Professional Documents
Culture Documents
¹ Categoria: Estudante
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC - Campinas)
5o ano/10o período |
² Categoria: Estudante
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC - Campinas)
2o ano /4o período
RESUMO
Este artigo discute o racismo institucional enquanto violência de Estado, visto que o
fenômeno é observado em instituições e com agentes públicos. O racismo institucional é
uma temática nova no campo da pesquisa e refere-se às atitudes discriminatórias e a
insuficiência na qualidade de atendimento e/ou prestação de serviços a indivíduos ou grupos
em função de características étnico-raciais. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica na base
de dados Scielo com os descritores racismo e institucional, sendo encontrados 12 artigos.
Posteriormente, foi efetuada a categorização, construção de tabelas e análise dos dados. Os
resultados indicaram que as pesquisas brasileiras se concentram no campo da Medicina e na
contramão a Psicologia apresenta poucas publicações. Discute-se as implicações da
Psicologia perante o racismo institucional, os processos históricos envolvidos e o
enfrentamento realizado contra uma violência de Estado que produz exclusão social e até
mesmo o extermínio de populações minoritárias.
ABSTRACT
This article discusses institutional racism viewed as Violent State, since the phenomenon is
observed in institutions and with public agents. Institutional racism is a novel theme in the
field of research and refers to discriminatory attitudes and insufficient quality in care and/or
services of individuals or groups based on ethnic and racial characteristics. A
bibliographical research on the Scielo database with racism and institutional descriptors
found 12 articles. Subsequently, categorization, construction of tables and data analysis was
performed. The results indicated that the Brazilian research is focused majorly on medical
field, contrary to psychology, which presents few publications. It is discussed the
implications of Psychology facing institutional racism, the historical processes involved and
the confrontation carried out against a State that produces violence, social segregation and
even the extermination of minority populations.
ampliado os horizontes no que se refere aos domínios de suas discussões, o que, por sua vez,
humanidades. Nesse sentido, o (a) psicólogo (a) para compreender o indivíduo dialoga com
ampliado, sensível e crítico aos fenômenos que serão encontrados e discutidos na prática
povo brasileiro que é historicamente marcado pela desigualdade social e opressão (LANE,
1989; BOCK, 1999; CARONE, 2007; BOCK, 2008; GOUVEIA, 2015). Tal compromisso
exige do psicólogo uma postura crítica e envolvida com demandas complexas na qual os
É nesse contexto que os (as) psicólogos (as) se deparam com o Estado enquanto
psicologia estão inseridos como trabalhadores, seja na assistência como na gestão. Nesta
conjuntura, o mesmo profissional necessita dos conhecimentos interdisciplinares, citados
MAGALHÃES & SANTOS, 2016) e tem sua maior visibilidade por meio da mídia que a
(GUIMARÃES, 2002).
Estado enquanto instância de poder que organiza/constituí relações sociais (MARCO, 2004;
VIANNA & FARIAS, 2011). Tal fenômeno apresenta extrema complexidade, exigindo do
(GUIMARÃES, 2002; GUZZO, MARÇAL & RYBCA, 2014; SILVA, CARMO & SILVA,
2015).
pessoas. Tal impacto inegavelmente afeta o psiquismo, seja nos processos de subjetivação
nas suas expectativas e sonhos, na qualidade de vida, assim como na segurança pessoal dos
indivíduos expostos a uma lógica do medo (LANE, 1989; MARCO, 2004; VIANNA &
FARIAS, 2011) e, em alguns casos destaca-se a vivência intensa e crônica de condições de
(STRAUB, 2014).
construção de uma visão holística sobre o ser humano. É também perante esse cenário que o
2016; ALVES et al., 2016), a falta de qualidade de diversos serviços prestados; o racismo e
determinado sistema de organização política e social, tal como aconteceu na ditadura militar
majoritariamente jovens que moram nas periferias de grandes centros urbanos. Em 2013
(BRASIL, 2014).
enquanto produção histórica e das condições objetivas de vida (BRASIL, 2007; BRASIL,
quadro de um Estado que ainda se omite perante a bárbarie que diariamente ameaça a vida
de jovens e adolescentes negros que estatisticamente são mortos em grande número. Porém,
BRASIL, 2014).
Famílias inteiras que foram obrigadas a se separarem, viajando meses no oceano
para chegar a terras coloniais longínquas como o Brasil; em que os negros foram vendidos e
Diante desse cenário, séculos se passaram em que o negro foi réu da cultura
crenças e práticas culturais que foram descaracterizadas de suas origens africanas e que hoje
foi esquecido pelo Estado e tratado como “não-pessoa”, pois não lhe foi fornecida estrutura
RODRIGUES, 2013).
cultura, dos seus valores e de sua identidade. Embora em 1888 fosse extinta em termos
direitos é uma luta que persiste até os dias atuais. A história da população negra no Brasil é
que atendam as solicitudes do povo negro. Essas políticas buscam garantir o espaço do
negro enquanto cidadão brasileiro, com os mesmos direitos dos demais. Também buscam
compensar defasagens históricas e gritantes, por meio de ações afirmativas, como por
exemplo, a política de cotas nas universidades, visando fortalecer o espaço para aqueles que
erradicar o racismo e a violência contra os negros (BRASIL, 2001), a política das ações
todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade,
discriminada. Diversos prejuízos podem ser listados para com a cidadania daquele que sofre
tal violência, como por exemplo, a negação de direitos e a humilhação social (SOARES,
2013).
esta temática. Estas informações permitem a reflexão sobre a efetividade das políticas
públicas elaboradas até o momento e a forma pela qual a Psicologia discute e lida com as
2. OBJETIVO
3. METODOLOGIA
descritores para artigos científicos: racismo e institucional. Não foi delimitado um período
Do total de artigos que foram apresentados, foram excluídos os que não fossem
brasileiros e escritos em língua portuguesa. Para tanto, foi realizada leitura detalhada dos
resumos, o que resultou em 12 artigos publicados entre 2002 a 2013 (ANEXO A).
Posteriormente, foi realizada a leitura dos artigos e, a categorização destes, por
universidade que publicou e as unidades federativas onde ocorreu a pesquisa dos artigos.
violência de Estado. Por meio destes dados/resultados foi possível a reflexão e a discussão
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Constituição Federal de 1988 enquanto Seguridade Social. De acordo com a mesma autora,
caricaturais sobre a concepção do que seja direito e cidadania, o que, por sua vez, permite
aberturas para possíveis retrocessos nas políticas públicas (YAZBEK, 2008). É nessa
corroborando com a discussão de que apesar do discurso de que o Brasil superou o racismo,
população negra sofre uma desigualdade histórica de acesso aos serviços de saúde, o que se
caracteriza como exclusão social que pode levar a morte de inúmeras pessoas em função da
para doenças de maior frequência na população negra, como por exemplo, a anemia
Portanto, esse descaso é racismo institucional, que por sua vez, é uma violência
que possuí graves efeitos na subjetividade das pessoas negras. E, se esse racismo ocorre
numa instituição pública, que atende a todo cidadão brasileiro, como por exemplo, o SUS, o
SUAS, a Previdência, uma escola pública ou uma delegacia, trata-se de violência do Estado
depender da ocasião; pode estar se comportando desta forma, em função de uma formação
pessoal e profissional na qual há uma visão distorcida do que seja direito e cidadania, tal
profissionais da saúde que refletem concepções sobre o negro como diferente dos outros ou
mesmo como alguém menos humano. Um exemplo é o jargão de que o “negro sente menos
dor”, seja para um tratamento dentário ou numa avaliação médica, em forma de piada
Outra situação citada nos artigos é do jargão de que o “negro é mais resistente a
doenças”, comum em relatos de pessoas entrevistadas. Tal jargão revela, segundo análise
dos artigos, uma concepção do negro como alguém que precisa de menos cuidados, em
o quadro quando por meio dessa regra ou concepção ilógica o profissional avalia, trata e
saúde ao fazer esses infelizes jargões, o faz de forma automática em função de um contexto
com agentes públicos. São práticas que levam a exclusão social e até mesmo ao extermínio
População Negra”, que possui como objetivo geral “promover a saúde integral da população
saúde.
político. Cabe ressaltar que tal documento / política não isenta a Psicologia da tarefa de
nesse contexto.
4.1 observa-se que a produção científica nacional da Psicologia foi mínima (8.33%), já
diante de uma baixa produção sobre o assunto no Brasil, com o número de um artigo.
quanto que elas hoje no Brasil abordam as temáticas de grupos minoritários. O racismo
institucional é ainda assunto novo para a ciência psicológica e muito ainda pode ser feito em
SOARES, 2013).
GONÇALVES, 2007).
Neste sentido, Gonçalves (2007) discute a importância da psicologia ao lidar
importante que a Psicologia olhe de uma forma crítica e que problematize através de
contribuinte. Uma explicação possível para essa concentração pode ser em função do maior
Nordeste, seguida pela região Centro-Oeste do país (BRASIL, 2014; FBSP, 2015). Estas
escala. Tais dados permitem uma possível discussão da necessidade de uma atenção
especifica à está determinada região do país que sofre com altos índices de violência,
Deste modo, o racismo praticado por instituições e agentes sociais é assunto da ciência
psicológica, visto o seu impacto nos afetos e nas relações sociais. Os psicólogos trabalham
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
científica nacional sobre o racismo institucional, este compreendido como uma violência de
Estado. Os resultados indicaram que há poucas publicações sobre a temática, sendo que o
por parte dos autores em analisar apenas uma base de dados. Observa-se a importância de
consultar outras fontes de produção científica para avaliação das publicações, contudo é a
partir da escolha feita pelos autores é que foi possível obter resultados e analisá-los.
científica, o que, por sua vez, revela pouco impacto na discussão do tema. Considera-se
social.
institucional nos serviços de saúde e que, também sofre por ser homossexual, ou uma pessoa
branca, pobre, presidiária e soropositiva, que vivencia preconceitos institucionais
ALVES, J.S.S.; RODRIGUES, O.; SÁ, M.A.A.S.; BRISOLA, E.M.A. Educação em Crise.
Revista Magistro, v.01, n.13, 2016.
CAMINO, L.; SILVA, P.; MACHADO, A.; PEREIRA, C. A Face oculta do Racismo no
Brasil: uma análise Psicossociológica. Revista Psicologia Política, p.13-36, 2001.
GARCIA, L.P.; DUARTE, E.C.; FREITAS, L. R. S.; SILVA, G.D.M. Violência doméstica
e familiar contra a mulher: estudos de caso e controle com vítimas atendidas em serviços de
urgência e emergência. Cadernos de Saúde Pública, v.32, n.04, p.1-11, 2016.
RODRIGUES, R. Nós do Brasil: Estudos das Relações Étnico-Raciais. São Paulo: Moderna,
2013.
SILVA, C.B.; CARMO, G.T.; SILVA, A.M.C. Breves observações sobre a Teoria das
Representações Sociais de Serge Moscovici e a interdisciplinariedade. Estudos
Interdisciplinares em Psicologia, v.06, n.02, p.59-70, 2015.
STRAUB, R.O. Psicologia da Saúde: uma abordagem biopsicossocial. 3ª ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
YAZBEK, M.C. Estado e Políticas Sociais. Praia Vermelha – Estudos de Política e Teoria
Social, v.18, n.01, p.1-22, 2008.
ANEXO A - REFERÊNCIAS DOS ARTIGOS DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
LOPES, F. Para além das barreiras dos números: desigualdades raciais e saúde. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.21, n.5, p.1595-1601, 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v21n5/34.pdf.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2016