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MEMÓRIA E FICÇÃO: EM MEIO AOS

DESLOCAMENTOS LITERÁRIOS

Luíza Santana Chaves* * luizasantanachaves@hotmail.com


Doutora em Estudos Literários, Professora do Centro
Pedagógico da UFMG.

RESUMO: No presente ensaio busca-se pensar as relações ABSTRACT: This essay seeks to think the relationship between
entre memória e ficção, tendo em consideração que a palavra memory and fiction, considering that the word fiction can
ficção não pode ser tomada simplesmente como sinônimo not be taken simply as a synonym for false / lie. The central
de falsidade / mentira. As principais indagações deste ensaio questions in this essay are: the memory, by itself, is no longer
são: a memória, por si só, já não é um construto ficcional? Só a fictional construct? Just the literary memory would be fic-
seria ficcional uma memória levada ao campo literário? Só tional? Only is fictional the memory that is declared as such?
seria ficcional uma memória que se auto desnuda como tal?
KEYWORDS: Memory; fiction; narrative.
PALAVRAS-CHAVE: Memória; ficção; narrativa.
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Para irmos além dos arquivos, os extremos do mundo sensível hão de Sentimos, porém, a necessidade de problematizar as im-
estar na linguagem e não só referidos por ela. plicações desse termo, pois ao debruçar-nos nos textos dos
Luiz Costa Lima – História, Ficção, Literatura principais teóricos da memória, muitos deles recorrente-
mente citados, como por exemplo, Paul Ricœur, Pierre
A dor é a verdade; tudo o mais está sujeito à dúvida. Nora, Maurice Halbwachs, Jeanne Marie Gagnebin e Márcio
Seligmann-Silva, entre outros, verificamos que o uso desse
J. M. Coetzee – À espera dos bárbaros
conceito não é difundido nem “corroborado” por esses au-
tores. E, lembrando que a palavra ficção não pode ser to-
La historia era increíble, en efecto, pero se impuso a todos, porque sus- mada simplesmente como sinônimo de falsidade / mentira,
tancialmente era cierta. Verdadero era el tono de Emma Zunz, verdadero el
pudor, verdadero el odio. Verdadero también era el ultraje que había padeci- cabe-nos, indagar: a memória, por si só, já não é um cons-
do; sólo eran falsas las circunstancias, la hora y uno o dos nombres propios. truto ficcional? Desse modo, não seria esse termo, em certa
Jorge Luis Borges – Emma Zunz medida, redundante, já que todo processo rememorativo é,
por assim dizer, uma (re)construção? Além disso, só seria
ficcional uma memória levada ao campo literário? Só seria
INTRODUÇÃO ficcional uma memória que se auto desnuda como tal?
Pode-se verificar em muitos trabalhos acerca dos proces-
sos de rememoração inseridos em textos literários o uso do Essas questões iniciais nos remeteram à necessidade de
conceito “memória ficcional” como uma espécie de memó- refletir: como pensar a memória vivida, trasladada ao cam-
ria de experiências ou de fatos reais, empíricos postos em po literário, a partir da questão proposta por Wolfgang Iser
ficção ou, então, como o traslado, para a palavra escrita, de (2002): “serão os textos ficcionados de fato tão ficcionais e
procedimentos “recordatórios”, manifestação de incertezas, os que assim não se dizem serão de fato isento de ficções?”
dúvidas, lacunas, etc. Isto é, ao falar-se da realidade textual, , que aponta para a necessidade de sair desse paradigma di-
remetendo ao que é vivenciado no plano ficcional, se pode- cotômico ficção versus realidade. Dessa forma, partimos para
ria pensar em escritas que pretendem colocar uma memória a indagação: como pensar a memória a partir do conceito de
vivida em cena através da linguagem, realizando, assim, uma ficção proposto por Iser? Existe alguma memória que não
espécie de “memória ficcional”. seja ficcional? Isto é, que não seja ela mesma uma configu-
ração do imaginário? Baseando-se, então, nessas palpitações

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instigantes, nossa contribuição visa a percorrer essas instân- sofreram nos campos de concentração, etc.), para indagar
cias em movimento, num trabalho de rastreamento, não de sobre as imbricações entre estética e ética no tratamento fic-
respostas, mas de possíveis direções e caminhos. cional de experiências-vivências / memórias traumáticas /
traumatizadas.
Nesse sentido, este ensaio tem a intenção de ler, num pri-
meiro momento, algumas ideias de Wolfgang Iser (1996)
O QUE É FICÇÃO? – O ESPAÇO DO TERCEIRO E OS
no livro O fictício e o imaginário, objetivando perceber, num
ATOS DE FINGIR
segundo momento, em que medida suas reflexões acerca
do real, do fictício e do imaginário nos abrem um leque de A linha entre ficção e realidade é bastante tênue. Porém,
possibilidades na análise teórica de narrativas que possuem não é suficiente afirmar que essas duas instâncias se en-
como cerne estrutural a problemática dos relatos memoria- contram profundamente imbricadas para podermos per-
lísticos, seja uma memória tida como efeito de uma criação ceber como esse paradigma dicotômico pode ser supe-
estética; seja uma memória vivida, experimentada pelo su- rado. Na relação entre ficção e realidade, Wolfgang Iser
jeito empírico da interlocução literária (como por exemplo, insere o imaginário como terceiro elemento, tratando-se,
na literatura de testemunho) e “perlaborada” via linguagem. pois de “buscar relações, em vez de determinar posições”
Para isso, vamos nos valer de algumas reflexões teóricas e . Importando-se assim, como ressaltou Luís Alberto Brandão
literárias acerca da memória. (2003) no texto Ficções Iserianas, a natureza relacional dos
termos em detrimento da determinação ontológica dos con-
Por fim, partindo do pressuposto de que o que es- ceitos: os termos da tríade só se definem enquanto membros
capa a verossimilhança (isto é, experiências ex- de uma relação. Os atos de fingir (seleção, combinação e auto
tremas de tortura, fome e dor) impõe a necessida- indicação) configuram o fictício, articulando o trânsito entre
de de um tratamento artístico para ser comunicado real / imaginário, instaurando um movimento de transgres-
, encaminharemos nossas discussões de modo a pensar em são de limites. Pode-se vislumbrar que o real faz referência
literaturas de / sobre memória escritas baixo o signo do ao “mundo extratextual”, que o fictício possui a característica
trauma numa estreita ligação com fatos históricos (como de “ato intencional” e que o imaginário opera a modo de um
por exemplo, textualidades de / sobre os órfãos, os tortu- “funcionamento”, porém esses termos não estão ontologica-
rados e os expatriados pela Guerra Civil Espanhola; os que mente determinados, importando sua “natureza relacional”.

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Então, para Iser, o texto ficcional estabeleceria uma passa- como “realidade” e ser percebido como tal pelo sujeito cog-
gem, que se move entre o real e o imaginário, e, provoca, ao noscente – nas palavras de Wolfgang Iser (2002):
mesmo tempo, complementaridades entre os campos. O jogo
da ficção, imbuído da aparência do “como se”, nos leva ao ques- A relação opositiva entre ficção e realidade (...) já pressupõe
tionamento do nosso suposto conhecimento da realidade: a a certeza do que sejam ficção e realidade. (...) É, entretanto,
realidade reconhecível no discurso ficcional nos remete ao discutível esta distinção. Há no texto ficcional muita reali-
fato de que também nos utilizamos de estratégias para conce- dade que não só deve ser identificável como realidade social,
ber a realidade e essas estratégias também são fruto da constru- mas que também pode ser de ordem sentimental e emocional.
ção do imaginário. O “como se” é uma maneira de pôr não só Estas realidades por certo não são ficções, nem tampouco se
o mundo “representado”, mas também o “mundo dado” entre transformam em tais pelo fato de entrarem na apresentação
parênteses. A ficção seria um meio de tomar o imaginário de textos ficcionais. Como texto ficcional contém elementos
“real”, de colocar em suspenso e em suspeita a realidade do do real, então o seu componente fictício não tem o caráter de
mundo dado, desmistificando a existência de supostos “pré uma finalidade em si, mas é, enquanto fingida, a preparação
dados”. Assim, a via mestra do ficcional é o imaginário, po- de um imaginário.1
1. ISER. “Atos de fingir ou o que é
rém, a ideia de real é, em igual medida, culturalmente cons- fictício no texto ficcional”, p.957.
truída, isto é, também passa, em alguma instância, pela via Chegamos a experiência da leitura com muitas “categori-
do imaginário. As visões do que é real e do que é fictício se zações” e formas de nos mover na trama textual já dadas /
subsidiam na linguagem: ambas, realidade e linguagem são estabelecidas de antemão por nossa aprendizagem “leitora”,
construções intersubjetivas, isto é, são formadas cultural- porém, há certos procedimentos dos textos ficcionais que
mente e estão sempre em formação, isso porque, segundo buscam deslocar leituras, através dos vácuos, lacunas e as-
Maurice Halbwachs (2006), estamos imersos também numa simetrias; discursos que imbuídos do “como se”, caminham
dimensão coletiva da memória e, através de nossas memórias entre não-determinações, remetendo ao leitor que a deter-
incorporadas, vamos construindo nosso arsenal perceptivo minação do que é realidade não é auto evidente: os “fatos”
do que sejam real e ficcional. Sendo assim, o real também não são definidos por si mesmos. O caráter transgressivo da
está condicionado ao filtro do imaginário para constituir-se ficção coloca em evidência os elementos de indeterminação e
pode provocar um curto-circuito nessa suposta transposição

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da experiência do “real” para o ficcional. E, talvez nessa pers- “Narrativa histórica e narrativa ficcional”, Benedito Nunes
pectiva, não exista leitor que não seja ativo já que todos os (1988) afirma que:
leitores são convocados a escolher posturas de leitura, todos
partem de um “ato” (mesmo que seja um ato a contrape- A dinâmica da leitura, como interação do texto e do leitor,
lo do texto ou considerado por algum discurso como sendo segundo a concepção de W. Iser, possibilita que essa visão seja
“acrítico”). catártica: ela abre os olhos do leitor, revela-o a si mesmo, à sua
2. ISER. “Problemas da teoria da
verdade e à verdade do mundo. “Os efeitos da ficção, efeitos de
literatura atual”, p.379. No imaginário está a “dimensão última do texto”2 e a pró-
revelação e de transformação, são efeitos de leitura. É através
3. ISER. “Problemas da teoria da pria origem do discurso ficcional. Porém, o imaginário “não
literatura atual”, p.379. da leitura que a literatura retorna à vida, quer dizer, ao campo
é de natureza semântica, pois, em face de seu objeto, tem o
prático e pathico da existência”.10
4. ISER. “Atos de fingir ou o que é caráter difuso, ao passo que o sentido se toma sentido por 10. NUNES. “Narrativa histórica e
fictício no texto ficcional”, p.980. narrativa ficcional”, p.23.
seu grau de precisão”3. A ficção possibilita a “pragmatização
Segundo Iser (1996), “a literatura necessita de interpreta-
do imaginário”,4 ou seja, é “a configuração apta para o uso”5
5. ISER. “Problemas da teoria da ção, pois o que verbaliza não existe fora dela e só é acessível
literatura atual”, p.379. do mesmo. No ato de leitura, o leitor seria convocado a mo-
por ela”11, dessa forma, o caráter ficcional coloca em evidên-
bilizar, mobilizando-se na realidade textual, isto é, sendo es- 11. ISER. O fictício e o imaginário,
cia que todas as experiências, mesmo as mais concretas, estão p.7.
6. Analisa Iser (a partir da teoria timulado a adentrar-se no jogo ficcional e, ao mesmo tempo,
de Austin): “os atos de fala são cheias de indeterminação. O fictício atribui a nossa relação
unidades comunicativas da fala,
pela via do imaginário, estabelecendo um elo entre mundos:
com o mundo do texto um caráter de acontecimento, con-
que transformam as frases em quando o ato de ler consegue produzir um “efeito de fala”6
frases situadas e, assim, em vertendo o imaginário em experiência, resultando estados de
modifica-se um texto com a leitura e se é modificado por
enunciações verbais que ganham tensão que podem se dissipar por um processo de semanti-
seu sentido pelo uso” (ISER. O ele, enfim, estabelece-se uma experiência no ato de leitura.
zação. Os textos ficcionais se valem de estratégias / procedi-
fictício e o imaginário, p.104). Assim, “na leitura pensamos os pensamentos de um outro,
mentos para estabelecer com / através (d)o leitor uma ponte
7. ISER. “Fenomenologia da pensamentos que – independentemente de quem quer que
e criar nele uma vontade de participação no jogo textual:
Leitura”, p.41. seja – representam em princípio uma experiência estranha”7.
“como figuração do imaginário, a ficção impõe a necessidade
Porém, “vale lembrar que ter uma experiência não significa 12. ISER. “Problemas da teoria da
8. ISER. “Fenomenologia da da interpretação”12, a recepção encontra-se “mais próxima
Leitura”, p.51. levar a cabo um procedimento aditivo”8, mas “reestruturar literatura atual”, p.380.
da experiência do imaginário do que a interpretação, sendo
o que somos”9; neste sentido, no Contraponto 2 do texto
9. ISER. “Fenomenologia da este o sentido que pode apenas semantizar o imaginário”13. 13. ISER. “Problemas da teoria da
Leitura”, p.51. literatura atual”, p.379.

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A leitura como catarse seria o momento em que o “eu sub- o leitor avalie a ficção como espelho da realidade e, ao mes-
jetivo” se sente parte do “construto ficcional”, numa “relação mo tempo, a experiência leitora do ficcional lhe proporcio-
direta entre os dados do sentido que lhe tocam e seu mundo na um leque de outros modos possíveis de estabelecer uma
imaginário – a ficção concebida / percebida”14. leitura da realidade extratextual (“o real se determina como
14. ISER. O fictício e o imaginário,
p.36. o múltiplo dos discursos”18). O ato de ler torna os “fatos”
Os atos de fingir, enquanto configurações do fictício, fun- 18. ISER. “Atos de fingir ou o que é
ficcionados um agora. A literatura, portanto, presentifica e fictício no texto ficcional”, p.985.
cionam como “objetos transicionais”, isto é, operadores que,
atualiza as narrativas e as poéticas através da experiência da
de forma contínua, articulam o trânsito entre real / imaginá-
leitura, inaugurando a possibilidade de um acontecimento e
rio, instaurando um movimento que só pode ser apreendido
pode, por vezes, produzir um “efeito de fala”, devolvendo ao
enquanto relação. Entre os atos de fingir do texto ficcio-
leitor uma ação: o ato de reflexão (que por vezes, congrega
nal estão a seleção, a combinação e a auto indicação (o auto
um processo rememorativo).
desnudamento da ficção). A seleção “possibilita apreender
a intencionalidade do texto”15, pois evidencia os elementos
15. ISER. O fictício e o imaginário, O QUE É MEMÓRIA? – LITERATURA, MEMÓRIAS,
p.18. do real selecionados pelo autor e acolhidos pelo texto, em
TRANSGRESSÕES
uma “ausência de regras” para isso. A combinação funcio-
na como a revelação da “não-equivalência”, da diferença no A resposta de Iser de diferenciação dos textos literários
semelhante, criando relacionamentos intratextuais: “como das outras linguagens não é da literatura como sendo uma
produto de um ato de fingir, o relacionamento é a configura- linguagem marcada pelo desvio ou pela recusa da padroniza-
16. ISER. O fictício e o imaginário,
p.23. ção concreta de um imaginário”16. A seleção e a combinação ção, mas como uma textualidade que possui autoconsciência
provocam “transgressões de limites entre texto e contexto”17. de sua vocação ficcional. Em todo e qualquer discurso ocor-
17. ISER. O fictício e o imaginário,
p.23.
re sempre seleção e combinação (das quais nos fala Iser) de
Além disso, a literatura possui o atributo de auto-indica- certos elementos para compô-los de forma a configurar-se
ção, de desnudamento de sua ficcionalidade: seu discurso ficcio- em discurso e, como todo discurso provém de um sujeito, o
nal possibilita a mobilidade do “eu”, possibilita ao autor do processo discursivo será sempre subjetivo e, por isso, relati-
texto dizer que o seu “eu” é agora “apenas” literatura. E, esse vo. Nesse sentido, o discurso de memória já acarreta a ques-
“apenas”, longe de ser depreciativo, amplia horizontes, isso tão de uma ficcionalidade, já que o trabalho de recordação
porque o desnudamento do fictício do “como se” impede que configura-se como o intento de recuperação de um original,

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que se toma ficção ao ser alterado pela narrativa a cada vez onde uma começa e a outra termina. Além disso, a dicotomia
que se tenta resgatá-lo, num jogo interativo e contínuo entre entre uma memória que repete e uma memória que fabula,
verdade e verossimilhança; segundo Marli Fantini Scarpelli imagina, “ficcionaliza” não seria possível quando se toma a
(1994): memória não só como processo involuntário, mas também
como evocação / busca / exercício, isto é, ato também re-
Somente a partir do momento em que o objeto visado pela vestido de intencionalidade, ainda mais quando se trata de
memória se torna objeto de uma narrativa é que ele ganha memórias escritas. Ademais, falar em “memória ficcional”
existência e permanência. Isso sem contar que a intervenção pressupõe a existência de uma “memória nãoficcional” o que
da experiência, os efeitos da elaboração formal, as deforma- é, no mínimo, inconsistente, pois atribui à memória um alto
ções operadas pela ação corrosiva da memória e do seu par poder de arquivo propriamente dito. As deficiências / lacu-
inseparável, o esquecimento, alteram o vivido, dando-lhe uma nas / assimetrias da memória impedem essa pressuposição:
contextura ficcional. 19 o fato de não podermos nos lembrar de tudo faz da memória
19. SCARPELLI. Trilhas partidas, s.p.
uma mescla de repetição e inventividade. E, como aporta
A construção da verossimilhança de um relato memoria- Halbwachs (2006), o primeiro testemunho à qual podemos
lístico implica também os saltos, os vazios: o narrador de recorrer é sempre o nosso e há que se valer da linguagem
memórias que “lembra” de tudo (que é uma espécie de Funes para passar uma memória de um “eu” para o “nós” – coletivo:
borgeano) se esquece de que a memória é, por si só, uma nar- vislumbra-se, dessa forma, que o ato de compartilhar é, em
rativa. Isto é, conservar sem escolher não é tarefa da memó- si, um ato de narrar.
ria: a memória, em si mesma, não se opõe ao esquecimento.
Para Ricœur (2000), a ambição veritativa da memória cul-
Além disso, a memória é, em essência, estruturada ficcio-
mina, muitas vezes, na manipulação (intencional ou não)
nalmente: é formada através de seleção e combinação e, em
da mesma, que num contexto sócio-político pode acarretar
literatura, se autodesnuda como “fingimento”. Segundo Paul
em abusos e privilegiar certos “testemunhos” ou versões da
Ricœur (2000), a memória estaria, em uma análise fenome-
história em detrimento de outros. Isso leva-nos a pensar
nológica, mais ligada à narrativa; por sua vez, a lembrança
nessas literaturas que, tratando da memória, não se querem
se relacionaria mais à imagem, porém estas instâncias estão
arquivísticas: desejam encenar na linguagem uma preocu-
profundamente imbricadas: não se pode determinar, a rigor,
pação com o efeito não só estético, mas também ético do

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que narram / poetizam, prefigurando aquilo que, segundo com os horizontes de expectativa arraigados, num processo
Luiz Costa Lima (2006), nos levaria além do arquivamento em que o leitor, em permanente interação com a palavra
inútil: “para irmos além dos arquivos, os extremos do mun- escrita (que só se realiza via leitura), joga com o texto, tor-
do sensível hão de estar na linguagem e não só referidos por nando palavras memória – transformando-as e, por vezes,
ela”20. Poderíamos pensar, na esteira das reflexões de Jeanne incorporando-as ao seu repertório, ao seu discurso: “o es-
20. COSTA LIMA. História. Ficção. 23. ISER. “Atos de fingir ou o que é
Literatura, p.364. Grifos do autor. Marie Gagnebin (2003) acerca das reflexões de Adorno calonamento dos diversos atos de fingir se manifesta como fictício no texto ficcional”, p.983.
após-Auschwitz, em obras que evidenciam as imbricações processo de tradução gradual”23, “permitem o processo de
profundas entre ética e estética, conseguindo escapar de uma reformulação do mundo”24, “deixando aberta tanto a expe-
24. ISER. “Atos de fingir ou o que é
“concepção meramente estetizante da estética ou meramente riência, quanto por fim, a compreensão”25. fictício no texto ficcional”, p.983.
consensual da ética”21.
21. GAGNEBIN. “Após Auschwitz”, A literatura pode, desta forma, colocar em evidência dis- 25. ISER. “Atos de fingir ou o que é
pp.91-92.
Segundo Iser (1996), a relação tensa entre texto e leitor cursos muitas vezes marginalizados e não considerados pela fictício no texto ficcional”, p.983.

não é uma experiência descontínua a outras experiências, História Oficial, levando-nos a tomar consciência de algo
isto é, as experiências do texto literário não estão excluídas muitas vezes escamoteado pelo discurso do vencedor (do aler-
de formarem parte do modo como nosso horizonte de expec- ta benjaminiano) como forma de amenizar os horrores das
tativa vai sendo plasmado, incorporado, em outras palavras, ações humanas, a custa de todo um passado que ficou sem
fazendo parte de nossa memória “leitora”. Podemos, nesse a redenção26 da denúncia, a possibilidade da rememoração,
26. BENJAMIN. “Experiência e
sentido, pensar em obras literárias que buscam (e por vezes, sendo silenciado pelo medo, pela censura. Assim, lembrando pobreza”.
conseguem) retomar o passado segundo as demandas pre- Iser, de certo modo, toda recepção possui a potencialidade
sentes, denunciando abusos de poder, estimulando atos que de influenciar outras recepções e todo discurso está imerso
ressurgem através da experiência de leitura, enfim, nessas numa rede de discursos anteriores. O que pode ser aplicado
textualidades que se aventuram a apropriar-se de reminis- também à teoria da literatura: nos estudos teóricos estamos
cências que lampejam22 (não como uma adesão impensada às sempre lidando com o passado; por mais contemporânea que
22. BENJAMIN. “Experiência e
pobreza”. comemorações solenes tais como as denunciadas por Pierre possa parecer nossa análise, há sempre o horizonte da tradi-
Nora e Paul Ricœur) e acabam por provocar mudanças na ção em suspenso, perscrutando o presente, povoando nossa
recepção e gerar reflexões, deslocando e não corroborando memória incorporada como leitores-viventes, levando-nos

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a reestruturar novas formas de atuar diante da “presença Borges também nos propõe na Noche 3, dedicada a Las mil y
incontestável dessa experiência incompreensível”27 que é a una noches, a pensar que a história (enquanto narrativa histo-
27. ISER. O fictício e o imaginário,
pp.209-210. leitura. riográfica) e a cronologia existem porque foram inventadas
/ concebidas pelo Ocidente, isto é, existem enquanto ficção:
Em uma curiosa passagem nas conferências de Jorge Luis
Borges intituladas Siete Noches, precisamente na Noche 1, de-
Es sabido que la cronología, que la historia existen; pero son
dicada a La Divina Comedia, vemos um esboço de uma possí-
ante todo averiguaciones occidentales. No hay historias de la
vel definição para memória. O tempo dilui o passado, borra
literatura persa o historias de la filosofía indos-tánica; tam-
os documentos: a memória seria esse “algo que queda” e se
poco hay historias chinas de la literatura china, porque a la
converte em história ou poesia. Mas, história e poesia estão
gente no le interesa la sucesión de los hechos. Se piensa que la
ambas situadas no âmbito do discurso, da linguagem, não
literatura y la poesía son procesos eternos.29
29. BORGES. Obras completas, s.p. são totalmente contrárias ou distintas: são igualmente uma
explicação ficcional, um recorte no todo do universo. Todas
E, numa leitura iseriana, pode-se acrescentar que: certas
as explicações são realizadas retrospectivamente e uma ex-
verdades, certos “saberes tácitos” seriam, assim, ficções cuja
plicação (quando acompanhada de uma poética, isto é, de
ficcionalidade foi esquecida. De acordo com Costa Lima
uma elaboração estética apurada) seria, por assim dizer, ar-
(1986), o historiador argumenta, o ficcionista fabula, mas a
tística, literária:
argumentação lida com ficções naturalizadas e a fabulação é
concebida a partir da realidade30, sendo, justamente a ficção
(...) los griegos hablan de generaciones que cantan, Mallarmé 30. COSTA LIMA. “Documento e
o que abre possibilidades de se pensar o real. Assim, produ- ficção”.
habla de un objeto, de una cosa entre las cosas, un libro. Pero
zimos o fato que interpretamos; sobre o qual escrevemos
la idea es la misma, la idea de que nosotros estamos hechos
/ falamos: a verbalização de uma experiência é inseparável
para el arte, estamos hechos para la memoria, estamos hechos
para la poesía o posiblemente estamos hechos para el olvido.
de sua interpretação. Os documentos constitutivos da so-
Pero algo queda y ese algo es la historia o la poesía, que no son ciedade (classe letrada, instituições governamentais, monu-
esencialmente distintas.28 mentos, cânones, etc.) também são, de certo modo, artefa-
28. BORGES. Obras completas, s.p. tos ficcionais, na medida em que são forjados / construídos
pelo homem. O que nos levaria a pensar que, na construção

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do texto histórico, o historiador utiliza os mesmos recursos autor se mescla com a voz / experiência dos narradores /
do escritor; só que o historiador precisa de documentos que protagonistas, se articulando em conjunto com as vozes / ex-
comprovem a veracidade do narrado. periências das outras personagens (reais e fictícias, Históricas
e estóricas) e também com os leitores através do efeito esté-
Porém, como nos leva a perceber Iser, ser fictício não é ser
tico da recepção. Há um processo curioso de incorporações
falso, mentiroso31 e, além do mais, há certa simplificação do
31. “Não deveria surpreender que de memórias – memória vivenciada e incorporada através da
as ficções literárias tenham sido problema quando se afirma (em algumas leituras apressadas)
postura de escuta para / com as narrativas testemunhais, em
muitas vezes estigmatizadas que o texto histórico é sempre tão ficcional (ou tão “forjado”)
como mentiras, já que falam que a todo o momento o ficcional nos remete ao real e vice-
do que não existe, como se quanto o literário: os mortos e a dor dos sobreviventes das
-versa, mostrando-nos o que ocorreu (veracidade) e o que
existisse” (ISER. “2a Sessão: O grandes catástrofes impedem essa equiparação tão direta e nos
fictício e o imaginário”, p.68) / poderia ter ocorrido (verossimilhança), indicando o caráter
levam a uma nova concepção de História (lembrando Walter
“Como pode existir algo que, difuso das delimitações, dos níveis de determinação e inde-
embora existente, não possui Benjamin: “o historicista apresenta a imagem ‘eterna’ do pas-
o caráter de realidade?” (ISER. terminação; em que o fictício “realiza” o imaginário, numa
sado, o materialista histórico faz desse passado uma experiên-
“Fenomenologia da Leitura”, “travessia de fronteiras que sempre inclui o mundo que foi
p.14). cia única. Ele deixa a outros a tarefa de se esgotar no bordel
ultrapassado e o mundo-alvo a que se visa”33, o que deixa
do historicismo, com a meretriz ‘era uma vez’”32). Isto é, a re- 33. ISER. “2a Sessão: O fictício e o
32. BENJAMIN. “Sobre o conceito de ainda mais evidente o atributo de ficcionalidade também nos imaginário”, p.68.
história”. pp.230-231. ferência à História como também narrativa não pode ser feita
discursos memorialísticos. E no caso dos postos em literatu-
através de uma desconsideração da questão ética. Nesse sen-
ra, o desnudamento do fictício do “como se” impede que o
tido, pode-se pensar em certas textualidades que buscam uma
leitor avalie a ficção como espelho da realidade e, ao mesmo
explosão no continuum nas maneiras de narrar a(s) história(s)
tempo, a experiência leitora do ficcional lhe proporciona um
/ memória(s), se colocando como fronteiriças (no sentido de
leque de outros modos possíveis de estabelecer uma leitura
tocar nas regiões do real, do ficcional e do imaginário) e des-
da realidade extratextual.
lizantes (no sentido de possibilitar à imersão de marcos histó-
ricos no campo das memórias, dos imaginários). Talvez esteja aqui esboçado um caminho, apontado por
Iser, de se pensar o porquê o homem necessita de ficção, e
A separação total entre ficção / realidade / imaginário é
acrescentamos de rememoração: o jogo textual (assim como
ainda mais “problematizável” quando se trata de fatos de uma
o ato de auto-narrar-se) abre a literatura / os discursos para
época testemunhada pelo autor, onde se dá um claro imbri-
a história34, para a plasticidade humana, para o movimento 34. ISER. O fictício e o imaginário,
camento de vozes e de experiências: a voz / experiência do p.11.

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de irrealizar-se / realizando-se. Enfim, colocam o real, o fic- extratextual) em movimentos transgressivos, não estanques,
tício e o imaginário como instâncias que só podem ser cap- encenando uma travessia de fronteiras num jogo de espelhos
tadas contextualmente, evidenciando que os “saberes tácitos” entre realidade, imaginário e ficção, em que um não deixa de
não são auto-evidentes. Sendo assim, a memória se desnuda incluir o outro.
também como modo operatório de configuração intersubje-
tiva do “eu” e do “outro”: do mesmo modo que o texto só se COMO MODO DE CONCLUSÃO
realiza pela leitura, a memória só se realiza, só ganha corpo A incompletude de toda narrativa, a impossibilidade de
pelo discurso. É interessante, nesse sentido, reiterar a capaci- dar conta do real, o fato de que a linguagem (e, consequen-
dade de deslizamento contínuo do ficcional, que se desnuda temente, a narrativa da memória) seja sempre elaborada a
como não-idêntico nem aos narradores (sejam os auto-nar- partir do componente ficcional não é algo paralisante: são
radores, os “contadores” de memória, herdeiros da narração os vazios que permitem o pensamento e as teorias são estru-
tradicional – de pai para filho – referida por Benjamin em turas de cognição, de conhecimento, de indagação. A (im)
Experiência e pobreza, que desejam passar uma experiência possibilidade de criar uma teoria universal gera o desafio da
aos ouvintes; sejam os portadores de uma memória alheia – teoria e não o seu fracasso: abrir mão da abrangência sem
isto é, herdada sócio-culturalmente dos pequenos e grandes deixar de ter um certo horizonte de exaustividade, eis o desa-
grupos –, porém incorporada identitária e escrituralmente fio. Como vislumbramos no conto borgeano La biblioteca de
– referidas por Halbwachs em A memória coletiva; ou mesmo Babel: “a la desaforada esperanza”35 sucede, “como es natural, 35. BORGES. Obras completas, s.p.
aqueles que narram sua incapacidade de narrar a si mesmos una depresión excesiva”36 no que toca ao ideário iluminista
36. BORGES. Obras completas, s.p.
e ao outro por estarem imersos em um trauma – como nos do disciplinamento dos saberes, quando se quer esgotar os
fala Seligmann-Silva, ou por saberem que o signo escapa significados e colocar tudo em caixas estanques; os extremos
as significações esbarrando no indizível, como nos lembra impedem que o pensamento humano experimente: é preciso
Primo Levi ao aplicar o termo lacuna ao ato testemunhal, saber dos sem-sentidos, sem deixar de admirar o belo, sem
etc.), nem ao narrado (fatos, dados, tramas, personagens), deixar de refletir / fabular sobre as experiências.
nem ao mundo extratextual. O atributo ficcional perpassa
todas essas instâncias, isto é, o texto de ficção exercita uma Tampouco o discurso falho da História (uma memória
ultrapassagem de limites (entre real e imaginário, textual e que se impôs como oficial) é motivo para não conhecê-la /

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investigá-la. Ainda que a história sejam tantas versões que que, presentes na superficie do texto, nela não se esgotam,
não entram em acordo (não são as memórias, elas mesmas, já que entre o sujeito que a lê e o tecido textual estabelece-
plurais?) e a Lei seja uma grande ficção, os sujeitos-leitores -se uma experiência. O encontro dessas duas instâncias está
poderão escolher seu ponto de vista, que será um ponto de imerso na potencialidade de modificar o modo de existência
partida, sendo verdadeiro na medida em que seja produtivo: de ambas, podendo levar a um re-escalonamento de discur-
a narrativa, trama ou modo de contar é o importante, é isso sos. Assim, ao conceber uma antropologia literária que busca
que apaixona as buscas humanas. O que nos remete nova- percorrer textualidades intencionalmente construídas pelo
mente às narrativas de memória aqui visadas: que recusam humano, Iser instaura a margem de abertura no horizon-
uma estética que não seja ela mesmo ética, que requisitam te de legibilidade cultural: a experiência de leitura, marcada
da história uma ética da re-presentação como a-presentação, pelas assimetrias e indefinições do imaginário e da relação
isto é, como uma leitura do passado a partir do presente, texto ficcional / leitor, provoca também um desnudamento
que querem mostrar não apenas cacos / traços / ruínas / ce- do que é o humano, na medida em que a literatura, citando 39. BRANDÃO. “Ficções Iserianas”,
p.7.
nas do passado imbuído pelo signo do trauma, mas também Luís Alberto Brandão (2003), “como produto humano”39, é
desnudar a (im)possibilidade de (re)inscrevê-lo de modo to- também “simultaneamente definidor do humano”40.
40. BRANDÃO. “Ficções Iserianas”,
tal, sem o trabalho do ficcional e da elaboração do real via p.7.
Buscamos, assim, neste ensaio vislumbrar o efeito das assi-
imaginário e, neste sentido, a memória congregaria, no seu
metrias do jogo empreendido na interação leitor / texto fic-
próprio cerne constitutivo, o atributo de ficcionalidade.
cional e algumas de suas implicações aplicadas ao ato de re-
Poderíamos, assim, entrever que os atos de fingir, “como memoração que, enquanto experiência de (re)constituição,
a irrealização do real e a realização do imaginário”37, contri- possui também atributos de ficcionalidade. Procuramos, pois,
37. ISER. “Atos de fingir ou o que é
fictício no texto ficcional”, p.959. buem para que o imaginário “ganhe uma determinação que não encaixotar “conceitos”, mas desdobrar as dobras, perscru-
não lhe é própria e adquire deste modo, um predicado de tando / experimentando a potência do pensamento iseriano.
realidade”38. O conceito de ficção pressupõe sempre um des- Finalizamos, portanto, com a constatação de que uma teoria
38. ISER. “Atos de fingir ou o que é
fictício no texto ficcional”, p.959. locamento, isto é, uma fuga das convenções, transgressões de como a de Wolfgang Iser, baseada em termos não-unifor-
limites: o ato da leitura de um texto ficcional gera uma com- mizadores, mas pelo contrário, mobilizadores, deslocantes,
plexa rede de sentidos que, muitas vezes, podem aparecer à permite a (des)dobra, a contestação da doxa, do arraigado, do
revelia do esforço de domar a palavra escrita. Significados imediatismo, e funda um paradoxo: existe real sem ficção? Ou

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vice-versa? E, mais importante, entre essas duas instâncias, não COSTA LIMA, Luiz. História. Ficção. Literatura. São Paulo:
há mais nada? Só uma simples dicotomia? O espaço do terceiro, Companhia das Letras, 2006.

que impede o que Nietzsche chama de igualação do não-igual, COSTA LIMA, Luiz. “Documento e ficção”. In: Sociedade e
inaugura o movimento, a transgressão: o imaginário é o lugar discurso ficcional. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. pp. 187-242.
da mobilidade do “eu” experimentado empírica ou ficcional-
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Beatriz Sidou.
mente; “eu”, que para constituir-se como sujeito e fundar certa São Paulo: Centauro, 2006.
identidade, participa de experiências inter-subjetivas e de recu-
perações narrativas de si mesmo e de sua coletividade, estando ISER, Wolfgang. “Atos de fingir ou o que é fictício no texto
propenso aos lapsos da memória e suas ficcionalizações. ficcional”. In: COSTA LIMA, Luiz. Teoria da literatura em suas
fontes. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002. Vol. II. pp.
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leitura: uma teoria do efeito estético. SãoPaulo: 34, 1999. Vol.II
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