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vidências históricas indicam que o experimento “cru- de Janeiro, que discute o provável uso de técnicas baseadas
cial” de Michelson-Morley contribuiu mais para a em aparatos ópticos em quadros famosos. O artigo de Alexan-
aceitação da teoria da relatividade restrita de Einstein do dre Campos, Wellington de Sousa e Tadeu Souza descreve a apli-
que para sua gênese. Contudo, muitos físicos e filósofos eminentes cação de uma sequência de ensino tratando da interação entre
e a maioria esmagadora dos textos didáticos atribuem uma ligação luzes e pigmentos. Embora o tema da cor-luz versus cor-pig-
genética entre o experimento e a teoria da relatividade. Gerald mento já tenha sido contemplado (FnE, v. 9, n. 2, 2008), o processo
Holton atribui esse fato a uma certa doutrina do “experimen- investigativo desenvolvido em três atividades merece ser avaliado.
ticismo” que prega que a construção de uma teoria deve estar Outro artigo de David Araujo e outros relata a aplicação de ilusões
atrelada a evidências experimentais. Damásio e Peduzzi analisam de óptica relacionadas à reflexão e à refração. Nenhuma
a questão a partir de depoimentos do próprio Einstein e tecem novidade quanto ao assunto, mas sua aplicação com várias
considerações pertinentes sobre a natureza da ciência na visão do atividades experimentais constitui uma boa experiência a ser repli-
epistemólogo Feyerabend. cada. E para fechar o bloco de óptica, a polarização da luz é
Foi gol? Marcelo Schappo usa a astronomia e a óptica geo- tema de artigo que traz receitas doces e coloridas que o leitor
métrica para elucidar o lance polêmico do gol do glorioso time da pode fazer por si próprio para observar efeitos provocados pela
Vila contra o RB Brasil pelo campeonato paulista deste ano, dando luz polarizada.
consistência científica à conclusão do crítico Arnaldo de Sousa Uma sequência de ensino e aprendizagem é proposta por
(https://goo.gl/E4LdfB) que, baseado nas sombras do travessão Parisoto, Moreira e Almeida para ensinar eletromagnetismo,
e da bola, concluiu que essa entrou (felizmente!). A análise virou ondas e física contemporânea a partir dos equipamentos
uma situação-problema trabalhada com sucesso em sala de aula. tecnológicos usados na medicina para diagnóstico e trata-
A previsão do tempo, já incorporada definitivamente nas mento de doenças. O uso de aparatos médicos corriqueiros para
mídias brasileiras, envolvem essencialmente a aplicação de prin- ensinar conceitos e fenômenos físicos é outro tema pouco presente
cípios da física complementados por técnicas empíricas, estatísticas no currículo e na sala de aula de nossas escolas e, portanto, esse
e computacionais. No entanto, a física do tempo e do clima está artigo mostra-se bastante relevante para o ensino da chamada
ausente dos nossos textos didáticos. Nada justifica que os física no cotidiano.
fenômenos meteorológicos e climáticos e modelos usados para Cuzinatto e outros retomam projetos voltados para a cons-
descrevê-los não sejam abordados na sala de aula. O artigo de trução e compreensão da física dos foguetes de água (FnE,
Aline Biscaino propõe explorar as potencialidades de uso desse v. 8, n. 2, 2007). Além de instrutivas, as atividades com foguetes
conteúdo no ensino de ciências em um contexto multidisciplinar. são motivadoras e divertidas, congraçando estudantes na apren-
Este número traz interessantes abordagens da óptica dizagem dos conceitos da mecânica.
que podem ser levadas à sala de aula. Desde a discussão da possível E ao final o leitor pode visitar um supermercado fictício para
utilização de instrumentos ópticos na produção de pinturas a escolher, discutir e comparar grandezas em uma atividade
efeitos de polarização óptica observados em receitas simples. investigativa dentro do tema “unidades de medidas” realizada em
Marlon Alcântara, Marco Braga e Márcio Costa relatam uma ati- várias escolas.
vidade realizada no contexto do Projeto de Ciência e Arte, do Rio Boa leitura.
Nelson Studart
C
halmers [1] afirma que a explicação isso, usa-se como aporte teórico a filosofia
e Tecnologia de Santa Catarina,
indutivista ingênua da ciência se da ciência relativista1 do epistemólogo
Araranguá, SC, Brasil
aproxima de sua imagem popular: austríaco Paul K. Feyerabend para consi-
E-mail: felipedamasio@ifsc.edu.br
objetiva, confiável, derivada da experiência derações epistemológicas.
por observação e experimentos. Para um
Luiz O.Q. Peduzzi Uma história recontada
indutivista ingênuo, a ciência sempre co-
Departamento de Física, Universidade
meça com a experimentação (empirismo) Diversos autores contextualizam
Federal de Santa Catarina,
e, a partir de um grande número de obser- abrangentemente as origens históricas do
Florianópolis, SC, Brasil
vações, em uma ampla variedade de con- surgimento da relatividade restrita na
E-mail: luiz.peduzzi@ufsc.br
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
dições, induz-se um padrão (indutivis- literatura disponível em português [3-7].
mo); tem-se, assim, uma lei ou teoria A gênese da teoria tem sido tema de
científica. O raciocínio indutivo “nos leva diferentes interpretações entre diversos
de uma lista finita de afirmações singu- cientistas, filósofos e historiadores da ciên-
lares para a justifi- cia. A amplamente
cação de uma afir- Apesar de se poder questionar difundida concepção
mação universal” [1, a sua importância para a empírico-indutivista
p. 26]. Como exem- gênese da relatividade restrita, da ciência concebe,
plo de história empí- o experimento de Michelson fundamentalmente, a
rico-indutivista, cos- pode ser colocado entre os teoria da relatividade
tumam-se citar os mais relevantes da história da restrita como uma res-
resultados negativos ciência posta objetiva e correta
de Michelson-Morley ao experimento reali-
como fundamentais para o trabalho de zado pelos físicos estadunidenses Albert A.
Einstein ao propor os princípios da teoria Michelson (1852-1931) e Edward W.
da relatividade restrita. Ao mostrar que a Morley (1838-1923) em 1887 [7].
hipótese de existência do éter era falsa e Apesar de se poder questionar a sua
que, portanto, não existia um sistema de importância para a gênese da relatividade
referência absoluto, esses dados expe- restrita, o experimento de Michelson pode
rimentais teriam sido fundamentais para ser colocado entre os mais relevantes da
a gênese da teoria da relatividade restrita história da ciência. O interferômetro foi
publicada por Einstein em 1905 [2]. “inventado quando Michelson tinha vinte
O presente artigo aborda um ponto e oito anos em resposta a um desafio de
O texto investiga a amplamente difundida ideia
de vista que defende a inconsistência da Maxwell” [8, p. 135]. Tanto antes como
empirista de que os resultados negativos dos
experimentos de Michelson-Morley, de detectar
visão empírico-indutivista no surgimento depois dos experimentos de Michelson,
o movimento da Terra em relação ao éter, fun- da teoria da relatividade restrita. Para houve outras tentativas de medir a
damentaram o trabalho de Einstein ao propor tanto, vale-se de material original de Eins- velocidade da Terra em relação ao éter.
sua teoria da relatividade restrita. Para tanto, tein, por meio de entrevistas, falas públi- Ainda, durante a realização dos experi-
usam-se entrevistas, falas públicas e a auto- cas, sua autobiografia, textos de divul- mentos de Michelson havia teorias sobre
biografia do próprio Einstein em que ele aborda gação de suas teorias e do artigo que apre- o éter muito bem estruturadas sob o pon-
explicitamente a questão. Além disso, procura- sentou a relatividade restrita de Einstein to de vista teórico, bem como sob o ponto
se fazer colocações de cunho epistemológico
em 1905. Este trabalho, essencialmente, de vista experimental [9].
explícito de pontos relevantes do episódio, pro-
curando desconstruir o modelo empírico sobre
objetiva servir de material de apoio a uma O conceito de éter permeava dois
a gênese da relatividade restrita e vislumbrar discussão explícita de história e episte- campos da física no final do Século XIX,
as possíveis implicações dessas questões na edu- mologia da ciência em sala de aula, o eletromagnetismo e a óptica - unificados
cação científica. visando afastar certas opiniões problemá- pela teoria proposta por James Clerk Max-
4 Einstein usou dados experimentais ao propor a relatividade? Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
well (1831-1879). Segundo as previsões em relação a ela próximo ao solo. Tal mos eventos houve uma aproximação
da teoria, o movimento da Terra através teoria explicava os resultados negativos entre Michelson e Morley. O trabalho
do éter poderia ser detectado por meio de de experimentos como o de Arago e era fruto da colaboração destes dois cientistas
experimentos ópticos ou elétricos. A detec- compatível com todos os fenômenos não é uma repetição ou variação do origi-
ção experimental do éter tornou-se impres- conhecidos [10]. nal de 1881. No experimento realizado em
cindível na física da segunda metade do Em 1851, Armand H.L. Fizeau (1819- 1887, a dificuldade no original de girar o
Século XIX. A determinação empírica foi 1896) realizou um experimento com o aparelho foi resolvida montando o instru-
alvo de muitas investigações, sempre tendo objetivo de testar a teoria de Fresnel, atra- mento sobre um flutuador anular de
resultados nulos. Nem mesmo os expe- vés da medição do efeito de arrastamento madeira sustentado por mercúrio líquido.
rimentos pioneiros de Michelson em 1881, da luz em um meio transparente. O resul- Também alteraram o caminho seguido
tampouco o que foi aperfeiçoado por ele e tado trouxe uma relevante corroboração pelos feixes, dos 120 cm originais para
Morley em 1887, deram indício de qual- da teoria de Fresnel [11]. Logo, o éter pa- 1100 cm ao submeterem-nos a várias
quer ‘vento do éter’ [7]. recia existir e se com- reflexões em espelhos
Maxwell foi fortemente influenciado portar de acordo com O éter parecia existir e se situados nos braços do
pelo trabalho de Michael Faraday (1791- as teorias bem estabe- comportar de acordo com as aparelho (Fig. 2). Des-
1867), que em meados do Século XIX lecidas. Fizeau procu- teorias bem estabelecidas sa forma, a magni-
defendeu que as forças eletromagnéticas rou encontrar outros tude do padrão de
são transmitidas por linhas de força que experimentos para medir os efeitos da interferência no experimento de 1887 era
têm realidade física. Ao contrário de Fara- velocidade da Terra em relação ao éter. Em dez vezes maior que no original, mas
day, que se concentrou nas linhas de força, 1859, afirmou ter constatado resultados novamente os resultados não foram os
Maxwell voltou-se à ideia da substância positivos. Seguiu-se uma série de deli- previstos. Apesar disso, a certeza de Mi-
que preenchia o espaço, o éter [4]. Como cados experimentos que davam boas indi- chelson da existência do éter nunca foi
ressalta Peduzzi [7], grande parte dos cações para acreditar na teoria do éter de abalada [7].
cientistas acreditava que a luz era uma Fresnel nas primeiras décadas da segunda A importância do trabalho de Mi-
onda que se propagava no éter. Após metade do Século XIX. Se existissem chelson, para alguns autores, não se limita
Maxwell identificar a luz como um fenô- “experimentos cruciais”, a teoria de Fres- à questão envolvendo o movimento da
meno eletromagnético era crível admitir nel teria sido “provada” pelo experimento Terra em meio ao éter - afirmam que teve
que as ondas eletromagnéticas deveriam de Fizeau. Esse era o contexto quando papel fundamental para o desenvolvimen-
envolver a vibração desse meio. Michelson iniciou seus estudos acerca do to da relatividade restrita de Einstein.
A versão popularizada que afirma éter [10]. Filósofos da ciência como Hans Reichen-
que os físicos acreditavam na teoria do Peduzzi [7] faz uma descrição deta- bach e Gaston Bachelard alinham-se à
éter por pura especulação é completa- lhada do experimento de Michelson. visão empirista para a gênese da teoria da
mente equivocada. Havia argumentos teó- Resumidamente, a versão do interferôme- relatividade restrita. Reichenbach foi um
ricos fortes que indicavam a possibilidade tro de Michelson (Fig. 1) possui dois bra- dos mais persistentes analistas filosóficos
de medir a velocidade da Terra por meio ços horizontais de mesmo comprimento das implicações epistemológicas da
de experimentos ópticos. O histórico das por onde feixes de luz vindos de uma relatividade. Para o autor, não resta dúvida
tentativas de medir a velocidade da Terra mesma fonte se movimentam pela mesma de que Einstein construiu sua teoria fun-
em relação ao éter é muito mais rico do distância de forma perpendicular, sendo damentado em uma confiança extraordi-
que quando se o associa apenas aos expe- refletidos e voltando ao mesmo ponto. nária em dados experimentais [14]. Os
rimentos de Michel- Para detectar o ‘vento únicos experimentos citados na análise são
son e Michelson- Nem mesmo os experimentos do éter’ seria neces- os de Michelson. Gaston Bachelard é ainda
Morley [10]. O desen- pioneiros de Michelson em sário medir a diferença mais efusivo em relação à origem empírica
volvimento do inter- 1881, tampouco o que foi de tempo entre o per- da relatividade: “Como sabemos, como
ferômetro de Michel- aperfeiçoado por ele e Morley curso dos dois feixes tem sido repetido mil vezes, a relatividade
son, por exemplo, foi em 1887, deram indício de por meio das franjas nasceu de um choque epistemológico;
muito influenciado qualquer ‘vento do éter’ de interferência. No nasceu do ‘fracasso’ da experiência de
pelo instrumento experimento de 1881 Michelson” [15, p. 566].
criado por J. Jamin [7]. os braços do interferômetro tinham 120 Muitos livros didáticos reforçam a
Dentre os experimentos precedentes cm e Michelson sempre se mostrava relevância do trabalho de Michelson para
aos de Michelson está o de François Jean frustrado por não ter conseguido detectar a gênese da teoria da relatividade restrita
Dominique Arago, de 1809. O seu resul- as franjas esperadas teoricamente. - inclusive, livros aprovados no PNLDEM
tado negativo levou Augustin-Jean Fres- Em 1884, ao proferir palestras nos 2012. Por exemplo, em [16, p. 313] lê-se
nel (1788-1827) a escrever um artigo, a Estados Unidos, Lord Kelvin incitou
pedido do próprio Arago, que culminou Michelson a realizar novos experimentos
no desenvolvimento de uma teoria deta- com o interferômetro. Durante os mes-
lhada da relação entre os corpos trans-
parentes e o éter luminífero - sobre a qual
repousam as bases de uma óptica dos
corpos em movimento. Em 1845, George
Gabriel Stokes (1819-1903) propôs uma
nova teoria do éter. Nela o éter seria um
material viscoso que aderia à superfície
dos corpos, sendo quase que totalmente
arrastado pela Terra, ficando em repouso Figura 1: Interferômetro de 1881 [12]. Figura 2: Experimento de 1887 [13].
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Einstein usou dados experimentais ao propor a relatividade? 5
que: “É preciso acrescentar que, para ela- Com a palavra, Einstein
borar a teoria da relatividade, Einstein
contou não só com a sua grande geniali- O artigo de 1905
dade, mas com trabalhos de outros físicos,
como os norte-americanos Albert A. Mi- No início do Século XX, haviam sido
chelson (1852-1931) e E.W. Morley malsucedidas todas as tentativas de ex-
(1839-1923), e o holandês H.A. Lorentz plicar os campos eletromagnéticos em
(1853-1928)”. termos mecânicos. Físicos como Max
Apesar de negar por várias vezes que Abraham procuravam uma visão eletro-
os resultados dos experimentos de Michel- magnética de mundo em detrimento da
son-Morley tenham visão mecânica. Eins-
pautado o desenvolvi- Para Feyerabend, aquilo que tein, no entanto, esta-
mento da relatividade parece a voz da razão va convencido de que
restrita, Einstein reco- (argumentos e contra- nem a mecânica nem
nhecia sua importân- argumentos) não passa de o eletromagnetismo
cia em outra instân- efeito casual subsequente deste poderiam sobreviver
cia. É bem provável, processo de persuasão intactos; ambos te- Figura 3: Artigo original, em alemão, de
como o próprio cien- riam que ser modifi- Einstein.
tista alemão admitiu, que sem o trabalho cados ao levar em conta os novos avan-
de Michelson os físicos não teriam acei- ços da Física [18]. grandes cientistas no final do Século XIX
tado a relatividade restrita e considerariam O trabalho em que Einstein apresenta e início do Século XX. Em particular, a
abandoná-la. Percebe-se então a impor- sua teoria da relatividade restrita foi publi- questão de quais mudanças nas manifes-
tância do experimento no convencimento cado em 1905 no periódico Annalen der tações eletromagnéticas ou ópticas po-
da comunidade, na aceitação dos pares, Physik. O artigo com o título Zur Elektro- deriam ser medidas em sistemas inerciais
que é uma das mais importantes etapas dynamik bewegter Körper (Fig. 3) (Sobre a que se movem uns em relação aos outros
do estabelecimento de uma teoria cien- eletrodinâmica dos corpos em movimento) fez era uma questão que ocupava Einstein.
tífica. parte do que ficou conhecido como annus Já havia teorias que eram convincentes
Para Feyerabend, há circunstâncias mirabilis de Einstein, pois nesse ano Eins- nesse sentido antes do trabalho de
em que a argumentação perde importân- tein publicou outros artigos de relevância. Einstein. Durante a década de 1880, por
cia, inclusive durante o desenvolvimento O objetivo do trabalho foi, a partir da ele- exemplo, Lorentz já havia desenvolvido
científico. Os argumentos, para o episte- trodinâmica de Maxwell para corpos em sua teoria. Apesar de Einstein conhecer
mólogo, só têm utilidade depois de algum repouso, fornecer uma eletrodinâmica muito bem o trabalho de Lorentz quando
convencimento prévio das pessoas que são para corpos em movimento, como fica desenvolveu sua relatividade restrita,
argumentadas e que argumentam. Assim, claro desde a primeira frase: “Sabe-se que publicada em 1905, ela não o satisfazia,
as velhas formas de argumentação mos- a eletrodinâmica de Maxwell, como geral- talvez por sua complexidade [19].
tram-se demasiadamente fracas antes des- mente entendida no tempo presente, É preciso ressaltar que, apesar de gran-
te convencimento dos envolvidos. Nestes quando aplicada a corpos em movimen- de parte da relatividade restrita ter sido
casos, outras formas de persuasão são to, leva a assimetrias que não parecem ser desenvolvida antes de Einstein, há três novi-
necessárias, como a propaganda e a coer- inerentes aos fenômenos”. dades fundamentais em seu trabalho publi-
ção. Para Feyerabend, aquilo que parece a A relatividade do movimento levava cado em 1905: (i) a estruturação da teoria
voz da razão (argumentos e contra-argu- a assimetrias que Einstein conhecia de seus de maneira muito mais simples do que
mentos) não passa de efeito casual subse- estudos sobre a teoria de Maxwell [3]. De Lorentz e Poincaré ao deduzir a cinemática
quente desse processo de persuasão em acordo com o ‘princípio da relatividade’ relativística a partir de dois postulados; (ii)
que “interesses, forças, propaganda e formulado por Poincaré, os fenômenos propor a equação E = m.c² como uma
técnicas de lavagem cerebral desem- físicos devem ser os mesmos para obser- relação geral da teoria ao sugerir que fosse
penham, no desenvolvimento de nosso vadores fixos ou transportados em movi- aplicável em todos os casos e (iii) tornar
conhecimento e no desenvolvimento da mento uniforme. Vários pesquisadores supérflua a introdução do éter [4].
ciência, um papel muito maior que geral- tentaram conciliar a teoria eletromagné- Einstein não apontou desde o início
mente se acredita” [17, p. 40]. tica com o princípio da relatividade, já que de seu artigo de 1905 nenhum desconten-
As ideias de Feyerabend parecem ga- o eletromagnetismo de Maxwell parecia tamento entre teorias
nhar força quando se percebe, segundo a estar em desacordo e fatos estabelecidos.
com tal princípio. O É bem provável, como o
própria análise de Einstein, que o conven- Ele até se refere a al-
resultado dessas pes- próprio Einstein admitiu, que
cimento dos pares da ciência sobre a perti- gumas observações,
quisas é o que cha- sem o trabalho de Michelson os
nência da teoria não se deveu apenas a mas todas longamen-
mamos hoje de teoria físicos não teriam aceitado a
aspectos próprios dela, como sua coerên- te conhecidas e com-
da relatividade res- relatividade restrita e
cia e consistência interna. Para a comuni- preendidas. Como
trita. Sua construção, considerariam abandoná-la
dade não ter abandonado a teoria, outros Holton [8] chama a
fatores, como os dados experimentais de em grande parte, atenção, o mesmo
Michelson-Morley, que não eram oriun- ocorreu antes do artigo original de Eins- comportamento foi adotado por Copér-
dos da sua construção teórica, foram tein de 1905 [6]. nico, Galileu (no Diálogo) e Newton -
úteis. Normalmente, apenas argumentos A criação de uma teoria onde todos nenhum deles se fundamentou em fatos
oriundos da própria teoria não são sufi- os processos físicos fossem equivalentes experimentais recentemente disponíveis,
cientes para uma teoria “pegar”, como em quaisquer referenciais em movimento mas mesmo assim suas propostas expli-
ocorreu com a relatividade restrita. relativo era um problema que ocupava cavam dados empíricos que as teorias
6 Einstein usou dados experimentais ao propor a relatividade? Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
anteriores não conseguiam. Em nenhum tivessem tido influência na gênese de sua rando uma estética que os cientistas não
momento, durante o texto, Einstein dá a proposta [8]. tinham ainda levado a termos empíricos.
entender que sua proposta é feita para Vários outros pontos do artigo de Parece claro que Einstein tinha uma
tentar salvar algum fenômeno. Em Einstein indicam uma despreocupação inquietação causada por paixão a uma
nenhum local do artigo pode-se perceber com resultados empíricos para a constru- simetria. A partir desse seu anseio, ele
algum indicativo que tenha considerado ção da teoria da relatividade restrita. Por desenvolveu sua teoria que, ao final de
a experiência de Mi- exemplo, quando todo o processo, pode parecer racional-
chelson como crucial Algumas frases de Einstein no Einstein descreve os mente construída. Isso não é uma exceção,
ou mesmo essencial artigo de 1905 mostram uma dois postulados que segundo Feyerabend, mas algo recorrente
para sua proposta - falta de preocupação com são a base do trabalho na história da ciência: as teorias só pare-
nem mesmo se ele sa- detalhes complicados da física ele não se refere a cem razoáveis, claras e aceitáveis quando
bia de sua existência. experimental, ou mesmo falta qualquer conjunto de partes internas incoerentes foram usadas
Por mais de uma de interesse dados experimentais por um tempo. “Esse prelúdio desarrazoa-
vez durante o artigo, ou mesmo alguma do, insensato e sem método revela-se,
Einstein teve oportunidade de citar o ex- experiência bem conhecida. Em alguns assim, ser uma condição inevitável de cla-
perimento de Michelson, caso ele tivesse casos, o autor descreve que suas propostas reza e de êxito empírico” [17, p. 41].
tido alguma influência. A primeira foi logo estão de acordo com experiências estabe-
após descrever detalhes do caso do ex- lecidas. Apesar disso, quando as equações Notas autobiográficas
perimento de corrente induzida com con- que podem explicar experimentos clás- As Notas Autobiográficas [21] foram
dutores e ímãs: “tentativas frustradas de sicos, como a de Fizeau, da teoria do ar- escritas em 1946 e publicadas original-
descobrir qualquer movimento da terra rasto do éter, são desenvolvidas, elas não mente em 1949 (Fig. 4). No livro há fortes
relativamente à ‘forma de luz’, sugerem são explicitamente vinculadas a esses ex- indícios que o jovem estudante Albert
que os fenômenos da eletrodinâmica, bem perimentos. Einstein tinha convicções empiristas, o
como da mecânica, não possuem proprie- Einstein aceitava que não poderia ser
dade correspondente à ideia de repouso como premissa para a Quase todos os resultados do diferente em um cená-
absoluto”. Nem o experimento de Michel- reformulação da ele- artigo de 1905 obtidos por rio de uma ciência que
son, tampouco qualquer outro experimen- trodinâmica as refor- Einstein já haviam sido se desenvolve à luz do
to do suposto movimento da Terra no éter, mas nos conceitos de alcançados antes, no entanto, empirismo lógico. No
é citado pelo nome. Mesmo tendo sido feita espaço e tempo. Ele irá havia uma importante entanto, o cientista
referência a eles, não parecem desempenhar deixar claro, em sua diferença; Einstein negou a escreve que pouco
papel crucial na argumentação. autobiografia, que hipótese do éter depois de 1900, após
Como analisa Martins [20], quase não entendia como conhecer o trabalho de
todos os resultados do artigo de 1905 obti- dever de uma teoria ser construída a partir Planck, teve o convencimento de que nem
dos por Einstein já haviam sido alcançados de fatos empíricos, apenas, segundo o a mecânica, tampouco a eletrodinâmica,
antes por Lorentz e Poincaré. No entanto, cientista, não pode entrar em conflitos poderiam alegar validade exata.
havia uma importante diferença; enquan- com resultados experimentais
to os antecessores de Einstein aceitavam bem estabelecidos.
a existência do éter, ele negou essa hipó- De acordo com Martins
tese. Já quase no final da introdução do [20], não se coloca em dúvida
artigo, Einstein teve outra oportunidade que Einstein sabia da existência
de citar o experimento de Michelson ao de experimentos infrutíferos
afirmar que a introdução de um éter lumi- que pretendiam detectar o
noso era supérflua, pois sua argumenta- movimento da Terra em rela-
ção não exigia um espaço absolutamente ção ao éter. No entanto, não
estacionário com propriedades especiais. há nada no artigo original de
As equações de transformação de Lorentz 1905 que deixe claro, ou
derivam dos postulados e guiam a trans- mesmo indique, que Einstein
formação das equações de Maxwell-Hertz considerou os experimentos de
para todos os fenômenos eletrodinâmicos. Michelson durante a formula-
Velhos fenômenos ópticos conhecidos ção da proposta da teoria da
devido ao movimento da Terra decorrem relatividade restrita, ou até
dessa nova abordagem, mesmo anteriores mesmo que ele conhecia seus
aos experimentos de Michelson, como o resultados durante a constru-
efeito Doppler relativista. Em nenhum ção de seu argumento. Segun-
momento Einstein indica uma reinterpre- do Arruda e Villani [3], as
tação dos resultados negativos de Michel- contribuições de Einstein em
son-Morley. Algumas frases, inclusive, 1905 devem ser vistas como
mostram uma falta de preocupação com uma tentativa de unificação da
detalhes complicados da física experimen- Física. O trabalho teve como
tal, ou mesmo falta de tempo e interesse objetivo reformular a teoria
em entrar em detalhes sobre estas expe- eletromagnética de Maxwell,
riências. Dessa forma, Einstein renuncia não teorizar resultados empí-
uma segunda vez à oportunidade de citar ricos. Ele buscava uma perfei-
os experimentos de Michelson, se eles ção teórica interna, procu- Figura 4: Capa da autobiografia de Einstein.
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Einstein usou dados experimentais ao propor a relatividade? 7
Nem sempre Einstein negou o éter, co- provou a inexistência do éter, embora o Entrevistas com R. S. Shankland,
mo quando introduziu a sua relatividade tivesse descartado no desenvolvimento da cartas e falas públicas
restrita. Quando ainda era estudante, em sua relatividade restrita publicada em
torno de 1897-98, ele inclusive planejou 1905. Em artigo publicado em 1963, R.S.
construir artefatos experimentais para Mais tarde, ao desenvolver a relati- Shankland relata entrevistas de Einstein
medir a velocidade da Terra em relação ao vidade geral, Einstein parece se rea- realizadas por ele em Princeton (Fig. 5)
meio. Em cartas a Mileva Maric e Marcel proximar da validade do conceito de éter. entre 1950-54. As conversas tratam
Grossmann é possível ter indicativos de que Em uma conferência na Holanda em principalmente do trabalho de Michelson,
ele acreditava na existência do éter até pelo 1920 [24], chega a comparar “o éter da particularmente o de Michelson-Morley
menos 1901 [22]. relatividade geral” com o éter de Lorentz, e também dos experimentos de Miller.
A crença no éter foi colocada de lado diferenciando-os por o primeiro depender No início do artigo, Shankland [25]
para o nascimento da relatividade restrita das influências da matéria e energia em deixa claro que o objetivo das entrevistas
de Einstein. Em relação à gênese da teoria, cada lugar, e para Lorentz o éter era igual era “aprender com ele o que realmente
Einstein aborda expli- em todos os pontos achava sobre os experimentos de
citamente esse assun- Einstein não provou a [6]. Michelson-Morley, e em que grau eles o
to em sua autobio- inexistência do éter, embora o Para Feyerabend tinham influenciado no desenvolvimento
grafia. “A teoria da tivesse rejeitado no [17], um cientista da teoria especial da relatividade”. A res-
relatividade especial desenvolvimento da sua tentará aperfeiçoar e posta de Einstein para a pergunta sobre
tem a sua origem nas relatividade restrita publicada não descartar con- quando havia conhecido os experimentos
equações de Maxwell em 1905 cepções aparente- de Michelson foi que eles chamaram a sua
dos campos eletro- mente vencidas. atenção por meio do trabalho de Lorentz
magnéticos” [21, p. 63]. Também Einstein Quando se analisa a relação do trabalho e só depois de 1905. Einstein ainda afirma
deixa bem claro que não foram dados de Einstein com o conceito do éter, as que se os experimentos de Michelson
empíricos que levaram à sua proposta, na asserções de Feyerabend parecem fazer tivessem relevância para ele antes de 1905,
talvez mais conhecida passagem das Notas mais sentido. Apesar de Einstein ter ele os teria citado no artigo. Ele continuou
Autobiográficas [21, p. 51-53]: deixado de lado inicialmente o conceito, dizendo que os resultados experimentais
ele o aperfeiçoou no desenvolvimento de que mais o influenciaram foram as obser-
Aos poucos me desesperava da possi- vações sobre a aberração estelar e de Fi-
sua relatividade geral, admitindo até a
bilidade de descobrir as verdadeiras leis zeau, e também as medições da velocidade
existência de ‘um éter da relatividade
por meio de esforços construtivos ba- da luz na água em movimento. “Eles eram
geral’. Segundo Martins [6], Einstein
seados em fatos conhecidos. Longa e o suficiente”, disse Einstein a Shankland.
aceitou inicialmente o princípio da rela-
desesperadamente eu tentei, mas che- É interessante também notar que
tividade e outras ideias de Poincaré, no
guei à convicção de que só a descoberta Einstein acreditava que não existe cami-
entanto, rejeitou o éter por este não poder
de um princípio universal formal nho racional a seguir para a construção
ser detectado e por considerá-lo pura-
poderia levar a resultados seguros. [...] de uma teoria. Segundo Feyerabend, os
mente hipotético. Martins afirma que o
Após dez anos de reflexão resultou um racionalistas têm ânsia por uma sequência
retorno ao éter de Einstein demonstra que
paradoxo sobre o qual eu já tinha linearizada que leve a uma teoria cien-
ele não tinha uma postura epistemológica
batido com a idade de dezesseis anos:
rígida, utilizava a concepção que
Se eu tentar alcançar um feixe de luz
lhe fosse mais conveniente no mo-
com a velocidade c (velocidade da luz
mento.
no vácuo), eu deveria observar tal feixe
Sendo assim, parece impro-
de luz como um campo eletromagné-
vável que algum experimento com
tico oscilatório espacialmente em re-
resultados negativos de detecção
pouso? No entanto, não parece existir
do éter possa ter papel decisivo na
tal coisa, quer com base na experiência
gênese da relatividade. O desen-
ou de acordo com as equações de Max-
volvimento da teoria não exclui a
well. [...]
existência desse ente e mesmo
Vê-se que neste paradoxo o germe da Einstein não parecia convencido da
teoria da relatividade especial já está inutilidade do conceito; apenas o
contido. considerou supérfluo no desen-
Em nenhum momento, em todo o volvimento de sua relatividade res-
seu Notas Autobiográficas, Einstein cita as trita. Além de tudo, o fato de
experiências de Michelson ao escrever so- Einstein ao desenvolver sua rela-
bre as origens da tividade geral
teoria da relatividade Apesar de Einstein ter deixado se aproximar
restrita. Martins [6] de lado inicialmente o conceito, do conceito de
ainda relata que para ele o aperfeiçoou admitido até éter dá indica-
Einstein, inclusive, a a existência de ‘um éter da tivos de que ele
sua relatividade res- relatividade geral’ não dava mui-
trita não obriga a ta importância
negar a existência do éter. Sendo possível à necessidade de provas empíricas
admitir sua existência “apenas desistindo no desenvolvimento das teorias,
de atribuir um estado definitivo de ao invocar um ente que muitos Figura 5: Princeton University durante a década
movimento” [23 apud 6]. Einstein não falharam em tentar detectar. de 1950.
8 Einstein usou dados experimentais ao propor a relatividade? Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
tífica. Einstein discordava, como deixou resultados eram verdade”. reafirma que, caso o experimento de
claro em entrevistas, segundo o relato de Michelson do vento do éter tivesse tido
Por meio da entrevista, parece claro
Shankland [25, p. 48]: alguma influência, ela não foi relevante:
que para Einstein, a atividade científica
“A influência do famoso experimento de
Isso o levou a comentar com parece ter alguma ordem somente no fi-
Michelson-Morley sobre os meus próprios
algum pormenor sobre a nal. Em seu percurso, o cientista segue
esforços [deliberações] foi bastante indi-
natureza dos processos men- caminhos que um racionalista iria des-
reta”.
tais, em que eles não apa- crever como não científicos. Einstein tinha
Na mesma carta, o único experimento
recem como um movimento várias convicções sobre o fazer ciência;
citado como fundamental para a gênese
de passo a passo rumo a uma como descrito por Shankland [25, p. 50]:
da teoria da relatividade restrita foi a expe-
solução, enfatizando-os co-
Quase todos os historiadores riência de pensamento, de se buscar um
mo uma rota tortuosa que
da ciência são filólogos e não feixe de luz com a velocidade c, descrita
nossas mentes tomam atra-
compreendem o que os físicos no artigo de 1905. Outros três experimen-
vés de um problema.
estavam visando, como eles tos são citados como mais importantes
Percebe-se que Einstein não está se pensaram e lutaram com os que o de Michelson-Morley para a relati-
referindo a caminhos não logicamente en- seus problemas [...] Ele luta vidade, os que foram apresentados no tra-
cadeados somente no contexto da des- com os seus problemas, sua balho de Lorentz de 1895. Tais evidências
coberta, mas também no que Reichenbach tentativa usando todos os estão em consonância com outras a partir
chamou de contexto da justificativa. meios possíveis para encon- das entrevistas de Shankland, que permi-
Feyerabend sugere superar a distinção en- trar uma solução que vem, tem acreditar que o livro de Lorentz que
tre contexto da descoberta e contexto da finalmente, muitas vezes, por Einstein provavelmente estudou e leu foi
justificativa, que para o autor não desem- meios indiretos. de 1895, além do artigo de 1892 publicado
penha nenhum papel na prática científica, na França. Neles, Einstein encontrou o
Para Feyerabend, a ciência em desen- experimento de Michelson, sem, no en-
e “tentativas de impô-lo teriam conse-
volvimento é o resul- tanto, nenhum trata-
quências desastrosas” [17, p. 207]. Para
tado de uma solução os resultados negativos dos mento para ser consi-
o epistemólogo, a prática científica não
de controvérsias. A experimentos de Michelson- derado como um
tem esses dois contextos. Ao contrário, ela
criação de uma teoria Morley não eram uma evento crucial sobre a
é uma complexa mistura de procedimen-
e a compreensão plena conclusão de uma análise qual uma nova física
tos, que não permite traçar onde começa
da ideia correta sobre empírica, Einstein acreditava deveria ser construí-
e termina o contexto da descoberta para
ela são parte de um nestes resultados por uma da. O experimento de
iniciar-se o contexto da justificativa.
único processo indi- questão teórica Michelson era apenas
Feyerabend vai ainda mais longe: se os
visível - e não podem uma das várias expe-
cientistas tivessem sido obrigados a seguir
ser separadas para não interromper tal riências descritas na obra.
as regras que os metodólogos exigem no
processo. Esse curso é guiado por um vago Einstein escreveu a seu amigo Michele
contexto da justificativa, a ciência como
anseio, uma paixão, que “dá origem a um Besso para comentar a notícia que Day-
a conhecemos não teria se desenvolvido.
comportamento específico que cria as ton Miller havia anunciado resultados
A prática científica, segundo o autor, é
circunstâncias e as ideias necessárias para empíricos que anulavam o segundo
uniforme durante todo o processo de cria-
analisar e explicar o processo, para torná- postulado da relatividade restrita. Na carta
ção, desconstruindo a exigência raciona-
lo ‘racional’” [17, p. 41]. a Besso Einstein afirma que: “Eu não o
lista dos dois contextos descritos por
Durante toda a levei a sério por um minuto”. Essa res-
Reichenbach.
entrevista, Einstein posta parece indicar o quanto para Eins-
Em uma segunda A atividade científica parece ter
não esconde a admi- tein os resultados negativos dos experi-
entrevista, Shankland alguma ordem somente no
ração e respeito que ti- mentos de Michelson-Morley não eram
também questionou final. Em seu percurso, o
nha por Michelson, uma conclusão de uma análise empírica.
Einstein acerca do cientista segue caminhos que
chegando a declarar Einstein acreditava nesses resultados por
papel dos experimen- um racionalista iria descrever
que o amava. Nas uma questão teórica que não parecia
tos de Michelson na como não científicos
conversas com poder ser refutada por experimentos como
gênese da teoria da
Shankland parece cla- os de Miller.
relatividade restrita [25, p. 55]:
ro que os experimentos de Michelson só A primeira e única vez que Einstein
Eu perguntei ao Professor chamaram sua atenção depois de 1905, encontrou Michelson foi na visita do cien-
Einstein quando ele ouviu principalmente durante as discussões com tista europeu a Pasadena em 1931. Ape-
pela primeira vez sobre o Lorentz no desenvolvimento da relatividade sar de Einstein admirar o trabalho de
experimento de Michelson. geral. No entanto, os resultados dos Michelson, este não apreciava a relati-
Ele respondeu: “Isso não é tão experimentos de Michelson, e depois junto vidade e seu papel na superação das teorias
fácil, eu não tenho certeza de com Morley, eram perfeitamente com- do éter. Ele tinha certeza de que suas expe-
quando ouvi pela primeira preendidos a partir da relatividade restrita. riências tinham tido papel central na gêne-
vez sobre a experiência de O próprio Shankland publicou artigo se da relatividade restrita. Isso pode ser
Michelson. Eu não estou [26] em que transcreve carta de Einstein entendido nas entrevistas de Einstein a
consciente se ela me influen- escrita em 1952 para a Sociedade de Física Shankland quando ele declarou que
ciou diretamente durante os de Cleveland, em homenagem ao cente- Michelson havia lhe dito que não gostava
sete anos que a relatividade nário de Michelson. Nessa carta, além de das teorias que se haviam seguido ao seu
foi minha vida. Acho que eu tecer elogios a Michelson, chamando-o in- trabalho, que estava triste com o monstro
tinha como certo que seus clusive de artista da ciência, Einstein que seu trabalho havia gerado.
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Einstein usou dados experimentais ao propor a relatividade? 9
Não haveria ocasião mais adequada port. A resposta de Einstein foi a um Qualquer opinião sobre o conhecimento
para reconhecer a influência dos experi- questionamento do remetente de como as científico não pode ignorar que o empre-
mentos de Michelson para a elaboração experiências de Michelson haviam pavi- endimento científico deve olhar para ou-
da teoria da relatividade restrita que uma mentado o caminho para a teoria da relati- tras tradições e outros procedimentos que
fala de Einstein com Michelson na plateia, vidade restrita. A resposta de Einstein data não os recomendados pelos racionalistas.
como no evento de 1931 em Pasadena. O de 9 de fevereiro de 1954 [8, p. 194]. Após A epistemologia de Feyerabend considera
texto do discurso de Einstein na ocasião fazer considerações sobre a origem de sua que a “ciência é uma das invenções mais
foi publicado em alemão em 1949 na re- relatividade restrita, tal qual exposta no maravilhosas da mente humana” [17,
vista Science (93, p. 544-545). Nele, Eins- próprio artigo de 1905, Einstein reafirma p. 23]. O que Feyerabend chama de ciência
tein declara que Michelson havia esti- que “podemos, portanto, entender por que está muito longe dos procedimentos de-
mulado as ideias de Lorentz e FitzGerald na minha luta pessoal o experimento de fendidos por alguns racionalistas e o que
a partir das quais a relatividade restrita Michelson não desempenhou nenhum estes acreditam caracterizar a natureza da
foi desenvolvida. papel ou pelo menos nenhum papel deci- ciência. Estudar episódios históricos à luz
Portanto, Einstein não traçou ligação sivo”. da epistemologia relativística de Feyera-
genética entre a sua relatividade restrita e Uma possível conclusão da análise bend pode ser um importante aporte para
os experimentos de Michelson e de Michel- dos escritos e falas do próprio Einstein é desconstruir algumas opiniões problemá-
son-Morley, nem quando teve uma oca- que os experimentos de Michelson eram ticas sobre o conhecimento científico, em
sião propícia com Michelson na plateia de muito considerados por ele, que chamou especial a opinião empírico-indutivista. As
sua fala. Mas reconheceu que o trabalho por vezes seu autor de artista da ciência. considerações epistemológicas nessa des-
de Michelson contribuiu para a constru- No entanto, seus resultados apenas refor- construção podem contribuir para uma
ção da ciência que levou à relatividade. A çaram uma convicção teórica-estética de opinião acerca do conhecimento científico
importância que a fala de Einstein atribuiu Einstein, que já assumira a validade dos mais alinhada com a moderna filosofia
aos resultados negativos de Michelson está dados dos experimentos como corretos da ciência.
na aceitação da relatividade pelos pares, antes de estudar o trabalho de Michelson.
não em sua construção. Apesar de admitir que os resultados nega- Notas
1
Outro documento relevante para ser tivos dos experimentos foram muito im- Feyerabend discute o seu entendimento
analisado é o registro das observações do portantes para a aceitação da teoria, não acerca de relativismo e racionalismo em seu
cientista em 1931 ao Physikalische Gesel- há evidências de que tenham tido alguma ensaio publicado em Adeus à Razão [28],
lschaft, em Berlim. O evento foi em me- importância em sua gênese. intitulado ‘Notas sobre o relativismo’ (p. 27-
mória de Michelson, que faleceu em 9 de 110). Em Damasio e Peduzzi [29] podem-se
maio de 1931. Mais uma vez, Einstein não Considerações finais encontrar comentários a respeito da
faz qualquer ligação genética entre os Uma discussão explícita das questões abordagem de Feyerabend sobre a questão.
2
experimentos de Michelson e a relatividade colocadas anteriormente pode ser útil pro- Na literatura é comumente chamado de
restrita, e se limita a enfatizar a impor- curando desconstruir opiniões pro- imagem e/ou visão distorcida e/ou defor-
tância dos resultados negativos para a blemáticas sobre o conhecimento cientí- mada da ciência as maneiras de considerar
aceitação dos pares. Isso fica explícito em fico. Alguns apontamentos acerca da ou de entender a ciência desalinhadas com
seu comentário: “Esse resultado negativo discussão sob o viés epistemológico de a moderna filosofia da ciência. Silva [30]
[da experiência de Michelson] grandemen- Feyerabend também parece ser relevante faz uma reflexão crítica acerca desses ter-
te avançou a crença na validade da teoria”. nesse cenário. Anteriormente levantou mos. Para o autor, deve-se usar termos
Uma década mais tarde, em 1942, algumas opiniões problemáticas acerca do compatíveis com a correção da linguagem
Einstein escreve uma carta resposta ao conhecimento científico,2 em particular a filosófica. Ele sugere o uso da expressão opi-
escritor B. Jaffe onde aborda novamente opinião de uma ciência de natureza empí- nião no lugar de imagens ou visões, pois
a questão [27]. Nela reafirma que a im- rico-indutivista. A questão que se coloca, imagem, em filosofia, requer certo cuidado
portância do trabalho de Michelson sobre então, é se existe e quais seriam as carac- ao ser usada para não gerar interpretações
sua relatividade restrita foi de reforçar a terísticas da natureza da ciência que de- dúbias. Já o termo opinião, no sentido
convicção da validade dos seus princípios, vem estar presentes para garantir o sta- filosófico, é sinônimo de intuição, assim
que foram desenvolvidos antes de ele sa- tus de científico a um trabalho. justifica-se seu uso, pois o estudante não
ber dos resultados dos trabalhos de Mi- Para Feyerabend, pode haver muitas cria uma visão ou imagem da ciência, mas
chelson. Novamente Einstein reafirma que espécies diferentes de ciência, muitas ma- sim uma crença que não possui segurança
o papel relevante dos experimentos para neiras de fazer ciência e contribuir com o de validade. Portanto, a redação mais coesa
a relatividade foi no sentido de ajudar a conhecimento científico. Toda opinião no sentido filosófico é de opinião proble-
convencer a comunidade de sua validade. sobre a natureza da ciência é uma entre mática do fazer ou do conhecimento
Uma última carta que será analisada muitas possíveis, o que reflete a hetero- científico. A terminologia sugerida por Silva
é a de Einstein ao historiador F.G. Daven- geneidade do procedimento científico. foi adotada neste trabalho.
Referências
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10 Einstein usou dados experimentais ao propor a relatividade? Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
[9] J. Worrall, PSA: Proceending of the Biennial Meeting of the Philosophy of Science Association 1, 334 (1994).
[10] R.A. Martins, Caderno Brasileiro de Ensino de Física 29, 52 (2012).
[11] E. Buchwald and Hundert Jahre Fizeauscher Mitfuhrungsversuch, Naturwissenschaften 28, 519 (1951).
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[14] H. Reichenbach, From Copernicus to Einstein (Philosophy Library, New York, 1942).
[15] G. Bachelard, in: Albert Einstein Philosopher-Scientist, edited by P.A. Schilpp (Library of Living Philosophers, Evanston, 1949).
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[18] J. Stachel, Revista Brasileira de Ensino de Física 27, 5 (1995).
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[20] R.A. Martins, Ciência e Cultura 57, 25 (2005).
[21] A. Einstein, Notas Autobiográficas (Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1982).
[22] A. Pais, Sutil é o Senhor (Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1995).
[23] A. Einstein, Äther und relativitätsttheorie (Julius Springer, Berlin, 1920).
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[25] R.S. Shankland, American Journal of Physics 31, 47 (1963).
[26] R.S. Shankland, American Journal of Physics 32, 32 (1964).
[27] B. Jaffe, Men of Science in America (Simon & Schuster, New York, 1944).
[28] P.K. Feyerabend, Adeus à Razão (Editora Unesp, São Paulo, 2010).
[29] F. Damasio e L.O.Q. Peduzzi, Investigações em Ensino de Ciência 20, 97 (2015).
[30] D.A. Silva, Aspectos Epistemológicos da Física Newtoniana na Formação Científica. Dissertação de Mestrado em Educação Científica e Tecnológica,
Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
N
ão é incomum, na prática docente situação-problema. O professor, ao longo
e Tecnologia de Santa Catarina,
do ensino de física, que os do processo, pode fazer papel de orienta-
Florianópolis, SC, Brasil
professores repetidamente prepa- dor, buscando ouvir hipóteses dos estu-
E-mail: marceloschappo@hotmail.com
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
rem aulas de exercícios. No entanto, mui- dantes e coordenar as atividades fazendo-
tas dessas aulas acabam por não passar de os refletir sobre possíveis caminhos ade-
uma prática repetitiva do mesmo tipo quados na solução da questão.
“padrão” de problemas Neste trabalho,
presentes nos diferen- A proposição de situações- deseja-se apresentar
tes livros didáticos. problema trata de elaborar uma situação-proble-
Apesar de reconhecer questões abertas e sem resposta ma real envolvendo
que a prática dos exer- imediata acerca de um tema, uma partida de fute-
cícios tenha seu papel gerando uma maneira de bol do Campeonato
no ensino de física, a instigar a criatividade dos Paulista de 2017. Para
literatura vem apre- estudantes, o raciocínio lógico e sua solução, serão
sentando diferentes a aplicação dos conteúdos necessários conteúdos
trabalhos que pro- discutidos pelo professor que envolvem física
põem uma nova ma- durante a disciplina (astronomia e óptica
neira de trabalhar geométrica), matemá-
situações-problema nas salas de aula da tica (geometria e trigonometria) e educa-
disciplina de física [1, 2]. Com base nesses ção física, que poderá auxiliar na inter-
estudos, destaca-se aqui o fato de a reso- pretação das regras do jogo e termos
lução de exercícios no ensino de física ser técnicos associados à partida. Essa situa-
necessária por ter papel fundamental no ção poderá ser proposta tanto para tur-
desenvolvimento e consolidação das habi- mas de nível médio quanto superior,
lidades dos estudantes. A proposição de cabendo ao professor que desejar utilizá-
situações-problema trata de elaborar la fazer o planejamento das etapas que
questões abertas e sem resposta imediata quer percorrer para chegar à solução da
A literatura vem apresentando diversas discus- acerca de um tema, gerando uma maneira questão. O artigo, portanto, apresentará
sões acerca da forma como é feita a resolução de instigar a criatividade dos estudantes, uma experiência de aplicação em uma
de exercícios em sala de aula no que se refere ao o raciocínio lógico e a aplicação dos con- turma de nível médio da disciplina de física
ensino de ciências. É possível encontrar trabalhos teúdos discutidos pelo professor durante e também uma forma de resolver a situa-
que discutem a resolução de situações-problema a disciplina. Essas questões podem ser ção-problema será traçada e explicada
envolvendo contextos sociais, tecnológicos e
contextualizadas com base histórica, so- passo a passo. Alguns passos da solução
históricos como uma maneira de motivar os
estudantes e fazê-los desenvolver o raciocínio
cial, tecnológica, etc. aqui proposta envolverão uso de softwares
em cima dos conhecimentos que eles possuem A partir da proposta da situação- disponíveis gratuitamente pela internet,
relacionados à disciplina estudada. Este trabalho problema, diferentes metodologias de tra- o que gera também uma oportunidade do
apresenta uma situação-problema de contexto balho podem ser aplicadas pelos profes- uso de novas tecnologias no ensino de físi-
esportivo que envolve a marcação de um gol sores para a condução da aula. A literatura ca pelo professor.
em uma partida de futebol e analisa o problema apresenta essas metodologias com um
por um caminho que envolve os conteúdos de caráter semelhante entre si, envolvendo Apresentação da situação-
física, astronomia e matemática, podendo ser
passos que tangem a apresentação do pro- problema
aplicado em diferentes níveis de ensino e por
professores dos diferentes conteúdos relacio-
blema e a explicação clara do que se está A situação envolveu um lance ocorri-
nados. Relata-se, também, uma experiência de buscando para resolver a questão, seguida do em uma partida de futebol do Cam-
aplicação da situação-problema proposta em de discussão e planejamento de uma estra- peonato Paulista 2017. O jogo foi entre
uma turma de física de nível médio. tégia para tal. Por fim, lança-se mão do os times RB Brasil e Santos, ocorrido no
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Referências
[1] L. Clement, E.A. Terrazzan e T.B. Nascimento, in: IV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação e Ciências (ENPEC), Bauru, 2003 (apresentação oral).
[2] L.O.Q. Peduzzi, Caderno Catarinense de Ensino de Física 14, 229 (1997).
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[4] Rede ESPN, disponível em http://espn.uol.com.br/temporeal/12-02-2017-red-bull-brasil-x-santos, acesso em 20/02/2017.
[5] Polêmica da Tecnologia da Linha do Gol, Programa Esporte Espetacular. Rede Globo de Televisão, 19 de fevereiro de 2017.
[6] Confederação Brasileira de Futebol, Regras de Futebol 2016/17, disponível em http://www.cbf.com.br/arbitragem/regras-futebol-e-
livros#.WKsN9FIm_XE, acesso em 20/02/2017.
[7] Google Earth, disponível em https://www.google.com/earth/, acesso em 20/02/2017.
[8] Vivid Planet Software, Mapcoorditanates Service, disponível em http://www.mapcoordinates.net/en, acesso em 20/02/2017.
[9] Stellarium Software, disponível em http://www.stellarium.org/, acesso em 20/02/2017.
[10] K.S. Oliveira Filho e M.F.O. Saraiva, Astronomia e Astrofísica (Livraria da Física, São Paulo, 2004) 2ª ed.
[11] N. Külkamp, Cálculo I (Editora da UFSC, Florianópolis, 2001), 2ª ed.
[12] A. Steinbruch e P. Winterle, Geometria Analítica (Makron Books, São Paulo, 1987).
[13] M.R. Spiegel e J. Liu, Manual de Fórmulas e Tabelas Matemáticas (Bookman, Porto Alegre, 2004), 2ª ed.
E
m uma revisão da literatura mento do olho humano e alguns defeitos
Departamento de Engenharias e desenvolvida em uma pesquisa de da visão (astigmatismo, miopia e hiper-
Exatas, Palotina, PR, Brasil Mestrado em Ensino de Física em metropia), funcionamento da radiografia
E-mail: marafisica@hotmail.com 40 periódicos nacionais e internacionais convencional e da mamografia, fluoros-
na área de Ensino de Ciências, Qualis/ copia, fluoroscopia digital, imagem radio-
Marco Antonio Moreira CAPES A1, A2 e B1, no período de 2000 a gráfica, teleterapia, braquiterapia, Tomo-
Universidade Federal do Rio Grande do 2009 [1], foi identificado, de modo geral, grafia Computadorizada (TC), Tomogra-
Sul, Departamento de Física, Porto que pesquisas sobre conhecimentos fia Computadorizada Helicoidal (TCH),
Alegre, RS, Brasil prévios dos estudan- Ressonância Magnéti-
E-mail: moreira@if.ufrgs.br tes, embora muito de- Para que os alunos aprendam ca Nuclear, detectores
senvolvidas em áreas com significado há a de radiação, Medicina
Wesley Dias de Almeida como mecânica, ter- necessidade de os professores Nuclear, Tomografia
Universidade Federal do Paraná, modinâmica, óptica e ensinarem através de situações por Emissão de Pó-
Departamento de Engenharias e eletromagnetismo, que forneçam sentido aos sitrons (PET), Tomo-
Exatas, Palotina, PR, Brasil são escassas em rela- conceitos grafia por Emissão de
E-mail: wesleydias@ufpr.br ção a sua utilização na Fóton Único (SPECT).
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
física aplicada à medicina. Para balancear Na sequência, detalhamos cada um
essa situação foram desenvolvidos cinco dos cinco encontros constituintes da pro-
encontros, para auxiliar os professores de posta. Cada um deles teve duração de
física no trabalhar desse tema. 10 horas/aula.
Uma proposta para ensinar física Primeiro encontro
a partir de situações na medicina Assunto: tipos de ondas, estrutura
Fazem parte da proposta os seguintes atômica, radiação e espectro eletromag-
conteúdos: tipos de ondas, estrutura atô- nético, radiação ionizante e não ionizante,
mica, radiação, espectro eletromagnético, radioatividade, três tipos principais de
radiação ionizante e não ionizante, pro- radiação ionizante, interação da radiação
dução de raios X (característico e com a matéria, relação entre matéria e
Bremsstrahlung), radioatividade, três energia, características das ondas, cristais
tipos principais de radiação ionizante de piezoelétricos, efeito Doppler, produção de
Para que os alunos aprendam com significado origem nuclear (alfa, beta e gama), inte- raios X, isótopos e radioisótopos.
há a necessidade de os professores ensinarem ração da radiação com a matéria, efeito Aplicação: ultrassonografia (Fig. 1).
através de situações que forneçam sentido aos Compton, efeito fotoelétrico, aniquilação Conhecimentos prévios: segundo [3]
conceitos. Para tanto, a presente proposta utiliza e produção de pares, relação entre matéria as pessoas:
situações de física que envolvem equipamentos e energia, características das ondas, cris- • não discriminam adequadamente
tecnológicos da medicina, visando fornecer senti-
tais piezoelétricos, efeito Doppler, isótopos onda sonora de percepção acústica;
do aos conceitos, partindo sempre dos conheci-
mentos prévios dos alunos e dos encontrados e radioisótopos, unidades de medida das • confundem o som com onda ou
na literatura. Para isso, elaboramos uma pro- radiações, meia vida, corrente elétrica, fenômeno físico e o som com
posta, dividida em cinco encontros, nos quais resistência elétrica, carga elétrica, volta- audição;
usamos como estratégias de ensino, dentre ou- gem, potência elétrica, gerador, retificador, • confundem onda e vibração e ruído
tras, organizadores prévios, situações-problema, meios de contraste, sinal analógico e digi- e som;
modelagem computacional, filmes, simulações tal, transformador, ânodo, cátodo, filtro, • relacionam de forma equivocada a
computacionais, confecção de mapas conceituais blindagem, campo magnético, meia vida intensidade e a dor e a intensidade e
e de painéis. Este artigo não está focado na
e radioatividade. a frequência para o ouvido huma-
implantação e na avaliação da proposta, mas
na divulgação das atividades desenvolvidas. As seguintes aplicações integram a no.
Figura 5: Partes formadoras da imagem radiográfica: a) écran; b) filme radiográfico e c) Figura 7: Exemplo de implantes utilizados
chassi. Fonte: Ref. [9]. na braquiterapia. Fonte: Ref. [10].
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
D
iariamente, os jornais, páginas da tecem chuvas torrenciais que originam
Realeza, PR, Brasil
internet e telejornais apresentam alagamentos e transformam os grandes
E-mail: aline.biscaino@uffs.edu.br
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a previsão do tempo para hoje e centros urbanos. Em alguns estados,
para os próximos dias em diferentes como Santa Catarina, ocorrem tornados
localidades. São dadas informações como e tempestades que deixam a população em
possibilidade de chuva, temperatura alerta; em localidades do litoral, a chuva
máxima e mínima e provoca deslizamen-
quantidade de preci- Para pessoas que moram em tos de terra que for-
pitação. Para alguns áreas de risco, próximas a çam as pessoas a
setores como a agri- encostas, na beira de rios e abandonarem suas
cultura e os aeropor- regiões que sofrem com casas ou ficarem ilha-
tos, esses dados são alagamentos, a previsão do das.
essenciais e influen- tempo é fundamental e Como se não bas-
ciam em seu lucro e representa, muitas vezes, a tasse tudo isso, o Bra-
produtividade. Seja chance de escapar de uma sil ainda é recordista
no campo ou na cida- tragédia em número de descar-
de, a previsão do tem- gas elétricas. Segundo
po interfere em nossas atividades desde o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
um compromisso que agendamos até a (Inpe), cerca de 50 milhões de raios atin-
roupa que será utilizada durante o dia. gem o Brasil todo ano e, entre os anos de
Para pessoas que moram em áreas de 2000 e 2013, 1.672 pessoas perderam a
risco, próximas a encostas, na beira de rios vida atingidas por raios. Durante esse
e em regiões que sofrem com alagamen- período, o Estado de São Paulo teve 269
tos, a previsão do tempo também é funda- casos de morte, Minas Gerais teve 130 ca-
mental e representa, muitas vezes, a sos e Manaus foi a cidade com maior nú-
chance de escapar de uma tragédia. Um mero de vítimas, 20 pessoas.
exemplo disso foram os deslizamentos de Diante desse cenário, defende-se a
terra na região serrana do Rio de Janeiro necessidade de discutir no Ensino Funda-
Neste trabalho busca-se discutir as possibilidades em janeiro de 2011 que, segundo os mental e Médio, nas disciplinas de ciências
que o processo de previsão do tempo, quando serviços governamentais, contabilizaram e de física, os fenômenos climáticos, a pre-
trabalhado em sala de aula, apresenta para o 916 mortes e em torno de 345 desapare- visão do tempo e todos os conceitos envol-
ensino de ciências e de física no que diz respeito cidos. O Instituto Nacional de Meteoro- vidos nessa temática. Mais do que a im-
ao ensino e aprendizagem em tais disciplinas. Para logia (Inmet) previu o temporal que portância desses temas, neste artigo
tanto, explora-se o conceito de modelo, eviden- atingiu principalmente as cidades de Tere- busca-se trabalhar as possibilidades para
ciando sua importância na ciência e a necessidade sópolis, Petrópolis e Nova Friburgo. Foi tratar de outros assuntos fundamentais
de sua presença no ensino para promover um
emitido um aviso meteorológico especial dentro do conhecimento científico, como
maior entendimento pelos estudantes da pro-
dução do conhecimento científico. Além disso, às 16h23min de terça-feira, dia 11 de ja- a noção de modelos e a teoria do caos. En-
possibilita a vinculação do conhecimento com a neiro, para as Defesas Civis estaduais e tender os fenômenos climáticos e princi-
realidade que se busca compreender e descrever. municipais. As prefeituras de Nova Fri- palmente saber agir diante de situações
Destaca-se a teoria do caos, tema relacionado à burgo, Teresópolis e Petrópolis receberam de risco é essencial para toda população.
previsão do tempo, como necessária no ensino os alertas mas declararam que não houve
de ciências uma vez que envolve uma gama tempo para tomar as medidas necessárias O tempo e o clima no Brasil
diversa de materiais disponíveis à sociedade, que para se evitar a tragédia.1 Com intuito de indicar as possibili-
a vê com curiosidade sem, muitas vezes, ter
No Brasil, vivemos cotidianamente dades para o ensino de ciências no que diz
condições suficientes para selecionar as infor-
mações mais confiáveis. situações diversas de tempo e clima. respeito à utilização da previsão do tempo
Referências
[1] A.M. Grimm, Meteorologia Básica – Notas de Aula, Disponível em http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/index.html, acesso em 4/3/2016.
[2] Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, disponível em http://www.inpe.br/, acesso em 2/2/2016.
[3] Instituto Nacional de Meteorologia, disponível em http://www.inmet.gov.br/, acesso em 9/3/2016.
[4] M. Pietrocola, Investigação em Ensino de Ciências 4, 213 (1999).
[5] T. Wood Jr., Revista de Administração de Empresas 33, 94 (1993).
[6] M. Bunge, Filosofia da Física (Edições 70, Lisboa, 1973).
[7] M. Bunge, Teoria e Realidade (Editora Perspectiva, 1974).
[8] E.C. Ricardo, in: Ensino de Física, editado por A.M.P. Carvalho e cols. (Cengage Learning, São Paulo, 2010).
[9] P.C. Ferrari, Temas Contemporâneos na Formação Docente a Distância: Uma Introdução à Teoria do Caos. Tese de Doutorado, Universidade Federal de
Santa Catarina, 2008.
E
m muitos trabalhos acadêmicos, lestra. Na Tabela 1 descrevemos quais fo-
e Tecnologia do Sudeste de Minas podemos observar pesquisadores ram as atividades realizadas, e ao longo
Gerais, Juiz de Fora, MG, Brasil e indicando a interdisciplinaridade do texto mostraremos o processo de mon-
Programa de Pós-Graduação em como um dos caminhos para tornar as tagem de alguns dos equipamentos.
Ciência, Tecnologia e Educação – disciplinas escolares mais reflexivas, e com
CEFET-RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil o objetivo de integrar os problemas e as O conhecimento secreto
E-mail: vivências do cotidiano dos alunos aos co- Em 2001 o pintor e desenhista inglês
marlon.alcantara@ifsudestemg.edu.br nhecimentos acadêmicos que são traba- David Hockney lançou o livro The Secret
lhados na escola. Muito disso vem da Knowledge – Rediscovering the Lost Tech-
Marco Braga visão que a ciência tem um papel utilitário niques of the Old Masters. Nesse mesmo
Programa de Pós-Graduação em dentro do processo formativo do aluno, ano ele foi publicado em língua portu-
Ciência, Tecnologia e Educação – como pode ser visto no trabalho de Jim guesa com o título O Conhecimento Secreto
CEFET-RJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Ryder [1]. Contudo, nós observamos ou- – Redescobrindo as Técnicas Perdidas dos
E-mail: marcobraga.pq@gmail.com tro componente que também se faz Grandes Mestres. Nessa obra o autor retra-
importante: a construção da ciência como ta sua tese de que em algum momento da
Marcio F.S. Costa um empreendimento sociocultural. As história a qualidade das pinturas havia
Instituto Federal de Educação, Ciência relações entre áreas aparentemente dife- mudado bastante. Na visão de Hockney o
e Tecnologia do Sudeste de Minas rentes, como ciência e arte, podem ser vis- surgimento de novas técnicas no campo
Gerais, Juiz de Fora, MG, Brasil tas em trabalhos nacionais e internacio- da óptica fizeram com que as pinturas
E-mail: marcio.fscosta@hotmail.com nais [2, 3]. Neste artigo, apresentaremos parecessem mais “reais”, “naturais”, “fo-
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uma atividade reali- tográficas” ou mes-
zada com base no livro A ciência tem um papel utilitário mo, “fieis à realidade”
O Conhecimento Secreto, dentro do processo formativo do [4]. Ao estudar as
de David Hockney [4]. aluno, mas os autores deste obras do pintor Jean-
Assim, pretendemos artigo observaram outro Auguste Dominique
discutir alguns aspec- componente que também se faz Ingres (1780-1867),
tos teóricos sobre o li- importante: a construção da Hockney afirma que
vro e seguidamente ciência como um devido à complexi-
mostrar uma ativida- empreendimento sociocultural dade e ao pequeno ta-
de escolar que visa manho de seus dese-
unir ciência e arte ou, mais especifica- nhos, o artista teria se utilizado de um
mente, como a óptica e os instrumentos instrumento óptico recém inventado, a câ-
ópticos se relacionaram com a pintura no mera lúcida (Fig. 1).
período entre os Séculos XV e XVII. A ati- A câmera lúcida é um instrumento
No início do Século XV as pinturas começavam vidade incluiu pesquisa, montagem de bastante fácil de ser construído com ma-
a ganhar certo grau de naturalidade, podería-
instrumentos ópticos e maquetes com teriais de baixo custo. Porém, não é tão
mos dizer que ficavam cada vez mais foto-
gráficas. Uma técnica ensinada de mestre para materiais alternativos por parte dos simples de ser utilizada para fazer dese-
discípulo veio revolucionar a maneira de re-
presentar. Entretanto são poucas as provas Tabela 1: Sequência de eventos.
documentais. Neste artigo, relatamos uma ati-
vidade que teve o propósito de discutir como Proposta Tempo de realização
algumas pinturas feitas entre os Séculos XV e 1- Pesquisa e construção dos instrumentos 4 Semanas
XVII podem ter sido produzidas com o auxílio 2- Exposição interativa 1 hora
de instrumentos óticos. Para tal, utilizamos
como fonte de inspiração a obra de David
3- Palestra 35 minutos
Hockney intitulada O Conhecimento Secreto. 4- Perguntas e discussões 25 minutos
Figura 4: Drinking Boy (1626-1628) Fonte: http:// Figura 5: Imagem invertida por computador.
w w w. w g a . h u / a r t / h / h a l s / f r a n s / 0 3 - 1 6 3 0 /
27drinki.jpg, acesso em 14/11/2016.
Figura 14: Lente - Foto: Os autores. Figura 15: Caixa, furos e anteparo. Foto: Figura 16: Câmera escura. Foto: Os
Os autores. autores.
Câmera escura de projeção cal 50,0 cm (+ 2,0 di) Essa câmera fez parte do “circuito” que
utilizando lente e espelho (Figs. 17, • Espelho plano montamos dentro da mostra, pois pri-
18 e 19) meiro os visitantes interagiam com as câ-
Material São usadas duas caixas, pois é neces- meras de projeção direta, vendo a imagem
• Duas caixas de papelão (30,0 cm sário tentar produzir um efeito “gaveta”, de cabeça para baixo, e em seguida faziam
x 19,0 cm x 20,0 cm) em que uma caixa pode deslizar por den- a observação na câmera com espelhos.
• Tinta guache preta tro da outra. Isso é importante para regu- Dessa forma, ficavam curiosos em saber
• Pincel lar o foco da imagem formada no ante- como as imagens feitas por lentes podem
• Placa de isopor paro de papel vegetal. Outra possibilidade ser invertidas ou não. Assim, abríamos as
• Papel vegetal é colocar no lugar do papel vegetal um caixas e mostrávamos as montagens, dis-
• Cola de isopor vidro transparente para que depois o papel cutindo os efeitos ópticos de lentes e espe-
• Capa de tecido para bloquear a luz vegetal seja colocado por cima, ofere- lhos. As Figs. 20, 21 e 22 mostram um
no observador cendo-se a possibilidade de desenhar o pouco dessa interação e da formação das
• Lente convergente de distância fo- objeto mostrado pela câmera. imagens na câmera com espelho.
Conclusão com a pintura e o mecenato das artes. O ópticos. A partir das descrições no corpo
Promover trabalhos interdisciplinares trabalho A utilização da HFC no ensino de do texto, podemos perceber que os alunos
é um constante desafio. Contudo, em física a partir de representações artísticas [8] são capazes de fabricar vários dos instru-
vários episódios da história da ciência é retrata como atividades que relacionam a mentos com materiais de baixo custo,
possível observar que pessoas de diferen- pintura ao contexto histórico-social ficando o professor com a função de auxi-
tes áreas do saber trocaram conhecimentos podem fazer parte das aulas de física e liá-los com a parte teórica. Como no nasci-
técnicos e teóricos, muitos até mesmo pro- também das avaliações da disciplina, evi- mento da ciência moderna, colocam-se a
duziram trabalhos conjuntos. O relato de denciando para o aluno que a interdisci- teoria e a prática em busca de um melhor
experiência aqui descrito explorou uma plinaridade não é somente uma “brinca- entendimento da natureza.
das vertentes das relações entre ciência e deira” com as linhas de trabalho, mas faz
parte do corpo de atividades para desen- Agradecimento
pintura, a vertente técnica. É possível tam-
bém trabalhar a ciência e a pintura a partir volver as habilidades e competências dos À Diretoria de Extensão e Relações
da vertente histórico-social, como é des- alunos em um mundo que se comunica. Comunitárias do IF-Sudeste MG, Campus
crito no trabalho Ciência e Arte: Relações Mesmo fazendo parte de uma ati- Juiz de Fora e aos colegas José Honório
Improváveis? [2]. Podemos também utili- vidade que envolveu a escola na forma de Glanzmann, Jacqueline Rodrigues Gon-
zar filmes como Moça com Brinco de Pérola um evento, os elementos aqui descritos çalves da Costa e Elena Konstantinova, por
(2003), que retrata a cidade de Delft, na podem fazer parte de um trabalho dentro confiarem na atividade realizada no
Holanda, e a relação do pintor Vermeer das aulas de física sobre os instrumentos projeto Ciência e Arte.
Referências
[1] J. Ryder, Studies in Science Education 36, 1 (2001).
[2] J.C. Reis, A. Guerra e M. Braga, História, Ciências, Saúde - Manguinhos 13(suppl), 71 (2006).
[3] I. Galili and B. Zinn, Science & Education 16, 441 (2007).
[4] D. Hockney, O Conhecimento Secreto: Redescobrindo as Técnicas Perdidas dos Grandes Mestres (Cosac & Naify, São Paulo, 2001), v. 1, p. 298.
[5] A. Shapiro, in: Inside the Camera Obscura: Optics and Art under the Spell of the Projected Image, edited by Lefèvre, Wolfgang (Max-Planck-Institut
für Wissenschaftsgeschichte, Berlim, 2007), p. 75-94.
[6] P. Steadman, Vermeer´s Camera: Uncovering the Truth Behind the Masterpieces (Oxford University Press, New York, 2001).
[7] K. Groen, in: Inside the Camera Obscura: Optics and Art under the Spell of the Projected Image, edited by Lefèvre, Wolfgang (Max-Planck-Institut für
Wissenschaftsgeschichte, Berlim, 2007), p. 195-2010.
[8] M.C. Alcantara e W.T. Jardim, in: Proceedings III Conferencia Latinoamericana del International, History and Philosophy of Science Teaching Group
IHPST, Santiago, 2014, p. 164-172.
O
Programa Institucional de Bolsas educação é recente, com suas primeiras
Federal do Rio de Janeiro, Rio de de Iniciação à Docência, PIBID, é aplicações datadas da década de 1970 com
Janeiro, RJ, Brasil um programa que incentiva a Vannan [6] e Ward [7, 8]. Segundo esses
E-mail: integração entre a universidade (profes- autores, as ilusões de óptica apresentam
araujo.davidhenrique@gmail.com sores orientadores e monitores licencian- não somente um valor artístico, mas tam-
dos) e a escola pública (professor supervi- bém um valor educacional ao permitir que
Leonardo Rodrigues de Jesus sor), incrementando a experiência os alunos explorem sua capacidade inves-
Instituto de Física, Universidade profissional dos licenciandos desde os pe- tigativa para interpretar esses fenômenos
Federal do Rio de Janeiro, Rio de ríodos iniciais da sua graduação e promo- e sejam capazes de descrever os conceitos
Janeiro, RJ, Brasil vendo a realização de um ensino público de natureza óptica associados às ilusões.
E-mail: leo_cp2d@hotmail.com de melhor qualidade nas escolas públicas Os trabalhos de Postiglione [9],
parceiras [1–3]. O PIBID/UFRJ-Física é um Brandes [10], Edge e Jones [11] e Medeiros
Almir Guedes dos Santos subprojeto do PIBID realizado em parceria [12] dão continuidade ao estudo das ilu-
Instituto Federal de Educação, Ciência com os professores e alunos do curso de sões de óptica e suas aplicações nas áreas
e Tecnologia do Rio de Janeiro, licenciatura em Física da UFRJ, e uma de de matemática e óptica geométrica. Ramos
Nilópolis, RJ, Brasil suas características é a realização de ati- e Souza [13], Parisoto e Hilger [14]
Universidade de São Paulo, Faculdade vidades para serem aplicadas no horário observam que as ilusões de óptica levam
de Educação, São Paulo, SP, Brasil regular das aulas por meio de roteiros ins- desconforto ao aluno ao serem observadas
E-mail: almirgds_if@yahoo.com.br trucionais que envolvam experimentos, por ele e, ao mesmo tempo, o estimulam
história da ciência e artes ou outras abor- a procurar uma explicação para o fenô-
Vitorvani Soares dagens alternativas à apresentação tra- meno considerado.
Instituto de Física, Universidade dicional da disciplina. A elaboração dessas No Brasil, algumas atividades envol-
Federal do Rio de Janeiro, Rio de atividades é feita pela atuação da tríade vendo ilusões de óptica podem ser encon-
Janeiro, RJ, Brasil formada por licenciandos, supervisor e tradas em livros didáticos de física para o
E-mail: vsoares@if.ufrj.br orientador, sendo os Ensino Médio como,
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licenciandos e super- O PIBID/UFRJ-Física tem como por exemplo, nos li-
visores os principais uma de suas características a vros de Barreto e Xa-
Apresentamos um relato sobre a aplicação da
ilusão de óptica como uma ferramenta responsáveis pela realização de atividades para vier [15] e Bonjorno e
educacional, realizada com os alunos do nível aplicação dos roteiros serem aplicadas no horário Alves [16]. Essas refe-
médio técnico de um instituto federal didáticos em sala de regular das aulas por meio de rências também nos
fluminense. O trabalho foi realizado a partir aula [4, 5]. roteiros instrucionais que serviram como fonte
de um roteiro didático elaborado por monitores As motivações envolvam experimentos, para a preparação de
sob a orientação do professor da turma. Ele foi história da ciência e artes ou
para a criação do ma- algumas atividades
aplicado em uma aula regular da turma e foi outras abordagens alternativas
apresentado após as atividades experimentais
terial discutido neste desenvolvidas em
e exposições teóricas realizadas sobre óptica artigo surgiram da nosso roteiro didático,
geométrica. As ilusões de óptica discutidas estão necessidade de incluir um novo roteiro que além das atividades pertinentes encontra-
relacionadas à reflexão e à refração da luz, tratasse dos fenômenos de reflexão e das em artigos em revistas de ensino de
incluindo a formação de imagens anamórficas, refração da luz e que também avaliasse o física.
às projeções em 3D, aos truques com espelhos quanto foi retido pelos alunos em relação A partir de tais apontamentos, elabo-
planos, às miragens e à “garrafa invisível”. A aos conteúdos discutidos em aulas ante- ramos um roteiro didático composto de
análise das respostas dos estudantes às
riores. Outro elemento motivador foi a cinco atividades, todas utilizando
perguntas incluídas em um questionário
apresentado no mesmo roteiro revelaram que
carência de material instrucional, em lín- fenômenos de reflexão e refração da luz.
os alunos foram capazes de descrever os gua portuguesa, que tratasse dos concei- O objetivo principal do roteiro é apresentar
fenômenos observados com base nos conceitos tos de ilusão de óptica em nível médio, e consolidar os conceitos de óptica geomé-
científicos discutidos previamente. apesar de o tema ser atrativo para alunos trica em uma aula regular de física através
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Ilusões de óptica nas aulas de física do nível médio 35
de atividades envolvendo a criação de dife- Essa ilustração, denominada Young eles colocamos um objeto para ser refle-
rentes ilusões de óptica e a sua análise. Girl-Old Woman Illusion ou My Wife and tido, de modo que acima do furo é perce-
My Mother-in-Law, foi originalmente cria- bida uma imagem real do objeto refletido
Descrição e aplicação das atividades da por um cartunista anônimo, em 1888, (Fig. 2b). Foi informado aos alunos para
O roteiro elaborado e aplicado na aula para a propaganda de uma empresa alemã que ficassem em certa posição antes que
consiste de cinco atividades, com os se- da época [18]. Posteriormente, em 1915, o furo no espelho fosse descoberto, de for-
guintes títulos: “Imagens anamórficas em o cartunista William Ely Hill produziu a ma que eles pudessem ver com clareza a
espelho cilíndrico”; “Imagem projetada em ilustração indicada na Fig. 1 para a revista imagem real. Observamos certa surpresa
3D”; “Cofre cúbico”; “Miragens” e “Copo de humor americana Pluck, onde ela ga- por parte dos alunos ao verem a imagem
da invisibilidade”. Essas atividades foram nhou popularidade e é conhecida até hoje. surgir logo após o furo ser descoberto. Em
aplicadas posteriormente às aulas expo- A primeira atividade consiste na refle- seguida, solicitamos a um dos alunos que
sitivas e às aplicações dos roteiros intro- xão em espelhos cilíndricos. Inicialmente ele tocasse na imagem que ele estava
dutórios de história da luz e de experi- entregamos a cada vendo, e ele constatou
mentos de reflexão e refração da luz, sendo grupo de alunos al- A atividade envolvendo ilusão que não havia algo
recomendado que elas sejam realizadas gumas imagens ana- de óptica usa um tema lúdico palpável. O material
após os alunos conhecerem tais fenôme- mórficas, uma delas do cotidiano permeado por permaneceu com os
nos em óptica geométrica. As atividades indicada na Fig. 2a, e abordagem científica, onde as alunos para que eles
foram feitas com grupos de três ou quatro pedimos que eles as conclusões são construídas observassem diferentes
alunos em duas turmas de cerca de 30 observem e tentem pelos alunos ao responderem imagens e assim cons-
alunos, com duração de aproximada- dizer o que elas repre- questões do roteiro truíssem suas próprias
mente 90 minutos, durante o primeiro e sentam. conclusões acerca dos
o segundo semestres letivos de 2015 no Após as tentativas de explicação pelos fenômenos envolvidos no experimento.
campus Nilópolis do IFRJ, uma das escolas alunos, entregamos a eles um espelho ci- Na sequência, perguntamos a eles como
parceiras onde é realizado o subprojeto líndrico, cujo material pode ser um cano aquela imagem é formada e quais as suas
PIBID/UFRJ-Física. de alumínio ou um cano espelhado, sendo características em termos de tamanho,
As atividades abordam temas lúdicos importante que o espelho tenha uma boa orientação e natureza.
mediante questões do cotidiano e curiosi- reflexão. Com o espelho em mãos, eles o A terceira atividade foi realizada com
dades que podem ser explicadas do ponto posicionam de forma a ficar no centro do um brinquedo encontrado em lojas, deno-
de vista científico, e suas explicações são “círculo” formado pela imagem e conse- minado “cofre mágico” e representado na
construídas pelos alunos ao responderem guem, então, observá-la em sua forma Fig. 3. O cofre tem formato cúbico, suas
às questões do roteiro. Os materiais utili- “regular.” Além de imagens anamórficas, paredes internas possuem geralmente
zados são em grande maioria de baixo também é pedido aos estudantes que pe- alguma ilustração, uma das suas faces é
custo, e alguns deles foram obtidos no la- guem objetos comuns para serem refle- transparente e dentro do cofre, posicio-
boratório da escola. tidos pelo espelho e, a partir disso, ques- nado a 45°, há um espelho plano que pro-
Anteriormente à primeira atividade, tiona-se qual fenômeno físico foi perce- duz a sensação de profundidade e faz o
introduzimos os alunos a uma breve expli- bido pelo aluno. Nessa pergunta é cofre parecer vazio.
cação sobre o que é uma ilusão de óptica e, desejável que o aluno não responda apenas Posicionando o cofre de forma que os
junto com a explicação, apresentamos a que é a reflexão da luz, e sim como ela se alunos não fiquem mexendo, pedimos que
ilustração representada na Fig. 1. manifesta. eles coloquem uma moeda no cofre. Ao
A segunda atividade aborda breve- depositarem a moeda, ela bate em algo,
mente a holografia, a partir de exemplos. que parece ser o fundo, mas não aparece
Para tal, utilizamos uma associação de es- para os alunos que estão olhando a face
pelhos côncavos, um de frente para o ou- transparente do cofre. A maioria dos
tro e um deles com um furo circular. Entre alunos tem a sua curiosidade aguçada e
36 Ilusões de óptica nas aulas de física do nível médio Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
A quinta e última atividade é conhe-
cida em livros didáticos como “a garrafa
invisível”. Entregamos aos alunos dois
béqueres de tamanhos diferentes, de for-
ma que um encaixe no outro com folga,
e, então, depositamos glicerina, aos pou-
cos, no béquer maior, até cerca de metade
do recipiente. Após essa etapa, é pedido
que os alunos ponham o béquer menor
dentro do maior e observem o “desapa-
recimento” da imagem do béquer menor
(Fig. 5).
Os alunos inicialmente estranham,
mas começam a manusear o aparato e
percebem que na verdade ele não ficou
invisível, mas seu tamanho apenas parece
maior por conta da refração, como res- Figura 5: Aplicação da atividade “A garrafa
saltam Silva e Laburú [20]. Após a expe- invisível” em sala de aula.
riência, é questionado o que aconteceu
com o béquer e quais fenômenos são A temática do roteiro gerou interesse
Figura 3: O cofre “mágico” sendo utilizado responsáveis pela “invisibilidade” do de toda a turma, que o realizou de forma
na terceira atividade. objeto, sendo, então, pedido que apresen- sequencial, com poucas dificuldades, oti-
tem uma explicação, evitando apenas a mizando assim o tempo e o trabalho do
eles começam a se questionar por que a resposta direta. professor e dos monitores ao aplicarem a
moeda não apareceu. No roteiro é pergun- atividade. Abaixo serão expostas algumas
tado o que aconteceu quando os alunos Análise das respostas dos alunos respostas de alunos a perguntas realizadas
puseram a moeda e por que ela não apa- Nesta seção apresentamos uma aná- no decorrer do roteiro, mas nenhuma
receu no fundo do cofre. lise de algumas respostas dos alunos ao delas sem identificação, como usual, e
A quarta atividade aborda o tema de questionário apresentado no roteiro. Vale sempre que necessário cada resposta é
formação de miragens ressaltar que esse tipo comentada logo em seguida.
que podem ser geradas A temática do roteiro de avaliação não foi Na primeira atividade foi perguntado
em estradas e desertos apresentado gerou interesse de individual, visto que aos alunos: “Qual é o fenômeno físico
e contextualizamos toda a turma, que o realizou de as respostas foram visto nessas experiências?”. Separamos
essa introdução com forma sequencial, com poucas dadas em grupo, em aqui três respostas dadas por grupos com
um pequeno vídeo do dificuldades, otimizando assim um total de oito gru- notas gerais diferentes.
clássico desenho ani- o tempo e o trabalho do pos. As notas dadas Grupo A: Reflexão da luz. A imagem
mado Speed Racer [19], professor e dos monitores ao nas atividades foram fica normal se for refletida num es-
em que os personagens aplicarem a atividade em forma de porcen- pelho plano, mas neste caso, ela se
se perdem no deserto e começam a ver a tagem, variando entre 79% a 96% de distorce devido à curvatura do es-
miragem de um oásis e, de forma cômica, respostas corretas, com uma média geral pelho.
mergulham em um pequeno lago até per- de acerto de aproximadamente 89%, Grupo B: O fenômeno de reflexão.
ceberem que era apenas areia (Figs. 4a e 4b). apontando um alto aproveitamento e Grupo C: Reflexão, devido à curvatura
Explicamos então que o desenho não entendimento dos alunos sobre as dife- do espelho a imagem reflete de for-
retrata fielmente a realidade, embora as rentes atividades. Lembramos que cada ma com que consigamos vê-la dife-
miragens existam, e as exemplificamos atividade tem como objetivo atrair a aten- rente.
com a apresentação de fotos e vídeo reais. ção dos alunos e observar o quanto eles O grupo A acertou essa questão por
Em uma delas, pedimos aos alunos que entenderam das aulas expositivas e das completo, por conta dos termos utilizados
observem e expliquem o que há de dife- atividades anteriores sobre os fenômenos de forma correta, além de fazer menção à
rente na figura. tratados. curvatura do espelho, que distorce a ima-
gem de qualquer objeto. O grupo B deixou
a resposta incompleta porque não utiliza
o termo “reflexão da luz”, e por não apre-
sentar nenhum exemplo ou representação
que complete sua explicação. O grupo C
também utilizou de forma incompleta o
termo para o fenômeno e empregou pala-
vras que não auxiliam o entendimento de
sua resposta, como a palavra “diferente”,
que talvez seja uma tentativa do aluno
para explicar como é formada a imagem
no espelho cilíndrico. A pergunta é
relativamente fácil e a maioria dos grupos
Figura 4: Trechos do desenho animado Speed Racer, retratando de forma errada dois não apresentou dificuldades em respondê-
personagens do desenho nadando na miragem de um lago (a) em um deserto (b). la, mas os termos utilizados foram impor-
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Ilusões de óptica nas aulas de física do nível médio 37
Apêndice: Roteiro “Ilusões de Óptica”
Neste Apêndice apresentamos parte • Folhas com figuras distorcidas forma de cubo, sendo uma de suas faces
do roteiro “Ilusões de Óptica” usado em • Objetos comuns transparente.
sala de aula. Questões Materiais utilizados
1. O que vemos no espelho cilíndrico • Cofre cúbico
Introdução quando o posicionamos na frente de • Moedas
Ilusões de óptica são geralmente ima- objetos comuns e imagens distorcidas? Questões
gens que confundem nossa mente, 2. Qual é o fenômeno físico visto nes- 5. Sem mexer no cofre, explique o
gerando falsas ideias e enganando quem sas experiências? Classifique a imagem em que aconteceu com as moedas que fo-
olha à primeira vista. A imagem da Fig. 6 sua natureza, orientação e tamanho. ram inseridas nele.
é uma famosa ilusão de óptica feita pelo 6. Porque vemos o cofre vazio? Qual
cartunista W.E. Hill, em 1915. Nela pode- Atividade 2: Imagem projetada em 3D a propriedade responsável por conse-
se ver uma senhorita bem arrumada Dentre os tipos de espelhos estuda- guirmos ver o cofre perfeitamente cú-
olhando de perfil para longe, mas obser- dos, apenas com os espelhos planos ana- bico?
vando com atenção veremos também lisamos a relação entre o número de ima-
uma velha olhando para o chão [21]. gens formadas e o ângulo de abertura Atividade 4: Miragens
entre os espelhos associados. Em outras Você já deve ter assistido, em dese-
associações, é possível criar, por exemplo, nhos animados ou na TV, cenas no deser-
imagens holográficas, que vocês já devem to onde o personagem vê um oásis com
ter assistido em filmes e shows (Fig. 8). um lago e se joga na água, sem perceber
Vamos analisar o que ocorre na prática, que se trata de uma ilusão (Fig. 9). Ape-
ao associarmos dois espelhos côncavos sar de exagerado nesses casos, essa ilusão
um por cima do outro, sendo que o de ocorre na realidade, como aconteceu há
cima apresenta um furo circular centrado pouco tempo na China, e é tão impres-
no vértice. sionante quanto nos desenhos anima-
dos.
38 Ilusões de óptica nas aulas de física do nível médio Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
Atividade 5: Copo da invisibilidade Materiais utilizados
• Béquer
A invisibilidade é tema muito abor-
• Glicerina
dado em filmes e desenhos animados, co-
• Objeto a ser imerso
mo em Harry Potter e Os Incríveis. Na área
Questões
da física, muitos estudos já foram rea- 9. O que aconteceu com o objeto
lizados sobre esse assunto, os quais per- imerso no béquer? Se girar ou virar o
mitem criar materiais que reproduzem es- objeto imerso, é possível vê-lo? Explique
se efeito. Se utilizarmos conhecimentos por que.
sobre alguns fenômenos físicos básicos, é 10. Qual foi o fenômeno estudado
Figura 10: Árvores no deserto da Namí- possível criar um efeito similar à invisi- que pode ser a causa da “invisibilidade”
bia, na região de Deadvlei [25, 26]. bilidade, como faremos a seguir. do objeto? Explique.
tantes para avaliar suas respostas. selecionamos algumas respostas dadas partem do objeto para os olhos des-
Na segunda atividade foi feito aos alu- pelos grupos. viam ao passar pelo meio da glice-
nos o seguinte pedido: “Pegue o ‘objeto’ Grupo A: Há. A agitação molecular rina, que por sua vez ampliam o
com a mão, mas sem inseri-lo no buraco, que ocorre devido à alta tempera- objeto por conta do maior ângulo
e, em seguida, utilize seus conhecimentos tura gera refração, que por sua vez de refração.
sobre espelhos côncavos para explicar o nos dá uma imagem da árvore em- Os grupos A e C respondem à per-
que ocorreu”. Apresentamos algumas res- baixo da própria árvore. Nosso cére- gunta corretamente, apesar de o grupo A
postas dos grupos a seguir: bro relaciona a refração à presença detalhar melhor como ocorre o fenômeno.
Grupo A: Não foi possível pegar (o de água. O grupo B erra a questão, pois há sim
objeto), porque era uma imagem Grupo B: Sim. Parece que as árvores refração entre cada meio, inclusive entre
formada pelos raios que refletem estão sendo refletidas numa espécie a glicerina e o vidro, de modo que a res-
em um espelho e que se cruzam de lago. posta deles se assemelha à resposta que
quando voltam para o outro. Grupo C: Sim, há um reflexo das árvo- alguns livros já deram sobre essa expe-
Grupo B: A imagem 3D formada é res na areia do deserto. riência, mas que já foram refutadas por
derivada do encontro dos raios a O grupo A responde de forma com- Silva e Laburú [20].
partir dos raios de repetidas refle- pleta a pergunta, não se abstendo de deta- Os três grupos foram escolhidos por
xões de raios luminosos dentro dos lhar o que está sendo meio de sua nota ge-
espelhos justapostos. visto, o que nos au- O trabalho realizado na turma ral, sendo o grupo A o
O grupo A respondeu bem à pergun- xilia na avaliação. O mostrou que o potencial de maior nota, o gru-
ta, utilizando da melhor forma os termos, grupo B apresenta educacional deste tema é po B com uma nota
mesmo com o final da frase um pouco uma resposta vaga e grande, não só por atrair a intermediária e o gru-
confuso. O grupo B acertou, apesar de se pouco científica. A atenção dos alunos para uma po C com menor nota.
complicar na hora de explicar, utilizando resposta do grupo C disciplina considerado difícil Não foram comen-
o mesmo termo repetidas vezes. Na ter- também apresenta mas também por permitir tadas aqui todas as
ceira atividade foi solicitado aos alunos uma resposta incom- explicar de forma prática a perguntas realizadas, e
que “Sem mexer no cofre, explique o que pleta e ainda afirma diferentes fenômenos da óptica as perguntas foram
aconteceu com as moedas que foram inse- que as árvores estão geométrica no seu cotidiano selecionadas por ati-
ridas nele”. Abaixo estão as respostas de sendo refletidas pela vidade e pela diferença
alguns grupos. areia, um material opaco que não reflete entre as respostas dos grupos, de modo a
Grupo A: As moedas ficam no espelho objetos. gerar uma melhor análise da eficiência das
diagonal e não no fundo do cofre. Finalmente, na quinta atividade, per- atividades como auxílio didático.
Esse espelho faz parecer que o papel gunta-se “Qual foi o fenômeno estudado
de parede cobre todo o cubo, pois que pode ser a causa da invisibilidade do Considerações finais
gera uma imagem virtual. objeto? Explique.” A seguir apresentamos As atividades apresentadas neste tra-
Grupo B: Um espelho corta a caixa algumas respostas dos grupos para a balho foram criadas e elaboradas como
diagonalmente refletindo as listras pergunta. parte da atuação do grupo de licenciandos
internas que reveste a parede da cai- Grupo A: Refração. Quando os raios e professores do subprojeto Física do
xa, deixando ela parecer vazia. Ao refratam da glicerina para o ar, eles PIBID/UFRJ atuante no IFRJ-Nilópolis. O
colocar as moedas, estas correm por sofrem um desvio de trajetória, trabalho foi realizado com duas turmas
trás do espelho, não aparecendo na dando a ilusão que o objeto aumen- do quarto período do curso de Controle
caixa. tou de tamanho. Ambiental, a partir de um roteiro didático
Os grupos A e B, apesar de usarem Grupo B: O fenômeno estudado foi o elaborado pelo grupo. O trabalho foi apli-
termos diferentes e explicarem de forma da refração. Quando dois corpos es- cado em uma aula regular das turmas,
própria, acertaram a questão ao informar tão cheios de glicerina, não é pos- respeitando-se o conteúdo programático
que existe um espelho e que este reflete as sível ver o corpo menor, pois a luz de física para esse curso. Essas atividades
paredes do cofre, fazendo-o parecer vazio. não muda de meio deixando assim foram analisadas pelos próprios moni-
Na quarta atividade foi realizada a se- a impressão que o corpo imerso na tores com o auxílio do professor super-
guinte pergunta: “Há algo de diferente glicerina fica invisível. visor, após a aplicação nas turmas. O
com a figura? Se sim, o quê?”. A seguir, Grupo C: Refração, pois os raios que tema ilusões de óptica é muitas vezes
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Ilusões de óptica nas aulas de física do nível médio 39
ignorado pelos professores de física. permitir explicar de forma prática educacional. Observamos que o aluno se
Entretanto, o trabalho realizado no IFRJ diferentes fenômenos da óptica geo- sente participante da construção de seu
mostra que o potencial educacional desse métrica no seu cotidiano. Vale ressaltar próprio conhecimento, supera a passivi-
tema é grande, não só por atrair a que além de o tema ser instigante, cons- dade de uma aula puramente expositiva
atenção dos alunos para uma disciplina truir uma atividade para um aluno rea- e assume um papel atuante na sua
considerada difícil mas também por lizar é gratificante do ponto de vista própria educação.
Referências
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[5] A.G. dos Santos et al., in: Resumos do XX Simpósio Nacional de Ensino de Física, São Paulo, 2013.
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[13] P.B. Ramos e R.R. de Souza, Física na Escola 4(1), 25 (2003).
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[15] B. Barreto e C. Xavier, Física Aula por Aula: Mecânica dos Fluidos, Termologia, Óptica – 2º Ano (FTD, São Paulo, 2013) 2ª ed., v. 2.
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http:// www. diario24horas.com.br/imgs/artigos/20-05-2014-michael-jackson-holograma-2.jpg. Acesso em 4/2017.
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https://www.youtube.com/watch?v=oC3Exk65ZAA. Acesso em 4/2017
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http://www.nomadic-by-nature.com/sand-skrit-dunes-sossusvlei-namibia/sossusvlei-namibia-17-2/. Acesso em 4/2017.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
40 Ilusões de óptica nas aulas de física do nível médio Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Introdução para que pensem e trabalhem
Alexandre Campos as variáveis do fenômeno cien-
Unidade Acadêmica de Física,
O
objetivo deste artigo é relatar uma tífico central do conteúdo pro-
Universidade Federal de Campina experiência ocorrida em três gramático [1, p. 9].
Grande, Campina Grande, PB, Brasil escolas da rede pública do Estado
E-mail: A espinha dorsal de uma SEI deve con-
de São Paulo. O conteúdo tratado foi a
alexandre.campos@df.ufcg.edu.br ter: (a) etapa de distribuição do material
interação entre luzes e pigmentos, desen-
experimental e a proposição do problema
volvido em três atividades: 1) interação
Wellington Batista de Sousa pelo professor; (b) etapa da resolução do
entre luz e pigmento; 2) interação entre luz
E.E. Miguel Munhoz Filho, Diretoria problema pelos alunos; (c) etapa de siste-
e luz e 3) interação entre pigmento e
Sul 2, SEE, SP, Brasil matização dos conhecimentos elaborados
pigmento. A abordagem didático-pedagó-
E-mail: modernaif@gmail.com nos grupos e, finalmente, (d) etapa de
gica foi a de ensino por investigação, atra-
escrever e/ou desenhar.
vés do desenvolvimento e aplicação de uma
Tadeu Nunes Souza O público-alvo para a aplicação da SEI
Sequência de Ensino Investigativo (SEI).
E.E. Profa. Fanny Monzone Santos, é o que frequenta a rede pública de ensino,
A SEI desenvolvida tinha por finalida-
Diretoria Osasco, SEE, SP, Brasil na modalidade regular ou ensino de jovens
de responder a quatro questões: (a) Como
E-mail: e adultos. De forma geral, os alunos dessas
deslocar o aluno de uma posição passiva,
tadeu.nunes.souza@terra.com.br escolas são de baixa renda e compatibilizam
própria de aulas expositivas, para uma
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
o trabalho com os estudos, conforme
posição ativa? (b) Como problematizar
constatado durante as aplicações da SEI nas
uma situação de ensino que privilegie a
escolas dos professores-autores.
apreensão do conceito cor como resultado
Os professores-autores que elabora-
da interação entre luz-pigmento e não
ram e aplicaram essa SEI fazem parte do
como uma propriedade, intrínseca, do pig-
grupo de pesquisa do LaPEF/FEUSP e são
mento do corpo? (c) Que tipo de atividade
docentes em escolas públicas da rede pú-
propor e como propor? (d) Como siste-
blica do Estado de São Paulo, no Ensino Mé-
matizar o problema inicial e a atividade pro-
dio, lecionando a dis-
posta, de modo que a
O público-alvo para a aplicação ciplina Física. No
discussão não seja des-
da SEI é o que frequenta a rede LaPEF, esse grupo de
caracterizada durante
pública de ensino, na professores participa
o processo de ensino-
modalidade regular ou ensino de pesquisas relaciona-
aprendizagem?
de jovens e adultos. De forma das à Introdução da
Para responder a
geral, são pessoas de baixa Física Moderna e Con-
tais questões, uma SEI
renda e compatibilizam o temporânea (FMC) em
deve considerar aspec-
trabalho com os estudos, sala de aula e no desen-
tos epistemológicos do
conforme constatado durante as volvimento de ativi-
fazer ciência e aspectos
atividades nas escolas dades e sequências de
cognitivos. Para Car-
realizadas pelos professores ensino, sob a orienta-
valho [1], uma SEI se
ção de professores e
fundamenta em para-
pesquisadores da Faculdade de Educação da
digmas piagetianos e vygostianos:
Universidade de São Paulo.
Uma SEI deve ter algumas ati-
vidades-chave: na maioria das As atividades
O artigo relata uma experiência bem sucedida
de uma Sequência de Ensino Investigativa (SEI), vezes, inicia-se com um pro- A fim de discutirmos o conteúdo, de-
realizada por professores de Escola Pública. blema, experimental ou teó- senvolvemos três atividades que tornassem
Foram trabalhados conceitos de luz, pigmentos rico, contextualizado, que possível problematizar a cor como inte-
e suas interações. O público-alvo era composto introduza os alunos no tópico ração entre pigmento e luz. Cada uma delas
de alunos e alunas do Ensino Médio. desejado e ofereça condições apresentava um problema explícito ou
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Luz, cor e visão: Uma proposta de ensino por investigação 41
implícito. A primeira delas foi a observação vermelho e azul), um palito de sorvete ou lâmpadas e, depois, com as três (Fig. 3). É
da caixa de cores; a segunda, consistiu na um pequeno pincel e algumas folhas em conveniente que se misture as lâmpadas
mistura de pigmentos; e a terceira na branco (Fig. 1). duas a duas, de forma que os alunos
mistura de luzes. Os materiais utilizados Com os materiais em mãos, pergun- percebam as interações resultantes. Outra
foram: a caixa de cores (Anexo 1), guache tamos aos alunos o que ocorrerá ao mis- atividade que pode ser explorada nesse mo-
(verde, vermelho e azul) e lâmpadas turarmos os guaches (pigmentos). Posto o mento é a de solicitar que um dos alunos
coloridas (verde, vermelho e azul). Cada problema, solicitamos que misturem os fique de costas a uma das lâmpadas e que
uma das etapas da SEI está descrita a seguir. pigmentos, primeiro de dois a dois (verde os colegas tentem explicar as sombras
com vermelho, verde com azul, vermelho coloridas na parede. Sobre essa temática ver
Etapa 1 da SEI: distribuição do com azul) e depois os três. Pedimos que Refs. [3, 4].
material e a proposição do problema esperem que as tintas sequem. Após a seca- Atividade 3: Interação entre luz e
O objetivo dessa etapa é distribuir o gem, reorganizamos a disposição dos pigmentos
material para o experimento/observação e alunos (organização em “U”). A ideia dessa A terceira atividade é a interação entre
a proposição do problema. O primeiro pas- organização é favorecer a interação entre luz e pigmentos. Após a percepção de que
so é organizar os alunos em pequenos os alunos. Solicitamos que descrevam o a mistura de pigmentos é diferente da
grupos de três ou quatro pessoas. Cada processo, assim como a cor-pigmento mistura de luzes, a pergunta que se faz é:
uma das atividades tinha um pequeno pro- resultante (Fig. 2). Espera-se que os alunos como definir (ou o que define) a cor de um
blema a ser pensado. Esses problemas, relatem que a mistura final (ou a “cor- objeto? Em um pequeno canto da lousa, o
assim como cada uma das atividades, po- pigmento resultante”) é algo próximo ao professor anota as concepções dos alunos.
dem ser trabalhados individualmente. Além preto. Durante essa etapa da atividade o É apresentada à turma a caixa de cores
de cada um dos problemas, de cada uma papel do professor é o de instigar os alunos (Anexo 1) [3]. O professor explica a situa-
das atividades, há o problema principal em suas observações e no levantamento de ção, explicitando que a tarefa/problema é
(interação entre luz e pigmento) que per- hipóteses sem, no entanto, explicitar os a de descobrir a cor real das figuras geo-
meia e direciona todas as atividades. O fenômenos físicos envolvidos. métricas, após serem iluminadas por uma
problema principal é tratado de maneira Atividade 2: mistura de luzes luz vermelha, verde e azul, uma a uma.
bastante sutil, sem que o coloque de ma- Nessa atividade o professor utilizará Outra opção é utilizar uma única lâmpada
neira explícita. A atuação do professor é três lâmpadas coloridas: vermelha, verde e incandescente, de baixa potência, e filtros
extremamente importante, elaborando azul. O objetivo é levar os alunos a perce- coloridos (verde, vermelho e azul) feitos
questionamentos a partir das observações, berem que a cor resultante da mistura de com papelão e papel celofane. O próximo
incentivando a interação entre os alunos, luzes de lâmpadas e a mistura de pigmen- passo é o da organização dos grupos e a
levando-os à construção de hipóteses. Des- tos não é a mesma. Para isso, o professor entrega da Ficha de observação da caixa de
taca Sasseron [2, p. 139] que: pergunta aos alunos: o que deve ocorrer se cores (Anexo 2). O professor desenha as
em vez de se combinar tintas, fossem mesmas figuras geométricas na lousa
As discussões entre os alunos para organizar as observações (Fig. 4).
combinadas luzes? Será que, nesse caso,
onde se ressaltam diferentes Os grupos são orientados a escolhe-
também seria observado algo próximo do
hipóteses e diferentes pontos rem um representante para olhar as
preto?
de vista sobre uma mesma figuras, por um pequeno orifício da caixa
De posse das lâmpadas coloridas, o
questão possibilitam que o (Fig. 5). Nesse momento o professor colo-
professor ilumina uma parede branca com
conhecimento seja construído ca um dos filtros, digamos o verde, e o alu-
uma das lâmpadas coloridas. Pergunta a
em colaboração entre eles, ou no descreve a cor em que enxerga cada uma
eles o que enxergam e porque enxergam a
seja, permitem que ideias das figuras. A cor observada é anotada na
parede daquela cor. Em seguida, o profes-
advindas de outras ocasiões lousa, enquanto os grupos copiam na
sor refaz a demonstração com duas
sejam mencionadas e, possi- coluna Observação 1 na Ficha de observação
velmente, utilizadas como for- da caixa de cores. O segundo grupo envia
ma de oferecer mais coesão aos seu representante para observar as figuras
elementos discutidos [2, e anotar na lousa as cores observadas; os
p. 139]. grupos copiam na coluna Observação 2.
O filtro verde é substituído pelo ver-
Etapa 2 da SEI: resolução dos melho. O representante do terceiro grupo
problemas pelos alunos faz as observações. As cores das figuras
O objetivo dessa etapa é favorecer a in- geométricas são anotadas na lousa e os
vestigação e a resolução do problema prin- Figura 1: Guache, pincel e folhas.
cipal, assim como cada problema de cada
atividade. Lembrando que o problema cen-
tral visa levar os alunos a perceberem a cor
como interação entre luz e pigmento e não
como propriedade exclusiva do pigmento.
Explicaremos abaixo cada uma das três
atividades.
Atividade 1: mistura de pigmentos
Nessa atividade os alunos são orienta-
dos a se organizarem em pequenos gru-
pos. Cada grupo recebe um conjunto, con-
tendo três frascos de guache colorido (verde, Figura 2: Mistura de pigmentos. Figura 3: Mistura de luzes.
42 Luz, cor e visão: Uma proposta de ensino por investigação Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
Cada grupo elabora suas explicações, tes na caixa de cores e que em conjunto
sistematizando as informações em carta- com a visão, permitem explicar correta-
zes que serão afixados na lousa. Os grupos mente a questão inicial sobre cor, luz e
passam a explicar suas hipóteses. A perti- visão.
nência, ou não, das explicações deve ser
conduzida pelo professor, no sentido de Reação dos alunos
que os alunos sejam capazes de explicar o Após a realização das atividades da
que se observou. SEI e das sistematizações, percebe-se na
Feitas as apresentações e discussões, fala dos alunos e em seus argumentos a
o professor entrega o último material: o surpresa quanto ao fato de as cores obser-
texto de apoio O que é vadas serem o resul-
Figura 4: Sistematização das observações a cor? Esse texto apro- Os alunos devem ser tado da interação da
na lousa. ximará os conteúdos estimulados a relacionarem as luz com os pigmentos
trabalhados nas ativi- cores observadas com a cor da dos objetos. Com isso,
dades com as explica- luz. Não se espera resposta parecem tomar cons-
ções científicas do pronta, mas que, através da ciência do fato de a cor
conteúdo cor. Se pre- manifestação argumentativa, obser vada não ser
ferir, o professor pode comecem a perceber a con- propriedade intrínseca
complementar a sis- dição da cor como relação nem só do objeto, nem
tematização do tema entre pigmento e luz só da luz. Acabam
com o uso de Power percebendo a impor-
Point. Tal recurso pode facilitar a recu- tância da luz branca na verificação da cor
peração dos momentos que ocorreram ao dos objetos. A mesma observação ocorre
longo das atividades, traçando um em relação à parede branca da sala de aula,
Figura 5: Aluno observando as figuras paralelo entre as observações e as hipó- onde as luzes das lâmpadas coloridas fo-
coloridas. teses que os alunos levantaram, e o que a ram projetadas. Em diversos momentos
teoria das cores afirma. das discussões, os alunos questionam acer-
grupos copiam na coluna Observação 3. Sugerimos que o professor chame a ca da interação entre luz e pigmentos, indi-
O representante do quarto grupo, idem; atenção dos alunos para o complexo me- cando um momento propício para refle-
os grupos copiam na coluna Observação canismo da visão, destacando seus princi- xões intrapessoais na busca por respostas.
4. O professor coloca o último filtro (azul) pais elementos: a retina, os bastonetes e Destacamos que as atividades podem
e as observações continuam. os cones – responsáveis pela decodificação ser exploradas de diferentes formas. No
Após as observações, é o momento da luz e sua cor e que enviam as infor- nosso caso, os alunos tiveram papel ativo,
de sistematizar o conteúdo tratado na ati- mações ao cérebro através do nervo ópti- exigindo preparo e estudo para que as ati-
vidade. Os alunos devem ser estimulados co. Esse tópico pode ser explorado com vidades e sistematizações fossem desen-
a relacionarem as cores observadas com maior ou menor abrangência dependendo volvidas de forma adequada. Também
a cor da luz. Não se espera resposta pron- da quantidade de aulas e da disponibili- ressaltamos a importância do professor
ta, mas que, através da manifestação dade do programa. como um orientador e
argumentativa, comecem a perceber a Entretanto, convém Após a realização das organizador da SEI,
condição da cor como relação entre pig- que o professor não atividades da SEI e das agindo sobre ela de
mento e luz. Caso tenham dificuldade em deixe de apresentar sistematizações, percebe-se na forma que a mesma
perceber essa relação, o professor pode aos alunos a ligação fala dos alunos e em seus tenha suas partes exe-
trazer novos questionamentos com a fina- importante entre a vi- argumentos, a surpresa quanto cutadas dentro do
lidade de auxiliar a formação do conceito; são e a forma como ao fato das cores observadas tempo proposto. A SEI
exemplos: “Como essa atividade se enxergamos os obje- serem o resultado da interação aqui apresentada foi
relaciona com as outras duas?”; “por que tos ao nosso redor. da luz com os pigmentos dos elaborada para ser
vocês usam papel celofane colorido nas Dependendo da série objetos realizada em um pe-
lâmpadas da escola, na festa do folclore?”; em que a sequência ríodo de quatro aulas
“qual é a função do plástico colorido da for aplicada, o professor pode fazer uso de 50 minutos, podendo sofrer alterações
lâmpada de seta do carro?”. dos conceitos de frequência e com- conforme os objetivos do programa de
primento de onda. Na Ref. [5], por ensino do professor.
Etapa 3 da SEI: sistematização da exemplo, é apresentado um estudo sobre
luz, cor e visão a percepção da cor ser mais facilmente Notas
Após a mistura de pigmentos e luzes associada ao seu comprimento de onda, 1. Este trabalho é uma adaptação das ati-
e da apresentação da caixa de cores, os em vez da sua frequência, em decorrência vidades desenvolvidas na dissertação de
alunos encontram-se motivados e curio- da familiaridade que temos com o nanô- mestrado descrita na Ref. [6]. Essa adap-
sos para entenderem, afinal, os fenômenos metro e não com o terahertz. tação foi aplicada (e replicada) em situação
observados. Como esse assunto é de difícil Outro detalhe importante fica quanto real em escolas públicas do Estado de São
compreensão, e contraria suas concepções ao uso dos filtros que fazem uma seleção Paulo pelos professores autores do artigo.
cotidianas, convém retomá-lo através das das cores que podem atravessá-lo, e, por-
discussões entre os grupos, partindo das tanto, absorvem as demais cores. Nesse Agradecimento
hipóteses levantadas por eles e anotadas momento o professor pode chamar a Agradecemos à Fapesp pelo financia-
na lousa pelo professor durante a execução atenção para os processos de reflexão, mento, através do Programa Ensino
das atividades. absorção e transmissão que, estão presen- Público.
Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017 Luz, cor e visão: Uma proposta de ensino por investigação 43
Anexo 1 - Construção da caixa de cores
Materiais utilizados
• 1 caixa de madeira ou papelão com
tampa;
• Papel color set preto (ou papel ca-
murça ou tinta preta) para forrar
a caixa por dentro;
• Figuras (triângulo, seta, etc.) que
podem ser feitas com papel branco
e colorido (seda); Figura a: Figuras coloridas no interior for- Figura b: Caixa forrada vista de cima.
• 1 soquete para lâmpada; rado com papel preto.
• 1 fio com tomada;
• Cola, estilete e papelão; iii. Encaixe, do lado oposto da caixa, o so-
quete da lâmpada com a tomada e os
• Lâmpada de 40 W;
fios. Use lâmpada de baixa potência e
• Fita isolante preta;
evite deixar muito tempo ligada para
• Papel celofane (ou plástico colorido)
não esquentar demais o papel celofane
nas cores verde, vermelho e azul Figura c: Filtros coloridos.
de que o filtro é feito. É conveniente a
para os filtros. utilização de um interruptor. vi. Faça um pequeno orifício que ser-
iv. Monte uma ‘embalagem’ parecida virá para a observação dos alunos
Montagem
com aquelas de proteção encontra- pouco acima da posição em que a
i. Forre a parte interna da caixa com das nas lâmpadas incandescentes lâmpada foi fixada (Fig. d).
papel preto, inclusive a parte in- nos supermercados. Essa embala-
terna da tampa, de modo a mini- gem servirá para direcionar a inci-
mizar reflexões internas. dência luminosa à parede com as
ii. Recorte aproximadamente 6 figu- figuras coloridas (Fig. b).
ras coloridas, como por exemplo: v. Com o papel celofane e papelão fa-
um triângulo verde, uma seta ça três filtros coloridos (um ver-
azul, uma estrela vermelha, um melho, um verde e outro azul) de
quadrado branco etc. Cole essas fi- modo a serem encaixados no para-
guras em uma das faces internas lelepípedo. Use fita isolante preta Figura d: Orifício na caixa e filtros
da caixa (Fig. a). para fixar esses filtros (Fig. c). coloridos.
Série Grupo n°
Cores observadas
Figuras Observação 1 Observação 2 Observação 3
Referências
[1] A.M.P. de Carvalho, in: Ensino de Ciências por Investigação: Condições para Implementação em Sala de Aula, organizado por Anna Maria Pessoa de
Carvalho (Cengage Learning, São Paulo, 2013), p. 1-20.
[2] L.H. Sasseron, in: Argumentação e Ensino de Ciências, organizado por Silvana Souza do Nascimento e Christian Plantin (Editora CRV, Curitiba,
2009).
[3] G.G.G. Costa, B.A. Cortese, R. Scurachio e T. Catunda, Física na Escola 9(2), 25 (2009).
[4] F.F. da Silveira e R. Axt, Física na Escola 8(1), 17 (2007).
[5] M.F.F Silva, Física na Escola 8(1), 25 (2007).
[6] J.G. de O. Brockington, A Realidade Escondida: A Dualidade Onda-Partícula para Estudantes do Ensino Médio. Dissertação de Mestrado. Programa
Interunidades em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
44 Luz, cor e visão: Uma proposta de ensino por investigação Física na Escola, v. 15, n. 1, 2017
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A
luz é uma onda eletromagnética oscilam em apenas uma direção durante
Diogo Soga
[1] (Fig. 1) que se propaga pelo a propagação da luz, é possível dizer que
Instituto de Física, Universidade de São
vácuo ou por meios materiais, e é a luz está linearmente polarizada. A luz
Paulo, São Paulo, SP, Brasil
composta por um campo elétrico E e um polarizada é um tema importante no dia
E-mail: diogosp@usp.br
campo magnético B que se propagam a dia, pois ela está vinculada a diversos
conjuntamente. A direção de oscilação de produtos tecnológicos atuais: monitores,
Simone P. Toledo
cada campo é perpendicular à direção do óculos e telas de cristal líquido, cinema
Instituto de Física, Universidade de São
outro campo e ambos são perpendiculares 3D, óculos de sol, Laser etc.
Paulo, São Paulo, SP, Brasil
à direção de propagação da onda. Neste Na literatura e internet são encontra-
trabalho estamos interessados apenas no dos experimentos para demonstrar efeitos
Mikiya Muramatsu
campo elétrico. Considere o caso de uma da luz polarizada [2-9]. Em alguns casos
Instituto de Física, Universidade de São
fonte de luz que emita vários raios de luz, são utilizados materiais que modificam a
Paulo, São Paulo, SP, Brasil
cujos campos elétricos oscilam em direções polarização da luz, como a rotação da
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
diferentes (Fig. 2). Quando esses raios de direção de oscilação do campo elétrico, o
luz incidem no polarizador 1, apenas os que é uma propriedade física importante
campos elétricos paralelos à direção desse apresentada por exemplo por moléculas
polarizador irão atravessá-lo. Na Fig. 2, quirais [5]. Tal propriedade é identificada
eles estão representados pelos raios Ea, Ebv como “atividade óptica”.
e Ecv. Diz-se então que a luz está polari- Na classe de materiais de moléculas
zada. Quando os raios de luz polarizados quirais, temos os açúcares (sacarose [10],
incidem no polarizador 2, e se a direção glicose [11], e outros). Neste caso o campo
de polarização for ortogonal à direção do elétrico da luz polarizada pode ser girado
polarizador 1 (figura a), nenhum raio de tanto para a direita (dextrógira) quanto
luz atravessará; eles serão absorvidos. Se para a esquerda (levógira).
o polarizador 2 tiver a direção de polari- Os trabalhos que utilizam açúcar de
zação paralela à do polarizador 1 (figu- cozinha [3,5,6] não apresentam alguns
ra b), então todos os raios de luz atraves- detalhes importantes, o que dificulta a
sarão o polarizador 2. Logo, quando o montagem do experimento e a apresen-
campo elétrico de todos os raios de luz tação dos efeitos sobre a luz polarizada.
Nos trabalhos publicados não foi encon-
Figura 5: Sugestão de base com lanterna Figura 6: Imagem de uma garrafa con-
LED, polarizador e pote (com um orifício tendo glicose de milho sobre a base (um Figura 7: Imagem de um copo de vidro
na base). O polarizador está sobre a lan- pote contendo a lanterna de LED e um contendo solução de sacarose e água na
terna, e o pote deve ser posto sobre eles. polarizador). frente de um monitor de notebook.
sem o polarizador e as demais são através luz percorrem a mesma distância pelo máscara de papel, para que a iluminação
do segundo polarizador. Nelas aparecem corpo da garrafa, pois o giro da polariza- seja feita pela base da garrafa, isto é, há
padrões coloridos que são diferentes ção é igual para todos os pontos. Ao uma abertura no papel com o mesmo diâ-
porque o polarizador foi girado lentamen- diminuir a quantidade de glicose, as cores metro da garrafa. No lado esquerdo da
te, isto é, a direção de polarização da luz não são intensas e nem todas as cores cita- foto, vemos parte da máscara que obstrui
observada foi alterada. Observe que as co- das anteriormente aparecem. Tais padrões a luz polarizada do monitor, exceto pelo
res mudam de posição ao longo do corpo podem ser vistos na garrafa com glicose orifício de onde a luz provém para ilu-
da garrafa, por causa da dependência com pura, mas sem as bolhas de ar. minar a garrafa. O padrão observado é
o caminho que a luz percorre dentro do No caso de utilizar um copo de vidro similar quando é iluminado pela lanterna
material. Na base da garrafa não são contendo a solução de sacarose, é possível com polarizador.
observados os padrões coloridos, porque fazer observações tanto do topo quanto Agora discutiremos um ponto que
há uma distância mínima para que o efei- pela lateral. Neste trabalho foram feitas não foi encontrado em outros trabalhos.
to do giro da polarização se torne aparen- observações pela lateral. Na Fig. 10 vemos A presença de bolhas de ar no experimento
te. No topo perto do gargalo o padrão uma sequência de imagens do copo, ilu- tem papel tanto benéfico quanto prejudi-
torna-se tênue, pois a quantidade de luz minado por um monitor de cristal líquido. cial, nos dois tipos de observação: pelo
desviada para os lados da garrafa é pe- Neste caso a vantagem é o uso de um topo e pela lateral. Quando a observação
quena. Observe que a segunda imagem polarizador apenas para realizar as obser- é feita pelo topo, as bolhas prejudicam a
à esquerda na primeira linha é muito vações. O resultado parece com o das visualização, produzindo padrões com
parecida com a última imagem à direita observações feitas pelo topo da garrafa da cores misturadas e nem todas as cores são
na segunda linha, porque o polarizador Fig. 9. O diâmetro do copo utilizado não visíveis. Então, quanto menos bolhas te-
de observação girou uma volta com- é uniforme, é menor na base do que no mos no recipiente, melhores serão os re-
pleta. topo. Além disso, a luz que atravessa no sultados. As Figs. 9 e 10 não apresentam
Usando a solução de glicose em uma topo ao centro do copo percorre a maior bolhas de ar no conteúdo.
garrafa de vidro, as observações foram distância, produzindo nas bordas cores Porém, quando as observações são
feitas do topo (através do gargalo) e vemos um pouco diferentes. Veja o segundo copo feitas pela lateral, as bolhas de ar
padrões coloridos uniformes (vide Fig. 9), a partir da direita: a imagem apresenta a auxiliam a visualização, pois normalm-
exceto pelo círculo preto que é o gargalo cor magenta ao centro mas é levemente ente a luz polarizada entra por uma pon-
da garrafa, pois a luz não sai na mesma amarelo nas bordas. ta e sai pela outra ponta do recipiente.
quantidade em relação ao resto da garrafa. Também é apresentada uma garrafa No caso da Fig. 8, a luz entra pela base
Basicamente, estão presentes as cores cheia de glicose de milho pura (Fig. 11), da garrafa e sai pelo topo. As bolhas des-
verde, verde azulado (ou petróleo), azul, iluminada por um monitor de cristal viam parte da luz para a lateral. Quanto
magenta e amarelo, e elas mudam ao girar líquido pelo lado esquerdo. Para evitar aci- maior a quantidade e o tamanho das
lentamente o polarizador de observação. dentes, a garrafa fica deitada e com a tam- bolhas, mais luz é desviada para os lados.
A cor uniforme ocorre porque os raios de pa. Na frente do monitor colocamos uma Sem elas, pouca luz é espalhada e os
Figura 10: Sequência de imagens em sistema mais simples iluminado por monitor de cristal líquido. Um copo de vidro contendo a
solução de sacarose e usando apenas um polarizador.
Figura 12: Imagens de um copo de vidro com glicose embaixo e água em cima, iluminado por um monitor de cristal líquido.
N
o colégio [2] aprendemos nos símbolos matemáticos. Um aparelho
cursos de física básica que a ace- simples que permite essa experimentação
A. M. D’Ambrosio
leração gravitacional é aproxi- é o lançador de foguetes movidos pela com-
E-mail: amd9004@gmail.com
madamente constante, vale g = 9,8 m/s2 binação de água e ar a altas pressões.
e que é sempre vertical e para baixo. Por Mostraremos neste artigo que esse apa-
H.F. de Andrade
isso, o movimento de um objeto atirado relho pode ser montado no estilo “Faça
E-mail: hugo_pinta@hotmail.com
para cima (lançamento vertical) ou para Você Mesmo” pelos estudantes, profes-
o lado (obliquamente) é chamado de uni- sores e interessados na experimentação da
A.M. de Queiroz
formemente acelerado. “Física na Escola”. O sistema foguete-lan-
E-mail: alemendesmq@gmail.com
Aprendemos também a calcular o al- çadora é composto de materiais recicláveis
cance R de um projétil lançado com um (como garrafas PET, placas de isopor,
M.F. de Toledo Filho
ângulo θ com a horizontal e uma velo- canudos) e de baixo custo (cola plástica,
E-mail: mauroftf@gmail.com
cidade v através da equação [3] elásticos, tubo e conexões de PVC, bomba
de pneu de bicicleta). Ele é portátil e pode
B.R. Duarte
(1) ser construído em casa ou na classe e, de-
E-mail: brduarte2@gmail.com
pois, usado em quadras ou campos aber-
e somos ensinados que a trajetória curva tos.
V.C. Lorencetti
descrita por esse projétil desde o ponto de O protótipo da equipe Rocketeers
E-mail: lorencetti.victor@gmail.com
lançamento, passando pela altura máxi- UNIFAL-MG foi desenvolvido para uso no
ma h e voltando ao chão é chamada de projeto de extensão “A Física do Lançamento
S.A. Maéstri
parábola. de Foguetes Artesanais” [5-7]. Ele foi
E-mail: sergio.maestri@unifal-mg.edu.br
Nas aulas de física, encontramos a testado em vários eventos nos últimos anos
equação para essa altura máxima em fun- [5,8,9], construído em oficinas junto com
R.D. Martins
ção do tempo t de voo: professores e estudantes do Ensino Médio
E-mail: renandreschmartins@gmail.com
e usado para verificar as Eqs. (1) e (2).
Universidade Federal de Alfenas,
Nas próximas seções compartilhamos
Alfenas, MG, Brasil (2) o receituário de produção do sistema
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
foguete-lançador dos Rocketeers UNIFAL-
Na Eq. (2), a quantidade t é o tempo crono- MG. Começamos na seção “Montagem da
metrado desde o lançamento até o retorno base de lançamento” apresentando o plano
do objeto ao solo. A quantidade (t/2) é o de construção da base de lançamento. A
tempo decorrido até a altura máxima. Isso seção “Montagem dos foguetes”, que des-
acontece porque o movimento do foguete creve a confecção dos foguetes, tem duas
é temporalmente simétrico quando des- partes. Na primeira, que trata do modelo
Apresentamos o plano detalhado de construção
prezamos o efeito do arrasto do ar e a for- de foguete mais tradicional com ogiva
de um protótipo de foguete de garrafas PET e
sua base de lançamento de tubos de PVC desen- ça de empuxo [4]. fixa, apresentamos algumas modificações
volvidos pela equipe Rocketeers UNIFAL-MG. Tudo isso segue das equações para o à montagem elaborada por Souza [1]. Na
Este trabalho pode ser entendido como um movimento retilíneo uniforme (na direção segunda parte mostramos como fazer o
complemento à montagem experimental do horizontal) e para o movimento retilíneo foguete com ogiva destacável e paraque-
estudo de J.A. Souza, Física na Escola 8(2), 4 uniformemente acelerado (que o projétil das, que funciona como sistema de
(2007) – Ref. [1]. O manual de construção inclui executa na direção vertical) para um corpo recuperação do foguete para os lançamen-
a lista de todos os materiais necessários. tomado como ponto material. 1 O que
Dedicamos especial atenção à descrição da
tos verticais. A Fig. 1 mostra o sistema
raramente aprendemos no colégio é como completo ao qual estamos nos referindo.
montagem dos foguetes com ogivas destacáveis
e paraquedas (módulo de recuperação), pró- fazer experiências para testar a validade Terminamos o artigo com a seção
prios para lançamentos verticais. dessas equações. Dificilmente temos a “Lançamento do foguete”, em que sugeri-
Referências
[1] J.A. Souza, Física na Escola 8 (2), 4 (2007).
[2] F. Ramalho Jr., N.G. Ferraro e P.A.T. Soares, Os Fundamentos da Física: v. 1 – Ensino Médio – 1° Ano (Moderna – Didáticos, São Paulo, 2008).
[3] A.M. de Queiroz e R.R. Cuzinatto, Revista Brasileira de Iniciação Científica 4 , 82 (2017).
[4] D. Halliday, R. Resnick e R. Walker, Fundamentos de Física. Mecânica (LTC, Rio de Janeiro, 2008).
[5] R.R. Cuzinatto, A.M. D’Ambrósio, H.F. de Andrade, B.R. Duarte, V.C. Lorencetti e cols., Rev. Ciênc. Ext. 11 11, 40 (2015).
[6] S.A. Maéstri, A.M. D’Ambrósio, H.F. de Andrade, V.C. Lorencetti, M.F. de Toledo Filho e cols., Caderno de Resumos da III Semana do Bacharelado
Interdisciplinar em Ciência e Economia (BICE) / IV Semana do Programa Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão (PIEPEX) da UNIFAL-MG, organizado
por D.C. Oliveira, E. Zwick, L.L.M. Rodrigues, M.V. Coelho, P.C.L. Silveiro e cols. UNIFAL-MG, Varginha, 2012, p. 22, disponível em
http://www.unifal-mg.edu.br/icsa/files/file/anais2012.pdf, acesso em 30/01/2017.
[7] A.M. D’Ambrósio, H.F. de Andrade, V.C. Lorencetti, S.A. Maéstri, M.F. de Toledo Filho e cols., Estudo da Física no Lançamento de Foguetes. Relatório
Sobre o Trabalho do Projeto Multidisciplinar V (Instituto de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal de Alfenas, Poços de Caldas, 2012),
disponível em www.unifal-mg.edu.br/foguetes, acesso em 30/01/2017.
[8] R.D. Martins, A.M. D’Ambrósio, V.C. Lorencetti, S.A. Maéstri, M.F. Toledo Filho e cols., Rocketeers UNIFAL-MG, 2014. Canal do YouTube,
disponível em https://www.youtube.com/channel/UChJ0EUyaOMni9qa7P_ViuZw, acesso em 30/01/2017.
[9] R.D. Martins, A.M. D’Ambrósio, V.C. Lorencetti, S.A. Maéstri, M.F. Toledo Filho e cols., A Física do Lançamento de Foguetes Artesanais (Pró-
Reitoria de Extensão da UNIFAL-MG, Poços de Caldas, 2013), disponível em http://www.unifal-mg.edu.br/foguetes, acesso em 30/01/2017.
Recursos de Internet
Vídeo da montagem da base de lançamento: https://www.youtube.com/watch?v=esKGBbiotxQ.
Vídeo da construção dos foguetes: https://www.youtube.com/watch?v=duIKywLHLjM .
A
origem da necessidade de uso dos maiores e menores. Era então necessária
Rio de Janeiro, RJ, Brasil pesos e medidas perdeu-se no a criação de um padrão que não gerasse
E-mail: sandrorjbr@uol.com.br tempo e no espaço. Com a implan- essa confusão. Um sistema de medidas
tação da revolução agrícola, o Homo sapi- eficiente é aquele que satisfaz as necessi-
Deise Miranda Vianna ens deixa de ser nômade e com isso pre- dades das atividades relacionadas à metro-
Instituto de Física, Universidade cisou entender e interferir nos domínios logia1 e envolve determinadas unidades
Federal do Rio de Janeiro, Rio de do ambiente em que habitava. Obser- que representam todas as grandezas men-
Janeiro, RJ, Brasil vando e buscando entender as mudanças suráveis. Ele deve ser simples, coerente e
E-mail: deisemv@if.ufrj.br que ocorriam na natureza, começamos a suficiente para garantir a elaboração de
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ criar calendários e padrões de medidas que sistemas de equações físicas independentes
auxiliavam no plantio, colheita e trocas e compatíveis.
de mercadorias [1]. O homem começou Apresentamos uma atividade que po-
a usar partes do seu corpo para comparar de levar o aluno2 a compreender a impor-
e medir distâncias. Houve tempo em que tância de um sistema de medidas coerente
o homem utilizava processos bem simples e adequado para a sociedade moderna. O
de comparações de medidas para poder assunto não tem recebido a atenção que
sobreviver e viver em grupos. Os pesos e merece e os alunos geralmente o classifi-
medidas foram, desde as primeiras civili- cam como um tema pouco interessante.
zações, linguagens usadas no comércio e Podemos usar como motivadores certas
podem ser considerados como pilares de situações-problema que despertem curio-
sustentação para as sociedades, no que diz sidade por meio de vídeos, imagens e/ou
respeito às relações de troca no comércio, texto.
à padronização para medir a produção e
ao suporte dimensional para as ciências e Uma atividade investigativa com
tecnologias. Com o passar do tempo, o enfoque CTS
homem evoluiu e com ele evoluíram os O ensino por investigação constitui
sistemas de medidas [2]. uma orientação que enfatiza o questio-
O homem primitivo não necessitava namento, a resolução de problemas aber-
de um sistema de medidas muito sofisti- tos e o desenvolvimento do senso crítico
cado, bastando apenas ter noções de algu- do aluno sobre a importância da ciência e
O trabalho propõe uma atividade relacionada mas delas, como saber se um objeto era suas aplicações na sociedade em que vive,
ao dia a dia de um cidadão - ida ao supermer-
“maior que” ou “mais e a argumentação.
cado - para fazer suas compras. Apresentamos
uma proposta em que alunos poderão com-
leve que” outros obje- Os pesos e medidas foram, Em atividades inves-
parar preços e produtos, escolhendo a melhor tos. As primeiras desde as primeiras civilizações, tigativas, a função do
oferta. Esta é uma atividade para o tema uni- unidades de compri- linguagens usadas no comércio professor passa de
dades de medidas, baseada no enfoque Ciência- mento foram estabele- e podem ser considerados transmissor de co-
Tecnologia-Sociedade (CTS), como uma ativi- cidas tomando como como pilares de sustentação nhecimento científi-
dade investigativa. Essa unidade de ensino pode base as dimensões de para as sociedades co, através de exposi-
ser apresentada em diferentes séries de ensino partes do corpo hu- ção oral e escrita, para
e proporciona ao aluno a oportunidade de esco-
mano. Essas unidades eram chamadas de um guia e orientador da aprendizagem,
lher, discutir e comparar grandezas. Via argu-
mentação, ele pode perceber a importância das
antropomórficas, e podemos citar como deixando de lado a interpretação rígida dos
unidades na vida humana, assim como para o exemplos a polegada, o pé, o palmo, os conteúdos programáticos dos livros
desenvolvimento científico e tecnológico da dedos e o côvado. À medida que o homem didáticos, e tendo mais flexibilidade curri-
sociedade. foi evoluindo e suas necessidades foram cular, orientando as atividades aos gostos,
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
http://sbfisica.org.br/~mnpef
O Programa Nacional de Mestrado Profissional em Ensino de Física (MNPEF) é um
programa nacional de pós-graduação de caráter profissional, voltado a professores de ensino
médio e fundamental com ênfase principal em aspectos de conteúdos na área de física. É
uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Física (SBF) com o objetivo de coordenar diferentes
capacidades apresentadas por diversas Instituições de Ensino Superior (IES) distribuídas em
todas as regiões do País.
A abrangência deste Programa pretende ser nacional e universal e estar presente em todas
as regiões do País, sejam elas localizadas em capitais ou estejam afastadas dos grandes centros.
Fica então clara a necessidade da colaboração de recursos humanos com formação adequada
localizados em diferentes IES. Para tanto, este Programa estará organizado em Polos Regionais,
hospedados por alguma IES, onde ocorrerão as orientações das dissertações e serão ministradas
as disciplinas do currículo. Fica igualmente claro que o esforço necessário para este mestrado
requer também a participação e/ou colaboração de centros já existentes onde ocorrem
mestrados profissionais em ensino de física.