Trad. José Marfa Quintana Cabanas. Madrid: Teenos, 1987. A Doutrina da Ciéncia de 1794 (Grundiage der gesammeen Wissenschaftslehre). In: A Douerina da Ciéncia de 1794 e outros escritos. Trad. Rubens R. I. Filho. Sao Paulo: Abril Cul- tural, 1980 (Col. "Os Pensadores"), 1972. _— Sobre o conceito da Doutrina-da-Cigncia (Uber den Begriff der Wissenschajtslehre). In A Doutrina da Ciéncia de 1794 e outros escritos, Trad, Rubens RT. Filho. So Paulo: Abril Cultural, 1980 (Col, “Os Pensadores”), 1972, — Ensayo de una Critica de toda Revelactén, (Versuch einer Kritik aller Offenbarung. Trad. Vicente Serrano. Madrid: Biblioteca Nueva, 2002. 0 Programa da Doutrina da Ciéncia. (Seft sechs Jahren lag die Wissenschaftslehre). In A Dousrina da Ciéncia de 1794 e outros escritos. Trad. Rubens R. . Filho, S20 Paulo: Abril Cultural, 1980 (Col. "Os Pensadores"), 1972. HEIDEGGER, M. Kant y el problema de fa Metafisica. (Kant und das Problem der Metophy- sik). Ed. Fondo de Cultura Econémica, 1980. KANT, |. Kritik der retnen Vernunft. Werkausgabe: in 12 Banden. Hrsg, von Wilhelm Weis- chedel. Frankfurt am Main:Suirkamp, 1968. — Grtica da razio pura, Trad. Manuela Pinto dos Santos ¢ Alexandre Fradique Morujo. Lisboa: Calouste- Gulbenkian, 1990, SANTO AGOSTINHO. Confssdes: Trad. Angelo Ricci. Ed. Abril Cultural, (Col, Os Pensadores), 1973, SCHELLING, F. W. |. 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Luciano Carlos Utteich Nota preliminar Estes livros sio o resultado de um trabalho.conjunto das gestdes 2011/12 e 2012/3 da ANPOF e contaram com a colaborago dos Coordenadores dos Programas de Pés-Graduagao filiados a ANPOF e dos Coordenadores de GTs da ANPOF, respon- séveis pela selegdo dos trabalhos. Também colaboraram na preparacae do material para publicagao os pesquisadores André Penteado e Fernando Lopes de Aquino. ANPOF - Gestio 2011/12 Vinicius de Figueiredo (UFPR) Edgar da Rocha Marques (UFRI) Telma de Souza Birchal (UFMG) Bento Prado de Almeida Neto (UFSCAR) Maria Aparecida de Paiva Montenegro (UFC) Darlei Dall’Agnol (USC) Daniel Omar Perez (PUC/PR) Marcelo de Carvatho (UNIFESP) ANPOF - Gestio 2013/14 Marcelo Carvalho (UNIFESP) ‘Adriano N. Brito (UNISINOS) Ethel Rocha (UFRJ) Gabriel Pancera (UFMG) Hélder Carvalho (UFPI) Lia Levy (UFRGS) rico Andrade (UFPE) Delamar V. Dutra (UFSC) Dados Internacionais de Catalogago na Publicagio (CIP) Filosofia alema de Kant Hegel / Organizagio de Marcelo Carvalho, Viniclus Figueiredo, Sao Paulo : ANPOF, 2013. 770p. F487 Bibliografia ISBN 978-85-88072-14-5 1. Filosofia alema_ 2, Kanta Hegel 3, Filosofia -Histéria |. Carvalho, Marcelo Il, Figueiredo, Vinicius III, Encontro ‘Nacional ANPOF oD 100 |

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