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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Universidade Federal de Ouro Preto


Escola de Minas – Departamento de Engenharia Civil
Curso de Graduação em Engenharia Civil

Mauro Pio dos Santos Junior

Análise estatística de estabilidade de barragem alteada a montante sujeita a liquefação


estática

Ouro Preto
2018
Mauro Pio dos Santos Junior

Análise estatística de estabilidade de barragem alteada a montante sujeita a liquefação


estática

Monografia apresentada ao Curso de


Engenharia Civil da Universidade Federal de
Ouro Preto como parte dos requisitos para a
obtenção do Grau de Engenheiro Civil

Área de concentração: Geotecnia

Orientador: Prof. Dr. Romero César Gomes


Coorientador: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Silva Ribeiro

Ouro Preto
2018
S237a Santos Junior, Mauro Pio dos.
Análise estatística de estabilidade de barragem alteada a montante sujeita a
liquefação estática [manuscrito] / Mauro Pio dos Santos Junior. - 2018.

63f.: il.: color; grafs; tabs; mapas.

Orientador: Prof. Dr. Romero César Gomes.


Coorientador: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Silva Ribeiro.

Monografia (Graduação). Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de


Minas. Departamento de Engenharia Civil.

1. Solos - Liquefação. 2. Resistência (Engenharia) - Métodos estatísticos. 3.


Barragem - Estabilidade. I. Gomes, Romero César. II. Ribeiro, Saulo
Gutemberg Silva. III. Universidade Federal de Ouro Preto. IV. Titulo.

CDU: 624

Catalogação: ficha@sisbin.ufop.br
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família: minha mãe Maria Rozária da Silva Santos, meu
pai Mauro pio dos Santos e minha irmã Ana Cláudia dos Santos, sem os quais certamente eu
não teria chegado até aqui.
À minha namorada Bianca Machado pelo apoio e cooperação ao longo dessa etapa.
Ao professor Saulo Ribeiro pelos ensinamentos, pelas ideais e tutoria ao longo do
desenvolvimento desse trabalho: tem sido uma honra trabalhar ao lado de um exímio
profissional como esse.
Ao meu orientador professor Romero César Gomes, pela orientação e acompanhamento
do trabalho.
À empresa GeoFast – Geotechnical Modelling pelo apoio e por ceder a licença plena do
software GeoStudio durante a realização desse trabalho.
Aos amigos do PET-Civil UFOP pelas amizades e ensinamentos ao longo dessa trajetória.
Aos amigos do Centro Acadêmico de Engenharia Civil (CAEC) pelo companheirismo e
apoio durante os últimos semestres.
À Fundação Gorceix por todo auxílio e em especial ao DETAP, pelas boas parcerias junto
ao PET-Civil.
Ás empresas Geo-Slope International e Minitab pelo excelente suporte técnico e pelo
esclarecimento das dúvidas.
A todos os amigos da graduação que me apoiaram e de certa forma contribuíram durante
essa etapa: Muito obrigado!
RESUMO

O estudo de liquefação feito em barragens alteadas para montante tem se tornado uma
prática de engenharia cada vez mais frequente no Brasil. Um dos maiores desafios dessa
análise está na definição da razão de resistência não drenada de pico e liquefeita do material,
que são comumente obtidas via correlações empíricas com o ensaio Cone Penetration Test
(CPTu). Os ensaios do tipo CPTu fornecem uma grande quantidade de dados, o que propicia
uma análise estatística para o cálculo das razões de resistência não drenada. No presente
trabalho três curvas de distribuição são testadas como propostas de ajuste aos histogramas das
razões de resistência não drenada do material: a distribuição normal, a distribuição log-nomal
e a distribuição log-normal de três parâmetros. Após uma análise das três propostas, fica claro
que, para a sondagem estudada, a log-normal de três parâmetros é o ajuste que melhor se
adequa aos histogramas das razões de resistência não drenada. Para esse tipo de ajuste,
propõe-se o uso da moda da distribuição como resistência de projeto. Em seguida, a
estabilidade de uma barragem fictícia alteada para montante é estudada e uma análise
estatística usando a distribuição log-normal de três parâmetros é realizada. Verifica-se que a
probabilidade de ruptura encontrada por essa metodologia é muito pequena (inferior a 10-6), o
que se justifica pelo fato da moda da distribuição log-normal estar próxima do limite inferior
dos valores de razão de resistência não drenada.

Palavras-chave: Liquefação Estática. Ajuste Estatístico. Sondagem CPTu. Resistência de


Pico. Resistência Liquefeita.
ABSTRACT

The flow liquefaction study, usually required for upstream tailings dams, has become a
very common engineering practice in Brazil. One of the major challenges to perform these
analyses relies on the definition of the yield undrained strength ratio and the liquefied
undrained strength ratio of the soil, which is usually done via empirical correlations with the
Cone Penetration Test (CPTu). The cone penetration test gives a large quantity of data, which
makes passible to do a statistical analysis to calculate the undrained strength ratios of the soil.
In the study, three probability distribution curves were tested to fit the histogram of the
undrained strength ratio of the material: a normal distribution curve, a lognormal distribution
curve and a three-parameter lognormal distribution curve. After analyzing the probability
distribution curves, we concluded that, for the CPTu test studied, the three-parameter
lognormal distribution is the best fit for the histogram of undrained strength ratios. For this
distribution the mode is suggested to be taken as the design strength. Thereafter, the stability
of a fictitious upstream tailing dam is studied and a statistical stability analysis is performed
using the three parameter log-normal distribution. It is shown that the probability of failure
using this methodology is very low (less than 10-6), which is justified because the mode of the
lognormal distribution is close the lower bound value of the undrained strength ratio.

Keywords: Flow Liquefaction. Statistical adjustment. CPTu test. Yield Strength. Liquefied
Strength.
Sumário
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12

2. OBJETIVOS............................................................................................................. 14

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 14

3.1. MÉTODO DE OLSON (2001) ........................................................................... 14

3.2. MÉTODO DE ROBERTSON (2010) ................................................................ 18

3.3. MÉTODO DE SADREKARIMI (2014) ............................................................ 20

3.4. PARÂMETRO DE ESTADO ............................................................................ 23

3.5. IDENTIFICAÇÃO DE ESTRUTURA NO SOLO ............................................ 25

3.6. CONCEITOS DE ESTATÍSTICA ..................................................................... 26

3.6.1. Distribuição Normal .................................................................................. 26

3.6.2. Distribuição Log-Normal.......................................................................... 27

3.6.3. Distribuição Log-Normal de três parâmetros ........................................ 28

4. METODOLOGIA .................................................................................................... 29

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 30

5.1. IDENTIFICAÇÃO DE ESTRUTURA NO SOLO ............................................ 30

5.2. SUSCEPTIBILIDADE À LIQUEFAÇÃO ........................................................ 31

5.3. HISTOGRAMAS DE RESISTÊNCIA E AJUSTE ESTATÍSTICO DOS


DADOS ............................................................................................................................ 35

5.3.1. Método de Olson (2001) ............................................................................ 35

5.3.1.1. Razão de resistência não drenada liquefeita ........................................... 35

5.3.1.2. Razão de resistência não drenada de pico ............................................... 38

5.3.2. Método de Robertson (2010) .................................................................... 40

5.3.2.1. Razão de resistência não drenada liquefeita ........................................... 40

5.3.3. Método de Sadrekarimi (2014) ................................................................ 43

5.3.3.1. Razão de resistência não drenada liquefeita ........................................... 43

5.3.3.2. Razão de resistência não drenada de pico ............................................... 46


5.4. COMPARATIVO ENTRE OS MÉTODOS ...................................................... 49

5.5. MODELAGEM NUMÉRICA ............................................................................ 51

5.5.1. Dados de Condutividade e Resistência .................................................... 51

5.5.2. Análise de percolação ................................................................................ 54

5.5.3. Análises de estabilidade ............................................................................ 55

6. CONCLUSÕES ........................................................................................................ 61

7. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 62

8. APÊNDICE............................................................................................................... 64
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Gráfico tensão versus deformação para três tipos de carregamento: (a)
Carregamento estático (trajetória A, B, C), (b) Fluência (trajetória A, D, C) e (c)
Carregamento cíclico (trajetória A', E, C) ................................................................................ 12
Figura 2: Critério de susceptibilidade à liquefação de Robertson (2010) aplicado à sondagem
CPT F-02 da Barragem de Fundão ........................................................................................... 13
Figura 3: Critério de susceptibilidade à liquefação para sondagem SPT sugerido por Olson
(2001) ....................................................................................................................................... 17
Figura 4: Critério de susceptibilidade à liquefação para a sondagem CPTu sugerido por Olson
(2001) ....................................................................................................................................... 18
Figura 5: Critério de susceptibilidade à liquefação sugerido por Robertson (2010) ................ 19
Figura 6: Modos predominantes de cisalhamento em uma superfície potencial de ruptura..... 20
Figura 7: Relação entre a razão de resistência não drenada de pico e o parâmetro IB para
compressão triaxial (TXC), cisalhamento simples (DSS & HCTS) e extensão triaxial (TXE),
comparados com os casos de rupturas por liquefação. ............................................................. 21
Figura 8: Relação entre a razão de resistência não drenada liquefeita e o parâmetro IB para
compressão triaxial (TXC), cisalhamento simples (DSS & HCTS) e extensão triaxial (TXE),
comparados com os casos de rupturas por liquefação. ............................................................. 22
Figura 9: Relação entre a razão de resistência não drenada e a resistência de ponta
normalizada do CPTu, com inclusão dos pontos representativos dos casos de ruptura por
liquefação estudados ................................................................................................................. 23
Figura 10: Definição de parâmetro de estado ........................................................................... 24
Figura 11: Ábaco para identificação de microestrutura no solo sugerido por Robertson (2016)
.................................................................................................................................................. 25
Figura 12: Curvas de distribuição normal ................................................................................ 27
Figura 13: Curvas de distribuição log-normal .......................................................................... 28
Figura 14: Verificação quanto à presença de estrutura no solo, segundo a metodologia
proposta por Robertson (2016) ................................................................................................. 31
Figura 15: Critério de susceptibilidade à liquefação de Robertson (2010) aplicado aos dados
da sondagem CPTu ................................................................................................................... 32
Figura 16: Critério de susceptibilidade à liquefação de Fear e Robertson (1995) sugerido por
Olson (2001) ............................................................................................................................. 33
Figura 17: Histograma do parâmetro de estado (ψ).................................................................. 34
Figura 18: Valores do parâmetro de estado (ψ) versus a profundidade ................................... 35
Figura 19: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada liquefeita
segundo a metodologia de Olson (2001) .................................................................................. 36
Figura 20: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada
liquefeita segundo a metodologia de Olson (2001) .................................................................. 36
Figura 21: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência
não drenada liquefeita segundo a metodologia de Olson (2001) ............................................. 37
Figura 22: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros ............. 38
Figura 23: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada de pico
segundo a metodologia de Olson (2001) .................................................................................. 38
Figura 24: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada de pico
segundo a metodologia de Olson (2001) .................................................................................. 39
Figura 25: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência
não drenada de pico segundo a metodologia de Olson (2001) ................................................. 39
Figura 26: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros ............. 40
Figura 27: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada liquefeita
segundo a metodologia de Robertson (2010) ........................................................................... 41
Figura 28: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada
liquefeita segundo a metodologia de Robertson (2010) ........................................................... 41
Figura 29: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência
não drenada liquefeita segundo a metodologia de Robertson (2010) ....................................... 42
Figura 30: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros ............. 43
Figura 31: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada liquefeita
segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014) ........................................................................ 44
Figura 32: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada
liquefeita segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014) ........................................................ 44
Figura 33: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência
não drenada liquefeita segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014).................................... 45
Figura 34: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros ............. 46
Figura 35: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada de pico
segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014) ........................................................................ 47
Figura 36: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada de pico
segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014) ........................................................................ 47
Figura 37: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência
não drenada de pico segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014) ....................................... 48
Figura 38: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros ............. 49
Figura 39: Curvas log-normais de três parâmetros obtidas para cada um dos métodos ........... 50
Figura 40: Seção transversal de barragem alteada a montante ................................................. 51
Figura 41: Seção transversal do dique 1 de Fundão ................................................................. 51
Figura 42: Seção transversal proposta para o estudo de estabilidade ....................................... 52
Figura 43: Gráfico SBTn (Soil Behavior Type) ....................................................................... 53
Figura 44: Malha de elementos finitos utilizada para análise no SEEP/W .............................. 55
Figura 45: Análise de percolação no GeoStudio 2016 ............................................................. 55
Figura 46: Análise em termos de tensões efetivas .................................................................... 56
Figura 47: Análise em termos de resistência não drenada........................................................ 57
Figura 48: Análise de pico - Olson (2001) ............................................................................... 57
Figura 49: Análise de pico – Sadrekarimi (2014)..................................................................... 57
Figura 50: Análise liquefeita - Olson (2001) ............................................................................ 58
Figura 51: Análise liquefeita - Robertson (2010) ..................................................................... 58
Figura 52: Análise liquefeita - Sadrekarimi (2014) .................................................................. 58
Figura 53: Distribuição log-normal de três parâmetros usada na simulação de Monte Carlo.. 59
Figura 54: Histograma dos fatores de segurança obtidos para a análise probabilística ........... 60
Figura 55: Probabilidade de ruptura da barragem .................................................................... 60
Figura 56: Resistência de ponta vs profundidade ..................................................................... 64
Figura 57: Razão de atrito vs profundidade.............................................................................. 65
Figura 58: Índice Ic vs profundidade ........................................................................................ 66
Figura 59: Poropressão vs profundidade .................................................................................. 67
Figura 60: Razões de resistência não drenada vs profundidade ............................................... 68
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Razões de resistência não drenadas .......................................................................... 49


Tabela 2: Parâmetros de resistência e condutividade hidráulica usados na modelagem
numérica ................................................................................................................................... 54
Tabela 3: Parâmetros de resistência utilizados nas análises de estabilidade para os diversos
cenários ..................................................................................................................................... 56
Tabela 4: Fatores de segurança para as análises de estabilidade .............................................. 59
12

1. INTRODUÇÃO

O fenômeno de liquefação do solo é de grande importância para estruturas construídas


sobre ou com solos arenosos e saturados. A liquefação pode ser dividida em duas categorias:
(1) Liquefação Estática (Flow Liquefaction) e (2) Liquefação Cíclica (Cyclic Liquefaction).
Na liquefação cíclica a tensão efetiva pode chegar a zero durante ciclos de carregamento e
descarregamento, causando a perda da rigidez do solo. A liquefação estática, por sua vez,
ocorre em solos arenosos, contráteis e saturados, resultando na perda abrupta de resistência a
grandes deformações, o que pode ser induzido por um carregamento estático ou dinâmico.
Na liquefação estática o solo atinge um valor máximo de resistência, denominada
resistência de pico, seguido de uma resistência liquefeita, também denominada resistência
residual ou em estado crítico. Na liquefação cíclica, no entanto, o solo não necessariamente
precisa atingir um valor máximo de resistência. O gráfico tensão versus deformação para
ambos os casos é mostrado na figura 1:

Figura 1: Gráfico tensão versus deformação para três tipos de carregamento: (a) Carregamento estático
(trajetória A, B, C), (b) Fluência (trajetória A, D, C) e (c) Carregamento cíclico (trajetória A', E, C)

Fonte: Olson (2001)

Olson (2001) sugere que uma análise de liquefação deve conter três etapas: (1) Análise da
susceptibilidade à liquefação, (2) Análise em termos de resistência de pico e (3) Análise em
termos de resistência liquefeita. Para seguir a nomenclatura internacional das publicações
mais recentes, a resistência não drenada de pico será designada por Su(yield) e a resistência
não drenada liquefeita, residual ou em estado crítico, será designada por Su (LIQ).
13

Os casos de ruptura por liquefação mostraram que quando a perda significativa de


resistência ocorre em seções críticas de uma estrutura, a ruptura geralmente é rápida, ocorre
sem aviso e as deformações resultantes geralmente são grandes. Além disso, os eventos que
induzem a liquefação (gatilhos), podem ser relativamente pequenos. Silvis e de Groot (1995),
sugeriram que os gatilhos devem sempre ser assumidos se o solo for susceptível à perda de
resistência.
Diversas rupturas devido ao fenômeno de liquefação do solo ocorreram ao longo dos anos,
resultando em perdas de vida e grandes prejuízos econômicos e ambientais à sociedade. O
mais recente caso envolvendo o fenômeno de liquefação no Brasil, que trouxe à tona a
importância dessa análise, foi a ruptura da Barragem de Fundão ocorrida no dia 05 de
novembro de 2015. A ruptura da estrutura operada pela mineradora Samarco, localizada no
município de Mariana – MG, causou a morte de aproximadamente 18 pessoas e liberação de
aproximadamente 32,6 milhões de m³ de rejeito ao longo do Rio Doce (Samarco, s.d.). A
investigação independente conduzida pelo escritório americano Cleary Gottlieb Steen &
Hamilton LLP, concluiu que inúmeros fatores permitiram que as condições necessárias à
ocorrência da liquefação estática se estabeleceram, o que promoveu a ruptura. A imagem
abaixo, retirada do relatório final da ruptura da Barragem de Fundão, mostra a predominância
de materiais contráteis, utilizando o critério de Robertson (2010).

Figura 2: Critério de susceptibilidade à liquefação de Robertson (2010) aplicado à sondagem CPT F-02 da
Barragem de Fundão

Fonte: Fundão Tailings Dam Review Panel (2016)


14

Esse estudo apresenta uma metodologia estatística para obtenção da resistência não
drenada de pico e liquefeita, usando as equações empíricas desenvolvidas por Olson (2001),
Robertson (2010) e Sadrekarimi (2014) para o ensaio CPT (Cone Penetration Test), ou CPTu
(quando há medição da poropressão).

2. OBJETIVOS

O objetivo desse trabalho é apresentar uma metodologia estatística, usando distribuição de


probabilidade normal, log-normal e log-normal de três parâmetros, para obtenção da razão de
resistência não drenada de pico e liquefeita segundo as equações de Olson (2001), Robertson
(2010) e Sadrekarimi (2014). Após calcular essas resistências, pretende-se apresentar um
comparativo entre os métodos e calcular a estabilidade de uma barragem fictícia alteada a
montante, usando o pacote computacional GeoStudio 2016. A barragem, embora fictícia, foi
projetada usando geometria típica de barragens alteadas a montante encontradas na literatura.
Para a viabilização do trabalho, uma sondagem do tipo CPTu (Cone Penetration Test)
realizada em rejeito contráctil foi utilizada para implementação da metodologia sugerida.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Diversos procedimentos foram publicados para a determinação da susceptibilidade à


liquefação e obtenção da razão de resistência de pico - Su(yield)/σ’vo - e razão de resistência
liquefeita - Su(LIQ)/σ’vo - para solos contráteis nos últimos anos. Das diversas metodologias
disponíveis, no entanto, as baseadas em retro análises de casos de ruptura são as que se
tornaram mais populares.

3.1. MÉTODO DE OLSON (2001)

Olson (2001) propôs um método para avaliar o “gatilho” da liquefação usando a razão de
resistência de pico calculada a partir de trinta casos de rupturas por liquefação. Embora o
autor tenha coletado trinta e três casos da literatura, em apenas trinta havia informações
suficientes das condições pré-ruptura para conduzir uma análise de estabilidade. Para isso o
autor categorizou as rupturas em três tipos: (1) ruptura induzida por carregamento estático, (2)
ruptura induzida por deformação e (3) ruptura induzida por carregamento sísmico. Embora
apenas os casos de ruptura induzida por carregamento estático possam ser usados para
15

calcular Su(yield)/σ’vo de forma confiável, o autor usa os três tipos de ruptura na elaboração
das equações. Cinco casos de rupturas induzidas por carregamento estático são apresentados,
sendo que as razões de resistência de pico variam entre 0,24 e 0,30. Seis casos de rupturas
induzidas por deformação são apresentados, com razões de resistência de pico variando entre
0,20 e 0,28. As rupturas induzidas por carregamento sísmico contabilizam dezenove casos,
com razões de resistência variando entre 0,15 e 0,32.
Apesar das incertezas, é possível observar uma tendência de aumento da razão de
resistência de pico com o aumento da resistência à penetração normalizada dos ensaios Cone
Penetration Test (CPTu) e Standard Penetration Test (SPT), excluindo os casos 19-21 (casos
de Nerlerk). Da análise desses dados, o autor propõe a seguinte equação:

𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑)
= 0,205 + 0,0075[(𝑁1 )60 ] ± 0,04 para (𝑁1 )60 ≤ 12 (1)
𝜎′𝑣0

Onde:
Su(yield)/σ’vo é a razão de resistência de pico;
(N1)60 é número de golpes do SPT normalizado para 60% da energia de queda livre do
martelo, dado por:

𝐸𝑅
(𝑁1 )60 = [𝑁𝐶𝑁 ] (2)
60

Sendo:
N é o número de golpes medido em campo;
ER a porcentagem de energia utilizada no ensaio (relativa à energia teórica de queda livre do
martelo) e:

𝑃 0,5
𝐶𝑁 = (𝜎 𝑎 ′) (3)
𝑣0

Em que:
σ’v0 é a tensão vertical efetiva no ponto e
Pa é a pressão atmosférica, na mesma unidade da tensão efetiva.
16

De acordo com Schnaid (2000), no Brasil é comum o uso de sistemas manuais para a
liberação de queda do martelo que aplica uma energia da ordem de 68% da energia teórica.
No presente estudo, o valor 70% foi usado para ER.
Para a resistência de ponta normalizada do ensaio CPT, a seguinte equação é proposta:
𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑)
= 0,205 + 0,0143(𝑞𝑐1 ) ± 0,04 para 𝑞𝑐1 ≤ 6,5𝑀𝑃𝑎 (4)
𝜎′𝑣0

Onde:
qc1 é a resistência de ponta normalizada do ensaio CPT, definida por:

𝑞𝑐1 = 𝐶𝑁 𝑞𝑐 (5)

Sendo:

1,8
𝐶𝑁 = 𝜎′ (6)
0,8+ 𝑣0
𝑃𝑎

Os valores da razão de resistência de pico encontrados pelo autor estão na faixa de


0,23 a 0,31.
Para o cálculo da razão de resistência liquefeita, Olson (2001) realizou três níveis de
análises de estabilidade. Para os casos com o mínimo de informação disponível (11 dos 33)
uma análise simplificada foi feita para determinar a razão de resistência liquefeita. Para a
maioria dos casos (21 dos 33), havia informação suficiente para permitir uma análise de
estabilidade rigorosa para a obtenção da resistência liquefeita. Para os casos com
documentação suficiente, uma análise adicional da cinética da ruptura foi empregada. Como
esperado, a razão de resistência liquefeita oriunda dessa análise cinética é maior que aquela
obtida a partir da análise de estabilidade rigorosa. Olson (2001), também mostra que a análise
cinética do movimento só se torna relevante para estruturas com altura superior a 10m.
Após retro analisar os 33 casos de ruptura por liquefação, Olson (2001) propôs as
seguintes equações para obtenção da resistência liquefeita:

Su (LIQ)
= 0,03 + 0,0143(q c1 ) ± 0,03 para q c1 ≤ 6,5MPa (7)
σ′vo
17

Onde:
Su(LIQ)/σ’vo é a razão de resistência liquefeita.

Usando o (SPT), a seguinte correlação pode ser aplicada:

𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄)
= 0,03 + 0,0075[(𝑁1 )60 ] ± 0,03 para (𝑁1 )60 ≤ 12 (8)
𝜎′𝑣𝑜

Olson (2001) também sugere que a razão de resistência liquefeita deva ter valores
entre 0,05 a 0,12, com um valor médio de 0,09, de acordo com os dados obtidos.
Olson (2001) também analisou diversas propostas encontradas na literatura para
determinação da susceptibilidade à liquefação do material e concluiu que a proposta
apresentada por Fear e Robertson (1995) é a que mais se adequa aos casos por ele estudados.
Além disso, essa proposta foi desenvolvida com base em testes de laboratório e em teoria de
mecânica dos solos em estado crítico e por isso é recomendada pelo autor para delinear
condições de campo susceptíveis e não susceptíveis à liquefação estática. A curva de Fear e
Robertson (1995) foi adaptada para CPT usando uma relação qc/N60 = 0,6. Ambas as curvas
com suas respectivas equações são mostradas abaixo:

(𝜎′𝑣0 )𝑏𝑜𝑢𝑛𝑑𝑎𝑟𝑦 = 9,5812 × 10−4 [(𝑁1)60 ]4,7863 (9)

Figura 3: Critério de susceptibilidade à liquefação para sondagem SPT sugerido por Olson (2001)

Fonte: Olson (2001)


18

Analogamente, para o caso do ensaio CPT, tem-se:

(𝜎′𝑣0 )𝑏𝑜𝑢𝑛𝑑𝑎𝑟𝑦 = 1,1047 × 10−2 (𝑞𝑐1 )4,7863 (10)

Figura 4: Critério de susceptibilidade à liquefação para a sondagem CPTu sugerido por Olson (2001)

Fonte: Olson (2001)

Embora a equação seja desenvolvida para σv0’ menor que 350kPa, Olson (2001)
sugere que essa equação possa ser extrapolada para valores maiores.

3.2. MÉTODO DE ROBERTSON (2010)

Robertson (2010) mostrou a ligação entre o parâmetro Qtn,cs (Equivalent clean sand
cone resistance) e o parâmetro de estado (ψ). Partindo da observação de não há nenhum caso
documentado de ruptura por liquefação estática em materiais com Qtn,cs > 70, sugeriu esse
valor para dividir os solos entre contráteis e dilatantes, como mostrado na figura abaixo:
19

Figura 5: Critério de susceptibilidade à liquefação sugerido por Robertson (2010)

Fonte: Robertson (2010)

Ademais, Robertson (2010) dividiu os 33 casos de rupturas por liquefação estudados


por Olson (2001), além de mais 3 casos adicionais sugeridos pelo autor, em Classes A, B, C,
D e E, de acordo com a qualidade dos dados de ensaio CPTu disponíveis. Os casos classe A,
são aqueles onde sondagens CPT estavam disponíveis, incluindo o atrito lateral (fs). Esses
casos são os mais confiáveis devido à qualidade dos dados. Os casos onde sondagens do tipo
CPT estavam disponíveis, mas sem os valores de resistência lateral, são classificados como
classe B. Esses dados são menos confiáveis do que os oriundos dos casos classe A. Classes C,
D e E não são confiáveis em termos dos dados de CPT, uma vez que eles não estavam
disponíveis. Para as classes C, D e E os dados do ensaio CPT foram obtidos via correlação
com ensaio SPT, densidade relativa ou outras fontes, respectivamente. Usando os valores da
razão de resistência liquefeita para os casos A e B, o autor propõe uma fórmula para a
obtenção do parâmetro Su(LIQ)/σ’v0 em função do parâmetro Qtn,cs, conforme mostrado
abaixo:

𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄) [0,02199−0,0003124𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 ]
= 2 para 𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 ≤ 70 (11)
𝜎′𝑣0 [1−0,02676𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 +0,0001783(𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 ) ]
20

Os valores de resistência calculados para os casos C, D e E são apresentados apenas


para complementação do trabalho, mas não são de fato utilizados para a obtenção da razão de
resistência liquefeita do material.
Robertson (2010) também sugere que para os solos dilatantes, i.e., com Qtn,cs > 70, um
valor conservador para a razão de resistência não drenada seria entre 0,4 – 0,5. O autor
também sugere que para evitar excesso de conservadorismo em baixas tensões confinantes,
um valor mínimo de Su(LIQ) = 1kPa deva ser assumido.

3.3. MÉTODO DE SADREKARIMI (2014)

Sadrekarimi (2014) observou que o modo de cisalhamento tem grande influência na


determinação da resistência do material. De acordo com o sugerido pelo autor, a maior
resistência é obtida em compressão triaxial seguida de cisalhamento direto e extensão triaxial.
Como ilustrado na figura abaixo, para diferentes fatias de uma superfície potencial de ruptura,
tem-se diferentes modos predominantes de cisalhamento. O autor sugere que para fatias com
inclinação da base superior a 30° a forma predominante de cisalhamento seria por
compressão. Para fatias com inclinação variando entre 30° e -15° o cisalhamento simples seria
predominante e abaixo desse valor predominaria a extensão. O valor do ângulo α adotado pelo
autor é o ângulo formado pela base da fatia com a horizontal no sentido anti-horário.

Figura 6: Modos predominantes de cisalhamento em uma superfície potencial de ruptura

Fonte: Sadrekarimi (2014)


21

Após analisar um banco de dados de 600 ensaios laboratoriais o autor propõe relações
para obtenção das razões de resistência de pico e liquefeita para os três modos de
cisalhamento em função do parâmetro IB (undrained brittleness index), definido como:

𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑)−𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄)
𝐼𝐵 = (12)
𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑)

Usando apenas os casos de rupturas induzidas por carregamento estático analisados


por Olson (2001) e Muhammad (2012), o autor observa que nos estágios iniciais da ruptura,
vinculados ao gatilho do processo de liquefação, o modo predominante de cisalhamento é à
compressão. Após a ruptura, mais precisamente a grandes deformações, o cisalhamento
simples controla a maior parte da superfície de ruptura. Nas imagens abaixo, os valores de
resistência retro calculados por Olson (2001) e Muhammad (2012) são plotados junto com os
valores médios obtidos nos ensaios laboratoriais para evidenciar essa tendência:

Figura 7: Relação entre a razão de resistência não drenada de pico e o parâmetro IB para compressão triaxial
(TXC), cisalhamento simples (DSS & HCTS) e extensão triaxial (TXE), comparados com os casos de rupturas
por liquefação.

Fonte: Sadrekarimi (2014)


22

Figura 8: Relação entre a razão de resistência não drenada liquefeita e o parâmetro IB para compressão
triaxial (TXC), cisalhamento simples (DSS & HCTS) e extensão triaxial (TXE), comparados com os casos de
rupturas por liquefação.

Fonte: Sadrekarimi (2014)

Nas imagens acima, TXC indica compressão triaxial, TXE extensão triaxial, DSS
cisalhamento simples e HCTS cisalhamento por torção.
A partir de uma análise dos casos de ruptura por liquefação estudados por Olson
(2001) e Muhammad (2012), selecionando apenas os casos com dados de maior
confiabilidade, i.e., aqueles em que dados de ensaios CPT ou SPT estavam disponíveis
(evitando assim correlações para obtenção da resistência à penetração), o autor apresenta as
seguintes equações para compressão e cisalhamento simples:

Para compressão:

𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑)
= 0,219 + 0,008𝑞𝑐1 ± 0,049 para 𝑞𝑐1 < 8𝑀𝑃𝑎 (13)
𝜎′𝑣0

𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄)
= 0,019 + 0,016𝑞𝑐1 ± 0,012 para 𝑞𝑐1 < 8𝑀𝑃𝑎 (14)
𝜎′𝑣0
23

Para cisalhamento simples:

𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑)
= 0,189 + 0,008𝑞𝑐1 ± 0,025 para 𝑞𝑐1 < 8𝑀𝑃𝑎 (15)
𝜎′𝑣0

𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄)
= 0,017 + 0,015𝑞𝑐1 ± 0,006 para 𝑞𝑐1 < 8𝑀𝑃𝑎 (16)
𝜎′𝑣0

A figura abaixo mostra a relação entre as razões de resistência não drenadas e a


resistência de ponta normalizada do CPTu para os três modos de cisalhamento. Os casos
estudados por Olson (2001) e Muhammad (2014) também são inclusos no gráfico e mostram
valores compatíveis com os propostos pelo autor.

Figura 9: Relação entre a razão de resistência não drenada e a resistência de ponta normalizada do CPTu,
com inclusão dos pontos representativos dos casos de ruptura por liquefação estudados

Fonte: Sadrekarimi (2014)

3.4. PARÂMETRO DE ESTADO

A propriedade mais importante do solo para uma análise da sua susceptibilidade à


liquefação é sua tendência de mudança de volume durante o cisalhamento, o que depende de
dois fatores: o quão fofo ou denso o solo se encontra, o que é caracterizado pelo índice de
vazios, e o nível de tensão ao qual ele está submetido. Para qualquer tensão efetiva, existe um
24

índice de vazios para o qual não há tendência nem de aumento nem de redução do volume
durante o cisalhamento. O espaço geométrico que congrega esses pontos é chamado de linha
de estado crítico (CSL), responsável por delinear a fronteira entre condições dilatantes
(aumento de volume) e contráteis (redução de volume), como mostrado na figura abaixo:

Figura 10: Definição de parâmetro de estado

Fonte: Fundão Tailings Dam Review Panel (2015)

O grau de contração ou dilatância do material pode ser mensurado pelo parâmetro de


estado (ψ), como mostrado na Fig. (10) para um índice de vazios e1. O parâmetro de estado é
definido como a diferença entre o índice de vazios in-situ e o índice de vazios em estado
crítico para uma mesma tensão efetiva média, ou seja:

𝜓 = 𝑒1 − 𝑒𝑐𝑠 (17)

A magnitude do parâmetro de estado, expressa o seu grau de contração ou dilatância,


sendo que um parâmetro de estado negativo indica um material que precisa aumentar de
volume para atingir o estado crítico, sendo portanto dilatante, enquanto que um parâmetro de
estado positivo indica um material que precisa reduzir seu índice de vazios para atingir o
estado crítico, sendo portanto contrátil.
25

Embora em teoria materiais contráteis são aqueles que possuem ψ > 0, em prática ψ > -
0,05 é adotado como o valor limite para diferenciar materiais contráteis e dilatantes (Jefferies
e Been 2006).

3.5. IDENTIFICAÇÃO DE ESTRUTURA NO SOLO

Robertson (2016) atualizou o sistema de classificação SBT (Soil behaviour type) e propôs
um método para identificação de microestruturas no solo (idade e cimentação). Como
observado pelo autor, a maioria das correlações empíricas disponíveis para o ensaio CPTu são
predominantemente baseadas em solos com pouca ou nenhuma microestrutura. Para solos e
depósitos antigos ou com cimentação, as correlações empíricas desenvolvidas para o ensaio
CPT são menos confiáveis e modificações locais são necessárias.
Para identificar se o solo é “ideal”, i.e., sem processo de cimentação e confiável no
que concerne a aplicações de formulações empíricas desenvolvidas para o CPTu, ou se o solo
possui microestruturas (depósitos antigos e com cimentação), o autor sugere o seguinte
gráfico abaixo:

Figura 11: Ábaco para identificação de microestrutura no solo sugerido por Robertson (2016)

Fonte: Robertson (2016)

Em que KG* (modified normalized small-strain rigidity index) é definido como:


26

𝐺
𝐾 ∗ 𝐺 = (𝑞0 ) (𝑄𝑡𝑛 )0,75 (18)
𝑛

Solos com K*G < 330 são classificados pelo autor como “solos ideais”, para os quais as
correlações empíricas do ensaio CPTu têm grande confiabilidade. Solos com K*G > 330 são
classificados como possuindo microestruturas (presença de cimentação ou depósitos antigos),
para os quais as correlações empíricas têm baixa confiabilidade.

3.6. CONCEITOS DE ESTATÍSTICA

No presente trabalho, três curvas de distribuição serão testadas como propostas de ajuste
aos histogramas das razões de resistência não drenadas: (1) Distribuição Normal, (2)
Distribuição Log-Normal e (3) Distribuição Log-Normal de três parâmetros.

3.6.1. Distribuição Normal

A distribuição normal é a mais comumente encontrada e conhecida na área de


probabilidade e estatística. Uma variável aleatória X, é dita ter uma distribuição normal, com
parâmetros µ e σ, onde -∞ < µ < ∞ e σ > 0 se sua função densidade de probabilidade for dada
por:

−(𝑥−µ)2
1 ⁄ 2
𝑓(𝑥; µ, 𝜎) = 𝑒 (2𝜎 ) -∞<x<∞ (19)
√2𝜋𝜎

Nesse caso µ é a média, também chamado de parâmetro de localização, e σ é o desvio


padrão, também chamado de parâmetro de escala. A distribuição normal tem a característica
de ser simétrica em torno da média (µ). Além disso, a média, a moda e mediana possuem o
mesmo valor nesse tipo de distribuição.
27

Figura 12: Curvas de distribuição normal

Fonte: Probability and Statistics – Jay L. Devore

3.6.2. Distribuição Log-Normal

Uma variável aleatória não negativa X, por sua vez, é dita ter uma distribuição log-
normal, se a variável aleatória Y = ln(X) for normalmente distribuída. A função densidade de
probabilidade resultante, com parâmetros µ e σ, onde -∞ < µ < ∞ e σ > 0, é dada por:

−[ln(𝑥−µ)]2
1
𝑓(𝑥; µ, 𝜎) = 𝑒 2𝜎2 x>0 (20)
𝑥𝜎√2𝜋

Nesse caso µ e σ não são a média e desvio padrão de X e sim de ln(X). Pode ser
mostrado que a média da distribuição log-normal é dada por:

𝜎2
𝐸(𝑥) = 𝑒 µ+ 2 (21)

A moda da distribuição, por sua vez, é dada por:

2)
𝑀𝑜𝑑𝑎(𝑋) = 𝑒 (µ−𝜎 (22)
28

Figura 13: Curvas de distribuição log-normal

Fonte: Probability and Statistics – Jay L. Devore

3.6.3. Distribuição Log-Normal de três parâmetros

Se X é uma variável aleatória que possui uma distribuição de probabilidade log-


normal de três parâmetros então Y=ln(X-θ) tem uma distribuição normal com média µ e
desvio padrão σ. A função densidade de probabilidade da distribuição log-normal de três
parâmetros é dada por:

[ln(𝑥−𝜃)−µ]2
1 −
𝑓(𝑥; µ, 𝜎, 𝜃) = (𝑥−𝜃)𝜎√2𝜋
𝑒 2𝜎2 (23)

Nesse caso o parâmetro θ é denominado threshold (traduzido como “limite” pelo


Minitab 18). A média da distribuição log-normal de três parâmetros é dada por

𝜎2
(µ+ )
𝐸(𝑥) = 𝜃 + 𝑒 2 (24)

A moda da distribuição log-normal de três parâmetros, por sua vez, é dada por

2)
𝑀𝑜𝑑𝑎(𝑋) = 𝜃 + 𝑒 (µ−𝜎 (25)
29

Nesse tipo de distribuição temos Moda(X) < Mediana(X) < E(X). Cabe observar que a
distribuição log-normal é um caso particular da distribuição log-normal de três parâmetros
quando θ=0.

4. METODOLOGIA

Segundo Olson (2001) uma análise de liquefação tipicamente consiste em três etapas: (1)
Análise da susceptibilidade à liquefação, (2) Análise em termos de resistência de pico e (3)
Análise em termos de resistência liquefeita. Para executar essas análises é necessário que um
critério de susceptibilidade à liquefação seja adotado e, em seguida, uma metodologia seja
empregada para o cálculo das razões de resistência de pico e liquefeita. Tipicamente, as
razões de resistência não drenadas são obtidas por meio de correlação com ensaios in-situ,
sendo o SPT e o CPTu os ensaios mais comuns.
O ensaio CPTu tem a vantagem de ser um ensaio contínuo, com pouca interferência do
operador e altamente confiável. O ensaio é tipicamente executado a uma velocidade de 2cm/s
e a aquisição de informações é feita a cada 20mm. O CPTu fornece três informações à medida
que é feita a cravação do cone: resistência de ponta (qc), resistência do atrito lateral (fs) e a
poropressão (u2). Como observado por Sadrekarimi (2014), o CPTu é particularmente
vantajoso para a análise de liquefação por ser capaz de identificar finas camadas de material
contrátil e fornecer um perfil contínuo da variabilidade do solo com alta precisão.
Como observado no item 3.5, Robertson (2016) sugere que antes de proceder com uma
análise e usar correlações empíricas desenvolvidas para solos “ideais”, o material seja
verificado quanto à presença de estrutura. Para isso, o parâmetro K*G é calculado para todos
os pontos do ensaio CPTu.
O estudo da susceptibilidade à liquefação é feito de acordo com a envoltória de Fear e
Robertson (1995), sugerida por Olson (2001), pela metodologia de Robertson (2010) e usando
os conceitos de parâmetro de estado, conforme abordado nos itens 3.1, 3.2 e 3.4,
respectivamente.
Uma vez identificado o alto potencial à liquefação, as equações de Olson (2001),
Robertson (2010) e Sadrekarimi (2014) são aplicadas para o cálculo das razões de resistência
não drenada, conforme descrito nos itens 3.1 a 3.3.
Os valores das razões de resistência não drenada são, em seguida, importados no
programa de análise estatística Minitab 18 para a geração dos histogramas de resistência. Em
seguida três ajustes estatísticos serão analisados: (1) ajuste com uma curva de distribuição
30

normal, (2) ajuste com uma curva de distribuição log-normal e (3) ajuste com uma curva de
distribuição log-normal de três parâmetros. O ajuste que apresentar melhor adequação aos
dados da sondagem CPTu será utilizado para a obtenção da resistência de projeto seguindo o
seguinte critério: para o ajuste normal, a média da distribuição será adotada, enquanto que
para o ajuste log-normal a moda será adotada. Para esse estudo, os limites de validade das
equações sugeridos pelos autores foram obedecidos, i.e., qc1 ≤ 6,5MPa para Olson (2001) e qc1
< 8MPa para Sadrekarimi (2014).
Sadrekarimi (2014) observa que, nos estágios inicias da ruptura, associados ao gatilho da
liquefação, o plano de cisalhamento é fortemente dominado por compressão, enquanto que
após a ruptura, particularmente a grandes deformações, o cisalhamento simples controlaria
grande parte da superfície potencial de ruptura. De fato, Olson (2001) e Olson and Stark
(2002), relatam que para a maioria dos casos de ruptura à liquefação estudados, a superfície
de ruptura dentro da zona de liquefação se aproxima de cisalhamento direto. Por conseguinte,
Su(yield)/σ’v0 será calculado usando a equação para compressão (TXC), enquanto que
Su(LIQ)/σ’v0 será calculado usando a equação para cisalhamento simples (DSS), para a
metodologia de Sadrekarimi (2014).

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. IDENTIFICAÇÃO DE ESTRUTURA NO SOLO

Robertson (2016) propõe um método para a verificação de estrutura no solo por meio do
parâmetro K*G, conforme discutido no item 3.5. Segundo Roberton (2016), a maioria das
correlações empíricas desenvolvidas para o CPTu foram obtidas por meio de estudos em solos
com pouca ou nenhuma microestrutura (solos ideais). Sendo assim, antes de proceder ao
cálculo das razões de resistência não drenada sugere-se verificar quanto à estrutura do solo,
para que seja possível aferir quanto à confiabilidade das equações empíricas que serão
aplicadas. Os dados obtidos na sondagem CPTu em estudo, plotados no ábaco de Roberton
(2016), é mostrado na figura a seguir:
31

Figura 14: Verificação quanto à presença de estrutura no solo, segundo a metodologia proposta por
Robertson (2016)

Como pode ser observado na figura 11, todos os pontos da sondagem CPTu plotam abaixo
de K*G = 330, o que indica que o material em estudo não possui microestrutura e pode ser
classificado como “solo ideal”, para os quais as correlações empíricas desenvolvidas para o
CPTu têm grande confiabilidade.

5.2. SUSCEPTIBILIDADE À LIQUEFAÇÃO

A susceptibilidade à liquefação será analisada por meio dos métodos de Robetson (2010),
usando a envoltória de Fear e Robertson (1995) sugerida por Olson (2001) e usando os
conceitos de parâmetro de estado introduzidos por Jefferies e Been (2006).
A metodologia de Robertson (2010) propõe o contorno Qtn,cs = 70 como o divisor entre
solos dilatantes e contráteis. Sendo assim, para verificar a porcentagem de pontos que
apresentam susceptibilidade à liquefação segundo essa metodologia, basta calcular a
porcentagem dos pontos que apresentam Qtn,cs ≤ 70. A imagem a seguir mostra os pontos
obtidos na sondagem CPTu plotados no gráfico SBTn (Soil behaviour type) sugerido para a
verificação à liquefação.
32

Figura 15: Critério de susceptibilidade à liquefação de Robertson (2010) aplicado aos dados da sondagem
CPTu

Como pode ser observado na figura 15, a grande maioria dos pontos da sondagem CPTu
apresentam susceptibilidade à liquefação, uma vez que plotam abaixo da região Qtn,cs = 70. De
fato, aproximadamente 82% dos dados dessa sondagem apresentaram Qtn,cs ≤ 70.
A envoltória de Fear e Robertson (1995) sugerida por Olson (2001), por sua vez, é
determinada pela Equação 10 e está mostrada na Figura 4 para a sondagem CPTu. Os dados
obtidos da sondagem, plotados junto com a envoltória de Fear e Robertson (1995), são
mostrados a seguir:
33

Figura 16: Critério de susceptibilidade à liquefação de Fear e Robertson (1995) sugerido por Olson (2001)

Como pode ser observado na Fig. 16, a grande maioria dos dados plotam dentro da região
de materiais contráteis, indicando que o solo possui alto potencial à liquefação. De fato, 89%
dos dados plotaram na região contrátil da envoltória.
Jefferies e Been (2006) sugeriram que quando o solo tem um parâmetro de estado ψ > -
0,05 a perda de resistência em cisalhamento não drenado pode ser esperada. Portanto, o
critério do parâmetro de estado ψ > -0,05 pode ser adotado para a verificação da
susceptibilidade à liquefação. Para o cálculo do parâmetro de estado a equação abaixo,
sugerida por Robertson (2010), foi utilizada:

𝜓 = 0,56 − 0,33 log 𝑄𝑡𝑛,𝑐𝑠 (26)

O histograma dos valores obtidos para o parâmetro de estado é mostrado na figura a


seguir:
34

Figura 17: Histograma do parâmetro de estado (ψ)

20

15
ncia (%)

10

Freq

0
-0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20
ψ

Como pode ser observado na figura 17, a maioria dos dados apresentaram valores de ψ>-
0,05, o que indica que o material tem alto potencial à liquefação. De fato, para essa sondagem,
83% dos dados apresentaram valores de ψ>-0,05. O gráfico que mostra como o parâmetro de
estado varia com a profundidade, é mostrado na figura a seguir:
35

Figura 18: Valores do parâmetro de estado (ψ) versus a profundidade

5.3. HISTOGRAMAS DE RESISTÊNCIA E AJUSTE ESTATÍSTICO DOS DADOS

Para a confecção dos histogramas das razões de resistência não drenadas, o software
Minitab 18 foi utilizado. Para o mesmo histograma, três propostas de ajuste foram testadas:
(1) ajuste com distribuição normal, (2) ajuste com distribuição log-normal e (3) ajuste com
distribuição log-normal de três parâmetros. A metodologia de ajuste escolhida será aquela que
melhor se adequar aos dados da sondagem CPTu. Para o caso de o ajuste normal ser mais
adequado, a média da distribuição será adotada como resistência de projeto, enquanto que a
moda será adotada caso o melhor ajuste seja o log-normal.

5.3.1. Método de Olson (2001)

5.3.1.1. Razão de resistência não drenada liquefeita


36

Para os valores obtidos pela metodologia de Olson (2001) os seguintes histogramas, com
seus respectivos ajustes foram obtidos por meio do software Minitab 18:

Figura 19: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada liquefeita segundo a
metodologia de Olson (2001)

Razões de resistência não drenada - Olson (2001)


Distribuição Normal
Média 0,06092
20 DesvPad 0,02667
N 735

15
ncia (%)

10

Freq

0
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12
Su(LIQ)/σ'v0

Figura 20: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada liquefeita segundo a
metodologia de Olson (2001)

Razões de resistência não drenada - Olson (2001)


Distribuição Log - normal

Loc -2,886
20 Escala 0,4113
N 735

15
ncia (%)

10

Freq

0
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14
Su(LIQ)/σ'v0
37

Figura 21: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência não drenada
liquefeita segundo a metodologia de Olson (2001)

Razões de resistência não drenada - Olson (2001)


Distribuição Log - normal de 3 Parâmetros
Loc -3,913
20 Escala 0,9931
Lim 0,02996
N 735

15
ncia (%)

10

Freq

0
0,03 0,06 0,09 0,12 0,15 0,18 0,21
Su(LIQ)/σ'v0

Como observado nas figuras 19, 20 e 21, a distribuição log-normal de três parâmetros é a
que melhor se adequa ao histograma da razão de resistência não drenada liquefeita. Para essa
distribuição o parâmetro de localização μ = -3,913, o parâmetro de escala σ = 0,9931 e o
limite (threshold) θ = 0,02996. O valor adotado para a resistência, portanto, será a moda da
distribuição, dada por:

𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄) 2 2
= 𝑒 µ−𝜎 + 𝜃 = 𝑒 −3,913−(0,9931 ) + 0,02996 = 0,037 (27)
𝜎′𝑣0

Como fica evidenciado pela figura abaixo, a resistência calculada de acordo com essa
metodologia se assemelha ao percentil 20, sugerido por Popescu et al. (1997) e citado em
Robertson (2010). O valor, embora conservador, seria representativo das zonas mais fracas,
que controlam a instabilidade em casos de rupturas progressivas.
38

Figura 22: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros

Curva de distribuição log-normal de três parâmetros - Olson Liq. (2001)


35
0,2

30
Densidade de probabilidade

25

20

15

10

0
0,039
Su(LIQ)/(σ'vo)

5.3.1.2. Razão de resistência não drenada de pico

Para a razão de resistência não drenada de pico, os histogramas obtidos, com seus
respectivos ajustes, usando os valores de resistência calculados segundo a metodologia de
Olson (2001), são os mostrados abaixo:

Figura 23: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada de pico segundo a
metodologia de Olson (2001)

Razão de resistência não drenada - Olson (2001)


Distribuição Normal
Média 0,2359
20 DesvPad 0,02667
N 735

15
ncia (%)

10

Freq

0
0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30
Su(yield)/σ’vo
39

Figura 24: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada de pico segundo a
metodologia de Olson (2001)

Razões de resistência não drenada - Olson (2001)


Distribuição Log - normal

Loc -1,450
20 Escala 0,1091
N 735

15
ncia (%)

10

Freq

0
0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30
Su(yield)/σ'v0

Figura 25: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência não drenada de
pico segundo a metodologia de Olson (2001)

Razões de resistência não drenada - Olson (2001)


Distribuição Log - normal de 3 Parâmetros
Loc -3,913
20 Escala 0,9931
Lim 0,2050
N 735

15
ncia (%)

10

Freq

0
0,21 0,24 0,27 0,30 0,33 0,36 0,39
Su(yield)/σ'v0

Como observado nas figuras 23, 24 e 25, o ajuste com a distribuição log-normal de três
parâmetros é o que melhor se adequa ao histograma das razões de resistência não drenada de
pico segundo a metodologia de Olson (2001). Por conseguinte, o valor de projeto para a razão
40

de resistência não drenada será a moda da distribuição log-normal de três parâmetros, dada
por:

𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑) 2 2
= 𝑒 µ−𝜎 + 𝜃 = 𝑒 −3,913−(0,9931 ) + 0,2050 = 0,212 (28)
𝜎′𝑣0

O valor calculado usando a técnica do percentil 20 sugerida por Popescu et al. (1997) é
mostrado abaixo:

Figura 26: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros

Curva de distribuição log-normal de três parâmetros - Olson yield (2001)


35
0,2

30
Densidade de probabilidade

25

20

15

10

0
0,214
Su(yield)/(σ'vo)

5.3.2. Método de Robertson (2010)

5.3.2.1. Razão de resistência não drenada liquefeita

Para a metodologia de Robertson (2010) apenas a razão de resistência não drenada


liquefeita é calculada, uma vez que esse autor não apresenta equações para o cálculo da
resistência de pico. Os histogramas, com seus respectivos ajustes, são mostrados a seguir:
41

Figura 27: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada liquefeita segundo a
metodologia de Robertson (2010)

Razões de resistência não drenada - Robertson (2010)


Distribuição Normal
25 Média 0,07293
DesvPad 0,03606
N 681
20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,020 0,056 0,092 0,128 0,164 0,200 0,236
Su(LIQ)/σ'v0

Figura 28: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada liquefeita segundo a
metodologia de Robertson (2010)

Razões de resistência não drenada - Robertson (2010)


Distribuição Log - normal
25 Loc -2,722
Escala 0,4431
N 681
20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,032 0,068 0,104 0,140 0,176 0,212 0,248
Su(LIQ)/σ'v0
42

Figura 29: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência não drenada
liquefeita segundo a metodologia de Robertson (2010)

Razões de resistência não drenada - Robertson (2010)


Distribuição Log - normal de 3 Parâmetros
25 Loc -3,156
Escala 0,6622
Lim 0,02018
N 681
20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,020 0,056 0,092 0,128 0,164 0,200 0,236
Su(LIQ)/σ'v0

Como pode ser observado nas figuras 27 ,28 e 29, o ajuste com a log-normal de três
parâmetros é o que melhor se adequa ao histograma das razões de resistência obtido pela
metodologia de Robertson (2010). A razão de resistência liquefeita, portanto, será a moda da
distribuição, dada por:

𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄) 2 2
= 𝑒 µ−𝜎 + 𝜃 = 𝑒 −3,156−(0,6622 ) + 0,02018 = 0,048 (29)
𝜎′𝑣0

O valor de resistência calculado usando a metodologia do percentil 20 é mostrado


abaixo, evidenciando sua proximidade com a moda da distribuição log-normal de três
parâmetros.
43

Figura 30: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros

Curva de distribuição log-normal de três parâmetros - Robertson (2010)


20
Densidade de probabilidade

15

0,2
10

0
0,045
Su(LIQ)/(σ'vo)

5.3.3. Método de Sadrekarimi (2014)

5.3.3.1. Razão de resistência não drenada liquefeita

Para o método de Sadrekarimi (2014), a razão de resistência liquefeita foi calculada


usando a equação de cisalhamento simples, devido à observação do autor de que a grandes
deformações esse modo de cisalhamento é o predominante, conforme discutido no item 4
desse material. Os histogramas com seus ajustes são mostrados nas figuras a seguir:
44

Figura 31: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada liquefeita segundo a
metodologia de Sadrekarimi (2014)

Razões de resistência não drenada - Sadrekarimi (2014)


Distribuição Normal
30 Média 0,05404
DesvPad 0,03237
N 785
25

20
ncia (%)

15

Freq

10

0
-0,024 0,000 0,024 0,048 0,072 0,096 0,120 0,144
Su(LIQ)/σ'v0

Figura 32: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada liquefeita segundo a
metodologia de Sadrekarimi (2014)

Razões de resistência não drenada - Sadrekarimi (2014)


Distribuição Log - normal
30 Loc -3,092
Escala 0,5848
N 785
25

20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,000 0,024 0,048 0,072 0,096 0,120 0,144 0,168
Su(LIQ)/σ'v0
45

Figura 33: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência não drenada
liquefeita segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014)

Razões de resistência não drenada - Sadrekarimi (2014)


Distribuição Log - normal de 3 Parâmetros
30 Loc -3,764
Escala 1,040
Lim 0,01698
25 N 785

20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,00 0,04 0,08 0,12 0,16 0,20 0,24 0,28
Su(LIQ)/σ'v0

Como observado nas figuras 31, 32 e 33, o ajuste com a log-normal de três parâmetros é o
que melhor se ajusta ao histograma das razões de resistência não drenada liquefeita para o
método de Sadrekarimi (2014). O valor de resistência adotado, portanto, será a moda da
distribuição, dada por:

𝑆𝑢 (𝐿𝐼𝑄) 2 2
= 𝑒 µ−𝜎 + 𝜃 = 𝑒 −3,764−(1,040 ) + 0,01698 = 0,025 (30)
𝜎′𝑣0

O valor encontrado, de 0,025, é inferior ao mínimo 0,03 sugerido por Robertson


(2010). No entanto, como pode ser observado na figura abaixo, o valor se aproxima do
percentil 20, sugerido por Popescu et al. (1997), indicando ser um valor representativo das
zonas mais fracas encontradas na sondagem que, no entanto, são as que controlam a
instabilidade, principalmente em casos de rupturas progressivas.
46

Figura 34: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros

Curva de distribuição log-normal de três parâmetros - Sadrekarimi Liq. (2014)


30
0,2

25
Densidade de probabilidade

20

15

10

0
0,027
Su(LIQ)/(σ'vo)

5.3.3.2. Razão de resistência não drenada de pico

Para o método de Sadrekarimi (2014), como discutido no item 4, a razão de resistência


não drenada de pico foi obtida pela equação de compressão, partindo da observação feita pelo
autor de que nos estágios iniciais da ruptura, vinculados ao gatilho do fenômeno de liquefação
estática, esse seria o modo predominante de cisalhamento. Os histogramas, com suas
respectivas curvas de ajuste, são mostrados nas figuras a seguir:
47

Figura 35: Histograma com ajuste normal para a razão de resistência não drenada de pico segundo a
metodologia de Sadrekarimi (2014)

Razão de resistência não drenada - Sadrekarimi (2014)


Distribuição Normal
25 Média 0,2388
DesvPad 0,01726
N 785
20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,204 0,216 0,228 0,240 0,252 0,264 0,276 0,288
Su(yield)/σ’vo

Figura 36: Histograma com ajuste log-normal para a razão de resistência não drenada de pico segundo a
metodologia de Sadrekarimi (2014)

Razões de resistência não drenada - Sadrekarimi (2014)


Distribuição Log - normal
25 Loc -1,435
Escala 0,07057
N 785
20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,204 0,216 0,228 0,240 0,252 0,264 0,276 0,288
Su(yield)/σ'v0
48

Figura 37: Histograma com ajuste log-normal de três parâmetros para a razão de resistência não drenada de
pico segundo a metodologia de Sadrekarimi (2014)

Razões de resistência não drenada - Sadrekarimi (2014)


Distribuição Log - normal de 3 Parâmetros
25 Loc -4,393
Escala 1,040
Lim 0,2190
N 785
20
ncia (%)

15

Freq

10

0
0,22 0,24 0,26 0,28 0,30 0,32 0,34 0,36
Su(yield)/σ'v0

Como pode ser observado nas figuras 35 ,36 e 37, o ajuste com a log-normal de três
parâmetros é o que melhor se adequa ao histograma das razões de resistência não drenada de
pico, para a metodologia de Sadrekarimi (2014). A resistência adotada, portando, será a moda
da distribuição, dada por:

𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑) 2 2
= 𝑒 µ−𝜎 + 𝜃 = 𝑒 −4,393−(1,040 ) + 0,2190 = 0,223 (31)
𝜎′ 𝑣0

O valor encontrado usando a metodologia do percentil 20 é mostrado na figura abaixo


para evidenciar o bom ajuste com a resistência encontrada pela metodologia proposta.
49

Figura 38: Percentil 20 calculado para a distribuição log-normal de três parâmetros

Curva de distribuição log-normal de três parâmetros - Sadrekarimi yield (2014)


60

0,2
50
Densidade de probabilidade

40

30

20

10

0
0,224
Su(yield)/(σ'vo)

5.4. COMPARATIVO ENTRE OS MÉTODOS

Após analisar os histogramas das razões de resistência não drenada obtidos pelos métodos
de Olson (2001), Robertson (2010) e Sadrekarimi (2014), fica claro que o ajuste com a log-
normal de três parâmetros é o que melhor se adequa aos dados da sondagem CPTu estudada.
O valor da resistência de projeto, para cada um dos métodos, foi atribuído como a moda da
distribuição log-normal de três parâmetros. A Tabela 1 abaixo mostra um comparativo entre
os valores de resistência calculados:

Tabela 1: Razões de resistência não drenadas

Razões de resistência
Olson (2001) Robertson (2010) Sadrekarimi (2014)
não drenadas

Su(LIQ)/σ'v0 0,037 0,048 0,025


Su(yield)/σ'v0 0,212 - 0,223
Percentil 20 – Liq. 0,039 0,045 0,027
Percentil 20 – yield 0,214 - 0,224

Como observado na tabela 1, o método de Robertson (2010) é o que forneceu o maior


valor para a razão de resistência não drenada liquefeita. O menor valor foi obtido pelo método
de Sadrekarimi (2014), sendo que Olson (2010) forneceu um valor intermediário. Vale
50

salientar que todos os valores estão abaixo do valor mínimo de 0,05 encontrado nos casos
estudados por Olson (2001) e o valor de Su(LIQ)/σ'v0 encontrado por Sadrekarimi (2014) é
inferior a 0,03 sugerido por Robertson (2010) como o limite inferior para a razão de
resistência não drenada liquefeita.
Para a razão de resistência não drenada de pico, o método de Sadrekarimi (2014) forneceu
um valor superior ao encontrado pelo método de Olson (2001). A proposta de Robertson
(2010) não prevê uma equação para o cálculo da resistência de pico e por isso essa razão de
resistência não foi calculada para esse método.
Todos os valores calculados usando a moda da distribuição log-normal de três parâmetros
apresentam boa conformidade com o percentil 20 da amostra, sugerido por Popescu et al.
(1997) como um valor adequado para representar a variabilidade espacial da resistência do
solo sob liquefação.
As curvas log-normais de três parâmetros para os três métodos são apresentadas na Figura
39:

Figura 39: Curvas log-normais de três parâmetros obtidas para cada um dos métodos
51

5.5. MODELAGEM NUMÉRICA

5.5.1. Dados de Condutividade e Resistência

Usando o pacote computacional GeoStudio 2016 da empresa canadense Geo-Slope, a


estabilidade de uma barragem fictícia alteada a montante será estudada levando em
consideração o efeito da liquefação estática. Para isso um protótipo de barragem foi
desenhado, usando como modelo as barragens apresentadas por Martin (2002) e o dique 1 da
barragem de Fundão apresentado no relatório final de ruptura da barragem, como mostrado
abaixo:

Figura 40: Seção transversal de barragem alteada a montante

Fonte: Martin (2002)

Figura 41: Seção transversal do dique 1 de Fundão

Fonte: Fundão Tailings Dam Review Panel (2016)

A seção transversal proposta para o estudo de estabilidade é mostrada na figura 42:


52

Figura 42: Seção transversal proposta para o estudo de estabilidade

Para proceder à análise de estabilidade, os parâmetros de resistência do rejeito foram


obtidos por meio de correlações com os dados do ensaio CPTu, enquanto que os parâmetros
do dique inicial, dique de partida, dreno e fundação foram estimados usando valores típicos.
Para o cálculo do ângulo de atrito (φ’), a seguinte equação, sugerida por Kulhawy and Mayne
(1990) foi utilizada:

𝜑 ′ = 17,6 + 11,0 log 𝑞𝑡1 (32)

Em que qt1 é a resistência de ponta normalizada, dada por:

𝑞
( 𝑡⁄𝜎𝑎𝑡𝑚 )
𝑞𝑡1 = ⁄ 𝜎′ 0,5 (33)
( 𝑣0⁄𝜎𝑎𝑡𝑚 )

O parâmetro Ic (Soil Behavior Type Index) é um parâmetro que auxilia na segmentação do


ábaco SBTn (Soil Behavior Type) em nove zonas diferentes. Como a equação 32 foi
desenvolvida para areias, o critério Ic ≤ 2,6 será usado para a aplicação dessa equação. Ou
seja, o ângulo de atrito será calculado apenas para os materiais nas regiões 5, 6 e 7 do gráfico
SBTn sugerido por Robertson (2010), como mostra a figura 43:
53

Figura 43: Gráfico SBTn (Soil Behavior Type)

Fonte: Robertson (2015)

O ângulo de atrito usado na modelagem, portanto, será a média dos ângulos de atritos
calculados segundo esse critério para a sondagem estudada. O valor obtido para a sondagem
CPTu em estudo foi φ’=35°. Esse valor se encontra dentro da faixa sugerida por Martin
(2002) para análises em termos de tensões efetivas. Além disso, o autor sugere coesão nula
para essa mesma análise, o que será adotado nesse estudo.
A resistência não drenada do material, foi calculada usando a equação abaixo, assumindo
Nkt = 18:

𝑆𝑢 𝑞𝑡 −𝜎𝑣0 1
=( ) (𝑁 ) (34)
𝜎′𝑣0 𝜎′𝑣0 𝑘𝑡

Em que:

𝑞𝑡 = 𝑞𝑐 + 𝑢2 (1 − 𝑎) (35)

Sendo a variável “a” uma constante do cone, tipicamente igual a 0,8.


Como a equação de resistência não drenada do material foi desenvolvida para argilas, o
critério Ic > 2,6 foi adotado para a aplicação dessa equação, i.e., a equação é aplicada para
54

materiais nas regiões 4, 3 e 2 do gráfico SBTn. Os valores de Nkt variam tipicamente entre 10
e 18 e o valor conservador de 18 foi adotado neste estudo. Após aplicar a equação 34 na
sondagem CPTu estudada, a média dos valores foi calculada obtendo-se uma razão de
resistência não drenada igual a 0,37.
Outro importante aspecto da análise de liquefação é a identificação da linha freática por
meio de uma análise de percolação. Para tanto, é necessário que a condutividade hidráulica do
rejeito seja calculada. A equação abaixo, sugerida por Robertson (2010), foi usada para esse
fim:

𝑆𝑒 1,0 < 𝐼𝑐 ≤ 3,27 𝑘 = 10(0,952−3,04𝐼𝑐) m/s (36)

𝑆𝑒 3,27 < 𝐼𝑐 < 4,0 𝑘 = 10(−4,52−1,37𝐼𝑐) m/s (37)

Uma vez calculada a condutividade hidráulica para todos os pontos da sondagem, a média
desses valores foi calculada obtendo-se o valor de k = 4,7 x 10-5 m/s. A tabela com o resumo
dos parâmetros de resistência e condutividade dos materiais é mostrada abaixo:

Tabela 2: Parâmetros de resistência e condutividade hidráulica usados na modelagem numérica

Cor Material Φ’ c’(kPa) Su /σ’v0 k (m/s) γ (kN/m³) ky'/kx'

Dique inicial 35 30 - 5,3 x 10-10 18 0,2


Dique de
39 5 - 2,5 x 10-6 20 0,3
alteamento
Dreno 35 0 - 0,01 20 1

Fundação* - - - 4,4 x 10-7 20 1

Rejeito 35 0 0,37 4,7 x 10-5 16,0 0,3


* O modelo "Alta resistência" foi usado para o material de fundação

5.5.2. Análise de percolação

Usando os dados mostrados no item anterior, uma análise de percolação em regime


permanente foi executada usando o programa SEEP/W do pacote GeoStudio 2016, para
55

obtenção da linha freática. A malha de elementos finitos utilizada na análise de percolação é


mostrada na figura 44:

Figura 44: Malha de elementos finitos utilizada para análise no SEEP/W

Foram adotados elementos de tamanho 2m para a malha de elementos finitos, sendo que a
região do dreno foi refinada adotando-se elementos de tamanho 0,25m. O resultado da análise
é mostrado na figura abaixo:

Figura 45: Análise de percolação no GeoStudio 2016

Como o fenômeno de liquefação acontece apenas em materiais saturados, o rejeito foi


divido em duas regiões: região saturada e região parcialmente saturada. À região saturada será
atribuída a razão de resistência não drenada calculada para cada um dos métodos, enquanto
que à região parcialmente saturada será atribuído os valores de atrito e coesão da tabela 2.

5.5.3. Análises de estabilidade

Para efetuar as análises de estabilidade, os materiais abaixo foram criados para, em


seguida, serem aplicados no programa Slope/W do pacote GeoStudio. As análises de
56

estabilidade foram efetuadas usando o método de Morgenstern-Price, método rigoroso que


considera o equilíbrio de forças e o equilíbrio de momentos.

Tabela 3: Parâmetros de resistência utilizados nas análises de estabilidade para os diversos cenários

Resistência
Cor Material Φ’ c’(kPa) Su /σ’v0 Su(LIQ)/σ’v0 Su(yield)/σ’v0 γ (kN/m³)
mínima (kPa)

Rejeito drenado 35 0 - - - - 16

Rejeito não drenado - - 0,37 - - 1 16

Rejeito LIQ - Olson - - - 0,037 - 1 16

Rejeito LIQ - Robertson - - - 0,048 - 1 16

Rejeito LIQ - Sadrekarimi - - - 0,025 - 1 16

Rejeito Pico - Olson - - - - 0,212 1 16

Rejeito Pico - Sadrekarimi - - - - 0,223 1 16

As imagens abaixo mostram os resultados das análises de estabilidade executadas no


programa Slope/W:

Figura 46: Análise em termos de tensões efetivas


57

Figura 47: Análise em termos de resistência não drenada

Figura 48: Análise de pico - Olson (2001)

Figura 49: Análise de pico – Sadrekarimi (2014)


58

Figura 50: Análise liquefeita - Olson (2001)

Figura 51: Análise liquefeita - Robertson (2010)

Figura 52: Análise liquefeita - Sadrekarimi (2014)

O resumo dos valores dos fatores de segurança para as análises acima é


mostrado na tabela 4:
59

Tabela 4: Fatores de segurança para as análises de estabilidade

Pico - Liquefeito - Liquefeito -


Parâmetros Resistência Pico - Olson Liquefeito -
Sadrekarimi Robertson Sadrekarimi
efetivos não drenada (2001) Olson (2001)
(2014) (2010) (2014)

F.S 3,20 1,84 1,97 2,02 1,11 1,17 1,05

Como pode ser observado na tabela 4, os fatores de segurança reduzem drasticamente


quando o fenômeno da liquefação é levado em consideração. Para as análises em termos de
parâmetros efetivos, em termos de resistência não drenada e análises de pico, o fator de
segurança é maior que 1,5, o que indica que a barragem está estável. No entanto, se condições
de campo possibilitarem que ocorra um “gatilho”, o material pode perder resistência e o seu
fator de segurança pode chegar a 1,05 de acordo com a metodologia de Sadrekarimi (2014).
Para essa metodologia, uma análise de estabilidade probabilística adicional foi feita usando a
sua respectiva curva de distribuição log-normal de três parâmetros. Para tal uma análise de
Monte Carlo com 4000 simulações foi feita variando os valores de resistência não drenada
segundo a distribuição log-normal abaixo:

Figura 53: Distribuição log-normal de três parâmetros usada na simulação de Monte Carlo

Os valores dos fatores de segurança obtidos e a probabilidade de ruptura para essa análise
são mostrados a seguir:
60

Figura 54: Histograma dos fatores de segurança obtidos para a análise probabilística

Função de densidade de probabilidade


25

20
Frequência (%)

15

10

0
1,0445 1,3361 1,6277 1,9193 2,2109
1,1903 1,4819 1,7735 2,0651 2,3567
Fator de Segurança

Figura 55: Probabilidade de ruptura da barragem


61

Como pode ser visto na figura 50, a probabilidade de ruptura da barragem é nula quando
se considera a variabilidade das razões de resistência liquefeitas por meio de uma análise
estatística usando a distribuição log-normal de três parâmetros. Isso acontece devido ao fato
da moda da distribuição log-normal de três parâmetros usada na análise determinística ser
muito próxima do limite inferior das razões de resistência não drenadas liquefeitas. Sendo
assim, embora o fator de segurança 1,05 possa parecer pequeno, a barragem está segura
quanto à sua estabilidade.

6. CONCLUSÕES

Antes de iniciar a análise de liquefação, o material da sondagem foi estudado quanto à


presença de cimentação e estrutura, segundo a metodologia proposta por Robertson (2016).
Após efetuar essa verificação, ficou claro que o rejeito pode ser classificado como “solo
ideal”, para o qual as correlações empíricas desenvolvidas para o CPTu têm grande
confiabilidade.
A análise da susceptibilidade à liquefação foi estudada por três métodos: metodologia de
Fear e Robertson (1995), sugerida por Olson (2001), metodologia de Robertson (2010) e
usando o conceito de parâmetro de estado. Todas os métodos empregados indicaram mais de
80% de presença de material contrátil e, portanto, um alto potencial à liquefação.
A análise dos histogramas das razões de resistências não drenadas mostrou que o ajuste
com a log-normal de três parâmetros é o que melhor se adequa aos dados da sondagem CPTu
estudada. Para esse ajuste a moda da distribuição foi usada como o valor da resistência de
projeto. Essa metodologia apresentou boa conformidade com os resultados obtidos
considerando o percentil 20 das resistências não drenadas, em conformidade com o sugerido
por Popescu (1997) para areias fofas a medianamente compactas depositadas hidraulicamente.
Segundo esse autor, esse valor resulta em respostas de comportamento do solo equivalentes às
encontradas usando simulações estatísticas de Monte Carlo e, portanto, é o valor sugerido
para análises determinísticas.
Em seguida uma barragem alteada a montante fictícia, porém com geometria semelhante
às barragens encontradas na literatura, foi estudada quanto à sua estabilidade levando em
conta sua resistência de pico e liquefeita. Para a metodologia de Sadrekarimi (2014) o fator de
segurança obtido na análise liquefeita foi de 1,05, inferior à 1,10 sugerido para essa análise.
Em seguida uma análise probabilística usando a simulação de Monte Carlo foi feita variando
as razões de resistências não drenadas liquefeitas segundo o ajuste log-normal de três
62

parâmetros encontrado para essa metodologia. O resultado mostrou que a probabilidade de


ruptura da barragem é inferior a 10-6, sugerido por Read e Stacey (2012) para barragens
americanas.
Martin (2002) lista dez critérios para o dimensionamento de uma barragem de rejeito
alteada a montante e sugere que essas estruturas devem ter inclinação da face 4H:1V ou
inferior, para minimizar a probabilidade de ruptura por liquefação estática. No protótipo
estudado, a inclinação é de 3H:1V, o que não está de acordo com o sugerido pelo autor. Vale
também ressaltar que todas as análises foram feitas para uma condição de regime permanente
de percolação com 50m de praia de rejeito e, portanto, os resultados obtidos só têm validade
para esse comprimento de praia.
O comparativo entre os métodos mostra que o método de Robertson (2010) fornece o
maior valor para a resistência liquefeita, seguido de Olson (2001), sendo que o menor valor
foi o calculado pela metodologia de Sadrekarimi (2014). Para a resistência de pico, no
entanto, o valor de resistência calculado por Sadrekarimi (2014) é superior ao calculado pelo
método de Olson (2001), para a sondagem estudada.

7. REFERÊNCIAS

ARISTIZABAL, Rodrigo J. "Estimating the parameters of the three-parameter lognormal


distribution." (2012).

DEVORE, J. L. "Probability and Statistics for Engineering and the Sciences, Cengage
Learning." (2015).

GEO-SLOPE INTERNATIONAL LTD. “Stability modeling with SLOPE/W.” Calgary, Canadá,


(2015). 252 p.

JEFFERIES, Mike, and Ken BEEN. “Soil liquefaction: a critical state approach. CRC press,”
(2015).

MARTIN, T. E., E. C. McRoberts, and M. P. Davies. "A tale of four upstream tailings dams."
Proceedings, Tailings Dams (2002).
63

MAYNE, P. W. "Interpretation of geotechnical parameters from seismic piezocone


tests." Proceedings, 3rd International Symposium on Cone Penetration Testing. 2014.
MORGERSTERN, N. R., S. G. VICK, and B. D. Watts. "Fundão Tailings Dam Review Panel
Report on the Immediate Causes of the Failure of the Fundão Dam." (2016).

OLSON, Scott M., and Timothy D. STARK. "Liquefied strength ratio from liquefaction flow
failure case histories." Canadian Geotechnical Journal 39.3 (2002): 629-647.

OLSON, Scott Michael. "Liquefaction analysis of level and sloping ground using field case
histories and penetration resistance." Mid-America Earthquake Center CD Release 02-02
(2002).

POPESCU, Radu, Jean H. PRÉVOST, and George DEODATIS. "Effects of spatial variability
on soil liquefaction: some design recommendations." Geotechnique 47.5 (1997): 1019-1036.

ROBERTSON, P. K. "Cone penetration test (CPT)-based soil behaviour type (SBT)


classification system—an update." Canadian Geotechnical Journal 53.12 (2016): 1910-1927.

ROBERTSON, P. K. "Evaluation of flow liquefaction and liquefied strength using the cone
penetration test." Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering 136.6 (2009):
842-853.

ROBERTSON, P. K., and K. L. CABAL. "Guide to cone penetration testing for geotechnical
engineering." Gregg Drilling and Testing Inc., USA, (2015): 6-15

SADREKARIMI, Abouzar. "Effect of the mode of shear on static liquefaction analysis."


Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering 140.12 (2014): 04014069.
64

8. APÊNDICE

Figura 56: Resistência de ponta vs profundidade


65

Figura 57: Razão de atrito vs profundidade


66

Figura 58: Índice Ic vs profundidade


67

Figura 59: Poropressão vs profundidade


68

Figura 60: Razões de resistência não drenada vs profundidade

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