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Dossier: qualidade

A Solução do Conceito de Qualidade


e a sua Aplicação no Setor
dos Elevadores
Fernando Maurício Dias

Departamento de Engenharia Eletrotécnica do Instituto Superior

de Engenharia do Porto. Fundação Politécnico do Porto.

SUMÁRIO
O conceito de Qualidade tem evoluído ao
longo dos tempos. Atualmente a Qualida-
de desempenha um papel fundamental na
sociedade em geral e nas organizações em
particular.

A nível da União Europeia a Qualidade tem-


se tornado uma ferramenta de valorização
das organizações que, as políticas comuni-
tárias pretendem promover e reconhecer
de forma a dotar as empresas, através de
um processo de forte responsabilização, de
novas competências que promovem a des-
burocratização e a autonomia em diversos
processos. Na prática uma das formas de "vermos" a dade tenha sido a "ferramenta" adotada pela
qualidade é a satisfação de uma ou mais União Europeia como fator determinante
necessidades implícitas ou explícitas por para a aplicação das Diretivas que respei-
PALAVRAS CHAVE parte do cliente. É importante ter atenção tam os princípios da Nova Abordagem e
Qualidade, Sistema de Gestão da Qualidade, ao facto que a Qualidade depende de fato- Abordagem Global. A Diretiva Ascensores
Diretivas Comunitárias, Diretiva Ascenso- res que, se forem alterados, podem modifi- (95/16/CE) é um exemplo claro da inclusão
res, Nova Abordagem, Abordagem Global, car a perceção de qualidade. Considerando da Qualidade na aplicação da Diretiva.
Requisitos Essenciais de Segurança. o exemplo da compra de um ascensor e,
por exemplo, o preço é o fator limitativo, a
exigência por parte do cliente relativamen- 2. BREVE ANÁLISE À EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1. INTRODUÇÃO te ao desempenho do produto não será a DA QUALIDADE
Qualidade é uma palavra que todos estamos mesma se não houver limites relativamen- Tendo por base o conceito da Qualidade,
habituados a utilizar, no entanto, uma ques- te ao preço. podemos afirmar que o início da "Qualida-
tão se coloca: qual o seu significado, o que de" remonta à existência do Homem dado
representa, como se mede, qual o seu custo. No entanto, também existem definições que este sempre procurou o que mais se
mais formais para o termo Qualidade. Nessa adequasse às suas necessidades nas mais
Efetivamente, a palavra Qualidade tem um perspetiva, nada melhor que a terminologia variadas vertentes, fossem essas de ordem
significado muito amplo, logo, permite va- dada pela Norma NP EN ISO 9000:2005 que material, intelectual, social ou espiritual.
riadíssimas interpretações e adaptações define qualidade como: Grau de satisfação
a diferentes contextos, por exemplo, fala- de requisitos dados por um conjunto de ca- No entanto, a qualidade mais próximo da
mos em qualidade de atendimento, qualida- raterísticas intrínsecas. que conhecemos hoje, pode-se dizer que
de do ar, qualidade de vida, qualidade de um teve o seu início na revolução industrial em
produto, qualidade de um serviço prestado, É esta particularidade de "grau de satisfa- Inglaterra através do aparecimento das "fá-
entre outros. ção de requisitos" que faz com que a Quali- bricas" que comportavam ferramentas de

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trabalho e os primeiros equipamentos de série com vista a obter grande produtivi- cos, e outros). No fim da guerra, em 1945,
medição. dade. No entanto, esta visão revelou-se escasseavam os bens para a população
Podemos identificar 4 etapas distintas ao contraproducente, os operários estavam civil, então, entrou-se num período em que
nível da evolução da Qualidade: focalizados na produção e a qualidade a prioridade máxima das empresas passou
– Etapa 1 – Inspeção – Qualidade com foco era relegada para um plano secundário a ser o cumprimento dos prazos de entre-
no produto; e centrada exclusivamente no produto. ga para assegurar uma maior presença no
– Etapa 2 – Controlo Estatístico da A atividade dos inspetores limitava-se à mercado, mais uma vez a ansia desenfre-
Qualidade – Qualidade com foco no identificação e quantificação dos produtos ada em produzir e o aparecimento de no-
processo; defeituosos que, muitas vezes, resultava vas empresas sem experiência traduziu-se
– Etapa 3 – Garantia da Qualidade – Quali- em medidas punitivas. As peças defeituo- numa quebra muito significativa da qualida-
dade com foco no sistema; sas eram segregadas sem que fosse fei- de dos produtos.
– Etapa 4 – Gestão da Qualidade Total to um estudo prévio sobre as causas dos
(“Total Quality Management – TQM”). defeitos. Nos anos seguintes à 2.a Grande Guerra,
o Mundo assistiu a um grande desenvol-
vimento tecnológico e industrial. Foram
2.1. Etapa 1 – Inspeção – Qualidade com foco 2.2. Etapa 2 – Controlo Estatístico lançados no mercado, novos materiais e
no produto da Qualidade – Qualidade com foco novas fontes de energia principalmente
No final do século XVIII e início do século XIX no processo a fornecida pelas centrais nucleares, que
a Qualidade era obtida de uma forma mui- A segunda etapa tem início devido a signi- apresentavam requisitos tecnológicos mui-
to diferente da utilizada nos dias de hoje. A ficativos desenvolvimentos na década de to exigentes. Estes fatores tecnológicos,
produção era totalmente artesanal e em 1930, referentes à resolução de problemas associados ao aumento da pressão provo-
pequena escala. Os artesãos e artífices da Qualidade dos produtos que culminaram cada pela concorrência, provocaram uma
eram os responsáveis pelo fabrico do pro- com o surgimento do Controle Estatístico nova consciencialização que culmina com
duto e pela sua Qualidade final. de Processos. a necessidade de uma nova abordagem da
sociedade face a toda a envolvente social e
Com o desenvolvimento da industrializa- Com o crescimento da produção, o modelo económica.
ção, e consequentemente a produção em baseado na inspeção 100% torna-se caro e
massa, implementou-se um sistema que ineficaz. É nesta altura que a estatística co- Entre 1950 e 1960 vários trabalhos foram
tinha por base inspeções, onde um ou mais meça a ter um papel importantíssimo nas publicados ampliando o campo de abran-
atributos de um produto eram examinados, questões relacionadas com a Qualidade no- gência da Qualidade. Juran, em 1951, dá
medidos ou testados, de forma a assegurar meadamente na solução de problemas de relevo à necessidade de “evidências obje-
a sua Qualidade. controlo da qualidade que, posteriormente, tivas” e propõe uma abordagem que tor-
implica a identificação das causas reais de na mensurável a qualidade de produtos e
No início do século XX, Frederick W. Taylor não conformidade e agir sobre elas. serviços. A prevenção passa a ser adotada
estabeleceu os Princípios da Administra- na gestão dos processos produtivos ten-
a
ção Científica. Através desses princípios O surgimento da 2. Grande Guerra Mundial do implicações positivas no nível qualida-
criou-se a função de inspetor cuja atribui- potenciou o aparecimento de outras técni- de, podendo ser medida pela redução de
ção era zelar pela Qualidade dos produtos cas para contrariar a ineficiência e impra- desperdícios.
fabricados. ticabilidade associada à metodologia da
inspeção a 100% na produção em massa de Assim sendo, as quatro principais abor-
Nas primeiras décadas do século XX não armamentos e munições. Assim, aparecem dagens que se destacam nesta etapa são:
era habitual as empresas possuírem um novas técnicas de amostragem. a quantificação dos custos da Qualidade,
departamento afeto à qualidade. Apenas o controlo total da Qualidade, as técni-
algumas organizações de grande dimen- cas de confiabilidade e o programa Zero
são possuíam departamento de inspeção 2.3. Etapa 3 – Garantia da Qualidade – Defeitos.
final dos produtos. Hierarquicamente, esse Qualidade com foco no sistema
departamento, dependia do responsável Mais uma vez uma Grande Guerra, a segun-
pela produção o que, logo à partida, levan- da, é um marco decisivo para a evolução 2.4. Etapa 4 – Gestão da Qualidade Total
tava problemas quanto à independência do da Qualidade. Durante esse período con- (“Total Quality Management - TQM”)
inspetor em desempenhar corretamente e turbado, a produção para fins militares era Podemos identificar como o início desta
com eficácia as suas funções. prioritária, logo, absorvia os melhores re- nova etapa o final da década de 70 que não
cursos disponíveis, quer fossem humanos é mais do que o resultado da evolução na-
A metodologia definida por Taylor foi exce- ou materiais. tural da Qualidade. É normal que Portugal,
lente quanto ao aumento da produtividade um país que esteve "parado" durante um
das organizações uma vez que era esse o A produção de bens de consumo civil dimi- longo período do século XX, tenha acom-
seu grande objetivo, ou seja: produção em nuiu (indústria automóvel, eletrodomésti- panhado esta evolução mas em períodos

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desfasados dos aqui referidos. Nesta nova ou com uma bandeira. Se analisarmos estas, destacam-se a nova abordagem,
etapa, que nos acompanha até aos nossos nesta perspetiva, a Qualidade fica muito para a regulamentação dos produtos, e
dias, para além de englobar as metodolo- cara à empresa, mas, se pelo contrário, a abordagem global para a avaliação da
gias anteriores está focalizada no cliente e encararmos a Qualidade como algo que conformidade. O que estas abordagens
na sua satisfação como fator de sucesso pode potenciar toda a organização, en- complementares têm em comum é o fac-
das organizações. Para obter este objeti- tão, devemos procurar que todo o inves- to de limitarem a intervenção pública ao
vo a Gestão da Qualidade Total envolve e timento realizado na implementação do essencial, deixando à indústria uma maior
abrange todas as áreas da organização em Sistema de Gestão da Qualidade e da sua amplitude de escolha possível quanto ao
que a Gestão de Topo é o primeiro motor certificação seja, efetivamente, um inves- modo como deve cumprir as suas obriga-
dinamizador da qualidade. timento que traga retorno à empresa. ções públicas

Considerando que as empresas estão inse- Uma nova técnica e estratégia regula-
3. O SETOR DOS ELEVADORES ridas num mercado altamente competitivo, mentar foi estabelecida pela resolução do
E A QUALIDADE o potencial de benefícios que a Qualidade Conselho de 1985 relativa à "Nova Abor-
Hoje em dia, muitos dos participantes pode trazer a uma organização é diverso, dagem", à harmonização técnica e à nor-
deste setor de atividade, vêm a Qualidade no entanto, pode-se destacar: malização, que estabelecia os seguintes
como algo "virtual" que só existe no papel, a) Benefícios qualitativos: utilização ade- princípios [3]:
não tem interesse prático e é caro, logo quada dos recursos (equipamentos, a) A harmonização legislativa está limita-
destinado a empresas de maior dimen- materiais, mão-de-obra), disciplina a da à adoção dos requisitos essenciais a
são. Esta visão é compreensível mas não produção e uniformiza o trabalho, auxi- que devem corresponder os produtos
aceitável, compreensível porque todos lia o treino e melhora o nível técnico da colocados no mercado para que pos-
somos livres de termos e defendermos mão-de-obra, regista o conhecimento sam beneficiar da livre circulação na
as nossas opiniões, não é aceitável por- tecnológico, facilita a contratação ou Comunidade;
que quando estamos a falar em Qualidade venda de serviços, aumenta a credibi- b) As especificações técnicas dos produ-
estamos a falar de respeito pelos consu- lidade perante os clientes e o respeito tos conformes com os requisitos es-
midores/clientes (satisfação de requisi- dos seus pares; senciais fixados pelas diretivas serão
tos) quer ao nível técnico quer ao nível da b) Benefícios processuais: participação estabelecidas em Normas harmoniza-
forma como nos relacionamos, estamos em programas de garantia da qualida- das;
a falar de cumprimento de Legislação e de, controlo do produto e do serviço, c) A aplicação de Normas harmonizadas,
Normas, estamos a falar de respeito pelo uniformização do controlo e de ensaios, ou de outras Normas, continua a ser
ambiente. segurança dos técnicos e dos equipa- voluntária, podendo o fabricante apli-
mentos, racionalização da utilização car outras especificações técnicas para
Um dos principais fatores que determi- de equipamentos e do tempo, facilita cumprir os requisitos;
nam uma postura de desconfiança é, a rastreabilidade de componentes e da d) Os produtos fabricados em conformi-
certamente, o desconhecimento sobre o documentação; dade com as Normas harmonizadas
tema. Quando falamos de Qualidade es- c) Benefícios quantitativos: redução do beneficiam de uma presunção de con-
tamos a falar de uma filosofia, de uma consumo e do desperdício (gestão de formidade com os requisitos essenciais
postura abrangente face à gestão global materiais), especificação de componen- correspondentes.
de uma organização, em muitos casos tes, uniformização de componentes e
esta abordagem é minimizada em torno equipamentos, redução de variedade de No entanto, é necessário algo mais para
do produto ou do serviço o que cria uma produtos, procedimentos para cálculos a perfeita aplicação da nova metodologia.
barreira, difícil de ultrapassar, em muitos e projetos, aumento da produtividade, São necessárias condições para uma ava-
dos nossos empresários. É evidente, se melhoria da qualidade de produtos e liação de conformidade fiável. A Resolução
uma empresa não possuir um produto ou serviços. de 1989 do Conselho relativa a uma abor-
prestar um serviço com o mínimo de qua- dagem global em matéria de avaliação de
lidade exigido pelos clientes não terá con- conformidade estipula os seguintes princí-
dições para estar no mercado, mas não é 4. A QUALIDADE E A DIRETIVA pios orientadores para a Política Comunitá-
deste aspeto que estamos a tratar, esta- ASCENSORES ria de avaliação da conformidade [3]:
mos a abordar toda a organização para a) É assegurada uma abordagem coeren-
além do produto ou serviço prestado. É 4.1. Enquadramento te na legislação comunitária mediante
nesta dimensão que a Qualidade pode tra- Atendendo que a livre circulação de pes- o estabelecimento dos módulos relati-
zer mais-valias às empresas e são essas soas e bens é um dos desígnios da União vos às diferentes fases dos processos
mais-valias que os gestores devem exigir Europeia e atendendo à necessidade de eli- de avaliação da conformidade, bem
quando implementam um Sistema de Ges- minar as barreiras limitadoras da aplica- como dos critérios relativos à sua uti-
tão da Qualidade, ou seja, não se devem ção desse princípio, foram desenvolvidas lização, à designação e à notificação de
conformar com um "papel" (certificado) ferramentas originais e inovadores, entre organismos que devam participar nes-

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ses processos e à utilização da marca- membros, visando garantir a segurança da certificado não fazem uso das premissas
ção CE. utilização dos ascensores e dos seus equi- definidas no Módulo H, optando por aplicar
b) É generalizada a utilização da Norma pamentos e eliminar obstáculos à sua livre o Módulo G - Verificação por Unidade ou
Europeia relativas à Gestão da Quali- circulação. o Controlo Final. O principal argumento é
dade (NP EN ISO 9001) e às exigências o recurso a uma entidade terceira (Orga-
que devem satisfazer os organismos de A Diretiva 95/16/CE estabelece um conjun- nismo Notificado) para avaliar a conformi-
avaliação da conformidade que gerem a to de disposições aplicáveis aos ascenso- dade de todas as unidades colocadas em
garantia de qualidade; res em todas as suas fases: conceção, fa- serviço. No nosso mercado esta é uma po-
c) A criação de sistemas de acreditação e brico, instalação, ensaios e controlo final. sição ainda muito bem vista pelos donos de
o recurso a técnicas de intercompara- A obrigatoriedade do cumprimento dos re- obra dado que ainda está muito enraizado
ção são promovidos nos Estados-Mem- quisitos essenciais estabelecidos é o ponto o hábito das fiscalizações serem efetuadas
bros e a nível comunitário; fulcral da Diretiva associado à metodolo- por uma entidade terceira.
d) São promovidos acordos de reconheci- gia de avaliação da conformidade que, por
mento recíproco em matéria de certi- último, leva à imprescindível "marcação
ficação e de ensaios entre organismos CE" para que, componente de segurança 5. CONCLUSÕES
que operem no domínio não regula- ou ascensor, estejam aptos a estarem no Do que foi dito é importante reter o fac-
mentar; mercado. to de que a Qualidade é algo fundamental
e) Os programas minimizam as diferenças nos nossos dias, quer para o exterior das
das infraestruturas de qualidade exis- A Diretiva Ascensores faz referência às empresas (clientes) quer para o interior
tentes (nomeadamente, sistemas de diferentes formas de avaliação da con- (organização). A adoção de um Sistema
calibragem e metrologia, laboratórios formidade dos ascensores e/ou dos seus de Gestão da Qualidade, mais do que uma
de ensaios, organismos de certificação componentes (módulos). A escolha do mó- "moda" é uma ferramenta poderosa que a
e de inspeção e organismos de acredi- dulo é da responsabilidade do fabricante/ gestão, bem formada e informada, pode fa-
tação) entre Estados-Membros e entre instalador que deve selecionar aquele que zer uso, potenciando todas as valências da
setores industriais; melhor satisfaça a organização. Assim, há sua organização.
f) Promoção do comércio internacional módulos para avaliação da conformidade
entre a Comunidade e países terceiros, de componentes: Exame «CE» de Tipo dos A nova metodologia regulamentar da União
através de acordos de reconhecimento Componentes de Segurança - Exame CE de Europeia, assente em Diretivas, que visa a
recíproco e de programas de coopera- Tipo (Módulo B); Anexo XI – Conformidade quebra de barreiras à livre circulação de
ção e assistência técnica. com o Tipo com Controlo por Amostragem bens assenta em poucos mas criteriosos
(Módulo C) e há módulos para avaliação da requisitos essenciais de segurança. A ava-
Um princípio fundamental da nova aborda- conformidade de ascensores: Exame «CE» liação da conformidade dos produtos é
gem é a limitação da harmonização legis- de tipo do ascensor; Anexo VI - Controlo Fi- uma escolha do fabricante/instalador, es-
lativa aos requisitos essenciais que são de nal; Anexo VIII - Garantia de Qualidade dos tando sempre suportada pela presença de
interesse público. Estes requisitos visam, Produtos (Módulo E); Anexo IX - Garantia de Organismos Notificados. A implementação
em especial, a proteção da segurança e da Qualidade Total (Módulo H); Anexo X - Ve- de um Sistema de Gestão da Qualidade de
saúde dos utilizadores (normalmente, con- rificação por Unidade (Módulo G); Anexo XII acordo com a NP EN ISO 9001, permite à or-
sumidores e trabalhadores) e abrangem, - Garantia de Qualidade dos Produtos - As- ganização ser mais autónoma em determi-
por vezes, outros requisitos fundamentais censores (Módulo E); Anexo XIII - Garantia nados processos de tomada de decisão, no
(por exemplo, a proteção da propriedade ou de Qualidade Total (Módulo H); Anexo XIV entanto, neste caso, autonomia é também
do ambiente). - Garantia de Qualidade de Produção (Mó- um forte sinal de responsabilidade.
dulo D).
Os requisitos essenciais são de aplicação
obrigatória, destinam-se a proporcionar A utilização de Sistemas de Gestão da 6. BIBLIOGRAFIA
e garantir um nível de proteção elevado e Qualidade nos processos de avaliação de [1] Vantagens da Implantação de Sistemas de
devem ser aplicados em função dos riscos conformidade previstos na diretiva pode Gestão da Qualidade, Fabiano Schefer, Uni-
inerentes a um produto. Só os produtos que ser encarado como benéfico para as em- versidade Federal de Santa Maria, Cidade
cumpram os requisitos essenciais podem presas, por exemplo, se uma empresa Universitária, Camobi, Santa Maria, RS;
ser colocados no mercado e entrar em requereu a um organismo notificado da [2] Diretiva 1995/16/CE do Parlamento Europeu
serviço. sua escolha a avaliação do seu Sistema de e do Conselho de 29 de junho de 1995 – Di-
Gestão da Qualidade segundo o Módulo H, retiva Ascensores. Jornal Oficial das Comuni-
pode efetuar a avaliação da conformidade dades Europeias;
4.2. Diretiva Ascensores do ascensor no final da sua instalação. No [3] Guia para a Aplicação das Diretivas Elabora-
Em 29 de junho de 1995, a União Euro- nosso mercado existe um número signifi- das com Base nas Disposições da Nova Abor-
peia adotou a Diretiva 95/16/CE, relativa à cativo de empresas que, embora possu- dagem e da Abordagem Global, Bruxelas,
aproximação das legislações dos Estados am o seu Sistema de Gestão da Qualidade setembro de 1999.

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Acreditação de Entidades

Eng.º Leopoldo Cortez

Diretor do Instituto Português de Acreditação, I.P. (IPAC)

Neste artigo faz-se uma breve


introdução à atividade de acreditação de
entidades, nomeadamente organismos
de inspeção, sendo referido o seu
enquadramento nacional e internacional,
entidades e metodologias envolvidas,
bem como o seu impacto e indicadores
para Portugal. Evolução da acreditação de entidades em Portugal nos últimos anos.

A acreditação consiste no reconhecimen- tuo europeus e desde o passado mês de inspeções, que são descritas pelo IPAC em
to da competência técnica dos agentes outubro, também signatário do então cria- Anexos Técnicos ao Certificado de Acre-
que efetuam a avaliação da conformida- do acordo de reconhecimento mútuo mun- ditação, e que podem mudar consoante o
de (quer sejam calibrações, ensaios, cer- dial para inspeções. Quer isto dizer que a desempenho da entidade e o resultado das
tificações ou inspeções), de acordo com acreditação de um organismo de inspeção avaliações pelo IPAC. A acreditação é assim
Normas Internacionais, sendo executada pelo IPAC goza do imediato reconhecimen- um estatuto dinâmico que pode ser alte-
pelo organismo nacional de acreditação. to de equivalência dessa acreditação como rado em qualquer momento, razão pela
A acreditação de entidades é hoje realiza- se tivesse sido efetuada por um dos seus qual o IPAC publica na sua página eletrónica
da em quase todos os países desenvolvi- parceiros dos acordos de reconhecimento (www.ipac.pt) um diretório regularmen-
dos (cerca de 120 países, incluindo todos mútuo, devendo as autoridades nacionais te atualizado das entidades acreditadas
os da União Europeia), existindo um cada da União Europeia aceitar em igualdade e dos respetivos âmbitos de acreditação.
vez maior recurso à acreditação para im- de condições a prestação dos serviços Adicionalmente, os Anexos Técnicos são
plementação de políticas comunitárias e de inspeção que estejam cobertos pela emitidos digitalmente com valor probató-
nacionais, racionalizando recursos do Es- acreditação. rio legal, contendo um código alfanumérico
tado e equalizando os procedimentos e as de 12 caracteres, que quando digitados na
condições de concorrência. secção de Comprovativos de Acreditação
da página eletrónica do IPAC, ou quando
A importância da acreditação no desenvol- clicada a ligação embutida no ficheiro di-
vimento do Mercado Único foi reconheci- gital, permite obter uma confirmação do
da com a publicação de um regulamento estado de vigência do respetivo Anexo
comunitário que enquadra o seu funcio- Técnico. O diretório permite também uma
namento, e requer o seu reconhecimento pesquisa dos diferentes tipos de entidades
automático pelas autoridades nacionais Marca de signatário dos acordos de reconhecimento acreditadas (laboratórios, organismos de
dos Estados-Membros, desde que o orga- mundiais certificação e organismos de inspeção),
nismo nacional de acreditação que confe- quer por nome ou número do Certificado,
riu a respetiva acreditação seja signatário quer por descritores do âmbito acreditado
dos acordos de reconhecimento mútuo Para conferir este elevado nível de confian- (www.ipac.pt/pesquisa/acredita.asp). As en-
europeu. Tal é o caso do Instituto Portu- ça pelas autoridades e instâncias comuni- tidades acreditadas e em particular os orga-
guês de Acreditação, I.P. (IPAC), designado tárias, é necessário garantir que as ativida- nismos de inspeção acreditados estão obriga-
pelo Governo Português como organismo de de inspeção cobertas pela acreditação dos a emitir os seus relatórios e certificados
nacional de acreditação da República Por- estejam bem caraterizadas e avaliadas de inspeção referentes a atividades acredita-
tuguesa, pois o mesmo é signatário desde – deste modo, a acreditação é conferida das com o símbolo de acreditação (ver Figura
2006 dos acordos de reconhecimento mú- sempre para a execução de determinadas a seguir).

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Símbolo de organismo de inspeção acreditado

Como nem todas as inspeções ou servi-


ços que um organismo de inspeção exe-
cute ou ofereça podem estar cobertos
pela acreditação, o IPAC obriga a que o
organismo de inspeção assinale e distinga
as inspeções acreditadas das não-acredi-
tadas, quer nos certificados e relatórios
emitidos, quer nas propostas comerciais
que efetue.
ca a eventuais interessados ou entidades federativas e associativas dos organismos
Faz-se notar que apenas as atividades acreditadas, de forma a manter a sua inde- de acreditação que visam promover a har-
de inspeção acreditadas são avaliadas pendência e imparcialidade nas avaliações monização da atuação e supervisionar os
pelo IPAC, pelo que não deve ser inferida que efetua. signatários dos acordos de reconhecimen-
nenhuma garantia ou confiança noutras to mútuos.
atividades que o organismo de inspeção O IPAC efetua assim uma avaliação inicial
possa oferecer, pois simplesmente o IPAC (e posteriormente anual) do organismo A acreditação tem vindo a crescer regular-
não as avaliou, ou se avaliou, teve uma de inspeção candidato, através de equi- mente desde o seu início, contando no final
apreciação negativa. O processo de acre- pas especializadas que incluem peritos de 2011 com mais de 700 entidades acre-
ditação está descrito no Regulamento Ge- na execução das atividades a acreditar, de ditadas, das quais mais de 200 são orga-
ral de Acreditação (Documento DRC001), forma a poder confirmar a competência nismos de inspeção. Embora a maioria dos
disponível na página eletrónica do IPAC da entidade e fiabilidade do resultado das organismos de inspeção acreditados sejam
(www.ipac.pt/docs/documentos.asp), sen- suas inspeções. Durante a avaliação se- centros de inspeção de veículos, existem
do nele citados os restantes procedimen- rão apreciadas as disposições do organis- cerca de 50 outros organismos de inspeção
tos e regulamentos a ter em conta – em mo de inspeção com vista a cumprir com acreditados, cobrindo áreas de intervenção
linhas gerais o processo de acreditação os critérios e requisitos de acreditação, muito distintas, estando nela incluída a ins-
inicia-se por uma fase de candidatura, de- bem como testemunhada a execução de peção de elevadores.
pois uma avaliação seguida de decisão. A inspeções.
fim de garantir o cumprimento continuado Finalmente é conveniente terminar abor-
dos requisitos de acreditação, o IPAC efe- Os critérios que têm de ser cumpridos es- dando a distinção entre acreditação e cer-
tua anualmente avaliações das entidades tão descritos em Normas Internacionais, tificação do Sistema de Gestão. A certifi-
acreditadas, podendo o âmbito de acredi- nomeadamente a ISO/IEC 17020 para o cação do Sistema de Gestão da Qualidade,
tação ser alterado (estendido ou restrin- caso dos organismos de inspeção. Esta conforme a Norma ISO 9001, é uma ativi-
gido) de forma voluntária ou imposta pelo Norma contém disposições sobre diversos dade que abrange apenas um dos critérios
IPAC, tendo ainda o IPAC à sua disposição a aspetos, nomeadamente estruturais (como de acreditação citados acima, a existência
aplicação de sanções (suspensões e anula- sejam a independência e imparcialidade do de um sistema de gestão. Não avalia com
ções) para os casos em que os organismos organismo e a sua organização interna), a mesma profundidade e rigor técnico a
falhem no cumprimento dos requisitos de bem como sobre aspetos da qualidade competência da entidade para executar
acreditação. O IPAC disponibiliza igualmen- (sistema de gestão), de recursos humanos atividades, nem garante o mesmo nível de
te de forma gratuita a documentação de e materiais (incluindo equipamentos ade- fiabilidade dos resultados dessa atividade.
candidatura necessária, devendo os even- quados e sua calibração) e do processo de Daí que a acreditação seja a qualificação
tuais interessados consultar a mesma, po- inspeção (incluindo a adoção de métodos e normalmente preferida face ao risco que
dendo se necessário contactar o IPAC para procedimentos apropriados). Conforme já resulte para a segurança de bens e pes-
obter esclarecimentos ou informações foi referido, estes critérios são comuns a soas, a proteção do ambiente e da saúde,
adicionais. O IPAC, porém, está normati- todas as acreditações processadas no Mun- a avaliação da conformidade face a dispo-
vamente obrigado a abster-se de prestar do, existindo guias harmonizados que auxi- sições legais, ou para a proteção de certos
qualquer consultoria ou assistência técni- liam a interpretação, bem como estruturas setores de atividade económica.

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Certificação

Rogério Marques

EIC – Empresa Internacional de Certificação, S.A.

www.eic.pt

RESUMO
Com o presente texto, e tendo em vista as
alterações previstas na legislação para as
empresas da área dos elevadores, preten-
de-se caraterizar sumariamente o significa-
do de um sistema de gestão da qualidade,
bem como explicar como decorre o proces-
so de certificação pela EIC – Empresa Inter-
nacional de Certificação, S.A.

PALAVRAS CHAVE
Processo de certificação, sistema de ges-
tão da qualidade, certificação, organismo
de certificação, auditoria.

Desde o final dos anos 80 do século pas-


sado que, em Portugal, se começou a ouvir
falar, de uma forma mais frequente, de sis-
temas de gestão da qualidade e da sua cer-
tificação. Na altura, falava-se em “garantia
da qualidade” e recorria-se a documentos
de referência (normas) que entretanto evo-
luíram e definem hoje requisitos destinados
à gestão da organização das empresas.
Desde essa altura que nos habituámos a é o sistema de gestão da qualidade e, na sa, atualmente na sua versão do ano de
ouvir falar de certificação e, mais concreta- maioria dos casos, os documentos onde es- 2008. Os requisitos estabelecidos nesta
mente, da certificação de empresas tão estabelecidos os requisitos que servem Norma são genéricos e aplicáveis a qual-
de base à certificação são Normas. quer tipo de organização. Quando correta-
mente implementados numa organização,
MAS, DE QUE FALAMOS QUANDO FALAMOS Embora haja referenciais em áreas diferen- deverão trazer valor acrescentado a essa
DE CERTIFICAÇÃO DE EMPRESAS? tes (ambiente, saúde e segurança no tra- organização, facilitando o cumprimento das
A certificação por parte de um organismo balho, responsabilidade social, investiga- caraterísticas estabelecidas para os servi-
de certificação é um ato através do qual se ção, desenvolvimento e inovação e muitos ços ou produtos que fornece, permitindo-
pretende transmitir a terceiros que aquilo outros), o que vamos abordar neste artigo lhe monitorizar o desempenho e a eficácia
que é objeto da certificação cumpre deter- tem sobretudo a ver com o referencial res- dos seus processos, numa ótica de melho-
minados requisitos, os quais constam de peitante à qualidade. ria contínua.
um determinado documento.
A Norma usada em Portugal (e nos res-
No que se refere à certificação de empre- tantes países) na maioria das certificações QUAL É O PRIMEIRO PASSO
sas ou, de uma forma menos abreviada, à nesta área é a NP EN ISO 9001; trata-se de PARA A CERTIFICAÇÃO?
certificação de sistemas de gestão da quali- uma Norma Internacional, adotada como Este primeiro passo não tem a ver com os
dade de empresas, o objeto da certificação Norma Europeia e como Norma Portugue- organismos de certificação. A implementa-

26 elevare
Dossier: qualidade

ção de um sistema de gestão da qualidade e que, através da avaliação dos auditores, rior à primeira auditoria), vai permitir à EIC
deverá ser feita pela própria organização, re- possam mesmo identificar eventuais aspe- decidir sobre a manutenção da certificação
correndo aos seus colaboradores (que terão tos suscetíveis de serem objeto de ações de concedida. No ano seguinte, é realizada
obviamente de ter formação neste domínio) melhoria (na ótica da melhoria contínua que uma nova auditoria (“2.º acompanhamen-
ou a elementos exteriores (consultores). é inerente ao espírito da própria Norma). to”), de forma a permitir uma nova decisão
sobre a manutenção da certificação. Even-
A partir do momento em que a organização A primeira auditoria (chamada “auditoria de tuais desvios ao referencial normativo,
considera que o seu sistema de gestão da concessão”) desenrola-se em duas fases: a para os quais não sejam apresentadas e
qualidade está corretamente implementa- primeira mais documental e tendo em vista evidenciadas ações corretivas adequadas,
do e já a funcionar, poderá pedir a um orga- conhecer a empresa, a segunda avaliando poderão levar à suspensão ou anulação da
nismo de certificação que o certifique. já a parte técnica da empresa e o desempe- certificação (embora estes casos sejam
nho da sua atividade. pouco frequentes).

COMO SE PROCESSA A CERTIFICAÇÃO No final da auditoria, a equipa auditora re- No final do ciclo de certificação, poder-se-
PELA EIC – EMPRESA INTERNACIONAL gistará num relatório aquilo que considera -á iniciar um novo ciclo, o qual se inicia com
DE CERTIFICAÇÃO? ser mais relevante na avaliação feita, bem uma auditoria chamada “renovação”. O ci-
Quando a EIC é contactada para efeitos de como eventuais desvios do sistema audita- clo irá prosseguir em moldes idênticos ao
certificação, é pedido à empresa o envio do relativamente aos requisitos estabeleci- anterior.
de determinadas informações (locais onde dos na NP EN ISO 9001; estes desvios cons-
exerce a sua atividade, número de colabo- tituem as chamadas não conformidades,
radores, âmbito pretendido para a certifi- as quais podem ser mais ou menos graves, PARA ALÉM DE OBTEREM UM CERTIFICADO,
cação, entre outros), de forma a permitir consoante a extensão do incumprimento QUE OUTROS BENEFÍCIOS SÃO GERALMENTE
elaborar a proposta de certificação que é face ao referencial normativo ou o que res- APONTADOS PELAS EMPRESAS
enviada à empresa e que, geralmente, es- peita às suas repercussões na atividade da COMO RESULTADOS DE UM PROCESSO
tabelece um programa de auditorias para empresa. DE CERTIFICAÇÃO?
três anos (que correspondem a um ciclo de Do diálogo que a EIC mantém com as em-
certificação), com os respetivos custos e No caso de haver não conformidades, a presas, podemos concluir que nem sempre
duração das auditorias. empresa é chamada a apresentar e a imple- o certificado é o resultado mais relevante
mentar um plano de ações corretivas para de um processo de certificação e aquele
Após a adjudicação da proposta pela orga- as situações registadas. Estas ações, depois que as empresas mais procuram. De facto,
nização, é escolhida pela EIC (com o acordo de avaliadas pela EIC, permitem tomar a de- a principal mais-valia que é frequentemen-
da organização cliente) a equipa auditora cisão de certificar o sistema de gestão da te apontada como um importante benefício
que terá a responsabilidade de realizar a au- qualidade que foi auditado. No caso de não resultante do processo de implementação
ditoria. A equipa auditora pode ser constitu- terem sido registadas não conformidades do sistema e da sua certificação é o de con-
ída por um ou mais elementos; pelo menos no relatório, haverá desde logo, em prin- seguir, a nível interno, uma melhor raciona-
um dos elementos terá obrigatoriamente cípio, condições para passar à certificação. lização de processos e de sistematização
de estar qualificado (em termos técnicos) de procedimentos, ou seja, um melhor fun-
para a área a ser auditada. Por exemplo, se A partir do momento em que é tomada a cionamento da empresa.
se tratar de uma empresa de manutenção decisão de conceder a certificação, esta é
de elevadores, pelo menos um dos elemen- representada fisicamente por um certifica- Podemos aliás dizer que, ao implementar
tos terá necessariamente de ser capaz de do, que permitirá às empresas certificadas um sistema de gestão da qualidade, a or-
avaliar os aspetos técnicos da atividade da evidenciar, a terceiros, clientes ou outros, ganização deverá efetivamente mantê-lo
empresa e, simultaneamente, dialogar com que aquela organização tem um sistema a funcionar de forma adequada e correta,
os colaboradores da empresa. Com a rea- de gestão da qualidade com condições para de forma a colher os benefícios que o seu
lização da auditoria não se pretende fazer controlar, eficazmente, a qualidade dos ser- cumprimento é suposto trazer. Frequente-
um juízo de valor sobre a organização, mas viços ou dos produtos fornecidos. mente confundido com um aumento de bu-
sim avaliar se os requisitos estabelecidos rocracia, a organização (nomeadamente os
na NP EN ISO 9001 estão a ser cumpridos e Os ciclos de certificação são, de uma forma gestores do sistema) deverá zelar para que
corretamente implementados. geral e conforme atrás referido, de três o sistema funcione de uma forma racional e
anos. Ao fim de um ano após a auditoria de adequada à atividade da empresa. Um siste-
Estas auditorias não devem ser confundidas concessão, é realizada uma nova auditoria, ma de gestão da qualidade que represente
o
com ações de fiscalização; o seu objetivo é que constitui o chamado “1. acompanha- um peso burocrático é certamente um sis-
permitir à EIC fundamentar a sua decisão mento”; esta auditoria, que pode ser menos tema que necessita de uma revisão ou cujo
de certificar (ou não) a empresa auditada, exaustiva do que a primeira em termos de funcionamento em moldes corretos e de
mas também se pretende que as auditorias requisitos da Norma a serem avaliados acordo com as necessidades não foi cuida-
sejam uma mais-valia para as empresas (tendo, com frequência, uma duração infe- do pela organização.

elevare 27
Dossier: qualidade

O Sistema de Gestão da Qualidade


e a Relevância da sua Implementação
António de Vasconcelos Lourenço

Doutorando em Ciências Empresariais

ELTIX Elevadores

INTRODUÇÃO
São as empresas, e não os políticos, que ge-
ram crescimento económico e emprego. No
entanto, para que as empresas possam con-
ceder à economia o forte impulso que tanto
necessita, é indispensável um contexto em-
presarial que lhes permita prosperar. Neste
sentido, urge agregar valores aos produtos Figura 1. Stakeholders de uma organização. Fonte: Adaptado de Stephens et al. (2005, pp. 394-395).
e serviços, mas também, promover o inves-
timento e o desenvolvimento das empresas, societais que sobre elas são geradas. Inte- biente organizacional, por mudanças nesse
na acepção que estas possam estar apetre- ressa pois, identificar os stakeholders duma ambiente e por riscos associados a esse
chadas, quer ao nível de conhecimento, quer organização, que de acordo com Stephens et ambiente; (b) por necessidades variáveis; (c)
ao nível de instrumentos de gestão, para al. (2005), e conforme a Figura 1 evidencia, por objectivos particulares; (d) pelos produ-
serem capazes de responder aos desafios são os mais relevantes. tos/serviços que proporciona; (e) pelos pro-
e expectativas dos seus stakeholders, que cessos que utiliza e (f) pelas suas dimensão
sendo cada vez mais diversos, exigentes e e estrutura organizacional.
informados, requerem que a eficácia das 2. SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE (SGQ)
empresas passe a estar dependente de um O Modelo de SGQ consagrado na Norma Esta Norma Internacional promove a elei-
trabalho mais profundo da gestão pela qua- Internacional ISO 9001:2008 tem por ob- ção de uma abordagem por processos
lidade. Neste contexto, a implementação de jectivo principal garantir a satisfação dos quando se desenvolve, implementa e me-
um Sistema de Gestão da Qualidade nas em- stakeholders, através de procedimentos de lhora a eficácia de um SGQ, no propósito
presas de manutenção de ascensores tem melhoria contínua, consubstanciados no de aumentar a satisfação dos stakeholders
como objectivo a garantia de capacidade acompanhamento e monitorização de pro- e, neste sentido, ir ao encontro dos seus
de cumprimento dos paradigmas exigíveis cessos, para os quais são definidos indica- requisitos.
duma sociedade hodierna. dores de desempenho e a determinação de
medidas de melhoria. Na Figura 2, é ilustrado o modelo de pro-
cessos e as suas interacções, os quais se-
1. IDENTIFICAÇÃO DOS STAKEHOLDERS Segundo a Norma supracitada, a concepção guem para a sua prossecução o Ciclo de
A teoria de stakeholder de Freeman (1984) e a implementação do SGQ numa organi- Deming (1994), também conhecido pelo Mé-
e Freeman e Gilbert, citados por Ulmer zação é influenciada por: (a) pelo seu am- todo PDCA (Plan, Do, Check, Act).
(2001), relaciona-se primariamente com a
forma como os indivíduos e grupos afec-
tam uma organização, e o comportamento
tomado pelos responsáveis das mesmas,
em resposta a esses grupos e indivíduos.
A sua teoria sugere que se uma organiza-
ção quer ter sucesso, deve prestar toda a
atenção aos seus stakeholders e expandir
a sua opinião de relacionamentos críticos.
Em consonância com a responsabilidade
que é atribuída a uma organização, pelos
seus stakeholders, esta tem de responder
no sentido de corresponder às expectativas Figura 2. Modelo de Sistema de Gestão de Qualidade. Fonte: Adaptado da NP ISO 9001 (2008, p. 8).

28 elevare
Dossier: qualidade

3. AS EMPRESAS DE MANUTENÇÃO tanto ao nível da envolvente interna quer da externa, indo ao encontro das necessidades
DE ASCENSORES (EMA) e expectativas dos seus stakeholders, com a finalidade de obter vantagem competitiva,
O Decreto-Lei 320/2002, de 28 de Dezem- eficaz e eficiente, de modo a atingir, manter e melhorar o desempenho e as capacidades
bro, define EMA, como sendo a entidade que organizacionais da empresa.
efectua e é responsável pela manutenção
de ascensores, monta-cargas, escadas me- A adopção desta nova estratégia, veio alterar os procedimentos até então desenvolvidos,
cânicas e tapetes rolantes, entendendo-se tendo estes provocado a alteração do organigrama da empresa, de modo a poder respon-
como manutenção o conjunto de operações der às exigências do SGQ. Na Figura 3 podemos observar a configuração organizacional da
de verificação, conservação e reparação empresa, antes da introdução da ISO 9001.
efectuadas com a finalidade de manter uma
instalação em boas condições de seguran-
ça e funcionamento.

Este Decreto veio também atribuir o esta-


tuto de EMA e definir os recursos humanos
mínimos para o exercício da actividade.

Volvidos já dois lustros sobre a publicação


deste Decreto-Lei, fez já a sua apresenta-
ção e discussão pública o, já no prelo, fu-
turo Decreto-Lei, que entre outras, introduz
as principais novidades, nomeadamente a Figura 3. Organigrama da ELTIX Elevadores antes da implementação da ISO 9001. Fonte: ELTIX Elevadores.
nova designação EMIE – Empresas de Ma-
nutenção de Instalações de Elevação e, a
obrigatoriedade de estas empresas se- Com a implementação do SGQ, a concepção funcional da ELTIX veio a sofrer consideráveis
rem certificadas pelo Sistema de Gestão alterações e ajustes, de modo a permitir que a integração do sistema não colidisse com
da Qualidade ISO 9001. Contrariamente ao a realidade estrutural e cultural da empresa, e salvaguardasse o assomar da síndrome
Decreto-Lei 320/2002, este futuro diploma de psicopatologia no trabalho, a qual, segundo Dejours (1992), deriva da dissociação dos
não contempla os requisitos necessários ao colaboradores com a concepção das tarefas que executam, mas sim, na promoção e parti-
exercício da actividade das EMIE e dos seus cipação no papel que todos os colaboradores individualmente desempenham no processo
profissionais, tendo deixado esta matéria global e na qualidade da empresa, com o intuito de assegurar, de um modo manifesto e
para Lei da Assembleia da República. diáfano, aos diversos stakeholders um SGQ adequado e que estimulasse a dinâmica de me-
lhoria contínua. Neste sentido, procedeu-se numa primeira fase, ao levantamento e identi-
Neste contexto, as actuais empresas que ficação dos stakeholders da ELTIX, para uma melhor integração e inter-relacionamento no
ainda não se encontram certificadas por processo de qualidade, para que numa segunda fase se ajustasse o organigrama funcional
um SGQ ISO 9001, terão que o contemplar da empresa. Na Figura 4 é realçado o resultado do trabalho de identificação das diversas
e implementar na sua estrutura organiza- partes interessadas.
cional, nos termos previstos no diploma a
publicar.

4. A IMPLEMENTAÇÃO DO SGQ
NA ELTIX ELEVADORES
A ELTIX Elevadores, uma PME do sector, foi
fundada em 2002, tendo desde então exer-
cido a sua actividade como EMA, até ao pri-
mórdio do ano de 2011, sem ter integrado
no seu método de gestão, um Sistema de
Gestão para a Qualidade certificado. A qua-
lidade inicia-se na gestão de topo devendo
esta criar valores para a qualidade que per-
meiem a organização no seu todo (Chatter- Figura 4. Stakeholders da ELTIX Elevadores. Fonte: ELTIX Elevadores.
jee e Yilmaz, 1993). Neste sentido, a gestão
de topo ao decidir optar pela estratégia de
certificação da ISO 9001, encetou, a partir Como se observa na figura anterior existe um leque bastante amplo de partes interes-
da data referida, um novo modo de estar, sadas, com interesses legítimos nas acções e operações da empresa, as quais segundo

elevare 29
Dossier: qualidade

Pearson e Mitrof (1993), face aos seus interesses envolvidos podem assumir determinados financeiro da empresa. O funcionamento
estereótipos. do SGQ da ELTIX é baseado num conjun-
to de processos interligados, que foram
Derivado à própria essência e especificidade da actividade, a qual tem que responder às identificados e têm de ser geridos e me-
determinações da imensa regulamentação e legislação inerente, constatasse ainda, que lhorados de forma que os requisitos exigí-
o conjunto dos stakeholders normativos e difusos é predominante sobre os funcionais, veis sejam transformados através de um
vindo assim ampliar o grau de exigência do próprio sistema de gestão, bem como, ao es- conjunto de actividades geradoras de va-
tabelecimento da implementação adequada ao porte da empresa, ao tipo de serviço pres- lor acrescentado, na satisfação final das
tado, às características dos recursos humanos que compõem a empresa, às actividades partes interessadas.
que são desenvolvidas e aos métodos utilizados para desenvolver tais actividades. Neste
contexto, foi necessário reformular o organigrama funcional da ELTIX, para que este se Os grupos identificados são operacionali-
pudesse enquadrar e responder às exigências do SGQ. Na Figura 5 podemos observar o zados por um conjunto de processos com
organigrama resultante dos requisitos julgados necessários para a implementação do afinidades comuns, sendo que os proces-
sistema. sos são constituídos por conjuntos de acti-
vidades inter-relacionadas e interactuantes
que transformam entradas em saídas, en-
4.1. Modelo de gestão por processos contrando-se formalmente documentados.
Os objectivos do SGQ são estabelecidos periodicamente, a partir da política de qualidade
da empresa, através do resultado do desempenho dos processos. Para tal, o cumpri- Numa abordagem macro e atendendo à
mento dos objectivos da política da qualidade deve fornecer as directrizes para um actividade e dimensão da empresa, é apre-
impacto positivo na qualidade final do serviço, na eficácia operacional e no desempenho sentado na Figura 6 o modelo de gestão
por processos.

PROCESSOS
Tipo I – Processos de Gestão: definem as
estratégias e linhas de orientação dos dife-
rentes tipos de processos, garantindo ao ní-
vel do planear, executar, controlar e avaliar
a melhoria contínua da empresa, e o envol-
vimento dos recursos associados;

Tipo II – Processos de Realização do Pro-


duto: estão envolvidos na criação física do
produto ou serviço, desde a relação com
fornecedores até à sua venda e transferên-
cia para o cliente, bem como na assistência
após venda;

Figura 5. Organigrama da ELTIX Elevadores após a implementação da ISO 9001. Fonte: Manual de Gestão da Tipo III – Processos de Apoio: sustentam as
Qualidade da ELTIX Elevadores (p. 11). actividades de negócio e de gestão, forne-
cendo entradas adquiridas, tecnologia, re-
cursos humanos e outras funções no âm-
bito da empresa.

5. CONCLUSÃO
O Sistema de Gestão da Qualidade, eviden-
ciado na Norma NP ISO 9001:2008, especi-
fica requisitos que, quando implementados,
fornecem evidências suficientes para a ob-
tenção da eficácia dos seus processos. Esta
Norma estabelece preceitos que favorecem
a implementação de um sistema de gestão
Figura 6. Modelo de Gestão por Processos da ELTIX Elevadores. Fonte: Manual de Gestão da Qualidade da da qualidade estruturado, o qual, especifica
ELTIX Elevadores (p. 14). desde as responsabilidades que competem

30 elevare
Dossier: qualidade

à gestão, passando pela regulamentação 6. BIBLIOGRAFIA Industry, Government, Education. Oxford (2. a
de processos de aquisição e execução de › Decreto-Lei n.º 320/2002, de 28 de Dezem- ed.): Cambridge: MIT Press.
serviços, até à garantia dos produtos/ser- bro. › Freeman, E. (1984). Strategic Management: a
viços aos clientes. › Manual de Gestão da Qualidade: ELTIX Eleva- stakeholder approach. London: Pitman.
a
dores (4. ed). Gaia: Autor. › Pearson, C., & Motrof, I. (1993). From crisis
Com a implementação da Qualidade e a › NP ISO 9001:2008. Sistemas de Gestão da prone to crisis prepared: A framework for crisis
sua respectiva certificação, as empresas Qualidade: Requisitos. (3. a ed). Caparica: management. Academy for Management Exe-
devem pretender granjear um maior rigor IPQ. cutive, 7, 48-59.
nas suas tarefas quotidianas, um maior › NP ISO 9004:2000. Sistemas de Gestão da › Stephens, K., Malone, P. & Bailey, C.
controlo ao nível produtivo, técnico, admi- Qualidade: Linhas de Orientação para a Me- (2005). Communication with stakeholders
nistrativo, financeiro, de gestão, e uma su- lhoria de Desempenho. Caparica: IPQ. during a crisis: Evaluation message strate-
perior interligação de todos os intervenien- › o
Revisão do Decreto-Lei n. 320/2002, de 28 gies. Journal of Business Communication,
tes na empresa, ou seja, com todos os seus de Dezembro.Recuperado em 2012, Outubro 42, 390- 419.
stakeholders. 24, de http://www.anieer.com/UserFiles/File/ › Ulmer, R. (2001). Effective crisis manage-
Geral/Proj_revisao_DL320.pdf. ment through established stakeholder re-
Como recomendação final, é importante lationships: Malden Mills as a case study.
que não se considere a certificação como Management Communication Quarterly, 14,
a mera obtenção definitiva de um troféu 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 590-615.
que permanecerá ad aeternun na empresa. › Chatterjee, S. & Yilmaz, M. (1993), Quality con-
A certificação da Qualidade é um processo fusion: Too many gurus, not enough disciples.
contínuo de melhoria que implica a inova- Business Horizons, 36(3): 15-18.
ção constante dos padrões de qualidade › Dejours, C. (1992). A Loucura do Trabalho: Es- Nota:
da empresa certificada, sujeita a auditorias tudo da Psicopatologia do Trabalho (5.a ed.). Texto não escrito de acordo com o novo acordo
regulares, internas e externas, de avaliação São Paulo: Ed. Cortez-Oboré. ortográfico por questão de objecção de consciência
e controlo. › Deming, W. (1994). The New Economics: For do autor.

PUB
Dossier: qualidade

“a segurança é uma preocupação


crescente da sociedade”

Ricardo Fernandes, atual Diretor venções realizadas respeitem os requisitos


do Departamento de Informação, essenciais de segurança estabelecidos na
Desenvolvimento e Assuntos Diretiva 95/16/CE e assegurem as carate-
Europeus do Instituto Português da rísticas da qualidade do serviço.
Qualidade, falou à revista “Elevare”
sobre a nova legislação e requisitos No entanto a certificação, em si mesma,
relacionadas com a qualidade, e o seu pode não ser suficiente para atingir os ob-
contributo para a sustentabilidade jetivos de reconhecimento propostos. É
económica e segurança dos aconselhável que seja uma certificação
utilizadores dos elevadores e acreditada, isto é, que a empresa seja cer-
ascensores. tificada por um organismo de certificação
acreditado pela entidade nacional de acre-
ditação, o IPAC, para a atividade e domínio
da certificação em que atua.
Revista Elevare (RE): Tendo em conta que económico, da competição que referi ante-
a revisão do Decreto-Lei n.º 320/2002 riormente, garantindo que a otimização de
aponta para a certificação do sistema RE: E relativamente à obrigatoriedade de custos não diminui a competência técnica,
de gestão da qualidade das empresas de acreditação das Entidades Inspetoras para nem compromete a confiança na execução
manutenção e para a acreditação como poderem exercer a sua atividade? das atividades que estão acreditadas. Para
organismo de inspeção por parte das enti- RF: Sou da opinião que poderá vir a colma- concluir, gostaria de referir que a acredi-
dades inspetoras, como vê esta situação: tar alguma falta de acompanhamento das tação das EI traz vantagens, vindo servir
uma ameaça ou uma oportunidade para as atividades destas entidades. Também nesta essencialmente para ganhar e transmitir
empresas? área de atividade existe uma forte concor- confiança na execução das atividades téc-
Ricardo Fernandes (RF): É sem dúvida uma rência no mercado. A pressão dos custos nicas de inspeção, ao confirmar a existência
oportunidade. Será um contributo para a pode levar à procura de profissionais mais de um nível de competência técnica mínimo,
melhoria das operações das Empresas de baratos, menos especializados e mais ge- reconhecido.
Manutenção de Ascensores (EMA) e para a neralistas, que focam a sua atuação em
credibilidade das inspeções efetuadas pelas aspetos mais administrativos não essen-
Entidades Inspetoras (EI), a bem da seguran- ciais, diminuição da duração e do rigor das RE: Tudo isto tendo como objetivo funda-
ça de todos os utilizadores. Não só para os inspeções, em suma, subtraindo valor às mental garantir a máxima segurança dos
ascensores das nossas casas, como sobre- inspeções e falta de credibilidade. utilizadores dos elevadores?
tudo para o caso dos ascensores, escadas e RF: Sim, claro. A segurança é uma preocu-
tapetes de serviço público, que têm um uso A acreditação é o procedimento através pação crescente da sociedade atual, reco-
intensivo em estações, metros, aeroportos, do qual o IPAC avalia e reconhece a com- nhecida e aceite como tal por todos nós,
espaços comerciais, e outros. petência técnica de uma entidade para designadamente pela própria Comissão
efetuar a atividade. O referencial para a Europeia e pelas autoridades públicas dos
Na minha perspetiva o estabelecimento da acreditação das EI é a NP EN ISO/IEC 17020 vários países.
obrigatoriedade da certificação das EMA para organismos de inspeção. Pode-se di-
contribui para criar os controlos necessá- zer que a acreditação vai funcionar como Repare que a manutenção e as inspeções
rios a montante, garantindo que as inter- uma espécie de regulador técnico, mas não são, hoje em dia, exercidas por várias em-

32 elevare
Dossier: qualidade

presas que concorrem entre si, o que pode como as Normas para a certificação qualidade de vida aos mais variados níveis
levar a que estas empresas possam enve- dos sistemas de gestão da qualidade da nossa sociedade.
redar pela redução crescente de custos em NP EN ISO 9001, gestão ambiental
tempos de crise, pondo em causa a segu- NP EN ISO 14001 e segurança e saú-
rança ou inclusivamente comprometendo a de no trabalho NP 4397 (OHSAS 18001) “as atividades económicas,
sua imparcialidade. para a certificação da EMA. E ainda a a qualidade, a segurança
NP EN ISO/IEC 17020 para a acreditação ambiental e os recursos naturais
Também é importante referir que a cer- das EI como organismos de inspeção. precisam de estar em
tificação segundo a NP EN ISO 9001 traz permanente interação”
vantagens, nomeadamente para as PME Relativamente à metrologia, convém que
que atuam neste mercado, das quais posso os equipamentos de inspeção, medição
destacar a melhoria da organização interna, e ensaio utilizados nas intervenções aos RE: Hoje, embora em número muito redu-
o centrar a sua atividade no cliente, norma- ascensores, quer pelas AMA quer pela EI, zido, já existem algumas empresas do se-
lizar procedimentos, práticas e registos, estejam devidamente calibrados por labo- tor que possuem sistemas da qualidade,
evidenciar o cumprimento das especifica- ratórios acreditados. Enquanto Instituição segurança e ambiente certificados de uma
ções técnicas, melhorar continuamente as Nacional de Metrologia, o IPQ garante o ri- forma integrada. Quais as vantagens e as
práticas, conduzindo a menores custos in- gor e a exatidão das medições realizadas, desvantagens dessa opção?
ternos. Tudo isto reforça a imagem da EMA, assegurando a comparabilidade e rastrea- RF: A qualidade, a segurança e o am-
aumenta a satisfação e confiança dos seus bilidade, a nível nacional e internacional, e a biente são de facto áreas de importância
clientes e fideliza e aumenta o número de realização, manutenção e desenvolvimento crescente, mas acrescentaria também o
clientes. dos padrões das unidades do SI - Sistema da responsabilidade social. São estes os
Internacional. pilares da sustentabilidade de que agora
tanto se fala. As empresas que já imple-
IPQ, O PROMOTOR INSTITUCIONAL mentaram sistemas integrados de gestão
DA QUALIDADE EM PORTUGAL RE: E que papel desempenha o IPQ para a da qualidade, ambiente e segurança estão
aplicação das Diretivas Comunitárias sobre a tirar certamente vantagens da opção que
ascensores? tomaram. São aquelas que estão conscien-
RE: Qual o papel do Instituto Português da RF: O IPQ é a Autoridade Notificadora para tes de que, hoje em dia, o crescimento eco-
Qualidade (IPQ) nas áreas que implicam a aplicação da Diretiva 95/16/CE reformu- nómico é visto como uma parte integrante
com o setor dos elevadores (ON, OI, Nor- lada pela Diretiva 2006/42/CE e respetiva de um desenvolvimento sustentado, em
malização, Metrologia, Certificação, entre legislação de transposição (Decreto-Lei que as atividades económicas, a qualidade,
outros)? 295/98 e Decreto-Lei 176/2008) para a a segurança ambiental e os recursos na-
RF: O IPQ desempenha um papel, penso ordem jurídica nacional, que estabelecem turais, precisam de estar em permanente
que muito importante, em todos domí- um conjunto de disposições, abrangendo interação.
nios que citou e que têm implicações vá- os ascensores, desde a sua conceção, fa-
rias no setor dos ascensores. Por várias brico, instalação, ensaios e controlo final. Na minha perspetiva, a atual crise que
razões que passo a enumerar. O IPQ, por Nos termos da legislação aplicável, é o atravessamos pode ser uma oportunidade
via das suas atribuições e responsabi- IPQ que procede à qualificação dos Orga- para assegurar a implementação de pa-
lidades, é o promotor institucional da nismos Notificados (ON) que atuam para drões consistentes de qualidade, ambiente
qualidade em Portugal, enquanto orga- os ascensores novos. São exemplo de ON, e segurança. A retoma do mercado por que
nismo nacional coordenador do Sistema o IEP, o ISQ e a Fundação do Instituto Po- todos ansiamos, passa por um processo
Português da Qualidade (SPQ), Organis- litécnico do Porto, que estão acreditados de seleção das empresas, em que natural-
mo Nacional de Normalização (ONN) e como organismos de inspeção e a APCER mente as mais fracas saem do mercado. Só
Instituição Nacional de Metrologia. Como e a SGS, que atuam ao nível do sistema aquelas que demonstrarem consistência
gestor do SPQ integrando os três subsis- de gestão da qualidade das empresas na qualidade dos seus produtos e/ou ser-
temas, da Normalização, da Metrologia e instaladoras. viços, vão merecer credibilidade para a re-
da Qualificação, compete ao IPQ criar e toma de confiança por parte dos clientes e
disponibilizar a infraestrutura indispen- Assim e como se vê, penso que posso dizer consumidores.
sável para potenciar a prática dos me- que o IPQ assume um papel essencial como
lhores processos e métodos de gestão motor da promoção e da modernização de
da qualidade. múltiplos setores de atividade, onde se in- RE: Mas os consumidores e clientes estão
clui o dos ascensores, através de práticas e com menos recursos económicos, na gene-
No que se refere à normalização é o IPQ metodologias da qualidade e dos conceitos ralidade, e muitas vezes podem optar por
que edita as Normas a serem seguidas que lhe estão associados, a nível relacional menos qualidade mas melhores preços.
na segurança dos ascensores, como a das organizações com os cidadãos e com o RF: Sim, e é exatamente quando estes são
NP EN 81-1 e a NP EN 81-2 e outras, bem Estado, contribuindo para uma melhoria da confrontados com a necessidade de deci-

elevare 33
Dossier: qualidade

são qualidade-preço, infelizmente ainda é vamente ao tempo que pode demorar a bilização dos documentos normativos en-
o preço que decide muitas vezes. Na ma- edição da versão em português de uma viados pelas CT, e que depois de uma verifi-
nutenção de elevadores isto pode tornar- Norma Europeia EN, é preciso esclarecer cação técnica normativa são preparados e
-se desastroso, pois os custos escondidos que não se trata de uma mera tradução editados pelo IPQ.
da não-qualidade do serviço prestado vão linguística. Tem de ser analisada pelos pe-
manifestar-se mais cedo ou mais tarde. ritos no âmbito das Comissões Técnicas Reportando-me ao ano passado posso di-
Felizmente que se vai assistindo a uma exi- de Normalização (CT) e deverá haver cui- zer-lhe, por exemplo, que a meta proposta
gência crescente do consumidor, sendo que dados, nomeadamente quanto à lingua- para o tempo médio de edição era de 50
hoje a decisão consciente é tomada tendo gem técnica e terminologia e às práticas dias úteis e conseguiu-se superar o objeti-
em conta simultaneamente os dois fatores desenvolvidas no país. vo com uma realização de 48,26 dias úteis.
que referi. E a perspetiva é de vir a melhorar ainda
Como é sabido o IPQ, enquanto Organismo mais, com a implementação do Projeto
Mas assiste-se cada vez mais a uma cons- Nacional de Normalização (ONN), tem orien- PROQUAL, que tem como objetivo a análise
ciencialização para a problemática da quali- tado a sua atuação pelo princípio da descen- e a reorganização de toda a atividade do
dade dos produtos e/ou serviços, a preser- tralização em Organismos de Normalização IPQ, com particular enfoque nos proces-
vação do ambiente, as condições do local Setorial (ONS), do apoio ao funcionamento sos diretamente centrados no cliente, com
de trabalho e o contributo para a sociedade. das CT, aproximando as atividades norma- incidência ao nível das competências fun-
Do lado das empresas estas têm de estar tivas dos seus mais diretos interessados, damentais do IPQ, que constituem as suas
atentas. Quem não estiver, arrisca-se a não estimulando a definição de prioridades principais áreas de atividade, a Metrologia
sobreviver, como já disse antes. O desafio setoriais de normalização por parte dos e a Normalização, sem descurar, também,
está em conseguir gerir corretamente os agentes económicos e sociais nacionais. A as restantes áreas relacionadas com a
custos, considerando a qualidade, o am- rede compreende atualmente 55 ONS, 164 promoção da Qualidade e com os Assun-
biente e a segurança, sem afetar a rentabili- Comissões Técnicas constituídas por cerca tos Europeus.
dade da empresa. de 3.400 peritos. Para o caso vertente das
Normas que referiu, foram elaboradas pela Concretamente no domínio da atividade nor-
Penso que o desenvolvimento e implemen- CT 63 no âmbito do ONS, que é a DGEG. O mativa, os efeitos esperados são significati-
tação de sistemas integrados de gestão da acervo normativo nacional a 31 de dezem- vos, sendo de sublinhar a inclusão de uma
qualidade, ambiente e segurança, será uma bro de 2011 era de cerca de 22.000 Normas, plataforma colaborativa que suporte todo o
aposta que as organizações terão que fazer das quais 5.000 em português. fluxo de informação trocada entre os milha-
num futuro próximo, para garantir a quali- res de intervenientes nacionais no processo
dade dos seus produtos e serviços, a pre- Quero acrescentar ainda que o IPQ tem vin- normativo. Também é de salientar a criação
servação do meio ambiente e a segurança e do a fazer um enorme esforço no sentido de uma biblioteca digital associada a um sis-
o bem-estar dos seus trabalhadores, o que de promover a criação de novas CT e dina- tema de controlo de acessos remotos, des-
se enquadra na sua responsabilidade social, mizar os trabalhos das já existentes, no que tinado a disponibilizar um serviço automá-
dando assim um contributo relevante para se refere à tradução de Normas e tornando tico de informação normativa por perfil de
a sociedade com a criação de emprego e cada vez mais eficiente e célere a disponi- destinatário.
riqueza.

RE: Os regulamentos nacionais de segu-


rança de ascensores Elétricos e Hidráu- NOTA BIOGRÁFICA
licos são, respetivamente, as Normas
NPEN 81-1 e NPEN 81-2. Constata-se que 57 anos de idade, tem desenvolvido a sua atividade profissional na área da Qualidade e dos conceitos
quando há alterações às normas e en- que lhe estão associados. Desempenhou diversos cargos como técnico e como dirigente em vários
quanto não há a versão em português te- organismos da administração pública. Atualmente é Diretor do Departamento de Informação, Desen-
mos um regulamento nacional em língua volvimento e Assuntos Europeus do Instituto Português da Qualidade (IPQ). Licenciado em Engenhar-
estrangeira. Que comentário faz a esta ia Mecânica (IST); Pós-Graduação em Engenharia da Qualidade (UNL-ISQ); Pós-Graduação em Gestão
situação. Empresarial (ISCTE-INDEG); Mestrado em Gestão da Qualidade, parte curricular terminada (Univer-
RF: Começo por afirmar que ambas as sidade Aberta). Vogal das Comissões Técnicas de Normalização, CT 80 - Gestão da Qualidade e da
Normas estão já traduzidas para portu- CT 164 – Responsabilidade Social das Empresas. Avaliador do Prémio de Excelência PEX/SPQ, As-
guês. De facto a legislação aplicável faz sessor Training Course da European Foundation for Quality Management ( EFQM – 2005). Docente
referência direta às Normas NP EN 81-1 universitário. Tem elaborado trabalhos e estudos, publicado artigos em revistas e boletins da espe-
e NP EN 81-2, que constituem os regula- cialidade e apresentado comunicações em Congressos, Colóquios, Seminários e Conferências, sobre
mentos de segurança para os ascensores temas da “Gestão da Qualidade”, da “Gestão Ambiental” e da “Segurança e Saúde no Trabalho”; “Audi-
elétricos e ascensores hidráulicos, res- torias da Qualidade e Ambiente”; da “Responsabilidade Social” e do “Desenvolvimento Sustentável”.
petivamente. Em segundo lugar, e relati-

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