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PROJETO ALTERNATIVO DE

DESENVOLVIMENTO RURAL
SUSTENTÁVEL (PADRSS)
Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável (PADRSS)
Através de uma ampla e massiva reforma agrária e da valorização e fortalecimento da agricultura familiar.

Introdução O 7º Congresso Nacional de Trabalha- volvimento humano dos diferentes pa-


dores e Trabalhadoras Rurais, reali- íses: esperança de vida, nível educaci-
O processo de modernização da agri- zado em 1998, aprovou os pontos cen- onal (alfabetização de adultos e escola-
cultura brasileira - conservador, par- trais que deveriam nortear a construção ridade nos três níveis) e PIB real per
cial, excludente e ecologicamente in- e implementação do PADRS, que são capita.
sustentável - acelerou a exclusão social apresentados abaixo.
O MSTR entende, portanto, que o de-
e a degradação ambiental no campo
As mobilizações do Grito da Terra senvolvimento deve incluir cresci-
brasileiro, incrementando a luta por
Brasil foram, por sua vez, os espaços mento econômico, justiça, participação
reivindicações históricas do Movi-
de formulação e articulação das de- social e preservação ambiental. Este
mento Sindical dos Trabalhadores e
mandas por políticas voltadas para um desenvolvimento deve privilegiar o ser
Trabalhadoras Rurais - MSTR, que
novo desenvolvimento no campo. O humano na sua integralidade, possibi-
surgem para superar os prejuízos soci-
Grito da Terra Brasil é a maior mani- litando a construção da cidadania.
ais e políticos causados pelo modelo
festação nacional do Movimento Sin- Neste caso, as questões econômicas
agrário e agrícola imposto ao país. Este
dical dos Trabalhadores Rurais, reali- têm que estar articuladas às questões
processo de desenvolvimento e as re-
zada anualmente, para garantir a nego- sociais, culturais, políticas, ambientais
centes transformações no meio rural,
ciação com os governos federal e esta- e às relações sociais de gênero e raça.
mantendo o seu caráter concentrador
duais das principais reivindicações da
de terra e renda, criam demandas e exi- O que leva o movimento sindical dos
categoria.
gem respostas cada vez mais comple- trabalhadores e trabalhadoras rurais ao
xas por parte do movimento sindical. 1- Elementos centrais do PADRS - esforço de construir um projeto de de-
Projeto Alternativo de senvolvimento é, então, justamente a
Desde a sua origem, o MSTR tem
Desenvolvimento Rural Sustentável esperança de uma vida melhor para os
como um de seus eixos de atuação a
que vivem no campo e não possíveis
elaboração e a luta por propostas que
O ponto de partida para a elaboração e sonhos ou fantasias sobre as chances
possibilitem a melhoria das condições
implantação de um projeto alternativo dos países semi-periféricos entrarem
de vida das populações do campo. As
é a concepção de desenvolvimento. no primeiro mundo, ou sobre a possi-
lutas históricas têm buscado a valoriza-
Até recentemente havia uma identifi- bilidade de generalização dos padrões
ção do espaço rural como um local pri-
cação entre desenvolvimento e cresci- de vida do núcleo central.
vilegiado de transformação e imple-
mentação de políticas de inclusão so- mento econômico. Isto permitia que o Não se alcança este desenvolvimento
cial com profundas repercussões sobre desenvolvimento dos países fosse me- ou "esta vida melhor" com programas
o conjunto da sociedade brasileira. Foi dido apenas pelos níveis da renda per de combate à pobreza. É fundamental
com esse espírito que a CONTAG, ao capita. Esta identificação, porém, tem criar políticas e programas voltados
longo de sua história, empunhou as sido amplamente contestada especial- para a distribuição de renda. Segundo
bandeiras da luta pela reforma agrária, mente porque crescimento e desigual- estudos realizados por Ricardo Paes de
por uma política diferenciada para a dade social têm andado lado a lado. Barros, pesquisador do IPEA, um cres-
agricultura familiar e pelos direitos dos Análises que levam em conta apenas a cimento contínuo de 5% ao ano no
assalariados rurais. renda per capita mascaram o grau de Brasil levaria a uma redução de 13%
concentração da riqueza numa socie- no grau de pobreza em uma década.
A busca de alternativas ao atual mo-
dade. Estes estudos demonstram a importân-
delo de desenvolvimento motivou as
O debate sobre o significado real de cia da criação de políticas com cunho
delegadas e delegados do 6º Congresso
desenvolvimento levou a estudos para distributivo e não apenas programas
Nacional de Trabalhadores Rurais, re-
estabelecer parâmetros capazes de ava- assistenciais de erradicação da po-
alizado em 1995, a iniciar o debate e
liar o nível de vida das pessoas de uma breza.
afirmar a necessidade de formular um
Projeto Alternativo de Desenvolvi- forma mais adequada. A criação do Ín- É importante também salientar que
mento Rural Sustentável. Este debate dice de Desenvolvimento Humano existem cada vez maiores evidências
teve continuidade em várias iniciativas (IDH) é fruto deste esforço por uma de que o próprio crescimento dos paí-
de âmbito nacional, estadual, regional melhor avaliação da qualidade de vida ses chamados de economia semi-peri-
e municipal. Os seminários regionais em cada país. Este índice inclui três di- férica depende da redução das desi-
de desenvolvimento alternativo, pro- mensões básicas de desenvolvimento: gualdades. Vários estudos econométri-
movidos pela CONTAG, em 96, e a re- longevidade (viver uma vida longa e cos demonstraram que níveis de desi-
alização do projeto de pesquisa e for- saudável), conhecimento (ser instru- gualdade como os do Brasil dificultam
mação da CUT/CONTAG, foram os ído) e padrão de vida (gozar de um ní- ou mesmo impedem o crescimento
momentos ímpares de elaboração e sis- vel de vida adequado). A partir daí se econômico. Baseado nestes estudos, o
tematização de propostas. criou três variáveis para medir o desen- diretor do Instituto de Desenvolvi-
mento Social do BID afirmou que "a

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redução das desigualdades, além de ser 2- A luta pela reforma agrária de redistribuição é ainda mais necessá-
fundamental para uma sociedade e bá- ria nas regiões com maior concentra-
sica para uma democracia, é estraté- A reforma agrária, neste contexto, é o ção fundiária.
gica para a obtenção de desenvolvi- principal instrumento político para a
A consolidação dos assentamentos de
mento real e sustentado". ruptura com o atual modelo de desen-
reforma agrária representa a passagem
volvimento excludente, concentrador
O MSTR entende que não há desenvol- dos trabalhadores e trabalhadoras de
de terra e renda e reprodutor do poder
vimento no meio rural sem educação, um quadro de exclusão para o de inser-
oligárquico. É um instrumento essen-
saúde, garantias previdenciárias, salá- ção produtiva. Para isto, são necessá-
cial para promover o desenvolvimento
rios dignos, erradicação do trabalho in- rias linhas de crédito especiais, assis-
democrático da agricultura e o resgate
fantil e escravo, respeito à auto-deter- tência técnica e investimentos em in-
da cidadania para milhões de trabalha-
minação dos povos indígenas e preser- fra-estrutura social e produtiva, volta-
dores e trabalhadoras que, expulsos da
vação do meio ambiente. As lutas das das à organização da produção e ao
terra, se viram excluídos do processo
trabalhadoras e trabalhadores pela bem-estar das famílias assentadas. A
produtivo.
terra, política agrícola diferenciada, formação profissional e os instrumen-
políticas sociais e direitos trabalhistas A democratização da propriedade da tos de política de desenvolvimento,
se inserem, portanto, na construção de terra impulsiona a democratização do como créditos e outros, devem ser apli-
um projeto alternativo de desenvolvi- poder político, econômico e social. cados imediatamente após o assenta-
mento baseado na expansão e fortale- Promove a geração de emprego e ocu- mento dos trabalhadores e trabalhado-
cimento da agricultura em regime de pações produtivas para todo um seg- ras. Devem também ser garantidos re-
economia familiar. mento sem alternativas de inserção so- cursos orçamentários para a cobertura
cial e produtiva, a eqüidade, sustenta- do total de assentamentos realizados
O eixo central das estratégias deste de-
bilidade ambiental e o desenvolvi- no País, bem como a imediata legaliza-
senvolvimento, preconizadas pelo mo-
mento das comunidades envolvidas, ção da área.
vimento sindical, é a ampliação das
processos essenciais para o fortaleci-
oportunidades de emprego e renda no Portanto, a reforma agrária só terá sus-
mento da agricultura familiar e a cons-
meio rural. Ocupa um lugar privilegi- tentabilidade econômica e social se es-
trução de alternativas de desenvolvi-
ado nestas estratégias, a realização de tiver inserida num contexto de políti-
mento para o País.
uma ampla reforma agrária, como um cas globais de valorização e ampliação
instrumento fundamental na expansão, A realização de uma verdadeira re- do papel estratégico da agricultura em
fortalecimento e viabilização da agri- forma agrária deverá tocar, portanto, regime de economia familiar para o de-
cultura familiar. nos pilares que fundamentam a exclu- senvolvimento do país.
são social e o frágil desenvolvimento
A geração de emprego e renda não se 3- A agricultura familiar e a poten-
brasileiro, promovendo a inclusão so-
resume, evidentemente, à expansão e cialização do desenvolvimento
cial, a formação e a consolidação de
fortalecimento da agricultura familiar.
um forte mercado interno no País.
Ela inclui a melhoria das condições de A opção pela agricultura familiar se
vida de imensos contingentes de assa- Um amplo processo de mobilização de justifica pela sua capacidade de gera-
lariados agrícolas e a criação de outras massa, a exemplo da ocupação dos la- ção de emprego (da família e de ou-
ocupações rurais não-agrícolas e "ur- tifúndios improdutivos, força as desa- tros) e renda a baixo custo de investi-
banas" no campo. propriações e quebra a espinha dorsal mento. A sua capacidade de retenção
do conservadorismo, pois ataca o po- da população fora dos grandes centros
Da mesma forma, não é possível pen-
der econômico e político do latifúndio. urbanos é fator fundamental na cons-
sar em qualidade de vida, sem se preo-
Aliada à imediata regularização das trução de alternativas de desenvolvi-
cupar com a qualidade do ambiente em
terras ocupadas por posseiros e possei- mento. Sua capacidade de produzir ali-
que as pessoas vivem. É preciso tam-
ras, a implantação de um programa de mentos a menor custo e, potencial-
bém, pensar a soberania alimentar, pa-
crédito fundiário e de um massivo mente, com menores danos ambien-
drões de desenvolvimento agrícola di-
apoio à consolidação da agricultura fa- tais, impulsiona o crescimento de todo
versificados e sustentáveis a longo
miliar, são fundamentais na construção o entorno sócio-econômico local. A
prazo, que restaurem as condições eco-
de alternativas de desenvolvimento. falta de incentivos à agricultura fami-
lógicas da produção e respeitem o po-
liar tem gerado a marginalidade dos jo-
tencial de cada ecossistema, apoiando- A expansão da agricultura familiar de-
vens trabalhadores e trabalhadoras, en-
se nas bases científicas da agro-ecolo- pende de uma política agrária abran-
volvendo-as em drogas, prostituição,
gia. gente, que permita o acesso à terra a to-
gravidez precoce, etc..
dos os trabalhadores e trabalhadoras,
Neste sentido, é essencial qualificar o
sem terra ou com terra insuficiente A agricultura é, portanto, o principal
debate e o entendimento dos trabalha-
para assegurar o seu desenvolvimento, agente propulsor do desenvolvimento
dores e trabalhadoras rurais sobre a re-
sob o prisma da eqüidade, sustentabili- comercial e, conseqüentemente, dos
lação entre meio-ambiente, qualidade
dade e competitividade. Esta política serviços nas pequenas e médias cida-
de vida e desenvolvimento, fortale-
des do interior do Brasil. Basta criar in-
cendo novas relações entre os seres hu-
manos e a natureza.
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centivos à agricultura para que se obte- Existe um conjunto de iniciativas para 4- Assalariados rurais
nha respostas rápidas nos outros seto- o fortalecimento da agricultura fami-
res econômicos, pelo seu efeito multi- liar que dependem muito da ação sin- O Projeto Alternativo de Desenvolvi-
plicador. É também condição funda- dical, como por exemplo, organização, mento Rural Sustentável, deve ter
mental para que haja uma sobrevida comercialização e gestão da produção; como uma das suas principais caracte-
para a economia da grande maioria dos diversificação agroecológica e planos rísticas a ampliação da oferta de em-
municípios brasileiros. É o desenvolvi- de desenvolvimento local. Este con- prego e ocupações produtivas no
mento com distribuição de renda no se- junto de proposições deve estar articu- campo. Neste sentido, ele é estratégico
tor rural que viabiliza e sustenta uma lado a uma política de produção de ali- para os assalariados e assalariadas ru-
qualidade de vida do setor urbano. mentos e soberania alimentar da popu- rais, uma vez que amplia as oportuni-
lação brasileira, como parte integrante dades de trabalho existentes.
Segundo pesquisa recentemente feita
da estratégia de desenvolvimento. O Brasil tem hoje cerca de 5 milhões
pela CONTAG/CUT, em várias áreas
do país, a agricultura familiar ainda é a Por outro lado, a gestão da unidade de assalariados rurais. Em que pese o
forma preponderante de produção agrí- produtiva precisa ser considerada processo de reestruturação produtiva e
cola. Se devidamente apoiada por polí- como o exercício prático da democra- o aumento crescente do desemprego,
ticas públicas e ancorada em iniciati- cia. Se todos os membros da família este número deve permanecer signifi-
vas locais, pode se transformar no têm um papel e uma função no pro- cativo nos próximos anos, constituindo
grande potencializador de um desen- cesso produtivo, têm direito a tomar assim a maior base de assalariados ru-
volvimento descentralizado e voltado parte nas decisões e nos resultados. rais do mundo.
para uma perspectiva de sustentabili- Para isso, é preciso valorizar o trabalho A construção de alternativas de desen-
dade. das mulheres e dos jovens na agricul- volvimento com base na expansão e
tura em regime de economia familiar, fortalecimento da agricultura familiar
O desenvolvimento e o fortalecimento
construindo relações sociais de gênero, não irá eliminar, por si só, a agricultura
da agricultura familiar se dará através
geração e etnia igualitárias e solidárias patronal. Não representará, portanto, o
da implementação de diversas iniciati-
no cotidiano dos trabalhadores e traba- fim do assalariamento rural. Este con-
vas, que deverão estar interligadas para
lhadoras. É preciso entender que a tinuará existindo e demandando políti-
que possam produzir os efeitos deseja-
agricultura familiar só se viabiliza a cas específicas para o setor.
dos. O Programa Nacional de Apoio à
partir de uma economia solidária.
Agricultura Familiar (PRONAF) e os Por outro lado, a realidade demonstra
Neste sentido, a gestão coletiva da pro-
Fundos Constitucionais são algumas que muitos agricultores e agricultoras
dução se apresenta como uma alterna-
iniciativas, não podendo, entretanto, a familiares dependem de contratação de
tiva concreta, através da prática da co-
ação estatal se esgotar apenas na dispo- mão-de-obra externa para garantir o
operação:
nibilização de recursos para crédito de desenvolvimento de sua produção.
custeio. É fundamental agilizar os pro- - A agricultura familiar só se viabiliza Esta realidade vem sendo objeto de
cedimentos das linhas de crédito de a partir de uma economia solidária, muitas discussões no movimento sin-
custeio e investimento, assim como a combinada ao uso de novas tecnolo- dical, pois demanda políticas e partici-
reformulação de toda a infra-estrutura gias e diversificação dos meios tradi- pação diferenciadas na base sindical.
produtiva e social, para atender as ne- cionais de produção. As formas cole-
cessidades da agricultura familiar. tivas de produção e comercialização Qualquer projeto alternativo de desen-
se apresentam como uma alternativa volvimento deve pressupor a democra-
As políticas de apoio à agricultura fa- tização nas relações de trabalho, renda
concreta, através da prática da coo-
miliar devem, inclusive, contemplar digna e respeito aos direitos trabalhis-
peração, associativismo e parceria.
aquelas atividades não-agrícolas, tas, como condições básicas para a
como por exemplo, a industrialização, - O desenvolvimento rural sustentável qualidade de emprego e vida, indepen-
a produção artesanal e o turismo rural, passa necessariamente pela garantia dentemente de quem quer que seja o
atividades com grande potencial de ge- de documentação do uso da terra, o empregador.
ração de renda e ocupação. que também contribui para a constru-
ção da cidadania da população rural. Os assalariados rurais constituem a
Outro elemento que deve estar inte- parcela mais empobrecida da agricul-
grado às políticas fundamentais de for- Diante da importância estratégica da tura e, por decorrência, de toda popu-
talecimento da agricultura familiar diz agricultura familiar, o MSTR precisa lação brasileira. As alternativas de de-
respeito à priorização de investimentos desenvolver um sistema de comunica- senvolvimento devem abarcar este se-
públicos para garantir serviços de pes- ção e marketing, divulgando a impor- tor, interferindo diretamente na criação
quisa, experimentação, difusão, assis- tância e representatividade deste setor de novos postos de trabalho. Deve re-
tência técnica e extensão rural, com- para a sociedade brasileira, resgatando duzir o desemprego e criar melhores
prometidos com a sustentabilidade e o seu reconhecimento e valorização. condições de vida e trabalho, e melho-
adaptados aos meios de produção fa- res salários, priorizando as seguintes
miliar. questões:

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- assentamento de trabalhadores e tra- culturais produzidos pela população: a 6- Relações de gênero e gera-
balhadoras rurais assalariados, em melhoria dos níveis de alfabetização, ção no meio rural
especial os desempregados e subem- reestruturação e mudança curricular de
pregados que optarem por desenvol- 1º Grau, voltada à realidade rural, polí- Pensar um projeto de desenvolvimento
ver a sua própria agricultura através ticas de preservação e implantação de alternativo e sustentável requer repen-
de um programa de reforma agrária; novas escolas e uma maior integração sar as relações sociais constituídas e as
- criação de agroindústrias ligadas à das propostas de ensino técnico dos suas estruturas organizativas. O su-
agricultura familiar, com legislação agricultores e agricultoras com as polí- cesso deste projeto está condicionado
específica; ticas de pesquisa e extensão rural, pela legitimação e valorização social
(também reordenadas no sentido de dos diversos sujeitos envolvidos, ou
- geração de emprego no interior da seja, mulheres, homens, jovens, crian-
aproximá-las das reais necessidades
unidade produtiva familiar; ças, idosos, deficientes e excepcionais.
dos agricultores e agricultoras familia-
- incremento das atividades não-agrí- resA efetiva implementação do Sis- Para isso, é preciso dar visibilidade a
colas no entorno sócio-econômico da tema Único de Saúde (SUS) é o cami- todos, principalmente às mulheres e
unidade produtiva familiar. nho correto para assegurar atendi- aos jovens.
- melhoria das condições de vida, re- mento médico, odontológico e hospita- Todos os setores agrícolas, especial-
lações de trabalho e garantia de au- lar adequado às necessidades das po- mente a agricultura familiar, incorpo-
mento de salários (ganho real), atra- pulações rurais, que exigem formula- ram massivamente o trabalho da mu-
vés da adoção de um contrato cole- ções e atendimento mais específico, lher na esfera produtiva. A inclusão de
tivo de trabalho. face às próprias características de loca- uma abordagem de gênero é funda-
- combate ao trabalho escravo e infan- lização em que se encontram. Além da mental no projeto, introduzindo uma
til, a todas as formas ilegais de con- luta pela manutenção do SUS, no en- nova concepção nas relações entre ho-
tratação de trabalho e às cooperati- tanto, é preciso redirecionar o investi- mens e mulheres. Estas relações de-
vas de mão-de-obra; mento público em saúde para ações es- vem possibilitar a participação efetiva
truturadoras de médio e longo prazo, das mulheres na tomada de decisões e
- igualdade de oportunidades, sem dis-
para a melhoria da qualidade de vida e construção de políticas alternativas de
criminação de gênero, geração e etnia;
garantia do bem estar social da popula- desenvolvimento.
- programas de qualificação profissio- ção.
nal e reconversão produtiva. Da mesma forma, é fundamental o re-
O acesso dos trabalhadores e trabalha- conhecimento dos jovens e idosos
- realizar campanhas de educação e pre- doras rurais aos benefícios da Previ-
venção sobre uso de agrotóxicos e suas como atores sociais e produtivos. Ape-
dência e Assistência Social é funda- sar da importância das lutas econômi-
consequências, garantindo o atendi- mental para o resgate da dignidade e
mento aos trabalhadores e trabalhado- cas, é preciso combater todas as raízes
cidadania de milhões de pessoas. da exclusão social para que possamos,
ras envolvidas nessa atividade.
Além disso, os recursos da aposenta- de fato, avançar na construção de uma
5 - Formulação de políticas so- doria têm se mostrado um importante nova sociedade. Para tanto, é necessá-
ciais para o campo instrumento de transferência de renda rio criar políticas específicas especial-
para o interior do País, chegando a ser mente para os jovens no meio rural
As políticas sociais desempenham um (oportunidades de emprego, lazer, for-
fator de dinamização de diversos mu-
papel fundamental na construção de al- mação, educação com currículo ade-
nicípios. Esta tendência reverte, em
ternativas de desenvolvimento para o quado à realidade rural) e garantir es-
parte, a orientação histórica de transfe-
campo. A educação, saúde, lazer, pre- paços de participação, promovendo as-
rência de recursos do setor rural para o
vidência e assistência social, a forma- sim a construção das bases culturais de
setor urbano.
ção profissional, a pesquisa e a assis- um novo tipo de desenvolvimento.
tência técnica são elementos estrutu- Embora a aposentadoria constitua, em
rais de qualquer proposta de desenvol- parte dos municípios rurais, a principal 7- Formulação de um projeto
vimento. fonte de renda e, portanto, um ele- amplo e construção de alianças
mento propulsionador do desenvolvi-
Seja para a plena promoção da cidada- A construção de um projeto alternativo
mento local, mais de 1 milhão de pes-
nia entre as populações rurais, seja para é uma ação permanente de elaboração
soas tiveram seus benefícios represa-
o próprio incremento da capacidade de propostas e de ações estratégicas. É
dos e indeferidos pela burocracia do
produtiva dos agricultores, é fundamen- preciso, portanto, buscar articular o
INSS, no período de 1994 a 1997. Al-
tal que o sindicalismo rural eleja como acúmulo teórico e prático do movi-
ternativas de desenvolvimento pressu-
uma das prioridades o desenvolvimento mento sindical e dos seus parceiros e
põem, portanto, a defesa dos direitos
de políticas educacionais no meio rural, aliados, em suas diversas instâncias e
sociais e políticos da população rural
qualificando a sua capacidade de elabo- organizações. A ação sindical deve
na terceira idade.
ração e intervenção nesta área. combinar, ao mesmo tempo, a negoci-
Também são objetivos estratégicos de ação, a mobilização social e a luta po-
um projeto de desenvolvimento que in- lítica, no âmbito de um movimento sin-
clua a valorização das tradições e bens dical propositivo e atuante.
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A formulação deste projeto deve faci- mais que simples reivindicações pon- tégicas. No espaço urbano, é necessá-
litar a coesão e a articulação dos diver- tuais. Assim, o MSTR se articula para rio estabelecer relações mais periódi-
sos segmentos e espaços de representa- apresentar um conjunto de diretrizes cas com as demais Confederações Na-
ção da CONTAG e do conjunto do em torno da implementação de um Pro- cionais da CUT, com ABI, CNBB,
MSTR, mas sem limitar-se apenas a jeto Alternativo de Desenvolvimento OAB, UNE, FEAB, e um conjunto im-
sua base sindical. Ele articula e é arti- Rural Sustentável. portante de ONGs.
culado por uma estratégia democrática
A filiação da CONTAG à CUT, a am- No âmbito da estrutura sindical, a par-
de desenvolvimento global que, além
pliação e o fortalecimento da base sin- tir das reflexões, pesquisas e do pró-
de garantir a inclusão social, possibi-
dical e sua especificidade (que reúne prio acúmulo de novas formas de orga-
lita a produção e a reprodução da qua-
um amplo contingente de agricultores nização, se faz necessário sairmos da-
lidade de vida para o conjunto da soci-
familiares ao lado de assalariados ru- quela velha e quase consensual avalia-
edade.
rais, aposentados e sem-terra) possibi- ção no movimento sindical, da neces-
O crescimento econômico nas cidades, litam ao MSTR pensar um novo desen- sidade de readequar e reorganizar o
por mais forte que venha a ser, será in- volvimento. Este desenvolvimento MSTR. Devemos dar um salto de qua-
capaz de reduzir ou estabilizar o atual está estruturado em dois eixos estraté- lidade em nossas ações e estruturas,
desemprego urbano e suas conseqüên- gicos: a realização de uma ampla e tendo como eixo central a busca da
cias diretas, fome, miséria, marginali- massiva reforma agrária e a consolida- maior organicidade do conjunto do
zação e violência. Qualquer anseio de ção e valorização da agricultura fami- MSTR e da CUT, e da continuidade ao
desenvolvimento sustentável global liar, sem excluir, evidentemente, ou- processo de consolidação da CON-
para o País será mero sonho se não par- tros setores. TAG como entidade nacional de repre-
tir da ampliação das oportunidades de sentação do conjunto das categorias e
A estratégia do MSTR deve estar arti-
geração de renda no meio rural. Por ou- segmentos do setor rural (agricultores
culada com o enfrentamento ao projeto
tro lado, a permanente disputa de hege- familiares, sem terra, assalariados ru-
neoliberal, suas conseqüências e seus
monia com os setores dominantes rais e aposentados, etc.).
gestores, e com a reorganização sindi-
exige a formulação de propostas am-
cal, buscando maior organicidade, de- O MSTR, para atuar de forma eficaz e
plas, na busca de unificar as lutas na
mocracia e transparência às estruturas eficiente na construção do PADRS,
construção de alternativas para todos
e ações. Isto só será possível combi- precisa também, qualificar e renovar o
os trabalhadores e trabalhadoras brasi-
nando um conjunto de iniciativas e seu discurso e sua prática. Para isso, é
leiras.
ações, entre elas a necessidade de dar necessário formular e implementar, de
A elaboração e implementação deste continuidade e visibilidade à elabora- forma sistemática, um programa mas-
projeto alternativo exige, portanto, um ção do Projeto Alternativo de Desen- sivo de formação de quadros e uma es-
amplo processo de alianças. A discus- volvimento Rural Sustentável, fazendo tratégia eficaz e eficiente de comunica-
são de suas diretrizes, propostas e lutas dele um instrumento de proposição ção.
deve se dar de forma conjunta com o clara para as novas diretrizes contra a
As ações de capacitação para o desen-
movimento sindical urbano - represen- miséria e a exclusão social.
volvimento local devem ser a base para
tado pela CUT - técnicos e intelectuais
Esta ação propositiva deve estar obri- este programa, contemplando a formu-
e os diversos movimentos e organiza-
gatoriamente articulada a um processo lação e o acompanhamento de planos
ções da sociedade civil.
intenso de luta e mobilização popular, municipais e regionais de desenvolvi-
8- Estratégia do MSTR para que ocorre nos espaços rurais, através mento. E estes devem levar em conta a
construção e consolidação de da organização dos Gritos da Terra diversidade e a complexidade dos inte-
um projeto alternativo de desen- Brasil, campanhas salariais, ocupações resses da nossa base.
volvimento rural sustentável de latifúndios, pressão aos órgãos pú-
A formação profissional é um ele-
blicos, luta dos aposentados, jovens,
mento estratégico para a implementa-
A CONTAG se propõe, a partir de seu crianças e de tantas outras iniciativas
ção de qualquer política de desenvolvi-
espaço de atuação, o setor rural, a or- desenvolvidas pelo movimento sindi-
mento. Deve ser um instrumento que
ganizar os trabalhadores e trabalhado- cal em todo país.
ajude os trabalhadores e
ras para a luta, e disputar a hegemonia
Para isto, é necessário estabelecer uma
na sociedade, para chegar a transfor- trabalhadoras rurais a desenvolverem
consistente política de alianças com to-
mações capazes de garantir melhores as habilidades e competências necessá-
dos os setores marginalizados e opri-
condições de vida e trabalho para to- rias para a implementação do nosso
midos, com a sociedade civil organi-
dos, resgatando a cidadania nestes e Projeto Alternativo, usando, entre ou-
zada, do campo e da cidade. A articu-
em todos os espaços sociais. tros, recursos do SENAR. Tanto a qua-
lação com entidades como CAPOIB,
lificação como a reconversão profissi-
Isto porque, já não basta somente a de- CIMI, CNS, CPT, MAB, MST, MO-
onal dos trabalhadores e trabalhadoras
núncia e a contestação. A luta contra o NAP, MLT, GTA, INESC, FASE,
são fundamentais para incorporar con-
neoliberalismo não possui contornos MLST, FASER, Rede Brasileira de
cepções que orientem mecanismos di-
tão nítidos como outrora. É preciso ONGs e movimentos sociais, são estra-
ferenciados de desenvolvimento.

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Assim como a formação, a comunica- portanto, um projeto de alavancagem Um instrumento importante a ser utili-
ção deve ser um instrumento funda- destes recursos, mobilização de atores zado para assegurar o debate e a efeti-
mental para a luta dos trabalhadores e sociais e políticos, capazes de sensibi- vação de alternativas de desenvolvi-
trabalhadoras, enquanto mecanismo lizar a sociedade local, se estiver em mento são os Conselhos Municipais de
articulador de estratégias e de divulga- estreita sintonia com as mudanças ins- Desenvolvimento. O desafio é fazer
ção das nossas propostas e ações. titucionais de caráter nacional ou esta- com que estes conselhos sejam, de
dual. A concentração das energias do fato, instrumentos importantes de par-
9- Relação entre as reivindica- movimento sindical nessa alavanca- ticipação social, garantindo legitimi-
ções globais e ações locais gem exige, antes de tudo, o estabeleci- dade política e não transformá-los em
Um dos principais desafios do movi- mento de um frutífero diálogo com a meros instrumentos de manipulação
mento sindical atualmente é combinar sociedade e mais eficientes negocia- política das autoridades locais.
mudanças nas políticas governamen- ções com as esferas privadas e gover-
Além do acompanhamento e atuação
tais, federal e estadual e, ao mesmo namentais.
junto às Câmaras Municipais e partici-
tempo, organizar as ações de base. As 10- A ação sindical local na pação nos conselhos municipais, o
alternativas de desenvolvimento não construção de alternativas de MSTR deverá atuar também na discus-
podem se restringir às reivindicações e desenvolvimento são e definição do processo de planeja-
mobilizações no âmbito das políticas mento e orçamento municipal, direcio-
públicas globais, nem tampouco às ini- Este projeto de desenvolvimento inte- nando a sua aplicação a serviço do de-
ciativas exclusivamente locais. A po- ressa à maioria da sociedade e todos os senvolvimento sustentável.
tencialização das alternativas se dá atores sociais devem estar envolvidos.
Os Planos Plurianuais, a Lei de Diretri-
pela capacidade de articular os vários A mobilização da comunidade é condi-
zes Orçamentárias e a Lei Orçamentá-
níveis local, estadual, regional e nacio- ção imprescindível para o início e pe-
ria Anual são importantes instrumen-
nal. renidade de um desenvolvimento alter-
tos, definidos na Constituição Federal,
nativo. As instâncias do MSTR, em es-
As iniciativas locais junto à sociedade Constituições Estaduais e Leis Orgâni-
pecial os STR’s e seus parceiros, deve-
no âmbito municipal e intermunicipal cas dos Municípios, que podem e de-
rão qualificar a sua atuação para parti-
devem ser capazes de dar corpo a um vem ter participação direta dos movi-
cipar ativamente na construção deste
novo perfil de desenvolvimento. A mentos sociais.
desenvolvimento. As ações dos STR’s
combinação das mobilizações locais
não poderão se dar isoladamente nem Além deste, outros instrumentos pode-
com as reivindicações de políticas glo-
apenas na defesa dos interesses dos rão ser implementados com a partici-
bais permitirá a participação ampla e a
seus representados, mas propor ações pação social, assegurando a execução
criação de condições efetivas para a
concretas para o conjunto dos movi- de ações e de programas que se contra-
"urbanização" do setor rural.
mentos sociais frente à atual realidade ponham a atual lógica desenvolvimen-
É necessário, portanto, desenvolver econômica e social dos municípios. tista e excludente. O MSTR deve ser
uma maior capacidade de organizar os um ator estimulador da comunidade,
Neste sentido, os STR’s devem buscar
recursos locais, direcionando-os para o propondo novas alternativas de desen-
o desenvolvimento com maior eficiên-
fortalecimento da organização social. volvimento, buscando a retomada da
cia estabelecendo parcerias com outras
Isto permitirá o aumento da autonomia auto-estima da população e o incre-
entidades para realizar trabalhos de
local na tomada de decisões e o au- mento das suas capacidades produtivas
unidade integrada. Entre elas podemos
mento da capacidade de reter e reinves- e gestão das políticas sociais pelo con-
citar: secretarias municipais de agri-
tir capitais. Este desenvolvimento lo- junto da população. Neste sentido, é
cultura, órgãos de pesquisa e assistên-
calizado trará um maior grau de inclu- importante lembrar que a Agenda 21 é
cia técnica e extensão rural, escolas pú-
são social e uma maior capacidade de um espaço privilegiado para o debate
blicas e privadas, universidades, igre-
regenerar e conservar o meio ambiente. do desenvolvimento sustentável.
jas, cooperativas, associações comuni-
A utilização dos recursos próprios, tárias e imprensa. Portanto, cabe aos A partir do debate e compromisso dos
combinados com políticas de desen- STR’s articular o processo de discus- candidatos ao Executivo e Legislativo
volvimento global, criará condições são nos municípios, envolvendo outros municipais, o MSTR deve investir na
efetivas de vida no meio rural, garan- setores da sociedade, sensibilizando e eleição de candidatos que se compro-
tindo a permanência e crescimento das estimulando este processo. metam com a defesa e implementação
famílias no campo, especialmente dos de um Projeto Alternativo de Desen-
O primeiro esforço deve ser exata-
jovens. Para isso, é imprescindível o volvimento Rural Sustentável através
mente o de elaborar os projetos de de-
redirecionamento das políticas e dos de ampla e massiva reforma agrária e
senvolvimento locais, através de pro-
recursos hoje utilizados, assegurando do fortalecimento e valorização da
cessos democráticos. A participação
investimentos e implantação de infra- agricultura familiar.
popular deve ser constante e somente
estrutura que garanta qualidade de
isto assegurará a implementação, efeti-
vida.
vação e, principalmente, continuidade
Um Projeto Alternativo de Desenvol- das ações, independente de quem es-
vimento Rural Sustentável só pode ser, teja no governo.
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