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Gestão Ambiental

1
º

Período
Introdução a gestão
ambiental

Alexandre Sylvio Vieira da Costa


Governador Valadares (MG), agosto de 2011

Introdução a
gestão ambiental

Alexandre Sylvio Vieira da Costa


Todos os direitos reservados.
Copyright © 2011 Núcleo de Educação a Distância.

Espaço para ficha catalográfica.


Esta ficha é confeccionada pela Biblioteca da Univale.

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Editoração eletrônica e capa
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Revisão
Núcleo de Educação a Distância
Impressão
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Ficha catalográfica
[Biblioteca Dr. Geraldo Viana Cruz (Univale)]

2011
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Sumário
1 Biodiversidade e sua importância . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1 Biodiversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2 Os ciclos globais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2 Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental . . . . 21


2.1 Compatibilizar o crescimento e desenvolvimento econômico com o uso
sustentado dos recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Ação direta da pobreza na degradação ambiental . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.3 Consumo supérfluo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4 Mudanças de comportamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5 Geração de poluentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.6 Política Nacional de Resíduos Sólidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3 Aspectos econômicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1 Índice Dow Jones de Sustentabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4 Educação ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

5 Histórico das políticas públicas de gestão ambiental . . . . . . 53


5.1 Estudo de Impacto Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5.2 Relatório de Impacto Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.3 Licenciamento ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.4 Instrumento econômico de gestão ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.5 Instrumentos fiscais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.6 Instrumentos de mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5.7 Permissões de emissões transferíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5.8 Sistema depósito-retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.9 Responsabilidade estendida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.10 Responsabilidade compartilhada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.11 Logística reversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.12 Estruturação e implementação do sistema de logística reversa . . . . . . 67

6 Gestão da qualidade total . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72


6.1 ISO 14000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

7 Inovação e sustentabilidade – Empresa verde . . . . . . . . . 80


7
Prezado (a) aluno (a),
Nas próximas páginas apresentamos o conteúdo do livro didático referente à disciplina
Introdução a gestão ambiental para cursos a distância. Este material é parte do Curso
Superior Técnico em Gestão Ambiental oferecido pelo Programa de Educação a
Distância da Universidade Vale do Rio Doce (Univale).

Apesar de toda a tecnologia disponível, o material impresso é de grande importância em


projetos de educação a distância e os alunos estão mais familiarizados com o manuseio e
formato desse tipo de material. O material impresso não requer equipamento específico,
é de fácil acesso e pode ser utilizado em qualquer lugar ou momento.

Durante o período de desenvolvimento da disciplina, você encontrará nas unidades e


capítulos um ponto de referência para revisar conceitos, além de aprofundar em temas
essenciais para sua aprendizagem e formação profissional.

Desejamos que, com a obtenção deste recurso didático, você tenha em mãos mais um
instrumento capaz de ampliar seus conhecimentos, transformar sua forma de pensar
e agir através da construção de novos saberes.

Ao final desta disciplina imaginamos que você será


capaz de:
• Entender o conceito técnico de sustentabilidade, adequando-o
aos modelos produtivos atuais, associados às atividades sociais
e ao crescimento e desenvolvimento econômico do planeta.
• Avaliar os sistemas de gestão ambiental entendendo os
históricos de gestão das políticas públicas, seus aspectos
econômicos e a importância da educação ambiental.
• Entender os novos modelos de gerenciamento ambiental
nas empresas, seus processos de gestão e inovação associados
à sustentabilidade das atividades produtivas.
Virgínia Helena Bomfim
Coordenadora do Curso de Gestão Ambiental

Alexandre Sylvio Vieira da Costa


Autor
8 Introdução a gestão ambiental

Alexandre Sylvio Vieira da Costa é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade


Federal Rural do Rio de Janeiro, com Mestrado na área de Fitotecnia pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro e Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa em Agrobiologia;
Doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa e Pós-Doutorado em
Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é professor titular
da Universidade Vale do Rio Doce, Coordenador Adjunto da Câmara de Agronomia do
CREA/MG e Coordenador do Grupo de Trabalho Meio Ambiente e Saneamento do CREA/
MG. Membro do Comitê Técnico de Gestão de Cheias do CBH-Doce. É consultor ad hoc
de revistas científicas nacionais e internacionais, de fundações estaduais de pesquisa e do
CNPq. Membro titular da Comissão de Sementes e Mudas do Ministério da Agricultura
e Abastecimento – MAPA/MG.
Introdução
Atualmente, as palavras gestão ambiental e sustentabilidade fazem parte do
cotidiano de todo cidadão que possui o mínimo de conhecimento sobre
os eventos do planeta, muitos deles atribuídos à interferência humana, de
forma direta ou indireta. As nações ao redor do globo assim como o sistema
produtivo gerador de riquezas, as indústrias também estão assumindo as
suas responsabilidades no processo, desenvolvendo mecanismos próprios
ou coletivos de redução dos impactos ambientais e degradação dos recursos
naturais. Mas, a economia mundial não pode parar de crescer. O modelo
atual de crescimento econômico e tecnológico torna os processos de gestão
ambiental obsoletos rapidamente, sendo necessário o contínuo ajuste
dos modelos de sustentabilidade. Concomitante a essas necessidades, é
imprescindível a formação e capacitação de profissionais que atendam a estas
exigências do mercado e que sejam capazes de solucionar problemas que
surgem em função das modificações dos modelos impostos. A disciplina
Introdução a gestão ambiental tem como objetivo apresentar ao aluno a
situação global dos nossos modelos de sustentabilidade, as alternativas
que estão sendo utilizadas atualmente e a desenvolver a visão de futuro do
crescimento econômico adequando-o à criação de novos modelos de gestão.
Unidade 1
Visão geral e
conceito de
sustentabilidade

Biodiversidade e sua importância


-- Biodiversidade
-- Os ciclos globais

Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental


-- Compatibilizar o crescimento e desenvolvimento econômico com o
uso sustentado dos recursos
-- Ação direta da pobreza na degradação ambiental
-- Consumo supérfluo
-- Mudanças de comportamento
-- Geração de poluentes
-- Política Nacional de Resíduos Sólidos
Unidade 1
11

Visão geral e conceito de


sustentabilidade
Nesta unidade apresentamos uma visão geral do conceito de sustentabilidade,
a sua importância na gestão dos recursos naturais, da condição ambiental
na qualidade de vida das pessoas e o papel da biodiversidade na manutenção
dos sistemas ambientais e renovação dos recursos do planeta.

Ao final desta unidade, você deverá estar apto a:


• Entender os modelos históricos de crescimento e desenvol-
vimento econômico e suas implicações na degradação dos
recursos naturais.

• Identificar os modelos de gestão ambiental implementados


atualmente no planeta.

• Caracterizar a importância da conservação ambiental e da


biodiversidade na sustentabilidade dos modelos econômi-
cos atuais.
12 Introdução a gestão ambiental

1 Biodiversidade e sua importância


Capítulo 1

Neste capítulo será avaliada a importância das espécies vegetais e animais na


sobrevivência do homem no planeta. As características e identificação dos
ambientes e da formação da biodiversidade. O papel dos ciclos globais dos
principais elementos da natureza.

Ao final deste capítulo esperamos que você esteja


apto a:
• Identificar a importância dos seres vivos para o homem
e o planeta;

• Caracterizar a importância da biodiversidade e a manutenção


da biosfera nos sistemas visando a sustentabilidade ambiental;

• Identificar a importância dos ciclos globais no equilíbrio


do planeta.
Biodiversidade e sua importância 13
Estima-se que em nosso planeta exista entre 10 e 15 milhões de espécies de

Capítulo 1
organismos vivos, a grande maioria composta por microrganismos. Atualmente
os biólogos e os demais profissionais das ciências naturais já identificaram cerca
de 1,4 milhão de espécies com predomínio dos insetos com cerca de 751 mil
espécies identificadas, seguido pelas demais classes de animais superiores com
281 mil espécies. As espécies vegetais identificadas são cerca de 249 mil. Os
fungos e espécies do gênero protista somam um pouco mais de 135 mil espécies.

As populações são compostas por grupos de indivíduos de mesma espécie


que interagem e ocupam determinado nicho no habitat. A comunidade
biológica é composta por todas as populações de um habitat que incluem as
espécies vegetais, animais e microrganismos que vivem e interagem entre si.
O ecossistema é mais abrangente e complexo que envolve as comunidades
biológicas e sua interação com o meio físico envolvendo a transferência de
matéria e energia.

Os sistemas que originam a sustentabilidade da vida no planeta contém ar,


água, solo, minerais e os seres vivos.

A atmosfera é um envelope gasoso delgado localizado ao redor do planeta.


A sua principal camada é a troposfera com espessura de, aproximadamente,
17 quilômetros acima do nível do mar e composta principalmente por
nitrogênio (78%) e oxigênio (21%). A camada imediatamente acima da
troposfera denomina-se estratosfera que se localiza na camada de 17 a
48 quilômetros acima do nível do mar, rico em ozônio (O3), elemento
fundamental na filtração da radiação ultravioleta emitida pelo sol,
fator fundamental para a vida no planeta, considerando que a radiação
ultravioleta destrói as células vivas.
14 Introdução a gestão ambiental

Camadas da atmosfera do planeta


Capítulo 1

A água existente no planeta nas suas diversas formas (água líquida dos rios
e mares, congeladas nas geleiras e na forma de vapor na atmosfera) compõe
a hidrosfera. A litosfera é composta de rocha e uma fina camada da crosta
terrestre onde se localiza o solo.

Distribuição da água doce no planeta

Fonte: http://www.iied.org (International Institute for Environment and Development)

A biosfera é a região onde encontramos os seres vivos. Desta forma, podemos


concluir que na biosfera encontramos os componentes abióticos ou não vivos
Biodiversidade e sua importância 15
(água, nutrientes, ar e energia solar) e os componentes bióticos ou vivos

Capítulo 1
(plantas, animais e microrganismos). Apesar da sua grande importância para
a vida no planeta, comparando com uma maçã, a biosfera tem espessura
semelhante a sua casca. Os sistemas estão intimamente interligados e qualquer
alteração nos sistemas interfere no todo causando efeito em cadeia.

A sustentabilidade da vida no planeta está baseada na energia solar, no ciclo da


matéria orgânica e mineral e na gravidade.

Apenas a bilionésima parte da energia emitida pelo sol atinge o nosso planeta
na forma de ondas eletromagnéticas. Apesar de chegar até a terra, grande parte
desta energia é refletida de volta para o espaço ou absorvida pelos elementos
químicos presentes na atmosfera. Os raios solares que atingem a superfície
da terra são, em grande parte, compostos por comprimentos de onda de luz
visível que podem ser facilmente identificadas no arco-íris. Da radiação solar
visível, os comprimentos de onda de cor vermelha e azul são fundamentais
para o processo de fotossíntese das plantas e produção de matéria orgânica.
Outra classe de comprimento de onda da radiação solar que atinge o planeta é
o infravermelho. Esta radiação interage na atmosfera com a água, CO2, CH4,
N2O, O3, elevando os seus estados energéticos e liberando calor, fundamental
para manutenção da vida no planeta. Desta forma podemos concluir que
a radiação solar aquece a atmosfera, recicla a água, gera o vento e sustenta
energeticamente o crescimento e o desenvolvimento vegetal.

Os ciclos da matéria orgânica e minerais são necessários para a sobrevivência


dos organismos vivos uma vez que o planeta é um sistema praticamente
fechado, com a entrada de material vindo do espaço sendo insignificante no
suprimento de nutrientes que devem ser constantemente reciclados para a
sustentabilidade dos seres vivos.

A terra é um planeta favorável à vida, considerando seus vários aspectos. A


órbita do planeta, por exemplo, está na distância ideal do sol proporcionando
a temperatura adequada. Planetas como Vênus são muito quentes por estarem
muito próximos ao sol, assim como Marte que está a uma distância maior,
apresentando temperaturas extremamente baixas. O movimento de rotação
do planeta também favorece o equilíbrio da temperatura. O seu tamanho
também permite a manutenção de sua massa gravitacional impedindo que as
moléculas de gases livres presentes na atmosfera escapem para o espaço.
16 Introdução a gestão ambiental

1.1 Biodiversidade
Capítulo 1

A biodiversidade também denominada diversidade biológica é um dos recursos


renováveis mais importantes e está sustentado por quatro componentes
fundamentais. As plantas denominadas produtoras, os consumidores,
animais classificados nos seus respectivos níveis tróficos como os herbívoros
e carnívoros, os decompositores formados pelos microrganismos como as
bactérias e fungos e finalmente os compostos químicos abióticos como água,
oxigênio e os minerais.

A diversidade biológica é o nosso principal capital biológico fornecendo


alimentos, madeira, fibras, energia, matérias-primas e medicamentos, além
de auxiliar na preservação da qualidade o ar, da água, da fertilidade do solo,
do controle da população de pragas que atacam as plantações. Desta forma a
compreensão, a manutenção, e a proteção da biodiversidade deve ser um dos
grandes objetivos da humanidade, preservando a sua própria existência.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente


Biodiversidade e sua importância 17

1.2 Os ciclos globais

Capítulo 1
Os seres vivos do planeta estão interligados pelos sistemas de ciclagem dos
elementos. Estes ciclos também denominados de ciclos biogeoquímicos estão
relacionados à vida no planeta. Os elementos minerais circulam continuamente
entre os diversos componentes da biosfera como o ar, água, solo, rocha e
organismos vivos.

Dentre os diversos ciclos de grande importância temos o ciclo hidrológico


também denominado ciclo da água. O processo do ciclo hidrológico tem início
na energia solar, transferida para a água presente na superfície do planeta,
iniciando seu processo de evaporação para a atmosfera. Segundo estimativas,
84% do vapor de água da atmosfera tem origem dos oceanos. Parte do vapor
de água dos oceanos é conduzida para o continente onde retorna para a
superfície da terra através das chuvas (precipitação). Uma parte desta água fica
retida nas geleiras, outra cai diretamente nos rios e lagos e grande parte atinge
o solo, infiltra e é armazenada nas áreas subterrâneas, denominados aquíferos,
originando os lençóis freáticos, semi-artesianos e artesianos. Outra parte da
água precipitada sobre o solo escorre superficialmente fluindo diretamente
para rios e lagos, podendo durante o seu movimento, causar erosão superficial,
transportando solos e pequenos fragmentos de rocha para outras regiões.
Parte das águas das chuvas que infiltraram no solo retornarão à superfície
através das nascentes, que também irão abastecer os rios e lagos. As águas
subterrâneas são capazes de dissolver vários compostos nutrientes das rochas
que são transportados para outros ecossistemas. A água também é purificada
durante o seu ciclo. A evaporação permite a movimentação para a atmosfera
apenas da água, precipitando no continente uma água purificada, semelhante
ao processo de destilação. Durante o processo de infiltração da água no solo
ocorre nova etapa de purificação da água. Os solos e as rochas atuam como
um filtro retendo as impurezas. Deste modo podemos considerar o ciclo
hidrológico como um processo natural de purificação da água.
18 Introdução a gestão ambiental

O ciclo hidrológico
Capítulo 1

O homem ao longo dos séculos tem interferido significativamente no seu


ciclo e, consequentemente, na sua renovação. O desmatamento visando o uso
para fins agropecuários, a construção de estradas e cidades reduz a infiltração,
comprometendo o abastecimento dos aquíferos subterrâneos.

Estes processos aumentam o escoamento superficial causando erosões, enchentes,


deslizamentos de terra, assoreamento de rios, dentre outros problemas. As práticas
agrícolas também prejudicam a qualidade das águas através da contaminação com
fertilizantes que contém diversos elementos minerais, dentre eles o nitrogênio e
o fósforo, além dos agrotóxicos.

O ciclo do carbono tem como ponto de partida o gás carbônico (CO2),


que compõe 0,038% do volume da troposfera. Grande quantidade de CO2
encontra-se dissolvido nas águas, principalmente nos mares. O CO2 atua
de forma significativa na temperatura do planeta. O aumento de CO2 na
atmosfera eleva a retenção de radiação infravermelha e, consequentemente,
promove o aumento da temperatura ambiente que compromete o equilíbrio
de todos os ciclos do planeta. Os organismos produtores (plantas) retiram o
CO2 do ar e da água utilizando-o para a fotossíntese e produção de compostos
orgânicos como a glicose.
Biodiversidade e sua importância 19
A totalidade dos seres superiores são aeróbicos e heterotróficos, consumindo

Capítulo 1
oxigênio e matéria orgânica e liberando CO2 no meio ambiente, o mesmo
ocorrendo com os decompositores, onde a grande maioria são aeróbicos
e heterotróficos, também liberando CO2 no meio ambiente. A ação dos
organismos vivos promove a circulação do carbono na biosfera. Elementos como
o oxigênio e o hidrogênio, componentes essenciais das moléculas orgânicas,
circulam juntamente com o carbono.

Parte das moléculas orgânicas de carbono (plantas, microrganismos e animais)


foi removida temporariamente dos ciclos da biosfera sendo naturalmente
enterrada e comprimida entre as camadas de sedimentos onde formam os
combustíveis fósseis, o petróleo e o gás natural. Estes materiais que demoraram
milhões de anos para serem formados, ao longo de várias eras geológicas,
são consumidos em poucos anos visando a geração de energia, processo que
aumenta significativamente a quantidade de CO2 na atmosfera. A rápida
destruição das matas e florestas também acelera o processo de liberação de
CO2 para atmosfera, principalmente através das queimadas. A elevação do
CO2 na atmosfera tende a aumentar naturalmente o efeito estufa do planeta,
favorecendo o aquecimento e alterando todo o clima global, Isso compromete
a produção de alimentos, altera os processos de precipitação e eleva os níveis
dos mares em várias partes do planeta.
Elevação do CO2 da atmosfera nas últimas décadas
20 Introdução a gestão ambiental
Capítulo 1

Recapitulando

Neste capítulo avaliou-se a importância dos seres vivos e dos ecossistemas na


sobrevivência do homem no planeta. As características e identificação dos
ambientes e a formação da biodiversidade. O papel dos ciclos globais dos
principais elementos da natureza e a interferência do homem alterando seus
ciclos e comprometendo o equilíbrio natural da biosfera.
21

2 Sustentabilidade dos recursos e da qualidade

Capítulo 2
ambiental
Neste capítulo será analisado o histórico de colonização do planeta pelo homem
e seu processo de ocupação e exploração dos recursos naturais. O papel do
aumento populacional no consumo dos recursos naturais. O crescimento e
desenvolvimento econômico associado à pobreza mundial. Consumo exagerado
de recursos – comportamento e geração de poluentes. O papel do PNRS no
processo de gestão dos poluentes.

Ao final deste capítulo esperamos que você esteja


apto a:
• Identificar a forma de colonização do planeta pelo homem.

• Caracterizar o crescimento populacional nas diferentes


partes do planeta.

• Distinguir crescimento e desenvolvimento econômico.

• Analisar os sistemas de produção de poluentes e identificação


de suas características.
22 Introdução a gestão ambiental

O desenvolvimento da civilização humana é uma história marcada por


Capítulo 2

mudanças impostas aos sistemas naturais do planeta para atender aos padrões
de vida sofisticados e confortáveis – e um número cada vez maior de pessoas.
Nas civilizações antigas, a transição para estruturas sociais e políticas mais
complexas esteve intimamente ligada a grandes projetos de engenharia que
trariam alguma vantagem ao homem, tais como desmatar florestas para dar
lugar à agricultura e alterar o curso dos rios para irrigar as lavouras.

Segundo os cientistas, o planeta foi formado há aproximadamente 4,6


bilhões de anos. Após sucessivas transformações em sua estrutura geológica
e atmosférica além das sucessões dos seres vivos, estamos atualmente na era
antropogênica, de domínio do homem. No período anterior ao ano 8.000 AC,
o ser humano sobreviveu exclusivamente da caça e da coleta. A partir deste
período o homem iniciou o processo de revolução agrícola através do cultivo do
solo. Durante este período até próximo à Revolução Industrial a população do
planeta crescia de forma pouco expressiva, considerando-se, principalmente,
as elevadas taxas de mortalidade. A partir do período da revolução industrial,
com as necessidades de mão de obra nas fábricas e os ganhos financeiros do
trabalhador assalariado, houve uma melhora na qualidade de vida das pessoas,
para os padrões da época e, consequentemente, um aumento da capacidade
reprodutiva do indivíduo e a redução dos índices de mortalidade. A partir
do século 20, com o avanço da ciência e da tecnologia, principalmente após
a Segunda Guerra Mundial, as taxas reprodutivas da população aumentaram
significativamente, superando rapidamente os bilhões de habitantes. Apenas
entre 1950 e 2005, ou seja, 55 anos, a população mundial aumentou de 2,5
bilhões de habitantes para 6,5 bilhões. Atualmente somos aproximadamente 7
bilhões de pessoas no planeta com previsão de atingirmos valores entre 8 e 10
bilhões antes do final deste século.

A população mundial cresce em proporção geométrica e a taxa de crescimento,


por menor que seja, induz a graves problemas no equilíbrio da sociedade e do
meio ambiente.
Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 23
Problemas gerados pelo crescimento populacional

Capítulo 2
Fonte: IBGE

Em 1963, a taxa de crescimento da população mundial era de 2,2% ao ano


e, segundo os últimos estudos, encontra-se atualmente em 1,2% ao ano.
Considerando a atual população mundial, significa que, no saldo entre
nascimentos e mortes, cerca de 78 milhões de pessoas passam a fazer parte do
planeta a cada ano ou 214 mil pessoas por dia consumindo energia e recursos
naturais renováveis. Em função desse aumento crescente da população, os
estudos de gestão ambiental e sustentabilidade devem ser frequentes visando
receber esses novos indivíduos em nossa cadeia de consumo, reduzindo ao
máximo os seus impactos nos sistemas naturais.
24 Introdução a gestão ambiental

Taxa de crescimento da população mundial


Capítulo 2

Milhões de pessoas
3

0
Anos D.C.

1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000

Adaptado de Corson, 1990, p.25.

A sustentabilidade é a base da sobrevivência do homem no planeta e está associada


não apenas à questão ambiental mas na sua interação aos diversos sistemas
existentes, principalmente às atividades sociais e econômicas visando a redução
dos impactos ambientais através da adaptação e harmonização com os sistemas.

O capital natural do planeta é composto pelos seus recursos naturais,


fundamentais para a manutenção da vida. Os seus principais componentes são
o ar, a água, o solo, a biodiversidade, os minerais e os complexos energéticos
renováveis como o sol, vento, fluxo de água e os não renováveis como os
combustíveis fósseis. Esses recursos naturais atuam em conjunto, criando
condições que afetam diretamente a qualidade de vida do homem como
a purificação do ar e da água, renovação do solo, ciclagem dos nutrientes,
polinização, renovação das florestas, controle de pragas, produção de alimentos,
dentre outros.

É preciso que o homem reconheça que sua ação, consciente ou não, tende a
explorar os recursos naturais renováveis de forma mais intensa que a natureza
consegue renovar. Diversos são os exemplos que caracterizam esta situação
como nos solos utilizados para fins de produção de alimentos. Em condições
naturais, sob vegetação nativa, a formação dos solos ocorre de forma lenta
Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 25
e gradual. Para a formação de uma camada de 1 centímetro de solo no

Capítulo 2
limite com a rocha, a natureza demora de 100 a 150 anos. Sob condições
antrópicas e uso agrícola, o processo acelera em função de sua exposição
ao meio ambiente externo, a ação de máquinas, implementos e compostos
químicos como fertilizantes e agrotóxicos. Desta forma, o processo de
formação de uma camada de 1 centímetro de solo é reduzido para poucas
décadas ou até mesmo anos, dependendo das condições climáticas da região.
Mas, sob condições de manejo inadequado e exposição ao ambiente externo,
principalmente às chuvas, o centímetro de solo formado em alguns anos é
perdido em poucas horas através dos processos erosivos.

A reposição natural dos recursos renováveis ocorre de forma variada podendo


ser em algumas horas e até mesmo em várias décadas ou séculos. Todo o processo
humano de utilização dos recursos naturais deve estar baseado na capacidade
de renovação dos recursos que serão explorados incluindo os campos, florestas,
animais selvagens, água doce, ar e solo. O uso do recurso natural renovável
pode ser indefinido em função de sua intensidade de exploração, adequada a
sua constante renovação, denominado produção sustentável. Quando a taxa
de utilização excede o valor da taxa de reposição natural do recurso renovável
as reservas declinam caracterizando a degradação ambiental.

2.1 Compatibilizar o crescimento e desenvolvimento


econômico com o uso sustentado dos recursos
O crescimento econômico de um país é quantificado pela variação percentual
dos valores do seu Produto Interno Bruto (PIB) e está associado à produção
de bens e fornecimento de serviços à população, produzidos por empresas e
organizações nacionais e internacionais que realizam suas atividades no país.
A avaliação de crescimento também está associada ao tamanho da população,
também denominado PIB per capta, ou seja, o valor do PIB dividido pelo
total da população.

Considerando o PIB per capta e o crescimento econômico de uma nação,


o aumento da produção de riquezas deve estar intimamente relacionado ao
desenvolvimento econômico que avalia a melhoria da qualidade de vida de
uma população. Segundo estudos da Organização das Nações Unidas e do
Banco Mundial, em 2005, 19% da população mundial encontrava-se nos países
26 Introdução a gestão ambiental

desenvolvidos que concentravam 85% da renda e das riquezas do planeta. Este


Capítulo 2

acúmulo de riquezas está intimamente associado ao uso de recursos naturais.


Segundo o relatório da ONU, do total dos recursos naturais utilizados no
planeta, 88% ocorre nos países desenvolvidos além de 75% da poluição gerada
e do desperdício associado ao consumo exagerado da população.

Nas últimas décadas o desenvolvimento econômico gerou benefícios à população


dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas em proporções diferenciadas.
A expectativa de vida das pessoas, por exemplo, dobrou no planeta desde 1950,
mas nos países em desenvolvimento essa expectativa é 13 anos menor quando
comparada aos países desenvolvidos. A mortalidade infantil reduziu pela metade
na última década, mas ainda é nove vezes maior nos países em desenvolvimento.
Nas últimas duas décadas, o número de pessoas vivendo na pobreza absoluta re-
duziu em 6% no planeta, mas metade dos trabalhadores do mundo sobrevive com
ganhos inferiores a US$2,00 por dia.

Considerando os atuais problemas ambientais do planeta e suas possíveis


implicações na qualidade de vida da população, verifica-se a necessidade de
se avaliar as suas principais causas e propor alternativas para redução de seus
impactos. Dentre os diversos fatores que interferem de forma significativa
no equilíbrio ambiental, temos como principais o crescimento populacional,
o desperdício de recursos naturais, a pobreza, a falta de responsabilidade da
sociedade com o meio ambiente e o desconhecimento dos fatores ecológicos
que geram implicações na qualidade de vida. Desta forma, a sustentabilidade
ambiental e a utilização de seus recursos não passam apenas pela ação direta
da preservação, recuperação e conservação, mas também na atuação direta da
solução dos problemas sociais, identificando suas causas básicas.

2.2 Ação direta da pobreza na degradação ambiental


A preocupação mundial em relação à preservação dos recursos naturais e
ambientais do planeta induz a realização de pesquisas desenvolvidas com
o objetivo de identificar as principais causas, os causadores e as principais
consequências do processo de degradação ambiental, bem como buscar
alternativas para a solução dos problemas decorrentes da degradação.
Conforme citado nos trabalhos de Hayes e Nadkarni (2001) e Alier
(1998), essa degradação ocorre tanto em países desenvolvidos como em
desenvolvimento, meio urbano e rural por meio da pressão que a produção
Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 27
e a população exercem sobre os bens e serviços gerados pelo uso dos recursos

Capítulo 2
naturais. Entretanto, a questão que envolve a degradação ambiental nos países
desenvolvidos passou ser analisada sob outro ponto de vista, após o Relatório
“Nosso Futuro Comum” (WCED, 1987). Neste relatório desenvolve-se a
visão de que os países em desenvolvimento exercem papel na degradação dos
recursos naturais e ambientais mais expressivos do que os países desenvolvidos.
A partir desse relatório, conhecido também como Relatório Brundtland, a
degradação ambiental passou a ser associada ao grau de pobreza da população,
levando muitos pesquisadores a estudar de forma mais detalhada este tema,
com objetivo de verificar alguma relação entre a condição de pobreza e a
degradação ambiental.

A pobreza e a miséria absoluta estão presentes em grande parte do planeta,


principalmente nos continentes africano, asiático e parte da América Latina.
A grande maioria desta população de excluídos não tem acesso aos serviços
básicos como rede de esgoto, coleta de lixo, água tratada, assistência médica
dentre outros que comprometem a sua saúde e seu potencial produtivo. A sua
força de trabalho é voltada única e exclusivamente para a aquisição ou busca de
alimentos, água, dentre outros componentes básicos para a sua sobrevivência.
O avanço sobre os recursos naturais para obtenção destes componentes básicos
ocorre através de processos sem controle ou qualquer manejo sustentável,
extremamente degradante, mas que tem como raiz o desespero de indivíduos
que, por razões óbvias, não se preocupam com a qualidade e a sustentabilidade
do meio ambiente.

A pobreza também está intimamente relacionada ao crescimento populacional.


O aumento do número de indivíduos na família está baseado no aumento
da renda familiar total como o auxílio família, bolsa família, dentre outros
recursos governamentais existentes, principalmente no Brasil. Os jovens
também são vistos como mão de obra que atuarão no sustento da família
na busca de suprimentos, madeira para produção de energia, água, cuidados
com a lavoura e a criação de animais. Os filhos também têm a função de
substituir os pais no sustento da família quando os mesmos se tornarem
incapacitados para o trabalho e obtenção de recursos. Nos países onde a
pobreza impera, a expectativa de vida das pessoas é reduzida, muitas vezes
inferior a 50 anos, com as mortes ocorrendo por desnutrição, problemas de
saúde de fácil prevenção e doenças infecciosas como a diarreia e sarampo,
que na maioria dos casos, não são fatais, mas que se tornam extremamente
28 Introdução a gestão ambiental

graves por conta das condições de vida do indivíduo.


Capítulo 2

Em muitos países pobres o processo de geração de muitos filhos visando


à sustentabilidade futura da família é baseado na ausência de planos
governamentais de garantias de sobrevivência como os planos de previdência,
seguridade social e planos de saúde governamentais. Segundo a Organização
Mundial de Saúde, estes e outros fatores causam a morte de 7 milhões de
pobres no mundo todos os anos, ou 19.200 pessoas por dia, sendo que dois
terços destas mortes ocorrem com crianças abaixo de cinco anos de idade.

Levantamento realizado pelas Nações Unidas, Banco Mundial e Organização


Mundial de Saúde mostra que atualmente cerca de 2,4 bilhões de pessoas
no mundo (37%) não têm acesso a saneamento básico e 1,1 bilhão (17%)
não têm água potável limpa disponível. O mesmo número de pessoas (1,1
bilhão) também não tem acesso à assistência médica adequada ou alimentação
suficiente.

2.3 Consumo supérfluo


Nos países desenvolvidos, o crescimento econômico gerou de forma direta
uma significativa mudança, melhorando o poder de compra das pessoas e a
qualidade de vida. No atual estilo de vida da população de países desenvolvidos
está a premissa do superconsumismo e do materialismo. Esse exagero é expresso
de forma muito objetiva na frase do humorista americano Will Roger, quando
disse que “muitas pessoas gastam dinheiro que não ganharam para comprar
coisas que não querem e impressionar pessoas que não gostam”.
Na sociedade de consumo as pessoas simplesmente compram produtos. Isso
sempre ocorreu e sempre ocorrerá em qualquer grupo social. Esse conceito é
adequado para um padrão de vida que se caracteriza pela compra de produtos
supérfluos. Em uma sociedade onde os indivíduos adquirem carros para
transporte, não é uma sociedade consumista. Em outra, na qual os carros são
adquiridos para simbolizar status ou posição social, essa, sim, pode ser chamada
de sociedade de consumo, ou ainda uma sociedade consumista. Neste caso não
é o simples fato de consumir, mas o consumo de bens simbólicos e reflexivos,
numa lógica utilitarista, de supérfluos.
Maslow (1954) e McGregor (1960) citam o comportamento motivacional
explicado pelas necessidades humanas. A motivação é consequência dos
Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 29
estímulos que atuam de forma intensa sobre as pessoas, levando-as a ação.

Capítulo 2
Para que a ação ou reação venha a ocorrer é preciso que um estímulo seja
introduzido no sistema, decorrente de fatores externos ou proveniente do
próprio organismo. Esta teoria nos dá ideia do ciclo motivacional.
Quando o ciclo motivacional não se concretiza, a frustração torna-se um fator
significativo na vida do indivíduo que poderá assumir várias posturas diante
da situação:
1. Comportamento ilógico ou sem normalidade;
2. Agressividade por não poder dar vazão à insatisfação contida;
3. Nervosismo, insônia, distúrbios circulatórios/digestivos;
4. Falta de interesse pelas tarefas ou objetivos;
5. Passividade, moral baixo, má vontade, pessimismo, resistência às
modificações, insegurança, não colaboração, etc.

Segundo Guterman (2011), podemos definir consumismo como uma


compulsão para consumir. Essa compulsão pode se manifestar em vários graus,
desde a compra ocasional em que se chega em casa com a sensação de que não
precisava ter comprado aquele aquecedor de travesseiros que parecia ser tão
útil quando você estava na loja, até o closet transbordando com centenas de
pares de sapato. Abaixo o autor cita alguns sinais inequívocos de que o vírus
do consumismo está instalado no seu organismo:
• Você não consegue sair de um shopping center sem pelo menos uma
sacola na mão;
• Qualquer objeto comprado há mais de um ano, desde um relógio até
um automóvel, lhe parece insuportavelmente velho e ultrapassado,
precisando urgentemente ser trocado;
• Você estoura o seu limite do cartão de crédito com frequência;
• Você se sente rebaixado, humilhado, arrasado, quando alguém
próximo (o cunhado, o vizinho) aparece com um objeto mais
moderno, mais atual, mais caro...
• Os objetos de marca exercem um fascínio irresistível sobre você;

• Ir às compras é o seu hobby predileto.
30 Introdução a gestão ambiental

Nos países em desenvolvimento, uma família necessitaria ter de 60 a 200


Capítulo 2

filhos para atingirem o mesmo consumo de recursos durante a vida quando


comparados a de duas crianças de uma família típica dos Estados Unidos.
Um cidadão norte-americano de classe média apresenta um consumo
aproximadamente 30 vezes superior a de um cidadão indiano de classe
média e cerca de 100 vezes mais que um habitante de classe média dos
países mais pobres.

2.4 Mudanças de comportamento


O primeiro ponto que devemos entender em relação ao indivíduo consumista
é a motivação. Com raras exceções, um ser humano não consumirá nada se
não estiver motivado.

A motivação envolve ações e atividades as quais nos conduzem a um


determinado objetivo. Podemos nos tornar motivados ou estimulados por
meio de necessidades internas ou externas que podem ser de caráter fisiológico
ou psicológico.

Serrano (2003) cita exemplos muito claros a respeito. Se ficarmos sem tomar
água por algum tempo, o nosso organismo reagirá de uma forma tal que
constantemente nos sentiremos compelidos a buscar nosso objetivo, ou seja,
saciar a sede. O comportamento motivado tenderá a prosseguir até que nosso
objetivo seja alcançado, de forma a reduzir a tensão que estamos sentindo.
Muitas vezes conseguimos driblar a necessidade com outro aspecto. Se estamos
com sono, por exemplo, todo o nosso comportamento se voltará a perseguir
o objetivo de acabar com o sono, ou seja dormir. Se, no entanto, algum outro
fato nos motivar, um filme na televisão, por exemplo, ou uma reunião de
amigos, o nosso comportamento fará com que os sintomas de sono sejam
temporariamente esquecidos.

A estimulação interna, no entanto, pode não ser de ordem fisiológica,


remetendo o indivíduo à fantasia. Mesmo sem estar com sede, imaginar uma
garrafa de Coca-Cola gelada pode me fazer sentir todos os sintomas da sede,
desta vez não porque o meu organismo necessita de água, mas porque a
minha imaginação pôs em funcionamento os mecanismos do corpo que me
fariam sentir a mesma sede.
Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 31
Após décadas de crescimento e desenvolvimento econômico baseado no

Capítulo 2
consumo das reservas naturais do planeta, o comportamento dos gestores e
das pessoas começou a mudar na década de 70, percebendo que o acúmulo de
riquezas não precisava, necessariamente, estar associado à redução da qualidade
ambiental. Várias nações prevêem atualmente em seus orçamentos recursos
para o desenvolvimento de tecnologias visando a redução da poluição, da
degradação ambiental e do desperdício de recursos. Nos Estados Unidos, por
exemplo, a qualidade da água e do ar atualmente é melhor quando comparada
à década de 70.

A implementação da revolução ambiental e da sustentabilidade está baseada


em vários princípios que estão substituindo os mecanismos atuais de controle
ambiental. Dentro da política atual está inserido o processo de extinção da
poluição, do descarte correto dos resíduos, da proteção das espécies, da redução
da degradação ambiental, do aumento do uso dos recursos de forma racional
e da redução da degradação do capital natural. Nas diretrizes da revolução
ambiental de da sustentabilidade tem-se como princípios a prevenção da
poluição e a inserção dos sistemas de produção mais limpa (P+L) nas indústrias,
prevenção e redução da produção de resíduos, proteção dos habitats (local
onde as espécies vivem), restauração ambiental, redução do desperdício e do
uso dos recursos e a proteção do capital natural com exploração racional do
retorno biológico.

Neste novo modelo de desenvolvimento econômico, os governos incentivam


as formas sustentáveis de crescimento econômico através da disponibilização
de incentivos fiscais, subsídios e inúmeros encargos fiscais e econômicos para
os sistemas de produção não sustentáveis, que geram danos ao meio ambiente
visando as mudanças de atitude dos grupos econômicos.

2.5 Geração de poluentes


O homem sempre gerará poluentes. Desta forma, devemos focar as
ações na redução de sua geração e eliminação de alguns que produzimos,
preferencialmente aqueles que promovem maiores danos ao meio ambiente.
Outro princípio importante que também está sendo adotado em relação aos
resíduos, principalmente aos potencialmente prejudiciais, é a sua conversão
para formas químicas e físicas menos nocivas ao meio ambiente.
32 Introdução a gestão ambiental

Considerando o poluente gerado, a sua classificação é baseada em três aspectos:


Capítulo 2

a sua natureza química, sua concentração e sua persistência.

Muitos elementos químicos estão presentes na natureza fazendo parte dos


sistemas biogeoquímicos. Os problemas ambientais iniciam-se quando a sua
concentração se eleva, comprometendo o seu papel nos ciclos naturais. Os rios,
por exemplo, tem a capacidade de diluir e dispersar alguns poluentes e, até
mesmo, eliminá-los em um sistema de autodepuração que envolve a aeração
das águas e atividade microbiológica. Quando os poluentes são adicionados
em grandes quantidades nos rios, o seu processo de diluição e autodepuração
poderá ficar comprometido, prejudicando sua eliminação.

A persistência dos poluentes também interfere diretamente no seu potencial


de contaminação ambiental e está associado ao tempo em que o composto
permanece no ambiente (ar, água, solo e organismos vivos).

Na classificação de persistência dos poluentes são identificados os degradáveis


ou não persistentes, que são decompostos rápida e completamente, sendo
reduzidos a níveis aceitáveis e incorporados nos sistemas naturais. Os
poluentes biodegradáveis são classificados como compostos químicos
decompostos por microrganismos em substâncias químicas mais simples. O
esgoto doméstico, por exemplo, onde compostos orgânicos complexos são
degradados em CO2 e H2O.

Os poluentes lentamente degradáveis demoram décadas para sofrerem


degradação, características dos plásticos, politereftalatos e alguns agrotóxicos,
principalmente os organoclorados.

Os poluentes que não sofrem degradação pelos processos naturais são


classificados como não degradáveis. Temos como exemplo os metais pesados
como o chumbo e o mercúrio, dentre outros, que podem ser incorporados a
moléculas orgânicas complexas, mas não transformados. Nestes casos o ideal
seria sua não utilização, evitando a sua geração de resíduos.
Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 33
Tempo de degradação dos resíduos

Capítulo 2
Resíduos Tempo necessário
Jonais 2 a 6 semanas
Cascas de fruta 3 meses
Guardanapos de papel 3 meses
Embalagens de papel 1 a 4 meses
Pontas de cigarro 2 anos
Pastilhas elásticas 5 anos
Pedaços de madeira com tinta 13 anos
Ferro 100 anos
Pilhas 100 a 500 anos
Latas de alumínio 100 a 500 anos
Sacos e copos de plástico 200 a 450 anos
Embalagens de plástico e vidro Tempo indeterminado
Disponível em: <http://candeiascidadedasluzes.blogspot.com/2010/01/tempo-de-
decomposicao-de-lixos-no-mar-e.html> . Acesso em: 8 de set. 2011.

2.6 Política Nacional de Resíduos Sólidos


Em 2009, o Brasil gerou mais de 57 milhões de toneladas de resíduos sólidos,
de acordo com os dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais. No entanto, esses resíduos nem sempre recebem a
correta gestão e gerenciamento. Para se ter uma ideia do cenário, os resultados da
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008 do IBGE apontam os “lixões”
como o destino final dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios brasileiros.

Destino final dos resíduos sólidos por unidade de destino dos resíduos, em %,
no Brasil de 1989 a 2008.
34 Introdução a gestão ambiental

Adaptado de IBGE – Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2008


Capítulo 2

Vazadouro a Aterro Aterro


Ano
Céu Aberto Controlado Sanitário
1989 88,2 9,6 1,1
2000 72,3 22,3 17,3
2008 50,8 22,5 27,7

Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_


impressao.php?id_> . Acesso em 8 de set. 2011.

Para tratar dessa matéria, a Política Nacional de Resíduos Sólidos inova ao


estabelecer uma ordem de prioridade para a gestão e gerenciamento de resíduos
sólidos, qual seja: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento
dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
A questão dos resíduos exige conhecimento, comprometimento e mudança
de atitude. A imposição de novas regras para a gestão e o gerenciamento de
resíduos pode estimular as empresas a adotarem práticas para a redução dos
custos totais de um produto ou que agreguem valor ao mesmo, tornando o
processo produtivo mais rentável e competitivo.

Classificação dos Resíduos Sólidos


De acordo com a PNRS, os resíduos sólidos são classificados quanto à origem
e à periculosidade.

Quanto à origem podem ser:

a)resíduos domiciliares:

Originários das atividades domésticas em residências urbanas;

b) resíduos de limpeza urbana:

Originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços


de limpeza urbana;

c) resíduos sólidos urbanos:


Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 35
Compreendem os resíduos domiciliares e os resíduos de limpeza urbana;

Capítulo 2
d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: Resíduos
gerados nessas atividades, excetuados os resíduos de limpeza urbana, os resíduos
de serviços públicos de saneamento básico, de serviço de saúde, serviços de
transporte e de construção civil. Se os resíduos de estabelecimentos comerciais
e prestadores de serviços forem caracterizados como não perigosos, os mesmos
podem, em razão de sua natureza, composição ou volume, ser equiparados aos
resíduos domiciliares pelo poder público municipal.

e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico:

Resíduos gerados nessas atividades, excetuados os resíduos sólidos urbanos;

f ) resíduos industriais:

Resíduos gerados nos processos produtivos e instalações industriais;

g) resíduos de serviços de saúde:

Resíduos gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento


ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS;

h) resíduos da construção civil:

Gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de


construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de
terrenos para obras civis;

i)resíduos agrossilvopastoris:

Resíduos gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os


relacionados a insumos utilizados nessas atividades;

j) resíduos de serviços de transportes:

Resíduos originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários


e ferroviários e passagens de fronteira;

k) resíduos de mineração:
36 Introdução a gestão ambiental

Resíduos gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de


Capítulo 2

minérios.

Quanto à periculosidade podem ser:

a)resíduos perigosos:

Resíduos inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos, patogênicos, cancerígenos,


teratógenos e mutagênicos, que apresentam significativo risco à saúde pública
ou à qualidade ambiental, de acordo com Lei, regulamento ou norma técnica;

b) resíduos não perigosos:

São aqueles não enquadrados como resíduos perigosos.

Um dos objetivos da PNRS foi a instituição de uma ordem de prioridade para


a gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, que consiste na:

1. Não geração;

2. Redução;

3. Reutilização;

4. Reciclagem;

5. Tratamento dos resíduos sólidos;

6. Disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.


Sustentabilidade dos recursos e da qualidade ambiental 37
Plano de gestão de resíduos sólidos

Capítulo 2
PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS
P LANO N ACIONAL DE R ESÍDUOS S ÓLIDOS

P LANOS E STADUAIS DE R ESÍDUOS S ÓLIDOS

Planos Microrregionais Planos Municipais de


de resíduos sólidos e Planos Intermunicipais gestão integrada de
planos de resíduos de resíduos sólidos residuos sólidos
sólidos de regiões
metropolitanas ou
aglomerações urbanas
Planos de gerenciamento de
resíduos sólidos

Recapitulando

Neste capítulo analisamos o histórico de colonização do planeta pelo homem


e seu processo de ocupação e exploração dos recursos naturais. O papel do
aumento populacional no consumo dos recursos naturais. O crescimento
e desenvolvimento econômico associado à pobreza mundial. O consumo
exagerado de recursos – comportamento e geração de poluentes. O papel do
PNRS no processo de gestão dos poluentes.
38 Introdução a gestão ambiental
Capítulo 2

Exercícios de fixação

1. Explique de que forma a pobreza e a desigualdade social atuam no processo


de degradação ambiental.

2. Descreva crescimento e desenvolvimento econômico e explique por que


o crescimento pode não estar ligado diretamente ao desenvolvimento
econômico.

3. Explique por que podemos considerar a radiação solar como a fonte de


energia básica que sustenta os ciclos de vida do planeta.

Confira as respostas dos exercícios acessando o Portal


Univale Virtual.
Unidade 2
Sistemas de
gestão ambiental
Aspectos econômicos
-- Índice Dow Jones de Sustentabilidade

Educação ambiental
Histórico das políticas públicas de gestão ambiental
-- Estudo de Impacto Ambiental
-- Relatório de Impacto Ambiental
-- Licenciamento ambiental
-- Instrumento econômico de gestão ambiental
-- Instrumentos fiscais
-- Instrumentos de mercado
-- Permissões de emissões transferíveis
-- Sistema depósito-retorno
-- Responsabilidade estendida
-- Responsabilidade compartilhada
-- Logística reversa
-- Estruturação e implementação do sistema de logística reversa
Unidade 2
40 Introdução a gestão ambiental

Sistemas de gestão ambiental


Nesta unidade será abordado o papel do mercado econômico e dos governos
em valorizar financeiramente as ações ambientais através de benefícios
financeiros e a valorização da marca pela adoção das boas práticas ambientais
no seu sistema produtivo. Será avaliado o papel das políticas públicas
no processo de gestão ambiental das empresas e o papel da sociedade na
preservação do meio ambiente. Inserido neste processo de eventos de âmbito
local e global, o papel da educação ambiental na conscientização do cidadão
na dinâmica do mundo moderno.

Ao final desta unidade, você deverá estar apto a:


• Identificar a importância dos novos modelos econômicos
mundiais na preservação ambiental.

• Identificar os modelos de gestão desenvolvidos nos diferentes


países visando a adequação das empresas aos novos modelos
de gestão.

• Caracterizar o papel da educação ambiental no processo de


mudança comportamental das sociedades modernas.
41

3 Aspectos econômicos

Capítulo 3
Neste capítulo será descrito a responsabilidade das empresas e do cidadão na
manutenção da sustentabilidade ambiental através da produção e consumo de
produtos ecologicamente corretos. O papel dos governos no estímulo a adoção
das boas práticas pelas empresas e suas penalizações associados ao caráter
poluidor. A criação do Índice Dow Jones de Sustentabilidade.

Ao final deste capítulo esperamos que você esteja


apto a:
• Identificar o papel das empresas nos modelos de
sustentabilidade.

• Identificar o papel da sociedade como agente modificador


dos processos produtivos industriais.

• Caracterizar o papel da economia sustentável, associado aos


fatores sociais.
42 Introdução a gestão ambiental

O PIB (Produto Interno Bruto) e o PIB per capta são modelos de avaliação
Capítulo 3

de desenvolvimento econômico das nações. O PIB mede o valor econômico


de tudo o que foi produzido por uma nação, mercadorias e serviços, sem
caracterização de seus sistemas produtivos ou impactos causados ao meio
ambiente ou socialmente justos. A criação deste índice pelos economistas teve
foco, única e exclusivamente no fator econômico.

Os bens e serviços econômicos apresentam custos diretos que estão associados


ao seu processo produtivo. Quando se compra um bem durável como uma
geladeira, o valor final do produto inclui os custos da matéria prima, o trabalho
destinado a sua produção, a energia gasta, a remessa do produto e o lucro final
do produtor e do revendedor.

Todo o processo de fabricação, distribuição e utilização dos bens também


apresentam custos indiretos ou externos que não fazem parte do seu preço de
mercado, mas afetam toda a sociedade, além do fabricante e do comprador.
Por exemplo, para se fabricar a geladeira são utilizados recursos naturais não
renováveis para a produção do aço, por exemplo, gerando resíduos sólidos,
muitas vezes poluindo o ar e a água. Os custos externos ambientais, em algum
momento, irão causar efeitos prejudiciais a outras pessoas e ao meio ambiente.

Estes custos não são incluídos no preço final dos produtos, mas, de alguma
forma, o indivíduo que adquiriu o bem e toda a sociedade serão prejudicados
e terão que custear estes valores embutidos na forma de comprometimento da
saúde, taxa de controle de poluição, dentre outros. Por exemplo, a empresa
que fabricou a geladeira que você comprou polui o mesmo rio que é utilizado
no abastecimento de sua cidade. Com isso, o custo de tratamento da água
aumenta e, consequentemente, você estará pagando por isto.
Aspectos econômicos 43
Aumento da emissão de CO2 de algumas nações

Capítulo 3
Na nova visão econômica de muitos profissionais da área, em um modelo de
mercado correto ambientalmente, os custos indiretos do impacto ambiental
causado pela produção do bem ou do serviço embutido é acrescentado no
seu valor final, visando adequar o seu valor ao custo total real, ou seja, custos
diretos e indiretos.

Estes ajustes de modelos econômicos são fundamentais para a mudança de


comportamento nos sistemas de produção e dos consumidores. As pessoas iriam
adquirir os produtos de forma mais consciente, pois teriam acesso a todas as
informações dos custos envolvidos durante a aquisição do produto ou serviço.

Em relação às empresas, o processo estimularia as mudanças nos sistemas


de produção adequando-os aos modelos mais eficientes e menos poluentes,
otimizando os sistemas de produção e reduzindo seus custos de produção.
Com o aumento do conhecimento da sociedade dos modelos de produção e a
sua escolha por produtos ecologicamente corretos, a pressão sobre os sistemas
produtivos prejudiciais ao meio ambiente tenderiam a aumentar. Apesar
destes modelos de gestão serem viáveis economicamente e ecologicamente,
44 Introdução a gestão ambiental

eles demandam tempo para adequação dos modelos na cadeia de produção


Capítulo 3

e consumo. Tempo para ajustamento das empresas aos modelos de negócios


ambientalmente corretos e para os consumidores adequarem seus hábitos de
consumo, aprendendo a adquirir produtos e serviços ambientalmente corretos.

Apesar de tudo existem limitações que podem prejudicar a implantação destes


modelos de cobrança dos custos indiretos da produção de produtos e serviços.
Algumas empresas que fabricam mercadorias descartáveis e extremamente
nocivas ao meio ambiente, como as fábricas de produtos PET não retornável,
teriam seus negócios inviabilizados decorrente do aumento de preços de seus
produtos. Uma segunda discussão está baseada no valor da cobrança: como
fixar valores nos custos ambientais e nos custos de saúde?

A introdução desse modelo de inserção dos custos nos valores das mercadorias
e serviços desagrada a todos, sendo que poucas empresas reduziriam por
livre e espontânea vontade seus lucros para se tornarem ambientalmente
corretas, principalmente as pequenas empresas que trabalham com margem
de lucro reduzida.

Neste caso, a participação dos governos é fundamental, utilizando estratégias


econômicas e fiscais visando encorajar os empresários a fixar o preço de seus
produtos e serviços baseados no custo total, direto e indireto, através da
diminuição progressiva de subsídios fiscais e aumento da cobrança de impostos
de produtos oriundos das atividades das indústrias e prestadoras de serviços
que prejudicam o meio ambiente. Vários países já reduziram seus subsídios
para as atividades que comprovadamente agridem o meio ambiente. O Japão,
a França e a Bélgica eliminaram seus subsídios para as empresas que extraem
carvão mineral. A China, um dos países que mais exploram carvão mineral
no planeta, reduziu seus subsídios em 73% e ainda criou um imposto sobre o
carvão que apresenta elevado teor de enxofre.

Considerando os aspectos positivos da inclusão das taxas e impostos ambientais


podemos afirmar que o modelo ajudaria a fixar o preço com o seu custo total,
incentivaria as indústrias a investirem em tecnologia de gestão ambiental visando
sua redução de custos, modificaria o comportamento global das empresas
poluidoras e dos consumidores com as adequações naturais ao longo do tempo e
facilitaria a ação dos órgãos de tributação existentes. Uma das grandes desvantagens
do processo seria a penalização das classes sociais de menor poder aquisitivo, sendo
necessária a criação de uma rede de segurança, principalmente alimentar.
Aspectos econômicos 45
Apesar dos problemas econômicos para a sociedade, a evolução da discussão

Capítulo 3
ambiental criou um novo nicho de mercado; compradores dispostos a pagar
um pouco mais por produtos ecologicamente corretos. Pesquisa realizada pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI) verificou que 68% dos brasileiros
estão dispostos a pagar um pouco mais para não agredir o meio ambiente. Para
isto, as empresas devem ter a capacidade de perceber que a sustentabilidade não
é um mero capricho, mas um diferencial na capacidade competitiva industrial.
O hábito de consumo da população influencia
no sistema de produção das indústrias

Disponível em: <http://marketingdosertao.blogspot.com/2011/03/classe-c-


nordestina-gastou-cinco-vezes.html> . Acesso em: 8 de set. 2011.

3.1 Índice Dow Jones de Sustentabilidade


A Dow Jones, bolsa de valores dos Estados Unidos, localizada em Nova
Iorque, criou em 1999 o Índice Dow Jones de Sustentabilidade. A criação
deste índice atendeu as necessidades de um grande nicho de investidores
e associa a sustentabilidade com o desempenho econômico em um único
parâmetro. Cerca de 320 empresas aderiram ao índice dos mais variados
setores da economia, comprovando o comprometimento de muitas empresas
com a responsabilidade ambiental. Além do prestígio e de uma mídia
46 Introdução a gestão ambiental

favorável, as instituições são beneficiadas financeiramente, considerando que,


Capítulo 3

o desempenho do índice geralmente é 20% superior aos índices tradicionais.

No ano de 2008, durante a revisão anual da bolsa, oito empresas brasileiras


foram incluídas no índice de sustentabilidade, são elas: Aracruz, Bradesco,
Itaú, Cemig, Itaúsa investimentos, Petrobrás, Usiminas e Votorantim Celulose
e Papel. Empresas brasileiras que assumiram papel privilegiado no mercado
financeiro internacional.

O índice de sustentabilidade criado pela bolsa americana não avalia apenas


o desempenho ambiental, mas também ações e programas voltados para o
desenvolvimento econômico e social. O desempenho das empresas deve ser
quantificado de acordo com suas ações e seus impactos econômico, social e
ambiental, agregando valor às ações das companhias sustentáveis.

O conceito de patrimônio empresarial baseado única e exclusivamente na


avaliação de seus bens, equipamentos e imóveis está se tornando ultrapassado.
Valores intangíveis como reputação, credibilidade e responsabilidade
socioambiental são fundamentais para definir o desempenho das grandes
empresas no século 21. A gestão ambiental sustentável é fator fundamental no
aumento da competitividade das empresas no mercado econômico.

Recapitulando

Neste capítulo foram descritas a responsabilidade das empresas e do cidadão


na manutenção da sustentabilidade ambiental através da produção e consumo
de produtos ecologicamente corretos. O papel dos governos no estímulo a
adoção das boas práticas pelas empresas e suas penalizações associados ao
caráter poluidor. A criação do Índice Dow Jones de Sustentabilidade visando o
comprometimento e a valorização dos bens intangíveis das empresas.
47

4 Educação ambiental

Capítulo 4
Neste capítulo veremos a importância da educação ambiental para a socieda-
de e os princípios que norteiam suas ações. A importância do conhecimento
na definição da tomada de decisão sobre as ações ambientais e avaliação das
suas implicações.

Ao final deste capítulo esperamos que você esteja


apto a:
• Avaliar a importância da educação ambiental para a
sociedade.

• Identificar os princípios básicos que norteiam o processo de


educação ambiental.
48 Introdução a gestão ambiental

A discussão sobre a sustentabilidade assume neste século um papel importante


Capítulo 4

na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que


se configuram. O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades
contemporâneas revela que o impacto do homem sobre o meio ambiente
tem tido consequências cada vez mais complexas em todos os seus aspectos
quantitativos e qualitativos.

Segundo alguns ambientalistas existem algumas perguntas que são a essência


da educação ambiental e que devem ser compreendidas:

• Qual a origem dos produtos que consumo?

• Quais são as informações que tenho sobre o local onde eu vivo?

• Qual o meu grau de preocupação com o planeta e os seres vivos?

• Quais os meus objetivos e responsabilidades como ser humano?

As respostas a estes questionamentos irão caracterizar a nossa identidade


ecológica. A educação ambiental é fundamental para se viver de forma mais
sustentável. As linhas básicas para o entendimento dos processos naturais e
adequação dos modelos de vida são:

• Desenvolver o respeito a todas as formas de vida;

• Entender ao máximo sobre o funcionamento do planeta e a sua


sustentabilidade, orientando os modelos de ações da sociedade;

• Verificar as conexões da biosfera e a sua relação com nossas ações;

• Desenvolver o raciocínio crítico visando o aprimoramento da


sabedoria ambiental e não sermos apenas um grande reservatório de
informações desconexas;

• Compreender que as alterações ambientais são processos de longa


duração;

• Desenvolver a capacidade de avaliar sobre as consequências para o


planeta baseados nas nossas escolhas decorrentes do nosso estilo de vida.
Educação ambiental 49
As pessoas que compreendem as questões ambientais devem ter conhecimento

Capítulo 4
de vários conceitos que irão nortear suas ações.

• Conceitos sobre sustentabilidade ambiental, capital natural,


crescimento exponencial, capacidade suporte;

• Conhecer a história da evolução do homem e sua exploração


ambiental. Princípios básicos para definição de ações futuras;

• Compreender os princípios da termodinâmica e da conservação


da matéria;

• Entender os princípios básicos da ecologia, a dinâmica da população


humana, das cidades e entendimento dos projetos sustentáveis;

• Discernimento e conhecimento visando a criação de modelos de


sustentabilidade da biodiversidade;

• Conhecimento sobre a agricultura e exploração de florestas sustentáveis;

• Conhecimento sobre os recursos minerais não renováveis;

• Entendimento sobre os recursos energéticos renováveis e não renováveis;

• Compreensão dos processos de mudanças climáticas e redução da


camada de ozônio;

• Capacidade de prevenção da poluição e redução do desperdício;

• Possuir várias visões de mundo e das éticas ambientais.


50 Introdução a gestão ambiental

Projetos de educação ambiental


Capítulo 4

Foto: Divulgação (SMMA de Araucária/PR)


Disponível em: <http://www.araucaria.pr.gov.br/index.php?a=secretarias_
smma_programas.php&b=menu_smma> . Acesso em: 8 deset. 2011.

O conhecimento ambiental teórico é importante, mas não o suficiente para


gerirmos situações de risco ambiental. Não podemos nos isolar da natureza,
mas vivenciá-la diretamente, associando o conhecimento à prática. Quando
nos tornamos parte de um determinado lugar, ele se torna parte de nós. Desta
forma somos induzidos a protegê-lo das agressões e a participar efetivamente
do seu processo de recuperação.

Diariamente, de forma direta ou indireta, agimos de modo a agravar os


problemas ambientais. Entretanto, muitos reduzem sua culpabilidade com
objetivo de não se pensar muito sobre suas ações e os seus reflexos para o meio
ambiente.

Atualmente o desafio de consolidar uma educação ambiental convergente


e multifocal é fundamental para viabilizar a prática educativa que articule
a necessidade de se enfrentar simultaneamente a degradação ambiental e os
problemas sociais. Assim, a compreensão dos problemas ambientais se dá por
Educação ambiental 51
uma visão do meio ambiente como um campo de conhecimento socialmente

Capítulo 4
construído, que é subsidiado pela diversidade cultural e ideológica e pelos
conflitos de interesse.

Educação Ambiental na Escola


No Brasil, o processo de educação ambiental é organizado pelo Órgão Gestor
de Política Nacional de Educação Ambiental e formado por dois ministérios
(Ministério de Educação e Cultura e Ministério de Meio Ambiente) sendo
representados pela Coordenadoria Geral de Educação Ambiental e Diretoria
de Educação Ambiental, respectivamente. Este órgão gestor segue a missão
do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProENA): “A educação
ambiental contribui para a construção de sociedades sustentáveis com
pessoas atuantes e felizes”.

Uma forma de percepção da complexidade do trabalho com educação


ambiental foi proposto por Sauvé, uma professora canadense, utilizando as
seguintes preposições:

• Educação sobre o ambiente – informativa, com enfoque na obtenção


de conhecimentos em que o meio ambiente se torna um objeto de
aprendizado. Conhecimento é importante para uma interpretação
crítica da realidade e para que se busque formas de atuar sobre os
problemas ambientais, mas ele isolado não basta;

• Educação no meio ambiente – vivencial e naturalizante, em que


se propicia o contato com a natureza, com visitas da escola como
contextos para a aprendizagem ambiental. Com passeios, observação
da natureza, esportes ao ar livre, ecoturismo, o meio ambiente oferece
vivências experimentais tornando-se um meio de aprendizado;

• Educação para o ambiente – construtivista, busca engajar ativamente


por meio de projetos de intervenção socioambiental que previnam
problemas ambientais. Muitas vezes traz uma visão crítica dos
processos históricos da sociedade ocidental, com o meio ambiente se
tornando meta do aprendizado.
52 Introdução a gestão ambiental

A formação de professores voltada para a educação ambiental deve acontecer


Capítulo 4

tanto como formação inicial nas licenciaturas e no magistério como também


como formação continuada. A Lei nº 9.795/99, que estabelece a Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA), afirma, em seu artigo 2º, que “a
educação ambiental é um componente essencial e permanente na educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis
e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”.
O artigo 3º, inciso II, complementa a ideia ao definir que cabe às “instituições
educativas promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas
educacionais que desenvolvem”.
Formação de professores: fundamental no processo de educação ambiental

Adapatado de: <http://proea-prg.blogspot.com/2010/10/proea-inicia-formacao-em-


educacao.html> . Acesso em: 8 de set. 2011.

Recapitulando

Neste capítulo estudamos a importância da educação ambiental para a


sociedade e os princípios que norteiam suas ações. O quanto é imprescindível
o conhecimento na definição da tomada de decisão sobre as ações ambientais e
avaliação das suas implicações. A importância da formação dos professores no
processo de educação ambiental.
53

5 Histórico das políticas públicas de gestão

Capítulo 5
ambiental
Neste capítulo você conhecerá os diferentes mecanismos criados pelos governos
das diferentes regiões do planeta. Muitos desses mecanismos visam a redução
da poluição baseado nos processos de cobrança e subsídios financeiros, em
função do grau de envolvimento das empresas no ajuste de seus sistemas
produtivos que priorizam a otimização dos recursos e redução dos impactos
ambientais de sua atividade.

Ao final deste capítulo esperamos que você esteja


apto a:
• Caracterizar o papel dos governos no controle ambiental.

• Identificar os modelos criados para ajustes de conduta das


empresas.

• Identificar o papel do cidadão e da sociedade nos modelos


de gestão ambiental.
54 Introdução a gestão ambiental

Há algumas décadas a discussão ambiental nos países ocorria apenas nas esferas
Capítulo 5

superiores, no legislativo e executivo, quando ocorria algum grande desastre


ecológico de proporções globais que exigiam ações imediatas das autoridades
visando a remediação do evento. A partir da década de 70, com a Conferência
de Estocolmo, a Organização das Nações Unidas (ONU) passou a incentivar
a formatação de acordos multilaterais visando a redução da degradação
ambiental. As ações da ONU foram fundamentais para conscientizar não
apenas as autoridades, mas também as camadas da sociedade mais envolvidas
que passaram a se organizar em favor do meio ambiente. Considerando a
pressão da sociedade, os custos financeiros envolvidos e os danos à imagem das
nações, os governos adotaram medidas e posturas diferenciadas, enfatizando
de forma prioritária não apenas a política de remediação dos estragos, mas
investindo nas estratégias de prevenção. Seguindo esta tendência mundial,
novas leis surgiram e alteraram significativamente a ação dos governos,
corrigindo os caminhos do desenvolvimento que desconsideravam a questão
ambiental e a sustentabilidade.
Conferência de Estocolmo, 1972: Ponto de
partida para a discussão global sobre meio ambiente

O canadiano Maurice Strong, um dos mais destacados líderes mundiais em matéria


de ambiente (à esquerda) com o presidente da conferência, Ingemund Bengtsson, no
seu encerramento em 16 do junho de 1972. Vinte anos depois, Strong viria também
Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 55
a ser o secretário-geral da Conferência do Rio, contribuindo em larga medida para

Capítulo 5
os trabalhos com uma singular combinação de inspiração visionária e pragmatismo.
Fonte: http://www.greennation.com.br/pt/dica/112/Equipe-GreenNation/Grandes-
tratados-ambientais

Dentro do princípio básico da gestão ambiental, o monitoramento do impacto


das atividades econômicas sobre o meio ambiente deve ter um caráter preventivo
e não corretivo. A criação de regras e normas para a gestão ambiental é um
passo importante para definição das políticas ambientais em cada país. Após
a sua criação, torna-se necessária a definição das atribuições dos órgãos de
fiscalização visando o cumprimento das normas.

Os avanços nas leis ambientais ocorreram de forma mais intensa nas décadas
de 80 e 90, período onde foram definidas as políticas públicas para o meio
ambiente em várias nações do planeta, dando respaldo legal às autoridades.
Atualmente existem políticas integradas e definidas pelos governos para
proteção da natureza compatibilizando a conservação dos recursos naturais
com as metas de crescimento econômico de cada país.

Dentro das normas de controle ambiental, foram criadas restrições e proibições


legais que são impostas aos cidadãos e à iniciativa privada visando regular
a atuação sobre o meio ambiente. O controle de atuação dos organismos
poluidores através da aplicação de permissões de emissões negociáveis
apresenta uma série de vantagens como o controle direto do montante da
poluição, valor que é fixado no momento da distribuição das permissões. Este
conjunto de restrições é denominado Instrumento de Comando de Controle.
Este instrumento, para que possa entrar em funcionamento, adotam como
regra três tipos de padrões:

• Padrões de Qualidade Ambiental

• Padrões de Emissão

• Padrões Tecnológicos

No padrão de qualidade ambiental são definidos os níveis máximos de


poluentes para cada região, ou seja, a concentração de substâncias químicas no
ar, na água e no solo em determinados locais não podem ultrapassar os limites
previstos em lei. No padrão de emissão, os limites de restrição das emissões são
56 Introdução a gestão ambiental

estipulados para fontes individuais de poluição como veículos, fábricas, etc.


Capítulo 5

Os padrões tecnológicos influenciam na aquisição de máquinas e materiais para


as empresas, visando a redução da poluição ambiental. Este conceito promove
a discussão entre empresários, ambientalistas e fornecedores da tecnologia.
O objetivo é mostrar que equipamentos mais modernos e menos poluentes,
apesar de mais caros, geram uma redução de custos de produção com economia
ocorrendo ao longo do período de utilização da máquina. O Estado de São
Paulo, por exemplo, com a lei 11.241, está banindo a queima da cana de
açúcar durante a colheita. A queima da palhada causa grave dano ambiental
e está sendo substituída pela colheita mecanizada. Apesar de apresentar maior
custo de investimento, a agroindústria da cana de açúcar de São Paulo tornou-
se mais competitiva em relação aos demais estados produtores.

Processo de queima da cana-de-açúcar e a colheita mecanizada

Disponível em: <http://altamiroborges.blogspot.com/2011/06/o-suplicio-dos-cortadores-de-


cana.html> . Acesso em: 8 de set. 2011.
Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 57

5.1 Estudo de Impacto Ambiental

Capítulo 5
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é uma etapa anterior à execução do
projeto onde são avaliados os possíveis impactos dos empreendimentos com
potencial de degradação ambiental. O EIA foi criado nos Estados Unidos em
1969. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) passou
a influenciar a política dos bancos internacionais como o Banco Internacional
para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) e o Banco Interamericano
para o Desenvolvimento (BID). Desta forma, a concessão de empréstimos
passou a ocorrer mediante a apresentação do EIA. Durante a ECO 92, no Rio
de Janeiro, o EIA foi incluído na declaração do Rio, consolidando-o como
instrumento de gestão ambiental.
Eco-92 no Rio de Janeiro: Foco no desenvolvimento sustentável

Foto: Luciana Whitaker/Folhapress


Disponível em: <http://www.jornaldelondrina.com.br/cidades/conteudo.
phtml?id=1165518> . Acesso em: 8 de set. 2011.

O EIA tornou-se importante para a gestão pública que monitora a qualidade


ambiental e para a própria iniciativa privada, avaliando continuamente a sua
eficácia de gestão. A política brasileira de meio ambiente foi consolidada pela
criação da lei 6.938 que acrescentou o EIA ao conjunto dos instrumentos de
58 Introdução a gestão ambiental

gestão e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) com requisitos para a


Capítulo 5

concessão de licenças de obras com elevado potencial de impacto ambiental.

A resolução 237 do CONAMA descreve os procedimentos para a sua


elaboração. No inciso III do artigo 1º cita os componentes indispensáveis de
um EIA, sendo eles:
• O relatório ambiental;

• O plano e projeto de controle ambiental;

• O relatório ambiental preliminar;

• O diagnóstico ambiental;

• O plano de manejo;

• O plano de recuperação de áreas degradadas;

• A análise preliminar de risco.

Durante a elaboração do projeto, o estudo de seu local de instalação vem em


primeiro lugar. A avaliação deve quantificar os possíveis impactos ambientais
que ocorrerão por conta da implantação do projeto e pelo funcionamento
do empreendimento. O próximo passo seria delimitar a área geográfica
que pode sofrer algum tipo de influência, direta ou indireta da atividade
do empreendimento. A elaboração do projeto também deverá avaliar se a
sua atividade gerará algum tipo de interferência nos programas ambientais
existentes em sua área de abrangência.

Visando a criação de um modelo de estudo, o artigo 6º da resolução do


CONAMA 1/1986 define as atividades necessárias a sua elaboração.
• Diagnóstico ambiental: descrever a situação geral da área envolvendo
o meio físico, biológico e sociológico;
• Análise dos impactos ambientais do projeto: definir se os impactos
serão temporários ou permanentes, positivos ou negativos, de curto,
médio ou longo prazo e seu grau de reversibilidade;
• Discriminar as ações mitigadoras dos impactos negativos: descrever
as formas de controle e preservação e os índices de eficiência de
cada um.
Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 59

5.2 Relatório de Impacto Ambiental

Capítulo 5
O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) tem como base os componentes
utilizados para elaboração do EIA e confecção de uma avaliação final.
No RIMA, a equipe que elaborou o EIA manifesta a sua decisão concluindo
se o projeto é ou não um risco ao meio ambiente. O teor de seu conteúdo,
segundo a Resolução CONAMA 1/1986, no parágrafo único do artigo 9º,
deve ser apresentado de forma simples, objetiva e adequada à sua compreensão.
As informações devem ser traduzidas em linguagem simples, acompanhadas
por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual
de modo que se possa entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem
como todas as consequências ambientais de sua implementação.

O RIMA é um documento de caráter público, daí a necessidade de clareza


na sua elaboração. Após a sua elaboração e divulgação existe a etapa de
participação popular onde qualquer interessado poderá expressar suas queixas,
manifestações, reivindicações e anexá-las ao processo. Quando o projeto
é considerado polêmico, o poder público promove as audiências públicas,
visando uma maior discussão do RIMA.

O EIA e o RIMA deverão ser elaborados por equipes multidisciplinares de


profissionais, respeitando as atribuições de cada profissão a fim de preservar a
imparcialidade de seus resultados.

5.3 Licenciamento ambiental


Licenciamento ambiental é o procedimento administrativo que deve ser
realizado pelo empreendedor que deseja localizar, instalar, operar ou ampliar
seu empreendimento, mas cujas atividades possam causar degradação
ambiental ou que os recursos ambientais utilizados sejam considerados efetiva
ou potencialmente poluidores. Finalizando todas as etapas do Licenciamento
Ambiental, o empreendimento recebe sua Licença Ambiental (ou Autorização
Ambiental de Funcionamento, dependendo do porte e potencial poluidor),
que estabelecerá as condições, restrições e medidas de controle ambiental a
serem obedecidas pelo empreendedor. Caso o empreendimento opere ou se
instale sem essa Licença, estará sujeito a multas, proibição de funcionamento,
suspensão de suas atividades, entre outras penalidades. As atividades que já
estão em operação e não possuem a licença, devem buscar o órgão competente
60 Introdução a gestão ambiental

para regularização. Em Minas Gerais, por exemplo, as empresas já implantadas


Capítulo 5

e/ou em operação que procuram se regularizar de forma voluntária podem ser


isentas das penalidades de funcionar sem o documento, desde que não tenham
sido autuadas anteriormente. Todos os procedimentos podem ser obtidos na
Resolução CONAMA nº 237/97 e na Lei Federal 6938/81.

A concessão da Licença ou Autorização de Funcionamento poderá ser de


órgão federal, estadual ou mesmo municipal, dependendo da localização da
empresa e do tipo de atividade desenvolvida. Caso se trate de empreendimento
cujas atividades sejam desenvolvidas em mais de um estado do Brasil, ou os
impactos ambientais extrapolem os limites estaduais ou mesmo nacionais,
a competência será federal, cabendo ao IBAMA o licenciamento. Algumas
atividades específicas, como energia nuclear, material genético, entre outras,
são de competência do IBAMA (federal). Atividades desenvolvidas somente
nos Estados ou que causem danos apenas neste, são de competência dos
Conselhos de Política Ambiental dos Estados, que atuam através dos seus
órgãos. Os Estados podem, no entanto, delegar suas funções de licenciamento
aos municípios, quando entenderem necessário (art. 4º a 7º resolução
CONAMA nº 237/97).

O potencial poluidor de um empreendimento é classificado de acordo com as


normas ambientais de cada estado. No caso de Minas Gerais, por exemplo, os
empreendimentos são classificados de 1 a 6, conforme a descrição abaixo.

Classe 1: Pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor;

Classe 2: Médio porte e pequeno potencial poluidor;

Classe 3: Pequeno porte e grande potencial poluidor ou médio porte e médio


potencial poluidor;

Classe 4: Grande porte e pequeno potencial poluidor ;

Classe 5: Grande porte e médio potencial poluidor ou médio porte e grande


potencial poluidor;

Classe 6: Grande porte e grande potencial poluidor.

Na tabela abaixo as colunas verticais indicam o potencial poluidor e as linhas


Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 61
horizontais o porte do empreendimento. Conjugando os dados pode-se

Capítulo 5
concluir sobre a classe da empresa.

Potencial poluidor/degradador
geral da atividade
P M G
P 1 1 3
Porte do Empreendimento M 2 3 5
G 4 5 6

Da localização até o início das atividades para os empreendimentos das classes


3 a 6, é necessário que o empreendedor obtenha as licenças ambientais na
seguinte ordem:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase inicial do planejamento do


empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção,
atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e
condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação.

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou


atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas
e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes, da qual constituem motivo determinante.

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou


empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta
das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes
determinados para a operação.

(Artigo 8º da Resolução CONAMA n° 237)

Para determinados empreendimentos que causam maior degradação ambiental,


o órgão ambiental poderá solicitar que sejam apresentados o Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Por
serem documentos mais elaborados, com maior detalhamento, o prazo para a
Concessão das Licenças é ampliado para 12 meses a partir da formalização do
processo. A resolução CONAMA nº 01/1986 exemplifica, em seu artigo 2º,
algumas atividades que devem se sujeitar à apresentação do EIA/RIMA.
62 Introdução a gestão ambiental
Capítulo 5

5.4 Instrumento econômico de gestão ambiental


Outro importante instrumento de controle ambiental à disposição dos
governos são os instrumentos econômicos. A adequação deste importante
recurso garante o cumprimento das leis ambientais, pois afetam os indivíduos
e as organizações produtivas no local mais sensível: o bolso. O capitalismo
industrial na busca por expansão e, consequentemente, pela elevação das taxas
de lucro, desconsiderava os efeitos negativos do seu sistema produtivo que
tem como suporte básico o meio ambiente e a sociedade. Desta forma torna-
se impossível que o mercado desenvolva sua própria dinâmica onde a visão
individualista da lucratividade predomina, onde a natureza é vista como meio
para obtenção de lucros a curto prazo.

Apesar da visão do prejuízo (custo), estes instrumentos podem apresentar


efeito inverso e se tornarem benefícios. Esses organismos de controle podem
ser classificados como instrumentos fiscais e instrumentos de mercado.
Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 63

5.5 Instrumentos fiscais

Capítulo 5
Nos instrumentos fiscais existe a transferência de recursos da iniciativa privada
para o poder público por meio de tributos. Parte destes recursos é destinada
a remediação de problemas ambientais causados pela própria empresa, sendo
também denominados “impostos ambientais”. Apesar das empresas inserirem
no preço final do produto essas taxas, o seu produto se torna mais caro, perdendo
a competitividade no mercado, encorajando a empresa a adotar práticas
sustentáveis de produção, reduzindo seus impostos e o preço final dos produtos.

O lado contrário dos impostos são os subsídios que incentivam o desenvolvimento


de modelos de gestão ambiental nas empresas. Neste caso, os governos
transferem recursos para a iniciativa privada subsidiar seus investimentos e
viabilizar a sua produção. Outros modelos também são adotados pelo governo
como abrir mão de impostos ou conceder financiamentos especiais para
empresas que adotam práticas ecologicamente corretas.

Este mecanismo de política ambiental tem propriedades semelhantes às


dos impostos no sentido em que fornece o mesmo incentivo para reduzir
as emissões, porém com a vantagem de gerar menos oposição: as empresas
são evidentemente mais simpáticas a medidas que financiem os custos de
controle de poluição que àquelas que transferem a carga sobre elas. Existe
uma equivalência em termos das condições de primeira ordem entre taxas e
subsídios, entretanto existem também algumas assimetrias (a mais evidente é
o efeito sobre o lucro) que influenciam diferentemente as decisões de entrada
e saída das firmas.

Os principais tipos de subsídios são:

• Subvenções: formas de assistência financeira não reembolsável,


disponibilizada para empresas poluidoras que se prontifiquem a
adotar medidas para reduzir seus níveis de poluição;
• Empréstimos subsidiados: empréstimos com taxas de juros abaixo
das de mercado oferecidos às empresas poluidoras que implementem
medidas antipoluição;
• Incentivos fiscais: depreciação acelerada ou outras formas de
isenção ou abatimentos de impostos em caso de serem adotadas
medidas antipoluição.
64 Introdução a gestão ambiental

Todos os subsídios apresentados acima são oferecidos pelo governo


Capítulo 5

aos agentes econômicos privados que adotem medidas de redução da


degradação ambiental.

Uma forma alternativa de subsídio pode ser pago pelo governo à vítima
da poluição, para compensar os danos causados. Neste caso, o subsídio,
cujos recursos podem ser provenientes de taxas ambientais aplicadas sobre a
atividade poluidora, tem um caráter puramente compensatório e não reduz
o nível de poluição.

5.6 Instrumentos de mercado


Os instrumentos de mercado também foram criados visando o estímulo às
atividades sustentáveis. Devido à intensificação dos problemas ambientais, os
governos passaram a intervir também no mercado criando regulamentações
embasadas na proteção ambiental. Dentre os instrumentos de mercado temos
as permissões de emissões transferíveis, o sistema depósito-retorno e o conceito
de responsabilidade estendida do produtor.

5.7 Permissões de emissões transferíveis


Nas permissões de emissões transferíveis, os governos estipulam os valores
máximos de emissão de poluentes para as empresas. Muitas destas metas
estipuladas são extremamente difíceis para as empresas dentro dos prazos
estipulados, sem que ocorra uma redução do seu sistema de produção. Em
consequência desta dificuldade das empresas, foram criados os certificados
de permissões transferíveis, modelo criado com o objetivo de se cumprir as
metas estipuladas no Protocolo de Quioto. Ao se comprar estes certificados,
a empresa esta comprando créditos de carbono, ou seja, a redução da emissão
de CO2 é estimulada em determinados locais ou regiões que não apresentam
metas rígidas de controle. Esta redução é vendida como crédito de carbono
para as empresas que tem dificuldade de redução direta, na indústria. Este
processo reduz o nível de poluição global, estimulando a compra e a venda de
emissões transferíveis, valorizando a cotação dos títulos.
Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 65

5.8 Sistema depósito-retorno

Capítulo 5
O sistema depósito retorno envolve diretamente o consumidor final. Ao
adquirir produtos embalados em plásticos, vidros ou latas o consumidor
paga a mais e recebe um vale referente a este valor. Para rever o dinheiro o
consumidor deve devolver as embalagens vazias ao supermercado, facilitando
as práticas de reciclagem das embalagens.

5.9 Responsabilidade estendida


A responsabilidade estendida ao produtor também incentiva o reaproveitamento
de mercadorias e embalagens, passando para o produtor (empresas) a
responsabilidade pela disposição final dos produtos, tornando compulsório o
reaproveitamento e o tratamento dos resíduos.

A ideia é estender as responsabilidades e obrigações socioambientais que


produtores e distribuidores devem seguir (respeitando os direitos trabalhistas e
do meio ambiente) para a fase de pós-consumo.

Tem-se a ideia de que a responsabilidade da indústria termina no momento


em que um determinado bem ou serviço é adquirido pelo consumidor. Desse
momento em diante considera-se que o consumidor e o poder público devem
assumir a responsabilidade. Em relação ao lixo doméstico, por exemplo, tem-
se a impressão de que é exclusiva responsabilidade do consumidor dispô-
lo de maneira correta e no local correto, bastando ao produtor fornecer as
informações adequadas. A coleta e a destinação do lixo parecem associadas, em
geral, a uma obrigação exclusiva do poder público.

Desde a etapa de planejamento e fabricação do produto, no entanto, o


produtor também deve considerar o que vai ocorrer quando o consumidor
descartar o bem consumido. As lâmpadas fluorescentes, por exemplo, contém
mercúrio, substância que no organismo, pode levar a lesões graves no sistema
nervoso e até à morte. Se a sociedade não se preocupar com as consequências
do que produz, pode comprometer sua existência no futuro. E é a indústria
que, diretamente, decide sobre a composição do produto e sobre a maneira
como será distribuído.
66 Introdução a gestão ambiental

A responsabilidade estendida deve estar relacionada aos vários setores de


Capítulo 5

produção, mas é especialmente importante naqueles que manuseiam e


produzem resíduos perigosos (tais como pilhas, baterias, pneus e lâmpadas)
ou que geram embalagens de forma excessiva, que aumentam de maneira
desnecessária a quantidade de lixo produzida.

5.10 Responsabilidade compartilhada


A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos é o conjunto
de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, visando minimizar o volume
de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como reduzir os impactos causados
à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos
produtos. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos
tem por objetivos:

• Concatenar interesses entre os agentes econômicos e sociais e


os processos de gestão empresarial com os de gestão ambiental,
desenvolvendo estratégias sustentáveis;

• Estimular o aproveitamento dos resíduos sólidos, dentro da mesma


cadeia produtiva ou de outras;

• Reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a


poluição e os danos ambientais;

• Incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio


ambiente e de maior sustentabilidade;

• Estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo


de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis;

• Propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e


sustentabilidade;

• Incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental.


Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 67

5.11 Logística reversa

Capítulo 5
É um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado
por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar
a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou destinação
final ambientalmente adequada. A logística reversa ocorre por meio do retorno
dos produtos e embalagens após o uso pelo consumidor, aos comerciantes e
distribuidores e desses para os fabricantes e importadores para que seja dada
a destinação ambientalmente adequada, de forma independente do serviço
público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos.

5.11.1 Estruturação e implementação do sistema de


logística reversa
A estruturação e a implementação do sistema de logística reversa deve ser
realizada pelos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:

• Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos


cuja embalagem constitua resíduo perigoso após o uso;

• Pilhas e baterias;

• Pneus;

• Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

• Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;

• Produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

A logística reversa poderá ser estendida aos produtos comercializados em


embalagens plásticas, metálicas ou de vidro e aos demais produtos e embalagens,
por meio de regulamento ou de acordos setoriais e de termos de compromisso
firmados entre o poder público e o setor empresarial. Até que seja publicada
regulamentação específica, a legislação que trata da devolução de embalagens
de agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus e óleos lubrificantes deve ser cumprida,
desde que não contrarie o texto da PNRS.
68 Introdução a gestão ambiental

Para os produtos eletroeletrônicos e seus componentes, lâmpadas fluorescentes,


Capítulo 5

de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, a PNRS determinou a


implementação progressiva da logística reversa, segundo cronograma a ser
estabelecido em regulamento.

Recapitulando

Neste capítulo o aluno conheceu os distintos mecanismos criados pelos


governos das diferentes nações do planeta, visando a redução da poluição com
base nos processos de cobrança e subsídios financeiros em função do grau de
envolvimento das empresas no ajuste de seus sistemas produtivos, objetivando
a otimização dos recursos e a redução dos impactos ambientais de sua atividade.
Histórico das políticas públicas de gestão ambiental 69

Capítulo 5
Exercícios de Fixação

1. Explique as diferenças e os objetivos do Estudo de Impacto Ambiental e o


Relatório de Impacto Ambiental.

2. Explique os objetivos de cada uma das etapas de licenciamento de um


empreendimento: licença prévia, licença de instalação e licença de operação.

3. Como é o funcionamento do processo de logística reversa no gerenciamento


de resíduos sólidos?

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Univale Virtual.
Unidade 3
70 Introdução a gestão ambiental

Gerenciamento de
sistemas ambientais

Gestão da qualidade total


-- ISO 14000

Inovação e sustentabilidade – Empresa verde


Unidade 3
71

Gerenciamento de sistemas
ambientais
Nesta unidade veremos que o gerenciamento de sistemas ambientais nos
diferentes setores da sociedade, principalmente na gestão da qualidade
total, que envolvem a adoção de sistemas inovadores e sustentáveis, é fator
fundamental de desenvolvimento social e econômico. Para a indústria, a criação
da ISO 14000 foi importante para classificar as indústrias em relação ao seu
comprometimento com o meio ambiente. A criação de modelos de produção
mais limpa surgiu para somar as ações já existentes de aprimoramento da
sustentabilidade ambiental. A criação dos selos verdes surgiu como uma forma
de comunicação entre a indústria e o consumidor visando a sua divulgação
junto à sociedade de empresa que produz de forma ecologicamente correta.

Ao final desta unidade, você deverá estar apto a:


• Identificar os modelos de gestão adotados pelas empresas

• Compreender o processo de Gestão de Qualidade Total nas


indústrias e a importância da obtenção da ISO 14000.

• Ser capaz de identificar os modelos de produção mais limpa


e adaptá-los aos sistemas produtivos.
72 Introdução a gestão ambiental

6 Gestão da qualidade total


Capítulo 6

Neste capítulo veremos o papel histórico da indústria no processo de exploração


ambiental e as atuais políticas ambientais adotadas nas empresas em busca da
ISO 14000. As suas normas e exigências em relação à gestão ambiental e a
importância da certificação ISO pelas empresas.

Ao final deste capítulo esperamos que você esteja


apto a:
• Caracterizar a importância da gestão ambiental no desenvol-
vimento das empresas.

• O papel da ISO 14000 na melhoria da imagem da empresa.

• O papel do gestor no sistema industrial na implementação


da Gestão Ambiental da Qualidade Total (TQEM).
Gestão da qualidade total 73
No início da industrialização a palavra produtividade se resumia apenas à

Capítulo 6
quantidade de produto beneficiado com preocupação única e exclusiva na
lucratividade. Com o passar dos tempos novas indústrias foram surgindo gerando
a competição por mercado. A partir deste período o empresário percebeu
que precisava ter a preferência do consumidor, sendo necessário produzir com
qualidade e a custo reduzido. No século 20, a partir do final da Segunda
Guerra Mundial, o desenvolvimento industrial acelerou vertiginosamente
com o surgimento de novos mercados que tinham como princípios básicos
a qualidade dos produtos. Atualmente, para garantir a qualidade do produto
a preços competitivos é necessário o aperfeiçoamento constante do processo,
avaliar a cadeia produtiva, reduzir os gastos de produção, o desperdício e
aprimorar os processos produtivos. O conjunto destas preocupações fez surgir
nas empresas os sistemas de gestão de qualidade empresarial.
Fábricas do início do século 20

A incorporação nos sistemas industriais de Gestão Ambiental da Qualidade


Total (TQEM) teve início em 1987 com o relatório de Brundfland, onde se
iniciou a criação do conceito de desenvolvimento sustentável convergindo
objetivos sociais, econômicos e ambientais. Em 1990, 21 multinacionais
(IBM, Coca-Cola, Kodak, dentre outras) fundaram a Global Environmental
Management Iniciative (GEMI) com objetivos de desenvolver estratégias
relacionadas ao meio ambiente, à sociedade e à economia.
74 Introdução a gestão ambiental

Visando disponibilizar aos gestores ferramentas informativas para tomada de


Capítulo 6

decisão, o GEMI promove pesquisas constantes sobre três principais temas:


mudanças climáticas, consumo energético e o uso da água. Outro ponto
importante avaliado pelo GEMI é a cadeia de fornecedores, que também deve
estar em consonância com os modelos de gestão ambiental propostos e não
apenas a análise simples de preço das matérias primas.
Empresa gerenciada pela gestão de qualidade total

A gestão ambiental da qualidade total nas empresas tem como principal


objetivo a avaliação permanente do sistema produtivo visando a eficiência dos
processos e a otimização do consumo de energia e dos recursos naturais. Uma
das propostas do TQEM inclui os conceitos básicos da ecoeficiência e poluição
zero, eliminando continuamente os efeitos negativos sobre o meio ambiente.
Este novo modelo de gestão, além da geração de benefícios econômicos, sociais
e ambientais também melhora significativamente a imagem da empresa junto
à sociedade. Para que a TQEM possa realmente gerar resultados, os processos
de avaliação devem ser continuamente aprimorados visando um rigoroso
controle dos produtos e das operações sobre o meio ambiente.
Gestão da qualidade total 75
Vamos utilizar como exemplo a instalação

Capítulo 6
de uma fábrica no Brasil. O início do
processo de análise de gestão ambiental
é o estudo dos efeitos previstos
que a fábrica produzirá no
local de sua instalação e seus
arredores: água, energia,
matéria prima, mão de
obra e descarte de efluentes
industriais são alguns itens
que devem necessariamente
fazer parte da pauta do gestor nesta
etapa inicial. Após o início das atividades
produtivas da indústria é fundamental o
monitoramento dos impactos ambientais
considerando-se os ciclos biogeoquímicos do ecossistema visando seu manejo,
evitando o esgotamento dos recursos naturais.

6.1 ISO 14000


Visando diferenciar as empresas ecologicamente corretas que adotam sistemas
eficientes de gestão ambiental, a International Organization for Standardization
– ISO, criou em 1993 a série de normas ISO 14000. Estas normas são compostas
por um conjunto de diretrizes visando a gestão ambiental. Para certificação na
ISO, as empresas precisam se adequar, ajustando suas estratégias produtivas
às prioridades ecológicas, ou seja, as empresas que recebem a ISO atendem
aos padrões dispostos na norma, comprovando que seguem religiosamente
os procedimentos ambientais recomendados pela organização ambiental. O
principal objetivo da ISO 14001é adequar os modelos propostos de prevenção
de poluição com os objetivos econômicos de empresas com sustentabilidade.

O gestor que irá comandar a implantação do TQEM deverá compreender a


relação da indústria com o meio ambiente e, em seguida, formatar a política
ambiental da empresa. O seu relatório deverá retratar como a empresa irá
cuidar do meio ambiente através de princípios que irão orientar a sua atuação.
Após a sua elaboração inicia-se o processo de planejamento, momento em que
76 Introdução a gestão ambiental

o gestor cria suas metas e caracteriza o que precisa ser mudado para promoção
Capítulo 6

da conservação ambiental. Dependendo do tipo de atividade da indústria, nas


suas metas deverão estar incluídas a redução da emissão de CO2, a diminuição
do consumo energético e a dinâmica de gerenciamento dos resíduos visando a
não contaminação da água e do solo. Outros processos não menos importantes
devem fazer parte do pacote de gestão, como a otimização do uso das matérias-
primas, pela redução do desperdício e o uso de embalagens biodegradáveis.

Atualmente temos diversas empresas no Brasil que ostentam a ISO 14000 de


qualidade e gestão ambiental. Dentre elas temos a Perdigão que em 2005 foi
agraciada com a inclusão no Índice de Sustentabilidade da Bovespa. Em 2006 a
empresa criou o Instituto Perdigão de Sustentabilidade com objetivo principal de
coordenar seus programas socioambientais. O instituto desenvolve atualmente
projetos de reuso da água, o programa de florestas renováveis, dentre outros.

Para a empresa obter o certificado ISO 14000 é necessário que atenda as


seguintes exigências:

1. Política ambiental

A direção da empresa deve elaborar uma Política Ambiental que represente seus
produtos e serviços. Além disso, a empresa precisa divulgar essa política entre
os funcionários e a comunidade. A direção precisa demonstrar compromisso
com o cumprimento legal dessa política e buscar o melhoramento contínuo do
desempenho ambiental da empresa.

2. Aspectos ambientais

A organização necessita ter procedimentos que permitam identificar, conhecer,


administrar e controlar os resíduos gerados durante o processamento: emissões
atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos.

3. Exigências legais

A empresa deve desenvolver uma sistemática para obter e ter acesso a todas
as exigências legais pertinentes à sua atividade. As exigências devem ser claras
para a direção da empresa. Os funcionários devem conhecer quais são essas
exigências e quais as obrigações necessárias para seu cumprimento.
Gestão da qualidade total 77
4. Objetivos e metas

Capítulo 6
A empresa deve criar objetivos e traçar metas alinhadas com o cumprimento
da política ambiental que foi definida. Esses objetivos e metas devem refletir
os aspectos ambientais, os resíduos gerados e seus impactos no meio ambiente.
Também deve considerar exigências legais e outros aspectos inerentes a atividade.

5. Programa de gestão ambiental

A empresa deve ter um programa estruturado com responsáveis pela


coordenação e implementação de ações que cumpram o estabelecido na
política ambiental e as exigências legais. Que atinjam os objetivos e metas que
contemplem o desenvolvimento de novos produtos e processos. Este programa
deve, inclusive, prever ações contingenciais, associadas aos riscos envolvidos e
aos respectivos planos emergenciais.

6. Estrutura organizacional e responsabilidade

O Programa de Gestão Ambiental deve integrar as atividades dos funcionários


da empresa, através da definição de cargos e funções relativas à questão
ambiental. A empresa deve possuir um organograma que demonstre que suas
inter-relações estão bem definidas e interligadas em toda a empresa. A direção
da empresa deve definir um ou mais profissionais para que seja o representante
dos assuntos específicos da Gestão Ambiental.

7. Conscientização e treinamento

O programa de Gestão Ambiental deve desenvolver treinamento com os


funcionários com atribuições na área ambiental, para que estejam conscientes
da importância do cumprimento da política e objetivos, das exigências legais
e de outras definidas pela empresa. O treinamento também deve levar em
consideração todos os impactos ambientais reais ou potenciais associados às
suas atividades de trabalho.

8. Comunicação

A empresa deve possuir uma sistemática para enviar e receber comunicados


relativos às questões ambientais para seus funcionários e a comunidade.
78 Introdução a gestão ambiental

9. Documentação do Sistema de Gestão Ambiental


Capítulo 6

A empresa deve possuir um Manual dos Sistemas de Gerenciamento Ambiental


que contenha as exigências ambientais da empresa.
10. Controle de documentos
A empresa deve manter um sistema de controle de documentos semelhante
ao da ISO 9000, ou seja, procedimentos para que todos os documentos
sejam controlados e assinados pelos responsáveis, com fácil acesso aos
interessados, para mantê-los atualizados, identificados, legíveis e armazenados
adequadamente. Os documentos mais antigos devem ser retirados do local
evitando o uso indevido.
11. Controle operacional
A empresa precisa ter procedimentos para fazer inspeções e controle dos
aspectos ambientais, incluindo procedimentos para a manutenção e calibração
dos equipamentos que fazem esses controles.
12. Situações de emergência
A empresa deve desenvolver procedimentos para prevenir, investigar e responder
situações de emergência. Também deve ter estratégias e funcionários treinados
para atuar em situações de emergência.
13. Monitoramento e avaliação
A empresa deve ter um programa de avaliação do desempenho ambiental
através da inspeção das características de controle ambiental e calibração dos
instrumentos de medição para que atendam aos objetivos e metas estabelecidas.
14. Não conformidade, ações corretivas e ações preventivas
A empresa deve instituir responsáveis com autoridade para investigar
as causas das não conformidades ambientais e tomar as devidas medidas
corretivas e preventivas.
15. Registros
A empresa precisa arquivar todos os resultados de auditorias, análises críticas
relativas às questões ambientais. O objetivo de ter esses registros é provar,
a quem quer que seja, que a empresa possui um sistema conforme o que é
exigido pela norma.
Gestão da qualidade total 79
16. Auditoria do Sistema da Gestão Ambiental

Capítulo 6
A empresa deverá ter um programa de auditoria ambiental periódica com os
seus resultados documentados e apresentados à alta administração da empresa.

17. Análise crítica do Sistema de Gestão Ambiental (SGA)

Baseado nos resultados da auditoria do SGA, a empresa deve fazer uma análise
crítica do Sistema de Gestão Ambiental e as devidas alterações, para que atenda
às exigências do mercado, clientes, fornecedores e aspectos legais, na busca da
melhoria contínua.

A ISO desenvolveu uma série de normas específicas, denominada ISO


14020, a partir da qual foram criados três tipos de rótulos ambientais:
I, II  e  III, que correspondem, respectivamente, ao  Programa Selo Verde
(14024), às Autodeclarações Ambientais (14021) e às Avaliações de Ciclo
de Vida (14025). Ações de rotulagem ambiental têm por objetivo cumprir
duas finalidades básicas: criar a consciência para a importância dos aspectos
ambientais de um produto ou serviço e influenciar a escolha do consumidor e
a mudança de comportamento do fabricante.

Recapitulando

Neste capítulo vimos o papel histórico da indústria no processo de exploração


ambiental e as atuais políticas ambientais adotadas nas empresas em busca da
ISO 14000. As suas normas e exigências em relação à gestão ambiental e a
importância da certificação ISO pelas empresas.
80 Introdução a gestão ambiental

7 Inovação e sustentabilidade – Empresa verde


Capítulo 7

Neste capítulo serão abordadas as novas ações desenvolvidas pelas indústrias,


organismos gestores e a sociedade na redução dos impactos gerados pelas
empresas e a sustentabilidade dos processos. Também veremos a adoção do
sistema de P+L, sua adequação aos modelos de produção e a importância
econômica dos produtos no novo modelo de consumo das sociedades.

Ao final deste capítulo esperamos que você esteja


apto a:
• Avaliar o novo modelo de gestão ambiental adotado pelas
empresas: o P+L.

• Instalação de processos nos modelos de gestão para adoção


do P+L.

• Benefícios econômicos do P+L e o seu papel na competitividade


das empresas.

• Analisar a importância dos selos verdes na caracterização


dos produtos produzidos de forma sustentável.
Inovação e sustentabilidade – Empresa verde 81
A ausência de legislações ambientais no início do século 20 e a completa

Capítulo 7
ignorância sobre os impactos das atividades econômicas tornaram os aspectos
ambientais de um empreendimento pouco importantes. Desde a década
de 80, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
e a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
(ONUDI) se uniram visando a elaboração de um modelo mais “limpo” de
desenvolvimento econômico. Segundo estes princípios e pressionados pela
sociedade, criou-se o conceito de Desenvolvimento Industrial Ecologicamente
Sustentável, adequando o processo de industrialização com a qualidade de
vida das gerações atuais e futuras. A proposta está baseada na eficiência e na
sustentabilidade dos ciclos contínuos dos recursos naturais.

Em 1990 o PNUMA definiu o conceito de Produção mais Limpa (P+L). O


seu conceito principal prevê que as empresas acompanhem todas as etapas da
cadeia produtiva e do ciclo de vida do produto no momento de avaliar seu
desempenho. Este processo leva em conta também as tecnologias de produção.
Pouco adianta se uma indústria evita eficientemente a liberação de poluentes na
natureza se ela não reduz a sua geração. O descarte final dos resíduos, por mais
que atendam a legislação de forma eficiente, são problemáticos e de elevados
custos, sendo um grande problema para gestão ambiental. Nesta ótica, o P+L
indica a substituição da tecnologia de descarte por uma abordagem preventiva,
conciliando o caráter produtivo com o ambiental, reduzindo o volume dos
resíduos. Um dos fatores para esta redução está na melhoria da eficiência da
matéria prima reduzindo o desperdício. Além da prevenção da poluição, gera
ganhos financeiros pela redução do uso de matérias-primas.

Desenvolvimento de
técnicas preventivas
Redução da quantidade
de resíduos

Reuso e reciclagem

Recuperação de matéria
e energia
Disposição final de
resíduos inevitáveis
82 Introdução a gestão ambiental

Diversas nações já aderiram à Declaração Internacional sobre Produção Mais


Capítulo 7

Limpa. Para o Brasil, a assinatura do documento ocorreu em 2003. A partir


dessa assinatura e com o objetivo de tornar as empresas adequadas ao P+L, o
governo federal formou um grupo de trabalho interinstitucional, estimulando
e assessorando as empresas na implantação do processo.

O P+L é gerenciado atualmente pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas


(CNTL), localizado no Rio Grande do Sul. No processo de avaliação,
verificou-se que umas ações são preferenciais tecnicamente a outras. Por
exemplo, a redução de resíduos na fonte é mais vantajosa para a empresa do
que a reciclagem interna. A redução de resíduo na fonte pode ser realizada
através da substituição da matéria-prima ou da tecnologia de processamento
através da aquisição de equipamentos mais modernos e eficientes com
menor ação poluidora e menor gasto energético. Substituição da matéria-
prima de processamento é outra alternativa, procurando-se utilizar materiais
mais renováveis. Um exemplo recente é a exploração de madeira no Brasil.
A maioria das madeireiras percebeu que explorar sem sustentabilidade estava
acabando com sua matéria-prima. Atualmente são grandes os trabalhos de
reflorestamento visando a reativação da cadeia produtiva.

Outro ponto relevante abordado no P+L é a sistematização e a ordenação das


atividades, pois influencia na eficiência dos processos. Quando todos os meios
do sistema forem adequados e otimizados, a prevenção da geração de resíduos
não for mais possível, investe-se no novo processo da cadeia: reciclar. O ideal
é que resíduo gerado possa ser reintegrado na própria cadeia produtiva da
empresa visando a redução dos custos. Caso não seja possível deve-se buscar
alternativas de reciclagem externa.

Para a implantação da metodologia do P+L é necessário a adoção das seguintes


medidas sequenciais descritas abaixo:

Tarefa 01 - Comprometimento da direção da empresa;

Tarefa 02 - Sensibilização dos funcionários;

Tarefa 03 - Formação do ECOTIME;


Inovação e sustentabilidade – Empresa verde 83
Tarefa 04 - Apresentação da metodologia;

Capítulo 7
Tarefa 05 - Pré-avaliação;

Tarefa 06 - Elaboração dos fluxogramas;

Tarefa 07 - Tabelas quantitativas;

Tarefa 08 - Definição de indicadores;

Tarefa 09 - Avaliação dos dados coletados;

Tarefa 10 – Barreiras;

Tarefa 11 - Seleção do foco de avaliação e priorização;

Tarefa 12 - Balanços de massa e de energia;

Tarefa 13 - Avaliação das causas de geração dos resíduos;

Tarefa 14 - Geração das opções de PmaisL;

Tarefa 15 - Avaliação técnica, ambiental e econômica;

Tarefa 16 - Seleção da opção;

Tarefa 17 – Implementação;

Tarefa 18 - Plano de monitoramento e continuidade.

Resumindo, os objetivos do P+L estão na redução do desperdício e na redução


dos custos de produção, podendo as empresas, desta forma, comercializar seus
produtos a preços mais reduzidos, mantendo a lucratividade e a qualidade do
meio ambiente. As empresas não podem deixar de lado a capacidade de renovação
dos recursos naturais, já que a exploração irracional dos recursos conduz ao
esgotamento da matéria-prima, comprometendo a sustentabilidade do negócio.
84 Introdução a gestão ambiental

PRODUÇÃO MAIS LIMPA


Capítulo 7

Minimização de Reuso de
redíduos e emissões redíduos e emissões

Nivel 1 Nivel 2 Nivel 3

Redução da fonte Reciclagem interna Reciclagem externa Reciclagem biogênicos


Estruturas
Modificação Modificação
no produto no processo Materiais
Boas práticas
Substituição de matérias-primas
Modificação tecnológica

Disponível em: <http://www.sebraepr.com.br/portal/page/portal/PORTAL_


INTERNET/PRINCIPAL2009/BUSCA_TEXTO2009?codigo=849> . Acesso
em: 9 de set. 2011.

A gestão ambiental tem papel importante no processo de proteção da


empresa. Com o aprimoramento da sustentabilidade da empresa, menores
são os riscos de acidentes ambientais e conflitos. A gestão também auxilia
na promoção do crescimento da empresa, considerando que o comércio
internacional encontra-se cada vez mais exigente em matéria ambiental. Os
mercados nacional e internacional estão cada vez mais exigentes em relação aos
certificados ambientais e ao atendimento dos requisitos de sustentabilidade,
fator que melhora a competitividade das empresas.

As empresas e o compromisso com a biodiversidade


A biodiversidade refere-se à variedade de formas de vida na Terra, incluindo
a extensa gama de populações geneticamente distintas de cada espécie, assim
como todas as várias espécies, comunidades e ecossistemas dos quais fazem
parte. Por ser tão abrangente, este conceito aplica-se a todos os ecossistemas
e componentes vivos e os processos ecológicos contínuos que os mantém
em funcionamento e constante evolução. A Convenção sobre Diversidade
Biológica (CDB) foi um dos acordos mais importantes assinados na Eco 92,
no Rio de Janeiro, adotada por mais de 180 países, assim define biodiversidade:
Inovação e sustentabilidade – Empresa verde 85
“a variedade de organismos vivos de todo o tipo de fonte, incluindo, inter alia,

Capítulo 7
organismos terrestres, marinhos e de outros ecossistemas aquáticos e os
complexos ecológicos dos quais fazem parte; isso abrange a diversidade dentro
das próprias espécies, entre as espécies e os ecossistemas.”

A atividade econômica está ligada à nossa sobrevivência e, para sobreviver,


a atividade econômica deve gerar lucros. No entanto, hoje muitas empresas
reconhecem que o desenvolvimento sustentável de longo prazo depende de
um bom desempenho ambiental e social.

Nem toda a atividade econômica é igual: para as empresas que exploram os


recursos naturais – atividade florestal, pesca, recursos hídricos, mineração,
petróleo e gás – a biodiversidade está mais intimamente ligada à gestão dos
ecossistemas. Inicialmente, essas empresas precisam localizar os recursos
existentes. Em seguida, precisam demonstrar sua capacidade em extrair esses
recursos com o menor impacto possível à biodiversidade. E ao longo de todo o
processo, precisam obter permissão do governo – a licença ‘formal’ de operação,
assim como a licença ‘informal’ de todos os envolvidos (por exemplo, das
comunidades locais, das ONGs, da comunidade acadêmica). Uma determinada
empresa terá atingido um desempenho ‘excelente’ se puder comprovar que a
sociedade e a biodiversidade se encontram em melhores condições ao longo e
ao término de determinado projeto do que se encontravam quando o projeto
se iniciou. Por outro lado, uma empresa terá alcançado um desempenho
‘sofrível’ se tiver que comprovar que os danos causados à biodiversidade foram
minimizados ou anulados por outras ações por ela tomadas.

Se as empresas não lidarem com as questões referentes à biodiversidade de


forma adequada, poderá impor riscos à atividade econômica. A posição de
uma empresa no mercado e a sua lucratividade, pode ser ameaçada pelos
seguintes riscos:

• Questionamento de sua licença legal de operação;

• Ruptura de sua cadeia de suprimentos;

• Danos à imagem de sua marca;

• Boicote por parte dos consumidores e anticampanhas promovidas


por ONGs ambientalistas;
86 Introdução a gestão ambiental

• Multas, sinistros por danos ambientais a terceiros e futuras


Capítulo 7

responsabilidades ambientais;

• Baixo desempenho e valor nos mercados financeiros;

• Baixo moral de seus colaboradores e redução de sua produtividade.


Esses riscos precisam ser cuidadosamente avaliados e gerenciados.

Selos verdes/Selos ecológicos


Em relação aos selos verdes são diversas as nomenclaturas utilizadas para
expressar uma mesma ideia. Na definição da Associação Brasileira de Normas
Técnicas  (ABNT), rotulagem ambiental é uma certificação que atesta, por
meio de uma marca inserida no produto – daí o uso do termo selo – ou na
embalagem que determinado produto/serviço apresenta reduzido impacto
ambiental em relação a outros produtos disponíveis no mercado.

Os  primeiros rótulos  obrigatórios surgiram na Europa nos anos 1940.


Com o objetivo de advertir, eles tinham a intenção de destacar a presença
de substâncias químicas potencialmente danosas à saúde do consumidor. No
final dos anos 1970, por influência de pressões do emergente movimento
ambientalista, surgiram os primeiros selos verdes. Em 1977, a Alemanha
instituiu o  Anjo Azul. Ainda hoje este selo é garantido pelo Ministério do
Meio Ambiente alemão. O selo certificou 3,6 mil produtos segundo critérios
como, por exemplo, reciclagem e baixa toxicidade. Em 1988, o Canadá criou
o seu Eco-logo e, em 1989, foi a vez do Japão implementar o Ecomark. No
ano de 1989, os EUA criaram o Green Seal. E, desde 1992, a União Européia
mantém o Ecolabel.

Todos esses selos são independentes, possuem critérios rígidos e avaliações


contínuas. Desfrutam de alta credibilidade no mercado e representam
um guia seguro para os consumidores, não sofrendo da desconfiança que
habitualmente recai sobre os selos autorreguladores, adotados sem verificação
externa, por empresas ou segmentos empresariais. Para garantirem o direito de
seus consumidores a produtos ambientalmente corretos, os países promotores
desses importantes selos verdes passaram a exigir também o mesmo
compromisso dos produtos importados como contrapartida em acordos de
comércio internacional.
Inovação e sustentabilidade – Empresa verde 87
A expansão da aceitação dos selos verdes se deve principalmente a três formas de

Capítulo 7
pressão. A primeira é oriunda dos próprios mercados e dos protocolos estabelecidos
entre seus membros para definir as regras do comércio. Até algum tempo atrás
as regras eram, basicamente, de origem comercial, abrangendo as questões de
custo, qualidade e entrega. Mas, desde a década de 1990, com a consolidação
de uma economia globalizada e, a partir deste novo século, com a intensificação
da discussão sobre impactos da produção no meio ambiente e o crescente senso
de urgência associado às mudanças climáticas, os critérios socioambientais vêm
ganhando importância como elemento novo, de natureza ética.

Modelos de selos e certificações de produtos ecologicamente corretos

Os selos também podem ser atribuídos de acordo com a abrangência da


certificação desejada disponibilizando para a sociedade apenas uma parte
do processo. Muitas vezes, o momento da empresa ou sua capacidade de
implementação não permitem tanta abrangência e a consciência sobre aquilo
que é possível ou desejável nesse caso é definitiva.
88 Introdução a gestão ambiental

Os diferentes tributos dos selos verdes


Capítulo 7

Selos com Selos com Declarações


atributos simples atributos múltiplos ambientais

São aqueles que Diferente dos selos Assim como os selos


evidenciam uma com atributos simples, com atributos múltiplos,
característica ambiental os atributos múltiplos também procuram dar ao
buscam estabelecer
do produto de forma consumidor uma visão
uma visão mais integral
individualizada. Um do impacto gerado global do produto, com
bom exemplo é o das por produtos, como: a diferença de que aqui
embalagens que utilizam eficiência energética, o processo demora mais
isso no rótulo. conservação, emissão de e é feito com base em
A principal crítica a esse gases de efeito estufa, diligências conduzidas
otimização no uso de
tipo de informação é a de pela própria certificadora.
recursos, destinação
que não necessariamente, final, entre outros. A As declarações ambientais
por conter um atributo gradação atribuída pela também procuram tornar
simples, um produto certificadora leva em produtos comparáveis,
pode ser considerado conta uma média geral com a fim de facilitar o
verde. Informações dos critérios para atribuir processo de tomada de
ou não o selo ao produto.
divulgadas desse modo decisão do consumidor.
As críticas a esse tipo
servem apenas para de selo normalmente Uma pesquisa realizada
confundir o consumidor. fazem menção à pouca em 2009 pela BBMG
Ainda assim são precisão do processo em nos Estados Unidos
importantes para virtude de trabalhar com mostrou que, dos mais
despertar o interesse, médias ponderadas. Para de quatrocentos selos
os críticos, o processo
a curiosidade e a disponíveis no mercado,
deve ser mais rigoroso
consciência. ou estabelecer classes poucos são conhecidos
de selo distintas a partir pelos consumidores.
das médias alcançadas
pelos produtos. O
problema é que isso
aumentaria ainda mais a
multiplicidade de selos e,
assim, a confusão entre
os consumidores.
Inovação e sustentabilidade – Empresa verde 89

Capítulo 7
Recapitulando

Neste capítulo foram abordadas as novas ações desenvolvidas pelas indústrias,


organismos gestores e a sociedade na redução dos impactos gerados pelas
empresas e a sustentabilidade dos processos. Também aprendemos sobre a adoção
do sistema de P+L, sua adequação aos modelos de produção e a importância
econômica dos produtos no novo modelo de consumo das sociedades; a
importância da classificação dos produtos e o estabelecimento dos selos verdes.

Exercícios de Fixação

1. Qual a importância da obtenção da ISO 14001 para as empresas no atual


cenário econômico internacional?

2. Explique qual o princípio que norteia o programa de P+L nas empresas e


qual a importância do gestor ambiental na sua implantação?
90 Introdução a gestão ambiental

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em: <http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Comportamento%20
do%20Consumidor.htm.> Acesso em 1º de ago. 2011

Leituras Complementares

Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.


Produção mais limpa na micro e pequena Empresa. 2008, 32 p.

Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Rede de


produção mais limpa. 2009, 55 p.

Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento sustentável. Ecossistemas


e Bem Estar humano – Vivendo além dos nossos meios. Março 2003, 31p.

Federação das Indústrias de Minas Gerais – FIEMG. Política Nacional de


Resíduos Sólidos. Conceitos e informações gerais. 2009, 41 p.

Federação das Indústrias de Minas Gerais – FIEMG. Orientações ao empreendedor


sobre o licenciamento ambiental no Estado de Minas Gerais. 2009, 19 p.

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