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22 DE JANEIRO DE 2016


Um pequeno stop para esclarecer dúvidas

*por Rodolfo Amstalden, Analista CNPI

Caro Leitor,

Nesta edição, contemplaremos a importante demanda do assinante


Alexandre S:

“Gostaria de saber qual é a estratégia proposta para venda dos


ativos, tanto no caso de ganhos quanto de perdas (stop gain e stop
loss)”.

Antes de entrarmos no mérito da resposta, convém alinhar o conceito de “stop gain" e “stop
loss” entre todos os leitores.

Stops são pontos de saída pré-concebidos para determinado investimento que possua
liquidez ao longo de seu carregamento.

Funcionam, mais ou menos, como horários marcados para ir embora. Independente de a


festa estar boa ou ruim, você deve sair logo antes da meia-noite para não virar abóbora.

Dessa analogia se deduz que é mais fácil ir embora quando a festa está ruim (prejuízos) do
que quando a cerveja está gelada e aquela gata está dando bola para você (lucros).

No caso do stop gain, define-se a priori qual é o lucro pretendido com a operação. Assim que
esse lucro é atingido, damo-nos por satisfeitos e fechamos o trade.

Já no stop loss, estipula-se uma tolerância a eventual prejuízo. Se, por exemplo, uma ação que
comprei cair -30%, estou fora. É a máxima perda que eu conseguiria aguentar.

Graças a sua implementação antecipada - e, em alguns casos, até mesmo automatizada via
homebroker - o stop loss/gain se enquadra num conjunto de regras que nós, economistas
comportamentais, chamamos de “estratégias de compromisso”.

Estratégias de compromisso são empregadas sempre que nosso lado racional deseja limitar
as escolhas futuras de nosso lado impulsivo.

1
Por exemplo: como um fumante moderado, Joãozinho deseja restringir o número de cigarros
tragados por semana; portanto, em vez de estocar packs de cigarro em casa, Joãozinho
deliberadamente compra avulsos em bares, mesmo ciente de que está pagando um pouco
mais caro por isso. Se o pack estivesse sempre ao alcance, ele fumaria muito mais.

O exemplo pode parecer um pouco distante de nosso caso de interesse, mas não é. Grandes
altas ou grandes quedas da Bolsa são capazes de produzir efeitos análogos aos do vício em
nicotina, despertando vendas e compras por puro impulso.

No entanto, mesmo reconhecendo a utilidade prática dos stops, eu não os recomendo aos
assinantes do Aposentadoria, por um motivo muito simples. Desde o início, assumi a
responsabilidade de comunicar a todos sempre que chegada a hora de um desinvestimento -
seja pelo lado bom dos lucros, ou pelo lado ruim (mas necessário) dos prejuízos.

Você deve se lembrar que já fiz essa comunicação por duas vezes, respeitando motivos bem
diferentes.

Na primeira ocasião, optei por fechar a recomendação de BRCR11, devido àquilo que
considerei um desvio de governança do BTG, propondo a transferência de dívida para o BC
Fund através da assunção de ativos da BR Properties.

Sinto-me contente por ter adotado uma postura radical na ocasião. Afinal, saímos de BRCR11
ao preço de R$ 109,70, muito acima da cotação atual de R$ 82,00. Evitamos, assim, um grave
prejuízo ao portfólio, colhendo os benefícios do stop loss.

Na segunda ocasião, encerrei o trade com MXRF11 embolsando lucro de +19,76%.

Se eu estivesse pautado exclusivamente pelo ganho com Maxi Renda, provavelmente não
teria aplicado um stop gain sobre uma variação de +19,76% em pouco mais de um ano - que
é agradável, mas não maravilhosa.

Só acionei o stop gain neste caso pois enxerguei uma oportunidade comparativamente
melhor no mercado, identificando desconto interessantíssimo em THRA11B.

Com isso, quero me fazer entender que sou a favor dos conceitos de stop gain e stop loss,
mas sou contra sua automatização, pois os motivos de saída variam muito.

Ou seja, deixando travas de investimento na mão de robôs, você pode acabar abortando uma
operação pelo motivo errado.

Aliás, temos dois exemplos icônicos desse risco em nossa carteira de ações. Exemplos esses
que despertaram a curiosidade do leitor Alexandre.

Refiro-me, é claro, ao stop gain que poderíamos ter acionado em cima de RADL3 (valorização
superior a +100% desde a entrada) e ao stop loss que também poderíamos ter acionado,
desta vez embaixo de ESTC3 (desvalorização superior a -50% desde a entrada).

Por que não agimos de forma automatizada nesses dois casos? Será que eu dormi no ponto?

2
Não trabalho com stops formais, principalmente em carteiras que visam o longo prazo, pois
não me deixo referenciar pelos preços de mercado.

Na economia real, preços podem funcionar como bons indicativos de qualidade (embora nem
sempre). Na economia monetária, essa relação é frequentemente espúria, e até mesmo
inversamente proporcional.

Os preços refletidos na tela do seu homebroker teimam em se descolar dos fundamentos das
empresas listadas - seja em nome da euforia, seja em nome do pânico.

Isso posto, entendo que preços de mercado são extremamente úteis para gerar grandes
oportunidades de investimento, mas não para limitar essas oportunidades.

Comecemos pelo caso da Estácio. Ok, a empresa sofre com a exterminação do FIES e, por
tabela, com a deterioração da macroeconomia doméstica. Contudo, seus fundamentos de
médio e longo prazo continuam integralmente preservados. A companhia ostenta um
histórico e um prognóstico de lucros e de geração de caixa. Que razão eu teria em vender
ESTC3 logo agora que eu tenho a chance de comprá-la ainda mais barata?

No caso de Raia Drogasil, o raciocínio não é muito diferente. A ação subiu muito, demos sorte.
Ao mesmo tempo, a empresa progrediu muito também. Promete margens melhores, que
transbordam para lucros maiores. Seus concorrentes quebram enquanto ela prospera.
Portanto, não ficou mais cara. Ganhou o prêmio que mereceu. Eu não vendo ações que fazem
por merecer.

Perceba que o stop, per se, não faz o juízo de valor entre o quantitativo e o qualitativo. Ele só
serve para garantir prazeres psicológicos ou evitar danos psicológicos. Não consegue
administrar prazeres e danos financeiros a médio e longo prazo.

Alexandre poderia ainda perguntar: e no caso de ITUBC63? Nem mesmo nossa call de Itaú,
dilacerada indiretamente pela China, mereceria um tratamento mais bruto?

No caso da compra de opções como ITUBC63, eu trabalho sim com stop. Todavia, não da
forma tradicional.

Nosso stop, nesses contextos, é definido na própria montagem da operação, por meio do
tamanho do investimento alocado.

Por isso, fiz questão de alertar duzentas vezes que o investidor deveria aplicar apenas uma
pequena cifra em ITUBC63; cifra que ele estivesse 100% disposto a perder.

Inclusive, esse tipo de stop é o melhor que existe, pois a decisão já está tomada. Ninguém é
levado pela tentação de violar o stop para conseguir mais um pouquinho de ganho ou
esperar mais um pouquinho pela recuperação do ativo. É melhor que o ímpeto seja refém da
razão do que o contrário.

Até a próxima!
Rodolfo Amstalden
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Alocação Geral
Renda Fixa (60%) Moeda Forte (10%) Ações (25%) FIIs (5%)

RADL3 HGCR11
Referenciado DI (15%) Conta no Exterior
(2,5%) (1%)

EMBR3 SAAG11
Indexado IPCA (25%) Fundo Cambial
(2,5%) (1%)

USD ou GBP em CTIP3 BBVJ11


Prefixado (20%)
espécie (2,5%) (1%)

ABEV3 KNRI11
(2,5%) (1%)

UGPA3 THRA11B
(2,5%) (1%)

ITUB4
(2,5%)

TOTS3
(2,5%)

CYRE3
(2,5%)

BVMF3
(2,5%)

ESTC3
(2,5%)

4
Carteira de Ações

Ativo Data Entrada Preço Entrada* Preço Atual Var Teto

RADL3 4-Jul-14 18.58 37.81 103.50% 35.00

CTIP3 23-Mai-14 26.44 38.26 44.70% 35.00

EMBR3 20-Jun-14 20.59 27.09 31.57% 26.00

ABEV3 9-Mai-14 15.43 16.32 5.77% 20.00

UGPA3 25-Abr-14 54.05 55.14 2.02% 60.00

BVMF3 29-Ago-14 12.11 10.08 -16.76% 14.00

ITUB4 15-Ago-14 30.46 23.12 -24.10% 40.00

TOTS3 1-Ago-14 38.72 28.38 -26.70% 42.00

CYRE3 6-Jun-14 12.60 7.30 -42.06% 14.00

ESTC3 18-Jul-14 27.55 11.15 -59.53% 28.00

Carteira de Fundos Imobiliários

Ativo Data Entrada Preço Entrada* Preço Atual Var Teto

HGCR11 21-Nov-14 748.28 920.00 22.95% 950.00

THRA11B 4-Dec-15 54.98 57.00 3.67% 65.00

SAAG11 7-Nov-14 77.46 82.20 6.12% 92.00

KNRI11 06-Mar-15 99.54 102.00 2.47% 120.00

BBVJ11 26-Set-14 53.66 48.51 -9.60% 60.00

Trades Fechados

BRCR11 11-out-14 111.28 109.70 -1.42% Fechado

MXRF11 24-out-14 70.81 84.80 19.76% Fechado

(*) Os preços de entrada são ajustados por eventos de custódia, conforme já explicado nos relatórios.

5
Gaveta de Trader

Ativo Data Entrada Preço Entrada* Preço Atual Var Teto

ITUBC63 30-Dez-15 0.98 0.17 -82.65% 1.20

Trades Fechados

6
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