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Mycosis fungoides and Sézary syndrome:


clinical, histopathological and
immunohistochemical review and update

Article in Anais brasileiros de dermatologia · December 2012


DOI: 10.1590/S0365-05962012000600001 · Source: PubMed

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4 authors, including:

Luciana Patrícia Fernandes Abbade Mariangela E A Marques


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817
EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA

Micose fungóide e síndrome de Sézary: revisão e atualização
clínica, histopatológica e imuno-histoquímica*
Mycosis fungoides and Sézary syndrome: clinical, histopathological and
immunohistochemical review and update
Thamy Yamashita1 Luciana Patricia Fernandes Abbade2
Mariangela Esther Alencar Marques3 Silvio Alencar Marques4

Resumo: O artigo revisa os critérios diagnósticos e de classificação da micose fungoide e da síndrome


de Sézary, à luz das publicações normativas mais recentes. Descreve a grande variabilidade de expres-
são clínica da micose fungoide em seus estágios iniciais, assim como os aspectos histopatológicos e
imuno-histoquímicos auxiliares ao diagnóstico. São descritos os critérios de diagnósticos exigidos para
que se caracterize a síndrome de Sézary e o sistema de estadiamento utilizado para ambas: a micose
fungoide e a síndrome de Sézary.

Abstract: This paper reviews the diagnostic and classificatory concepts of mycosis fungoides and
Sézary syndrome in light of the latest normative publications. It describes the great variability of the
clinical expression of mycosis fungoides in its early stages as well as the histopathological and immu-
nohistochemical aspects that help with diagnosis. The diagnostic criteria required for characterizing
Sézary syndrome and the staging system used for both mycosis fungoides and Sézary syndrome are
described.
Keywords: Lymphoma, T-Cell, cutaneous; Mycosis fungoides; Sézary syndrome

INTRODUÇÃO
Conceito: linfomas cutâneos primários
Linfomas cutâneos primários (LCP) são defini- título de WHO Classification of Tumors of
dos como linfomas não-Hodgkin, presentes na pele e Haematopoietic and Lymphoid Tissues.2
sem que se demonstre localização extracutânea pri- A classificação WHO-EORTC distingue dois gran-
mária no momento do diagnóstico.1 A classificação des grupos de LCP: os linfomas com origem no linfóci-
atual dos LCP é produto da cooperação da World to T, com residência na pele, denominados “linfoma
Health Organization (WHO) e da European cutâneo de células T” (LCCT), e aqueles com origem
Organization of Research and Treatment of Cancer no linfócito B, denominados “linfoma cutâneo de célu-
(EORTC), publicada em 2005, sob o título de “WHO- las B” (LCCB). A esses somam-se os linfomas cutâneos
EORTC Classification for Cutaneous Lymphomas” e, de origem nas células Natural Killer (NK) e um grupo
em larga medida, referendada e divulgada na publica- mais raro de linfomas, de características fenotípicas
ção da Organização Mundial da Saúde de 2008, sob o maldefinidas e provisoriamente não classificáveis.1,2

Recebido em 10.05.2012.
Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 29.02.2012.
*
Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (FMB-UNESP) – São Paulo (SP), Brasil.
Conflito Interesses: Nenhum / Conflict of interest: None
Suporte Financeiro: Nenhum / Financial funding: processo 2010/51505-7
1
Médica-patologista. Mestra em Patologia - Curso de doutorado em Patologia no Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu –
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FMB-UNESP) – São Paulo (SP), Brasil.
2
Assistente-doutora – Professora-assistente do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FMB-UNESP) – São Paulo (SP), Brasil.
3
Livre-docente - Professora livre-docente do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (FMB-UNESP) – São Paulo (SP), Brasil.
4
Professor-titular - Professor do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (FMB-UNESP) – São Paulo (SP), Brasil.

©2012 by Anais Brasileiros de Dermatologia

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Os LCCT são constituídos por um grupo hetero- Aspectos históricos


gêneo de linfomas cutâneos que apresentam comporta- A micose fungoide foi descrita pela primeira vez
mento clínico distinto dos linfomas sistêmicos, incluindo em 1806 por Alibert, na França, e publicada pelo autor
aqueles com subtipo histológico semelhante. E, mesmo como “Pian fungoides” em 1814. A terminologia
entre si, os LCCT apresentam extrema variedade na “Mycosis fungoides” passou a ser utilizada apenas a
expressão clínica, de máculas a tumores, de indolentes a partir de 1832, ainda por Alibert.5 Em 1870, Bazin des-
agressivos, tanto no comportamento biológico quanto creveu a progressão segundo a história natural da
nos aspectos histológicos, imunofenotípicos e, conse- enfermidade e definiu os seus estágios, ainda hoje
quentemente, no prognóstico e taxas de sobrevida.1-5 clássicos: macular (na língua inglesa referido como
Os subtipos indolentes de LCCT reúnem a patch), em placas, tumoral e disseminado sistêmico.
micose fungoide (MF) e suas variantes, o LCP de célu- Em 1885, Vidal e Brocq introduziram o termo
las T de grandes células anaplásicas, a papulose linfo- “Micose fungoide tumoral d’emblée”, para casos com
matoide, o linfoma subcutâneo de células T paniculi- tumorações linfomatosas cutâneas praticamente
te-símile, com fenótipo de células T alfa/beta, e o lin- desde o início, sem apresentar lesões precursoras.1
foma cutâneo de células T CD4+ de pequenas e Atualmente, este antigo subtipo clínico de MF passou
médias células pleomórficas. Os subtipos mais agres- a corresponder ao “linfoma cutâneo de células T peri-
sivos reúnem a síndrome de Sézary (SS), o LCP de férico não especificado”, deixando de ser considerado
células-T/NK tipo nasal, o LCP agressivo de células-T variante da MF.1.2,6
CD4- e CD8+, linfoma cutâneo de células T com fenó- Em 1892, descreveu-se a forma eritrodérmica da
tipo γ/δ, o LCP de células-T inespecífico e o MF, caracterizada por eritema, descamação e infiltra-
linfoma/leucemia de células T do adulto. Dentre os ção generalizada da pele. Em 1938, foi descrita a sín-
LCP, mais de 65% são do tipo de células T, 25% são drome de Sézary.1 A “reticulose pagetoide” foi descrita
constituídos por células B e 10% são inespecíficos.1-5 em 1931 como “doença de Ketron-Goodman”, que
corresponderia à forma generalizada da reticulose
Micose fungoide: Conceito pagetoide. Em 1939, a lesão solitária e hiperceratósica
O subtipo predominante de LCCT é a micose foi descrita por Woringer-Kolopp. O subtipo Ketron-
fungoide (MF), que corresponde ao linfoma cutâneo Goodman deixou de ser considerado como reticulose
com origem no linfócito T periférico epidermotrópi- pagetoide e, provavelmente, corresponde ao linfoma
co, que expressa o receptor de células T (TCR) com T-cutâneo CD8+ agressivo epidermotrófico.8
subunidades αβ+ e com imunofenótipo CD4+, A “papulose linfomatoide” foi descrita em 1968
conhecido como linfócito T de memória (CD45RO+), por Macaulay como uma forma clinicamente benigna
constituinte do sistema de imunovigilância da pele.2,5 de LCCT, de evolução em surtos, porém, com aspecto
A denominação micose fungoide deve ser usada ape- morfológico maligno à histopatologia.9 O imunofenó-
nas para casos clássicos caracterizados pela evolução tipo da papulose linfomatoide corresponde a CD3+,
de máculas (patches), placas e tumores e para varian- CD45RO+ e CD30+.10
tes que mostrem curso clínico similar.2 A micose fun- A denominação “linfoma cutâneo de células T”
goide representa menos de 1% da totalidade dos lin- (LCCT) surgiu em 1975 para englobar a MF e varian-
fomas não-Hodgkin, porém, é o linfoma cutâneo mais tes e, posteriormente, passou a abranger outros tipos
comum. Usualmente, apresenta uma evolução indo- de LCP, que incluem o espectro dos LCP CD30+, o lin-
lente e tem bom prognóstico quando identificado nos foma subcutâneo primário de células-T paniculite-
estágios iniciais.1-5 símile, o LCP de células células-T/NK. e LCP de células-
É reconhecida na classificação WHO-EORTC e T não classificáveis. 5-7
WHO Classification of Tumors of Haematopoietic Em 2007, a International Society for
and Lymphoid Tissues a forma clássica de MF, também Cutaneous Lymphoma (ISCL) e a EORTC publicaram
denominada de Alibert-Bazin e três variantes: “folicu- uma revisão do estadiamento e classificação específica
lotrópica”, “reticuloide pagetoide” e a “cútis laxa gra- da MF e da SS, com modificações no sistema de esta-
nulomatosa”.1,2 Outros subtipos têm sido referidos na diamento e, particularmente, uma definição mais acu-
literatura devido às suas características clínicas, demo- rada da síndrome de Sézary.6
gráficas ou histológicas peculiares, tais como: “hipo-
pigmentada/hiperpigmentada”, “eritrodérmica”, “poi- Aspectos epidemiológicos
quilodérmica”, “pigmentada púrpura-símile”, “bolho- Os LCP constituem-se no segundo tipo mais fre-
sa/disidrótica”, “papular” e mesmo o subtipo “invisí- quente de linfoma não-Hodgkin de localização extra-
vel”.5 A variante leucêmica da MF é denominada de nodal, situando-se após os linfomas de localização
síndrome de Sézary, com expressão clínica e evolutiva gastrointestinal. Os LCP apresentam incidência anual
distintas.1-7 estimada, na Europa, de 1/100.000 habitantes.1,2

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Micose fungoide e síndrome de Sézary: revisão e atualização clínica, histopatológica e imuno-histoquímica 819

Em contraste com os linfomas nodais não- aspecto que remete a diferenciais clínicos com o ecze-
Hodgkin, que são majoritariamente do tipo-B, os do ma crônico, psoríase, parapsoríase, líquen escleroa-
tipo-T predominam na pele e constituem-se em 65% a trófico, pitiríase liquenoide crônica, pitiríase alba, der-
80% do total de LCP diagnosticados na Europa.11 A matite atópica, hanseníase, cloracne (subtipo folicular
micose fungoide e variantes correspondem a mais de da MF) e, por analogia, com demais linfomas cutâ-
50% dos casos de linfomas primários da pele e a apro- neos.5,7 Neste período, a clínica e a histologia podem
ximadamente 90% do total dos linfomas cutâneos de ser inespecíficas e evoluir por anos sem que o diag-
células T.1,2,11 Nos Estados Unidos, no período com- nóstico de certeza possa ser estabelecido.
preendido entre 1973 e 1992, a incidência de MF foi As lesões iniciais, quando plenamente estabele-
de 0,36 caso/100.000 habitantes.11 A incidência foi cidas, correspondem a máculas (Figuras 1 e 2), desig-
maior na população negra em relação à branca, numa nadas na língua inglesa como estágio de “patch”, na
proporção de 1,7/1 e entre asiáticos/brancos foi de língua francesa, como “plaque”, e que, no livro texto
0,6/1.12 No período estudado, a mortalidade foi “Dermatologia” de Sampaio & Rivitti, são descritas
decrescente para os casos de MF, especificamente, e como “placas eritêmato-escamosas, lembrando psoría-
considerada como decorrente do diagnóstico mais se ou parapsoríase”, o que tem implicado em confu-
precoce dos casos.11 sões semânticas e dificuldades na própria definição e
Em estudo realizado na Suíça, no período de caracterização do estágio inicial da MF. 14,15
1990 a 2009, foram identificados 263 casos de LCP, O aspecto clínico inicial é de lesão tipo mácula,
com média de idade dos pacientes de 59 anos e rela- de coloração eritematosa, às vezes discreta ou rósea,
ção masculina/feminina de 1/1,4.12 Os LCCT somaram acastanhada ou hipocrômica, com fina descamação, às
190 casos (72,2%) e, dentre esses, a MF correspondeu vezes com discreta atrofia (Figuras 1 e 2). Apresenta-se
a 60% (114/190). No período estudado, a incidência como lesão única ou múltipla, de diferentes diâmetros
de MF mostrou-se estável, a de SS decresceu de 17% e localizações, em geral nas áreas cobertas, particular-
para 7% dos casos e a incidência de linfomas CD30+ mente na região glútea e raiz das coxas. Em certos casos,
cresceu de 7% para 18% do total de casos.12 o aspecto é de lesão poiquilodérmica, com mácula mos-
No Brasil, os dados do Instituto Nacional de queada com hiper e hipopigmentação, certa liquenifica-
Câncer (INCA) indicam incidência estimada para o ção e presença de telangiectasias. O prurido é variável,
ano de 2012 de 9.640 casos novos (5.190 para o sexo em geral de leve a moderado. Estas lesões podem ficar
masculino e 4.450 no sexo feminino) para o conjunto estáveis por anos, entrar em remissão ou progredir de
dos casos de linfomas não-Hodgkin de localização forma indolente para o estágio de placas.
extranodal, o que equivale a aproximadamente O principal diagnóstico diferencial nesta fase é
5,0/100.000 habitantes. Esta estimativa inclui os LCP, com a parapsoríase que apresenta superposições clíni-
porém, a publicação do INCA não faz distinção quan- cas e histológicas com a MF. Nesse contexto, há que se
to aos diferentes subtipos de LCP.13 distinguir dois tipos de parapsoríase: em pequenas e
A MF, especificamente, acomete adultos de em grandes placas, definidas genericamente por
ambos os sexos, com relação M/F entre 1,6 a 2/1, Brocq em 1902 como lesões crônicas, recorrentes, eri-
geralmente acima dos 50 anos, mas com incidência tematosas, descamativas e comparáveis às lesões
crescente em crianças e adolescentes.1,2,5 “eczematoides, psoriasiformes e liquenoides”.1
O percentual de sobrevida no quinto ano de
acompanhamento oscila entre 16% a 100%, a depen-
der do subtipo clínico de LCCT, e, entre 80% a 100%,
quando se considera MF e variantes, excetuando-se a
SS, que apresenta prognóstico reservado.2,5-7

MICOSE FUNGOIDE E SÍNDROME DE SÉZARY


Aspectos clínicos
Micose fungoide
É neoplasia de linfócitos com fenótipo CD3+,
em geral do tipo CD4+, e padrão de produção de
citocinas de perfil Th2. Outros fenótipos associados a
casos clínicos típicos de MF são o CD8+, CD56+ e o
duplo negativo, CD4- e CD8-. A micose fungoide clás-
sica desenvolve-se em estágios clínicos que são utiliza-
dos para identificação da enfermidade e estadiamen- FIGURA 1: Micose fungoide: mácula eritêmato-descamativa, atrófica
to. Nas fases iniciais, o diagnóstico é difícil e com e discretamente descamativa, localizada na região glútea

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Embora denominadas de parapsoríase em “pla- sob suspeita clínica de MF até que definições diagnósti-
cas”, as lesões são, na realidade, tipo “máculas”. A dis- cas precisas ocorram em um ou outro sentido.
tinção entre lesões de parapsoríase de “pequenas pla- No estágio de placas, as lesões individualmente
cas” e parapsoríase de “grandes placas” apoia-se em apresentam-se com infiltração nítida, aumentam em
correlações clínico-histopatológicas, sendo que as de diâmetro e surgem novas lesões. Há tendência de as
“pequenas placas” apresentam diâmetro menor, lesões assumirem o aspecto anular, policíclico ou em
aspecto digitiforme, localizadas em geral no tronco e ferradura, aparecerem infiltradas à palpação, de limi-
não apresentam atrofia ou telangiectasia.16 As lesões tes precisos e distribuição assimétrica, podendo aco-
apresentam diâmetro de 2 a 6 cm, mas comprimento meter inclusive a face e o couro cabeludo (Figura 3).
de 10 a 20 cm, daí a denominação de “digitiformes”.16 Ocasionalmente, a lesão em placa pode ulcerar antes
Histologicamente, a parapsoríase de “pequenas pla- de se transformar em lesão tipo tumor.21,22
cas” caracteriza-se por alterações não específicas, A coloração passa de eritêmato-róseo para eritê-
como espongiose e padrão psoriasiforme ou liquenoi- mato-vinhosa ou acastanhada, com descamação de
de com exocitose de pequenos linfócitos. Atualmente, intensidade variável, e o prurido tende a ser mais
é consenso que a parapsoríase de “pequenas placas” intenso do que no estágio de máculas. Os pacientes
apresenta mínimo ou mesmo inexistente potencial de podem permanecer indefinidamente neste estágio,
evolução para MF.16 entrar em remissão por tempo indeterminado ou pro-
A parapsoríase de “grandes placas” apresenta-se gredir para o estágio de tumor.21,22
com lesões de mais de 6 cm de diâmetro, com fre- O diagnóstico clínico diferencial nesta fase se faz
quência exibem sinais de atrofia e poiquilodermia. com enfermidades que cursam com infiltração cutâ-
Localizam-se nas regiões glúteas, tronco, raiz das nea, sobressaindo-se os demais linfomas cutâneos, pri-
coxas, face interna dos braços e região mamária. mários da pele ou não, os sarcomas cutâneos, as der-
Histologicamente, o padrão lembra o da parapsoríase matoses infecciosas, com realce para a hanseníase que
de “pequenas placas”, porém, o infiltrado contém lin- pode simular lesões infiltradas da MF, as dermatoses
fócitos com núcleos cerebriformes, similares aos que infecciosas causadas por fungos e mesmo o lúpus eri-
se observam na MF.16-20 tematoso com lesões túmidas. O diagnóstico histológi-
Parapsoríase em “grandes placas” apresenta co é mais sensível e mais específico nesta fase do que
progressão para franca MF em 7,5% a 14% dos na fase de máculas, com franco epidermotropismo e
casos.16,17 Entretanto, Sanchez e Ackerman (1979) presença do microabscesso de Pautrier.
sugeriram que parapsoríase de “grandes placas” deve No estágio de tumor, as lesões assumem o
ser entendida como sinônimo de MF em seu estágio aspecto de pápula ou nódulo, de coloração eritêmato-
inicial.18 King-Ismael e Ackerman (1992) afirmaram vinhosa, com possível progressão para lesões de gran-
que, mesmo a parapsoríase de “pequenas placas”, é de diâmetro (Figura 4). Não é incomum que, nesta
manifestação inicial
+
de MF, o que não é aceito por fase, coexistam lesões tipo máculas e placas. As lesões
outros autores. tendem a ser múltiplas, acompanhadas de infiltração
Outras dermatoses são diferenciais possíveis da cutânea que, quando de localização facial, dão o aspec-
MF, em particular o eczema crônico de etiologia malde- to de face leonina.22 Além da face, os locais preferen-
finida e pouco responsivo à terapêutica apropriada. Tais ciais são as regiões axilares, ínguino-crurais, inframa-
casos, com frequência, permanecem por longo tempo márias e antecubitais. Contudo, locais incomuns

FIGURA 2: Micose fungoide: lesão hipocrômica, discretamente FIGURA 3: Micose fungoide: lesão em placa eritêmato-vinhosa,
atrófica e descamativa, localizada no tórax discretamente infiltrada, limites nítidos, localizada na região
ínguino-crural 

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Micose fungoide e síndrome de Sézary: revisão e atualização clínica, histopatológica e imuno-histoquímica 821

podem ser acometidos, como a mucosa oral e genital.5 enfermidades, a não ser em certos casos, por ser
Saliente-se que pacientes em estágio de tumor menos descamativa e apresentar mais infiltração que
e com remissão clínica ao tratamento podem recair as demais.24 Porém, a princípio, é indistinguível ape-
sob a forma de máculas e placas ou mesmo sob a nas em bases clínicas e deve ser diferenciada da eritro-
forma de tumor, sendo que o aparecimento de mácu- dermia de origem eczematosa, da psoríase e das far-
las costuma ser o primeiro sinal de recaída da enfer- macodermias.23,24
midade. Nestas circunstâncias, a história natural da Há que salientar que a SS deve ser diferenciada
doença apresenta um curso mais rápido e, logo, da eritrodermia como evolução da MF. Na classifica-
novos tumores estarão presentes.5 ção WHO-EORTC, as entidades MF e SS são listadas
A disseminação linfonodal ou visceral é nula no como enfermidades independentes e pacientes com
estágio de mácula, rara no estágio de placa, mas passa história prévia de MF e que desenvolvem eritrodermia
a ser relativamente frequente no estágio tumoral.2,21 O não são incluídos como SS e, sim, entendidos como
acometimento ocorre primeiro em linfonodos regio- forma eritrodérmica da MF.1, 2,5-7,24 Contudo, há autores
nais. O comprometimento visceral pode acontecer em que sugerem que estes casos devam ser classificados
diversos órgãos, como baço, fígado e pulmão, embora como “SS precedidos de MF”.24
a medula óssea seja raramente acometida.2,5,7 Embora a síndrome seja entendida como fase
A transformação de MF para a variante anaplási- leucêmica de linfoma cutâneo de células T, o compro-
ca de grandes células do LCCT CD30+ tem sido rela- metimento da medula óssea é raro, sendo encontrado
tada entre 8% a 55% das fases tumorais de MF.5-7 Os apenas nas formas avançadas da enfermidade.25
linfomas CD30+ secundários à MF apresentam um O critério de diagnóstico da síndrome, segundo
prognóstico reservado com sobrevida média de 11 a o recomendado pela ISCL-EORTC e referendado na
36 meses.2,5-7 publicação WHO Classification of Tumors of
Haematopoietic and Lymphoid Tissues, é que se
Síndrome de Sézary demonstre a identidade de população monoclonal de
A síndrome de Sézary corresponde a 3% dos lin- linfócitos circulantes por métodos moleculares ou
fomas cutâneos e se caracteriza pela tríade de manifes- citogenéticos e que exista identidade entre o clone de
tações: eritrodermia com prurido, linfonodomegalia e linfócitos T circulantes e o clone presente na pele,
linfócitos atípicos circulantes (denominados células somado a um dos seguintes: que haja ao menos 1000
de Sézary ou de Lutzner).5,22,23 Manifestações clínicas células de Sézary por mm3 de sangue periférico;
associadas incluem o lagoftalmo, alopecia, hiperque- população aumentada de células CD4+/CD7- no san-
ratose palmoplantar e onicodistrofia. A eritrodermia gue periférico; marcada predominância de células
pode ser evolução de quadro prévio de máculas e pla- CD4+ em relação às CD8+ (com razão CD4+/CD8+
cas, evoluir de eritrodermia de etiologia idiopática ou > 10) no sangue periférico; células de Sézary com diâ-
surgir de novo.5, 22,23 metro >14 μm; que estas representem > 20% dos lin-
Os pacientes são, em geral, idosos, de ambos os fócitos circulantes ou ainda que se demonstre a perda
sexos. O aspecto clínico da eritrodermia na SS pouco de marcadores CD2, CD3, CD4 e CD5.1,2, 5, 22,23
se distingue das eritrodermias associadas a outras O sistema de estadiamento utilizado para a MF
é também utilizado para a SS, sendo que, por defini-
ção, a síndrome é classificada no estágio III. O prog-
nóstico da SS é pobre, com sobrevida média de dois a
quatro anos.6 Tanto os pacientes de MF quanto os da
SS têm chance aumentada de desenvolver uma segun-
da neoplasia maligna e mesmo um segundo linfoma.
O inverso também parece ser verdadeiro, isto é,
pacientes com linfoma tipo B podem desenvolver um
linfoma T tipo MF ou SS com maior frequência que a
população geral.5,6,22
FIGURA 4: Micose
fungoide: lesão MICOSE FUNGOIDE. Variantes clínicas presentes
nódulo-tumoral, na classificação “WHO-EORTC Classification for
eritêmato-vinhosa, Cutaneous Lymphomas” e “WHO Classification
de centro ulcerado, of Tumors of Haematopoietic and Lymphoid
surgindo em lesão Tissues”
macular prévia,
localizada na face
Micose fungoide folicular/foliculotrópica
extensora da perna A micose fungoide foliculotrópica tem sido clas-

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822 Yamashita T, Abbade LPF, Marques MEA, Marques SA

sificada como entidade separada da forma clássica por MF por suas características clínicas, evolutivas e anatomo-
suas características clínicas e histológicas distintas e patológicas. O termo reticuloide pagetoide deve ser reser-
por sua refratariedade ao tratamento.2,5,22 É descrita na vado para a lesão localizada, conhecida como doença de
literatura sob diversas designações: foliculotrópica; Woringer-Kolopp, descrita em 1939.8 A doença de Ketron-
folicular; pilotrópica; foliculocêntrica e mucinose foli- Goodman, descrita em 1931, foi considerada anterior-
cular.2, 5, 22,26-33 Alguns autores entendem que a última mente como forma generalizada da reticuloide pagetoide
denominação deva ser distinguida da MF foliculotrópi- por apresentar padrão histológico de intenso epidermo-
ca, porém, a maioria dos autores aceita o conceito de tropismo em contraste com infiltrado dérmico não tão
que ambas pertencem ao espectro de manifestações pronunciado.7 Porém, não é mais aceita como exemplo
clínico-histopatológicas da MF folicular.26-30 de reticuloide pagetoide e representa, mais provavelmen-
Em algumas publicações, os autores defendem te, formas generalizadas da MF clássica ou de LCCT
que a micose fungoide foliculotrópica é mais frequen- CD8+ citotóxico epidermotrópico de evolução grave.8, 22,34
te no sexo feminino. Em outras publicações, entretan- À histologia, a reticuloide pagetoide apresenta
to, isso não acontece.27,33 As lesões manifestam-se ini- hiperplasia pronunciada da epiderme, com intenso epi-
cialmente com aspecto acneiforme, comedo-símile ou dermotropismo de linfócitos pequenos ou médios e de
como placas de milium, pápulas foliculares, queratose núcleo cerebriforme. Há diferenças imunofenotípicas
folicular, placas eritematosas, placa papulosa ou alopé- entre a reticuloide pagetoide e a MF clássica, pois a imu-
cica (alopecia mucinosa), inclusive com secreção de nomarcação pode expressar positividade para ambas as
mucina (mucinorreia).5,26-33 linhagens CD4 e CD8 concomitantemente ou ser negati-
As localizações preferenciais de início das va para ambas e ainda expressar marcador CD30+.5, 22,31,34
lesões clínicas são face, pescoço e tronco superior e o O índice de proliferação celular estimado pela
prurido é de moderado a intenso. Um terço dos casos imunomarcação do Ki-67 é maior do que o observado
manifesta-se na região superciliar com proeminência na MF clássica, sendo > 30% na reticuloide pagetoide e
folicular, com ou sem alopecia. O comprometimento de <10% na MF, mas o prognóstico é bom.5, 22,31,34
acentuado do folículo piloso com hiperplasia folicular
pode resultar na formação de lesões que dão aspecto Cútis laxa granulomatosa
tumoral mesmo na ausência de tumor verdadeiro, Cútis laxa granulomatosa diferencia-se por exi-
correspondendo à MF pseudotumoral.30 bir padrão clínico de lesões cutâneas flácidas, pendu-
Os diferenciais clínicos da MF foliculotrópica lares, redundantes, tipo cútis laxa (slack skin), em
devem ser aquelas enfermidades que cursam com for- áreas de dobra e com padrão granulomatoso ao ana-
mação de cistos e pseudocomedos, como a cloracne, tomopatológico.
nevus comedônicos, rosácea granulomatosa e granu- O infiltrado granulomatoso pode expressar-se
loma facial.26-33 por padrão sarcoídico, por padrão tipo granuloma
À microscopia, a MF foliculotrópica expressa-se anular e/ou de células gigantes multinucleadas. Às
por infiltrado linfocitário denso, o qual circunda e infil- vezes, o infiltrado é tão expressivo que o diagnóstico
tra o folículo piloso e, usualmente, poupa a epiderme de MF não é identificado e o quadro, interpretado
no espaço interfolicular. Em torno de 10%, há presença como “dermatose granulomatosa”.5,35
de epidermotropismo aliado ao foliculotropismo.5,26-30 Na cútis laxa granulomatosa, ao padrão histoló-
O infiltrado é constituído de linfócitos de pequeno e gico granulomatoso soma-se denso epidermotropis-
médio tamanho, com núcleo irregular e com formação mo e observam-se células engolfando linfócitos e
de microabscesso de Pautrier no interior do epitélio fibras elásticas, fenômeno denominado de emperipo-
folicular.33,34 Os folículos classicamente mostram “plug” lese, quando as fibras elásticas podem estar totalmen-
córneo e, às vezes, degeneração mucinosa do epitélio te ausentes e se detecta mucina na lesão.2,5, 22, 36
com grau variável de intensidade.30-33
Evidências indicam que o prognóstico da MF MICOSE FUNGOIDE. VARIANTES CLÍNICAS/
foliculotrópica é pior quando comparado à forma clás- HISTOLÓGICAS DESCRITAS NA
sica, com índice de sobrevida em 10 anos de seguimen- LITERATURA
to igual a 26% e, quanto ao estadiamento, o diagnósti- Hipocromiante
co da MF foliculotrópica implicaria considerar o pacien- Caracteriza-se pela presença de lesões hipocrô-
te já como pertencente ao estágio III, independente- micas, isoladas ou associadas a lesões eritêmato-hipo-
mente da aparência clínica da lesão ao diagnóstico.6, 30,33 crômicas, múltiplas, de pequenos a grandes diâme-
tros. Pode expressar-se como única manifestação da
Reticuloide pagetoide localizada MF ou coexistir com lesões em placa ou mesmo com
(tipo Woringer-Kolopp) tumorações. A MF hipocromiante é o subtipo clínico
A reticuloide pagetoide é considerada variante da mais observado em crianças e adolescentes, sendo

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Micose fungoide e síndrome de Sézary: revisão e atualização clínica, histopatológica e imuno-histoquímica 823

mais observada em pacientes de pele fototipo IV-VI, imuno-histoquímico foi predominantemente CD8+ e
mas é também observada em pacientes de pele CD4-. Quando inexistem outras manifestações da MF
clara.5,22,37 As lesões podem ser assintomáticas ou dis- clássica, o diagnóstico de certeza é difícil e se apoia em
cretamente pruriginosas. estreita correlação clínico-histológica, no imunofenóti-
O diferencial clínico é com a hanseníase inde- po e na evolução do quadro.5, 22, 41,42
terminada, pitiríase alba, dermatite atópica, vitiligo na
fase inflamatória, pitiríase versicolor extensa e hipo- Micose fungoide purpúrica
pigmentação pós-inflamatória. A histologia nos casos Trata-se de forma rara de MF, em que as lesões
confirmados é indistinguível da MF clássica, porém, o maculares são persistentes, purpúricas e pigmentadas
imunofenótipo pode revelar frequência aumentada de e, histologicamente, apresentam hemácias extravasa-
imunomarcação de linfócitos CD8+, segundo o das na derme, melanófagos e histiócitos. Porém, há
observado em relato de 15 pacientes com MF hipocro- evidências histológicas da MF clássica, como infiltrado
miante.37 Ardigó et al. (2003), em série de sete casos, em faixa na derme superficial, epidermotropismo de
sugerem que a imunomarcação CD8+ seria mais linfócitos atípicos e alinhamento de linfócitos na
comum na MF hipocromiante de pacientes com foto- camada basal, que auxiliam no diagnóstico diferencial
tipo alto e nas crianças, ao contrário da marcação com o líquen aureus, eczema numular ou com farma-
CD4+, mais frequente na MF hipocromiante de adul- codermias que cursam com quadro purpúrico.43
tos caucasoides.38 Werner et al. (2005), a partir da revi- A maioria das células são CD4+, mas pode haver
são de 106 relatos da literatura, salientam a possibili- expressão de células CD8+. Rearranjo molecular mono-
dade de erros diagnósticos pela semelhança clínica e clonal de TCR tem sido demonstrado no infiltrado da
histológica com diversas enfermidades, particular- MF purpúrica, mas também em casos de farmacoder-
mente a pitiríase alba.39 mias purpúricas, denominadas de “púrpura pigmentada
O curso clínico é o mesmo da MF clássica, com atípica”, portanto, nem sempre é fácil definir com abso-
boa resposta terapêutica à fototerapia e com repig- luta certeza o diagnóstico de MF purpúrica.31, 43,44
mentação pós-tratamento.40
Micose fungoide siringotrópica
Micose fungoide eritrodérmica Forma rara de MF em que há infiltração acentua-
Pacientes com MF clássica podem, ainda que da das glândulas e ductos sudoríparos écrinos por célu-
raramente, desenvolver quadro eritrodérmico no curso las linfomatosas.5,45 Clinicamente, as lesões tendem a
avançado de sua enfermidade. O quadro é praticamen- ser únicas, isoladas, em placas eritêmato-acastanhadas,
te indistinguível clinicamente da SS, porém, o histórico discretamente descamativas, mas podem se expressar
é distinto. O não cumprimento dos critérios diagnósti- por agrupamento de pápulas eritematosas.5,45
cos da síndrome demonstra que se trata de uma mani- Com frequência, há alopecia associada à lesão. Não
festação incomum, evolutiva da MF clássica.22,24 há, aparentemente, localização preferencial das lesões. O
O aspecto histológico e imunofenotípico são infiltrado linfocitário é denso ao redor e no interior da
idênticos àqueles da MF. Após tratamento, o paciente glândula. Os folículos e a epiderme podem estar infiltra-
pode recair, exibindo placas e tumores convencionais dos. O epidermotropismo não é comum e é rara a visuali-
ou com o padrão eritrodérmico prévio.22,24 zação de microabscesso de Pautrier.45,46 A detecção de
monoclonalidade de linfócitos CD4+ mais rearranjo gêni-
MICOSE FUNGOIDE POIQUILODÉRMICA (POIK- co de TCR indicam que o quadro pertence ao espectro da
ILODERMA ATROPHICANS VASCULARE) MF, embora também seja utilizado o termo “linfoma cutâ-
Neste subtipo clínico, as lesões são caracteriza- neo de células T siringotrópico” para tais quadros.5, 22,31,45,46
das por máculas eritêmato-acastanhadas, alternando
hipo e hiperpigmentação com padrão atrófico, com Micose fungoide vésico-bolhosa
xerose e telangiectasias na superfície. Em série de 49 Lesões vesiculosas, bolhosas e disidrosiformes
casos avaliados, o quadro foi mais comum em pacien- associadas à MF são extremamente raras.5 Tais lesões
tes jovens e mais associado à papulose linfomatoide. manifestam-se como lesões isoladas ou múltiplas, flá-
As localizações principais são mamas, região glútea e cidas ou tensas, aparecendo sobre pele normal ou
flexuras, podendo ser generalizado. O quadro histoló- sobre base eritematosa ou associada a placas e tumo-
gico é peculiar, pois apresenta epiderme atrófica, com res. Os pacientes são, em geral, mais velhos que o
perda das cristas interpapilares e o infiltrado é lique- observado na MF clássica e os casos relatados são em
noide, com fibrose da derme papilar. Microabscessos caucasoides.47,48 As localizações preferenciais são o
de Pautrier são habitualmente ausentes.5,22,41,42 Vasos tronco e os membros.
dilatados são observados na derme superficial, assim Histologicamente, há epidermotropismo de lin-
como macrófagos contendo melanina. O padrão fócitos cerebriformes e mesmo a formação de micro-

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824 Yamashita T, Abbade LPF, Marques MEA, Marques SA

abscessos de Pautrier.47,48 A formação da vesícula ou estadiamento da MF e da SS como resultado das dis-


bolha pode ocorrer na localização subcórnea, intrae- cussões ISCL-EORTC à luz de avanços da Biologia
pidérmica ou subepidérmica. Portanto, as bolhas Celular e Molecular e dos avanços das técnicas diag-
podem ser flácidas ou tensas.5 O mecanismo de for- nósticas expressas nos quadros 1 e 2.
mação sugerido é o da confluência de microabscessos
de Pautrier e acúmulo de linfócitos na camada basal MICOSE FUNGOIDE. Histopatologia
levando à perda de coesão dermoepidérmica.5, 49-51 A histopatologia da MF depende do estágio em
A presença de vesículas ou bolhas acompa- que é realizada a biópsia. No estágio inicial de mácula
nhando a MF parece ser indicativa de mau prognósti- (patch), os achados microscópicos são muitas vezes
co, pois cerca de 50% dos pacientes evoluem a óbito inespecíficos e se sobrepõem aos de outras doenças
dentro de um ano do aparecimento de vésico- inflamatórias ou não neoplásicas. O tratamento clíni-
bolhas.5,22,47,48 Uma variante disidrosiforme, com lesões co empírico com o uso de corticosteroides tópicos
localizadas nas palmas e plantas, tem sido descrita.49 pode alterar o aspecto histológico, tornando-o ainda
mais inespecífico, portanto, é necessária a desconti-
Outros subtipos nuidade do tratamento por cerca de 2 a 4 semanas
Além dos subtipos clínicos descritos acima, a antes da realização da biópsia, o mesmo em relação à
MF pode manifestar-se ou vir acompanhada de expres- terapia com o método PUVA.15
sões morfológicas incomuns e atípicas, tais como: MF No estágio de mácula da MF, com a lesão bem
papular, anetodérmica, hiperqueratósica, vegetante, estabelecida do ponto de vista clínico, observa-se infil-
pustular, ictiosiforme e mesmo “invisível”.49-55 Esta últi- trado de linfócitos margeando a camada basal e epi-
ma denominação diz respeito à pele de aparência nor- dermotropismo de células isoladas. A maioria dessas
mal que exibe, tanto à histopatologia e ao imunofenó- células são linfócitos pequenos e diferenciados, com
tipo quanto à microscopia eletrônica, evidências de núcleos discretamente arredondados ou cerebrifor-
infiltração por linfócitos monoclonais e atípicos. Em mes. A epiderme pode apresentar acantose, hiperque-
geral, estes pacientes apresentam lesões clássicas ou ratose ou sinais de dano da camada basal (incontinên-
sugestivas de MF que são denominadas de lesões de cia pigmentar) e edema. Pode haver proeminência de
MF “invisíveis” pela aparência normal ao exame clíni- vênulas pós-capilares e infiltrado, contendo eosinófi-
co. Eventualmente, MF “invisível” pode corresponder los, plasmócitos, macrófagos e células dendríticas dér-
à MF hipocromiante presente em pacientes de pele micas. Fibrose da derme papilar pode estar presente.
muito clara e, portanto, “idêntica” à pele normal.54,55 A intensidade do infiltrado é variável, sendo crescente
à medida que a lesão evolui e se aproxima do aspecto
MICOSE FUNGOIDE NA INFÂNCIA E clínico de lesão em placa.15,31,59-62
ADOLESCÊNCIA Em placas bem constituídas, o aspecto anatomo-
Estima-se que apenas 5% dos casos de MF ocor- patológico é de epiderme com certo grau de acantose,
ram na infância e adolescência. Contudo, a MF é a de padrão psoriasiforme, com espongiose rara ou
causa mais comum de linfoma cutâneo nesta faixa etá- ausente. O infiltrado de linfócitos com núcleos cerebri-
ria.56 Na distribuição dos casos de MF, a incidência formes é denso, subepidérmico, por vezes em faixa
abaixo dos 20 anos de idade é pequena, porém, pare- (Figura 5). O epidermotropismo é mais proeminente, o
ce ser crescente, particularmente o subtipo hipocro- microabscesso de Pautrier é encontrado em um terço
miante em pacientes de peles de fototipo alto. Além dos casos e o alinhamento de linfócitos na camada
da MF hipocromiante, outro subtipo referido na basal é frequentemente encontrado. Observa-se ainda
infância e adolescência é o da reticulose pagetoide infiltrado dérmico com células atípicas, com núcleos
tipo Woringer-Kolopp. Casos com semelhança clínica irregulares e cerebriformes (Figuras 6, 7 e 8).15,31,59
à pitiríase liquenoide e variceliforme aguda também O estágio tumoral caracteriza-se por um infiltra-
ocorrem na infância, sendo particularmente difíceis do dérmico difuso e denso de linfócitos cerebrifor-
de serem diagnosticadas como MF.57,58 mes, de médio a grande tamanho, com perda do epi-
O curso evolutivo da MF na infância e adoles- dermotropismo. Há uma diminuição concomitante do
cência é controverso. Alguns autores sugerem que a número de linfócitos T reativos e das células dendríti-
evolução é mais rápida e agressiva, com envolvimento cas. Nesta fase, pode ocorrer a transformação para lin-
extracutâneo frequente, porém, outros autores opi- foma T de grandes células CD30+ ou CD30-.15, 31, 59-62
nam que a evolução segue o padrão de MF observado Os aspectos histopatológicos da síndrome de
entre os adultos.5, 22 Sézary são indistinguíveis da MF. O epidermotropismo
é menos intenso, mas os microabscessos de Pautrier
ESTADIAMENTO E CLASSIFICAÇÃO podem estar presentes. Os linfócitos do infiltrado são
Olsen et al. (2007)6 publicaram as normas de de pequeno a médio tamanho, com aspecto cerebri-

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Micose fungoide e síndrome de Sézary: revisão e atualização clínica, histopatológica e imuno-histoquímica 825

QUADRO 1: Estadiamento para micose fungoide e síndrome de Sézary

PELE
T1 Máculas limitadas, pápulas e/ou placas restritas a 10% da superfície corporal. Pode ser estratificada em T1A
(máculas apenas) ou T1b (máculas e placas)
T2 Máculas, pápulas ou placas cobrindo mais que 10% da superfície corporal. Pode ser estratificada em T2a
(apenas máculas) ou T2b (máculas e placas)
T3 Um ou mais tumores (≥ 1 cm de diâmetro)
T4 Confluência de eritema cobrindo ≥ 80% da superfície corporal

LINFONODO
N0 Ausência de linfonodo periférico anormal
N1 Presença de linfonodo periférico anormal. Histopatologia Dutch grau 1
N1a Clone negativo. N1b – Clone positivo
N2 Presença de linfonodo periférico anormal. Histopatologia Dutch grau 2
N2a Clone negativo e N2b – Clone positivo
N3 Presença de linfonodo periférico anormal. Histopatologia Dutch grau 3 ou 4, com clone positivo ou negativo
Nx Presença de linfonodo periférico anormal, sem comprovação histológica

VISCERAL
M0 Ausência de comprometimento visceral
M1 Presença de comprometimento visceral (há necessidade de confirmação histopatológica e de o órgão envolvido
ser especificado)
SANGUE PERIFÉRICO
B0 Ausência de comprometimento sanguíneo importante (≤ 5% dos linfócitos do sangue periférico são atípicos –
células de Sézary)
B0a Clone negativo. B0b – Clone positivo
B1 Presença de > 5% de linfócitos atípicos no sangue periférico, mas não preenche o critério de B2. B1a – Clone
negativo e B1b – Clone positivo
B2 Presença de ≥ 1000 células de Sézary por mm3 de sangue periférico, com clone positivo

Graduação histológica do linfonodo, segundo o sistema Holandês (dutch) de classificação, reconhecido pela
ISCL E EORTC.
Estadiamento
N1 Grau 1 - Linfanedopatia dermopática
N2 Grau 2 - Comprometimento pela MF (presença de linfócitos cerebriformes > 7,5μm)
N3 Grau 3 - Substituição parcial da arquitetura do linfonodo (presença de várias células atípicas cerebriformes).
Grau 4 - Completa substituição da arquitetura do linfonodo
Fonte: ISLC/EORTC, 2007.6

forme, idênticos aos observados na MF. Variantes his- Ki-67 quanto o CD 30 tendem à negatividade nas fases
topatológicas são: presença de reação granulomatosa, iniciais de MF.63
depósito de mucina em folículos pilosos e transforma- O antígeno específico para o tropismo cutâneo
ção em estádios avançados para linfoma de grandes de linfócitos (cutaneous leucocyte-associated antigen
células, aspectos também possíveis de ocorrer na MF.
O comprometimento linfonodal mostra o mesmo QUADRO 2: Estadiamento para micose fungoide e
padrão de infiltrado observado na MF.5,22 síndrome de Sézary
Aspectos imuno-histoquímicos e moleculares
As células tumorais da MF são caracterizadas Estágio T N M B
como linfócitos T periféricos epidermotrópicos, cujo IA 1 0 0 0 ou 1
IB 2 0 0 0 ou 1
fenótipo é CD2+, CD3+, CD4+, CD5+, CD8-,
II 1 ou 2 1 ou 2 0 0 ou 1
CD45RO+, CD20- e CD30- (Figuras 9 e 10). IIB 3 0a2 0 0 ou 1
Raramente são observados casos CD4- e CD8+, duplo III 4 0a2 0 0 ou 1
positivo ou duplo negativo.15,63,64 IIIA 4 0a2 0 0
A perda da expressão do CD7 pode ser observa- IIIB 4 0a2 0 1
da mesmo nas fases iniciais da doença. No entanto, a IVA1 1a4 0a2 0 2
negatividade para CD7 isolada não é critério suficien- IVA2 1a4 3 0 0-2
te para o diagnóstico, podendo ser demonstrada em IVB 1a4 0a3 1 0-2
dermatoses inflamatórias. Com raras exceções, tanto o Fonte: ISLC/EORTC, 2007.6

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826 Yamashita T, Abbade LPF, Marques MEA, Marques SA

FIGURA 5: Micose fungoide: hiperplasia psoriasiforme da epiderme, FIGURA 7: Micose fungoide: epidermotropismo e microabscesso
com discreta hiperparaqueratose, infiltrado linfocitário dérmico de Pautrier
que invade a epiderme (epidermotropismo) (HE X 100)

receptor – CLA), reconhecido pelo anticorpo HECA- O método diagnóstico de Biologia Molecular
452, é expresso na maioria dos casos de MF em linfo- mais empregado na detecção de linfócitos T monoclo-
mas e discrasias de células T.63 Marcadores como o nais é a análise do rearranjo gênico do TCR, que pode
antígeno intracelular de células T (TIA-1), granzime B ser realizado através dos métodos de reação em
e perforina são negativos na micose fungoide.5,22 cadeia da polimerase (PCR) ou Southern blot. Porém,
A completa avaliação da expressão dos antíge- alguns estudos demonstraram que apenas 53% dos
nos T ou perda da imunomarcação, por exemplo, do casos de MF em fases iniciais apresentaram população
CD2 e CD5, pode fornecer informações que corrobo- de linfócitos T monoclonais. Inconveniente adicional
rem o diagnóstico, mas, ainda assim, a sensibilidade é que várias dermatites também podem ter expansão
continua baixa.15,63 Por outro lado, o estudo da clona- monoclonal de células T.21,66-68
lidade, associado à imuno-histoquímica, oferece alta As observações acima têm levado especialistas à
especificidade diagnóstica, especialmente quando há discussão quanto às dificuldades diagnósticas das
perda isolada da expressão do CD7.15,63 Recentemente, lesões iniciais de MF e propõem-se algoritmos que
tem sido sugerido que a presença de células T regula- incluam a histopatologia, imuno-histoquímica e técni-
tórias correlacionam-se à presença da micose fungoi- cas de Biologia Molecular para melhorar a acurácia
de e ao prognóstico, particularmente a T reguladora diagnóstica e antecipar o diagnóstico.16,18,21,23,31,64-70
FOXP3+, que pode ser expressa no infiltrado epider- O padrão imuno-histoquímico na síndrome de
motrópico em diferentes estágios da MF.65 Sézary é de células CD3+, CD4+, CD7- e CD8-. Ou

FIGURA 6: Micose fungoide: intenso epidermotropismo de FIGURA 8: Micose fungoide: epidermotropismo de linfócitos e
linfócitos e praticamente ausência de espongiose (HE X 400) alinhamento de linfócitos na camada basal (HE X 400)

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Micose fungoide e síndrome de Sézary: revisão e atualização clínica, histopatológica e imuno-histoquímica 827

FIGURA 9: Micose fungoide: imunomarcação de linfócitos T CD3+ FIGURA 10: Micose fungoide: imunomarcação mostrando células
na derme e na epiderme (IHQ X 400) CD4+ na epiderme e derme. (IHQ X 400)

seja, padrão que não a distingue da MF. A imunomar- mários da pele e se presta a diferentes diagnósticos
cação para MUM-1 (oncogene do mieloma múltiplo) diferenciais nas suas fases iniciais. Classicamente, é
foi descrita como positiva na síndrome e como nega- enfermidade de difícil diagnóstico clínico-histopatoló-
tiva na MF, o que poderia tornar-se auxiliar no diag- gico e imuno-histoquímico. Os autores apresentam as
nóstico diferencial imuno-histoquímico.71 manifestações clássicas da MF e suas diversas variantes
clínicas e histopatológicas. A síndrome de Sézary é
CONCLUSÃO muito rara, mas deve entrar como diferencial de roti-
Os linfomas cutâneos primários da pele são na quando da investigação de eritrodermias de etiolo-
raros, nem sempre claramente classificáveis, mas de gia a esclarecer. E, como sinal de sua identidade ao
conhecimento indispensável pelo dermatologista. A “espectro” micose fungoide, a síndrome de Sézary
micose fungoide é a mais frequente dos linfomas pri- exibe aspectos histológicos e imuno-histoquímicos
indistinguíveis dos observados na MF. q

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Como citar este artigo/How to cite this article: Yamashita T, Abbade LPF, Marques MEA, Marques SA. Micose fun-
goide e síndrome de Sézary: revisão e atualização clínica, histopatológica e imuno-histoquímica. An Bras
Dermatol. 2012;87(6):817-30.

An Bras Dermatol. 2012;87(6):817-30.


Micose fungoide e síndrome de Sézary: revisão e atualização clínica, histopatológica e imuno-histoquímica 829

QUESTÕES

1. São exemplos de linfomas cutâneos primários de 8. O conceito de alguns autores de que “parapsoríase”
células T: é sinônimo de micose fungoide no estágio inicial
a. Micose fungoide vale para as “parapsoríases”:
b. Papulose linfomatoide a. Em pequenas placas
c. Síndrome de Sézary b. Digitiforme
d. Todos os anteriores c. Em grandes placas
d. Localizadas no tronco
2. É exemplo de linfoma primário cutâneo de
células T agressivo: 9. As localizações preferenciais da micose fungoide
a. Linfoma paniculite-símile com fenótipo de células são:
T alfa/beta a. Áreas fotoexpostas
b. Síndrome de Sézary b. Áreas fotocobertas
c. Micose fungoide hipocromiante c. Couro cabeludo
d. Papulose linfomatoide d. Mamas

3. São variantes reconhecidas de micose fungoide 10. Em pacientes pós-tratamento da forma tumoral
(MF) pela classificação WHO-EORTC as seguintes: da micose fungoide, quando em recaída, as lesões serão
a. Cútis laxa granulomatosa na forma ou apresentação clínica:
b. Reticuloide pagetoide a. Tumoral sempre
c. Foliculotrópica b. Em máculas ou em placas
d. Todas as anteriores c. Em placas sempre
d. Úlceras
4. Terminologia histórica ligada à micose fungoide
que não mais é reconhecida como tal inclui a: 11. Transformação da micose fungoide em um
a. Reticulose pagetoide linfoma anaplásico CD30+ é evento:
b. Forma tumoral d’emblée a. Impossível
c. O subtipo Woringer-Kollop b. Discutível
d. Cútis laxa granulomatosa c. Possível na fase tumoral
d. Sem impacto no prognóstico
5. Assinale a alternativa correta:
a. Linfomas cutâneos primários são os mais frequentes 12. Em relação à síndrome de Sézary, pode-se
linfomas de localização extranodal afirmar que:
b. Micose fungoide corresponde a 50% ou mais dos a. É considerado sinônimo de forma eritrodérmica
linfomas cutâneos primários da MF
c. Nos Estados Unidos da América, a micose fungoide b. É linfoma raro, em torno de 3% dos linfomas
é quase exclusiva de indivíduos de cor branca cutâneos
d. A faixa etária acometida é principalmente entre c. Prurido é sintoma raro
40-50 anos. d. É frequente em jovens

6. A imunomarcação na micose fungoide pode ser: 13. É critério para fechar diagnóstico de síndrome
a. CD3+ de Sézary:
b. CD4+ e CD8+ a. Presença de ≥ 1000 cels de Sézary por mm3 de
c. CD4+ e CD20- sangue
d. Todas as acima b. Relação CD4+/CD8+ > 10 no sangue periférico
c. Que as células de Sézary representem > 20% dos
7. Podem ser considerados como diagnósticos linfócitos circulantes
diferenciais clínicos da micose fungoide: d. Todas as anteriores
a. Eczema crônico e pitiríase alba
b. Parapsoríase e dermatite atópica 14. Em relação à micose fungoide foliculotrópica,
c. Hanseníase e cloracne pode-se afirmar que:
d. Todas as anteriores a. Localizações preferenciais são tronco e membros
b. Tanto a epiderme quanto o folículo são alvos por
igual do epidermotropismo de linfócitos
c. É frequente o comprometimento do supercílio
d. O prognóstico segue aquele da micose fungoide
clássica

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830 Yamashita T, Abbade LPF, Marques MEA, Marques SA

15. Em relação ao reticuloide pagetoide, é correto 19. Em relação à imunomarcação em lesão tipo
afirmar que: placa da micose fungoide, é possível afirmar que:
a. Subtipos Woringer-Kollop e Ketron-Goodman a. O perfil clássico é CD3+, CD4+, CD8-, CD20-,
refletem diferentes gravidades para o mesmo tipo CD45RO+
de linfoma b. Eventual perda de imunomarcação CD7+ é
b. Caracteriza-se por intenso epidermotropismo de irrelevante para o diagnóstico
linfócitos c. Imunomarcação CD30+ é irrelevante para o
c. Lesões são usualmente múltiplas prognóstico
d. Tendência à ulceração é o principal padrão clínico d. Imunomarcação CD8+ invalida o diagnóstico de MF

16. Em relação ao subtipo hipocromiante da micose 20. Na micose fungoide, denomina-se estádio T2
fungoide, pode-se afirmar que: quando:
a. É mais frequente em pacientes com fototipo alto a. Há predominância de placas e com tamanho
b. É mais frequente em crianças e adolescentes mínimo de 10 cm
c. Imunomarcação para CD8+ não é incomum b. Há placas e tumores coexistindo, não
d. Todas as anteriores estão corretas necessariamente com predominância de tumores
c. As placas presentes estão ulceradas
17. Em relação ao subtipo poiquilodérmico da micose d. Há máculas, placas e mesmo pápulas
fungoide, pode-se afirmar que: comprometendo > 10% da superfície corporal
a. Apresenta histológico com atrofia da epiderme,
infiltrado liquenoide e vasos dilatados na derme
b. É o subtipo de MF mais frequente em áreas
fotoexpostas
c. É comum a imunomarcação CD4-/CD8-
d. Não é comum o encontro de melanina em macrófagos Gabarito
da derme, o que a distingue da MF clássica Fator de necrose tumoral-alfa e a rede de
citocinas na psoriase. An Bras Dermatol.
18. Em relação ao estágio tumoral da micose fungoide, 2012;87(5):673-83.
pode-se afirmar que:
a. As lesões não surgem a partir de mácula ou placa 1- d 6- b 11- a 16- d
preexistente 2- d 7- b 12- b 17- d
b. O infiltrado inflamatório é denso na derme, mas
3- c 8- d 13- c 18- a
perde o epidermotropismo
c. Nesse estágio, não há risco de transformação para 4- a 9- d 14- c 19- a
linfoma CD30+ 5- d 10- a 15- d 20-b
d. Evolução para ulceração é evento raro
AVISO
Caros associados, para responder ao
questionário de EMC-D, por favor, acessem o
site dos Anais Brasileiros de Dermatologia. O
prazo para responder é de 30 dias a partir da
publicação online no link a seguir,
www.anaisdedermatologia.org.br

An Bras Dermatol. 2012;87(6):817-30.

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