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Aula 10 = A Doutrina Bíblica do Pacto das

Obras/Criação

Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO


Classe de Doutrina II – Quem é o Homem Par Que Dele Te Lembres?
Professores: Pr. Hélio O. Silva e Presb. Baltazar M. Morais Jr.
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Aula 10 – A DOUTRINA BÍBLICA DO PACTO DAS OBRAS/CRIAÇÃO 1º/05/2011.
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A. Introdução:
O estado original do homem em sua relação com Deus (vida religiosa) tinha suas
raízes numa aliança, conhecida como aliança, ou pacto das obras ou pacto da criação.
A Escritura apresenta claramente o caminho da salvação na forma de uma aliança no
paralelo que Paulo traça entre Adão e Cristo (Rm 5), logo o estado de integridade de
Adão deve ser visto também em termos de uma aliança.

Essa forma de entender a relação do homem com Deus é conhecida historicamente


de teologia do pacto ou teologia federal (representativa. Do latim foedus = aliança,
pacto, tratado, convenção, união). Sua sistematização final aconteceu no período da
Reforma; inicialmente com Bullinger (Compêndio da Religião Cristã); depois Oleviano
e finalmente Cocceio (1648). A doutrina do pacto é a espinha dorsal da Confissão de
de Fé de Westminster. A doutrina do pacto das obras (da criação) teve fraca
receptividade na teologia católico-romana e na luterana devido sua atitude de rejeição
da doutrina da imputação imediata do pecado de Adão aos seus descendentes.

Nos EUA está presente nos escritos de Charles Hodge, Thornwell, Breckenridge e
Dabney. Na Holanda foi ensinada por Abraham Kuyper e Herman Bavinck,
influenciando a Teologia Sistemática de Berkhoff, que é adotada nos seminários
presbiterianos brasileiros desde 1970. Por essa razão, a fé Reformada é conhecida
como a teologia do Pacto.

O. Palmer Robertson define que "pacto é um vínculo de sangue administrado


soberanamente" (p.8). Ele sempre contém o sentido de vínculo ou relacionamento,
antes que a idéia de "obrigação" ou "compromisso". O elemento essencial de um
pacto é que alguém fica vinculado a outrem pelo estabelecimento de um compromisso.
O vínculo leva a obrigações graciosas da parte de Deus para com o homem, e de uma
resposta obediente da parte deste último para com Deus.

B. O Fundamento Bíblico da Doutrina da Aliança das Obras.


1. OS ELEMENTOS COMPONENTES DE UMA ALIANÇA ESTÃO PRESENTES NA
NARRATIVA DA CRIAÇÃO.
Gênesis 1-3 não define o tempo de duração da “aliança”, mas isto não quer dizer que
os dados necessários para a formulação de uma doutrina da aliança não estejam
presentes ali. Embora a palavra “trindade” não apareça nas Escrituras a doutrina da
Trindade é claramente bíblica. Todos os elementos componentes de uma aliança
estão indicados na Escritura, e se os elementos estão presentes, não somente temos
base para relacioná-los uns com os outros, num estudo sistemático da doutrina, mas
também temos o dever de fazê-lo, dando à doutrina assim elaborada um nome
apropriado. Em Gênesis 1-3 são mencionadas duas partes: é estabelecida uma
condição, está claramente envolvida uma promessa de recompensa pela obediência, e
é feita a ameaça de uma penalidade pela transgressão. A Bíblia não descreve a
instituição do pacto entre Deus e Adão, nem os termos firmados e sendo aceitos por
Adão, todavia não lemos esse mesmo tipo de relato na aliança ratificada nos casos de
Noé e Abrão.

Deus e o homem não comparecem como partes iguais em nenhuma destas alianças.
Todas as alianças de Deus são da natureza de disposições soberanas impostas ao
homem. Deus é absolutamente soberano em Seus procedimentos para com o homem,
e tem todo o direito de impor as condições que o último deve cumprir, para desfrutar o
Seu favor. Além disso, mesmo em virtude da sua relação natural, Adão tinha o dever
de obedecer a Deus; e quando foi estabelecida a relação pactual, essa obediência
tornou-se também uma questão de interesse próprio. Quando entra em relações
pactuais com os homens, é sempre Deus que estabelece os termos, e estes são
termos misericordiosos, provenientes da Sua graça, de modo que Ele tem, deste ponto
de vista igualmente, todo o direito de esperar que o homem lhes dará assentimento.
No caso da aliança das obras, Deus anunciou a aliança, e Adão, vivendo ainda sem
pecado tinha garantia suficiente da sua aceitação.

2. HOUVE PROMESSA DE VIDA ETERNA.


Alguns negam a existência de qualquer prova bíblica da promessa de vida eterna feita
a Adão, mas ela está claramente implícita na alternativa da morte como o resultado da
desobediência. A clara implicação do castigo anunciado é que, em caso de
obediência, a morte não entraria no mundo, e isto só pode significar que a vida teria
continuidade. Tem-se objetado que isto significa apenas a continuação da vida natural
de Adão, e não daquilo que a Escritura chama de vida eterna. Mas o conceito bíblico
de vida é vida em comunhão com Deus; e esta é a vida que Adão tinha, conquanto no
caso dele ainda pudesse ser perdida. Se Adão vencese o período da prova, esta vida
não somente seria mantida, mas também deixaria de estar sujeita a ser perdida e,
portanto, seria elevada a um plano mais alto. Paulo diz-nos expressamente em Rm
7.10 que o mandamento, que é a lei, era para a vida. Comentando este versículo, diz
Hodge: “A lei foi destinada e adaptada para assegurar a vida, mas de fato veio a ser a
causa da morte”. Isso está claramente indicado também em passagens como Rm 10.5
e Gl 3.13. Ora, esta gloriosa promessa de vida perene de modo nenhum estava
implícita na relação natural de Adão com Deus, mas tinha base diferente. Essa base
positiva e complacente de Deus era uma dádiva especial que sustenta o princípio da
aliança. Pode continuar havendo alguma dúvida quanto à propriedade do nome
“aliança das obras”, mas não pode haver quaisquer objeções válidas ao conceito de
aliança presente no texto de Gênesis 1-3.

3. A ALIANÇA DA GRAÇA É A EXECUÇÃO SIMPLES DO ACORDO ORIGINAL,


EXECUÇÃO FEITA POR CRISTO COMO O NOSSO FIADOR.
Ele se encarregou espontaneamente de cumprir a vontade de Deus. Ele se colocou
sob a lei para poder redimir os que estavam sob a lei e que já não estavam em
condições de obter vida mediante o seu próprio cumprimento da lei. Ele veio fazer o
que Adão não conseguiu fazer, e o fez em virtude de um acordo pactual. Se assim é,
se a aliança da graça é, no que se refere a Cristo, nada mais nada menos que o
cumprimento do acordo original, segue-se que este deve ter sido também da natureza
de uma aliança. E visto que Cristo satisfez a condição da aliança das obras, o homem
pode agora colher o fruto do acordo original pela fé em Jesus Cristo. Agora há dois
caminhos de vida, os quais são em si mesmos caminhos de vida; um é o caminho da
lei: “o homem que praticar a justiça decorrente da lei, viverá por ela” (Rm 10.5) mas é
um caminho pelo qual o homem não pode mais achar a vida; e o outro é o caminho da
fé em Jesus Cristo, que satisfez as exigências da lei e pode dispensar a bênção da
vida eterna.

4. O PARALELO ENTRE ADÃO E CRISTO É BASEADO NO CONCEITO DA


ALIANÇA.
O paralelo que Paulo traça entre Adão e Cristo em Rm 5.12-21, no contexto da
doutrina da justificação, só pode ser explicado com base no pressuposto de que Adão,
à semelhança de Cristo, era o chefe de uma aliança (cabeça representante). De
acordo com Paulo, o elemento essencial da justificação consiste nisto: que a justiça de
Cristo é-nos imputada, sem qualquer obra pessoal da nossa parte para merecê-la. E
ele considera isso um perfeito paralelo em relação à maneira pela qual a culpa de
Adão nos é imputada. Isto leva naturalmente à conclusão de que Adão também estava
numa relação pactual com os seus descendentes.

5. A PASSAGEM DE OS 6.7.
Em Oséias 6.7 lemos: “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão”. Têm sido feitas
tentativas para desacreditar essa tradução. Alguns têm sugerido a forma “em Adão”. O
que implicaria, que alguma transgressão muito conhecida ocorreu num lugar chamado
Adão. Mas a preposição proíbe essa tradução. Além disso, a Bíblia não faz menção
alguma dessa tal transgressão histórica muito conhecida em Adão. A Versão
Autorizada (Authorized Version) traduz “Como homens”, caso em que significaria, de
maneira humana. A isto pode-se objetar que não há plural no original, e que essa
declaração seria deveras fútil, pois como o homem poderia transgredir, senão à
maneira humana? A tradução “como Adão” é a melhor, tendo o apoio da passagem
paralela de Jó 31.33, e ajuda a esclarecer Romanos 3.23: “Todos pecaram e carecem
da glória de Deus”. Todos pecaram em Adão, seu representante, e por isso são
pecadores.

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Bibliografia: Louis Berkhof, Teologia Sistemática, ECC, p. 203-209 / O. Palmer
Robertson, O Cristo de Pactos, LPC, p. 7-18. / Mauro F. Meister, “Uma Breve
Introdução ao Estudo do Pacto”, Fides Reformata, vol. 3.I; jan-jul/1998, p.110-123. /
Gleason L. Archer Jr. “Aliança”. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol.
1, Vida Nova, p.44-46.

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