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O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 1947

Este poema de Manuel Bandeira relata uma cena cotidiana, em que qualquer pessoa poderia se
deparar com situação semelhante. O autor utiliza uma linguagem coloquial e
acessível, recorrendo à simplicidade, característica tão marcante em sua obra.

Há uma surpresa preparada para o leitor… o texto se inicia com refinada transitoriedade, talvez
se perceba até mesmo o silêncio de uma rua vazia, ecoando alguns movimentos solitários e
pontuais. Porém, há perplexidade quando se anuncia que o bicho descrito, que poderia se passar
despercebido, na realidade é um homem.

Como se pode observar, este poema foi escrito na cidade do Rio de Janeiro, dois dias após o
Natal, portanto a cena se teria realizado no eco das festas comemorativas e de fartura. O
personagem estaria buscando restos das alegrias de outras pessoas, evidenciando aí as
desigualdades sociais de uma cidade urbana.

O poema intensifica a dinâmica da fome: não examinar nem cheirar demonstra ações imediatas e
vorazes, próprias de um ser irracional, a que se reduz um homem diante a calamidade. Estar
rebaixado além do cão, do gato e do rato introduz o impacto emocional do expectador, que
impotente observa. Impotente, porém não passivo, pois denuncia através da palavra as condições
de sofrimento e desumanidade da miséria. Ver uma pessoa na rua numa grande cidade revirando
o lixo talvez não causasse tamanha comoção, pois que o hábito de conviver com a pobreza
banaliza-a. Manuel Bandeira a coloca no seu devido patamar de sensação: a da repúdia, a da
lamentação, pois este olhar verdadeiro diante um homem em necessidades extremas é o de
identificação, de empatia.

(Texto sobre o poema “O bicho”, escrito em junho de 1991)


O PENSAMENTO ao longo da história
Desde a antiguidade até os dias atuais a humanidade procura
respostas, para compreender os fenômenos que se manifestam na sua
existência, (nascimento, vida, morte, o tempo, as estações, etc) (...). O
interessante é observar como estas respostas foram sendo elaboradas e
fundamentadas pelo desenvolvimento do pensamento.

Qual a influência do contexto sócio histórico e político na minha


educação?

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