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Tempo do Presente
Circa 1520 (v. Sinopse)
MESTRE JOÃO
(Escrevendo e lendo alto, em tom vagaroso e
melancólico)
— Hoje, de regresso das Índias a casa, no termo de
tantos anos de ausência e de tantos e tão distintos pa-
radeiros, o meu coração está cheio de memórias e de
melancolias...
18 MESTRE JOÃO
— São dez horas. Estamos de novo prestes daquela
Angra de S. Brás...
MESTRE JOÃO
(Prosseguindo)
— … daquela Angra de S. Brás de tantos distantes
acontecimentos. E em mim acorda a lembrança da-
quele náufrago, que o meu entendimento e os meus
sentidos haviam já para sempre esquecido...
MARINHEIRO
(Para fora, alvoroçado)
— Ajuda! Aqui! É um náufrago! Está como morto!
(Chamando:) Diogo Anes! Nicolau! Chegai aqui!
20 DIOGO
— O que foi?
MARINHEIRO
— Encontrei-o entre as rochas como morto. Ajuda-
-me aqui!
DIOGO
(Benzendo-se)
— Deus misericordioso, é um dos nossos! Como veio
ele aqui parar? (Para fora, pedindo também auxílio:)
Nicolau! Nicolau!
MARINHEIRO
— Temos que o levar para bordo, ainda respi-
ra! (Puxando:) Uuoupa!
DIOGO
(Segurando o náufrago pelas pernas)
MARINHEIRO
— Pobre diabo, como teria vindo aqui parar?
DIOGO
— Ele nos contará, se viver.