Professional Documents
Culture Documents
Art. 1º Determinar que sejam adotadas por parte das autoridades de polícia judiciária militar
ações efetivas para o fiel cumprimento da missão constitucional do exercício da polícia
judiciária militar, quando da ocorrência de crime militar na área circunscricional sob sua
responsabilidade.
Art. 2º Determinar às autoridades de polícia judiciária militar para que mantenham contato
direto e contínuo com os responsáveis pelos órgãos de apoio necessário ao pleno exercício da
polícia judiciária militar, com atuação na sua circunscrição militar (Instituto de
Criminalística e de Medicina Legal, Polícia Civil, OAB, Ministério Público, Poder
Judiciário, Defensoria Pública, Conselho Tutelar), a fim de esclarecer a sua competência
legal e constitucional em relação aos crimes militares, bem como ajustar os meios
necessários para acionamento adequado dos referidos órgãos, quando necessário.
Art. 3º Determinar que o militar estadual que se acha em flagrante delito na prática de
qualquer crime militar previsto na lei penal militar ou na legislação penal comum (art. 9º do
CPM) seja imediatamente apresentado à autoridade de polícia judiciária militar competente.
Art. 4º Orientar que, mesmo constitucionalmente expressa a competência exclusiva da
polícia judiciária militar para apuração dos crimes militares, em havendo competências
investigatórias civil e militar concorrentes em local de crime, caberá à autoridade de polícia
judiciária militar preventa, a análise, no caso concreto, do compartilhamento de provas, bem
como avaliar a necessidade de franquear acesso ao local de crime à autoridade de polícia
judiciária civil.
Art. 5º Orientar que, em havendo necessidade, os Comandantes, Diretores e Chefes solicitem
instrução por parte da Corregedoria-Geral da Polícia Militar, dentro de sua disponibilidade, a
fim de atualizar e solidificar a doutrina de polícia judiciária militar ao efetivo sob suas
ordens.
Art. 6º Determinar aos Oficiais da Polícia Militar que orientem os militares estaduais sob
suas ordens para que atentem à instauração de possíveis procedimentos
investigatórios/apuratórios oriundos de autoridades sem atribuição legal para a persecução de
infrações penais envolvendo militares estaduais, frente ao novo texto legal do art. 9º do
Código Penal Militar.
Art. 7º Determinar aos Comandantes, Diretores e Chefes a ampla divulgação ao efetivo sob
suas ordens da presente portaria, bem como das alterações efetivadas pela Lei nº 13.491/17, e
o fiel cumprimento da Portaria nº 075/2013-CGC/PMPI, Portaria nº 275/2013-GCG/PMPI e
Portaria nº 098/2014-GCG/PMPI, as quais permanecem em plena vigência.
Art. 8º Orientações complementares serão editadas e difundidas pela Corregedoria-Geral da
Polícia Militar.
Art. 9º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação.
Contudo, é possível afirmar que a norma impugnada ofende frontalmente o art. 132
da Constituição do Estado do Piauí, verbis:
Art. 132. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais militares e
bombeiros militares do Estado, nos crimes militares definidos em lei, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, e as ações civis contra atos disciplinares
militares, cabendo ao Tribunal de Justiça decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação dos praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 27 de
17.12.08)
É o que será demonstrado a seguir.
Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal, por meio da ADI 2.950-AGr, proferiu o
entendimento de que
Portanto, deve-se destacar que todo o fundamento desta ação guarda relação com
violações frontais e diretas ao conteúdo da Constituição Estadual. Trata-se, portanto, de ação
de inconstitucionalidade direta, e não reflexa.
3. DOS FUNDAMENTOS
Daí se diz que as polícias civils estão incubidas das funções de polícia judiciária na
esfera estadual e apuração de infrações penais comuns, excetuadas as infrações de natureza
militar. Para tanto, na letra do art. 4º do Código de Processo Penal, a polícia judiciária (civil
e federal) vale-se do inquérito policial, que tem por objetivo a apuração de infrações penais e
de sua autoria.
Nessa trilha, a doutrina preconiza que sempre que se tratar de crime comum, a
atribuição de polícia judiciária é da Polícia Civil ou Federal, por meio do inquérito policial
e, quando se tratar de crime militar, a apuração cabe à polícia judiciária militar, por meio do
inquérito policial militar.
Por apego ao debate, importa consignar que a Lei 9.299/96 (aquela que incluiu o hoje
revogado parágrafo único ao art. 9º do Código Penal Militar, para definir a competência da
Justiça Comum aos crime militares dolosos contra a vida e cometidos contra civil) foi
questionada no bojo da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1494, ajuizada pela
Associação dos Delegados de Polícia do Brasil - ADEPOL, perante o Supremo Tribunal
Federal, em que se pretendeu discutir possível ofensa ao art. 144, §§1º e 4º, da Constituição
da República, ao possibilitar, a lei impugnada, a apuração dos crimes dolosos contra a vida
praticados contra civis por meio de inquérito policial militar. A liminar foi negada em
acórdão assim ementado:
Ocorre que quanto ao mérito, inexistiu decisão definitiva sobre o tema, já que a ação
foi extinta sem resolução, por ter entendido a Suprema Corte pela carência de legitimidade
ativa da Associação para deflagrar processo de controle concentrado de constitucionalidade.
Ademais, na linha do voto proferido pelo Min. Felix Fisher por ocasião deste último
julgado, não se pode ignorar a existência de um sistema constitucional de investigações
criminais preliminares, talhado em paralelo às regras constitucionais de competência
jurisdicional. Extrai-se da própria Constituição a adoção de uma correspondência material
entre o órgão responsável pela apuração do crime e o órgão jurisdicional responsável por seu
julgamento. É que ao fixar a atribuição dos órgãos de segurança pública para investigar as
infrações penais, a Constituição estabeleceu regras paralelas à competência jurisdicional, de
sorte que a atribuição para investigar corresponde à competência do órgão jurisdicional.
Pois bem. A hesitação que permeia o presente processo surgiu com a publicação da
Portaria nº 475, de 26 de dezembro de 2017, pelo Comandante-Geral da Polícia Militar do
Piauí. Vejamos.
A mens legis (mens iuris) que se extrai do citado ato normativo, a partir da análise
dos considerandos e dos artigos de seu bojo, é a de que competiria à Polícia Militar uma
primazia no acompanhamento e investigação policial, em detrimento da polícia judiciária
civil, mesmo que diante da concorrência de atribuições.
Tal fato gera na prática a uma recognição inconstitucional da atuação militar, que
passaria a ter poderes não legitimados, a exemplo do que dispõe o art. 4º da malfadada
Portaria que concede autonomia à autoridade militar preventa para analisar a conveniência e
oportunidade do compartilhamento de prova, bem como avaliar a necessidade de franquear
acesso ao local de crime À autoridade de polícia judiciária civil.
José Afonso da Silva1 ressalva que o alcance da lei para a definição dos crimes
militares não é irrestrito, sob pena de desbordar as balizas constitucionais sobre a matéria:
1
2 SILVA, José Afonso. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros. 2ªed. 2006, p. 588.
[…] 3. CRIMES MILITARES. São definidos em lei. Mas, como dissemos acima, há
limites para essa definição. Tem que haver um núcleo de interesse militar, sob pena
de a lei desbordar das balizas constitucionais. A lei será ilegítima se militarizar
delitos não tipicamente militares. Assim, por exemplo, é exagero considerar militar
um crime passional só porque o agente militar usou arma militar. Na consideração
do que seja “crime militar” a interpretação tem que ser restritiva, porque, se não, é
um privilégio, é especial, e exceção ao que deve ser para todos.
4. DO PEDIDO LIMINAR
À luz desta contextura, requer a concessão de liminar para suspensão da eficácia, até
final e definitivo julgamento desta ação, da Portaria nº 475, de 26 de dezembro de 2017, do
Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado do Piauí.
5. DO PEDIDO