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28 Infertilidade

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João Luís Silva Carvalho

1. INTRODUÇÃO Em contraste, em outras civilizações, como a


Hebraica ou a Helénica, em que era impen-
Desde o despontar da Humanidade que a sável a existência de causas masculinas, a
reprodução e a sua falência são importante mulher, quase sem direitos nem liberdade,
desassossego, como demonstrado por pin- era infértil por castigo dos Deuses.
turas e esculturas de cavernas pré-históricas Só com as profundas transformações intro-
que associam a procriação à prosperidade, duzidas pela escola Hipocrática se iniciou a
ou pelo mandamento de Deus a Adão e Eva ruptura com este paradigma, sendo incor-
no Génesis: «Sede fecundos, multiplicai-vos porada a base racional tão cara aos filósofos
e povoem a terra»1. gregos. Mas a racionalização, alicerçada em
Ao longo da História, e em todas as civiliza- axiomas filosóficos, determinava a mulher
ções, o símbolo da fertilidade foi sempre a como um mero receptáculo para fertilização,
mulher, pelo que os escolhos em conceber um ser inferior, quase infra-humano, seme-
recaíam penosamente sobre ela, implicando lhante aos escravos e apenas ligeiramente
repercussões sociológicas e atitudes médicas superior aos animais.
concordantes com o estatuto menor que qua- O panorama modificou-se muito pouco na
se sistematicamente lhe era outorgado. Entre Roma Bizantina e, apesar das iniciativas de
as civilizações mais antigas, apenas a Egípcia Soranas, um dos mais famosos ginecologistas
foi excepção, pois nela a mulher ocupava um da época, a terapêutica da infertilidade era,
lugar de destaque, era merecedora de respei- para muitas mulheres patrícias, a do flagelo
to e o seu estatuto legal equivalia ao do ho- no ventre com chicotes de pele de cabra no
mem. A infertilidade constituía um problema templo de Juno ou nas «Festas de Março»1.
preocupante mas, também diferentemente Só com o advento da supremacia militar e
do verificado em outras sociedades, não era científica das nações Árabes se iniciou, na
encarada como castigo divino. Embora reco- escola médica de Bagdad, o reconhecimen-
nhecendo a existência de causas masculinas, to de que a infertilidade poderia ser também
a Medicina do tempo dos Faraós dava tal re- masculina e estar relacionada com anoma-
levância à infecundidade da mulher, que era lias dos «espermas»1.
legítimo o recurso «terapêutico» às «concu- Na Idade Média, tempos de evidente progres-
binas», perpetuadas como símbolo de ferti- so artístico e intelectual mas sem equivalente
lidade pelas estatuetas de ofertas votivas1. evolução na área médica, o pensamento «clí-
Porém, a grei do tempo dos Faraós era única nico» continuou dominado pelos conheci-
para a época, e o cuidado com a procriação mentos herdados da civilização Helénica, nos
estava estritamente ligado a respeito pela fe- seus conceitos, métodos e no que respeita ao
minilidade, resultante do elevado estatuto da estatuto social da mulher. Na época medieval,
mulher na sociedade Egípcia. a procriação era uma necessidade absoluta e

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decorria dos benefícios da união matrimonial. fica1. A endocrinologia da reprodução dava
Também nestes tempos a ausência de fecundi- também os primeiros passos.

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dade estava impregnada de castigo divino e di- É difícil, e inapropriado neste contexto, des-
versos pecados, principalmente a transgressão crever com exaustão os tremendíssimos pro-
às leis do casamento, desencadeavam infertili- gressos ocorridos nos sécs. XX e início do XXI.
dade, eventualmente ultrapassável pelo jejum Apenas sintetizaremos que se verificaram em
e pela oração, ou invocando os santos, como quatro direcções:
Santa Ana, padroeira dos casais inférteis. 1. A do diagnóstico, a beneficiar de moder-
Foi necessário esperar até à Renascença para nas técnicas de imagem ultrassonográfi-
que os conceitos sobre procriação conheces- cas e endoscópicas, de rigorosos dosea-
sem desenvolvimento com relevo. Os fantásti- mentos hormonais por radioimunoensaio,
cos progressos artísticos, científico e das ciên- da identificação de anomalias genéticas
cias médicas ocuparam o primeiro plano e Vesa- que se iniciaram pelo cariótipo e hoje se
le, Leonardo da Vinci, Bartholomeu d’Eustachio, estendem, por intermédio da biologia
entre outros, «descobriram» a anatomia por molecular, aos genes, aos seus locus e às
observação e dissecção cuidadosas do corpo deleções/fragmentações do ADN.
humano, que escrupulosamente reproduzi- 2. A dos tratamentos cirúrgicos conservado-
ram em gravuras. Desvendaram os mistérios res e minimamente invasivos, com espe-
anatómicos do corpo feminino e Bartholomeu cialíssimo relevo para os espectaculares de-
d’Eustachio recomendava (1602): «após a rela- senvolvimentos da cirurgia endoscópica.
ção sexual, os maridos devem colocar os dedos 3. A da endocrinologia, que nos habilitou
no interior da vagina da mulher para facilitar a com fármacos que permitem manipular
concepção»1. Poder-se-á dizer que é o verda- completamente o eixo endócrino da mu-
deiro pai da ideia de inseminação artificial! lher, em particular suprimir, induzir e esti-
Os factos e a evidência viriam a questionar a mular a ovulação.
Medicina de fundamento transcendental e 4. A da reprodução medicamente assistida,
no séc. XVIII, à metodologia da observação foi com a extraordinária possibilidade de reali-
adicionada a estruturação do conhecimento e zar a fecundação in vitro e a microinjecção
a sua utilização em moldes de raciocínio cien- intracitoplasmática de esperamatozoides
tífico. Van Leeuwenhock descobriu o esperma- (ICSI), os protocolos para preparação do es-
tozóide, Naboth identificou a obstrução tubar, perma, os meios de cultura para maturação
John Hunter relatou a primeira inseminação e desenvolvimento de ovócitos e embriões,
com êxito e Smellin descreveu o processo de os avanços na criopreservação, a habilita-
fertilização. A mulher começa a ser objecto de ção para diferentes procedimentos que en-
um maior interesse e de uma alvorada de aten- volvem gâmetas e embriões associados às
ção que ajuda a compreender muitas situações mais evoluídas tecnologias de análise gené-
de infertilidade, o que no entanto apouca o tica por hibridação in situ por fluorescência
seu estatuto social e a torna automaticamente (FISH), sondas de ADN e reacção em cadeia
culpada dos impedimentos de procriação. por polimerase (PCR). Esta capacidade que,
O séc. XIX e o início do séc. XX ficaram mar- para já, é apenas de conhecer e identificar ao
cados por enormes progressos na Medicina nível dos genes, é o início de uma nova área,
e espectaculares avanços na área da Repro- cujo impacto sanitário e social determinará
dução Humana. Enquanto Sims, em 1868, uma nova era. A sua aplicação ao nível do
explicava a importância do exame micros- diagnóstico da transmissão de alto risco, do
cópico do esperma e realizava inseminações screening genético, da identificação da his-
«artificiais», Hunter descrevia o teste pós- tocompatibilidade dos antigénios de leucó-
coital e Rubin a insuflação tubar quimográ- citos humanos (HLA) ou da predisposição

4 Capítulo 28
para doenças de expressão tardia, é hoje em algumas situações da prática clínica a iden-
prática corrente e constitui a antecâmara de tificação de uma situação de infertilidade é

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um potencial inimaginável que, mais tarde imediata e óbvia sem necessidade de respeitar
ou mais cedo, ultrapassará a área do diag- esse decurso de tempo, como por exemplo em
nóstico individual para ganhar expressão na face de histórias de oligoamenorreia/anovula-
completa erradicação de patologias muito ção crónica ou de azoospermia já conhecida.
graves e na capacidade de terapia genética. Desde o ano 2000 que a mesma organiza-
Hoje, no dealbar do séc. XXI, não é difícil de ção assumiu a infertilidade como doença e
prever que em áreas como a da cirurgia mi- recomendou aos diferentes países europeus,
nimamente invasiva, continuarão a ocorrer através do Regional Office for Europe, que de-
desenvolvimentos resultantes da telemedici- terminem a sua prevalência e respectivas
na, da robotização ou das aplicações da in- causas, bem como estabeleçam adequadas
formática, mas que os grandes avanços terão capacidades de resposta médica e social.
inevitavelmente lugar no campo das ciências Também o Parlamento Europeu, em 2005,
e das tecnologias relacionadas com a repro- emanou resolução com sentido idêntico.
dução assistida e com a genética molecular. Para além das implicações individuais (depres-
Porque de facto estamos apenas a aprender são, ansiedade, hostilidade e perturbações da
de novo a anatomia, a fisiologia e a fisiopatolo- lucidez)2, a falência da reprodução é um im-
gia. A evolução tecnológica forneceu-nos, por portante problema de saúde pública, porque
intermédio da biologia molecular, os instru- se reveste de significativas repercussões so-
mentos necessários para estudarmos de novo ciais, económicas e demográficas. Recorde-se
as ciências fundamentais, só que ao nível dos a este propósito o panorama europeu, em que
genes, na sua disposição e inter-relação nos o número de crianças por mulher é insuficien-
cromossomas, nos mecanismos e factores que te para assegurar a curto prazo a substituição
estabelecem a sua expressão ou silenciamento das gerações. Em Portugal, em 2008, o cres-
e que determinam a existência de doença. cimento natural foi praticamente nulo, com
Um maior conhecimento do enredo que regu- uma taxa de crescimento efectivo de apenas
la o fenómeno implantatório e a possibilidade 0,09% e verificada à custa do crescimento mi-
de com ele interferir, bem como a capacidade gratório3. No mesmo ano, o indicador sintético
de congelar adequadamente ovócitos huma- de fecundidade (1,37) permaneceu inferior ao
nos conservando-lhes as virtualidades de de- nível de substituição de gerações3. Para este
senvolvimento pós-fertilização, para não falar cenário contribuem significativamente nume-
do enorme potencial que se poderá abrir com rosos casos de infertilidade, de que se verifica
a criopreservação e transplantação de tecido uma progressão crescente, e que coloca esta
ovárico ou com o controlo da diferenciação doença como um dos principais problemas
das células estaminais, são outras vertentes, de saúde das sociedades modernas.
em que são esperáveis enormes saltos quali- Os frutos do seu tratamento têm impacto
tativos num futuro não muito longínquo. demográfico, pois pode por exemplo referir-
-se que, correntemente, cerca de 3 a 4% das
crianças que nascem no continente europeu
2. DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, resultam de terapêuticas por procriação me-
FECUNDABILIDADE, INCIDÊNCIA dicamente assistida (PMA)4-6.
No exercício clínico é muito importante ter
A Organização Mundial da Saúde (OMS) de- uma noção correcta da fecundabilidade, isto
fine a infertilidade como a incapacidade de é, da probabilidade de concepção mensal
um casal conseguir gravidez após um ano de que, em casais normais, se situa nos 20-25%
relações sexuais sem contracepção. Claro que até aos 33-35 anos de idade da mulher, sendo

Infertilidade 5
referido um tempo médio de espera de 5-6 que no entanto se revelam inaplicáveis pe-
meses até ocorrer gravidez7,10,11. Avalia-se que los elevados custos logísticos e financeiros, a

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mais de 10% dos casais demorem um tempo que acrescem desvantagens metodológicas
superior a um ano a conceber12. importantes15,19. Em conjunto, estes escolhos
Assim, se em muitos casos não é necessário podem afectar a validade dos resultados.
esperar um ano para definir o casal como Por outro lado, os métodos de natureza re-
infértil ou subfértil, em outros, sobretudo de trospectiva, alicerçados em autopercepção e
mulheres jovens, é necessário conceder um posterior relato de dificuldade em engravi-
prazo razoavelmente alargado antes de ini- dar, são referidos como de baixa sensibilida-
ciar uma avaliação diagnóstica ou terapêu- de (58%) e associados a potenciais vieses de
tica intempestiva, porque muitas situações recrutamento, de memória, por reaplicação
serão apenas de subfertilidade não identifi- de questionários e pela influência de ten-
cada e resolver-se-ão espontaneamente. dências populacionais e de comportamen-
Clarificar o conceito de fecundabilidade é im- to15,20. Contudo, alguns autores referem que
portante, porque retirará ansiedade a muitos estes problemas podem ser parcialmente ou
casais com uma noção errada da rentabilidade totalmente ultrapassados com medidas im-
do processo de reprodução e aliviará expecta- plementadoras de qualidade17,19.
tivas pouco realistas de sucesso imediato, seja Estima-se que, no mundo Ocidental, a in-
por fecundação espontânea ou por recurso a fertilidade afecte cerca de 15% dos casais21.
tratamentos que apenas alcançarão taxas de Os resultados de diversos estudos, predomi-
êxito «mensais» entre os 20 e os 30%. nantemente dirigidos para a determinação
A infertilidade encontra-se em ascensão nos da prevalência da infertilidade ao longo da
países industrializados2,13, e em algumas re- vida e baseados em avaliações retrospecti-
giões a sua importância é tal que pode ter in- vas por autopercepção, citam, para a Europa,
fluência no desenvolvimento económico da valores que variam entre os 6,622 e os 26,4%23
população13. A informação pública tem sido (Quadro 1). Nos Estados Unidos da América
incrementada e suscitada uma maior aten- (EUA), um estudo recente refere uma preva-
ção para o aumento da prevalência10-12,14. lência de infertilidade corrente de 7,4%24.
No entanto, a exacta incidência da infertili- No entanto, é frequentemente referido que, na
dade é extremamente difícil ou mesmo im- Europa, cerca de 14% dos casais têm alguma
possível de conhecer, quer pelas diferentes forma de dificuldade em conceber14 e nos EUA
definições e critérios de avaliação utilizados cerca de 10% (1995) com um aumento de 20%
(ex.: infertilidade corrente ou infertilidade ao em sete anos (de 1982 a 1995)18. Em Portugal,
longo da vida), quer pelas grandes variações um estudo de 2009 concluiu que a prevalência
regionais e diferentes metodologias dos da infertilidade ao longo da vida se situa entre
múltiplos estudos (estudos demográficos, os 9 e os 10% e em idade reprodutora é de
inquéritos de base populacional em peque- 8%, não se verificando diferenças regionais da
nas comunidades, estudos clínicos)15-17. prevalência25. Assim, estima-se que, no país, en-
Assim, a investigação sobre prevalência é in- tre 266.088 a 292.996 mulheres (casais) tenham
fluenciada pela metodologia de avaliação, infertilidade ao longo da vida e que 116.630 a
pelo critério utilizado para elaborar o diag- 121.059 se encontrem em idade reprodutora.
nóstico12, pelas diferentes definições e ter- Somente 43 a 48% das mulheres com infertilida-
minologias utilizadas por diversos autores de ao longo da vida e 57 a 61% das actualmen-
(clínicos, epidemiologistas, especialistas de te em idade reprodutora recorrem a consulta
demografia)16,18. De acordo com alguns, os médica, com procura equivalente de serviços
métodos mais exactos para determinação da públicos e privados, calculando-se uma neces-
prevalência serão os de natureza prospectiva, sidade imediata de 21.343 ciclos de PMA25.

6 Capítulo 28
Quadro 1. Prevalência de infertilidade (Europa e EUA)

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Autores/ano Ano de realização Desenho do Amostra do Outcome Resultados
do estudo e local estudo estudo

Bhattacharya, Grampian, Estudo Taxa de resposta Prevalência de 17,5%


et al.26 Escócia retrospectivo de = 50,2% infertilidade ao 95% intervalo de
2007 base populacional 4.466 mulheres longo da vida confiança (IC) (16,3-
com amostra 31-50 anos (12 meses) 18,6%)
randomizada Auto-reportado

Terävä, et Finlândia Estudo Taxa de resposta Prevalência de 16%


al.27 1992-2004 retrospectivo de = 75,8% subfertilidade
base populacional 4.729 mulheres ao longo da vida
com amostra 25-64 anos (12 meses)
randomizada Auto-reportado

Rostad, et North Estudo Taxa de resposta Prevalência de 6,6%


al.22 Trondelagcounty, retrospectivo de = 86% infertilidade ao p < 0,01
Noruega base populacional 9.983 mulheres longo da vida
1985-1995 com amostra nulíparas e (12 meses)
randomizada multíparas Auto-reportado
50-64 anos

Olsen, et al.28 Europa Estudo Variação da taxa Prevalência de Total: 11,3%


(Dinamarca, retrospectivo de de resposta entre infertilidade ao Dinamarca: 16,8%
Alemanha base populacional 57% na Alemanha longo da vida Alemanha Ocidental:
Ocidental e com amostra e 88% na Polónia Auto-reportado 23,8%
Alemanha de randomizada 6.630 mulheres Alemanha de
Leste, Norte e Sul 25-44 anos Leste: 5%
de Itália, Polónia Norte de Itália: 24,8%
e Espanha) Sul de Itália: 8,8%
1991-1993 Polónia: 8,8%
Espanha: 12%

Buckett, et al.29 Shrewsbury, Reino Estudo Taxa de resposta = Prevalência de 17,3%


Unido retrospectivo de 72,9% infertilidade ao 95% IC (14,6-20%)
1995 base populacional 728 mulheres longo da vida (12
com amostra 45-55 anos meses)
randomizada Auto-reportado

Sundby, et al.11 South-Trøndelag, Estudo Taxa de resposta = Prevalência de 10,3%


Noruega retrospectivo de 78,5% infertilidade ao
1992-1993 base populacional 4.034 mulheres longo da vida (12
com amostra 40-42 anos meses)
randomizada Auto-reportado

Schmidt, et County of Estudo Taxa de resposta Prevalência de 15,7%


al.14 Copenhagen, retrospectivo de = 78% infertilidade ao
Dinamarca base populacional 2.865 mulheres longo da vida (12
1989 com amostra 15-44 anos meses)
randomizada Auto-reportado

Gunnell, et al.23 Somerset, Reino Estudo Taxa de resposta = Prevalência de 26,4%


Unido retrospectivo de 75,7% infertilidade ao 95% IC (24,6-28,2%)
1993 base populacional 2.377 mulheres longo da vida (12
com amostra 36-50 anos meses)
randomizada Auto-reportado

Stephen, et EUA Estudo transversal 15.303 mulheres Prevalência de 7,4%


al.24 2002 casadas infertilidade
15-44 anos corrente
Auto-reportado
Boivin, et al.30 Países mais Revisão 28 estudos Prevalência Países mais
desenvolvidos mediana de desenvolvidos: 9%
e países menos infertilidade Países menos
desenvolvidos corrente (12 desenvolvidos: 5-15%
1988-2005 meses)

Silva Carvalho, Portugal Estudo nacional 2.632 indivíduos Prevalência de 9,8%; 8,2%
et al.25 2009 retrospectivo com (1.909 mulheres; infertilidade ao
amostra aleatória 723 homens) longo da vida
estratificada e em idade
reprodutora

Infertilidade 7
3. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA9 3.1. AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAMES

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A importância dos vários factores de in- A estratégia de avaliação/orientação inicial
fertilidade varia consoante as populações do casal infértil tem como trave mestra a
estudadas, não podendo ser determinada procura da identificação e correcção das
com exactidão. Collins31 realizou uma aná- causas. Mesmo sabendo-se que muitas ve-
lise de 21 estudos e relata que, em cerca zes este desiderato não será alcançado, deve
de 15.000 casais inférteis, as perturbações resistir-se à tentação fácil de tudo ultrapas-
de ovulação ocorriam em 27%, o factor sar para conseguir um ilegítimo «êxito» de
masculino em 25%, o tubar em 22%, a en- curto prazo, em particular por recurso às
dometriose em 5% e outros factores em técnicas de PMA.
4%. A infertilidade inexplicada justificava Num contexto em que o apoio emocional
17% das situações. Por seu turno, em 2006, é vector importante, o fornecimento de in-
a Human Fertilisation and Embryology Au- formação rigorosa sobre a fisiologia da re-
thority (HFEA) cita a seguinte proporção: produção, sobre a doença que impede de
vários factores masculinos 32,5%; todos procriar e suas causas, são tão relevantes
os factores femininos 32,5% (doença tubar quanto a definição dos momentos e perfis
15,3%; anomalias ovulatórias 8,4%; facto- em que as investigações e tratamentos de-
res múltiplos 5,5%; endometriose 2,9%; vem terminar ou, pelo contrário, têm de ser
uterino 0,4%); factores femininos e mascu- acelerados. Uma idade feminina superior a
linos múltiplos 10,8%; inexplicada 23,1%; 35 anos, uma história de oligo/amenorreia,
outros 1,1%. antecedentes de endometriose, história
Nunca foi demonstrado que hipotéticas suspeita de doença uterina ou tubária, co-
situações, como de anticorpos antiesper- nhecimento de subfertilidade do parceiro,
matozóide, insuficiência luteínica, infecção alterações no exame físico em particular
genital subclínica, subtis anomalias endó- indiciadoras de endometriose ou infecção,
crinas de hipotiroidismo ou hiperprolacti- são apenas alguns exemplos de situações
nemia em mulheres com ciclos ovulatórios, que deverão motivar uma avaliação rápida
fossem causa de infertilidade e não exis- e completa ou mesmo o início imediato de
tem estudos prospectivos randomizados terapêutica.
que demonstrem que o tratamento destas A avaliação inicial assenta em cinco «pilares»
entidades nosológicas proporcione um au- fundamentais:
mento da fecundidade. Muitas das doentes 1. História clínica e exame físico (com co-
com anomalias subtis serão hipoférteis, lheita para citologia cervical).
pelo que apenas demorarão um pouco 2. Análises gerais de pré-concepção, in-
mais de tempo a conceber. Contudo, uma cluindo serologias das doenças infeccio-
vez identificada a existência de perturba- sas e doseamentos hormonais, ao 2.o/3.o
ção da fertilidade, a avaliação diagnósti- dia do ciclo.
ca deve ser completada tão rapidamente 3. Histerossalpingografia.
quanto possível. 4. Ultrassonografia pélvica transvaginal.
Convém salientar que, para além de a infer- 5. Espermograma.
tilidade ser frequentemente multifactorial, Na primeira consulta, o casal será informa-
a metodologia de avaliação diagnóstica de do acerca da fecundabilidade normal e de
âmbito clínico não conseguirá detectar a(s) como fica alterada com o progredir da idade
causa(s) em 10 a 20% das situações, que ine- da mulher ou com uma duração de infertili-
vitavelmente serão classificadas de infertili- dade superior a três anos. Deve também ser
dade inexplicada. fornecida informação sobre a finalidade dos

8 Capítulo 28
diferentes exames de diagnóstico, o prog- aos seguintes pontos: idade da mulher; du-
nóstico e os diversos tipos de tratamento. As ração da infertilidade; exames e tratamentos

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possíveis causas necessitam de ser referidas, anteriores; regularidade/irregularidade dos
não esquecendo que, mesmo após a utiliza- ciclos menstruais; complicação de eventual
ção de todos os meios clínicos de diagnósti- gravidez anterior; tempo e método de con-
co, em 10 a 20% das situações pode ser im- tracepção prévia (dispositivo intra-uterino
possível identificar o principal factor. [DIU]); antecedentes de infecção ou cirurgia
Muitas vezes, é necessário ensinar que a abdominopélvica; dismenorreia significati-
fecundabilidade pode ser aumentada pela va, adquirida ou com posterior aumento de
orientação das relações sexuais para a fase intensidade; dispareunia; hipermenorreia;
pré-ovulatória do ciclo genital, porque, após disfunção sexual; exame citológico cervical
a captação pela trompa, o ovócito se desin- anormal ou prévio tratamento de patologia
tegra em menos de um dia, enquanto que do colo uterino; medicações habituais, dro-
os espermatozóides mantêm capacidade de gas, tabaco e exposição a tóxicos/radiações.
fertilização até 72 horas, pelo que é aconse- Nos antecedentes familiares é importante
lhável que se encontrem presentes na parte não esquecer as doenças genéticas, as mal-
superior do aparelho genital feminino no formações e, de forma muito importante, a
momento da chegada do ovócito. Wilcox idade da menopausa dos elementos femini-
demonstrou que a probabilidade de gravi- nos da família.
dez era muito superior se as relações sexuais É também importante não esquecer sinto-
ocorressem no dia da ovulação, ou um a dois mas e sinais sugestivos de doenças endócri-
dias antes, do que quando se concretizavam nas como galactorreia, alterações do peso,
em dias posteriores32. Assim, é de aconselhar pele, pilosidade, etc.
como timing óptimo para actividade sexual, O exame físico deve dispensar particular
ou para realização de inseminação, o dia an- atenção a estes aspectos e à massa corpo-
terior ao da ovulação, sem esquecer que o ral, ao tamanho e morfologia da tiróide, às
pico de hormona luteinizante (LH) (eventual secreções mamárias, à posição do útero, à
identificação urinária) ocorre nesse dia. Com dor abdominal ao exame pélvico, em par-
este objectivo, o gráfico de temperatura ba- ticular se despertada por dificuldades de
sal não tem qualquer interesse e deve ser mobilização uterina, exploração do fundo
desaconselhado33. de saco posterior e dos ligamentos útero-
sagrados, ou por palpação anexial. Também
3.1.1. HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO a exploração da cavidade vaginal, dos fun-
dos de saco e do colo do útero, assumem
A colheita da história do elemento mascu- relevo. É importante salientar que o exame
lino deve incluir entre outros: antecedentes ginecológico continua a ser um dos princi-
de patologias e infecções; traumatismos, ris- pais meios de avaliação da infertilidade e,
cos profissionais, exposição a tóxicos/radia- muitas vezes, fornece a chave para o diag-
ções/calor; estilo de vida e medicações ha- nóstico. Para além de eventuais patologias
bituais; cirurgias anteriores; história familiar ou leucorreias cervicais observáveis ao es-
de dificuldade reprodutiva, atraso mental e péculo, a detecção de uma retroversão ute-
defeitos congénitos. rina fixa, de um útero difícil de mobilizar ou
A história feminina deve ser colhida cuidado- doloroso à mobilização, de nodulações dos
samente, pois esta é, talvez, a área da gineco- ligamentos útero-sagrados, de nodulação
logia em que o interrogatório clínico tem um do septo rectovaginal, de empastamento
papel mais importante. Para além dos aspec- dos fundos de saco posterior ou laterais,
tos habituais, deve ter-se particular atenção são bons exemplos de prováveis causas de

Infertilidade 9
infertilidade por endometriose ou por se- O estudo analítico endocrinológico justifi-
quelas de doença inflamatória pélvica, que ca-se nas mulheres com mais de 35 anos de

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dificilmente serão identificadas por exames idade ou nas que evidenciem sintomas (oli-
auxiliares de diagnóstico. gomenorreia/amenorreia) ou sinais clínicos
A realização de ultrassonografia transvaginal, (obesidade, hirsutismo, etc.) de disfunção en-
em simultâneo com o exame ginecológico, dócrina. Deve contemplar: TSH, T3 e T4 livre;
pode confirmar ou fornecer elementos adi- hormona folículo-estimulante (FSH), LH, PRL;
cionais de detecção de patologias uterinas estradiol; androstenodiona e testosterona li-
como fibromiomas, avaliação da espessura vre; 170HP, DHEASO4 e eventualmente corti-
endometrial e sua relação com o momento do sol e insulina. Estes doseamentos devem ser
ciclo em que o exame é efectuado, detecção efectuados no 2.o ou 3.o dia do ciclo para que
de tumores pélvicos, avaliação das dimensões os valores de FSH e de estradiol possam ser
e morfologia ováricas, património folicular, valorizados como marcadores indirectos da
eventual aspecto micropoliquístico, presença reserva ovárica. Um valor de FSH superior a
de quistos «simples» ou de endometriose. 15 mU/ml sugere reserva ovárica diminuída
Deve certificar-se a existência de rastreio e indicia mau prognóstico. Um valor de estra-
citológico cervical recente com resultado diol superior a 70 pg/ml ao 2.o ou 3.o dia torna
normal. de difícil interpretação o valor de FSH e o de
E2 pode ser encarado como marcador inde-
3.1.2. ANÁLISES pendente, apontando também reserva ovári-
ca diminuída e portanto mau prognóstico9.
Na mulher jovem, saudável, assintomática e O rastreio das doenças infecciosas, para além
com ciclos regulares, é suficiente a solicitação do incluído nas serologias dos exames analí-
de exames analíticos que contemplem o he- ticos básicos de pré-concepção, só deve ser
mograma com grupo sanguíneo e factor Rh e solicitado de forma selectiva.
as análises básicas incluindo as serologias ha- Qualquer anomalia encontrada na história
bituais no estudo de pré-concepção. A avalia- clínica, no exame físico ou nos exames mais
ção por rotina da função tiroideia por hormo- preliminares, como na avaliação da ovula-
na tireo-estimulante (TSH), T3 e T4 livre, bem ção ou no espermograma, deve ser corrigi-
como da prolactina (PRL), em mulheres com da antes da realização de exames auxiliares
ciclos ovulatórios regulares, é de utilidade du- adicionais, caros e invasivos. Estes, justifi-
vidosa. Os resultados são habitualmente nor- car-se-ão apenas perante suspeição espe-
mais e, mesmo na presença de algum grau de cífica. Por exemplo, se na história clínica se
anomalia, desde que a mulher tenha ciclos salienta oligomenorreia e o resultado do
ovulatórios regulares, é provável que as alte- espermograma é normal, deverá ser insti-
rações detectadas não tenham qualquer re- tuída sem delongas terapêutica de indução
lação com a infertilidade. Nestas mulheres, os da ovulação com citrato de clomifeno, antes
tratamentos efectuados com extracto tiroideu da realização de outros exames auxiliares,
e bromocriptina não mostraram aumentar a porque em 50% dos casos ocorrerá gravidez
probabilidade de concepção quando com- nos três primeiros ciclos ovulatórios. Porém,
parado com as que não efectuaram qualquer se a história clínica levanta suspeita de in-
terapêutica9. Por outro lado, mulheres com fecção pélvica anterior ou de patologia tu-
anovulação e hipotiroidismo, ou hiperprolac- bar, a histerossalpingografia tem indicação
tinemia, beneficiam com tratamento de subs- imediata, bem como nas situações em que
tituição da função tiroideia ou com agonistas não exista qualquer facto relevante na his-
da dopamina, estando demonstrado um reas- tória e os exames previamente realizados se
sumir da ovulação e da fecundidade. afigurem normais.

10 Capítulo 28
3.1.3. HISTEROSSALPINGOGRAFIA indicada a realização de FIV, o que, no caso
da patologia em referência, exige salpingec-

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A histerossalpingografia permanece como tomia laparoscópica prévia, nomeadamente
um exame fundamental na avaliação do ca- se o hidrossalpinge for visível em ultrassono-
sal infértil. Deve ser requerida nas situações grafia, já que a presença desta lesão tubar faz
de suspeição de patologia uterina, tuboperi- diminuir as taxas de sucesso da fecundação
toneal, ou se a avaliação preliminar não for- in vitro em cerca de 40% (Figs. 1 a 7).
neceu informação imediata com relevo. Não
deverá ser realizada nos contextos de doen-
ça inflamatória pélvica aguda recente ou de
patologia infecciosa suspeitada pelo exame
ginecológico. É boa prática a prescrição de
antibioterapia profiláctica para realização
do exame histerossalpingográfico, que se
torna obrigatória se este revelar a existência
de hidrossalpinge. Independentemente dos
aspectos de diagnóstico, este teste auxiliar
pode ter efeito terapêutico por remoção de
secreções que ocluam o lume tubar ou pela
promoção da rotura de pequenas aderên-
cias das fímbrias.
A histerossalpingografia permite avaliar a
anatomia e a morfologia da cavidade uteri-
na, as suas eventuais anomalias, a existência
de patologia intracavitária, e objectivar o de-
senho, trajecto e permeabilidade das trom-
pas. Em caso de doença, possibilita ainda Figura 1. Útero bicórneo (eventualmente septado)
avaliar a magnitude do processo patológico
e fornece informação sobre a existência de
hidrossalpinge, de sequelas de tuberculose
ou de salpingite ístmica nodosa.
Há que ter em conta a frequente ocorrência
de falsos positivos (cerca de 50%)9, uni ou
bilaterais, e que o exame não fornece infor-
mação quanto à existência de aderências
peritubares ou sobre «pequenos» processos
patológicos que perturbam a motilidade e
função das trompas que, como na endome-
triose, apenas podem ser diagnosticados por
laparoscopia. A mesma prudência de juízo
se aplica também em relação a pequenas e
subtis anomalias da cavidade uterina apenas
diagnosticáveis por histeroscopia34,35.
Se a histerossalpingografia identificar uma
patologia importante da trompa, como o
hidrossalpinge, tendo em conta as baixas ta-
xas de sucesso da cirurgia reconstrutiva, está Figura 2. Sinequias corporais e cervicais

Infertilidade 11
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Figura 3. Cavidade uterina normal; trompas normais e Figura 6. Útero septado (eventualmente bicórneo) com
permeáveis obstrução tubar direita e hidrosalpinge esquerdo

Figura 4. Útero unicórneo Figura 7. Hidrosalpinge esquerdo


(Histerosalpingografias por cortesia de Campos Costa)

3.1.4. ULTRASSONOGRAFIA

Por se tratar de um exame não-invasivo e fá-


cil de realizar, a ultrassonografia, em particu-
lar transvaginal, assume lugar de 1.a linha na
avaliação do casal infértil.
A ultrassonografia transabdominal exige
bexiga preenchida, mas tem a vantagem de
fornecer uma imagem orientada, útil na defi-
nição da relação entre as estruturas pélvicas.
No entanto, a observação de áreas mais espe-
cíficas exige a realização da ultrassonografia
Figura 5. Duplicidade uterina ou septo completo transvaginal, que permite uma avaliação mais

12 Capítulo 28
fiável e não-invasiva dos órgãos pélvicos. O
exame ganhou um estatuto de procedimento

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de rotina, quer no estudo da avaliação de base
quer na monitorização da terapêutica. Asso-
ciado ao Doppler a cores acrescenta informa-
ção sobre a perfusão útero-ovárica36,37 e pode
ter valor prognóstico da implantação embrio-
nária em ciclos fertilização in vitro (FIV).
De uma forma genérica, pode dizer-se que a
ultrassonografia transvaginal fornece infor-
mações úteis sobre a anatomia, morfologia,
dimensões e posição uterinas. Permite a ava-
liação dos ovários em termos da sua locali-
zação, dimensões, volume e número de fo- Figura 8. Ultrassonografia – útero septado (cortesia de
lículos antrais, e é precioso meio auxiliar de Campo R, Leuven Institute for Fertility and Embryology [LIFE]).
controlo dos tratamentos. É assim indispen-
sável, possibilitando ainda o diagnóstico de
anomalias congénitas, pólipos, fibromiomas, Fibromiomas
hidrossalpinges, quistos ováricos, endome- São o tumor benigno mais frequente do
triomas e ovários micropoliquísticos. aparelho genital feminino e podem estar
associados a infertilidade ou abortamento
Malformações uterinas precoce. Apesar de os fibromiomas apre-
As anomalias mullerianas podem ocorrer em sentarem uma considerável variabilidade
1 a 5% das mulheres, mas apenas 20% são de imagem ultrassonográfica, a ecografia
inférteis38,39. A ultrassonografia, interpretada transvaginal é muito útil na avaliação dos
em conjunto com a histerossalpingografia, médios/pequenos miomas intramurais, sub-
eventualmente coadjuvadas pela resso- mucosos ou cervicais40 (Figs. 9 e 10). Já não é
nância magnética (RM), é útil na clarificação tão interessante no estudo dos fibromiomas
destas patologias. A histerossalpingografia pediculados ou de intensa ecogenicidade,
tem mais acuidade na definição da forma e mas é essencial na definição do grau de en-
dos contornos da cavidade uterina. Contudo, volvimento miometrial e da relação com a
quando utilizada isoladamente pode originar cavidade uterina.
dificuldades de distinção entre útero septado
e bicórneo. Se combinada com a ultrassono-
grafia transvaginal, a acuidade diagnóstica é
aumentada, situando-se nos 90%. A ultrasso-
nografia, bem como a RM, contribuem para
uma melhor definição dos contornos exter-
nos do útero e para clarificação da espessura
e extensão dos septos (Fig. 8). Por seu turno, o
útero bicórneo apresenta uma configuração
caracteristicamente côncava e lobulada do
contorno externo, associada a um aumento
de distância intercornual. No entanto, este
tipo de malformações apenas poderá ser es-
clarecido com exactidão pela realização con- Figura 9. Ultrassonografia – fibromioma submucoso
junta de histeroscopia e laparoscopia. (cortesia de Campo R, LIFE).

Infertilidade 13
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Figura 10. Ultrassonografia: fibromiomas

Endometriose
Em ultrassonografia, a endometriose tem
uma aparência diversificada. Do largo es-
pectro de apresentações da doença, ape-
nas os endometriomas ováricos podem
ser identificados com acuidade. Eventuais
septações, loculações, espessura variável
da parede do quisto, são aspectos ultrasso-
nográficos ocasionais, predominando uma
massa hipoecóica, homogénea, com ecos
internos de baixa densidade, que parecem
reflectir a degradação de produtos sanguí- Figura 11. Ultrassonografia: endometrioma ovárico.
neos (Fig. 11). No entanto, estes achados
não são específicos e, em algumas ocasi-
ões, é difícil de distinguir o endometrioma Ovários micropoliquísticos
do abcesso tubo-ovárico, do teratoma, do São normalmente ovários aumentados de vo-
quisto hemorrágico ou do cistadenoma lume por virtude de aumento da quantidade
mucinoso. Mais importante é a dificuldade/ de estroma. Os critérios de diagnóstico ultra-
impossibilidade da identificação dos im- ssonográficos são variáveis, embora sempre
plantes de endometriose da pelve, que não mais fundamentados no número e distribui-
são visíveis por ultrassonografia transvagi- ção de folículos antrais visíveis. O aspecto mais
nal. É por esta razão que a ultrassonografia característico é o da visualização de inúmeros
desempenha um papel limitado na endo- folículos em fase pré-antral/antral, dispostos à
metriose, revelando uma sensibilidade de periferia ou no interior de um estroma denso
apenas 11% quando comparada com a la- e volumoso42 (Fig. 12). Os critérios habituais
paroscopia41. Recentemente, alguns grupos exigem a visualização de 10 a 20 «quistos»43.
têm desenvolvido técnicas de abordagem Este aspecto «poliquístico» é frequente em
transrectal para avaliação dos nódulos de mulheres «normais» (20%), sendo no entan-
endometriose do septo rectovaginal. to mais frequente nas inférteis (33%)44,45.

14 Capítulo 28
outro lado, um endométrio de fina espessu-
ra com ausência de distensão da cavidade

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após introdução de soro fisiológico, pode
alertar para a existência de sinequias. Qual-
quer destas patologias deve ser objecto de
clarificação por histeroscopia (Figs. 14 a 17).
A ultrassonografia a duas dimensões permite
a observação transversal e longitudinal dos
órgãos pélvicos. A visão frontal introduzida
pela 3.a dimensão possibilita uma inspecção
mais detalhada da morfologia uterina e uma
Figura 12. Ultrassonografia: ovário micropoliquístico. melhor observação da cavidade, sendo útil
na distinção do útero bicórneo com o sep-
tado, dos fibromiomas e dos pólipos, e para
Embora muitas situações sejam assintomá- determinação do seu grau de interferência
ticas, o ovário micropoliquístico é a causa com o endométrio.
mais frequente da infertilidade anovulatória.
Pode ser considerado integrante de uma sín-
drome quando à típica imagem ecográfica
se associa hiperandrogenismo, anovulação
crónica e relação LH/FSH elevada, isto é, su-
perior a 2 para 1. Independentemente da sua
participação na síndrome, a identificação de
ovários micropoliquísticos na avaliação ul-
trassonográfica de base é relevante, não só
para correcção da anovulação/disovulação,
mas como elemento de alerta para risco de
resposta excessiva à estimulação ovárica46. A
associação do Doppler a cores e a verificação
de uma velocidade de fluxo aumentada no Figura 13. Histerossonografia – fibromioma submucoso
estroma pode significar que, na presença de ou pólipo intracavitário (cortesia de Campo R, LIFE).
uma mesma dose de gonadotrofinas, maior
quantidade de fármaco atingirá as células-
alvo justificando o aumento da resposta
ovárica e o risco de hiperestimulação.
Também a medida da velocidade de fluxo
máximo no estroma na fase folicular, pode
ser útil como parâmetro preditivo da res-
posta ovárica nos tratamentos de fecunda-
ção in vitro47.

Endométrio
O aumento da espessura do endométrio
pode ser motivado pela presença de um pó-
lipo ou de um fibromioma submucoso, cuja
imagem melhorará com a instilação de soro Figura 14. Mini-histeroscopia – sinequias uterinas (cor-
fisiológico na cavidade uterina (Fig. 13). Por tesia de Campo R, LIFE).

Infertilidade 15
3.1.6. LAPAROSCOPIA

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Quando a extensão da doença tubar não pode
ser completamente avaliada por histerossal-
pingografia ou o diagnóstico é duvidoso, de-
verá ser considerada a realização de laparos-
copia diagnóstica, de preferência na primeira
fase do ciclo. Embora seja gold standard para
avaliação da doença tubária, a laparoscopia
diagnóstica não tem uma indicação de 1.a linha
na avaliação do casal infértil, por se tratar de
Figura 15. Mini-histeroscopia – sinequias uterinas um exame com elevados custos, invasivo, que
requer anestesia geral e ambiente operatório.
Assim, apenas deverá ser considerada quando
for necessário completar o estudo da anato-
mia e permeabilidade das trompas, esclarecer
malformações uterinas ou perante a suspeita
de aderências pélvicas ou endometriose.
Os endometriomas ováricos são, em 1.a linha,
diagnosticados por ultrassonografia transva-
ginal, pelo que, se a ultrassonografia identi-
ficar ovários normais em conjunto com ima-
gens histerossalpingográficas sem patologia,
é pouco provável que existam aderências pél-
vicas que perturbem a função da trompa, em
Figura 16. Mini-histeroscopia – fibromioma submucoso particular num contexto de normalidade do
título de anticorpos anticlamídia.
Em mulheres sem história de salpingite,
sem sintomas de dismenorreia, com exame
ginecológico normal e título de anticorpos
anticlamídia também normal, a probabili-
dade de encontrar aderências peritubares
na laparoscopia com importância suficiente
para serem causa de infertilidade, é inferior a
5%9. Nestes casos, em idades femininas infe-
riores a 35 anos e espermograma com mais
de cinco milhões de espermatozóides mó-
veis, pode iniciar-se a abordagem com um
ou dois ciclos de estimulação ovárica ou de
inseminação uterina, antes de propor a reali-
Figura 17. Histeroscopia – pólipo intracavitário (cortesia zação de laparoscopia diagnóstica.
de Fradique A, Hospital dos Lusíadas). Se vier a estar indicada, a concomitante pro-
va de azul-de-metileno permitirá verificar
a permeabilidade das trompas, bem como
3.1.5. ESPERMOGRAMA tratar de imediato algumas patologias (ade-
rências pélvicas, endometriose, drilling de
Ver 3.4. Avaliação Masculina, página 24 ovários micropoliquísticos) (Figs. 18 a 21). É

16 Capítulo 28
aconselhável realizar também histeroscopia
diagnóstica no mesmo tempo operatório, de

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preferência em fase folicular, antes que um
crescimento endometrial máximo introduza
factores de dificuldade de visualização.

Figura 21. Laparoscopia – drilling dos ovários.

3.1.7. HISTEROSCOPIA
Figura 18. Laparoscopia – prova de azul-de-metileno
(cortesia de Faustino F, Hospital da Luz) Sendo o método gold standard de diagnós-
tico e terapêutica da patologia intra-uteri-
na, não é de 1.a linha na avaliação inicial do
casal infértil. No entanto, é imprescindível
para clarificação das patologias que envol-
vam a cavidade uterina detectadas pelos
métodos de imagem indirecta a preto e
branco.
É também muito importante no estudo
das situações de infertilidade inexplicada
e nas de abortamento de repetição ou de
insucesso em FIV, em que pequenas e sub-
tis anomalias intra-uterinas escapam ao
Figura 19. Laparoscopia – aderências pélvicas (cortesia diagnóstico por outros meios (Figs. 14 a 17
de Fradique A, Hospital dos Lusíadas). e 33 a 35).

3.1.8. OUTROS EXAMES

Na avaliação inicial do casal infértil, são por


vezes adicionados aos exames de 1.a linha
outros, que teoricamente contribuiriam
para identificar possíveis factores causais:
— Doseamento sérico da TSH, hormonas ti-
roideias e PRL em mulheres ovulatórias.
— Biopsia do endométrio em fase luteínica.
— Medição de anticorpos anti-espermato-
zóide, quer no homem quer na mulher.
Figura 20. Laparoscopia – endometriose (cortesia de — Bacteriologia do muco cervical e do sé-
Faustino F, Hospital da Luz). men.

Infertilidade 17
A contribuição destes exames para identifi- de avaliação histológica, bem como por va-
cação de factores causais, bem como o in- riabilidade intra e interobservador de inter-

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teresse da correcção das anomalias por eles pretação dos critérios de Noyes33.
detectadas, são questionáveis, não estando Em conclusão, o diagnóstico de insufici-
demonstrado aumento da fertilidade com ência luteínica, quando utilizados isolada-
o seu presumível diagnóstico ou tratamen- mente parâmetros histológicos subjectivos
to. Assim, a necessidade da sua inclusão e a de avaliação da maturação do endométrio
relação custo/benefício na avaliação inicial obtido por biopsia, é impreciso, efectuado
do casal infértil são duvidosas. com a mesma frequência em mulheres fér-
teis e inférteis, pelo que a identificação de
Hormona tireo-estimulante, hormonas diversos graus de maturação endometrial
tiroideias e PRL em mulheres ovulatórias deve ser encarada como variante biológi-
Ver páginas 10 e 49 ca, não podendo ser utilizada como crité-
rio de diagnóstico único de insuficiência
Biopsia do endométrio luteínica ou de maturação endometrial
(insuficiência luteínica) insuficiente.
Embora a insuficiência luteínica seja, desde A mesma conclusão é aplicável aos dosea-
há muitos anos, apontada como causa de mentos isolados de progesterona quando
infertilidade, esta entidade nunca foi clara- utilizados como parâmetro único de diag-
mente definida nem a sua responsabilidade nóstico de insuficiência luteínica.
inequivocamente demonstrada. O diagnós-
tico de insuficiência luteínica é habitualmen- Anticorpos de aglutinação e de
te estabelecido pela constatação de níveis imobilização dos espermatozóides
séricos de progesterona inferiores a 10 ng/ Foram identificados no soro de mulheres
ml, 6/7 dias antes da menstruação, ou pela férteis e inférteis, não estando demonstra-
identificação de um atraso na maturação do do que sejam causa de infertilidade9. Uma
endométrio obtido por biopsia. das razões para a inexistência de relação
O diagnóstico histológico exige a consta- dos anticorpos séricos com a infertilidade é
tação de um atraso de três ou mais dias na o facto de eles serem predominantemente
transformação secretora do endométrio IGG e IGM, enquanto os anticorpos produzi-
(critérios de Noyes) em relação ao esperado dos no tracto genital inferior são predomi-
para o momento da fase luteínica em que a nantemente IGA.
biopsia foi realizada (fase média ou terminal Lobo9 cita quatro estudos prospectivos em
da 2.a metade do ciclo). O resultado deve ob- que não foi encontrada qualquer relação en-
servar-se em mais de dois ciclos. tre a presença de anticorpos antiespermato-
O valor deste procedimento é muito discu- zóide em qualquer dos membros do casal e
tível, por exemplo porque é muito difícil, ou a probabilidade de concepção. As taxas de
mesmo impossível, distinguir entre atraso de gravidez foram similares nos casais com pre-
maturação endometrial por produção dimi- sença destes anticorpos e nos que a não re-
nuída de progesterona ou por insuficiente velaram. A terapêutica com corticosteróides
recepção/resposta endometrial aos estímulos não acarretou qualquer benefício.
da hormona. Peters, et al.48 demonstraram, Assim, não se justifica a realização de qual-
que os atrasos da maturação endometrial ava- quer exame para detecção de anticorpos an-
liados por histologia ocorriam com a mesma tiespermatozóide como parte do conjunto
frequência em mulheres férteis e inférteis. de avaliação do casal infértil, e poder-se-á
Os erros de diagnóstico podem também concluir, que a presença destes anticorpos
ocorrer por virtude de diferentes critérios não afecta a fecundidade.

18 Capítulo 28
3.2. IDADE FEMININA Também um estudo realizado em 2.193 situa-
ções cuja infertilidade era unicamente devida

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Nos nossos dias, a tendência geral caracte- a azoospermia e que foram tratadas por inse-
riza-se pelo protelar da primeira gravidez minação com esperma de dador, revela uma
para idades tardias na vida da mulher, por diminuição da percentagem de gestações à
razões várias, designadamente de natureza medida que se eleva a idade da mulher, no-
socioeconómica e profissional, seguindo-se meadamente para além dos 30 anos58.
uma exigência de concretização imediata A magnitude do problema é tal que alguns
de fecundidade. autores pensam que o importante aumento
Nem um nem outro aspecto se ajustam do número de casais inférteis não é devido
muito às características do processo de a crescente incidência de causas e riscos,
reprodução humana! Ele é de baixa renta- mas apenas a uma progressiva tendência de
bilidade e requer tempo para se realizar. A adiamento da primeira gravidez para a 4.a
fecundidade média mensal em cônjuges década da vida54.
«normais» ronda os 20%49-51 e estudos rea- Já se referiu que o processo de reprodução
lizados em situações de abandono do DIU humana é em si mesmo um processo de
por desejo de gravidez mostram um tempo baixa rentabilidade (20-25% por ciclo)51, ava-
médio de espera de 5/6 meses até ocorrer liando-se que 10 a 35% dos casais demore
concepção. Um modelo de análise mate- mais de um ano a conceber52,59. Ora, o avan-
mática aplicado a casais de fecundidade çar da idade agrava a morosidade, condicio-
«normal», calcula que em três meses apenas nando uma diminuição de fecundidade e da
metade conseguirá o objectivo e somente probabilidade de concepção/mês54,60, o que
ao fim de um ano 90% terão alcançado os significa que demorará mais tempo a uma
seus intentos49,52. mulher de idade superior a 30 anos a fecun-
Por outro lado, ocorre um indiscutível declí- dar e conseguir uma gravidez com evolução
nio da fecundidade da mulher com o avan- normal e recém-nascido vivo e saudável que
çar da idade, nomeadamente a partir dos a uma mais jovem. Acresce que o decorrer
30 anos53,55-58,62. A análise de registos anuais do tempo é, também por si só, factor de di-
dos EUA mostra que a proporção de casais minuição da fecundidade, referindo-se que
presumivelmente férteis que não conse- aos cinco anos sem ocorrência de gravidez, a
guem gravidez aumenta progressivamente fecundidade média é de cerca de 0,4%61.
com a idade feminina e de forma mais sig- Por outro lado, estas mulheres dispõem tam-
nificativa a partir dos 30 anos (Quadro 2)55. bém de menos tempo útil para realizarem a

Quadro 2. Proporção de casais inférteis em função da idade da mulher (média de três


registos dos EUA)
Idade feminina (anos) Inférteis (%)
20-24 7,0

25-29 8,9

30-34 14,6

35-39 21,9
40-44 28,7
55
Adaptado de Menken, et al.

Infertilidade 19
sua capacidade reprodutiva, o que muitas De facto, o problema poderá localizar-se
vezes origina uma significativa impaciência em três vertentes difíceis de dissociar e de

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e uma tendência para exigir que uma vez provável existência conjunta ou mesmo
«ligado» o sistema reprodutivo ele funcione complementar: prejuízo da fecundação, da
de imediato, pedindo-se-lhe uma eficácia e implantação, aumento da perda de embri-
rentabilidade que de facto não possui. As- ões. Sendo estes factores indissociáveis, a
sim, o atrasar da concepção para idades mais importância individual é variável no juízo de
tardias na vida da mulher aumenta significa- diversos investigadores.
tivamente a probabilidade da ocorrência de No entender predominante, a «idade ovári-
dificuldades reprodutivas. Por dois motivos: ca» é de primordial importância, sendo por
porque a incidência da infertilidade aumen- vezes mais informativa que a cronológica. O
ta com a idade e porque o tempo disponível avançar do tempo condiciona uma diminui-
para ocorrência de concepção é menor. ção da quantidade e qualidade ovocitárias.
À diminuição da probabilidade de concep- Este «envelhecimento» pode ser indiciado
ção há que adicionar o aumento de risco pelo doseamento de FSH ao 2.o/3.o dia do
de acidentes da gravidez com o evoluir da ciclo, entendido como marcador do estado
idade, com consequências que serão mais funcional e portanto da idade do ovário,
graves nos casais de fecundidade moderada com valor prognóstico na fecundidade es-
ou hipoférteis. Nestes casos, adiar a gravidez pontânea, nas características de estimulação
dos 30 para os 35 anos significa aumentar o e no sucesso das técnicas assistidas74-77.
número de inférteis ao fim de três anos de 29
para 250 por cada 1.000 mulheres54. 3.3. OVULAÇÃO
Porém, outros autores referem que é a partir
dos 35 anos que se verifica um maior declí- A identificação de ocorrência ovulatória re-
nio da fecundidade atingindo-se níveis míni- gular é um aspecto primordial na avaliação
mos aos 4562-64. das situações de infertilidade. Há no entan-
À diminuição da capacidade de reprodução to que distinguir dois aspectos: a detecção
natural com o decorrer do tempo corres- da ovulação, isto é, a classificação de um
ponde também um aumento de insucesso ciclo como ovulatório/anovulatório e a de-
dos tratamentos da infertilidade, incluindo terminação da ovulação, ou seja, o reconhe-
a inseminação artificial por dador56,62,65 e a cimento do dia em que ocorreu o fenómeno
fecundação in vitro61,66-72 (Fig. 22). ovulatório33.
O progressivo declínio da fecundidade em A mais importante informação sobre a
função da idade comporta diversos factores existência de ciclos ovulatórios é fornecida
e só em parte pode ser atribuído à conhecida pela história clínica, com a referência a ci-
diminuição da resposta folicular aos estímu- clos menstruais regulares. Contudo, a prova
los gonadotróficos. Neste campo, não está indiscutível de ovulação apenas pode ser
completamente esclarecida a importância re- obtida pela ocorrência de gravidez ou pela
lativa dos diferentes componentes do apare- recolha de um ovócito da trompa ou do
lho reprodutor. Se a evidência clínica parece fundo de saco de Douglas. Assim, os meios
mostrar que as primeiras deficiências ocor- habitualmente disponíveis para detecção da
rem no «sector ovárico», quer no desenvolvi- ovulação apenas fornecem forte evidência
mento folicular quer no potencial fecundante ou presunção da ocorrência do fenómeno e,
dos ovócitos, estudos animais sugerem que tal como os de determinação ovulatória e os
profundas alterações ao nível da morfologia e de avaliação da fase luteínica, a informação
fisiologia endometriais também contribuem que proporcionam é normalmente de natu-
para o declínio da capacidade reprodutora73. reza indirecta e retrospectiva.

20 Capítulo 28
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50

40

30

20

10

Figura 22. Procriação medicamente assistida – percentagens de gravidez, nados vivos e partos de feto único vivo em
função da idade da mulher (adaptado de ART Report 2006 – CDC).

As técnicas de detecção e determinação da um doseamento isolado superior a 150 pg/


ovulação podem ser classificadas segundo ml indica que, com forte probabilidade, o ci-
Moghissi78 em: clo foi ou vai ser ovulatório33,79-82.
— Pesquisa directa de gonadotrofinas ou hor-
monas esteróides no soro, urina ou saliva. 3.3.2. DOSEAMENTOS DA PROGESTERONA
— Avaliação das alterações periféricas que
precedem, coincidem ou sucedem ao fe- Não são aplicáveis nem à previsão nem à
nómeno ovulatório. determinação do fenómeno ovulatório. Para
Julga-se pertinente acrescentar: avaliação a sua detecção (classificação do ciclo como
indirecta por técnicas de imagem, das altera- ovulatório/anovulatório), o conhecimento
ções morfológicas ocorridas no ovário antes, dos níveis da hormona é relevante, mas não
durante ou depois da ovulação. existem definições consensuais sobre o limiar
de distinção (2, 3 ou 5 ng/ml) nem sobre o
3.3.1. DOSEAMENTOS SÉRICOS DO ESTRADIOL momento da fase luteínica em que o dose-
amento deve ser efectuado. Será sempre de
São difíceis de utilizar para detecção da ovu- ter em conta a possibilidade da ocorrência de
lação e inaplicáveis para previsão da ocor- falsos negativos por virtude das característi-
rência temporal do fenómeno. Esta impossi- cas da curva da hormona, do seu padrão de
bilidade resulta das características da curva secreção pulsátil e da dificuldade de agenda-
da hormona, da variação da relação entre o mento prospectivo de qualquer evento que
pico de E2 e a onda de LH, da variabilidade se relacione com o fenómeno ovulatório por
interindividual e interciclo da concentração/ virtude da sua instabilidade temporal78,83-87.
tempo necessários para desencadear o surto O nível utilizado para distinguir ovulação de
da gonadotrofina e das oscilações de tempo anovulação não deve confundir-se com o de
entre este e a rotura do folículo. No entanto, avaliação da «qualidade da fase luteínica».

Infertilidade 21
Também neste aspecto não existe consenso pico da onda, nos nossos dias existe consen-
quanto ao valor dos doseamentos de pro- so de que a ovulação ocorre 34 a 39 horas

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gesterona. Alguns autores adoptam como após o início plasmático do surto da gona-
procedimento a realização de um único dose- dotrofina e de que este «momento» deve ser
amento em fase luteínica média e como cri- adoptado como epicentro e referência para
tério de esteroidogénese normal um valor de os acontecimentos do ciclo79.
progesterona superior a 9-10 ng/ml86,88,89, en- O doseamento sérico de LH é o método mais
quanto outros preferem a realização de três fiável de determinação e previsão da rotura
doseamentos no mesmo período e valorizam folicular80,96-103. Contudo, a exigência de co-
o resultado do somatório ou a sua média90. lheitas sanguíneas frequentes tornam o mé-
Outros duvidam do método e salientam a todo inaplicável na prática clínica habitual.
variabilidade de concentrações imposta pelo No entanto, possui as vantagens de permi-
padrão de secreção pulsátil da hormona e tir referenciar os acontecimentos do ciclo a
pelas características da respectiva curva, um evento objectivo, tem carácter de previ-
bem como a dificuldade de localização pros- são ovulatória e possibilidade de utilização
pectiva do momento «fase luteínica média». prospectiva, relaciona-se melhor com os re-
Diversos autores divergem quanto ao timing sultados de exames auxiliares (histologia en-
em que devem ser efectuados os doseamen- dometrial e ultrassonografia) que o «dia da
tos de progesterona e indicam a avaliação ovulação» determinado de forma indirecta e
na «1.a metade» da fase luteínica92,93, pela retrospectiva com outros métodos89,104-109.
maior correlação entre maturação endome- Estas vantagens levaram ao desenvolvimento
trial atrasada e níveis baixos de progestero- das técnicas de doseamento urinário, com sa-
na e também pela maior importância para a liência para as semiquantitativas de utilização
fecundidade das dinâmicas hormonal e en- domiciliária e leitura colorimétrica, referidas
dometrial neste período94,95. com capacidade de prever a ovulação em
Contudo, mesmo com doseamentos diários cerca de 90% das situações, embora alguns
e a utilização de valores integrados91 existe autores levantem reservas citando a ocorrên-
dificuldade em correlacionar resultados de cia de falsos positivos e negativos bem como
maturação endometrial atrasada com níveis dificuldades na sua utilização83,107,110-112.
baixos da hormona.
Por fim, alguns investigadores descrevem di- 3.3.4. CARACTERÍSTICAS DO
ferentes tipos de anomalias dos perfis de pro- PADRÃO MENSTRUAL HABITUAL
gesterona, revelando a «insuficiência luteínica»
como um grupo heterogéneo que não possi- Permitem por vezes presumir a ocorrência
bilita o diagnóstico sistemático por nenhum de ovulação no ciclo em curso, pois uma
dos critérios e procedimentos descritos. história de ciclos regulares equivale a de-
Os doseamentos salivares que, para além de tecção actual da ovulação em quase 100%
importantes vantagens de simplicidade e eco- dos casos33,113-115.
nomia, permitem a realização de colheitas fre- Já a determinação da ovulação, por intermé-
quentes, não se encontram ainda validados. dio do cálculo efectuado com base na crono-
logia menstrual, tem de ser encarada de for-
3.3.3. ONDA DA HORMONA LUTEINIZANTE ma diferente. As frequentes variações inter e
intra-individual da duração dos interlúnios e
É o fenómeno hormonal que mais directa- de cada uma das fases do ciclo em mulheres
mente se relaciona com a ovulação. Embora «regulares», não permitem a determinação
historicamente tenham sido adoptados dife- da ovulação com base na previsão do início
rentes critérios de valorização do início e do do período menstrual seguinte. Mesmo a

22 Capítulo 28
determinação retrospectiva, assente no co- não deve ser considerada, dada a inexistência
nhecimento da data real do 1.o dia do cata- de um padrão de gráfico objectivo, sensível

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ménio, carece de acuidade, pois em ciclos de e específico. O diagnóstico de «fase luteínica
mulheres «normais» foi demonstrada varia- curta» carece de adequada correlação com os
ção de duração das fases luteínicas116-119. resultados da histologia endometrial, poden-
As mulheres com oligomenorreia (interlú- do apenas servir como sinal de alerta em si-
nios superiores a 35 dias) ou com amenor- tuações de pronunciada alteração da duração
reia, devem ser tratadas com indutores da da 2.a fase do ciclo125-129.
ovulação, independentemente de poderem
ter esporadicamente ciclos ovulatórios. As- 3.3.6. BIOPSIA DO ENDOMÉTRIO
sim, para essas mulheres, outras avaliações
diagnósticas são desnecessárias, uma vez Como método de estudo da ovulação assen-
que terá sempre que ser efectuada terapêu- ta no facto de, ao longo do ciclo e por acção
tica de indução/estimulação da ovulação. das hormonas esteróides, a mucosa uterina
ter um padrão previsível de modificação his-
3.3.5. GRÁFICO DE TEMPERATURA BASAL tológica130-132. À transformação secretora do
endométrio só em situações de excepcional
É um método simples, inócuo, económico, raridade não corresponderá a existência de
mas incómodo. É um importante auxiliar na ovulação, pelo que pode ser utilizada como
interpretação de acontecimentos que ocor- meio válido de detecção da rotura folicular.
ram durante o ciclo genital, bem como para Por outro lado, na prática clínica de infertilida-
programação e valorização de actos diag- de, o estudo morfológico da transformação
nósticos e terapêuticos. secretora do endométrio em fase luteínica
Embora por avaliação indirecta, e prestan- (critérios de Noyes), é frequentemente utili-
do apenas informação retrospectiva, possui zado como forma de avaliação biológica da
uma sensibilidade (≈ 80%) que possibilita produção de progesterona e da qualidade
utilizá-lo como meio de detecção da ovu- funcional do corpo amarelo. De acordo com
lação114,120,121. Contudo, o clínico deve estar este procedimento, alguns autores acreditam
prevenido para a possibilidade da ocorrên- que existe uma boa correlação do proces-
cia de falsos negativos (até 20%)33,120,121. A so de maturação endometrial com a função
sua especificidade é elevada e a percenta- luteínica e com a cronologia pós-ovulatória
gem de registos ininterpretáveis pequena estabelecida a partir de marcadores habitu-
(cerca de 5%)33,114,122. ais89,91. Para esses, a fase secretora possui uma
No aspecto de determinação da ovulação, a duração sensivelmente constante de 14 dias e
validade do método é mais questionável e realizam a biopsia perto do final do ciclo, para
alguns autores referem que a correspondên- permitir o tempo necessário a uma completa
cia do mínimo térmico com o dia da ovula- expressão da acção progesterónica. Assim, da
ção, ou com o da onda de LH, é imprecisa. correspondência entre níveis de progestero-
Este aspecto, que por si só cria dificuldades na, dias pós-ovulação e grau de maturação en-
à utilização do método como meio de deter- dometrial, resulta uma noção de normalidade
minação da ovulação, é agravado pela varia- cuja não verificação acarreta o diagnóstico de
ção interobservador na análise dos gráficos, insuficiência luteínica (atraso de maturação
pela ausência de um critério uniforme de in- endometrial igual ou superior a três dias pelos
terpretação e por problemas de reprodutibi- critérios histológicos de Noyes)133,134,135.
lidade de registo das temperaturas33,123,124. Esta forma de avaliar a função do corpo ama-
A possibilidade de utilização do método como relo e de diagnosticar a sua insuficiência é
meio de avaliar a «qualidade» da fase luteínica contestada por outros, em diversas vertentes

Infertilidade 23
e com diferentes argumentos entre os quais 3.4. AVALIAÇÃO MASCULINA
se salientam: dificuldade de interpretação e

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valorização dos resultados pela pouca exac- O espermograma é um exame essencial na
tidão dos marcadores ovulatórios habituais avaliação do casal infértil. Poderá ser aconse-
e pela inconstância da sua relação com o lhada abstinência sexual dois dias antes da
processo de maturação endometrial; maior colheita de esperma, uma vez que ejacula-
variabilidade biológica da diferenciação da ções frequentes podem diminuir o volume
mucosa na «2.a metade» da fase luteínica; im- seminal e, ocasionalmente, a contagem de
precisão dos doseamentos de progesterona espermatozóides.
para avaliação da função luteínica e dos crité- A colheita deve incluir a totalidade da amos-
rios de datação morfológica para reflectirem tra, já que a fracção inicial é a que contém
os fenómenos endometriais da 2.a fase do ci- uma maior densidade de gâmetas e ser, pre-
clo, bem como inadequada correlação entre ferencialmente, realizada no local onde de-
os resultados dos dois métodos95,106,109,124. correrá a análise. Poderá efectuar-se no ex-
Mas os aspectos com maior relevância são: o terior, desde que o esperma seja conservado
da incapacidade de por intermédio da biop- à temperatura do corpo e o transporte não
sia do endométrio se distinguir entre pertur- exceda 30 minutos.
bação da maturação motivada por deficiente Os parâmetros habitualmente analisados e
produção de progesterona ou por defeito de respectivos «valores normais» figuram no
resposta da mucosa; a eventual importância quadro 3.
de os métodos de avaliação das funções lu- A mobilidade deve ser determinada logo que
teínica e endometrial deverem ser preferen- possível após a liquefacção, que ocorre 20 a
cialmente dirigidos para a «1.a metade» da 30 minutos após o acontecimento ejaculató-
fase secretora. De facto, para além da indica- rio. A morfologia é um parâmetro importan-
ção de que ambos os tipos de «insuficiência te, mas é de avaliação e valorização extrema-
luteínica» serão mais frequentes nesta época mente subjectivas. Aliás, todos os valores do
da 2.a fase do ciclo, é também nestes dias que espermograma têm alguma subjectividade,
maior importância terá para a fecundidade a que se intensifica na avaliação da morfologia,
existência de qualquer perturbação da fun- existindo também significativos graus de va-
ção do corpo amarelo e/ou do endométrio. riabilidade interobservador, intra-observador,
Acresce que apesar da aparente normalidade no mesmo indivíduo em diferentes exames e
esteroidogénica, a maturação endometrial ainda fruto dos diferentes critérios utilizados
nem sempre é regular e uniforme, em veloci- para avaliação. Diversos autores identificaram
dade constante e com ritmo que permita fa- anomalias do espermograma em 25 a 75% de
zer corresponder transformações histológicas homens cujas mulheres tinham engravida-
a períodos de 24 horas. do recentemente. Estes estudos confirmam
Assim, embora a biopsia seja um método de a existência de uma grande variabilidade do
execução fácil e com escassas complicações, há normal nos parâmetros do espermograma.
necessidade de desenvolver outros meios que Há que ter presente, que as características do
permitam avaliar separadamente as funções sémen têm variação biológica e que, perante
do corpo amarelo e do endométrio. No que identificação de anomalia, é prudente repetir
respeita à mucosa uterina é imperiosa a im- posteriormente o exame.
plementação de novos parâmetros e métodos, É necessário também recordar, que os valo-
preferencialmente dirigidos à fase pré-implan- res do espermograma reflectem a produção
tatória, que de forma ideal deverão superar o de espermatozóides ocorrida há três meses,
carácter retrospectivo da informação histológi- pelo que é importante indagar da ocorrên-
ca e permitir uma avaliação em tempo real33. cia de doença nessa fase.

24 Capítulo 28
Quadro 3. Análise do sémen. Parâmetros habitualmente analisados e valores de referência

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Parâmetro Valor normal
Volume = 2 ml
Cor Branco grisalho
Cheiro Sui generis
Viscosidade Normal
Liquefacção Completa aos 60 minutos
pH ≥ 7,2
o
Concentração (n. de espermatozóides/ml) ≥ 20 x 106
N.o total de espermatozóides ≥ 40 x 106 no ejaculado
Mobilidade
Progressão rápida ≥ 25%
Progressão rápida + progressão lenta ≥ 50%
Morfologia normal ≥ 15%
Vitalidade ≥ 50%
Teste de hipoosmolaridade ≥ 60%
Adaptado de WHO, 1999.

Perante um factor masculino grave, é reco- As principais anomalias do espermograma e


mendável indicar consulta com um androlo- respectivas causas constam do quadro 4.
gista, requisitando entretanto os exames ini-
ciais de avaliação, a saber: cariótipo, estudo 3.5. INFECÇÕES ESPECÍFICAS
biomolecular do cromossoma Y para identifi-
cação de microdeleções, em particular AZFc. É referido em diversos textos que as infec-
O cariótipo e o estudo das microdeleções são ções ocultas, assintomáticas, infraclínicas,
essenciais para identificação e aconselha- do tracto genital superior da mulher ou do
mento das situações com risco de transmis- homem, podem ser causa de infertilidade.
são de anomalias genéticas e/ou agravamen- Os agentes microbianos mais frequente-
to progressivo das anomalias do sémen que mente implicados são do género micoplas-
poderá finalizar em azoospermia. ma, incluindo o ureaplasma urealyticum e a
Nos casos de azoospermia, e independente- clamídia tracomatis. Porém, diversos estu-
mente de o diagnóstico definitivo só ser es- dos demonstraram que o tratamento com
tabelecido por biopsia testicular, acrescem: antibióticos, nomeadamente tetraciclina e
FSH, LH e testosterona, ecografia testicular doxiciclina, que eliminam estes microrga-
e vesicoprostática, como exames indicativos nismos, não aumentam as taxas de gravi-
de distinção entre azoospermia secretora ou dez. Assim, não existe evidência de que, na
obstrutiva. Em caso de azoospermia obstru- ausência de alterações tubares, as infecções
tiva, a sequenciação do gene CFTR deve ser assintomáticas dos tractos genitais, do ho-
solicitada a ambos os membros do casal, para mem e da mulher, sejam causa de infertili-
determinação do risco de fibrose quística no dade, ou de que o seu tratamento acarrete
nascituro. benefício de fecundidade.

Infertilidade 25
Quadro 4. Causas de anomalias do espermograma

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Resultado Causas

Azoospermia Síndrome de Klinefelter ou outra doença genética


Somente células de Sertoli
Ausência de túbulos seminíferos ou células de Leydig
Hipogonadismo hipogonadotrófico
Obstrução de ductos
Varicocelo
Factores exógenos

Oligozoospermia Doença genética


Endocrinopatias, incluindo defeitos dos receptores
androgénicos
Varicocelo e outros defeitos anatómicos
Paragem de maturação
Hipoespermatogénese
Factores exógenos

Ausência de ejaculado Obstrução de ductos


Ejaculação retrógrada
Falha de ejaculação
Hipogonadismo

Volume baixo Obstrução do canal ejaculatório


Ausência de vesículas seminais e vas deferens
Ejaculação retrógrada parcial
Infecção

Volume alto Factores desconhecidos

Astenozoospermia Factores imunológicos


Infecção
Varicocelo
Defeitos na estrutura do espermatozóide
Anomalias metabólicas ou anatómicas do espermatozóide
Liquefacção do sémen diminuída

Viscosidade anormal Etiologia desconhecida

Morfologia anormal Varicocelo


Stress
Infecção
Factores exógenos
Factores desconhecidos

Células «estranhas» Infecção ou inflamação


Ejaculação de espermatozóides imaturos

Adaptado de Lobo9.

26 Capítulo 28
Os principais meios auxiliares para avaliação bilidade de ocorrência de gravidez é nas
diagnóstica inicial do casal infértil e algumas situações em que a anovulação foi o único

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recomendações figuram no quadro 5. diagnóstico.
Em qualquer circunstância, não se pode
nunca esquecer a importantíssima influên-
4. PROGNÓSTICO cia da idade da mulher no estabelecimento
do prognóstico. Hull, et al.52 verificaram, em
Todos os casais inférteis devem ser infor- casais com infertilidade inexplicada, que fo-
mados do seu prognóstico, ou seja, da ram seguidos durante dois anos sem trata-
probabilidade de alcançar gravidez com mento, que as probabilidades eram muito
o tratamento indicado e em função do superiores nas mulheres com menos de 35
diagnóstico estabelecido. A maior proba- anos de idade (75 vs 50%).

Quadro 5. Meios auxiliares de diagnóstico e recomendações

Factor Meio de diagnóstico Recomendação


o o
Idade feminina FSH ao 2. /3. dia do ciclo Indicado em mulheres com
idade superior a 35 anos e
nas más respondedoras

Factor ovárico/ovulatório História menstrual Indispensável

Gráfico de temperatura eventual

basal; progesterona sérica eventual

LH urinário; Ultrassonografia eventual

transvaginal seriada eventual

Biopsia do endométrio eventual

Factor masculino Análise do sémen Indispensável

Factor endócrino Hormonas tiroideias e PRL Indicado quando houver suspeitas

Factor cervical Teste pós-coital Questionável e desnecessário


na avaliação habitual

Factor uterino Histerossalpingografia Indispensável

Ultrassonografia TV Indispensável

Histeroscopia eventual

Factor tubar Histerossalpingografia Indispensável

Histerossonografia eventual

Laparoscopia com cromotubação eventual

Endometriose Ultrassonografia TV Indispensável

Laparoscopia indicado quando com fortes


suspeitas

Adaptado de Kovanci172.

Infertilidade 27
Também o tempo de duração da infertilidade clomifeno, as gonadotrofinas urinárias (não
é factor importante, verificando-se que, para disponíveis em Portugal), as gonadotrofi-

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o mesmo tipo de quadro clínico, a probabili- nas urinárias purificadas, as gonadotrofinas
dade de concepção é significativamente su- recombinantes, a hormona libertadora das
perior nos casais com duração de infertilidade gonadotrofinas (GnRH) (não disponível).
inferior a três anos (75 vs 30%)136 e ainda maior Recentemente, têm também sido utiliza-
nos com duração inferior a dois. Para encurtar dos o letrozol e a metformina. Há ainda que
o tempo até ocorrência de gravidez nestas si- considerar utilizações mais específicas e
tuações, vários tratamentos têm sido propos- menos frequentes, como agonistas da do-
tos, como a estimulação ovárica controlada, a pamina (isoladamente ou como coadjuvan-
inseminação intra-uterina (IIU), a fecundação tes) nas situações de hiperprolactinemia
in vitro e a transferência de gâmetas para as ou corticóides no hiperandrogenismo e na
trompas. Nestes quadros de infertilidade de hiperplasia supra-renal.
causa desconhecida, os resultados da fecun-
dação in vitro situam-se nos 30% de gravidez 5.1.1. CITRATO DE CLOMIFENO
por transferência embrionária.
No entanto, e a despeito de a FIV poder O citrato de clomifeno é um medicamento
identificar ausência de fertilização e revelar de 1.a linha para tratamento da anovula-
o motivo de uma infertilidade dita até então ção/disovulação com manifestação clínica
como inexplicada, esta terapêutica não deve de oligomenorreia ou de amenorreia hipo-
ser indicada em primeira linha. A estimulação estrogénica.
ovárica controlada, com citrato de clomifeno Este fármaco sintético, com fraca acção es-
ou FSH, associada ou não à IIU, proporciona trogénica, actua por competição com os
uma significativa probabilidade de gravidez estrogénios endógenos para os respectivos
(FSH + IIU > 40% nos primeiros três ciclos)137. receptores hipotalâmicos, bloqueando o
Porque a fecundabilidade e as taxas cumu- feedback negativo dos esteróides. O resul-
lativas de gravidez ficam significativamente tado é um aumento da produção de GnRH,
aumentadas, este tipo de terapêutica deve que por sua vez estimula FSH e LH, origi-
ser ensaiado pelo menos dois a três ciclos nando desenvolvimento folicular com au-
antes de propor fecundação in vitro ou ICSI. mento progressivo da produção de estra-
Contudo, em casais em que o diagnóstico in- diol, reassumir do padrão oscilatório e das
dica com clareza a fecundação in vitro, com acções habituais das gonadotrofinas e este-
ou sem microinjecção, como nas idades mais róides, maturação ovocitária, equivalentes
avançadas, na obstrução tubar ou perante ao verificado num ciclo espontâneo.
significativas alterações do espermograma, A ocorrência de ovulação poderá ser objec-
são de esperar percentagens globais de gra- tivada por doseamento de progesterona
videz e de parto por transferência de 30/35 e superior a 3 ng/ml, a efectuar 15 dias após
25% respectivamente8. ingestão do último comprimido (meio da
fase luteínica). Frequentemente os valores
são superiores a 15 ng/ml em virtude de
5. ABORDAGEM ÀS CAUSAS luteinização multifolicular. Recorde-se que
E TRATAMENTO9 10 ng/ml é o valor encarado como normal
para a fase luteínica de um ciclo ovulatório
5.1. ANOVULAÇÃO espontâneo.
O medicamento deve ser iniciado ao 2.o ou
Os medicamentos habitualmente utiliza- 3.o dia do período menstrual, espontâneo
dos para induzir a ovulação são: o citrato de ou induzido por privação progesterónica,

28 Capítulo 28
por cinco dias, em doses de 50 a 100 mg/ Algumas publicações sugerem para mulhe-
dia. Com elevação da dose até 150 mg, mais res com níveis elevados de sulfato de dihi-

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de 90% das mulheres com oligomenorreia droepiandrosterona, a associação de peque-
e cerca de 60% das com amenorreia secun- nas doses de dexametasona para potenciar
dária e estado estrogénico normal, desenca- o efeito indutor do citrato de clomifeno.
dearão ovulação. No entanto, apenas meta-
de engravidará9. 5.1.2. METFORMINA E OUTROS AGENTES
Aumentos subsequentes da dose não só SENSIBILIZADORES DA INSULINA
não acarretarão maiores números de ciclos
ovulatórios e de taxas de gravidez como A metformina pode ser considerada como
introduzirão risco de gestação múltipla. Pe- um agente adjuvante da terapêutica de in-
rante insucessos com este regime, será de dução da ovulação. Em mulheres com sín-
considerar medicação adjuvante com me- drome do ovário micropoliquístico é, hoje
tformina ou, em alternativa, a terapêutica em dia, incluído no tratamento de 1.a linha.
com letrozol. A metformina é uma biguanina utilizada
O tempo necessário para ocorrência de gra- no tratamento da diabetes. A sua principal
videz, em mulheres com ovulação induzida acção é a de reduzir a produção de glicose
pelo citrato de clomifeno, é equivalente ao pelo fígado e, consequentemente, originar
da população fértil normal138. Quer dizer uma descida proporcional da hiperinsuli-
que a fecundabilidade (probabilidade men- nemia. Tem também um efeito directo no
sal de gravidez) será de 20 a 25%. Contudo, ovário, podendo induzir a ovulação em al-
alguns autores pensam que as taxas de gra- gumas mulheres com ovário micropoliquís-
videz são inferiores ao esperado em função tico ou com quadros anovulatórios aparen-
da percentagem de ciclos ovulatórios obti- tados. Portanto, o seu mecanismo de acção
dos, porque, pela acção do citrato de clomi- conjuga a redução da resistência à insulina
feno, estarão prejudicados outros factores, com a estimulação directa do ovário. A dose
como a produção de muco cervical ou o de referência é de 1.000 a 1.500 mg por dia,
desenvolvimento endometrial. de preferência com comprimidos de acção
Não deverá ser esquecido que, com este tipo prolongada, ingeridos em toma única ao
de indução ovulatória, a incidência de gra- jantar. Deverá iniciar-se com 500 mg, se-
videz múltipla está aumentada em cerca de guindo-se aumentos progressivos ao longo
5%, predominando as gestações duplas. Po- de várias semanas, para diminuir os efeitos
rém, se o medicamento for prescrito em mu- de náusea e vómito que ocorrem em cerca
lheres com ciclos ovulatórios normais, como de 20% das mulheres.
por exemplo na infertilidade inexplicada, esta Alguns estudos referem que com a utiliza-
percentagem aumentará em quase 20%. ção isolada de metformina, se verificarão
Durante a terapêutica, é importante vigiar o taxas de ovulação de cerca de 40%. Outros
aumento do volume dos ovários, pois a for- citam que, como coadjuvante, em doentes
mação de quistos é o maior efeito colateral resistentes ao clomifeno até 150 mg, permi-
do citrato de clomifeno. Estes quistos têm te obter cerca de 25% de êxitos de indução.
desaparecimento espontâneo, mas impe-
dem terapêuticas adicionais ou alternativas 5.1.3. ROSIGLITAZONA E PIOGLITAZONA
antes da sua resolução. Outros efeitos co-
laterais pouco frequentes (menos de 10%) As thiadolazimedionas são drogas utiliza-
incluem «fogachos», perturbações da visão, das no tratamento da diabetes. Em doentes
distensão abdominal e dor, urticária e ligeira insulinoresistentes com ovários micropoli-
perda de cabelo. quísticos podem induzir a ovulação por es-

Infertilidade 29
timulação da produção de insulina, a que se em particular nas que revelem resistência
associa um efeito directo sobre o ovário. Têm ao citrato de clomifeno. É muito importante

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sido utilizadas em associação com o citrato verificar que anomalias dos glúcidos e dos
de clomifeno mas, para além de não existir lipídeos estejam corrigidas antes de iniciar a
experiência suficiente, esta terapêutica deve indução da ovulação.
ser aplicada por muito curto espaço de tem- É também crucial aconselhar mudanças no
po e em circunstâncias especiais, pois pode estilo de vida, que habitualmente contem-
originar alteração das enzimas hepáticas e plam dieta racional e exercício físico, que
tendência para aumento de peso. por si só poderão melhorar os parâmetros
metabólicos e a resposta aos agentes in-
5.1.4. LETROZOL dutores, mesmo na ausência de verdadeira
perda de peso.
Os inibidores da aromatase são eficazes na
indução da ovulação e podem ser conside- 5.1.6. GONADOTROFINAS
rados uma opção de 1.a linha.
O mecanismo de acção é de inibição da pro- A terapêutica com gonadotrofinas está
dução de E2 durante os cinco dias da sua principalmente indicada nas situações hi-
administração, o que origina rotura no feed- poestrogénicas, definidas por níveis de E2
back negativo sobre o hipotálamo, com con- inferiores a 30 pg/ml ou por ausência de he-
sequente aumento da relação LH/FSH. Existe morragia de privação após administração de
já significativa experiência com este agente progesterona. Os estados hipoestrogénicos
farmacológico e a resposta é muito idêntica não responderão às terapêuticas orais com
à obtida com o citrato de clomifeno. clomifeno ou letrozol, porque elas depen-
O letrozol é administrado durante cinco dem da inibição do feedback negativo sobre
dias, com início ao 3.o dia do ciclo, na dose o hipotálamo. Nestas mulheres, habitual-
de 2,5 ou 5 mg/dia. Como tem uma curta mente amenorreicas, o problema não é o da
duração de acção, são ultrapassados os pro- existência de um persistente feedback nega-
blemas presentes na terapêutica com citra- tivo do E2 sobre a produção de gonadotrofi-
to de clomifeno, de espessamento do muco nas, mas o de um estado hipogonádico que
cervical ou de inibição do desenvolvimento exige estimulação do ovário pelas hormonas
do endométrio. gonadotróficas.
As taxas de gravidez são pelo menos idên- A utilização de gonadotrofinas poderá tam-
ticas às obtidas com o antiestrogénio, mas bém estar indicada nas situações de falência
com menor proporção de gestações múl- clomifeno/letrozol e quando se coloca a ex-
tiplas. Inicialmente mais vocacionado para pectativa de poderem acarretar uma melhor
doentes com resistência ao clomifeno, a produção de muco ou implementação do
sua associação com as gonadotrofinas foi desenvolvimento endometrial.
avaliada de forma positiva em estudos re- Estão disponíveis no mercado preparados
centes, quer no quadro de estimulação da de gonadotrofinas obtidos a partir de ex-
ovulação para fecundação espontânea, tractos urinários purificados de mulheres
quer no das técnicas de reprodução medi- pós-menopáusicas e outros produzidos por
camente assistida. tecnologia recombinante aplicada a célu-
las ováricas do hamster. A sua composição
5.1.5. MASSA CORPORAL E ESTILO DE VIDA é essencialmente de FSH, e se uns contêm
ainda alguma percentagem de LH, a outros
A diminuição da massa corporal pode ser um poderá ser complementada a acção com LH
factor decisivo nas mulheres anovulatórias, recombinante.

30 Capítulo 28
A resposta à terapêutica com gonadotrofi- têm-se taxas ovulatórias e de gravidez de 80
nas tem variação interindividual e intra-indi- e de 20% por ciclo respectivamente. A taxa

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vidual de ciclo para ciclo, pelo que, mesmo cumulativa de gravidez em cinco ciclos si-
com a utilização de dose idêntica, é necessá- tua-se entre os 70 e os 80%9.
ria monitorização ultrassonográfica seriada. Uma vantagem terapêutica da GnRH é a da
Em algumas situações, poderá ser útil a asso- raridade do quadro de hiperestimulação, o
ciação de doseamentos séricos de estradiol. que permite a associação com doses baixas
A monitorização ultrassonográfica deve ser de gonadotrofinas em mulheres com síndro-
frequente, porque a diferença entre a dose me do ovário micropoliquístico (PCOS) e re-
mínima necessária para promover a ovula- sistência prévia.
ção e a que levará à hiperestimulação é por Em virtude da medicação com GnRH ser cara
vezes muito pequena. e desconfortável, por obrigar ao uso de caté-
Com a terapêutica com gonadotrofinas é ter endovenoso e mecanismo regulador do
de esperar mais de 90% de ocorrência de tempo que lhe está associado, nas mulheres
ciclos ovulatórios, sendo citadas taxas de com ovários micropoliquísticos com resis-
gravidez globais de 20 a 60% por ciclo de tência ao citrato de clomifeno e/ou às gona-
estimulação, isto é, idênticas às obtidas com dotrofinas, é de colocar como alternativa a
citrato de clomifeno. Claro que as taxas de destruição laparoscópica parcial dos ovários
gravidez obtidas com a estimulação com por electrocoagulação ou LASER.
gonadotrofinas são influenciadas pela ida- A ressecção cuneiforme dos ovários por
de e pela causa da anovulação. As melhores laparotomia foi um método consagrado
percentagens de gravidez são obtidas nas durante muitos anos, mas está hoje aban-
mulheres jovens hipoestrogénicas, com ní- donada, fruto dos inconvenientes da lapa-
veis baixos ou normais de gonadotrofinas. rotomia e do risco da formação de aderên-
As piores, verificam-se nas mulheres mais cias pós-operatórias. Assim, a ressecção
velhas e nas com anovulação e níveis estro- cuneiforme do ovário foi substituída pela
génicos normais ou ovários micropoliquís- destruição focal por electrocoagulação ou
ticos resistentes ao citrato de clomifeno. A LASER, preferencialmente realizadas por
taxa de gravidez múltipla situa-se nos 15%. laparoscopia (Fig. 21). Com estas técnicas,
conseguem-se elevadas percentagens de
5.1.7. HORMONA LIBERTADORA DAS ovulação e gravidez (de 50 a 92% e de 37 a
GONADOTROFINAS E DRILLING DOS OVÁRIOS 69% respectivamente)139, com a vantagem
de um único tratamento originar múlti-
Uma alternativa à administração de gona- plos ciclos ovulatórios e dispensar a moni-
dotrofinas é o tratamento com GnRH. Este torização ecográfica. No entanto, o efeito
decapeptídeo hipotalâmico, estimulador terapêutico poderá ser temporário e algu-
da hipófise, quando administrado de forma mas mulheres desenvolverão novamente
continuada satura os receptores hipofisários anovulação no prazo de três anos. Mesmo
e provoca um efeito de down regulation ini- nas que não reassumam ciclos ovulatórios
bidor da libertação de gonadotrofinas. Por depois do drilling laparoscópico, a terapêu-
esse motivo não pode ser administrado de tica é vantajosa, pois a melhoria do perfil
forma contínua, obrigando a infusão endo- endócrino (diminuição de LH e androgé-
venosa ou subcutânea pulsátil, a intervalos nios, elevação da sex hormone binding
de 1/2 horas, não podendo, por ser um pep- globulin [SHBG]) concede fortes probabili-
tídeo, ser administrado por via oral. dades de resposta favorável ao clomifeno
Com a administração endovenosa pulsátil e às gonadotrofinas. Uma recente revisão
controlada por regulação cronométrica, ob- Cochrane relata uma taxa de gravidez glo-

Infertilidade 31
bal da ordem dos 50%, com muito baixa vés de gradientes de densidade, deve ser
percentagem de gravidez múltipla. encarada como a forma preferencial de

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Apesar de tudo, a indução da ovulação nas tratamento das anomalias ligeiras ou mo-
mulheres com ovários micropoliquísticos deradas do espermograma, independente-
deve assentar em 1.a linha no tratamento mente da sua aplicação aos casos de infer-
médico. A electrocoagulação dos ovários tilidade inexplicada e às situações de pato-
deverá estar reservada para as doentes com logia cervical (ex.: estenose ou colo curto
dificuldade ou risco de resposta às gonado- pós-conização).
trofinas (eventualmente com associação O timing da inseminação é o do dia anterior
de terapêutica adjuvante), isto é, perante a ou o da ovulação detectada/prevista por
incapacidade de selecção de folículo domi- monitorização ecográfica ou por identifica-
nante ou risco de hiperestimulação. ção urinária da onda de LH. Após um muito
curto período de repouso, a mulher pode
5.2. FACTOR MASCULINO reassumir uma vida completamente normal,
devendo ser alertada para a possibilidade
Todos os ginecologistas têm obrigação de de dores ligeiras resultantes das contracções
saber interpretar um espermograma, bem uterinas provocadas pelo líquido seminal e
como de estabelecer o prognóstico em si- pela libertação de prostaglandinas.
tuações de espermograma anormal. Em- Independentemente da posterior aborda-
bora os ginecologistas habitualmente não gem às técnicas de PMA, gostaríamos desde
estabeleçam o diagnóstico específico ou o já de referir a microinjecção intracitoplas-
tratamento dirigido ao homem infértil, que mática de espermatozóide como método
deverão ser sistematicamente estabelecidos de tratamento de eleição para as situações
por um andrologista, o especialista de gine- de factor masculino grave. Com a ICSI, serão
cologia deve ter conhecimentos suficientes de esperar taxas de fecundação de 60 a 80%
que o habilitem a fornecer correcta indica- mesmo quando realizada com espermato-
ção dos tratamentos de IIU, fecundação in vi- zóides completamente imóveis140,141. Verifi-
tro e ICSI (eventualmente com aspiração ou cam-se taxas similares com espermatozói-
extracção de espermatozóides do testículo des recolhidos do epididimo ou do testículo.
ou do epididimo). No geral, com a ICSI obtêm-se percentagens
A IIU está indicada no tratamento da oli- de gravidez entre os 30 e os 35%, e de 25%
gospermia ligeira/moderada e no de algu- de parto por ciclo de transferência, quer di-
mas anomalias do volume ou da viscosida- zer, idênticas às obtidas com a fecundação
de seminal. Pode ser efectuada em ciclo es- in vitro no tratamento da infertilidade por
pontâneo ou com indução ovulatória pelo outros factores.
citrato de clomifeno. Porém, a preferência Pode resumir-se dizendo, ainda que com cri-
vai para a utilização desta técnica em ciclos térios um pouco arbitrários, que a microin-
de estimulação ovárica controlada com go- jecção do espermatozóide está indicada,
nadotrofinas, sendo de esperar bons resul- para além das situações em que se tenha
tados se no espermograma inicialmente verificado ausência de fecundação em FIV,
realizado a motilidade for superior a 30 e a quando a concentração de espermatozóides
70% depois do swim-up. A expectativa é a no ejaculado é inferior a 2 milhões por ml, na
de percentagens de 10 a 15% de gravidez aastenozoospermia grave (< de 10% móveis)
por ciclo. e na teratospermia com morfologia normal
A IIU, com concentrado de espermatozói- inferior a 5%.
des depois de separados do sémen por Porém, e independentemente de outras
dupla centrifugação e após swim-up, atra- considerações, é de manter sempre pre-

32 Capítulo 28
sente que as percentagens de gravidez também essencial, pois possibilita a identi-
obtidas com ICSI são, como com as outras ficação de distorções anatómicas, encurta-

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técnicas, inversamente proporcionais à mento ou impermeabilidade cervical.
idade da mulher. A clássica avaliação diagnóstica por teste
Também nas situações de azoospermia pós-coital, introduzida por J. Merrionsim
a microinjecção se veio a revelar um im- em 1986, é um dos procedimentos mais
portante meio terapêutico, por permitir a controversos e duvidosos de avaliação da
fecundação de ovócitos com espermato- infertilidade. Não existe consenso em rela-
zóides recolhidos a partir do testículo ou ção a diversos aspectos: momento exacto
do epididimo141. A probabilidade de obter do ciclo para a sua realização; tempo de
espermatozóides a partir do testículo é de realização após o coito; cut off do resultado
quase 100% nas situações de azoospermia normal/anormal; tratamento a efectuar em
obstrutiva (níveis de FSH normais) e de cer- face de resultados anormais. Perante a fal-
ca de 50% nas de FSH elevado (provável ta de concretização do momento óptimo
azoospermia secretora)142. para realização do teste pós-coital consta-
Alguns autores referem um aumento ligei- tada em estudos multicêntricos165, na au-
ro, mas significativo, da probabilidade de sência de definição do grau de ampliação
defeitos cromossómicos nas crianças que microscópico necessário para avaliar um
nascem de ICSI. Van Steirtegherm demons- resultado como normal e pelas baixas sen-
trou, em 8.319 nados-vivos, um aumento da sibilidade e especificidade (variações de 10
percentagem de aneuploidias dos cromos- a 97%) o teste pós-coital não deve ser inte-
somas sexuais (0,6 vs 0,2%) e de anomalias grado no conjunto de meios de avaliação
estruturais autossómicas (0,4 vs 0,07%), as- do casal infértil.
sim como de aberrações relacionadas com a Sem alterações anatómicas e morfológicas
infertilidade paterna. Não havendo certezas observáveis ou história de terapêutica ante-
nesta matéria, um estudo dinamarquês143 rior, a importância do factor cervical como
sugere um aumento da percentagem de factor de infertilidade é duvidosa, ideia re-
anomalias urogenitais, eventualmente rela- forçada pela inexistência de benefício após
cionável com a subfertilidade masculina. tratamento de pressupostos factores cervi-
cais identificados por teste pós-coital145.
5.3. FACTOR CERVICAL171
5.4. FACTOR UTERINO
As malformações, os traumatismos, os proce-
dimentos terapêuticos sobre o colo do úte- 5.4.1. SINEQUIAS
ro, como a electrocoagulação, a crioterapia
ou a conização, podem causar «lesões» que As sinequias podem ser motivo de infertili-
afectam a produção de muco ou causar es- dade, alterações do período menstrual (hi-
tenose cervical. Assim, o canal cervical pode pomenorreia/amenorreia) e abortamento
ficar impedido de adequadamente cumprir de repetição. É portanto essencial tentar
as suas funções de reservatório protector identificar estes aspectos clínicos no mo-
dos espermatozóides, de transporte para o mento de colheita da história, bem como
tracto genital superior e de capacitação. dirigir o interrogatório a antecedentes de
A história clínica é importante porque, por curetagem ou de tuberculose pulmonar.
seu intermédio, podem ser detectados an- Porém, algumas mulheres não terão an-
tecedentes de terapêuticas sobre o colo do tecedentes ou sintomas sugestivos da pa-
útero, traumatismos, ou acção de drogas tologia e apresentarão apenas quadro de
como o dietilestilbestrol. O exame físico é infertilidade.

Infertilidade 33
A confirmação do diagnóstico é histerossal- 5.4.2. TUBERCULOSE E ENDOMETRITES
pingográfica (Fig. 23). Se a única anomalia

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detectada para justificar a infertilidade for Se a histerossalpingografia revelar imagens
a presença de sinequias de origem não- sugestivas de sequelas de tuberculose, a
tuberculosa, a probabilidade de gravidez patologia deverá ser procurada por cultura
após sinequiotomia histeroscópica é de do produto de biopsia endometrial. As ima-
75%146 (Fig. 24 A). gens histerossalpingográficas de tubercu-
lose, uterina ou tubar, são típicas.
Independentemente de a tuberculose ac-
tiva necessitar de terapêutica com tuber-
culostáticos, as mulheres devem ser consi-
deradas estéreis, já que não é expectável
a ocorrência de gravidez após tratamento
médico. A reconstrução cirúrgica tubar está
votada à falta de êxito e, mesmo no contex-
to da fecundação in vitro, as probabilidades
de gravidez são muito baixas pela irrecupe-
rável destruição endometrial, embora haja
fundamento de esperança se as lesões es-
tiverem limitadas às trompas e ausentes da
cavidade uterina.
Outros tipos de endometrite podem ser
causa de infertilidade. Cursam de forma as-
sintomática ou com sintomas muito frustres
e inespecíficos, apenas são diagnosticáveis
por histeroscopia (aspectos endometriais
em «morango» ou de hipervascularização)
(Fig. 35) e poderão ser tratados com doxicicli-
na 200 mg/dia durante 14 dias e três meses
Figura 23. Histerossalpingografia – sinequias uterinas de «substituição hormonal» com estrogénio
e progestativo.

5.4.3. FIBROMIOMAS

É muito difícil avaliar a responsabilidade


dos fibromiomas na infertilidade, pois mui-
tas mulheres com fibromiomas não têm
qualquer dificuldade em engravidar (Figs. 9
e 10). No entanto, será sempre de meditar,
sobretudo na ausência de outro factor, que
os fibromiomas podem ser causa de infer-
tilidade sempre que tenham potencial de
interferir com o transporte dos espermato-
zóides ou com o processo de implantação.
Vercellini, em revisão de todos os estudos
publicados de 1982 a 1996, sobre o efeito
Figura 24. A: histeroscopia, sinequias uterinas. da miomectomia na infertilidade, concluiu

34 Capítulo 28
que a taxa de gravidez depois de efectuada para cerca de 60% se a cirurgia incidir so-
miomectomia em mulheres sem outra cau- bre as trompas.

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sa de infertilidade era de 61%147. Os pólipos, os detritos e os rolhões de muco
podem ter importância etiopatogénica por
5.5. FACTOR TUBAR causarem obstrução tubar transitória.
A salpingite ístmica nodosa é caracterizada
As trompas de Falópio são essenciais para os pela formação de divertículos laterais na
transportes do ovócito, do espermatozóide região ístmica da trompa e está associada a
e do embrião. Qualquer lesão tubar é sus- endometriose, infecções pélvicas e tubercu-
ceptível de impedir o «casamento» do ovó- lose. Ocorrem alterações irreversíveis da mu-
cito com o espermatozóide. cosa, que muitas vezes atingem a muscular,
As sequelas de doença inflamatória pélvi- levando a oclusão do lúmen.
ca, as aderências das cirurgias pélvica ou Uma colheita cuidadosa da história clínica
tubar, a endometriose, a peritonite con- pode revelar antecedentes de doença de
sequente à apendicite, os antecedentes transmissão sexual ou doença inflamatória
de abortamento séptico, são factores de pélvica, bem como de outras doenças com
risco para a existência de «doença»/dis- potencial para originar factor tubar de infer-
função tubar. Mas se estas situações, que tilidade. Nem a sensibilidade nem a especifi-
implicam a existência de dados com relevo cidade da história são muito elevadas na de-
na história clínica e porventura sintomas, tecção do factor tubar da infertilidade, mas
sinais e alterações no exame pélvico, co- o interrogatório clínico pode fazer sobressair
locam as mulheres num elevado risco de importantes factores de suspeição.
infertilidade, também a infecção infraclí- A histerossalpingografia é o método mais
nica, silenciosa, sem sintomas, sinais ou importante para avaliação da anatomia,
alterações ao exame, própria da clamídia, morfologia e permeabilidade das trompas.
contribui de forma importante para o fac- Em alternativa, poderá ser efectuada lapa-
tor tubar da infertilidade pelas profundas roscopia com prova de azul-de-metileno
alterações anatómicas, morfológicas e fun- que, não permitindo avaliar o endossalpin-
cionais, provocadas nas trompas. Alguns ge, tem a vantagem de ser mais fiável na
autores demonstraram que cerca de 86% avaliação da permeabilidade. Este exame
das mulheres com factor tubar de infertili- acrescenta informação sobre a existência
dade têm títulos de anticorpos IGG anticla- de aderências ou de outros factores que,
mídia tracomatis significativamente mais independentemente da permeabilidade,
elevados do que as mulheres férteis148. As- possam perturbar a função das trompas,
sim, os testes para anticorpos anticlamídia bem como permite uma observação com-
foram propostos por alguns como even- pleta da cavidade pélvica. Uma metanálise,
tuais denunciadores da existência de fac- registou que as sensibilidade e especifici-
tor tubar de infertilidade. Contudo, a sua dade da histerossalpingografia para ava-
sensibilidade é apenas de 50% e fornecem liação da permeabilidade tubar, quando
informação muito limitada, pelo que a uti- confrontada com a laparoscopia com prova
lização na rotina diária carece de valor. de azul-de-metileno, são de 65 e 83% res-
A cirurgia pélvica é um importante fac- pectivamente151. Este estudo conclui que a
tor de risco para a existência de aderên- histerossalpingografia é um bom meio de
cias149,150. Cerca de 23% das mulheres sub- avaliação da obstrução mas não da perme-
metidas a cirurgia pélvica desenvolvem abilidade, dando origem a numerosos fal-
aderências susceptíveis de interferir com sos positivos (diagnósticos de obstrução).
a fertilidade, percentagem que se elevará O exame radiográfico também não fornece

Infertilidade 35
informação sobre a existência de aderên- teis9. A presença de tecido endometrial no
cias peritubares, mas possui as vantagens exterior da cavidade uterina é mais frequen-

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de não ter morbilidade cirúrgica, dispensar temente encontrada na superfície peritone-
a anestesia geral e proporcionar uma maior al, em particular no fundo de saco posterior,
probabilidade de gravidez espontânea nos ovários e trompas, nos ligamentos úte-
após a sua realização. ro-sagrados, parede pélvica, bexiga e super-
Em mulheres com alergia a produtos ioda- fície externa do útero.
dos, a histerossonografia poderá substituir A American Fertility Society/American So-
a histerossalpingografia. A histerossono- ciety for Reproductive Medicine (AFS/ASRM)
grafia com soro fisiológico ou glicosado, desenvolveu, com base em observação la-
oferece a vantagem da eventual detecção paroscópica/laparotómica da localização e
ecográfica de outras patologias uterinas dimensão das lesões, uma classificação de
ou anexiais, incluindo fibromiomas intra- estadiamento, reproduzida no capítulo de-
murais, subserosos e tumefacções anexiais. dicado à endometriose no Volume I.
Contudo, a anatomia da trompa não pode Na endometriose grave existe uma eviden-
ser visualizada. te relação entre a doença e a infertilidade,
As cirurgias reconstrutivas da trompa, como pela interferência da distorção anatómica
a fimbrioplastia, a lise de aderências, a sal- com a libertação e captação do ovócito e
pingoplastia e a salpingoneostomia, foram com o transporte do espermatozóide. Po-
durante muito tempo a única opção para as rém, a mesma relação já não é tão clara para
mulheres com factor tubar de infertilidade. os estádios 1 e 2 (endometriose mínima ou
Todavia, as baixas percentagens de gravi- ligeira), sugerindo-se a perturbação funcio-
dez após cirurgia, o elevado risco de gravi- nal como factor importante, já que as distor-
dez ectópica e o advento da fecundação in ções anatómicas não são de relevo. As alte-
vitro, fizeram da reconstrução cirúrgica das rações funcionais apontadas como causa de
trompas uma opção de 2.a linha, apenas infertilidade nas situações de endometriose
indicada a mulheres com integridade da mínima, ligeira ou moderada, incluem a
mucosa que recusam a fecundação in vitro. composição do líquido peritoneal, os preju-
Embora existam diferenças na probabilida- ízos da fecundação e da função tubar. Tam-
de de sucesso cirúrgico conforme o tipo e bém os danos à qualidade ovocitária e à
localização das lesões distais ou proximais, implantação têm sido referidos como facto-
a fecundação in vitro é a terapêutica prefe- res de redução da fertilidade nas situações
rencial para os casais com factor tubar de de endometriose ligeira ou moderada153,154.
infertilidade. É de reter que, se o diagnósti- Alguns autores salientam a diminuição da
co é de hidrossalpinge, é necessário proce- receptividade endometrial155.
der à salpingectomia antes do tratamento Alguns estudos sugerem a importância das
FIV. Uma metanálise recente mostrou que concentrações de macrófagos activados
a salpingectomia laparoscópica aumenta pelo líquido peritoneal, e dos seus produ-
muito significativamente a probabilidade tos de secreção, incluindo interleucina 1 (IL-
de gravidez FIV, em comparação com o 1), factor de necrose tumoral e proteases,
verificado em mulheres que realizaram FIV que estão aumentados na endometriose e
sem tratamento cirúrgico prévio152. poderiam condicionar uma diminuição da
fertilidade. Esta alteração na composição
5.6. ENDOMETRIOSE9 do líquido peritoneal é também apontada
como factor embriotóxico, o que parece ser
Na literatura é citada uma incidência de en- contrariado pelos resultados da doação de
dometriose em 20 a 40% das mulheres infér- ovócitos em mulheres com endometriose,

36 Capítulo 28
em que se verificam taxas de gravidez si- Alguns marcadores analíticos, como o CA125,
milares às de grupos-controlo. Contudo, o o CA 15-3 e o CA 19-9, têm sido utilizados na

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facto é que a endometriose ligeira ou mo- avaliação das doentes. Nenhum deles possui
derada é mais frequente em doentes com sensibilidade e especificidade adequadas.
infertilidade do que em mulheres férteis156, Uma metanálise demonstrou que o dose-
e a probabilidade de gravidez é mais bai- amento do CA125 é de baixa sensibilidade
xa nas mulheres com endometriose míni- para detecção da doença (50%) com elevada
ma ou ligeira do que nas com infertilidade taxa de falsos positivos (28%)160.
inexplicada157. Por outro lado, pode obser- A ultrassonografia tem um papel limitado
var-se em diversos estudos que os resulta- no diagnóstico e na avaliação desta patolo-
dos dos tratamentos da endometriose mí- gia. Alguns autores citam uma sensibilidade
nima ou ligeira são conflituais. de 64 a 89% e uma especificidade de 89 a
A dismenorreia, a dispareunia e a dor pél- 100%161. Sendo importante na identificação
vica crónica, são sintomas frequentemen- dos endometriomas ováricos (Fig. 11), não
te encontrados nas doentes com endome- tem praticamente capacidade de detecção
triose. A dismenorreia é o sintoma mais das lesões peritoneais e das aderências,
frequente e a dispareunia é habitualmente estando recentemente a ser utilizada, com
profunda, provocada pelo impacto sobre êxito, em substituição da RM, na avaliação
o fundo de saco posterior ou sobre o sep- por via transrectal dos nódulos do septo
to rectovaginal, podendo manifestar-se rectovaginal.
como dor que fica após as relações sexu- A RM também tem sido utilizada no estu-
ais. Nas situações de dor pélvica crónica, do e caracterização da doença. As melhores
15 a 32% das mulheres revelam endome- sensibilidade e especificidade verificam-se
triose158,159. Com raridade, podem existir na detecção de endometriomas162, com li-
sintomas relacionados com a localização mitações na avaliação da endometriose in-
da patologia extrapélvica, intestinal, do filtrante profunda e do septo rectovaginal,
tracto urinário, dos pulmões e do sistema sendo por vezes necessária a associação
nervoso central. com a rectoscopia.
É uma doença com incidência familiar e o O método gold standard para diagnóstico é
risco de lesões está relacionado com o nú- a laparoscopia. Não só os endometriomas
mero de ciclos menstruais ao longo da vida. ováricos, recheados de sangue envelhecido,
Assim, as mulheres com interlúneos longos são facilmente identificados, como este é o
ou maior número de gestações têm uma único meio que permite visualizar e carac-
menor probabilidade de desenvolver en- terizar os múltiplos aspectos dos implantes
dometriose do que as mulheres com ciclos peritoneais, negros, azulados, lesões bran-
curtos ou nulíparas. cas não pigmentadas, lesões vermelhas, ve-
Um exame ginecológico normal não exclui siculares, saculações, defeitos peritoneais,
a presença da doença. No entanto, podem e os diversos tipos de aderências, em que
ser encontrados sinais físicos extremamente predominam as que amarram o ovário e a
evocadores, tais como nodulações dos liga- trompa à face posterior do ligamento largo,
mentos útero-sagrados, dor à exploração e ou imobilizam as regiões anexiais no fundo
falta de elasticidade do fundo de saco pos- de saco de Douglas (Fig. 24 B).
terior, dor à tentativa de mobilização uterina Os implantes de endometriose são mais
e mobilidade reduzida com útero frequente- frequentemente encontrados nos liga-
mente em retroversão, massas anexiais, nó- mentos útero-sagrados, no fundo de saco
dulos à palpação da parede vaginal e fundo posterior, nas paredes pélvicas e nas fosse-
de saco posteriores. tas ováricas.

Infertilidade 37
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Figura 24. B: Diversos aspectos laparoscópicos da endometriose. (cortesia de Faustino F, Hospital da Luz).

5.6.1. ENDOMETRIOSE MÍNIMA/LIGEIRA de clomifeno, é 2,9 vezes superior à das mu-


lheres que, na mesma situação, não recebe-
Mesmo nas situações de endometriose míni- ram qualquer tratamento144.
ma ou ligeira, existe uma reacção inflamató-
ria do tipo imunitário que afecta a fertilidade. 5.6.2. ENDOMETRIOSE MODERADA
Diversos autores demonstraram a existência
de uma diminuição da fecundidade neste Se no momento da realização da laparos-
estádio e percentagens de gravidez inferio- copia diagnóstica for verificada a existência
res às das mulheres férteis. de aderências pélvicas, ou endometriomas
Inoue163, à semelhança de outros, relatou ováricos de diâmetro superior a 1 cm, o tra-
que a electrocoagulação dos focos de endo- tamento médico não conseguirá obter uma
metriose mínima ou ligeira, no momento do suficiente regressão das lesões de que de-
diagnóstico laparoscópico, melhora as taxas corra um aumento da fecundidade. Por isso,
de concepção. Também um estudo canadia- a intervenção diagnóstica deve ser sistema-
no164 cita que, nas mulheres com endometrio- ticamente aproveitada para realização do
se mínima ou ligeira a fecundidade é menor, tratamento cirúrgico.
e que se as lesões forem tratadas por ressec- As terapêuticas com danazol, agonistas
ção ou ablação no momento do diagnóstico, GnRH, progesterona ou contraceptivos orais,
a taxa de fertilidade duplicará. Assim, se no não demonstraram aumento das taxas de
momento do diagnóstico laparoscópico for fertilidade9.
identificada endometriose mínima ou ligeira,
é aconselhável a destruição das lesões de en- 5.6.3. ENDOMETRIOSE GRAVE
dometriose seguida de estimulação ovárica
controlada com IIU, de forma idêntica ao rea- Deve efectuar-se terapêutica cirúrgica con-
lizado para a infertilidade inexplicada. servadora, com energia eléctrica ou LASER,
Por fim, alguns autores relatam que, mesmo de ressecção das lesões, lise de aderências
sem realização de inseminação, a probabili- e tratamento dos endometriomas ováricos
dade de alcançar gravidez apenas com esti- com mais de 3 cm. O tratamento com aná-
mulação ovárica, por exemplo com citrato logos ou danazol, no pré ou pós-operatório,

38 Capítulo 28
não parece adicionar qualquer benefício. horas após a administração intramuscular da
As percentagens de concepção após trata- gonadotrofina coriónica humana (HCG). Uma

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mento cirúrgico, têm sido citadas como de metanálise realizada por Zeyneloglu, et al.166
50 a 60% nas situações de endometriose demonstrou que, na infertilidade inexplicada,
moderada e de 30 a 40% nas situações de as taxas de gravidez são melhores com IIU do
endometriose grave9. Estas percentagens que com estimulação ovárica controlada e
são significativamente superiores às verifi- coito programado. A estimulação ovárica po-
cadas em doentes que não efectuaram qual- derá ser efectuada com gonadotrofinas ou ci-
quer tratamento ou que apenas realizaram trato de clomifeno, embora as percentagens
tratamento médico. Nos casos de êxito, me- sejam superiores quando utilizadas as gona-
tade das gestações ocorrerá nos primeiros dotrofinas (8 a 10% vs 15 a 20%)167. Na expe-
seis meses, com as restantes a surgirem no riência deste autor, cerca de 30% das doentes
decurso de ano e meio após o procedimen- com infertilidade inexplicada alcançaram gra-
to cirúrgico9. Sempre que possível, a cirurgia videz ao fim de quatro ciclos de estimulação
laparoscópica deverá prevalecer sobre a la- com gonadotrofinas e IIU, com 20% de gravi-
parotómica. No âmbito cirúrgico, não existe dez múltipla. Assim, o primeiro tratamento da
vantagem significativa do LASER CO2 ou da infertilidade inexplicada nas mulheres jovens
electrocirurgia, quer no aspecto sintomático (menos de 35 anos) deverá ser de 3/4 IIU em
quer no que respeita às taxas de gravidez ciclos estimulados com gonadotrofinas. Caso
pós-cirurgia. Se o tempo operatório poderá não ocorra gravidez, a doente deve ser orien-
estar reduzido com a utilização do LASER, tada para fecundação in vitro.
esta técnica tem a desvantagem de ser mui- Pode constatar-se, em diversos estudos, re-
to mais cara e de exigir formação e processo ferências à diminuição da probabilidade de
de aprendizagem/treino específico. êxito à medida que progride a idade da mu-
Na ausência de dor ou de outros sintomas lher, nomeadamente a partir dos 40 anos. Em
com relevo, sem a presença de endometrio- alguns, a percentagem de gravidez por ciclo,
mas com mais de 3/4 cm, uma opção de 1.a com a estimulação ovárica controlada e IIU,
linha por fecundação in vitro é adequada, em- na infertilidade inexplicada de mulheres com
bora os resultados FIV possam ser melhores mais de 40 anos, é de cerca de 5% comparada
após a realização de tratamento cirúrgico. com 10 a 15% em idades inferiores.
Também na fecundação in vitro por infertilida-
5.7. INFERTILIDADE INEXPLICADA de inexplicada, as probabilidades de êxito por
ciclo com transferência embrionária declinam
O diagnóstico de infertilidade inexplicada significativamente em mulheres de idade su-
resulta de uma avaliação clínica normal com perior a 40 anos ou mesmo a partir dos 35. As
exames auxiliares negativos, i.e., deverá ser percentagens de nados-vivos por transferência
colocado quando a mulher tem ciclos ovula- são somente de cerca de 10%. Se utilizados
tórios normais, exames pélvico, analítico, eco- ovócitos doados por mulheres jovens, a mes-
gráfico e histerossalpingográfico também nor- ma percentagem subirá para pelo menos 50%.
mais e no espermograma existam pelo menos
20 milhões de espermatozóides móveis9. 5.8. REPRODUÇÃO MEDICAMENTE
O tratamento primordial deve assentar na es- ASSISTIDA
timulação ovárica controlada associada à IIU.
Alguns autores referem que a inseminação 5.8.1. INSEMINAÇÃO INTRA-UTERINA168,171,173,174
deve ser realizada no dia anterior ao da ovu-
lação espontânea, na manhã do dia seguin- Os espermatozóides são depositados aos mi-
te ao da detecção urinária de LH, ou 34 a 36 lhões no aparelho genital feminino, num pro-

Infertilidade 39
cesso que é de grande perda biológica, uma — Filtrar os espermatozóides, isto é, efectu-
vez que dos milhões depositados na cavida- ar uma selecção com base na morfologia

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de vaginal apenas uma escassa dúzia chega- e na motilidade.
rá junto do ovócito e apenas um conseguirá — Armazenar os espermatozóides normais
nele penetrar determinando a fecundação. para uma libertação contínua e prolon-
De facto, 100 a 200 milhões de espermato- gada para o tracto genital superior, forne-
zóides são emitidos em cada ejaculação, com cendo os elementos energéticos necessá-
uma concentração entre 30 a 50 milhões por rios à «caminhada» dos espermatozóides.
ml, mas são tão difíceis os obstáculos que têm — Participar na capacitação.
de enfrentar, que a maior parte não os conse- Assim, o canal cervical pode ser visto como
gue ultrapassar e morre. Assim, tal como para uma válvula biológica que, em diferentes
os gâmetas femininos, também o processo épocas do ciclo, promove ou impede o avan-
de reprodução é, para os gâmetas masculi- ço dos gâmetas para a cavidade uterina e
nos, um processo de grande desperdício. tracto genital superior, e que também se-
A vagina é o local da inseminação, mas é um lecciona o transporte, eliminando a grande
domínio hostil do qual os espermatozóides maioria por critérios de motilidade e morfo-
têm de escapar para conseguir sobreviver. O logia. Esta selecção faz-se em grande parte
pH vaginal entre 3,5 a 4, é um pH ácido, im- pelo alinhamento das macromoléculas do
próprio à sobrevivência dos gâmetas mascu- muco cervical, constituindo canais por onde
linos. O pH óptimo para subsistirem é muito ascenderão com alguma facilidade os esper-
mais alcalino (7 a 8,5)169,170. Em pH abaixo de matozóides normais e com progressão line-
6, a motilidade dos espermatozóides fica ar, mas onde os outros terão dificuldade em
francamente inibida (o fluido seminal é alca- progredir e ficarão retidos.
lino com pH médio de cerca de 7,5). A meio Num contexto de fertilidade normal, 99,9%
do ciclo, o muco cervical tem um pH de cer- dos espermatozóides depositados na vagi-
ca de 8, idêntico ao do líquido seminal. na morrem nesse ambiente hostil antes de
Após colocação na vagina, muito poucos alcançarem a protecção do santuário cervi-
espermatozóides sobrevivem mais de 30 mi- cal. Posteriormente, muitos serão ainda eli-
nutos, pelo que é necessário que alguns pe- minados e apenas um escasso número de ±
netrem rapidamente para o interior do muco 12 alcançará o local da fecundação para se
cervical para assegurar uma população que confrontar com o ovócito168,171.
sobreviva e conserve a motilidade (é já uma O mecanismo de selecção não é completa-
população muito diminuída)171. mente claro, mas é provavelmente resultado
Uma vez depositado o sémen, com milhões da conjugação de propriedades intrínsecas
de espermatozóides na vagina e colo do úte- do espermatozóide e da sua interacção com
ro, são esperadas da parte do canal cervical o muco. A análise simultânea da motilidade e
uma série de funções: morfologia mostra que os morfologicamen-
— Actuar como uma verdadeira válvula te anormais são menos móveis e têm menor
biológica, promovendo a ascensão dos probabilidade de poder migrar com veloci-
espermatozóides no período periovula- dade idêntica à dos gâmetas normais168. A
tório e impedindo-a em outros momen- migração em meios de cultura também os
tos do ciclo. selecciona com base na morfologia, obten-
— Proteger os espermatozóides do am- do-se populações morfologicamente mais
biente hostil da vagina. ricas (74% normais). Isto significa, que a se-
— Promover as condições necessárias para lecção em meio de cultura com base na mo-
transporte (ascensão) dos espermato- tilidade e morfologia é eficaz, mas que a pro-
zóides. porção dos morfologicamente normais após

40 Capítulo 28
migração no muco cervical é muito maior se nas trompas alterados, imóveis e sem via-
(91%), revelando que o muco é um meio bilidade, incapazes de fecundar o ovócito179.

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de migração mais selectivo do que o meio Por outro lado, os gâmetas masculinos que
de cultura. Em resumo, os espermatozóides ficaram resguardados e protegidos no reser-
morfologicamente normais migram mais vatório cervical, e que alcançaram as trom-
rápido e de forma linear, enquanto os mor- pas mais tarde, depois de decorrido o tempo
fologicamente anormais encontram maior suficiente para capacitação, possuem maior
resistência da parte do muco, pelo que esta poder fecundante. Porque a vagina é um am-
diferença, mais do que o vigor intrínseco do biente hostil, que destrói os espermatozóides,
espermatozóide, é responsável pela exclu- estes têm de provir de um outro reservatório,
são dos gâmetas anormais. que obviamente é o canal cervical, particular-
Os gâmetas masculinos alcançam o tracto ge- mente as criptas das glândulas e as fendas in-
nital superior por intermédio de dois tipos de terglandulares. O muco forma canais, por ali-
transporte: um sistema de transporte rápido nhamento das suas macromoléculas, criando
e outro lento a partir de um reservatório168. trajectos de baixa resistência que guiam os
Alguns espermatozóides chegam ao trac- espermatozóides para as criptas das glându-
to genital superior de uma forma extrema- las cervicais180-183. Os alojados nas criptas, ou
mente rápida, referindo alguns autores que aderentes à mucosa do canal cervical, onde
alcançam as trompas cinco minutos após ficam viáveis por vários dias (até sete)184 são
inseminação175. Neste transporte rápido, os capazes de abandonar esse reservatório e de
fenómenos passivos176 têm mais importância migrar para as trompas de Falópio. Os que fi-
que a migração activa, porque a velocidade cam retidos no muco cervical representam a
do espermatozóide in vivo não pode ser tão população que é excluída, que é armadilhada
superior à revelada in vitro que justifique um e retida (em função da morfologia e do tipo
percurso tão longo em tempo tão curto. O de motilidade) no tracto genital inferior. No
mecanismo que melhor explica o transporte entanto, mesmo os retidos no muco conser-
passivo é as contracções coordenadas da va- vam capacidade funcional por vários dias.
gina, do útero e das trompas de Falópio, fun- Assim, o canal cervical e o muco são impor-
cionando como um mecanismo de aspiração tantes, não só para transporte, mas também
global. Estas contracções estão perfeitamen- para filtrar e regular a fisiologia dos esper-
te documentadas na altura do orgasmo. As matozóides, nomeadamente a capacitação.
prostaglandinas do sémen e outras subs- O ovócito humano maduro é recoberto por
tâncias, como a endotelina, que têm grande uma série de camadas protectoras que têm
poder de contracção do músculo liso, podem de ser penetradas para que aconteça a fe-
também ter influência nas contracções177. O cundação. O espermatozóide possui diver-
objectivo biológico desta forma de transpor- sas enzimas, elaboradas para conseguir a pe-
te permanece obscuro, mas existem indica- netração do ovócito, como a hialorunidase, a
ções de que os primeiros espermatozóides a enzima penetradora da corona e a acrosina.
alcançarem a parte alta do tracto genital po- Estas enzimas encontram-se numa região
dem não ser funcionantes, porque é necessá- capsular do gâmeta masculino, o acrosso-
rio que haja capacitação, i.e., que seja modi- ma. A reacção do acrossoma, é um processo
ficada a membrana da cabeça do esperma- que envolve a fusão localizada em pontos da
tozóide para que possa ocorrer a reacção do dupla membrana, com fusão e lise, vesicula-
acrossoma, o que é um processo que requer ção e libertação dos conteúdos. Para que o
tempo, horas e não minutos178, como aconte- fenómeno ocorra é necessário que tenha
ce no transporte rápido. Os espermatozóides havido capacitação, isto é, uma modificação
transportados de forma rápida apresentam- da membrana da cabeça, que o possibilite.

Infertilidade 41
A reacção tem de ocorrer na vizinhança do tilidade inexplicada. O Registo Europeu da
ovócito e, até esse momento, foi inibida por European Society of Human Reproduction and

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factores presentes no líquido seminal168. Embryology (ESHRE) indica uma percenta-
A capacitação pode ser alcançada in vitro gem de gravidez de 12% por tentativa8.
em cinco a sete horas, mas in vivo tem lugar
quando o espermatozóide se encontra no Inseminação intra-uterina – material e proce-
canal cervical e no muco, que parecem estar dimentos (Fig. 25)
envolvidos no processo.
A lógica em que assenta a IIU, é a da convic- Material
ção, de que colocar espermatozóides para lá Frasco estéril para colheita do esperma
do obstáculo que é o canal cervical, aumen- Estufa de CO2 a 37 oC
tando a sua concentração no tracto genital Lâminas e lamelas
superior, proporciona maior probabilidade de Microscópio
fecundação, porque foram ultrapassadas as Câmara de Neubauer
principais barreiras. Quando realizado com es- Centrífuga
perma fresco, o procedimento ignora muitos Tubos de centrífuga
dos conhecimentos da fisiologia cervical, da Sperm Preparation Medium (SPM)
interacção do esperma com o muco, incluindo Supra Sperm System (SSS)
o conceito de reservatório cervical, do papel Catéter de inseminação
do muco na selecção dos espermatozóides, a Câmara de fluxo laminar classe II vertical
capacitação e o metabolismo dos gâmetas. É
por isso que a inseminação com esperma não Procedimentos
preparado parece não proporcionar taxas de 1. Escrever no contentor de esperma o nome
gravidez superiores às de ocorrência espontâ- do indivíduo e entregar o mesmo para ser
nea em casais inférteis (12%)185. efectuada a colheita.
Assim, a técnica de IIU exige etapas de prepa- 2. Assim que o indivíduo tiver terminado a
ração do esperma, de lavagem, de ascensão colheita colocar o contentor na estufa a
dos espermatozóides através de gradientes 37 oC durante 30 min.
de densidade que proporcionam a selecção, 3. Colocar um volume de gradientes de 80
de migração em meios de cultura, capacita- e 55% num tubo de centrífuga, tendo em
ção em laboratório, etc., prévias à colocação conta o volume de esperma e caracterís-
intra-uterina de uma concentração superior ticas de motilidade e concentração e adi-
ao conseguido pelo coito normal. Dito de cionar o volume total de esperma.
outra forma, o objectivo é o de colocar um 4. Centrifugar a 1.800 rpm, 20 min.
concentrado de espermatozóides da melhor 5. Retirar o sobrenadante, passar o pellet
qualidade possível no tracto genital supe- para um novo tubo de centrífuga, adicio-
rior, mas de espermatozóides previamente nar 2 ml de SPM e homogeneizar.
preparados, porque o esperma foi «lavado» 6. Centrifugar a 1.100 rpm, 10 min.
e os gâmetas foram seleccionados e capa- 7. Desprezar o sobrenadante, adicionar 2
citados pela migração em meios de cultura. ml de SPM, homogeneizar e centrifugar a
Colocados próximo do local da fecundação, 1.100 rpm, 10 min.
deverão estar proporcionadas maiores pro- 8. Desprezar o sobrenadante e adicionar um
babilidades de gravidez. volume de SPM até um máximo de 0,5 ml
Daqui decorre o interesse do tratamento na tendo em conta o pellet obtido.
oligo, terato e astenzoospermias ligeiras ou 9. Encher o catéter de inseminação com uma
moderadas, em factores cervicais, nas ano- seringa de 1 ml.
malias do tracto genital inferior ou na infer- 10. Colocação intra-uterina do preparado.

42 Capítulo 28
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Sémen

Colheita de esperma Gradiente 55%


por masturbação Centrifugação da
Gradiente 80% amostra

Catéter de inseminação Homogeneização da


amostra
Inseminação

Figura 25. Resumo esquemático − inseminação intra-uterina. (cortesia de Alice Pinto).

5.8.2. FECUNDAÇÃO IN VITRO186 identifica pela observação de expansão de


células da coroa e pela extrusão do primeiro
Após a travessia do canal cervical, os esper- globo polar. Um ovócito maduro é um ovóci-
matozóides ascendem na cavidade uterina to rodeado por várias camadas de células da
para se encontrarem com o óvulo na porção granulosa, pela sua zona pelúcida e pela ob-
ampolar da trompa. Para poder ser fecunda- servação do primeiro globo polar (Fig. 26).
do, o ovócito captado pela trompa tem de
ser maduro (metafase II).
Ao nascimento, os ovários possuem dois mi-
lhões de ovócitos em estado primordial, ro-
deados por apenas uma camada de células
da granulosa. Não são fecundáveis porque se
encontram em prófase da meiose 1. Perden-
do-se permanentemente por apoptose, na
adolescência são já apenas cerca de 400.000,
mas com a maturação do eixo hipotálamo-
hipófise-gónadas poderão ser libertados em
estado fecundável. Assim, a descarga de LH
que determina a rotura folicular e a ovulação,
também activa a meiose do ovócito, de prófa-
se da meiose 1, em que estava parado desde
a vida embrionária, até à metáfase da meiose
2, estádio em que já é fecundável e que se Figura 26. Ovócito (metafase II).

Infertilidade 43
Os espermatozóides ligam-se à zona pelú- Após a singamia, iniciam-se os fenómenos
cida (binding), iniciam a reacção do acros- de divisão mitótica, em que cada célula dá

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soma e penetram na zona pelúcida (zona origem a outra igual, podendo observar-se o
penetration) para se ligarem à membrana embrião de duas células (1.o dia), quatro (2.o
plasmática (membrana fusion) do ovócito. dia), oito (3.o dia) (Figs. 28 a 30), etc., até um
De seguida, um dos gâmetas masculinos número incontável de células (4.o dia) desig-
funde-se com o ovócito, penetra no cito- nado por mórula (Fig. 31). Prossegue multi-
plasma, e o óvulo está fertilizado, podendo plicação contínua, mas segue-se um proces-
observar-se uma célula com dois pronúcle- so de organização/diferenciação celular que
os e dois globos polares (Fig. 27). dá origem ao blastocisto, que é uma entida-
Os dois pronúcleos, masculino e feminino, de mais organizada, com um pólo de massa
apõem-se, destroem as membranas pronu- embrionária implantatória (trofoectoderme
cleares que os envolvem e emparelham os polar) e uma cavidade com líquido (5.o e 6.o
cromossomas de forma alinhada − singamia. dias) (Fig. 32).

Figura 27. Pronúcleos. Figura 29. Embrião de quatro células.

Figura 28. Embrião de duas células. Figura 30. Embrião de oito células.

44 Capítulo 28
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Figura 31. Mórula. Figura 32. Blastocisto.

O processo de proliferação celular e a dife- O objectivo de qualquer tratamento FIV deve


renciação em blastocisto, que é a estrutu- ser o de realizar a terapêutica com sucesso,
ra com capacidade implantatória, demora mas de uma forma simples e cómoda. Os
cerca de sete dias, e ocorre na trompa nos tratamentos de reprodução medicamente
primeiros quatro e na cavidade uterina nos assistida são frequentemente caros e com-
últimos três. plexos. Uma boa prática clínica, deve inves-
A fecundação in vitro iniciou uma verdadeira tir em esforços que reduzam os obstáculos
revolução no tratamento da infertilidade com colocados aos doentes, tentar simplificar os
nascimento, em 1978, de Louise Brown. Os tratamentos e diminuir o stress emocional e
tempos essenciais do tratamento constam, psicológico a que os casais estão sujeitos. Por
de estimulação médica dos ovários (gonado- isso, são muito importantes todos os proto-
trofinas com efeito FSH) que proporciona um colos ou procedimentos cujo objectivo seja
desenvolvimento folicular múltiplo, indução de simplificação, de alívio da pressão sobre
da maturação ovocitária (gonadotrofina com os doentes e de diminuição dos custos.
efeito LH), aspiração e recolha dos ovócitos Os tratamentos de fecundação in vitro têm
por ultrassonografia transvaginal, proces- vindo a melhorar as suas taxas de gravidez,
samento in vitro dos gâmetas e fecundação, que em muitas clínicas se situam entre os 40
cultura de desenvolvimento embrionário e e os 50% por transferência embrionária. Os
transferência para a cavidade uterina. resultados europeus assinalam uma média
Dada a sua disseminação, estima-se que nas- de 30% de gravidez por transferência, que em
ceram já mais de três milhões de crianças em Portugal é de 35,4% e de 26,8% de parto8.
todo o mundo fruto da fecundação in vitro, A fecundação in vitro tornou-se de tal for-
que se realiza um número superior a 500.000 ma um tratamento de rotina que, por vezes,
ciclos por ano na Europa, o que significa con- embora de forma inadequada, existe algum
tribuir com 1 a 6% para o total de crianças facilitismo na proposta para a sua realiza-
que nascem por ano neste continente4-6. ção. Embora as indicações clássicas sejam
Posteriormente, os desenvolvimentos do o factor tubar e o factor masculino, a sua
tratamento base vieram permitir a realiza- aplicação tem vindo progressivamente a ser
ção da ICSI de espermatozóide e o diagnós- estendida a outras causas da infertilidade. O
tico genético pré-implantatório. desejo de conseguir um filho no mais curto

Infertilidade 45
período de tempo, associado à divulgação As profundas alterações originadas pela
pela comunicação social da existência de no- idade no processo da reprodução levam al-

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vas técnicas e medicamentos, bem como um gumas clínicas a propor sistematicamente
mais fácil acesso a serviços de infertilidade, a doação de ovócitos depois dos 40 anos.
constituem factores de grande importância Claro que os critérios são variáveis de centro
no crescente aumento de recurso a cuidados para centro, mas à medida que a probabili-
médicos nesta área188. dade de gravidez por transferência embrio-
O leque de eventuais indicações consta do nária cai para menos de 10%, muitos não
quadro 6. deixam de considerar que deve ser com-
A idade feminina é o factor com maior influ- parada com os 50 a 60% obtidos nos ciclos
ência no sucesso da fecundação in vitro e, com doação de ovócitos.
tal como com a fecundação espontânea, as Existe também um efeito da idade paterna
probabilidades de gravidez declinam acen- na probabilidade de êxito dos ciclos FIV,
tuadamente a partir dos 35 anos. embora não comparável ao da influência da
Dados dos registos da SART salientam um idade feminina. Ele é discreto e inicia-se um
declínio acentuado e progressivo das per- pouco mais tarde, por volta dos 50 anos.
centagens de gravidez a partir dos 35 anos
de idade da mulher e uma quase inexistên- Avaliação uterina
cia de probabilidade de “êxito” a partir dos No contexto da proposta de fecundação
40189 (Fig. 22). in vitro, deve ser realizada uma técnica de
Também outros estudos mostram, no con- imagem que permita a avaliação da cavi-
texto FIV, uma percentagem de partos por dade uterina. Os defeitos endometriais, os
punção de 36,9% em mulheres com idade miomas, as anomalias congénitas como o
inferior a 35 anos, que diminui para 20,5% septo ou o útero bicórneo, as sinequias,
entre os 38 e os 40, e que é de apenas 10,7% as endometrites, devem ser identificadas
aos 41/42 anos9. antes da realização de um tratamento FIV.
A importância deste aspecto deve ser salien- A histerossalpingografia continua a ser
tada, porque em mais de 50% dos casais que importante, embora possa ser comple-
recorrem à fecundação in vitro a mulher tem mentada pela histerossonografia com soro
idade igual ou superior a 35 anos e em quase fisiológico.
90% mais de 308,190. Acresce que o progredir A histeroscopia de consultório (mini-his-
da idade da mulher está também associado teroscopia) é também uma opção, tornan-
a aumento da percentagem de abortamen- do-se um exame indispensável perante
to e do risco, pequeno mas significativo, de suspeita levantada por outra técnica de
ocorrência de anomalias cromossómicas no imagem ou após o insucesso de dois ciclos
recém-nascido. FIV (Figs. 33 a 35).

Quadro 6. Indicações da fecundação in vitro

Factor tubar
Endometriose
Infertilidade inexplicada
Oligo/asteno/teratospermia moderadas
Insucesso com outras técnicas (IIU)
Idade avançada

46 Capítulo 28
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Figura 33. Mini-histeroscopia – sufusões hemorrágicas dispersas, septo e miomas (cortesia de Campo R, LIFE).

Figura 34. Mini-histeroscopia – polipose endometrial e mioma (cortesia de Campo R, LIFE).

Figura 35. Mini-histeroscopia – endometrite, defeitos endometriais e hipervascularização (cortesia de Campo R, LIFE).

Infertilidade 47
Cirurgia prévia a fecundação in vitro minuem nas mulheres com hidrossalpinge,
Por vezes, o exame ultrassonográfico revela alguns autores falam de um efeito mecânico

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a existência de miomas uterinos, cuja neces- da afluência de líquido tubar para a cavidade
sidade de intervenção cirúrgica é estabeleci- uterina, enquanto outros salientam o efeito
da pelo número, localização e tamanho dos tóxico sobre o desenvolvimento embrioná-
tumores. Os miomas submucosos dificultam rio. Um estudo multicêntrico randomizado
a implantação e, em relação a estes, existe mostrou que, de forma indiscutível, ocorria
consenso sobre o benefício da ressecção his- um aumento das taxas de gravidez FIV nas
teroscópica antes do ciclo FIV191 (Fig. 36). doentes operadas previamente de salpin-
gectomia ou de oclusão tubar proximal por
motivo de hidrossalpinge192,193.

Avaliação ovárica e exames analíticos


Os exames analíticos a solicitar antes da rea-
lização de um ciclo de fecundação in vitro
constam do quadro 7.
Há que reconhecer que este conjunto de exa-
mes analíticos é porventura exagerado, como
por exemplo no que se refere a alguns dosea-
mentos hormonais, cuja avaliação dificilmen-
te acarretará benefício para o ciclo FIV. Claro
que o doseamento da PRL, das hormonas tire-
óideas e esteróides, é imprescindível para ava-
Figura 36. Ressectoscopia de mioma. liação em outros contextos de infertilidade,
como por exemplo por anovulação ou qua-
dros endócrinos. Mas na ausência de quadros
Os miomas subserosos não prejudicam a clínicos com sintomas ou sinais físicos especí-
probabilidade de gravidez e habitualmente ficos, a avaliação hormonal, bem como outros
não são tratados, a não ser que despertem parâmetros analíticos, podem ser limitados.
sintomas ou possuam grandes dimensões. Uma reserva ovárica diminuída traduz-se
A maior controvérsia reside sobre o que fa- pela dificuldade/incapacidade do ovário em
zer perante miomas intramurais. A proximi- responder à estimulação e de fornecer ovó-
dade em relação à cavidade endometrial, o citos maduros que possam originar embri-
tamanho, o número, a existência ou não de ões viáveis e gravidez. Assim, é importante
desvio da linha endometrial, são parâmetros a avaliação prévia da função ovárica, como
a ter em conta e que podem influenciar a tentativa de identificação das eventuais más
decisão de realizar miomectomia, já que os respondedoras. Essa identificação permite
miomas intramurais são susceptíveis de di- avaliar o prognóstico, alterar protocolos de
minuir a probabilidade de gravidez72. tratamento ou indicar alternativas como a
O hidrossalpinge é outra entidade patoló- doação de ovócitos. No entanto, desacon-
gica a requerer intervenção cirúrgica antes selhar o tratamento com base nos testes
da realização de um ciclo FIV. As mulheres de avaliação da função ovárica não é uma
com hidrossalpinge têm menor probabilida- atitude recomendável e pode originar erros
de de conseguir gravidez por FIV do que as importantes, porque os métodos disponíveis
que não apresentam esta patologia. Embora não permitem uma avaliação fidedigna, são
não seja completamente conhecida a razão muitas vezes falíveis e nenhum possui uma
pela qual as probabilidades de gravidez di- acuidade suficiente para indicar a forma exac-

48 Capítulo 28
Quadro 7. Exames analíticos pré-FIV

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Mulher Homem

Hemograma com plaquetas Hemograma com PLT


Grupo sanguíneo e factor RH Grupo sanguíneo e factor RH
Glicemia, ureia, creatinina, ácido úrico VDRL, Atg e Atc Hbs, HCV
TGO, TGP, fosfatase alcalina, γ-GT, Bilirrubinas e DHL HIV I e II
Serologias: rubéola, toxoplasmose, VDRL
Atc CMV, Atg e Atc Hbs, Atc HCV,
HIV I e II
Doseamentos hormonais: TSH, T3 e T4 livre
FSH, LH, PRL e estradiol (2.o/3.o dia pm)
Δ4-androstenodiona, testosterona livre,
DHEASO4, 17OHP
Urina tipo II

ta como o ovário irá responder à estimulação. número inferior a cinco por ovário permite
De facto, a única maneira rigorosa de verificar prever má resposta e uma contagem de 5 a
a resposta ovárica é pelo juízo sobre o desen- 10 é premonitória de boa estimulação.
volvimento folicular durante a estimulação. Os níveis de FSH ao 3.o dia do ciclo e a conta-
Assim, embora as tentativas de avaliação da gem ultrassonográfica dos folículos antrais,
reserva ovárica sejam uma prática frequen- têm idêntico valor para predição da resposta
te, o seu valor é discutível. Habitualmente ovárica e ocorrência de gravidez. De forma
utilizam-se o doseamento de FSH ao 3.o dia genérica, um teste prévio normal não tem
do ciclo, o teste do clomifeno, a contagem muito significado, mas um resultado anor-
ultrassonográfica de folículos antrais em fase mal tem valor de previsão de insucesso194.
folicular precoce, doseamento da hormona De qualquer forma, estes testes têm de ser
antimulleriana e o teste da inibina B187. valorizados em função do contexto clínico
Alguns autores aconselham o doseamento global em que outros parâmetros, como a
de FSH ao 3.o dia do ciclo como método de idade ou a massa corporal, têm também va-
identificação das doentes com reserva ová- lor preditivo importante. E é no contexto de
rica diminuída, indicando valores superiores todos os parâmetros clínicos que a avaliação
a 15 mu/ml como denotando fraca reserva e da reserva ovárica deve ser valorizada e es-
previsão de má resposta à estimulação. tabelecido o aconselhamento das doentes
O teste de clomifeno consiste na medição do candidatas a FIV.
nível de FSH ao 3.o dia, seguido de uma nova Uma mulher com mais idade e reserva ová-
avaliação ao 10.o, tendo sido administrados rica diminuída terá menor probabilidade de
100 mg do medicamento do 5.o ao 9.o. O tes- gravidez e poderá escolher como alternati-
te é valorizado pela diferença de valores de va a doação de ovócitos. Uma outra, jovem,
FSH (mu/ml) entre os dois doseamentos. com testes de avaliação da reserva ovárica
A contagem ultrassonográfica de folículos anormais, poderá beneficiar da mudança
antrais em fase folicular precoce tem também para um protocolo de estimulação diferente
idêntica finalidade, considerando-se que um do inicialmente previsto.

Infertilidade 49
Avaliação masculina lículos, aumenta a produção de androgénios
A avaliação prévia ao ciclo de fecundação e a sua transformação em estrogénios (an-

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in vitro requer o estudo da vertente mascu- drostenodiona em estrona e testosterona em
lina. A análise do espermograma, nos seus estradiol). O estradiol é produzido em con-
diferentes parâmetros, em particular de nú- centrações progressivamente mais elevadas
mero, morfologia e motilidade dos esperma- e o aumento dos seus níveis sanguíneos tem
tozóides, identificará muitas situações com efeito de retrocontrolo negativo sobre FSH,
anomalias (Quadro 8), algumas das quais só cujas concentrações diminuirão, originando
poderão ser ultrapassadas por recurso à ICSI, o processo de selecção do folículo dominan-
embora possam existir factores masculinos te. Um folículo continuará a desenvolver-se e
subtis com valores normais no seminograma. a produzir quantidades crescentes de estra-
Em algumas situações de azoospermia, po- diol, enquanto os restantes evoluirão para a
dem obter-se espermatozóides por meios atrésia/apoptose. No essencial, o folículo que
cirúrgicos, aspiração do epididimo e aspira- adquiriu maiores dimensões e sensibilidade
ção ou biopsia testicular, realizados em am- ao FSH continuará a aumentar a produção de
bulatório. O material obtido fica disponível estradiol, enquanto os folículos de menores
a fresco ou será objecto de criopreservação dimensões e menos sensíveis evoluirão para
para utilização em ciclos posteriores. a atrésia como consequência dos decrescen-
As probabilidades de gravidez na oligosper- tes níveis de FSH provocados pelo retrocon-
mia grave são equivalentes às verificadas trolo negativo. O folículo seleccionado como
para outros diagnósticos de infertilidade, em dominante continuará a desenvolver-se até
particular na ausência de associação com aos estados pré e ovulatório, sendo possível a
factores femininos. utilização do ovócito nele contido para reali-
zação da fecundação in vitro. Foi por intermé-
Protocolos de estimulação dio da colheita laparoscópica de um ovócito
Ciclo natural em ciclo natural que resultou o nascimento
No início do ciclo menstrual, a GnRH estimu- de Louise Brown em 1978195.
la a hipófise anterior a libertar uma mistura Como no ciclo natural se obtém um único
de FSH e LH que origina o recrutamento e ovócito e existem grandes dificuldades em
crescimento de um determinado número de identificar o “momento” ovulatório, bem
folículos primordiais. como de calendarização da colheita para
O FSH actua nos seus receptores das células momento adequado, desenvolvimentos
da granulosa e aumenta a actividade aroma- posteriores vieram habilitar-nos com agen-
tásica que transforma os androgénios, produ- tes farmacológicos capazes de induzir cresci-
zidos pela teca sob a acção de LH, em estro- mento folicular múltiplo, com a possibilidade
génios. À medida que os folículos crescem, de obter vários ovócitos por ciclo, e controlar
incrementa-se a acção de FSH e LH nesses fo- o tempo de maturação e extracção dos ovó-

Quadro 8. Anomalias do espermograma

Oligospermia: < 20 milhões espermatozóides/ml

Astenozoospermia: < 25 % com progressão rápida

Teratospermia: formas normais < 15 %

Azoospermia: ausência de espermatozóides no ejaculado

50 Capítulo 28
citos. Diversos estudos que compararam as Foram realizados diversos estudos de com-
probabilidades de gravidez FIV em ciclo na- paração de ciclos FIV com administração dos

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tural com ciclos estimulados, demonstraram diferentes preparados, não se podendo afir-
que as taxas são menores em ciclo natural (0 mar que exista uma inequívoca superiorida-
a 6%) do que com estimulação com citrato de de algum deles sobre os outros, quer no
de clomifeno (6 a 10%) e significativamente que respeita à dose necessária para estimu-
superiores quando utilizadas gonadotrofi- lação, quer quanto à qualidade dos ovócitos
nas (20 a 50%). e embriões obtidos ou às taxas de gravidez.
Podem ser ainda melhoradas quando à es-
timulação com gonadotrofinas se associa a Análogos da hormona libertadora das
supressão da onda endógena de LH (30 a gonadrofinas
60%)187. Quando as gonadotrofinas são isoladamen-
te utilizadas para estimulação ovárica em ci-
Gonadotrofinas clos FIV, 20 a 30% dos ciclos têm de ser can-
A maioria dos programas FIV baseia-se na es- celados por virtude da ocorrência de ondas
timulação ovárica com gonadotrofinas exó- prematuras de LH.
genas. As mais frequentemente utilizadas são Recorde-se que, em ciclo espontâneo, a onda
as recombinantes e as purificadas extraídas de LH é desencadeada por um feedback po-
da urina de mulheres pós-menopáusicas. sitivo do estradiol produzido pelo folículo
Os resultados da FIV com protocolos de es- dominante, a partir de níveis sanguíneos de
timulação com gonadotrofinas situam-se 150-200 pg/ml.
entre os 20 e os 50%, o que é muito superior Nos ciclos estimulados contribuem para os
ao verificado em ciclo natural ou quando a níveis sanguíneos de estradiol vários folículos
estimulação é efectuada com citrato de clo- de menores dimensões que, em conjunto, isto
mifeno. A administração é intramuscular ou é pelo somatório das suas produções, fazem
subcutânea, existindo diversos preparados com que mais rapidamente se atinjam os níveis
farmacológicos, com proporções variáveis desencadeantes do feedback positivo sobre
de FSH e LH (u-FSH 1:1, hp-FSH 75:1, r-FSH LH, o qual, por seu turno, inicia a luteinização
75:0, r-FSH e r-LH 150:75). precoce da granulosa, antes de completado o
O FSH e o LH são proteínas glicosiladas com desenvolvimento e maturação foliculares, e fe-
uma cadeia α e outra β, sendo que a subu- nómenos de degenerescência ovocitária.
nidade α de LH, é também comum à HCG. Para impedir o prematuro aparecimento da
Nenhuma das subunidades tem actividade onda de LH, foram introduzidos, nos anos
biológica individual. 80, os agonistas de GnRH aplicados à fecun-
Inicialmente eram necessários quatro a cin- dação in vitro.
co litros de urina para fabricar uma ampola A GnRH é um decapeptídeo segregado de
de 75 unidades de FSH. Posteriormente, foi forma pulsátil pelo hipotálamo, para esti-
desenvolvido um anticorpo monoclonal es- mular a libertação do LH e FSH hipofisários.
pecífico que permitiu aumentar a pureza das Quando produzido com pulso de maior fre-
preparações FSH, ora designadas de FSH-HP quência ou amplitude, ou de forma contí-
(altamente purificado) de administração nua, ocorrerá inicialmente uma estimulação
subcutânea. Em tempo ulterior, e por técni- rápida e intensa da hipófise, com elevação
cas de engenharia genética, foi conseguida dos níveis de FSH e LH mas, ao fim de al-
a síntese de FSH, LH e HCG denominadas de guns dias, verificar-se-á um fenómeno de
recombinantes, porque o primeiro passo foi saturação dos receptores hipofisários (down
o de reconstruir a sequência do ADN neces- regulation) que impedirá a acção de GnRH e
sário à sua produção. levará à ausência de resposta por parte da

Infertilidade 51
hipófise. Esta é, também, a forma de acção fise e o impedimento da ocorrência de on-
dos seus análogos agonistas. das prematuras de LH. Numerosos estudos

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De forma diferente, os análogos antagonis- permitiram concluir pela vantagem de utili-
tas actuam por inibição competitiva, sem zação dos análogos agonistas de GnRH nos
efeito estimulador inicial, originando uma ciclos FIV estimulados com gonadotrofinas,
supressão imediata da libertação das gona- com diminuição das taxas de cancelamen-
dotrofinas. to para apenas cerca de 2% e obtenção de
É possível, por meios sintéticos, substituir maiores percentagens de gravidez.
aminoácidos nas cadeias do decapeptídeo Mas o objectivo pode não ser o de obter um
GnRH e, conforme o tipo e posição dos subs- efeito de estimulação folicular adicional ao
tituídos, obter análogos com acção agonis- das gonadotrofinas, mas somente o de evitar
ta ou antagonista, resistentes à degradação a onda prematura de LH e, neste caso, a ad-
por endopeptidases, dotando-os de uma ministração do agonista deverá iniciar-se no
acção biológica mais activa e duradoura. final da fase luteínica do ciclo anterior. Nessa
Assim, os análogos de GnRH possuem uma fase, o efeito estimulador não terá qualquer
maior afinidade e um maior tempo de ocu- consequência, porque será administrado
pação dos receptores. numa época em que o recrutamento foli-
Quando análogos agonistas são adminis- cular é impossível e em que apenas existe
trados no início de um ciclo FIV, em simultâ- regressão espontânea do corpo amarelo.
neo com as gonadotrofinas (protocolo cur- Neste enquadramento, a estimulação com
to) (Fig. 37) a acção inicial é estimuladora e gonadotrofinas apenas se iniciará quando
adicional, o que levará ao desenvolvimento o efeito de dessensibilização hipofisária es-
de mais folículos e à obtenção de um maior tiver completo, isto é, cerca de 10/12 dias
número de ovócitos na punção mas, ao fim após o início da administração do análogo e
de alguns dias, ocorrerá a saturação hipo- na presença de um valor de estradiol inferior
fisária, a inibição do eixo hipotálamo-hipó- a 50 pg/ml (protocolo longo) (Fig. 38).

GNRH -
AG GNRH - AG

HCG
FSH

FSH

HCG

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Figura 37. FIV/ICSI protocolo curto.

52 Capítulo 28
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GNRH - AG

GNRH -
AG
HCG

FSH

FSH

HCG

21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 - 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29
Ciclo anterior

E2 < 50 pg / ml 3 Fols > 17 mm

Figura 38. FIV/ICSI protocolo longo.

De forma diferente, os antagonistas supri- diminuem rapidamente. A função hipofisá-


mem a hipófise por um mecanismo de inibi- ria normaliza logo que é retirada a adminis-
ção competitiva e ocupação dos receptores tração do antagonista. As características de
da GnRH endógena196. A sua aplicação clínica uma supressão de LH e FSH dependente da
é baseada na capacidade de bloquearem a dose, directa e rápida, com imediata restau-
secreção das gonadotrofinas de forma rápi- ração da função hipofisária após a suspen-
da, reversível, e prevenirem a ocorrência pre- são do medicamento, vieram proporcionar a
matura da onda de LH. Os antagonistas têm simplificação dos protocolos de estimulação
um efeito imediato e os níveis de FSH e LH ovárica para FIV (Fig. 39).

GNRH-ANTAG

GNRH-
ANTAG

HCG

FSH

FSH

HCG

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Figura 39. FIV/ICSI protocolo com antagonista.

Infertilidade 53
Da investigação publicada, pode concluir-se das por ecografia transabdominal utilizando
por taxas de gravidez semelhantes nos pro- a bexiga como janela ultra-sónica.

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tocolos de estimulação que utilizam análo- Hoje, a colheita ovocitária é efectuada por
gos agonistas ou antagonistas, embora nos ultrassonografia transvaginal com agulhas
ciclos com antagonistas possa ocorrer um de punção introduzidas (16/17 gauge) em
menor número de folículos desenvolvidos guias inseridos na sonda. Para obtenção do
mas também, eventualmente, uma melhor conteúdo folicular, apenas é necessária uma
qualidade ovocitária. No entanto, o mais seringa acoplada ao tubo de aspiração da
importante é que o número de embriões agulha, obtendo-se habitualmente ovóci-
transferidos, a qualidade embrionária, as tos em 50 a 80% dos folículos aspirados187.
taxas de implantação e as percentagens de A recolha é rápida e preferencialmente efec-
gravidez clínica são idênticas. tuada sob analgesia/sedação. A sala onde é
Nos ciclos de fecundação in vitro, a matura- efectuado o procedimento deve estar devi-
ção folicular final, o início da luteinização das damente equipada e em localização anexa
células da granulosa e o reactivar da meiose ao laboratório de biologia, para que o trans-
ovocitária, são obtidos pela HCG («parente» porte dos gâmetas femininos se efectue de
de LH) administrada quando se objectivam forma rápida e sem precalços.
três ou mais folículos com diâmetro supe- Os conteúdos foliculares obtidos, no seio dos
rior a 17 mm, devendo a punção folicular ser quais se encontram os ovócitos, são proces-
agendada para 34 a 36 horas após a admi- sados num microscópio estereoscópico em
nistração intramuscular do fármaco. placas de Petri previamente aquecidas a 37o.
Também o estado de desenvolvimento do Os ovócitos são isolados e lavados em meio
endométrio deve ser acompanhado, con- apropriado, que retira o excesso de sangue,
siderando-se como idealmente preparado permitindo uma melhor observação dos gâ-
o que apresentar um aspecto ecográfico metas femininos e das células da granulosa
«trilaminar» e espessura entre 8 a 12 mm que os envolvem. A avaliação da maturação
(Fig. 40). ovocitária é efectuada por observação da ex-
pansão das células do complexo cumulus-co-
Colheita de ovócitos rona. Um ovócito pré-ovulatório, ou maduro,
Nos primórdios da FIV, a colheita dos ovóci- é o que apresenta expansão e luteinização do
tos exigia cirurgia laparoscópica. Posterior- cumulus, com disposição radial da corona, as-
mente, foram implementadas técnicas guia- semelhando-se à imagem do sol (Fig. 41).

Figura 40. Ultrassonografia: endométrio «trilaminar».

54 Capítulo 28
— Identificar a placa de quatro poços com o
nome da paciente e:

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v Se se tratar de uma FIV, colocar nos po-
ços 1, 2 e 3 um volume de 0,7 ml de IVF e
no poço 4 um volume de 0,7 ml de ISM1.
v Se se tratar de uma ICSI, colocar nos poços
1 e 2 um volume de 0,7 ml de IVF e nos po-
ços 3 e 4 um volume de 0,7 ml de ISM1.
— Para cada punção colocar dois tubos na
estufa com cerca de 9 ml de PBS, um
tubo também cheio com SPM e dois tu-
Figura 41. Ovócito maduro (disposição radial da coro- bos com gradientes a 80 e 55% num vo-
na – «imagem de sol»). lume de 4 ml cada.
Dia 0:
— Ligar a câmara de fluxo laminar 30 minu-
A recuperação “pós-operatória” é também tos antes da punção e limpá-la muito bem
rápida e a doente pode regressar ao domicí- com H20 bidestilada estéril e uma gaze.
lio uma a duas horas após a punção. — Lavar agulha de punção com aproxima-
damente 2 ml de PBS.
Punção folicular – material e procedimentos — Encher três seringas (o n.o depende do n.o
de laboratório de folículos) com 1 ml de PBS deixando-as
com a agulha para evitar contaminações.
Material: Colocá-las na estufa a 37 oC.
Agulha de punção — A agulha de punção e as seringas são
Seringas de 20 ml estéreis para aspiração entregues ao responsável pela aspiração
dos folículos com PBS folicular no início da punção.
Seringa de 5 ml estéril com SPM para la- — Colocar as placas de Petri (2-3 grandes e
var ovócitos uma pequena) na placa aquecida (37 oC).
Agulhas de gauge estéreis para todas as — As seringas com líquido folicular são
seringas mantidas a 37 oC enquanto se pesquisam
PBS para lavar a agulha de punção e para os ovócitos.
aspiração de folículos — Colocar SPM na placa de Petri pequena.
Placas de Petri (grandes e pequenas) es- — Colocar o líquido folicular numa placa de
téreis Petri grande (tampa e fundo) e pesquisar
Pipetas Pasteur estéreis para pesquisa os ovócitos à lupa, com baixa intensidade
dos ovócitos luminosa, o mais rapidamente possível.
Tetina — Lavar agulha de punção e seringas numa
Lupa com base aquecida a 37 oC placa já pesquisada para ver se não ficou
Câmara de fluxo laminar nenhum ovócito esquecido no líquido
Todos os meios são pré-equilibrados duran- folicular residual.
te 24 h na estufa de CO2 a 37 oC. — Os ovócitos são bem lavados em SPM e se
necessário é-lhes retirado o sangue das
Procedimentos: células da granulosa com a ajuda de duas
Dia –1: agulhas de insulina. Posteriormente são
Colocar uma etiqueta na estufa com o nome colocados em placa de quatro poços no
da paciente, número de processo e técnica 1.o poço que contém IVF e guardados na
de PMA a ser realizada. estufa a 37 oC e 5% de CO2.

Infertilidade 55
Fecundação in vitro – material e procedimen- 55%, colocando por fim o esperma. São
tos de laboratório necessários cuidados para que os dife-

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rentes líquidos não se misturem. Este
Material: passo é praticado a 1.800 rpm durante
Frasco estéril para colheita do esperma 20 minutos.
Estufa de CO2 a 37 oC — O sobrenadante é retirado, acrescentan-
Lâminas e lamelas do-se ao tubo SPM, levando-o a centrifu-
Microscópio gar durante 10 minutos a 1.100 rpm. Esta
Câmara de Neubauer alínea é repetida mais uma vez.
Centrífuga — Ao pellet resultante da última lavagem
Tubos de centrífuga adicionar muito lentamente SPM, pon-
SPM do-o inclinado a incubar na estufa a 37
o
SSS C – swim-up.
Catéter de transferência — Com a câmara de Neubauer, contar os
Agulhas de gauge estéreis para todas as espermatozóides, ajustar o volume do
seringas líquido espermático de forma a ter mais
Pipetas Pasteur estéreis para as lavagens ou menos 100.000 spz/ml por ovócito.
do esperma — Retirar os ovócitos da estufa, já em IVF, e
Tetina colocá-los em contacto directo com os
Micropipeta e pontas de micropipeta spz no poço número 2.
Câmara de fluxo laminar — Após 16 a 18 horas, desnudar os ovócitos,
Todos os meios são pré-equilibrados du- com pipetas de desnudação e observar a
rante 24 h na estufa de CO2 a 37 oC. presença, e número, de pronúcleos, se-
parando-se os zigotos que tenham dois
Procedimentos: pronúcleos e dois glóbulos polares dos
Dia −1: restantes.
— Preparar quatro tubos contendo: — Após 48 horas, mudam-se os embriões
v Tubo 1: 10 ml de SPM. para ISM2 se se optar por transferência
v Tubos 2 e 3: 4 ml de gradiente de 80 e dos embriões ao 4.o/5.o dia de desenvol-
55% em cada. vimento.
v Tubo 4: 10 ml de PBS. Relativamente ao ponto 4, se o volume de
— Preparar uma placa de quatro poços de pellet resultante é bom, adiciona-se 1 ml de
meio de cultura. Os poços 1, 2 e 3 devem SPM, caso contrário, o tempo de incubação é
ser preenchidos com 0,7 ml de IVF e o mais alargado e com menos volume.
poço 4 com 0,7 ml de ISM1.
— Colocar tudo o que foi preparado na es- Transferência embrionária
tufa. O desenvolvimento embrionário foi já des-
Dia 0: crito em outro ponto deste capítulo.
A primeira fase de uma FIV é a punção, pelo A transferência é a última etapa dos trata-
que devem ser seguidos os passos descritos mentos de fecundação in vitro e tem uma
no respectivo protocolo de punção. importância decisiva na probabilidade de
— Colocar os ovócitos depois de pesqui- êxito, podendo realizar-se com idênticas
sados e isolados no poço número 1 da percentagens de gravidez entre o 2.o e o 5.o
placa de quatro poços, na estufa, a 37 oC, dia do desenvolvimento embrionário.
três a quatro horas. Não está definido qual o melhor tipo de ca-
— Centrifugar, por centrifugação fracciona- téter a utilizar, nem o local ideal da cavidade
da, o líquido espermático com SSS 80 e uterina para colocação dos embriões. Estão

56 Capítulo 28
disponíveis diferentes tipos de catéteres, ticamente autónomo e transforma piruvato
alguns especialmente concebidos para as em glicose como forma de obter o principal

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transferências difíceis. O que parece claro substrato energético. O meio ambiente tem
em diversos estudos, e a nossa experiência pouca influência no processo de metabolis-
também o confirma, é que quando a trans- mo e diferenciação embrionária e funciona
ferência é realizada sob controlo ecográfico mais como facilitador do que como interve-
transabdominal, as taxas de implantação e de niente201. Esta é a razão pela qual é possível
gravidez são significativamente superiores ao obter e manter embriões in vitro durante
verificado com um procedimento cego197,198. 48/72 horas com diversos meios de cultura
Após a transferência embrionária, todo o relativamente simples e até observar o cres-
êxito do tratamento depende de um pro- cimento do trofoblasto humano em embri-
cesso, ainda quase integralmente desconhe- ões «cultivados» em plástico202.
cido e inacessível à interferência médica, a Com a diferenciação celular e a preparação
implantação, que é um fenómeno de gran- para a implantação ocorre no metabolismo
de complexidade e que do ponto de vista embrionário uma transição para um proces-
conceptual não pode ser limitado ao curto so que passa a envolver factores extrínsecos.
e imprevisível período em que o embrião se É exigido ao blastocisto pré-implantatório
«agarra» ao útero. Implica o correcto desen- uma adaptação metabólica ao ambiente
volvimento do embrião pré-implantatório, a uterino, com o qual desenvolve diversos ti-
preparação de um endométrio receptivo, a pos de interacções, influências e dependên-
aposição e adesão na superfície epitelial, o cias, de forma complexa e insuficientemente
reconhecimento materno da presença do conhecida. É pela complexidade e insufi-
embrião, a decidualização do endométrio e ciente conhecimento sobre estes factores
a manutenção do corpo amarelo199. extrínsecos que é difícil desenvolver meios
No entanto, se considerarmos de modo par- de cultura apropriados e continuar a manter
ticular os acontecimentos que ocorrem após por mais tempo os embriões in vitro201.
a chegada do embrião à cavidade uterina e Estes aspectos realçam a importância do
antes da invasão do estroma, podemos ad- componente «secreção endometrial», que
mitir sumariamente três etapas que, embora tem de ser apropriado e temporalmente
de separação artificial, são úteis do ponto de adaptado às necessidades embrionárias
vista da compreensão global do fenómeno. para que o fenómeno implantatório possa
progredir com êxito.
Blastocisto livre
Na cavidade uterina, o embrião continua o Hatching
processo mitótico de proliferação celular e Rotura da zona pelúcida, provavelmente
inicia a sua diferenciação. Neste crescimento provocada por tripsina produzida pela tro-
e diferenciação intervêm, para além de ou- foectoderme, seguida de protusão da mas-
tras substâncias, factores de crescimento e ci- sa embrionária (dia 7). Produção de HCG,
tocinas. Desenvolve-se um local apropriado conjuntamente com diversas substâncias
(«trofoectoderme polar») que, pela produção entre as quais factores de crescimento (fac-
de proteínas específicas, irá proporcionar a tor de crescimento transformador A (TGF-A),
adesão embrionária ao epitélio luminal200. EPF, PAF, insulina-like II, etc.) que sinalizam a
Até este momento o embrião atravessou competência embrionária para iniciar a im-
dois processos metabólicos distintos. Numa plantação200. Assim, ocorre uma sucessão de
primeira fase, enquanto realiza o trajecto tu- sinais enviados do blastocisto alguns dos
bar, o seu metabolismo depende quase ex- quais com possível acção local preparatória
clusivamente de factores intrínsecos, é pra- da implantação.

Infertilidade 57
Ao desenvolvimento de capacidade de ade- Esta sucessão de fenómenos demonstra, o
são pelo citotrofoblasto, correspondem no que do ponto de vista clínico também deve

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endométrio intensas actividades metabóli- ser salientado, a importância da duração
cas e de secreção estimuladas pela proges- de exposição à progesterona como factor
terona. Em simultâneo é induzido edema do fundamental na preparação do endométrio
estroma e a área vascular triplica por inter- para a implantação.
médio da espiralação arterial. A deficiência da sua produção ou de ade-
quada recepção da acção hormonal atingirá
Aposição/adesão a maturação endometrial/nutrição embrio-
Às acções progesterónicas de indução de se- nária, receptividade uterina/fase inicial da
creção, activação do metabolismo endome- implantação, mas também a preparação
trial, preparação do leito implantatório por vascular e endometrial/invasão trofoblásti-
transformações deciduais e vasculares, jun- ca, todas dependentes de adequadas pre-
ta-se agora a de «limpeza» do lúmen glandu- parações morfológica e fisiológica que possi-
lar pela indução dos pinópodes (protusões bilitem a implantação.
celulares ultra-estruturais) que absorvem Nos ciclos de doação de embriões verifica-
moléculas e fluidos «secando» e «limpando» se que existe um tempo de receptividade
a região uterina próxima do embrião200. Nes- endometrial limitado ao que habitualmen-
sa área diminuem também as microvilosida- te se designa por «janela de transferência
des das células endometriais202. ou de receptividade». Neste tipo de ciclos,
Entre os dias 6 a 8203 (dia 7), o blastocisto ade- a obtenção de gravidez com embriões de
re à zona epitelial seleccionada, atravessa a 2/3 dias está restringida às transferências
membrana basal e invade o estroma, porque realizadas entre os dias 15 a 20 de um ci-
os pinópodes extraem todo o fluido, o que, clo de 28, alcançando-se maior número
conjuntamente com microvilosidades curtas de êxitos com as efectuadas entre os dias
e escassas, permite o contacto directo entre 17 a 19203,205-207. A transferência de embri-
blastocisto e epitélio possibilitando a adesão. ões em dias situados fora dos limites da
A integridade do epitélio é em grande parte «janela de receptividade» está sistema-
mantida por pontes intercelulares ultra-es- ticamente votada ao insucesso203,205-207.
truturais. Para se implantar o embrião tem de Também Bourgain, et al.208 e Davies, et
abrir brecha na barreira constituída por um al.209 referem que a ocorrência de gravidez
epitélio cuja integridade é provavelmente com embriões doados depende do estado
controlada por acções hormonais. Por aná- de maturação do endométrio. As elevadas
lise morfométrica constata-se que entre os percentagens conseguidas em mulheres
dias 13 a 23 diminui a área de pontes inter- com maturação adequada contrastam com
celulares e diminui também a complexidade os escassos êxitos obtidos nas com endo-
geométrica da organização intercelular204. métrio de desenvolvimento assíncrono ou
Assim, o endométrio, que normalmente com datagem atrasada mais de dois dias.
constitui uma barreira para o embrião, põe Assim, pelos conhecimentos adquiridos nos
em causa a sua própria integridade e torna- ciclos de doação de embriões, sabe-se que o
se receptivo, por virtude de um processo sincronismo entre desenvolvimento embrio-
conduzido pelas hormonas esteróides204. nário e maturação do endométrio é crucial
Nesta etapa intervêm também numerosos para que possa ocorrer gravidez. A «afina-
produtos de secreção epitelial cujo papel es- ção» deste sincronismo e provavelmente
pecífico individual não é completamente co- mediada por factores de crescimento que
nhecido, estando no entanto demonstrada a para o efeito utilizam receptores específicos
sua dependência da acção progesterónica. e mensagens em cascata210.

58 Capítulo 28
Mas a implantação não é um fenómeno embrião que chegou à cavidade uterina há
que dependa apenas da aquisição de capa- 2/3 dias), o epitélio do lume das glândulas

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cidades por parte da mucosa uterina e do (local onde o embrião estabelece o primeiro
seu cumprimento em tempo útil. De facto, contacto; secreção máxima ao dia 20 que é
parece estar definido por estudos clínicos o de início da implantação), o estroma (cuja
em ciclos espontâneos211,212, de FIV213 e com preparação é essencial para a implantação)
doação203, bem como por estudos morfoló- e a interacção dos dois tipos celulares com
gicos e de marcadores funcionais como as células do sistema imunológico (revelada
integrinas214, que a «janela implantatória» pela presença de receptores para as citoci-
está limitada entre os dias 20 a 24 de um nas). Para além de dependerem das acções
ciclo de 28 mas, dentro deste período, o hormonais nomeadamente da relação E2/P,
tempo de implantação parece depender da estes componentes são condicionados por
idade do embrião não interferindo o grau interacções mútuas sabendo-se, por exem-
de maturação endometrial para o desem- plo, que o estroma é indispensável para
penho do fenómeno. A conclusão deriva de regular o crescimento, diferenciação e fun-
um importante estudo de Bergh e Navot203. ções do epitélio215,216.
Estes investigadores transferiram embriões A existência de sincronismo na diferencia-
com idade semelhante (42-46 horas) para ção dos compartimentos endometriais208 e
endométrios em diferentes estádios de ma- entre estes e o desenvolvimento do embrião
turação, embora com datagens em «fase» (FIV) é importante factor para que a trans-
para o dia da respectiva transferência. Do ferência tenha sucesso. Nos ciclos espontâ-
lado embrionário, o primeiro sinal detectá- neos existem certamente limites de tempo
vel de implantação (HCG) ocorreu sempre para além dos quais não é possível a este
com um desenvolvimento de cerca de sete complexo e ainda não totalmente conheci-
dias, cinco após transferência, e verificou-se do sincronismo funcionar. Ao contrário do
independentemente do grau de maturação verificado noutras espécies animais, o blas-
endometrial. Assim, desde que adquiridas tocisto humano não pode esperar por uma
condições que se sabe permanecerem por diferenciação endometrial minimamente
um período de tempo limitado, existe in- apropriada217 e a implantação depende da
dicação de que a idade embrionária deter- existência, na altura própria, de uma matura-
mina o momento implantatório e não se ção correspondente a um dos dias da janela
confirma a possibilidade de espera por con- implantatória.
dições óptimas, nem a capacidade de, como É possível que em diversas circunstâncias
descrito para outros mamíferos, o endomé- clínicas de infertilidade ou pelo menos de
trio induzir aceleração do desenvolvimento subfertilidade, atribuídas à influência de
embrionário. factores como a idade ou classificadas como
Estes conhecimentos permitem concluir inexplicadas, a assincronia entre desenvolvi-
que em ciclos espontâneos deve existir mento embrionário e maturação endome-
sincronismo entre o desenvolvimento em- trial possa ter um contributo determinante.
brionário, transporte tubar e o processo de Mas no contexto FIV, estes conhecimentos
diferenciação do endométrio, cujo objecti- salientam a importância da transferência de
vo é o de proporcionar o máximo de recep- embriões com um desenvolvimento ade-
tividade, permitir e participar na implanta- quado e cronologicamente acertado, bem
ção. Segundo Navot, et al.206 e Metzger215, como da aceleração (comparativamente
esta depende da acção concertada de qua- com ciclo espontâneo) da maturação endo-
tro componentes endometriais: o secretor metrial pela administração de progesterona
(que proporciona o ambiente nutritivo ao (oral, intravaginal ou intramuscular).

Infertilidade 59
Transferência de embriões – material e proce- nal. A HCG, embora efectiva, não deve ser
dimentos de laboratório utilizada por motivo de probabilidades de

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hiperestimulação inaceitáveis. A adminis-
Material tração de progesterona deve iniciar-se no
UTM dia da punção e prolongar-se até às 11/12
Catéter de transferência semanas de gravidez.
Lupa com base aquecida a 37 oC
Câmara de fluxo laminar Complicações da fecundação in vitro
Seringa de 5 ml Síndrome de hiperestimulação ovárica
É frequente encontrarem-se ovários bastan-
Procedimentos te aumentados de volume durante a estimu-
1. Colocar no dia da manhã de transferência lação ovárica com gonadotrofinas.
uma placa de quatro poços com o pri- A síndrome de hiperestimulação consiste
meiro poço de 0,5 ml de UTM e o 2.o poço numa resposta exagerada às gonadotrofinas
com 0,4 ml de ISM1 e um tubo nunc com e à administração da HCG, só muito raramen-
0,7 ml de ISM1 para lavar o catéter. te ocorrendo com outros agentes farmaco-
2. Os embriões seleccionados a transferir lógicos, tem uma incidência com significado
são lavados em ISM1 para retirar o óleo clínico de 0,5%, é geralmente autolimitada
e colocados em UTM 15 minutos antes e de regressão espontânea, embora possa
da transferência propriamente dita. persistir por períodos mais longos nos ciclos
3. Acoplar a seringa com ISM1 (que está a em que ocorreu concepção.
equilibrar no tubo nunc) ao catéter para A sua etiopatogenia não é bem conhecida,
o lavar. mas está relacionada com os volumosos
4. Puxar o êmbolo da seringa 0,02 ml. quistos que se desenvolvem nos ovários,
5. Carregar o catéter de transferência como com elevados níveis de estradiol e produção
desenhado, aspirando um pouco de meio, de substâncias vasoactivas como o factor de
depois ar, embriões, ar e tapar com meio crescimento do endotélio vascular (VEGF) (au-
meio ar meio+embriões ar meio
mento da vascularização e da permeabilidade
vascular). Pensa-se, que o VEGF é um dos mais
6. Depois da transferência verificar se todos importantes elementos envolvidos na fisiopa-
os embriões foram transferidos, lavando tologia da síndrome, embora muitos outros,
o catéter na placa de meio de cultura e incluindo a angiotensina 2, o factor de cresci-
confirmar à lupa. mento da insulina (IGF1), o epidermal growth
factor (EGF), o factor de crescimento transfor-
Apoio da fase luteínica mador (TGF), o BFGF, o PDGF e as interleuci-
O apoio da fase luteínica é muito importan- nas possam também estar envolvidos.
te para o sucesso do ciclo FIV, em particular O ponto-chave da síndrome da hiperestimu-
quando utilizados os análogos agonistas, lação ovárica é o aumento da permeabilida-
porventura implicados em defeitos de fase de vascular, resultando em desvio maciço
luteínica. de líquidos do espaço intravascular para o
A administração de progesterona é a forma terceiro espaço podendo assumir aspectos
mais utilizada para apoio luteínico quer por graves, que põem em risco a vida da mulher,
via oral, quer vaginal ou intramuscular. Uma com ascite, derrame pleural, desequilíbrio
metanálise sugere que a via oral é a menos hidroelectrolítico e tromboembolismo.
efectiva218. As formas mais frequentemente São elementos de risco para o seu desenvol-
utilizadas são constituídas por progestero- vimento: idade jovem, baixo peso, síndrome
na micronizada para colocação intravagi- do ovário micropoliquístico, altas doses de

60 Capítulo 28
gonadotrofinas, níveis de estradiol a eleva- Algumas recomendações: ingestão de líqui-
rem-se rapidamente, episódios prévios da dos superior a um litro por dia (bebidas com

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síndrome de hiperestimulação. O risco é electrólitos); actividade repousada (não rea-
ainda aumentado pela repetida administra- lizar exercício físico); medição diária do peso;
ção de HCG que, por isso, deve ser evitada. A aumento de peso ou diminuição de micção
ocorrência de gravidez aumenta a probabili- devem ser comunicados ao médico.
dade, a duração, e a gravidade da situação. Se os sintomas são mais graves, ou aumen-
O quadro clínico pode assumir diferentes in- tam, é necessária hospitalização com insti-
tensidades, leve, moderado e grave. Realce- tuição de medidas de suporte, administra-
se, que é desencadeado pela HCG e que sem a ção de analgésicos, fluidoterapia endove-
acção desta hormona será sempre muito frus- nosa para aumento do volume plasmático
tre. Se a HCG administrada por via intramuscu- e correcção de desequilíbrios hidroelectro-
lar continua a estimular o ovário por cerca de líticos (ponderando o significativo aumento
nove dias, a proveniente da gravidez manterá da permeabilidade vascular), monitorização
esse estímulo continuadamente, agravando a das funções renal e pulmonar. Os líquidos
síndrome que, na ausência de gestação, teria (preferivelmente soro fisiológico) devem ser
regredido em 7 a 10 dias. Por esta razão, nas administrados no volume necessário para
situações de risco não deverá ser administra- assegurar a manutenção do débito urinário
da HCG e, no contexto da fecundação in vitro, e corrigir a hipovolémia, i.e., a hipotensão e a
é preferível proceder à criopreservação em- oligúria que são a prioridade da terapêutica,
brionária cancelando a transferência. tendo sempre presente que a administração
As formas leves são bastante frequentes e de fluidos pode contribuir para o aumento
incluem desconforto e distensão abdomi- de líquidos no espaço extravascular. Pode
nal transitórios, ligeira náusea, vómitos e ser necessária paracentese transabdominal
diarreia. A forma moderada inclui a persis- ou por via vaginal em doentes com ascite
tência ou agravamento destes sintomas e dolorosa, comprometimento da função pul-
ascite, demonstrada por ultrassonografia. A monar ou oligúria/anúria.
síndrome adquire um carácter grave com o O tromboembolismo é uma complicação gra-
aparecimento de dor intensa, aumento de ve da síndrome de hiperestimulação ovárica.
peso, ascite sob tensão, instabilidade hemo- Deve ser instituída a sua prevenção e por ve-
dinâmica, dificuldades respiratórias, oligúria, zes é necessário suporte endovenoso, apoio
ou alterações do hemograma e do balanço respiratório e terapêutica com heparina.
hidroelectrolítico. Existe o risco de trombo- A rotura de quistos ováricos com hemorra-
embolismo como resultado da hemocon- gia, a torção, ou a gravidez ectópica podem
centração, da diminuição do fluxo sanguí- exigir intervenção cirúrgica de urgência.
neo periférico e da inactividade provocada O aspecto mais importante da síndrome de
pela distensão abdominal e pela dor. Excep- hiperestimulação ovárica é o da sua preven-
cionalmente a vida fica ameaçada, em situ- ção. Exige-se experiência de manuseamento
ações extremamente graves com insuficiên- das gonadotrofinas, não prescrevendo em
cia renal, insuficiência respiratória, rotura e excesso, diminuindo/cancelando a medica-
hemorragia ováricas e tromboembolismo. ção nas situações de risco ou suspendendo/
As doentes com formas leves podem ser atrasando a administração de HCG até que os
tratadas em ambulatório, com analgésicos níveis de estradiol se encontrem em planalto
orais, medição diária do peso, avaliação se- ou tenham diminuído significativamente219.
riada de parâmetros laboratoriais como he- De facto, é melhor suspender um ciclo e reini-
matócrito, balanço hidroelectrolítico e crea- ciá-lo com doses mais baixas do que ter uma
tinina, estando interdita a actividade sexual. síndrome de hiperestimulação grave.

Infertilidade 61
Alguns autores sugerem o coasting como indutores ou estimuladores da ovulação.
medida preventiva, referindo que não afecta Estudos recentes vieram demonstrar que

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o prognóstico do ciclo se não for prolonga- não existe evidência da referida associação
do por mais de três dias220. e que deverá ser relembrado o facto de a
Porque a HCG é o factor nuclear de desen- mulher infértil possuir, por si, um risco duas
volvimento da síndrome de hiperestimula- vezes aumentado de cancro do ovário.
ção, a administração de uma dose menor
(5.000 unidades) pode ser uma atitude pru- Gestação múltipla
dente em doentes com risco. Em alternativa A gestação e o parto múltiplo podem ser
à HCG, o desencadeamento da onda de LH considerados como das principais complica-
endógena, com agonistas da GnRH, promo- ções da reprodução medicamente assistida.
verá a maturação ovocitária final. Esta complicação tem aumentado significa-
Alguns autores utilizaram profilacticamen- tivamente nas últimas décadas em muitos
te a albumina endovenosa no momento da países desenvolvidos. Em Portugal, verificou-
punção folicular, pretendendo assim reduzir se um aumento da incidência de partos múl-
o risco de desenvolvimento da síndrome de tiplos em paralelo com a disseminação das
hiperestimulação221. Quanto ao benefício técnicas de PMA desde que, em 1988, nasceu
deste procedimento, os resultados de vários a 1.a criança de fecundação in vitro consegui-
estudos não são conclusivos. da por Pereira Coelho. Este aumento é espe-
Outros pretenderam associar um aumento cialmente significativo se comparado com o
do risco de cancro do ovário aos agentes decréscimo da natalidade (Fig. 42).

Figura 42. Partos múltiplos em Portugal (fonte: INE, Anuários Estatísticos de 1976 a 2002).

62 Capítulo 28
Claro, que a percentagem de gestações múl- plos que nos recém-nascidos de parto único.
tiplas está directamente relacionada com o Também a percentagem de prematuridade

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número de embriões transferidos em cada (menos de 37 semanas) é, na gravidez geme-
ciclo de tratamento. A ilusão de que com o lar, superior a 40%, o que é desfavorável em re-
aumento do número de embriões transferi- lação aos 10% das gestações de feto único. Os
dos se conseguiriam mais elevadas percen- riscos de morbilidade e mortalidade perinatais
tagens de «sucesso» não correspondeu à re- relacionados com a prematuridade e o baixo
alidade, porque a partir da transferência de peso são maiores à medida que aumenta o
mais de dois embriões o número de recém- número de fetos em gestação. Alguns estudos
nascidos vivos diminui (Fig. 43). recentes mostram uma incidência de paralisia
Conhecidos também melhor os riscos da ges- cerebral cinco vezes superior na gestação ge-
tação múltipla, para a mãe e para o feto, de melar dupla e 17 vezes na gestação de triplos,
que são exemplos os aumentos das incidên- quando comparadas com a de feto único. O
cias de abortamento, pré-eclampsia, eclamp- risco de pelo menos uma das crianças ter para-
sia, hemorragia anteparto, parto pré-termo, lisia cerebral é estimado de 1 a 5% na gestação
atraso do crescimento intra-uterino, aumento dupla, 8% na tripla e quase 50% na quádrupla.
dos partos cirúrgicos, baixo peso ao nascer Apesar destes factos e de a tendência ter
independentemente da idade gestacional, vindo a declinar, o registo ESHRE de 2009
prematuridade, paralisia cerebral, retinopatia, (ano 2005) mostra ainda percentagens de
surdez, problemas placentares e até malfor- partos duplos de 21%, e de 1% de triplos8.
mações congénitas entre outros, a tendência É porém verdade que a transferência sistemá-
dos últimos anos tem sido a de reduzir a um tica de um único embrião não é uma política
ou dois o número de embriões transferidos aceitável, para os casais e para os médicos,
por ciclo e criopreservar eventuais embriões que pretendem conciliar a maior taxa de êxito
supranumerários. Mas mesmo limitando a com o menor risco. É então possível identifi-
dois o número de embriões transferidos, há car um perfil de risco, i.e., grupos de doentes
que ter em mente que a mortalidade perinatal com risco aumentado de gravidez múltipla
é cinco a seis vezes superior nos gémeos du- e de complicações no caso de ela ocorrer e,
Nados vivos por transferência (percentagem)

60

50
40,2%
36,9%
40 0.9*
5.2* 32,0%
32.0* 26,6%
30 4.9*
32.0*
32.2* 4.5*
20 29.5*
13,2%
2.3* 67.1* 62.9*
10 62.9* 66.0*
97.7*
0
1 2 3 4 5+
Número de embriões transferidos

Triplos ou mais Duplos Únicos

Figura 43. Nados vivos por transferência e percentagens de partos múltiplos em FIV/ICSI (fonte: CDC, 2003).

Infertilidade 63
partindo de uma política geral de transferên- clos de fecundação in vitro, assentando numa
cia de dois embriões, realizar nessas doentes, manipulação medicamentosa do eixo hipo-

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a transferência de um único embrião. tálamo/hipófise/gónadas, com vista à obten-
ção de um razoável número de ovócitos (6/7)
5.8.3. MICROINJECÇÃO INTRACITOPLASMÁTICA que possa ser utilizado para fertilização.
DO ESPERMATOZÓIDE (ICSI) Os procedimentos de colheita de ovócitos e
os de laboratório são idênticos ao já descri-
As técnicas de fecundação in vitro continuam to para FIV mas, após incubação, os ovócitos
a revelar resultados insuficientes por tentati- são novamente lavados em meio próprio e
va com transferência (±30%), agravados em desnudados das células que os rodeiam, por
alguns casos particulares, como os das situa- meios bioquímicos (que utilizam a acção da
ções motivadas por infertilidade masculina, enzima hialorunidase em substituição da
nas quais os êxitos ocorrem ainda em menor acção do acrossoma do espermatozóide). O
percentagem. Foi este facto que motivou o processo continua, com lavagens sucessivas
desenvolvimento de diversas técnicas de mi- que retiram o excesso de enzima e permi-
crofertilização, como a «dissecção parcial da tem o descolamento das células da granu-
zona» ou a «inseminação subzonal». losa. Podem então observar-se com nitidez
A injecção intracitoplasmática de esperma- as maturações nuclear e do citoplasma, bem
tozóide é o último passo do desenvolvimen- como a textura do ooplasma.
to das técnicas de microfertilização, predo- O fluido seminal é removido do ejaculado
minantemente indicadas com o objectivo de por intermédio de lavagens e centrifugações
ultrapassar a subfertilidade masculina, mas sucessivas, para selecção dos espermatozói-
também utilizada em situações de reduzido des com melhores morfologia e motilidade.
número de ovócitos e de ausência de fecun- A injecção intracitoplasmática do esperma-
dação em FIV, permitindo alcançar percenta- tozóide é efectuada em placa aquecida a 37o
gens de gravidez (mesmo em caso de infer- num microscópio invertido com ampliação
tilidade masculina muito grave) idênticas às de 400x (Fig. 44). A agulha de injecção e a
da fecundação in vitro efectuada com outras pipeta de holding (que imobiliza o ovócito)
indicações140,141. são constituídas por tubos capilares de vidro
A primeira fase do tratamento é essencial- com um calibre de cerca de 0,009 e 0,0048
mente clínica e comum à generalidade dos ci- mm respectivamente (Fig. 44).

Figura 44. Microscópio invertido; holding e agulha de microinjecção.

64 Capítulo 28
Os espermatozóides são colocados em meio Com o ovócito imobilizado, a pipeta que
viscoso, polivinilpirrolidona (PVP), que lhes contém o espermatozóide penetra no oole-

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dificulta os movimentos. A completa imo- ma pela posição das três horas (para evitar
bilização é conseguida por intermédio da o fuso acromático) e aspira um pouco de
pipeta de injecção e por pressão realizada ooplasma para melhor envolver o esperma-
na cauda do espermatozóide contra o fun- tozóide, que é em seguida microinjectado
do da placa. (Figs. 46 e 47). A pipeta de injecção é retirada
Em seguida, o gâmeta masculino é lenta- lenta e cuidadosamente. A figura 48 resume
mente aspirado pela cauda, num processo os procedimentos.
que está facilitado pelo uso de um circuito O ovócito é libertado da holding e transferi-
de óleo mineral ao qual a agulha se encon- do para um meio de cultura apropriado ao
tra ligada. seu desenvolvimento e o procedimento re-
O ovócito é fixado por pressão negativa à petido em outros ovócitos em metáfase II.
pipeta holding, com o glóbulo polar posicio- Dezasseis a dezoito horas mais tarde, pode
nado às 6 ou 12 horas (Fig. 45). constatar-se que os ovócitos fecundados
possuem dois pronúcleos e dois glóbulos
polares (Fig. 27). Habitualmente os dois pro-
núcleos estão muito próximos, formando
um anel duplo ou figura de oito.
A primeira divisão celular (embrião de duas
células) observa-se entre as 24 e as 30 horas
(Fig. 28), às 48 pode identificar-se o embrião
com quatro células (Fig. 29), às 72 com oito
(Fig. 30) e posteriormente com 12.
O embrião é mantido em estufa, em meios
de cultura apropriados, e cerca das 96 horas
após fecundação (4.o/5.o dia) é possível ob-
servar que deu origem a um blastocisto (Fig.
32) que é transferido para a cavidade uterina,
cuja mucosa foi entretanto preparada com
Figura 45. Microinjecção ICSI. progesterona administrada por via vaginal.

Figura 46. Microinjecção ICSI. Figura 47. Microinjecção ICSI.

Infertilidade 65
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Estimulação Punção folicular Pesquisa dos
ovárica ovócitos

Desnudação enzimática
dos ovócitos

Preparação e tratamento do esperma

Figura 48. Resumo esquemático ICSI. (cortesia de Alice Pinto).

Microinjecção intracitoplasmática de esper- v Tubo 2 e 3: 4 ml de gradiente de 80 e


matozóide – material e procedimentos 55% em cada.
v Tubo 4: 10 ml de PBS.
Material v Tubo 5: 7 ml de parafina.
Frasco estéril para colheita do esperma — Preparar uma placa de quatro poços de
Estufa de CO2 a 37 oC meio de cultura. Os poços 1 e 2 devem
Lâminas e lamelas ser preenchidos com 0,7 ml de IVF e os
Microscópio poços 3 e 4 com 0,7 ml de ISM1.
Câmara de Neubauer — Colocar tudo o que foi preparado na estufa.
Centrífuga Dia 0
Tubos de centrífuga A primeira fase de uma ICSI é a punção foli-
SPM cular, pelo que devem ser seguidos os pas-
SSS sos descritos no respectivo protocolo de
Catéter de transferência punção.
Agulhas de gauge estéreis para todas as se- — Colocar os ovócitos depois de pesqui-
ringas sados e isolados no poço número 1 da
Pipetas Pasteur estéreis para as lavagens do placa de quatro poços, na estufa, a 37 oC,
esperma três a quatro horas.
Tetina — Centrifugar, por centrifugação fraccionada,
Micropipeta e pontas de micropipeta o líquido espermático com SSS 80 e 55%,
Câmara de fluxo laminar colocando por fim o esperma. São neces-
Todos os meios são pré-equilibrados duran- sários cuidados para que os diferentes
te 24 h na estufa de CO2 a 37 oC. líquidos não se misturem. Este passo é pra-
ticado a 1.800 rpm durante 20 minutos.
Procedimentos — O sobrenadante é retirado, acrescentan-
Dia –1 do-se ao tubo, SPM, levando-o a centri-
— Preparar cinco tubos contendo: fugar durante 10 minutos a 1.100 rpm.
v Tubo 1: 10 ml de SPM. Esta alínea é repetida mais uma vez.

66 Capítulo 28
— Ao pellet resultante da última lavagem — Colocar novamente na estufa a 37 oC sob
adicionar muito lentamente algumas go- atmosfera de CO2.

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tas de SPM e colocar o tubo na estufa. Dia 2 (44-48 horas após a inseminação):
— Retirar a placa com os embriões da estufa.
Desnudação dos ovócitos — Verificar e registar a clivagem e qualida-
Antes do procedimento laboratorial: de embrionária.
Coloca-se uma placa de quatro poços a esta- — Colocar os embriões novamente na estu-
bilizar na estufa cerca de duas horas antes da fa a 37 oC sob atmosfera de CO2.
desnudação propriamente dita. Esta placa — Se transferência dia 5:
contém no poço número 1 0,3 ml de hydase, v Colocar em estufa de CO2 a 37 oC uma
poço número 2 e 3 cerca de 0,4 ml de SPM placa de nunc ref. 153066 com gotas
e por fim no poço número 4, 0.5 ml de SPM. de 20 μl de meio de ISM2 para embri-
É de notar que os poços 1,2,3 são cobertos ões com número igual ao de ovócitos
com parafina aquecida. seleccionados para cultura prolonga-
— Transferem-se os ovócitos do poço 1 da (sob parafina).
para a placa de quatro poços, isto é para Dia 3 (70-72 horas após a inseminação):
o poço número 1 que contem a hidase. — Retirar as placas com os embriões da es-
Devem permanecer na placa não mais tufa.
de 30 segundos, sendo aspirados cui- — Verificar e registar a clivagem e qualida-
dadosamente com ajuda de pipeta de de embrionária.
forma a facilitar a libertação das células — Colocar os embriões novamente na estu-
foliculares. fa a 37 oC sob atmosfera de CO2.
— Os ovócitos são de seguida transferidos — Se transferência dia 5:
sucessivamente para os restantes poços v Colocar os embriões na placa de ISM2
onde a desnudação é realizada com a com gotas de meio de cultura de em-
ajuda da pipeta apropriada. briões estabilizada.
— No final, transferem-se os ovócitos des-
nudados para o poço 2 da placa de qua-
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Infertilidade 73
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