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Atividades AVA Hermenêutica

ISABELA DIAS BEJO - 09/02/2018


Olá Nobres Doutores,

Este fórum não é avaliativo, contudo, será de grande valia para a resolução das atividades e
fóruns que comporão sua nota de AV1.
Portanto fique atento, pois nas datas abaixo iremos disponibilizar indicações de leitura para
lhe auxiliarem nas avaliações.

Para eventuais dúvidas estaremos à disposição no chat diariamente.

 de 08/02/2018 à 18/02/2018 Indicação de Leitura para a ATIVIDADE 1

 de 27/02/2018 à 04/03/2018 Indicação de Leitura para a ATIVIDADE 2

 de 13/03/2018 à 18/03/2018 Indicação de Leitura para a ATIVIDADE 3 e FÓRUM 1

 de 17/04/2018 à 24/04/2018 Indicação de Leitura para a ATIVIDADE 4

 de 09/05/2018 à 15/05/2018 Indicação de Leitura para o FÓRUM 2


TOTAL DE POSTAGENS

1
RESPONDER
ORGANIZAR POR: MAIS ANTIGAS

ISABELA DIAS BEJO - 09/02/2018 09:30:24


Estimados alunos,

A primeira avaliação será composta por três questões objetivas valendo 1.5 pontos na média
da AV1.

Para resolução desta atividade sugiro a leitura dos tópicos à seguir:

 Conceito de hermenêutica
 Positivismo jurídico
 Escola da Exegese
 Aplicação mecânica do direito

Atenciosamente,
Isabela Bejo
Tutora EAD

Agendada
1
Atividade 1
PESO
1,5
DE 19/02/2018 ATÉ 26/02/2018
TIPO MULTIPLA ESCOLHA
TOTAL DE QUESTÕES

03
TENTATIVAS

01
TEMPO LIVRE
AV1
AGENDADA
INICIA EM 10 DIAS
ABRIR NO CALENDÁRIO
ENVIAR POR MENSAGEM
AGENDADA

2
Atividade 2
PESO
1,5
DE 05/03/2018 ATÉ 12/03/2018
TIPO MULTIPLA ESCOLHA
TOTAL DE QUESTÕES

03
TENTATIVAS

01
TEMPO LIVRE
AV1
AGENDADA
INICIA EM 24 DIAS
ABRIR NO CALENDÁRIO
ENVIAR POR MENSAGEM
AGENDADA

3
Atividade 3
PESO
1,5
DE 09/04/2018 ATÉ 16/04/2018
TIPO MULTIPLA ESCOLHA
TOTAL DE QUESTÕES

03
TENTATIVAS
01
TEMPO LIVRE
AV1
AGENDADA
INICIA EM 59 DIAS
ABRIR NO CALENDÁRIO
ENVIAR POR MENSAGEM
AGENDADA

Fóruns:

ISABELA DIAS BEJO - 15/05/2018


A certa altura do último capítulo de seu Teoria pura do direito, Hans Kelsen comenta que:
“importa notar que, pela via da interpretação autêntica, quer dizer, da interpretação de uma
norma pelo órgão jurídico que a tem de aplicar, não somente se realiza uma das possibilidades
reveladas pela interpretação cognoscitiva da mesma norma, como também se pode produzir
uma norma que se situe completamente fora da moldura que a norma a aplicar representa”
(1997: 394).
Tendo lido os tópicos referentes à teoria kelseniana e ao pós-positivismo, responda:

a) o que é a interpretação autêntica;

b) o que significa “produzir uma norma que se situe completamente fora da moldura que a
norma a aplicar representa”;

c) o que a expressão “política judiciária”, empregada por Kelsen no mesmo capítulo,


significa, neste contexto.

As respostas têm de ser JUSTIFICADAS.

SABELA DIAS BEJO - 19/03/2018

Leia, atentamente, os trechos abaixo:

“A imunidade é o obstáculo decorrente de regra da CF (art. 150, VI) à incidência de regra


jurídica de tributação. O que é imune não pode ser tributado, pois a imunidade impede que a
lei defina como hipótese de incidência tributária aquilo que é imune. O Brasil é um país laico,
não possuindo religião oficial. A imunidade prevista no artigo 150, VI, “b”, da CF e repetida
no artigo 9º, IV, “b”, do CTN abrange qualquer uma delas, não importando qual. Assim, tendo
em vista a própria essência da maçonaria, classificada como sociedade secreta, que visa ao
aperfeiçoamento da humanidade, pode ser considerada como de cunho religioso e, portanto,
enquadra-se na imunidade disposta no artigo 150, VI, “b”, da CF. Também, faz jus a
maçonaria à imunidade prevista na alínea c do citado dispositivo constitucional, pois seu
objetivo e finalidade constitui-se na benemerência, ou seja, na realização de um objetivo de
natureza ideal, estranho ao interesse pessoal dos associados, enquadrando-se, assim, no
conceito de entidade assistencial”
(TJMS - Apelação Cível nº AC 26025 MS 2007.026025-0, Relator: Des. Oswaldo Rodrigues
de Melo, Julgado em 03/03/2008)”.
Sobre esta decisão, responda:

a) quais o método e o tipo de interpretação empregado pelo intérprete;

b) se o intérprete segue a máxima “in claris cessat interpretatio”;

c) se o intérprete dedica-se a examinar exclusivamente a lei.

As respostas devem ser sempre JUSTIFICADAS.

Conceito de Hermenêutica
Fornecer ao aluno o entendimento da etimologia da palavra Hermenêutica , quais são as
razões do uso dessa teoria no Direito e entender o seu conceito
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Conceito de Hermenêutica:
A palavra Hermenêutica é derivada do grego “hermeneuein” e acabou adquirindo
diferentes sentidos ao longo da história. Ela é normalmente entendida como a teoria
da interpretação e, nesse sentido, é muitas vezes usada como sinônimo de exegese.
Se a exegese se concentra na interpretação de textos, a Hermenêutica vai adquirir
uma abrangência maior, incluindo a análise não apenas dos textos, mas também e de
manifestações não verbais, como uma pintura, uma escultura. É bastante difundida
a ideias de que a palavra tenha como referência Hermes, um dos deuses olímpicos,
filho de Zeus e de Maia – quando os romanos dominaram a Grécia, Hermes foi
assimilado ao deus Mercúrio.
Para os gregos, Hermes era o deus dos rebanhos, da magia, das estradas e das
viagens, dos ladrões, dos comerciantes, dos diplomatas, da eloquência, o guia das
almas dos mortos para o Hades e também o mensageiro dos deuses. Muito do que a
Hermenêutica representa está presente na mitologia grega, por exemplo, ao
considerar Hermes o inventor da linguagem e da fala. Quando se fala, não se diz
apenas a verdade, mas também a mentira. Ao falar, o comerciante pode convencer o
cliente a comprar o seu produto por ser um bom produto, mas também pode trapacear
o consumidor. No diálogo “Crátilo”, o mais antigo tratado sobre a linguagem da
cultura ocidental, Platão diz que as palavras têm o poder de revelar ou de esconder
a realidade, levando ou à verdade ou à falsidade.
E, muitas vezes, as mensagens assumem formas ambíguas, o que era retratado pelo
deus Hermes. Nesse diálogo, é discutido o significado do nome do deus Hermes, a
saber, “aquele que preside os discursos”. A própria dimensão da fala apresenta um
caráter múltiplo: ao falarem, as pessoas não se referem apenas às coisas do mundo,
mas também podem se referir à própria fala ou à fala de terceiros, para explicá-la,
para deturpá-la, para interpretá-la. Por meio da representação de Hermes como o
mensageiro dos deuses, do responsável pela transmissão de uma mensagem dos
deuses aos mortais (isto é, aos homens), temos a ideia de uma atividade de
interpretação.
Os deuses dizem algo aos mortais; mas nós, mortais, somente temos acesso àquilo
que é dito (transmitido) por Hermes. Em outras palavras, Hermes diz o que os deuses
disseram. Há uma sucessão de falas e o sentido é sempre transportado de uma para
outra até o destinatário que, por sua vez, realiza uma operação de entender o sentido
do que lhe é dito.A Hermenêutica lida, portanto, com uma tensão entre uma fala (ou
um texto) e o sentido dessa fala (ou desse texto). Diante de uma fala ou de um texto
existe uma atividade de compreensão do seu sentido e, também, pode existir uma
reflexão a respeito do que é exatamente essa atividade de interpretação. Em outras
palavras, a Hermenêutica se refere tanto a uma atividade (a de interpretar uma fala,
um texto) como a uma teoria a respeito dessa atividade de interpretação.
Vejamos a definição de Hermenêutica que consta nos seguintes dicionários da
Língua Portuguesa:
a) Dicionário Aurélio:
1. interpretação do sentido das palavras;
2. Interpretação dos textos sagrados;
3.Arte de interpretar as leis.
b) Dicionário Houaiss:
1. ciência, técnica que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou
filosóficos, especialmente das Sagradas Escrituras;
2. interpretação dos textos, do sentido das palavras; teoria,
3. ciência voltada à interpretação dos signos e de seu valor simbólico;
4. conjunto de regras e princípios usados na interpretação do texto legal.
Enquanto teoria, ou disciplina teórica, a Hermenêutica procura discutir problemas
como:- o que é interpretar?
Existem regras capazes de orientar a atividade de interpretação?
Existe uma interpretação verdadeira ou jamais se pode atingir a verdade a respeito
do sentido de um texto?
Por que a interpretação é uma atividade tão fundamental para nós (interpretamos até
mesmo os nossos atos, a nossa própria vida; e muitas pessoas que não encontram um
sentido para as suas vidas adoecem física e psiquicamente)?
Na Faculdade de Direito, ao estudarmos a Hermenêutica, privilegiamos a sua
dimensão teórica, estudando o que alguns dos filósofos pensaram a respeito da
atividade de interpretação, privilegiando a interpretação dos textos legais.
Por que a Hermenêutica é tão importante a ponto de ser uma das disciplinas
oferecidas pelas Faculdades de Direito hoje? A partir do século XIX, o direito passou
a se identificar com a lei. E a lei nada mais é do que um texto, cujo sentido é ensinado
nas faculdades, é debatido pela doutrina, é disputado pelas partes numa ação judicial.
Portanto, é preciso que os alunos aprendam as regras e técnicas da atividade de
interpretar os textos legais e reflitam sobre essa atividade.O senso comum jurídico
separa a teoria da prática, sempre para desmerecer a teoria. Diz-se, por exemplo, que
“na prática, a teoria é outra” ou que “isso é muito teórico, não serve para nada”.
Para o senso comum jurídico, bastaria aos alunos o conhecimento das regras e das
técnicas da atividade de interpretar os textos legais (a “prática”), sendo
desnecessária a reflexão sobre essa atividade (a “teoria”). Afinal, o aluno está sendo
preparado para ser um operador do direito, um advogado, um juiz, alguém que tem
que saber trabalhar com o direito e não para ser um “teórico”, um “filósofo” – aliás,
para o operador, muita “teoria” é prejudicial, pois geram questionamentos, dúvidas
que certamente impedirão a eficiência do operador do direito. Cuidado com essa
desconfiança a respeito da teoria e da reflexão. Ainda que ele mesmo não reconheça,
o senso comum jurídico adota um posicionamento teórico! Ao defender a separação
da teoria e da prática, o senso comum jurídico afirma que aplicar o direito é uma
atividade como fazer uma cadeira: basta aprender a usar os instrumentos para
trabalhar a madeira e seguir um manual de instruções a fim de montar corretamente
as peças.
Uma atividade mecânica que dispensa a reflexão a respeito de onde vem a madeira,
da finalidade da cadeira ou das condições em que se produzem objetos como as
cadeiras. Essas reflexões podem até ser importantes, mas em nada alteram a
qualidade da cadeira produzida. Ora, a disciplina Hermenêutica nos mostra como,
no caso direito, a separação entre teoria e prática é insustentável. O que o senso
comum jurídico chama de “prática” é formado também pela “teoria”, isto é, a
maneira como nós compreendemos o direito, o seu sentido, influencia a nossa prática
jurídica. E, por outro lado, a teoria jurídica é construída a partir da prática, sendo
que uma das suas finalidades é facilitar essa prática, ampliar o seu campo de ação,
liberá-la de obstáculos desnecessários.

Hermenêutica Teológica, Filosófica e


Jurídica
Construir uma visão da Hermenêutica Jurídica de tal maneira que, quando se se deparar com os
texto legais, saber localizar e interpretar o problema e os sentidos conceitual e pragmático.
NESTE TÓPICO

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Hermenêutica Teológica, Filosófica e Jurídica:


Hermenêutica Teológica.
De maneira diferente das religiões grega e romana, as religiões monoteístas
(Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) caracterizam-se pela existência de um texto
entendido pelos seus seguidores como sagrado. São religiões do livro: da Torá, da
Bíblia e do Alcorão. Se existe um texto sagrado, cujo sentido que deve ser não
apenas compreendido, mas também vivido pelo crente, surge a questão de saber qual
a melhor maneira de se aproximar desse texto, de compreender-lhe o sentido para
que seja aplicado na própria realidade vivida pelo crente. Como exemplo, leia o texto
abaixo, que relata a parábola do “bom samaritano”:
Em resposta, disse Jesus:
"Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes.
Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto.
Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem,
passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu,
passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se
encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-
lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois o colocou sobre o seu próprio
animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois
denários ao hospedeiro e lhe disse: 'Cuide dele. Quando eu voltar, pagarei todas as
despesas que você tiver'. “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem
que caiu nas mãos dos assaltantes”?" "Aquele que teve misericórdia dele", respondeu
o perito na lei. Jesus lhe disse: "Vá e faça o mesmo".
Lc (10:30-37) - http://www.bibliaon.com/versiculo/lucas_10_30-37/.
Na Igreja Antiga, foi adotado um método alegórico de leitura: para os seus adeptos,
havia um sentido oculto no texto das Escrituras. Veja como Agostinho (354 – 430):
Um filósofo e um Padre da Igreja, um santo para os católicos, nascido no norte da
África e bispo de Hipona, interpretou essa parábola: o homem vitimado pelos
salteadores (que são o diabo) é Adão; Jerusalém é o céu; Jericó é a representação da
condição mortal do homem; o sacerdote é a lei, enquanto que o levita representa os
profetas; a figura do bom samaritano é Cristo; o azeite é a esperança e o vinho é o
espírito fervoroso; a hospedaria representa a igreja; o hospedeiro é o apóstolo
Paulo.No decorrer da Idade Média, o método alegórico se desenvolveu por meio da
busca de quatro sentidos no texto bíblico:
1) O sentido literal: procura pelo sentido expresso pelos termos linguísticos em seu
uso comum na linguagem quotidiana;
2) O sentido alegórico: procura pelo sentido num outro nível de referência,
desvendando nas narrativas bíblicas um sentido oculto, além do seu sentido
meramente literal;
3) O sentido moral: procura pelas lições morais que podem ser aprendidas a partir
dos escritos bíblicos;
4) O sentido escatológico: é a interpretação mística, explicando os eventos narrados
na Bíblia para descobrir o que o futuro reserva aos homens.
Na mesma parábola, os quatro sentidos são os seguintes:
1) O sentido literal: ame e ajude o próximo quando ele se encontrar necessitado;
2) O sentido alegórico: o homem que ia a Jericó é alguém desprovido de um sério
compromisso com Deus e se deparou com os demônios (os salteadores) que o
deixaram quase morto (do ponto de vista espiritual).
O sacerdote e o levita representam os cristãos que não são dotados de compaixão
concreta pelo próximo, ao contrário do samaritano. Para curar as feridas, é preciso
do óleo (unção do Espírito Santo) e do vinho (remissão do pecado pelo sangue do
Cordeiro de Deus). O homem é deixado na hospedaria, ou seja, na Igreja, com o
hospedeiro, o pastor da Igreja. Os dois denários representam o Antigo e o Novo
Testamento, indispensáveis para a Salvação das almas;
3) O sentido moral: além do amor ao próximo, a advertência ao sacerdote e ao
levita, que nada fizeram para socorrer o homem espancado, de que os títulos e o
mero conhecimento da lei nada valem se não se puser em prática aquilo que se
conhece;
4) O sentido escatológico: A volta do samaritano nada mais é do que a segunda
vinda de Cristo. O pastor da Igreja (o hospedeiro) tem a função de preparar os
homens para essa segunda vinda do Messias. Preparar significa cuidar e ensinar a
palavra de Deus.
Com a Reforma ou o Protestantismo, a questão da compreensão dos textos bíblicos
ganha importância na medida em que Martinho Lutero (1483-1546) se pergunta:
como ler a Bíblia?
Quem está autorizado a ler a Bíblia?
É preciso lembrar que a Bíblia ainda não havia sido traduzida para as línguas
vernaculares (português, inglês, francês etc.) e a missa era celebrada em latim – o
que garantia ao clero o monopólio da interpretação da Bíblia, já que a quase
totalidade da população não dominava o latim.
Para se contrapuserem ao Catolicismo, os Protestantes tiveram de rejeitar
a interpretação alegórica da Bíblia e passaram a interpretá-la no seu sentido literal,
buscando regatar o seu sentido, que teria sofrido uma distorção caus ada justamente
pela leitura praticada pela Igreja Católica.Lutero e seus discípulos entendiam que o
texto a ser interpretado já reunia todas as possibilidades de entendimento, e que a
concretização desse entendimento somente se daria na alma do próprio leitor, do
crente em Deus.
Para que isso fosse possível, o crente deve partir da própria palavra presente na
Bíblia, sem recorrer a outros textos, sem recorrer aos ensinamentos da própria Igreja,
dos santos ou dos Padres da Igreja. Esse movimento de volta à palavra da Bíblia, de
retorno à própria Escritura foi a grande contribuição de Lutero para a
Hermenêutica.Em 1534 é publicada pela primeira vez a tradução da Bíblia para o
alemão, realizada por Lutero. Era necessário levar o texto para os fiéis.
Os colaboradores e discípulos de Lutero vão insistir na equiparação da interpretação
com a compreensão das palavras e das expressões do texto. Interpretar passa a ser
superar as dificuldades linguísticas e gramaticais do texto, tarefa que exige um
dicionário e uma gramática.
Philipp Melanchton (1497-1560) foi muito importante para a consolidação dessa
nova maneira de lidar com as Escrituras Sagradas.Nos séculos XIX e XX, surgem
outras importantes correntes da Interpretação Teológica,especialmente a partir da
ciência da História.
Como essa ciência poderia ajudar a compreender o sentido de um texto?
Na parábola do bom samaritano, trata-se de investigar (aliás, a palavra “história”
vem de um termo grego que significa “pesquisa”, “conhecimento adquirido por
investigação”) o local, a região em que ela se passa, o momento histórico a que o
texto alude, a dimensão histórica das personagens, o seu contexto cultural etc.
Assim, começamos por analisar as pessoas que aparecem na parábola: o homem, um
sacerdote, um levita e o samaritano. Nada se sabe a respeito do homem; o sacerdote
e o levita são ligados ao serviço do Templo.
A tribo de Levi foi a escolhida para exercer o sacerdócio, mas apenas os
descendentes de Arão poderiam fazê-lo. Os outros levitas apenas poderiam ajudar
os sacerdotes nas suas funções junto ao Templo. O samaritano aparece como
representante de uma etnia distinta da dos judeus: havia hostilidade entre os judeus
e os samaritanos.
A cidade de Jerusalém era um grande centro religioso e comercial. Além das visitas
ao Templo, as pessoas visitavam a cidade para comprar e vender muitas mercadorias,
além da própria confusão entre comércio e religião, já que muitas oferendas devidas
a Deus eram vendidas na parte mais exterior do próprio Templo. Sabendo que as
pessoas que iam a Jerusalém ou a deixavam carregavam dinheiro e mercadoria, os
ladrões preparavam emboscadas ao longo dos caminhos, especialmente se
atravessasse um deserto, como era o caso do caminho a Jericó. Os judeus (levitas)
não socorrem o homem porque não o conhecem e não sabem se é próximo a eles –
isto é, se o homem é ou não é judeu.
O homem poderia ser um estrangeiro, um samaritano o que não o faria merecedor
de ajuda. O samaritano não teve essa preocupação com a nacionalidade do homem
agredido: ele não o enxergou como judeu ou como samaritano, mas simplesmente
como um homem, como seu próximo.
A parábola é narrada por Cristo a um judeu, doutor da Lei. Para os judeus, aqueles
que não fossem judeus não seriam próximos, já que não pertencentes ao mesmo, mas
a outro grupo. Jesus, um judeu, está ensinando o sentido de “próximo”, como sendo
aquela pessoa necessitada da nossa ajuda, independente de ser rico ou pobre, judeu
ou estrangeiro (aos olhos dos judeus), como o homem da parábola.
No século XX, apareceram outras formas de interpretação do texto bíblico, muitas
delas influenciadas pelas principais correntes filosóficas, como a Filosofia
Hermenêutica, no caso de Rudolf Bultmann (1884-1976). Hermenêutica Filosófica:
ao longo da história, a Hermenêutica foi entendida de três maneiras:
1. como a arte de interpretar os textos. Foi dessa maneira que a Hermenêutica foi
compreendida, desde a Antiguidade até o século XIX.
 A Hermenêutica exercia uma função auxiliar para disciplinas que
lidavam com textos canônicos ou sagrados: a Teologia (as escrituras
sagradas, a Bíblia), a Filologia (obras de escritores antigos,
normalmente em outras línguas) e o Direito (textos legais).

 A sua contribuição foi a de desenvolver regras para ajudar essas


disciplinas a descobrir o sentido desses textos, especialmente quando
os textos apresentavam obscuridade ou então passagens que eram
escandalosas - por exemplo, como entender que Deus tenha matado
todos os primogênitos dentre as crianças egípcias e, em seguida,
também dentre todos os animais?

 (Ex., 12:29). A Hermenêutica era entendida como um conjunto de


técnicas que permite ao leitor de um texto ter acesso ao seu sentido. A
finalidade dessa técnica era o de eliminar as obscuridades e
ambiguidades do texto interpretado para obter um acesso seguro,
preciso ao que é dito pelo texto. Nesse aspecto, a Hermenêutica era
vista como uma disciplina instrumental.

O teólogo e filósofo alemão Friedrich Schleiermacher deu uma dimensão mais ampla
à Hermenêutica, procurando dar-lhe uma dimensão universal desconhecida até
então, uma arte geral do próprio processo de entender. Para ele, entender algo é
reconstruir esse algo a partir da maneira como foi criado. Entender um texto é
reconstruí-lo como se, ao lermos um texto, fôssemos o seu autor.
É por essa razão que uma interpretação literal ou gramatical não mais é suficiente,
pois é incapaz de alcançar o momento subjetivo que criou o texto. Outra importante
contribuição de Schleiermacher foi a idéia de círculo hermenêutico: quando se
compreende algo, é necessário compreender o todo a partir de suas partes e as partes
a partir do todo. Não se pode conhecer o sentido de uma palavra sem que se conheça
o sentido das palavras que estão à sua volta; não se pode conhecer o sentido de
Memórias Póstumas de Brás Cubas sem o conhecimento das outras obras de
Machado de Assis; assim como não se pode conhecer a obra de Machado de Assis
sem se conhecer a cultura que deu origem à sua obra (um autor descendente de
negros e portugueses numa sociedade escravista periférica do capitalismo da
segunda metade do século XIX) etc. Exemplos de pensadores que entenderam a
Hermenêutica como a arte de interpretar os textos: Quitiliano, 30 – 100; Agostinho,
354 – 430; Philipp Melanchton, 1497 – 1560; e Friedrich Schleiermacher, 1768 –
1834
2. como fundamento metodológico das Ciências Humanas. Por meio da
Hermenêutica, alguns filósofos procuraram defender para essas ciências – como a
história, a sociologia, a antropologia, a ciência do direito etc. – uma metodologia
própria, distinta da metodologia das Ciências Naturais – como a Física, a Química,
a Biologia etc. As Ciências Naturais obtiveram grande desenvolvimento nos séculos
XVIII e XIX, e se acreditava que a razão de tamanho sucesso fosse o método
científico empregado por elas, que se compunha de etapas: observação do fenômeno,
criação de hipótese para explicá-lo e confirmação por meio de previsões.Um físico,
um astrônomo, por exemplo, observa o movimento de Mercúrio e cria uma hipótese
para explicá-lo – para Newton, por exemplo, o Sol, por meio da força da gravidade,
atrai Mercúrio e o faz orbitar, girar ao redor do próprio Sol.
O astrônomo faz uma previsão:
Daqui a um mês, Mercúrio estará na posição p, o que, se confirmado, atesta que a
explicação é correta. A Terra e os demais planetas também orbitam o Sol, o que
explica o fato de vermos parte da trajetória de Mercúrio como retrógrada: a órbita
da Terra é exterior à de Mercúrio e ela se movimenta mais vagarosamente, fazendo
com que vejamos, na abóbada celeste, o planeta Mercúrio “andar para trá s”.
Tudo isso é explicado com poucos conceitos (por exemplo, massa, força) e leis (de
Newton e de Kepler), a partir de uma relação de causa e efeito (a massa do Sol causa
o movimento de Mercúrio e da Terra ao seu redor). Nas ciências da natureza, existe
uma completa separação entre o sujeito e o objeto, isto é, o sujeito não interfere no
objeto que estuda.
Assim, o astrônomo descreve as órbitas de Mercúrio e da Terra ao redor do Sol e
não possui nenhuma influência sobre esses movimentos, não interfere nesses
movimentos.A Hermenêutica mostrou que as Ciências Humanas produzem de uma
espécie diferente de conhecimento, de uma maneira também
diferente.
Nessas ciências, o sujeito e o objeto não podem ser completamente separados, pois
aquele que investiga faz parte do objeto a ser analisado. Ao estudar a História do
Brasil, por exemplo, o historiador pertence à história brasileira pelo fato de ser
brasileiro, vem de um determinado estrato social, o que significa dizer que tem
determinados valores, que se educou em determinada escola brasileira por meio de
obras de outros autores brasileiros, esse historiador vive em uma determinada época
e traz uma série de características que pessoas de outras épocas não teriam, ele t raz
atrás de si um passado e se projeta num futuro a partir desse passado que é diferente
do passado de outras épocas e assim por diante.As perguntas que esse historiador se
dispuser a responder são perguntas em grande medida questionamentos da sua época,
elas são diferentes das questões estudadas por historiadores de outras
épocas.
Por exemplo, os historiadores do século XIX estavam preocupados com os
fundamentos das nações a que pertenciam e buscaram no passado as origens de um
sentimento de nacionalidade. Como o fundamento das nações deixou de ser buscado
em Deus e passou a estar na legitimidade que o povo transfere aos seus governantes,
é preciso encontrar a relação entre o povo e a nação. Buscava-se uma sequência
linear de acontecimentos que levasse à constituição da nação, uma história com um
final épico, uma história que procurava engrandecer a própria nação.
Ora, nenhum historiador, nos dias de hoje, está preocupado com essas questões.Além
disso, as Ciências Humanas não têm a mesma natureza nem utilizam o mesmo
método das Ciências Naturais: em vez de explicar os fenômenos por meio da relação
de causa e efeito, as Ciências Humanas compreendem o seu objeto de estudo, sua
tarefa é a de descobrir o seu sentido. Na investigação sobre o xamanismo, um
biólogo e químico vão procurar explicar qual substância, extraída de alguma planta,
que age no corpo do sacerdote, do pajé, do feiticeiro de uma determinada tribo
indígena.
A substância é a causa dos efeitos observados no transe do sacerdote (o tremor do
corpo, a fala alterada etc.). Para o antropólogo, contudo, não é essa a questão a ser
respondida, mas, sim, qual o sentido dessa prática social para aquela comunidade
indígena? O grande filósofo que apontou para essa vertente da Hermenêutica foi
Wilhelm Dilthey (1833 – 1911).

1. como Filosofia Hermenêutica. Nessa acepção da Hermenêutica, a


interpretação não é apenas um método que se encontra nas Ciências
Humanas, mas uma característica essencial da presença dos seres
humanos no mundo. Tem-se, agora, uma hermenêutica da existência.
Não se trata de uma filosofia sobre o Homem (com letra maiúscula),
procurando definir o que é o ser humano, saber do que ele é feito (ele
tem alma?), conhecer suas características (ele é naturalmente bom?).

2. A Filosofia Hermenêutica rompe com a maneira tradicional de se


fazer filosofia no Ocidente. Ela vai partir do ser humano entendido em
seu sentido singular e concreto, do modo de ser desse existente
humano. Isso porque o homem é o único para quem se exige uma
solução para o problema do existir, pois tem consciência do caráter
finito de sua existência (sabe que um dia irá morrer; deixar de existir),
consciência essa que o força a escolher o seu destino.Para a Filosofia
Hermenêutica, a Hermenêutica não diz respeito somente a textos, mas
à própria existência.

A Hermenêutica deixará de ser entendida como uma disciplina instrumental para se


revestir de uma dimensão ontológica. “Ontologia” é o campo da filosofia que estuda
os princípios e fundamentos últimos de toda a realidade, de todos os seres.Em outras
palavras, a Hermenêutica revela agora não apenas a estrutura da nossa compreensão,
mas principalmente a maneira como estamos no mundo e a estrutura do mundo para
nós.
Os principais filósofos que entenderam a Hermenêutica nessa vertente foram Martin
Heidegger (1889 – 1976) e Hans-Georg Gadamer (1900 – 2002).Hermenêutica
JurídicaNo direito, o principal problema da Hermenêutica é o sentido dos textos
legais.Para os países cujos sistemas jurídicos se filiam à família romano-germânica,
como é o caso do Brasil, a principal fonte do direito é a lei, ou seja, um conjunto de
palavras impressas, que é o resultado do trabalho do Legislador. Qual o sentido das
palavras da lei?No direito, esse problema é agravado pela própria natureza do
direito:
 Em primeiro lugar, para cumprir com a sua função social, o direito
deve ser expresso na linguagem natural, ou seja, em português para
nós brasileiros, porque no Brasil se fala português. Todas as
linguagens naturais são dotadas de imprecisões semânticas: uma
mesma palavra designa objetos diferentes (“sanção” significa a
previsão de um mal, “a sanção para o crime de homicídio é a pena de
reclusão”; ou aprovação, “o projeto foi para aprovação presidencial”)
e as palavras são dotadas de vagueza (a medida provisória pode ser
editada em caso de urgência e relevância; entendemos o que significa
“urgência” e “relevância”, mas será que a situação que estou
analisando agora é urgente e relevante?).
 Em segundo lugar, as normas jurídicas são genéricas e abstratas.
Elas não são criadas para disciplinar uma situação única e específica,
mas uma família de situações: a norma que proíbe o homicídio usa o
verbo “matar” e se pode matar uma pessoa de inúmeras maneiras e há
situações em que surge uma dúvida se alguém matou ou não uma
pessoa (se um paciente terminal deixa de receber um medicamento
que prolongava artificial e inutilmente sua vida, pode-se dizer que o
médico o matou?); a proibição de cobrança abusiva no Código de
Defesa do Consumidor abrange muitas situações concretas, desde a
cobrança em presença do consumido até aquela por carta, por telefone.
Ainda que fosse possível estabelecer normas cada vez mais específicas de maneira
a eliminar situações como essa, é preciso notar que o número de normas seria tão
grande que seria impossível não apenas o conhecimento dessas normas como o
próprio trabalho dos chamados operadores do direito, que seria inviabilizado pelo
nível de complexidade do Ordenamento. Além disso, por mais detalhista que seja o
legislador, ele jamais conseguirá prever todas as situações futuras que possam vir a
acontecer e que não encontrarão previsão legislativa.
 Em terceiro lugar, no direito existe o conflito de interesses. As
partes, numa ação judicial, têm interesses opostos e vão realizar a
interpretação dos textos legais de maneira a atingir os seus objetivos
na ação.Dessa maneira, quando se tem o texto legal, aí se encontra
posto o problema do seu sentido, problema enfrentado pela
Hermenêutica Jurídica.

Escola da Exegese: Positivismo


jurídico ideológico
Propor ao aluno uma visão crítica de que os positivistas ideológicos tomam a lei como a
expressão do próprio direito, inexistindo direito além da lei. Lei é sinônimo de direito e, se
outras fontes do direito são eventualmente admitidas, é justamente porque assim a lei determina.
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Exemplo:
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O Positivismo Jurídico ideológico é a doutrina que defende o dever de obedecer à


lei, qualquer que seja o seu conteúdo. Muitos autores que se filiaram à teoria do
Positivismo Jurídico não se filiaram ao Positivismo Jurídico Ideológico.

Exemplo:
Alf Ross, Herbert Lionel Adolphus Hart, Norberto Bobbio – a posição de Hans
Kelsen é ambígua, em virtude do seu conceito de validade, conceito muito criticado
pelos demais autores positivistas. Ainda assim, seria mais apropriado entender que
ele não defendeu a tese do positivismo ideológico. Deve-se, portanto, fazer uma
distinção entre:
a. Positivismo Jurídico como uma teoria que considera o direito
como fato e não como valor (o que está em jogo é o conceito de
direito):uma norma jurídica existe (vale) porque foi criada e imposta
por quem detém o monopólio da violência numa determinada
sociedade. O que caracteriza o direito não é a justiça da disposição das
suas normas, mas a coatividade, a força para fazê-las cumprir. Por
meio da teoria positivista é possível identificar quais são as normas
jurídicas dentre as mais variadas normas sociais (normas morais,
religiosas, de etiqueta).
b. Positivismo Jurídico como uma teoria da obediência (o que está
em jogo não é o conceito de direito, mas uma obrigação
moral): deve-se obedecer às normas jurídicas independentemente do
conteúdo das suas disposições (“a lei é a lei”; “a lei é dura, mas é a
lei”).Os principais autores positivistas do século XX não aderiram ao
positivismo ideológico porque estavam preocupados com os aspectos
conceituais do direito, estavam preocupados em definir o que é o
direito e, com isso, identificar as normas jurídicas. Já o problema de
obedecer ou não ao direito não é um problema jurídico, não é um
problema da ciência do direito, mas um problema de natureza moral.
Por mais que se encontre a justificativa da obediência de uma norma
jurídica em outra norma jurídica e assim por diante, chegará o
momento em que as normas jurídicas se esgotarão e a pergunta ainda
permanecerá. Justamente porque a sua resposta depende de uma
consideração de ordem moral, consideração esta que foge ao escopo
daqueles autores positivistas como Ross, Hart e Bobbio.
No século XIX, no entanto, os positivistas foram em sua grande maioria também
positivistas no sentido ideológico, O Positivismo Jurídico torna-se o paradigma
dominante da Filosofia do Direito na modernidade, já que é na modernidade que se
consuma a monopolização da produção jurídica pelo Estado: o Estado se torna o
único centro produtor de norma. E, nos países da família romano-germânica (França,
Itália, Espanha, Portugal, Brasil, Argentina etc.), o Estado monopoliza a produção
jurídica na forma da legislação.
Ocorre, então, uma identificação entre direito, lei e Estado. Se, no início, foram os
teóricos da moderna Ciência Política que associaram direito, lei e Estado, foi
principalmente com a Revolução Francesa (1789-1799) que se concretizou tal
associação. Na Idade Média, havia uma pluralidade de centros produtores do direito
(os senhores feudais, as corporações, a Igreja, o rei, as cidades livres etc.), bem como
uma pluralidade de fontes do direito (o direito germânico, o romano, o canônico, as
cartas das cidades etc.). A autoridade política não tinha a pretensão de estabelecer o
direito – não tinha nem mesmo as condições política para tanto. Ela era mais o
garantidor de uma ordem jurídica preexistente a ela mesma: ela diz o direito que é
anterior a ela e, até mesmo, o direito que a constitui enquanto autoridade. Com a
modernidade, o soberano (seja um monarca ou uma assembleia, como nas
democracias) é autoridade criadora de um sistema normativo artificialmente
produzido por meio da legislação.
Na França, em 1804, é promulgado o Código Civil francês, chamado Código de
Napoleão em virtude do empenho do Imperador francês, Napoleão Bonaparte, para
a sua elaboração. Esse código, que não é o primeiro código europeu da Era Moderna,
será responsável pela onda de codificação do direito, durante os séculos XIX e XX,
onda que alcança o Brasil, independente em 1822, que passa a elaborar o seu código.
Ao derrotar o Antigo Regime, a Revolução Francesa operou uma grande mudança
na política e no direito:

 O fundamento da legitimidade do Estado deixou de ser o plano divino


e passou a ser a vontade da nação;

 O povo elege seus representantes que elaboram as leis (a lei é a


racionalização das vontades individuais);

 A lei garante a liberdade: liberdade não significa “fazer o que quiser”;

 Liberdade significa autonomia, a capacidade de dar a si mesmo a lei


de acordo com a qual se deve agir, e as pessoas agora se podem dizer
livres porque elas indiretamente fazem as próprias leis – indiretamente
porque o fazem por meio dos seus representantes;

 A lei garante a igualdade (formal): uma mesma lei vale para todos e
todos são iguais perante a lei. No Antigo Regime, havia os privilégios
(a palavra significa “lei privada, particular”: se as pessoas não eram
consideradas como iguais, por que haveriam de obedecer a uma
mesma lei?), e eles foram extintos;

 A lei é genérica e abstrata: ao não se aplicar a uma pessoa, mas a uma


classe de pessoas (aos eleitores, aos empregadores, aos consumidores,
aos maiores de 18 anos, etc.), é a lei que garante um aspecto
importante da justiça, que é o da igualdade formal;

 Ao se aplicar a uma classe de ações (matar alguém, votar, contratar


etc.), é a lei que garante a certeza e a segurança jurídicas, permitindo
que as consequências das nossas ações sejam previstas.

Por todas essas razões, os positivistas entendiam haver uma obrigação de obedecer
ao direito: é o direito que garante a ordem, a estabilidade das relações sociais, e
desobedecer ao direito significa se colocar acima da lei (o que viola o ideal de
igualdade) e impor aos demais o arbítrio da própria vontade (o que viola a liberdade
dos demais). A teoria liberal do Estado, que está por detrás do positivismo
ideológico, foi questionada durante o próprio século XIX, especialmente com o
aparecimento da teoria de Karl Marx, que traz outra visão a respeito do Estado e do
direito. As experiências totalitárias do século XX, como o nazismo e o stalinismo,
mostram claramente como o Positivismo Jurídico ideológico é inaceitável.
A questão que hoje se coloca nos Estados Democráticos é a de saber em que
condições de dizer que alguém tem o direito de resistir, de desobedecer a uma lei
democraticamente elaborada. Para alguns, tal comportamento seria ilegal; para
outros, há um direito de resistência contra uma lei que descumpre o papel que a lei
deve ter que é o de realizar a justiça.

Escola da Exegese: Redução do direito


à lei
Possibilitar ao aluno o entendimento de que sujeito é que dá o sentido ao mundo e que somente
o Estado detém o poder de legislar. Assim sendo o Estado passa a concentrar a produção do
direito a partir da sua vontade, portanto, não há direito senão o direito positivo e dizer direito é
dizer lei.

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Escola da Exegese: Redução do direito à lei.


A modernidade provocou a associação entre o Estado, o direito e a lei.
Para se entender a modernidade, é fundamental o conceito de soberania, que foi
formulado por Jean Bodin, um jurista do século XVI e que se tornará a pedra angular
da teoria de Thomas Hobbes no século seguinte.
De maneira oposta à teoria política aristotélica, Hobbes funda a política no poder.
Para deixar o estado de natureza e inaugurar a vida política (estado civil), é
fundamental que as pessoas abdiquem do poder que detenham em favor de um
terceiro, o soberano (seja um monarca ou uma assembleia, como nas democracias).
Esse soberano é absoluto, ou seja, absolvido de se submeter a qualquer outro poder.
E a vontade do soberano passa a ser a única fonte de onde provém o direito.
Em outras palavras, o soberano é autoridade criadora de um sistema normativo
artificialmente produzido por meio da legislação. Ele não se submete a outro poder
nem admite outros centros de poder, exceto aqueles que são estabelecidos por sua
delegação.
Esse conceito de soberania era desconhecido na Idade Média, pois ela se
caracterizou por ser um período de descentralização política e disput a de poder por
diferentes grupos. Nesse cenário, havia a concorrência de diferentes poderes na vida
social e uma pluralidade de centros produtores do direito (os senhores feudais, as
corporações, a Igreja, o rei, as cidades livres etc.), bem como uma pluralidade de
fontes do direito (o direito germânico, o romano, o canônico, as cartas das cidades
etc.).
O que se chama de ordem jurídica era entendida como uma realidade preexistente às
autoridades; e essas autoridades se limitavam a garantir tal ordem, cuja legitimidade
era anterior e exterior a essa mesma autoridade.
Principalmente nos primeiros séculos da Idade Média, com as chamadas invasões
bárbaras, diferentes grupos sociais conviviam numa mesma região. Essas pessoas
mantinham a maior parte das suas relações com membros internos ao próprio grupo,
de maneira que as normas costumeiras davam conta de lhes regular a conduta.
Além disso, pelo princípio da pessoalidade das leis, cada povo tinha o seu próprio
direito e o direito aplicável a uma pessoa dependia da sua nacionalidade.
Feudalismo instala-se na Europa por volta do século X, estabelecendo-se as relações
feudo-vassalos: um contrato por meio do qual um homem se submete ao poder de
outro, o senhor, obrigando-se a ajuda-lo em troca de proteção e manutenção. Na
maior parte da Europa, com o desaparecimento da organização estatal, o costume
passa a ser praticamente a única fonte do direito laico.
Desaparece também o princípio da pessoalidade das leis, passando o direito
consuetudinário a ter uma base territorial: cada grupo social vive de acordo com as
suas tradições jurídicas.
Contra esse quadro de fragmentação, a modernidade consiste num longo processo
que leva o Estado a deter o monopólio da produção jurídica, isto é, o Estado se torna
o único centro produtor de norma.
A lei apresenta uma série de características:
- representa a vontade da nação: o povo elege seus representantes que elaboram
as leis;
- a lei garante a liberdade: liberdade como autonomia, a capacidade de dar a si
mesmo a lei de acordo com a qual se deve agir, e as pessoas agora se podem dizer
livres porque elas indiretamente fazem as próprias leis – indiretamente porque o
fazem por meio dos seus representantes;
- a lei garante a igualdade (formal): uma mesma lei vale para todos e todos são
iguais perante a lei;
- a lei é genérica e abstrata: ao não se aplicar a uma pessoa, mas a uma classe de
pessoas (aos eleitores, aos empregadores, aos consumidores, aos maiores de 18 anos
etc.), é a lei que garante um aspecto importante da justiça, que é o da igualdade
formal; ao se aplicar a uma classe de ações (matar alguém, votar, contratar etc.), é a
lei que garante a certeza e a segurança jurídicas, permitindo que se prevejam as
consequências das nossas ações.
A única fonte do direito do direito é a lei – e se outras fontes, como o costume, forem
reconhecidas é somente pelo fato de a lei assim haver disposto.E a lei é a lei positiva,
isto é, a lei criada pelo Estado (soberano). É somente lei positiva porque não cabe
mais falar em lei natural.
Com a Filosofia Moderna deixa de ter sentido pensar a natureza como dotada de um
sentido intrínseco. Para os antigos, o mundo era um cosmos, isto é, dotado de uma
estrutura racional que poderia ser conhecida. E o homem faz parte dessa estrutura,
nela encontra o seu lugar. Cada um, cada coisa tem o seu lugar. Daí que o cosmos
fornece um critério para a justiça: dar a cada um o que é seu, o que somente faz
sentido se cada um tiver um lugar natural. E daí que a finalidade da vida seja
encontrar o lugar no cosmos.
Ao desaparecer a ideia de cosmos e de finalidade na natureza, na modernidade o
mundo não mais oferece nenhuma diretiva para a conduta humana, a natureza não
serve mais de modelo. Aliás, o mundo se torna desprovido de hierarquia, de
harmonia: ele se torna caótico e infinito.
Se o mundo deixa de ser um cosmos, se ele deixa de ser doador de sentido, o sentido
só pode vir do próprio homem. O sujeito dá o sentido ao mundo, não mais
reconhecendo a ordem existe no mundo, mas construindo esse sentido. O sentido é
sempre dado com relação a esse sujeito.
O direito somente pode encontrar sua fundamentação no sujeito, que agora constrói
o direito a partir da sua vontade. É a ideia do Leviatã de Hobbes, um grande artifício
construído pelos homens para dar ordem à sua vida. Não há direito senão o direito
positivo e dizer direito é dizer lei.

Escola da Exegese: In claris non


interpretatio
Desenvolver no alunado o espírito crítico e criativo do intérprete de textos legais,
desenvolver a capacidade de análise dos estudos de casos concretos em que apareçam
dúvidas a respeito do sentido do texto legal, em que a sua aplicação dá margem para
uma discussão no momento do exercício profissional.
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Escola da Exegese: “In claris non interpretatio”


Esse brocardo também é conhecido como “in claris non fit interpretativo” e “in
claris cessat interpretatio”, com o significado de que, sendo a redação da lei clara,
não se faz necessária a interpretação.
Somente cabe interpretação se houver obscuridade, ambiguidade na lei.
Num primeiro momento, o brocardo parece ser sensato. Se a lei é clara, é
perfeitamente inteligível, para que interpretar?
Se alguém, diante de um texto claro e cristalino, interpreta esse texto, não seria com
o intuito de desvirtuar o sentido das palavras da lei?
Por exemplo: a Constituição Federal prevê a imunidade para os livros:
Art. 150 — Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado
à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI — instituir impostos sobre:[...]

 d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua


impressão.

Livro goza, portanto, de imunidade tributária – o que é imune não pode ser tributado.
A imunidade impede que alguma lei venha a instituir tributo sobre os livros.O texto
constitucional é perfeitamente claro. De acordo com o brocardo “in claris cessat
interpretatio”, ele não necessitaria ser interpretado.
O problema é que surgiu uma dúvida a respeito do álbum de figurinha da novela
“Que rei sou eu”, da Rede Globo.
Esse álbum seria ou não seria um livro?
O passo seguinte é se perguntar: o que é um livro?
Qual o sentido da palavra “livro”, palavra que ocorre no texto constitucional?
Entende-se, normalmente, por “livro”, uma “reunião de folhas, encadernadas por
uma lombada, e protegidas por uma capa”. Quando se toma um álbum de figurinha,
será que se está diante de um livro?
Outro problema. Quando compro um “CD-Rom” que contém, por exemplo, parte da
legislação brasileira, como aqueles que acompanham o “Vade mecum”? Parece não
haver dúvida de que não estou diante de um livro, já que não há folha de papel,
lombada, pois se trata de um disco de metal. Por outro lado, o conteúdo que existe
no “CD-Rom” também se encontra em livros. É que o conteúdo daquilo que se
entende por “livro” já foi encontrado em diversos suportes matérias: em pedra, couro
de animais, papiro, papel – e, hoje, esse conteúdo é apresentado eletronicamente
(CD-Rom, “e-book”, podendo ser lido em diferentes suportes).
Então o problema persiste: o sentido de livro é dado pelo seu suporte material
(objeto feito de papel, encadernado etc.)? Ou pelo seu conteúdo (que pode ser
registrado em diferentes suportes materiais)?
Todas essas questões mostram que se está a interpretar aquele dispositivo
constitucional que, à primeira vista, parecia dispensar a interpretação.
A conclusão a que se chega é que o brocardo “in claris cessat interpretatio”não
pode mais ser aceito;

 Em primeiro lugar, o texto legal somente é claro porque


ele já foi interpretado e dessa interpretação não restou
nenhuma dúvida quanto ao seu sentido.

 Em segundo lugar, a clareza é sempre relativa: o que


pode ser claro para um, pode não ser para outro.

 Em terceiro lugar, sempre é possível encontrar casos


concretos em que surgem dúvidas a respeito do sentido
do texto legal, em que a sua aplicação dá margem para
uma discussão, pois pelo menos dois sentidos são
possíveis para aquele mesmo texto.

Escola da Exegese: Aplicação


mecânica do direito
A compreensão do aluno deve ser focada no saber de que: o juiz, ao realizar a
subsunção, segue um raciocínio lógico de inserir o caso concreto na norma. A
subsunção é o ato de inserir o caso no concreto na norma para a aplicação mecânica do
direito.
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Escola da Exegese: Aplicação mecânica do direito.


De acordo com Bobbio, o Positivismo Jurídico concebe a atividade dos juízes como
uma declaração de um sentido já plenamente contido na norma legal. Como diz
Bobbio, trata-se da “teoria da interpretação mecanicista, que na atividade do jurista
faz prevalecer o elemento declarativo sobre o produtivo ou criativo do direito.
A primeira distinção a ser feita é entre o texto legal (ou dispositivo legal) e a
norma.O texto legal é o resultado do trabalho do Legislador. A norma é o sentido
desse texto: o texto elaborado pelo Legislador é interpretado como um enunciado
prescritivo (de dever-ser) e condicional (da forma “se ..., então ...”).Dada essa
distinção, é possível:a) haver um texto legal que não expresse nenhuma norma.
Exemplo:

a. É permitido o uso de dispositivos eletrônicos durante a


realização das provas. O aluno que for flagrado usando
dispositivo eletrônico durante a prova terá a prova
confiscada e a ela será atribuída nota zero”. Não expressa
norma porque o texto não tem sentido por ser
contraditório: permite e proíbe ao mesmo tempo a mesa
conduta!

b. haver vários textos legais que expressem a mesma


norma. Texto de lei: “todo cidadão, ao completar 18
anos, é obrigado a votar”; texto da Constituição: “o voto
é obrigatórios aos maiores de 18 anos”. São textos
diferentes, mas com o mesmo sentido, expressando a
mesma norma.

c. haver um texto legal que expresse mais do que uma


norma. Texto de lei: “é proibido instituir imposto sobre
livros”. Norma que permite imposto sobre um “e-book”:
“é proibido instituir imposto sobre livros (livro é um
objeto de papel, encadernado por uma lombada, com
capa)”. Norma que proíbe imposto sobre um “e-book”:
“é proibido instituir imposto sobre livros (livro se
caracteriza pelo seu conteúdo, podendo esse conteúdo
estar impresso em papel ou disposto eletronicamente)
”Quando se tratar de uma norma de conduta, a norma tem
a seguinte estrutura (REALE, Miguel. Lições
preliminares de direito, 27ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002
p. 102):

Se "F", então "C" deve ser. Se não "C", então "SP" deve ser "F" – hipótese fática
"C" – consequência jurídica "SP" – Sanção punitiva.
Vejamos um caso:
O dever de se votar no Brasil.Dispositivos normativos:

a. Constituição Federal de 1988: art. 14; art. 7º, IV;


b. Código Eleitoral, Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965,
art. 7º;

c. Lei nº 6.091, de 15 de agosto de 1974;

d. Resoluções do TSE:Resolução 21.538/2003; Res.-TSE


nº 21.920/2004.

Constituição Federal: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
de outros que visem à melhoria de sua condição social:
[...]

IV. salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado,


capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às
de sua família com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes periódicos que lhe preservem o
poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para
qualquer fim;

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I. plebiscito;

II. referendo;

III. iniciativa popular.

§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

I. obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

II. facultativos para:

a. os analfabetos;

b. os maiores de setenta anos;

c. os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

[...]
§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do
serviço militar obrigatório, os conscritos.
[...]
Código Eleitoral, Lei nº 4.737, de 15 [e julho de 1965.
Art. 7º O eleitor que deixar de votar e não se justificar perante o Juiz Eleitoral até
trinta dias após a realização da eleição incorrerá na multa de três a dez por cento
sobre o salário mínimo da região, imposta pelo Juiz Eleitoral e cobrada na forma
prevista no art. 367. Art. 367. A imposição e a cobrança de qualquer multa, salvo no
caso das condenações criminais, obedecerão às seguintes normas:
I - No arbitramento será levada em conta a condição econômica do eleitor;
[...]
§ 2º A multa pode ser aumentada até dez vezes, se o juiz, ou Tribunal considerar
que, em virtude da situação econômica do infrator, é ineficaz, embora aplicada no
máximo.(Incluído pela Lei nº 4.961, de 4.5.1966);
§ 3º O alistando, ou o eleitor, que comprovar devidamente o seu estado de pobr eza,
ficará isento do pagamento de multa.(Incluído pela Lei nº 4.961, de 4.5.1966). Lei
nº 6.091, de 15 de agosto de 1974.
[...]
Art. 7º O eleitor que deixar de votar e não se justificar perante o Juiz Eleitoral até
sessenta dias após a realização da eleição incorrerá na multa de três a dez por cento
sobre o salário mínimo da região, imposta pelo Juiz Eleitoral e cobrada na forma
prevista noart. 367, da Lei 4.737, de 15 de julho de 1965.
[...]
Art. 16. O eleitor que deixar de votar por se encontrar ausente de seu domicílio
eleitoral deverá justificar a falta, no prazo de 60 (sessenta) dias, por meio de
requerimento dirigido ao Juiz Eleitoral de sua zona de inscrição, que mandará anotar
o fato, na respectiva folha individual de votação.Resolução TSE 21.538/20 03Art.
80.O eleitor que deixar de votar e não se justificar perante o juiz eleitoral até 60 dias
após a realização da eleição incorrerá em multa imposta pelo juiz eleitoral e cobrada
na forma prevista nos arts. 7º e 367 do Código Eleitoral, no que couber, e 85 desta
resolução.
[...]
Art. 85 A base de cálculo para aplicação das multas previstas pelo Código Eleitoral
e leis conexas, bem como das de que trata esta resolução, será o último valor fixado
para a UFIR, multiplicado pelo fator 33,02, até que seja aprovado novo índice, em
conformidade com as regras de atualização dos débitos para com a União.Resolução
TSE nº 21.920/2004.
Art. 1º O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para todas as pessoas
portadoras de deficiência.Parágrafo único.Não estará sujeita à sanção a pessoa
portadora de deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o
cumprimento das obrigações eleitorais, relativas ao alistamento e ao exercício do
voto.Dados esses vários dispositivos, chegamos à seguinte norma:

a. é brasileiro;

b. tem de 18 a 70 anos.

Se alguém ...

c. é alfabetizado;

d. não é conscrito;

e. não seja portador de deficiência que demasiadamente


oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais,
relativas ao alistamento, então:

i. deve votar ou

ii. justificar até 60 dias após as eleições. Se "F" não


votar; ou, "G" não tendo votado, deixar de justificar,
justificar fora do prazo ou ter o indeferido o
requerimento de justificação, então deve ser:

iii. condenado ao pagamento de multa no valor de R$


3,51 a R$ 35,14, exceto se comprovar devidamente
o seu estado de pobreza.

Todo enunciado condicional apresenta duas partes. No caso de uma norma, temos:

a. o antecedente normativo (trazem as condições de fato,


indicadas pelas letras de “A” até “G”);

b. o consequente normativo (traz as consequências


jurídicas, no caso, i, ii e iii).

As Condições de Fato enunciam determinados fatos da realidade que, uma vez


verificados no caso concreto, fazem com que se deva aplicar a consequência jurídica.
A Consequência Jurídica é uma previsão de determinada providênci a jurídica que
um aplicador deve tomar com relação a um caso concreto, sempre que se verificarem
aquelas condições de fato.Para a teoria da aplicação mecânica do direito, sempre
que uma norma disciplinar um caso concreto, a decisão é vinculada, isto é, o
aplicador do direito dispõe de critérios determinados e fechados para chegar à
decisão. Em outras palavras, os critérios são objetivos e permitem uma única
resposta correta.
Neste caso, a norma aplica-se por subsunção, ou seja, se o caso concreto se encaixar
no antecedente normativo, então deve ser aplicado o disposto no consequente
normativo; se ele não se encaixar, não deve ser o consequente.Fala-se em silogismo
judicial:

a. a Premissa Maior é a Lei, isto é, a norma;

b. a Premissa Menor é o caso concreto;

c. a Conclusão é a decisão judicial.

Basta ao aplicador da lei (um juiz, por exemplo) conhecer a Lei (isto é, ser capaz de
passar do texto legal para a norma, extraindo do texto todas as condições de fato e
consequências jurídicas ali presentes) e conhecer o caso concreto (como as partes
devem provar o que alegam, é trazido ao conhecimento do juiz todas as
circunstâncias relevantes do caso concreto, para que ele possa verificar se aquelas
condições de fato foram satisfeitas pelo caso concreto), para chegar à decisão : ou se
aplica a consequência jurídica (todas as condições de fato foram satisfeitas pelo caso
concreto) ou não se aplica a consequência jurídica (pelo menor uma condição de fato
não foi satisfeita pelo caso concreto).
A aplicação do direito é realizada como um cálculo lógico.Dados dois casos
concretos semelhantes quanto às características determinadas nas condições de fato
da norma, eles devem receber a mesma decisão de dois juízes distintos. Se isso não
acontecer, é possível identificar o erro judicial cometido, bastando refazer todo o
silogismo judicial e verificando se a subsunção foi corretamente aplicada.
Vejamos três casos concretos:

1. João é brasileiro, tem 40 anos, é alfabetizado, não é


portador de deficiência, não é conscrito, não votou nem
justificou sua ausência. Este caso preenche todas as
condições de fato; deve-se aplicar a consequência
normativa, ou seja, deve ser condenado ao pagamento de
multa.

2. Mariana é brasileira, tem 28 anos, é alfabetizada, não é


portadora de deficiência, não votou e justificou sua
ausência dentro do prazo. Como uma das condições de
fato não foi satisfeita (afinal, ela não deixou de justificar
a sua ausência), não deve sofrer a sanção.

3. Antônio, é brasileiro, tem 17 anos, é alfabetizado, não é


portador de deficiência, não é conscrito, não votou nem
justificou sua ausência. Como uma das condições de fato
não foi satisfeita (ele tem menos que 18 anos), não tinha
o dever de votar, não deve sofrer a sanção.

Outras Escolas de Interpretação


Compreender que as Escolas em estudo discorriam que: o direito provém do espírito do povo e
para conhecê-lo era preciso observar como as pessoas do povo se comportavam observar os seus
costumes, que: a defesa do formalismo jurídico entendia que não existem lacunas no direito,
que: procuravam se libertar da ciência da rigidez imposta pelo formalismo jurídico.

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Outras Escolas de Interpretação


1. Escola Histórica do Direito
O grande nome dessa escola é o de Friedrich Carl von Savigny (1779 -1861). A
Escola Histórica foi uma escola alemã que floresceu e se desenvolveu durante o
Romantismo – aliás, é preciso também lembrar que o próprio Romantismo foi um
movimento alemão por excelência. A Escola Histórica e o Romantismo
representaram uma reação ao Iluminismo e ao racionalismo, na medida em que se
recusa a explicação racional para a formação e desenvolvimento da sociedade, assim
como se recusa o otimismo com relação ao Homem e à sua capacidade de organizar
racionalmente a sociedade.
Daí surgirá a oposição de Savigny à ideia de codificação do direito alemão, como
ocorrera na França com o Código Civil francês, o Código de Napoleão. Aliás, é
preciso lembrar que o Código de Napoleão foi aplicado na Alemanha (lembrando
que a Alemanha somente se unificará em 1871), ou melhor, na parte da Alemanha
ocupada pelos franceses, durante 1806 e 1813.
Em 1806, Napoleão vence as tropas austríacas, o fim do Sacro Império Romano-
Germânico é decretado e se forma a Confederação do Reno. Com a sua aplicação,
surgem os defensores da necessidade de o direito alemão também se codificar,
eliminando-se a sua obscuridade, redundância e complexidade. O grande defensor
da codificação foi Anton Friedrich Justus Thibaut (1772-1840).
Para Savigny, a codificação representaria o engessamento do direito germânico. Para
ele, o direito, os costumes, a língua de um povo nasce, desenvolvem-se e morrem,
pois são organismos, cujo desenvolvimento não pode ser impedido nem controlado
racionalmente, já que é o produto de forças irracionais. E, ainda, da mesma maneira
que cada povo tem a sua língua, cada povo tem também os seus costumes e o seu
direito, que refletem o volksgeist, o espírito do povo.
Da mesma maneira que não faz sentido transplantar uma língua estrangeira para o
próprio país, não faz sentido nem importar o direito estrangeiro nem impor um
direito racional (o direito natural deduzido da razão, como defendido pel os
iluministas) como substituto do direito nacional, o direito alemão formava-se dos
usos e costumes locais, de origem germânica, e a lei romana (o “Corpus Iuris
Civilis”).
O trabalho de identificação e estudo do direito alemão não era feito a partir da le i,
mas, antes, por juristas que estudavam o direito romano do uso comum. O que
Savigny faz é sistematizar esse conhecimento jurídico produzido pelos juristas, a
fim de compreender as estruturas jurídicas do direito alemão ao longo do tempo.
Se houver alguma contribuição legislativa a ser dada, ela não deve criar nenhum
direito novo, mas dar apoio aquele direito descoberto pelos juristas, diminuindo -lhe
a incerteza ou indeterminação. Quando a Escola Histórica fala em direito que revela
o “espírito do povo”, é preciso desfazer uma confusão: não se trata de descrever os
costumes verificados empiricamente, como se o jurista devesse observar a maneira
como os seus concidadãos celebram os contratos nos mercados para daí elaborar as
normas do Direito dos Contratos.
Da mesma maneira que um gramático não procura as regras da língua na fala
popular, mas nas obras dos escritores que usam a língua para seus romances, poemas,
pois é justamente no trabalho dos escritores que a língua alcança o seu grau maior
de condensação, de exploração dos seus recursos; será nas obras dos juristas que
deverá ser encontrado o direito.
Para se encontrar o verdadeiro sentido direito, Savigny defende a possibilidade de
uma interpretação objetiva, sendo que esse verdadeiro sentido é um dado histórico.
A fim de alcançar esse sentido histórico, não basta reconstruir a real vontade dos
autores das leis – até mesmo porque, como se viu, esse legislador do direito
germânico se perdeu no passado, não está mais disponível como está.
Exemplo: o legislador francês do Código de Napoleão. Além da interpretação
gramatical e lógica, faz-se necessária a interpretação histórica, que investiga a
compreensão da lei no momento em que a lei existe em que ela foi criada.
2. Jurisprudência dos Conceitos
O próprio desenvolvimento da Escola Histórica resultou na chamada Jurisprudência
dos Conceitos. Se o direito é buscado no trabalho desenvolvido pelos juristas, não
demorou muito para a Dogmática Jurídica substituir a História do Direito como a
verdadeira ciência jurídica. Em lugar de conhecer o que dispõem as várias normas,
o jurista enquanto cientista do direito deve conhecer a estrutura que sustenta essas
normas.
Assim, como o físico não percebe um objeto pelas suas qualidades superficiais (cor,
forma, beleza etc.), mas antes pelos conceitos básicos da física (massa, peso,
velocidade, aceleração), o jurista deve buscar os conceitos jurídicos que sustentam
o direito. E esses se organizam em um sistema, dos mais específicos aos mais gerais:
Exemplo: um contrato de aluguel e outro de comodato são espécies de um conceito
mais geral, o de contrato; os contratos e os testamentos, por sua vez, são espécies de
um conceito mais geral, o de ato jurídico.
Quais são as partes em que se decompõe um ato jurídico?
Qual a conceituação de cada uma dessas partes?
Representantes da Jurisprudência dos Conceitos:
Georg Friedrich Puchta (1798-1846) e Rudolf von Ihering (1818-1892), em sua
primeira fase, já que ele será mais tarde um duro crítico ao formalismo jurídico,
resultado a que levou a Jurisprudência dos Conceitos. A Escola da Exegese, a
Histórica do Direito e a Jurisprudência dos Conceitos conduziram a ciência do
direito ao formalismo.
O formalismo jurídico atribui ao direito as seguintes características:
a) ser formado apenas por normas criadas pelas autoridades competentes,
especialmente pelos órgãos legislativos, desprezando-se os costumes e a
jurisprudência;
b) o direito é um sistema de normas, um sistema fechado: os aplicadores do direito
(os juízes, por exemplo) não precisam recorrer a outras normas (como as morais, por
exemplo) para a sua decisão;
c) os aplicadores do direito estão obrigados a recorrer às normas jurídicas, e somente
às normas jurídicas, para chegar às suas decisões;
d) o sistema jurídico é dotado de unidade, coerência e completude. As normas
jurídicas são normas criadas pelo Estado, no exercício da sua soberania, o que
garante a unidade do sistema; o sistema jurídico contém critérios para eliminar
eventuais conflitos entre normas (por exemplo, o hierárquico determina que a norma
superior revoga a norma inferior), de maneira a garantir-lhe a coerência; e, em caso
de lacuna (lacuna é a inexistência de uma norma que se aplique a um caso,
inexistência que implica falta de solução jurídica para esse caso), estão previstos
meios de integração do direito, como a analogia, por exemplo.
e) para a maioria dos autores dessas escolas, todos estão obrigados a obedecer às
normas jurídicas. Para o formalismo, é irrelevante o conteúdo do que é disposto
pelas normas jurídicas, é irrelevante se ela é justa ou injusta, se ela atende ou não a
determinada finalidade moral. Basta que elas sejam promulgadas por órgãos que
tenham competência para fazê-lo para que elas sejam normas jurídicas, lembrando
sempre que essa competência é determinada por outras normas também jurídicas.
Pode-se perceber como o sistema jurídico, para o formalismo, torna-se indiferente à
sociedade e aos valores sociais, o que levará muitos pensadores a criticar essa
maneira de conceber o direito. Dentre as escolas que criticaram o formalismo
jurídico estão a Jurisprudência dos Interesses, a Escola do Direito Livre e o
pensamento de Gény.
3. Jurisprudência dos Interesses
Essa escola inspirou-se no pensamento de Rudolf von Ihering (1818-1892), mas
precisamente o da segunda fase, em que critica a Jurisprudência dos Conceitos a
partir de uma visão mais próxima da sociologia, em obras como "A luta pelo direito"
e "A finalidade no direito". A fim de se contrapor ao formalismo da Jurisprudência
dos Conceitos, Philipp Heck (1858-1943) concebe o direito como um processo de
proteção dos interesses.
As leis e as decisões judiciais resultam de interesses que existem na vida social. A
ciência do direito não se limita a um acúmulo de conhecimento a respeito das
normas, mas, antes, é um saber com uma finalidade, a de encontrar soluções práticas
para a vida social. Em lugar do direito como uma ordenação lógica de conceitos, que
acabou por isolar o direito das suas origens na sociedade, tem-se o direito vivo na
sociedade.
E, para a disciplina dos interesses na vida social é fundamental a atividade do juiz,
não mais limitada a uma exegese dos textos legais ou a uma arquitetura de conceitos
da dogmática jurídica. A atividade dos juízes (e também a do legislador) é uma
atividade de conhecimento e também de valoração.
A atividade do juiz é criadora, na medida em que desenvolve critérios axiológicos
(ligados aos valores) para decidir entre os interesses em jogo, a partir da valoração
já efetuada pelo legislador ao criar a lei. Com relação à hermenêutica, a escola seguiu
a orientação de Ihering, privilegiando a interpretação teleológica, orientada para os
fins e para os valores.
A atividade dos juízes assume um papel mais importante, pois se trata de uma
atividade não limitada a uma técnica de simplesmente subsumir casos a uma norma
anteriormente dada, mas os torna efetivos colaboradores do legislador na atividade
de criação do direito, o que fica bastante claro no caso das lacunas, cuja existência
era negada pela Jurisprudência dos Conceitos.
4. Escola do Direito Livre
Também constitui um movimento de reação ao formalismo jurídico e à
Jurisprudência dos Conceitos. Sua influência se fez notar no momento de elaboração
do Código Civil da Suíça, que previa que o juiz deveria criar uma norma a ser
aplicada a um caso concreto sempre que se estivesse diante de uma lacuna. Seus
principais representantes são Hermann Kantorowicz (1877-1940) e Eugen Ehrlich
(1862-1922).
Compreensão sociológica do direito. Com base na sociologia, o juiz é livre para
encontrar uma decisão, sempre que a solução prevista pela legislação for inexistente
ou insatisfatória. Para chegar a uma decisão nesses casos, os juízes deveriam
consultar documentos, observar a vida diretamente, verificar os usos e costumes que
vigoram na sociedade, conhecer as associações que formam na vida social, mesmo
aquelas ilegais!
O direito livre era considerado de maneira independente do direito estatal, uma vez
que constituía o solo de onde se originava o direito estatal, razão pela qual o direito
livre poderia corrigir as imperfeições do estatal e solucionar o problema das lacunas.
O direito livre seria um direito mais efetivo que o próprio direito estatal.
Nesse cenário, o papel da ciência do direito se modifica, uma vez que ela não se
limita a conhecer o direito criado pelo Estado, mas deve se constituir em uma
atividade que leve a se descobrir o direito livre.
5. Escola da Livre Pesquisa Científica do Direito
François Gény (1861-1959) criticou a Escola da Exegese por se ater à exegeses dos
textos legais. Para Gény, era preciso libertar a pesquisa da rigidez imposta pelo
formalismo jurídico. Sua visão não era tão radical como a Escola do Direito Livre,
uma vez que entendia a lei como um dos elementos essenciais do direito, e a lei não
deveriam ser simplesmente posta de lado no momento de aplicação do direito.
Sempre se parte da lei; mas, uma vez tomada à lei e interpretada pelo jurista, se este
verificar que existe uma defasagem com relação a uma nova realidade social,
defasagem que não permite uma solução jurídica, o jurista deve identificar a
existência de uma lacuna e procurar suprir essa lacuna por outros meios.
Para se chegar à solução do caso, deve-se proceder a uma investigação científica dos
fatos sociais que constituem o caso analisado pelo juiz ou pelo jurista. Para Gény,
cada fato social já traria em si mesmo uma razão que conduz à regra jurídica que
deve regular esse fato – uma razão que revela a natureza desse fato. A ciência deve
conhecer a realidade social (o que Gény chamava de “dado”) e, a partir da técnica
própria dos juristas, chegar ao “construído”.
O próprio legislador, ao criar a lei, parte do “dado”, uma vez que o legislador não
elabora as leis num vazio ou numa torre de marfim, mas sob a influência das forças
e dos valores sociais, sendo que a lei irá, por sua vez, influenciar a sociedade, moldar
os valores sociais. O “dado” é submetido, assim, a uma ordem de fins (ao
“construído”).

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