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C) A HIERARQUIA
Foi tarefa e intenção de Jesus fundar e estabelecer o reino de Deus e levá-lo, avante. A
realeza de Deus deverá alcançar forma definitiva em sua segundo vinda, na volta do Senhor
glorificado. O começo concreto do reinado de Deus colocou-o Jesus na comunidade messiânica
de salvação, a Igreja; nela deixou os sinais do reinado de Deus que começava (comunidade
salvífica) e os meios de sua realização (instituição salvífica). Como representantes desta nova
comunidade criou Jesus o colégio dos doze (Mc 3,14). Elemento fundamental, contudo, é a
comunidade messiânica total. Ainda que, historicamente falando, a vocação dos apóstolos
constitua o princípio temporal da nova comunidade, contudo o sentido do colégio apostólico
está em ser o núcleo da nova comunidade messiânica, formada, em última análise, pelo
Espírito Santo. Os após-tolos deveriam formar a definitiva comunidade de salvação de Deus, e,
ao mesmo tempo, pela pregação da mensagem salvífica e pelo recebimento daqueles que
ouvissem a mensagem com fé, expandir a comunidade até aos confins da terra, e levá-la ao
crescimento até o fim do mundo (Mt 28,18s, comunidade escatológica de salvação). Se o
Senhor Glorificado se despede dos «doze» (onze), dando-lhes tal encargo, e, na vinda do
Espírito Santo, os confirma definitivamente como apóstolos, surge logo a pergunta acerca da
sucessão apostólica. A ela junta-se um outro e importante problema, o da estrutura jurídica da
nova comunidade messiânica de salvação. Já do ponto de vista puramente natural, não pode
uma comunidade de homens realizar-se historicamente sem elementos jurídicos e sociais. Isto
também vale quanto à Igreja. Contudo ela é uma sociedade de caráter próprio e o núcleo de
sua constituição social foi determinado por Jesus Cristo.
K. Holl (1866-1926) inclinava-se para a opinião de que, pelo menos para a comunidade
paulina, em contraposição à comunidade primitiva de Jerusalém, sob o círculo dos doze,
dever-se-ia aceitar uma legislação puramente carismática (Gesammelte Aufsãtze, II, Tübingen,
1928, 46-67). Também esta tese diluída de uma Igreja primitiva carismática está hoje
abandonada na maior parte da teologia evangélica.
A Escritura prova realmente de modo claro que, desde o início, houve elementos
jurídicos na Igreja. Eles não se encontram marginalizados da vida eclesial, mas estão em seu
fundamento. O tempo antes de Cristo foi marcado pela aliança com Deus, que perpassa todo o
Antigo Testamento. A iniciativa então partia de Deus. Embora Deus tenha estabelecido a
aliança para soberanamente conceder a salvação, contudo logo se ligou a ela, com plena
liberdade. Em contrapartida, o povo da aliança, como parceiro humano da aliança, foi ligado
por Deus à lei da aliança e a ela obrigado. Tudo o que aconteceu dentro da aliança no Antigo
Testamento deve sua origem a esta raiz jurídica, chegando-se assim até ao mandamento do
amor de Deus e do próximo. Quando o povo de Deus do Antigo Testamento falhou perante o
progresso da auto-revelação divina, que aconteceu em Cristo, foi a aliança com Deus colocada
em nova forma. Exteriormente isto transparece por uma nova denominação. Jesus, na ceia de
despedida que celebrou com seus discípulos antes da morte, falou de uma nova ordenação de
Deus, isto é, de um Novo Testamento. Nesta expressão aparece melhor, em primeiro plano, a
iniciativa divina. O conceito de Testamento, isto é, ordenação de Deus, também é de âmbito
jurídico. Assim, pois, também a nova época iniciada por Cristo já vem determinada em sua
fundamentação por elementos jurídicos. Haveríamos contudo de compreender mal a estrutura
jurídica, se a interpretássemos segundo o modelo de expressões jurídicas político-estatais. Os
elementos jurídicos possuem caráter análogo. Isto significa que, em âmbito estatal, eles são
expressões jurídicas semelhantes e dessemelhantes; em grau mais elevado, mais
dessemelhantes que semelhantes. Chegaríamos a interpretações errôneas, se quiséssemos
simplesmente interpretar juridicamente os elementos bíblicos do direito que se encontram no
desenvolvimento da história da salvação. A estrutura jurídica, testemunhada pela Escritura,
tem a função de servir. Não é estrutura alguma de dominador, mas uma estrutura que visa o
serviço. Ë figura de expressão e meio do cuidado criativo da salvação e do amor de Deus. A
estrutura fundamental de direito da nova ordenação de Deus adquiriu forma concreta e
histórica, quando Cristo encarregou os apóstolos de sua própria missão. Isto se expressa
principalmente com maior força em sua palavra: «Quem vos ouve, a mim me ouve; quem vos
despreza, a mim me despreza; quem porém me despreza, despreza aquele que me enviou» (Lc
10,16). Desde o início existiu na Igreja o poder de ensinar e de ordenar.
A estrutura jurídica, cuja forma fundamental remonta até Cristo, não apenas não entra
em contradição com a caridade, mas está a serviço dela. Deus se obrigou diante dos homens a
salvá-los dentro da ordem por ele mesmo estabelecida em Cristo. Ele se fez «Deus por nós». E
Deus nunca mais abrirá mão desta obrigação que a si mesmo ele se impôs. Por outro lado, os
homens são chamados a entrar na ordenação de Deus e, para sua própria salvação, entregar-
se a Deus. A entrega a Deus está indissoluvelmente ligada à tarefa de se estar à disposição dos
homens. Jesus acentuou esta interdependência do modo mais expresso possível no sermão
sobre o julgamento.
A missão confiada por Jesus Cristo a seus discípulos serve para exortar e incitar
continuamente os homens a que cumpram sua tarefa principal, isto é: a se entregarem a Deus
e ao serviço dos irmãos e das irmãs. Enquanto os que vivem na ordem de Deus estiverem
ligados comunitariamente entre si, necessitam também de uma ordenação horizontal, na qual
se possa realizar sua vida em comum, a existência de um para o outro, sem que haja caos ou
arbitrariedade. A esta ordenação horizontal servem as determinações jurídicas, nas quais, no
decorrer dos tempos, foi-se concretizando a estrutura jurídica fundamental da Igreja. Quanto a
isto se observe: a histórica concretização dos bens de tradição trazidos pelo Cristo estão
sujeitos à mudança. Eles vêm o podem também passar. Deles vale: tudo tem seu tempo. Deve-
se portanto contar que aquilo que, em uma determinada época, serviu magnificamente à meta
fundamental do direito na Igreja, já não lhe seja favorável em uma nova época, antes, pelo
contrário, prejudicial. A força conservativa do costume pode obstar a iminentes reformas tão
bem como o revolucionário desejo de novidades pode se tornar destrutivo. Forma alguma
condicionada pelo tempo deve ser considerada como norma absoluta para a vida eclesial (ver
p. 69).
Assim como a origem da Igreja pela vinda do Espírito Santo no primeiro dia de
Pentecostes deve ao mesmo tempo ser atribuída à decisão de homens repletos do Espírito
Santo, assim também a realização concreta e histórica da ordem fundamental da Igreja,
querida pelo Cristo, se deu pela decisão de homens, em obediência a Cristo. Uma vez que
Jesus, conforme a Sagrada Escritura, nunca falou com palavras claras acerca de uma
determinada forma de ordem jurídica para a futura Igreja pós-apostólica, mas apenas instituiu
elementos jurídicos, é compreensível que nos tempos apostólicos nos deparemos com uma
longa série de experiências, como de quem tateia; que encontremos uma busca e uma luta,
até que se reconheça e se realize com clareza aquela forma jurídica querida por Cristo. Em
virtude da criação divina da Igreja não poderia, por exemplo, surgir igreja alguma sem
distinção e sem íntima união entre leigos e membros da hierarquia; sem a distinção e a
conexão entre episcopado e o primado. Estes elementos jurídicos não são o produto de uma
evolução histórica, mas formas de expressão da vontade divina. Pela vontade fundadora do
Cristo e por sua respectiva obediente aceitação pela Igreja primitiva, isto é, pelos apóstolos,
criaram-se ministérios, isto é, instituições duradouras para a pregação da mensagem de
salvação.
sacerdotium. Pela origem da Igreja, também em sua estrutura jurídica, de Jesus Cristo,
representa ela em sua constituição social um sinal eficaz de salvação (cf. o capítulo da
sacramentalidade da Igreja).
Mostram, portanto, tais considerações que há na Igreja um direito irre- movível, por
ser divino, e, ao mesmo tempo, um direito removível, por ser humano. Não é possível sempre
dar com exatidão a diferença entre o direito divino e o direito humano na Igreja. Não é
possível separar completamente um do outro. Fundamentalmente, contudo, existe a
diferença. Assim não nos seria jamais possível, como já foi dito, acabar com a diferença entre
leigos e clérigos, entre o primado e o episcopado. O papa jamais poderia criar uma Igreja sem
bispos. Mas na maneira e no modo como estas relações jurídicas fundamentais são
concretamente realizadas, não é pequeno o papel que nisto representam o julgamento
humano, as inclinações e falta de inclinação, o temperamento, o «meio-ambiente». Assim, por
exemplo, hoje se luta pela libertação do primado papal de sua forma centralística. Da mesma
forma a Igrejn hoje se esforça por uma nova apresentação de toda a vida litúrgica. Isto, por sua
vez, traz como consequência que o múnus episcopal seja focalizado do outra e nova maneira.
Basta apenas lembrar as numerosas mudanças, feitas no decorrer dos últimos anos, quanto às
determinações do Código do Direito Canónico, por exemplo, quanto ao casamento, e a revisão
planejada de todo o Direito Canónico, que não está na dimensão divina. Pelo fato de a ordem
fundamental e jurídica ter sido, de uma vez para sempre, por Cristo doada à Igreja, ela (a
Igreja) se encontra tão enraizada no sacramento, nas coisas da salvação, e nele mesmo, que
jamais se pode tornar independente, sem que com isto renegue sua própria essência. Só existe
direito na Igreja por causa do ministério da salvação. Um outro uso seria abuso. Devemos
acrescentar a esse respeito que pode haver salvação, onde a evidência não permite suspeitar
ser possível.
Como existe hoje tanta antipatia à autoridade, façamos breve análise do que vem a ser
em princípio autoridade na Igreja. Não se pode negar que sempre houve na Igreja, desde o
início, comando e obediência. Mas qualquer autoridade eclesiástica tem seu fundamento na
autoridade de Cristo. Somente ole é o Senhor da Igreja e na Igreja. Cada autoridade humana é
autoridade dn Cristo. Isto significa ao mesmo tempo despojamento do poder humano o
fortalecimento do poder divino na Igreja. Se toda autoridade na Igreja imeama concretamente
a autoridade de Cristo, isto não significa que ela não tenha falhas e imperfeições humanas. Do
contrário, a autoridade de Cristo não seria uma realidade concreta e histórica.
A autoridade e o pleno poder que o próprio Cristo tinha do Pai em virtude da missão
que lhe fora confiada consistia em que ele se podia dar a todos os homens para a salvação.
Esta autodoação era um oferecimento que obrigava. Ela alcançou seu ponto culminante na
cruz e na ressurreição. A cruz, por isso, está inserida na autoridade de Jesus Cristo. A morte de
Jesus apresenta a cada um em particular e a toda a humanidade exigências i|iio não podem
deixar de ser ouvidas para a salvação operada no Gólgota. A morte de Jesus não foi uma
fatalidade privada, mas a autodoação de Jesus nos homens, envolta na escuridão do mistério
de Deus. E isto ele o fez como representante dos homens perante Deus. Jesus pode esperar e
exigir que sua morto seja aceita e reconhecida pelos homens na perspectiva da salvação.
O múnus eclesiástico requer que na Igreja só haja uma única autoridade, um único
poder espiritual, um único mestre, um único mediador e um único pastor: Cristo, o Senhor. Por
isso o conceito eclesial de múnus fundamentalmente não significa anquilosamento nem
fossilização, mas libertação das estreitezas humanas e vontade decidida de seguir a Cristo. O
ministério eclesial assegura a liberdade do homem cristão. Protege contra a tirania espiritual e
as veleidades dos assim chamados líderes religiosos, que pretendem ser medianeiros. Coloca
frente a frente Cristo e o fiel. Realiza o ser-viço para o encontro com Cristo dos que nele crêem
e, por meio dele, com o Pai. Desmitologiza de certo modo os detentores do ministério,
fazendo com que eles apareçam como aquilo para o qual foram autorizados, isto é, servos. Os
ministros e os batizados não ordenados estão unidos pelo único Espírito de Cristo, o Espírito
Santo. O povo de Deus está impregnado pelo Espírito Santo como o corpo humano pela alma.
O Espírito age tanto pelos ministros, como também pelos demais batizados, de uma maneira
neste, de outra maneira naquele. Podemos empregar a palavra «múnus» como carisma,
entendendo-a em sentido lato, simplesmente como atuação do Espírito e serviço. Geralmente,
contudo, se entende por «carisma» os efeitos do Espírito, que são espontâneos, existem por
toda a parte, chamam a atenção, e irrompem fortes na vida ordinária da Igreja. E não se acham
necessariamente ligados ao ministério. Podem, contudo, ser dados tanto ao detentor de um
.múnus» como a um não ordenado. São coisas que não se limitam ao ministério. Seria
unilateral, quiséssemos atribuir os carismas exclusivamente aos leigos. Os ministros já se
projetam na Igreja pela simples execução de suas tarefas ministeriais, mas a ação do Espírito
em determinados leigos é resultada de um modo particular. Muito embora, portanto, não
sejam os carismas privilégio dos leigos, mesmo assim, na concepção de hoje em dia, muitas
vezes eles são postos em confronto com os ministérios como um presente de Deus aos leigos.
Muitas vezes a distinção tácita ou intencional entre a chamada Igreja ministerial e a Igreja
carismática, entre a Igreja jurídica e a Igreja da caridade, entre a Igreja institucional e a Igreja
da livre atuação do Espírito, é um retorno até certo ponto às opiniões defendidas por R. $ohm
e, mesmo, por K. Holl, da teologia evangélica do começo de nosso século. Na verdade,
ministério e carisma não se opõem nem se excluem. Pelo contrário, se integram na totalidade
da Igreja de Cristo. Ambos são tão necessários, que sem ministérios não existe a Igreja de
Cristo, e sem carisma ala seria inexistente também. E tanto isto é verdade, que podemos
perguntar se os carismas, da mesma forma que os ministérios, pertencem à estrutura, A
organização da Igreja. Já se afirmou esse fato, e na mesma proporção aia que os carismas
envolvem e supõem os ministérios.
II. OS SUCESSORES
Os ministros da Igreja são sucessores dos apóstolos. Antes de mais nada havemos de
tratar o problema da sucessão em princípio; depois, separada-mente, cada ministério
eclesiástico. Em virtude da situação das fontes, sempre será impossível a descrição exata do
processo histórico pelo qual, ao fim da era apostólica, se chegou à tríplice estruturação de
bispo, presbítero e diácono. Mas é necessário distinguir entre a realidade dogmática e esta
questão relativa à história. Tanto os textos da Escritura como também os mais antigos textos
explicados pelos Padres da Igreja falam da tríplice estruturação com aquela clareza, que, para
a confissão da fé católica, é fundamento suficiente.
Deve-se, no entanto, notar não terem estes sucessores outra coisa a fazer senão
retransmitir a pregação dos apóstolos, interpretá-la e desenvolvê-la. Neste sentido é correto
que a tarefa imposta aos apóstolos de evangelizar sofreu uma mudança de estrutura, embora
não uma mudança quanto ao conteúdo, pela formação do Cânon escriturístico, isto é, pelo
aparecimento da sagrada Escritura e de sua coleção obrigatória. Enquanto que os apóstolos,
em virtude de sua experiência e iluminação pelo Espírito Santo, puderam dar testemunho do
Cristo, os que lhes foram posteriores têm de se ater ao Cânon. Este Cânon, desde que existe, é
a norma para a atividade global da Igreja nos tempos pós-apostólicos. De outro lado, porém, a
Escritura não se auto-anuncia. Muda permanece, enquanto não for veiculada pela voz
humana. Por mais que, por seu Espírito, tivesse suscitado o nascimento da Bíblia, Jesus não
edificou sua Igreja sobre um livro, mas sobre homens, no encontro salvífico do homem com o
homem (Rm 10,14-18). A pregação é necessária em vista da salvação, e a salvação se processa
no encontro salvífico. A Igreja possui uma estrutura pessoal, e não uma estrutura objetiva.
Quanto a isto, deve-se contudo refletir que, se levarmos em conta a palavra «estrutura» em
seu primitivo sentido estrito, o elemento pessoal só pode ser entendido como um «pessoal»
de certo modo somente institucional. Esta estrutura é de tal feitio, que não possuímos paralelo
algum para ela fora da Igreja. É o único e mesmo Espírito que, agindo na Igreja, produziu a
objetivação da mensagem de salvação na palavra escrita, e continua a atuar na pregação desta
mensagem de salvação, objetivada na Escritura. Mas a mensagem objetivada da salvação
somente se torna audível pela palavra do pregador. Aquela idéia, segundo a qual se atribuiu ao
mesmo livro da Sagrada Escritura o papel de pregar a Cristo, nasceu do entusiasmo do
humanismo, daquele movimento histórico pelo qual no tempo do Renascimento se tornou
conhecido no Ocidente a antiga literatura grega e latina sob muitas manifestações até então
desconhecidas. O princípio da sola scriptura tem por base um tal mal-entendido do
humanismo. Na realidade, ele está hoje em dia sendo abandonado por toda parte, também na
Igreja evangélica (cf. vol. r, p. 139s).
Antes de falarmos dos colaboradores dos apóstolos em particular, devemos fazer unia
observação, que diz respeito a princípios. Pergunta-se: a introdução de tais homens foi de pura
ação humana ou dependeu de uma disposição divina? Mais: a divisão dos ministérios a serem
exercidos por estes colaboradores deve ser atribuída somente aos cálculos práticos dos
homens, ou devemos ver aqui em jogo a vontade divina? Portanto, foi direito humano ou
direito divino que aqui se mostrou eficaz? A pergunta tem tanto mais sua razão de ser, porque,
para só citarmos um exemplo, distingue, como é sabido, entre sua pregação, como de apóstolo
instituído pelo Cristo, e sua humana solicitude pela comunidade, muito embora sustentada
pela fé (1Cor 7,12.40).
O sentido dos ministérios consiste em que Jesus, mesmo chamado de apóstolo (Hb
3,1), profeta (Jo 4,19), pastor (Hb 13,20), mestre (Jo 3,2), servo (Le 21,27) e bispo (1Pd 2,25),
age, de modo todo especial, por intermédio deles (At 21,19; 2Cor 13,3; cf. 12,12; GI 2,8).
Alguns destes ministérios ficaram circunscritos aos tempos apostólicos. Desapareceram com
eles, ou foram absorvidos por outros ministérios. Comprovaram-se como estáveis os
ministérios de bispo, de presbítero e de diácono. A mais antiga denominação e a mais
abrangedora foi a de presbítero (o ancião). Deste termo é que se deriva a palavra alemã
Priester (padre), muito embora seu conteúdo não seja idêntico àquilo que o termo
«presbítero» significa. A expressão não quer dizer idade biológica, nem idade de ensinar, mas
prestígio. A palavra vem do Antigo Testamento. Fora da Bíblia, significa a diretoria, por
exemplo, nas associações pagãs. No Antigo Testamento partia-se da provecta idade natural na
família, na parentela, na tribo, para se chegar ao ministério de presbítero (ancião) (Nm 22,7; Jo
9,11; Ex 3,16s). Os anciãos foram escolhidos por Moisés por ordem de Deus (Nm 11,16). O
ministério vem unido à posse do Espírito (Nm 11,25s; Jo 3,1). No Novo Testamento são os
presbíteros determinados por eleição de Deus (At 21,17; 28; cf. 2Pd 1,21). Eles necessitam de
uma investidura confirmatória pela imposição das mãos dos apóstolos (At 14,23; 6,6; 13,3;
1Tm 4,14; 5,22; 2Tm 1,6; 1Pd 6,2), ou dos delegados deles (Tt 1,5). Eles são os braços dos
apóstolos prolongados na comunidade adentro. São os que presidem às comunidades locais
(At 14,23). Sempre são vários e formam um colégio (At 11,30; 14,23; 15,2; 6,22s).
Pressuposição é vida impecável (1Tm 5,1-7; Tt 1,7s). A palavra «bispo» (episkopos), que
aparece uma vez como denominação de Cristo (1Pd 2,25) e quatro vezes como designação de
ministério (F1 1,1; At 20,28; cf. 20,17; 1Tm 3,1-7; Tt 1,5s), designa o serviço de vigilância, a
direção da comunidade. Em parte alguma são os bispos formalmente chamados de sucessores
dos apóstolos. Em contrapartida, aparecem como sendo os mesmos homens denominados
«presbíteros». Os termos não designam nem pessoas nem ministérios diferentes. Acentuam
somente diversos aspectos do mesmo serviço. Também os ministros designados como
«bispos» aparecem sempre em maior número nas comunidades. Encontramos nas epístolas
pastorais a primeira referência a um dirigente posto acima de todos os que exercem um
ministério. Aqui se dá o começo de uma presidência episcopal (1Tm 4,14; 5,22; 2Tm 1,6). O
bispo continua cercado de presbíteros. Muito discutida é a questão se os dirigentes da
comunidade, chamados bispos ou presbíteros, são bispos e sacerdotes no sentido de sua
evolução posterior. Não poderia haver dúvida alguma justificada de que eles tivessem sido
bispos no sentido posterior desde que tivessem tido a seu dispor atribuições episcopais. O
ofício de presbítero surgiu do ministério dos «presbíteros-bispos», testemunhados nos termos
apostólicos, por redução a um núcleo menor das atribuições atinentes a todos e não se pode
dizer que o múnus episcopal se formou por um crescimento progressivo de suas atribuições.
Quanto a isto, não deve deixar de ser levado em conta o fato de que a suprema direção das
comunidades continuou nas mãos dos apóstolos. Exatas delimitações não eram nem possíveis
nem necessárias no início. Tais delimitações só poderiam ser feitas com o desenvolvimento
histórico, graças à experiência adquirida (ver a parte que trata do ministério sacerdotal com
sucessão apostólica).
O que se iniciou nas epístolas pastorais aparece logo no tempo pós-apostólico, em
pleno desenvolvimento, a saber, a triplicidade ministerial de bispo, presbítero e diáconos (ver
a apresentação de cada um em particular).
Como acabamos de ver, pelo fim da era apostólica, vai-se esboçando nas
comunidades paulinas uma nova estruturação da autoridade, testemunhada nas epístolas
pastorais (começo da década de 60?). A situação existente naqueles lugares lembra as
condições na comunidade de Jerusalém. Aquilo que vem claramente desenvolvido
posteriormente nas epístolas de Inácio, encontramo-lo nas epístolas pastorais em seus
primeiros passos: os três graus do ministério eclesiástico.
A Doutrina dos Doze Apóstolos, do começo do século II, também conhece apenas
bispos e diáconos. Diz (15,1): «Elegei, portanto, para vós (isto é, quando no dia do Senhor
estiverdes reunidos para o culto divino) bispos diáconos, dignos do Senhor, homens bondosos,
livres da cupidez do dinheiro, cheios de amor à verdade, experimentados; pois são eles que
para vós exercem o santo serviço dos profetas e dos mestres». Tais guias da comunidade eram
escolhidos por toda a comunidade reunida.
Nas epístolas inacianas apresenta-se como consumado o que fora iniciado nas
epístolas pastorais: os três graus do ministério. Nas epístolas pastorais, contudo, não aparece
ainda a posição do «presbítero», tão claramente distinta daquela posição do «bispo», como
em Inácio, muito embora ao episkopos se dê um certo realce. No decurso do século II, os três
graus tornam-se a forma geral da organização eclesiástica. Pela metade do século II fala
Hermas acerca de bispos, presbíteros e diáconos. Os presbíteros são chamados chefes e
presidentes da comunidade. Segundo Justino Mártir (meados do século II) «o presidente dirige
os irmãos», isto é, cada bispo preside à celebração da Eucaristia. Os diáconos repartem as
ofertas consagradas entre os presentes e as levam aos ausentes. Segundo Ireneu, à testa de
cada comunidade está um único bispo em posição superior. A sucessão apostólica, segundo
Ireneu, é o penhor de tradição sem erro da doutrina apostólica. Os sucessores dos apóstolos,
contudo, são ainda ocasionalmente denominados presbíteros. Clemente de Alexandria,
Orígenes, Tertuliano, Hipólito de Roma são, para o tempo do Concílio de Nicéia (325), outras
tantas testemunhas dos três graus do ministério eclesiástico em todas as comunidades cristãs.
Mas que a lembrança da identidade de origem do episcopado e do presbiterato não se tenha
perdido nos tempos que se seguiram, isso podemos ver nos debates que Jerônimo, entre
outros, sustentou, em virtude dos seus conhecimentos bíblicos, sobre a relação entre bispos e
sacerdotes. De que modo se chegou à passagem de dois para três graus, será melhor
apresentado nas exposições sobre o ministério sacerdotal (J. Colsen, Les fonc-tions ecclésiales
aux deux premiers siècles, Paris 1956. L. Ott, Das Weihe-sakrament, em: Handbuch der
Dogmengeschichte IV 5, Friburgo 1969, 1-25). Acentue-se, em vista da clareza, que os escritos
que atestam os ministérios eclesiais, não devem sem mais nem menos ser apresentados como
testemunhos do ministério sacerdotal no sentido hodierno. Somente a análise das tarefas
atinentes aos detentores do cargo e a eles reservadas será capaz de dar maior esclarecimento.
Tal análise leva à conclusão de que, por volta de 200 depois de Cristo, certos dignitários eram
chamados sacerdotes (hiereis) num retorno ao passado superado por Jesus. Mas somente no
campo verbal. Objetivamente estes «sacerdotes» representam algo de diferente do que eram
aqueles do Antigo Testamento ou das «religiões». Pois eles têm apenas a tarefa de tornar
presente a Cristo e sua obra.