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HIPNOSE PARA CONTROLE DA DOR: AS PROVAS CIENTÍFICAS

“ A dor precisa ser sentida.



Essa frase se tornou famosa no famoso best-seller “A culpa é das estrelas”, do autor John
Greene. Esse livro conta sobre a história de dois adolescentes que se encontram em um grupo
de apoio para pacientes com câncer: Hazel e Augustus. Devido à doença, Hazel tenta ao máximo
não se envolver emocionalmente. No entanto, como aprendemos em hipnose, o verbo “tentar”
implica em falha e eles acabam se apaixonando.
Ainda que eu tenha problemas em concordar sobre a importância em se sofrer com as dores
decorrentes do câncer, precisamos admitir que precisamos dessa capacidade neurológica de
sentirmos a dor. Caso contrário, não sobreviveríamos.
Frequentemente, chamamos a dor de “um sinal importante”, “um alerta”. Ela mostra que indica
que existe algo de errado e que algo requer nossa atenção.

Por exemplo, suponha que você está cozinhando e coloca sua mão na lateral de uma
panela quente. Nesse caso, você irá sentir uma dor imediata que vai forçá-lo a tirar a mão de lá,
prevenindo que você se queime ainda mais. Esse tipo de dor que surge de repente, decorrente
de alguma doença, inflamação ou até mesmo lesão dos tecidos (e.g. após um trauma, uma
queimadura, uma cirurgia..) chamamos de dor aguda e são essenciais para nossa sobrevivência.
Uma vez que a dor foi reconhecida, diagnosticada e ela persiste mesmo com o tratamento
apropriado, ela perde seu valor de alerta e passa a ser chamada de dor “crônica”. Chamamos de
dor “crônica” a qualquer dor diagnosticada há mais de seis meses e que persiste, sem qualquer
tipo de propósito útil.
Quando o ser humano sente dor, não acontece apenas uma sensação fisiológica, essa dor é
interpretada. Quantas vezes não tivemos a experiência de sentir que a dor de algum corte em
nosso corpo aumentava bastante no momento em que notávamos sua presença? Assim, a
experiência de sentir a dor é extremamente subjetiva.
O uso da hipnose clínica ainda é controverso para alguns procedimentos. No entanto, se
temos algo bem documento cientificamente é o uso da hipnose para o controle de dor – algo
bem natural, se considerarmos o quanto a sensação de dor é subjetiva. Assim, escrevi esse artigo
para tranquilizar tanto hipnoterapeutas quando seus clientes: sim, a ciência já constatou que a
hipnose é muito recomendada para o controle da dor.
O uso de sugestões no contexto clínico é uma prática muito antiga e seu registro
documentado mais antigo é o do Papiro de Ebers: um texto médico egípcio que data do ano
1550 A.C. onde os procedimentos médicos eram acompanhados de sugestões envolvendo bem
estar e cura.
No século XIX, essas técnicas envolvendo sugestão já haviam avançado bastante. Na década
de 1830, os médicos Jules Cloquet e John Elliotson já realizavam procedimentos cirúrgicos
importantes usando a hipnose como único anestésico.
No entanto, foi o médico escocês James Esdaile o grande responsável pela popularização da
anestesia hipnótica. Entre os anos de 1845 e 1851, ele teria usado a hipnose para a anestesia em
aproximadamente 300 pacientes em cirurgias realizadas na Índia durante esse período.
Talvez, diante dessas informações, você esteja se perguntando: “Oras, mas se a hipnose já
era tão utilizada no século XIX para os procedimentos cirúrgicos, por que sua popularidade é tão
baixa no século XXI?”

O motivo é simples: no mesmo período em que Esdaile realizava todos esses procedimentos
utilizando-se apenas de hipnose, foram descobertos os anestésicos químicos: éter em 1846
e o clorofórmio 1847. Consequentemente, o uso rotineiro da hipnose como anestésico foi
descontinuado progressivamente, já que a anestesia inalatória por meio do éter e clorofórmio era
muito eficaz.
A hipnose voltará com um pouco mais de força no contexto médico apenas nos anos 50 do
século XX, quando o hipnotista Dave Elman começa a ensinar técnicas envolvendo anestesia para
os médicos. Desde essa época, essas técnicas tem sido utilizadas com bastante sucesso, ainda que
por um público restrito.
No entanto, nos últimos vinte anos, tem surgido um número bastante significativo de
pesquisas que apoiam o uso da hipnose para o tratamento da dor. Aliás, o uso da hipnose para
controlar a dor foi tão bem documentado nos últimos anos que vários pesquisadores afirmam
que o ceticismo em relação ao uso da hipnose para o controle da dor já não possui qualquer
fundamento.
As pesquisas típicas envolvem a administração de estímulos de dor através de meios tais
como turbilhão de água gelada, calor ou pressão e depois efetuar a mensuração da redução da dor
após a hipnose. Geralmente, a hipnotizabilidade é medida como uma covariável - altos e baixos
são comparados - nesta variável.
Uma publicação relativamente recente identificou que a hipnose melhora a recuperação do
paciente após uma cirurgia. Nessa meta-análise foi observada que a hipnose tem efeitos positivos
em vários indicadores clínicos. Esses efeitos positivos foram encontrados tanto em medidas de
auto-relato quanto pela observação de outras pessoas (por exemplo, pelo médico/médica dentre
outros).
Os indicadores clínicos são os mais variados o possível: afeto negativo (por exemplo,
ansiedade e depressão), dor, medicação para dor, duração do procedimento e internação e até
mesmo indicadores fisiológicos (e.g., pressão arterial, freqüência cardíaca e hormônio do estresse,
retorno da força muscular, vômito pós-operatório e fadiga.
Em geral, os resultados indicaram que os pacientes cirúrgicos em condições de tratamento
hipnótico demonstraram melhores resultados do que 89% dos pacientes do que aqueles que não
se submeteram ao procedimento (grupo controle). Pacientes em grupos de hipnose também
relataram significativamente mais satisfação do que aqueles em grupos controle.

1 Barabasz, A. F., Olness, K., Boland, R., & Kahn, S. (2006).Evidence based medical hypnosis: A
primer for health care practitioners (Vol. 1). New York, NY: Routledge.

2 Barabasz, A. F., Olness, K., Boland, R., & Kahn, S. (2006).Evidence based medical hypnosis: A
primer for health care practitioners (Vol. 1). New York, NY: Routledge.
Dessa maneira, já existem vários artigos científicos envolvendo hipnose e o controle de dor.
No entanto, encontrar esses artigos não é tão fácil por dois motivos simples:

a) Apesar de a internet ser um verdadeiro mar de informações, é difícil identificar


mos dentre as informações quais são confiáveis e quais são apenas
pseudociência.

b) Ainda que nesse mar de informações da internet você encontre os artigos confiá
veis, não é fácil conseguir baixa-los na internet, já que frequentemente eles pos
suem acesso restrito.

Assim, com o objetivo facilitar seus estudos, estou lhe entregando não apenas uma lista com
vários artigos confiáveis, mas também estou oferecendo a possibilidade de você poder ler esses
artigos, informar-se melhor e até mesmo enviar esses artigos para seus clientes de terapia.

ARTIGOS CIENTÍFICOS ENVOLVENDO HIPNOSE E CONTROLE DE DOR

Schulzstubner, S. et al. Clinical hypnosis modulates functional magnetic resonance imaging


signal intensities and pain perception in a thermal stimulation paradigm. Regional Anesthesia
and Pain Medicine, v. 29, n. 6, p. 549-556, 2004.

Essa pesquisa sugere hipnose clínica pode impedir que os estímulos nociceptivos atinjam as
estruturas corticais mais altas responsáveis pela percepção da dor. Uma hipótese levantada nesse
artigo é a possibilidade de a inibição da dor devido a hipnose seja decorrente de um aumento da
ativação do córtex cingulado anterior esquerdo e os gânglios basais.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/048e7ysmeefacdn/schulzstbner2004.pdf?dl=0

Jensen, M.; Day, M.; Miró, J. Neuromodulatory treatments for chronic pain: efficacy and
mechanisms. Nature Reviews Neurology, v. 10, n. 3, p. 167-178, 2014.
A dor crônica é comum e os tratamentos disponíveis não fornecem alívio adequado para a
maioria dos pacientes. O objetivo desta revisão bibligráfica é resumir o estado do conhecimento
sobre a eficácia e mecanismos de tratamentos neuromoduladores não invasivos para dor crônica.
Os resultados fornecem suporte para a eficácia e o perfil de efeitos colaterais positivos
de hipnose e evidências limitadas para a eficácia potencial do treinamento de meditação,
procedimentos de estimulação elétrica não invasiva e procedimentos de neurofeedback. A
pesquisa de mecanismos indica que a hipnose influencia múltiplos processos neurofisiológicos
envolvidos na experiência da dor. A evidência também indica que a meditação consciente tem
efeitos tanto imediatos quanto a longo prazo sobre estruturas corticais e atividades envolvidas em
atenção, resposta emocional e dor. Com base nos dados discutidos nesta revisão, o treinamento no
uso da auto-hipnose pode ser considerado uma abordagem viável de “primeira linha” para tratar a
dor crônica.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/5cl4ujqvz458m5p/jensen2014-2.pdf?dl=0

Derbyshire, S. et al. Cerebral activation during hypnotically induced and imagined pain.
NeuroImage, v. 23, n. 1, p. 392-401, 2004.

A ausência contínua de uma causa física identificável para distúrbios como dor lombar
crônica, dor facial atípica ou fibromialgia é uma fonte de controvérsia e frustração contínua entre
médicos e pesquisadores de dor. Nesse artigo, foram identificadas áreas cerebrais diretamente
envolvidas na geração de dor usando sugestão hipnótica para criar uma experiência de dor
na ausência de qualquer estímulo nocivo. Em contraste com a dor imaginada, a ressonância
magnética funcional (fMRI) revelou mudanças significativas durante essa experiência de dor
hipnótica (HI) dentro dos címites do tálamo e cingulado anterior (ACC), insula, pré-frontal e
parietal. Esses achados se comparam bem com os padrões de ativação durante a dor de fontes
nociceptivas e fornecem a primeira evidência experimental direta em humanos que liga a
atividade neural específica com a geração imediata de uma experiência de dor.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/5y52qfbyjwy4afj/derbyshire2004.pdf?dl=0
Deeley, Q. et al. Modulating the Default Mode Network Using Hypnosis. International Journal of
Clinical and Experimental Hypnosis, v. 60, n. 2, p. 206-228, 2012.

Esse artigo tem o objetivo de debater se existe ou não uma base neural para o estado hipnótico.
Esse artigo sugere a hipótese de que o transe hipnótico pode produzir alterações na rede de modo
padrão (Default Mode Network - DMN). A DMN descreve uma rede de regiões cerebrais mais
ativas em condições de tarefa de baixa demanda em comparação com as tarefas de alta demanda e
tem sido associada a processos como o pensamento independente de tarefas, memória episódica,
processamento semântico e autoconsciência. No entanto, os correlatos experienciais e cognitivos
do DMN continuam difíceis de investigar diretamente. Usando a hipnose como meio de alterar o
estado de repouso (“padrão”) em conjunto com medidas subjetivas e imagens cerebrais, os autores
descobriram que o estado de absorção atencional após uma indução hipnótica estava associado à
redução da atividade no DMN e ao aumento da atividade nos sistemas pré-frontais, sob condições
invariantes de estimulação visual passiva.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/jpb599kkywjkjkl/deeley2012.pdf?dl=0

Vanhaudenhuyse, A.; Laureys, S.; Faymonville, M. Neurophysiology of hypnosis.


Neurophysiologie Clinique/Clinical Neurophysiology, v. 44, n. 4, p. 343-353, 2014.

Esse artigo é mais uma revisão bibliográfica envolvendo os processos hipnóticos e os


mecanismos cerebrais associados. Foram analisados estudos comportamentais, neuroimagem
e eletrofisiológicos da hipnose como um estado, bem como a hipnose como ferramenta para
modular as respostas cerebrais aos estímulos dolorosos. Estudos têm demonstrado que os
processos hipnóticos modificam as redes internas de conscientização interna (conscientização
pessoal) e externas (consciência ambiental). Os mecanismos cerebrais subjacentes à modulação
da percepção da dor sob condições hipnóticas envolvem áreas corticais e subcorticais, incluindo
cístulas antecipais e córtex pré-frontal, gânglios basais e tálamo. Combinado com anestesia local
e sedação consciente em pacientes submetidos a cirurgia, a hipnose está associada ao melhor
conforto pré e pós-operatório de pacientes e cirurgiões.

Baixe o artigo nesse link:


http://www.coma.ulg.ac.be/papers/hypnose/vanhaudenhuyse_ClinNeurophys2014.pdf
OUTROS ARTIGOS...

Certamente, as maiores evidências cientificas para o uso da hipnose está no seu uso
para o controle de dor. No entanto, também existem artigos científicos envolvendo hipnose e
outras áreas. Apesar de esses outros estudos ainda serem iniciais, eles são um bom início para a
investigação científica da hipnose para outras áreas.

HIPNOSE E TABAGISMO

Hypnotherapy is more effective than nicotine replacement therapy for smoking cessation:
Results of a randomized controlled trial. Faysal M. Hasan, Sofija E. Zagarins, Karen M. Pischke,
Shamila Saiyed, Ann Marie Bettencourt, Laura Beal, Diane Macys, Sanjay Aurora e Nancy
McClearyComplementary Therapies in Medicine, 2014-02-01, Volume 22, Edição 1, Páginas
1-8, Copyright © 2014 Elsevier Ltd

Os pacientes com hipnoterapia apresentaram maior probabilidade do que os pacientes com de


Terapia de Reposição de Nicotina (TRN) de serem não fumantes após 12 semanas (43,9% vs.
28,2%; p = 0,14) e 26 semanas após a hospitalização (36,6% vs. 18,0%; p = 0,06). As taxas de
abstinência no tabagismo no grupo HNRT foram semelhantes ao grupo H. Não houve diferença
nas taxas de abstinência de tabagismo às 26 semanas entre “auto-abandono” e participantes em
qualquer dos grupos de tratamento.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/58qwmerqvddwf2y/hasan2014.pdf?dl=0

HIPNOSE E SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL

Miller, V & R Carruthers, H & Morris, J & Hasan, Syed & Archbold, S & J Whorwell, P. (2015).
Hypnotherapy for irritable bowel syndrome: An audit of one thousand adult patients.
Alimentary pharmacology & therapeutics. 41. . 10.1111/apt.13145.

A hipnoterapia é uma intervenção baseada em evidências para o tratamento de distúrbios intes-


tinais funcionais, particularmente a síndrome do intestino irritável. Essa é certamente uma das
maiores pesquisas já realizadas com o uso da hipnose: mais de 1000 participantes! Essa pesquisa
confirmou que a hipnose é uma excelente ferramenta para ajudar nesse tipo de problema.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/82syekcyd4spkad/miller2015.pdf?dl=0
HIPNOTERAPIA E OS DISTÚRBIOS ESOFÁGICOS

Megan E. Riehl & Laurie Keefer (2015) Hypnotherapy for Esophageal Disorders, American
Journal of Clinical Hypnosis, 58:1, 22-33, DOI: 10.1080/00029157.2015.1025355

Embora semelhante em fisiopatologia, existe menos conhecimentos sobre a utilidade da


hipnoterapia no trato gastrointestinal superior do que na síndrome do intestino irritável. Os
distúrbios esofágicos, a maioria dos quais são de natureza funcional, causam sintomas dolorosos
e desconfortáveis ​​que afetam a qualidade de vida do paciente e são difíceis de tratar a partir
de uma perspectiva médica. O objetivo da hipnoterapia direcionada ao esôfago é promover
um profundo estado de relaxamento com atenção focada, permitindo ao paciente aprender a
modular sensações fisiológicas e sintomas que não sejam facilmente abordados com a intervenção
médica convencional. Atualmente, o uso da hipnose é adequado para disfagia, globus, dor
torácica funcional / dor torácica não cardíaca, dispepsia e azia funcional. Neste artigo, os autores
fornecerão uma justificativa para o uso da hipnose nesses distúrbios, apresentando a ciência
sempre que possível, descrevendo sua abordagem com esses pacientes e compartilhando um
estudo de caso que represente um resultado bem sucedido.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/seqd12e70onqjwy/riehl2015.pdf?dl=0

HIPNOSE E A ANSIEDADE PRÉ-OPERATÓRIA

Hypnosis Reduces Preoperative Anxiety in Adult Patients. Haleh Saadat, MD, Jacqueline
Drummond-Lewis, MD, Inna Maranets, MD, Deborah Kaplan, Anusha Saadat, Shu-Ming Wang,
MD, and Zeev N. Kain, MD. Center for the Advancement of Perioperative Health, Departments
of Anesthesiology, Pediatrics, and Child Psychiatry, Yale University School of Medicine, New
Haven, Connecticut

Nesse artigo, foi observado que a hipnose alivia significativamente a ansiedade pré-operatória.

Baixe o artigo nesse link:


https://www.dropbox.com/s/s6wakad7kfp6gtw/saadat2006.pdf?dl=0

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