Professional Documents
Culture Documents
Relatório Final
Autoria
Luís Capucha (coordenação)
Maria das Dores Guerreiro
Joaquim Bernardo
Francisco Madelino
Alexandre Calado
Sónia Vladimira Correia
Ana Raquel Cruz e Silva
Julho de 2005
1
ÍNDICE
1 Introdução............................................................................................................ 4
2 Domínios dos Conceitos de Inclusão e Exclusão Social ........................................ 7
3 Principais indicadores de pobreza em Portugal: perspectiva comparada com a
situação europeia ........................................................................................................ 13
3.1 Composição da pobreza em Portugal .......................................................... 17
3.2 A Distância às Necessidades Básicas .......................................................... 22
4 Actividade Económica, Emprego e Desemprego ................................................ 28
4.1 Emprego e Índices de Actividade................................................................ 28
4.2 Estrutura Sectorial do Emprego .................................................................. 29
4.3 A segmentação do mercado de trabalho ...................................................... 31
4.4 Disparidades na Distribuição do Rendimento .............................................. 33
4.5 Desemprego e Produtividade ...................................................................... 37
5 Educação e aprendizagem ao longo da vida ........................................................ 43
5.1 As dinâmicas de inclusão/exclusão no sistema de educação e formação em
Portugal ................................................................................................................. 44
5.1.1 A massificação do acesso à educação e à formação inicial e a
(re)produção da exclusão .................................................................................... 44
5.2 O acesso a oportunidades de educação e formação para adultos .................. 54
5.3 O Acesso à sociedade da informação .......................................................... 65
5.4 Para uma Política de Acção Inclusiva para a Educação ............................... 71
6 Protecção Social e Programas de Luta Contra a Pobreza ..................................... 74
7 Família, Equipamentos e Serviços ...................................................................... 89
7.1 Mudança e diversidade nas relações familiares ........................................... 94
7.2 A evolução das políticas de apoio à família em Portugal ............................. 96
7.3 Serviços e equipamentos de apoio às famílias ........................................... 104
8 Padrões de Territorialização ............................................................................. 108
9 Habitação: breve referência a um problema persistente ..................................... 112
10 Nota para uma abordagem da Saúde no contexto da Inclusão Social ................. 116
11 Categorias Vulneráveis à Pobreza e à Exclusão Social ...................................... 118
11.1 Grupos com “handicap” específico ........................................................... 120
11.1.1 Pessoas com deficiência .................................................................... 120
11.1.2 Imigrantes ......................................................................................... 121
11.2 Grupos “desqualificados” ......................................................................... 123
11.2.1 Desempregados de longa duração ..................................................... 123
11.2.2 Trabalhadores com qualificações baixas ou qualificações obsoletas .. 125
11.2.3 Idosos ............................................................................................... 126
11.2.4 Famílias monoparentais .................................................................... 128
11.3 Grupos à margem ..................................................................................... 129
11.3.1 Pessoas sem-abrigo ........................................................................... 129
2
11.3.2 Toxicodependentes e ex-toxicodependentes ...................................... 130
11.3.3 Jovens em risco ................................................................................. 132
11.3.4 Detidos e ex-reclusos ........................................................................ 134
12 Breve conclusão ............................................................................................... 136
13 Objectivos Estratégicos para a Inclusão no Horizonte 2013 .............................. 137
13.1 Objectivos complementares ...................................................................... 144
13.1.1 Quanto à distribuição dos rendimentos .............................................. 144
13.2 Objectivos de enquadramento ................................................................... 152
13.2.1 No domínio da distribuição dos rendimentos ..................................... 152
13.2.2 No sector da educação ....................................................................... 153
13.2.3 No domínio da demografia ................................................................ 154
13.2.4 No sector do emprego ....................................................................... 154
13.2.5 No domínio da economia .................................................................. 156
13.2.6 Correlação entre factores, domínios de política e indicadores de coesão . 156
13.3 Cenários prospectivos para o horizonte 2013 ............................................ 159
13.3.1 Cenário catastrófico .......................................................................... 159
13.3.2 Cenário de consolidação do modelo social e económico tradicional .. 160
13.3.3 Cenário de Europeização ................................................................... 161
13.4 Factores Críticos ....................................................................................... 162
13.5 Critérios gerais para o sucesso dos objectivos da inclusão ......................... 167
14 Bibliografia ...................................................................................................... 171
15 ÍNDICE DE GRÁFICOS E QUADROS ........................................................... 181
Glossário .................................................................................................................. 185
ANEXOS ................................................................................................................. 193
3
1 Introdução
4
parâmetros relevantes para a caracterização da qualidade e dos factores de risco de
exclusão associados ao nosso mercado de emprego.
A educação e a aprendizagem ao longo da vida constitui outro dos eixos
fundamentais para a compreensão global e multimensional dos cenários de exclusão
social em Portugal. No capítulo quatro aprofundam-se, portanto, as problemáticas
associadas aos níveis educacionais e às necessidades de reforma estrutural a promover
neste domínio.
Esta reforma afirma-se determinante no caminho para a integração em muitos
dos outros domínios da inclusão social, sendo assim imperativo pensar numa política de
acção inclusiva para a aprendizagem ao longo da vida.
O capítulo cinco é dedicado aos programas de luta contra a pobreza e à
protecção social, sector essencial para o desenvolvimento do bem-estar e da cidadania, e
instrumento fundamental de redistribuição da riqueza e das oportunidades.
À família e aos equipamentos sociais dedicamos um capítulo em que
começamos por fazer uma breve alusão às mudanças nas relações familiares e à
diversificação dos respectivos padrões ocorridas na última década procedendo depois a
uma leitura das principais políticas de apoio às famílias, com particular destaque para as
taxas de cobertura dos equipamentos e serviços sociais.
No capítulo sete, “Padrões de Territorialização”, observou-se a distribuição do
fenómeno da pobreza pelo território nacional, através de uma leitura transversal a todas
as regiões do continente e arquipélagos autónomos. O objectivo que determina este
plano analítico passa por complementar a análise das dimensões da pobreza ao nível
nacional com uma análise enfocada no nível territorial, que nos permite perceber as
diversidades internas das situações de exclusão, bem como os padrões tendenciais de
espacialização da pobreza. Neste mesmo sentido, complementamos a análise com o
estudo Tipificação das Situações de Exclusão em Portugal Continental (2005) realizado
pelo Instituto de Segurança Social, onde se estabelece uma tipologia dos territórios de
exclusão social no nosso país, sendo este dividido em seis territórios tipo, com
especificidades no que se refere aos vários domínios da pobreza.
Tendo em consideração os factores propiciadores de pobreza acima referidos,
evidenciam-se algumas categorias particularmente vulneráveis que foram objecto de
caracterização incluindo aspectos que dizem respeito a modalidades de
inclusão/exclusão nos quadros societais.
5
Do diagnóstico desenvolvido resulta uma matriz compreensiva dos diversos
cenários e situações associados aos conceitos que dirigem este estudo, permitindo-nos
situar mais claramente os processos económicos, políticos e sociais em tendências de
exclusão ou inclusão social. Ou seja, a análise da bateria de indicadores permite a
identificação das principais áreas de carência e de privação em Portugal, tanto em
valores absolutos como relativos, bem como a compreensão de dinâmicas sócio-
económicas potenciadores desses fenómenos. Por outro lado, a comparação que
promovemos com os índices apresentados pelos parceiros europeus para estas mesmas
áreas, possibilita a localização de Portugal no espaço comunitário europeu que se
pretende coeso socialmente, e também a definição de metas para políticas a
implementar e a continuar referentes às carências ou limitações referidas.
É precisamente a partir da informação que recolhemos neste diagnóstico, que se
produziu um quadro de objectivos fundamentais, que se definem enquanto bandeiras
para a inclusão social, as quais são complementadas com um conjunto de outros
objectivos de especificação e com um conjunto de objectivos condicionantes da
evolução em direcção às metas propostas. Estes objectivos fundamentais,
complementares e condicionantes dirigem-se simultaneamente para as áreas de principal
carência ou subdesenvolvimento bem como para áreas consideradas estratégicas para o
desenvolvimento social global. A evolução dos objectivos é apresentada tendo em conta
dois horizontes possíveis, um primeiro em que se consideram apenas as actuais
tendências sócio-económicas, e um segundo em que se definiu, para os mesmos
indicadores, as metas políticas que devem constituir referência para uma tendência de
europeização da sociedade portuguesa e para a inclusão social.
Por fim, procurou-se identificar os factores críticos que deverão orientar as
intervenções e o investimento político em Portugal no Horizonte 2013, julgados
imprescindíveis para que as metas propostas, relativamente exigentes, possam ser
efectrivamente atingidas.
6
2 Domínios dos Conceitos de Inclusão e Exclusão Social
A integração social pode ser definida como “…pluralidade vasta, aberta e mutável de
estilos de vida, todos partilhando a cidadania. Isto é, todos eles conservando,
aprofundando e exprimindo capacidades de escolha. Trata-se não apenas da posse de
competências virtuais ligadas à vida social, mas do efectivo uso delas.” (Almeida,
1993: 830-831). Quer essa posse, quer a possibilidade de uso que das capacidades pode
ser feito joga-se a dois níveis distintos.
1
Sendo a “não exclusão” o mesmo que a inclusão social (Almeida, 1993: 829).
7
e grupos a viver em condições de indignidade humana choca com esse valor. Também a
justiça social é outro valor fundamental e o equilíbrio na vida colectiva depende de se
conseguir proporcionar para quem vive em piores condições benefícios que as
valorizam primeiro a elas, mas que repercutem depois na qualidade de vida de toda a
sociedade (Rawls, 1987). Dois exemplos claros do modo como o combate à exclusão
beneficia toda a sociedade podem ser encontrados na economia e na segurança,
entendida no sentido lato que a ONU confere hoje à noção. Assim, se numa sociedade
se promove a qualificação e o emprego dos mais desfavorecidos, o mercado de emprego
alarga-se e qualifica-se no seu conjunto; se os rendimentos do trabalho dos mais pobres
subirem, sobem também os de todas as categorias; se forem criados equipamentos de
apoio à família que acolham as pessoas dependentes dos agregados mais vulneráveis,
todos os outros terão tido também acesso a esses equipamentos e assim se melhora a
capacidade de as empresas num território determinado atraírem e fixarem quadros e
conciliarem o trabalho com a vida familiar; se os pobres e em particular certas
categorias que adoptam comportamentos de risco tiverem acesso a cuidados de saúde
reduzem-se os perigos para a saúde pública e todas as famílias terão melhores cuidados
de saúde; quando uma cidade consegue integrar todos os seus habitantes reduz-se o
sentimento de insegurança social, e assim sucessivamente.
Entre esses direitos típicos do património comum do modelo social europeu pelo
qual também no nosso país se deve aferir a qualidade do desenvolvimento económico e
social, podemos eleger como mais relevantes2 o direito ao rendimento e ao consumo, ao
trabalho, à educação e à aprendizagem, aos equipamentos sociais de apoio à família, à
2
Não se pretende aqui estabelecer uma hierarquia em relação aos direitos de primeira e segunda geração
(cívicos e políticos), nem aos direitos de quarta geração à fruição cultural, à identidade e ao ambiente.
Referimo-nos apenas aos que costumam ser incluídos na chamada terceira geração de direitos (Marshall,
1973). O direito à saúde é, igualmente, um direito social central, não incluído neste trabalho por razões
meramente operacionais, na medida em que apenas se referem aqueles que têm tido implicações directas
na luta contra a exclusão, matéria que não tem preocupado o sistema de saúde português a não ser na
pequena franja da prevenção da toxicodependência.
8
igualdade de oportunidades entre homens e mulheres em todas as esferas da vida e à
habitação e qualidade do território.
Se a participação plena na nossa sociedade ou, por outras palavras, estar incluído
enquanto cidadão de pleno direito, significa (i) o acesso a níveis de rendimento –
originado no trabalho, nos direitos de propriedade ou no sistema de segurança social –
que assegure padrões minimamente aceitáveis de consumo, isto é, de acesso a bens e
serviços; (ii) a participação no mercado de trabalho com direitos, propiciador de
sentimentos de utilidade, satisfação pessoal e a posse de um estatuto socialmente
valorizado; (iii) o acesso à educação e à aprendizagem ao longo da vida de forma a
poder movimentar-se nos diferentes contextos institucionais e adaptar-se às mudanças
que ocorrem nesses contextos; (iv) assegurar a todos os membros dependentes das
famílias o acesso aos equipamentos sociais que permitam assegurar simultaneamente a
qualidade de vida e a libertação de homens e mulheres em pé de igualdade de
oportunidades para o mercado de trabalho, a vida pública e a partilha das
responsabilidades domésticas; (v) o usufruto de uma habitação com condições de
conforto mínimo e a residência num território dotado de infra-estruturas, de imagem
positiva e propiciador da multiplicação dos contactos sociais e do enriquecimento do
capital social, então estar em situação de exclusão social é o contrário de tudo isto.3
3
Dada a natureza sistémica e integrada das diferentes esferas da vida, a falha na integração num destes
domínios tende a afectar todos os outros, pelo que não faz sentido, do ponto de vista empírico e olhando
percursos de vida prolongados e não meros episódios biográficos pontuais, falar de exclusão social
parcial.
9
tiranias oriundas de redes marginais que fazem dos territórios de exclusão o seu
ambiente, enfim, onde as malhas sociais são as da pobreza instalada.
4
Para uma análise em maior pormenor quer dos factores estruturais que se encontram na génese da
exclusão social, quer das orientações culturais e dos modos de vida típicos das pessoas atingidas pelo
fenómeno em Portugal, ver Capucha (no prelo).
10
e catalogação das categorias e dos territórios mais desfavorecidos, são apenas alguns
exemplos de factores culturais ligados à perpetuação dos fenómenos de exclusão.
Estes factores culturais têm geralmente um reflexo directo nas disposições dos
grupos mais desfavorecidos, na forma de auto-estimas negativas, da incorporação das
representações negativas, nas inibições das competências para a assumpção autónoma
dos seus próprios interesses, correspondente quase sempre do envolvimento em relações
de clientela face aos mais poderosos.
Sendo assim, a melhor aproximação empírica extensiva que podemos ter à noção
de inclusão e de exclusão social, ainda é a da pobreza, indicador de síntese – e por isso
mesmo redutor – da condição de exclusão social.
11
Procuraremos, nos próximos capítulos, verificar os níveis de pobreza em
Portugal e, depois, procurar correlações entre esse fenómeno e certos parâmetros
básicos que o afectam, como a condição perante o trabalho, a educação, a organização
da família, o sexo, a idade e o território. Como esses se configuram como factores
relevantes, abordaremos cada um de modo aprofundado nos capítulos seguintes.
12
3 Principais indicadores de pobreza em Portugal:
perspectiva comparada com a situação europeia
13
O problema é tanto mais relevante quanto mais se eleva o grau de exigência de
satisfação de antigas e novas necessidades básicas. A situação da pobreza em Portugal
constitui assim um problema central.
Se olharmos o risco de pobreza antes das transferências sociais (ver Gráfico 3),
verificamos que a descida do indicador evidenciada em Portugal foi principalmente o
resultado do impacto dessas transferências, já que sem elas a pobreza estaria
estabilizada nos 27%. Na UE a diminuição da pobreza foi semelhante à redução total de
2 pontos percentuais, tendo em conta somente os rendimentos primários.
14
nosso país, num contexto em que há uma menor correcção introduzida pelas políticas
sociais, cujos impactes são muito mais salientes nos países com níveis mais baixos de
pobreza.
15
Gráfico 1: Limiar de pobreza na EU15 (Euros/ano) Gráfico 2: Risco de pobreza após transferências sociais
Limiar de Pobreza (60 % do rendimento monetário equivalente mediano) (%) Risco de Pobreza após transferências sociais
em paridade do poder de compra
25
16000
14000 20
12000 1995
10000 1995 15
1998
8000 1998
10 2001
6000 2001
4000 5
2000
0 0
H rgo
Áu d a
G a
m ia
o
Bé 5*
da
em a
Es écia
Fr a
am a
ân l
cia
P o tria
a
Irl a
Fi uga
Fr ha
a
na ica
G a
em a
o
Po tria
a
B 5*
Irl a
m ia
Áu a
Es écia
da
Ho rgo
nl l
h
id
Fi ga
Al arc
i n lgic
nh
di
ç
x e Itál
di
h
id
Al arc
in ci
d
ç
1
xe Itál
an
an
an
an
1
Un
Re ué
an
n
an
lan
an
bu
Di élg
ân
Re Sué
Un
s
rtu
pa
EU
bu
r
pa
rt
EU
r
ol
m
S
nl
o
in
D
Lu
Lu
Fonte: Eurostat, Painel Europeu de Agregados Domésticos Fonte: Eurostat, Painel Europeu de Agregados Domésticos
Gráfico 3: Risco de pobreza antes das transferências sociais (pensões Gráfico 4: Risco de Pobreza Persistente
excluídas)
(%) Risco de Pobreza antes de transferências sociais (pensões excluídas) (%) Risco de Pobreza Persistente
40 16
35 14
30 12
25 1995 10
1998
20 1998 8
6 2001
15 2001
10 4
5 2
0 0
na ca
Irla a
Áu a
Ho go
xe Itália
Fr a
Bé 5*
G a
Po tria
Fi gal
Es ia
a
em a
ino dia
ido
a
Irl a
cia
Áu a
Ho go
xe tália
Fr a
*
ha
Po ia
Fi gal
Es ia
da
em a
S a
d
ç
nh
h
nd
Al arc
15
d
Di lgic
ç
nh
c
Al arc
di
id
1
c
an
Di lgi
lan
r
an
an
lan
r
ré
an
an
rtu
st
Re nlân
Un
bu
s
Re ué
ré
rtu
ân
Un
bu
pa
EU
pa
m
EU
I
m
Bé
m
nl
m
na
o
in
Lu
Lu
Fonte: Eurostat, Painel Europeu de Agregados Domésticos Fonte: Eurostat, Painel Europeu de Agregados Domésticos
40
8,0 35
7,0
30
6,0 1995
1995 25
5,0
20 1998
4,0 1998
3,0 15 2001
2001
2,0 10
1,0 5
0,0 0
na ca
Irla a
ino cia
Áu a
Ho rgo
a
na ca
Fr a
Bé 5*
Gr a
Po tria
Irl a
ino cia
nlâ l
Áu a
Ho rgo
Es cia
a
em a
m a
ia
Fr a
Bé 5*
G a
Po tria
ân l
Es cia
da
em a
ido
a
ido
Fi ga
Fi ga
d
ç
xe Itáli
nh
d
nd
ç
Al arc
xe Itáli
nh
h
Al arc
di
nd
1
1
an
Di lgi
an
lan
Di lgi
lan
an
an
an
Re Sué
é
Re ué
ré
rtu
Un
rtu
Un
bu
s
bu
pa
pa
EU
EU
m
m
S
nl
m
Lu
Lu
Fonte: Eurostat, Painel Europeu de Agregados Domésticos Fonte: Eurostat, Painel Europeu de Agregados Domésticos
16
Portugal destaca-se novamente, pela pior posição no contexto europeu, quando
falamos de pobreza persistente, o indicador que dá conta da natureza mais ou menos
consolidada/episódica da incidência da pobreza. No nosso país o indicador revela que
15% das pessoas se encontram naquela situação, o que representa 6 pontos percentuais
acima da média europeia (ver Gráfico 4). Grécia, Itália e Irlanda estão também neste
aspecto próximos do caso português.
O índice de Gini (ver Gráfico 6) é outro indicador dos mais utilizados para
avaliar o nível das desigualdades. O respectivo valor em Portugal em 2001 era de 37
(numa escala de 0 a 100, sendo este valor o limite máximo de desigualdade), o que nos
coloca 9 pontos percentuais acima da média da UE15. O cenário mostra-se mais
preocupante se verificarmos o facto de ter ocorrido uma descida de 1995 para 1998 e
daqui para 2001 na UE15 (respectivamente 31, 29 e 28 em cada um daqueles anos), ao
passo que em Portugal houve uma descida de 37 para 36 entre 1995 e 1998, mantendo-
se o valor até 2000 para voltar a subir para 37 em 2001. Uma vez mais a tendência é
partilhada com os países do sul europeu e as Ilhas Britânicas.
Para termos uma visão mais concreta de alguns dos principais factores explicativos da
situação que se vive no nosso país, analisaremos alguns indicadores complementares
relacionados com a composição da pobreza.
17
vulnerabilidade, mas mais grave, encontram-se os “outros economicamente inactivos”
registando um risco de pobreza crescente desde 1995 a 2001, estando nesta data a 8
pontos percentuais acima da média europeia.
18
Quadro 2: Pensão social, pensão mínima, salário mínimo e salário médio face ao
limiar de pobreza
1995 1998 2001
Limiar de Pobreza (60% Mediana) 2555 2989 3590
Pensão Social/ Ano 1222 1599 1833
Pensão Mínima Regime Geral 1927 2186 2514
10206
Salário Médio Líquido 8176 8804 [2000]
Salário Mínimo (Geral) 3631 4085 4679
Como se pode ver pela incidência da pobreza entre os activos (ver Quadro 1), as
desigualdades salariais são um elemento importante a ter em linha de conta. Entre 1995
e 2001 deu-se um decréscimo no número de trabalhadores com baixos salários
(Albuquerque e Bomba, 2001) o que se prendeu com a subida do peso dos ganhos dos
10 por cento de trabalhadores pior remunerados. Porém, as desigualdades salariais
evidenciam-se quando olhamos a sua distribuição por decis. Os 10% de trabalhadores
melhor remunerados abarcam cerca de 30% da massa salarial. É de salientar ainda que a
diferença entre os trabalhadores pior remunerados e aqueles que auferem os salários
mais elevados tem vindo a ser atenuada, sem contudo deixar de existir uma disparidade
significativa e acentuada.
7
A proporção de trabalhadores de baixos salários (menos de 2/3 da mediana) passou de cerca de 14% em
1995 para perto de 11% em 2000, valor próximo do dos trabalhadores pobres (Albuquerque e Bomba,
2001).
8
Os Trabalhadores por conta própria representavam 23,5% do total da população empregada (INE,
Inquérito ao Emprego), sendo que desses 6,0% tinham pessoal a cargo.
19
encontramos trabalhadores em sectores como a construção civil, o comércio ou os
serviços pessoais e domésticos – reforça-se a presunção de que trabalhar não é condição
suficiente para fugir à pobreza.
20
A vulnerabilidade à pobreza está ainda relacionada com a estrutura das famílias.
A família pode desempenhar um importante papel na reprodução de situações de
pobreza. Este cenário ocorre se não se constitui como um elemento de suporte de vida
dos elementos do agregado e, pelo contrário, existe escassez de recursos, violência,
solidão, laços opressivos, ou quando a integração social e a realização pessoal são algo
inacessível.
Embora com algumas limitações podemos verificar uma associação entre certos
padrões de composição familiar e probabilidades diferenciadas de risco de pobreza.
Quer isto dizer que apesar de tudo, os indicadores estatísticos não permitem
percepcionar a complexidade que rodeia as mudanças das estruturas familiares e as
respectivas consequências destas.
20
10
Um adulto sozinho + de
0
65 anos
EU P EU P EU P
21
É inegável a importância da idade na análise da pobreza, como foi já
evidenciado. Quanto mais a idade avança mais probabilidade existe do risco de pobreza
ser elevado, principalmente quando estamos em presença de idosos isolados (46% deles
eram pobres em Portugal, em 2001, contra 29% na UE15). No entanto, houve uma
redução do risco de pobreza de 1995 para 1998, de 57% para 52%, em cerca de 5 pontos
percentuais. No que se refere aos adultos com idades entre os 15-64 anos que vivem
sozinhos a taxa de pobreza registou um decréscimo de 34% em 1995, para 33% em
1998, chegando aos 28% em 2001. Saliente-se o facto da disparidade relativamente à
categoria dos idosos em igual situação ser alarmante. Se num agregado de dois adultos
um tiver mais de 65 anos, isso é suficiente para que a taxa de pobreza esteja 12 pontos
percentuais acima média (32% neste tipo de agregados, em 2001). A vulnerabilidade
das famílias de isolados, e em particular dos idosos, é realçada pelo facto de a taxa de
pobreza nos agregados de dois adultos sem crianças ambos com idade inferior a 65 anos
ser de apenas 13%, valor que desce para 9% no caso dos agregados com dois adultos e
apenas uma criança. Pelo contrário, as famílias mais numerosas, com 3 adultos ou mais
e crianças a cargo, apresentam um risco de pobreza de 23%, valor díspar dos 16% da
média europeia.
Em resumo, podemos concluir que sendo Portugal um país com uma incidência,
intensidade, severidade e persistência da pobreza particularmente acentuadas para um
país europeu, e também aquele que na UE15 apresenta piores indicadores de
desigualdade, a probabilidade de isso traduzir situações graves de exclusão de direitos
básicos é elevada. Podemos também concluir que o funcionamento do mercado de
emprego, o sistema de protecção social, a educação e a formação e factores ligados à
composição e idade dos membros dos agregados domésticos são factores determinantes
do comportamento do fenómeno.
22
e culturais da sociedade portuguesa, importa abordar neste diagnóstico uma avaliação
do seu grau de carência, numa aproximação mais directa do conceito de exclusão social.
Neste sentido, pretende-se verificar em que medida estas categorias não conseguem
atingir níveis de satisfação mínimos das necessidades básicas, ficando impedidas de
fazer uso dos seus direitos primários de cidadania. Para este fim utilizaremos aqui
basicamente os trabalhos produzidos no âmbito da equipa do DGEEP do MTS
coordenada por José Albuquerque.
Um primeiro indicador de elevada pertinência nesta avaliação da distância às
necessidades básicas é o de pobreza absoluta9. Esta noção refere-se às situações em que
os indivíduos e/ou famílias não apresentam capacidade de obter um conjunto de bens
essenciais à manutenção da sua “eficiência física” de uma forma continuada
temporalmente. A pobreza absoluta, como é comum num estudo desta natureza, é
operacionalizada a partir de um cabaz alimentar mínimo que garante aos indivíduos a
sua sobrevivência10.
A partir da análise dos dados do Inquérito aos Orçamentos Familiares de 2000,
verifica-se que no universo da população portuguesa 21,3% das pessoas (o que
corresponde a 2,172.836 indivíduos) encontram-se em risco de insuficiência alimentar.
Atentando ao perfil dos indivíduos que apresentam uma despesa em alimentação
inferior ao considerado necessário para a “eficiência física”, encontramos as seguintes
regularidades:
9
O conceito de pobreza absoluta e sua operacionalização metodológica, bem como os dados que aqui
sintetizaremos, encontram-se desenvolvidos no estudo Medidas de Pobreza e Exclusão Social (no prelo)
coordenado por José Albuquerque e equipa.
10
Metodologicamente, este cabaz vai estruturar-se em torno das variáveis sexo e idade, respeito a dieta
padrão da população portuguesa e ponderando os preços dos vários bens alimentares no mercado.
23
− Em relação à variável tipologia familiar, observamos que as famílias em
maior risco são as constituídas por um adulto que vive sozinho com uma
idade inferior a 65 anos (30,1%), adultos no mesmo grupo etário vivendo em
aglomerados de duas pessoas (26,1%), as famílias monoparentais (24%) e as
famílias com três adultos e com três ou mais crianças (26,1%);
− Cruzando a insuficiência alimentar com os níveis habilitacionais,
identificamos que até aos 9 anos de escolaridade os índices são superiores a
20 pontos percentuais, com especial concentração nos 6 anos de
escolaridade, que correspondem a 27,6%;
− No que se refere à condição perante o trabalho, não surpreendentemente os
indivíduos que se encontram em maior risco são os incapacitados
permanentemente para o trabalho (35%) e os desempregados (28,7%);
− Finalmente, em relação à distribuição regional, verificamos que a dicotomia
urbano e rural afecta os graus de risco, com os indivíduos cuja zona
residencial é no contexto rural com um índice de 25,4%, que é 5 pontos
percentuais superior ao dos indivíduos que residem em contexto urbano.
24
701€), a diferença da despesa em produtos alimentares e associados é de 57€ para o
primeiro grupo contra 159€ para o segundo. Note-se que em outras categorias de maior
despesa, como é o caso da habitação, a diferença não é tão acentuada, com 104€ gastos
pelos indivíduos em risco de insuficiência contra 128€ pelos restantes. Isto é, a despesa
em habitação representa um encargo extraordinário nas categorias de mais baixos
rendimentos. Assim, os indivíduos que vivem em habitações sem condições são
obrigados a despender uma parte significativa da sua receita na habitação, privando-se
da satisfação de outras necessidades básicas.
Outro conceito fundamental para se proceder a uma avaliação mais aproximada
da distância a que os grupos carenciados estão das necessidades básicas é o de pobreza
multidimensional11. Esta noção assenta numa análise da pobreza que ultrapasse a leitura
unidimensional dos recursos monetários das famílias, de forma a captar os níveis de
privação por relação com as condições de vida em geral, nas suas várias dimensões. A
noção de pobreza multidimensional deu origem à construção de um índice de privação a
partir da agregação ponderada dos indicadores referentes às diversas dimensões
contempladas, nomeadamente: as condições internas do alojamento, as condições
externas do alojamento, os bens de conforto, as necessidades básicas, a capacidade
financeira, as redes de sociabilidade, o mercado de trabalho, a educação e formação. O
risco de privação foi determinado a partir da definição de um limiar de privação.
Seguindo a metodologia proposta chegou-se a um índice de privação em
Portugal de 0,185 (numa escala de 0 a 1) no ano de 2001, o que significa que em cada
10 pessoas perto de duas sentem carências nas diversas dimensões dos seus contextos
vivenciais. Ainda que este valor seja preocupante, registe-se que o ano de 2001
representou uma melhoria significativa desse índice, que em 1995 se encontrava nos
0,235.
Atentando ao perfil das famílias que se encontram em maior risco de privação
encontramos os seguintes dados:
− Ao nível da composição familiar os agregados numerosos com crianças
(0,2137), os idosos isolados (0,2214) e os agregados com idosos (0,1880)
são os que registam níveis de privação superiores ao da população total;
11
O conceito de pobreza multidimensional aqui retirado também foi desenvolvido no estudo Medidas de
Pobreza e Exclusão Social de José Albuquerque et al (no prelo).
25
− No que se refere à origem de rendimentos das famílias, aquelas cuja fonte
principal de rendimento são pensões apresentam índices mais elevados que o
total das famílias portuguesas, situando-se nos 0,2049.
Observando as dimensões da privação, as três categorias que mais contribuem
para o risco de privação são, respectivamente, as condições de alojamento (0, 055), a
posse de bens de conforto (0,025) e as redes de sociabilidade (0,027). Por sua vez, as
categorias em que existe um maior número de agregados familiares em privação é a
saúde e a habitação. Comparativamente com os dados de 1995, verificamos que as
principais alterações se verificam nos índices de necessidades básicas e de capacidade
financeira, que passam ambos de 0,030 em 1995 para 0,024 em 2001, sugerindo um
progresso positivo.
Ainda considerando os contextos de pobreza multidimensional presentes no
estudo referenciado, observamos que a percentagem de população em Portugal que se
encontra em risco de privação situa-se entre os 26,5% se considerarmos o limiar de
privação nos 130%, 15,4%, se considerarmos o limiar nos 160%. Uma conclusão
importante a retirar destes dados, é que este último valor aponta para um cenário
alarmante em que 15 pessoas em cada 100 se encontram numa situação de extrema
privação em todas as dimensões dos seus contextos vivenciais.
A partir dos elementos aqui identificados, aos quais adicionamos os indicadores
referentes aos níveis de pobreza tendo como referência os rendimentos das famílias,
chegamos ao conceito de pobreza consistente. Portanto, estamos perante um contexto de
pobreza consistente quando os níveis de pobreza ao nível dos rendimentos convergem
com as restantes dimensões, sugerindo uma coerência nas dinâmicas e áreas de exclusão
social.
Seguindo o estudo “Medidas de Pobreza e Exclusão Social”, e tomando como
referência os dados mais actuais de 2001, verificamos que existiam cerca de 305 mil
agregados em risco de pobreza consistente, que correspondem a 9% do total de
agregados, valor este que representa uma redução de 1,1% em relação a 1995. A
distribuição do risco de pobreza consistente por diversas variáveis de base aponta para o
seguinte quadro geral:
− O risco de pobreza consistente por zona residencial incide essencialmente nas
zonas rurais, com um valor superior a 10 pontos percentuais, colocando-se
portanto acima da média nacional;
26
− No que diz respeito ao tipo de alojamento, os valores mais elevados e
claramente acima da média, verificam-se nas moradias independentes,
geminadas ou em banda (14,6%) e nos “outros tipos de alojamentos” (21,4%)
não incluídos numa tipologia de apartamentos ou moradias;
− Por sua vez, no indicador de risco de pobreza consistente por tipologia familiar
identificamos os índices mais elevados entre os idosos isolados (um pouco mais
do que 20%) e as famílias numerosas com duas ou mais crianças (perto dos
40%);
− Finalmente, no que se refere à principal fonte de rendimento, mais uma vez são
as famílias que se suportam essencialmente de pensões que apresentam um
maior índice de risco de pobreza consiste (16%).
Estes estudos concluem assim que analisando as várias perspectivas a partir das quais
podemos captar os níveis de distância a necessidades, as situações de exclusão social e
de pobreza em Portugal apontam para que as famílias em contexto de pobreza
consistente governem os seus contextos de vida com 1/3 do rendimento médio das
famílias portuguesas, apresentando em consequência das várias dimensões de exclusão
o dobro da sua privação.
27
4 Actividade Económica, Emprego e Desemprego
Não é na taxa de emprego que a economia nacional é fonte acrescida de exclusão social,
embora se encontre ainda abaixo do objectivo 70% da Estratégia de Lisboa. Os valores
nacionais mantêm a tendência positiva verificada nos últimos anos.
Portugal apresenta uma taxa total de emprego na ordem dos 67,2%, acima dos
resultados médios da União Europeia a 25 (62,9%) e da União Europeia a 15 (64,2%).
Esta taxa positiva em relação à UE deve-se, sobretudo, à elevada taxa de emprego entre
as mulheres (60,6%), que comparativamente com a União Europeia representa mais
5,6% (UE25) e 4,6% (UE15). No que diz respeito à taxa de emprego entre os homens,
os valores também são superiores aos da média europeia, mas com uma diferença menor
(74,1% contra 70,8% ao nível da UE25 e 72,5 ao nível da UE15) (ver Quadro 4).
28
4.2 Estrutura Sectorial do Emprego
29
Quadro 5 – Estrutura Sectorial do Emprego na UE em 2003
Estrutura (% ) Sectorial do Emprego na UE em 2003
B DK DE EL E F IRL I L NL A P Fin S UK UE 15 UE 25
Agricultura, Pescas e Floresta 1,7 3,3 2,4 16,3 6,3 4,5 6,4 4,7 2 2,9 5,5 12,9 5,3 2,5 1,2 4 5,3
Minas e Escavações 0,1 0,2 0,4 0,3 0,9 0,2 0,4 0,3 0,1 0,1 0,2 0,3 0,2 0,2 0,4 0,3 0,4
Manufactura 17,8 15,8 23 12,8 22 17,1 16 22,4 10,3 13,9 19,3 20,1 19 16,2 14,9 18,7 19,1
Electricidade, Gás e Suporte de
0,7 0,5 0,8 0,9 1,6 0,8 0,7 0,8 0,7 0,5 1 0,7 0,9 0,6 0,7 0,7 0,9
Água
Construção 6,4 6,6 7,2 7,9 6,6 6,7 10,8 8,3 9,1 6,5 8,2 11,8 6,6 5,6 7,6 8 7,8
Comercio a Grosso e Retalho,
13,7 15,4 14 17 13,1 13,3 14,2 15,8 12,4 15,8 15,9 14,9 12,1 12,2 15,5 14,7 14,6
Reparações e Veículos a Motor
Hoteis e Restaurantes 3,1 2,4 3,4 7 3 3,1 6,5 4,1 4,3 4 5,7 5,1 3,3 2,8 4,2 4,1 3,9
Transportes, Armazenagens e
7,9 7,2 5,6 6,3 10 6,7 6,3 5,3 6,9 6,1 6,5 4,2 7 6,4 7,1 6,2 6,3
Comunicações
Intermediação Financeira 3,6 2,8 3,8 2,5 1,5 2,9 4,1 3,1 10,7 3,7 3,5 1,7 2,1 2,1 4,5 3,4 3,2
Imobiliário e Actividades
8,8
Comerciais 9,4 9,1 9,1 5,6 8,2 10,2 8,7 8 8,2 12,7 8,4 4,7 11 13 11,2 9,4
Administração Pública, Defesa
9,7 5,7 8 7,4 6,1 9,4 5,1 8,5 11,3 7,6 5,8 6,2 5 5,7 6,9 7,7 7,5
e Segurança Social
Educação 8,5 7,4 5,7 6,4 9,3 7 6,5 7,3 7 6,6 6,2 5,5 6,8 11,1 8,5 6,9 7,1
Saúde e Trabalho Social 12,9 18,3 10,9 4,3 5,8 11,4 9,5 6 7,9 15 8,6 5,8 14,8 16 11,3 10 9,5
Outras Actividades Pessoais e
4 5 5,3 3,9 5,4 4,1 4,5 4,5 3,8 4,5 4,6 2,9 5,7 5,4 5,5 4,7 4,6
Sociais
Habitações Privadas com
0,3 0,1 0,3 1,3 0,1 2,7 0,5 0,9 1,5 0,1 0,3 3,2 0,2 0 0,5 1,1 1
Assalariados
Total de Indústria 24,9 23,1 31,4 22 31,3 24,8 27,8 3,8 20,1 21 28,7 32,9 26,7 22,6 23,5 27,6 28,3
Total de Serviços 73,1 73,4 66,1 61,7 62,5 70,7 65,8 63,4 77,9 76,1 65,6 54,2 68 74,8 75,2 68,3 66,4
Fonte: Eurostat, Employment in Europe, 2004
30
modelo assente nos baixos salários para um outro assente na inovação empresarial e das
organizações em geral.
No plano das políticas, este problema encontra-se espelhado no modo como nas
versões mais recentes do Plano Nacional de Emprego desapareceram as referências a
objectivos relativos à reconversão sectorial e à actuação preventiva, por um lado
apoiando a modernização das empresas não apenas no domínio tecnológico mas
também nas áreas da organização do trabalho e da qualificação dos recursos humanos e
por outro lado construindo programas de apoio à transição de trabalhadores em sectores
em risco para outros, como o dos serviços pessoais e domésticos ou o do ambiente, com
potencial de crescimento elevado.
31
comparativos por trabalhadores por conta de outrem em Portugal tem uma condição de
maior instabilidade em relação ao seu vínculo e carreira profissional.
Outro dado importante é o peso muito reduzido que o trabalho a tempo parcial
tem em Portugal (ver Quadro 9), representando em 2003 apenas 11,7% da totalidade do
trabalho. Este valor tem vindo a sofrer um aumento percentual ao longo dos últimos
anos, uma vez que em 2001 se cifrava nos 11%. Os aumentos mais significativos
ocorreram entre 1992 e 1997, em que se passou de um cenário na ordem dos 7,2% para
outro situado nos 10,8%.
No entanto, e comparativamente com o resto da Europa (ver Quadro 8), Portugal
apresenta índices baixos, com menos 3,9% em relação à UE25 e menos 6,9 % em
relação à UE15. Em relação a este último grupo, apenas a Grécia e a Itália apresentam
índices mais baixos, respectivamente 4,3% e 8,5%.
32
Quadro 8 - Taxa de Emprego em Part-Time na União Europeia em 2003
Taxa de Emprego em Part-Time na UE em 2003
UE - 25 15,6% França 16,5% Áustria 20,2%
UE - 15 18,6% Irlanda 16,8% Polónia 10,5%
Portugal 11,7% Itália 8,5% Eslovénia 6,2%
Bélgica 20,5% Chipre n.d. Eslováquia 2,4%
República Checa 5,0% Letónia 11,3% Finlândia 13,0%
Dinamarca 21,3% Lituânia 9,6% Suécia 22,9%
Alemanha 22,4% Luxemburgo 10,3% Reino Unido 25,2%
Estónia 8,5% Hungria 4,4% Bulgária 2,3%
Grécia 4,3% Malta 8,3% Roménia 11,5%
Espanha 15,3% Holanda 45,0% Turquia 20,3%
Fonte: Employment in Europe 2004, Eurostat.
Nota: Os dados referentes ao Luxemburgo, Malta e Turquia datam de 2002, e os dados referentes à Letónia
datam de 2000.
12
Fonte: Medidas de Pobreza e Exclusão Social, INE – Inquérito aos Orçamentos Familiares 2000
33
Gráfico 8 - Evolução da Massa Salarial no Mercado de Trabalho Português
(1995-2000)
800 !
Ganho salarial médio
700 !
Ganho salarial mediano
600 !
Massa salarial (!)
13
Fonte: Medidas de Pobreza e Exclusão Social, MSSFC/DGEEP, Quadros de Pessoal (1995-2000).
34
Quadro 10 - Distribuição do Ganho Salarial Médio dos Trabalhadores por Conta
de Outrem por Decis (1995-2000)
1995 1996 1997 1998 1999 2000
1º decil 4,3% 4,3% 4,3% 4,3% 4,4% 4,4%
2º decil 4,9% 4,9% 4,9% 4,9% 5,0% 5,1%
3º decil 5,5% 5,5% 5,5% 5,5% 5,5% 5,6%
4º decil 6,1% 6,1% 6,1% 6,1% 6,1% 6,2%
5º decil 6,8% 6,8% 6,8% 6,8% 6,8% 6,9%
6º decil 7,7% 7,7% 7,6% 7,6% 7,6% 7,7%
7º decil 9,0% 8,9% 8,9% 8,9% 8,9% 9,0%
8º decil 11,2% 11,1% 11,1% 11,2% 11,1% 11,1%
9º decil 15,2% 15,1% 15,2% 15,3% 15,1% 15,0%
10º decil 29,3% 29,7% 29,4% 29,3% 29,4% 29,1%
Fonte: MSSFC/DGEEP, Quadros de Pessoal (1995 – 2000).
A partir dos dados recolhidos, e numa leitura mais abrangente, verificamos que
se os ganhos salariais médios tenderam para um crescimento nos 5 anos em análise, isso
não correspondeu a um maior equilíbrio na distribuição destes ganhos, na medida em
que o peso diferencial entre os vários níveis salariais se manteve constante.
35
Especificando a análise da desigualdade a partir da relação inter-decis (ver
Quadro 11), podemos constatar que esta tem vindo a diminuir entre os valores médios e
elevados (5º e 9º decil) em relação aos valores mais baixos (1º decil). Por outro lado, a
relação entre os valores médios e os valores elevados tem-se mantido mais ou menos
constante, ainda que com uma ligeira diminuição, variando de um share mais elevado
em 1998 (2,24) para um share mais baixo em 2000 (2,19).
Estes dados quando analisados por referência aos resultados médios da União
Europeia14 demonstram que as disparidades em relação a esta afectam principalmente as
pessoas com rendimentos baixos e relativamente baixos, que correspondem
respectivamente a 15,5% e 18,8% dos rendimentos médios europeus para o mesmo
grupo de referência para a UE. Este valor vai contrastar com os rendimentos elevados,
que em relação ao mesmo grupo de rendimento, se situam nos 47,3%. Neste sentido, as
desigualdades na distribuição dos rendimentos que se verifica em Portugal vai afectar
fundamentalmente os grupos mais desfavorecidos, colocando-os num cenário de dupla
periferia, a nível nacional e a nível europeu.
A disparidade identificada deve ser interpretada relacionalmente com os níveis
educacionais da população empregada e sua distribuição pela estrutura de emprego,
tanto a um nível estrutural como estruturante.
Os défices de qualificação dos trabalhadores portugueses face ao contexto
europeu geram uma maior susceptibilidade ao desemprego e dificuldades competitivas
na obtenção de um novo emprego, devido às dificuldades apresentadas pelos
trabalhadores pouco qualificados de flexibilização e de adaptação a novas lógicas de
trabalho.
Este processo deve ser lido em associação com os processos de mutação da
economia europeia, numa óptica de inovação e reconversão da estrutura de
investimento, que tenderá a reduzir o peso das indústrias de trabalho intensivo. Neste
sentido, a aposta que se verificou em Portugal nestas indústrias, potencializada pela
mão-de-obra desqualificada, e portanto menos dispendiosa, encontra-se actualmente
num cenário de crise e com um futuro limitado, face à entrada no mercado mundial de
potências como a China ou a Rússia, bem como a Índia, Turquia e Indonésia, que
14
Fonte: Comissão Europeia (2001), As Políticas Sociais e de Emprego na UE, 1999-2001: Trabalho,
Coesão, Produtividade.
36
revelam níveis de produtividade bastante mais elevados e custos de produção bastante
mais baixos.
37
para uma taxa total de 2,9%, distribuída por 2,4% nos homens e 3,4% nas mulheres (ver
Quadro 13).
Tal como no desemprego geral, aqui também identificamos uma tendência
negativa de crescimento desta taxa nos últimos anos, que atingiu os seus valores mais
baixos em 2001 afectando 1,6% da população total. Se este indicador se refere a uma
pequena fatia da população activa, a sua relevância não deve ser descurada na medida
em que é esta a população mais afectada pelo desemprego e que se encontra em
situações mais extremas de ruptura e de exclusão.
Os dados têm apontado no sentido de que quanto maior é o período de
desemprego, maiores dificuldades os indivíduos nessa situação têm de conseguir
reintegrar-se no mercado de trabalho. Situam-se entre este segmento da população
activa aqueles cujas qualificações e competências profissionais são mais escassas, o que
não será alheio aos processos de reestruturação da actividade económica e industrial
indevidamente acompanhados de programas de formação profissional. A outro nível, as
pessoas que se encontram em situação de invalidez ou deficiência constituem um grupo
de risco em relação ao desemprego de longa duração. Os dados de desemprego de longa
duração apresentam-se ainda como mais preocupantes quando os relacionamos com os
dados de desemprego total, averiguando o peso do primeiro no segundo, e verificamos
que em relação ao primeiro semestre de 2004, o DLD pesava 45,1% no total de
desemprego, valor que constitui um aumento expressivo em relação a 2003, período em
que representou 37,8%.
Ainda no âmbito deste indicador será pertinente observar os dados propostos
pelo IEFP, referentes ao desemprego registado, em que os índices apontam para um
valor de 20,4% de desemprego superior a 12 meses e inferior a 24 meses, e mais
preocupante, um valor de 18,9% para pessoas em situação de desemprego há pelo
menos dois anos.
Estes valores enfatizam assim o cenário preocupante que constitui o peso do
desemprego de longa duração no total de desempregados, sendo sugerido pelo IEFP
estar na ordem dos 39,3% em 2003, o que mantém uma variação aproximada com os
anos imediatamente anteriores, com 36% em 2002 e 39,7% em 2001.
Outro dado particularmente relevante é a análise das taxas de desemprego jovem
(definida estatisticamente entre os 15 e os 24 anos). A análise deste indicador permite-
nos observar se o mercado de trabalho demonstra capacidades de integração da
38
população jovem no seu sistema, bem como verificar em que medida é que a renovação
de gerações se tem demonstrado efectiva.
Referindo-nos aos dados do INE, a população jovem apresenta índices de
14,7% de desemprego no final do primeiro semestre de 2004, que já significa um ligeiro
aumento em relação a 2003, em que os valores se situavam nos 14,5%, e um aumento
mais acentuado em relação a 2002 (11,5%) e a 1998 (10,3%). Neste sentido, podemos
questionar os modelos existentes de integração desta população no mercado de trabalho
e os riscos associados de exclusão social logo nos primeiros anos de vida activa.
Os indicadores do desemprego não possuem uma distribuição uniforme no
território nacional. Recorrendo novamente aos dados do IEFP, podemos aperceber-nos
da distribuição do desemprego registado por região no continente.
Em 2003 a região Norte contribuiu com cerca de 42,4% para o desemprego no
país, logo seguida de região de Lisboa e Vale do Tejo, com valores na ordem dos
34,7%. Com valores mais baixos encontramos a região do Algarve (3,5%) e a do
Alentejo (5,4%). Contudo estes dados apontam apenas a distribuição no conjunto do
desemprego, não medindo o peso que este tem no conjunto da população activa de cada
região. Apesar disso, os dados mostram-se reveladores de alguns fenómenos
identificados, particularmente em relação à região Norte do país. Esta região concentra
grande parte da malha de indústria intensiva em Portugal, que face às suas maiores
fragilidades de competitividade no mercado aberto da União Europeia e às dificuldades
que encontra e se coloca na reestruturação dos seus processos e estruturas produtivas
(que vão implicar menor competitividade), são colocadas em situações de debilidade
financeira e de impossibilidade de sustentabilidade.
No que se refere à distribuição do desemprego por nível de instrução (ver
Quadro 14), seguindo os dados mensais do IEFP para Dezembro de 2004, verificamos
que a grande maioria de desempregados inscritos tem apenas o 1º ciclo do ensino básico
(156.7 milhares), assinalando-se uma tendência decrescente consoante vai aumentando
o nível de instrução das pessoas, com 35.2 milhares com o ensino superior. Os valores
referentes a esta última categoria contrastam de forma assinalável com o das restantes
categorias, já que mesmo entre as pessoas com o ensino secundário assistimos a valores
de desemprego de mais de o dobro, com 74.5 milhares. Quando olhamos não para a
contribuição de cada nível de qualificações para o desemprego total, mas sim para as
taxas de desemprego, verificamos que em 2004 (segundo trimestre), segundo o
Inquérito ao Emprego, essa taxa é menor entre os possuidores de qualificações escolares
39
até ao 3º ciclo do ensino básico (6,2%) do que entre os possuidores do ensino
secundário completo e ensino superior (7,0%).
A educação revela-se, como fomos podendo observar, uma variável central quer
do ponto de vista da afectação dos indicadores de distribuição de rendimentos, quer da
qualidade da participação no mercado de trabalho e da vulnerabilidade ao desemprego.
Vejamos, pois, como se comporta esse domínio estratégico da integração e
desenvolvimento social no nosso país.
A degradação do contexto sócio-económico fez-se sentir também de forma
particular no mercado de emprego. Em 2001 e em 2002, apesar do desemprego ter
começado a crescer, a produtividade só aumentou 0,2% em cada ano. Em 2003 teve
mesmo um crescimento negativo de -0,4%. No primeiro trimestre de 2004 o
crescimento da produtividade voltou a ser positivo mas apenas 0,1%. Todos os analistas
consideram estes valores reveladores de um modelo económico cujas vantagens
comparativas – baseadas no baixo custo de trabalho pouco qualificado – se esgotaram.
40
que explica a elevada prevalência de exclusão do mercado de emprego. Em 2001 tais
famílias representavam 11,5% do total, sendo entre elas a taxa de pobreza de 37% e a
taxa de inactividade de 26,9%.
41
neo-liberal às políticas financeiras, económicas e sociais, a partir de 2002. Os
progressos que tinham sido alcançados em anos mais recentes – e alguns também em
anos mais recuados – nos melhores casos ficaram em suspenso,15 sem que nenhum dos
resultados com que o neo-liberalismo se justifica ideologicamente, como o acréscimo da
competitividade da economia, se tenha verificado.
A nova viragem política verificada nas eleições do ano de 2005 traduz, de certo
modo, o descontentamento da maioria da população com a referida trajectória e com as
suas consequências. Tal é coerente com a ideia de que os portugueses, como os restantes
europeus, não apenas não prescindem dos patamares de qualidade nas políticas sociais e
de emprego que alcançaram, como exigem o aprofundamento dessas políticas no
sentido de uma melhor política social. Não é, assim, o modelo social europeu que está
em crise do ponto de vista dos cidadãos. De acordo com a vaga de 1999/2000 do
Eurobarómetro, há uma forte percepção da existência das desigualdades e uma forte
adesão ao valor do Estado-Providência.16
15
Tal é o caso do Plano Nacional de Emprego e do Plano Nacional de Acção para a Inclusão, que apesar
dos compromissos com metas europeias que envolvem, estiveram sem execução em todos os domínios
que implicavam novas iniciativas e que recuaram noutros domínios cobertos por iniciativas antigas
entretanto descapitalizadas.
16
A percepção dos níveis de pobreza e da sua natureza herdada, isto é, transmitida de geração em
geração, é também muito elevada.
42
5 Educação e aprendizagem ao longo da vida
43
5.1 As dinâmicas de inclusão/exclusão no sistema de educação e
formação em Portugal
44
à actual escolaridade obrigatória, Portugal tem vindo a concretizar cada vez mais esse
objectivo, embora mantendo níveis de insucesso escolar, de resultados em termos de
aprendizagem e de abandono escolar que nos colocam numa posição muito
desfavorável, sendo que são sobretudo as crianças e jovens provenientes de meios
desfavorecidos que tendem a engrossar os números mais negativos.
Uma área que hoje é reconhecida como de grande importância para o sucesso
educativo das crianças, em particular como forma de prevenção de fenómenos de
exclusão escolar, mas onde Portugal ainda não atingiu os níveis de participação
desejáveis face à maioria dos países da UE, apesar dos progressos registados na última
década, prende-se com a participação generalizada das nossas crianças no chamado pré-
escolar. Efectivamente, se tomarmos como exemplo a participação da população com 4
anos nesse nível de ensino, verificamos que o nosso país permanece ainda numa posição
abaixo da média da UE, a 25 e a 15.
100
80
60
%
40
20
0
UE (15)
UE (25)
PORTUGAL
França
Itália
Bélgica
Holanda
Malta
Grécia
Espanha
Dinamarca
Hungria
Rep. Checa
Estónia
Austria
Suécia
Letónia
Chipre
Lituania
Irlanda
Reino Unido
Alemanha
Eslovénia
Eslováquia
Finlândia
Polónia
Luxemb.
45
O processo de evolução do sistema de educação e formação inicial reflectiu
também a lógica dominante de organização do sistema educativo português nas últimas
décadas, que se orientou essencialmente para o prosseguimento de estudos até ao ensino
superior e para o que também contribuiu decisivamente uma aposta das próprias
famílias na chegada dos seus filhos a esse nível de ensino, enquanto factor de promoção
social e económica. Contudo, com esta evolução foram durante vários anos
negligenciadas as vias de educação e formação intermédias, em particular aquelas mais
vocacionadas para uma inserção profissional mais imediata por parte dos jovens,
consideradas nos momentos imediatamente após a revolução como vias de "segunda
oportunidade ou escolha", que reproduziam as desigualdades no modo como "ricos" e
"pobres" acediam à educação em Portugal (os primeiros às vias que conduziam à
universidade, os segundos às que ambicionavam em princípio chegar apenas a uma
formação para o trabalho e de "banda estreita").
46
com maior peso. Pressupõe-se que a existência de diferentes modalidades, com
características curriculares diferenciadas e mais orientadas para uma componente
prática articulada com a vida activa, permite encontrar soluções formativas mais
adequadas às características e problemas particulares de uma população estudantil mais
diversificada do que no passado, fruto da massificação do acesso à educação.
90
80
70
60
50
%
40
30
20
10
0
França
PORTUGAL
Austria
Bélgica
Holanda
Suécia
Grécia
Espanha
Malta
Estónia
Itália
Hungria
Rép. Checa
Eslováquia
Eslovénia
Polónia
Finlândia
Dinamarca
Letónia
Lituania
Chipre
Reino Unido
Luxemb.
Alemanha
47
encaradas como sendo de "segunda escolha", talhadas para aqueles que não têm sucesso
na via geral ou que já vêm com um percurso problemático no ensino básico, correndo
por isso o risco de funcionar como uma espécie de "escola marginal" para onde são
enviados os jovens "em risco" de abandono desqualificado, o que em boa medida é
evitado pelo facto destas permitirem progredir no nível de escolaridade e, dessa
maneira, possibilitar também o prosseguimento de estudos no nível de ensino seguinte
(geralmente o superior).
Gráfico 11 – Evolução da percentagem da população dos 18-24 anos que não está
em educação ou formação e que tem no máximo o ensino básico, entre 2000 e 2004
60
50
40
% 30
20
10
0
UE (15)
UE (25)
PORTUGAL
França
Malta
Espanha
Itália
Grécia
Holanda
Bélgica
Hungria
Estónia
Austria
Suécia
Letónia
Chipre
Irlanda
Lituania
Finlândia
Polónia
Dinamarca
Rep. Checa
Eslováquia
Eslovénia
Luxemb.
Reino Unido
Alemanha
48
De notar que a evolução registada ao longo dos últimos anos permite constatar
uma significativa dificuldade em conseguir baixar consistentemente esta proporção de
jovens que abandonam precocemente o nosso sistema de educação e formação,
demonstrando assim a gravidade do problema estrutural que enfrentamos,
designadamente do ponto de vista de assegurar uma efectiva política de inclusão de
todos e apesar dos investimentos que têm vindo a ser feitos nesse sentido,
nomeadamente no quadro das medidas co-financiadas pelos fundos estruturais da UE,
em particular no quadro actualmente do POEFDS e do PRODEP III. Para esta
dificuldade têm vindo a desempenhar um papel nuclear dois vectores que, interligados
entre si, explicam em grande medida a nossa situação:
i) Em primeiro lugar muitos destes jovens têm percursos escolares marcados por
elevados índices de insucesso escolar ou de retenção, enfrentando problemas
progressivamente maiores de adaptação à escola, problemas esses que tendem a
ir aumentando à medida que vamos avançando nos níveis de escolaridade;
ii) Em segundo lugar, muitos destes jovens são atraídos precocemente para o
mercado de trabalho, quer por pressão da própria família, devido aos escassos
rendimentos, quer pela existência de uma oferta de emprego desqualificado e
normalmente de fraca qualidade (baixas remunerações e condições de trabalho e
segurança), em que ainda se baseia a competitividade de muitos empregadores
no nosso país e que acaba por atrair estes jovens, que deste modo também
acedem de forma precoce ao seu próprio rendimento.
49
Mapas concelhios do abandono, da saída antecipada e precoce do sistema
educativo e das retenções no ensino básico
Abandono (%): Total de indivíduos, no momento censitário, Saída antecipada (%): Total de indivíduos, no momento
com 10-15 anos que não concluíram o 3º ciclo e não se censitário, com 18-24 anos que não concluíram o 3º ciclo e
encontram a frequentar a escola, por cada 100 indivíduos do não se encontram a frequentar a escola, por cada 100
mesmo grupo etário. indivíduos do mesmo grupo etário.
Saída Precoce (%): Total de indivíduos, no momento Retenção: % dos efectivos escolares que permanecem, por
censitário, com 18-24 anos que não concluíram o ensino razões de insucesso ou de tentativa voluntária de melhoria de
secundário e não se encontram a frequentar a escola, por qualificações, no ensino básico (1º, 2º e 3º ciclos), em relação
cada 100 indivíduos do mesmo grupo etário. à totalidade de alunos que iniciaram esse mesmo ensino.
50
Note-se ainda que é hoje visível que à medida que diminui a proporção de
jovens que nem sequer concluem com sucesso a escolaridade obrigatória actual – o que
já por si constitui um progresso assinalável, para o qual contribuíram os investimentos
públicos realizados na melhoria do ensino básico – o abandono tem vindo a recair
sobretudo nos momentos subsequentes e, em particular, no primeiro ano de frequência
do ensino secundário e em particular na via dominante exclusivamente dirigida para o
prosseguimento de estudos. Sinal deste facto são os elevados níveis de insucesso escolar
que se registam nos actuais 10º e também 11º anos de escolaridade, o que constitui um
indicador dos problemas que se têm colocado a muitos jovens na transição do básico
para o secundário e que devem ser devidamente ponderados e respondidos,
designadamente no quadro previsível do alargamento da escolaridade obrigatória para
os 12 anos, como estava previsto na proposta de nova Lei de Bases da Educação que foi
aprovada na anterior legislatura na Assembleia da República e que não foi promulgada
pelo Presidente da República.
Entre 1998 e 2002 em Portugal regista-se ainda uma ligeira melhoria neste
indicador, à semelhança aliás de boa parte dos restantes estados-membros, o que não
deixa de reflectir quer a manutenção neste período da actual escolaridade obrigatória de
9 anos (ou seja, até aos 15 anos de idade), quer a aposta no reforço e diversificação das
ofertas de nível secundário e, em particular, das ofertas profissionalizantes que visam
assegurar uma oportunidade para todos os jovens realizarem pelo menos um ano de
formação qualificante antes da sua inserção no mercado de trabalho. Esta posição de
Portugal no contexto europeu quanto à expectativa de escolarização da sua população
vem reforçar ainda mais a importância central da questão do abandono escolar precoce
51
ou, de forma mais global, da qualidade das respostas do nosso sistema de educação e
formação.
25
20
15
10
0
UE (15)
UE (25)
PORTUGAL
França
Suécia
Bélgica
Estónia
Espanha
Holanda
Hungria
Itália
Grécia
Austria
Malta
Finlândia
Dinamarca
Eslovénia
Germany
Polónia
Lituania
Irlanda
Letónia
Rep. Checa
Eslováquia
Chipre
Reino Unido
Luxemb.
52
Uma última dimensão de análise que importa ponderar no que diz respeito ao
acesso a uma educação e formação de base sólida, prende-se com os apoios financeiros
que são disponibilizados a estudantes provenientes de meios desfavorecidos, de modo a
permitir a frequência com êxito do sistema. Efectivamente, esses apoios assumem um
papel chave na criação das condições mínimas de suporte ao acesso e participação de
todos no sistema de educação e formação inicial, na óptica do desenvolvimento das
competências básicas e especializadas capazes de estimularem uma maior e melhor
inserção de todos os cidadãos na nossa sociedade.
25
20
15
%
10
0
Reino Unido
Finlândia
PORTUGAL
Lituania
Eslováquia
Polónia
Eslovénia
Espanha
Holanda
Hungria
Chipre
Letónia
Irlanda
Estónia
Luxemb.
Itália
Suécia
Malta
Alemanha
Rep. Checa
UE (15)*
UE (25)*
Bélgica
França
Austria
Grécia
Dinamarca
53
De referir ainda que, à semelhança do que se verifica na generalidade dos países
europeus, em termos relativos grande parte desta despesa com apoios financeiros a
estudantes se situa ao nível do ensino superior, sendo sistematicamente inferior face à
média global a proporção da despesa com este tipo de apoios no que concerne aos
estudantes do ensino básico e secundário, face aos investimentos totais realizados
nesses níveis de educação. Nesta perspectiva os estudantes mais desfavorecidos
encontram em Portugal um quadro de apoios financeiros ao seu acesso e participação
efectiva no sistema de educação e formação que é manifestamente menos generoso do
que na esmagadora maioria dos países da União, o que também se tenderá a reflectir
negativamente nos níveis de insucesso e abandono escolar que registamos.
54
Quadro 15 - População em Idade de Trabalhar na UE por Nível de Instrução
55
Quadro 16 – Taxa de Escolaridade por Região em Portugal
Taxa de Escolaridade por Região em Portugal
Zona Geográfica Total (%) Sem Nível de Ensino (%) Ensino Básico (%) Ensino Secundário (%) Ensino Médio (%) Ensino Superior (%)
56
matéria de competências básicas (leitura, matemática, etc.) – ver resultados do
PISA 2000 – a qual limita também os efeitos que a aposta numa maior e melhor
formação das novas gerações poderá ter na alteração rápida dessa estrutura e de
que o país tanto carece para poder competir e desenvolver-se no actual contexto
da sociedade da informação e do conhecimento.
Portugal tem assim não só uma população adulta cujos níveis médios de
escolaridade são dos mais baixos da UE, como é ainda simultaneamente dos países onde
é depois mais baixa a proporção de adultos que frequenta acções de educação ou
formação capazes de virem a contribuir para recuperar esses défices de qualificação.
Constata-se aliás que, em regra, é precisamente nos países com maiores níveis de
escolaridade média da população que é também maior a participação em acções de
formação ao longo da vida, o que reflecte a tendência para serem os indivíduos já mais
escolarizados que beneficiam e procuram aprofundar mais as suas competências.
57
Neste contexto, a situação de Portugal tende a agravar o fosso que nos separa da
média europeia em termos da estrutura de habilitações escolares e é particularmente
grave por conduzir previsivelmente a um aprofundamento da segmentação entre um
número ainda reduzido de pessoas com níveis mais elevados de escolaridade e com
maior participação em acções de educação e formação contínua e as que estão no pólo
oposto e constituem a esmagadora maioria da população. Esta tendência é
particularmente grave devido à importância nuclear que a aposta no desenvolvimento
permanente de competências desempenha nas actuais sociedades, devido ao veloz ritmo
de evolução tecnológica e sócio-cultural, que impõe necessidades acrescidas de
actualização contínua das competências detidas.
40
35
30
25
%
20
15
10
0
UE (15)
UE (25)
PORTUGAL
Holanda
Bélgica
França
Malta
Itália
Grécia
Suécia
Dinamarca
Austria
Chipre
Letónia
Irlanda
Estónia
Lituania
Rep. Checa
Espanha
Hungria
Finlândia
Reino Unido
Eslovénia
Alemanha
Polónia
Eslováquia
Luxemb.
58
As estatísticas e estudos sobre a educação e formação de adultos em Portugal têm
vindo a demonstrar que são os segmentos da nossa população já com maiores níveis de
escolaridade e qualificação, os mais jovens e também os inactivos que acedem mais a
oportunidades de educação e formação contínua, apesar dos esforços das políticas
públicas para promoverem uma maior e melhor oferta para outros segmentos onde essa
formação é particularmente relevante para assegurar a sua inclusão social e económica.
A informação sobre a população entre os 25 e 64 anos que nas últimas quatro semanas
participaram em acções de educação ou formação vêm de encontro a esta tese,
mostrando que é nos que possuem no máximo 9 anos de escolaridade que é menor a
proporção de indivíduos que declararam ter nesse período estado envolvidos em alguma
acção desse tipo – apenas cerca de 2% no primeiro trimestre de 2004. Em contrapartida
na população com o ensino superior e, em particular, com o ensino secundário, essa
percentagem é muito superior – 11,7% e 7,8%, respectivamente.
20
18
16
14
12
%
10
8
6
4
2
0
Ens. superior
Inactivos
Até ao ens.
secundário
Activos
Homens
Mulheres
25-34 anos
35-44 anos
45-54 anos
55-64 anos
básico
Ens.
SITUAÇÃO FACE
GÉNERO GRUPO ETÁRIO À ACTIVIDADE ESCOLARIDADE
ATINGIDA
59
A proporção de cidadãos portugueses que beneficiaram de acções de educação e
formação diminui ainda sistematicamente com o aumento da idade, o que não deixa
também de se articular com o comportamento deste indicador de acordo com o nível de
escolaridade, uma vez que esse nível tende a subir nas gerações mais novas. A grande
diferença que se regista entre a proporção de pessoas entre os 25 e os 35 anos que
declara ter estado em educação ou formação nas quatro semanas anteriores à realização
do inquérito face aos restantes grupos etários será ainda explicado por nessa faixa etária
podermos encontrar um número significativo de casos que se encontram ainda a
frequentar o ensino, em particular o ensino superior.
17
De acordo com os conceitos utilizados pelo INE, a aprendizagem formal é a educação e formação ministrada num sistema de
escolas, colégios, universidades e outras instituições de educação e ensino, em que a aprendizagem é organizada, avaliada e
certificada sob responsabilidade de profissionais qualificados de educação e formação. Aprendizagem não formal é a formação que
decorre normalmente em estruturas institucionais mais ou menos organizadas, podendo conferir certificação, mas sem que este seja
normalmente reconhecida pelas autoridades nacionais, não permitindo a progressão de níveis de educação e formação.
60
permite desde já antever os progressos que necessitamos fazer na promoção do acesso
da generalidade da nossa população aos benefícios da sociedade da informação, na
perspectiva da mobilização desses meios como ferramentas ao serviço do
desenvolvimento efectivo da sociedade da aprendizagem ao longo da vida.
Gráfico 16 – Percentagem da população idade activa (25-64 anos) que, nos últimos
12 meses, participou na aprendizagem formal, não formal e em
diferentes formas de aprendizagem informal
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
%
Este inquérito confirma ainda de novo que os níveis de participação das pessoas
em actividades de aprendizagem ao longo da vida tendem a aumentar em função da
elevação dos seus níveis de escolaridade ou de qualificação profissional e a diminuir
com a idade. Exemplo deste facto é a percentagem de indivíduos com 15 ou mais anos
que declarou ter participado em actividades de aprendizagem não formal segundo os
respectivos níveis de escolaridade e os escalões etários, em que é visível que enquanto
por exemplo quase 1/3 da população com o ensino superior esteve envolvido nesse tipo
de actividades, no caso da população com apenas 6 anos de escolaridade esse valor não
61
ultrapassa os 3,3%, o que é determinante para a média nacional, situada em 8,7%, uma
vez que mesmo nos que possuem apenas o 9º ano de escolaridade ou o ensino
secundário essa proporção supera claramente essa média (14% no primeiro caso e
18,1% no segundo).
Este facto vem assim confirmar que o mau desempenho global do país em
termos de acesso da nossa população em plena idade activa a oportunidades de
educação e formação se fica sobretudo a dever à escassa participação dos que têm níveis
de escolaridade mais baixos e que, pelo seu peso largamente maioritário na nossa
população total, repercutem-se de forma tão significativa nesse desempenho.
30 20
25
15
20
%
15 10
28,5
%
15,8
13,9
10
18,1 10,3
14,0 5
7,2
5
3,3 1,9
0 0
6 anos de Ens. Básico Ens. Ens. 15-24 25-34 35-44 45-54 55 ou
escol. ou (9 anos de Secundário superior anos anos anos anos mais
m enos escol.) anos
62
tendência para ir baixando constantemente a percentagem dos que declaram ter estado
envolvidos em actividades de aprendizagem não formal à medida que vamos
ascendendo nos escalões etários, o que não deixa de ser preocupante, sobretudo no
quadro do processo de envelhecimento populacional.
80
70
60
50
% 40
30
20
10
0
UE (15)
UE (22)
PORTUGAL
França
Bélgica
Holanda
Itália
Grécia
Suécia
Dinamarca
Rep. Checa
Irlanda
Austria
Espanha
Estónia
Letónia
Hungria
Lituania
Finlândia
Reino Unido
Alemanha
Eslovénia
Polónia
Luxemb.
63
Este valor é atingido essencialmente devido à formação dos trabalhadores das
grandes empresas, que chegava aos 35%, dado que nas micro-empresas entre 10 e 49
trabalhadores e nas médias empresas, entre 50 e 249 trabalhadores, a percentagem é
sempre inferior à média: apenas 4% no primeiro caso e 12% no segundo. É assim
particularmente grave o afastamento potencial da quase totalidade dos trabalhadores das
micro-empresas, que representam a esmagadora maioria do nosso tecido empresarial
privado (mais de 95%, segundo os dados dos quadros de pessoal da actual DGEEP) e
empregam também cerca de metade do emprego estruturado nesse sector (ou seja,
excluindo o emprego na administração pública central, regional e local).
64
Gráfico 19 – Percentagem de empresas com cursos de formação profissional
contínua, segundo os grupos específicos de trabalhadores, por tipo de
participação em cursos (1999)
100
80
60
%
40
20
0
M ulheres Jovens Trab. m ais Trab. s/ Trab. a Trab. com M inorias Trab. em
velhos habilitações tem po deficiência étnicas risco de
form ais parcial desem p.
Para terminar este diagnóstico importa destacar alguns indicadores síntese relativos ao
acesso a algumas das ferramentas da sociedade da informação e que se afiguram como
essenciais na plena inserção social no actual contexto. Considera-se neste quadro a
questão do acesso à Internet, pela importância chave que este meio desempenha hoje na
disseminação de informação e também na prestação de serviços cada vez mais
diversificados.
Portugal apresenta nesta matéria uma posição que é das menos favoráveis no
quadro dos países da União Europeia, constatando-se em 2004 que só cerca de 1/4 da
nossa população acedia à Internet pelo menos uma vez por semana, quando esse valor
na Europa comunitária já rondava os 40%.
65
Gráfico 20 – Percentagem de indivíduos que em 2004 acedem à Internet em média
pelo menos 1 vez por semana, segundo a situação face ao emprego
100
80
60
%
40
20
0
Finlândia
Reino Unido
PORTUGAL
Polónia
Eslovénia
Estónia
Letónia
Lituania
Hungria
Irlanda*
Luxemb.
UE (15)
UE (25)
Espanha*
Chipre
Itália
Suécia
Alemanha
Austria*
Rep. Checa*
Grécia
Dinamarca
Fonte: EUROSTAT, Information Society Policy Indicators. *Áustria, Espanha, Irlanda e República Checa, dados de
2003. Quando não surgem dados para alguns dos actuais Estados-membros da UE ou algumas das variáveis, tal significa
que não estão disponíveis.
66
Gráfico 21 - Percentagem de indivíduos que em 2004 acedem à Internet em média
pelo menos 1 vez por semana, segundo o seu nível de educação formal
100
80
60
%
40
20
0
Reino Unido
Finlândia
PORTUGAL
Lituania
Polónia
Eslovénia
Luxemb.
Estónia
Chipre
Letónia
Itália
Hungria
Irlanda*
Suécia
Alemanha
UE (15)
UE (25)
Espanha*
Rep. Checa*
Grécia
Austria*
Dinamarca
Fonte: EUROSTAT, Information Society Policy Indicators. *Áustria, Espanha, Irlanda e República Checa,
dados de 2003. Quando não surgem dados para alguns dos actuais Estados-membros da UE ou algumas das
variáveis, tal significa que os mesmos não estão disponíveis.
Esta tendência foi ainda largamente confirmada pelos resultados obtidos pelo
INE com o Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação
pelas Famílias, realizado em 2004. Efectivamente, verificando-se com esta fonte que
cerca de 30% dos inquiridos são utilizadores da Internet atingindo 37,2% utilizam o
computador, volta a registar-se que são os indivíduos menos escolarizados os que
67
marcam a tendência geral, uma vez que entre os que atingiram no máximo a actual
escolaridade obrigatória de 9 anos, esses valores não chegam no primeiro caso a 15% e
no segundo a 22%.
100 80
90 70
80
60
70
60 50
%
%
50 40
91,9
72,7
84,2
83,3
63,7
40
72,7
30
53,9
30
42,5
38,1
20
37,2
29,5
29,2
20
29,3
20,3
21,9
10 10
14,5
8,5
5,2
0 0
Até 3.º ciclo Ens. Ens. Total 16-24 25-34 35-44 45-54 55 e
do ens. secundário superior anos anos anos anos m ais
básico anos
Fonte: INE, Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias, 2004.
Universo – Indivíduos com idade entre os 16 e os 74 anos, residentes no território nacional.
68
não ultrapassavam, respectivamente, 29,2% e 20,3% e nos que têm 55 e mais anos os
valores baixam apenas para 8,5% e 5,2%.
69
Gráfico 24 – Evolução da subscrição de telemóveis por 1000 habitantes,
(1995-2002)
100
80
60
%
40
20
0
Finlândia
Reino Unido
PORTUGAL
Polónia
Eslovénia
Holanda
Hungria
Estónia
Eslováquia
Lituania
Letónia
Espanha
Itália
Luxemb.
Rep. Checa
Bélgica
UE (15)
Irlanda
Chipre
Suécia
Grécia
Austria
Alemanha
Malta
França
Dinamarca
Fonte: EUROSTAT, Information Society Policy Indicators. Quando não surgem dados para alguns dos
actuais Estados-membros da UE, tal significa que os mesmos não estão disponíveis.
70
competências básicas e especializadas na área das TIC e na introdução dos
computadores e da informática no sistema de educação – sempre que as escolas se
revelam permeáveis – e formação, passando esta área a ser hoje uma componente
incontornável de todos os percursos de educação e formação inicial, para além da
formação especializada em TIC ser das áreas formativas que tem não só maior procura,
como é aquela onde se concentra hoje uma significativa fatia dos diplomados.
71
aposta deve também cada vez mais incidir na inserção de jovens com essas
características em processos formativos mais longos e de qualificação superior ou
intermédia, de modo a, designadamente, não condenarmos os mesmos ao exercício de
actividades profissionais menos exigentes nesse plano e também com fracos níveis
remuneratórios e com piores condições de trabalho.
Deveremos, então, constatar que as políticas que temos seguido até aqui para
responder a estes constrangimentos e que se têm efectivamente traduzido numa
atenuação relevante dos sintomas da doença - o abandono e o insucesso escolar - não
tem muitas vezes conseguido ainda debelá-la, quer aquelas mais centradas
especificamente no subsistema educativo, quer as centradas no subsistema de formação
profissional, quer ainda as que procuram articular estes dois subsistemas, como se têm
sobretudo verificado na última década. Importa, por isso, na ponderação das políticas
públicas para 2013 ponderar as razões desta situação, de modo a se evitarem alguns
riscos e se explorarem com maior as oportunidades que as mesmas permitem a todos os
actores envolvidos.
72
de educação e formação, quer também pela nossa incapacidade em conseguir níveis de
eficácia e eficiência nas medidas que empreendemos, Portugal permanece na situação
que descrevemos em matéria de qualificação da sua população em plena idade activa.
Importa, por isso, ponderar bem os bloqueios que nos têm impedido de darmos
um efectivo "salto em frente" neste domínio e na óptica da promoção de uma sociedade
da aprendizagem ao longo da vida para todos, em particular para os grupos mais
vulneráveis e face aos quais a intervenção do Estado assume especiais
responsabilidades. Não se tratará neste domínio apenas de eventualmente se concentrar
ainda mais os investimentos públicos junto precisamente dos que mais precisam de
desenvolver as suas competências para se manterem devidamente integrados na
sociedade portuguesa no horizonte da próxima década, mas também e sobretudo de
reforçar substantivamente a eficácia e eficiência desses investimentos na efectiva
elevação dos níveis reconhecidos de escolaridade e formação da nossa população adulta.
73
6 Protecção Social e Programas de Luta Contra a Pobreza
18
Valor calculado a partir do Inquérito Nacional às Despesas Familiares de 1973/74. O limiar de pobreza
foi o de 75% do rendimento médio por adulto equivalente. Foram testados outros limiares, mais baixos,
mas todos eles colocavam a pobreza absoluta acima da pobreza relativa, o que indicia a gravidade das
carências generalizadamente sentidas pela população.
19
Os beneficiários dos principais pilares do sistema, os organismos corporativos de previdência, não
ultrapassavam 862.700 e 833.500 familiares em 1959. Ainda em 1970 apenas 60% da população estava
coberta por algum esquema, ainda que minimalista. Mais de 30% dos trabalhadores dos diversos sectores
de actividade encontravam-se desprotegidos e as receitas da protecção social não ultrapassavam 3,2% do
PIB. Apenas 14,9% das despesas eram com pensões (17,8% em 1970), que não abrangiam senão 187.300
pessoas. As pensões mínimas de velhice e invalidez não foram introduzidas senão em 1960 e 1961 e os
riscos de desemprego e acidentes de trabalho não estavam cobertos.
74
e do Banco Mundial), e de restrições ou recuos no poder de compra dos trabalhadores e
nas condições de vida das famílias. A taxa de pobreza rondava ainda valores próximos
de 35% em 1980 (Costa et. al, 1985)20 e pela primeira vez em décadas a sociedade viu-
se confrontada com uma crise de desemprego.
75
fundos comunitários num ciclo coincidente com uma conjuntura económica
internacional favorável e um clima político estável, o que permitiu a execução dos
programas e medidas desenhados no período anterior, nomeadamente na área do
emprego e da formação – desde a formação contínua nas empresas até à formação para
desempregados e à disseminação das respostas e instituições do sistema de reabilitação
sócio-profissional de pessoas com deficiência (Capucha et al., 2004) e o crescimento do
nível de cobertura e do desempenho geral dos sistemas de segurança social. São disso
exemplo a criação do 14º mês nas pensões e a criação de uma rede de equipamentos e
serviços, muitas vezes geridos em parceria com os parceiros sociais e com ONG’s.
76
as iniciativas de emprego social ou o artesanato, a dinamização de actividades
produtivas em decadência, a reconstrução habitacional, a animação cultural, entre outras
actividades, em particular no âmbito do mercado social de emprego. A
multidimensionalidade e a adicionalidade de meios eram asseguradas por parcerias de
base local que incluíam as entidades públicas e privadas responsáveis pelas diversas
áreas de actividades dos projectos. Entre 1996 e 2001 foram financiados 339 projectos
com uma verba de € 84.134.295 em todo o país (OIT, 2003).21 A estes devem ser
adicionadas iniciativas de cariz semelhante, promovidas primeiramente pela Iniciativa
Comunitária Horizon I e depois pelo sub-programa operacional “Integrar”.
Pode-se assim dizer que as primeiras políticas públicas de luta contra a pobreza
em Portugal tinham uma configuração que associava o combate ao fenómeno aos
problemas do desenvolvimento local, assente em metodologias de projecto promovido
por parcerias actuando num determinado território delimitado e com objectivos
delimitados no alcance e no tempo.
21
Uma das maiores fragilidades do programa consiste na dispersão e pequena dimensão de cada projecto
(média de € 248.184, o que resulta em médias de apenas € 62.045 ano/projecto, insuficientes para atacar a
fundo os problemas nos territórios em que se localizam).
77
cobertura dos diversos riscos sociais e um instrumento fundamental de redistribuição de
recursos, tanto num sentido vertical, através da transferência de meios das gerações
activas para as mais idosas, como num sentido horizontal, através da solidariedade
nacional para com os mais pobres, através nomeadamente do crescimento “político” dos
valores das pensões mais baixas.22 Durante o período 1995-2000 o desempenho do
sistema conheceu uma evolução positiva.
30
25
20
UE 15
15 UE 25
Portugal
10
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: European Social Statistics: Social protection, Expenditure and receipts, Data: 1994-2002,
European Commission, Eurostat.
22
A “eficiência” das transferências sociais totais na redução da pobreza é de 61,5% na UE15 e de 49,5%
em Portugal, ao passo que a eficiência das “outras transferências” para além das pensões, era a nível
europeu de 37,0% e em Portugal 16,7%, em 2001 (Ferreira, no prelo).
78
Gráfico 26 – Despesa em Protecção Social em PPS, per capita, 2001
Fonte: Statistics on focus, Population and Living Conditions, Social Protection, 2004
79
Gráfico 27 – Despesa Total em Protecção Social, per capita em PPS, 1994-2001
8000
7000
6000
5000 UE 15
4000 UE 25
3000 Portugal
2000
1000
0
94
95
96
97
98
99
00
01
02
19
19
19
19
19
19
20
20
20
Fonte: European Social Statistics: Social protection, Expenditure ans receipts, Data: 1994-2002, European
Commission, Eurostat.
Gráfico 28 – Protecção Social por função, 2002
50,0
45,0
40,0
35,0
30,0 UE 15
25,0
20,0 Portugal
15,0
10,0
5,0
0,0
Velhice / Doença / Invalidez Família / Desemprego Alojamento/
Sobrevivência Cuidados de Crianças Exclusão Social
Saúde
Fonte: Statistics on focus, Population and Living Conditions, Social Protection, 2004
80
Dada a evolução previsível dos rendimentos do trabalho e da produtividade, do
emprego e principalmente das dinâmicas demográficas23, impunha-se e impõe-se ainda
a reforma do sistema português de segurança social24. Existem duas perspectivas sobre
o modo de conduzir essa reforma, uma acentuando mais a limitação das
responsabilidades do sistema público e propondo a criação de incentivos ao crescimento
do pilar privado (Campos, 2000) e outra, que prevaleceu na lei de bases de 200025, mais
centrada no reforço do sistema público. Foi pois reafirmado o primado da
responsabilidade do Estado na provisão das políticas de bem-estar promotoras da
solidariedade inter-geracional e na responsabilidade nacional para com os mais
desfavorecidos. A Lei reteve ainda um conjunto de outros princípios que foram sendo
experimentados em diversas medidas de política, como o da diferenciação positiva26 a
favor dos mais desfavorecidos (a que se liga o crescimento do peso das medidas
baseadas na condição de recursos, mais eficazes no combate à pobreza do que as de
distribuição simples de dinheiro) ou o da eleição do combate à exclusão social como um
dos objectivos centrais do sistema. A aproximação do sistema aos cidadãos e aos
contribuintes, a melhoria dos fluxos de informação e a introdução de princípios de
horizontalização e coordenação interdepartamental no funcionamento de diversos
serviços públicos e entidades privadas, foram iniciativas tomadas também no quadro da
nova geração das políticas sociais activas com vista à modernização dos serviços.
23
O índice de envelhecimento da população passou de perto de 85% em 1995 para mais de 95% em
1999, indicando os Censos de 2001 que a população idosa pela primeira vez ultrapassou o peso da
população de menos de 14 anos. O índice de dependência dos idosos (população com 65 ou mais
anos/população entre 15 e 64 anos x 100) passou de 21,5 em 1995 para 22,8 em 1999.
24
O mesmo acontecendo em toda a Europa, razão pela qual se lançou um processo baseado no método de
coordenação aberta para a modernização e sustentabilidade dos sistemas de pensões.
25
Um estudo prospectivo realizado em 2001 mostrava que, naquela altura, apesar dos efeitos inevitáveis
do envelhecimento e da maturação do sistema – com sistemáticos aumentos dos valores médios das
pensões – a fase em que ele poderá vir a conhecer défices se encontra bastante distante, principalmente se
as alterações introduzidas na lei forem cumpridas (nomeadamente as que respeitam à criação do fundo de
reserva) e desde que o incumprimento verificado no período 2002-2004 seja rectificado. A
sustentabilidade ficará melhor assegurada não tanto através da criação de plafonds que estimulem a
procura dos esquemas privados, mas principalmente através do aumento da idade efectiva da reforma e do
estímulo ao envelhecimento activo e, como condição deste, da melhoria da qualidade e atractividade do
trabalho (Santos e Ferreira, 2002).
26
A via para o desempenho desta função é hoje também objecto de debate. Um dos tópicos respeita à
lógica a que deve obedecer o crescimento das políticas redistributivas do rendimento. Se o objectivo é o
da elevação dos padrões de vida dos pensionistas de pensões mais baixas, privilegiar-se-ão medidas –
relativamente mais caras – de carácter universal, como será o caso da elevação do valor da pensão
mínima do regime geral até ao valor do salário mínimo nacional. Se, pelo contrário, o objectivo é o da
erradicação da pobreza, os aumentos das pensões mais baixas – de todos os regimes – poderá assumir a
forma de um suplemento, conferido sob condição de recursos, que assegure a ultrapassagem dos limiares
de pobreza com maior economia de meios (Gouveia e Rodrigues, 2003).
81
Mantiveram-se na nova lei de bases da segurança social o regime contributivo, o
regime não-contributivo e a acção social, ao mesmo tempo que se introduziram
alterações de fundo na fórmula de cálculo das pensões (opcional para quem já tinha
direitos formados), de modo a valorizar a contribuição durante toda a carreira
profissional, se estabeleceu a obrigação de financiamento da acção social pelo
Orçamento de Estado e se reforçaram os Fundos de Capitalização Públicos, medidas
que, conjugadas, permitiriam, em condições normais, o crescimento relativo das
prestações e a viabilidade financeira do sistema a longo prazo.
Em 2002, o governo saído das eleições desse ano e cujos partidos tinham votado
desfavoravelmente a nova lei de bases de segurança social, tentaram alterá-la em
profundidade, principalmente no sentido de baixar o plafonamento das contribuições, de
forma a estimular o mercado privado. A tentativa foi relativamente mal sucedida,
devido à conjugação de posições entre os partidos políticos que a tinham aprovado, os
parceiros sociais que tinham acordado os princípios que lhe subjaziam e diversos
cidadãos. Porém, a modernização das organizações do sistema foi suspensa gerando-se
assim alguma ambiguidade, dado que nem a lei mudou como o governo queria, nem se
tornou efectiva na prática.
82
Do esquema consta, no essencial, uma prestação pecuniária do regime não
contributivo da segurança social criada com o duplo objectivo de combater as formas
mais extremas de carência económica e assegurar níveis de vida minimamente dignos a
todas as pessoas legalmente residentes em Portugal, que provassem não possuir os
recursos equivalentes ao mínimo definido na lei, igual ao valor da pensão social por
adulto-equivalente. O esquema integrava ainda um princípio de activação, sob a forma
de um programa de inserção destinado a resolver as situações que deram origem à
necessidade de recorrer à medida. Os programas de inserção deveriam ser desenhados
tendo em conta as características e necessidades de cada pessoa ou agregado e se
oferecidos pelas instituições com quem os beneficiários assinam um contrato. A
disponibilidade para trabalhar de todos os beneficiários que não o fizessem já e
possuíssem condições de idade e saúde para o exercício profissional constitui uma
condição de acesso à prestação. Os contratos de inserção iam porém muito mais longe
do que apenas o domínio do trabalho, envolvendo também áreas como a saúde, a
educação, a formação profissional, o acesso a equipamentos sociais, a habitação ou a
acção social. Para aceder à prestação, os beneficiários deviam esgotar previamente
todos os direitos para que fossem elegíveis.
27
A escala de equivalência é mais vantajosa para os beneficiários do que a da OCDE, pois em cada
agregado dois adultos têm um ponderador igual a 1, outros adultos a partir do terceiro o ponderador de
0,7 e as crianças um ponderador de 0,5 (a escala da OCDE atribui o valor 1 ao primeiro adulto, 0,7 aos
restantes e 0,5 às crianças).
28
Não eram igualmente contabilizadas as prestações familiares e as bolsas de estudo.
83
O RMG era uma medida gerida a nível local pelas Comissões Locais de
Acompanhamento (CLA), apesar do carácter nacional que possuía. As CLA integravam
obrigatoriamente representantes locais da acção social, da educação, do emprego e da
saúde e opcionalmente autarquias, IPSS, parceiros sociais e outras organizações sem
fins lucrativos. Competia-lhes acompanhar os beneficiários (tarefa de que eram
geralmente incumbidos serviços locais de acção social), bem como a definição e o
acompanhamento dos Planos de Inserção que deveriam ser assinados pelo representante
da CLA e todos os membros do agregado beneficiário envolvidos.
O RMG foi uma medida inovadora, não apenas por completar o sistema de
protecção com uma peça que estava ausente, instituindo um direito na acção social onde
antes prevaleciam pequenas prestações avulsas concedidas como uma espécie de
“benesse” concedida apenas no caso de existir dotação orçamental nos serviços locais
de acção social, mas também porque instaurou os princípios da gestão descentralizada
de uma medida de política nacional e o da contractualização entre o cidadão
beneficiário e a sociedade, sublinhando a ideia de que aos direitos se associam deveres
tanto da sociedade como dos cidadãos.
84
decrescendo, para 4,2% em 2000, 3,4% em 2001 e 3,1% em 2002 (320.155 pessoas e
109.579 agregados). Até Dezembro deste ano tinham beneficiado no total 826.974
pessoas. O número dos que tinham abandonado o benefício era de 506.819
(pertencentes a 175.979 agregados), 62,7% dos quais por terem deixado de se encontrar
em situação de necessidade económica. Por não terem cumprido ou subscrito o
programa de inserção (respectivamente 11,5% e 7,9%), por possuírem título de
residência inválido (1,5%) ou outras razões (16,4%), abandonaram o sistema os
restantes 37,3%.
Grande parte do abandono por melhoria dos rendimentos foi devida aos efeitos
dos contratos de inserção, os quais atingiram o número de 75.379, cobrindo 173.257
indivíduos e incluindo 229.853 acções. São de destacar as áreas da educação (14,8%),
saúde (23,6%) e emprego (15,7%). Se a área do emprego não revela números
superiores, tal se deve em boa parte ao facto de 39,9% dos beneficiários terem menos de
18 anos, 8% mais de 65 anos, e também ao facto de 24,4% serem pessoas empregadas,
9,1% pensionistas, 4,5% incapacitados para o trabalho e 23,8% estudantes. Os
desempregados eram um grupo sobre-representado (19,8%), e as pessoas ocupadas com
tarefas domésticas eram 14,7%, saindo desses dois grupos o grosso dos contratos nas
áreas do emprego e da formação.
Uma leitura objectiva da medida e dos seus resultados poderia salientar mais os
resultados alcançados ou os aspectos menos conseguidos. Entre estes salientam-se as
dificuldades encontradas na implementação, resultantes da escassez de pessoal técnico
qualificado em quantidade suficiente para as tarefas de acompanhamento das famílias,
bem como a fraca qualidade de boa parte dos contratos de inserção e das acções
oferecidas, que em muitos casos resultou no incumprimento – e respectiva penalização
– dos beneficiários, sem a correspondente responsabilização das instituições. Outros
aspectos menos conseguidos, que porém não foram objecto de debate, são a “pobreza
envergonhada” que pode explicar uma parte da taxa de “non-take-up” e a exiguidade do
benefício. Estas críticas não obstam a que, globalmente, o balanço seja amplamente
positivo, servindo o caso português de exemplo para os restantes países do sul, que ou
85
não possuem a medida (Grécia), ou apenas a possuem com carácter muito marginal
(Espanha), ou, ainda, se mantêm em fase experimental apenas nalgumas regiões (Itália).
Ainda assim, não deixaram de se fazer ouvir nos últimos anos, críticas puramente
ideológicas à medida, como a do desincentivo ao trabalho, da dependência ou a da
fraude, que se verificou ser das menores em todas as medidas de protecção.
Resultaram ainda assim prejuízos da nova lei – que passou a designar a medida
como Rendimento Social de Inserção - por um lado simbólicos, dado que os ataques
tiveram efeito de anatematizar a medida, e por outro lado materiais, sendo o mais
grave a norma de contabilização dos 12 últimos meses de rendimento para efeito de
cálculo do benefício, o que coloca em situação de desespero famílias que se vêem
confrontadas, por exemplo, com o termo súbito de subsídios como o de desemprego e
que se vêem obrigadas a esperar na maior penúria pelo direito ao benefício. Como
também se introduziu a norma de obrigar à renovação anual do requerimento, também
aumentou a burocracia em prejuízo do acompanhamento social.
86
novos e 6% para os mais idosos. São também iguais as taxas de indeferimento, à volta
de 40% em ambos os casos, bem como os respectivos motivos entre os quais predomina
a posse de rendimentos superiores aos mínimos (causa evocada para 78% dos pedidos
indeferidos no RSI e em 79,3% no RMG). São também semelhantes as condições
perante o trabalho e valor médio do benefício, que era de € 59,27 por mês e por
agregado em Fevereiro de 2005.
87
Dado que em 2001 a percentagem do PIB de despesas em políticas activas do
mercado de trabalho era de apenas 0,2, contra 0,7 na UE15,29 é possível ainda exigir a
expansão deste tipo de medidas em Portugal.
29
Ao passo que nas medidas passivas nos aproximamos mais da média (1,0% em Portugal, contra 1,3%
na Europa Comunitária, sendo que neste indicador nos encontramos acima do Reino Unido (0,4%), do
Luxemburgo (0,5%) da Irlanda (0,7%), da Itália (0,6%) e da Grécia (0,4%))
88
7 Família, Equipamentos e Serviços
A sociedade portuguesa tem sido palco nas últimas três décadas de um importante
conjunto de mudanças sociais. Tais mudanças têm a ver não apenas com as dinâmicas
que atravessam as sociedades em geral, mas também estão muito particularmente
relacionadas com dois marcos políticos importantes na história do país – a revolução de
25 de Abril de 1974, por um lado, e, por outro, a integração na União Europeia em 1986
(Guerreiro, 2000).
No plano da vida familiar Portugal registava pelos anos 60 uma percentagem de
17,1% de agregados familiares com mais de 5 pessoas, sendo a dimensão média das
famílias portuguesas de 3,8%. Os agregados domésticos de famílias complexas atingiam
os 15,4%. A taxa de natalidade em 1960 situava-se nos 24,1%, das mais elevadas da
Europa, sendo o índice de fecundidade de 3,2. O número de filhos nascidos fora do
casamento era de 9,5%. Os casamentos católicos atingiam os 90,7% e o divórcio não
estava previsto na lei portuguesa. Era escasso o número de mulheres com actividade
profissional, em pouco ultrapassando os 13%.
A análise das dinâmicas ocorridas a partir desta década mostra que a sociedade
portuguesa se transformou muito rapidamente, pelo menos em alguns aspectos,
apresentando actualmente uma diversidade de perfis que nuns casos a aproximam das
sociedades mais modernizadas, e noutros lhe mantêm certas particularidades, ou mesmo
retardamentos, em termos de modernidade.
Um olhar sobre a actualidade mostra, assim, que do ponto de vista demográfico,
o volume da população portuguesa estacionou, depois de ter registado um pico de
crescimento em meados da década de 70, com o retorno de alguns emigrantes e dos
portugueses até então residentes nas ex-colónias portuguesas em África.
Ao nível da ocupação do território, a faixa litoral do país, do Norte ao Algarve,
acolhe presentemente cerca de 80% da população residente em Portugal e só nas Áreas
Metropolitanas de Lisboa e do Porto vivem quase metade dos portugueses (49,3%)
(Machado e Costa, 1998: 18-21).
A par das movimentações espaciais ocorreram movimentações na estrutura
ocupacional. Nestas últimas décadas a população activa portuguesa recompôs-se e
redistribuiu-se noutros moldes pelos diferentes sectores de actividade. O sector agrícola
89
diminuiu drasticamente o seu peso. A indústria teve algum crescimento até aos anos 80,
quando chegou a ocupar 38,7% da população activa, mas a partir daí tem decrescido o
seu contributo na criação de emprego, sendo o sector terciário aquele que ocupa
presentemente a maioria da população em Portugal. Os dados do Joint Report on Social
Protection and Social Inclusion referentes ao ano de 2003 apontam para um volume de
população empregada nos serviços na ordem dos 55%, na indústria na casa dos 32,3% e
na agricultura de 12,6% (Comission Européenne, 2005: 91). Estes valores, como vimos
pormenorizadamente atrás, colocam Portugal acima da média europeia no que respeita
ao volume do emprego na agricultura e na indústria, onde para o conjunto da UE25 se
registam, respectivamente, 5,2% e 25,5% de empregados naqueles sectores, enquanto,
por outro lado, o país está aquém dos valores médios europeus registados para o sector
terciário, que ocupa 69,2% de activos no conjunto dos países da União Europeia
(Comission Européenne, 2005: 91).
Na opinião de certos autores, terá constituído um impulso de primordial
importância para o crescimento do emprego no sector terciário em Portugal, para além
do aumento das actividades de serviços prestados aos particulares e às empresas pela
iniciativa privada, a implantação a partir do 25 de Abril de 1974 de políticas sociais
estatais até então amplamente deficitárias. Afirmam estes mesmos autores, que “embora
o chamado estado-providência não tenha nunca alcançado em Portugal a expressão que
teve e tem noutros países europeus, as políticas progressivamente postas em prática, à
escala nacional, em domínios como a educação, a saúde e a segurança social,
traduziram-se na criação de grande número de empregos, como se pode verificar
observando a evolução de grupos profissionais como os professores, os médicos ou os
trabalhadores sociais, entre vários outros” (Machado e Costa, 1998: 31).
Um fenómeno interessante que se começou a verificar nos últimos anos, com
óbvia relevância do ponto de vista das estruturas e práticas familiares, é o da maior
escolaridade das mulheres, por comparação com o sexo masculino. Embora nos grupos
de idades acima dos 50 anos as mulheres tenham taxas de analfabetismo muito
superiores às dos homens dos mesmos escalões etários (Guerreiro e Romão, 1995), as
mulheres jovens tendem a estar em maior proporção nos níveis mais avançados do
ensino secundário e no ensino superior. Aliás, Portugal regista o índice mais elevado de
feminização do ensino superior (130) (Eurostat, 1999a) no conjunto dos países da União
Europeia, o qual ainda era mais alto em 1991 (151 raparigas para 100 rapazes)
(Eurostat, 1995), período em que estava menos disseminada a rede de universidades
90
privadas. Os Censos Populacionais desse ano (1991) registavam na população dos 20-
24 anos perto de 67% de mulheres para 33% de homens na população diplomada com
ensino superior. Nos Censos de 2001, a tendência para a feminização dos níveis de
escolarização mais elevados mantém-se, sendo que o diferencial era favorável às
mulheres, quer em termos percentuais (4,1% contra 3,4% da população que frequentava
licenciaturas, mestrados ou doutoramentos), quer no facto de possuírem mais
habilitações nos níveis de ensino básico (19,2% para as mulheres, 17,4% para os
homens).
A par do aumento do sector terciário assistiu-se a uma participação progressiva
das mulheres no mercado de trabalho, a qual em certas décadas, praticamente duplicou
(Guerreiro et al, 1998). De uma taxa de actividade feminina de 13% em 1960 passou-se
para 43% em 1997, de acordo com os dados constantes no Plano Nacional de Emprego
(Ministério do Trabalho e da Solidariedade, 1999: 112). Calculada com base no
conjunto da população em idade de trabalhar, modalidade utilizada pelo Observatório
do Emprego da Comissão Europeia, a taxa de actividade feminina situava-se, em 1997,
nos 63,6%, em 2002 nos 65%, e em 2003 nos 65,6%. No que diz respeito à taxa de
emprego, de acordo com os mesmos critérios, em 1997 situava-se nos 58,6% e em 2003
era de 61,4%, o que testemunha a crescente feminização do mercado de trabalho.
(Comission Européenne, 1999; 2005). Mais, quando comparadas com as mulheres dos
restantes países que constituem a Europa dos 25 observamos que o nosso país apresenta
a sétima taxa de actividade feminina mais elevada para o grupo etário dos 15 aos 64
anos (65,6%, em 2003), sendo a Suécia o país que apresenta a percentagem mais
elevada (75,4%) e Malta com a percentagem mais baixa (36,8%). Inclusivamente, em
2002, as mulheres portuguesas, a par com as suecas, eram as que trabalhavam até uma
idade mais tardia (63,1 anos), mais três anos que a média estimada pelo Eurostat (60,4).
Por outro lado, a taxa de actividade masculina, relativamente ao conjunto da população
de todas as idades, apresenta um certo decréscimo. De perto de 64% em 1960 desce
para os 57% em 1997. Assim, globalmente pode dizer-se que a taxa de actividade em
Portugal tem crescido sobretudo com o contributo da participação feminina na vida
profissional.
Grande parte das mulheres trabalha no sector dos serviços, a exemplo do que
acontece noutros países. Segundo o referido Observatório do Emprego, os serviços são
o sector de actividade mais feminizado em Portugal. Segundo Guerreiro (2001), os
serviços contavam, em 1997, com uma taxa de emprego feminino de 64,6% para uma
91
taxa de emprego masculino de 48,6%. Confirma-se, com estes valores, o que vários
estudos têm referido, no que respeita à segregação horizontal do mercado de trabalho,
calculada relativamente ao conjunto da população de todas as idades. As mulheres são
remetidas para determinados sectores de actividade, e dentro destes para determinadas
ocupações muito específicas. De facto, em 1999, a profissão principal que caracterizava
a população feminina era do “pessoal dos serviços e vendedores” com 19,2%,
correspondendo as mulheres a 63,8% do total afecto a esta profissão. Volvidos 5 anos,
observa-se sensivelmente a mesma percentagem (19,1%) para a mesma categoria
profissional, seguida das profissões não qualificadas (16,9%). No entanto, quando nos
centramos nas profissões mais qualificadas “Quadros Superiores de Administração
Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresas” e “Profissões Intelectuais e
Científicas”, verificamos que os valores das percentagens de participação dos homens e
das mulheres nestas profissões são muito próximos (17,6% para os homens, 17,2% para
as mulheres). Porém, não obstante esta situação, observa-se igualmente uma maior
proporção de homens na primeira categoria de profissões e uma proporção maior de
mulheres na segunda, o que é testemunho de que mesmo altamente qualificadas, as
mulheres continuam a não aceder a lugares directivos e de maior destaque social e
profissional. Ainda no que diz respeito a esta questão, e olhando para os valores
apresentados pela Eurostat em 2005, observa-se que Portugal é o quarto país que
apresenta a percentagem mais baixa de mulheres a trabalhar no sector dos serviços
(55%), precedido pela Eslovénia (52,3%), a Polónia (53%) e a Lituânia (54,1%); e o que
se encontra em sexto lugar (com 12,6%) dos países que apresentam percentagens mais
elevadas de mulheres que desenvolvem actividades profissionais no sector da
agricultura, sector este marcado pela precariedade e rendimentos baixos.
Esta última observação conduz-nos a um outro tópico que marca a realidade
portuguesa no que diz respeito à desigualdade entre os sexos: as diferenças salariais
entre homens e mulheres. Segundo o Plano Nacional de Emprego 2003-2006, o grau de
diferenciação dos ganhos médios entre homens e mulheres no sector empresarial passou
de 72,6% em 1999 para 73,8% em 2000, em termos brutos, o que mostra que continua a
existir uma maior concentração de homens em sectores e profissões com salários mais
altos, bem como alguns fenómenos de discriminação indirecta em termos salariais.
Entre Abril de 1993 e Outubro de 1998, de acordo com o Inquérito dos Ganhos, mais de
metade dos trabalhadores por conta de outrem que recebem o salário mínimo nacional
eram mulheres. Do mesmo modo, e segundo os dados do “Painel Europeu dos
92
Agregados Domésticos Privados” (Eurostat), em 2003, a diferença entre os salários
brutos auferidos numa hora pelas mulheres e pelos homens era, em média, desfavorável
para as primeiras em 9%.
As mulheres são igualmente as que apresentam maiores taxas de desemprego de
longa duração (2,7% em 2003, contra 1,8% para os homens, no mesmo ano).
Considerando as taxas de desemprego por grupos de idade, verificou-se que o
desemprego, segundo estatísticas do INE de 2001 referentes a 1999, foi maior nas
mulheres entre os 15 e 24 anos, com taxas de desemprego mais elevadas do que os
restantes grupos de idade (10,8%). O inquérito ao emprego mostra que o único grupo
etário em que as mulheres têm uma taxa de desemprego inferior à dos homens é no dos
54 e mais anos. Cruzando a condição de “desempregada” com o nível de escolaridade
damo-nos conta que a maior parte das mulheres desempregadas possuíam o ensino
básico (76,6%) e que 17% possuíam o ensino superior.
Uma outra particularidade a referir no que respeita à inserção profissional das
mulheres portuguesas é a da pequena expressão do trabalho a tempo parcial. Com essa
situação não regulamentada até recentemente (Ministério do Trabalho e Solidariedade,
1999), e também devido aos baixos salários médios praticados no país, Portugal é dos
parceiros da União Europeia com menor incidência de trabalho em tempo parcial.
Embora em crescimento, não ultrapassava os 15% em 1997, sendo de 9,9% a média do
trabalho a tempo parcial para ambos os sexos (Comission Européenne, 1999).
Em suma, apesar deste cenário de feminização do emprego, do sistema de ensino
e formação, persiste uma série de factores relacionados com segregação e
discriminação. As recomposições sociais que se observam no nosso país nas últimas
décadas têm sido determinadas por um conjunto de factores que se relacionam, por um
lado, com o aumento da presença feminina em todos os níveis de ensino e de formação
profissional, e por outro, pela entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho e a
passagem para um modelo de participação na actividade profissional mais contínuo30,
ou seja, menos marcado por interrupções por motivos relacionados com a prestação de
cuidados à família. Quando comparamos a situação das mulheres portuguesas com a dos
outros países que constituem a UE, damo-nos conta de um conjunto de situações: as
mulheres portuguesas são as que têm o horário de trabalho mais longo da UE; são umas
30
Este modelo mais contínuo de participação feminina no mercado de trabalho está em boa parte
relacionado com dois factores distintos: a forte adesão das mulheres com filhos pequenos a uma
actividade profissional e a quebra das taxas de fecundidade.
93
das que detêm uma taxa de actividade feminina mais elevada, mas as que apresentam os
salários mais baixos da UE.
94
pessoas diminuiu, representando, nos censos 2001, 3,5% dos agregados, metade de
1991 e um quinto do que representava em 1960 (Aboim, 2003).
Segundo a mesma autora, as famílias monoparentais não parecem ter tido um
grande crescimento, nem tampouco os agregados domésticos de famílias complexas
decresceram significativamente, podendo muitos deles albergar no seu seio núcleos
monoparentais.
A estes indicadores associam-se, como atrás se viu, elevadas percentagens de
mulheres a exercerem profissão em regime de tempo completo e sem interromperem a
respectiva actividade profissional enquanto têm crianças pequenas.
Este parece ser, aliás, um traço distintivo da sociedade portuguesa actual por
comparação quer com as muito mais baixas taxas de actividade feminina nos outros
países do sul da Europa, quer com as muito mais elevadas percentagens de trabalho a
tempo parcial das mulheres com filhos em diversos países europeus situados mais a
norte. Note-se ainda que nas famílias portuguesas os cônjuges do sexo masculino
realizam muito poucas tarefas domésticas (Knüppel, 1995; Guerreiro e Ávila, 1998).
Para algumas famílias portuguesas parece ainda funcionar a rede de entreajudas
familiares femininas e outras poderão contar com apoio doméstico profissionalizado.
Mas numa grande parte dos casos, se as solidariedades de parentesco não funcionam e
não dispõem de recursos financeiros suficientes que lhes permitam adquirir serviços no
mercado, recai sobre as mulheres a acumulação do trabalho profissional com o trabalho
familiar. Inclusivamente, as mulheres portuguesas, quando comparadas com as dos
outros países da UE, são as que dispõem de menos apoios em termos de equipamentos
de apoio ao cuidado de crianças, idosos, dependentes ou deficientes dependentes.
Por fim, para concluir este conjunto de referências de enquadramento, refira-se
também o crescimento da população idosa e dos agregados domésticos de pessoas sós
em idade avançada. Esta população é a que tem mais peso (51%) no conjunto das
unidades domésticas de um só residente e representa 20% da faixa etária de mais de 65
anos (Guerreiro, 2003), o que levanta a questão da prestação de cuidados, os quais, em
muitos casos, já não podem ser assegurados por familiares, por vezes ausentes, outras
vezes em fase activa e exigente dos respectivos trajectos profissionais, sem
disponibilidade para atender às suas necessidades. Os dados aqui apresentados
procuram situar a sociedade portuguesa no contexto europeu e evidenciam que em
muitos aspectos seguimos o que se passa noutros países, se bem que com atrasos, e
95
noutros apresentamos especificidades decorrentes de características estruturais, a nível
social, económico e cultural.
Nos últimos 30 anos as famílias com crianças no nosso país assistiram a muitas
mudanças. Quer do ponto de vista demográfico, quer do ponto de vista da relação das
mulheres com o mercado de trabalho31, em geral, podemos dizer que tem havido
algumas mudanças no apoio à família no seu dia-a-dia familiar e laboral. Mesmo as
próprias definições de família e das obrigações entre familiares, tal como se encontram
na legislação e nas medidas de política social de apoio à família, têm sofrido várias
transformações desde o sistema corporativo de protecção social até aos dias de hoje. A
questão da igualdade entre os sexos, introduzida nas políticas de apoio à família depois
do 25 de Abril de 74, não apenas sustentou a responsabilidade pública pela importância
do trabalho feminino e a protecção das mulheres no mercado de trabalho como também
desenvolveu, em particular nos últimos anos, uma forte ligação às questões da
conciliação trabalho/família.
31
Lígia Amâncio (1994) sistematizou cinco teorias implícitas sobre a situação das mulheres no trabalho: a
teoria implícita psicológica que apresenta a discriminação da mulher no trabalho como resultante de um
perfil de características psicológicas negativas e inadequadas ao desempenho no mundo do trabalho; a
teoria implícita positiva que questiona a discriminação da mulher no trabalho, ao apresentar as
características expressivas e a orientação relacional do comportamento feminino como particularmente
adequadas ao mundo do trabalho (o que corresponde a uma valorização desta teoria implícita da
“personalidade” feminina); a teoria implícita progressiva que apresenta a discriminação da mulher no
trabalho como resultante de interesses económicos, da estratificação social entre os sexos e da posição
dominante e privilegiada dos homens neste mundo, acentuando uma causalidade externa e sociológica; a
teoria implícita individual que apresenta a discriminação da mulher no trabalho como resultante da
incompetência, das qualificações e orientação vocacional de algumas mulheres; e a teoria implícita
tradicional questiona a discriminação da mulher no mundo do trabalho como consequência do papel
tradicional da mulher na família, situando a questão numa vocação “natural” e socialmente valorizada da
categoria feminina.
96
Foi depois do 25 de Abril que a abordagem a estas questões foi feita de uma
forma mais abrangente e com uma implementação mais eficiente e real. A Legislação
começou por tirar da letra da lei, que vigorava no Estado Novo, o dever das mulheres de
orientarem a casa e as tarefas domésticas, abolindo o carácter subordinado que lhes era
imputado na altura, no que diz respeito à sua relação com o marido e ao estabelecimento
de regras no seio familiar; e introduziu os mesmos direitos e deveres para homens e
mulheres, mães e pais, impondo a igualdade de direitos em todos os domínios através da
proibição de qualquer tipo de discriminação sexual (art. 13), especialmente no emprego
(art. 59 e 60) (Wall, no prelo, 2004). Na Constituição de 1976, passou a ser reconhecida
ao Estado a obrigação de informar relativamente ao planeamento familiar, e de
desenvolver a Rede Nacional de Assistência Infantil cooperando, desta forma, com os
pais na educação das crianças (artigo nº 67). Segundo Wall (2000), durante este período,
as medidas específicas com impacto significante no quotidiano das famílias com
crianças pequenas eram centradas na questão da protecção das mulheres no mercado de
trabalho, principalmente, no que diz respeito à provisão de uma variedade de medidas
relacionadas com a maternidade. Foi introduzida em 1976 a Licença de Maternidade,
paga na totalidade pelo período de 90 dias para todas as mulheres trabalhadoras (Lei nº.
112/76 de 7 de Fevereiro), e em 1979 na Lei nº. 392 estabeleceu-se a igualdade de
direitos no trabalho, quer no que diz respeito aos direitos da mulher enquanto
trabalhadora, quer no que diz respeito ao seu salário: “pagamento igual para trabalho
igual”. Esta lei assinalou igualmente a importância da maternidade através da definição
da protecção da mulher grávida no trabalho32. A Comissão para a Igualdade no
Emprego e no Trabalho foi fundada no mesmo ano com o objectivo específico de
“fiscalizar” a implementação destes novos princípios.
As mudanças ao nível de quem poderia requerer tais benefícios ou ser titular
tiveram algum impacto nas famílias de então, uma vez que alargou o âmbito de
aplicação dos mesmos. Se anteriormente, no Estado Novo, o subsídio de família, criado
por Salazar nos anos 40, se baseava no conceito de homem “ganha-pão”, decorrendo daí
a atribuição da titularidade do mesmo ao membro masculino do casal33 (casado e
32
A Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego do Ministério do Emprego e da Segurança
Social foi fundada ao mesmo tempo com a obrigação de controlar e supervisionar a implementação destes
novos princípios.
33
Este era apenas recebido se dissesse respeito a famílias de mulher e filhos “legítimos”, estes até aos 14
anos (Wall, 1995b). Nos anos 60/70, numa tentativa de desenvolver o sistema de segurança social, o
regime atribuiu pequenos benefícios adicionais às famílias: subsídios de casamento, de nascimento e de
97
trabalhador do sector da indústria ou do sector dos serviços), na nova Lei nº 197/ 77 de
17 de Maio estabeleceu-se que o pedido de benefícios sociais poderia ser feito por
qualquer adulto independentemente do sexo e do estado civil, sendo este considerado
como um direito da criança. Desta forma, a universalização dos benefícios trouxe para o
sistema de subsídios familiares as famílias que anteriormente eram formalmente
excluídas pelo Estado, normalmente os mais pobres, como sejam as mães solteiras com
crianças nascidas fora do casamento (Wall, no prelo, 2004).
Ao nível dos serviços de apoio às crianças na Constituição de 197634, ao
invés da política estabelecida pelo Estado Novo, onde se partia do princípio que as mães
e as famílias eram responsáveis pela prestação de cuidados às crianças35, o Estado
compromete-se a desenvolver uma rede nacional de assistência materno-infantil e a
cooperar com os pais na educação dos filhos promovendo, ao mesmo tempo, a
privacidade e autonomia da família36. A resposta às necessidades das crianças pequenas
e a educação pré-escolar tinha como principal origem as instituições particulares de
solidariedade social ligadas à Igreja, que tinham uma vasta tradição na prestação de
serviços, e as instituições privadas lucrativas e cooperativas. O aumento desta rede de
prestação de cuidados às crianças e de educação pré-escolar está relacionado, ao mesmo
tempo, com a criação de instituições de cuidados às crianças fundados por comunidades,
organizações voluntárias, organizações comunitárias, sindicatos, etc. Esta lenta
expansão dos jardins-de-infância nos primeiros 10 anos depois da Revolução foi
acompanhada por algumas medidas políticas. Por exemplo, foram constituídos dois
corpos coordenadores da educação pré-escolar: o Ministério da Educação e o Ministério
do Emprego e Segurança Social (actual Ministério do Trabalho e da Solidariedade). A
98
partir de então, as creches criadas pelos empregadores foram desaparecendo
gradualmente, mas as instituições não lucrativas de solidariedade social aumentavam de
uma forma estável, apesar de não serem suficientes na satisfação de todas as
necessidades das famílias com crianças pequenas. Nas cidades existiam longas listas de
espera e baixa qualidade nos serviços prestados devido ao afluir de pessoas às
instituições; na maior parte das zonas rurais, creches e ensino pré-escolar eram
praticamente inexistentes; nas grandes cidades, embora com maior qualidade do que nas
outras cidades, em termos dos serviços prestados e das instalações que ofereciam, não
eram suficientes para satisfazer as necessidades das famílias.
37
Nos anos 90 o problema das crianças deixadas sozinhas em casa continuou a ser uma realidade.
Almeida et al (1990), num estudo sobre os maus tratos às crianças, afirmam que a falta de cuidados às
crianças é um dos três principais tipos de maus tratos numa amostra de 755 crianças mal tratadas e o que
é curioso é que este tipo de mau trato é transversal a todas as classes sociais.
99
substancialmente mais altos: 70% na Holanda; 45% no Reino Unido; 41% na Bélgica;
38% na Alemanha; 36% na Suécia e 34% na Dinamarca, entre outros (Eurostat, 2002).
No que diz respeito às políticas públicas relacionadas com esta alteração dos
valores da família e do trabalho feminino deram-se algumas mudanças. Estas
começaram por ter em consideração a vida familiar e a vida profissional, não apenas do
ponto de vista dos problemas tradicionais da protecção da maternidade e da igualdade
de género, mas também do ponto de vista da conciliação entre ambos. Segundo Karin
Wall (2001) isto obrigou à tomada das seguintes medidas: aumento da protecção das
mães que trabalham antes e depois do nascimento da criança; aumento das licenças de
maternidade e de paternidade; e expansão dos serviços de apoio à criança.
Em 1984, a Lei da Protecção da Maternidade e da Paternidade estabeleceu um
novo conjunto de novas licenças para os pais. Dirigia-se aos pais que trabalhavam
(qualquer um deles) e atribuía-lhes trinta dias, por ano, para faltarem ao emprego para
cuidar de uma criança doente até aos 10 anos (ou 15 dias para cuidar de uma criança
acima dos 10 anos, um cônjuge ou um parente em linha ascendente)38. Estabeleceu-se
igualmente que qualquer dos membros do casal com crianças até aos 12 anos tinha
direito a trabalhar em part-time ou num horário flexível e, depois da licença de
maternidade, poderia usufruir de uma licença especial (não paga) para cuidar da criança
(Wall, 2001: 34-35).
Na segunda metade dos anos 90, a legislação aumenta a licença de maternidade
primeiro para 98 dias (Lei nº 17/ 95 de 9 Junho) e depois para 120 dias (Lei nº142/99 de
31 de Agosto)39. Introduziu igualmente 5 dias (a partir de Janeiro de 2000) de licença de
paternidade e permitiu a opção dos pais partilharem os 120 dias de licença ou de os
atribuir ao pai, após as 6 semanas gozadas obrigatoriamente pela mãe. Anteriormente, a
atribuição da licença aos pais apenas acontecia no caso do falecimento da mãe ou por
doença desta. Finalmente, os pais têm a possibilidade de usar duas semanas de licença
38
As excepções eram as mães solteiras, que tivessem o rendimento per capita inferior a 70% do
Ordenado Mínimo Nacional, os funcionários públicos e alguns trabalhadores no sector público e nos
serviços. Esta situação modificou-se em 1995, quando as leis 332/95 e 333/95 de 23 de Dezembro
afirmavam um benefício igual a 65% da média diária do salário para todos os trabalhadores que pediam
licença para cuidar de um filho doente com idade inferior a 6 anos ou, em alternativa, a trabalhar em
regime de part-time por 6 meses. Os avós foram igualmente tidos em consideração pela primeira vez: têm
o direito a 30 dias de licença paga para ajudar a cuidar de um neto recém-nascido no caso da mãe ser
solteira e ter até 16 anos aquando do nascimento da criança, e que viva na mesma casa.
39
Portugal é um dos países da União Europeia que tem a licença de maternidade mais curta (salvo a
Alemanha com 14 semanas, a Bélgica com 15, a Áustria, o Luxemburgo, a Holanda e Espanha com 16
semanas). Os países com licenças de maternidade mais longas são a Suécia com 64 semanas (dois meses
podem ser usados em exclusivo pela mãe e outros dois meses pelo pai); a Finlândia com 44 semanas; a
Dinamarca com 28 semanas e por fim o Reino Unido com 26 semanas (Abril de 2003).
100
parental (depois dos 120 dias) tendo como direito serem parcialmente recompensados
monetariamente pelo referido período de tempo.
Em 1999, com a Lei nº 142/99 de 31 de Agosto, a licença parental não paga foi
alterada para três meses de licença parental para cuidar de criança até aos 6 anos ou, em
alternativa, a trabalho part-time por 6 meses ou a combinação dos dois tipos de licença.
Os avós foram igualmente tidos em consideração na prestação de cuidados à criança,
sendo que têm a possibilidade de usufruir de 30 dias de licença paga. No entanto, esta
licença só é atribuída no caso da criança ser filha de uma família monoparental em que a
mãe tem idade inferior a 16 anos e reside na mesma casa que a avó. A mulher grávida
também é tida em consideração, foi-lhe atribuído o direito de gozo de licença de
maternidade anterior ao parto no caso de haver risco de aborto, pelo período de tempo
necessário para a prevenção do risco fixado por prescrição médica.
Relativamente aos benefícios da Segurança Social, aconteceram duas grandes
mudanças: a primeira está relacionada com os benefícios familiares no seu global, a
segunda está relacionada com a introdução de um rendimento mínimo de sobrevivência
para as famílias mais carenciadas.
No que concerne às estratégias de desenvolvimento da prestação de cuidados à
criança e à educação da criança pequena, o problema tem sido amplamente discutido na
última década. O instrumento de política social no que diz respeito a esta questão,
desenvolvido no final dos anos 90, foi a Lei da Educação Pré-escolar que passou no
Parlamento em Dezembro de 96, que foi seguida, em 1997, da Lei 147/97, de 11 de
Junho, que institui as estratégias para o desenvolvimento da educação pré-escolar40. A
lei resultante é um compromisso entre a visão da necessidade de criação de uma rede
pública do ensino pré-escolar gratuito e a de que a família, o sector privado, a
administração central e as autoridades locais devem estar envolvidas na expansão destes
serviços. Esta lei define a educação pré-escolar dos 3 aos 5 anos como o primeiro
estádio da educação básica e estabelece os princípios de organização e objectivos
principais ao mesmo tempo que indica papéis e obrigações do Estado, da família, das
autoridades locais e das instituições privadas. Ao longo desta terceira fase, as estratégias
40
A lei resultante é um compromisso entre a visão da necessidade de criação de uma rede pública de pré-
escolas gratuita e a de que a famílias, o sector privado, a administração central e as autoridades locais
devem ser envolvidas na expansão destes serviços. Esta lei define ainda o ensino pré-escolar (dos 3 aos 5
anos) como o primeiro estádio da educação escolar básica, estabelece os objectivos principais ao mesmo
tempo que atribui obrigações ao Estado, à família, às autoridades locais e as instituições privadas. A nova
lei também estabelece um horário de funcionamento dizendo que este deve ser adaptado por forma a que
forneça refeições às crianças e para ter em conta não só as actividades educacionais como também as
necessidades das famílias.
101
públicas de desenvolvimento do sector afastaram-se de um modelo baseado no conceito
de “rede pública” financiada e gerida pelo Estado e aproximaram-se de um modelo
pluralista caracterizado pela diferenciação institucional e pela mistura do público e do
privado, levando a que três sectores repartam hoje entre si a gestão e o financiamento
dos equipamentos sócio-educativos: o sector público (equipamentos pertencentes ao
Estado ou às Câmaras); o sector privado não lucrativo subsidiado pelo Estado; e o
sector privado com fins lucrativos (Wall, 2000).
No que diz respeito às provisões financeiras às famílias estas ainda se podem
considerar limitadas, no entanto tem vindo a aumentar: nos anos 90 incluíram medidas
como o já referido Rendimento Mínimo Garantido, actual Rendimento Social de
Inserção; o reforço da protecção social à pessoa desempregada a partir dos 45 anos; o
aumento da Licença de Maternidade para 120 dias; e a introdução do pagamento de
65% do salário aos pais que fiquem em casa para cuidar de um filho doente com idade
inferior a 10 anos. Em 2003 foram introduzidas algumas alterações através do decreto-
lei 176/2003 de 2 de Agosto desse ano. A primeira das mudanças é puramente
simbólica, o “subsídio familiar a crianças e jovens” volta a ser chamado de “Abono de
família para crianças e jovens”. A segunda mudança é mais significativa. Está
relacionada com o titular do subsídio e as condições em que o pode ser. Até ao
estabelecimento deste decreto-lei a titularidade desta provisão às famílias estava ligada
ao emprego e à segurança social, ao passo que agora a titularidade está relacionada com
a residência em Portugal, o que quer dizer que o titular terá de ser cidadão nacional, a
residir em Portugal, ou um residente estrangeiro com visto de residência ou trabalho
(artigo 7º do decreto acima referido). O terceiro aspecto que caracteriza esta nova forma
de atribuição de prestação financeira às famílias é a selectividade. Com o objectivo de
melhorar a redistribuição e chegada a famílias mais vulneráveis em termos económicos
e sociais, a nova lei enfatiza, por um lado, a necessidade de apoiar as famílias
numerosas (famílias com três ou mais crianças), e por outro, criar outros níveis de
atribuição de subsídios às famílias. Deste modo foram introduzidos os seguintes
objectivos: as famílias com um rendimento superior a 5 vezes o salário mínimo não têm
direito a qualquer tipo de apoio financeiro por parte do Estado, o que elimina o
princípio da universalidade do direito social de protecção para todos os beneficiários; os
níveis de atribuição do abono de família para crianças e jovens passam a estar
escalonados de acordo com cinco níveis, em vez de quatro: o primeiro nível (que diz
respeito a famílias que ganham acima de 0,4 do salário mínimo nacional) atribui 120
102
euros para as crianças até aos 12 meses de idade ou menos de 30 euros para crianças
com mais de um ano de idade; no segundo nível de rendimento (entre 0,5 e um salário
mínimo nacional) as famílias recebem 100 euros para crianças com idade inferior a um
ano ou menos de 25 euros por criança com idade superior a um ano; o terceiro nível
(mais de um salário mínimo nacional e até 1,5 vezes do SMN) atribui 80 euros a
crianças até um ano de idade e menos de 23 euros para crianças mais velhas; o quarto
nível (rendimento entre 1,5 vezes o SMN e 2,5 vezes) atribui 50 euros a crianças até um
ano de idade e menos de 20 euros para crianças acima desta idade; e o quinto nível
(mais de 2,5 vezes o SMN até 5 vezes este valor) atribui 30 euros a crianças com idade
até um ano e menos de 10 euros para crianças acima desta idade. Foi igualmente
introduzido um valor extra para as famílias que estivessem enquadradas no 1º nível de
rendimentos com crianças entre os 6 e os 16 anos.
Podemos, em forma de síntese global, afirmar que as políticas públicas em
Portugal evoluíram no sentido da tomada de consciência da importância da conciliação
entre a vida familiar e o trabalho41 e não se restringiram apenas a questões tradicionais
como a protecção da maternidade. A aproximação do nosso país às políticas familiares
faz-se a partir das seguintes grandes preocupações: encetar uma atitude favorável ao
trabalho feminino através da introdução, relativamente cedo, de uma licença de
maternidade mais ou menos generosa; promover medidas políticas que visem uma
melhor conciliação trabalho/família; proteger os direitos das famílias através da
combinação sistema universal/sistema selectivo; e no que diz respeito à prestação de
cuidados às crianças, aumentar a taxa de cobertura de serviços. Estas questões
implicaram a produção de responsabilidades públicas na protecção das mães que
trabalham, antes e depois do nascimento da criança; a construção de um sistema de
licenças para os pais e para as mães; e a expansão dos serviços sociais de apoio às
crianças, tudo isto tendo como objectivo, voltamos a assinalar, a conciliação trabalho/
vida familiar.
41
De facto, introduziu-se na constituição portuguesa uma alínea que faz referência à questão da
conciliação trabalho/ família: Artigo 58º alínea b), revisão de 1997.
103
7.3 Serviços e equipamentos de apoio às famílias
104
não têm fins lucrativos, constituindo as IPSS, cerca de 72% deste universo. O número
total de entidades proprietárias de equipamentos sociais cresceu 20,4% no período de
1998-2002. Esta tendência crescente foi observada tanto relativamente às entidades não
lucrativas (18,9%) - que representam cerca de 80% do total - como também no que
concerne às lucrativas que subiram 26,8% desde 1998.
No que diz respeito à distinção dos equipamentos sociais, à semelhança do que
acontecia com as entidades proprietárias também estas aumentaram (26,5%, de 1998 a
2002). 87,7% dos equipamentos pertencem à rede solidária, o que já acontecia em 98
(Carta Social, 2002). Segundo o mesmo documento, apenas 5,8% detêm menos de 5
equipamentos enquanto que 11,5% possuem mais de 50 equipamentos. A concentração
dos equipamentos sociais tem acompanhado o padrão de distribuição da população (no
território continental), observando-se uma maior densidade nas áreas metropolitanas de
Lisboa e do Porto e em toda a faixa litoral a norte da península de Setúbal, bem como
nos concelhos sede de distrito. Assim, no que se refere ao equipamento instalado por
distrito, Setúbal apresenta a maior percentagem de equipamentos lucrativos em
funcionamento (31,7%) e Lisboa e Leiria (com 24,5% e 23,5%, respectivamente) são
igualmente os distritos que possuem maior percentagem de equipamentos instalados.
A rede solidária tem sido a grande responsável pelo crescimento do número total
de equipamentos. Estes, segundo a Carta Social (2002) têm crescido em média 344
equipamentos por ano sendo que, cada seis novos equipamentos da rede social tem
correspondido à introdução de um equipamento da rede lucrativa.
No que diz respeito às respostas sociais, em 2002, as áreas de intervenção com
maior crescimento foram as de “família e comunidade”, com 40,7% e da “população
idosa” com 34,7%. Cerca de metade da totalidade das respostas sociais (50,3%), elegem
a população idosa como população alvo, o que nos permite afirmar que este tipo de
equipamento está a crescer e que o interesse por toda a problemática associada a estas
situações está a aumentar consideravelmente.
O reforço da Rede Social nos últimos anos traduz-se assim no aumento das
respostas sociais e, ao mesmo tempo, reflecte-se de um modo positivo, na capacidade
instalada e no número de utentes. Comparando com 1998, em 2002 criaram-se mais
30,9% dos lugares e abrangem-se mais 39,7% dos utentes. Em 2002, 69,9% da
população utilizadora de respostas sociais usufrui de acordo de cooperação.
A taxa de utilização dos equipamentos de apoio à família que diz respeito às
crianças e aos jovens, tendo em consideração o período de referência (1998-2002), tem
105
sido sempre superior a 90%, o que conduz a uma ocupação quase completa dos
equipamentos.
Centrando-nos agora nos equipamentos de apoio à criança, o desenvolvimento
no apoio aos cuidados com crianças pequenas caracterizou-se, ao longo dos últimos
quinze anos, por um crescimento lento, mas mais sustentado de equipamentos
colectivos. Os principais avanços realizados nos finais dos anos 90 estão relacionados
com a expansão das pré-escolas para as crianças entre os 3 e os 5 anos: em 1994/95,
55% das crianças, entre os 3 e os 5 anos, estava em instituições de educação pré-escolar,
subindo para 65 % em 1998/99 e para 74,3% em 2000/2001. A taxa de cobertura
segundo a população residente e a população escolar passa de 53,2% em 1994/1995,
para 74,3% em 2000/ 2001. 43
Estes equipamentos para a infância e juventude, segundo a Carta Social (2002),
tendem a instalar-se nas áreas urbanas, em locais próximos da residência ou do local de
trabalho dos pais.
Analisando os dados por resposta social às famílias com crianças e comparando
com 1998, observa-se que o número de Centros de Actividades de Tempos Livres, subiu
28,3%, aumentando também o número de creches (16,1%) e o número de lares de
crianças e jovens (12,1%). As respostas sociais que se dirigem a crianças e jovens em
situação de risco (Centros de Acolhimento Temporário e unidades de Emergência) são
as que registam um aumento percentual mais acentuado. Isto acontece não só porque
são respostas de intervenção recentes, como também se encontram em fase de expansão.
No que concerne aos horários de funcionamento das creches em 2002, observou-
se que a maioria (73,2%) inicia a sua actividade entre as 7.30 e as 8 horas da manhã e
encerra às 18 horas. Somente 19,9% dos estabelecimentos de apoio às crianças
encerram depois das 19 horas, o que se traduz numa maior dificuldade dos pais e
educadores em conciliar trabalho e cuidados às crianças pois a maioria sai deste tipo de
equipamentos antes do horário de trabalho acabar.
A solução “ama” (que diz respeito a crianças entre os 3 meses e os 3 anos) tem
uma distribuição desigual no continente, sendo o seu peso relativo pouco uniforme em
todos os distritos. O distrito de Bragança é o que detém uma maior percentagem de
crianças em amas (desde 1998) com 23,3%, seguido de Santarém (19,5%) e de Setúbal
(18,8%). Por seu turno, Beja e Vila Real nem sequer apresentam a opção “ama” no
43
Fonte: Ministério da Educação - Séries Cronológicas das Estatísticas da Educação.
106
conjunto de soluções de cuidados a crianças neste grupo de idades, o que já acontecia
em 2001.
Considerando agora a população idosa, segundo a Carta Social, todos os
concelhos do Continente, em 2002, estavam abrangidos por respostas deste tipo. A
maior concentração deste tipo de equipamentos encontra-se na zona metropolitana de
Lisboa e Porto e nos concelhos que têm um maior índice de envelhecimento. As
valências respeitantes a esta população tiveram desde 1998 uma taxa de crescimento de
34,7%. Analisando agora a evolução por resposta e tendo em consideração o período de
1998 a 2002, podemos constatar que o serviço de apoio Domiciliário é a valência cujo
crescimento se destaca (48,2%). As respostas “Centro de Dia” e “Lar e Residência para
Idosos” e “Centros de Convívio” também apresentaram uma tendência de crescimento
positiva.
A taxa média de utilização (1998-2002) para o total das respostas (Centro de Dia
e Lar e Residência para Idosos; Centros de Convívio, Serviços de Apoio Domiciliário e
CATEI), situa-se em 89,4%. O serviço de apoio domiciliário é a valência que, segundo
a Carta Social (2002), apresentou em 2002 uma taxa de utilização mais elevada
(97,3%). Esta é igualmente a valência que apresenta o maior crescimento desde 1998.
Os distritos que apresentam uma estrutura demográfica mais envelhecida são os
que têm uma percentagem mais elevada de cobertura das valência que dizem respeito a
esta faixa etária, sendo estes Portalegre, Castelo Branco e Guarda. Os distritos que
apresentam uma estrutura etária mais jovem são Braga (11,8%), Porto (12,3%), Aveiro
(14,3%), Setúbal (14,9%) e Lisboa (16%) que detêm valores inferiores à média
apresentada pelo Continente (16,5%).
De qualquer modo, e apesar do esforço feito desde o 25 de Abril, de forma
particularmente acentuada entre 1995 e 2000, a cobertura das necessidades dos
membros dependentes das famílias é extremamente escassa no nosso país, residindo aí
uma das maiores zonas de debilidade do sistema de segurança social e, também, um dos
campos com maior potencial de modernização e crescimento com impactes múltiplos na
qualidade de vida das pessoas beneficiadas, na conciliação do trabalho com a vida
familiar, na aprendizagem ao longo da vida e no emprego, em particular feminino.
107
8 Padrões de Territorialização
44
Os dados constantes neste quadro não são do Painel Europeu de Agregados Domésticos (PEAD) que
temos vindo a utilizar até aqui por razões de comparabilidade a nível europeu, dado que não permitem
desagregações a nível territorial. Os dados apresentados resultam assim da última aplicação do Inquérito
aos Orçamentos Familiares do INE, em 2000.
45
Esta incidência refere-se apenas ao rendimento monetário. Usamo-la aqui para podermos ficar com
uma noção da diferença entre os valores alcançados através do IOF e os do PEAD. Se considerarmos o
total dos rendimentos, monetários e não monetários, como o IOF permite fazer, a incidência da pobreza
desce para 17,9%.
108
Ao analisar os contornos da pobreza em Portugal devemos ter em atenção o
facto de nem sempre as regiões onde se regista uma maior intensidade do fenómeno
serem aquelas onde se encontra um maior número absoluto de pessoas nesta situação. O
caso das Regiões Autónomas é disso prova evidente. Sendo as mais afectadas pelo risco
de pobreza, o peso dessas regiões no conjunto dos pobres em Portugal não ultrapassa os
4%. Em situação semelhante se encontra o Algarve, Alentejo e Centro, com 25%,
22,5% e 24% de risco de pobreza, todos superiores à média. Nos dois primeiros casos a
contribuição para o número de pobres nacionais é de apenas 4,8% e 8,8%
respectivamente. Já a região Centro abarca um quarto dos pobres em Portugal. Por sua
vez, com o maior número de pobres, 36,4% do total do país, está a região Norte, onde a
taxa de pobreza monetária se encontra próxima da média. Por fim, Lisboa ocupa a
terceira posição relativamente ao número de pobres do total nacional, chegando a mais
de 319 mil pessoas pobres, muito embora a taxa de pobreza se situe nos 12%, inferior à
média nacional.
População Residente 10356117 3687293 2348397 2661850 776585 395218 241763 245011
Nº de pessoas pobres 1988374 755895 563615 319422 174731 98804 82199 83304
Medindo a pobreza tendo por base o total dos rendimentos e não apenas os
rendimentos monetários, mantém-se a estrutura apresentada. O risco de pobreza total
desce 1,3 pontos percentuais, o que mostra o impacto dos rendimentos não monetários
sobretudo nas regiões Centro, Norte e Algarve. O risco de pobreza apenas é agravado,
tendo em conta os rendimentos totais, na região dos Açores.
109
Num estudo recentemente divulgado pelo Instituto de Segurança Social
(“Tipificação das Situações e Exclusão em Portugal Continental”, Área de Investigação
e Conhecimento e da Rede Social, ISS, IP, com colaboração da Geoideia, Janeiro de
2005) são avançadas conclusões preocupantes no que diz respeito a territórios de
exclusão/inclusão social, sendo claramente evidenciada a situação das zonas mais
envelhecidas, deprimidas e subdesenvolvidas e o que estas significam para o nosso país.
É ainda notória a clivagem acentuada entre as regiões consideradas desenvolvidas e
modernas do litoral e aquelas caracterizadas pelo subdesenvolvimento e pela tradição,
não sendo esta uma novidade.
110
concelhos muito envelhecidos, em que a elevada percentagem de pensionistas não é
compensada pela população empregada (sendo o rácio de 1,14). Nesses concelhos
persiste o analfabetismo, com uma taxa de 18,84%, a mais elevada do país. Em Idanha-
a-Nova, distrito de Castelo Branco, cerca de um terço dos habitantes não sabe ler, nem
escrever. O caso de idosos a viver sozinhos é também uma situação difícil nestes
territórios, onde representam 26,24% na Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra.
Agrava-se a situação com um valor médio de IRS “per capita” que não excede os €242
por ano. As regiões do Centro e Alto Alentejo são disto prova evidente. Aqui se
concentram também territórios de forte desqualificação e com um sector económico
adormecido e fracamente desenvolvido. As taxas de desemprego apresentam valores
baixos devido ao equilíbrio entre oferta e procura, conseguido não através do
crescimento, mas do abandono da população jovem no território.
111
28,6% da população residente. Nestes concelhos não são particularmente evidentes
riscos de exclusão efectivos ou potenciais. São concelhos caracterizados por baixos
níveis de abandono escolar, de desemprego e de beneficiários de Rendimento Mínimo
Garantido. Aqui o IRS “per capita” atinge os €394 por ano, um valor médio bastante
razoável, que ocupa o terceiro lugar no “ranking” nacional, apenas ultrapassado pelos
territórios de tipo 3 e de tipo 2.
112
Fonte: Instituto da Segurança Social
113
se evidenciou a partir do 25 de Abril (1974). No pós-25 de Abril assume preponderância
a política adoptada do Crédito à Aquisição de Habitação Própria e Permanente como
linha de política mais duradoura, tendo o estado dispendido, entre 1976 e 1997, cerca de
5.642 milhões de contos através da realização de 1.365.732 contratos de aquisição de
habitação, o que evidencia o impacto da medida, colocando Portugal no topo dos países
europeus com as mais elevadas taxas de proprietários de casa própria. Com o crédito a
ser concedido principalmente a agregados com algum poder monetário em detrimento
dos mais carenciados, a proliferação de bairros de barracas, que se tinham começado a
constituir com a migração para as zonas urbanas ocorrida a partir dos anos 60, foi
instantânea.
114
1993, a população abrangida era de cerca de 39.776 residentes em fracas condições de
habitabilidade, integrando 14.269 agregados familiares.
O PER (em 1993) abarcava 42.034 barracas que correspondiam a 48.558 fogos
contratados. A concentração de barracas teve grande expressão na AML Norte que
detinha 58% do total de barracas abrangidas pelo PER. Na AM Porto estavam
concentradas 32% das barracas e 10% na península de Setúbal. A taxa de concretização
total nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto foi de cerca de 20% (19,74%). Na AMP
a mesma taxa chegou aos 24,73%, mais 1,97% que a registada na AML Sul e 8,31%
que na AML Norte46.
Através do PER o parque habitacional português está a ser melhorado e as
situações de exclusão e pobreza são gradualmente minoradas pela supressão de algumas
necessidades básicas de habitação.
Outros programas exercem uma influência positiva nas condições de
habitabilidade em Portugal, embora com menor impacto e visibilidade. É o caso do
Recria e do Rehabita, destinados à recuperação de imóveis alugados degradados no
centro das cidades, e de vários programas de requalificação de áreas urbanas degradadas
nas periferias e nos centros históricos das grandes cidades, entre os quais ganham relevo
a IC URBAN o o Programa Requalificação Urbana, que permitiram intervenções em
larga escala sobre as referidas áreas degradadas.
Estes programas promoveram o desenvolvimento de infra-estruturas destinadas a
um público-alvo diversificado (crianças, juventude, idosos, grupos sociais
desfavorecidos), a melhoria dos espaços envolventes e ainda o trabalho de
desenvolvimento comunitário, de qualificação das pessoas e de criação de emprego.
46
Devemos ter em consideração o facto de na AMP se localizar o maior número de autarquias com uma taxa de
concretização inferior à média nacional. Por seu lado, na AML Sul e Norte as autarquias com taxa de concretização
inferior à média nacional correspondem a metade do total de acordos existentes, apesar de esta área metropolitana ter
uma taxa global inferior à média nacional.
115
contexto urbanístico e pela falta de equipamentos e infra-estruturas básicas, ao mesmo
tempo que, não oferecendo aos moradores motivos de identificação positiva com o
espaço e a comunidade, pelo contrário fornecem condições de vida urbana degradada.
Emergem assim, a par dos bairros de barracas que ainda persistem, como territórios
segregação e estigmatizados, quantas vezes funcionando essa segregação – bem como o
quadro de dureza de vida que se vive no seu interior – como ambiente para a ancoragem
de grupos marginalizados e marginais que reforçam as más condições de vida interna e
afectam de forma mais ou menos grave o ambiente urbano circundante.
47
As referências bibliográficas que aqui citamos de Maria do Rosário Giraldes e também de Carlos
Gouveia Pinto são retiradas de artigos dos próprios presentes num dos escassos estudos que associam a
desigualdade social e a saúde em Portugal, coordenado por João A. Pereira, Maria do Rosário Giraldes e
António de Correia de Campos, com o título de: Desigualdade e Saúde em Portugal. Esta compilação de
textos acaba, contudo, por se centrar fundamentalmente na equidade das políticas de saúde em Portugal,
explorando perifericamente as desigualdades pela perspectiva das categorias carenciadas.
116
desigualdades sociais e susceptibilidade à doença, defende que os objectivos de
melhoria dos níveis de saúde devem também contemplar a necessidade de intervenção
em áreas exteriores ao sector saúde em sentido estrito.
No que diz respeito à construção de indicadores de análise da relação entre
inclusão e saúde, vale a pena referenciar o diagnóstico que Carlos Gouveia Pinto
desenvolve acerca da despesa pública em cuidados de saúde. Nesse trabalho, o autor
identifica as diversas formas como os diferentes grupos sociais utilizam os rendimentos
recebidos por parte dos utentes em cuidados de saúde, com o objectivo de avaliar o
impacto redistributivo da provisão pública do Sistema de Saúde. Nos pontos
conclusivos, e considerando a contenção no co-financiamento dos custos dos
medicamentos sobre os gastos privados do GSE5, afirma que esta medida teve “efeitos
gravosos sobre estes gastos, implicando, muito provavelmente, uma restrição acentuada
do consumo e, consequentemente, um menor bem-estar dos indivíduos mais
carenciados” (Pinto, 1991: 164). Esta análise constitui, assim, um indicador da relação
entre a pobreza e a susceptibilidade à doença, apontando que os indivíduos mais
carenciados, que tendem a ser envolvidos em contextos de pobreza e exclusão social,
são menos capazes de exercerem o seu direito social central de saúde. Encontramos
assim algumas pontes potenciais de colaboração avaliativa e interventiva nos cuidados
de saúde, área fundamental para a concretização de um modelo social de bem-estar ao
nível europeu.
117
11 Categorias Vulneráveis à Pobreza e à Exclusão Social
118
potencialidades. Olhando agora para alguns destes casos específicos, o que as pode
excluir, no caso dos imigrantes, são factores como o preconceito e a discriminação, por
um lado, e a ausência ou necessidade de oportunidades de formação e de reorganização
da sua vida pessoal e familiar na sociedade portuguesa, por outro lado; no caso das
pessoas com deficiência ou doenças crónicas, os factores de exclusão estão relacionados
com o preconceito acerca das suas capacidades e da natureza do próprio handicap que
as afecta, as debilidades da oferta de formação específica adaptada ao seu tipo de
deficiência ou doença, e com obstáculos e barreiras existentes nas instituições, serviços
e equipamentos.
Numa segunda situação encontram-se as categorias de pessoas com problemas
de participação e inserção social decorrentes de baixos níveis de escolaridade e de
qualificação profissional. A relativa “desqualificação” que as atinge define o principal
obstáculo que encontram, já que têm, como no caso anterior, desvantagens inscritas nas
capacidades funcionais. Esta situação é enfrentada pelos adultos responsáveis por
famílias monoparentais que não possuem recursos de formação, de rendimentos, de
apoio social que lhes permitam o acesso a oportunidades no mercado de trabalho em
condições de qualidade mínima, os trabalhadores com baixas qualificações ou
qualificações obsoletas e os desempregados de longa duração. O problema central
destas categorias reside nas suas próprias competências. Sucessivas experiências
negativas quer de exclusão, quer de inserção de muito má qualidade no mercado de
trabalho, acabam igualmente por gerar atitudes de “desencorajamento” na procura de
novas oportunidades de formação.
O terceiro grupo diz respeito às pessoas e famílias em situação de pobreza
persistente nos “círculos de pobreza instalada”. A expressão foi utilizada pela primeira
vez para designar as “situações de pobreza duradoura, localizadas territorialmente e que
tendem a reproduzir-se geracionalmente” (Capucha e tal, 1998: 47). A noção chama
principalmente a atenção para o efeito de contextos territoriais particularmente
degradados, onde residem diferentes categoriais vulneráveis num quadro de recursos
comunitários, de redes relacionais, de estruturas de dominação na ocupação do espaço
que tende a produzir “amarras”, sob a forma de acomodação, adaptação e retenção
opressiva, que prendem as pessoas à pobreza.
O quarto conjunto inclui os grupos que se caracterizam pela prevalência de
modos de vida inadaptados às normas correntemente partilhadas pela sociedade. Neste
conjunto de categorias sociais “marginalizadas” incluem-se os sem abrigo, os
119
toxicodependentes e ex-toxicodependentes, os reclusos e ex-reclusos e também uma
parte de menores em situação de risco (meninos de rua e membros de bandos juvenis).
Assim, e fazendo uma apresentação mais aprofundada das situações que
incluem cada um destes grupos, passamos a enunciar alguns dados caracterizadores
destas realidades.
No que diz respeito ao caso específico das pessoas com deficiência, estas são
particularmente vulneráveis à pobreza dado que acumulam as limitações funcionais
(físicas, sensoriais ou mentais), com representações sociais negativas relativas às
consequências dessas limitações, e ainda com as barreiras à participação tendo em conta
a lógica de funcionamento das instituições e das estruturas sociais.
Segundo o último Recenseamento Geral da População, o número de pessoas
com alguma incapacidade ou deficiência era de 634.408 (52,63% dos quais eram do
sexo masculino), ou seja, 6,12% da população residente. Os valores são mais baixos nos
grupos etários mais jovens. Poder-se-á constatar este facto olhando para os valores
apresentados pelos Censos 2001. No grupo etário dos 0 aos 15 anos existem 38.877
indivíduos com deficiência, seja ela qual for; no grupo etário dos 16 aos 24 o número
aumenta para 47.886; dos 25 aos 54 era de 228.687; no dos 55 aos 64 era de 106.211 e
nas idades superiores a 65 anos o valor era de 212.747. Isto verifica-se não só porque
parte das incapacidades e deficiências são adquiridas ao longo da vida, como também
porque os progressos ao nível da detecção e intervenção precoce tendem a fazer
diminuir os nascimentos de crianças com deficiências congénitas.
Num inquérito realizado em 2003 pelo Centro de Investigação e Estudos em
Sociologia (CIES), o Inquérito Nacional aos Utentes do Sistema de Reabilitação sócio-
profissional, no que diz respeito aos níveis de escolaridade atingidos segundo os graus
de incapacidade atribuídos mostra que são os indivíduos com graus de incapacidade
mais elevados que têm maiores níveis de escolaridade. A escolaridade média é superior
entre os inquiridos com deficiências motoras, visuais e auditivas. Em relação à
distribuição geográfica dos indivíduos que compunham a amostra deste inquérito os
120
autores constataram que há uma maior concentração populacional na região litoral norte
e centro, quer se considere esta a região de naturalidade, quer residencial.
Tendo em consideração este cenário é de extrema importância actuar no sentido
de permitir às pessoas com deficiência ter uma vida autónoma e participativa. Uma
actuação precoce no campo da saúde e da família; na formação profissional e na criação
de estruturas nas empresas ou instituições que permitam oferecer postos de trabalho
adaptados às necessidades desta população, para aqueles que não podem estar presentes
neste tipo de organizações, a criação de estruturas específicas para exercerem a sua
actividade profissional; a criação de acessibilidades nos transportes; a adaptação das
habitações; e as ajudas técnicas especializadas permitiriam superar o facto de esta
população ser mais vulnerável à exclusão social.
11.1.2 Imigrantes
Tal como o que foi afirmado para o grupo das pessoas com deficiência, o facto
de se ser imigrante não é em si mesmo um indicador de exclusão social. Diversas
circunstâncias fazem desta categoria um grupo particularmente vulnerável. Destacam-se
as baixas qualificações, ou, quando as pessoas que pertencem a esta categoria possuem
qualificações mais elevadas não podem fazer uso destas no mercado de emprego. Como
é frequente a imigração ocorrer no quadro de processos controlados por redes
clandestinas que encaminham os trabalhadores imigrados para sectores informais e
desprotegidos da economia, à falta de qualidade geral do trabalho associa-se uma
dificuldade maior de acesso a serviços e direitos diversos, para além de inibições
culturais e dos processos de segregação de que são frequentemente vítimas48.
Tendo em conta as estatísticas oficiais podemos observar a rapidez do
crescimento do fenómeno. No ano de 1980 os estrangeiros com residência legal em
Portugal eram 50.750 (cerca de 0,5% da população residente), em 1995, os valores
sobem para 168.316, e apenas quatro anos depois, em 1999, existiam 190.896
estrangeiros com residência legalizada no nosso país. Este último valor sobe e, em 31 de
Dezembro de 2001, os imigrantes em Portugal são 223.602. Estes números, no entanto,
48
Para uma análise profunda desta questão ver Fernando Luís Machado (2002). Em particular, para a
análise das questões relacionadas com “etnização” e “raicização” ver António Teixeira Fernandes (1995).
121
representam apenas uma parte do total. Relativamente à população imigrante
clandestina não se pode senão estimar a sua importância.
No que diz respeito à origem dos estrangeiros residentes a sua proveniência
geográfica é na sua maioria dos PALOP (45,22%), depois encontravam-se os brasileiros
com 10,5%, e os que provêm de outros países da Europa que não da UE, 2,4%. Este
valor disparou nos anos mais recentes, embora ainda não tenhamos registo dos valores
respeitantes aos imigrantes da ex União Soviética e do leste europeu.
No que diz respeito ao caso específico da população imigrante africana, este
grupo concentra-se nas profissões menos qualificadas (construção civil, serviços de
limpeza, pessoais e domésticos) sendo que se pode identificar um traço forte da
precariedade de emprego que se traduz no valor percentual dos trabalhadores sem
contrato (36%), ou com contrato a prazo (36%), tendo experimentado 22% dos
inquiridos situações de desemprego uma vez nos últimos 5 anos e 34% 2 ou mais vezes
(Capucha, 2004:210). Segundo um estudo levado a cabo por uma equipa do CIES, do
DINÂMIA e do Instituto de Sociologia do Porto (Almeida et. Al, 2001) as condições de
vida e de trabalho dos imigrantes são pautadas por condições de flagrante dureza: 36%
trabalham mais de 46 horas semanais, 22% durante 41 a 45 horas semanais, 34% não
desconta para nenhum sistema de protecção social e 32% já tiveram acidentes de
trabalho. Ainda relativamente ao mesmo estudo podemos afirmar, agora no que diz
respeito às condições de habitabilidade, que estas famílias não usufruem de um cenário
habitacional favorável. É de 66% o peso das pessoas que vivem em barracas/casas
abarracadas e 16% o das pessoas que residem em casas pré-fabricadas em bairros que se
situam nas zonas limítrofes da cidade de Lisboa (Alfornelos, Venda Nova). Nestes
bairros existem situações de grande precariedade e insuficiência de infra-estruturas
básicas, como o fornecimento de água ou a existência de instalações sanitárias
individuais no interior das habitações. Os problemas estruturais nas habitações, como
sejam a humidade/infiltrações, fissuras nas paredes, a sobrelotação e a ilegalidade têm
um peso bastante importante no panorama habitacional destes bairros.
122
11.2 Grupos “desqualificados”
123
esporádica, irregular e muitas vezes informal. As situações de exclusão profissional
tendem, de facto, a verificar-se principalmente junto dos trabalhadores que nunca
tiveram uma relação formal com o trabalho organizado, isto é, ou nunca trabalharam ou,
pelo menos, nunca possuíram um emprego, às vezes ao longo de gerações, ou
conheceram-no em contextos distantes, como se verifica no caso do passado camponês
de uma parte dos imigrantes.
Deste modo, num mercado de emprego relativamente dinâmico e inclusivo,
tendem a permanecer no desemprego por longos períodos de tempo as pessoas cuja
empregabilidade se apresenta mais débil. Desde 1995 que o valor dos DLD se mantém
perto dos 50% do total dos desempregados, atingindo 112.300 pessoas no segundo
trimestre de 2001, correspondendo a 47,3%. Este peso aparentemente alto deve ser
confrontado com o declínio evidenciado pelos valores absolutos. Efectivamente, desde
1995 até ao 2º trimestre de 2001, houve uma queda de 69.300 desempregados de longa
duração. Depois de 2001 o desemprego “disparou” razão pela qual o peso do DLD
decresceu para 35,5% segundo trimestre de 2003, segundo o Plano Nacional de
Emprego/2003.
Tomando em consideração o tempo de procura de emprego entre o grupo dos
desempregados de longa duração, segundo o INE no Inquérito ao Emprego, e
relativamente ao 3 º trimestre de 2001, poder-se-á verificar que 46,9% do total se
encontrava nessa situação entre 13 e 24 meses e 53% há 25 e mais meses. Em termos da
distribuição destas pessoas pelos grupos etários observa-se que os mais jovens são os
que estão menos representados. Esta tendência altera-se se analisarmos esta situação
tendo em consideração o género, o número de desempregados de muito longa duração
vai decrescendo entre os homens à medida que avançamos nos grupos etários,
verificando-se o oposto para as mulheres.
Como foi acima referido quanto mais se prolonga a situação de desemprego,
mais difícil se torna o regresso ao mercado de trabalho. Também aqui são patentes os
efeitos positivos de uma melhoria da situação do mercado de emprego. O desemprego
desencorajado tem vindo também a decrescer desde 1999 porque as medidas de
actuação no sentido da activação para a empregabilidade tendem a anular o efeito de
desgaste das capacidades resultantes da exclusão prolongada do mercado de trabalho.
No entanto, pesar do nosso país apresentar um pequeno número relativo de
desempregados de longa duração face a outros países europeus, este tende a afectar, de
um modo particularmente resistente, uma população específica. Regressar ao trabalho
124
está relacionado com factores como as qualificações e os recursos para a
empregabilidade que estes indivíduos têm para adaptarem as suas competências às
ofertas de trabalho.
125
dos mais idosos este peso é o reflexo de desqualificação ao nível da estrutura de
emprego, no grupo mais jovem este deve-se a entradas precoces na vida activa.
Num estudo realizado em Portugal em 1996, observou-se a extensão de uma
outra questão que diz respeito aos indivíduos que apesar de terem obtido conhecimentos
a nível da educação formal não possuem um determinado nível de competências: o
analfabetismo funcional. No âmbito do referido estudo observou-se que 10,3% das
pessoas inquiridas não revelavam competência para “…resolver quaisquer tarefas de
mobilização de competências de leitura, escrita e cálculo” e cerca de 47,3% apenas
possuíam “capacidade para identificar e transcrever literalmente palavras num texto
ou realizar um cálculo aritmético elementar a partir da indicação dos valores e da
operação”.
Tendo em consideração as novas necessidades de adaptabilidade dos
trabalhadores à mudança, esta categoria retrata um dos principais desafios ao
desenvolvimento do nosso país. Se, por um lado, esta questão está relacionada com as
qualificações, por outro lado, depende da concretização de um quadro jurídico e
institucional que legisle a prática da aprendizagem ao longo da vida. Trata-se
igualmente, de se proceder à inovação do tecido empresarial de modo a que as
qualificações obtidas sejam absorvidas de um modo efectivo pelo mercado, podendo,
deste modo melhorar a produtividade e assegurar a sustentabilidade das empresas e a
qualidade do emprego. Ao mesmo tempo seria importante procede-se à abertura do
mercado de emprego sistemas de formação às categorias mais expostas à exclusão.
11.2.3 Idosos
126
de 16,4% em 2001. Este grupo etário é esmagadoramente constituído por mulheres
idosas sós. Estas representam, segundo Guerreiro (2003), 39,5% do total das pessoas
sós e 26,5% do total das mulheres destas idades. Desagregado este grupo em idosos dos
65 aos 74 anos e em muito idosos, com 75 anos ou mais, podemos observar que o
segundo grupo reúne um maior número de pessoas, consequência da actual longevidade
que a população portuguesa apresenta. De facto, segundo Capucha (2004) as pessoas
com 75 ou mais anos passaram de 3,9% do total da população nos Censos de 81 para
5,4% dez anos depois e continuou aumentando para 6,8% nos últimos Censos. As
pessoas com mais de 80 anos não ultrapassavam a proporção de 1,21% da população
total em 1960 e são já 3,4% em 2001.
O número de pensionistas beneficiários da pensão social, apesar de estar a
diminuir, era ainda em 2002, segundo o Instituto de Informática e Estatística da
Solidariedade, de 80.126. A pensão que recebiam era, na altura, de 138.27 euros por
mês subindo para 151.84 euros em 2004, o que perfaz um rendimento total de 1.797,51
por ano para estas pessoas.
Em situação de pobreza relativa, calculada a partir de 60% da mediana da
distribuição do rendimento equivalente segundo o Inquérito aos Orçamentos Familiares
de 2000 encontrar-se-ão cerca de 48,6% dos agregados constituídos por um adulto
isolado com idade igual ou superior a 65 anos e 35,8% dos agregados compostos por
dois adultos em que pelo menos um tem a mesma idade.
Estes dados apontam para a necessidade de prestar uma redobrada atenção ao
comportamento dos indicadores de isolamento dos idosos, a categoria mais vulnerável à
pobreza em Portugal. O peso das pessoas isoladas entre a população com mais de 65
anos era de 18,2% em 1991 e subiu para 19,7% em 2001, enquanto que para as pessoas
com mais de 75 anos esse peso era 23,2% em 1991 e subiu para 25,7% em 2001. No
caso do escalão etário dos 65 aos 74 anos o valor sobe para 15,4% (7,9% de homens e
21,5% de mulheres), e acima dos 75 anos atinge o valor de 23,9% (16,9% e 30,3% para
cada um dos sexos). Segundo Guerreiro (2003) o isolamento das pessoas idosas, e
principalmente das muito idosas, decorre principalmente do culminar de um trajecto
familiar e conjugal, em que numa fase mais avançada da idade a morte atinge um dos
cônjuges. De qualquer modo, após a morte do cônjuge, cada vez mais são os idosos que
permanecem sós nos seus lares, o que segundo a autora, é sintoma de que estes, tal
como os seus familiares, perspectivam a sua privacidade de um modo mais
127
individualizado e autónomo, sem recurso à integração do idoso nos agregados
domésticos dos filhos adultos ou de outros parentes.
Em síntese, o prolongamento da esperança média de vida das pessoas colide
com o facto de não se assegurarem as condições para uma vida de qualidade das pessoas
idosas com mais necessidades e que, por isso, são mais vulneráveis à pobreza.
128
diferença é bastante grande sendo que na altura uma família monoparental em cada oito
tinha um nível de educação acima do ensino básico; em 2001, uma em cada três famílias
tem um nível de educação acima do ensino básico e uma em dez possui uma
licenciatura ou mais. Ao centrar a análise na relação entre o nível de instrução e o sexo,
observa-se que em 2001, ao contrário do que se passava em 1991, são as mulheres
sozinhas que têm qualificações académicas mais elevadas do que os homens.
Um tópico bastante importante é a participação das famílias monoparentais no
mercado de trabalho. Olhando para os valores apresentados por Wall e Lobo (1999),
poder-se-á observar que as mães divorciadas tinham uma forte inserção no mercado de
trabalho (81,3% das mães sós divorciadas participavam no mercado de trabalho). Esta
percentagem, segundo as autoras, também é bastante elevada nas mães solteiras (66%) e
nas mães sós separadas (65,1%), sendo, em contrapartida, muito baixa para as mães sós
viúvas (30,3%). No que toca à participação no mercado de trabalho das mães e dos pais
sozinhos por grupos de idades, em 1991, a grande maioria das mães e dos pais sozinhos
entre os 16 e os 44 anos estão inseridos no mercado de trabalho. No entanto, é entre os
25 e os 44 anos de idade que essa participação se revela mais acentuada. Wall (2003)
afirma que, em 2001, as mães sozinhas participavam mais no mercado de trabalho que
as mães a viver em casal. Relativamente aos homens acontece o inverso. A autora
afirma que os pais sozinhos participam muito menos no mercado de trabalho do que os
homens a viver em casal, o que poderá indiciar, em algumas famílias de homens sós
com filhos, a existência de situações de vulnerabilidade económica e habitacional.
129
Apesar de a maioria dos sem abrigo (54%) ter apoio de centros de acolhimento
em períodos mais difíceis, uma parte importante está sujeita a condições de grande
precariedade. Deste modo, 53,9% ficam em paragens de autocarro, 13,5% em entradas e
imediações de edifícios residenciais e não residenciais, 8,7% em veículos abandonados,
6,6% em espaços residenciais abandonados, 3,9% em passeios e ruas e 9,4% noutros
locais como espaços não residenciais abandonados, jardins, campos de jogos e outros
espaços públicos de lazer, baldios ou canaviais, viadutos e pontes.
Outros dados obtidos junto de registos feitos por entidades que trabalham no
apoio a esta população mostram que o número de mulheres sem abrigo está a aumentar.
Quanto à idade desta população, segundo o LNEC existe uma proporção da população
com mais de 40 anos de apenas 30,4%, enquanto a população entre os 20 e 40 anos
representa 64,5%. Esta observação afasta-nos da concepção do sem abrigo como
pedinte idoso.
A situação de sem abrigo traduz-se num conjunto de traços característicos: 14%
destes encontram-se em situação de total ruptura familiar, isto quando 62% são solteiros
ou divorciados, 77% estão desempregados e 21,4%, pelo menos, estão na dependência
do álcool ou de drogas ilegais e 5,3% e 4,2%, respectivamente em Lisboa e no Porto,
são ex-reclusos.
As razões pelas quais estas pessoas se encontram nesta situação são, segundo
dados actuais da AMI, os problemas financeiros (66%), situações de desalojamento
(33%) e rupturas com a família (27%), existem outros factores tais como a
toxicodependência (17%), problemas relacionais (9%), comportamentais (6%), de
alcoolismo (4%), para além de circunstâncias como a saída da prisão (4%), e do hospital
(3%).
130
43.966 indivíduos. Trata-se de consumidores na maioria do sexo masculino, solteiros,
com uma média de idades situada entre os 26 e os 35 anos e com níveis de escolaridade
baixos.
Em 2001 foram divulgados os resultados de um estudo realizado em Portugal de
natureza extensiva e genérica com base num inquérito sobre a prevalência da droga
junto de uma amostra de 15.000 indivíduos entre os 15 e os 64 anos (Balsa e tal, s.d).
Segundo este estudo, o valor da prevalência50 pode atingir 7,8% das pessoas naquele
intervalo etário. A substância mais apontada como a utilizada foi a cannabis (7,6%)
seguida, a larga distância, pela cocaína (0,9%), pela heroína (0,7%), pelo ecstasy
(0,7%), pelas anfetaminas (0,5%) e pelo LSD (0,4%). Os homens apresentam um valor
de prevalência três vezes maior que as mulheres. Enquanto que o valor apresentado
pelos homens é de 11,7%, as mulheres é de 4,0%. No que diz respeito às idades a
prevalência é maior nos segmentos mais jovens, atingindo valores de 12,4% entre os 15
e os 24 anos, 12,9% entre os 25 e os 34 anos e descendo depois para os 7,7% entre os 35
e os 44 anos, 2,2% entre os 45 e os 54 e apenas 0,4% entre os 55 e os 64 anos. A
diferença entre homens e mulheres mantém-se estável em todas as idades.
Segundo o Instituto de Planeamento e Combate à Droga (2000) o número de
presumíveis infractores face à droga tem vindo a crescer desde 1995, atingindo em 2000
um valor 181,1% superior ao primeiro ano. Os homens são 91,1% dos presumíveis
infractores, valor que sobe ligeiramente para 91,8% no caso dos consumidores e para
91,9% no caso dos traficantes-consumidores. A variação das mulheres é, porém, mais
problemática, na medida em que entre 1991 e 2000 elas cresceram 239,9% contra
212,4% dos homens.
O fenómeno existe em todo o país. Com crescimento em todas as regiões, apesar
da flutuação no Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo concentra perto de metade (47,7%) de
todos os novos atendimentos no país (Serviço de Prevenção e Tratamento da
Toxicodependência, 2000).
Apesar de se tratar de uma população jovem, os níveis de escolaridade são muito
baixos. Segundo o Relatório Anual 2003: A Evolução do Fenómeno da Droga na União
Europeia e na Noruega, 47% de todos os clientes em tratamento em 2001 nunca
frequentaram a escola, apenas concluíram o ensino primário ou abandonaram
precocemente a escola. Inclusivamente, poder-se-ão encontrar diferenças de acordo com
50
Proporção dos que já consumiram algum tipo de substância psico-activa proibida pelo menos uma vez
na vida.
131
a principal droga consumida. Segundo o mesmo relatório os consumidores de opiáceos
(especialmente heroína) são os que apresentam os níveis de escolaridade mais baixos.
132
tipo de família, observa-se um elevado número de famílias monoparentais (21,6%)
sendo que 18,2% são famílias monoparentais femininas. Este facto não quer dizer
necessariamente que as famílias monoparentais femininas são mais vulneráveis
económica e socialmente que as famílias monoparentais masculinas, esta maior
representatividade das mães sós está associada ao facto de após o rompimento de uma
relação (conjugal, ou não) a guarda da criança ser atribuída, na maior parte dos casos, à
mulher.
Quanto à escolaridade dos pais registava-se, segundo o mesmo relatório, um
maior peso percentual na categoria do primeiro ciclo com 52,9%, devendo ainda ser
salientado o facto de 12,1% não terem qualquer escolaridade e 18,7% apenas saber ler e
escrever. Ou seja, 81,7% dos pais possuem seis ou menos anos de escolaridade, e 94,2%
menos de 9 anos, a actual escolaridade mínima obrigatória.
Associados aos baixos níveis de escolaridade estão situações de instabilidade
profissional. 25% dos responsáveis pelo agregado familiar com quem vivem as crianças
e jovens acompanhados por CPM são trabalhadores com situações profissionais
precárias e 10,6% são beneficiários do Rendimento Social de Inserção.
Um caso específico de jovens em risco diz respeito aos que se referem como
vítimas do trabalho infantil. Segundo Capucha (2004) o número de casos detectados
passou de 1.434 em 1995 para 1.722 em 1997. No entanto, os casos contabilizados não
dizem respeito ao total de crianças nesta situação, uma vez que a detecção destes casos
através das famílias não é fácil, pois o entendimento desta situação depende da
definição de trabalho infantil das crianças e dos pais.
Segundo um estudo realizado em parceria entre o Departamento de Estatísticas
sobre o Trabalho, o Emprego e a Formação Profissional do Ministério do Trabalho e da
Solidariedade (DETEFP) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) (Fialho, in
Capucha, 2004), com base num inquérito representativo da população portuguesa,
observaram-se duas realidades respeitantes à mesma questão: quando se inquirem as
crianças, a prevalência do trabalho infantil é de 3,2% na situação de trabalhadores
familiares não remunerados e de 0,8% na de trabalhadores por conta de outrem. Quando
são inquiridos os pais, o primeiro valor desce para 0,8% e o segundo sobe para 0,9%.
Observando estas situações tendo em consideração o género, os rapazes (66%) são mais
penalizados que as raparigas.
Segundo os autores do estudo 79,1% dos casos estão na condição de
trabalhadores familiares não remunerados. Os sectores onde se desenvolvem estas
133
actividades são o da agricultura, do comércio e dos restaurantes. No que diz respeito aos
trabalhadores por conta de outrem, estes encontram-se mais frequentemente na indústria
transformadora e na construção civil. Quando olhamos para o número de dias de
trabalho por semana (61,3% entre 5 e 7 dias) podemos constatar que não se trata de
situações esporádicas.
134
grupo dos 40 aos 59 anos (22,3% do total em 2000) cresceu 33,8% e os mais idosos (60
e mais anos) têm um peso reduzido (2,7%).
A avaliar pelas dificuldades que os ex-reclusos revelam para aceder e manter um
emprego ou para estabilizar a sua vida, as actuais medidas adoptadas não parecem estar
desenhadas para constituir uma efectiva melhoria das condições de inserção. Talvez a
solução para estes casos seja, numa fase inicial, o acompanhamento quer após a
formação na prisão, quer durante a fase de inserção, após a sua saída.
135
12 Breve conclusão
136
13 Objectivos Estratégicos para a Inclusão no Horizonte
2013
51
Assume-se que os níveis de coesão social e de acesso aos direitos são indicadores precisos de
caracterização social e que a qualidade desta se pode aferir pelo comportamento daqueles.
137
desenvolvidas, colocamos as balizas deste trabalho não num patamar de referência
absoluta, mas antes numa perspectiva relativa à situação de Portugal no contexto da
União Europeia. Assim a finalidade para onde se orienta a proposta aqui apresentada, é
a de colocar Portugal entre os dez melhores estados-membros da União Europeia em
matéria de indicadores de coesão social.
138
Os objectivos específicos que melhor sintetizam, no conjunto, a orientação geral
proposta são os seguintes:52
Quadro 19: Metas específicas estratégicas para a inclusão social em 2013 (3)
Este conjunto de metas permite uma aproximação aos níveis de integração social
em quatro domínios fundamentais, a começar pelas condições materiais de vida da
população no seu conjunto, aferido pelo indicador de pobreza. A meta proposta neste
52
Tanto quanto possível procurou-se fixar metas que, por um lado, possam ser monitorizadas através dos
indicadores estratégicos utilizados no âmbito da Estratégia de Lisboa até ao último Conselho da
Primavera e, por outro lado, possam focalizar o núcleo central das questões da coesão social.
139
caso é a da redução para metade do último valor conhecido (20% dos portugueses
viviam em 2001 abaixo de um limiar de rendimento igual a 60% da mediana do
rendimento por adulto equivalente). Um cenário de “evolução neutra” (isto é, a taxa
resultante de projecções das dinâmicas correntes) daria um valor de 14%. Mas é preciso
notar que a base dos cálculos foi o período de 1995-2001, quando, numa conjuntura
favorável, a pobreza desceu de 23 para 20%, situando-se 5 pontos percentuais acima da
média europeia. A conjuntura alterou-se e para que o valor de 10% seja alcançado,
não basta retomar o ciclo de crescimento simultâneo da economia, da equidade na
distribuição dos rendimentos do trabalho (a proporção dos trabalhadores de baixos
salários, como vimos, também diminuiu no período), do emprego, das qualificações,
dos níveis das prestações mais baixas da segurança social e de políticas específicas
contra a pobreza. É necessário, além disso, um esforço suplementar em vários dos
domínios referidos.
140
considerada), em 2001 eram cerca de 9% os agregados a viver nessas situações-limite.
Em 2013 tais situações deverão ter desaparecido, o que exige um considerável
esforço político – na provisão e na promoção do acesso ao rendimento ou pelo menos
aos serviços básicos – dado que a evolução neutra dos factores não levaria o indicador a
descer mais do que 1 ponto percentual.
O principal sentido político de intervenção para atingir este objectivo passa pela
montagem de um dispositivo que permita a combinação de um reforço do subsídio
familiar para as famílias com crianças pobres, com a expansão da oferta de educação
pré-escolar e com a promoção do acesso ao emprego por parte dos membros não activos
destas famílias, nomeadamente mulheres mães de famílias mono-parentais ou de
famílias alargadas, através da expansão da oferta de serviços e equipamentos de apoio à
família – o pré-escolar e outros em que as carências são notórias, como é o caso dos
equipamentos para idosos ou pessoas com deficiência – e da oferta de programas de
formação especial e apoio à integração no mercado de trabalho, quer social quer aberto.
141
O segundo domínio dos objectivos estratégicos remete para aquele que pode ser
o mais importante dos factores de modernização do país, o “capital humano” ou, por
outras palavras, as qualificações das pessoas. Propõem-se a esse propósito metas
ambiciosas na redução do abandono precoce da escola (saídas sem o 12º ano de
escolaridade ou qualificação equivalente), o que implica o sucesso da reforma da
educação/formação, sem o que se atingirão em 2013 níveis da ordem dos 31,5% (pouco
mais baixos do que os actuais 39,4% e muito superiores ao que são já hoje os valores
médios europeus). A meta proposta é baixar o abandono para 20%, provocando uma
descida acentuada de 11 pontos percentuais em relação à evolução sem actuação política
relevante e diminuindo a desigualdade de género.
Note-se que a meta de referência fixada para o conjunto da União Europeia (cf.
Dossier Interinstitucional 2005/0057 (CNS) no quadro da revisão da Estratégia de
Lisboa com a qual o governo se comprometeu, corresponde a uma taxa média de
abandono escolar não superior a 10% em toda a União. Dado o atraso português e a
conexão entre o abandono escolar e o “background” familiar, julga-se prudente
estabelecer uma meta de 20% que, sendo dupla daquele objectivo, representa porém um
esforço de convergência assinalável.
Um apelo ainda mais forte à acção política do lado da oferta, mas também à
responsabilização dos agentes no mercado do lado da procura, está implícito na meta
relativa à aquisição de qualificações no mínimo equivalentes ao ensino secundário e
ISCED 3, com vista a atingir um valor máximo de 27% de pessoas com baixas
qualificações entre a população activa, o que representa menos quase 40 pontos
percentuais em relação ao cenário de evolução “neutro”, isto é, mantendo-se o contexto
e as políticas que levaram aos actuais valores de 74,4%, mais do que duplos da UE25.
142
Embora se saiba que a qualificação e a educação não são factores suficientes
para a modernização – é igualmente importante contar com a utilização dada a essas
qualificações, o que implica a mudança da cultura organizacional no mundo do trabalho
e da administração, no sentido de promover e dar a melhor utilização à qualificação dos
activos – estas variáveis podem ser decisivas. São, no fundamental, dependentes da
acção política, embora, como foi dito, o mercado tenha também responsabilidades na
estimulação da procura.
143
Tendo Portugal conhecido progressos relevantes neste indicador nas últimas
décadas, as progressões serão limitadas. Em 2003 a esperança de vida das mulheres era
de 81,1 anos e a dos homens de 74,8 anos na UE25. No nosso país os valores eram um
pouco mais baixos, respectivamente 80,5 e 73,8. Se as condições de vida continuarem a
melhorar, a expectativa é que os valores se elevem para 82,7 anos para as mulheres e
75,9 para os homens. Neste caso, a garantia de que esta evolução “neutra” seja tomada
como meta a atingir em 2013, parece-nos ajustado.
144
Quadro 20: Indicadores de Distribuição dos Rendimentos
145
país da UE15 pior colocado, deverá ter uma evolução positiva. No entanto, se um
conjunto de medidas positivas forem desenvolvidas, a meta pode melhorar ainda
relativamente à sua evolução esperada, situando-se perto de 26%, valor para o qual
poderá evoluir também a média europeia, dados que em toda a União se têm verificado
progressos.
A proporção do rendimento dos 20% mais ricos sobre o dos 20% mais pobres
também melhorou em Portugal, mas o comportamento foi mais acentuadamente
positivo na Europa. Um país moderno não é compatível com os níveis de desigualdade
na distribuição do rendimento existente em Portugal, pelo que se propõe a fixação, no
horizonte de 2013, de uma meta próxima dos actuais valores europeus, bastante abaixo
daquela que se verificará na ausência de uma acção voluntarista nesse sentido.
146
diagnosticar com profundidade o conjunto dos problemas aí vividos; (iii) negociar, entre
os ministários pertinentes em função do diagnóstico (desde o trabalho e solidariedade
até à administração interna, passando pela habitação, educação e saúde), as autarquias,
os parceiros civis, os parceiros sociais e as próprias populações, um plano de
intervenção reduzido a contrato ou protocolo que torne explícito o contributo de cada
um para a erradicação dos problemas identificados; (iv) promovendo assim a
concentração de recursos e uma actuação cirúrgica, multidimensional, sistémica e em
profunhdidade, de modo a romper com os quadros de vida que geram a reprodução da
pobreza no seio das famílias e comunidades onde ela está mais sedimentada e
incorporada nas maneiras de ser, de pensar e de fazer.
147
Pessoas com baixos níveis educacionais segundo a idade e o
sexo
Mulheres 73 34,7 25
Estando claro que a mudança que aqui se projecta é uma das mais profundas de
todos os objectivos e metas, relembramos o que dissemos acima sobre a impossibilidade
de modernização da economia sem que a qualificação média dos portugueses sofra uma
mudança de fundo, resultando essa mudança por um lado da redução do abandono
escolar precoce, mas principalmente da efectiva aplicação do princípio de formação
compulsiva anual de toda a população empregada, articulada com o sistema de
148
Reconhecimento, Verificação e Certificação de Conhecimentos e com a revalorização
do ensino recorrente.
149
- Homens 17,0 18,5 7
Taxa de actividade das Pessoas com Deficiência
2001 29,0 40
Taxa de emprego das Pessoas com Deficiência
2001 26,2 50
Taxa de emprego dos trabalhadores idosos
(percentagem da população empregada entre os
55 e os 64 anos), por sexo 2003
Total 51,6 40,2 64,9 66,9
- Homens 62,1 50,3 77,5 77,5
- Mulheres 42,46 30,7 54,0 59,5
Idade média de saída da força de trabalho (2003-
2013), por sexo
total 62,1 61,0 65
- Homens 2003 63,7 61,5 65
- Mulheres 60,6 60,5 65
150
ao trabalho por parte das mulheres que dele se vêm arredadas devido aos cuidados com
os membros dependentes da família. Aliás, no âmbito da avaliação do PNE realizada em
2001, ficou claramente demonstrado, por via da aplicação de um modelo econométrico,
que não apenas a intervenção política produz empregos para além dos resultantes do
ciclo económico, mas também que a contribuição dessas políticas é tanto mais relevante
quanto menos favorável é o ciclo económico.
151
13.2 Objectivos de enquadramento
152
constituem já um grupo carenciado de cuidados especiais. A educação tem de começar
o mais precemente possível e os equipamentos para crianças e jovens escasseiam. A
rede de serviços de reabilitação apresenta lacunas na distribuição territorial. As
mulheres portuguesas participam largamente no mercado de emprego, assumindo uma
dupla carga de trabalho doméstico e familiar. Não se lhes pode pedir, portanto, que
assumam com qualidade o cuidado dos membros dependentes da família (aliás, a
família nunca foi boa prestadora dos serviços que hoje em todos os países
desenvolvidos são prestados de forma organizada pela colectividade). O esforço de
expansão da rede de equipamentos sociais para estas categorias é, assim, uma prioridade
absoluta. Essa expansão, embora crie riqueza e emprego, requer meios, que neste
momento, em função dos objectivos de equilíbrio macro-económico, são escassos.
Gera-se neste domínio, portanto, um dos principais campos de utilidade do apoio
comunitário ao nosso país, do mesmo modo como se gera uma campo de inovação no
que respeita ao financiamento do funcionamento, por um lado procurando soluções que
combinem melhor o mercado com o apoio público e, por outro lado, passando-se de
uma lógica de financiamento da oferta (leia-se, das instituições prestadoras de serviços),
para uma lógica de apoio à procura, em particular por parte das categorias e das famílias
mais pobres.
153
Indicador Ano Situação UE 25 Cenário Meta
partida partida Evolutivo 2013
neutro
Taxa de participação em actividades de 2002 2,9 8,5
aprendizagem ao longo da vida 2004 4,9 9,8 6,0 15
154
manutenção das dinâmicas de crescimento da taxa de actividade e com a expansão do
sector dos serviços, aquele que apresenta no nosso país maior potencial de crescimento.
A transição para uma economia com maior peso dos serviços e mais adaptada ao
novo contexto competitivo na sociedade da informação e do conhecimento implica a
reestruturação empresarial. Esta pode ser conduzida com elevados custos sociais ou,
pelo contrário, procurando reduzi-los através da preparação das suas consequências. O
tema ganhou aliás um lugar central na agenda da Estratégia Europeia para o Emprego.
Questões de política micro-económica envolvendo a identificação precoce de sectores e
empresas em risco de competitividade, que permitam o envolvimento dos parceiros
sociais, dos trabalhadores e dos empregadores na procura de soluções colectivas,
recorrendo a apoios existentes quer a nível local, como a nível nacional e comunitário, a
promoção da mobilidade profissional e geográfica, estão hoje a ser objecto de
155
discussão, assumindo um carácter de grande urgência para Portugal. Por outro lado, ao
nível macro-económico, a procura dos equilíbrios necessários ao desenvolvimento
sustentável passa pela adopção de estratégias de crescimento amigas do emprego e
capazes de simultaneamente tornar as empresas e os trabalhadores mais flexíveis e mais
seguros.
156
Para qualquer deles seguimos o roteiro de correlações representado na figura que
se apresenta de seguida.
Políticas Evolução do
macro- emprego e do Evolução dos
económicas e desemprego indicadores de
fiscais desigualdade
Evolução da
Equilíbrio das qualidade do
contas públicas emprego e da
equidade salarial Evolução das taxas
de pobreza
Evolução das
Modernização despesas em
do mercado de políticas sociais
bens e serviços (pensões, benefícios
e do mercado familiares, acção
de emprego Evolução da
social)
esperança de vida
Evolução dos níveis
Estratégias de educação e de
familiares e qualificação
mecanismos de Dinâmicas de
integração integração social de
comunitária Evolução de grupos de risco e de
políticas específicas prevenção do risco
para grupos de risco
157
públicas e com um funcionamento do mercado (quer de bens e serviços, quer de
trabalho), e dos seus agentes organizado, regulado, moderno e com sentido de iniciativa,
de risco, de inovação e de responsabilidade social.
Naturalmente não nos podemos esquecer que as políticas sociais têm um efeito
de retorno sobre as variáveis económicas, nomeadamente no que diz respeito aos efeitos
das políticas de trabalho, de emprego e de aprendizagem ao longo da vida para o
desempenho da economia.
158
Um efeito de retorno sobre o ambiente económico têm também as situações de
pobreza e exclusão social. Quanto menor for a presença de tais fenómenos, maior o
campo de recrutamento de mão-de-obra, melhor a capacidade de atracção de quadros,
maior o número de pessoas a participar no processo de produção de riqueza, entre
outros efeitos a considerar.
159
13.3.2 Cenário de consolidação do modelo social e económico tradicional
O segundo cenário, ao contrário do anterior, é bastante plausível. Basta para tanto que
não se consiga mobilizar a energia política e o contributo dos diversos actores
responsáveis (do Estado, do mercado, da sociedade civil) para operar uma viragem
equilibrada e coordenada nos diversos domínios de acção, privilegiando-se apenas
objectivos de ordem económica. Neste cenário, os objectivos de estabilidade macro-
económica e de equilíbrio das contas públicas constantes do PEC concretizam-se, mas à
custa da redução das despesas públicas, da privatização de serviços. Toca-se assim o
numerador das contas do Estado, mas não o denominador, dado que não se conseguem
reunir meios para enfrentar os interesses instalados e não se promove uma reforma
fiscal equitativa. A economia mantém o padrão de especialização actual, apesar de
algumas nuances resultantes da transferência entre sectores – por exemplo, do têxtil,
vestuário e calçado para o turismo e a restauração, mas sem grandes ganhos de
produtividade. A taxa de emprego pode estagnar ou crescer como o previsto, mas sem
modernização da economia, mantendo a baixa qualidade, a má remuneração, a atitude
refractária em relação à formação e à inovação organizacional e nos produtos, a
desregulação e a precarização das relações de trabalho. E crescerá igualmente o
desemprego resultante da expulsão dos trabalhadores empregados em sectores
particularmente expostos à concorrência. A manutenção dos objectivos
macroeconómicos sem aumento da receita do Estado associar-se-á ao desinvestimento
na protecção social, nas políticas de trabalho, de protecção social, de luta contra a
pobreza, de educação e formação. Poderão registar-se pequenos ganhos nas
qualificações e nalguns dos esquemas de protecção social (como os registados na
evolução “neutra” dos indicadores, mas sem alcance quer para influir na modernização
da economia, quer na redução significativa da pobreza. As estratégias familiares e
comunitárias tenderão a seguir dinâmicas idênticas ao cenário anterior, pelo que, mesmo
com ligeira diminuição da pobreza, podem aumentar as situações de marginalidade e de
pobreza consistente. A esperança de vida média poderá não ser muito afectada. No
conjunto, o nosso país manter-se-ia muito longe dos patamares médios da União
Europeia, numa situação de forte prevalência da exclusão social.
160
13.3.3 Cenário de Europeização
Ao cenário que tomaremos por referência para a definição do elenco das políticas que
poderão produzir modificações significativas na coesão social poderemos chamar-lhe
“de europeização”. O equilíbrio das contas do Estado e das políticas macro-económicas
é assegurado, mas sem recurso prolongado a cortes nas políticas públicas, e em
particular nas políticas de estímulo ao crescimento económico, à modernização da
economia e do sistema fiscal, à qualificação dos recursos humanos e à implementação
de mecanismos de apoio à inovação nas empresas e no Estado, à produtividade, à
responsabilidade social e à reinserção social dos grupos desfavorecidos. O esforço para
cumprir as metas de qualificação dos recursos humanos joga aqui um papel
determinante, do mesmo modo que o joga o investimento em serviços e equipamentos
sociais e em políticas de luta conta a pobreza que promovam um mercado mais aberto,
qualificado e alargado, bem como a igualdade entre homens e mulheres. O conjunto
destes factores produz melhor funcionamento do mercado, melhor remuneração do
trabalho, maior equidade na distribuição dos rendimentos do trabalho. Por outro lado, o
crescimento mais rápido das pensões mais baixas do que o rendimento médio e o
prosseguimento de outras políticas redistributivas, quer por via das prestações familiares
quer por via de esquemas de assistência sujeitos a condições de recurso, permitirá
reforçar essa tendência para uma maior equidade. Neste contexto, sendo certo que
qualquer melhoria nos domínios em referência que afectem as categorias mais pobres
acabará também por beneficiar, ainda que, com base num princípio de justiça, de forma
menos acentuada, todo o conjunto da população, e sendo certo que as famílias mais
desfavorecidas poderão estruturar as suas relações internas em bases diferentes,
podendo passar a fornecer outro tipo de suporte estratégico aos seus membros mais
vulneráveis (uma vez que os cuidados básicos possam ser assegurados pela rede de
equipamentos e serviços de apoio à família e à conciliação do trabalho com a vida
familiar), será então possível contar com maior qualidade no capital social acessível a
grupos que respondem actualmente à dureza das condições de existência com a
incorporação de disposições muitas vezes perturbadoras da ordem social. Assim se
poderá criar um contexto social de maior qualidade, por isso mais favorável ao
desempenho das empresas e dos restantes agentes económicos e institucionais,
sustentando no longo prazo ganhos continuados nos mecanismos de inclusão social.
161
13.4 Factores Críticos
O enunciado dos cenários e das metas em que nos temos vindo a basear assenta
na teoria implícita de que a qualidade dos níveis de inclusão pode ser aferido através da
evolução para metas exigentes num conjunto limitado de factores ou variáveis passíveis
de acompanhamento. Essas variáveis podem ser complementadas por outros objectivos
ligados a factores igualmente relevantes, uns directamente influenciáveis pela acção
política do estado, outros apenas indirectamente influenciáveis por essa acção. Por fim,
existem metas cuja evolução depende de contingências não controláveis pelos agentes
institucionais, umas vezes por dependerem de dinâmicas auto-geridas, outras, como é o
caso, porque resultam de uma multiplicidade de factores de tal forma complexa que se
torna impossível sequer isolar conjuntos determinados de factores. A Figura 2 dá conta
desta “teoria implícita”.
Objectivos Objectivos
Complementares Complementares
Variáveis Variáveis
dependentes influenciáveis
de acção Objectivos indirectamente
política Específicos pela acção
de Síntese política
po
Objectivos Complementares
Variáveis de contexto condicionantes
53
Agruparemos os objectivos gerais e os complementares segundo os sectores a que se referem, de modo
a facilitar a visibilidade da respectiva associação com as políticas de referência.
162
Quadro29: Principais Objectivos e Factores na óptica da Inclusão Social54
54
A este respeito encontra-se em anexo um exercício de combinação entre medidas de políticas concretas
e os objectivos fundamentais estabelecidos na promoção da inclusão social no horizonte 2013.
163
num máximo de 1%. ambiente para promover o crescimento do
emprego, incluindo o emprego social e ambiental;
Taxa de desemprego de muito longa duração Promoção da intervenção precoce junto dos
desempregados de forma a evitar a acomodação à
“Share” do desemprego de longa duração situação de desemprego e a negociar com eles
planos capazes de eliminar os riscos que
conduziram à situação de DLD;
Pessoas a viver em agregados sem qualquer pessoa Promoção da criação de uma rede nacional
empregada profissionalizada e qualificada de promoção da
formação profissional especial e de apoio à
reinserção no mercado de emprego;
Dispersão regional das taxas de desemprego Desenvolvimento dos Planos Regionais de
Emprego, de forma a ajustar as estratégias
nacionais às especificidades das áreas que se
apresentem particularmente discrepantes em
relação à média nacional
Taxa de desemprego da população jovem Melhoria dos mecanismos de transição dos jovens
para a vida activa e actuar numa lógica dupla de
reparação e de prevenção do desemprego juvenil,
nomeadamente por via:
- Da melhoria da formação inicial quer no
sistema de ensino, quer no sistema de
formação, reforçando a diversificação de vias
de ensino/formação e a permeabilidade entre
elas e, particularmente, valorizando as vias
profissionalizantes, as experiências de dupla
formação teórica e em contexto de trabalho, o
ensino recorrente;
- Da promoção de incentivos à formação
certificada escolar e profissionalmente em
contexto de trabalho e da generalização dos
estágios profissionais;
- Dos incentivos à contratação de jovens;
- Da promoção de programas de apoio à
formação especial, à mediação e ao acesso ao
emprego por parte de jovens com dificuldades
especiais, como os ex-toxicodependentes, os
ex-reclusos ou os jovens em risco;
- Do reforço das medidas de intervenção
precoce sobre os jovens desempregados com
vista à activação;
- Do cumprimento do normativo relativo à
contratação de jovens sem qualificações
mínimas e da promoção da responsabilidade
social das empresas no apoio ao regresso à
escola ou à formação por parte dos jovens
empregados menos escolarizados;
- Da revalorização de profissões e actividades
com potencial de emprego mas actualmente
desvalorizadas no plano simbólico.
Taxa de actividade das Pessoas com Deficiência Sensibilização da opinião pública, dos pais e dos
empregadores para o potencial de empregabilidade
das pessoas com deficiência;
Melhoria das condições gerais de acesso a bens,
equipamentos e serviços (transportes, habitação,
formação, emprego, etc.)
Taxa de emprego das Pessoas com Deficiência Estruturação – em termos de cobertura,
estabilidade e capacidade técnica - da rede de
Centros de Recursos e de Centros Especializados
na área da Reabilitação soci-profissional das
164
pessoas com deficiência;
Promoção da qualidade e quantidade de pessoas
envolvidas nas acções de orientação - formação
especial – acesso a emprego de pessoas com
deficiência;
Desenvolvimento de campanhas para a mudança de
atitudes dos empregadores e do sistema de
reabilitação face à integração das pessoas com
deficiência no mercado aberto de trabalho;
Desenvolvimento de estruturas especializadas –
residuais – para a ocupação da pequena parte de
pessoas com deficiência sem capacidades mínimas
de empregabilidade em mercado aberto.
Taxa de emprego dos trabalhadores idosos Promoção da qualidade geral do emprego, em
(percentagem da população empregada entre os 55 termos do conteúdo das tarefas e das condições
e os 64 anos) intrínsecas e extrínsecas;
Idade média de saída da força de trabalho (2003- Existência de mecanismos justos e atractivos de
2013) transição faseada para a reforma
Combate ao encerramento não preparado de
empresas
Total de gastos em Protecção Social (em ppc per Sustentação e melhoria do desempenho dos
capita) em proporção da UE25 sistemas de protecção social, com especial
destaque para as medidas dirigidas aos segmentos
mais desfavorecidos da população, como os idosos
de pensões mais baixas, as famílias pobres com
crianças e as pessoas vivendo abaixo de limiares
mínimos aceitáveis de sobrevivência (evolução das
pensões mais baixas, dos esquemas de assistência
sob condição de recursos e das prestações
familiares)
a redução para cerca de um terço das pessoas Implementação de forma consistente e efectiva de
com baixos níveis educacionais (25-64 anos) uma estratégia compreensiva para a aprendizagem
ao longo da vida que permita simultaneamente
a redução para metade dos níveis de abandono combater o abandono escolar precoce
escolar percoce (implementando com sucesso a reforma em curso
no ensino secundário e reforçando os mecanismos
de cooperação entre o sistema de ensino e o
sistema de formação), facilitar a transição
qualificada dos jovens para a vida activa
(nomeadamente valorizando as vias
profissionalizantes as experiências de
aprendizagem em contexto de trabalho) e
generalizar a utilização dos
Aumento da taxa de participação em actividades de meios existentes para a qualificação dos recursos
aprendizagem ao longo da vida humanos entre a população activa, promovendo o
ensino recorrente, a utilização do sistema de
Reconhecimento, Verificação e Certificação de
Conhecimentos e a participação compulsiva anual
dos trabalhadores em acções de formação
certificada qualificante.
Índice de Gini Diminuição dos níveis das desigualdades salariais
Elevação da eficácia redistributiva da Segurança
Social
Proporção dos rendimentos dos 20% mais ricos Promoção de uma reforma do sistema fiscal de
sobre os 20% mais pobres modo a reforçar a componente redistributiva
Redução do risco de pobreza Condução dos processos políticos e da mobilização
dos actores no sentido da coordenação de políticas
multidimensionais convergentes para uma maior
equidade social e uma distribuição mais justa dos
165
recursos e das oportunidades
redução do risco de pobreza infantil Crescimento acelerado da rede de equipamentos e
serviços de apoio à família, de modo a responder
às reais necessidades das famílias portuguesas e em
particular aos seus membros dependentes e a
facilitar a conciliação do trabalho com a vida
familiar;
Aumento das prestações familiares segundo
condições de recursos
erradicação da pobreza consistente Alargar as medidas de Rendimento Mínimo e
assegurar o acesso das pessoas aos bens e aos
serviços (saúde, habitação, educação, transportes,
etc). Melhorar a proximidade entre os sistemas de
saúde e as populações mais desfavorecidas;
Promover uma política de habitação e de cidade
capaz de modificar as estruturas da oferta e
combater a segregação territorial;
Risco de pobreza antes das transferências sociais Melhorar a eficácia redistributiva da Segurança
(pensões excluídas) Social e diminuir as disparidades salariais, num
quadro de aumento global da produtividade e dos
salários
Risco de pobreza persistente Desenvolvimento de programas de base territorial,
carácter multidimensional, desenhados com base
em diagnósticos precisos e sustentados por
compromissos assumidos entre os sectores do
estado que o diagnóstico revele serem relevantes,
as autarquias, os parceiros sociais, as empresas, os
parceiros civis, organizações de solidariedade e
desenvolvimento e as próprias comunidades, que
promovam a concentração de recursos e permitam
uma intervenção de fundo sobre as mais pesadas
estruturas sociais e pessoais reprodutoras da
pobreza e da exclusão
Risco de pobreza de maiores de 65 anos Elevação das pensões mais baixas para limiares no
mínimo iguais aos limiares de pobreza relativa
Risco de pobreza feminino Promoção de políticas – nomeadamente de
desenvolvimento da rede de equipamentos e
serviços de apoio à família, de formação e de
emprego – para a igualdade de género.
Risco de pobreza segundo o estatuto Promoção das qualificações dos trabalhadores
socioprofissional menos qualificados;
Promoção da função empresarial dos trabalhadores
independentes;
Melhoria dos sistemas de protecção social
Activação dos desempregados
Risco de pobreza segundo a composição dos Crescimento acelerado da rede de equipamentos e
agregados domésticos serviços de apoio à família, de modo a responder
às reais necessidades das famílias portuguesas e em
particular aos seus membros dependentes e a
facilitar a conciliação do trabalho com a vida
familiar;
Aumento das prestações familiares segundo
condições de recursos
Pensão social/limiar de pobreza Elevação do valor da pensão social
Pensão mínima do regime geral/limiar de pobreza Elevação do valor da pensão mínima do Regime
Geral
Salário mínimo (geral)/limiar de pobreza Fixação do salário mínimo em valores superiores à
inflacção, tendo eventualmente em conta os ganhos
de produtividade
aumento da esperança de vida à nascença Combinação dos factores globais de
166
Esperança de vida no primeiro ano de vida desenvolvimento e melhoria das condições de vida
Esperança de vida aos 60 anos das pessoas
Evolução do número de pessoas sem abrigo Desenvolvimento de serviços e equipamentos
capazes de promoção de uma política especializada
em linha, que começa com níveis de abordagem
primária aos indivíduos e prossiga segundo
Evolução da percentagem da população com patamares escalonados de capacitação pessoal,
comportamentos aditivos problemáticos transformação de referências valorativas,
recomposição de redes de relações, aquisição de
competências, acesso ao emprego e a outros
recursos, como a habitação
Evolução do número de reclusos Combate à droga e prevenção da
toxicodependência;
Melhoria das condições de vida nas comunidades
teritoriais mais desfavorecidas (ver acima o dito
acerca da pobreza persistente)
Legenda: Matérias passíveis de apoio no âmbito dos Fundos Estruturais
Matérias directamente dependentes da acção política
Matérias indirectamente influenciáveis pela acção política, mas carecidas da
intervenção de outros actores (nomeadamente dos agentes do mercado)
Embora sem sugerir receitas gerais e de aplicação universal, não se pode deixar
de equacionar neste momento um conjunto de critérios determinantes para o sucesso
dos objectivos da inclusão, por assim dizer transversais em relação aos factores acima
enunciados. Entre esses critérios contam-se os dois seguintes:
167
- da mobilização dos actores, implicando de forma responsável os parceiros
sociais, os parceiros civis e as próprias populações nos processos de decisão,
execução e avaliação das políticas e das medidas para a coesão social;
- do combate quer a resistências várias ao trabalho cooperativo entre entidades
com interesses diferentes ou até contraditórios, promovendo a ideia de que a
expressão do conflito de interesses constitui um elemento estrutural das
sociedades democráticas e que a negociação é a via da superação desse
conflito, quer à aceitação de lógicas tutelares, da assimetria de estatutos e de
mecanismos clientelares na relação entre as instituições e entre estas e os
cidadãos.
168
salariais - e da segurança por via do investimento na capacidade de
aprendizagem e adaptação dos trabalhadores, num quadro geral de promoção
da Responsabilidade Social Empresarial;
169
reparadora e integradora especializados, dirigidos a segmentos específicos
da população, como as pessoas com deficiência, os imigrantes, os
toxicodependentes, os reclusos, as crianças em risco e as pessoas sem-
abrigo.
Um critério que não vale a pena lembrar, por constituir um implícito que quem
está minimamente a lidar com os problemas da inclusão social bem conhece, é o da
persistência. Aqueles problemas sedimentaram-se durante longos períodos, sendo por
isso resistentes e, além disso, capazes de reemergir a qualquer momento em sítios onde
se pensava estarem afastados de vez. Aliás, é com uma visibilidade acrescida desse
facto que as sociedades modernas estão confrontadas. O que implica que se procurem
novas vias, mais eficazes, de promoção da coesão social e se reforce a mobilização e a
responsabilidade em torno da criação de uma sociedade mais justa, mais equitativa,
mais coesa, numa palavra, melhor para viver.
170
14 Bibliografia
Almeida, João Ferreira de, António Teixeira Fernandes e Manuela Magalhães (orgs.)
(2001) Competitividade e Exclusão Social: as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto,
CIES/DINÂMIA/Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, (policopiado).
Almeida, João Ferreira de, Luís Capucha, António Firmino da Costa, Fernando Luís
Machado, Elisabeth Reis e Isabel Nicolau (1994), Exclusão Social: Factores e Tipos
de Pobreza em Portugal, Oeiras, Celta.
André, Isabel (1993) O falso neutro em geografia humana: género e relação patriarcal
no emprego e no trabalho doméstico, Tese de Doutoramento, Lisboa (policopiado).
Balsa, Casimiro Marques, Tiago Farinha, João Pedro Nunes e Miguel Chaves (s.d.),
Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psico-Activas na População
Portuguesa: 2001, Lisboa, CEOS - FCSH/UNL.
171
Batista, Luís Vicente, “Cidade e políticas Sociais de Habitação: Armadilhas
Conceptuais e Metodológicas” in Cidades 3 - Comunidades e Territórios, CET,
Dezembro de 2001, pp 71-81.
Capucha, L., Miguel Cabrita, Ana Salvado, Maria Álvares, Ana Lúcia Paulino,
Susana Santos e Rita Mendes (2004b), Os impactos do Fundo Social Europeu na
reabilitação profissional de pessoas com deficiência em Portugal, Vila Nova de
Gaia, CRPG.
Capucha, L., Teresa Bomba, Rita Fernandes e Gisela Matos (2005), “Portugal – a
virtuous path towards minimum income?” in Maurizio Ferrera (org.), Welfare State
Reform in Southern Europe. Fighting poverty and social exclusion in Italy, Spain,
Portugal and Greece, Londres e Nova Yorque, Routledge.
172
Capucha, Luís (1998), “Pobreza, Exclusão Social e Marginalidades” in José Manuel
Viegas e António Firmino da Costa (orgs.), Portugal, que Modernidade?, Oeiras:
Celta, pp. 209-244.
173
Comission Européenne (1999) L’emploi en Europe 1998, Luxembourg, Office des
publications officielles des Communautés européennes.
Costa, Alfredo Bruto da, Manuela Silva, José Pereirinha e Madalena Matos (1985), A
pobreza em Portugal, Lisboa, Caritas.
174
European Social Statistics: Social protection, Expenditure and receipts, Data: 1994-
2002, European Commission, Eurostat.
Eurostat (2004) Statistics in focus, Population and Social Conditions, 6/2004: Social
Protection in Europe, European Communities.
Eurostat, Women and Men in the European Union – A Statistical Portrait, Luxembourg.
Ferreira, Leonor Vasconcelos (no prelo), Social Protection for chronic poverty – risk,
needs and rights, protecting what? How?, policopiado.
Fialho, José Sousa (org.) (1998) Trabalho Infantil em Portugal. Caracterização social
dos menores em idade escolar e suas famílias, Cadernos PEETI nº3. Lisboa, Ministério
do Trabalho e Solidariedade.
175
Garcia, O. (coord.) (1998) Diagnóstico Social do Concelho de Cascais, Instituto
Superior de Serviço Social/Câmara Municipal de Oeiras.
Gonçalves Isabel; Vallera, Joana (2004) Rendimento Social de Inserção, elaborado por,
no contexto do Instituto de Solidariedade e Segurança Social.
Gouveia, Miguel e Carlos Farinha Rodrigues (2003), Para que servem as pensões
mínimas?, 2ª Conferência do Banco de Portugal, policopiado.
Guerra, Isabel, Teresa Costa Pinto, Dulce Moura; “Políticas de Habitação: À Procura de
Novas problemáticas” in Cidades 3 - Comunidades e Territórios, CET, Dezembro de
2001, pp 53-69.
Guerra, Isabel (1994), “As Pessoas Não São Coisas Que Se Ponham Em Gavetas”, in
Sociedade e Território, nº 20, Ed. Afrontamento, Porto, pp. 11-16.
Guerra, Isabel, Mª João Freitas, Marielle Gross, Alda Teixeira, Dulce Moura, Paula
Vieira, Estudos – Diagnóstico sobre a Implementação do Programa PER nos municípios
das Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, Instituto Nacional da Habitação, Agosto de
1999 (concluído em Dezembro de 1997).
Guerreiro, M.D. (org.), (1998) “Jovens Europeus e o Futuro: Emprego e Vida Familiar”,
Sociologia - Problemas e Práticas, nº. 27.
176
Guerreiro, M.D. e I. Romão, (1995) “Famille et Travail au Portugal - La coexistence de
différentes dynamiques sociales” in T. Willemsen, G. Frinking e R. Vogels (ed.), Work
and Family in Europe: The Role of Policies, Tilburg, Tilburg University Press.
Guerreiro, Maria das Dores (2003), “Pessoas sós: múltiplas realidades” in Sociologia
Problemas e Práticas, 43, pp.31-49
Guillén, Ana e Pedro Adão e Silva (2001), Redesigning the Spanish and the Portuguese
Welfare States: the impact of accession into the European Union, Florence, Centre for
European Studies Working Paper nº 85.
177
Knüppel, W., (1995) Division of Labour in Families – Relevant Data Sources in
Eurostat, Tilburg, Tilburg University Press.
178
Ministério da Solidariedade e Segurança Social, Segurança Social – Evolução Recente,
1992a 1995, 1995.
Pires, Rui Pedro Pena (1999), “Uma teoria dos processos de integração”, Sociologia,
problemas e práticas, 30, pp. 9-54.
179
Rodrigues, Carlos Farinha (1999), “Repartição do rendimento e pobreza em Portugal
(1994/1995): uma comparação entre o PAF e o IOF”, Revista de Estudos de Estatística,
V (1).
180
Vilaça, Eduardo, “O “Estado da Habitação”: Medidas sem Política num País Adiado” in
Cidades 3 - Comunidades e Territórios, CET, Dezembro de 2001, pp 83-92.
Wall, Karin (2003), “Famílias Monoparentais” in Sociologia Problemas e Práticas, 43,
pp.51-55
181
Gráfico 10 Evol. da percentagem de estudantes do ensino secundário que estão a frequentar vias
profiussionalizantes ................................................................................................................ 47
Gráfico 11 Evol. Da taxa de população dos 18 aos 24 anos que não está em educação ou formação
e que tem no máximo o ensino básico, entre 2000 e 2004 ............................................................... 48
Gráfico 12 Evol. Da expectativa do nº de anos de escolaridade, entre 1998 e 2002 (school
expectancy) ........................................................................................................................... 52
Gráfico 13 Evol. Da apoio fginanceiro aos estudantes em percentagem da despesa pública total
com educação em todos os níveis de educação ............................................................................. 53
Gráfico 14 Evol. da percentagem de população em idade activa (25-64) em educação ou
formação, nas 4 semanas anteriores à realização do inquérito, entre 2000 e 2004 ............................... 58
Gráfico 16 Percentagem da população activa (25-64) que nos últimos 12 meses participou na
aprendizagem formal, não formal, em diferentes formas de aprendizagem informal .......................... 61
Gráfico 17 Percentagem da população com 15 ou mais anos que participou, nos últimos 12 meses,
em actividades de aprendizagem não-formal, face ao nível de ensino completo e ao grupo etário da
população total com 15 ou mais anos ......................................................................................... 62
Gráfico 20 Percentagem de indivíduos que em 2004 acedem à Internet em média pelo menos 1
vez por semana, segundo a situação face ao emprego .................................................................... 66
Gráfico 21 Percentagem de indivíduos que em 2004 acedem à Internet em média pelo menos 1
vez por semana, segundo o seu nível de educação formal ............................................................... 67
Gráfico 22/23 Utilização de computador e de Internet, por nível de escolaridade e grupo etário ....... 68
Gráfico 24 Evol. da subscrição de telemóveis por 1000 habitantes (1995-2002) ............................... 70
Gráfico 25 Despesa Total em Protecção Social (% GDP), 1994-2002 ............................................ 78
Gráfico 26 Despesa em Protecção Social em PPS, per capita, 2001 ............................................... 79
Gráfico 27 Despesa Total em Protecção Social, per capita em PPS, 1994-2001 ............................... 80
Gráfico 28 Protecção Social por função, 2002 ........................................................................... 80
QUADROS
182
Quadro 1 Percentagem da popualçaõ em risco de pobreza por actividade mais frequente e 2º a
escolaridade ......................................................................................................................... 18
Quadro 2 Pensão Social, Pensão Mínima, Salário Mínimo e Salário Médio face ao limiar de
pobreza ................................................................................................................................ 19
Quadro 3 Risco de Pobreza Infantil, dos idosos e das mulheres na UE e em Portugal ...................... 20
Quadro 4 Taxa de Emprego por sexo (15-64) em 2003 (UE) ........................................................ 28
Quadro 5 Estrutura Sectorial do Emprego na UE em 2003 ........................................................ 30
Quadro 6 Regimes Contratuais de Trabalho ............................................................................ 32
Quadro 7 Vínculos Contratuais nos trabalhadores por conta de outrem ....................................... 32
Quadro 8 Taxa de Emprego em Part-time na UE 2003 ............................................................... 33
Quadro 9 Taxa de Emprego em Part-time em Portugal (1992-2003) ............................................. 33
Quadro 10 Distribuição do Ganho Salarial Médio dos trabalhadores por conta de outrem por
decis (1995-2000) .................................................................................................................... 35
Quadro 11 Distribuição da Massa Salarial nos trabalhadores por conta de outrem por decis
(1995-2000) ........................................................................................................................... 35
183
MAPAS
FIGURAS
184
Glossário
2. Crescimento do emprego:
Variação anual no número total da população empregada.
3. Crescimento do PIB:
Variação anual do valor do PIB.
185
7. Esperança de vida no 1º ano de vida:
Número médio de anos que uma criança com um ano pode esperar viver. Este
valor está submetido, durante a sua vida, às condições de mortalidade
(probabilidades de morte específicas da idade).
186
14. Índice de Gini:
Medida de desigualdade na distribuição dos rendimentos associada à Curva de
Lorenz, revelando particular sensibilidade aos valores próximos da moda e
menor sensibilidade aos valores extremos. O índice varia entre o valor 1, se todo
o rendimento se concentrasse num só indivíduo, e o valor 0, se todos os
indivíduos possuissem rendimentos iguais.
187
- estudantes entre os 18-24 anos que vivem em agregados somente compostos
por estudantes da mesma classe etária não são tidos em conta nem no
numerador, nem no denominador.
188
23. Proporção dos rendimentos dos 20% mais ricos sobre os 20% mais pobres
(S80/S20):
Proporção de rendimento monetário recebido pelos 20 por cento mais ricos da
população (quintil superior) em relação à recebida pelos 20 por cento mais
pobres (quintil inferior).
189
reforma e a pensão de sobrevivência são consideradas como rendimento antes
das transferências sociais e não como transferências sociais.
190
35. Taxa de crescimento média anual de emprego:
Relação entre o valor do crescimento do emprego no ano n e a população
empregada no ano n-1.
191
40. Taxa de desemprego jovem:
Percentagem da população desempregada dos 15-24 anos no total da população
activa do mesmo grupo etário.
192
ANEXOS
193
Redução do Risco de Pobreza
desenvolvimento pessoal e
Lançar e concretizar uma Alargar o acesso à
cívico de cada um, coesão da Gerir
rede de Cuidados aprendizagem ao longo da
sociedade, produtividade e activamente a Continuados Integrados vida
competitividade da economia reconversão
profissional
para novos
empregos
Reforço da protecção social. Generalizar programas de
Diferenciação positiva preparação para a reforma
Reforçar o papel da
Criar programa de apoio social
economia social e das suas
ao emprego
instituições
combate ao
o Superar o atraso face aos
desemprego/Políticas de
padrões europeus
qualificação
Estender a educação
Combater a precariedade do
fundamental para todos até
emprego jovem/
aos 18 anos (estejam ou não
Apoiar o empreendorismo
a trabalhar) para o nível do
jovem
12º ano
Associar empresas e
Incentivos às empresas e
instituições de ensino,
instituições que facilitem a
formação, investigação e de
conc. Trab/fam. flexibilizando
apoio institucional e
horários
financeiro
Aproximação de Portugal da
Implantar a Rede Social em média comunitária de
todo o país investimento em políticas
públicas de emprego
Imigração: renovação
Responsabili Rede de Apoios à família e
demográfica e crescimento
Rendimento Social de Inserção dade conciliação trabalho/vida
económico - mão-de-obra
Partilhada familiar
qualifficada
194
Erradicação da Pobreza Infantil
Alargamento do pré-
escolar
Erradicação da
Pobreza Infantil
Reconhecimento de um
políticas de
estatuto de cidadania para
qualificação/combate ao
filhos de imigrantes ou
desemprego
imigrantes prolongados
Reforçar mecanismos de
integração/conjunto mínimo de
modelo de financiamento
Tornar obrigatória a mecanismos de protecção social
contra discriminação
frequência de ensino ou (política de imigração inclusiva):
negativa no acesso a
formação profissional para acesso a creches/escolas;
creches e amas por parte
todos os jovens até aos 18 cidadania aos filhos; progs.
de crianças dos grupos Específicos de integração; material
anos
mais débeis
de ens. básico/sec. promover o
sucesso escolar
195
Erradicação da Pobreza Consistente
Formação de imigrantes:
aprendizagem de português;
formação profissional, Aproximação entre ensino Tornar obrigatória a frequência do
equivalência de secundário e sistema de ensino ou formação profissional até
qualificações e diplomas, formação profissional aos 18 anos
material didáctico para
sucesso escolar
Reconhecimento de
Assegurar um ensino
cidadania para filhos de Empreendorismo como
recorrente diversificado
imigrantes ou imigrantes matéria de ensino
- educação de adultos
prolongados
Pré-escolar + básico -
Adopção de lógica adaptada prioridade aos modos e
às diferenças regionais: tempos das famílias
implantar rede social em
todo o país; contratos de
desenvolvimento social Prevenir desemprego e
desenvolver políticas
reparadoras
Erradicação da
Novo apoio a agregados Pobreza Consistente Combater precareidade de
monoparentais emprego jovem
Reactivar cuidados no
Qualificar as pessoas e
domicílio/ Articulação entre
promover o emprego (20 h.
hospitais, centros de saúde,
anuais de qualificação
cuidados continuados e
profissional certificadas)
apoio social
Prestação
Acabar progressivamente
Revisão de: RSI/ Apoio à extraordinária de
com a pobreza associada ao
Deficiência/ Apoio à combate à pobreza
trabalho (salário mínimo
Invalidez/ Apoio à dos idosos, para que
como imunidade contra
Dependência nenhum fique abaixo pobreza)
de 300!
196
Redução para metade do abandono escolar
Prioridade no combate
Redução para
à pobreza
metade do
abandono escolar
197
Quintuplicação da População com Ensino Secundário
198