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FICHAMENTO DE LEITURA
1. Panorama Geral
O livro tenta apresentar o que denomina ser o “pensamento jurídico crítico” através
de um compêndio das principais ideias e escolas, que são denominadas uma a uma,
inclusive com seus autores.
Tem o mérito de apresentar as ideias-chave de um modo bastante resumido, mas
peca, justamente por essa redução, por limitar em boa parte a compreensão do que
efetivamente pretende cada escola.
Em diversas passagens tem-se a impressão de estar diante de um livro de política e
não de direito, dada a clara intenção de dar primazia a postulados da política (e filosofia)
da libertação, do socialismo, do marxismo e neomarxismo e das críticas à globalização.
Basta ver os adjetivos constantemente utilizados em sentido pejorativo para chegar a esta
conclusão: globalização hegemônica; capitalismo alienante; práticas dominadoras, discurso
fetichizado, entre outros...
A redação recheada de citações torna um pouco cansativa a leitura.
2. Introdução
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Reconhece o autor que a teoria crítica deve ser “permanentemente questionada para
não incorrer em absolutizações e dogmatismos”, para evitar pseudoparadigmas críticos.
Apesar do respiro que aparentemente este ponto do capítulo traz, logo se vê que o
autor, ao utilizar a expressão pseudoparadigma crítico, entende que só a crítica pura (não
“pseudo”) é legítima e, por inferência, se deduz que não admitiria ele o permanente
questionamento desta crítica pura.
E, confirmando minhas impressões iniciais, reconhece o autor também que as
principais críticas à teoria crítica estão relacionadas à postura elitista (substitui-se o
parlamento por juristas), à falta de eficácia da postura prática política (claro, todo jurista
crítico quer ser apenas jurista de gabinete, não quer sair às ruas, como lembra Joaquim
Barbosa) (p. 13).
Reconhece também o autor que por vezes embora os teóricos críticos assumam um
discurso neomarxista e de crítica à cultura burguesa dominante, acabam não refletindo nas
atitudes pessoais a crítica à opressão social e à condição real das “massas espoliadas”.
Constata também que a teoria crítica não se vincula adequadamente com a práxis dos
movimentos sociais emergentes (p.15).
Sobre a teoria crítica há duas correntes. Para a primeira, é possível construir uma
teoria crítica do direito, como teoria do direito. Para a segunda, não é possível criar uma
teoria crítica específica; o que se tem é um “discurso de deslocamento ou um movimento
fragmentado por diferentes perspectivas metodológicas” (p. 23). Nesta última corrente
estão Leonel Severo Rocha e Luis Alberto Warat.
Para Leonel Severo Rocha a teoria crítica também adota as particularidades de um
saber dogmático e oculta objetivos políticos específicos. Enquanto a dogmática é
conservadora, o objetivo político da teoria crítica é a contestação. A teoria crítica, para este
autor, acaba “incidindo na inutilidade do mais profundo conceitualismo” (p. 27).
À crítica de Leonel Severo Rocha responde o autor que “recai num questionamento
fragmentado, relativista e niilista da teoria crítica do direito, apontando e detendo-se,
superficialmente, em seus excessos conceitualistas, em sua tendência camuflada de tornar-
se outra dogmática e em sua pouca eficácia como práxis decisória.
Pronto: estou com Leonel Severo Rocha! É justamente isso que me parece o a
teoria crítica. Conceitualismo que pretende tornar-se dogmático (não admite críticas).
Warat também identifica adequadamente os problemas da teoria crítica. Para o
autor, “se o pensamento jurídico tradicional é totalitário porque fala em nome da lei, a
teoria crítica é também totalitária porque fala em nome de uma “verdade social” (p. 30).
Digo mais: a teoria crítica fala em nome de um grupo de juristas, ao passo que o
pensamento tradicional fala em nome de uma lei que foi aprovada num congresso de
representantes do povo eleitos democraticamente.
E o mais interessante vem a seguir. Para Warat, os “teóricos críticos” praticam um
condicionamento através de controles hierárquico-administrativos para – suponho que nas
faculdades – estabelecerem restrições burocrátias à concorrência conceitual dos discursos
críticos. Justamente o que, tenho a impressão, ocorre na Ufsc.
Nos EUA a teoria crítica tenta revelar o grau de envolvimento do direito com as
relações de poder e com as ideologias dominantes. A Critical Legal Studies é a escola mais
conhecida, que inicialmente estudou autores do marxismo jurídico, como Pashukanis, mas
depois o repudiou.
Na França, num primeiro período, a manifestação do direito crítico tentava
evidenciar que o Direito e o Estado são fenômenos produzidos por contradições sociais e
que a apreciação neutra do direito apenas reforça a dominação gerada pelo modo de
produção capitalista (p. 40). No segundo momento acentuaram a dimensão social do direito
(p. 42). * O problema dessas descrições é serem exageradamente abstratas. Não é possível
diferenciar uma e outra escola e nem saber exatamente o que cada uma propõe para
“evidenciar as contradições sociais”...
Na Itália e na Espanha o “uso alternativo do direito” tinha como objetivo usar o
ordenamento jurídico vigente para uma prática jurídica emancipadora, voltada para setores
sociais e classes menos favorecidas. * também não explica em que especificamente isso
consistia...
Esta escola não tinha a intenção de formar uma nova teoria do direito, mas sim de
explorar as contradições do próprio sistema, buscando formas mais democráticas. Os
defensores do uso alternativo do direito propunham o alargamento do processo
hermenêutico nas instâncias menores, ocupadas por juízes mais jovens e mais sensíveis às
reivindicações populares.
Na Alemanha surge a teoria do direito como “reflexão transcendental”. Para esta
escola o direito só pode ser compreendido como fenômeno histórico-social e, portanto,
deve se modificar com a modificação da sociedade.
Na Bélgica a etnologia jurídica de François Ost tenta evidenciar a pluralidade de
formas de direito no tempo e no espaço. É impossível, para o autor, falar em essência única
do direito. Para ele, a lei não pode ser o instrumento exclusivo de regulamentação social. *
mas isso está tão claro já nos manuais dogmáticos de introdução ao direito: moral, família,
escola, tudo isso são instrumentos de regulamentação social...
No México o jurista Jesús Antonio de La Torre Rangel propõe uma intermediação
entre a filosofia da libertação e o direito. Para ele, deve-se buscar um jusnaturalismo
histórico, adequado à América Latina, que permita fugir da dominação normativa
burguesa.
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