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Amor De Perdição

(Camilo Castelo Branco)

O livro Amor de Perdição é um romance do autor Camilo Castelo Branco. Durante


uma vida de 64 anos ele escreveu textos monumentais. Passou por momentos
difíceis e transportou para seus livros emoções fortes e contagiantes. Um mundo
criado à sua imagem e semelhança. Há sentimento, paixão, cinismo, sarcasmo,
ensinamentos morais, emoção, drama, ódio, amor, comédia, blasfêmia, oração.
Provoca elogios e críticas. E é nesse meio que surgiu Amor de Perdição.
Em Viseu (Portugal), a família Albuquerque e a família Botelho se odiavam. O juiz
Domingos Botelho dera uma sentença desfavorável aos Albuquerque. Surge, apesar
de tudo, uma grande paixão entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque. Teresa
deveria se casar com o primo Baltasar Coutinho. Internaram-na em um convento
para pôr um fim no romance proibido. Foi levada para o Convento de Monchique,
no Porto. Seu pai, Tadeu de Albuquerque cuidou de tudo.
Um certo dia, Simão encontra-se com Baltasar. Discutem, brigam. Simão mata seu
rival, a tiro e se entrega à justiça. Com apenas dezoito anos é condenado à morte.
Seu pai, Dr. Domingos Botelho consegue que a pena de morte seja mudada para
exílio perpétuo na Índia. Em março de 1807 ele embarca. No navio, tem notícias
que sua amada Teresa havia morrido. Enlouquece. O capitão e Mariana cuidam
para que Simão não se suicide. Mariana sempre foi apaixonada por Simão. Amor
escondido, platônico. É de uma dedicação extrema. Ao ficar sozinha no mundo,
depois do assassinato do pai, ela vende tudo e embarca no mesmo navio de Simão.
Queria ficar perto do seu grande e impossível amor. Amor infeliz, louco, sublime.
Simão não se mata. Porém uma febre violenta o leva à morte. Seu corpo é
imediatamente amarrado e lançado ao mar. Mariana, desesperada, se atira
também. Quis acompanhar seu grande amor.
Ironicamente, na água do mar sem fim, bóiam papéis. São cartas de Simão e
Teresa.
Esse romance foi escrito em 15 dias, quando o autor vivia na prisão, condenado
pelo adultério com D. Ana Plácido. Mistura de realidade e fantasia é o que
presenciamos. Os dois amantes infelizes não conseguem a felicidade na Terra,
transferem suas esperanças para o misterioso Além-Túmulo.
Percebemos nessa grandiosa obra, o conflito entre o amor e os preconceitos,
representados na rivalidade das duas famílias. Rivalidade que leva ao desespero, ao
crime. Nota-se, também, um grande desabafo do autor que tem a alma sofrida e
revoltada, colocado em uma cadeia por adultério. Vida amorosa que se afogou em
lágrimas, na infelicidade e na morte. E que nos é apresentada com uma linguagem
rica, vibrante e apaixonada.

Amor de Perdição – Camilo


Castelo Branco
Amor de Perdição é considerada uma novela exemplar do ultrarromantismo,
porque exalta o sofrimento amoroso dos jovens e aponta a morte como solução
para os conflitos do coração.
Possui vinte capítulos, além da introdução e da conclusão, e foi escrita em
apenas quinze dias, quando o autor, Camilo Castelo Branco, estava preso na
cadeia da Relação do Porto.
Baseada em um caso verídico – a vida de um tio que esteve preso na mesma
cadeia da Relação – a narrativa explora a força dos sentimentos como a razão
de ser da vida.

Resumo
A história de Amor de Perdição circunda-se na cidade portuguesa chamada
Viseu, mas o enredo não se centra absolutamente em tal cidade, pois a
alternância de cidades se faz presente à medida que o enredo da ficção
avança deliberadamente.
Domingos José Correia Botelho era um fidalgo não muito rico que teve a
prerrogativa e sorte última de se casar com a ilustríssima e formosa Srª Rita
Teresa Margarida Preciosa. Esta senhora era a Dama da rainha de Portugal (a
rainha D. Maria, também conhecida no Brasil como Maria, a louca) vigente na
época em que começou a narrativa de Castelo Branco, por volta
aproximadamente de 1779, seguindo, pois, suas respectivas sucessões
temporais.

É justamente perto desta data apontada acima que Domingos Correia era juiz
de fora da cidade de Cascais, mas posteriormente conseguiu transferência
para Vila Real, cidade onde nasceu. Seria bom e gratificante exercer o ofício na
terra onde foi concebido à vida, não fosse as incessantes e inoportunas
reclamações de Rita Teresa, ainda saudosa de seus luxos monárquicos da
corte de Lisboa, luxos estes que toda Dama do Paço usufrui e, estando em
sincronia com suas perfeitas sanidades mentais, jamais quer abdicar.

Apesar dos queixumes de Rita Teresa, o casal ainda conseguiu ter cinco filhos:
Manuel, Simão, Maria, Ana e Rita. Manuel era o mais velho dentre os meninos,
e Rita a mais nova dentre os rebentos femininos.

Foi-se feita mais uma transferência do casal, agora para a cidade de Viseu,
mas desta vez acrescida a uma promoção: Domingos Botelho tornou-se
corregedor desta cidade.

Ambos filhos de Botelho eram universitários em Coimbra: Manuel estudava


Direito; já o encapetado Simão – que espezinhava a vida do Reitor e das
autoridades da Universidade com seu gênio moleque e arruaceiro – cursava
Humanidades.

Só existe uma coisa na vida que é capaz de transfigurar a compleição


congênita de um rapaz rebelde como Simão o era: esta coisa (embora este
substantivo seja tanto quanto pobre e deficiente suficientemente para demarcar
graficamente toda a extensão significativa da palavra a seguir) é o AMOR. Este
sentimento totalmente inefável, inesperado, indescritível à guisa de meras
palavras de qualquer língua, teve a façanha de arrebatar o coração
sanguinário, rebelde e revolucionário de Simão, pois o filho mais novo do
corregedor se apaixonara fervorosamente por uma vizinha chamada Teresa,
uma menina de quinze anos de idade.

Infelizmente, para desespero dos leitores romântico-piegas, a paixão entre os


dois jamais pôde se materializar, pois tanto a família de Simão quanto a de
Teresa se opunha rigorosamente contra o firmamento da união do casal. O
motivo disso era de ter havido entre os pais do casal uma antiga rixa e
divergência jurídica entre ambos, fazendo permear assim entre as duas
famílias uma rivalidade mais caprichosa que a de cão e gato.

Simão e Teresa se comunicavam e trocavam suas afeições sentimentais unica


e exclusivamente através de cartas. E foi por causa de sua comunicação
missivista – tão eficiente que poder-se-ia dizer que fazia inveja aos modernos
e-mails de hoje – que Simão decidiu fugir de Coimbra, interrompendo assim
seus estudos acadêmicos, para ir a Viseu se encontrar às espreitas com
Teresa.

O pai viúvo de Teresa, Tadeu Albuquerque, tinha um sobrinho fidalgo oriundo


da cidade de Castro Daire chamado Baltasar Coutinho. Tadeu Albuquerque por
motivos ambiciosos queria a todo custo o casamento de Teresa com fidalgo,
mas sua filha recusava-o convencidamente, chegando a declarar
explicitamente, para a raiva e descontentamento de seu pai, seu amor por
Simão.

Se o romance de Teresa e Simão ainda persistisse, mesmo sendo por cartas,


Tadeu estava convencido de mandá-la a um convento Sabendo disso – através
de uma carta -, Simão teve a resolução de se hospedar na casa de um
conhecido seu, o ferreiro João da Cruz, este que se mostrou a todo momento
sempre prestativo e disposto a ajudar Simão em qualquer coisa, já que, há
tempos atrás, o ferreiro conseguiu se livrar da cadeia graças à intervenção
jurídica do pai de Simão.
O ferreiro tinha uma filha chamada Mariana, “moça de vinte e quatro anos,
formas bonitas, um rosto belo e triste”. Ela demonstrou, desde o início, total
disposição para ajudar Simão no que fosse preciso, passando, além de ajudar
Simão, também a admirá-lo e amá-lo. Mariana tinha um semblante melancólico
porque predizia tristezas que aconteceriam com Simão caso ele continuasse
com seu amor por Teresa, amor este obstruído por egoísmo e orgulho dos pais
do casal:

“ ─ Não sei o que me adivinha o coração a respeito de vossa senhoria. Alguma


desgraça está para lhe suceder…” Disse certa vez Mariana ao fidalgo.

Baltasar Coutinho passa a atormentar a vida de Teresa, querendo a todo custo


seu consentimento para o casamento arranjado. Através de ameaças e com o
aval de Tadeu, Baltasar se transforma em um estorvo na consolidação do amor
do sofredor casal.

Depois de algumas tentativas não bem-sucedidas de encontro com Teresa,


certa vez Simão viu-se cara-a-cara com o fidalgo Baltasar Coutinho. Ambos
discutiram, e Simão – com o intuito nobre e extremamente passional de livrar o
estorvo da vida de Teresa – atirara contra o fidalgo de Castro Daire, matando-o
instantaneamente. Como conseqüência óbvia e imediata, Simão fora preso em
Viseu após o fato, e Teresa transferida para o convento de Monchique, na
cidade do Porto.

O pai de Simão nada fazia para tentar tirar o filho da reclusão. Era bem
possível que se quisesse fazê-lo conseguiria relativo êxito, pois detinha o ofício
de corregedor, profissão essa de significativo status e influência persuasiva nos
meios jurídicos da época. Mas, a despeito de tudo isso, Domingos Botelho
sempre negava e limitava-se sempre a dizer isso:

“ ─ Eu não determino nada. Faça de conta que o preso Simão não tem aqui
parente algum.”

Enquanto a Teresa, sua vida tornara-se terrivelmente obscura e lastimosa


também. Seu único entretenimento dentro do convento eram as cartas que
escrevia ao detento Simão. A única atividade da rapariga dentro do convento
era chorar. Sua tia Constança, a única companhia que tinha no convento,
lamentava-se ao ver diariamente sua sobrinha aos prantos por causa de um
amor impossível de se materializar.

Graças à ternura e solidariedade de Mariana, Simão tinha com quem contar


dentro da prisão. E também deve-se a Mariana o título de ser a intermediadora
entre o romance missivista do casal.

Enfim, foi graças a um tio-avô de Simão que o pai deste pôde repensar sua
atitude de não ajudar o filho a se livrar da prisão. O nome do tio-avô era a
Antônio da Veiga, este que ameçou se matar caso o pai não “mexesse seus
pauzinhos” para tirar o filho da forca. Infelizmente, tudo que o corregedor
conseguiu foi a substituição do cárcere pela deportação de dez anos do filho
para o exílio na Índia.

Mariana decidiu ir com o amado ao exílio. Para ela não restava mais nada na
vida a não se o amor que sentia por Simão, já que o pai desta rapariga morrera
assassinado por um almocreve. Quanto a Teresa, ao saber da resolução do
exílio, enlouquecera. Não poderia imaginar Simão exilado por dez anos.
Enfim, a 17 de março de 1807, sai do cais de Ribeirinha o navio com os 75
degredados, entre eles Simão e Mariana. Teresa, vendo do convento o navio
transportando os exilados, suicidara-se.

Simão, consentindo e consciente do destino nefasto que o aguardara, aceita


complacentemente seu fado. Após o suicídio de Teresa, chega às mãos de
Simão sua derradeira carta com o seguinte parágrafo inicial:

“ ─ É já o meu espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre
Teresa, à hora em que leres esta carta, se me Deus não engana, está em
descanso”.

Simão, tempos depois de ler a carta, e já com bastante febre provocada pelo
enjôo do mar, falecera no navio pedindo antes que Mariana jogasse todas as
cartas que recebera de Teresa ao mar.

É claro que Mariana fez tudo isso conforme seu amado pediu. Só um detalhe:
Mariana jogou no mar algo mais que as cartas. Jogou no mar si própria,
tentando desesperadamente encontrar ali o corpo cadavélico de Simão que lá
estava, arremessado pelos almirantes do navio às ondas do mar.
Mariana morrera, pois, abraçada com o corpo do fidalgo em alto mar.

É com este final trágico que Camilo Castelo Branco rematou Amor de Perdição.

Autoria: Everton Roberto Teixeira Barboza

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