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Vanderlei Miranda Anotações sobre evangelização November 9, 2009

HISTÓRICO

15/02/2009 Exposição. Definição do assunto e da estrutura dos encontros.


09/05/2009 Exposição. Estudo do capítulo Da Perfeição Moral e O Espírito e a sua circunstância.
06/06/2009 Exposição. Estudo sobre os Aspectos Noológicos do funcionamento psíquico (os esquemas)
e sua relação coma atividade de evangelização.
25/06/2009 Revisão de texto. Alteração de conteúdo e nova ordenação de tópicos visando simplificar o
estudo.
04/07/2009 Exposição. Estudo sobre os esquemas: conceito concreto e sua relação coma atividade de
evangelização.
08/08/2009 Exposição e Prática. Exercício de construção esquemática. Revisão funcionamento
noológico. Dinâmicas de Personalidade.
04/11/2009 Revisão de texto. Acréscimo de conteúdo para aula do dia 07/11 sobre o ato afetivo. Revisão
dos últimos tópicos a serem desenvolvidos, caso haja tempo.
07/11/2009 Exposição e Prática. O ato afetivo: as emoções como processo.
Nota: Encontro originalmente marcado para o dia 12/09/2009
07/02/2010 Exposição e Prática. Evangelizando Espíritos.
sem data? Prática. Como preparar as aulas. Apresentação de estratégias e táticas úteis.

CONTEÚDO SINTÉTICO

Encontro 15/02/2009

Foram definidos encontros com 1 hora e meia de duração, aos sábados, 15 às 16:30hs e a
seguinte pauta de estudos:

Aspectos Gerais
º Quem é o evangelizador?
º Sentimento - o que é, como/qdo/de q forma percebê-lo/ forma atual e ideal de lidar
com ele (usar o texto de OLE)
Aspectos Específicos
º Psicologia comportamental - a criança na sala de aula
º A criança teimosa (como lidar, quando,por que )
º Crianças mais velhas - interesses/momento/chamamentos, atividades em equipe,
como despertar o sentimento entre eles, coleguismo, sexualidade
Como atividade preparatória para os encontros, foi sugerido que se estude o capítulo DA
PERFEIÇÃO MORAL de O Livro dos Espíritos.

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Anotações sobre evangelização

Encontro 09/05/2009

Objetivos
• Apresentar e discutir o ESQUEMA CONCEITUAL encontrado no capítulo Da
Perfeição Moral, de O Livro dos Espíritos, como orientação geral da atividade de
evangelização. Apresentar as razões e finalidades para a atividade da evangelização em
si.
• Apresentar alguns conceitos fundamentais que servirão de subsídio para as atividades
de caráter metodológico que virão posteriormente, usando a agenda de tópicos a
seguir:

Agenda de Tópicos
1. Da Perfeição Moral - esquema conceitual[1]
2. O Espírito e sua circunstância: ambientação reencarnatória, grupo de afinidade, emoções
3. Aspectos noológicos - visão sintética[2] do papel dos esquemas de ação e de representação
4. Emoções e sentimentos na aula de evangelização - visão sintética das emoções como estado e
processo

Encontro 06/06/2009

Objetivos
• Apresentar uma visão noológica do funcionamento do psiquismo - visão sintética
• Fornecer exemplos de esquemas como preparação para elaboração posterior de um
conceito concreto
• Estabelecer o paralalo com as formas-pensamento segundo a dinâmica de fluxo
energético do perispírito - visão sintética

Encontro 04/07/2009

Objetivos
• Apresentar mais alguns exemplos de esquemas segundo os diversos campos de
manifestação do Espírito (vídeo de Maggie)
• Iniciar o desenvolvimento do conceito concreto[3] de esquema e identificar sua 1

presença na atividade de evangelização relacionando-o com formas-pensamento


• Apresentar os elementos que compõe o diagrama noológico através de exemplo - visão
sintética (cont.)

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Anotações sobre evangelização

Encontro 08/08/2009

Objetivos
• Realizar exercício de construção esquemática (usar índice do livro Constelação
Familiar, de Joanna de Ângelis como exemplo) e apresentar alguns princípios da
decadialética e a pentadialética[4] (dialética dos dez campos e cinco planos de Mário
Ferreira dos Santos) como instrumento de elaboração de um conceito concreto.
• Revisar o diagrama do desenvolvimento noológico, reforçando as polarizações dos três
eixos e associando-os às dinâmicas de personalidade (Human Dynamics™) 2

• Estabelecer o estudo concreto de esquema (como acontece, o que é, e para que serve), a
a partir dos exercícios sobre "como me preparo para uma aula de evangelização",
estabelecendo o paralelo com a dinâmica de personalidade
• Exemplificar a ação das Dinâmicas de Personalidade dos evangelizadores a partir do
exercício acima

Encontro 07/11/2009

Objetivos
• Redefinir o ato afetivo e apresentar sua finalidade a partir de algumas pesquisas
recentes: emoção como processo, utilizando a decadialética como guia.

Encontro ?

Objetivos
• Apresentar o modelo de trabalho conforme a proposta da evangelização de Espíritos,
acentuando o atendimento das necessidades do Espírito e o papel da Caridade para o
desenvolvimento do senso moral.

Encontro Prático ?

Objetivos
• Mostrar como preparar aulas levando em conta o que foi estudado até o momento,
com foco em:
· conceitos - foco na reflexão
· emoções - foco na vivência
· atitudes - foco na postura
criando-se um círculo virtuoso de avaliação pessoal de excelência com as crianças.
• Fornececer exemplos concretos de estratégias para intervenção cognitiva/afetiva, com
base na Filosofia para Crianças e no programa SixSeconds.

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Anotações sobre evangelização

• Referência: Para iniciar a atividade de evangelização

Indice de tópicos estudados


1. Da Perfeição Moral
2. O Espírito e sua circunstância
3. Aspectos noológicos do funcionamento psíquico
4. Contribuições da doutrina espírita aos esquemas: Espaço, Tempo e Pensamento
5. O ato afetivo: emoções como estado e como processo
6. O modelo de trabalho da Evangelização de Espíritos
7. Aspectos metodológicos para as aulas de evangelização 3

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Anotações sobre evangelização

1. Da Perfeição Moral

Ao se examinar o capítulo de O Livro dos Espíritos, Da Perfeição Moral, somos levados a


inferir na própria disposição dos tópicos uma lição quanto à forma como Kardec apresenta o
processo de educação moral. A tabela a seguir apresenta o conteúdo do capítulo.

Tópicos Conteúdos relevantes


as virtudes e os vícios (14 - VISÃO GERAL
numero de questões sob o tópico) • sentimento como processo
• como fazer o bem
paixões (6) EMPECILHOS GERAIS
• o exagero dos sentimentos
• princípio das paixões
• prática da abnegação
egoísmo (5) PARTICULARIZAÇÃO PARA O ENCARNADO
• o sentimento do interesse pessoal
• elemento acidental da humanidade
• vida moral e vida material
• relação com a importância que se dá a personalidade
• o que desenvolve o sentimento de egoísmo
• educação para fazer homens de bem
• sentimento natural de buscar a felicidade
• compreensão do males causados pelo egoísmo a si e às
relações sociais
• consciência dos sofrimentos experimentados por efeito do
egoísmo
• desenvolvimento do sentimento de caridade

caracteres do homem de bem (10) CRITÉRIOS


Indícios de progresso espiritual

conhecimento de si mesmo (1) MÉTODO


Conhecimento de si mesmo como chave do progresso individual

A partir desse conteúdo, destacamos na figura abaixo a estrutura conceitual do capítulo.


Repare que há um processo subentendido, o próprio processo de evangelização ou educação
para o homem de bem, nas palavras de Kardec. Assim, a partir do indivíduo segundo a sua
realidade, isto é, o estado presente em que se encontra juntamente com a sua circunstância,
deve ocorrer um processo de evangelização onde, ao final dele, o sujeito está mais
humanizado, mais conforme o que define um homem de bem. A atividade de evangelização 4

vai, então, propiciar a oportunidade para que isso se dê. Isso está representado pela área
ATIVIDADE na figura abaixo.

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Anotações sobre evangelização

Agora, note que essa atividade, i.e., a evangelização, vai usar certos recursos para poder ser
efetivada. Ou seja, precisa ser realizada contando com alguns elementos aqui denominados
SUPORTE. Vamos entender isso da seguinte forma. Para que a atividade tenha o resultado
esperado, isto é, a humanização do indivíduo, é necessário ter tais recursos disponíveis,
prontos. São os "instrumentos" a serem utilizados.
Finalmente, a atividade necessita ser conduzida conforme certas orientações, segundo um
caminho que torne o processo o mais eficiente possível, pois desvios representarão
desperdício de tempo e recursos. Então, guiando a atividade deve haver certos princípios de
validade universal (Princípios Éticos), isto é, que valham tanto para mim quanto para
qualquer ser humano e que valham sempre, pois como veremos posteriormente, aqui nesse
campo da educação, os meios devem ser sempre coerentes com os fins. Aqui chamaremos
tais princípios de REFERÊNCIAS. De forma geral diremos que tais referências são
representadas pelo Evangelho de Jesus.

Agora repare que a presença simultânea desses elementos todos não garante que a coisa vá
acontecer. O que falta? É necessário que ocorra uma "amarração" entre tais elementos,
diremos sincronização. Ou seja, como qualquer atividade, alguém deve garantir a
"combinação" desses elementos segundo a circunstância particular de cada indivíduo. Eis o
papel do evangelizador. Ele é que deverá auxiliar a juntar tudo isso a fim de que o
evangelizando saiba aproveitar a oportunidade da reencarnação segundo o fim da melhoria
de si mesmo. Por isso vamos encontrar no final do capítulo as seguintes palavras de Kardec

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Anotações sobre evangelização

(destaque nosso):

Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências,


conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito
tato, muita experiência e profunda observação.

Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a
ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as
relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente
na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que
esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria
segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de
combatê-lo, como se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos. O seu próprio
interesse a isso o induzirá. (784)

Nessas palavras há todo um conjunto importantíssimo de informações. Assim, parte da tarefa


da evangelização consistirá em tornar claro para si mesmo o que significam os elementos da
figura e como combiná-los para que a atividade de fato ocorra.

Examinando, então, mais cuidadosamente, pode-se considerar os seguintes aspectos como


inerentes a essa "arte de manejar o caráter" (voltaremos a esses itens posteriormente) :
busca pela felicidade encarada como algo intrínseco da natureza humana
compreensão do efeito do egoísmo sobre o si mesmo e as relações
aproveitamento da experiência de sofrimento

Como podemos entender isso? Pensemos um pouco antes de prosseguir a


leitura dessas reflexões aqui.

De certa forma, aceitando que cada um está em busca do lhe parece o melhor, podemos 5

afirmar então que a ação do indivíduo é intencional. Ou seja, por trás de qualquer
comportamento há sempre uma intenção, que pode não ser clara para o próprio agente, mas
que busca atingir a meta, o alvo que considera como o melhor para si. Esse elemento não está
ilustrado na figura pois é algo intrinsicamente ligado ao livre-arbítrio do sujeito, não sendo
passível de definição a priori e, portanto não passível de representação esquemática. É isso que
torna a atividade espontânea em si mesma, pois por mais cuidadoso que tenha sido o
planejamento da aula, estará a cargo do evangelizando se engajar ou não no processo e isso,
longe de ser um problema, representa o respeito ao próprio ser espiritual que ele é: um ser
que escolhe, sendo sempre responsável pelas suas escolhas.

É claro que a percepção do melhor será sempre específica para cada indivíduo, dependente da
maturidade alcançada. Isso, evidentemente, trará algumas complicações, pois poderá ele
mesmo se enganar por algum tempo em relação ao que lhe é de fato melhor. Daí surgindo a
questão: o que atrapalha o ser na escolha do que é melhor para si?

Em se tratando de você mesmo, já fez escolhas que se mostraram

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Anotações sobre evangelização

posteriormente infelizes? O que as motivou? Poderia ter agido


diferente?

Ao tentar respondê-la, encontramos no capítulo mencionado a presença das paixões[5] como


sendo o exagero de uma necessidade ou de um sentimento, sendo que, ao se tornar isso
"incontrolável", acaba sendo algo pernicioso ao indivíduo que lhe sofre a ação. Tais paixões,
por algum processo que não vamos examinar agora, poderã ter o efeito de constituir hábitos
no indivíduo, hábitos esses que terminam por estabelecer-lhe uma natureza particular: o
egoísmo[6]. Claro que aqui a condição de egoísmo do homem está vinculada também à sua
natureza animal. Parte dos automatismos que lhe garantiram a sobrevivência tiveram que
atuar a revelia da sua escolha. Mas, a partir do surgimento da possibilidade de escolher com
(mais) consciência, entra em cena também a possibilidade de fazer perdurar certaos estados
da alma, estados esses que lhe trazem satisfação, prazer. Assim, egoísmo aqui representa uma
situação particular do homem que, já possuidor da possiblidade de deliberar, o faz unicamente
no sentido da satisfação pessoal, podendo ser comparado para a finalidade da evangelização
como um estado de viciação do espírito.

Pode parecer estranho falar assim, mas repare que quando uma pessoa manifesta um habitual
comportamento agressivo ou pessimista, iremos notar que ela poderá estar "acostumada" ao
conjunto de substâncias químicas compatíveis com aquele estado emocional - lembre-se de
que todo estado emocional se manifesta no corpo a partir da síntese de certas substâncias
químicas. Isso lembra o que acontece com o sujeito que se torna "dependente" de certas
substâncias químicas. Assim, analogamente, podemos nos "viciar" nas substâncias químicas
compatíveis com nossos estados de espíritos quando exaltados (passionais). Claro que o
processo de viciação não é apenas em termos de substâncias, mas também enquanto processo
psicológido (de fuga?). Tal abordagem é interessante porque nos leva a analizar a evolução de
um indivíduo como um processo de "desintoxicação" das "substâncias" e dos comportamentos
fomentadores desses estados, desmaterializando a existência, ou seja, diminuindo a influência
da matéria sobre o Espírito.

É também por essa razão que estabelecemos na figura acima, no campo da ATIVIDADE, um
eixo denominado "disposições do ser". Ou seja, o que de fato muda são as disposições do
Espírito, daí o capítulo de O Livro dos Espíritos fazer referência às virtudes[7] e aos vícios[8].
Na verdade, virtudes e vícios constituem o que é observável na prática e o que deve ser
exercitado em termos de construção de disposições para a prática do bem. Isso nos remete à
seguinte questão: o que constitui esse bem?

Então, novamente, convidamos você a pensar sobre isso antes de


continuar. Como você representa o BEM em seu entendimento?

Ora, o bem aqui representa a manifestação concreta dos valores que possuímos enquanto
seres humanos. Assim a atividade de evangelização pode ser vista também como atividade que
propicia a oportunidade para o desenvolvimento dos valores cristãos (quais são esses

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Anotações sobre evangelização

valores?) Tais valores são os que estão delineados pelo Evangelho de Jesus, concebendo Jesus
como o arquético da perfeição do Homem - o filho do Homem. Pelo seu caráter ético[9], o
desenvolvimento de valores somente pode acontecer através da experiência consciente - o ser
inteligente que escolhe por si próprio o bem. Ou seja, de nada adianta, em termos de prática
de valores, saber o que significa 'caridade' (i.e., benevolência para com todos, indulgência para
com as imperfeições alheias e perdão das ofensas) se não formos levados a experimentar a
prática dela na nossa circunstãncia específica (nossa própria vida): podemos saber dizer o
que é sem saber, de fato, do que se trata. O trabalho, portanto, não pode ficar restrito à
informação, sob pena de se descaracterizar quanto ao enobrecimento da alma humana
(humanização).

2. O Espírito e a sua circunstância

Ao considerarmos que a evangelização deve propiciar uma alteração nas disposições do


evangelizando quanto à prática do bem, de forma definitiva, somos levados a estabelecer um
paralelo com o que acontece nas nossas salas de intercâmbio mediúnico. Isso não representa
mera casualidade. Aliás, já estabelecia André Luiz que o lar é um centro de indução[10] para os
filhos, onde estes acabam por constituirem-se em médiuns de seus pais. Na educação acontece
algo semelhante no que se refere à construção das disposições dos indivíduos. E para
entender de que forma a evangelização se constitui numa atividade mediúnica, vamos
considerar o que envolve e define o educando enquanto ser encarnado: a sua circunstãncia.

O que é a circunstância de um indivíduo? O conceito envolve as "particularidades que


acompanham um fato". Diremos, então, que o homem vive dentro de uma circunstância a
partir da qual age/reage no mundo, construindo seu campo de experiências com vistas ao 6

crescimento espiritual. Assim, delimitando-nos a possibilidade de experiência vamos


encontrar cinco modalidades específicas de campo:
• campo espiritual
º campo material - estrutura, dinamismo e normas (EDN) físico-químicas
º campo orgânico - EDN biológicas
º campo psíquico - EDN psicológicas
º campo social - EDN social

O que é importante considerar aqui está mostrado na figura abaixo: que há sempre uma
possibilidade de interatuação entre tais campos a partir da interação fluídica, e que o campo
espiritual permeia todas as modalidades de manifestação do Espírito. Ou seja, toda relação
social se dá apoiada na percepção subjetiva dos indivíduos envolvidos, sendo ela mesma
construída em cima do conjunto de possibilidades do mundo material (orgânico e inorgânico)
através do corpo físico. Repare que o processo pelo qual o elemento espiritual se manifesta no
campo físico é o mesmo que torna possível a manifestação mediúnica (veja o que diz

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Anotações sobre evangelização

Herculano Pires no seu livro Mediunidade[11]).

Então, na sua ação através desses campos, o homem vai lidar com diferentes modalidades de
limitação. Poderá fazer algumas coisas, outras não, devido ao fato de estar submetido aos
campos destacados acima. Por ter um corpo material orgânico, por exemplo, terá de se
submeter ao processo cronotópico (próprio dos fenômenos materiais onde as coisas
acontecem no domíno do tempo e do espaço). A sua própria possibilidade de compreensão
dependerá , na sua origem, é verdade, dos sentidos que são essencialmente cronotópicos. Mas
não totalmente. Pode ele elevar-se acima de tais campos à medida que participe mais
conscientemente do campo espiritual que lhe é próprio - repare que já pelo pensamento
podemos "escapar" dos limites do espaço, embora estejamos sujeitos ao tempo, uma vez que o
processo de pensar se dá no tempo (exige duração). Pela imaginação podemos abstrair da
nossa própria situação corrente e até fazer projeções de estados futuros, que são antecipações
de futuros possiveis. Assim é que podemos estabelecer metas a serem cumpridas. Mas, mesmo
assim, tais realizações terão de acontecer nos quatro campos acima delineados. Mais ainda,
dado que o homem não possui todas as faculdades, surge a necessidade de solicitar
colaboração dos outros para que possa atingir seus próprios fins.

Então, com tudo isso, surge uma questão de caráter econômico: como aproveitar da melhor
forma possível os recursos limitados que possuímos para alcançar nossos objetivos? Essa é a
questão do aproveitamento das próprias experiências. Aqui entra o Evagelho de Jesus, com a
sua Ética, representados pela figura do evangelizador. Duplo será o papel deste: afetivo e

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Anotações sobre evangelização

cognitivo.

No campo afetivo, estimular o evangelizando através das suas próprias vibrações, tornando
possível o "contágio" de um estado de espírito mais elevado (a exemplificação no bem vai além
da simples imitação. Trata-se de um processo de indução[12] - para melhor entender isso,
veja esse interessante artigo de Virgílio Vasconcelos Vilela na internet, Linguagem: Indução -
o poder das palavras ).
Nesse caso, o indivíduo por se ver envolvido em vibrações mais elevadas (i.e., do
evangelizador), tem a possibilidade de entrar em ressonância mais facilmente com a própria
consciência em relação às propostas e decisões tomadas antes de nascer[13]. Aqui há um
genuíno processo mediúnico, onde a mensagem a ser passada é materializada na própria
vida do evangelizador. Tais situações, intrinsecamente educativas, somente acontecem
quando o evangelizador se encontra num estado especial de satisfação existencial, aceitando
ser quem é e fazer o que faz. Observemos que está fora de propósito colocar indivíduos em
estados desequilibrados na tarefa da evangelização, sob pena de se provocar um efeito
contrário ao pretendido sobre as crianças e os jovens. Ou seja, a evangelização requer, mais do
que o simples desejo, o compromisso e a prática efetiva com a própria melhoria.

Além desse processo de influenciação benéfica, possui o evangelizador o papel de auxiliar o


Espírito do evangelizando em aprendizagem nas questões que possam se tornar "pedras de
tropeço" na sua caminhada. E quais seriam elas? Todas as questões que acabem se tornando
"armadilhas", em que o evangelizando fica preso em situações de dor, impedindo-lhe a ação
efetiva no bem. Seriam, então, as situações de culpa, mágoa, remorso, ressentimento, etc.
Situações típicas de Espíritos recalcitrantes no erro (que acabaram por se tornar "viciações").
Então surge o outro papel para o evangelizador, agora no campo cognitivo, ou seja, o papel
de iluminar com a luz da razão a situação espiritual. A razão é simbolizada como a luz, capaz
de iluminar, portanto. Assim, será exatamente essa ratio, i.e., razão, que possibilitará o
evangelizando sair desses estados de "dor contraproducente". Ensinar a usar a razão
esclarecida, purificada até, pelo comportamento evangelizado, pois que, sem tal
comportamento, ela se desvirtua, mais sofrendo influências da paixão do que orientando as
ações para o bem. Esse é o sentido de ensinar a pensar. Muito longe do mero exercício
repetitivo de atitudes pretensamente filosóficas.

É importante considerar que nossa ação exige necessariamente uma ética a fim de organizar
produtivamente esse processo de aproveitamento das experiências. Isso porque nenhum
homem pode agir sem que isso interfira na vida de outros homens ou de outras criaturas. Se
tal interferência é inevitável, cabe determinar segundo que direção ela acontece. Como já
vimos, o propósito da vida humana é a humanizaçao do indivíduo, isto é, tornar-se mais
homem, entendendo isso como tornar-se mais perfectível naquilo que a natureza humana
permite. Ou seja, nenhuma ação humana pode ser desligada das implicações éticas sob pena
de desumanização (mal inerente a muitas iniciativas que buscam abstrair tais implicações
éticas em nome de urgências apressadas e imaturas). Mas de que forma tal processo acontece?

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Anotações sobre evangelização

Como podemos inserir ética no contexto das ações do indivíduo?

O indivíduo, ao nascer, traz a matriz das conquistas passadas mas com a consciência
adormecida. Assim, torna-se possível recriar processos de estimulação, a funcionar de fora
para dentro, buscando ambientar as atitudes éticas pertinentes para o contexto de aprendizado.
Por exemplo, ao nascer entre judeus recebo, de inicio, todo um conjunto de atitudes práticas
dos meus pais que me servem de "pontos de conexão" com a cultura. É partir disso que
poderei reconstruir o mundo mental que me é específico, mas "vestido" de tal forma a permitir
o mecanismo de trocas com meus semelhantes, a partir do que influencio e sou influenciado.
Assim pensando, encontramos uma razão para o contexto cultural em que o Espírito está
inserido. Não se trata de uma combinação mais ou menos fortuita. Há correspondências
precisas entre a situação espiritual do indivíduo e o campo de suas experiências ao
encarnar. Trata-se aqui da ambientação reencarnatória. O nome já diz. Situação familiar,
geogáfica, econômica, física (orgânica), maiores ou menores possibilidades de
desenvolvimento segundo o contexto, tudo isso definindo para o Espírito um campo de
experiências. Tal campo de experiências é estabelecido, ainda no mundo espiritual, após o
estudo do quadro atual portado pelo Espírito, onde, após ter sido identificado o conjunto de
aspectos passíveis de serem modificados, planeja-se cuidadosamente as situações condizentes
com:
o que deve ser estimulado para ser identificado e, se desejado, superado
o que deve ser desenvolvido como recurso (instrumento)

Isso lembra o que foi estabelecido pelo apóstolo Tiago: "cada um é tentado na sua própria
concupiscência", ou seja, naquilo em que somos débeis, ou ainda o Evangelho Segundo
Espiritismo quando diz "Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida é a prova
buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como
o cedro".

Tudo isso nos remete à questão da importância de se estudar, junto ao evangelizando, a sua
ambientação reencarnatória, isso principalmente porque alguns componentes dela podem
ser portadores de sofrimento que, se não for bem compreendido, trará bloqueios ao indivíduo
devido à tendência da acomodação com o menor esforço, pois será sempre mais fácil
transferir a responsabilidade sobre o que nos acontece para os outros do que estabelecer
atitudes pessoais de definição, assumindo a responsabilidade sobre as próprias escolhas. Aliás,
já Santo Agostinho estabelecia, pelo seu exemplo, que a autoconsciência somente ocorre a
partir e desde o momento em que assumimos a responsabilidade sobre nossa vida. 7

Isso nos lembra novamente André Luiz, desta vez no seu Nos Domínios da Mediunidade, onde
estão estabelecidas algumas reflexões sobre a assimilação das correntes mentais[14] e a
capacidade de discernir que nos é própria.

Então, novamente exemplificando, uma "vida difícil" é indício de que há graves compromissos

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Anotações sobre evangelização

em jogo para o Espírito. Quanto mais cedo se lhe desperte a consciência da sua própria
situação, tanto mais intensa será a energia que poderá empregar para manter o estado de
definição em torno desse(s) compromisso(s). Veja que termos como "coitado", "que azar", etc
de forma alguma podem ser utilizados para tentar esclarecer a situação dele. Em parte isso
retrata a capacidade do evangelizador em ver o evangelizando como Espírito e, desta forma,
tratá-lo como tal. Outro aspecto relacionado à ambientação reencarnatória diz respeito aos
recursos mobilizados para servirem de auxílio ao Espírito no cumprimento das resoluções
tomadas pelo mesmo antes de nascer: possibilidades de estudar, tranquilidade financeira na
fase preparatória da vida (infância e adolescência), possibilidade de fazer parte dos trabalhos
espíritas, especialmente a evangelização[15].
Além desses elementos, vamos encontrar também na ambientação reencarnatória do
indivíduo o seu grupo de afinidade, representado pelo grupo de Espíritos que possuem
possibilidades de influenciação sobre ele. Tal grupo não se constitue necessariamente dos
amigos ou familiares. Poderão ser Espíritos encarnados, como também desencarnados, com
disposições morais compatíveis com o evangelizando. Claro que, ao nascer, todos possuímos
um dado grupo de afinidade, herança do passado vivido por nós. Tal grupo, quando
composto de Espíritos mais esclarecidos do ponto de vista moral, será de grande ajuda ao
Espírito reencarnante devido ao estímulo que oferecerá. Poderíamos dizer que cada um de nós
se "alimenta" espiritualmente através de tais grupos. Outra será a situação se os elementos
constituintes do grupo forem Espíritos envolvidos nos erros perpetrados no passado. Em tais
casos, serão invariavelmente parte da carga de dores que nos cabe suportar, bem como
compromissos de reajuste, parte da nossa tarefa de exemplificar outras disposições morais
frente à presença deles em nossas vidas. Poderão se "vestir" como pais, filhos, amigos, etc. Ou
então, serão os Espíritos desencarnados a nos secundar os passos do cotidiano.
Há que se observar aqui que tal grupo de forma alguma é fixo. À medida que ocorre
mudanças em nossa personalidade, também ocorrem mudanças no grupo de afinidade ao
qual pertencemos. Mais ainda. Guardamos a possibilidade de formar deliberadamente novas
afinidades, principalmente a que se constitui nos evangelizadores que nos ajudam o caminho.
Assim, repare que deve o evangelizador considerar o que ele representa para a criança ou
jovem, com relação à afinidade. Deveremos nos preocupar com isso por se constituir de
elemento didático na tarefa que nos cabe, pois cada um de nós somente absorve aquilo a que se
afeiçoa, lembrando Abdré Luiz em Mecanismos da Mediunidade.

Como vai o evangelizador construir laços de afinidade como evangelizando?


Há dois mecanismos que merecem destaque:
Conhecendo melhor o evangelizando, suas debilidades e sua conquistas (talentos),
construindo assim um quadro de referência positivo dele.
Cuidando dele, pois o amor se desenvolve através do interesse que manifestamos pelo
que cuidamos.

Isso tudo mostra a utilidade para que se tenha como tarefa a construção de um registro sobre o
evangelizando. Ao escrever sobre ele vamos exercitando a nossa capacidade de nos concentrar

13
Anotações sobre evangelização

sobre ele, mobilizando recursos fluídicos antecipadamente à sua presença, potencializando


nossa ação junto dele.
Lembremos agora que a ação da evangelização sendo também mediúnica, estabelece uma
conjugação de duas vontades, como ilustra André Luiz: uma vontade-apelo (evangelizador)
em relação a uma vontade-resposta (evangelizando). Com isso surge a questão do conteúdo:
o que constitui o conteúdo dessa interação entre as duas vontades?

Com o que vimos até aqui, você saberia justificar por que precisamos
de uma atividade de evangelização?

Dissemos anteriormente que o homem possui intencionalidade. A intenção estabelecida por


ele será caracterizada como o seu bem, mas que deve ser percebida por ele, uma vez que é um
ser inteligente e dotado de faculdades que lhe possibilita fazer projeções e aferições no sentido
de identificar esse bem. Mas, não possui o homem todas as faculdades, e mesmo as que tem
não as tem em plenitude mas em desenvolvimento. Assim, é evidente que poderá se equivocar
com relação ao que lhe constitui o bem verdadeiro. Além disso, não lhe é possível tal
desenvolvimento sem o contato com os outros, necessitando então da vida de relação.
Resumindo isso tudo. O homem deseja, busca o seu bem, possui liberdade para fazer escolhas
e, através de suas faculdades, pode criar e realizar projeções sobre o que constituirá esse seu
bem antes mesmo de vê-lo realizar-se.
Posta a situação desta forma, verificamos que pode haver alguns empecilhos nesse processo
de escolha no sentido de interferir para que perceba erradamente algo como o melhor sem
o ser de fato.

Mas o que pode dar errado exatamente? Lembra-se de alguma vez em


que errou? Quais foram as causas? Como foram resolvidos e como você
agiu para evitar que se repetisse?

O grande filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos, em seu Origens dos Grandes Erros
Filosóficos, nos ajuda nessa resposta afirmando que o erro pode surgir:
- da aparência de uma verdade,
- de um defeito afetivo, pela exacerbação emocional (paixões)
- de uma confusão de idéias,
- de um preconceito aceito como verdadeiro,
- de uma informação falsa,
- de um defeito de reflexão, de raciocínio, de um desconhecimento até.

Assim, o erro pode surgir de defeitos da atenção devido à vontade. Mas eis que esta não peca
per se, por essência, mas por acidente. Ocorre que a vontade pode desmesurar-se, pode ir
além dos limites (paixão, no sentido dado pelos Espíritos em O Livro dos Espíritos). Não será,
porém, sempre produto de uma intencionalidade deliberada.
Concluindo, podemos errar quando deixamos nossas paixões nos dominarem em
nossas apreciações subjetivas e no julgamento da realidade. E tal captação, do que lhe é

14
Anotações sobre evangelização

benéfico ou maléfico, vai depender de uma gama de elementos, tanto intrínsecos (que lhe são
próprios, como suas viciações, paixões, etc, a se lhe influenciar a percepção) quanto
extrínsecos (independentes dele, como as circunstâncias que lhe favorecem certas
modalidades de percepção e ação em detrimento de outras). Observemos que já na mais tenra
infância podemos observar a ação das paixões (no sentido acima) quando a criança manifesta
seus caprichos pessoais, como que indicadores da personalidade que já começa a se manifestar
aí. Por isso que saber observar é um dos elementos mais importantes no processo de
evangelização, e aqui devemos tomar o cuidado para não rotular aquilo que vemos sob
denominações que se constituem em verdadeiros estereótipos a interferirem negativamente na
relação com a criança (criança "problema", menino "difícil", menina "tagarela", etc) . Aí está
uma das razões, senão a principal, para nos preocuparmos em ajudar esse homem a fim de
que tenha menos chances de errar nesse seu processo de escolhas. E mesmo após ter feito
escolhas erradas, conseguir repará-las da forma mais produtiva.

Para que esse trabalho se realize, deveremos considerar três aspectos ou eixos de ação ,
conforme ilustra a figura abaaixo:

Ou seja, o que queremos dizer aqui é que toda atividade preparada para evangelização deverá
considerar cada um dos eixos acima: o volitivo, o afetivo e o cognitivo.

Pelo exposto acima, depreende-se o objetivo do trabalho com relação ao afeto e à cognição:

15
Anotações sobre evangelização

controle das emoçoes para melhorar nossas apreciações e interações com o ambiente 8

precisão e clareza no uso da inteligência para definir quadros mais realistas sobre a vida
e para planejar com mais eficácia sobre o futuro

Tratemos, então, da emoção, do sentimento e da relação com a cognição. Veremos que as


emoções cumprem um importante papel na relação que estabelecemos com o ambiente. E
que o conhecimento não pode ser visto apenas como um conjunto de informações que
armazenamos sobre o que nos circunda e que podemos usar em certas ocasiões. Nem mesmo
como habilidades desenvolvidas por nós através da prática. Ora, refletindo sobre o que foi
colocado até aqui, é fácil perceber que escolhemos a partir do que conhecemos e do que
sentimos. Não apenas isso. É evidente a participação dos nosso sentidos. Também é evidente
que usamos a memória e a nossa imaginação, compondo um conjunto de idéias simples
(cavalo, livro, mesa, etc), e complexas (dicotomia, sistema, organismo, etc). Tais composições
são estabelecidas a partir dos nexos que fazemos com tais idéias, formando, então, cadeias de
idéias ligadas, que são os raciocínios. Mas não paramos por aí. Em certas circunstâncias
reutilizamos certas idéias e formamos com elas novas possibilidades de uso, como nos casos
das figuras de linguagem (por exemplo, nas metáforas)

O QUE É QUE PERCEBEMOS DE FATO NO CONTATO COM A REALIDADE? O que é


interiorizado em nós e como isso se dá?

Faremos aqui uma distinção para facilitar a abordagem do assunto. As coisas existem no
mundo (incluindo nós mesmos), isto é, têm existência. Ao colocarmos um sujeito que pode
perceber as diversas formas de existência, diremos que tais coisas existentes passam a se
manifestar a esse sujeito. Assim, quando algo passa a ser notado por alguém, este pode dizer
que "captou" sua existência denominando manifestação ao que foi efetivamente captado.

Então nós temos uma tríade:

alguma coisa (existente),


alguém (capaz de perceber) e
a manifestação dessa alguma coisa para esse alguém ( o fruto dessa relação estabelecida
entre a coisa e o alguém).

Notemos, de início, que essa tríade não é acidental. Toda vez que algo se colocar frente a algo,
fica estabelecida uma relação entre ambos. Por exemplo, um livro sobre uma mesa, uma maçã
caindo ao solo, o ar dentro de um balão, etc. Repare que as preposições "denunciam" a relação
estabelecida em cada caso. Podemos, com os nossos conhecimentos, "arrumar" explicações
sobre isso, caracterizando ou tipificando a relação. Ou seja, o livro sobre a mesa está em
relação a esta através das forças moleculares estabelecidas entre os átomos do livro e os átomos
da mesa. A maçã cai sobre a terra por força da atração da gravidade, estabelecida pela

16
Anotações sobre evangelização

interatuação recíproca. Reparemos que nesses casos a mente humana parece encontrar ou
criar naturalmente hierarquias em que apreende os fenômenos percebidos sempre como
totalidade, unidade[16].

Parece que possuímos a habilidade de apreender um conjunto de fenômenos num todo, ao


qual atribuímos um nome, em que há uma ordem entre os elementos constituintes do que
captamos, e mesmo que aceitemos que a ordem está apenas na mente, algo há que perdura
entre os componentes, pois tem estabilidade suficiente para que a mente atribui a isso uma
ordem.

Repare ainda num detalhe muito importante: Há coisas que, ao se apresentarem para nós,
possuem existência por si mesmas, isto é, não dependem de nós (claro que há os que pensam
diferente, ou seja, "só há o barulho da floresta se houver alguém lá para perceber isso", mas
isso não será objeto da nossa atenção no momento). Então, algo acontece entre nós e as coisas:
passamos a caracterizá-las, até a nomeá-las, e eis que passam a ter manifestação para nós, o
que já é conhecimento: estabelecemos uma hierarquia no que percebemos, uma ordem é
apreendida do observado e a isto dizemos que se manifestou. Resumindo, a manifestação é o
resultado de uma operação mental em que introduzimos (ou captamos) uma certa ordem
na realidade. É claro que o captado pode ser tão simples como um som de um apito, mas
mesmo nesse caso há ordem, pois nossos ouvidos não captam qualquer freqüência: já
constituem uma espécie de filtro para o universo de possibilidades de freqüências sonoras, só
que, nesse caso, já está "embutido" na nossa própria fisiologia e anatomia.

Fizemos referência ao termo cognição[17] . Tratemos de precisar o termo. Chamaremos


de cognição ao "ato imanente, consciente e intencional, pelo qual adquirimos notícias de
um objeto por similitude com o mesmo ou por representação do mesmo." (MFS - Origem
dos Grandes Erros Filosóficos). Imanente porque se dá no próprio ser, e não fora dele,
consciente porque ele participa ativamente do processo, tem ciência dele, e, intencional
porque tudo isso é mobilizado pela intenção de captar algo. O que é captado? Notícias, dados,
detalhes do objeto, os quais são incorporados ao ser como imagem semelhante ao objeto ou
como representação (esquemática) do mesmo.

Em sentido lato, diz-se que a cognição é uma apreensão, é algo que a mente apreende, é o que
se capta intencionalmente, nada se afirmando ou negando dele. A intencionalidade mental se
refere a alguma coisa, que se torna o seu objeto.

Temos, então, notícia do mundo a partir dos sons, das sensações, da luz, dos odores, etc, que
são as primeiras formas de comunicação entre nós e o resto do mundo. Cooperam na
formação do que chamamos experiência.

A experiência é um dos meios de que dispomos para obter conhecimentos dos mais variados. Podemos
também identificar duas modalidades de experiência em relação ao ser humano: a experiência interna e a
experiência externa.

17
Anotações sobre evangelização

A experiência interna chama-se também consciência. Este termo, etimologicamente, vem


de cum-scientia, notícia da notícia, cognição da cognição. Quem vê, sente a si ver, quem ouve sente a si
ouvir, quando entendemos, temos notícias que entendemos. Distinguindo um pouco mais, diremos que
a consciência psicológica é o ato que consiste na notícia de nossos atos psicológicos. Essa consciência
é concomitante à própria percepção, ou seja, é a percepção da experiência da própria percepção,
simultânea com esta. Assim, na consciência psicológica há o objeto (uma casa, por exemplo), o próprio ato
(o conhecimento da casa), e o sujeito ( o ego que conhece), os quais, embora distintos, constituem
aspectos do mesmo processo.

Por outro lado, a consciência será reflexiva quando houver notícias dos próprios atos, cujas operações
são advertidas pelo sujeito, que sobre eles se reflete (se dobra, espelha-os), através de atos abstrativos
(pela atuação de esquemas[18] mentais).

Em relação à experiência externa, podemos dizer que o conhecimento principia nos sentidos, ou é
por meio deles que alcançamos o saber sobre as coisas do mundo exterior, ou seja, os dados oferecidos
pelos sentidos (phantasmata) são objeto de uma atividade do intelecto, cujo conhecimento é fundando
também nas experiências internas e não apenas nas externas. Dos sensíveis o intelecto abstrai os
insensíveis, as formas, que não são objeto de estímulo dos sentidos, nem são captados por estes.

Notemos já que a consciência psicológica se dá sempre. É a fonte pela qual a mente conhece os fatos
internos, enquanto a reflexa é direta e própria da cognição daqueles fatos, por isso é a
intelectual.

NOTA: Reparemos que na evangelização vamos trabalhar com essas duas modalidades, isto é,
com a consciência psicológica e com a consciência reflexiva.

Com o que foi dito, perceba que há para cada um de nós uma possibilidade de contato
deliberado com a realidade (interna e externa) através do que somos capazes de conhecer.
Claro que haverá outras formas de contato, mesmo inconscientes como a que temos com tudo
o que nos cerca através dos fluidos do ambiente ou até o que temos com Deus. Tratamos aqui
da percepção deliberada, passível de ser usada através da inteligência enquanto poder de
captar a realidade. Com isso em mente, examinemos agora a figura abaixo.

18
Anotações sobre evangelização

Nela quisemos ressaltar que há uma divisão entre o ser e a realidade a que denominamos de
CONHECIMENTO, querendo dizer com isso que o que eu capto intencionalmente do mundo
é sempre através do conhecimento que dele adquiro - note bem isso. Não se trata de
informação apenas. Conhecimento aqui está sendo usado num sentido amplo, como
percepção estruturada. Assim, mesmo quando capto apenas uma sensação de medo, ou algum
sentimento oriundo de um Espírito numa relação mediúnica, isso somente é passível de ser
comunicado a outro indivíduo se tal captação se apoiar em alguma experiência comum
vivenciada por nós e se já estiver de alguma forma em mim (do contrário, como saberei que é
medo ou que sinto?). Ou seja, conhecimento, mais do que informação, será possibilidade de
captação mais ampla. Assim, quando ajo sobre o mundo, é pelo conhecimento, neste caso
sob a forma de práticas conquistadas. Ao andar, por exemplo, estabeleço uma interação com o
mundo através do automatismo conquistado na infância próprio da minha espécie (ser
bípede).

Mas, então, de que forma se estrutura essa captação mais ampla da realidade? O que
acontece conosco ao conhecermos alguma coisa, ou seja, como conhecemos e em que nos
afeta?

19
Anotações sobre evangelização

Para tratarmos desta questão será necessário fazer algumas considerações sobre o
funcionamento do nosso espírito.

3. Aspectos noológicos do funcionamento psíquico

Algumas considerações sobre o espírito enquanto criador, o nous grego, devem ser feitas para
podermos compreender melhor o funcionamento psíquico. Esta abordagem corresponde ao
que estuda a Noologia, disciplina que tem como objeto não só os fundamentos do nosso
espírito, com suas raízes psicológicas, mas também em sua interatuação com o realizar-se
cultural, o histórico-social, bem como seus fundamentos ontológicos (enquanto ser).

O que observamos na Natureza? Seres vivos em processos de trocas com o ambiente e que
possuem uma diversidade enorme de características específicas., realizando uma grande
variedade de funções.
Os organismos buscam manter-se vivos e o fazem através do aplacamento das suas
necessidades vitais estabelecidas na sua relação com o meio ambiente. Nessa relação realiza
trocas onde precisa adaptar-se ao meio ambiente, numa relação dinâmica pois o meio não é
homogêneo e nem estático. Para isso, desenvolveu uma capacidade de tornar suas funções
escalares, isto é, não rígidas, acontecendo dele pô-las de acordo com o que está presente nesse
ambiente, no todo ou em parte, por modificações internas ou externas. Tais adaptações do
organismo em relação ao meio ambiente estão, claro, condicionadas a certo limite, pois do
contrário, sobrevem a morte.

Todo organismo vivo é um ser de máxima heterogeneidade, que mantém trocas com o
ambiente, ora incorporando-lhes elementos, por assimilação, ora eliminando-os quando não
assimilados.
Suas necessidades vitais são aplacadas através dessa incorporação de bens que o torna apto a
vida e que perdure. Tal aplacamento das necessidades vitais processa-se para tornar-se apto ao
meio ambiente, pelas trocas que irá ter que efetuar, isto é, por sua adaptação, caracterizado
por um estado de harmonia, de equilíbrio entre ele e o meio ambiente que o cerca. Como
organismo, múltiplo em suas funções, elas não se apresentam rígidas, mas dentro de uma
escalaridade de modo a permitir que o organismo se adapte a fim de sobreviver. Ocorre que
tal adaptação é restrita às disponibilidades do organismo.
Explica-nos a biologia que tal adaptação se desenvolve segundo um esquema funcional
composto de dois processos, a acomodação[19] e a assimilação[20]. Acomoda-se
(conforma-se) o ser vivo ao meio ambiente com o que tem, com o conjunto dos seus esquemas 9

biológicos, tornando-se como as coisas. E em face delas, e segundo esses esquemas que se
acomodam, e dentro do seu âmbito, retira do meio ambiente o que lhe é assimilável,
realizando a assimilação.
Na adaptação biológica, então, teremos:
1) incorporaçao dos elementos assimilados pelas funções metabólicas do organismo

20
Anotações sobre evangelização

2) criação de novos esquemas globais, que se estruturam segundo as experiências por que
passam, que lhe dão nova ordem, os quais, enriquecidos das novas experiências, vão, por sua
vez, acomodar-se, incluindo, memorizadas, conscientemente ou não, as experiências
anteriores, o que explicaria as adaptações adquiridas, distintas das fixas.

Considerando o caso dos seres vivos superiores, entre eles o homem, observa-se que dispoem
eles, para o seu contato com o mundo exterior, além do que compõe propriamente a sua parte
somática (do grego, soma, corpo), uma parte que se diferenciou funcional e estruturalmente,
que é o seu sistema nervoso, que entra em contato com o mundo exterior através de meios,
órgãos, que são chamados órgãos dos sentidos.
Assim, notemos que os fatos do mundo exterior são sensorialmente captados por esses
sentidos, mas condicionados ao seu alcance.
Por exemplo, os nossos ouvidos captam as vibrações moleculares do ar, que vão de um limite
de 16 a 20000 oscilações por segundo. Toda vibração molecular, superior ou inferior a essa
faixa, escapa-nos totalmente, embora tenhamos meios técnicos para medí-las. Vê-se logo que
a assimilação de vibrações moleculares do ar (sons) está condicionada ao alcance dos nossos
esquemas auditivos, portanto o nosso conhecimento também é limitado. Mais ainda. Se
conhecemos outras vibrações que nos escapam, não temos delas uma sensação, mas apenas
um conhecimento, distinção que é importante fazer. Ou seja, há uma diferença importante no
nosso conhecimento: há aquele que nos é dado pelos sentidos, de modo imediato, sem outro
meio que eles mesmos, e um outro conhecimento, mediato, que obtemos por outros meios,
que nos permitem conhecer e não sentir o que ultrapassa os limites esquemáticos sensíveis.

NOTA: Vale lembrar que até mesmo a tecnologia vai se beneficiando à medida que estuda o
funcionamento desses esquemas biológicos, como ocorre com a cóclea artificial de
rádiofreqüência[21] que deverá revolucionar o modo como utilizamos os aparelhos que se
baseiam em ondas eletromagnéticas[22]. São conquistas da bioeletrônica fundadas no melhor
conhecimento da esquemática do corpo humano.

O que se dá com o ouvido, de modo análogo acontece com outros órgaos. A nossa luz, por
exemplo, é apenas uma ínfima porção das vibrações eletromagnéticas, que nossos olhos são
aptos a sentir, conhecendo outras faixas apenas pelo seus efeitos.

Os esquemas naturais que possuímos permitem que realizemos uma adaptação


condicionada ao seu alcance e, para conhecermos além ou aquém, precisamos de outros
esquemas, que a eles agregamos, como aparelhos técnico-científicos. Mas, repare que tais
aparelhos não nos mostram os fatos como eles são, e sim fazem uma tradução para os nossos
esquemas, de modo que tenhamos sensações - o microscópio, ao aumentar cem mil vezes um
ser minúsculo, não nos permite que o vejamos com ele é, mas que o vejamos ampliado à
nossa faixa esquemática.

21
Anotações sobre evangelização

Imagem representativa do vírus da gripe aviária

Cromossoma 12, responsável pela doença metabólica


[23](fenilcetonúria )

Vemos assim que os nossos meios de contato com o mundo exterior são de âmbito limitado.
Além disso, sabemos que os nossos órgãos dos sentidos não cobrem todos os ângulos dos
fatos, mas apenas uma porção muito limitada e que, graças à construção de outros esquemas
podemos traduzí-los aos que nos são naturais.
Eis um ponto de importância capital, que nos diferencia dos animais: somos capazes de
construir novos esquemas e com eles conhecer mais.
Também somos capazes de construir meios, utilizar elementos do mundo exterior, ordenados
sob novos esquemas, para que sirvam de instrumentos, não só de domínio dos fatos
exteriores, mas também para conhecê-los (veremos com mais detalhes esse processo
estudando um pouco do que estabeleceu Piaget na sua Epistemologia Genética
posteriormente).

Ou seja, enquanto os animais dispõem apenas de meios fisio-psicológicos para se adaptarem


ao meio exterior, o homem se diferencia dos animais porque é capaz de criar - diremos que a
adaptação do homem é já noética e não puramente psíquica (como no caso dos animais). E
é noética porque esse nous (espírito) se manifesta nessa capacidade criadora de esquemas
de forma intencional. Guardemos isso, pois muito nos ajudará no entendimento do que nos
cabe realizar nas tarefas de educação.

22
Anotações sobre evangelização

Antes de prosseguirmos, vamos relacionar mais alguns exemplos de esquemas de diversas


naturezas. Lembrando da figura anterior dos quatro campos das ação humana, encontramos:
a) esquemas físico-químicos (i.e., estrutura molecular ou de um vírus)
b) esquemas biológicos (i.e., kindchenschemma, ver abaixo "Por que a imagem de um
bebê nos encanta?)
c) esquemas psicológicos (psíquicos) (i.e., esquemas de ação, esquemas intelectuais e
esquemas vivenciais ( ver Quadro I abaixo)
d) esquemas sociológicos (i.e., família, castas sociais).

Esquemas biológicos
“... nossas papilas gustativas não reagem senão a uma forma geral da molécula química, sem a
pormenorizar; elas retêm apenas um esquema geral”.
“A qualidade do veludoso é o conjunto de sensações tácteis elementares, como um triângulo é
o conjunto dos pontos que o compõem”.
“... Uma melodia... seria um conjunto de notas, de sensações auditivas, reaproximadas graças
ao nosso cérebro e tornada assim capaz de ter uma ação sobre o conjunto de nosso
organismo”.

Observemos a figura abaixo. Quais são os filhotes e quais os adultos? O que nos faz ser capaz
de identificar os filhotes? Ou ainda: Por que a imagem de um bebê nos encanta?

Para responder a isso, a Drª Sílvia Helena Cardoso[24],


autora do artigo acima, cita o prêmio nobel austríaco K.
Lorenz. Já em 1943 esse etólogo sugeria que a reação de 10

encantamento e ternura despertada em nós pela visão de


filhotes e bebês, não era cultural, e sim causada pela ação do
nosso sistema nervoso, capaz de "reconhecer"
automaticamente as características anatômicas típicas de
bebês e reagir de forma protetora em direção a elas. Ao
conjunto dessas características ele chamou
Kinchenschemma[25].

Esquemas psicológicos
Também a título de ilustração, reparemos no que uma criança aprende à medida que ela
desenvolve a sua motricidade. De início ela incorpora vários atos: o ato de atirar, chupar,
puxar, girar (todos padrões de comportamento com o que interage com o meio exterior). Com
eles a criança vai formando um repertório cada vez mais interdependente e complexo,
utilizando-o para expressar-se cada vez com mais maestria e se comunicar com o meio
exterior. Todos exemplos de esquemas de ação, na linguagem de Piaget

23
Anotações sobre evangelização

Antes dos 8 meses de idade, ela pode não conseguir manter os objetos com que se relaciona na
mente, isto é, eles ainda não têm um caráter de permanência para elas (os objetos parecem
deixar de existir quando saem do seu campo de visão ou audição) - ainda não desenvolveu o
esquema da permanência.
Confira nesse boletim de notícias do COLÉGIO MAGNO/MÁGICO DE OZ mais alguns
exemplos de atividades muito simples com bebês que levarão à formação de esquemas através
de mecanismos de repetição, de imitação e da exploração sensorial.

Exemplo da formação de um esquema vivencial na criança: Erro-castigo,


"A cada erro corresponde um castigo.
Mas, no decorrer de sua vida, pratica uma falta, que é assimilada ao esquema erro-castigo. A não
superveniência do castigo deixa este segundo esquema objetivo em contradição com o eidético anterior
erro-castigo [o já aprendido].
Esta incompletação, segundo o temperamento infantil e os aspectos caracterológicos adquiridos (isto é,
segundo outros esquemas) pode atualizar uma insatisfação, uma atualização da culpa, que pode
complexionar-se (complexo da psicologia).
Por outro, há algo que sofre, é assimilado ao castigo porque todo castigo deve ser desprazeroso. Temos
aqui a reversão cronológica de erro-castigo, para castigo-errro. Nesse caso deve ter feito algo errado para
merecer esse castigo. Há uma consciência de culpa sem objetivação do ato praticado.
Se há consciência de uma privação de culpa, assimila o castigo ao esquema de injustiça (que varia
segundo as condições históricas, etc.).
A insatisfação prossegue, acentua-se até."

Exemplo de empobrecimento esquemático


Outra forma de esquemas pode ser percebida em casos de dependentes químicos. Nestes casos
a limitação ou o empobrecimento esquemático fica patente e pode ser concebido como
cognições disfuncionais que tornam o indivíduo muito rígido na avaliação de situações
específicas.
Como esclarecem os pesquisadores SILVA e SERRA[26] , no seu (ótimo) artigo:

"(...) mais importante do que a situação real, é a avaliação que o indivíduo faz a respeito dela. Uma mesma
situação pode, portanto, desencadear diferentes emoções (tristeza, raiva, ansiedade, etc). Por exemplo,
imaginemos um indivíduo que chega à garagem do seu prédio e percebe que esqueceu as chaves do carro
no apartamento. Ele pode avaliar esta situação de várias maneiras. Exemplifiquemos duas:
1) ao perceber que está sem as chaves, ele pode pensar que é uma pessoa "azarada" e que seu dia
começara ruim; a emoção que acompanha essa avaliação é tristeza e desânimo. Com este sentimento,
seu desempenho no trabalho tende a ser baixo.
2) ele pode, ao contrário, pensar que, se subir ao apartamento para pegar as chaves, vai se atrasar. A
emoção que ocorre neste caso é ansiedade. Ele chega ao trabalho tão ansioso que não consegue seguir a
programação do dia: seu desempenho também cai."

O que importa ressaltar aqui é o caráter dos esquemas postos em ação pelo sujeito. Nesse caso
tais esquemas se mostram como "estruturas psíquicas que contêm avaliações firmemente
estabelecidas. O Esquema, se traduzido em palavras, forma criações hipotéticas chamadas de Crenças
Básicas[27]. As Crenças Básicas, quando disfuncionais, caracterizam-se por serem irracionais,
supergeneralizadas e rígidas. Levam a sofrimento psíquico e comportamentos mal adaptados, além de
impedirem a realização de metas. O quadro abaixo mostra alguns exemplos de Esquemas Cognitivos

24
Anotações sobre evangelização

disfuncionais e suas respectivas Crenças Básicas."

Quadro de Crenças Básicas extraído do artigo de SILVA e SERRA

Ressaltamos, por fim, uma observação do professor Mário Ferreira dos Santos. "Nas esferas
psicológicas e sociológicas a captação e construção de esquemas nos revela uma profunda diferença se
comparado com as esferas da biologia e da físico-química. Na biosfera e na esfera físico-químico estamos
em face da natureza" [condicionando o homem]. "Mas na psicofera e na sociosfera, o homem, que é
efeito e condicionado no plano da natureza passa a ser condicionante no campo da cultura, sem deixar de
ser parte do mundo da natureza."

Síntese sobre o funcionamento psíquico


Como já dissemos anteriormente, é por meio dos nossos sentidos que estamos em contato
com os fatos do mundo exterior, que os intuímos[28]. Mas tais intuições apresentam aspectos
distintos. Vejamos.

"Tenho à minha frente vários objetos. E meus olhos, que estão acomodados nessa direção, assimilam as
formas, as cores, as posições desses objetos, etc.
Vejo, então, que uns são semelhantes ou diferentes dos outros, e sinto mais simpatia por este que por
aquele livro.
Nesse conjunto de intuições, que acabo de ter, verifico, no entanto, que há tamanhas diferenças, que
posso classificar diferentemente as intuições. Pois, quando vejo os livros, tenho uma intuição sensível,
que posso compreender apenas como funcionamento da minha sensibilidade (sensório-motriz). Mas quando
intuo semelhanças e diferenças, procedo a uma escolha, a uma separação, realizo uma intuição
intelectual. Ao sentir em mim simpatia ou antipatia capto estados afetivos.
Dessa forma, vejo que noologicamente funciono, quanto à intuição, de maneiras diversas, pois tenho
intuições intelectuais e intuições afetivas, além das intuições sensíveis.
(...) nosso Nous [espírito] funciona polarizando as intuições." 11

Para entender isso, vejamos a figura abaixo, acompanhando a análise a seguir.

25
Anotações sobre evangelização

A polarização de afetividade e de intelectualidade é algo que se processa a posteriori. De início vamos


encontrar as sensações se manifestando dentro de uma polarização de prazer-desprazer.
A intuição iintelectual vai captar diferenças e semelhamças, e permitirá distinguir, comparar, e,
futuramente, quando desenvolvido o psiquismo, classificar os fatos do mundo exterior. Tal função
classificadora, generalizadora, porque capta as generalidades, o que se repete, é a função operatória
da intuição intelectual, em seu desenvolvimento, acabando por estruturar a Razão, enquanto a captação
pura e simples do fato em sua homogeneidade e heterogeneidade, dado como singularidade, é o que se
chama comumente de intuição, que é sempre uma captação da singularidade.
Nossa intelectualidade funciona, portanto, desdobrando os fatos: quando captados pela intuição como
singularidades, os quais pela ação generalizadora da razão são universalizados.
Assim, temos uma intuição intelectual destes livros ao captar simultaneamente suas diferenças e
semelhanças. Note que a razão vai operar no sentido de dar ordem ao caos desses acontecimentos, em
classificar os fatos, segundo as notas repetidas, e construir com isso os conceitos.
Mas verifica-se aqui, nessa polarização do nosso espírito, que nós nos colocamos em face do objeto: a
separação (dicotomia) entre sujeito e objeto é flagrante para uma acentuação da objetividade, que só é
concebida por oposição a uma subjetividade. Objetividade e subjetividade são esquematizações intelectuais
e permitem que se construa a Lógica Formal, enquanto a intuição, desde que é valorizada (atualizada),
dá-nos o ponto de partida para o que se chama comumente de posição irracionalista.

Verificamos também que no campo da afetividade outra coisa acontece. Quando sentimos simpatia ou
antipatia, não as colocamos nas coisas. A simpatia e a antipatia não estão nas coisas, mas em nós. Nós
somos a simpatia e a antipatia. Ou seja, vê-se que a separação (dicotomia) entre sujeito e objeto não mais
acontece, pois o sujeito é o próprio objeto que se sente a si mesmo, que intui a si mesmo, que em si
mesmo se desdobra. Em vez de uma separação crescente do sujeito e do objeto, como se verifica na
intelectualidade, temos aqui uma fusão, pois os dois se identificam num só.

Portanto, o nosso espírito funciona dialeticamente: de um lado, por uma função desdobradora da
realidade em sujeito e objeto; do outro, por uma função identificadora de sujeito e objeto.
E não fucionam estes dois polos do nosso espírito separadamente, pois embora se distingam, há na
intelectualidade sempre afetividade, que se revela no interesse, como há na afetividade a intelectualidade,
que se revela na conceituação afetiva.

26
Anotações sobre evangelização

Aspecto noológico Polarizações Lógica específica


SENSIBILIDADE prazer x desprazer juízos de existência
INTELECTUALIDADE intuição x razão juízos operatórios
AFETIVIDADE simpatia x antipatia juízos de valor

Mais um exemplo,
"... olho para a mesa e vejo algo verde. Olho com mais atenção, aproximando-me da mesa e vejo
que se trata de um livro de cor verde. Tomo o livro nas mãos e percebo a capa e o seu peso.
Possui uma capa macia, aveludada. É razoavelmente pesado. Tem um cheiro de coisa antiga.
Abro o livro e percebo o amarelado das folhas. Volto a olhar a capa e leio como título A
"Evolução da Física". Subitamente sinto um desconforto. Algo me desagrada. Não possuo
familiaridade com o assunto. Lembro-me, então, das inúmeras vezes em que me senti incapaz
por não conseguir entender aquilo. Letras, equações, leis, as minhas aulas de Física no segundo
grau, as minhas notas baixas, tudo isso parece agora eclodir na mente junto.

Decididamente larguei tudo aquilo quando fui estudar psicologia na faculdade. Afinal, "exatas"
não era bem a minha praia mesmo. E agora, veja o que eu encontro! Física, de novo! Bem,
naquele momento decido deixar o livro em cima da mesa e me afastar. Não gosto do livro.
Logo alguém começa a falar e me desperta a atenção para outras questões mais importantes."

O que aconteceu na narração acima? Há, simultaneamente, uma ação das três modalidades
intuitivas do nosso espírito. Consegue percebê-las?
Repare que os sentidos funcionam como portas de entrada iniciais. Mesmo aí já há
organização ou filtragem daquilo que existe. Ou seja, cor, tamanho, peso, são captações da
nossa sensibilidade, estruturadas a partir dos "instrumentos" que possuímos para isso, ou seja,
visão, tato, etc. Também podemos perceber que de imediato intuimos um objeto, a partir do
seu tamanho e forma. Não pensamos nisso (isto é, não elaboramos reflexões). Simplesmente
algo em nós já capta isso (intuição intelectiva). A partir do momento que lemos o título,
entretanto, passamos a usar a razão. Mas, simultaneamente, sentimos alguma antipatia ao
percebermos o assunto do livro. É que ao "entendermos" o título, algumas experiências vividas
parecem retornar das profundezas da memória. A nossa intuição pathica, afetiva, está em
ação.
Algumas observações podem ser feitas agora. Repare que a afetividade tem uma função
integradora, isto é, ela promove uma "identificação" (ou não) entre o sujeito (eu) e o
objeto[29] (o livro). A intelecção, ao contrário, realiza uma operação diferenciadora entre
sujeito e objeto. Repare que, ao examinarmos algo racionalmente, somos forçados a separar
aquilo de nós mesmos (até mesmo quando o objeto sob exame formos nós mesmos - algum
sentimento nosso, por exemplo). Então, veremos que os nossos juízos de valor (bom/ruim,

27
Anotações sobre evangelização

útil/inútil, conveniente/inconveniente, etc), são realizados com fundamento no


funcionamento da nossa "parte afetiva". Já os juízos de existência (há algo), fundam-se no
funcionamento da nossa sensibilidade e os juízos operatórios (é um livro azul), no
funcionamento do intelecto. Mais ainda. Em momento algum podemos de fato separar os três
aspectos no funcionamento do nosso espírito.
Bom, mas se isso tudo dá um nome a alguns comportamentos por nós executados no processo
de "experienciar o livro" como descrito acima, nada fala da substância do que se agrega a nós
ou do que passa por nós ao fazer isso. É indiscutível que ocorreram mudanças em nós nesse
momento, ainda que temporárias. Mas o que houve? Se alguém me fere com uma faca ou um
arranhão, eu sinto e vejo aquilo na mão, por exemplo. Posso , então, precisar a região alterada
e até estudá-la sob o ponto de vista estrutural (a região da ferida). Mas e na experiência acima
descrita? O que podemos precisar, separar, delimitar?

Aqui o nosso estudo se divide em duas frentes paralelas. Utilizaremos algumas contribuições
da Psicologia, principalmente no que se refere ao processo de ação da inteligência, estudado
por Piaget, entre outros na sua Epistemologia Genética[30]. Alguns resultados importantes já
foram atingidos a partir dos seus estudos, embora nem tudo seja aproveitável, como era de se
esperar, uma vez que a ciência também evolui. Mas recorde também que somos Espíritos e
possuímos um perispírito como mediador entre o mundo físico e o universo espiritual.
Assim, poderíamos nos perguntar o que é observado em termos de dinâmica energética (ou
fluídica) num processo como o descrito acima? De que maneira o conhecimento desse
processo pode ser usado para melhorar o processo das nossas aulas?

Vamos recorrer ao eminente pesquisador da mente, Piaget, aproveitando alguns dos conceitos
por ele estabelecidos a partir das suas pesquisas que constituíram a sua teoria do
desenvolvimento cognitivo[31]

Parte Piaget da idéia de que os organismos estão profundamente relacionados ao seu


meio-ambiente. Assim, verificamos que qualquer ser vivo realiza dois processos
complementares de um único mecanismo a fim de sobreviver, ou seja,
internamente ao ser vivo, ocorre um processo de contínua (re)organização
externamente, percebemos um processo de adaptação

"Ainda segundo Piaget (PULASKI, 1986), a adaptação é a essência do funcionamento intelectual, assim
como a essência do funcionamento biológico. É uma das tendências básicas inerentes a todas as
espécies. A outra tendência é a organização. Que constitui a habilidade de integrar as estruturas físicas e
psicológicas em sistemas coerentes. Ainda segundo o autor, a adaptação acontece através da
organização, e assim, o organismo discrimina entre a miríade de estímulos e sensações com os quais é
bombardeado e as organiza em alguma forma de estrutura. Esse processo de adaptação é então realizado
sob duas operações, a assimilação e a acomodação".[32] (grifos nossos)

28
Anotações sobre evangelização

Passemos agora a examinar esses dois processos segundo a visão do eminente filósofo
brasileiro Mário Ferreira dos Santos em seu Tratado de Simbólica (os grifos em negrito são
nossos). Embora o trecho não seja de fácil entendimento, preferimos transcrevê-lo a fim de
preservar a riqueza original, onde podemos perceber a capacidade do autor de elaborar
conceitos concretos, trasmitindo o essencial sem se afastar jamais da realidade geradora do
conceito.

"O ser humano, como todo ser vivo, surge, perdura e depende de um meio ambiente, que lhe é favorável
sob certos aspectos e também suficientemente hostil para, por condicionamentos, ativá-lo a ações e
modificações que o tornam apto a sobreviver nele, como nos mostra o mundo biológico em geral. E essa
atividade toma o nome genérico de Adaptação - a qual pode ser, não só biológica, como psicológica e até
social.

A adaptação processa-se pela acomodação, isto é, pela disposição dos esquemas à circunstância
ambiental, e por uma assimilação (assemelhação), em que é captado do ambiente o que é assimilável aos
e pelos esquemas.

Desta forma, temos a adaptação por:


• Acomodação – ação “centrífuga” dos esquemas, dirigidos ad ...
• Assimilação – ação “centrípeta” dos esquemas – dirigidos in ...

Biológicamente, o ser vivo dispõe de esquemas[33], e é em função deles que realiza uma ação de
acomodação ao meio ambiente (psicologicamente seria ao mundo do objeto), e capta, do objeto, as
formas que se assemelham às constitutivas dos esquemas intentionaliter (i.e., intencionalmente).

Para o idealismo absoluto, o conhecimento do homem está totalmente condicionado aos esquemas, pois
aquele não poderia assimilar senão na proporção dos esquemas que já têm.

Mas esquece o idealismo absoluto de considerar o papel histórico do esquema.


O esquema não é algo estático, como pensam os idealistas. O esquema é histórico, e como tal é
influído pelos fatos do mundo exterior.

O nosso espírito caracteriza-se sobretudo pela sua imensa capacidade de criar esquemas. E os
"elementos" componentes de um conjunto esquemático podem servir de "elementos" para 12

estruturarem uma nova ordem, num novo esquema.

Desta maneira, o mundo exterior tem um papel de facilitador, isto é, de predisponente na formação
esquemática, além de dar historicidade maior aos esquemas anteriores que, pela sua repetição, tendem a
generalizar-se, e a preparar, conseqüentemente, a marcha do ante-conceito ao conceito, até à formação 13

dos esquemas abstratos noéticos[34] de segundo e terceiro graus[35], realizados pela razão.

Vê-se assim que na sua adaptação psicológica, o ser humano penetra com o seu soma, que é a
organização - conjunto dos esquemas do sensório-motriz, enriquecidos pelos novos esquemas, cuja
gestação a experiência predispõe - a qual atua com anterioridade cronológica (tese dos idealistas) apenas
sob este ângulo, mas que sofre a influência objetiva, que auxilia a modelar novos esquemas por ação do
espírito estimulado, e a fortalecer anteriores (ação modeladora predisponente do objeto, tese dos
realistas).

Nessa atividade adaptadora, o equilíbrio do funcionamento dos esquemas com o fato, e a


assimilação do mesmo permitem uma inteligência, por sua vez, também equilibrada.

29
Anotações sobre evangelização

Tal adaptação pode ser vista como:

a) estado - como a concebem estaticamente certas doutrinas;


b) processo - sentido dialético, que revela as transformações do organismo em função do meio,
provocando aumento de trocas entre o meio e o organismo, no intuito de favorecer a conservação deste.

Como processo, temos:


a) acomodação de esquemas: o organismo põe seus esquemas dirigidos ao meio exterior, acomoda-se a
ele;
b) assimilação: incorpora o que lhe é afim e o de que necessita para a sua economia, o semelhante, o
que pode e convém assemelhar.

Dessa ação múltipla, surge a atividade dos esquemas que, por sua vez, ante os diferentes, assimila-os em
esquemas diferentes ou constrói, com esses, novos esquemas, para outras acomodações e assimilações.

Psicologicamente, pela assimilação, são incorporados em formas de esquemas fáctico-noéticos[36], por


abstração dos dados da experiência. Não há incorporação real-fáctica[37], mas apenas
esquemático-abstrata (intentionaliter), sempre proporcional ao cognoscente, na relação entre este e o
objeto. O cognoscente conhece o que é cognoscível pelo cognoscente (modalidade do adágio escolástico
de que "a ação segue-se ao agente", que é um postulado indiscutível).

A assimilação realiza uma incorporação segundo os esquemas, portanto nunca é pura. nem total,
mas apenas esquemática. Conseqüentemente, não há um conhecimento totaliter (total), mas do totum
(todo) da coisa, uma estrutura noética que se refere à coisa como um todo, mas como ela é em si, 14

tomada totalmente, não é assimilada. Eis a razão por que o conhecimento não pode dar a captação
da coisa exaustivamente, por mais que nos acomodemos a ela.

Aumentamos o conhecimento pela acomodação de esquemas técnicos que nos traduzem suas
captações em esquemas assimiláveis a nós. (exemplos dos aparelhos de rádio que captam vibrações
eletromagnéticas e nós traduzem em vibrações moleculares, para as quais temos esquemas somáticos.
Não conhecemos diretamente, em si, as vibrações eletromagnéticas, mas seus símbolos).

A adaptação exige assim um equilíbrio (dinâmico, dialético) e estável entre acomodação e assimilação.

A adaptação implica a organização, pois é o funcionamento exteriorizado da organização, tanto no


plano biológico como no psíquico. Mas, neste, a adaptação termina por formar uma estrutura,
interdependente da organização biológica.

Esse desdobramento resultante do funcionamento da adaptação gerou a interiorização do homem, e a


emergência do “espírito” que constitui uma nova ordem (relação entre o todo e as suas partes, e dessas
entre si).

(...)

Resulta daí uma coordenação dos esquemas entre si, e entre esses e as coisas, funcionamento duplo, que
gera:
a) o funcionamento do pensar pela adaptação dos esquemas às coisas;
b) estruturação das coisas pelo organizar-se do pensar, dos esquemas generalizados.

Dos fatos, capta a nossa organização psíquica um esquema fáctico da haecceitas, da eceidade[38] do
objeto: O esquema fáctico deste objeto, aqui e agora, é condicionado pelos esquemas acomodados. "É um
livro vermelho, que está sobre a mesa". O que a intuição sensível capta é um esquema fáctico do livro, que
está aqui e agora, mas este esquema está condicionado pelos esquemas acomodados da organização
psíquica. A imagem, que temos dele, é, assim, o produto de uma emergência da organização psíquica

30
Anotações sobre evangelização

e da predisponência do objeto, das suas notas, que foram por aquela assimilados, mas intencionalmente
(intentionaliter).

A comparação, que dele fazemos com os esquemas generalizados, que são os noético-eidéticos, permite
saber, através da sua acomodação e da assimilação, que ele é um livro, que é vermelho, etc.

Mas esse esquema fáctico, que é imagem, é estruturado numa ordem intuitiva, para a qual já há a
cooperação dos esquemas generalizados, isto é, dos abstratos noético-eidéticos, que permitem ordená-lo
no pensamento.

E como toda essa atividade é contemporânea na nossa intuição, no estado em que nos encontramos,
neste lanço do caminho, não há uma intuição pura do fato, pois o decoramos, realizamos decorações,
dando-lhe nexos, formando-o dentro de uma estrutura esquemática, como já o havia exposto Kant, quando
se referia às formas puras (a priori), que actuam na estruturação da nossa experiência.

Portanto, a nossa experiência está condicionada à esquemática que possuamos. A experiência


infantil é diferente de a de um homem adulto, todos o sabem. Neste caso, torna-se fácil compreender o
papel da "cosmovisão" na experiência, porque, segundo a esquemática de um indivíduo, e aquela que tem
em comum com um grupo social, ou um período histórico, ou todo um ciclo cultural, permitirá que a
estruturação, formal portanto, da experiência, seja diferente, heterogênea de a de outros seres.
Encontramos, assim, nessa explanação, as positividades afirmadas pelos idealistas, na aceitação das
ideologias e das cosmovisões, sem que tais positividades excluam outras, que com aquelas cooperam na
estruturação do conhecimento, como as propostas pelos realistas, pelos empiristas, pelos pragmatistas,
etc.

Mas podem dar-se duas variantes importantes


1) a acomodação, por mais excessiva que seja, não oferece uma assimilação correspondente,
pois- o fato não é fàcilmente captável, por não poderem os esquemas realizar a ação de ad como, isto é,
acomodarem-se, serem como o objeto, por mais que o procurem, não permitindo boa assimilação
correspondente.
Neste caso, os esquemas, de qualquer espécie que forem, tendem a ser como (função ficcional, função do
como si, isto é, os esquemas procuram actuar como se fossem o objecto), realizam uma mimesis,
(psico-somática ou apenas eidética), uma cópia, e temos a imitação. Na imitação, os esquemas procuram
ser como se fossem o objeto ao qual buscam adaptar-se. É uma bola, e fazemos o gesto que corresponde
à sua figura estereométrica. É alguém que sofre, e fazemos os gestos de sofrimento, realizamos uma
acomodação dos esquemas como se fôssem daquela dor.

Deste modo, quando a acomodação supera demasiadamente a assimilação, estamos em face da


imitação[39].

(...)

2) Examinamos, agora, quando a acomodação é pequena. Neste caso, há pouca possibilidade de


tornar-se como se fosse o objeto, e, no entanto, a assimilação é maior. Há no objeto esta ou aquela forma,
este ou aquele aspecto, que se incluem nos esquemas, tais e tais. Embora não se adeqüem, própria e
totalmente, a este ou àquele esquema, tem o fato notas, que se adeqüam a outros esquemas. Como a
acomodação não foi suficiente, e não se captaram suficientes notas para estruturar noéticamente o
objeto, mas apenas uma ou algumas, essa nota ou notas são assimiladas a um ou a vários esquemas, o
que revela um excesso de assimilação sobre a acomodação, e novo rompimento do equilíbrio. Estamos
em face do símbolo[40].

Assim, quando a assimilação é muito inferior à acomodação, temos a imitação; quando a


assimilação supera em muito a acomodação, temos o símbolo.

31
Anotações sobre evangelização

E nos casos de equilíbrio dinâmico, temos a inteligência maior ou menor do fato.

Um exemplo do segundo caso logo nos clareará o funcionamento da simbolização. Estamos numa praia.
Olhamos o mar, e vemos uma mancha branca no horizonte. "Um barco", diz um. "Não, responde outro, uma
nuvem". "Qual, afirma um terceiro, deve ser a fumaça de um návio". "É uma onda muito alta", propõe um
quarto. Em tal caso dá-se uma fraca acomodação devido à distância e à dificuldade dos esquemas se
acomodarem ao fato. Conseqüentemente é máxima a assimilação. Há apenas uma nota que pode ser de
barco, de vela, de onda, de fumaça, de nuvem, mas que por si só não é suficiente para dar uma certeza,
uma inteligência do fato. Os quatro assimilaram mais do que acomodaram, pois assimilaram a esquemas
vários. Portanto, os quatro realizaram uma ação simbólica.

Não há separação entre a acomodação e a assimilação. Não há uma acomodação pura, nem uma
assimilação pura.

A atividade adaptativa do nosso espírito funciona dialécticamente por dois vectores inversos, o de
exteriorização dos esquemas, e o de interiorização nos mesmos pelas ações de acomodação e de
assimilação.

No sonho, por exemplo, nossos sentidos estão adormecidos, e fraca é a atividade de acomodação, por
conseguinte a assimilação é máxima, razão por que os sonhos tomam a forma simbólica, segundo os
esquemas que constituem o psiquismo, na sua ação de captar objetivamente o próprio funcionamento, e
também o do nosso corpo.

Em conclusão: há símbolo quando há a assimilação fictícia de um objeto qualquer ao esquema, sem a


necessária acomodação atual do mesmo.

As coisas fazem de conta que são outras. O "faz de conta" infantil mostra-nos bem a gênese do
símbolo. O símbolo repousa sobre uma simples semelhança entre o objeto presente (na realidade ou no
espirito), que faz o papel de significante, e o objeto ausente, o de significado, que é por aquele
simbòlicamente referido.

Assim, segundo Piaget, a inteligência[41] é vista como um processo de sucessivas adaptações,


equilibrações entre assimilações e acomodações. No começo, ela é prática, apoia-se nas
percepções, movimentos, ações, anteriores ao pensamento e à linguagem.
Se o campo da inteligência sensório-motora aplica-se somente a ações concretas, o da
inteligência representativa amplia-se, liberta-se da realidade concreta, torna possível a
manipulação simbólica de algo que não está visível.
Resumidamente, teríamos:
Assimilação --> registrar as notas do objeto de percepção, a partir dos esquemas existentes
Acomodação --> alterar a estrutura esquemática existente para conseguir captar as novas
notas do objeto de percepção.

Tudo isso define para o indivíduo diferentes maneiras de interagir com a realidade, ou seja,
maneiras de organizar seus conhecimentos visando a sua adaptação. Mais ainda, tais
processos acabam constituindo estágios de desenvolvimento com especificidades próprias,
desenvolvendo-se no tempo como uma espiral onde cada estágio engloba o anterior e o
amplia. Vamos a uma descrição breve deles.

Mas antes, consideremos que há duas possibilidades de serem estudados. Piaget descreve a

32
Anotações sobre evangelização

manifestação externa deles. Tal sequencia vai se repetir na vida adulta em todas as situações
comuns de aprendizagem. É como se observássemos em câmara lenta o processo de um
indivíduo adulto.

Os estágios de desenvolvimento identificados por Piaget emergem do nascimento até a idade


de 14-16 anos, mas não há como estabelecer idades rígidas. Apenas a sequência se mostra
como uma aspecto invariante.

<- Desenho de uma criança de 2 anos e 5


meses.[42]
(o objetivo não era de representar algo, mas sim de
explorar as diversas cores de giz-de-cera, de ver o
efeito que passaria para o papel)

No primeiro estágio, o estágio


sensório-motor[43] (0-2 anos), a criança
é predominantemente ativa e seu estilo
de aprendizagem é orientado através do
concreto da manipulação dos objetos.
Nas palavras de Ângela M. Brasil Biaggio,
(em Psicologia do Desenvolvimento, Petrópolis, Vozes, 1976):

"a atividade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora. A principal característica desse período
é a ausência da função semiótica, isto é, a criança não representa mentalmente os objetos. Sua ação é
direta sobre eles. Essas atividades serão o fundamento da atividade intelectual futura. A estimulação
ambiental interferirá na passagem de um estágio para o outro. "

<- Desenho de uma criança de 4 anos e 3 meses.


(o objetivo aqui foi o de representar algo: o primo, a
avó, o sol. Repare as bolinhas na cabeça da avó
indicando o "cabelo" )
Ref.: Fernanda Fusco Blog

No segundo estágio, o estágio


pré-operacional ou estágio simbólico -
intuitivo (2-6 anos), a criança mantém sua
orientação concreta de aprendizagem mas
inicia a desenvolver uma orientação mais
reflexiva, internalizando ações e convertendo-as em imagens, símbolos.
" a criança desenvolve a capacidade simbólica; "já não depende unicamente de suas sensações, de seus 15

movimentos, mas já distingue um significador (imagem, palavra ou símbolo) daquilo que ele significa(o
objeto ausente), o significado". Para a educação é importante ressaltar o caráter lúdico do pensamento
simbólico.

33
Anotações sobre evangelização

Este período caracteriza-se: pelo egocentrismo: isto é, a criança ainda não se mostra capaz de
colocar-se na perspectiva do outro, o pensamento pré-operacional é estático e rígido, a criança capta
estados momentâneos, sem juntá-los em um todo; pelo desequilíbrio: há uma predominância de
acomodações e não das assimilações; pela irreversibilidade: a criança parece incapaz de compreender a
existência de fenômenos reversíveis, isto é, que se fizermos certas transformações, somos capazes de
restaurá-las, fazendo voltar ao estágio original, como por exemplo, a água que se transforma em gelo e
aquecendo-se volta à forma original."

<- Desenho de uma criança de 5 anos


e 6 meses.
( também procurou representar algo - algo
que não precisava ver para desenhar, mas
que já conhecia. Desenhou animais e
personagens de animações, temas
clássicos do desenho infantil: o passarinho
com asas, o coelho com orelhas
compridas, etc - geralmente, uma criança
desenvolve o esquema corporal até por
volta de 7 anos de idade)

No terceiro estágio (7-11 anos),


estágio operacional concreto, a
criança inicia um grande poder
de abstração. Aprendizagem, neste estágio, é conduzida pelas relações causais, lógica; ela se
baseia em teorias e conceitos para dar forma final às suas experiência.

"a criança já possui uma organização mental integrada, os sistemas de ação reúnem-se em todos
integrados. Piaget fala em operações de pensamento ao invés de ações. É capaz de ver a totalidade de
diferentes ângulos. Conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso. Apesar de
ainda trabalhar com objetos, agora representados, sua flexibilidade de pensamento permite um sem
número de aprendizagens."

No quarto e último estágio, estágio operatório abstrato ou formal (12-16 anos), o


adolescente move-se dos processos simbólicos baseados em operações concretas ao processo
simbólico baseada na representação lógica (processo hipotético-dedutivo). O adolescente
retorna à uma postura mais ativa, de experiência, mas é uma experiência modificada pela
reflexão e abstração que a precedeu .
"A criança se liberta inteiramente do objeto, inclusive o representado, operando agora com a forma (em
contraposição a conteúdo), situando o real em um conjunto de transformações. A grande novidade do nível
das operações formais é que o sujeito torna-se capaz de raciocinar corretamente sobre proposições em
que não acredita, ou que ainda não acredita, que ainda considera puras hipóteses. É capaz de inferir as
conseqüências.
Tem início os processos de pensamento hipotético-dedutivos."

Ressaltamso aqui que a evolução desses estágios não ocorre de forma linear, ou seja, atingido
um estágio segue-se outro de maneira independente. Ocorre que cada um deles é construído
sobre os anteriores. Podemos "visualizar" isso considerando que a curva do crescimento

34
Anotações sobre evangelização

cognitivo é uma espiral, onde cada estágio retorna como estapa de apoio no desenvolvimento
de um novo estágio. Parece mesmo que a curva de crescimento do seres vivos[44] também
estabelece o crescimento cognitivo.

O valor dos esquemas

"Não poderíamos, em face de um novo fato, compreendê-lo esquematicamente, se não tivéssemos


esquemas para acomodar ao fato e permitir assimilá-lo. Se cada fato novo nos exigisse geneticamente que
o captássemos através dos seus aspectos formais para construir depois o esquema, como nos mostram
em parte as primeiras experiências infantis, a vida inteligente teria sido totalmente impossível."

Assim, a partir de tudo o que vimos, "entenderemos que a inteligibilidade e a ininteligibilidade


depende dos nossos esquemas. Compreendemos aquilo que podemos assimilar através de
nossos esquemas e que podemos, por meio deles, ordenar. Mas a experiência, a observação,
nossa atividade, permite-nos formemos novos esquemas pela nova coordenação dos que já
temos e dos novos que formamos, com elementos dos anteriores, graças às novas
experiências."

35
Anotações sobre evangelização

4. Contribuições da doutrina espírita aos esquemas: espaço, tempo e


pensamento

A partir desse ponto necessitamos empreender um salto. Trata-se de ir além


do que os psicólogos e estudiosos do desenvolvimento cognitivo entendem
por esquemas (construtos teóricos, sem realidade física). Talvez não seja
simples de perceber a inconsistência nessa formulação, isto é, a de que os
esquemas seriam apenas construtos teóricos. A questão aqui é: podem os
esquemas exercer efeitos sobre o ambiente? Insistem os estudiosos do ramo
que tais estruturas mentais estão apenas na mente, sendo de caráter interno
aos indivíduos. Daí ser somente possível estudá-las a partir dos seus efeitos. Daí idealizarem
experiências com o intuito de perceber os esquemas em funcionamento. Para nós, espíritas,
no entanto, a realidade das estruturas mentais como aglomerações de fluidos tornam a questão
dos esquemas muito mais concreta, pois é consistente com o que videntes e médiuns em geral
sempre conseguiram captar desde os primeiros registros de suas atividades. É assim que
iniciamos algumas breves reflexões sobre a relação entre os esquemas e a realidade fluídica de
cada ser vivo.

Para começar, observemos que as sensações e movimentos são o ponto de partida de todas as
demais construções da esfera mental - isso é ponto pacífico. Mesmo a mais alta abstração vai
utilizar termos que, de uma forma ou de outra, têm relação com algo oriundo das sensações e
movimentos. Vejamos, a título de exemplo, a seguinte definição de "forma",

"Al suponer que un objeto tiene no sólo una figura patente y visible, sino también una figura latente e
invisible, se forjó la noción de forma en tanto que figura interna captable sólo por la mente. Esta figura
interna es llamada a veces idea y a veces forma. El vocablo más usualmente empleado por Platón a tal
efecto es "eidoi" — vertido al latín, según los casos, por forma, species, notio y genu." (Dicionario de
Fílosofia , José Ferrater Mora. Montecasino)

Observe quanto apelo há aos nossos sentidos: ´figura´, 'visível', 'invisível', 'objeto', 'interna',
etc.
Mas, como isso foi parar em nós? Como ocorre a passagem da sensação no mundo físico para
algo que atribuímos a qualidade de ser "mental" ? Uma pista para entender isso podemos
encontrar observando que nós entramos em contato com o mundo exterior através dos
sentidos, aparelhos e órgãos da sensibilidade. Diz-se que é sensível tudo quanto pode
impressionar um sentido, e inteligível, tudo quanto pode ser conhecido por uma inteligência.
A intuição sensível[45] é produto da interatuação da emergência sensível (da esquemática
sensório-motriz) e da predisponência sensível (os estímulos exteriores). A esquemática
sensório-motriz, que é hereditária, atua, pois, como emergência.
Agora, reparemos que todas a nossas experiências são vividas no espaço e ao longo do
tempo, ao o que seria melhor dizer, através de mudanças. Ou seja, a própria sensação exige
necessariamente a simultaneidade e a sucessão, pois a primeira deve dar-se entre o ser que

36
Anotações sobre evangelização

conhece e o objeto conhecido, para que se dê o produto disso (conhecimento), e esse processo
exige sucessão (deve haver perduração).
Já a entidade denominada Sua Voz em A Grande Síntese afirma:

"Se me perguntais onde termina o espaço, eu vos respondo: num ponto em que o "onde" se
torna "quando", ou seja, em que a dimensão espaço, própria de gama [matéria], transforma-se
na dimensão tempo, própria de beta " [energia].

Isso é significativo se refletirmos no que acontece quando experimentamos as sensações. É


razoável concluirmos que aquilo termina "onde" acontece uma transformação da experiência
sensível (própria da dimensão espaço) em energia (própria da dimensão tempo), mas não na
modalidade comum, e sim, sob a forma de fluidos, no perispírito, entendido como uma
unidade constituída de fluidos de caráter específico. Assim, tudo o que nos ocorre no
campo da experiência deve ser passível de conversão, ao longo da sucessão, no tempo, em
energia. As estruturas, então, chamadas esquemas devem ser, de fato, estruturas energéticas.
para poderem ser assimiladas à mente (ao campo mental, ao perispírito) - pois o pensamento
ocorre no tempo, necessita do tempo[46].

Quando, então, tratamos dos esquemas como estruturas elaboradas pela mente,
diferentemente do que afirmam os psicólogos especializados em Piaget, isto é, que tais
esquemas não têm realidade física, material, veremos que os esquemas podem ser analogados
às estruturas de energia ou FORMAS-PENSAMENTO que "habitam" ou até formam o nosso
perispírito, segundo relatos de Espíritos como André Luiz em suas obras.

Ilustração de um vórtice magnético


solar
(ref.: Solar Magnetic Vortex, do sítio
Free Energy and Free Thinking)

Lembrando que, segundo alguns


videntes e pesquisadores do
mundo espiritual, o perispírito é
formado de vórtices de energia
(mais sobre essa forma você pode
achar aqui), então, há dois
movimentos envolvidos nessa
rotação: um em direção ao exterior, para fora e outro, em direção ao interior, para dentro
(para o núcleo do vórtice). Então, de nós (dos nossos centros de força, pois que são vórtices)
"algo" sempre sai e "algo" sempre entra. E tal "algo" deve possuir um natureza semelhante ao
próprio vórtice, para que tal processo ocorra. Esse "algo" é também energia com alguma
estrutura, ou pelo menos é energia.

37
Anotações sobre evangelização

Assim, todos os mecanismos de aprendizagem envolvem assimilação. Mas tal assimilação, se


não é incorporação material, é, de certa forma, assimilação fluídica. Veja, por exemplo, no
livro de André Luiz, Nos Domínios da Mediunidade, o capítulo 5, Assimilação de Correntes
Mentais. Há no capítulo uma alusão ao processo de sintonia entre o Espírito orientador e o
dirigente encarnado, durante a prece. Isso é bastante significativo, pois ao observarmos o
procedimento de ambos, verificamos que há a intermediação dos centros de força no
processo. Assim, todo o aprender envolve uma adaptação do indivíduo à onda mental
proposta, que entra em contato com o indivíduo através de um esforço de sintonia, processo
de acomodação, nos termos piagetianos, e, também, uma correspondente assimilação daquilo
que é assimilável à sua estrutura mental (esquemática)- a construção pessoal da
forma-pensamento correspondente.

A título de ilustração, vejamos, a seguir, a descrição oferecida por Barbara Ann Brennan sobre
a ação dos chacras num momento de experiência de um bebê (grifos nossos): 16

"O campo geral de um bebê, amorfo e informe, ostenta uma coloração azulada ou acinzentada.
Quando o bebê fixa a atenção num objeto do plano físico, a aura se torna tensa e brilhante, sobretudo ao
redor da cabeça. Depois, à proporção que essa atenção se dissipa, a cor da aura desaparece
gradualmente; entretanto, preserva parte da experiência em forma de cor da aura. Cada experiência
acrescenta um pouco de cor à aura e lhe realça a individualidade. Dessarte o trabalho de construção da
aura também prossegue e continua dessa maneira por toda a vida, de modo que todas as experiências de
vida de uma pessoa podem ali ser encontradas.
(..)
O campo da criança, inteiramente aberto, é vulnerável à atmosfera em que vive. Estejam as coisas "em
aberto", ou não, a criança sente o que se passa entre os pais. Reage constantemente a esse ambiente
energético de maneira compatível com seu temperamento.
(...)
`A medida que a criança cresce e o segundo chacra principia a desenvolver-se, sua vida emocional se
enriquece. A criança cria mundos de fantasia em que pode viver, começa a sentir-se uma pessoa separada
da mãe, e esses mundos ajudam a criar a separação. Dentro dos mundos de fantasia estão as
propriedades da criança. Ela enviará do seu campo etérico projeções[47] semelhantes a amebas,
circundando com elas os objetos. Quanto mais importante for o objeto na construção do mundo de
fantasia, tanto maior será a consciência da energia do seu campo com que ela o circundará. O objeto
passa a ser parte do eu. E quando lhe é arrebatado à força das mãos, dilacera-lhe o campo e causa-lhe
dor, física e emocional.
(...)
Os objetos pessoais tornam-se modos de definir a individuação. O espaço da energia particular ajuda a
definição."

Mas, que tipo de estrutura geométrica deve ter o perispírito para possuir tal propriedade de
realizar projeções quais fios, cordas e também irradiar como luz? Certamente será algo além
do que estamos habituados a considerar, embora também deva ser encontrado na natureza
material em que vivemos com o corpo físico. A resposta a isso, ou uma "pista", pois a resposta
definitiva ainda aguarda o trabalho do homem com a evolução da ciência do espírito, vamos
encontrar em algumas recentes conjecturas sobre o funcionamento das estruturas
astronômicas denominadas buracos-negros, na formulação teórica do físico Nassin Haramein

38
Anotações sobre evangelização

sobre a estrutura do espaço ao se introduzir considerações sobre o torque nas equações de


campo de Einstein[48].

Figura ilustrando de forma esquemática a exteriorização de fluidos sob a forma de "projeções"


com os quais o bebê envolveria o objeto do seu interesse.

Sem entrar em detalhes (o que não cabe aqui evidentemente), vamos nos apropriar do
resultado da sua teoria que estabelece ser o fractal[49] a geometria capaz de melhor descrever
o espaço e o vórtice a macro estrutura visível ou perceptível, descrevendo os fenômenos nesse
espaço. Vale também lembrar as explicações encontradas em A Grande Sintese[50] que nos
indica estarmos entrando no domínio da dimensão conceptual - estruturada a partir da
energia (que se manifesta no tempo, pelas forças causadoras do movimento), consciência
(que se manifesta pela capacidade analítica da razão) e da intuição (percepção imediata dos
conceitos). Ou seja, teríamos a seqüência:
Experiência sensível (simultaneidade no espaço) -->
--> energia (movimento com rítmo e direção, típico de cada fenômeno, assim individualizado) -->
--> razão (observa e julga os fenômenos, inclusive a si próprio) -->
--> intuição (contato imediato com a essência das coisa, dos fenômenos)

Vemos acima que há, então, a conversão da experiência sensível em energia, a fim de que a
consciência (racional) possa captá-la em sua estrutura típica, ainda que parcialmente. Ou, dito
de outra forma, as nossas experiências são convertidas em fluidos (como também os fluidos
constituintes do nosso pensamento "materiliazam-se" como ação no mundo físico).

39
Anotações sobre evangelização

Portanto, todo ato mental, e a aprendizagem envolve atos mentais, tem correlação com
mudanças energéticas no perispírito.

Mas para que isso ocorra de fato, isto é, para que as nossas experiências possam ser covertidas
em estruturas energéticas (esquemas, formas-pensamento) de modo a influenciar nosso
perispírito, é preciso que:

• encontrem eventualmente alguma


possibilidade de "encaixe" na nossa malha
perispiritual - afinidade e sintonia

• perdurem de forma estável em nós -


memória[51] e imaginação[52]

• tenham uma natureza tal que possam


ser "energizadas" para ação a partir das
experiências vividas por nós - significação
e escolha, deliberação.

Ilustração de um vórtice galáctico. Note o desenho espiral

A partir do que vimos até aqui, como você poderia aplicar isso
na aula de evangelização? Alguma idéia?

40
Anotações sobre evangelização

5. O ato afetivo: as emoções como estado e como processo

41
Anotações sobre evangelização

NOTAS GERAIS

[1] Um conceito para ser devidamente estudado, isto é, de forma a não se perder em abstrações desconexionadas
da realidade, deve ser desenvolvido em quatro tempos, isto é:
• estabelecendo sua estrutura interna
• examinando as possibilidades de seu desenvolvimento, segundo suas potencialidades
• estudando as relações que podem ser estabelecidas com o seu em torno.
• concrecionando, ou seja, estabelecendo sua relação com os aspectos da realidade que

[2] O processo de estudo dos conceitos seguirá uma sequencia típica descrita da seguinte forma: inicialmente
estabelecemos uma visão sintética, do todo que abarca o conceito. Em seguida, procuramos analisá-lo pelos
diversos aspectos possíveis. Finalmente, relizamos a concreção do conceito, retornando após as análises a uma
conclusão que leve em conta a realidade de onde saiu, eventualmente apresentando aplicações ou exemplos
ilustrativos.
[3] Para elaborar um conceito concreto devemos estabelecer duas coisas:
uma definição que apresenta a essência do que se está conceituando
descrição das maneiras como aquilo que está sendo conceituado existe ou se apresenta
Exemplificando:
• Tomemos como exemplo o conceito de música. Começamos com uma definição que ofereça a
sua essência, como, por exemplo, "arte de combinar conscientemente os sons" e descrevemos as maneiras
como a música existe ou se apresenta:
1) como possibilidade metafísica por existir o som;
2) como pensamento ou imaginação do compositor;
3) como registro ou notação;
4) como execução musical;
5) como experiência pessoal, para quem a escuta e depois se lembra dela;
6) como teoria para quem reflete sobre ela.
Cada um desses estratos possui um núcleo que é a maneira mais apropriada de lidar com tal categoria e
tambémn possui seus aspectos periféricos. Por exemplo: o ouvinte ideal em quem o músico pensou
quando estava compondo a música é quem terá a experiência mais adequada ao ouvir a música. Por
outro lado, alguém, que passe acidentalmente, escute apenas de passagem e não tenha noção do que está
acontecendo, terá um entendimento mínimo.
Em cada uma dessas seis categorias, teremos um limite dado pelas próprias condições de adaptação da
nossa teoria com a realidade do objeto em questão.

Para dar mais um exemplo, vejamos tal técnica no conceito de matemática. Começando com a essência:
"ciência das quantidades contínuas e discretas". Passemos para as categorias:
1) Como possibilidade metafísica e cosmológica, pela existência da quantidade.
2) Como assuntos práticos e problemas concretos (trabalho, construção, organização, ..) nos quais
aparecem dados matemáticos.
3) Como atividade dos cientistas, dos estudantes e professores de matemática.
4) Como registro do resultado de tais atividades por meio de dados, pesquisas, teoremas, estudos,
exercícios, ...
5) Como lembrança de cada matemático e de quem aprendeu matemática;
6) Como meta-matemática, isto é, reflexão sobre a matemática e uma lógica que a organiza.
[4] Não será exposto de forma completa ou exaustiva. Apenas alguns exemplos, dando-lhes o nome técnico, i.e.,
sujeito-objeto, plano da unidade (família), da totalidade (grupo social), da série (sociedade), de sistema (ciclo
cultural) e universo (humanidade), etc.

42
Anotações sobre evangelização

[5] B. Em CONDILLAC, KANT, HEGEL e nos psicólogos modernos, uma paixão é uma tendência com uma
certa duração, acompanhada por estados afetivos e intelectuais, por imagens em particular, e suficientemente
poderosa para dominar a vida do espírito. ... "A paixão é uma inclinação que cai no exagero, sobretudo que se
instala demoradamente, se faz centro de tudo, que subordina as outras inclinações e as arrasta atrás de si."
MALAPERT
(Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, André Lalande)

[6] C. MORAL. Amor exclusivo ou excessivo de si; característica daquele que subordina o interesse de outrem ao
seu próprio e julga todas as coisas do seu ponto de vista.
(Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, André Lalande)

[7] B. "Disposição permanente para querer cumprir uma espécie determinada de atos morais".
C. Mais geralmente: disposição permanente para querer o bem; hábito de o fazer.
(Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, André Lalande)

[8] B. ÉTICA. Disposição habitual para um gênero de conduta considerada gravemente imoral. (Vício opõe-se
quase sempre a virtude na linguagem filosófica).
(Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, André Lalande)

[9] A eticidade aqui pressupõe o entendimento ( ação da razão), e o consentimento (ação do coração) em
relação às nossas escolhas de comportamento.
[10] LUIZ, André (Espírito) Mecanismos da Mediunidade. [psicografia de] Francisco Cândido Xavier.C ap.
XVI Fenomeno magnetico da vida humana. CENTRO INDUTOR DO LAR. 9ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB,
1986. p.116.
"... o Espírito reencarnado, no período infantil, recolhe dos pais os mapas de inclinação e conduta que lhe nortearão a
existência....
... transformando-se [os filhos] , por algum tempo, em instrumentos ou médiuns dos genitores, à face do ajustamento
das ondas mentais que lhe são próprias, em circuitos conjugados, pelos quais permutam entre si os agentes mentais de
que se nutrem."

[11] Pires, José Herculano. Mediunidade : vida e comunicação : conceituação da mediunidade e análise geral dos
seus problemas atuais. 5.a ed. São Paulo : EDICEL, 1984.

[12] Indução aqui tem o sentido de influenciação à semelhança do que ocorre na biologia onde indução é entendida
como "o processo no qual a presença de um tecido influencia o desenvolvimento de outros"

[13] Isso está consistente com o que é exposto no livro O Que é O Espiritismo, quando Kardec ao responder à
questão "qual a origem do sentimento chamado consciência", estabelece que o Espírito antes de reencarnar já
tomou resoluções para serem efetivadas durante a futura existência.
[14] André Luiz (Espírito). Nos Domínios da Mediunidade. Cap 5 - Assimilaçoes de correntes mentais. 10ª ed.
Rio. FEB
[15] Pode parecer arbitrária a decisão de levar um filho à evangelização, mas ao meditar com mais cuidado nisso,
considerando principalmente os exemplos de companheiros espíritas mais velhos, veremos que tal decisão se
parece arbitrária por depender em parte dos pais, de forma alguma isenta-os da responsabilidade de impedir que
o Espírito reencarnante tome contato com seus compromissos a partir dessa modalidade de atividade. O que 17

pode ocorrer é, respeitado o livre-arbítrio de todos, estarem os pais tão imersos no cotidiano materialista, que se
incapacitam de ver o óbvio, preparando para si próprios situações difíceis nas quais se verão diante de um
adolescente despreparado a exigir-lhe muito mais em termos de esforços, nem sempre, então, coroados de êxitos.

43
Anotações sobre evangelização

[16] Diremos que a mente organiza a experiência sob a forma de conhecimentos.

[17] Seguindo o dicionário Priberam, "função da inteligência ao adquirir um conhecimento."


(http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx). Segundo The FreeDictionary, "The mental process of knowing,
including aspects such as awareness, perception, reasoning, and judgment."
(http://www.thefreedictionary.com/cognition)

[18] "s. m. 1. Figura que representa, não a forma verdadeira dos objectos, mas as suas relações e funções."
(dicionário Priberam da Língua Portugues, http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx)

[19] ad commodo, dar forma ad


[20] de ad simil, semelhante à
[21] Para mais detalhes, veja Drawing inspiration from nature to build a better radio no MIT Tech Talk April 15,
2009 (download PDF)

[22] Para aqueles que quiserem ver uma explicação do próprio inventor, o pesquisador Sarpeshkar, veja o
vídeo(em inglês).

[23] Doença metabólica, transmitida geneticamente de forma autossómica recessiva. É um erro inato do metabolismo
proteico.

[24] PhD. Psicobióloga, mestre e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela
Universidade da Califórnia em Los Angeles. Pesquisadora associada do Núcleo de Informática Biomédica,
UNICAMP, Campinas, Brasil. Diretora e Editora-chefe da revista Cérebro & Mente e editora associada da
Intermedic e Informática Médica, revistas em Internet e Medicina.

[25] Tais características desencadeadoras desse comportamento seriam:


• O tamanho maior da cabeça em relação ao tronco;
• O crânio com a fronte arredondada e saliente;
• Olhos grandes situados debaixo da linha média do conjunto do crânio;
• Extremidades curtas, rechonchudas e arrendondadas
• Bochechas redondas e salientes, nariz pequeno.

[26] SILVA, Cláudio Jerônimo da; SERRA, Ana Maria. Terapias Cognitiva e Cognitivo-Comportamental em
dependência química. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, 2009 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462004000500009&lng=en&nrm=iso>.
access on01 July 2009. doi: 10.1590/S1516-44462004000500009.

[27] (idem ao anterior) "As Crenças Centrais Básicas são avaliações genéricas sobre si mesmo, sobre o outro e
sobre a relação com o mundo que o cerca. Na maioria das vezes, tais crenças não são conhecidas e claras para o
indivíduo (são inconsciente) mas, sob determinadas circunstâncias, influenciam a percepção sobre as coisas e é
expressa como pensamento automático, específico a uma situação. Os pensamentos automáticos derivam de um
"erro" cognitivo e têm íntima relação com as crenças. O quadro abaixo exemplifica alguns erros cognitivos e
pensamentos a eles associados.

44
Anotações sobre evangelização

[28] Intuição: lat. intuitio, ação de ver, golpe de vista. Modo de conhecimento imediato, que apreende
diretamente, sem intermediários, um objeto de pensamento ou uma realidade. (Dicionário de Filosofia,
JAcqueline Russ. Editora Scipione. 1991.)

[29] Isso não é exatamente o que acontece. Repare que, de fato, tal "identificação" se dá entre 'eu', como sujeito e
'eu mesmo' , enquanto objeto (que sente). O livro serviu apenas como elemento "disparador" dos sentimentos.
Ocorre que, de início a nossa captação é de certa forma iludida, isto é, achamos que a simpatia está no objeto,
confundindo causa com instrumento pelo qual essa causa se apresenta. O mesmo irá acontecer com a intelecção,
que, separando o objeto do sujeito, está, de fato, separando do próprio susjeito os esquemas que lhe são próprios.
Ou seja, repare que o que percebemos do objeto, intelectivamente, são os nossos esquemas do objeto (por isso
ditos noéticos)

[30] "A teoria de Piaget, denominada de Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética é a mais conhecida
concepção construtivista da formação da inteligência.
Jean Piaget, em sua teoria, explica como o indivíduo, desde o seu nascimento, constrói o conhecimento.
A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando
o desequilíbrio, resultam em assimilação ou, acomodação e assimilação dessas ações e, assim, em construção de
esquemas ou conhecimento.
Em outras palavras, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e
após, uma assimilação e o equilíbrio é, então, alcançado."
(http://penta2.ufrgs.br/edu/construt/teopiag.htm)

[31] Trata-se aqui dos conceitos de esquemas, do processo de adaptação do ser humano ao ambiente que lhe
define a circunstância, dividido em acomodação e assimilação, e do modelo de estágios de desenvolvimento
(sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e operacional formal).
Para mais detalhes, veja o artigo abaixo A Construção do Conhecimento segundo Piaget.

[32] A Construção do Conhecimento segundo Piaget, de De Malcon Tafner,


http://www.cerebromente.org.br/n08/mente/construtivismo/construtivismo.htm , acessado em 26/junho/2009.

[33] "s. m. 1. Figura que representa, não a forma verdadeira dos objectos, mas as suas relações e funções."
(dicionário Priberam da Língua Portugues, http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx)

[34] dizemos noéticos porque elaborados pelo espírito e com uma uma intencionalidade

[35] Ensina-nos o autor que as abstrações (conceitos) podem ser divididos segundo Aristóteles e os esoclásticos
em três grupos. As abstrações de primeiro grau seriam as referentes aos objetos da nossa poercepção sensível,

45
Anotações sobre evangelização

tais como cachorro, cavalo, mesa, homem, etc. Onde vemos os seres particulares despojados de suas diferenças e
agrupados segundo o que têm em comum, numa classe. As abstrações de segundo grau, por sua vez, seriam as
usadas na matemática, onde as coisas são desprovidas de todas as suas notas com exceção da quantidade. Ao se
tratar das quantidades contínuas teríamos a geometria. Ao se cuidar das quantidades discretas, teríamos a
aritmética. Finalmente, temos aquelas abstrações para as quais não há um indivíduo singular que possa ser
tomado como exemplar da classe, como por exemplo, o conceito (abstração) de forma, de antecendente, de
essência, de existência, etc. Repare que não temos um exemplar para forma, podemos ter uma gota de água
exemplificando a forma de uma gota de água, mas não a forma em si. São as abstrações de terceiro grau e aqui
estamos no território da metafísica.

[36] 'fáctico´, porque envolve um dado exterior ao ser, colocado na realidade e independente dele; ´noético´, por
se dar segundo uma intencionalidade, típica do espírito, criador por excelência

[37] isto é, a semelhança do que ocorre na incorporação de substâncias pelos seres vivos, que teria o caráter do
'fato' (i.e., a substância) realmente ser incorporada ao organismo. Na incorporação aludida o fato permanece fora
da mente após a gênese dos esquemas correspondentes.

[38] i.e., essência


[39] Ou seja, não há um repertório muito grande de esquemas que possam ser utilizados no processo de
acomodação.

[40] "Símbolo é tudo quanto está em lugar de outro, sem acomodação atual á presença desse outro, com o qual
tem, ou julgamos ter, qualquer semelhança (intrínseca por analogia), e, por meio do qual, queremos transmitir ou
expressar essa presença não atual.", Mário Ferreira dos Santos, Tratado de Simbólica. É Realizações, 2007.

[41] Veja aqui essa interessante apresentação de Pedro Vitoria: Jean Piaget e a inteligência,
(http://www.scribd.com/doc/2910172/Jean-Piaget-e-a-inteligencia)

[42] Para saber mais sobre o desenho infantil, acesse o artigo Descoberta de um Universo: A Evolução do
Desenho Infantil , de Thereza Bordoni

[43] "Os esquemas do sensório-motriz estão indeterminadamente acomodados sem estímulos exteriores. A
sensação se processa por uma mutação de estado de indiferença destes em relação ao exterior.
Os sentidos recebem o esquema do estímulo sine materia, sem incorporação material, por mera imutação, por 18

mutação in-tensional, que quebra o estado de indiferença dos esquemas acomodados, processando-se uma
assimilação nova com seu correspondente esquema."

[44] Para maiores informações veja o interessante artigo de Abaza Husssein New Approach for Understanding
the Golden Section: http://www.mi.sanu.ac.yu/vismath/abaza2008/abaza.pdf

[45] Diz Mário Ferreira dos Santo em seu Tratado de Esquematologia: A esquemática sensório-motriz da
sensibilidade assimila os estímulos sem incorporação material destes.
"A assimilação, que se processa pela intuição sensível, na sensação, dá-se pela assimilação do esquema do estímulo
sem incorporação material deste, pois o que apenas se verifica é uma mudança de potencial do sensório-motriz,
cujo processo é esquemático, e é assimilado aos seus esquemas acomodados, na proporção destes e segundo o
momento histórico da acomodação. Daí a assimilação poder caracterizar-se em adequada ou em simbólica,
dependendo esta última da fraca acomodação, incapaz de permitir uma assimilação adequada. É o que caracteriza

46
Anotações sobre evangelização

o parece que é isto ou aquilo. Os sentidos, como instrumentos, acomodam-se organicamente e sofrem as mutações
de potencial que são proporcionadas à sua gama sensível. O estímulo recebido do objeto é esquemático em relação a
este e as modificações potenciais do instrumento sensitivo terminam por constituir uma unidade esquemática. Esta,
levada como estímulo aos esquemas acomodados, permite uma assimilação proporcionada a estes. Em todo esse
processo não há assimilação material, não há incorporação da matéria bruta nem das suas manifestações, como se
verifica fisiologicamente. Os sentidos, ao sofrerem tais mutações de potencial, recebem esquemas dos objetos sem
perder os que já possuem. Essa recepção era chamada pelos escolásticos de imutação do sentido, porque há
realmente a recepção de uma nova espécie (ou esquema em nossa linguagem), eidola (formazinhas das coisas). Era
chamada essa imutação de intencional, que hoje chamamos cognoscitiva, porque apenas consiste numa imutação
tensional dos esquemas acomodados."
[46] "Tempo é o espaço interior, a manifestação do espaço interior que se apresenta como tempo. A potência do
tempo é levada ao exterior (espaço) e nos faz compreender o espaço-tempo, forma já configurada das duas formas
universais. Não há tempo sem espaço nem espaço sem tempo para nós (isto é, impõe-se algo que é tempo e espaço)
O pensamento tem tempo, por isso nele não se “encontra” a espacialidade, argumento que pouco favorece aos
espiritualistas. Mas, por ser tempo, é espaço também, porque o pensamento é algo, um proceder de algo. Todo
fenômeno exibe espaço e tempo; não o em si (como o afirmava Kant). O pensamento não é um em si, mas um
determinado exibir do tempo, um espaço fenomenizado (interior)." (idem ao anterior)

[47] Tais projeções poderiam ser "trabalhadas" por profissionais que realizam curas através da bionenergia, ao
estilo da escola de Ann Brennan, autora do livro Mãos de Luz. Um desses energy healers é Dean Ramsden, que
desenvolve um trabalho terapêutico denominado por ele Relational Energy Healing. Ao que tudo indica, tais
projeções dos chacras são vistas como "cordas dos chacras" (chakra cords), sendo agrupadas em cinco tipos :
Junk cords
Transitional Cords
Attachement Cords
Heritage Cords
Self Cords
Já André Luiz relata em vários de seus livros essa modalildade de interação fluídica entre Espíritos encarnados e
desencarnados. Veja, por exemplo em Nos Domínios da Mediunidade, quando escreve "Fios de luz brilhante
ligavam os componentes da mesa, dando-nos a perceber que a prece os reunia mais fortemente entre si. "
(capítulo 5, Assimilação de Correntes Mentais, grifos nossos)

[48] Ver "The Origin of Spin: A Consideration of Torque and Coriolis Forces in Einstein's Field Equations and
Grand Unification Theory por Nassim Haramein e E.A. Rauscher.
[49] "From observational data and our theoretical analysis, we demonstrate that a scaling law can be written for
all organized matter utilizing the Schwarzschild condition of a black hole, describing cosmological to sub-atomic
structures. Of interest are solutions involving torque and Coriolis effects in the field equations.
Significant observations have led to theoretical and experimental advancement describing systems undergoing
gravitational collapse, including vacuum interactions. The universality of this scaling law suggests an underlying
polarizable structured vacuum of mini white holes / black holes.
As the atomic and subatomic data points levels obey the scaling law, a computation is given demonstrating that
the proton can be defined in terms of a Schwarzschild condition, when the vacuum structure is considered.
Further, we briefly discuss the manner in which this polarizable structured vacuum can be described in terms of
resolutions analogous to a fractal-like scaling as a means of renormalization at the Planck distance. Finally, we
describe a new horizon we term the “spin horizon” which is defined as a result of a spacetime torque producing
boundary conditions in the magnetohydrodynamic structures of galactic center black holes, which we
demonstrate obeys similar dynamics as the interior of our sun."
Ver Scale Unification – A Universal Scaling Law For Organized Matter (PDF), Nassim Haramein, Michael
Hyson, e E.A. Rauscher.

47
Anotações sobre evangelização

[50] Ref. capítulo 36, Gênese do Espaço e do Tempo.


[51] "A memória é a capacidade do espírito que consiste na função conservadora de imagens sentidas ou não dos
esquemas já estruturados". (Mário Ferreira dos Santo, Tratado de Esquematologia)
[52] "A imaginação é a função conservadora e combinadora de imagens. As imagens são representações que
repetem os conjuntos esquemáticos, esquematicamente, elaboradas pelo sentido comum. Imaginação é o nome
que se dá a essa função psíquica, que apresenta os seguintes aspectos: conservação das imagens estruturadas pelo
sentido comum; conhecimento da quantidade; combinação das imagens na formação de um conjunto
esquemático e real, o que é verificado no homem.Esta última função toma o nome de imaginação criadora
porque se dá a construção de novos esquemas formados pela estruturação dos esquemas captados pelo sentido
comum. Assim, uma montanha de ouro, que surja num sonho ou seja imaginada pelo homem, revela essa função
específica da imaginação, que constrói um esquema irreal pela aglutinação de esquemas de origem real." (Mário
Ferreira dos Santo, Tratado de Esquematologia)

48
Anotações sobre evangelização

1
O propósito de se elaborar o conceito concreto é de ajudar a organizar as discussões para que fiquem cada vez
mais próximas do objeto discutido na medida em que cada interlocutor conseguir distinguir o sentido do termo
que o outro está usando. Afinal, um mesmo conceito pode ser aplicado de diferentes maneiras e as pessoas não se
entenderiam se uma não tivesse clareza sobre a intenção gnoseológica da outra.
Vanderlei Miranda Jun 19, 2009 11:41 PM

2 Para saber mais sobre Human Dynamics, veja o link:


http://www.humandynamics.com/pages/overview.html
Vanderlei Miranda Sept 9, 2009 10:22 AM

3 A formação do caráter e o comportamento moral: os três limites


Vanderlei Miranda Nov 4, 2009 1:29 PM

4
Humanizado porque o Cristianismo representa a religião do Homem, isto é, que exige, que pede para que o
homem se eleve acima das próprias circunstâncias, humanizando-se, atualizando o seu potencial ao máximo.
Vanderlei Miranda May 12, 2009 9:48 AM

5 Por que você aceitaria isso? Como você justificaria uma atitude dessas?
Vanderlei Miranda May 22, 2009 4:29 PM

6 Entenderemos por campo a região de influência de determinada ordem de fenômenos, seja de caráter físico ou
não.
Vanderlei Miranda May 5, 2009 3:07 PM

7 Ver CONFISSÔES como exemplo dessa tese apresentada por alguns filósofos, entre os quais, Eric Voegelin Olavo de
Carvalho.
Vanderlei Miranda May 12, 2009 3:17 PM

8 Lembre-se que a emoção permite que façamos uma estimação daquilo que nos cerca e com o que
interrelacionamos.
O quadro da vida é apreendido por nós sob a forma de construções mentais, carregadas de significação afetiva
(simbólica).
Vanderlei Miranda Jun 21, 2009 4:37 PM

9
Esquema: "s. m. 1. Figura que representa, não a forma verdadeira dos objectos, mas as suas relações e
funções."
(dicionário Priberam da Língua Portugues, http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx)

Vanderlei Miranda Jun 30, 2009 11:08 PM

10 Etólogo é alguém que estuda os comportamentos instintivos, como corte, acasalamento, e cuidado dos filhotes.
Vanderlei Miranda Aug 8, 2009 0:05 AM

11 Trata-se de um funcionamento DIALÈTICO.


Vanderlei Miranda Jul 4, 2009 12:36 PM

12 No que identificamos a presença da RECURSIVIDADE.

Vanderlei Miranda Aug 8, 2009 1:03 AM

13 Veja Epistemologia Genética de Piaget para detalhes.


Vanderlei Miranda Aug 8, 2009 1:06 AM

14 noética: criado pelo Espírito


Vanderlei Miranda Jul 4, 2009 12:48 PM

15 Capacidade de representar um significado através de um significante


Vanderlei Miranda May 19, 2009 3:15 PM

16 i.e., centros de força


Vanderlei Miranda Jul 6, 2009 11:17 AM

17 Lembremos que o ambiente da evangelização trabalhará no longo prazo na personalidade em formação do

49
Anotações sobre evangelização

Espírito reencarnante, atuando-lhe nas disposições pessoais, sempre respeitado o livre-arbítrio. Tal situação é
estabelecida devido ao mecanismo de sintonia que se estabelece entre o evangelizando e o ambiente espiritual da
casa que frequenta. Claro que evagelizador terá o papel de fazê-lo perceber tal ocorrência.
Vanderlei Miranda May 12, 2009 3:48 PM

18 sine materia: sem substância material


Vanderlei Miranda Jul 3, 2009 2:44 PM

50

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