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«Eu frequentemente vejo pilotos a procurar por térmicas em locais que eu considero lugares
improváveis, e os pilotos também me perguntam frequentemente porque voei para um
determinado ponto à procura.
Sempre que isto acontece tenho de me conter para não responder simplesmente algo como,
"parecia-me bom".
De facto, o que faz um ponto específico na natureza 'parecer melhor' do que todas as
posições potenciais em torno dela é uma matéria complexa, e chegar a uma conclusão
acontece somente através várias deliberações. No inicio estas são todas conscientes, mas
com a experiência tornam-se cada vez mais subconscientes até que nós não possamos
mesmo dizer o que fez com que nós voassemos para lá!»
Para aprender é necessário tomar em consideração algumas coisas: Que solo/chão aquece
bem? Por onde é que uma térmica vinda desse pedaço de terra irá fluir, tomando em
consideração o vento e o relevo?
Aprendemos que as térmicas acontecem porque o sol aquece a terra, e a terra aquece o ar
sobrejacente. Agora avancemos então aquele passo em frente.
Mas o valor do albedo sozinho não é tudo. Se o solo estiver embebido com água, a energia
vai primeiro ser gasta na evaporação antes de aquecer o solo. Este processo vai consumir
muita energia, que então não estará disponível para gerar a térmica.
Finalmente, um solo poroso aquece mais rápidamente do que um solo mais compacto.
As florestas de folha caduca têm um valor relativamente baixo do albedo, mas contêm
muita humidade. Isto fáz com que sejam menos interessantes “termicamente” que as
florestas coniferas onde há menos humidade armazenada.
As superfícies com uma alta capacidade de aquecimento (como rochas) levam mais tempo a
aquecer, mas uma vez quentes continuarão a produzir térmicas mesmo durante curtos
períodos nublados. As vertentes inclinadas de leste são as primeiras a gerar termicas de
manhã, não por causa da sua capacidade de aquecimento mas porque estiveram expostas ao
sol durante mais tempo.
As superfícies do deserto e a areia seca têm valores elevados do albedo, mas são
muito porosas. Para além disso, os desertos estão nas regiões com forte luz solar, e
a porosidade mais a força da luz solar combinam-se para produzir térmicas fortes
nas regiões do deserto.
Os campos verdes molhados, não são bons, mas quando colhidos recentemente são
razoáveis. Se houver feno a secar num dos campo é provavelmente bom!
Dica
Quando um parque de estacionamento estiver cheio de carros ainda se torna melhor, pois
mais ar quente pode ficar preso entre todos os veículos estacionados. As térmicas geradas
pelos parques de estacionamento cheios são geralmente fortes e largas e assim fáceis de
centrar o núcleo.
Dica
As térmicas podem vir de qualquer superfície que estiver aquecida pelo sol. Para construir
um retrato mental tente imaginar andar sobre a terra aonde você está a voar. Onde quer
que você sinta o ar começar a aquecer pode esperar o desenvolver de uma termica, sempre
que começa a arrefecer é menos interessante. Isto significa que as áreas frescas,
sombreadas e molhadas impedem sempre o desenvolvimento térmico.
Visualizando térmicas
Infelizmente, o ar é invisível, frio bem como morno. Para conseguir a maioria das
informações que nós necessitamos para construir um retrato mental da térmica em que nós
estamos a enrolar, para visualizá-la na nossa mente, veja a figura 1.4. Algumas térmicas são
muito grandes e podem mesmo ter quilometros, por exemplo sob uma “estrada” de nuvens.
Outras são pequenas, estreitas, ou composta de diversos núcleos, cada um com diferentes
taxas de subida. Nas páginas seguintes vamos mostrar diferentes estruturas térmicas, para
lhe ajudar no seu próprio processo de visualisação.
O piloto B está a
voar contra o
vento causado
pelo anel do
vortex. Se
estiver com um
GPS pode ver
que a sua
velocidade em
relação à terra é
menor do que
era um pouco
antes. Se voar
sobre o centro
do núcleo terá
de repente
vento de cauda
combinado com
uma baixa taxa
de subida. É
possível sentir a
aceleração
quando passar
sobre o núcleo e
o vento de
cauda, o piloto
deve girar
imediatamente
para se manter
no núcleo e
maximizar a sua
subida. O núcleo
do anel do
vortex é
bastante
turbulento e o
piloto deve
continuamente
reagir aos
movimentos da
sua asa e
realizar ajustes
para se manter
na ascendente
mais forte.
O piloto C está
ainda acima da
térmica.
Unicamente
quando este
afundar, e esta
subir até se
encontrarem,
pode começar
rodar térmica e
ganhar altura.
O piloto D saiu
fora pela lateral
da termica e
está-se
afastando.
Considerando
que tem um GPS
pode ver a sua
velocidade em
relação à terra a
acelerar e a sua
taxa de queda a
aumentar
também.
O piloto E está-
se aproximando
da térmica por
baixo. Tem
vento de cauda
e já deve ver a
taxa de queda a
diminuir - está
sendo sugado
praticamente
para a térmica.
O exemplo acima mostra-nos como é importante para cada um de nós tentar sempre
construir um retrato mental da termica em que estamos; visualizá-la. Unicamente fazendo
assim podemos tentar compreender o que está acontecendo a qualquer momento em
relação à parte da termica que nós estamos, e fazer o melhor uso dela. Isto permite
também que nós re-entremos no núcleo mais rapidamente em caso de o perdermos.
Dica: Se estiver voando em linha reta e sentir de repente uma maior tracção para um lado,
talvez combinado com uma redução do afundamento, siga imediatamente a tracção.
Provavelmente estarão a voar direitos a uma térmica, como o piloto que E.
Experiência
Uma vez eu tive a experiência mais surpreendente “surfando” um anel do vortex numa
térmica muito forte. Eu estava a subir a 9+ m/s num dia sem vento, e vejo de repente
olhando para o meu GPS que minha velocidade tinha ido a zero! Na altura fiquei a pensar de
onde teria vindo esse vento, de repente, muito forte, de frente, mas hoje eu percebo que eu
estava simplesmente no topo do anel do vortex, dirigindo-me directamente para o vento
exterior (veja a ilustração acima, piloto B). Eu subi eventualmente 1.500m num curto espaço
de tempo, voando a direito e ficando praticamente no mesmo ponto! Impressionante!
Vamos imaginar dois pilotos a tentar explorar a extremidade mais baixa de uma bolha
térmica que se eleva como uma estrutura do vortex; um está 50 m mais baixo e
rapidamente começa a ficar para trás pela bolha, que devido a se estar a afundar a massa de
ar circundante sobe sempre mais rapidamente do que ele. Mas o outro piloto que está 50 m
mais alto consegue chegar ao centro do anel do vortex onde o ar que sobe é acelerado pela
estrutura do vortex. Apesar da bolha térmica subir a 1 m/s o centro está produzindo taxas
de subida de 2 m/s que equilibra a taxa de queda do parapente. Se não fosse este efeito, e
supondo uma taxa de queda mínima de -1 m/s, o piloto de cima afundar-se-ia do fundo da
bolha térmica em 50 segundos (estava 50 m mais alto do que o seu amigo) - mas em vez
disso vai com ela até à base da nuvem!
Uma bolha térmica subindo. O piloto mais baixo perde-a cedo, e procura-
a em vão pela termica agora muito mais alta. O piloto superior chega o
centro do anel do vortex, onde se consegue manter. O piloto mais baixo
pode unicamente ficar a olhar enquanto o seu amigo se torna cada vez
mais pequeno.
Dentro da termica existem diversos 'hotspots' onde a subida pode ser ainda melhor.
Dica: Os anéis do vortex são comuns em térmicas isoladas com núcleos estreitos. Quando
as térmicas são grandes, como nas estradas de nuvens a estrutura é rara.
Uma nuvem que mostra a forma clássica do vortex. Olhando para tais
nuvens nós podemos aprender muito sobre a estrutura invisivel das
térmicas.
Quando todas estas condições estão reunidas, podemos prever que a distância entre
estradas de nuvens deva ser 2,5 a 3 vezes a distância entre a terra e o topo da nuvem. Se
as nuvens crescerem até aos 3000 m acima do solo a próxima estrada de nuvens
provavelmente estará aproximadamente a 7-9 km de distância, e as estradas de nuvens
estarão alinhada com o vento.
Dica:
Duas coisas a considerar quando se utiliza estradas de nuvens para voar em planicie:
Se a distancia entre duas nuvens numa estrada é maior do que a distância até a próxima
estrada de nuvens paralela é provavelmente mais sensato mudar de estrada.
Se a sua direcção de voo está em ângulo com a estrada de nuvens compensa ir tão longe
quanto possível, ao longo das estradas e mudar de estrada quando o espaço vazio (azul)
aparece.
Ilustração 1
A direção planeada (vermelha), e a linha mais eficiente (verde). Os
espaços vazios (azuis) na estrada de nuvens são usados para mudar de
estrada e voar na direção desejada. Nos grandes espaços vazios é
preferivel mudar de estrada do que tentar atravessar grandes buracos
azuis.
Dica:
A distância para o piloto que está a ver é muito mais curta do que pensa! Como regra de
ouro considere que ele está a metade da distância que está a pensar e ainda um pouco mais
perto!
Ilustração 2
Um exemplo simplificado da circulação do ar em volta das estradas de
nuvens. Este exemplo serve também para mostrar a razão pela qual
saltar para uma estrada ao lado deverá ser sempre feito de forma
perpendicular à direcção do vento (como mostra a ilustração 1), para
evitar gastar mais tempo do que o necessário na descendente entre as
estradas.
Imagem 1
Estas duas fotos foram tiradas separadas de dois segundos entre si. Observe
como a nuvem derivou no segundo disparo reparando para as arvores em baixo.
O vento é demasiado forte para se voar, e se está calmo ao nível do solo é
apenas porque o vento ainda não chegou lá.