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FELIPE PERILO DE REZENDE MIRANDA

RELATÓRIO DE VIVÊNCIAS NA DISCIPLINA ESTÁGIO EM


PRÁTICAS DE SAÚDE NA FAMÍLIA E COMUNIDADE I

LAVRAS – MG
2017
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FELIPE PERILO DE REZENDE MIRANDA

RELATÓRIO DE VIVÊNCIAS NA DISCIPLINA ESTÁGIO EM


PRÁTICAS DE SAÚDE NA FAMÍLIA E COMUNIDADE I

Relatório de vivências, apresentado à


Universidade Federal de Lavras, como parte das
exigências da disciplina GSA165, Estágio em
Práticas de Saúde na Família e Comunidade I,
para a obtenção do título de Bacharel em
Medicina.

Professor
Tulio da Silva Junqueira

LAVRAS - MG
2017
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SUMÁRIO

1. RESUMO ....................................................................................... 4
2. INTRODUÇÃO.............................................................................. 5
3. DESENVOLVIMENTO ............................................................... 6
3.1 Contextualização...................................................................... 6
3.2 Núcleo Assistencial Casa do Vovô.......................................... 6
3.3 Instituto de Acolhimento e Recuperação Eterna
Misericórdia............................................................................. 12
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................ 18
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................... 19
6. ANEXOS.......................................................................................... 20
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RESUMO

Este relatório contempla as experiências vividas durante dois estágios


realizados pelos alunos do primeiro período do curso de Medicina da Universidade
Federal de Lavras. A disciplina cursada: Estágio em Práticas de Saúde na Família e na
Comunidade I, busca aproximar os alunos da comunidade, estimulando-os a
reconhecer a situação de cada local, suas respectivas necessidades e problemas
relacionados à questão da qualidade de vida e saúde como um todo.
Será relatado nesse trabalho o histórico de visitas e reflexões do Grupo B,
formado pelos alunos Felipe Perilo, Gabriel Prosperi, Hélio Henrique, Isis Gonçalves,
Izabela Silva, Lara Lacerda e Lucas Gonçalves. O grupo visitou os seguintes campos:
Núcleo Assistencial Casa do Vovô, que visa cuidar da melhor forma os idosos, e
Instituto de Acolhimento e Recuperação Eterna Misericórdia de Lavras(IAREM), que
acolhe alcoólatras e dependentes químicos.

Palavras-chave: medicina, organização não governamental, estágio, vivência,


humanização.
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2. INTRODUÇÃO

A disciplina Estágio em Práticas de Saúde na Família e na Comunidade I tem


como objetivo principal a formação humanística do estudante de medicina da
Universidade Federal de Lavras a partir de um processo de reflexão, observação e ação
em dois campos de estágio diferentes. Assim, busca-se alcançar os objetivos propostos
ementa da disciplina: promoção da cidadania, observação participante da comunidade,
desenvolvimento de habilidades de comunicação e promoção da saúde através de
intervenções.
Os alunos foram divididos em 5 grupos, nomeados de A a E, cujas atividades
nos dois campos foram realizadas entre 21/09/2017 e 05/02/2018. O grupo B foi
escolhido para atuar inicialmente no Núcleo Assistencial Casa do Vovô e
posteriormente no Instituto de Acolhimento e Recuperação Eterna Misericórdia.
A realização dos estágios em dois locais diferentes tem grande papel no
desenvolvimento reflexivo do aluno. É um fato que cada instituição vai ter um público
alvo e necessidades diferentes, um maior ou menor apelo social, uma infraestrutura
melhor ou pior, etc. Todos esses fatores são fonte de reflexão para o aluno, uma vez
que cada intervenção foi adaptada de acordo com cada realidade.
Ao fim de cada estágio, após a observação participativa e realização das
intervenções, foram realizados seminários entre os grupos como forma de incentivar a
discussão e apresentar as observações e vivências de cada um em seus respectivos
locais de estágio.
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3. DESENVOLVIMENTO
3.1 . Contextualização
O primeiro local do estágio foi o Núcleo Assistencial Casa do Vovô, uma
organização não governamental sem fins lucrativos que acolhe idosos. Idealizada
desde 1980 por um grupo de amigos, teve o local inaugurado em 1990 com instalações
bem simples. A casa conta com diversos serviços que oferecem o melhor amparo
possível aos residentes, como medicamentos, fisioterapia, alimentação balanceada,
enfermeiros, psicólogos, médicos, etc. Contudo, é essencial para a manutenção da
instituição as doações da comunidade, uma vez que as contribuições oficiais dos
internos cobrem apenas 50% das despesas, o restante sendo custeado por eventos
beneficentes e doações eventuais.

O segundo local, o Instituto de Acolhimento e Recuperação Eterna


Misericórdia(IAREM), é uma associação comunitária que acolhe viciados em drogas e
moradores de rua que buscam reverter sua condição de adição. Possui duas casas, uma
que acolhe moradores de ruas e outra que recebe dependentes químicos. O tratamento
no local se baseia na laborterapia, sendo cada interno responsável por uma atividade.
A instituição depende apenas de doações, sendo aberta para qualquer um que queria
entrar ou sair, apesar de haver um processo de triagem para a adesão.

3.2 Núcleo Assistencial Casa do Vovô


3.2.1 Local
Localizado na Rua Francisco Barros, no Bairro Serra Verde, o Núcleo
Assistencial Casa do Vovô é uma casa simples de 2 andares que conta com
aproximadamente 50 idosos. O primeiro andar apresenta uma pequena sala de
recepção com alguns assentos, uma copa espaçosa com diversos sofás e uma televisão
antiga, uma área destinada a realização de cultos religiosos que também conta com
uma tv, uma cozinha com grandes mesas onde os internos realizam sua alimentação,
um sala de fisioterapia, uma sala destinada à psicóloga, além, é claro, de diversos
quartos distribuídos ao longo de todo o local. Já o segundo andar apresenta,
inicialmente, uma sala com uma estante contendo diversos livros de diferentes tópicos
e locais para se assentar, a sala do administrador, um local para a realização de
discussões sobre a situação da casa e outros quartos para os internos. Além disso,
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apresenta um grande espaço externo, com um jardim e um local para a prática de


artesanato.

Imagem 1 – Espaço para a realização de cultos (Fonte: Google) Imagem 2 – Entrada principal da casa(Fonte: Google)

3.2.2 Grupo assistido

Atualmente, a Casa do Vovô apresenta 48 internos, a maior parte deles na faixa


etária dos 80 anos. São pessoas de baixa escolaridade, a maior parte delas possuem
apenas o ensino fundamental completo e possuem dependência parcial para a
realização de atividades rotineiras, uma vez que muitos são cadeirantes.

3.2.3 Atividades
O primeiro desafio do nosso grupo na primeira semana foi chegar ao local para
a realização de nossas atividades. A Casa do Vovô é bem afastada do centro da cidade,
por isso tivemos de utilizar o transporte público durante nossa ida e volta até lá. Ao
entrarmos no local, aguardamos um pouco na recepção e fomos recebidos pelo
administrador Marcos, que nos mostrou a casa e contou um pouco sobre as atividades
e dificuldades que possuíam, além de responder algumas de nossas perguntas.
Segundo ele, os gastos médios mensais são de 2100 reais por idoso, sendo que a maior
parte destes são destinados para o pagamento dos funcionários assalariados, apesar de
eles também possuem voluntários que ajudam na realização das atividades da casa.
Além disso, ele também tem grandes gastos com fraldas(cerca de 4100 unidades
mensais), produtos de higiene pessoal e medicamentos, principalmente em épocas
mais frias em que os idosos ficam mais susceptíveis a doenças.
Quando questionamos a respeito da escolaridade, o administrador relatou que a
maior parte dos idosos possuíam ensino fundamental completo, sendo que apenas 2
possuem ensino médio completo e 2 são analfabetos. Em relação a oportunidades para
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a realização de outras atividades, como jardinagem e artesanato, a princípio nos foi


informado que quase nenhum idoso realizava, principalmente porque, nas palavras do
administrador, eles eram muito “preguiçosos”. Só que após algumas visitas ao asilo ao
longo do nosso período do estágio, ficou bem claro que também falta incentivo por
parte dos funcionários para que eles realizem novas atividades diferentes daquelas
presentes na sua rotina matinal. Entre os 50 internos, apenas dois faziam artesanato e
um pratica jardinagem. Além disso, também foi relatado que o Asilo possuía
assistência terapêutica, contudo no nosso primeiro dia da visita não havia uma
terapeuta disponível, pois a última havia abandonado o trabalho e ainda estavam a
procura de uma nova.
A segunda semana foi destinada a vivência e participação nas práticas dos
idosos. Conversamos com muitos dos internos, entre eles havia o Sr. Olímpio, idoso
muito gentil que realizava artesanato. Suas principais obras eram pequenos “porta-
trecos” de formatos redondo e quadrado e cores diversas. Ele explicou o processo de
produção passo a passo no local onde ele trabalhava. Era uma pequena área coberta na
varanda da casa, onde havia suas ferramentas, muito velhas aparentemente, uma mesa
baixa na qual ele tem muitas das vezes se inclinar para fazer algo e um banco simples
sem encosto. Isso despertou nossa atenção, uma vez que demonstrou certa falta de
atenção por parte dos funcionários e do administrador para ajudar e incentivar o Sr.
Olímpio em suas práticas.
Com o passar do tempo, notamos que mais idosos saíram de seus aposentos e
uma das práticas que eles mais gostavam era tomar banho de sol na parte de frente da
varanda. Nota-se que essa é uma prática muito importante, uma vez que produção de
vitamina D está intimamente relacionada à exposição solar, sendo assim, é reduzida a
probabilidade de ocorrência de fraturas osteoporóticas, tão frequente nessa faixa etária.
Outra atividade realizada por muitos era assistir à televisão na copa enquanto
sentados nos diversos sofás do local. Reparamos também que muitos deles tiveram
suas unhas cortadas pelos funcionários enquanto estavam lá, prática que é programada
e controlada para evitar complicações futuras.
Também tivemos a oportunidade de conhecer outra interna, Dona Azena
Oliveira, responsável pela composição do hino de lavras. Muito carinhosa, aberta a
novas ideias e ligada à tecnologia, era um caso a parte do local. À nosso pedido, tocou
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algumas músicas clássicas em um piano no local onde são realizados os cultos


religiosos, mostrando o quão habilidosa era.
Ao se aproximar do fim do nosso estágio no local, todos os internos se
dirigiram ao salão de almoço ao lado da cozinha para almoçar. Pudemos observar a
grande quantidade de comida que foi preparada e a atividade conjunta dos
funcionários para ajudar os idosos a se dirigirem ao local e alimentar aqueles com
maior grau de dependência.

Imagem 3 – Obras de artesanato (Fonte: Arquivo Pessoal) Imagem 4 – Local de trabalho do Sr. Olímpio(Fonte: Arquivo Pessoal)

Imagem 5 – Espaço usado para banho de sol (Fonte: Youtube) Imagem 6-Dona Azena acompanhada de parte do

grupo(Fonte: Arquivo pessoal)

Na terceira semana, baseados em nossas experiências da última visita,


resolvemos aplicar um questionário denominado Index de Independência nas
Atividades de Vida Diária (AVD) de Katz que, como o próprio nome já diz, mede o
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nível de dependência de um indivíduo baseado em seis funções básicas: banho, vestir-


se, ir ao banheiro, transferência, continência e alimentação.
O grupo se separou e tentou aplicar quantos questionários fossem possíveis,
contudo, nos deparamos com alguns problemas. Em primeiro lugar, muitos internos
não tinham a capacidade cognitiva para responder o questionário satisfatoriamente.
Em segundo lugar, o questionário possuía muitas perguntas íntimas, como se a pessoa
possuía a capacidade de se vestir e ir ao banheiro para fazer suas necessidades
sozinhas. Fazer tais questionamentos de forma sútil se provou algo extremamente
difícil, especialmente para mim. Tal habilidade é essencial para qualquer médico que
queira realizar uma entrevista com seu paciente de forma satisfatória, por isso é algo
que espero desenvolver com o tempo e a prática.
Ao encerrar uma de minhas entrevistas, por exemplo, uma das idosas disse para
não acreditar em nada o que ela havia dito. Isso ocorreu provavelmente pela minha
falta de experiência em realizar entrevistas de forma mais sutil e devo tê-la deixado
constrangida pelo conteúdo das perguntas, o que a levou a mentir.
Devido a esses problemas, muitos dos questionários levantados foram baseados
nas respostas dadas pelos próprios funcionários a respeito dos internos mais
dependentes, visto que estavam incapacitados de responde-los. Ao final, reunimos
uma quantidade considerável de respostas e analisamos os resultados posteriormente.
Segundo a avaliação, cerca de 54% dos internos apresentavam dependência parcial,
35% eram independentes e 11% apresentavam dependentes importantes.
A última semana na Casa do Vovô foi destinada à realização das propostas de
ação. Decidimos realizar algo diferente das práticas rotineiras dos idosos e que os
dessem certo sentimento de pertencimento ao local. Por isso, escolhemos como tema a
pintura e, com a ajuda da UPA(Unidade de Pronto Alegramento), parte do grupo ficou
na varanda incentivando e ajudando os idosos a se expressar através da pintura em
uma folha de papel. Enquanto isso, os outros membros desenhavam na parede do salão
de almoço um tronco de uma árvore. Após terminarem, cada idoso pintou sua mão e a
marcou na parede, formando a folhagem da árvore. O resultado foi uma bela arte que
cada um teve uma participação e pode se sentir orgulhoso por isso.
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Imagem 7 – Pintura na Parede (Fonte: Arquivo Pessoal) Imagem 8 – Ação de pintura com os idosos(Fonte: Arquivo Pessoal)

Imagem 9 – Doações coletadas (Fonte: Arquivo Pessoal) Imagem 10 – UPA durante a ação(Fonte: Arquivo Pessoal)
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3.3 Instituto de Acolhimento e Recuperação Eterna Misericórdia (IAREM)


3.3.1 Local
O IAREM é um sítio localizado na Avenida Fábio Modesto, 622 – Vila
Joaquim Sales, afastada do centro da cidade, o que contribui para a recuperação dos
dependentes químicos, visto que se afastam das suas realidades das ruas e influencias
para o uso de drogas.
O local conta com duas casas, sendo uma recentemente construída destinada
aos dependentes químicos e a outra para as pessoas já reabilitadas ou moradores de
rua. Eles possuem um grande espaço destinados às plantações, uma cozinha
compartilhada junto de muitas mesas e fogão a lenha, um ambiente com diversas
cadeiras paras a realização de cultos religiosos e criadouros com diversos animais,
como galinhas, perus, porcos, etc. Além disso, ainda estão construindo uma fabrica de
biscoitos e uma academia para os internos.

Figura 11 –Local onde servem almoço (Fonte: arquivo pessoal) Figura 12 – Casa onde os internos dormem(Fonte: Arquivo Pessoal)

3.3.2 Grupo assistido


O primeiro sítio conta com aproximadamente 50 a 80 pessoas na faixa etária
entre 15 a 84 anos enquanto que o segundo conta com 18 a 20 indivíduos na faixa
etária entre 15 a 40 anos.
3.3.3 Atividades
Na primeira semana do estágio estava planejado a realização de uma entrevista
com o Bruno, responsável administrativo, no IAREM. Contudo, como havia chovido
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no dia e a estrada até o sitio estava inadequada para o transporte fornecido por eles,
realizamos a entrevista na UFLA. Bruno nos deu uma ideia de como funcionava o
local e as atividades realizadas nele. São 2 sítios, um fundado desde 2006, com o
objetivo de acolher moradores de rua e um segundo, criado recentemente (cerca de 1
ano) para os dependentes químicos.
O incentivo para a realização desse trabalho está justamente no desejo por
ajudar pessoas na rua, desamparadas, que são ignoradas e marginalizadas pela
sociedade. Mesmo a prefeitura ou a igreja não auxiliam essa camada populacional de
forma satisfatória. Inspirado na trajetória de São Francisco de Assis, que abandonou
sua família e riquezas para viver com os leprosos, Bruno saiu de casa para morar com
os moradores de rua em Belo Horizonte e São Paulo, para então retornar à Lavras e
iniciar o projeto.
A casa iniciou com poucos internos e foi crescendo aos poucos. Com o tempo,
foi necessário a institucionalização de algumas áreas para um melhor funcionamento e
realização de parcerias, fruto de renda para o local. Os responsáveis pela casa também
não se responsabilizam pela busca das pessoas, sendo que a procura ocorre a partir de
uma iniciativa própria do indivíduo. Logo após, é realizada uma triagem com coleta de
dados sobre histórico de saúde e familiar da pessoa. Casos em que a pessoa possui
uma doença grave que eles não têm a capacidade de tratar são encaminhados para
outras instituições mais adequadas.
A princípio, pessoas com dependência química são transferidas para o segundo
sítio, primeiro local de acolhimento, local mais isolado onde eles tentam compreender
a sua situação e manter a força de vontade para se recuperar. Após 3 meses, essas
pessoas passam para o primeiro sítio, onde permanecem por cerca de 6 meses
realizando algumas atividades baseadas na laborterapia como forma de tratamento.
A instituição sobrevive a partir de doações, contudo apresenta algumas
dificuldades visto que o grupo assistido: moradores de rua e dependentes químicos,
são vítimas de grande preconceito, o que torna mais difícil a arrecadação
Em relação à dimensão educacional, nos foi informado que a maior parte dos
internos possuem ensino fundamental incompleto, contudo existem pessoas desde
analfabetas até com ensino superior completo no local. Eles também possuem algumas
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atividades de lazer, como um espaço para praticar esportes, artesanato, caminhadas,


eles participam de palestras, vão ao cinema e tem contato com a natureza.
Além disso, eles têm acesso a grupos de ajuda e de oração, sendo que cada dia
da semana é reservada a um tipo de grupo, como os alcoólicos anônimos, grupos de
reflexão, evangélicos, católicos, budistas e espiritas. Todos esses grupos e atividades
recreativas são pontos essenciais que auxiliam a pessoa a se esforçar para mudar sua
realidade.
Em ambos os sítios os internos são encarregados de realizar atividades
especificas, como cuidar da horta, da cozinha, dos animais, da limpeza, etc. Esse
processo é utilizado como forma de tratamento para a condição mental dos internos,
tudo baseado no método psicoterápico denominado laborterapia. Sendo assim, eles não
recebem nenhum tipo de medicamento, sendo o trabalho a forma de se curar. Cada
individuo é encarregado de uma tarefa entre 15 a 30 dias, havendo uma rotatividade
após esse período. Entretanto, muitos têm certas limitações, logo eles são distribuídos
de acordo com a afinidade de cada um.
Na área da saúde, o sítio possui médicos voluntários que comparecem de
quinze em quinze dias. Às vezes o atendimento não pode ser realizado no local, por
isso os internos são transferidos para o SUS para a realização de exames. Também há
o atendimento psicológico individual e grupos de terapia, organizados de acordo com
as necessidades e dificuldades que os internos passam.
O local depende principalmente do auxílio de voluntários, sendo que muitos
destes são internos que resolveram permanecer na casa para continuar ajudando outros
com necessidades. Contudo, existem 8 trabalhadores assalariados para ajudar a manter
a instituição funcionando independente de alguma possível intercorrência. São eles,
um mestre de obras, um motorista, um administrador, dois monitores e três
motoqueiros que buscam as doações.
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Figura 13 –Local de realização de cultos (Fonte: arquivo pessoal) Figura 14 – Cozinha (Fonte: Arquivo Pessoal)

Na segunda semana fomos para o IAREM em uma kombi que, segundo o


motorista, foi doada. O local era bem afastado da cidade, sendo necessário passar por
uma estrada de terra até chegar lá. Ao entrarmos, nos foi informado que podíamos
conhecer o sítio e os internos, mas que infelizmente o René, responsável pelo local,
estava muito ocupado e não poderia nos guiar no momento. Assim, nosso orientador
Túlio, que já havia visitado o local com outro grupo de estágio, nos apresentou todo o
sítio, além de passar algumas orientações. Uma delas foi se atentar às fezes de porco
que escorriam perto de algumas plantações, o que poderia transmitir algumas doenças.
Além disso, ele também nos atentou ao fato de que deveríamos conversar com os
internos sem preconceito, mas sempre com certos cuidados, visto que muitos deles são
pessoas que já até mataram.
Após algum tempo René pôde conversar com nosso grupo, nos guiando até o
segundo sítio que ainda não conhecíamos. Lá conversamos com um interno que virou
voluntário, o qual enfatiza como era difícil a sua vida nas ruas, ser marginalizado por
todos e que estava lá para recompensar ajudando novos internos que passaram pelas
mesmas dificuldades que ele. Na volta até o primeiro sítio, René nos conta um pouco
sobre a sua história, como ele já teve tudo em sua vida, mas nunca ficava satisfeito.
Foi apenas após seu encontro com a religião que ele pode se sentir completo. E para
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contribuir com a sociedade de alguma forma, ele busca ajudar os internos do IAREM a
se afastarem de suas antigas vidas e voltar para a sociedade.
Na terceira semana também conversamos com mais alguns internos e
conhecemos um pouco mais de suas rotinas. Entramos na cozinha e conhecemos um
dos cozinheiros responsáveis. As panelas muito grandes estavam completamente
cheias, visto a quantidade de pessoas para alimentar. Eles possuíam um estoque grande
de alguns alimentos específicos, sendo que eles dependem principalmente de doações.
Um fato que me chamou a atenção foi que a rede de supermercados GF colabora com
a instituição doando alguns alimentos.
Na quarta semana pretendíamos realizar um questionário(anexo B) com os
internos, mas nosso orientador achou melhor fazer uma coleta de dados observacional,
uma vez que desconhecíamos as condições mentais de cada assistido. Assim, em
grupos de 2 a 3 alunos, conversamos com alguns internos sobre suas vidas, atividades
e anseios.
Na penúltima semana, realizamos nossa proposta de ação: fazer uma horta de
plantas medicinais e instruir os internos sobre como utiliza-las. Para isso, fizemos um
livro com todas as plantas que cultivaríamos, junto da forma de cultivo, ação
terapêutica, formas de uso, partes usadas e toxicidade. Evitamos plantar qualquer tipo
de planta medicinal já presente, fizemos a horta com a ajuda de alguns internos e a
regamos. Foi um trabalho exaustivo, mas ao mesmo tempo recompensador ao vê-lo
completo.

Figura 15 –Montagem da horta (Fonte: Arquivo Pessoal) Figura 16 – Horta completa(Fonte: Arquivo Pessoal)
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Figura 17 –Plantas compradas (Fonte: arquivo pessoal) Figura 18 – Capa do livro de plantas medicinais(Fonte: Arquivo Pessoal)

Na última semana, fomos ver o resultado do nosso trabalho, se as plantas


medicinais haviam conseguido nascer. Contudo, os últimos dias tinham sido um dos
mais quentes na cidade e a bomba de água havia falhado durante um tempo no sítio.
Assim, as plantas, sem serem regadas, acabaram morrendo. Apesar disso, nosso
orientador Túlio disse para não nos preocupar, pois foi algo situacional, mas o que era
de mais importante para o estágio era levar as experiências e conhecimentos que
adquirimos para a nossa vida. Também tivemos a oportunidade de conversar com
outro interno que trabalhava na horta há um bom tempo. Seus relatos sobre os
conflitos internos no local comprovaram como era idealizada a visão do responsável
administrativo Bruno nesse quesito. Além disso, visitamos uma nova cozinha que eles
estavam construindo, a qual em questão de meses estava quase pronta. Me
impressionou como apenas os próprios internos conseguiram realizar um trabalho
manual tão bem feito em tão pouco tempo.
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4 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fim dos dois estágios pude perceber o quanto cresci como indivíduo e como
minhas reflexões e vivências irão me acompanhar ao longo de toda a vida. O médico às vezes
se distancia dessas realidades pelas quais passamos e perde o seu principal objetivo, que é o
foco no humano, não na doença. No primeiro estágio, desenvolvemos principalmente nossas
habilidades interpessoais e comunicacionais ao lidar com os idosos, enquanto que no segundo
estágio tivemos uma aproximação mais observacional dos internos, escutando suas histórias
de vida e reflexões.
Além disso, baseado na ementa da disciplina, cujos objetivos são: observar cenários
socioculturais diversos; vivenciar a realidade social em diferentes aparelhos comunitários e/ou
instituições do município de Lavras; identificar determinantes do processo saúde-doença;
promover a saúde por meio de ações pontuais; promover a cidadania e o controle social do
SUS; desenvolver habilidades comunicacionais; desenvolver atitudes éticas que favoreçam as
relações interpessoais; refletir sobre vivências e ações de saúde fundamentando-se nos
princípios da ética e da bioética e conduzir trabalho em equipe; pude concluir que o Estágio
em Práticas de Saúde na Família e na Comunidade I cumpriu suas metas, sendo que cada
orientador conseguiu guiar os alunos da melhor forma possível de acordo com cada local de
estágio.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MACHADO, A. R; MIRANDA, P. S C. Fragmentos da história da atenção à saúde


para usuários de álcool e outras drogas no Brasil: da Justiça à Saúde Pública.
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.14, n.3, p.801-821, jul.-set.
2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v14n3/06 > Acesso em 02 de
fevereiro de 2018.

PRATTA, E. M. M. O Processo Saúde-Doença e a Dependência Química:


Interfaces e Evolução. 2009. vol. 25, n. 2, p. 203-211. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a08v25n2 > Acesso em 02 de fevereiro de 2018.

FAUSTINO, T.T; ALMEIDA, R. B; ANDREATINI, R. Plantas medicinais no


tratamento do transtorno de ansiedade generalizada: uma revisão dos estudos
clínicos controlados. Curitiba, PR. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2010. Disponível
em: < http://www.scielo.br/pdf/rbp/2010nahead/aop2610.pdf> Acesso em 04 de
fevereiro de 2018.

GRACIANO, Miriam Monteiro de Castro. Guia de Atividades Práticas em Saúde na


Família e Comunidade I. 2016. Disponível em: <www.ufla.br>.
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ANEXO E/OU APÊNDICE


Anexo A: Questionário aplicado aos idosos (Index de Independência nas Atividades
de Vida Diária (AVD) de Katz):
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Anexo B: Questionário que seria aplicado aos internos (Escala HAD- Avaliação do
nível de ansiedade e depressão):

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