Professional Documents
Culture Documents
arthur resende
X000x Resende, Arthur.
Limiares./Arthur
Resende. – São João del Rei: 2017.
78p.
1. Poesia brasileira. 2.
Poesia ― História e crítica. I. Título.
CDU
limiares
arthur resende
Indice
07 . Preliminares
Livro I
Passagem entre Deus e o Nada
12 . Autor de meu poema
13 . vocação
14 . formação
16 . irmandade com Álvaro de Campos
18 . prece ao passado
19 . chave-mestra (ou anti-lira da composição)
20 . nascedouro
21 . aprendizagem do silêncio
22 . anunciação
23 . prenúncio
24 . en-canto
26 . Éden ou Ítaca (cartograa de um mito)
28 . no Getsêmani
Livro II
Um Teatro de Eros
34 . Prólogo para um Teatro de Eros (ou o avesso de Dante)
36 . idílio
38 . estâncias
39 . teatro de Eros
40 . olhos nus
42 . meia foto
44 . anelo
45 . imitação de Ronsard
46 . porto
47 . torso belo de Diana
48 . rastro
50 . vigília de uma ausência
54 . romantismo (ou: sonhos de uma noite de verão)
56 . conssão do arcanjo (à guisa de epílogo)
Livro III
Memória das Mãos
64 . mão
66 . pecado original
67 . tempo
68 . memória
70 . destino
71 . 27 de dezembro
72 . a infância que me dei
76 . noturno
77 . res amissa
78 . Stella cadens (uma elegia)
79 . inefável
80 . canto nal (4 negativas)
“Repetir repetir - até car diferente.
Repetir é um dom do estilo.”
Manoel de Barros
[2] Para que se entenda o que denomino aqui por paisagem, é preciso
retornar brevemente aos gregos. Sua poesia é inteiramente paisagística porque é
mitológica, ou seja, ela não se pretende como invenção do “gênio artístico”,
entendido como princípio formal de criação constituído pela subjetividade do
homem, mas vem à luz como aparição e conrmação de um horizonte de
imagens em que já se movimentava a vida espiritual dos gregos: esse horizonte é
o reino dos deuses, o Olimpo. Os deuses não compõem, apenas, uma espécie
“imaginário” popular, do estilo de lendas mal-sabidas ou superstições. O mundo
como tal, entendido como arranjo, disposição e ordenação das relações,
anação de tensões limítrofes (tudo que o grego trazia na palavra kósmos) – esse
mundo era aparição mesma dos deuses. Só que os deuses jamais se mostram
em si mesmos, tais como são. Eles se mostram como mundo, o que signica:
sob a vestimenta da linguagem, do signicado. A linguagem, sendo o modo
como o mundo acontece, são as vestes e as máscaras dos deuses. O poema que
tem como lastro o divino traz à tona a linguagem ela mesma – que é o modo
como o divino aparece. Ao mostrar a linguagem, mostra o mundo: o ciclo das
estações, as esferas celestes e o mundo inferior, o movimento de auto-
reprodução da vida, tal como ele se verica de diferentes formas em diferentes
lugares, e também os homens e suas relações entre si, as convenções sociais
etc. (A poética grega desconhece a oposição entre phýsis e nómos, entre
natureza e convenção. Essa oposição nasce com a sofística e com a losoa)
Paisagem, portanto, é o horizonte pré-xado em que o divino se achega ao
homem, por meio da linguagem, tornado mundo. Sua xação é ela mesma
7
poética e, no entanto, a própria poesia a reete – novamente: círculo, impossibilidade
de uma causalidade, interpenetração entre dizer e aparecer, dizer e fazer.
[7] O destinatário do poema (aquele de quem e para quem ele fala) não
é esse nem aquele, mas sempre um qualquer. Mas qualquer não quer dizer
“indiferente” − é antes o singular, tal como ele é. Nesse “tal como” reside o enigma
8
maior do amor: não se ama isso nem aquilo, mas que o amado seja tal como ele é, e
que a sua existência seja irredutível e irreparável. O poema, onde tem lugar a
singularidade qualquer, é sempre um gesto de amor.
[10] A poesia aguarda no limiar de uma passagem, sem poder sair dali
− ela não vai mais a lugar algum, não sobe para Deus nem circunscreve
estâncias, moradias. Ela canta a innita transição sem destino: sua terra e
memória não são nenhuma pátria, mas os caminhos que não levam a parte
alguma; ela não conhece casas, mas andanças (poeticamente o homem
envereda sobre a terra); sua paisagem é movediça, não permanente; ela é uma
palavra pensada menos com os olhos, e cada vez mais com os pés...
9
LIVRO I
Passagem entre Deus e o nada
autor de meu poema
• • •
12
vocação
• • •
Manejar a palavra-instrumento:
13
formação
• • •
adiar o amor
e outras demências
guardar ciosamente
a paixão das coisas vãs
e ter um chão:
para saltá-lo
14
irmandade com Álvaro de Campos
• • •
16
• • •
17
prece ao passado
(ou à condição desaparecida)
• • •
18
chave-mestra
(ou anti-lira da composição)
• • •
a virar palavra-mundo
– Novo fôlego de vida –,
19
nascedouro
• • •
Entre o dizer
e a hesitação
palavras orescem –
silêncio solene
prenhe
de forças titânicas.
Entre o dizer
e a respiração
o carvão se derrama –
o desenho das letras
pretas
são os contornos do mundo.
Entre o dizer
e a ação
a mão força o traço –
faço
um sol de palavras,
visão das coisas e dos homens.
20
aprendizagem do silêncio
• • •
21
anunciação
• • •
22
prenúncio
• • •
23
en-canto
• • •
Fazer poesia
não é coisa que se busque –
não basta vontade rme
nem nada do que se julgue
próprio para tanto:
nem amor,
nem pranto,
nem trejeito de doutor.
Fazer poesia
é descansar na teimosia –
é andar de ouvido,
mas desatento
como quem quer agarrar o vento.
24
Éden ou Ítaca
(cartograa de um mito)
existir é pouco.
o que é a carne?
o que é o corpo?
Endiara Cruz, “existência”.
• • •
26
• • •
27
no Getsêmani
• • •
(1) A tentação:
Pai,
afastai de mim essa taça,
fazei com que ela passe
ao largo de mim. Priva-me
dessa amarga bebedeira,
não façais com que eu tome
do sangue e do vinagre...
Pai,
retirai essa taça,
dizeis: “Passa!
Vai,
afasta-te holocausto.
Meu lho tenha destino fausto,
não lhe suceda nenhum ai!”
Pai,
compadeça desse teu lho
e abrandai o caminho,
aplanai o Gólgota
tal como nossas máquinas
aplainam as diculdades,
tornando suave o fardo
a que condenaste o homem...
Todo o meu sangue
suo.
Toda a minha fala
soa.
Toda a minha vida
voa.
Todo o meu medo:
sou-o!
28
• • •
Pai,
toma por Tua a minha vontade,
e queira tal como quero.
Não sejas Tu a querer, mas Eu.
Acomoda-Te à mão humana
e a toda obra que procede do engenho.
Traga a felicidade agora e não depois.
Consagra-Te à ciência que nos franqueia o mundo,
e sanciona o momento em que comemos do fruto
como a hora da salvação.
Vem! Seja Tu mesmo a promessa de felicidade
que devotamos aos aceleradores de partículas
aos tubos de ensaio,
aos tubos de imagem,
à democracia...
Queira como quero,
como peço,
porque assim está escrito:
Pedi e vos será dado;
buscai e achareis;
batei e vos será aberto.
29
• • •
(2) A salvação:
30
• • •
31
LIVRO II
Um teatro de Eros
Prólogo para um teatro de Eros
(ou o avesso de Dante)
“L’amor che move il sole e l'altre stelle
Aqui parou, em ponto morto. Nem
Cometas hoje aciona, ou gestos de
Ternura move rumo aos eixos trêmulos
De seres enlaçados; nem desperta
Encantados centauros de seu sono.
Amor represo em ritos e remorsos,
Eros defunto e desalado. Eros!
Eras tão ledo enquanto não pregavam
No cume do obelisco de teu falo
Uma cruz, um talento de ouro, um preço,
Um prêmio, uma sanção... Desaba a noite,
A noite tomba, Iésus, e no céu
Da tarde, onde os revoos de mil pombas
Soltas pelo desejo de teu reino?”1
• • •
34
história − esse espaço é o mundo. Diferente de Caos, potência divina
desagregadora, que extraiu o Céu do interior da Terra, Eros é uma potência de
união. União que não é soma, mas disposição dos limites, das tensões que
retêm juntas duas oposições. Essa concórdia dos discordantes, promovida pela
potência erótica, foi batizada no limiar da losoa grega como Lógos. Costuma-
se traduzir Lógos por fala, discurso, razão, proporção... todas essas traduções
como formas derivadas de uma experiência fundamental: a experiência da
linguagem. O Lógos (linguagem) é “o uno discordante que consigo mesmo
concorda”, numa “harmonia de tensões opostas, como as do arco e da lira”
(Heráclito). Delimitação das oposições harmoniosas, a linguagem franqueia o
mundo. A linguagem é uma potência erótica por excelência.
Se o nosso tempo fez cessar a força de Eros, isso signica que ele fez
cessar o poder da linguagem de franquear o mundo. Amor e linguagem, contidos
em “ritos e remorsos”: o amor, na história do Ocidente, é um discurso para o qual
estamos permanentemente buscando uma gramática adequada, de tal sorte que
mesmo uma ausência total de gramática somente revela que sempre já nos
orientamos na perspectiva de uma. Na sanha de escrever adequadamente o
discurso amoroso, colocamos símbolos em sua fronte: “Uma cruz, um talento de
ouro, um preço, um prêmio, uma sanção...” Cristianismo, capitalismo,
hedonismo do consumo, narcisismo da conquista efêmera: o amor reduzido ao
coito é apenas umas das guras da linguagem reduzida à informação, passagem e
troca de “dados” em proveito de uma rede invisível, na qual jogamos a ilusão de
uma subjetividade, de um “Eu” autônomo, destinado a coisas como “felicidade”,
“prazer” etc. Mas as ilusões com as quais jogamos também jogam conosco. Em
seu jogo, a i-lusão é o próprio vedar da possibilidade de uma luz subitamente
irrompida, que possa iluminar o destino histórico do homem. A luz que falta é
exatamente aquilo que a humanidade pregressa chamava de deus. Na noite cada
vez mais trevosa da ausência de qualquer deus, resta perguntar ao último deles
(Jesus) de onde, no céu, se solta o reenvio do Espírito Santo, uma nova chama de
um desejo autêntico.
35
idílio
• • •
1. descobrir
2. encontrar
36
• • •
3. perder
37
estâncias
• • •
38
teatro de Eros
• • •
• • •
cantar-te já é perder-te.
39
olhos nus
• • •
Diante de ti,
de olhos nus,
despido até mesmo
de minhas ilusões mais tenras e duradouras.
Confuso, na noite iluminada de teu riso,
meu pranto não desce
nem a palavra soa.
Ficam ecos de fantasmas,
a vista turva e um gosto
acre
e um lugar sem horizontes.
Devo vestir meus olhos nus...
40
meia foto
• • •
I.
Segundo plano, à direita,
domina a paisagem inteira
42
• • •
II.
Na fala seca, resumida,
uma lição de teologia:
o mover-se em si da beleza.
43
anelo
• • •
teu corpo
teu corpo
teu corpo
de sonho
esguio
no frio
da noite
(que sorte!)
me esquenta,
arrebenta
as artérias,
o sangue,
as vias,
entradas
abertas,
entradas,
saídas,
entradas,
saídas,
gemidos,
suspiros, no sonho
delírio que tinhas
do gozo contigo,
(que esforço!) sentias
tão pleno,
sentias
tão perto
meu corpo
meu corpo
teu corpo
meu corpo
teu corpo
meu corpo...
44
Imitação de Ronsard
• • •
45
porto
• • •
“teu corpo,
meu porto”.
46
torso belo de Diana
• • •
47
rastro
• • •
A experiência do esquecer
– Mão dupla, que despista –
Aind’ ontem achou-me a vista
Como um rosto de mulher
48
vigília de uma ausência
• • •
I.
O meu amor ainda cabe
Nessas palavras vãs.
O meu amor ainda cabe
Nesse silêncio teu.
Nessa indiferença ainda
Cabe esse meu amor.
Cabe o meu amor ainda
Nos beijos todos que
Nunca poderei te dar,
E nas cartas de amor
Que nunca eu escrevera,
E também nos meus porres
Doidos, que eu tomaria se
Ainda fosse doido.
Cabe, o meu amor cabe
Nas minhas horas, nas
Gavetas do meu armário,
No meu trabalho, nas
Noites de insônia e nos
Sonhos que ainda tenho.
50
• • •
II.
Eu penso, e você ainda está comigo.
Pensar em ti é ter-te de novo ao meu lado.
Posso ainda pensar-te – isso ao menos a vida deixou −
E o meu pensamento é todo meu exterior.
III .
Numa noite assim, qualquer,
Em que o mundo é dança e salto,
Me peguei sonhando alto
Com um rosto de mulher.
51
• • •
IV.
Sumiste, e uma luz se apagou.
Na treva, resplandecem teus olhos
Enormes e circulares, vigiando
Meu sono intranquilo.
52
• • •
53
romantismo (ou: o sonho de uma noite de verão)
• • •
54
• • •
aguarda inquieto, na
ante-sala da eternidade, o enlace
a um só tempo denitivo
e impossível.
55
conssão do arcanjo (à guisa de epílogo)
• • •
• • •
56
Não é qualquer coincidência que as representações tardias de Eros,
lho de Afrodite (na tradição latina nomeado Cupido) sejam muito próximas da
forma convencional do arcanjo. Nelas, o amor é apresentado, e mesmo
intimamente compreendido, como um anunciador: Eros é o portador de uma
imagem que ele anuncia e proclama perante aquele que ama. O amante é aquele
que está enleado por essa imagem, foi por ela capturado e a tem em vista
permanentemente. Por isso a representação tradicional de Eros como um jovem
anjo, munido de dardos os quais dispara inconsequentemente: os feridos de Eros
são acometidos por uma imagem proclamada, trazida pelo deus.
Uma tal estância pode ser a poesia: “Como se ela restituísse”, escreve
Arnaldo Antunes, “através de um uso especíco da língua, a integridade entre
nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de
separar no decorrer da história”2. Se o discurso poético é não só aquele
característico pela cesura costurada entre forma rítmica e semântica (a
“permanente hesitação entre o som e o sentido” [Valèry]), mas também aquele
que costura uma cesura entre signo e coisa, entre palavra e mundo, no qual este
é fundado e manifesto por meio daquela, então o amor tem lugar por excelência
no discurso poético − fato que não pode mais ser considerado como
“ocasional”, como simples acidente na história da literatura. Que o amor tenha
lugar privilegiado na poesia, isso não é da ordem de uma escolha aleatória de
“temas” para a composição poética. O amor encontra, no discurso poético, um
lugar de restituição entre a imagem amada e o sujeito dessa imagem − a fratura
aberta pelo anúncio do arcanjo Eros é cerzida, o amor encontra seu sentido, seu
Lógos mais próprio. O poeta é o amante que pode apoderar-se da imagem
2
. ANTUNES, Arnaldo. Como é que Chama o Nome Disso (Antologia). 2.ed. São Paulo: Publifolha, 2009,
p. 323.
58
amada sem morte, ainda que não desfrute do sujeito da imagem. A imagem
amorosa, antes tencionada entre mim e o outro, seu sujeito, agora ganha lugar: o
altar de uma eternidade frágil, transitória − a “letra do verso”3.
3
.A única, ou talvez a principal investigação sobre o lugar privilegiado do amor na poesia foi levada a cabo
por Giorgio Agamben no ensaio "A Palavra e o Fantasma: A teoria do fantasma na poesia de amor do
século XIII", que aparece como a terceira parte do livro Estâncias (cf.: ed. bras.: AGAMBEN, Giorgio.
Estâncias: A palavra e o fantasma na cultura ocidental. Trad. de Selvino José Assmann. Belo Horizonte:
UFMG, 2007, p. 117-214.). .
59
Para Alison Oliveira,
δημιουργὸς καὶ ποιητής.
LIVRO III
,
Memorias das maos
mão
• • •
I.
À mão
o homem tem um mundo
em torno.
Dito e disposto
o mundo fosco
lhe atente à palma
estendida,
pendida no nada
de todas as coisas.
A mão
do homem faz aquilo
que lhe vem ao encontro
– faz palavra, coisa e mundo
e deixa um sentido raso
a ser escavado
mais fundo
por outras mãos.
II.
As mãos dos homens são temidas
por seus poderes
e seus revezes
64
• • •
III.
Mão fechada
– enigma.
Mão aberta
– ato.
A cada ação da mão
um novo parto,
e uma superfície
nasce do abismo.
IV.
Homo sapiens,
faber,
ludens...
Em todos os nomes
dos homens,
a designação muda
de nossa origem oculta:
Todo humano
– Homo manus.
65
pecado original
• • •
Adio indenidamente
talhar o torso de Minerva
reluzente em meu espírito.
Uma Vênus
sem braços
esculpo
e depois
me culpo.
66
tempo
• • •
67
memória
Para meu pai.
• • •
a persistente visão
dos espaços desaparecidos:
68
• • •
69
destino
• • •
70
27 de dezembro
• • •
71
a infância que me dei
• • •
72
• • •
73
• • •
74
noturno
• • •
Há ainda os remédios
aos que têm pressa:
cianeto,
cicuta,
acônito,
arsênico...
76
res amissa
para Christiane Costa
• • •
77
Stella cadens
(Uma elegia)
à memória de Stella Sampaio
• • •
a morte consolidou
o silêncio, suspendeu
as palavras, deixou
nosso próximo encontro
innitamente adiado,
sua presença innitamente
passada.
09/set./2015.
78
inefável
• • •
79
canto nal
(4 negativas)
• • •
I.
deposta a vaidade
e nos resta apenas
os ossos. um hálito
vão é toda aspiração.
os desejos preenchem
os vazios do mundo.
realidade, para nós, é
tudo quanto a vida diz
NÃO.
80
• • •
II.
a página em branco
a faca sem corte
o copo sem borda
o prego sem ponta
o lápis sem ponta
a memória sem fotos
a parede vazada
a palavra não dita
a fonte estancada
a torneira seca
o corpo sem o outro
o amor sem o outro
o outro fora das jaulas
das conexões em rede
em sua selvageria viva
as inúmeras impossibilidades
que o mundo contém em segredo −
81
• • •
III.
o rei Édipo
tinha os dois olhos sãos
mais os olhos da razão
e não via.
IV.
meu bom deus,
colha-me do jardim do mundo
e transmuta em mim essa pobreza.
lembres que sou homem,
feito de pó e palavra,
e devolvas, assim, o pó a terra
de que pertenço,
e minha palavra, deixai soar
indenidamente
nos grandes silêncios da humanidade.
82